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INSTRUMENTOS DE SOLUÇÃO DE

CONFLITOS NA EMPRESA ATIVIDADE AVALIATIVA | FALÊNCIA


Prof. Lucas Costa de Oliveira

INTRUÇÕES:
i. A presente atividade será avaliada em 10 pontos, podendo ser realizada individualmente ou em dupla. ii.
As questões deverão ser postadas via classroom, ou enviadas por e-mail (lucascosta.oliveira@ufjf.br) até
o dia 11/01/2023, em arquivo pdf, identificado.
iii. As questões objetivas (fechadas) deverão apresentar os fundamentos da resposta assinalada.

1. Em maio de 2014, os quatro sócios de Santa Mariana Farmacêutica Ltda. aprovaram,


por unanimidade, a alteração do objeto social com restituição de quatro imóveis do
patrimônio da sociedade aos sócios Andrea, Bruno, Carlos e Denise.

Os sócios Andrea e Bruno, casados em regime de separação parcial, receberam dois


imóveis da sociedade e, em 11 de setembro de 2014, realizaram doação com reserva
de usufruto vitalício para Walter e Sandra, seus dois filhos com 7 (sete) e 3 (três) anos
de idade. Em 27 de junho de 2017, foi decretada a falência da sociedade empresária
pelo juiz da Comarca de Vara Única de Laranja da Terra/ES.

O administrador judicial Barbosa Ferraz descobriu que as doações são fortes indícios
do intuito fraudulento de todos os sócios na dilapidação patrimonial em prejuízo dos
credores. No caso de Andrea e Bruno e seus filhos Walter e Sandra, verifica-se que as
doações em benefício dos próprios filhos dos sócios de tenra idade, ocorreram sem
qualquer justificativa, a evidenciar a clara intenção de ocultação de bens passíveis de
constrição para pagamento das obrigações decorrentes do exercício da empresa.

A crise da empresa já se anunciava desde 2013, quando os balanços patrimoniais


começam a revelar a elevação dos prejuízos, a diminuição da receita e o aumento de
ações de cobrança. Assim, foi engendrada a trama que pôs a salvo o patrimônio
pessoal dos sócios, esvaziando a possibilidade dos credores de alcançá-los para a
solvência de dívida, ao mesmo tempo em que Andrea e Bruno resguardaram o direito
de uso, administração e percepção dos frutos dos bens que só seriam de posse dos
donatários após o falecimento destes.

No caso os sócios Carlos e Denise, verifica-se que eles alienaram os outros dois imóveis
recebidos a Xavier, três dias depois do requerimento de falência, sendo no mesmo dia
realizada a prenotação no Registro de Imóveis. O administrador descobriu que Xavier é
um ex-empregado da sociedade falida, que foi testemunha nas escrituras de doação
dos imóveis por Andrea e Bruno e trabalha atualmente como contador para Denise.

De posse da ata da assembleia de maio de 2014, do traslado das escrituras de doação e


alienação dos imóveis e das certidões do Registro de Imóveis que lhe foram entregues
pelo administrador judicial, na condição do advogado irá tomar as providências cabíveis
em defesa dos interesses da massa falida.
Redija um parecer acerca do caso, indicando o que deve ser feito para tutelar os
interesses da massa falida, com os devidos fundamentos jurídicos individualizados a
cada um dos envolvidos na situação.

R: A partir do caso narrado, percebe-se que há conluio fraudulento entre os sócios e o


ex-empregado Xavier, com intuito de causar prejuízo ao patrimônio da sociedade, em
momento anterior a decretação da falência.
Nesse sentido, para tutelar os interesses da massa falida, caberá ao administrador
judicial, como representante dessa, propor ação revocatória, contra todos os sócios e
filhos de Walter e Sandra, que foram os doadores e donatários dos imóveis, bem como
em desfavor dos alienantes e adquirentes dos outros imóveis, no caso, Carlos, Denise e
Xavier, por força do art. 133 da Lei nº 11.101/05.
Cabe destacar, que à luz do art. 130 da Lei nº 11.101/05, os atos são revogáveis, uma
vez que foram praticados com intuito de prejudicar credores, devendo, assim,
comprovar o conluio fraudulento entre os devedores e terceiros, bem como o efetivo
prejuízo sofrido pela massa falida.
No caso, ficou bastante exposto a conduta individual dos envolvidos, considerando que,
no caso dos sócios Andrea e Bruno, e, também, dos filhos Walter e Sandra, ocorreram
doações sem justificativa, a fim de ocultar bens passíveis de constrição, de modo que
permaneceriam no controle, já que tais bens só passariam a ser posse dos filhos, com o
falecimento do casal.
Por outro lado, em relação aos sócios Carlos e Denise, esses alienaram dois imóveis a
Xavier, e esse último, por mais que não seja sócio, está envolvido no conluio
fraudulento, na posição de ex-empregado que estava ciente das doações, tendo
adquirido os imóveis logo após o requerimento da falência.
Assim, caberia pugnar pelo retorno dos bens à massa falida, com todos os acessórios,
acrescidos de perdas e danos, eventualmente apuradas.

2. Elabore uma linha temporal a respeito do procedimento da recuperação judicial,


devendo constar, obrigatoriamente, os prazos para apresentação da lista de credores
pelo devedor, habilitação e apresentação de divergência, publicação da relação de
credores pelo administrador, impugnação dos créditos, além dos prazos para
apresentação, apreciação e deferimento do plano de recuperação judicial.

R: A questão trata sobre o procedimento de falência, tudo à luz da Lei nº 11.101/05, em


consonância, quando necessário, com o CPC/15.
Dito isso, inicialmente, há o procedimento pré-falencial, onde há o requerimento por
aqueles com legitimidade para agir, descritos no art. 97 da Lei nº 11.101/05, e, aquele
interessado, peticiona no juízo competente do principal estabelecimento do devedor
(art. 3º da Lei de Falências), oportunidade em que, uma vez saneado o processo, com a
documentação obrigatória, o devedor será citado, para assim apresentar sua defesa,
como indica o art. 98, da referida lei.

Assim, partimos pela visão em que há uma sentença declaratória de falência, nos
termos do art. 99 da Lei nº 11.101/05, que inicia a fase executiva, isto é, o próprio
procedimento falencial.

Após a sentença declaratória, há a escolha, pelo juiz, do administrador judicial e


parte-se para a arrecadação dos bens, conforme exposto no art. 109 da Lei nº
11.101/05, com fins de levantamento dos bens e direitos do falido, no intuito de
satisfazer o passivo.

Segue-se, então, para o exame dos livros do falido, considerando a necessidade de


serem referidos no inventário, conforme art. 108, §2º, inc. I, da Lei de Falências, com o
levantamento do balanço, tudo com o fim de elaboração do auto de arrecadação (art.
110). Além disso, ocorre, também, a verificação e classificação dos créditos, e, então, há
a publicação do quadro geral de credores.

Por fim, como indica o art. 149 da referida Lei, realizada as restituições, pagos os
créditos extraconcursais, e, como visto, com a consolidação do quadro-geral de
credores, as importâncias recebidas com a realização do ativo serão destinadas ao
pagamento dos credores, atendendo a classificação prevista no art. 83 da mesma Lei,
que indica a ordem.

Mediante o exposto, pelo art. 153, pagos todos os credores, se houver salvo, será
entregue ao falido.

Assim, haverá o encerramento da falência, uma vez concluída a realização de todo o


ativo e distribuído o produto entre os credores, de modo que o administrador judicial
apresentará as contas ao juiz no prazo de 30 (trinta) dias (art. 154), que, julgadas tais
contas, caberá ao administrador apresentar relatório final no prazo de 10 (dez) dias,
que levará ao encerramento da falência, com a extinção das obrigações do falido, por
sentença e ordenará a intimação nos termos do art. 156, da Lei nº 11.101/05.

3. Conforme a lei de falências, extingue-se as obrigações do falido, exceto:

a) o encerramento da falência nos termos dos artigos 114-A ou 156 desta lei.
b) o pagamento de todos os credores
c) o decurso do prazo de 3(três) anos, contato da decretação, ressalvada a utilização
dos bens arrecadados anteriormente, que serão destinados à liquidação para a
satisfação dos credores habilitados ou com pedido de reserva realizado.
d) o pagamento, após realizado todo ativo, de, ao menos, 50% (cinquenta por cento)
dos créditos quirografários, facultado ao falido o deposito da quantia necessária para
atingir a referida porcentagem se para isso não tiver sido suficiente a integral
liquidação do ativo.

Justificativa: Para extinção das obrigações do falido, não necessita de “ao menos” 50%,
bastando, conforme dispõe o art. 158, inc. II, da Lei nº 11.101/05, do pagamento de
mais de 25% dos créditos quirografários.

4. Nos termos da lei de falências, os créditos extraconcursais incluem:

a) créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 50 salários-mínimos por


credor;
b) os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor do bem
gravado;
c) as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou
administrativas, incluindo as multas tributarias;
d) quantias fornecidas a massa falida pelos credores;
e) tributos relativos a fatos geradores ocorridos antes da decretação da falência

Justificativa: A partir do art. 84, inc. II, da Lei nº 11.101/05, vê-se que às quantias
fornecidas à massa falida pelos credores é considerado crédito extraconcursal.

5. De acordo com a lei 11.101/05, é correto afirmar ser causa para a decretação da
falência:

a) a falta de pagamento, de depósito, ou de nomeação de bens à penhora do executado


por quantia liquida que ultrapasse o equivalente a quarenta salários-mínimos na data
do pedido de falência.
b) a prática de atos de falência, mesmo que façam parte de plano de recuperação
judicial;
c) a falta de pagamento, ainda que com relevante razão de direito, no vencimento, de
obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma
ultrapasse o equivalente a quarenta salários-mínimos na data do pedido de falência;
d) a falta de pagamento, de depósito ou de nomeação de bens à penhora do
executado por qualquer quantia líquida.
Justificativa: Conforme art. 94, inc. II, da Lei nº 11.101/05, será decretada a falência do
devedor que não paga, não deposita e não nomeia à penhora de bens suficientes
dentro do prazo legal.

6. No que tange a falência, prevista na lei nº 11.101/2005, é correto afirmar que:

a) o juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre


bens, interesses e negócios do falido, inclusive as causas trabalhistas, fiscais e aquelas
não reguladas pela lei nº 11.101/2005, em que o falido figurar como autor ou
litisconsorte ativo;
b) promove o afastamento do devedor de suas atividades, visando a preservar e
otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os
intangíveis, da empresa.
c) a decretação da falência não determina o vencimento antecipado das dívidas do
devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis;
d) a decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente
responsáveis não acarreta a falência destes.
e) a Recuperação Judicial é um caminho distinto para a empresa em crise, não podendo
ser convertida em falência.

Justificativa: A alternativa B está de acordo com o art. 75, inc. I, da Lei nº 11.101/05.

7. De acordo com o previsto na Lei n. 11.101/2005 e alterações, a decretação da


falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial implica:

a) suspensão do curso da decadência das obrigações do devedor sujeitas ao regime


desta Lei.
b) suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor relativas a créditos ou
obrigações sujeitos ou não à recuperação judicial ou à falência.
c) suspensão das execuções ajuizadas pelos credores particulares do sócio solidário,
subsidiário e ilimitado, relativas a créditos ou obrigações sujeitos à recuperação judicial
ou à falência.
d) proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e
apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do devedor, oriunda de
demandas judiciais ou extrajudiciais cujos créditos ou obrigações sujeitem-se à
recuperação judicial ou à falência.

Justificativa: A alternativa D está em consonância com o disposto no art. 6º, inc. III, da
Lei nº 11.101/05.

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