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Recurso: 0021422-37.2015.8.16.

0017 – 4ª Vara Cível de Maringá


Classe Processual: Apelação
Assunto Principal: Cédula de Crédito Bancário
Apelantes: Leandro Pazzetto Arruda
Edmar de Souza Arruda
Silvana Pazzetto Arruda
Apelado: Itaú Unibanco S.A.
Relator: Des. Hamilton Mussi Corrêa

Embargos do devedor. Cédula de crédito bancário na


modalidade empréstimo para pagamento em parcelas fixas. Título
líquido, certo e exigível. Art. 28, da Lei nº 10.931/2004. Execução
instruída com o título e demonstrativo da dívida. Documentos
essenciais à propositura da execução presentes. Alegações genéricas
de abuso no que tange aos contratos anteriores e à cédula executada.
Ausência de declaração de excesso e memória de cálculo discriminado.
Desatenção ao art. 917, §§ 3º e 4º, CPC/2015. Exigência legal não
afastada pela aplicação do CDC e pedidos de inversão do ônus da
prova, exibição de documentos ou realização de perícia. Cerceamento
de defesa inexistente. Rejeição. Sentença mantida. Honorários
advocatícios. Majoração. Art. 85, § 11º, do CPC/2015.
Apelação conhecida e não provida.

I – Trata-se de apelação contra sentença que julgou


improcedentes os embargos do devedor opostos pelos apelantes à execução
de cédula de crédito bancário movida pelo banco apelado, condenando os
recorrentes a arcar com o ônus da sucumbência, fixada a verba honorária em
10% sobre o valor da causa (mov. 137.1).
No apelo é alegado (mov. 143.1):
Apelação Cível nº 0021422-37.2015.8.16.0017 pf fl 2
a) ocorrer cerceamento de defesa, pois os embargantes
pediram a produção de prova pericial e o juiz determinou o julgamento
antecipado da lide;
b) nulidade da execução, na medida em que: (i) “o
apelado deixou de juntar contratos de empréstimos anteriores, contendo a
relação de operações renegociadas, sendo, portanto, impossível demonstrar
o valor devido”; (ii) o demonstrativo de débito juntado pela entidade
bancária na execução “não demonstra de modo claro, preciso e de fácil
entendimento e compreensão o valor principal da dívida, seus encargos e
despesas contratuais devidos, a parcela de juros e os critérios de sua
incidência”; (iii) o título executado não possui a assinatura de duas
testemunhas, conforme exigido pelo art. 784, III, do CPC/2015;
c) haver excesso de execução ante a capitalização
mensal de juros e juros remuneratórios cobrados acima do percentual de 12%
ao ano previsto em lei.
O recurso foi contra-arrazoado (mov. 151.1).
É a breve exposição.
II – VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO:
1. Conheço do recurso porque presentes os pressupostos
de admissibilidade exigidos pelos artigos 1.009 a 1.014 do CPC/2015, sendo
tempestivo, inexistindo irregularidades quanto ao preparo e havendo
regularidade na representação processual.
2. As preliminares suscitadas confundem-se com o
mérito, razão pela qual serão analisadas em conjunto.
A execução embargada tem por objeto cédula de crédito
bancário, modalidade empréstimo – capital de giro, pela qual foi tomado
R$480.000,00 para pagamento em 24 parcelas mensais fixas de R$
24.082,70, com vencimento entre 06.12.2014 e 06.01.2016, tendo sido
previsto vencimento antecipado em caso de inadimplemento. Na cédula,
firmada em 04.12.2013, foram pactuados juros de 1,52% ao mês e 19,84%
ao ano. Na petição inicial da execução foi indicado como devido a quantia
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de R$ 248.186,69 e a peça foi instruída com o título executado e planilha de
cálculo que demonstra a evolução dos débitos.
Ao contrário do alegado no apelo, o demonstrativo que
instrui a petição inicial da execução (mov. 1.7 dos autos 0010730-
76.2015.8.16.0017), acompanhado do título executado em que se podem
verificar de modo claro os encargos pactuados, é suficiente para demonstrar
a apuração do valor executado, possibilitando aos apelantes a elaboração de
planilha para apuração de eventual excesso, em cumprimento ao artigo 917,
§§ 3º e 4º, do CPC/2015, caso discordassem do montante cobrado.
Ademais, no julgamento do REsp nº 1.291.575/PR,
submetido ao rito previsto pelo artigo 543-C do CPC/1973, a Segunda Seção
do STJ decidiu que “a Cédula de Crédito Bancário é título executivo
extrajudicial, representativo de operações de crédito de qualquer natureza,
circunstância que autoriza sua emissão para documentar a abertura de
crédito em conta corrente, nas modalidades de crédito rotativo ou cheque
especial. O título de crédito deve vir acompanhado de claro demonstrativo
acerca dos valores utilizados pelo cliente, trazendo o diploma legal, de
maneira taxativa, a relação de exigências que o credor deverá cumprir, de
modo a conferir liquidez e exequibilidade à Cédula (art. 28, § 2º, incisos I e
II, da Lei nº 10.931/2004) ”.
Desse modo, a executividade dos títulos de crédito
reconhecidos em legislação específica decorre do art. 784, XII, do
CPC/2015, correspondente ao art. 585, VIII, do CPC/1973 e independe da
assinatura de duas testemunhas, que é formalidade exigida apenas aos
contratos particulares, nos termos do art. 784, III, do CPC/2015.
Nesse sentido, é firme a jurisprudência do STJ: “Aos
títulos de crédito, assim reconhecidos em lei, dispensa-se a formalidade
exigida aos contratos particulares, de assinatura de duas testemunhas,
para que adquiram executoriedade. (...)” (REsp 215.265/GO, Relator o
Ministro Aldir Passarinho Júnior, QUARTA TURMA, DJ de 04/02/2002).
Logo, os documentos que instruem a execução são
suficientes a demonstrar a liquidez e exigibilidade da cédula de crédito
bancário, que, nos termos do art. 28, da Lei 10.931/2004, “é título executivo
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extrajudicial e representa dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja
pela soma nela indicada, seja pelo saldo devedor demonstrado em planilha
de cálculo, ou nos extratos da conta corrente, elaborados conforme previsto
no § 2º".
Na petição inicial dos embargos do devedor, alegaram
os recorrentes a nulidade da execução ante ausência de demonstrativo de
débito claro e falta da assinatura de duas testemunhas na cédula executada.
Sustentaram que “o contrato executado foi realizado para liquidar juros
relativos às cédulas de crédito anteriores e saldos devedores relativos à
conta corrente”. Aduziram ser devida a aplicação do CDC e a inversão do
ônus da prova, pois “há hipossuficiência dos embargantes, notadamente
pelo fato de não ter o embargado apresentado os contratos anteriores ao
que está sendo executado”. Por fim, pediram pelo afastamento da capitação
de juros, juros remuneratórios abusivos, TAC e multa moratória. Entretanto,
deixaram de declarar na petição inicial o valor do excesso que pretendiam
ver reconhecido, limitando-se a formular alegações genéricas e hipotéticas
acerca de abusividades que poderiam vir a ser reconhecidas após
apresentação de contratos anteriores pelo banco e realização de prova
pericial.
A princípio, esclareço que embora aleguem que o
contrato executado foi pactuado para renegociar empréstimos anteriores, os
apelantes sequer indicam quais seriam os contratos que teriam dado origem
ao título executado. A simples existência de dívida anterior assumida pelos
mesmos devedores perante o mesmo credor não pode indicar renegociação,
que pressupõe ajuste, combinação entre as partes, o que não foi
minimamente demonstrado nos autos. Para que se afaste a presunção de
autonomia do contrato de crédito em execução deve ser demonstrado que ele
apenas serviu para maquiar renegociação de dívidas, o que não é o caso dos
autos.
Em tais condições, os embargos do devedor devem ser
limitados à cédula de crédito bancário executada.
Ocorre que ao embargar, os recorrentes limitaram-se a
formular alegações genéricas acerca de abusividades, impugnando de forma
genérica o demonstrativo de débito sem declaração de excesso apta a
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amparar sua pretensão à revisão do valor executado fundada na aplicação do
CDC e na ilegalidade da cobrança pretendida, por haver hipotéticas
abusividades decorrentes da incidência de correção monetária, juros
abusivos e capitalizados.
Os embargos do devedor foram opostos na vigência do
art. 917, § 3º e § 4º, do CPC/2015 (correspondente ao 739- A, § 5º,
CPC/1973), que dispõe que “quando alegar que o exequente, em excesso de
execução, pleiteia quantia superior à do título, o embargante declarará na
petição inicial o valor que entende correto, apresentando demonstrativo
descriminado e atualizado do seu cálculo” e que quando “não apontado o
valor correto ou não apresentado o demonstrativo, os embargos à execução:
I – serão liminarmente rejeitados, sem resolução de mérito, se o excesso de
execução for o seu único fundamento; II – serão processados, se houver
outro fundamento, mas o juiz não examinará a alegação de excesso de
execução”. Tal dispositivo visa garantir maior celeridade ao processo de
execução, bem como tornar mais clara para o juiz a questão processual que
se discute, mediante a apresentação discriminada do excesso, por meio
inclusive de memória de cálculos.
A doutrina, ao tratar dos embargos à execução com
fundamento em excesso de execução, estabelece que:
“Coibindo a prática vetusta de o executado impugnar
genericamente o crédito exequendo, a lei o obriga a apontar as ‘gorduras’ do
débito apontado pelo credor. Assim é que, ‘quando o excesso de execução for
fundamento dos embargos, o embargante deverá declarar na petição inicial o
valor que entende correto, apresentando memória do cálculo, sob pena de
rejeição liminar dos embargos ou de não conhecimento deste fundamento’. A
regra decorre não só da experiência prática, mas também do fato de que a
execução pode prosseguir somente pela parte remanescente incontroversa
(art. 739-A, parágrafo 3°) ”. (in Fux, Luiz. O novo processo de execução:
cumprimento da sentença e a execução extrajudicial, Rio de Janeiro: Forense,
2008. pg. 416).
Mesmo o pedido de revisão contratual deduzido em sede
de embargos do devedor não afasta a necessidade de indicação do valor
devido e apresentação da respectiva memória do cálculo, como já decidiu o
STJ em situação idêntica:
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“PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL PIGNORATÍCIA.
EMBARGOS DO DEVEDOR. ALEGAÇÃO DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS ABUSIVAS. EXCESSO DE EXECUÇÃO.
NECESSIDADE DE DECLARAÇÃO NA PETIÇÃO INICIAL DO VALOR
QUE SE ENTENDE CORRETO E APRESENTAÇÃO DA
CORRESPONDENTE MEMÓRIA DO CÁLCULO. ÔNUS LEGAL
IMPOSTO AO DEVEDOR. ARTIGO ANALISADO: 739-A, § 5º, CPC. 1.
Embargos do devedor opostos em 16/09/2011, do qual foi extraído o presente
recurso especial, concluso ao Gabinete em 20/02/2013. 2. Discute-se a
dispensabilidade, em sede de embargos do devedor com pedido de revisão
contratual, da indicação do valor devido e apresentação da respectiva
memória do cálculo. 3. O pedido de revisão contratual, deduzido em sede
de embargos do devedor, tem natureza mista de matéria ampla de defesa
(art. 745, V, CPC) e de excesso de execução (at. 745, III, CPC), com
preponderância, entretanto, desta última, dada sua inevitável
repercussão no valor do débito. 4. Assim, incumbe ao devedor declarar
na petição inicial o valor que entende correto e apresentar a respectiva
memória de cálculo, por imposição do art. 739-A, § 5º, CPC. 5. Divisão
de responsabilidades entre as partes, decorrente da tônica legislativa que
pautou a reforma do processo de execução, segundo a qual, de forma paritária,
equilibram-se e equanimemente distribuem-se os ônus processuais entre
credor e devedor. 6. Recurso especial conhecido em parte e, nesta parte,
provido. ” (STJ, REsp 1365596/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 10/09/2013, DJe 23/09/2013).
Logo, como os embargos à execução fundam-se na
existência de excesso de execução, cabia aos embargantes instruírem a
petição inicial com memória do cálculo indicando o excesso em relação à
dívida cobrada, o que deixaram de fazer, sem atentar para o fato de que a
inobservância ao citado dispositivo tem como consequência legal expressa a
rejeição dos embargos, que não é afastado pelo pedido de aplicação do CDC,
inversão do ônus da prova e produção de perícia.
Cumpre anotar, ademais, que a revisão pretendida nos
embargos é possível aos apelantes em ação própria, na qual poderá se valer
de prévia exibição de documentos, que sirva à elaboração objetiva de
cálculos dos excessos e abusividades que pretendem afastar em toda a
relação contratual.
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Portanto, sendo descabido conhecer das alegações de
excesso suscitadas sem indicação do valor tido por devido, a sentença que
julgou improcedentes os embargos do devedor não merece reparos.
Voto, pois, em conhecer e negar provimento ao apelo,
elevando a verba honorária para 15% sobre o valor atualizado da causa, com
fundamento no art. 85, § 11º, do CPC/2015.
III - DECISÃO:
Diante do exposto, ACORDAM os Desembargadores da
15ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por
unanimidade, em conhecer e negar provimento ao apelo, elevando a verba
honorária para 15% sobre o valor atualizado da causa, com fundamento no
art. 85, § 11º, do CPC/2015, de acordo com o voto do Relator.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LUIZ
CARLOS GABARDO, com voto, e dele participou, além deste Relator, o
Desembargador HAYTON LEE SWAIN FILHO.
Curitiba, 1º de agosto de 2018.

Des. HAMILTON MUSSI CORRÊA – Relator

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