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232/SC:
Substituição Processual V. Representação Processual.
Desnecessidade de Autorização Assemblear nas Ações
Coletivas em Defesa ao Consumidor
1 Introdução
Em que pese o STF ter firmado entendimento no RE 573.232/SC de que é necessária a autorização
individual ou assemblear expressa dos associados para atestar a legitimidade das associações nos
casos de representação processual, o STJ tem aplicado o precedente de maneira inadequada,
exigindo a autorização individual ou assemblear para legitimidade das associações também nos
casos de substituição processual nas ações coletivas. Isto ocorre inclusive nas ações coletivas para
defesa dos consumidores.
O presente artigo tem por objetivo demonstrar a necessidade de revisão na aplicação do precedente
firmado a partir do RE 573,232/SC pelo STJ, isso porque o fundamento determinante do precedente
do Supremo Tribunal Federal diz respeito apenas aos casos de representação processual, pois foi o
único fundamento em que houve convergência de votos no plenário.
O STF expressamente entendeu que não iria tratar, por exemplo, das restrições as ações coletivas
em face da União, Estados, Distrito Federal, Municípios e suas autarquias e fundações, que exigem
a autorização assemblear, por ser esta matéria infraconstitucional (art. 2.º, parágrafo único, da Lei
9.494/1997).2
Por fim, após sedimentado que o precedente do STF versa apenas sobre os casos de representação
processual, concluiu-se que o STJ tem aplicado o precedente de maneira ampliada, também para os
casos de substituição processual, posicionamento que merece ser revisado.
Quando se discorre sobre legitimidade ad causam deve-se ter em mente que, além da capacidade
processual para ingressar em alguns dos polos da relação processual, as partes devem estar aptas
para discutir em juízo a situação jurídica deduzida e instaurada pela demanda.3 Vale destacar que
essa ideia de legitimidade não incide apenas sobre o autor, mas também sobre a figura do réu.
Nesse ponto, ganha relevo a previsão do art. 18 do CPC/2015 (LGL\2015\1656), que alterou a
redação do antigo art. 6.º do CPC/1973 (LGL\1973\5) – substituiu-se a expressão “pela lei” por “pelo
ordenamento jurídico” – e adotou a teoria já defendida por Arruda Alvim,7 de que a legitimação
extraordinária pode ser identificada a partir de uma análise do ordenamento jurídico como um todo,
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ou seja, mesmo que não se tenha previsão expressa em lei, será possível atribuir legitimidade
extraordinária a partir de uma análise sistêmica de todo conteúdo normativo.
Outrossim, analisam-se ainda, duas figuras que por muito tempo foram objeto de discussões no
âmbito da ciência processual civil, são elas: a legitimação extraordinária por substituição processual
e a representação processual.
Quanto à substituição processual, esta sempre foi compreendida como uma espécie de legitimação
extraordinária, na qual não há coincidência entre as partes do processo e as partes do litígio,8
trabalha-se exatamente a ideia de troca entre o titular do direito subjetivo e o substituto processual,
que irá defender em juízo esse direito material. Ocorre que, por muito tempo, apontava-se a
necessidade desse substituto processual possuir interesse jurídico direto e pessoal na demanda,
assim como defendia Francesco Carnelutti.9
Com o passar do tempo, a doutrina evoluiu10 quanto a este entendimento, passando a compreender
uma ideia dissociada de vínculo ou interesse com o direito material na expressão “agir em nome
próprio”, prevista no antigo art. 6.º do CPC/1973 (LGL\1973\5) e no atual art. 18 do CPC/2015
(LGL\2015\1656). Assim, conclui Waldemar Mariz de Oliveira Jr, “é claro que tal asserção não
impede que possa existir, em jogo, um interesse pessoal do substituído, o qual no entanto, não
constitui, reiteramos, elemento de monta para caracterizar a substituição processual”.11
Por outro lado, a representação processual, que por algum tempo foi confundida como uma espécie
de legitimação extraordinária por substituição processual12 é na verdade um instituto dessemelhante,
em que se proporciona à terceiro, convencionalmente chamado de representante legal, a faculdade
genérica de realizar em nome do representado, todos os atos atinentes à constituição,
desenvolvimento e conclusão da relação jurídica processual.13
Trata-se, portanto, de situação em que se defende em nome alheio direito material também alheio,14
diferentemente da legitimação extraordinária, na qual a defesa de direito alheio ocorre em nome
próprio, ou seja, a representação permite que o representante vá a juízo em nome do representado,
para defesa de direito deste. É possível ainda, em casos previstos em lei, que essa representação
necessite de autorização expressa dos titulares dos direitos subjetivos que se deseja tutelar em
juízo.
Um exemplo clássico de representação processual são as ações que envolvem incapazes. Estes
devem ser representados em juízo por seus pais, tutores ou curadores, conforme prevê o art. 71 do
CPC/2015 (LGL\2015\1656). De forma geral, ainda existe previsão no art. 75 do CPC/2015
(LGL\2015\1656), de um rol exemplificativo, de entes que devem ser representados em juízo, por
seus respectivos representantes.
A compreensão de tais institutos processuais e suas diferenças são de extrema importância para
análise que se deseja realizar. Expõe-se na sequência, a situação peculiar das associações e suas
formas de atuação em juízo.
No que diz respeito à figura das associações, vale destacar que essa ideia de liberdade de
associação ganhou força após a Segunda Guerra Mundial, sendo prevista atualmente em diversos
ordenamentos jurídicos,15 inclusive no brasileiro, como direito fundamental previsto na CF/1988
(LGL\1988\3) (art. 5.º, XVII a XXI).
O conceito de associação está ligado à ideia de uma união de pessoas que se coligam de forma
estável, sob uma direção comum, para fins lícitos de cooperação e solidariedade entre seus
membros, os quais se unem por ato de vontade.16 Sendo que, os objetivos das associações podem
ser os mais amplos possíveis, vedando-se apenas práticas ilícitas.
Dessa forma, em seu estatuto a associação pode prever os mais diversos fins, que devem
obviamente seguir um princípio unificador que deu razão à criação da associação, por exemplo, uma
associação de moradores de um determinado bairro deve prever em seu estatuto, ideias,
mecanismos e ações que visem o bem comum dos moradores do respectivo bairro. Ou ainda, a título
exemplificativo, no que diz respeito ao direito do consumidor, destaca-se o IDEC – Instituto Brasileiro
de Defesa do Consumidor –, associação que atua em âmbito nacional diretamente na defesa dos
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direitos consumeristas.
Aqui, vale a ressalva quanto à importância das associações no âmbito do direito do consumidor, a
experiência brasileira demonstra uma diversidade de exemplos de atuações judiciais relevantes e
decisivas que levaram a um avanço no que diz respeito às relações de consumo.17 Inclusive, o CDC
(LGL\1990\40) possui em seu art. 5.º, inc. V, regramento específico que fomenta a criação e
desenvolvimento de entidades associativas.
No Brasil, portanto, as associações podem se valer de dois mecanismos de atuação em juízo, são
eles: (a) a ação coletiva por legitimação extraordinária em substituição processual (art. 82, inc. IV do
CDC (LGL\1990\40) e art. 5.º, inc. V da LACP); e (b) a ação por representação processual (art. 5.º,
inc. XXI CF/1988 (LGL\1988\3)).18
Primeiramente, releva-se que desde sua origem a tutela coletiva foi percebida como uma tutela
jurisdicional especial,19 de modo que a ideia de devido processo legal (processo justo) resultante dos
litígios individuais teve de ser adaptada aos litígios coletivos. É necessário, portanto, compreender as
peculiaridades dos direitos coletivos para ser realizada uma reflexão a partir de um devido processo
legal coletivo.20
Dessa forma, assim como ocorre no modelo norte-americano das class actions e em outros modelos
ao redor do mundo, os ordenamentos jurídicos necessitam se adequar à realidade dos litígios
transindividuais. A tutela jurisdicional coletiva é uma tutela judicial diferenciada, que não pode aplicar
institivamente os mesmos paradigmas do processo civil individual.21
Diante dessa constatação, os institutos processuais necessitam se transmutar para que possam se
adequar às pretensões da tutela coletiva,22 dentre esses, está a legitimação ad causam.
Diferentemente de outros países,25 escolheu-se no modelo brasileiro de ações coletivas por uma
legitimidade ope legis, ou seja, o rol de legitimados a ingressar com a ação coletiva está previsto na
própria legislação.
Nessa toada, esmiuçando-se sobre a legislação brasileira, tem-se em uma análise combinada do art.
5.ª da Lei da Ação Civil Pública e do art. 82 do CDC (LGL\1990\40)26 com outros regramentos do
microssistema, o rol de legitimados a ingressar com uma ação coletiva: a) o Ministério Público; b) a
Defensoria Pública; c) a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; d) as entidades e
órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica,
especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código (CDC
(LGL\1990\40)); e) a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; f) o
cidadão comum; g) a associação que, concomitantemente, esteja constituída há pelo menos 1 (um)
ano nos termos da lei civil e inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio
público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos
direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico.
Percebe-se, portanto, que são legitimados, entes públicos, privados, despersonalizados e até o
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cidadão comum, como no caso da Ação Popular (art. 5.ª, inc. LXXIII da CF/1988 (LGL\1988\3)).
Destacam-se ainda nesse rol, as associações civis, as quais ganharam legitimidade para agir nas
ações coletivas com intuito de garantir uma maior participação da população em um devido
gerenciamento da coisa pública e também assegurar e efetivar uma democracia participativa, um dos
pilares de um Estado Constitucional Democrático.27
Como se depreende da leitura do texto legal, as entidades associativas possuem dois requisitos a
serem preenchidos para que se tornem legitimadas a ingressar com ações coletivas.
Exige-se da associação que: (a) seja constituída há mais de 01 (um) ano, devendo encontrar-se no
Registro Civil das Pessoas Jurídicas (art. 45 do Código Civil (LGL\2002\400) e art. 114 da Lei de
Registros Públicos);28 (b) conste de suas finalidades institucionais a proteção ao patrimônio público e
social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de
grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico (art. 5.º, inc. V, alíneas “a” e “b” da Lei 7.347/1985 e do art. 82, inc. IV da Lei
8.078/1990).
O mecanismo deve-se ao fato de que, muitas vezes, um ente legitimado pelo ordenamento para
propor uma demanda coletiva não está apto a defender os direitos coletivos do grupo, ou então, está
despreparado para dar seguimento a um processo coletivo.32 O despreparo do ente legitimado
acaba por comprometer a tutela jurisdicional coletiva, não se garante uma adequada e efetiva tutela
dos direitos coletivos lato sensu (art. 4.º do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).
Nessa linha de raciocínio, destaca-se inclusive a importância desse controle judicial na legitimação
das associações em defesa dos direitos consumeristas. A experiência prática tem demonstrado que
muitas vezes os meros critérios objetivos do ordenamento – tempo de constituição e previsão de
tutela aos direitos coletivos no estatuto – não são suficientes. Isso porque, é corriqueiro situações em
que pequenas associações ajuízam ações coletivas sem possuírem conhecimento técnico sobre a
matéria, sem terem capacidade financeira de atender às custas da demanda, ou ainda, sem
representarem os reais interesses dos membros do grupo que pretendem tutelar.33
Destarte, atualmente, as associações possuem legitimidade ope legis para ingressar com ações
coletivas por substituição processual (art. 82, inc. IV do CDC (LGL\1990\40) e art. 5.º, inc. V da
LACP), sendo essa legitimação controlada judicialmente durante todo o andamento processual, com
o intuito de garantir uma adequada representação do grupo substituído em juízo (legitimidade ope
judicis).
Outra possibilidade de atuação das associações em juízo ocorre por meio das ações por
representação processual, conforme previsto no art. 5.º, inc. XXI da CF/1988 (LGL\1988\3).
Nessas ações, é necessária autorização expressa dos associados para que a associação possa
representá-los em juízo, existindo dúvida se essa autorização deve ser individual ou se pode ocorrer
também por deliberação em assembleia geral. Coube ao STF, no julgamento do RE 532.232/SC,
definir a interpretação constitucionalmente adequada, como se verá a seguir.
Trata-se de uma situação diversa da legitimação extraordinária por substituição processual, na qual
se defende direito alheio em nome próprio. Nas ações por representação processual se tutela direito
alheio em nome alheio. Assim, nas ações coletivas defende-se o direito coletivo do grupo – direito
alheio – por meio da atuação em nome próprio da associação; e nas ações por representação
advogam-se direitos individuais de cada um de seus membros – direito alheio – em nome destes, ou
seja, em nome dos próprios associados.
A utilização de uma técnica não exclui a outra, na medida em que ambas convivem normal e
regularmente dentro do ordenamento, cabe à associação definir, a partir da análise do caso
concreto, qual alternativa se mostra mais adequada à estratégia que pretende seguir.34 Optando-se
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por uma ação coletiva por substituição processual, a coisa julgada atingirá erga omnes todos os
membros do grupo substituído,35 já se tratando de uma ação por representação, a coisa julgada
atingirá somente os representados que autorizaram a associação a atuar em seu nome.
Corroborando este entendimento, vale destacar que quando foi promulgada a CF/1988 (LGL\1988\3),
a qual trouxe a possibilidade de ação por representação processual pelas associações, ainda não
havia sido consolidada a ideia do microssistema do processo coletivo e da tutela coletiva dos direitos
coletivos lato sensu.
Outrossim, ainda existe regramento novel em relação à legitimidade das entidades associativas para
mandado de injunção coletivo no art. 13, III da recentíssima Lei 13.300/2016,37 o qual institui também
ser desnecessária a autorização dos membros associados na impetração do MI coletivo. A
legitimidade se dará também por substituição processual, assim como as demais ações coletivas do
ordenamento jurídico brasileiro.
Estabelecidas tais premissas, demonstra-se a seguir, como indicado anteriormente, quais foram os
fundamentos determinantes na controversa decisão do STF no RE 573.232/SC, que solucionou a
problemática referente à forma como ocorre à autorização nas ações por representação propostas
por associações.
Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que o CPC (LGL\2015\1656) (Lei 13.105/2015) instituiu um
modelo de precedentes normativos formalmente vinculantes, com núcleo normativo composto pelos
arts. 489, § 1.º, V e VI, 926 e 927.38 Desta forma, o art. 927 estabelece um rol formal de precedentes
normativos vinculantes a ser observado por todos os juízes e tribunais (dimensão formal dos
precedentes) cuja aplicação deverá seguir um dever de fundamentação analítica e adequada em
relação à aplicação e afastamento/alteração do precedente (dimensão material ou substancial dos
precedentes).
Neste sentido, o primeiro passo do julgador para verificar se um precedente é aplicável ao caso em
julgamento concerne à identificação dos seus fundamentos determinantes, isto é, delimitar qual é a
razão de decidir do precedente composta pela solução fático-jurídica do julgado.39 Caso os
fundamentos determinantes (ratio decidendi)40 do precedente se amoldem ao caso em julgamento
diante da similitude fática entre as demandas, o precedente deverá ser aplicado ao caso em
julgamento devido ao efeito vinculante (art. 489, § 1.º, V c/c art. 927); por sua vez, nos casos em que
houver uma distinção (distinguishing) entre as circunstâncias fáticas dos casos41 ou então for
necessária a superação (overruling) do entendimento pelo tribunal formador do precedente diante de
uma incongruência social, inconsistência sistêmica e/ou risco para a manutenção do stare decisis42 é
autorizado o seu afastamento/alteração (art. 489, § 1.º, VI).43
Esta reconfiguração analítica do dever de fundamentação das decisões judiciais é imperiosa para
manter a unidade da ordem jurídica através da estabilidade, coerência e integridade, deveres
exigidos pelo art. 926, caput, do CPC/2015 (LGL\2015\1656) (dimensão material e vinculação
horizontal dos precedentes).
Atualmente, esta concepção não é mais compatível com a legislação processual em vigor pelo
CPC/2015 (LGL\2015\1656), na medida em que a ordem jurídica brasileira preza por uma paridade
entre a tutela do discurso do caso concreto, voltado para as partes (dispositivo), e a tutela do
discurso do precedente, voltado para a sociedade (fundamentação).44
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Desta maneira, serão considerados fundamentos determinantes aptos a formarem a ratio decidendi
aqueles efetivamente debatidos ou incorporados pelo voto dos juízes em decisão colegiada. Assim,
aqueles fundamentos “não adotados ou referendados pela maioria dos membros do órgão julgador,
ainda que relevantes e contidos no acórdão”,45 terão conteúdo de obiter dictum ou voto vencido46 e
não de ratio decidendi. Enfrenta-se assim o problema das decisões de órgãos colegiados, nas quais
os temas debatidos nos votos não necessariamente tenham sido decididos por todos os julgadores.
Os fundamentos não referendados não podem ser objeto de ratio decidendi.47
Com estas premissas em mente, faz-se necessário transportá-las para a devida identificação dos
fundamentos determinantes do precedente firmado pelo STF no RE 573.232/SC e, ademais,
controlar a sua correta aplicação pelos demais tribunais.
Neste julgamento, o STF analisou um recurso extraordinário interposto pela Associação do Ministério
Público de Santa Catarina contra acórdão do Tribunal Federal da 4ª Região “ que decidiu que as
associações e sindicatos, na qualidade de substitutos processuais, têm legitimidade para ajuizar
ações, de qualquer natureza, inclusive mandamentais, visando à defesa de direitos de seus filiados,
sem que seja necessária a autorização expressa ou procuração individual destes”. O TRF 4.ª Região
analisou a questão sob o prisma do processo coletivo e da substituição processual, mas não foi este
o entendimento do STF, como se verá a seguir.
O voto do Min. Relator Ricardo Lewandowski deu provimento ao recurso extraordinário, afirmando
que o art. 5.º, XXI, CF/1988 (LGL\1988\3) “ não faz qualquer alusão à forma como se dará a
autorização dos filiados, mas apenas consigna que esta deverá ser expressa ”, facultado, portanto,
autorização genérica no estatuto da associação.
Contudo, o Min. Marco Aurélio manifestou divergência em relação ao voto do ministro relator,
aduzindo ser necessário distinguir substituição e representação processual na medida em que o art.
5.º, XXI, CF/1988 (LGL\1988\3) versa sobre hipóteses de representação processual, o que exigiria
autorização individual ou expressa dos associados, não bastando a previsão estatutária.48 Em
seguida, os ministros acompanharam a divergência apontada e a decisão do Plenário do Supremo
deu provimento ao recurso extraordinário de acordo com o voto do Min. Marco Aurélio – como
consta, inclusive, do extrato da ata de julgamento.
Como se percebe, a tese vencedora não tratou em momento algum de substituição processual em
ação coletiva (arts. 8, III e 129, III e par. 1.º da CF/1988 (LGL\1988\3), art. 5.º da LACP e art. 82 do
CDC (LGL\1990\40)), mas de ação por representação processual (art. 5.º, XXI, da CF/1988
(LGL\1988\3)).49 É preciso sublinhar que essa conclusão deriva do fato de que houve convergência
unicamente em relação a este fundamento determinante.50
Conclui-se que, o Supremo decidiu por maioria de votos que a interpretação constitucionalmente
adequada ao art. 5.º, XXI, CF/1988 (LGL\1988\3) é que somente os associados que, na data do
ajuizamento da inicial, haviam aderido ao polo ativo da demanda mediante expressa autorização
(individual ou assemblear) para a representação processual poderiam posteriormente executar o
título executivo judicial correlato, não bastando a autorização genérica prevista nos estatutos.51
Perceba-se, por oportuno, que o STF tem vasta cadeia decisória de precedentes no sentido de que a
substituição processual não exige autorização, inclusive cristalizado no enunciado de Súmula 629: “A
impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados
independe da autorização destes”.
Portanto, o art. 5.º, XXI trata de representação processual e o caso analisado dizia respeito à ação
ajuizada por representação, não à ação coletiva ajuizada por substituição processual. Este é o
fundamento determinante (ratio decidendi) do RE 573.232/SC, o qual é dotado de efeito vinculante
para posterior aplicação em casos análogos e futuros (art. 489, § 1.º, V c/c art. 927, V).
5 A aplicação indevida do Precedente do STF pelo STJ nos casos de substituição processual
e no direito do consumidor
A opção por ajuizar a ação por representação, nos termos do art. 5.º, XXI ou por substituição
processual, nos termos do processo coletivo (ex vi, art. 5.º, LACP e art. 82, CDC (LGL\1990\40), por
exemplo), é uma opção estratégica da associação. Em um caso atua em nome alheio na defesa de
direito alheio, no outro em nome próprio na defesa de direito alheio. Já analisamos acima a tradição
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processual acerca destes institutos.
Entretanto, ainda que o precedente do STF verse sobre os requisitos constitucionalmente exigidos
para a representação processual das associações nessas ações (art. 5.º, inc. XXI da CF/1988
(LGL\1988\3)), o STJ tem o aplicado de maneira equivocada, exigindo autorização individual ou
expressa dos associados para a defesa de seus direitos em juízo também nos casos de demandas
coletivas por substituição processual.
O uso indevido do precedente pelo STJ tem consequências deletérias para a tutela coletiva e para o
modelo de stare decisis que o CPC (LGL\2015\1656) implementa no Brasil, pois restringe a atuação
das associações na defesa dos interesses transindividuais em juízo por meio das ações coletivas e
aplica o precedente sem a análise de sua ratio decidendi. Aplica-se o precedente-norma ao caso
para o qual as circunstâncias fáticas não são análogas ou similares, o caso é tão flagrante que
caberá, em tese, inclusive ação rescisória.52
Ademais, a representatividade das associações para a tutela coletiva dos direitos dos consumidores
também fica prejudicada, como já se observa do REsp 1405697, julgado pelo próprio STJ. Neste
julgamento, o Superior Tribunal de Justiça analisava “se, dissolvida a associação demandante, no
curso de ação civil pública (no caso, inclusive, com a demanda já estabilizada), seria possível a
alteração da titularidade do polo ativo por outra associação que, segundo alegado, detém pertinência
temática com o objeto da ação e encontra-se constituída há mais de um ano”.
Com base no precedente do STF firmado no RE 573.232/SC, o STJ reconheceu que não é possível
uma associação assumir o polo ativo de ações coletivas (no caso, ação civil pública) promovidas por
entes associativos que no transcurso da ação foram dissolvidas.53
No caso em tela, não seria necessária a autorização para representar os associados, pois se trata de
ação civil pública (ação coletiva) em defesa dos direitos coletivos dos membros do grupo e não de
ação por representação processual.
Ora, como se percebe claramente, quando se trata de atuar em juízo em nome alheio para a defesa
de direito alheio a extinção da associação deve gerar a extinção do processo, contudo, quando se
trata de atuar em juízo por substituição processual exclusiva, autônoma, concorrente e disjuntiva,
como é o caso das ações coletivas, deve incidir o princípio da primazia do julgamento do mérito e
devendo ser chamado outro substituto processual, inclusive o Ministério Público, para prosseguir na
demanda por sucessão processual do autor inicial. O STJ já entendeu neste sentido por mais de
uma oportunidade.54
Como se nota, é imperioso que o STJ reveja o entendimento que confunde os institutos da
representação com a substituição processual. O entendimento do STJ traz evidente o prejuízo para a
tutela dos direitos coletivos através das associações, isso porque, conforme aponta Kazuo
Watanabe: “constituem elas um instrumento de participação da sociedade civil no aperfeiçoamento
da Política Nacional de Relações de Consumo (art. 4.º, II, b do CDC (LGL\1990\40)), e uma forma
eficiente de evitar que continue o paternalismo estatal exagerado na proteção do consumidor”.55
O abuso de demandar, nestes casos, pode ser controlado por outras maneiras que não afetem a
representatividade das associações. Como defendem Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr, “por
exemplo, o juiz poderá certificar a ação coletiva no processo de conhecimento, convertendo uma
ação coletiva em uma ação por representação (espécie de coletiva opt in) quando isto se afigurar
mais conveniente à tutela dos direitos e aos interesses do grupo representado”.56
Ante o exposto, a despeito do elogiável respeito aos precedentes do STF formados em matérias
constitucional, é preciso que o STJ se atente às técnicas processuais previstas no CPC/2015
(LGL\2015\1656) para que o sistema jurídico seja um espaço de racionalidade, consistindo ambiente
estável, íntegro e coerente (art. 926, caput, CPC (LGL\2015\1656)).
6 Conclusões
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Por tudo que foi exposto, nota-se que no RE 573.232/SC o STF estendeu às ações coletivas
ajuizadas por associações o requisito da autorização expressa – individual ou assemblear – dos
membros associados, o qual só existe nas ações associativas por representação processual,
conforme se infere da ratio do precedente referido e do texto constitucional (art. 5.º, inc. XXI da
CF/1988 (LGL\1988\3)).
É de curial importância conceber que se trata de situações distintas, as associações possuem dois
meios de atuação em juízo: a) ações coletivas por substituição processual (art. 82, inc. IV do CDC
(LGL\1990\40) e art. 5.º, inc. V da LACP) e b) ações por representação processual (art. 5º, inc. XXI
da CF/1988 (LGL\1988\3)). Cabe a ela, diante do caso concreto decidir qual opção se mostra mais
adequada à estratégia que pretende seguir.
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2 O tema foi enfrentado no extenso voto do Min. Teori Zavascki, mas posteriormente o Min. Teori
acompanhou o relator restringindo seu voto. Entendemos que o referido artigo é inconstitucional, por
criar exceção não proporcional ou razoável à legitimação para tutela dos direitos coletivos, assim
como ilegal por ir ao encontro com as premissas do microssistema do processo coletivo e a tutela
molecular que este alberga, cf.: (DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito
Processual Civil. Processo Coletivo. 10. ed. v. 4. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 412-421).
3 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Introdução ao Direito Processual Civil, Parte
Geral e Processo de Conhecimento. 17. ed. v. 1. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 343-344.
4 O surgimento e o estudo dos pressupostos processuais teve início com Oskar Bülow, isso deve-se
ao fato do surgimento, na teoria do autor, da relação jurídica processual, autônoma em contraponto à
relação jurídica de direito material (BÜLOW, Oskar. La Teoria de las Excepciones Procesales y los
Presupuestos Procesales. Trad.: Miguel Angel Rosas Lichtschein. Buenos Aires: EJEA, 1964, p. 1-9).
6 Sobre o tema, Donaldo Armelin conclui: “A legitimidade, no processo, comporta duas de suas
espécies já examinadas à luz da teoria geral do direito. Efetivamente, encontram-se nele a
legitimidade ordinária e a extraordinária, a primeira, a regra, e a segunda a exceção. Na legitimidade
ordinária, coincidem a figura das partes com os pólos da relação jurídica, material ou processual, real
ou apenas afirmada, retratada no pedido inicial. Em consequência, os efeitos da decisão judicial
operam-se diretamente no patrimônio das partes, sem qualquer distinção entre efeitos processuais e
materiais (...) No plano da normalidade, não há por que atribuir-se a terceiro direito de postular em
nome próprio direito alheio. Essa possibilidade, pelas implicações consideráveis que envolve, há de
ser limitada e justificada por motivos de política legislativa, entre outros de molde a espelhar no
sistema jurídico a sobreposição dos interesses da coletividade ou de terceiros em relação a um
direito alheio, no plano judicial. Desse modo e por tais razões, enseja-se àquele terceiro o exercício
do direito de ação versante sobre direito do qual não é, nem mesmo in status assertionis, titular”
(ARMELIN, Donaldo. Legitimidade para Agir no Direito Processual Civil Brasileiro. São Paulo: Ed.
RT, 1979, p. 116-117).
7 ARRUDA ALVIM, José Manoel. Código Civil de Processo Civil Comentado. v. 1. São Paulo: Ed.
RT, 1975, p. 426.
9 Para Carnelutti: “Hay substitución cuando la acción em el proceso de una persona distinta de la
parte se debe, no a la iniciativa de ésta, sino al estímulo de um interés conexo com el interés
inmediatamente comprometido em la litis o en el negocio” (CARNELUTTI, Francesco. Instituiciones
del Proceso Civil. v. 1. 5. ed. Buenos Aires: EJEA, 1959, p. 176).
10 “Exatamente por dar exagerada importância ao interesse do substituído, Carnelutti acabou por
excluir, das hipóteses de substituição processual, as relativas ao capitão do navio e ao marido, na
defesa dos bens dotais da mulher, por não vislumbrar na atuação, em Juízo, daquelas pessoas,
qualquer interesse próprio” (OLIVEIRA JR., Waldemar Mariz de. Substituição Processual. São Paulo:
Ed. RT, 1969, p. 135).
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Coletivas em Defesa ao Consumidor
11 OLIVEIRA JR., Waldemar Mariz de. Substituição Processual. op. cit., p. 172.
13 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituzioni di Diritto Processuale Civile. 2. ed. v. II. Napoli: E. Jovene,
1936, p. 246-248.
14 OLIVEIRA, Carlos Aberto Alvaro; MITIDIERO, Daniel. Curso de Processo Civil. Teoria Geral do
Processo Civil e Parte Geral do Direito Processual Civil. v. 1. São Paulo: Atlas, 2010, p. 164-168.
16 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 8.
ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 301.
17 BENJAMIN, Antônio Herman V.; Comentários ao art. 82 do CDC (LGL\1990\40). In: MARQUES,
Claudia Lima; BENJAMIN, Antônio Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código de Defesa
do Consumidor. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010, p. 1323-1324.
18 Em sentido similar, mas em parte diverso do entendimento defendido neste trabalho, Sérgio
Shimura afirma que as associações podem agir de três formas: legitimação ordinária na defesa de
direitos difusos e coletivos; legitimação extraordinária na defesa de direitos individuais homogêneos
e com mera representação, quando age em nome e na defesa de direitos de seus associados.
Nesse trabalho, defendeu-se que a associação quando age por meio de ação coletiva, sua
legitimidade sempre será extraordinária, independentemente do direito coletivo tutelado, dessa
forma, respeitando a opinião do brilhante jurista, não se coaduna com todo seu posicionamento,
somente quanto à questão da diferenciação entre legitimidade extraordinária por substituição
processual e por representação. Sobre o tema conferir: (SHIMURA, Sérgio. O papel da associação
na ação civil pública. In: MAZZEI, Rodrigo; NOLASCO, Rita Dias. Processo Civil Coletivo. São Paulo:
Quatier Latin, 2005, p. 142-170).
19 Quanto ao histórico das ações coletivas, cf.: YEAZELL, Stephen C. From Medieval Group
Litigations to the Modern Class Action. New Haven and London: Yale University Press, 1987.
20 Como afirma Rodolfo Mancuso de Camargo: “No plano da jurisdição coletiva, o devido processo
legal não pode ser com a mesma rigidez e ortodoxia, a começar por conta das finalidades de largo
espectro social que aí são perseguidas” (MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Jurisdição Coletiva e
Coisa Julgada: Teoria Geral das Ações Coletivas. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2012, p. 303). Sobre o
devido processo legal coletivo, cf. ainda: (CAPPELLETTI, Mauro. Formazioni Social e Interessi di
Grupp Davanti ala Giustizia Civile. Rivista di Diritto Processuale, n. 3, 1975, p. 365; VITORELLI,
Edilson. O Devido Processo Legal Coletivo: Dos Direitos aos Litígios Coletivos. São Paulo: Ed. RT,
2016).
21 VENTURI, Elton. Processo Civil Coletivo: A Tutela Jurisdicional dos Direitos Difusos Coletivos e
Individuais Homogêneos no Brasil. São Paulo, 2007, p. 24.
22 ZANETI JR, Hermes; DIDIER JR., Fredie. Conceito de Processo Jurisdicional Coletivo. Revista de
Processo. ano 39. v. 229. mar./2014, p. 276. Também em DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes.
Curso de Direito Processual Civil. Processo Coletivo, p. 177.
23 Existem, no Brasil, três grandes teorias acerca da natureza da legitimação nas ações coletivas: a)
legitimação ordinária, b) legitimação extraordinária por substituição processual, c) legitimação
autônoma para condução do processo. Adotou-se a segunda no presente trabalho, por
compreender-se ser mais adequada ao modelo brasileiro de processo coletivo. Ver amplamente
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Coletivas em Defesa ao Consumidor
sobre a temática: ZANETI JR., Hermes. A legitimidade conglobante nas ações coletivas: A
substituição processual decorrente do ordenamento jurídico. In: Videre. Dourados, MS. ano 2, n. 3,
jan./jun. 2010, p. 101-116.
28 O art. 82, § 1.º do CDC (LGL\1990\40) possibilita que o juiz dispense o requisito da
pré-constituição por algumas particularidades: quando existe manifesto interesse social; pelas
peculiaridades e dimensões do dano; ou pela relevância do bem jurídico tutelado em juízo.
29 Sobre o tema, cf.: DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito Processual Civil.
Processo Coletivo, op. cit., p. 186-197; GIDI, Antônio. A representação adequada nas ações
coletivas brasileiras: uma proposta. Revista de Processo, n. 108, 2003, p. 61-70; GRINOVER, Ada
Pellegrini. Novas questões sobre a legitimação e a coisa julgada nas ações coletivas. O Processo –
Estudos e Pareceres. 2. ed. São Paulo: DPJ, 2009, p. 266-278; LAMY, Eduardo de Avelar; TEMER,
Sofia Orberg. A representatividade adequada na tutela de direitos individuais homogêneos. Revista
de Processo, v. 206, abr./2012, p. 167-185.
31 Essa verificação judicial da legitimação, toma como base a chamada adequacy of representation
prevista no modelo americano das class actions, mais especificadamente na alínea (a) (4) da Federal
Rule 23of Civil Procedure, a qual releva como um dos requisitos de certificação das class actions que
“the representative parties will fairly and adequately protect the interests of the class”, ou seja, o
substituinte, o representante da coletividade deve ser capaz de defender justa e adequadamente os
interesses dos membros do grupo em juízo. Conferir amplamente: MULHERON, Rachel. The Class
Action in common law legal systems: a comparative perspective. Oxford: Hart Publishing, 2004, p.
276-319; ZANETI JR., Hermes; FERRAZ, Claudio Ferreira. A doutrina da legitimação dos órgãos do
Estado para a tutela coletiva. In: Revista de Processo, v. 212, out/2012, p. 135-162; GIDI, Antônio. A
Class Action como instrumento de tutela coletiva dos direitos: As ações coletivas em uma
perspectiva comparada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 99-129; ROQUE, André
Vasconcelos. Class Actions. Ações Coletivas nos Estados Unidos: o que podemos aprender com
eles? Salvador: Juspodivm, 2013, p. 118-131.
32 Como ressalta Antônio Gidi em sua proposta de Código de Processo Civil Coletivo (art. 3.º),
diversos são os fatores que o juiz deve levar em conta na análise da adequada representação,
destacamos: “3.1.1. A competência, honestidade, capacidade, prestígio e experiência do
representante; 3.1.2. O histórico na proteção judicial e extra-judicial dos interesses do grupo; 3.1.3. A
conduta e participação no processo coletivo e em outros processos anteriores; 3.1.4. A capacidade
financeira para prosseguir na ação coletiva; 3.1.5. O tempo de instituição e o grau de
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representatividade perante o grupo” (GIDI, Antônio. Rumo a Código de Processo Civil Coletivo. A
Codificação das Ações Coletivas no Brasil. Rio de Janeiro: GZ, 2008, p. 74).
35 Nesse ponto vale destacar que a extensão subjetiva da coisa julgada coletiva aos demais
membros do grupo ocorrerá somente para beneficia-los, quando a ação coletiva for julgada
procedente (secundum eventum litis), em caso de improcedência, preservam-se os direitos
individuais dos membros, os quais poderão ingressar posteriormente com ações individuais (art. 103,
§ 1.º e 3.º do CDC (LGL\1990\40)). Outra peculiaridade nas ações coletivas acontece em relação à
possibilidade de repropositura da demanda coletiva, por qualquer colegitimado, com fundamento em
prova nova capaz de alterar o resultado da demanda anterior, quando esta tiver sido julgada
improcedente por insuficiência de provas (coisa julgada secundum eventum probationis). Sobre o
tema cf., GIDI, Antônio. Coisa Julgada e Litispendência em Ações Coletivas. São Paulo: Saraiva,
1995.
36 Nesse sentido posiciona-se Elton Venturi, “quando a Constituição Federal brasileira disciplinou a
representatividade das associações civis para o ajuizamento de ações judiciais, obviamente não
tratou da tutela coletiva dos direitos individuais homogêneos (inexistentes no sistema nacional até
então). Assim sendo, a exigência contida no art. 5.º, XXI, da CF (LGL\1988\3), relativa à
representação judicial de seus filiados, deve ser interpretada condizentemente tão somente à
dedução de pretensões de tutela jurisdicional de interesses ou direitos individuais puros (não
homogêneos, portanto) de alguns dos seus filiados. Neste sentido, sim, parece correta (e literal) a
distinção entre sindicatos e associações civis quando do ajuizamento de ações judiciais. Todavia, em
se tratando de autêntica tutela coletiva de direitos individuais homogêneos, aplica-se o art. 82, IV, da
Lei 8.078/1990, segundo o qual, para a tutela destes, são legitimadas, concorrentemente”
(VENTURI, Elton. O Problema da “Representação Processual” das Associações Civis na Tutela
Jurisdicional dos Direitos Individuais Homogêneos Segundo a Doutrina de Alcides Alberto Munhoz da
Cunha e a Atual Orientação do Supremo Tribunal Federal. Revista de Processo, São Paulo, v. 41, n.
255, maio/2016, p. 286-287), entretanto, nas notas conclusivas o autor parece possui entendimento
diverso do defendido nesse trabalho quanto à ratio do precedente do STF no RE 573.232/SC.
37 Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido: (...) III – por organização sindical,
entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um)
ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade ou de
parte de seus membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas
finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.
38 Sobre o tema, defendendo a teoria dos precedentes normativos formalmente vinculantes, ver,
amplamente, ZANETI JR., Hermes. O Valor Vinculante dos Precedentes: Teoria dos Precedentes
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Normativos Formalmente Vinculantes [2015]. 2. ed., rev. e atual. Salvador: Juspodivm, 2016.
40 Sobre a ratio decidendi, na doutrina do Common Law, ver WAMBOUGH, Eugene. The Study of
Cases. 2. ed. Boston: Little, Brown, and Company, 1894, p. 17; GOODHART, Arthur L. Determining
the ratio decidendi of a case. Yale Law Journal, vol. 40, n. 2, p. 161-183, dec./1930; CROSS, Rupert;
HARRIS, J. W. Precedent in english law. New York: Oxford University Press, 1991, p. 77;
MACCORMICK, Rethoric and the Rule of Law. A theory of legal reasoning. New York: Oxford
University Press, 2005, p. 209; DUXBURY, Neil. The Nature and Authority of Precedent. Cambridge:
Cambridge University Press, 2008, p. 77.
41 Sobre o problema principal da identificação das similaridades entre as categorias de fatos que
podem ser albergadas sobre um mesmo precedente, conferir, na doutrina do Common Law,
SCHAUER, Frederick, Thinking like a lawyer. A new introduction to legal reasoning. Cambridge:
Harvard University Press, 2009, §§ 3.º e 4.º Para Schauer muito embora as categorias sejam
desenhadas como relevantes a partir do direito, existe uma grande influência das categorias reais
(do mundo) nesta definição, esta influência será maior ou menor dependendo da matéria e da
existência de uma base legal para a identificação da categoria que não decorra do precedente. No
civil law geralmente estamos acostumados a identificação das categorias relevantes a partir do
direito legislado: “Assim, incumbe ao julgador do caso-atual demonstrar ‘(...) fundamentadamente se
tratar de situação particularizada por hipótese fática distinta ou questão jurídica não examinada, a
impor solução jurídica diversa. A questão é de fundamental importância, por exemplo, no julgamento
dos casos repetitivos, nos quais o CPC determina a verificação pelo tribunal de todos os argumentos
favoráveis e contrários à tese jurídica discutida (art. 984, § 2.º, e art. 1.038, § 3.º)’.” (ZANETI JR.,
Hermes. O Valor Vinculante dos Precedentes, p. 355).
42 “Such a doctrine should be overruled if, but only if, the advantages of making the legal socially
congruent and systemically consistent outweigh the costs of not serving the values that underlie
doctrinal stability and stare decisis”. Cf. EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law.
Cambridge: Harvard University Press, 1991, p. 122; na doutrina brasileira, MARINONI, Luiz
Guilherme. Precedentes obrigatórios. 4ª ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015, p. 251-260; PEIXOTO, Ravi. Superação do precedente e segurança jurídica.
Salvador: Juspodivm, 2015. Vale ressaltar que apenas os tribunais que formaram o precedente é que
poderão proceder à sua revisão, sob pena de ruína do modelo de precedentes e o efeito vinculante
que essencialmente lhe subjaz: “Os precedentes não são imutáveis, podem, portanto, ser
modificados, alterados, superados pelo tribunal que os estabeleceu ou por tribunal superior (art. 489,
§ 1.º, VI; art. 927, §§ 2.º e 4.º). O tribunal ou juiz que não possui hierarquia para superar o
precedente deverá aplicá-lo com a ressalva de seu entendimento pessoal, possibilitando a parte que
recorra da decisão (v.g., art. 941, § 3.º)”. (ZANETI JR., Hermes. O Valor Vinculante dos Precedentes,
p. 355).
45 Cf. IV FPPC-BH Enunciado 319 – (art. 927). Os fundamentos não adotados ou referendados pela
maioria dos membros do órgão julgador não possuem efeito de precedente vinculante. (Grupo:
Precedentes).
46 O voto vencido não se confunde com o obiter dictum. No CPC/2015 (LGL\2015\1656) o voto
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vencido integra o acórdão para todos os fins, inclusive para fins de pré-questionamento (art. 941, §
3.º).
47 Teoria dos fundamentos não ratificados ou não aprovados pelo órgão colegiado, os quais, não
sendo determinantes para a conclusão final por terem adoção parcial, não expressam o
entendimento da corte, não tendo força vinculante. Sobre o problema da colegialidade, ver
MARINONI, Luiz Guilherme. Julgamento nas Cortes Supremas. Precedente e Decisão do Recurso
diante do Novo CPC. São Paulo: Ed. RT, 2015.
48 Veja-se o que o Min. Marco Aurélio disse, manifestando sua divergência em relação ao
posicionamento do relator: “Presidente, se puder utilizar a palavra, já que foi citado precedente da
minha lavra, faço-o para distinguir dois institutos: o da representação e o da substituição processual.
É inconcebível que haja uma associação que, pelo estatuto, não atue em defesa dos filiados. É
inconcebível. O que nos vem da Constituição Federal? Um trato diversificado, considerado sindicato,
na impetração coletiva, quando realmente figura como substituto processual, inconfundível com a
entidade embrionária do sindicato, a associação, que também substitui os integrantes da categoria
profissional ou da categoria econômica, e as associações propriamente ditas. Em relação a essas, o
legislador foi explícito ao exigir mais do que a previsão de defesa dos interesses dos filiados no
estatuto, ao exigir que tenham – e isso pode decorrer de deliberação em assembleia – autorização
expressa, que diria específica, para representar – e não substituir, propriamente dito – os integrantes
da categoria profissional”.
50 “Uma ratio decidendi, enquanto significado que revela o sentido de um texto legal ou mesmo
constitui regra editada pela Corte para resolver um caso, em princípio só pode ser formada pela
maioria do colegiado” Cf. MARINONI, Luiz Guilherme. Julgamento nas Cortes Supremas, p. 37.
52 A reforma da Lei 13.105, pela Lei 13.256/2016, estabeleceu: “Art. 966. A decisão de mérito,
transitada em julgado, pode ser rescindida quando: (...) V- violar manifestamente norma jurídica. (...)
§ 5.º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra decisão
baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não
tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão
decisório que lhe deu fundamento”.
não mais são representados pela associação autora, notadamente na subjacente ação judicial. Por
sua vez, a nova associação, que pretende assumir a titularidade do polo ativo da subjacente ação
civil pública, não detém qualquer autorização para representar os associados do ente associativo
demandante. Aliás, da petição de ingresso no presente feito, constata-se que o petitório não se fez
acompanhar sequer da autorização de seus próprios associados para, no caso, prosseguir com a
presente ação, o que, por si só, demonstra a inviabilidade da pretensão. E, ainda que
hipoteticamente houvesse autorização nesse sentido (de prosseguimento no feito), esta, por óbvio,
não teria o condão de suprir a ausência de autorização dos então associados da demandante, o que
conduz à inarredável conclusão de que a associação interveniente não possui legitimidade para
prosseguir com a presente ação. 4.2 In casu, o Ministério Público, ciente da dissolução da
associação demandante, não manifestou interesse em prosseguir com a subjacente ação coletiva, o
que enseja a extinção do feito, sem julgamento de mérito. 5. Recurso Especial provido. (REsp
1405697/MG, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, 3.ª T, j. 17.09.2015, DJe 08.10.2015)”.
56 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito Processual Civil. Processo Coletivo, p.
213. Ainda no que diz respeito ao controle das ações por parte das associações, destaca Kazuo
Watanabe: “Não se deve temer pelos abusos das associações em razão da facilitação de acesso à
justiça, pois o legislador cuidou de prever sanções para as hipóteses de litigância de má-fé,
estabelecendo a penalização não somente da associação, como também dos diretores responsáveis
pela propositura da ação no art. 87 e parágrafo único do CDC” (WATANABE, Kazuo. Comentários ao
art. 82 do CDC, p. 95).
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