Você está na página 1de 3

CASO PRÁTICO C

(PAGAMENTO DE CREDORES SUBORDINADOS)

Como decidiria o recurso?

Por sentença, proferida nos autos principais em 10.01.2014, foi decretada a


insolvência de B…, fixando-se o prazo de 30 dias para apresentação da
reclamação de créditos.
*
Foram reclamados dentro do prazo legalmente estabelecido e ao abrigo do
artigo 128º do Código da Insolvência e de Recuperação de Empresas[1] os
créditos constantes da lista de credores reconhecidos, elaborada e
apresentada nos autos, nos termos previstos no artigo 129º do referido
diploma legal, pelo Sr. Administrador da Insolvência, a fls. 6 e apresentada
também Lista de Créditos não reconhecidos, a fls. 7, e cumprido o disposto
no artigo 129º, nº 4, do mesmo C.I.R.E..
*
Nesta sequência, foi apresentada nos autos impugnação da lista de créditos
reconhecidos, pelo credor C…, reclamando que o seu crédito sobre o
insolvente ascende ao montante global de 187.317,46 euros, sendo de capital
o valor de 124.699,47 euros, já reconhecido pelo Sr. Administrador de
Insolvência, e de juros vencidos à data da reclamação a quantia de 57.617,99
euros, crédito este não reconhecido, além do crédito também não
reconhecido, relativo a despesas judiciais e extrajudiciais, no montante de 5
000 euros.
Além de impugnar a falta de reconhecimento de tais créditos, por juros e por
despesas judiciais e extrajudiciais, impugnou ainda o credor Impugnante a
qualificação de tal crédito reconhecido, feita pelo Sr. Administrador de
Insolvência, pois que, no seu entender o crédito não é subordinado, antes
garantido por hipoteca constituída sobre o imóvel descrito na Conservatória
de Registo Predial de Paços de Ferreira sob o n.º 1181 e inscrito na matriz
respetiva sob o artigo 1263.º, melhor identificado na escritura pública de
constituição da invocada hipoteca.
*
As credoras reclamantes D… e E… vieram responder à Impugnação
apresentada pelo credor Impugnante C… pugnando que tal impugnação é
extemporânea, já que o prazo para impugnar terminou em 5 de maio de 2014
e a impugnação apenas foi apresentada em 7 de maio de 2014 e, caso assim
se não entenda, sem questionarem a celebração da escritura Confissão de
Divida e Hipoteca a que se refere o credor Impugnante, defendem que o
crédito do Impugnante deverá manter-se no valor que lhe foi reconhecido já
que o credor não reclamou o seu crédito e por entenderem que não são
devidos os juros reclamados e devendo manter-se também a qualificação de
tal crédito feita pelo Sr. Administrador de Insolvência.
Para tanto, alegam que da escritura de confissão de divida consta
expressamente que o empréstimo é feito pelo prazo de cento e doze meses,
sem quaisquer juros, que assim não são devidos; e alega ainda que, atenta

1
a relação de pai e filho existente entre o credor e o devedor, tal crédito é
subordinado, para efeitos da presente insolvência.
*
Também a credora reclamante “F…, S. A.” veio responder a tal impugnação,
pugnando pela manutenção do valor do crédito já reconhecido pelo Sr.
Administrador de Insolvência e pela qualificação do mesmo nos precisos
termos constantes na Lista de Créditos reconhecidos, invocando
jurisprudência a favor da qualificação como subordinado de tal crédito, atenta
a relação familiar existente entre o credor e o insolvente.
Além de invocar que sendo o registo constitutivo da hipoteca e tendo o
mesmo sido feito apenas em setembro de 2012, menos de um ano antes do
inicio do incidente de plano de pagamento e pouco mais de um ano antes do
processo de insolvência, o que se mostra prejudicial para os credores, deve
ser resolvido em beneficio da massa insolvente por ser presumível a má fé
do impugnante, beneficiário da hipoteca e pessoa especialmente relacionada
com o insolvente.
*
Também o Sr. Administrador de Insolvência se pronunciou sobre a
Impugnação apresentada, pugnando pela manutenção do montante do
crédito e da sua qualificação constantes da Lista de créditos reconhecidos,
oportunamente, apresentada por si nos autos e pelo indeferimento do mais
peticionado pelo Impugnante.
*
Foi realizada tentativa de conciliação cujo objetivo se frustrou face à posição
irredutível das partes.
*
Foi proferido despacho saneador, declarando válida a instância nos seus
pressupostos objetivos e subjetivos.
Foram reconhecidos os créditos constantes da Lista de Créditos apresentada
pelo Sr. Administrador de Insolvência a fls. 6, que não foram alvo da
Impugnação apresentada nem de outras impugnações inexistentes, e como
tal, homologada a referida Lista nos termos previstos nos artigos 130.º, n.º
3 e 131.º, n.º 3, do C.I.R.E..
Sendo tais créditos de natureza comum, quanto aos credores indicados sob
os números 1, 2, 3, 5, 6, 8, quanto ao montante de 288,11 euros, 9, 10, 11,
12, 13 e 14, constantes da referida Lista e sendo de natureza subordinada
quanto ao credor indicado sob o número 8, (Instituto de Segurança Social,
I.P.), quanto ao montante de 0,80 euros.
Relegou-se a graduação de tais créditos reconhecidos para a sentença final,
ao abrigo do disposto no artigo 136.º, n.º 7, do C.I.R.E., atendendo a que a
proceder a Impugnação apresentada, tal crédito poderá vir a ser considerado
garantido por hipoteca constituída sobre o imóvel apreendido nos autos sob
a verba 1.
Relegou-se o conhecimento da tempestividade da Impugnação apresentada
pelo credor C…, porquanto não havia sido cumprido oficiosamente pela secção
de processos o disposto no artigo 139.º, n.º 6, do Código de Processo Civil,
aplicável por força do artigo 17.º do C.I.R.E., ordenando-se o cumprimento
de tal norma.
*
Na sequência da notificação que lhe foi feita, o Credor Impugnante C…
efetuou o pagamento da multa e da penalização a que se refere no n.º 6, do

2
artigo 139.º, e, efetuado tal pagamento, veio-se a considerar a sua
Impugnação tempestiva.
*
Foi então considerado que o estado dos autos e os elementos de prova
documental deles constantes, permitiam de imediato conhecer de mérito das
questões suscitadas pelo credor Impugnante na sua Impugnação, tanto mais
que as questões que se colocavam eram meramente de direito e não careciam
de produção de qualquer outra prova além da documental já existente nos
autos, pelo que, nada obstando, passou-se a proferir Sentença, o que se fez
perfilhando o entendimento de que, não obstante se julgar parcialmente
procedente a Impugnação apresentada pelo Impugnante C… e, em
consequência, se reconhecer e verificar o seu crédito, no montante global de
180 745,90 euros, tinha de se qualificar o mesmo como subordinado, termos
em que, na graduação que se veio a proceder a final, foi o mesmo graduado
em conformidade, isto é, após todos os outros créditos, inclusive os comuns.
*
Inconformado com uma tal decisão, dela interpôs recurso de apelação o
Credor Reclamante/Impugnante C…

______________________________________________________

SOLUÇÃO:

RP 3-5-2016/Proc. 1223/13.8TBPFR-C.P1 (LUÍS CRAVO)

O elenco legal das “pessoas especialmente relacionadas com o devedor”,


cujos créditos sobre o insolvente devem ser considerados “subordinados”,
nos termos do art. 49º do C.I.R.E., constitui presunção inilidível ou iuris et
de jure de especial relacionamento, sobre tais pessoas e créditos

Você também pode gostar