Você está na página 1de 18

Acórdãos TRG Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães

Processo: 440/17.6T8PTL-A.G1
Relator: SANDRA MELO
Descritores: PROCESSO DE INSOLVÊNCIA
LEGITIMIDADE PARA REQUERER A DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA
PRESSUPOSTOS DA DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA
PREENCHIMENTO DOS PRESSUPOSTOS DA DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA
ABSOLVIÇÃO DO PEDIDO
Nº do Documento: RG
Data do Acordão: 02-11-2017
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Meio Processual: APELAÇÃO
Decisão: IMPROCEDENTE
Indicações Eventuais: 1.ª SECÇÃO CÍVEL
Sumário:
1- O CIRE define, no artigo 20º, quem tem legitimidade, para
além do devedor, para requerer a declaração de insolvência.

2- Invocados que estejam, pelo requerente da insolvência, os


pressupostos impostos nesta norma que lhe conferem a
legitimidade para deduzir o pedido correspondente
(independentemente de se verificarem ou não) há que se
considerar o mesmo parte legítima.

3- Caso se venha, posteriormente, a apurar que se não


verificam tais pressupostos, faltam também os requisitos para
a decretação da insolvência e o devedor é absolvido, não da
instância, mas do pedido.
4- Entre outros elementos, para apurar do preenchimento dos
pressupostos previstos nas alínea a) e b) do nº 1 do artigo 20º
do CIRE, pode atender-se ao número de obrigações que o
Requerido apresenta em incumprimento; a fase desse
incumprimento, nomeadamente se já se encontram a ser
exigidas em processo executivo; o seu valor global; se existem
obrigações em incumprimento de valor menos elevado, por se
poder considerar a sua falta de pagamento indiciadora da
dificuldade de pagamentos; a diversidades da qualidade dos
credores; o valor do ativo e se este se encontra onerado.
Sandra Melo
Decisão Texto Integral:
I. Relatório

J. – Transporte de Mercadorias, Lda., contribuinte n.º …,


com sede na Avenida de …, concelho de Ponte de Lima, ora
recorrida;
requereu, nos termos do artigo 20º, nº 1 do Código da
Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE), a
declaração de insolvência de:---
M. S., contribuinte n.º …, residente na Rua …, Ponte de Lima,
ora recorrente.
Invocou ser credora do requerido da quantia global de
30.418,65 €, acrescida de juros no valor de 13.103,74 € e que
o requerido vem contraindo, há anos, empréstimos junto de
entidades bancárias, vendo-se hoje perante uma difícil
situação financeira e de incumprimento generalizado,
ascendendo as suas dívidas aos diversos credores, no
mínimo, a €137.131,08, o que facilmente se verifica das
execuções, penhoras e hipotecas que mencionou.
O requerido, regularmente citado, não contestou.

decisao
Foi proferida sentença que, fundando-se no disposto no art.
30.º, n.º 5, do CIRE, e face à não oposição do requerido,
considerou reconhecidos, e dessa forma provados, todos os
factos constantes da petição inicial apresentada, considerada
esta como expurgada de todos os factos conclusivos,
genéricos e que encerram conceitos jurídicos ou exposições
de direito – os quais, por economia processual, se deram por
integralmente reproduzidos, aplicando o direito e declarando a
insolvência do requerido.

curso
O presente recurso de apelação foi interposto pelo Requerido,
pugnando para que seja revogada a sentença e julgada a ação
improcedente.

conclusões
Apresenta as seguintes conclusões, que se sintetizam:

a) - da ilegitimidade para requerer a insolvência por parte da


requerente e da origem das dívidas:

1- do articulado petitório apresentado pela requerente “J. –


TRANSPORTE DE MERCADORIAS, LDA”, resulta alegado
que a mesma é credora da sociedade “Construções X –
UNIPESSOAL, LDA, à qual terá vendido diverso material de
construção civil à sociedade comercial denominada entre os
meses de maio de 2011 e Janeiro de 2013” e que esta refere
que as faturas emitidas não foram liquidadas pela referida
sociedade, sendo a sociedade quem terá contraído as dívidas
mencionadas nas ditas faturas, pelo que é bom de ver que a
requerente é credora da sociedade “Construções X –
Unipessoal, Lda” por ser esta a devedora dos montantes
constantes nas faturas referidas pela requerente na petição
inicial, e não do aqui requerido.
2- Em abstrato, apenas quanto a esta sociedade é que a
requerente detinha legitimidade para requerer a sua
insolvência, pois os montantes elencados nas faturas
indicadas pela requerente figuram em nome da dita sociedade:
o requerido apenas entregou um cheque pessoal à requerente
no montante de € 10.000,00 a título de garantia, e não como
forma de reconhecimento ou obrigação de responsabilidade
pessoal pelo pagamento das dívidas contraídas pela
sociedade CONSTRUÇÕES X – UNIPESSOAL, LDA.
3- Pelo que não poderia o tribunal a quo concluir, apenas pelo
facto do aqui requerido não ter apresentado oposição à
insolvência, que o mesmo é devedor da quantia de €
43.522,39!
4- Face ao exposto, não poderia o tribunal a quo ter concluído
que a requerente tinha legitimidade para requerer a declaração
de insolvência do aqui requerido, pelo que ao decidir em
contrário, o tribunal a quo violou o disposto no artigo 20, n.º1
do CIRE.
b) - da consequência da não oposição à insolvência por parte
do requerido e do preenchimento dos pressupostos para
decretamento da insolvência:
5- Apesar de não ter deduzido oposição à insolvência, por ter
deixado passar o prazo para o efeito e por o recorrente não se
conformar com o teor da petição inicial, o tribunal a quo não
poderia dar como provado que o mesmo assumiu qualquer
responsabilidade pessoal pelo pagamento das dívidas da dita
sociedade: o facto do aqui requerido ter entregue um cheque
pessoal no montante de 10.000,00 € não permite concluir que
este tenha assumido qualquer responsabilidade pessoal pelo
pagamento das dívidas da sociedade “Construções X –
Unipessoal, Lda”, por não existir qualquer elemento probatório
que sustente essa alegação da requerente.
c) não se verificam os pressupostos para que fosse decretada
a insolvência do aqui requerido
6- As dívidas do Requerido são controladas e o Requerido tem
condições de as pagar, de forma faseada.
7- Não resulta provado que o aqui requerido esteja numa
situação de suspensão generalizada do pagamento das
obrigações vencidas, ou que tenha faltado ao cumprimento de
uma ou mais obrigações que pelo seu montante ou pelas
circunstâncias do incumprimento revele a impossibilidade de o
devedor satisfazer pontualmente a generalidade das suas
obrigações.
8- A mera afirmação de que o requerido se encontra numa
situação de suspensão generalizada de pagamento das suas
obrigações vencidas, não tem a virtualidade de considerar-se
como sendo tal facto verdadeiro, ou fazer prova da insolvência
do requerente.
9- Consta dos autos que o requerido dispõe de ativo, isto é, o
mesmo é proprietário de um imóvel, de valor considerável,
sendo que o ativo do requerente é superior ao passivo.
10- Não se encontravam preenchidos os requisitos para a
declaração de insolvência do aqui requerido, pois o ativo do
requerente é superior ao passivo.
11- Pelo que deveria o tribunal a quo ter considerado a ação
improcedente, pois não tem qualquer fundamento legal, não se
encontrando verificados os requisitos legais previstos no artigo
20º do CIRE.
12- Pelo exposto, o tribunal a quo violou o disposto no artigo
20º, n.º 1 e n.º 2 do CIRE, ao considerar que a requerente
tinha legitimidade para requerer a insolvência do requerido, e
por considerar que se encontravam preenchidos os
pressupostos para a declaração de insolvência do requerido.
d) nulidade da sentença
13- O tribunal "a quo" não fez uma correta apreciação dos
pressupostos para requerer a insolvência em causa, o que
constitui a nulidade estatuída na al. b) do n° 1 do art. 615° do
C.P.C. que se invoca para os devidos efeitos.

alegações,
A Requerente respondeu às alegações da recorrente nas quais
defendeu a improcedência do recuso, sustentando-se,
fundamentalmente, no seguinte:

1. Quanto à questão da legitimidade da recorrente, basta ler o


petitório inicial apresentado pela ora recorrida, para que se
perceba, em toda a extensão, que aquando da entrega do
supra cheque, o recorrente assumiu pessoalmente a dívida,
passada e futura, da CONSTRUÇÕES X - UNIPESSOAL,
LDA, perante a credora J. – TRANSPORTES DE
MERCADORIAS, LDA.” , visto que tal foi concretamente
alegado pela A.
2. E tais factos foram devidamente alegados na petição inicial,
que, como resulta dos presentes autos, não foram
contestados, tendo andado bem o meritíssimo juiz a quo
quando aplicou o art. 30.º n.º 5 do CIRE, ao considerar
confessados os factos alegados na petição inicial.
3. Quanto aos pressupostos da declaração de insolvência,
cumpre referir que quanto ao credor, existe uma falta de
cumprimento de uma obrigação que pelo seu montante ou
pelas circunstâncias do incumprimento, revele a
impossibilidade de o devedor satisfazer pontualmente a
generalidade das suas obrigações.
4. O crédito da Requerente sobre o devedor perfaz 43.522,39
€.
5. Deve ainda, para além do valor supra referido, o valor de,
pelo menos, € 93.608,69, a entidades bancárias e ao estado.
6. O seu único activo (do insolvente), é um prédio, que possui
um valor patrimonial actual de € 10.152,47, determinado no
ano de 2013, de acordo com a sua caderneta predial urbana,
estando o mesmo hipotecado e penhorado.
7. Em sede de recurso de uma decisão judicial quanto à
matéria de facto, impende sobre o recorrente o ónus previsto
no art. 640.º n.º 1 do CPC, ou seja,
8. Deveria o recorrente obrigatoriamente especificar, sob pena
de rejeição,
i.- os concretos pontos de facto que considera incorrectamente
julgados;
ii.- os concretos meios probatórios, constantes do processo ou
de registo ou gravação nele realizada, que impunham decisão
sobre os pontos da matéria de facto impugnados diversa da
recorrida;
iii.– a decisão que, no seu entender, deve ser proferida sobre
as questões de facto impugnadas.
9. Limita-se, impropriamente o recorrente a alegar que “todavia
não resulta provado que o aqui requerido esteja numa situação
de suspensão generalizada do pagamento das obrigações
vencidas, ou que tenha faltado ao cumprimento de uma ou
mais obrigações que pelo seu montante ou pelas
circunstâncias do incumprimento revele a impossibilidade de o
devedor satisfazer pontualmente a generalidade das suas
obrigações.”
10. Tal deve ter como consequência a rejeição, ex vi art. 640.º
do CPC, do presente recurso.
11. Os fundamentos, quer de facto, quer de direito encontram-
se plasmados na sentença em crise, sendo que os
fundamentos de facto foram, por economia processual, dados
por reproduzidos por referência ao alegado na petição inicial.

Também o Ministério Público alegou, apresentando as


seguintes conclusões:

1) A douta sentença recorrida não violou qualquer disposição


legal.
2) O Tribunal a quo fez uma correcta apreciação da prova, das
normas aplicáveis ao caso em apreço e consequente
subsunção dos factos provados à previsão das referidas
normas, decidindo fundamentadamente em conformidade.
3) Mostram-se, em concreto, preenchidos os requisitos
exigidos pelo artigo 20.º, n.º 1 do CIRE, conjugado com o seu
artigo 6.º, n.º 2, para se reconhecer legitimidade ao requerente
para o exercício do direito de acção de insolvência.
4) E bem assim para se observar, em concreto, os
pressupostos para a declaração de insolvência do requerido,
uma vez que se verifica a insusceptibilidade deste satisfazer
obrigações que, pelo seu significado no conjunto do passivo do
devedor e pelas próprias circunstâncias do incumprimento,
evidenciam a impotência, para o obrigado recorrente, de
continuar a satisfazer a generalidade dos seus compromissos.
5) Não existe, assim, qualquer motivo para ser concedida
razão ao recorrente, pelo que deve ser negado provimento à
apelação e, consequentemente, deverá ser mantida in tottum a
douta sentença recorrida.

II. Objeto do recurso

O objeto do recurso é definido pelas conclusões das


alegações, mas esta limitação não abarca as questões de
conhecimento oficioso, nem a qualificação jurídica dos factos
(artigos 635º nº 4, 639º nº 1, 5º nº 3 do Código de Processo
Civil).
Este tribunal também não pode decidir questões novas, exceto
se estas se tornaram relevantes em função da solução jurídica
encontrada no recurso e os autos contenham os elementos
necessários para o efeito. - artigo 665º nº 2 do mesmo
diploma.
Da mesma forma, não está o tribunal ad quem obrigado a
apreciar todos os argumentos apresentados pelas partes para
sustentar os seus pontos de vista, desde que prejudicadas
pela solução dada ao litígio.

Face ao alegado nas conclusões das alegações, são as


questões que cumpre apreciar:

1 -- da nulidade da sentença;
2 -- da ilegitimidade da Requerente da declaração de
insolvência;
3 -- das consequências da não oposição à insolvência por
parte do requerido (na determinação dos factos e do direito)
4-- verificação dos pressupostos para essa declaração.

III. Fundamentação de Facto

A causa vem com a matéria provada que infra se transcreve do


requerimento inicial, em virtude da remissão para o
requerimento inicial efetuada na sentença, face ao disposto no
artigo 30º nº 5 do CIRE: Se a audiência do devedor não tiver
sido dispensada nos termos do artigo 12.º e o devedor não
deduzir oposição, consideram-se confessados os factos
alegados na petição inicial, e a insolvência é declarada no dia
útil seguinte ao termo do prazo referido no n.º 1, se tais factos
preencherem a hipótese de alguma das alíneas do n.º 1 do
artigo 20.º, ainda com a aplicação subsidiária, por força do
artigo 17º nº 1 do mesmo diploma, do disposto no artigo 567º
nº 3 do Código de Processo Civil:

1. A requerente é uma empresa que tem por objeto, entre


outros, o comércio a retalho de materiais de construção.
2. No âmbito da sua atividade comercial, a requerente vendeu
diverso material de construção civil à sociedade comercial
denominada CONSTRUÇÕES X - UNIPESSOAL, LDA, entre
os meses de Maio de 2011 e Janeiro de 2013, melhor
descritos nas faturas juntas aos autos pela Requerente.
a. Tais fornecimentos ocorreram e deram origem às faturas
nºs:
b. – 1101.., de 30105/2011, no montante de € 7.953,52;
c. – 1101.., de 31/05/2011, no montante de € 4.052,04;
d. -1101.., de 14106/2011, no montante de ê 1.498,35;
e. – 1101.., de 11/07/2011, no montante de € 4.209,65;
f. -1101.., de 12/07/2011, no montante de f 3.467,25;
g. – 1101.., de 30/08/2011, no montante de € 3.302,75;
h. – 1102.., de 15/12/2011, no montante de € 1.497,95;
i. – 1102.., de 16/12/2011, no montante de € 1.890,14;
j. – 1104.., de 19/06/2012, no montante de € 1.044,00;
k. – 1104.., de 27/06/2012, no montante de € 590,00;
l. – 201301.., de 30/01/2013, no montante de € 913,00
3. Como consta das faturas referidas, as mesmas
apresentavam como data de vencimento a da respetiva
emissão de cada fatura, sendo que tais valores não foram, até
hoje e apesar de várias vezes instada a cumprir, pagos à aqui
requerente.
4. A empresa fornecida, Construções X, Unipessoal, Lda, não
foi liquidando as faturas, avolumando-se o montante em
dívida.
5. Facto que levou a requerente a suspender o fornecimento
de materiais à Sociedade devedora após os dois primeiros
fornecimentos, que ocorreram em Maio de 2011.
6. O sócio gerente daquela empresa devedora é e era na
altura o aqui requerido, M. S..
7. Com vista a conseguir retomar os fornecimentos de material
junto da requerente, o seu sócio gerente, aqui requerido,
passou e entregou à requerente uma cheque pessoal nº
962546…, sacado sobre Banco W, no valor de € 10.000,00, no
início do mês de junho de 2011
8. Assumindo pessoalmente perante a credora, a aqui
requerente, os montantes devidos pela sociedade até então,
razão pela qual emitiu e entregou aquele cheque pessoal do
montante de € 10.000,00, sem data.
9. Tendo o requerido, então, pedido à requerente para ficar
com o cheque em carteira, como garantia, para o caso da
empresa devedora, entretanto, não liquidar o devido.
10. Assumiu também o requerido, nessa mesma altura, que
todos os demais fornecimentos à mesma empresa seriam
pagos por si, assumindo pessoalmente o respetivo pagamento,
ou seja, o pagamento da totalidade dos fornecimentos,
constantes daquelas faturas e que perfazem o favor total de €
30.418,65.
11. Razão pela qual a requente retomou e continuou
posteriormente a fornecer à empresa Construções X,
Unipessoal, Lda. o material de construção civil constante das
faturas supra descritas, não obstante o não pagamento das
faturas vencidas.
12. Razão pela qual, emitiu, então, o cheque nº 962546…,
sacado sobre a Banco W, para garantia do valor em dívida até
então.
13. Sendo que após essa garantia pessoal e a promessa de
que os valores em dívida seriam pagos, a requerente acedeu,
então, a fornecer mais material de construção à sociedade
Construções X, Unipessoal, Lda.
14. Pelo que, é o requerido devedor, além da sociedade
comercial de que é único sócio e gerente, por ter assumido
pessoal e totalmente a dívida da sociedade, da quantia de €
30.418,65 (trinta mil, quatrocentos e dezoito euros e sessenta
e cinco cêntimos), a que acrescem juros devidos à taxa
comercial que até ao presente (dia 12 de Junho de 2017) se
contabilizam em € 13.103,74 (treze mil, cento e três euros e
setenta e quatro cêntimos).
15. O requerido, assumiu pessoal e solidariamente a dívida, no
seu montante total, perante a requerente, razão pela qual
emitiu e entregou à requerente um cheque pessoal, conforme
exposto supra.
16. O requerido vem contraindo há vários anos, empréstimos
junto de entidades bancárias.
17. No ano de 2012, o requerido constituiu uma nova
sociedade denominada "Empresa A, Lda.", com o mesmo
objeto social e através da qual continuou a exercer o mesmo
tipo de atividade, a construção civil, esvaziando e paralisando
a atividade da Construções X, Unipessoal, Lda., o que fez por
causa das dívidas que esta sociedade já detinha.
18. O requerido é proprietário de um imóvel, descrito na
Conservatória do Registo Predial de Ponte de Lima, sob o nº
… da freguesia de … e inscrita na matriz predial urbana sob o
artigo .. da associação de freguesias do …, encontrando-se o
mesmo onerado com hipoteca voluntária a favor do Banco P,
S.A., como garantia de um contrato de abertura de crédito,
conforme consta do certidão permanente que se dá por
reproduzida .
19. Encontra-se ainda penhorado pelo IGFSS, por força dos
processos nºs 160120080100398. e 160120080100399., para
garantia da quantia exequenda de € 12.984,15.
20. E penhorado também pelo Banco T, S.A. por força do proe.
de execução nº 605/1 0.1TBVCT, para garantia da quantia
exequenda de € 516,29.
21. E ainda penhorado no processo de execução n°
190/10.4TBPTL, em que é exequente o BANCO P, para
garantia da quantia exequenda de € 53.077,55.
22. Impende sobre o mesmo prédio, hipoteca legal a favor do
IGFSS, IP, para garantia do pagamento no valor de €
21.455,98.
23. E três penhoras a favor da Fazenda Nacional, processos
execução fiscal nºs 232120120100562., 23212014010783.. e
2321201401009… e respetivos apensos, para pagamento das
quantias exequendas de € 691,60, € 1.807,67 e € 652,53,
respetivamente.
24. Pende ainda sobre o requerido o processos executivo nº
25/8TBPTL, para execução de uma livrança no valor de €
2.422,92.
25. O requerido deve ainda a outros fornecedores diversos
materiais.
26. O património conhecido do requerido conta com o
seguinte:
a. - prédio urbano sito na Av. …, freguesia de …, concelho de
Ponte de Lima, inscrito na matriz predial urbana sob o artigo ..°
da associação de freguesias do …, anterior artigo matricial ..°
(extinta freguesia de ..) e descrito sob o número .. da freguesia
de .., Ponte de Lima.
b. - Quotas nas sociedades Construções X, Unipessoal, Lda. e
Empresa A, Lda.
27. Sobre aquele imóvel do incidem penhoras e hipoteca.
28. As quotas das sociedades estão igualmente penhoradas.
29. O Requerido obrigou-se a pagar, sem o ter feito, pelo
menos a quantia total de € 137.131,08 €.
IV. Fundamentação de Direito

1 -- da nulidade da sentença
Alegada a nulidade, devia o tribunal a quo pronunciar-se nos
termos do artigo 617º nº 1 do Código de Processo Civil, o que
não fez.
No entanto, face à simplicidade da questão, nos termos do nº
5 do mesmo artigo, entende-se dispensar a baixa do processo
para a sua apreciação.
O recorrente alega e conclui, para tanto, apenas o seguinte: “O
tribunal "a quo" não fez uma correta apreciação dos
pressupostos para requerer a insolvência em causa, o que
constitui a nulidade estatuída na al. b) do n° 1 do art. 615° do
C.P.C. que se invoca para os devidos efeitos”
A nulidade invocada, estatuída na alínea que o recorrente cita,
ocorre quando o tribunal não especifica os fundamentos de
facto e de direito em que funda a conclusão; afasta-se da
razão que o Recorrente invoca: a errónea apreciação do direito
pelo tribunal a quo.
Com efeito, só pode ocorrer nulidade da sentença por omissão
de pronúncia quando o juiz não toma posição sobre questão
colocada pelas partes, não emite decisão no sentido de não
poder dela tomar conhecimento, nem indica razões para
justificar essa abstenção de conhecimento, e da sentença
também não resulta, de forma expressa ou implícita, que esse
conhecimento tenha ficado prejudicado em face da solução
dada ao litígio; a mesma não é confundível com o erro de
julgamento na aplicação do direito, o qual ocorre quando o
decidido (e especificado na fundamentação, que não é omissa)
não corresponde à realidade normativa.
Enfim, é pacífico que a nulidade da sentença por falta de
fundamentação só ocorre quando não se encontram expressos
motivos para o decidido, não quando se entende que estes
são insuficientes.
Ora, no presente caso a sentença especificou a
fundamentação de facto por remissão, supra transcrita, de
acordo com a norma excecional que o permite nos casos sem
que opera a revelia do Réu e a causa é simples.
E quanto ao direito, é o próprio recorrente que invoca que foi
efetuada a sua apreciação, embora a considere errónea.
Enfim, é aqui aplicável a doutrina exposta no Acórdão do
Supremo Tribunal de Justiça de 02-06-2016, no processo
781/11.6TBMTJ.L1.S1, sendo este e todos os acórdãos
citados sem menção de fonte consultados no portal
www.dgsi.pt “II - Só a absoluta falta de fundamentação – e não
a sua insuficiência, mediocridade ou erroneidade – integra a
previsão da al. b) do n.º 1 do art. 615.º do NCPC, cabendo o
putativo desacerto da decisão no campo do erro de
julgamento”.
Dúvidas não há que não se verifica a nulidade invocada, que
assim se julga improcedente, passando-se de imediato à
apreciação do direito nos pontos objeto deste recurso.

2 -- da ilegitimidade da Requerente da declaração de


insolvência;
Nos termos do Código de Processo Civil, subsidiário ao CIRE
(cf o seu artigo 17º), o Autor é parte legítima quando tem
interesse direto em demandar, que se exprime pelo utilidade
que dessa procedência advenha (artigo 30º).
A legitimidade processual afere-se pela relação jurídica
substantiva controvertida, tal como o Autor a configurou, e não
tal como existiu, na realidade, sendo face à petição inicial que
se define o interesse direto em contradizer que legitima o Réu .
( cf. nº 3 deste artigo).
O CIRE define, no artigo 20º, quem tem legitimidade, para
além do devedor, para requerer a declaração de insolvência.
Invocados que estejam, pelo requerente da insolvência, os
pressupostos impostos nesta norma que lhe conferem a
legitimidade para deduzir o pedido correspondente
(independentemente de se verificarem ou não) há que se
considerar a mesma parte legítima.
Caso se venha, posteriormente a apurar que se não verificam
tais pressupostos, faltam também os requisitos para a
decretação da insolvência e o devedor é absolvido, não da
instância, mas do pedido.
Neste sentido, cf a jurisprudência citada nas alegações destes
autos apresentadas pelo Ministério Público: “Nestas
condições, é dotado de legitimidade para requerer a
declaração de insolvência quem se atribua a qualidade de
credor do requerido e não quem seja, efectivamente, na
realidade, credor do demandado.; VI - A questão de saber se o
requerente é ou não credor do requerido prende-se com o
mérito ou com o fundo da causa e não com a questão da
legitimidade ad causam para deduzir o pedido de insolvência,
que apenas respeita ao preenchimento de um pressuposto
processual positivo e, portanto, a uma exceção dilatória
imprópria.” Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, de
29/2/2012, P.689/11.5TBLSA.C1.
Assim, atendendo ao disposto no artigo 20º do CIRE e face à
causa de pedir delineada na petição inicial (visto que este
apenas se fundou nas alíneas a), b) g). subalínea i)), importa
apurar se a Requerente invocou factos, que a serem verídicos,
implicam que:

1- o requerente é credor do insolvente, ainda que condicional;


2- o requerido suspendeu de forma generalizada o pagamento
das obrigações vencidas ou faltou ao cumprimento de uma ou
mais obrigações que, pelo seu montante ou pelas
circunstâncias do incumprimento, revelam a impossibilidade de
o devedor satisfazer pontualmente a generalidade das suas
obrigações ou está em incumprimento generalizado, nos
últimos seis meses, de dívidas Tributárias.

1-- Quanto ao primeiro ponto, a Requerente invocou que o


Requerido assumiu pessoalmente perante a Requerente os
montante devidos até então pela sociedade de que era sócio
gerente (artigo 9º do requerimento inicial ) e que todos os
fornecimentos à mesma seriam pagos por si, assumindo
pessoalmente o pagamento da totalidade de fornecimentos
constantes das faturas que perfazem o valor de 30.418,65 €
(artigo 11º do requerimento inicial).
(Mais pediu à Requerente para ficar com o cheque, no valor de
10.000,00 €, em carteira, como garantia, para o caso da
empresa devedora entretanto não liquidar o devido - artigo 9º,
parte final e 10º do requerimento inicial)
Ao valor de capital supra mencionado acrescem, nos termos
do requerimento inicial e faturas juntas, juros no valor de
13.103,74 €.
Mencionando que o Requerente assumiu perante si a
obrigação de lhe pagar o montante do crédito dos
fornecimentos efetuados à sociedade de que era sócio e bem
assim que este não pagou tal crédito, conclui-se com singeleza
que a Requerente, a quem o Recorrente se obrigou a pagar tal
montante, é sua credora: a assunção de dívidas é a aceitação
do pagamento de um passivo de um devedor perante o credor
deste, com libertação (assunção liberatória) ou não (assunção
cumulativa) do primitivo devedor, nos termos do artigo 595º nºs
1 e 2 do Código Civil( cf Acórdão do Supremo Tribunal de
Justiça de 17-02-201, no processo nº 294/06.8TVPRT.91.S1).
O Recorrente, face ao invocado pela Requerida, assumiu a
dívida ao lado da primitiva devedora, sem a exonerar “dando
assim ao credor, não o direito a uma dupla prestação, mas o
direito de obter a prestação devida através de dois vínculos, à
semelhança das obrigações com os devedores solidários “ (
Antunes Varela, Das Obrigações em Geral, Vol. II, 5ª ed., pág.
359/360).
O artigo 595º, nº 2, do Código Civil, quanto a esta matéria
estipula que o assuntor e o primitivo obrigado, não havendo
declaração expressa do credor exonerando o primitivo
devedor, respondem solidariamente. A assunção da dívida em
que não ocorre exoneração do devedor primitivo designa-se
assunção cumulativa, acessão ou adjunção à dívida, assunção
multiplicadora ou reforçativa da dívida.
Este contrato não está sujeito a qualquer forma especial-
confirmando-o, cf o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
de 23-09-2008, no processo 08A2171.
(Por fim, diga-se, apenas, que a mesmo que houvesse uma
simples entrega do cheque em garantia, sem assunção da
dívida, o que não foi o alegado, sempre o devedor responderia
pelo valor da garantia prestada, pelo valor do cheque: a
garantia significa isso mesmo, que se assume a obrigação de
responder com o seu património, caso não seja pago pelo
devedor principal o crédito garantido: cf neste sentido Acórdão
do Supremo Tribunal de Justiça de 15-05-2008 no processo
08B1200.)
Enfim, a Requerente alegou factos de onde resulta ser credor
do Recorrente da quantia de capital e juros correspondentes
aos fornecimentos que efetuou à sociedade de que aquele era
gerente.

2-- Quanto ao segundo ponto, a requerente invocou,


sinteticamente:
- o requerido vem contraindo há vários anos empréstimos
juntos de entidades bancárias (artigo 25º), encontra-se hoje
numa situação em que não paga, na generalidade, aos seus
credores:
-o imóvel do requerido encontra-se penhorado para garantia
de um crédito do IGFSS no valor de quantia de 12.984,15,
outro do Banco T, S.A. no valor de 516,29, outro do BANCO P,
no valor 53.077,55. Sobre este ainda impede hipoteca ao 1º
credor citado para garantia do valor de 21.455,98 € e três
penhoras a favor da Fazenda Nacional.
- está pendente execução contra o mesmo no valor de
2.422,92, relativa a uma livrança.
Entende-se, que na abordagem para os efeitos de determinar
se a Requerente tem legitimidade para pedir a declaração de
insolvência do Requerido, que todos estes factos,
concatenados, preenchem os requisitos em causa, face ao
número de obrigações que o Requerido apresenta, em
incumprimento, já em fase executiva, na versão da requerente,
algumas de valor menos elevado, inferior a 700,00 €, outras de
valor já muito elevado, como a que apresenta para com a
Requerente e a que originou a hipoteca, a diversidades de
credores em causa, que vão desde a Fazenda Nacional, a
Banca e Fornecedores; o valor global dos seus débitos e o
facto do único bem de valor que se conhece ser um imóvel,
sobre o qual impende já uma hipoteca (e as indicadas
penhoras). Os restantes bens que se lhe conhecem, têm em
regra valor muito volátil: são quotas de sociedades (uma
endividada à Requerente) e que também estão penhoradas.
Verifica-se, assim, que se mostram preenchidas, nesta análise
inicial, com a sua alegação, as situações que ora se
pretendem apurar.
3 -- das consequências da não oposição à insolvência por
parte do requerido (na determinação dos factos e do direito)
Por força do disposto nos artigos 29º e 30 do CIRE, o
Requerido é citado, com a cominação de que se não deduzir
oposição, consideram-se confessados os factos alegados na
petição inicial e a insolvência é declarada no dia útil seguinte
ao termo do prazo referido no n.º 1, se tais factos preencherem
a hipótese de alguma das alíneas do n.º 1 do artigo 20.º.
Esta é a cominação prevista no artigo 30º nº 5 deste diploma.
Por seu lado, a oposição que é facultada ao devedor pode
basear-se na inexistência do facto em que se fundamenta o
pedido formulado ou na inexistência da situação de
insolvência, sendo que cabe ao devedor (alegar e) provar a
sua solvência, nessa peça processual - mesmo artigo, nºs 3 e
4.
Visto que não estão em causa direito indisponíveis e foram
juntos os documentos que demonstram os que só por este
meio se podiam considerar provados (artigos 354º e 364º do
Código Civil)e se verifica também que o Réu é capaz, opera a
revelia.
Esta tem como efeito a confissão dos factos alegados na
petição inicial e a preclusão do direito de alegar novos factos
que não sejam supervenientes; de outro ponto de vista, como
é sabido, atualmente, no nosso sistema processual, em regra,
a falta de oposição não determina de forma automática a
condenação no pedido.
Assim, também aqui, nos termos do citado artigo 30º nº 5 do
CIRE, perante os factos provados, o tribunal tem sempre de
averiguar se eles preenchem a hipótese de algumas das
alíneas do n.º 1 do art.º 20.º do CIRE (cfr. art.º 30.º, n.º 5,
deste Código).
Quanto à vertente do princípio da preclusão, também
transversal ao nosso sistema processual, há aqui que
mencionar que, porque toda a defesa quanto aos pressupostos
para a declaração de insolvência deve ser deduzida na
oposição, depois desta (ou depois do momento que para tanto
o devedor tinha) só podem ser deduzidas as exceções,
incidentes e meios de defesa que sejam supervenientes, ou
que a lei expressamente admita passado esse momento, ou
de que se deva conhecer oficiosamente.
Desta forma, operando a confissão ficta dos factos invocados
no requerimento inicial, acrescida da prova documental junta,
não pode o Réu agora pretender que sejam dados como
provados factos que não invocou, nem pode pretender que
não se considerem os factos invocados no requerimento inicial
como não provados (posto que não são relativos a direitos
indisponíveis e não foram dados como assentes factos de
prova vinculada não apresentada, o que, de resto, este
também não invocou).
Existem, pois, elementos que sustentam as alegações da
requerente, nomeadamente quanto à assunção da dívida, sem
necessidade de qualquer elemento probatório suplente: a
confissão ficta do Recorrente.
Não se pode considerar, porque não invocado
tempestivamente nos autos e, aliás, conclusivo, que “As
mesmas dívidas do Requerido são controladas e o Requerido
tem condições de as pagar, de forma faseada” nem que “o
ativo do Requerido é superior ao passivo.” (corrigiu-se o lapso
de escrita constante da peça recursiva).
Visto que a confissão ficta apenas abrange os factos é mister
proceder à:
4- verificação dos pressupostos para a declaração de
insolvência.
A maior parte desta análise já foi efetuada supra, quando se
procedeu à indagação do preenchimento no requerimento
inicial do ónus de alegação dos factos que integravam os
pressupostos para a declaração de insolvência.
Nos termos do artigo 3° nº 1 do CIRE: “É considerado em
situação de insolvência o devedor que se encontre
impossibilitado de cumprir as suas obrigações vencidas”.
A declaração de insolvência de um devedor pode ser
requerida, não só por este, como também por qualquer credor,
ainda que condicional e qualquer que seja a natureza do seu
crédito, desde que, entre outros, (e indicam-se aqui apenas as
que nestes autos podem ter relevância por mencionadas nos
mesmos) se verifique a suspensão generalizada do
pagamento das obrigações vencidas ou a falta de
cumprimento de uma ou mais obrigações que, pelo seu
montante ou pelas circunstâncias do incumprimento, revele a
impossibilidade de o devedor satisfazer pontualmente a
generalidade das suas obrigações, ou o incumprimento
generalizado, nos últimos seis meses, de dívidas tributárias
(artigo 20º, nº 1, alíneas a), b) e e g), subalínea i) do CIRE, a
que se referem todas as normas citadas sem indicação do
diploma).
A alegação e prova dos factos que os integram alguns dos
índices previstos neste artigo constitui ónus que impende
sobre o credor que requeira a declaração de insolvência,
mostrando-se o caso todos os factos provados, por confissão
ficta e documentos.
Quando o pedido não provém do devedor, o requerente deve
justificar a origem, natureza e montante do seu crédito e
oferecer com ela os elementos que possua relativamente ao
ativo e passivo do devedor (artigo 25º).
O crédito encontra-se suficientemente justificado, nos termos
supra expendidos, atento o dado como provado nos pontos 8 e
10 da matéria de facto provada supra: a assunção de dívida
assumida pela requerida, não paga.
Deste modo, há que verificar se o devedor se encontra incapaz
de satisfazer obrigações que, pelo seu significado no conjunto
do passivo do devedor, ou pelas próprias circunstâncias do
incumprimento, evidenciam a incapacidade de continuar a
satisfazer a generalidade dos seus compromissos.
A situação de insolvência manifesta-se sob a forma de uma
insuficiência prática e real do devedor cumprir a maioria das
obrigações vencidas ou que se encontre nessa iminência.
“O estabelecimento de factos presuntivos da insolvência tem
por principal objetivo permitir aos legitimados o
desencadeamento do processo, fundado na ocorrência de
alguns deles, sem haver necessidade de, a partir daí, fazer a
demonstração efetiva da situação de penúria traduzida na
insusceptibilidade de cumprimento das obrigações vencidas,
nos termos em que ela é assumida como característica nuclear
da situação de insolvência”- Acórdão do Tribunal da Relação
do Porto de 26.10.2006, proferido no processo n.º 06344582,
disponível em www.dgsi.pt.
Entre estes alegou a Requerente, três fundamentos.
O primeiro dos fundamentos, reenvia para “uma paralisação
generalizada no cumprimento das obrigações do devedor de
índole pecuniária” porquanto esta reenvia para situação pela
qual “o devedor deixa de dar satisfação aos seus
compromissos, em termos que projetam a sua incapacidade
de pagar”. (cf Carvalho Fernandes e J. Labareda, C.I.R.E.
anotado, 2005, p. 132).
Quanto ao segundo fundamento, “o incumprimento de só
alguma ou algumas obrigações apenas constitui facto-índice
quando, pelas suas circunstâncias, evidencia a impossibilidade
de pagar, o requerente deve então, juntamente com a
alegação de incumprimento, trazer ao processo essas
circunstâncias das quais, uma vez demonstradas, é razoável
deduzir a penúria generalizada” (ob. cit., página seguinte)
Quanto ao terceiro motivo invocado pela Requerente, exige-se
que obrigações de conteúdo tributário não sejam pagas de
forma generalizada nos últimos seis meses.
Ora, como se viu, o montante global das dívidas vencidas do
devedor (aproximadamente de 137.131,08 €), é considerável,
tendo em atenção o seu património conhecido (o imóvel e
quotas das duas sociedades, uma delas, como se viu,
francamente endividada, também).
O valor do imóvel referido no documento junto com o
requerimento inicial mostra-se reduzido, face a tal valor do
débito que o requerido apresenta, tanto mais que sobre este
incidem ainda duas hipotecas, uma a favor do BANCO P, S.A.
e outra do IGFSS,IP.
Encontra-se, além disso, onerado também com penhoras: para
garantia de um crédito do IGFSS no valor de quantia de
21.455,98, outro do Banco T, S.A. no valor de 516,29, outro do
BANCO P, no valor 53.077,55 e três penhoras a favor da
Fazenda Nacional.
Também está pendente execução contra o mesmo no valor de
2.422,92, relativa a uma livrança.
Os restantes bens que se lhe conhecem, têm em regra valor
muito volátil, por serem quotas em sociedade comerciais de
responsabilidade limitada (uma endividada à Requerente) e
também estão penhoradas.
Há que ter em atenção os seguintes factos:
- o já elevado número de obrigações que o Requerido
apresenta em incumprimento (mais de seis);
- a fase avançada de incumprimento destas dívidas, que já se
encontram a ser exigidas em processo executivo;
- o elevado seu valor global - cerca de 137.000,00 €;
- o facto de algumas destas serem de valor menos elevado
(inferior a 700,00 €, sendo uma no valor de 516,29 €), sendo a
sua falta de pagamento mais indiciadora da dificuldade de
pagamentos (atingindo tal incapacidade mesmo valores pouco
ou menos avultados);
- a diversidades de credores em causa, que vão desde a
Fazenda Nacional, a Banca e Fornecedores
- o único bem de valor que se conhece do devedor é um
imóvel, sobre o qual impendem já duas hipotecas e as
penhoras mencionadas, mostrando-se o seu valor inferior a
estes ónus e às dívidas apuradas.
Todos estes elementos, apreciados na sua globalidade,
obrigam o tribunal a concluir que efetivamente o recorrente se
encontra incapaz de satisfazer obrigações que, pelo seu
significado no conjunto do passivo do devedor evidenciam a
incapacidade de continuar a satisfazer a generalidade dos
seus compromissos, como aliás tem feito.
Quanto aos incumprimentos de obrigações tributárias, apesar
da sua pluralidade, visto que não se sabe a data de
vencimento dos créditos, não se pode afirmar que exista um
incumprimento generalizado destas no período limitado
estipulado pela lei: os últimos seis meses.
No entanto, como decorre do teor do próprio artigo 20º do
CIRE, basta o preenchimento de uma das alíneas do seu nº 1
para a declaração de insolvência: estas não são cumulativas.
Preenchidas que estão duas das suas alíneas - as primeiras-
há que concluir pela situação de insolvência do Recorrente e
confirmar a sentença proferida que a declarou.

V. Decisão:

Por todo o exposto julga-se a apelação improcedente e em


consequência confirma-se a a decisão recorrida.
Custas na 2ª instância pelo Recorrente.
Notifique.
Guimarães, 2 de novembro de 2017

Sandra Melo
Heitor Gonçalves
Amílcar Andrade

Você também pode gostar