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FALIMENTAR:
RECUPERAÇÕES
JUDICIAL E
EXTRAJUDICIAL
Bruno Baldinoti
Sujeito passivo na falência
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
O ordenamento jurídico brasileiro sofreu uma série de alterações com
o advento do Código Civil de 2002. Umas das principais mudanças é a
regulamentação dos diversos tipos de sujeitos que podem constituir
uma sociedade empresária ou se tornar empresários individuais. Entre
esses sujeitos, estão o menor, a mulher casada empresária e o sócio ou
empresário na continuidade após incapacitação superveniente.
Além dessas possibilidades, o Código Civil dispõe sobre os requisitos
e obrigações a serem exercidos pela própria pessoa, ou por seu repre-
sentante legalmente estabelecido. Tais possibilidades estão sujeitas ao
processo falimentar, observando-se as particularidades de cada caso
concreto.
Neste capítulo você vai estudar o sujeito passivo na falência. Vai ver a
situação do menor empresário e da mulher casada empresária no âmbito
do Direito Civil, além de ler sobre a continuidade do sócio ou empresário
após incapacitação superveniente.
2 Sujeito passivo na falência
1 Menor empresário
O Decreto-Lei nº. 7.661, de 21 de junho de 1945, antiga Lei de Falências,
estabelecia a possibilidade de decretação de falência do menor com mais de
18 anos. Isso ocorria porque o Código Civil anterior, Lei nº 3.071, de 1º de
janeiro de 1916, trazia como absolutamente incapaz o menor de 18 anos e
relativamente incapaz o maior de 18 e menor de 21.
Até o surgimento do Código Civil de 2002, a maioridade civil se dava aos 21 anos,
sendo alterada para 18 apenas em 2002.
Ocorre que nem todas as pessoas têm capacidade jurídica para exercer
determinados atos, bem como para ser responsáveis por eles. Assim, a incapa-
cidade civil é o estado que impossibilita o gozo ou exercício dos direitos a uma
pessoa. O Código Civil traz as possibilidades da incapacidade, que pode ser
dividida em duas espécies diferentes: a incapacidade absoluta e a incapacidade
relativa, de acordo com os arts. 3º a 5º do referido dispositivo legal.
O art. 3º do código civilista trata da incapacidade civil absoluta, ou seja,
a situação em que a pessoa deve ser representada por outra pessoa plenamente
capaz para exercer seus direitos civis, sendo a hipótese prevista nesse artigo
a dos menores de 16 anos. Já o art. 4º do mesmo código prevê as hipóteses
em que a pessoa tem incapacidade civil relativa, ou seja, a pessoa deve ser
assistida por representante civilmente capacitado para poder exercer os seus
direitos civis. Entre as hipóteses previstas no artigo estão os menores de
18 anos e maiores de 16, vejamos:
Ainda, o Código Civil de 2002 traz, em seu art. 5º, a hipótese da eman-
cipação do menor relativamente incapaz, ou seja, aquele entre 16 e 18 anos,
para casos específicos, sendo este um rol taxativo. Flávio Tartuce (2017, p. 78)
define a emancipação como um “[...] ato jurídico que antecipa os efeitos da
aquisição da maioridade e da consequente capacidade civil plena, para data
anterior àquela em que o menor atinge a idade de 18 anos, para fins civis”.
Flávio Tartuce (2017, p. 78) salienta que “Com a emancipação, o menor deixa de ser
incapaz e passa a ser capaz. Todavia, ele não deixa de ser menor”.
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Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica
habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instru-
mento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença
do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos
tenha economia própria (BRASIL, 2002, documento on-line).
Assim, o Código Civil de 2002 trouxe, em seu art. 5º, inciso V, a pos-
sibilidade de o menor exercer atividade empresária, uma vez que torna-se
emancipado quando constitui estabelecimento comercial, possuindo, conse-
quentemente, economia própria. O art. 966, também do Código Civil, ainda
traz o conceito de empresário, sendo que “Considera-se empresário quem
exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção
ou a circulação de bens ou de serviços” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Portanto, o menor empresário, sendo este individual ou sócio de uma sociedade
empresária, detém as mesmas responsabilidades dos demais empresários
civilmente capacitados.
A partir de sua emancipação, o menor não continua com as vantagens que são con-
feridas ao incapaz, respondendo civilmente da mesma forma como se maior fosse.
Sujeito passivo na falência 5
O sujeito ativo dos delitos falimentares não se limita apenas ao administrador ou aos
seus sócios, podendo atingir o menor empresário pelos crimes cometidos. Nesse
ínterim, a Lei nº 11.101/2005, traz a previsão legal dos crimes que podem ser atribuídos
àquele que comete um crime falimentar, devendo este ser punido na medida de sua
culpabilidade.
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O Decreto-Lei nº. 7.661/1945 somente foi revogado após quase 60 anos pela Lei
nº. 11.101/2005.
Vejamos o texto legal do art. 974 do Código Civil de 2002, que estabelece
as hipóteses de que o empresário pode continuar exercendo sua atividade
empresária mesmo em caso de incapacidade superveniente:
Antes da edição do Código Civil de 2002, não havia previsão legal discipli-
nada pelo ordenamento jurídico brasileiro sobre a incapacidade superveniente.
Foi com o advento desse código civilista que passaram a existir as hipóteses
do incapaz exercer a atividade empresária.
Antes do Código Civil de 2002, não era possível o exercício da atividade empresária da
pessoa que se tornasse incapaz após a sua caracterização como sócio, tendo o mesmo
que se retirar da sociedade, encerrando sua atividade empresarial.
O parágrafo 3º, também do art. 974 do referido texto legal, traz alguns
pressupostos que devem ser seguidos para a continuação da atividade empre-
sária que detém como sócio pessoa com incapacitação superveniente. Entre
os requisitos está a proibição do sócio incapaz de exercer a administração da
empresa, devendo, para todos os casos referentes à sociedade, ser representado
por uma pessoa civilmente capacitada. Outro requisito a ser cumprido é que o
capital social deve ser totalmente integralizado, a fim de que os bens pessoais
do incapaz não sejam atingidos, limitando assim a responsabilidade do sócio
incapaz. Além do já mencionado, acrescenta-se que o absolutamente incapaz
deverá ser representado, ou o relativamente incapaz, ser assistido.
Cumpridos todos esses requisitos, o sócio incapaz poderá exercer a ati-
vidade empresária. Esse é um direito garantido pelo Código Civil de 2002,
ao contrário das disposições anteriores, que não previam tal possibilidade.
Sobre o mesmo assunto, Waldo Fazzio Júnior (2016, p. 164) ensina que:
No caso de morte, as quotas do sócio falecido podem ser divididas mediante o formal
de partilha, devendo estas ser transferidas ao herdeiro, mesmo que incapaz, que
poderá integrar na sociedade, desde que devidamente assistido ou representado.
Por fim, ainda no tocante ao art. 974, parágrafo 2º, do código civilista, como
medida de proteção dos bens do sócio incapaz, o artigo estabelece que os bens
que foram adquiridos anteriormente, em plenitude de sua capacidade, não
poderão responder aos resultados da empresa. Em caso de falência, os bens do
sócio incapaz, anteriores a sua incapacidade, não poderão entrar na massa falida.
Dessa forma, o atual Código Civil trouxe a possibilidade de o sócio que
possui incapacidade superveniente à sua constituição na empresa continuar
na sociedade, desde que devidamente assistido ou representado, não podendo
ser excluído da sociedade pelo simples motivo de sua condição de incapaz.
Ainda, em caso de falência da sociedade, os bens do sócio incapaz, adquiridos
anteriormente à sua condição de incapacidade, não respondem pelos resultados
da empresa.
14 Sujeito passivo na falência
ALMEIDA, A. P. Curso de falência e recuperação de empresa. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
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Sujeito passivo na falência 15
Leituras recomendadas
ARAUJO, J. F. Comentários à Lei de Falências e Recuperação de Empresas. São Paulo:
Saraiva, 2009.
LIMA, O. B. C. O artigo 974 do Código Civil. Revista da Faculdade de Direito da Universidade
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