Ministro do Superior Tribunal de Justiça 1.- O NASCIMENTO DA EMPRESA
Assim como o art. 16 do novo Código Civil (NCC),
proclama que “toda pessoa tem direito ao nome” tão logo nasça, porque emanação da personalidade humana, na mesma toada, a empresa só nasce com o nome que lhe foi atribuído. Neste sentido, é enfático o art. 967 do NCC ao estabelecer que “é obrigatória a inscrição ao empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do inicio da sua atividade”. Aliás, o velho Código Comercial, em seu art. 4º já enfatizava que “ninguém é reputado comerciante para efeito de gozar da proteção que este Código liberaliza em favor do comércio, sem que se tenha matriculado em alguns dos Tribunais do Comércio do Império, e faça da mercancia profissão habitual.” A propósito do nascimento da sociedade empresária há que se ter em conta o art. 983 do NCC que estabelece a respeito delas: “A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias.” Vale, pois, a pena, ter em consideração os tipos de sociedade empresária e de sociedade simples. Os tipos societários que o direito brasileiro admite para a constituição de uma sociedade empresária basicamente se resumem na sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044), na sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051), na sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087), na sociedade anônima (arts. 982, parágrafo único, 1.088 e 1.089; Lei 6.404/1976 - Lei das Sociedades Anônimas) e na sociedade em comandita simples por ações (arts. 1.090 a 1.092), consoante ensina Jorge Shiguemitsu (“Comentários ao Código Civil”, RT, 3a. Edição revista e atualizada, pág. 1.010). Feito o panorama das sociedades empresariais, é possível tratar do tema que importa, ou seja, o seu registro e a proteção do seu nome, tal qual a previsão do art. 16 do NCC: “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome”.
Mais que isso, o art. 50 da Lei 6.015/1973, Lei de Registros
Públicos, pontua que “todo nascimento que ocorrer no território nacional deverá ser dado a registro, no lugar em que tiver ocorrido o parto ou no lugar da residência dos pais, dentro do prazo de quinze dias, que será ampliado em até três meses para os lugares distantes mais de trinta quilômetros do cartório” (com a redação da lei 9.053/1995). Calha lembrar a disposição do art. 55 da Lei de Registros Públicos, que impõe a indicação do nome completo do recém-nascido perante o Registrador: “quando o declarante não indicar o nome completo, o oficial lançará adiante do prenome escolhido o nome do pai, e na falta, o da mãe, se forem conhecidos e não o impedir a condição de ilegitimidade, salvo reconhecimento no ato.” No entanto, não se figura aceitável, considerando que o nome da pessoa natural está alçado ao patamar do princípio da dignidade abraçado ao direito de imagem, a redação do art. 55 da Lei de Registros Públicos que exige do Oficial ao Registro Civil, se o declarante do nascimento nada disser a respeito, o juridicamente incompreensível ato de acrescentar ao prenome de batismo do recém-nascido, apenas o sobrenome do pai. Ora, a criança não é fruto só do seu pai. Para o nascimento dela concorreu, em quase tudo, a mãe. Justo, portanto, que o seu sobrenome e o sobrenome do pai biológico constem do registro de nascimento. Qual seria a razão lógica para o legislador, afastar da obrigação legal do registrador, o lançamento do sobrenome da mãe depois do prenome do seu filho? No sistema jurídico vigente, respeitada sempre a dignidade humana e a garantia do direito de imagem, com o devido acatamento, a regra em destaque com ela não harmoniza e desborda para a inconstitucionalidade. Deste modo, bastante razoável que até que o legislador supra a enorme lacuna, que as Corregedorias editem provimento no sentido de obrigarem os Registradores a lançarem, após o prenome de batismo da criança nascida, o sobrenome da mãe, seguido do sobrenome do pai, se conhecido for. Na mesma oportunidade, poderia o legislador afastar a ressalva constante do dispositivo legal (“e não o impedir a condição de ilegitimidade”), já que ela não mais se amolda ao figurino constitucional, na medida em que o filho, mesmo havido fora do casamento, tem direito ao uso do sobrenome paterno na forma do art. 227, § 6º, da Constituição Federal brasileira.
Pôde-se, agora, comparar a igualdade de tratamento dado
ao nome da pessoa humana, como atributo da personalidade, com a necessidade de ser a sociedade empresária registrada com o nome que deve ser protegido, nas mesmas condições. Com efeito, para além do art. 16 do NCC, os seus arts. 17 e 18 cravam a proteção ao nome da pessoa: Art. 17. O nome da pessoas não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio
em propaganda comercial.
Também não escapava dessa proteção o Código Penal
quando previa a usurpação de nome ou pseudônimo alheio (quem atribuísse falsamente a alguém, mediante o uso do nome, pseudônimo ou sinal por ele adotado para designar seus trabalho, a autoria de obra literária). Parece que a disposição não se ligava a uma proteção de direito autoral e talvez, por isso mesmo, tenha sido revogada pela Lei 10.695/2003, como pontifica Arthur Maximus Monteiro (“A Proteção Legal do Nome da Pessoa Natural no Direito Brasileiro”, pág. 11). O mesmo autor pondera que a disposição legal que mais se adapte a proteção visada, seja a do art. 299 do CP, que caracterizará crime aquele que “omitir em documento público ou particular, declaração que dele deveria constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante”. Por isso, esclarece o autor apontado que quando a falsidade ideológica implicar falsificação ou alteração do registro civil, o legislador prevê o aumento da pena em até uma sexta parte (obra citada). Voltando a questão da proteção do nome da sociedade empresária, imperioso se deitar os olhos sobre o art. 32 da Lei 8.934/1994 que dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins. Veja-se: “O registro compreende: II — O arquivamento: a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas.” E no art. 33 da Lei 8.934/1994 há expressa proteção ao nome empresarial: “A proteção ao nome empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos atos constitutivos de firma individual e de sociedades, ou de suas alterações”, acrescentando o art. 34 que “o nome empresarial obedecerá aos princípios da veracidade e da novidade.” Em assim sendo, se o nome da sociedade empresária tem a mesma proteção que a legislação empresta ao nome da pessoa natural, outra não poderia ser a posição do Colendo Superior Tribunal de Justiça ao editar a sua Súmula 227 que pacificou: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. PESSOA JURÍDICA. A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo de danos morais, considerados estes como violadores de sua honra objetiva. Precedentes. Recurso especial não conhecido. (REsp 177.995/SP, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, Quarta Turma, j. 15/9/1998, DJ 9/11/1998, p. 114) CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. PESSOA JURIDICA. POSSIBILIDADE. HONRA OBJETIVA. DOUTRINA. PRECEDENTES DO TRIBUNAL. RECURSO PROVIDO PARA AFASTAR A CARÊNCIA DA AÇÃO POR IMPOSSIBILIDADE JURIDICA. - A evolução do pensamento jurídico, no qual convergiram jurisprudência e doutrina, veio a afirmar, inclusive nesta Corte, onde o entendimento tem sido unânime, que a pessoa jurídica pode ser vítima também de danos morais, considerados esses como violadores da sua honra objetiva. (REsp 134.993/MA, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Quarta Turma, j. 3/2/1998, DJ 16/3/1998, p. 144) RESPONSABILIDADE CIVIL - DANO MORAL - PESSOA JURÍDICA. I - A ofensa à honra objetiva da pessoa jurídica pode resultar de protesto indevido de título cambial, cabendo indenização pelo dano patrimonial daí decorrente. II - Recurso não conhecido. (REsp 161.739/PB, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER, Terceira Turma, j. 16/6/1998, DJ 19/10/1998, p. 92) GRATO.