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FALIMENTAR:
RECUPERAÇÕES
JUDICIAL E
EXTRAJUDICIAL
Bruno Baldinoti
Efeitos da falência
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Quando o ativo do devedor empresário ou sociedade empresarial não é
o suficiente para resolver o passivo, fica caracterizada a sua insolvência.
Assim, surge a possibilidade da decretação da falência do empresário ou
da sociedade, podendo ser por solicitação própria, autofalência ou por
pedido dos credores, caso cumpram os requisitos.
Entende-se que a garantia dos credores é o patrimônio do falido,
devendo os titulares do crédito constituir uma única massa dentro do pro-
cesso de falência para uma execução coletiva ao devedor. Para garantir a
todos os credores o direito de igualdade na oportunidade de recebimento
do crédito, ao ser decretada a falência pelo juízo, são implicados efeitos
aos credores e aos falidos e seus contratos, que passam a ter direitos e
obrigações frente ao processo falimentar.
Neste capítulo, você vai estudar os efeitos da falência. Vai ver quais são
os direitos e deveres da pessoa do falido e dos credores, assim como quais
são os contratos celebrados, especialmente em relação aos bens do falido.
Art. 81. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimita-
damente responsáveis também acarreta a falência destes, que ficam sujeitos
aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade falida e, por
isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se assim o desejarem.
§ 1º O disposto no caput deste artigo aplica-se ao sócio que tenha se retirado
voluntariamente ou que tenha sido excluído da sociedade, há menos de 2
(dois) anos, quanto às dívidas existentes na data do arquivamento da alteração
do contrato, no caso de não terem sido solvidas até a data da decretação da
falência. […]
Art. 190. Todas as vezes que esta Lei se referir a devedor ou falido, com-
preender-se-á que a disposição também se aplica aos sócios ilimitadamente
responsáveis (BRASIL, 2005, documento on-line).
Por fim, o falido continua responsável por todas as dívidas da falência até
a conclusão de pagamento ou a prescrição dos mesmos, tendo seus direitos
garantidos, porém devendo cumprir com suas obrigações impostas pela Lei
de Falências.
Os contratos bilaterais da falida que não tenham ainda sua execução iniciada
por nenhuma das partes e os unilaterais podem ser rescindidos pelo adminis-
trador judicial autorizado pelo Comitê, se isso for do interesse da massa de
credores, ou seja, se o cumprimento do contrato reduzir ou evitar o aumento
do passivo ou revelar-se necessário à manutenção do ativo (COELHO, 2012,
p. 225).
Atenção particular deve-se ter, no exame desse assunto, para a cláusula ex-
pressa de resolução por falência. Nos contratos interempresariais, costuma
constar do instrumento a expressa previsão de resolução na hipótese de falência
de um ou qualquer dos contratantes. Se as partes pactuaram cláusula de reso-
lução por falência, esta é válida e eficaz, não podendo os órgãos da falência
desrespeitá-la. […] O direito falimentar, como capítulo do direito comercial,
tem normas contratuais de natureza supletiva da vontade dos contratantes;
seus preceitos sobre obrigações contratuais só se aplicam se as partes não
convencionaram diferentemente (COELHO, 2012, p. 225–226).
Desse modo, o Direito Falimentar traz como regra geral que os contratos
bilaterais e que ainda não foram executados, de forma integral ou parcial, não
se resolvem pela decretação da falência, salvo em caso de cláusula resolutiva
por falência expressa, que prioriza a vontade das partes. Além da cláusula
resolutiva por falência que pode constar nos contratos, a Lei de Falências
também estabelece regras específicas definidas nas celebrações de determi-
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nados contratos, conforme dispõe o rol dos contratos em espécie do art. 119
do referido texto legal, em sua maioria, interferindo nos bens do falido.
Os empregados contratados pelo administrador judicial não fazem parte dos contratos
de trabalho dos trabalhadores da empresa falida, assim, as despesas com esses em-
pregados não concorrem na classe dos créditos trabalhistas — elas são consideradas
despesas extraconcursais.
Como uma exceção da regra geral dos contratos do falido estão os contratos
administrativos. Após ser decretada a falência, a administração pública pode
rescindir tanto os contratos de fornecimento de bens ou serviços — autori-
zados pelo inciso IX do art. 78 da Lei n.º 8.666, de 21 de junho de 1993, que
regulamenta os contratos de licitações —, quanto os contratos que se referem à
exploração de serviços públicos. A extinção da concessão está autorizada pelo
inciso VI do art. 35 da Lei n.º 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe
sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos.
Isso ocorre porque, uma vez que os contratos realizados entre um ente
público e um particular são tratados como forma de licitação, consequente-
mente, submetem-se ao regime administrativo. Desta forma, toda vez que
um empresário tiver um contrato com a administração pública e ele falir,
seu contrato será rescindido, pois se sobressai o interesse público da relação
contratual.
Por último, quanto aos contratos que produzem efeito nos bens do falido,
a lei falimentar, em regra, proíbe a compensação de créditos transmitidos
aos credores do falido após a decretação da falência, ou até mesmo antes
da decretação, quando o estado da crise já era conhecido pelas partes. Essa
proibição também ocorre quando ocorre fraude ou dolo na transferência.
Em contrapartida, Fábio Ulhoa Coelho (2012, p. 235–236) afirma que “Ressalva
da proibição apenas os créditos transmitidos após a decretação da falência
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Os credores podem executar todos os bens do falido para a quitação de seus débitos,
inclusive após o processo de falência, com o surgimento de novos bens.
Quanto à massa subjetiva, Fazzio Júnior (2016, p. 663) ensina que “A ex-
pressão massa falida comporta duas acepções: subjetiva, quando designativa
dos credores; objetiva, quando pertinente ao patrimônio colocado sob regime
falimentar”. Assim, todos os credores comuns do devedor falido obrigam-se a
comparecer ao juízo universal e concorrer ao ativo do devedor, pelo montante
de seus créditos, para que, então, haja a partilha dos bens de forma equitativa,
bem como em conformidade com a classificação dos créditos.
12 Efeitos da falência
Existem três exceções que devem ser observadas em relação às ações suspensas: as
ações que demandam quantias ilíquidas, isto é, aquelas em que ainda não se obteve
o título judicial necessário à liquidação; as ações e execuções por créditos que não são
sujeitos ao rateio; e as ações referentes às obrigações personalíssimas.
Com a arrecadação de bens do devedor, o mesmo não pode sofrer alteração, no tocante
à perda, em sua conjuntura patrimonial existente na data da decretação da falência.
BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Consti-
tuição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e
dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1993. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm. Acesso em: 19 jul. 2020.
BRASIL. Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de concessão e
permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição Fe-
deral, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1995. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8987compilada.htm. Acesso em: 19 jul. 2020.
BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial
e a falência do empresário e da sociedade empresária. Brasília: Presidência da República,
2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/
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COELHO, F. U. Curso de Direito Comercial. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 3.
FAZZIO JÚNIOR, W. Manual de Direito Comercial. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
NEGRÃO, R. Aspectos objetivos da Lei de Recuperação de Empresas e de Falências. São
Paulo: Saraiva, 2005.
Leituras recomendadas
BRASIL. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília: Presidência
da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10406.htm. Acesso em: 19 jul. 2020.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília: Presidência
da República, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 19 jul. 2020.
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