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Aluna: Ana Célia Camargo Santos

Disciplina: Direito Civil (Segundo Período)


Atividade Discursiva –14/11/2023
Faculdade Anhanguera

Texto I

Presença dos pais dispensa autorização judicial em contrato de gestão de carreira de


atleta relativamente incapaz

A autorização judicial não é indispensável para a validade do contrato de gestão de


carreira firmado com atletas profissionais relativamente incapazes (maiores de 16 e
menores de 18 anos), desde que eles estejam acompanhados dos pais ou do
responsável legal no momento da assinatura.

O entendimento foi firmado pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
ao reformar acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) que, com base no
artigo 1.691 do Código Civil, considerou nulos os contratos de gestão de carreira
firmados por empresas de marketing com um jogador de futebol relativamente
incapaz.

Na ação que deu origem ao recurso, as empresas buscaram receber valores relativos à
sua atuação conjunta na carreira do atleta. Segundo elas, o contrato previa que o
jogador lhes pagasse percentuais sobre as verbas recebidas a título de salários,
bonificações e atividades publicitárias.

Os pedidos foram julgados procedentes em primeiro grau, mas a sentença foi


reformada pelo TJSP sob o fundamento de que o atleta, com 17 anos na época da
assinatura dos contratos, não poderia contrair obrigações sem autorização judicial.
Para o tribunal, nesses casos, não seria suficiente a assistência prestada ao jogador
pela família.

Emancipação

O relator do recurso das empresas, ministro Marco Aurélio Bellizze, lembrou que o
Código Civil, em seu artigo 5º, prevê a possibilidade de emancipação para a aquisição
da capacidade civil plena, sendo uma das hipóteses para tanto a constituição de
estabelecimento civil ou comercial, ou a existência de relação de emprego – desde
que, em função dessas atividades, o menor com 16 anos ou mais tenha economia
própria (inciso V).

"Partindo dessas premissas, constata-se que, preenchidos tais pressupostos de ordem


estritamente objetiva, opera-se automaticamente a emancipação legal, não se
cogitando de nenhum aspecto subjetivo para se implementar a antecipação da
capacidade de fato", afirmou o ministro.

Por esse motivo, o magistrado apontou que o entendimento do TJSP, segundo o qual
seria necessária a autorização judicial no caso dos autos, está em descompasso com a
legislação civil, pois criou requisito que o próprio código não estabeleceu.

Contrato e salário

Além disso, o ministro Bellizze destacou que, de acordo com as informações dos autos,
no momento da assinatura dos contratos de gestão de carreira, o atleta já tinha sido
contratado como jogador profissional de um clube de futebol e recebia salário – o que
caracteriza, portanto, o requisito de economia própria exigido pelo Código Civil.

Em relação ao artigo 1.691 do código, o relator destacou que a nulidade da


contratação de obrigações em nome do menor só poderia ser pleiteada pelo próprio
menor, por herdeiros ou pelo representante legal. Assim, apontou, não há a
possibilidade de decretação da nulidade, de ofício, pelo julgador, como feito pelo TJSP.

Ainda sobre o dispositivo legal, o magistrado ressaltou que a autorização judicial tem o
objetivo de proteger os bens da pessoa incapaz. No entanto, se o menor for
emancipado – seja qual for a espécie de emancipação –, a administração dos bens é
entregue a ele próprio.

Em seu voto, Marco Aurélio Bellizze também lembrou que, embora o artigo 27-C,
inciso VI, da Lei Pelé tenha sido incluído pela Lei 12.395/2011 após a assinatura dos
contratos em discussão, que se deu em 2010, a sua eventual aplicação ao caso não
acarretaria a nulidade dos contratos de gerenciamento de carreira, por se tratar de
atleta profissional (menor) devidamente assistido, ao passo que seriam nulos se
pactuados por atleta, com idade inferior a 18 anos, em formação.

Com o provimento parcial do recurso das empresas, a Terceira Turma determinou o


retorno dos autos ao TJSP, para que o tribunal prossiga na análise das demais questões
discutidas na apelação.
Fonte: Presença dos pais dispensa autorização judicial em contrato de gestão de
carreira de atleta relativamente incapaz. Superior Tribunal de Justiça, 11 mai. 2021.
Notícias. Disponível em:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/11052021-
Presenca-dos-pais-dispensa-autorizacao-judicial-em-contrato-de-gestao-de-carreira-
de-atleta-relativamente-incapaz.aspx. Acesso em: ago. 2022.

Considerando os atributos da capacidade civil, assim como as causas de cessação da


incapacidade, disserte sobre as hipóteses de término da incapacidade civil,
apontando qual a modalidade de cessação ocorreu no texto-base.

Resposta:
O art. 1.º do Código Civil de 2002 dispõe que “Toda pessoa é capaz de direitos e
deveres na ordem civil”. A norma em questão trata da capacidade de direito ou de
gozo, que é aquela que serve para ser sujeito de direitos e deveres na ordem privada, e
que todas as pessoas têm, sem distinção, se iniciando do nascimento com vida; mas
que a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro (art. 2° Código Civil
2002).
Em suma, havendo pessoa, está presente tal capacidade, não importando questões
formais como ausência de certidão de nascimento ou de documentos. (TARTUCE,
Flávio). Além disso, existe ainda uma outra capacidade, que é aquela usada para
exercer direitos, denominada como capacidade de fato ou de exercício, e que algumas
pessoas não têm, que são os incapazes, especificados pelos artigos 3º e 4º do Código
Civil 2002:

Art. 3 o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil


os menores de 16 (dezesseis) anos.

Art. 4 o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:

I - Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II - Os ébrios habituais e os viciados em tóxico;

III - Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;

IV - Os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.

Dito isso, a capacidade da pessoal natural se da pela seguinte fórmula, de acordo com
Flávio Tartuce:
CAPACIDADE DE DIREITO (GOZO) + CAPACIDADE DE FATO (EXERCÍCIO) = CAPACIDADE
CIVIL PLENA.
Sendo que todas as pessoas têm a primeira capacidade (capacidade de direito), o que
pressupõe a segunda, em regra, uma vez que a incapacidade é exceção (TARTUCE,
Flávio) e o artigo 5º do Código Civil vem nos elencar as hipóteses de cessão da
incapacidade:

Art. 5 o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica
habilitada à prática de todos os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante


instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença
do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;

II - pelo casamento;

III - pelo exercício de emprego público efetivo;

IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;

V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de


emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha
economia própria.

Sendo assim, a incapacidade, em regra, cessa-se aos 18 anos completos, nos termos
do artigo 5º, do Código Civil. Ausentes quaisquer hipóteses do artigo 4º, o menor que
atinge a maioridade completa e obtém a capacidade civil plena. Essa hipótese está
presente no TEXTO 1, uma vez que o contrato assinado por um menor (não
emancipado) se torna inválido, pois somente ao completar 18 anos, a pessoa ingressa
na maioridade, completando o desenvolvimento necessário para, de acordo com a lei,
poder realizar de forma completamente autônoma os atos da vida civil, atingindo a
capacidade plena.
Os outros textos abordam hipóteses de emancipação que pode ser conceituada como
sendo o ato jurídico que antecipa os efeitos da aquisição da maioridade e da
consequente capacidade civil plena, para data anterior àquela em que o menor atinge
a idade de 18 anos, para fins civis. Com a emancipação, o menor deixa de ser incapaz e
passa a ser capaz. Todavia, ele não deixa de ser menor (TARTUCE, Flávio)
O TEXTO 2 traz uma a hipótese de cessação da incapacidade que se dá pelo ingresso
do menor em uma relação de emprego ou pelo “estabelecimento civil ou comercial”,
desde que, em função deles, o menor (com dezesseis anos) completos tenha
economia própria. Com esta expressão, o Código se refere à exploração de atividade
econômica pelo menor, sem a relação de subordinação que caracteriza o contrato de
trabalho que é o caso do menor empresário individual ou profissional liberal (TARTUCE,
Flávio). Sendo assim, percebemos que exige a lei, em ambos os casos descritos no
inciso V, dois requisitos cumulativos para que se opere a emancipação: a) ter o menor
16 anos completos e b) que o desenvolvimento de suas atividades lhe permita ter uma
economia própria, ou seja, obter proveitos suficientes para seu sustento.
Por último, o TEXTO 3, disserta sobre as hipóteses de emancipações descritas no art. 5º
em seu inciso I que trata das hipóteses de emancipação voluntária parental e judicial. A
emancipação voluntária parental, segundo Tartuce, se dá por concessão de ambos os
pais ou de um deles na falta do outro. Em casos tais, não é necessária a homologação
perante o juiz, eis que é concedida por instrumento público e registrada no Cartório de
Registro Civil das Pessoas Naturais. Para que ocorra a emancipação parental, o menor
deve ter, no mínimo, 16 anos completos. Já a emancipação judicial se dá por sentença
do juiz, em casos, por exemplo, em que um dos pais não concorda com a emancipação,
contrariando um a vontade do outro. A decisão judicial afasta a necessidade de
escritura pública.
Tanto a emancipação voluntária quanto a judicial devem ser registradas no Registro
Civil das pessoas naturais, sob pena de não produzirem efeitos (art. 107, § 1.º, da Lei
6.015/1973 – LRP). A emancipação legal, por outro lado, produz efeitos
independentemente desse registro.
Para finalizar, as outras hipóteses de emancipação que cessam a incapacidade civil e
que não estão descritas no texto, são, segundo Tartuce:
- A emancipação legal matrimonial que se dá pelo casamento do menor onde
consigne-se que a idade núbil tanto do homem quanto da mulher é de 16 anos (art.
1.517 do Código Civil), sendo possível o casamento do menor se houver autorização
dos pais ou dos seus representantes. O divórcio, a viuvez e a anulação do casamento
não implicam no retorno à incapacidade. No entanto, entende parte da doutrina que o
casamento nulo faz com que se retorne à situação de incapaz, sendo revogável em
casos tais a emancipação, o mesmo sendo dito quanto à inexistência do casamento.
Para outra corrente, como no caso de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, tratando-se de
nulidade e de anulabilidade do casamento, a emancipação persiste apenas se o
matrimônio for contraído de boa-fé (hipótese de casamento putativo).
- A emancipação legal, por exercício de emprego público efetivo é aquela que,
segundo a doutrina, a regra deve ser interpretada a incluir todos os casos envolvendo
cargos ou empregos públicos, desde que haja nomeação de forma definitiva. Estão
afastadas, assim, as hipóteses de serviços temporários ou de cargos comissionados.
- E por último, a emancipação legal, por colação de grau em curso de ensino superior
reconhecido- para tanto, deve ser o curso superior reconhecido, não sendo aplicável à
regra para o curso de magistério antigo curso normal. A presente situação torna-se
cada vez mais difícil de ocorrer na prática.
Bibliografia:

DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. Parte
geral. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
TARTUCE, Flávio Manual de direito civil : volume único / Flávio Tartuce. – 8. ed. rev,
atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

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