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Luiz André Maia Guimarães Gesteira

Disserte acerca dos pressupostos do contrato de trabalho e sua correlação com o artigo
104 do Código Civil.

O art. 104 do Código Civil brasileiro estabelece que para que seja considerado
válido, todo o negócio jurídico requer que os agentes que o firmam sejam capazes, que o
objeto seja lícito, possível, determinado ou determinável e que sua forma seja prescrita ou
não defesa em lei. Em relação aos pressupostos do contrato de trabalho, observa-se que estes
seguem essa mesma toada no sentido de conferir licitude e a devida materialidade às relações
jurídicas entre empregador e empregado.
Nesse contexto, observa-se que em inteligível correlação com o inciso I,
do art.104 da Codificação Civil, para que seja devidamente firmado um contrato de trabalho,
faz-se necessário que o agente seja nitidamente capaz para tal. Todavia, a capacidade para o
trabalho dá-se, em teoria, já a partir dos 14 anos de idade, quando torna-se possível o
estabelecimento de uma relação de trabalho na condição de aprendiz. Nesse caso, mesmo o
invariavelmente incapaz para o direito civil assume, no direito do trabalho, capacidade para
ser parte de uma relação trabalhista.
Já a partir dos 16 anos, quando na esfera civil o indivíduo torna-se
relativamente capaz, o jovem pode assumir uma relação de trabalho não mais restrita ao
aprendizado, todavia ainda com algumas restrições em relação àquela pactuada por maiores
de idade. Nesse sentido, destaca-se que no contrato de trabalho o relativamente incapaz pode
celebrar todas as fases do contrato (recebimento de salário, estabelecimento de data das férias,
pedir demissão, entre outras), exceto celebrar seu termo de quitação final, necessitando nesse
momento ser assistido por responsável legal. Outrossim, é defeso que o empregado que
possua menos de 18 anos de idade exerça trabalho noturno, em ambientes insalubres,
perigosos ou inadequados à sua formação.
Destaca-se ainda, em relação à capacidade do agente, que o fato de fazer parte de
uma relação de trabalho que lhe confira condições de possuir economia própria garante ao
trabalhador maior de 16 e menor de 18 anos a possibilidade de emancipação civil, a qual,
de acordo com a teoria mista lhe confere autonomia para celebrar o termo de quitação final
do seu contrato empregatício. Dessa forma, constata-se que a relação trabalhista reflete na
esfera do direito civil e, a partir dela, reverbera novamente sobre o direito do trabalho. No
entanto, de acordo com a supramencionada teoria, mesmo a capacidade civil plena não eleva
o empregado à condição de maior de idade no que se refere à execução de atividades laborais
em condições especiais. Por conta disso, mesmo emancipado o empregado menor de 18 anos
não poderá exercer serviço noturno, insalubre, perigoso ou inadequado ao seu processo de
formação.
Em relação ao objeto, observa-se que assim como preceitua o Código Civil,
no inciso II do já mencionado artigo, este deve ser necessariamente lícito e possível. Dessa
forma, se o objeto de trabalho imediato ou mediato configura-se como algo ilícito, a exemplo
do caso de uma faxineira que exerce suas funções laborais em um estabelecimento de jogo do
bicho, o direito do trabalho não assegura ao empregado qualquer possível garantia que seja
fruto da relação empregatícia. Assim, a ilicitude da atividade tolhe o empregado, mesmo que
ele exerça uma função que não é ilícita, do gozo dos direitos trabalhistas.
Todavia, quando se trata de uma relação de trabalho juridicamente impossível,
mas lícita, a exemplo do professor, que mesmo em regime de dedicação exclusiva possuí
mais de um emprego, o trabalhador, mesmo sujeito á sanções administrativas, goza de todos
os direitos trabalhistas de sua relação juridicamente impossível, uma vez que seu contrato
de trabalho é válido, por mais que haja uma impossibilidade jurídica que deva impedir a sua
continuidade.
Por fim, no que se refere à forma, condicionante também prevista no art. 104 do
Código Civil, mais precisamente em seu inciso III, o contrato de trabalho pode, via de regra,
apresentar-se livremente tanto na forma tácita, como também na forma expressa. As exceções
são os contratos de trabalho de artistas, de atletas profissionais e de aprendizes, os quais
devem, obrigatoriamente, apresentar-se na forma expressa.
Outro ponto de destaque em relação à forma do contrato é a situação dos
funcionários públicos que, com a CF/88, passaram, necessariamente, a ter que ser
previamente aprovados em concurso público para poderem assumir relações de trabalho
dessa natureza. Dessa forma, qualquer um que exerça a função de funcionário público de
forma irregular (que ingresse no funcionalismo público sem concurso) estará em situação de
contrato de trabalho nulo por vício de forma, mantendo apenas o direito de receber,
pelo período em que durou a relação de trabalho, o salário estrito por horas trabalhadas e o
FGTS (sem a multa), conforme estabeleceu a Súmula 363 do TST.

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