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CAPITALISMO HUMANISTA NA

JURISPRUDÊNCIA DO STJ

Paulo Dias de Moura Ribeiro


Ministro do Superior Tribunal de Justiça
1.- O NASCIMENTO DA EMPRESA

 Assim como o art. 16 do novo Código Civil (NCC),


proclama que “toda pessoa tem direito ao nome” tão
logo nasça, porque emanação da personalidade
humana, na mesma toada, a empresa só nasce com o
nome que lhe foi atribuído.  
 Neste sentido, é enfático o art. 967 do NCC ao
estabelecer que “é obrigatória a inscrição ao empresário
no Registro Público de Empresas Mercantis da
respectiva sede, antes do inicio da sua atividade”.
 Aliás, o velho Código Comercial, em seu art. 4º já
enfatizava que “ninguém é reputado comerciante para
efeito de gozar da proteção que este Código liberaliza
em favor do comércio, sem que se tenha matriculado em
alguns dos Tribunais do Comércio do Império, e faça da
mercancia profissão habitual.” 
 A propósito do nascimento da sociedade empresária há
que se ter em conta o art. 983 do NCC que estabelece a
respeito delas:
“A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos
tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples
pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e,
não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são
próprias.”
 Vale, pois, a pena, ter em consideração os tipos de
sociedade empresária e de sociedade simples. Os tipos
societários que o direito brasileiro admite para a
constituição de uma sociedade empresária basicamente
se resumem na sociedade em nome coletivo (arts. 1.039
a 1.044), na sociedade em comandita simples (arts.
1.045 a 1.051), na sociedade limitada (arts. 1.052 a
1.087), na sociedade anônima (arts. 982, parágrafo
único, 1.088 e 1.089; Lei 6.404/1976 - Lei das
Sociedades Anônimas) e na sociedade em comandita
simples por ações (arts. 1.090 a 1.092), consoante
ensina Jorge Shiguemitsu (“Comentários ao Código
Civil”, RT, 3a. Edição revista e atualizada, pág. 1.010).
 Feito o panorama das sociedades empresariais, é possível
tratar do tema que importa, ou seja, o seu registro e a
proteção do seu nome, tal qual a previsão do art. 16 do NCC:
“toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o
prenome e o sobrenome”.

 Mais que isso, o art. 50 da Lei 6.015/1973, Lei de Registros


Públicos, pontua que “todo nascimento que ocorrer no
território nacional deverá ser dado a registro, no lugar em
que tiver ocorrido o parto ou no lugar da residência dos pais,
dentro do prazo de quinze dias, que será ampliado em até
três meses para os lugares distantes mais de trinta
quilômetros do cartório” (com a redação da lei 9.053/1995).
 Calha lembrar a disposição do art. 55 da Lei de
Registros Públicos, que impõe a indicação do nome
completo do recém-nascido perante o Registrador:
“quando o declarante não indicar o nome completo, o
oficial lançará adiante do prenome escolhido o nome do
pai, e na falta, o da mãe, se forem conhecidos e não o
impedir a condição de ilegitimidade, salvo
reconhecimento no ato.”
 No entanto, não se figura aceitável, considerando que o
nome da pessoa natural está alçado ao patamar do
princípio da dignidade abraçado ao direito de imagem, a
redação do art. 55 da Lei de Registros Públicos que
exige do Oficial ao Registro Civil, se o declarante do
nascimento nada disser a respeito, o juridicamente
incompreensível ato de acrescentar ao prenome de
batismo do recém-nascido, apenas o sobrenome do pai.
 Ora, a criança não é fruto só do seu pai. Para o nascimento
dela concorreu, em quase tudo, a mãe. Justo, portanto, que o
seu sobrenome e o sobrenome do pai biológico constem do
registro de nascimento. 
 Qual seria a razão lógica para o legislador, afastar da
obrigação legal do registrador, o lançamento do sobrenome da
mãe depois do prenome do seu filho? 
 No sistema jurídico vigente, respeitada sempre a dignidade
humana e a garantia do direito de imagem, com o devido
acatamento, a regra em destaque com ela não harmoniza e
desborda para a inconstitucionalidade.
 Deste modo, bastante razoável que até que o legislador supra
a enorme lacuna, que as Corregedorias editem provimento no
sentido de obrigarem os Registradores a lançarem, após o
prenome de batismo da criança nascida, o sobrenome da mãe,
seguido do sobrenome do pai, se conhecido for.
 Na mesma oportunidade, poderia o legislador afastar a
ressalva constante do dispositivo legal (“e não o impedir a
condição de ilegitimidade”), já que ela não mais se amolda
ao figurino constitucional, na medida em que o filho,
mesmo havido fora do casamento, tem direito ao uso do
sobrenome paterno na forma do art. 227, § 6º, da
Constituição Federal brasileira.

 Pôde-se, agora, comparar a igualdade de tratamento dado


ao nome da pessoa humana, como atributo da
personalidade, com a necessidade de ser a sociedade
empresária registrada com o nome que deve ser protegido,
nas mesmas condições.
 Com efeito, para além do art. 16 do NCC, os seus arts. 17
e 18 cravam a proteção ao nome da pessoa:
Art. 17. O nome da pessoas não pode ser empregado por
outrem em publicações ou representações que a
exponham ao desprezo público, ainda quando não haja
intenção difamatória. 

Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio


em propaganda comercial. 

Também não escapava dessa proteção o Código Penal


quando previa a usurpação de nome ou pseudônimo
alheio (quem atribuísse falsamente a alguém, mediante o
uso do nome, pseudônimo ou sinal por ele adotado para
designar seus trabalho, a autoria de obra literária).
 Parece que a disposição não se ligava a uma proteção de direito
autoral e talvez, por isso mesmo, tenha sido revogada pela Lei
10.695/2003, como pontifica Arthur Maximus Monteiro (“A
Proteção Legal do Nome da Pessoa Natural no Direito
Brasileiro”, pág. 11).
 O mesmo autor pondera que a disposição legal que mais se
adapte a proteção visada, seja a do art. 299 do CP, que
caracterizará crime aquele que “omitir em documento público ou
particular, declaração que dele deveria constar, ou nele inserir
ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a
verdade sobre fato juridicamente relevante”.
 Por isso, esclarece o autor apontado que quando a falsidade
ideológica implicar falsificação ou alteração do registro civil, o
legislador prevê o aumento da pena em até uma sexta parte
(obra citada). 
 Voltando a questão da proteção do nome da sociedade
empresária, imperioso se deitar os olhos sobre o art. 32 da Lei
8.934/1994 que dispõe sobre o Registro Público de Empresas
Mercantis e Atividades Afins. Veja-se:
“O registro compreende:
II — O arquivamento:
a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e
extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e
cooperativas.” 
 E no art. 33 da Lei 8.934/1994 há expressa proteção ao nome
empresarial:
“A proteção ao nome empresarial decorre automaticamente do
arquivamento dos atos constitutivos de firma individual e de
sociedades, ou de suas alterações”, acrescentando o art. 34 que “o
nome empresarial obedecerá aos princípios da veracidade e da
novidade.”
 Em assim sendo, se o nome da sociedade empresária tem
a mesma proteção que a legislação empresta ao nome da
pessoa natural, outra não poderia ser a posição do
Colendo Superior Tribunal de Justiça ao editar a sua
Súmula 227 que pacificou:
“A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”.
INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. PESSOA JURÍDICA.
A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo de danos
morais, considerados estes como violadores de sua honra
objetiva. Precedentes.
Recurso especial não conhecido.
(REsp 177.995/SP, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO,
Quarta Turma, j. 15/9/1998, DJ 9/11/1998, p. 114)
CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS.
PESSOA JURIDICA. POSSIBILIDADE. HONRA
OBJETIVA. DOUTRINA. PRECEDENTES DO TRIBUNAL.
RECURSO PROVIDO PARA AFASTAR A CARÊNCIA DA
AÇÃO POR IMPOSSIBILIDADE JURIDICA.
- A evolução do pensamento jurídico, no qual convergiram
jurisprudência e doutrina, veio a afirmar, inclusive nesta
Corte, onde o entendimento tem sido unânime, que a
pessoa jurídica pode ser vítima também de danos morais,
considerados esses como violadores da sua honra
objetiva.
(REsp 134.993/MA, Rel. Ministro SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA, Quarta Turma, j. 3/2/1998, DJ
16/3/1998, p. 144)
RESPONSABILIDADE CIVIL - DANO MORAL - PESSOA
JURÍDICA.
I - A ofensa à honra objetiva da pessoa jurídica pode
resultar de protesto indevido de título cambial, cabendo
indenização pelo dano patrimonial daí decorrente.
II - Recurso não conhecido.
(REsp 161.739/PB, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER,
Terceira Turma, j. 16/6/1998, DJ 19/10/1998, p. 92)
GRATO.

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