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FALÊNCIA

8º PERÍODO - UNIFICADO
Noturno

Garanhuns, 2023.1.
FALÊNCIA
LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA

Mas, com efeito, as situações revelam uma tentativa malograda de


recuperação. A sua causa direta é a frustração da iniciativa de recuperação
judicial, quando o devedor já demonstrou o seu estado de crise econômico-
financeira, objetivando a sua superação pela vontade dos credores. Não
sucede, pois, a situação de um originário processo pré-falencial.
FALÊNCIA
LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA

Argumento maior a amparar a impossibilidade da falência ex officio, repousa


na circunstância de poder o credor ou o próprio devedor requerente da falência
dela desistir, embora caracterizado o fato ensejador da quebra. Ao juiz não
assiste a iniciativa de resistir, cabendo-lhe homologar a desistência, tão
somente. Se fosse possível falência de ofício, convencido do fato revelador da
insolvência, declararia a falência, mesmo contrariamente à desistência
apresentada pelo autor do requerimento.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DO DEVEDOR

Prescreve o art. 105 da Lei n. 11.101/2005: “O devedor em crise econômico-


financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação
judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da
impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial [...]”.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DO DEVEDOR
Sem embargo do emprego do verbo “deverá”, na verdade esta tentativa de se
desenhar um dever legal acaba sucumbindo ante a inexistência de sanção à não
confissão da falência pelo devedor. A ordem legal converte-se em faculdade. Estando
o devedor em crise econômico-financeira aguda – insolvência – e não reunindo
condições subjetivas (art. 48) para o requerimento de sua recuperação ou, ainda,
sentindo que a superação desse estado não se dará pela vontade de seus credores,
diante de sua ruína patrimonial, da flagrante incapacidade de sua empresa na
geração dos resultados que justificam sua permanência, ou em razão de qualquer
outro fator concreto que se lhe apresente, poderá requerer ao juiz que decrete a sua
falência.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DO DEVEDOR

Na confissão da falência, o devedor instruirá sua petição inicial, a qual deverá


amoldar-se, no que for compatível com a sua natureza, aos requisitos do art. 319 do
Código de Processo Civil de 2015, com os seguintes documentos:
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DO DEVEDOR

(a) demonstrações contábeis referentes aos três últimos exercícios sociais e as


levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita
observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: (i)
balanço patrimonial; (ii) demonstração de resultados acumulados; (iii) demonstração
do resultado desde o último exercício social; (iv) relatório do fluxo de caixa;
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INICIATIVA DO DEVEDOR

(b) relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e


classificação dos respectivos créditos; (c) relação dos bens e direitos que compõem o
ativo, com a respectiva estimativa de valor e documentos comprobatórios de
propriedade; (d) prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em
vigor ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação
de seus bens pessoais;
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INICIATIVA DO DEVEDOR

(e) os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe forem exigidos por lei; (f)
relação de seus administradores nos últimos cinco anos, com os respectivos
endereços, suas funções e participação societária.
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INICIATIVA DO DEVEDOR

Em se tratando de sociedade empresária, a confissão será viabilizada por seu órgão


de administração, a quem compete constituir procurador ad judicia para estar
regularmente em juízo a pessoa jurídica. A atuação do administrador ou dos
administradores deverá estar pautada na deliberação dos sócios, segundo o critério
estabelecido nas respectivas leis societárias345. Sendo a sociedade em comum (Lei
n. 11.101/2005, art. 105, IV), sua representação em juízo se materializará pela pessoa
a quem couber a administração de seus bens (Código de Processo Civil de 2015, art.
75, IX).
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DO DEVEDOR

Interessante questão consiste na indagação, já formulada desde a vigência da lei


anterior, se à confissão da falência podem se opor os credores quando,
evidenciadamente, ainda não se encontrar delineada a insolvência do devedor.
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INICIATIVA DO DEVEDOR

Como judiciosamente observava Requião, “seria possível aos credores, intervindo


no pedido do devedor, informarem ao juiz, deduzindo suas provas e razões, que
o devedor pode perfeitamente pagar os seus credores. Ao juiz caberia, então,
indeferir o pedido de falência, pela confissão do devedor”.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE, DO HERDEIRO
OU DO INVENTARIANTE

Encontram-se especialmente legitimados a requerer falência do espólio do devedor


que faleceu insolvente ou que a insolvência posteriormente tenha aflorado, pessoas a
ele diretamente ligadas. São os casos do cônjuge supérstite, dos herdeiros ou do
inventariante. A competência é cumulativa e não sucessiva.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE, DO HERDEIRO
OU DO INVENTARIANTE

Na hipótese de a iniciativa ser do cônjuge sobrevivente, dúvida se apresenta quanto à


legitimação daquele casado no regime da separação total de bens. Poderia ele fazer
uso do pedido? Na opinião de Miranda Valverde, somente àquele que tenha
interesses econômicos ligados ao espólio do devedor, em consequência do
regime de casamento, é que assistiria o direito. A lei não restringe a possibilidade
do requerimento a um ou mais regimes de bens. A faculdade que se confere ao
cônjuge decorre do interesse da família.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE, DO HERDEIRO
OU DO INVENTARIANTE

Silva Pacheco não via óbice algum nessa iniciativa, afirmando: “qualquer herdeiro
poderá requerer a falência”.

Rubens Requião se opunha à possibilidade, escrevendo: “Não compartilhamos


desse entendimento, pois o preceito legal refere-se a herdeiros e não ao
herdeiro”.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE, DO HERDEIRO
OU DO INVENTARIANTE

Miranda Valverde, adotando intermediária posição sustentava: “têm eles,


individualmente, o direito de requerer a falência do espólio. Todavia, deverá o
juiz, havendo pluralidade de herdeiros, mandar ouvir os demais, se o
requerimento não é formulado por todos eles, é claro”.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE, DO HERDEIRO
OU DO INVENTARIANTE

A lei atual, a fim de esclarecer a dúvida surgida anteriormente na


doutrina, declara, em favor de qualquer dos herdeiros, a
legitimação ativa (art. 97, II).
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INICIATIVA DOS SÓCIOS

Podem ainda requerer a falência: “o cotista ou o acionista


do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da
sociedade”.
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INICIATIVA DOS SÓCIOS

A sociedade em comandita simples é a caracterizada pela


existência de dois tipos de sócios: os sócios comanditários e os
comanditados.
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INICIATIVA DOS SÓCIOS

Os sócios comanditários têm responsabilidade limitada em


relação às obrigações contraídas pela sociedade empresária,
respondendo apenas pela integralização das quotas
subscritas. Contribuem apenas com o capital subscrito, não
contribuindo de nenhuma outra forma para o funcionamento
da empresa, ficando alheios, inclusive, da administração
daquela.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS SÓCIOS

Já os sócios comanditados contribuem com capital e trabalho,


além de serem responsáveis pela administração da atividade de
empresa. Sua responsabilidade perante terceiros é ilimitada,
devendo saldar as obrigações contraídas pela sociedade. A firma
ou razão social da sociedade somente pode conter nomes de
sócios comanditados, sendo que a presença do nome de sócio
comanditário faz presumir que o mesmo é comanditado,
passando a responder de forma ilimitada.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS SÓCIOS

A sociedade em nome coletivo é uma modalidade destinada à


associação somente de pessoas físicas em que os sócios
respondem de maneira solidária e ilimitada pelas obrigações
sociais desde que não haja determinação contrária de limitação.
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INICIATIVA DOS SÓCIOS
A sociedade em nome coletivo não é uma criação do direito
brasileiro e nem mesmo algo atual. É um conceito de sociedade
que remonta a Idade Média. Sua origem se deu no seio familiar
daquela época, onde as pessoas se associavam para em
conjunto realizar suas atividades econômicas, sendo que o
patrimônio da sociedade se confundia com os dos membros da
família, por isso mesmo, as dívidas acabavam se misturando ao
patrimônio familiar e todos respondiam pelas dívidas da
sociedade.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS SÓCIOS

O sócio deverá, portanto, vir a juízo em nome próprio para pedir,


com base em qualquer dos fundamentos legais, a falência da
sociedade. Cumprir-lhe-á comprovar a sua condição, mediante a
exibição, conforme a hipótese, do contrato social ou das ações,
bastando, nesse último caso, que exiba cópia autêntica do livro
de registro das ações nominativas ou escriturais apontando sua
titularidade.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS SÓCIOS

O sócio deverá, portanto, vir a juízo em nome próprio para pedir,


com base em qualquer dos fundamentos legais, a falência da
sociedade.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS SÓCIOS

Cumprir-lhe-á comprovar a sua condição, mediante a exibição,


conforme a hipótese, do contrato social ou das ações, bastando,
nesse último caso, que exiba cópia autêntica do livro de registro
das ações nominativas ou escriturais apontando sua titularidade.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS SÓCIOS
Percebe-se, uma verdadeira disposição de resguardo ao direito
da minoria, segura de que a demora na abertura do processo de
falência resultará em efetivos prejuízos ao quadro social. É fonte
de defesa do sócio minoritário contra ações da maioria que,
muitas vezes, desejando desviar bens da sociedade, para depois
dissolvê-la irregularmente, evitam a iniciativa. É remédio que se
põe à disposição do sócio para evitar sua responsabilização
pessoal nessas circunstâncias.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS SÓCIOS

Por fim, não se trata de confissão de falência pela sociedade,


mas de requerimento formulado, em seu próprio nome, por um
dos sócios.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS CREDORES

No dia a dia, o mais comum são os pedidos de falência


emanados dos credores. Geralmente, as pretensões vêm
calcadas na impontualidade do devedor.
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INICIATIVA DOS CREDORES

Se empresário for o credor, deverá, com o seu requerimento,


exibir certidão da Junta Comercial comprobatória da
regularidade de sua atividade. Veda, assim, a lei que o
empresário individual ou a sociedade empresária irregular ou de
fato (sociedade em comum) requeiram falência de outro
empresário.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS CREDORES

Mas sendo a falência decretada, por iniciativa de outro credor ou


do próprio devedor, por exemplo, nada impede possam promover
suas habilitações, caso seus créditos já não estejam declarados.
A limitação que sofrem diz respeito à iniciativa do processo pré-
falimentar.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS CREDORES

O credor domiciliado no exterior não fica impedido de requerer a


falência de devedor no Brasil. Porém, se lhe exige que preste
caução relativa às despesas processuais e ao pagamento da
indenização por dolo no requerimento que possa vir a ser
condenado pelo julgamento de improcedência de seu pedido,
nos termos do art. 101 da Lei de Recuperação e Falência.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS CREDORES

A caução se impõe, ainda que o requerente possua bens imóveis


no Brasil, suficientes ao respectivo pagamento, não sendo na
hipótese aplicável a excludente contida na parte final do caput do
art. 83 do Código de Processo Civil de 2015 para os feitos em
geral. O § 2º do art. 97 da Lei n. 11.101/2005, ao exigir a caução,
não cogita de semelhante exceção, prevalecendo, assim, os seus
termos, por ser regra especial.
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INICIATIVA DOS CREDORES

Art. 83. O autor, brasileiro ou estrangeiro, que residir fora do


Brasil ou deixar de residir no país ao longo da tramitação de
processo prestará caução suficiente ao pagamento das custas e
dos honorários de advogado da parte contrária nas ações que
propuser, se não tiver no Brasil bens imóveis que lhes
assegurem o pagamento.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS CREDORES

Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:

(...)

§ 2º O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução


relativa às custas e ao pagamento da indenização de que trata o art.
101 desta Lei.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS CREDORES

A caução deve ser prestada nos próprios autos do


processo pré-falencial.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS CREDORES

Nada obsta que o credor desista do seu requerimento. Poderá


unilateralmente fazê-lo enquanto ainda não oferecida a
contestação (§ 4º do art. 485 do Código de Processo Civil de
2015). Após o fato processual, somente lhe é dado fazê-lo com o
assentimento do requerido.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS CREDORES

Contudo, após a decretação da falência já não mais a desistência


será viável. Desaparece, a partir daí, o interesse privado das
partes que ainda preside o processo pré-falimentar. Decretada a
quebra, inaugura-se o processo de falência, que envolve direito
coletivo dos credores.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DOS CREDORES

Conforme já elucidava Carvalho de Mendonça, a sentença


falencial “facit jus erga omnes, isto é, relativamente aos
credores não representados no processo preliminar da
falência, ainda que não se achem vencidos os seus títulos, o
que se justifica pela necessidade de organizar o processo
coletivo de liquidação, alvo da sentença”.
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INICIATIVA DOS CREDORES

Por seu turno, o Código de Processo Civil de 2015 positiva


entendimento jurisprudencial de que a desistência da ação
somente pode ser apresentada até a sentença (§ 5º do art. 485).
Após a sua prolação, apenas é cabível a desistência ou a
renúncia ao recurso eventualmente interposto.
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INICIATIVA DA FAZENDA PÚBLICA

A iniciativa da Fazenda Pública na ação de falência tem


desafiado inúmeros debates, dividindo a doutrina e
jurisprudência.
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INICIATIVA DA FAZENDA PÚBLICA

Carvalho Neto assim expunha sua convicção:

No que tange à Fazenda Pública, seja ela federal, estadual ou municipal, o


veto persiste. Sendo como é, ex vi legis, credora privilegiada, gozando de
privilégio legal e preferente a todos os demais, a Fazenda Pública só poderá
requerer falência dos seus devedores comerciantes, dentro da técnica atual
da lei de quebras, se renunciasse a esse privilégio. Ora, como isso não é
possível [...], é lógico que não pode a Fazenda Pública requerer a falência
dos seus devedores.
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INICIATIVA DA FAZENDA PÚBLICA
Rubens Requião explanava, com a mesma conclusão, seu magistério:

De nossa parte, estranhamos o interesse que possa ter a Fazenda Pública no


requerimento de falência do devedor por tributos. Segundo o Código Tributário
Nacional, os créditos fiscais não estão sujeitos ao processo concursal, e a
declaração de falência não obsta o ajuizamento do executivo fiscal, hoje de
processamento comum. À Fazenda Pública falece, a nosso entender, legítimo
interesse econômico e moral para postular a declaração da falência de seu
devedor. A ação pretendida pela Fazenda Pública tem, isso sim, nítido sentido de
coação moral, dadas as repercussões que um pedido de falência tem em relação
às empresas solventes.
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INICIATIVA DA FAZENDA PÚBLICA

Fábio Konder Comparato, entretanto, sustenta contrária visão,


aduzindo ser a alegada abusividade da cobrança desprovida de
razão, diante do sentimento de que norma alguma existiria a
impedir opte a Fazenda Pública pela habilitação de seu crédito na
falência em lugar de executá-lo.
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INICIATIVA DA FAZENDA PÚBLICA

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça ficou


cindida na análise da quaestio juris.
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INICIATIVA DA FAZENDA PÚBLICA

A Quarta Turma, por unanimidade de votos, no


julgamento do Recurso Especial n. 138.868/MG, assim
decidiu: “A Fazenda Pública não tem legitimidade para
requerer a falência. Recurso conhecido, mas
improvido”.
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INICIATIVA DA FAZENDA PÚBLICA
A Terceira Turma, todavia, perfilhou-se ao entendimento
contrário, ao apreciar o Recurso Especial n. 10.660/MG, por
maioria de votos: “Não há empeço legal a que Fazenda
Pública requeira a falência de seu devedor. A lei de quebras
somente exclui o credor com garantia real, nos termos do
art. 9º, III, ‘b’. Direito real de garantia e privilégio creditório
não se confundem. Recurso conhecido e provido”.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DA FAZENDA PÚBLICA
Ulteriormente, chegando o tema controverso na 2ª Seção, o Tribunal fixou a seguinte
orientação, por maioria de votos, no enfrentamento do Recurso Especial n. 164.389/MG:

I – Sem embargo dos respeitáveis fundamentos em sentido contrário, a Segunda


Seção decidiu adotar o entendimento de que a Fazenda Pública não tem
legitimidade, e nem interesse de agir, para requerer a falência do devedor fiscal. II –
Na linha da legislação tributária e da doutrina especializada, a cobrança do tributo
é atividade vinculada, devendo o Fisco utilizar-se do instrumento afetado pela lei à
satisfação do crédito tributário, a execução fiscal, que goza de especificidades e
privilégios, não lhe sendo facultado pleitear a falência do devedor com base em
tais créditos.
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LEGITIMAÇÃO PROCESSUAL ATIVA
INICIATIVA DA FAZENDA PÚBLICA

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, ao permitir a


habilitação do crédito tributário em processo de falência, ressalva que
o fato não significa admitir o requerimento de quebra por parte da
Fazenda Pública (confira-se o REsp n. 1.103.405/MG e o REsp n.
988.468/RS), entendimento que não se deve alterar diante do
disposto no art. 7º-A, introduzido pela Lei n. 14.112/2020, que veio a
disciplinar o incidente de classificação do crédito público.
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INICIATIVA DA FAZENDA PÚBLICA

Desse modo, não há como sustentar o interesse de instaurar a


execução coletiva por parte de quem dela não está obrigado a
participar, dispondo de mecanismo próprio, apartado do concurso de
credores falimentar, para cobrança de seu crédito. Há verdadeira falta
de utilidade e necessidade no pedido.
FALÊNCIA
Muito Obrigado

Prof. Me. João Carlos Pinto de Barros

joaocarlospintobarros@gmail.com
joaobarros@aesga.edu.br

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