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DIREITO LABORAL E DIREITO PROCESSUAL LABORAL

Licenciatura em Solicitadoria | Diurno | 2022/2023

CASO PRÁTICO N.º 8

No dia 01.09.2021, a sociedade X contratou Maria, de 17 anos de idade e que


frequentava o 9.º ano de escolaridade, para exercer as funções de telefonista no
estabelecimento comercial que detinha/detém na cidade de Leiria.
Os pais de Maria não tiveram qualquer intervenção no contrato de trabalho.
Maria mantém-se, ainda hoje, ao serviço da sociedade X.

Aprecie a validade do contrato de trabalho de Maria.


R.: Está subjacente a matéria da Formação de contrato de trabalho, nomeadamente a
capacidade da Maria para celebrar este contrato. Ora para se dar início a formação do contrato é
necessário determinar os pressupostos subjetivos (capacidade) e pressupostos objetivos (objeto e
forma), neste caso começamos na capacidade subjetiva, já que não existe problema relativamente
ao objeto e forma do contrato que segue a liberdade de forma.
Dentro dos pressupostos subjetivos, não é necessário título, nem formação especial, logo o foco
é na capacidade jurídica da Maria. Os requisitos gerais da capacidade é ter no mínimo 16 anos, ter
a escolaridade obrigatória ou frequentar o nível de escolaridade obrigatório (art. 68.º), sendo que
esta última não se verifica, ela pode ser admitida pelos termos do art. 69.º N.º 1, porque está a
frequentar o 9º ano de escolaridade o que lhe permite alcançar a escolaridade obrigatória.
Para o contrato ser válido a lei exige intervenção por escrito dos representantes legais, pelo art.
70.º N.º 2. Como ela ainda está ao serviço, pelo art. 105.º C.T., como já passa dos 18 anos vai
haver convalidada do contrato, o que faz produzir os efeitos desde o início, apesar da invalidade
(art. 122.º C.T.), porque a causa de invalidade desaparece.

CASO PRÁTICO N.º 9

Entre João, jovem de 20 anos de idade, e a sociedade Y, que explora uma empresa de
mergulho, foi celebrado, verbalmente, um contrato de trabalho para o exercício das funções
de mergulhador profissional. O contrato foi celebrado no passado dia 01.10.2022 e iniciou,
nesse mesmo dia, os seus efeitos, tendo João começado a exercer atividade laboral.
Entretanto, a sociedade Y descobriu que João não tem título profissional habilitante para o
exercício das funções para as quais foi contratado.
Face a isso, a sociedade Y envia a seguinte comunicação escrita a João: “Uma vez que
não chegámos a assinar um contrato de trabalho, e face ao facto de V. Ex.ª não ter título
habilitante que lhe permita exercer as funções desejadas, agradecemos que não
compareça mais no nosso estabelecimento. Pelos mesmos motivos, não lhe são devidos
quaisquer valores a título retributivo”.

João dirige-se a si, solicitador, com a supra comunicação escrita, e pede-lhe


aconselhamento. O que lhe diria?
R.: Verificar os mesmos pressupostos do caso anterior. Depois verificar o titulo
profissional, que por regra não é exigido, mas em certas profissões como a de mergulhador
este titulo é exigido o que está em falta (requisito subjetivo), quanto a atividade contrata é

Docentes: Ana Lambelho e Luísa Andias


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licita, cumpre o art. 280.º do CC e quanto a forma aplica-se a liberdade de forma (art.
110.º), isto relativamente aos requisitos objetivos.
O contrato de trabalho, quanto a forma é válida e não pode ser invocado pelo
empregador, mas a falta de título, leva a nulidade total do contrato, pelo art. 117.º N.º 1 C.T.
Sendo assim, o contrato é de facto invalido, mas ele tem direito a ser retribuído pelo
período em que prestou trabalho, porque produz efeitos como se fosse válido enquanto
estivesse a ser executado (art. 122.º C.T.).

CASO PRÁTICO N.º 10

Francisca, de 16 anos de idade, frequenta o Curso de Aprendizagem de Técnico/a de


Cozinha/Pastelaria (ensino secundário) e celebrou, no dia 01.07.2022, contrato de trabalho
com a sociedade Z, para o exercício de funções de empregada de balcão. No seu contrato
de trabalho estabelece-se que tem direito, por ano, a 18 dias úteis de férias, bem como que
o pagamento do trabalho suplementar é feito com um acréscimo retributivo de 10%.
Depois de se informar, Francisca entendeu que as suas condições contratuais não
estavam corretas. Face a isso, reclamou junto dos recursos humanos da sociedade Z. O
gerente da sociedade veio, então, informá-la que, se soubesse que não a poderia contratar
nesses termos, não o teria feito, pelo que deverá Francisca considerar extinto o seu
contrato de trabalho.
Francisca fica desolada e procura a sua ajuda. O que lhe diria?

R. em aula:
O presente caso prático se insere na matéria dos sujeitos do contrato de trabalho, mais concretamente o
trabalho de menores, que devem ter capacidade.
O contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa singular se obriga mediante retribuição monetária, a
prestar a sua atividade ao empregador, neste caso é um contrato entre a Francisca de 16 anos e a Sociedade Z,
como determina o art. 11.º C.T.
Em primeiro lugar temos de determinar a validade do contrato de trabalho de menores, através dos
requisitos objetivos e subjetivos. Começando pelos subjetivos está em causa a capacidade dos menores, os
requisitos são ter 16 anos, frequentar o ensino secundário e ter uma atividade adequada as suas capacidades
físicas e psíquicas, o que parece ser o caso (art. 68.º N.º 1 e 2 C.T.), neste caso só é necessário que os
representantes legais não se oponham a que ela preste trabalho. O que falta agora verificar é os requisitos
objetivos, o período legal de férias é de 22 dias, pelo que o contrato não pode piorar aquilo que está previsto
na lei, logo esta cláusula é invalida, já a retribuição da prestação suplementar, por norma é proibido a menores
o trabalho suplementar, mas se prestarem excecionalmente o pagamento nunca pode ser inferior a 25%, logo
esta cláusula é invalida.
A invalidade de uma norma não determina a invalidade do contrato, mas apenas substitui a norma invalida
pela imperativa, logo este contrato mantêm-se, não havendo fundamento para a invalidade (art. 121.º N.º 2).

Docentes: Ana Lambelho e Luísa Andias


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R. pessoal:
In casu sub judice, estamos perante a matéria dos contratos de trabalho, mais concretamente o
contrato de trabalho de menores, previsto nos artigos 66.º e seguintes do Código de Trabalho,
doravante CT.
Para saber se este contrato de trabalho é admissível, é necessário atender aos requisitos
subjetivos da capacidade, neste caso da Francisca, que estão previstos no art. 68.º N.º 1 e 2 do
C.T., sendo eles três:
1º Tem de ter a idade mínima de admissão, que por força do N.º 2 do artigo 68.º é de 16 anos o que
se verifica, pelo texto do enunciado.
2º Tem de ter concluído a escolaridade obrigatória ou estar matriculado e a frequentar o nível
secundário de educação, como determina o N.º 1 do art. 68.º, tendo em conta que a Francisca está
a frequentar um curso de aprendizagem de técnica de Cozinha / Pastelaria, este requisito também
se encontra verificado.
3º Por fim deve dispor de capacidades físicas e psíquicas adequadas ao posto de trabalho, nos
termos do N.º 1 do art. 68.º, sendo o posto o exercício de funções de empregada de balcão não
parece haver aqui problemas quanto às suas capacidades, logo este requisito também se verifica.
Como tal só falta determinar se é necessário autorização dos representantes legais para que
possa estar a trabalhar e este consentimento não é necessário, os representantes apenas
poderiam impedir o menor de trabalhar por força do art. 70.º N.º 1, por oposição escrita, o que
também não é o caso.
Estando todos os pressupostos subjetivos verificados falta determinar os pressupostos objetivos,
presente no art. 110.º C.T. e art. 280.º do CC, isto porque quanto aos requisito formal o art. 110.º
prevê a liberdade de forma, não se verificando nenhuma das exceções dos arts. 147.º, 101.º e 158.º
do C.T., não se sabe qual foi a forma do contrato, mas pela existência de duas cláusulas presume-
se que tenha sido por forma escrita. Quanto ao requisito material o objeto do contrato tem de
respeitar o art. 280.º do CC, ou seja, não ser contrário aos bons costumes nem à ordem pública e
do objeto não resultar qualquer impossibilidade ou contrariedade para com a lei.
No contrato estão presentes duas cláusulas sendo a primeira o estabelecimento de 18 dias de
férias úteis por ano, a lei laboral, prevê que o período de férias é de 22 dias e como tal por força do
art. 3.º N.º 4 o contrato individual não pode estabelecer condições menos favoráveis ao trabalhador,
o mesmo se aplica para o caso dos 10% de trabalho suplementar em que se fosse permitido
excecionalmente deveria ser de 25%, não o sendo estamos perante uma invalidade, sendo de notar
que por força do art. 75.º N.º 1, já é proibido por regra o trabalhador prestar trabalho suplementar e
só seria autorizado caso existisse uma das exceções do N.º 2 do mesmo artigo.
Perante estas duas normas vai existir uma invalidade do contrato, que pode ser total ou parcial, de
acordo com a Empresa o contrato vai se extinguir na totalidade porque em condições normais não
teriam celebrado o contrato, invocando assim o previsto no art. 121.º N.º 1, parte final do C.T., mas
as cláusulas que tornam o contrato invalido são decorrentes de violação de normas imperativas, ou
seja, o art. 121.º N.º 2 estabelece que as cláusulas invalidadas são substituídas pelas normas que
as mesmas violaram, fazendo com que o contrato se mantenha válido e deixando assim de haver
fundamento para a Sociedade Z extinguir o contrato.

Docentes: Ana Lambelho e Luísa Andias

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