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falência*
I
PRELIMINARES
1. Colocação do problema1
2. Razão de ordem
Os efeitos substantivos da falência (breviter), mesmo no plano do
direito privado, desenvolvem-se em mais de um sentido, pelo que se jus
tifica, em breve nota prévia, uma palavra dirigida à ordenação da matéria.
Do nosso ponto de vista, esses múltiplos efeitos podem arrumar-se
em três grupos.
Primariamente, a declaração de falência interfere, sem dúvida, com
o estado pessoal do falido.
Independentemente de qual seja a qualificação jurídica dessa nova
situação jurídica, este ponto não pode deixar de merecer primazia, até por,
em alguma medida, interferir com certos aspectos do regime de outros
efeitos.
O segundo momento a considerar relaciona-se com o próprio fim
que comanda o processo de falência. Está em causa a liquidação universal
do património do falido e a satisfação, à sua custa, dos direitos dos
credores. Justifica-se, assim, a nosso ver, a análise em separado dos
efeitos da falência no património do falido.
Embora, tal como o anterior, revele uma clara conexão com a
maneira de ser da liquidação judicial do património do falido, um terceiro
grupo de efeitos merece referência à parte. Como logo se deixa ver, é
provável que estejam em curso de execução, no momento da declara
ção de falência, negócios anteriormente celebrados pelo falido. O seu
destino, rectius, a sua subsistência ou não, após a declaração de falência,
EFEITOS SUBSTANTIVOS DA DECLARAÇÃO DE FALÊNCIA 21
bem como o regime do seu cumprimento, não é, por certo, uma das
questões menos relevantes neste domínio. Podem aqui verificar-se efei
tos de vária ordem, em função de factores em que interfere a forma como
esses actos se projectam nos interesses dos credores.
Sendo eles prejudiciais aos credores, sempre estaria aberta a via
comum da impugnação pauliana; mas o julgador entendeu adequado,
para além de estabelecer algumas especialidades nesse domínio, admitir
também a resolução de actos do falido praticados antes da declaração de
falência. Noutro plano, há negócios jurídicos do falido cuja manutenção
ou se mostra inadequada, ou não faz sentido após a declaração de falência;
por isso se extinguem por efeito dela. Finalmente, não sendo aplicável
qualquer destas soluções, o legislador entendeu preferível, em relação a
certos actos, deixar à apreciação do liquidatário judicial a escolha do
caminho mais adequado aos interesses da massa falida quanto ao destino
de negócios celebrados pelo falido, antes da declaração de falência. Não
está mesmo excluída a hipótese de elas se manterem e serem cumpridas
as obrigações deles emergentes.
A este esquema obedece a exposição subsequente.
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A SITUAÇÃO JURÍDICA DO FALIDO
4. Residência do falido
5. Regime de suprimento
6 Numa fórmula que temos por menos feliz, este último preceito diz “representar
a massa”. Ora, a massa falida, como já escrevemos noutro local, não é mais que o
“conjunto dos bens do falido, sujeitos ao processo de falência” (“Teoria Geral do Direito
Civil”, vol. I, 2a ed., Lisboa, 1995, nota (2), pág. 309). Estes bens são os susceptíveis de
penhora, embora possam compreender outros (n°s l e 2 do art° 175°).
7 Sobre o regime da administração, havendo “falências derivadas", cfr. art° 142°.
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10 A lei não usa aexpressão cumprimento, mas sim pagamento', embora em sentido
técnico-jurídico as duas palavras apareçam muitas vezes como sinónimos, em linguagem
comum a segunda é ligada ao cumprimento das obrigações pecuniárias. O Código Civil
reserva, em regra, a palavra pagamento para esta modalidade de obrigações, embora use
também, a respeito delas, falar em cumprimento (cfr. Almeida Costa, “Direito das
Obrigações”. 5* ed„ Coimbra, 1991, pág. 844).
11 Esta expressão do legislador não é muito fel iz por sugerir a ideia de cumprimento
em dinheiro, reforçada, como se salientou na nota anterior, por o preceito já antes falar
em "pagamento". Melhor seria ter usado a palavra "bem”.
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8. Reabilitação do falido
14 Em “Teoria Geral do Direito Civil", 1* ed„ vol. 1,1.1, Lisboa, 1983, págs. 355
e segs.. Na 2* ed., cfr. vol. I, pág. 313.
15 Por oposição à incapacidade natural do menor.
16 É, aliás, significativo o facto de a lei civil aproximar o falido do pródigo, quanto
às limitações supra enumeradas (n° 3.III).
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III
EFEITOS QUANTO AO PATRIMÓNIO DO FALIDO
17 Daí a nova redacção que o art° 4o do diploma preambular deu aos art°s 264° e 300°
do Código do Processo Tributário.
18 Outra providência do mesmo tipo é a de apreensão dos elementos da contabilidade
do falido.
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20 Vd. Norberto Severino e A. Barros Lima Guerreiro, ob. cit., pág. 153; Manuel
A. Gama Prazeres. “Código dos Processos Especiais de Recuperação da Empresa e de
Falência", anot. e act., Porto Editora, pág. 125; e Américo Bacelar, “Código dos Processos
Especiais de Recuperação da Empresa e de Falência Anotado", Lisboa, 1993, pág. 122.
Quanto às reacções favoráveis da doutrina, a esta medida, perante o projecto do Código,
vd. Abílio M. Almeida Morgado, “Processos Especiais de Recuperação da Empresa e de
Falência. Uma apreciação do novo regime”, in Estudos efectuados por ocasião XXX
Aniversário do Centro de Estudos Fiscais, Lisboa, 1993, págs. 60-61; e António Campos,
“Projecto do novo diploma regulador dos «Processos Especiais de Recuperação da
Empresa e de Falência»”, in Revista da Banca, n° 22 (1992), pág. 81.
De resto, a medida vinha já sendo reclamada pela doutrina (cfr. J. Pinto Furtado,
“Perspectivas e Tendências do Modemo Direito da Falência”, in Revista da Banca, n° 11
(1989), pág. 27.
21 Neste sentido, são excessivas as afirmações de Américo Bacelar, em nota ao art°
153° (ob. cit., pág. 122), e de Manuel A. Gama Prazeres, ob. cit. pág. 125.
22 Assim o sustentámos, juntamente com o Dr. João Labareda, na Anotação ao
Código que temos vindo a citar (notas 5. e 6. ao art° 152°, págs. 381-382).
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natureza diferente dos cobertos pelas garantias aí previstas, ou, ainda quanto aos créditos
do art° 152°, garantias constituídas contratual mente, nos termos gerais de direito (cfr.,
neste sentido. Norberto Severino e A. Barros Lima Guerreiro, ob. cit., pág. 153).
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IV
EFEITOS QUANTO AOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
ANTERIORES À DECLARAÇÃO DE FALÊNCIA
14. Generalidades
a No sentido do texto, vd. Carvalho Femandes e João Labareda, ob. cit., nota 1.
ao art° 156 (págs. 388-389). Quanto ao momento concreto que constitui o terminus a quo
do prazo - abertura do processo - vale o n° 1 do art° 267° do Código de Processo Civil.
29 Sobre as razões que justificam a resolubilidade, sem mais requisitos, dos actos
gratuitos, e que justamente se não verificam nas exclusões contempladas no n° 2 do art°
156°, vd. Manuel A. Gama Prazeres, ob. cit., pág. 126.
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41 Cfr., a este respeito, o n° 5 do art° 201 °, do qual resulta aplicar-se o regime do arto
164°, mesmo que as mercadorias já tenham sido recebidas pelo falido, se puderem ser
«identificadas e separadas das que pertencerem à parte restante da massa».
42 Se tiver havido essa aquisição, o contrato mantém-se, com o direito de o
vendedor fazer valer o seu crédito, na falência, como credor comum.