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Exames de Teoria Geral do Direito Civil

1º teste 2021/2022

Grupo I

Nos termos do artigo 67º, à personalidade jurídica é inerente a capacidade jurídica, que traduz a aptidão
para ser titular de um círculo, com mais ou menos restrições, de relações jurídicas. Pode, por isso, ter-se
uma medida maior ou menor de capacidade, segundo certas condições ou situações, sendo-se sempre
pessoa, seja qual for a medida da capacidade. Por outro lado, é relevante fazer referência à capacidade de
exercício de direitos, que consiste na idoneidade para atuar juridicamente, exercendo direitos ou cumprindo
deveres, adquirindo direitos ou assumindo obrigações, por ato próprio e exclusivo ou mediante um
representante voluntário ou procurador, isto é, um representante escolhido pelo próprio representado.

Com efeito, é relevante salientar que existem casos de incapacidade de exercício de direitos, de que são
exemplos a menoridade (artigos 122º e ss.) e o acompanhamento de maiores (artigos 138º e ss. e Lei nº
49/2018, de 14 de agosto).

Neste caso concreto, quando A vendeu o seu automóvel era menor, nos termos do artigo 122º, sendo a
menoridade uma incapacidade geral, pois abrange quaisquer negócios de natureza pessoal e patrimonial
(artigo 123º). Nos termos do artigo 123º, existem algumas exceções à incapacidade, nomeadamente o artigo
127º, o artigo 1601º, o artigo 2189º, bem como o artigo 1850º. Contudo, neste caso, não está em causa
nenhuma destas exceções. Deste modo, o negócio celebrado entre A e B é anulável, nos termos do artigo
125º. A pode, de facto, arguir a anulabilidade (artigo 125º, 1, b), sendo relevante destacar o artigo 287º, 2,
que estabelece que a anulabilidade pode ser invocada sem pendência de prazo, se o negócio não estiver
integralmente cumprido: o negócio entre A e B não estava, de facto, integralmente cumprido, porque B não
pagou o preço e A não entregou o automóvel (artigos 874º e 879º). Por outro lado, os pais de A já não
podiam arguir a anulabilidade, pois este já tinha atingido a maioridade (artigo 125º, 1, a).

Efetivamente, o negócio entre A e B é anulável, pelo que poderia estar aqui em causa o artigo 291º, que
constitui uma exceção, que deriva da proteção de terceiros de boa fé, à regra de que ninguém pode
transmitir mais direitos do que aqueles de que é titular. C é, de facto, um terceiro, sendo que um terceiro
para efeitos de boa fé, é aquele que, encontrando-se numa cadeia de transmissões, vê a sua posição afetada
por uma ou mais invalidades anteriores ao negócio que é parte. É necessário que esteja em causa uma
invalidade anterior. É necessário que seja um bem imóvel ou um bem móvel sujeito a registo. O direito deve
ser adquirido onerosamente, bem como a aquisição deve ser registada. Não pode ser proposta uma ação de
invalidade nos três anos posteriores ao negócio inválido. C deve estar de boa fé, sem culpa. Assim, é possível
concluir que, neste caso concreto, não estavam preenchidos todos os requisitos, nomeadamente a aquisição
onerosa: B doou a C o automóvel. A aquisição de C não está, certamente, protegida pelo artigo 291º.
A disse que o automóvel já não lhe pertencia, mas é importante destacar que, em Portugal, o registo é
meramente declarativo, pelo que não é constitutivo de direitos. O registo tem como finalidade dar
publicidade às situações jurídicas que são alvo de registo. O facto de B ter registado não determina a
transferência de propriedade.

Face ao exposto, é importante salientar que se A arguir a anulabilidade, nos termos do artigo 125º, 1, b), a
propriedade é de A. É de salientar que a anulabilidade é sanável mediante conformação, nos termos do
artigo 125º, 2. Se A confirmar, o negócio entre A e B tornar-se-ia válido, podendo B adquirir e doar a C. Nesta
circunstância, a propriedade seria de C.

Grupo II

O caso prático apresentado enquadra-se no âmbito dos direitos de personalidade. Os direitos de


personalidade são direitos absolutos, pertencentes a todas as pessoas, por força do seu nascimento,
incidindo estes sobre os vários modos de ser físicos ou morais da sua personalidade.

No Direito Civil, verifica-se uma tutela geral da personalidade, prevista no artigo 70º, e uma tutela de aspetos
parcelares da personalidade. É ainda relevante mencionar que o artigo 70º abrange todas as manifestações
previsíveis e imprevisíveis da personalidade humana. É um direito ao livre desenvolvimento da
personalidade humana, sendo que a pessoa é o bem protegido. É um direito abstratamente ilimitado e
ilimitável, sendo o fundamento dos direitos especiais de personalidade (direito-matriz).

Com efeito, neste caso concreto, é de realçar a violação do direito à inviolabilidade pessoal, nas suas diversas
projeções. Em primeiro lugar, relativamente à projeção física, o direito à imagem que apresenta consagração
legal expressa no artigo 79º. O direito à imagem consiste no direito a controlar a captação e a divulgação do
retrato (abrangendo qualquer aspeto físico que possa identificar a pessoa). A forma mais grave de agressão
é constituída pela divulgação da imagem, embora a simples captação já constitua uma violação. Em segundo
lugar, relativamente à projeção vital, foi violado o direito à intimidade da vida privada, um direito relativo à
informação, que contende com a vida privada, bem como o direito à proteção de dados pessoais, regulado
no Regulamento (UE) 2016/679 e na Lei nº 50/2019. Finalmente, relativamente à projeção moral, é de
salientar a violação do direito à honra. O direito à honra não tem consagração expressa no Código Civil,
aparecendo como uma limitação do direito à imagem (artigo 79º, 3). Existe, contudo, um aprofundamento
da honra no âmbito do Direito das Obrigações, mais concretamente no artigo 484º. Este ainda se encontra
previsto no artigo 26º, 1 da CRP, constituindo, assim, um direito fundamental. O direito à honra consiste no
direito à reputação, à “imagem” que os outros têm da pessoa, independentemente da sua correspondência
com a realidade. Acresce ainda que o direito à honra pode ser violado com a divulgação de factos
verdadeiros. Dado que, neste caso, estavam em causa factos falsos estava ainda em causa a violação do
direito à verdade pessoal, que se integra no direito à identidade pessoal.
Deste modo, E poderia ter que responder, nos termos da responsabilidade civil extracontratual (artigo 483º),
na medida em que está aqui em causa a violação de vários direitos absolutos, mais concretamente, de vários
direitos de personalidade. A responsabilidade civil extracontratual está associada a um conjunto de
requisitos: a existência de um facto gerador de um dano e de uma ligação causal entre o facto e o dano; este
facto deve ser ilícito, isto é, violador de direitos subjetivos ou interesses alheios tutelados por uma disposição
legal e culposo, ou seja, passível de uma censura ético-jurídica ao sujeito atuante. Face ao exposto, e dado
que estão preenchidos todos os requisitos anteriormente mencionados, E responde perante D, havendo,
efetivamente, lugar à responsabilidade civil. Neste caso concreto, estavam em causa danos morais (não
patrimoniais), pelo que a responsabilidade civil daria lugar a uma compensação. É de realçar que os danos
morais não são sempre compensáveis: só são compensáveis os danos morais que pela sua gravidade
merecem tutela (artigo 496º).

Finalmente, ao abrigo do artigo 70º, 2, para além da responsabilidade civil, D poderia requerer as
providências adequadas às circunstâncias do caso, com o fim de evitar a consumação da ameaça ou atenuar
os efeitos da ofensa já cometida. Ou seja, poderia, por exemplo, requerer que E apagasse as fotografias e
desmentisse as informações que divulgou.

1º teste 2020/2021

Grupo I

Efetivamente, o contrato de promessa de prestação de serviços profissionais trata-se de um contrato de


adesão, celebrado ao abrigo de cláusulas contratuais gerais, pelo que é regido pelo Decreto-Lei nº 446/85,
de 25 de outubro.

Primeiramente, é importante salientar que a autonomia privada é um dos princípios fundamentais do Direito
Civil, consistindo esta no poder reconhecido aos particulares de autorregulamentação dos seus interesses,
de autogoverno da sua esfera jurídica. A autonomia privada tem a sua manifestação mais expressiva nos
negócios jurídicos bilaterais (ou contratos), enquanto liberdade contratual, consagrada no artigo 405º. A
liberdade contratual pressupõe a liberdade de celebração de contratos e a liberdade de modelação do
conteúdo contratual.

Uma importante limitação de ordem prática à liberdade de modelação do conteúdo contratual é a que se
verifica nos chamados contratos de adesão. Nos termos do artigo 1º, 1 do Decreto-Lei nº 446/85, as cláusulas
contratuais gerais são prévia e unilateralmente formuladas, limitando-se a outra parte a aceitar essas
condições, não podendo modelar o seu conteúdo. Assentam, assim, em três características fundamentais: a
pré-formulação, a imodificabilidade e a generalização.
Relativamente ao âmbito subjetivo, o Decreto-Lei nº 446/85 abrange as relações com consumidores finais e
relações entre empresários e entidades equiparadas. Neste caso concreto, está em causa uma relação entre
profissionais liberais, que se encontra referida no artigo 17º do Decreto-Lei nº 446/85.

O Decreto-Lei nº 446/85 prevê um controlo de inclusão e um controlo de conteúdo. O controlo de inclusão


está associado a duas obrigações ao predisponente: o dever de comunicação prévia (artigo 5º) e o dever de
informação (artigo 6º). Neste caso concreto, A não alegou que desconhecia as cláusulas ou que não foi
devidamente informado, pelo que estas duas obrigações foram, de facto, cumpridas. A apenas alegou a
nulidade das cláusulas, pelo que era necessário avançar para o controlo de conteúdo.

Com efeito, e na medida que estamos perante uma relação entre empresários e entidades equiparadas,
apenas são proibidas as cláusulas previstas nos artigos 18º (absolutamente proibidas) e 19º (relativamente
proibidas). Tendo em conta estes artigos, é de realçar que a cláusula que obrigava A a não prestar serviços
de advocacia, pelo o período que X determinasse, findo o contrato, é uma cláusula absolutamente proibida,
nos termos do artigo 18º, j). Acresce ainda que a cláusula que prevê a possibilidade de X denunciar o contrato
com um pré-aviso de 3 dias úteis é uma cláusula relativamente proibida, nos termos do artigo 19º, f). Estas
cláusulas são, assim, nos termos do artigo 12º, nulas. É ainda relevante mencionar que as cláusulas
absolutamente proibidas não deixam qualquer margem de apreciação relativamente à nulidade. Já as
cláusulas relativamente proibidas deixam uma margem para apreciação ao julgador, devendo este analisar
a cláusula no quadro negocial padronizado.

Assim, é possível concluir que A tem, certamente, razão, o contrato em causa apresenta cláusulas nulas. Nos
termos do artigo 13º do Decreto-Lei nº 446/85, o aderente que aceite as cláusulas contratuais gerais pode
optar pela manutenção dos contratos singulares quando algumas dessas cláusulas sejam nulas. Contudo, A
não pretende assinar o contrato.

Deste modo, era possível invocar a figura da responsabilidade civil contratual (artigo 798º CC), que é
originada pela violação de um direito de crédito ou obrigação em sentido técnico. É a responsabilidade do
devedor para com o credor pelo não cumprimento da obrigação.

Finalmente, X alega que A sempre manifestou a intenção de continuar na sociedade, pelo que investiu na
sua formação profissional. Ou seja, X considera que A, ao invocar a nulidade das cláusulas, está a exercer
abusivamente o seu direito, nos termos do artigo 334º do CC. Contudo, tal como referido anteriormente, A
tem, de facto, o direito de invocar a nulidade das mesmas, não estando a exercê-lo abusivamente. Podia, no
entanto, estar em causa, tal como salientado anteriormente, a responsabilidade civil obrigacional.

Grupo II

O caso prático apresentado insere-se no âmbito da aquisição derivada. A aquisição de um direito consiste
na sua entrada na esfera jurídica de um certo sujeito. Na aquisição derivada, o direito que se adquire, para
além de depender do facto aquisitivo, depende jurídico-geneticamente de um direito anterior, quer quanto
à existência, quer quanto ao conteúdo, quer quanto à amplitude.

Com efeito, é relevante destacar a transmissão entre A e B através de sucessão mortis causae, verificando-
se uma modificação de direitos subjetiva, por substituição.

Relativamente aos direitos de B sobre estes bens, é relevante começar com o prédio rústico em Valença, e
com a carinha de caixa aberta, que não foram alvo de qualquer transmissão, pelo que são propriedade de B.

Seguidamente, B apenas cedeu a exploração da empresa pecuária a D, em maio de 2020, pelo que B continua
a ser o proprietário. Relativamente à coleção de pratas, o proprietário será F, por força da transmissão
operada por compra e venda, nos termos dos artigos 874º e ss. Acresce ainda que a aquisição de F se trata
de uma aquisição derivada translativa, em que o direito adquirido coincide com o direito anterior, possuindo
o mesmo conteúdo e a mesma amplitude. Dá-se uma mera translação ou circulação do direito da esfera de
um sujeito para a esfera de outro.

Em relação ao lote para construção, A celebrou um contrato de compra e venda com C (sendo a transmissão
por compra e venda, tal como referido anteriormente, uma aquisição derivada translativa), sendo este nulo,
por vício de forma, nos termos dos artigos 875º e 220º. Posteriormente, C vendeu o lote a G. Com efeito,
era possível aplicar o artigo 291º.

De facto, ninguém pode transmitir mais direitos do que aqueles de que é titular. Contudo, existem duas
grandes exceções a esta regra no ordenamento jurídico português, sendo uma derivada do funcionamento
do registo, e a outra da proteção de terceiros de boa fé.

Neste caso concreto, a aquisição de G podia estar protegida pelo artigo 291º. Está em causa um terceiro (G),
sendo que um terceiro para efeitos de boa fé, é aquele que, encontrando-se numa cadeia de transmissões,
vê a sua posição afetada por uma ou mais invalidades anteriores ao negócio que é parte. Seguidamente, está
em causa uma invalidade anterior, isto é, a nulidade do negócio celebrado entre A e C. O lote trata-se de um
bem imóvel. D adquiriu o direito onerosamente, bem como registou de imediato a aquisição. É necessário
que G esteja de boa fé sem culpa, traduzindo-se a boa fé no desconhecimento efetivo da invalidade anterior
(sendo que o caso prático não apresenta informações quanto a este ponto). Finalmente, não pode ser
proposta uma ação de invalidade nos três anos posteriores ao negócio inválido (negócio esse que foi
celebrado em 2020). Neste caso, ainda não passaram os três anos necessários. Se durante estes três anos,
não for proposta uma ação de invalidade, G será protegido pelo artigo 291º, adquirindo o lote para
construção a non domino.

Finalmente, em relação à casa de habitação, B constituiu um usufruto a E. O usufruto constitui uma aquisição
derivada constitutiva, na medida em que se dá a formação de um direito novo, de conteúdo diverso, que se
filia num direito anterior. O direito filial surge ex novo, mas é como que gerado pelo direito preexistente, o
direito progenitor. Contudo, este usufruto é nulo, por vício de forma, nos termos dos artigos 1440º e 220º.
Posteriormente, E arrendou a casa a H, em outubro de 2020. Assim, neste caso, parecia que H constitui um
terceiro para efeitos de boa fé, nos termos do artigo 291º. Contudo, neste caso, não estão preenchidos todos
os requisitos anteriormente mencionados, pelo que H não adquire o direito a non domino. Estamos, assim,
perante o arrendamento de coisa alheia. A propriedade da casa está, assim, em B.

1º teste 2018/2019

Grupo I

O direito de propriedade sobre um animal de companhia é um poder-dever.

Grupo II

Nos termos do artigo 67º, à personalidade jurídica é inerente a capacidade jurídica, que traduz a aptidão
para ser titular de um círculo, com mais ou menos restrições, de relações jurídicas. Pode, por isso, ter-se
uma medida maior ou menor de capacidade, segundo certas condições ou situações, sendo-se sempre
pessoa, seja qual for a medida da capacidade. Por outro lado, é relevante fazer referência à capacidade de
exercício de direitos, que consiste na idoneidade para atuar juridicamente, exercendo direitos ou cumprindo
deveres, adquirindo direitos ou assumindo obrigações, por ato próprio e exclusivo ou mediante um
representante voluntário ou procurador, isto é, um representante escolhido pelo próprio representado.

Com efeito, é relevante salientar que existem casos de incapacidade de exercício de direitos, de que são
exemplos a menoridade (artigos 122º e ss.) e o acompanhamento de maiores (artigos 138º e ss. e Lei nº
49/2018, de 14 de agosto).

Neste caso concreto, A sofre de uma grave condição neurológica, que lhe afeta a memoria e a perceção da
realidade, pelo que faria sentido o requerimento do acompanhamento. Nos termos do artigo 138º, o
acompanhamento de maiores aplica-se ao maior impossibilitado, por razões de saúde, deficiência ou
comportamento, de exercer, plena, pessoal e conscientemente, os seus direitos ou de, nos mesmos termos,
cumprir os seus deveres.

Deste modo, são dois os seus principais requisitos: por um lado, a necessidade (artigo 138º), isto é, a
impossibilidade de exercer, plena, pessoal e conscientemente, os seus direitos ou de, nos mesmos termos,
cumprir os seus deveres, por razões de saúde, deficiência ou comportamento; e, por outro lado, a
subsidiariedade (artigo 140º, 2), ou seja, a ausência de alternativas, nomeadamente de assistência familiar.

O principal objetivo do acompanhamento de maiores consiste em assegurar o bem-estar, a recuperação, o


pleno exercício dos direitos e o cabal cumprimento dos deveres (artigo 140º, 1).
Nos termos do artigo 141º, o acompanhamento é requerido pelo próprio, ou, mediante autorização deste,
pelo cônjuge, pelo unido de facto, por qualquer parente sucessível, ou, independentemente de autorização,
pelo Ministério Público. Deste modo, a esposa de A tem, de facto, legitimidade para requerer o
acompanhamento, desde que tenha a sua autorização.

Contudo, se B conseguisse efetivar este requerimento, o acompanhamento de B só evitaria problemas


futuros. Nos termos do artigo 154º, são anuláveis os atos posteriores ao registo do acompanhamento e os
atos praticados depois de anunciado o início do processo, mas apenas após a decisão final se mostrem
prejudiciais ao acompanhado.

Assim, neste caso concreto, seria relevante aplicar o artigo 154º, 3, segundo o qual aos atos anteriores ao
início do processo é aplicável o regime da incapacidade acidental, previsto no artigo 257º. A incapacidade
acidental abrange aqueles casos em que a declaração negocial é feita por quem, devido a qualquer causa
(por exemplo, embriaguez, estado hipnótico ou intoxicação), estiver transitoriamente incapacitado de
representar o sentido dela ou não tenha o livre exercício da sua vontade. Nestes casos, os atos são anuláveis,
se o facto for notório ou conhecido do declaratário.

Primeiramente, em relação ao donativo na máquina de ATM, não era possível aplicar o artigo 257º e,
consequentemente, requerer a anulabilidade, uma vez que não existe uma contraparte que conheça ou
possa identificar a incapacidade do agente. O negócio era, assim, válido.

Em segundo lugar, era possível aplicar o artigo 257º para requerer a anulabilidade da compra das garrafas
de bebidas alcoólicas e do bilhete de cinema, desde que, tal como referido anteriormente, o facto seja
notório ou conhecido. O mesmo se pode dizer relativamente à doação do relógio ao segurança: se era
notória ou conhecida a perturbação de A, por parte do segurança, é possível aplicar o artigo 257º, pelo que
o negócio seria anulável.

Finalmente, é relevante salientar que o regime da anulabilidade se encontra previsto nos artigos 287º e ss.,
só tendo legitimidade para arguir a mesma as pessoas em cujo interesse a lei estabelece, e só dentro do ano
subsequente à cessação da incapacidade acidental. A anulabilidade, nos termos do artigo 288º, é sanável
mediante confirmação. Os seus efeitos estão previstos no artigo 289º: dá-se a destruição retroativa dos
efeitos do ato, restituindo-se tudo o que tiver sido prestado, ou, se a restituição não for possível, atribuindo-
se o valor correspondente

Grupo III

1. A Lei nº 49/2018 criou o regime jurídico do maior acompanhado, eliminando os institutos da interdição
e da inabilitação.

Tal como referido anteriormente, o acompanhamento de maiores depende de dois requisitos: por um
lado, a necessidade (artigo 138º), isto é, a impossibilidade de exercer, plena, pessoal e conscientemente,
os seus direitos ou de, nos mesmos termos, cumprir os seus deveres, por razões de saúde, deficiência ou
comportamento; e, por outro lado, a subsidiariedade (artigo 140º, 2), ou seja, a ausência de alternativas,
nomeadamente de assistência familiar.

O principal objetivo do acompanhamento de maiores consiste em assegurar o bem-estar, a recuperação,


o pleno exercício dos direitos e o cabal cumprimento dos deveres (artigo 140º, 1).

Nos termos do artigo 141º, o acompanhamento é requerido pelo próprio, ou, mediante autorização
deste, pelo cônjuge, pelo unido de facto, por qualquer parente sucessível, ou, independentemente de
autorização, pelo Ministério Público. O acompanhante é escolhido de acordo com o artigo 143º.

Nos termos do artigo 145º, o acompanhamento limita-se ao necessário, podendo o tribunal, em função
de cada caso, cometer ao acompanhante algum ou alguns dos regimes previstos no artigo 145º, 2.

É ainda relevante salientar o princípio da capacidade, previsto no artigo 147º, segundo o qual o exercício
pelo acompanhado de direitos pessoais (como por exemplo, o direito de casar) e a celebração de
negócios da vida corrente são livres, salvo disposição da lei ou decisão judicial em contrário.

Finalmente, os atos do acompanhado que não cumpram as medidas de acompanhamento decretadas


ou a decretar são anuláveis, quando posteriores ao registo do acompanhamento ou quando praticados
depois de anunciado o início do processo, mas apenas após a decisão final e caso se mostrem prejudiciais
ao acompanhado (artigo 154º, 1, a) e b).

Neste caso concreto, o episódio protagonizado por A no centro comercial ocorreu durante a pendencia
de processo tendente ao acompanhamento. Assim, era necessário aplicar o artigo 154º, 1, b), só
podendo os negócios ser declarados anuláveis, após a decisão final do processo, e apenas se se
mostrarem prejudiciais a A.

Relativamente ao regime da anulabilidade, seria de aplicar os artigos 287º e ss., tal como no caso prático
anterior. Contudo, o artigo 154º, 2, apresenta uma particularidade: o prazo dentro do qual a ação de
anulação deve ser proposta só começa a contar-se a partir do registo da sentença.

2. Tal como referido anteriormente, a doação que A fez ao segurança do centro comercial seria declarada
anulável, nos termos do artigo 154º, 1, b), após a decisão final do processo e apenas se esta se mostrar
prejudicial a A (o que se verifica, dado que o relógio tinha um valor elevado). Contudo, o segurança
vendeu o relógio a C.

A questão que se coloca, neste caso, é se C poderia adquirir o direito de propriedade sobre relógio a non
domino. Ou seja, é necessário equacionar se está aqui em causa a exceção que deriva da proteção de
terceiros de boa fé, que contraria a regra de que ninguém pode transmitir mais direitos do que aqueles
de que é titular.
É possível desde já descartar o artigo 243º, na medida em que não estamos perante uma simulação
(artigo 240º).

Assim, só poderia estar aqui em causa o artigo 291º, que assenta num conjunto de pressupostos. É
necessário que esteja em causa um terceiro, sendo que um terceiro para efeitos de boa fé, é aquele que,
encontrando-se numa cadeia de transmissões, vê a sua posição afetada por uma ou mais invalidades
anteriores ao negócio que é parte (o que, neste caso, se concretiza: C é terceiro para efeitos de boa fé).
De seguida, tem de estar em causa uma invalidade anterior: a anulabilidade do negócio celebrado entre
A e o segurança. É necessário que seja um bem imóvel ou um bem móvel sujeito a registo, o que, neste
caso, não se verifica: está em causa um relógio. C adquiriu o direito onerosamente. Mas, não registou a
aquisição (porque não estava em causa um bem imóvel ou um bem móvel sujeito a registo). Foi proposta
uma ação de invalidade nos três anos posteriores ao negócio inválido, mais concretamente, a 7 de janeiro
de 2019. C está de boa fé, sem culpa, não conhecendo a invalidade.

Face ao exposto, é possível perceber que são os requisitos exigidos pelo artigo 291º, que não estão
verificados, pelo que C não estaria protegido por esta norma. Assim, se a doação for julgada inválida, o
relógio tornará a ser propriedade de A.

1º teste 2017/2018

Grupo I

Nos termos do artigo 67º, à personalidade jurídica é inerente a capacidade jurídica, que traduz a aptidão
para ser titular de um círculo, com mais ou menos restrições, de relações jurídicas. Pode, por isso, ter-se
uma medida maior ou menor de capacidade, segundo certas condições ou situações, sendo-se sempre
pessoa, seja qual for a medida da capacidade. Por outro lado, é relevante fazer referência à capacidade de
exercício de direitos, que consiste na idoneidade para atuar juridicamente, exercendo direitos ou cumprindo
deveres, adquirindo direitos ou assumindo obrigações, por ato próprio e exclusivo ou mediante um
representante voluntário ou procurador, isto é, um representante escolhido pelo próprio representado.

Com efeito, é relevante salientar que existem casos de incapacidade de exercício de direitos, de que são
exemplos a menoridade (artigos 122º e ss.) e o acompanhamento de maiores (artigos 138º e ss. e Lei nº
49/2018, de 14 de agosto).

Neste caso concreto, A é menor, nos termos do artigo 122º, sendo a menoridade uma incapacidade geral,
pois abrange quaisquer negócios de natureza pessoal e patrimonial (artigo 123º). Nos termos do artigo 123º,
existem algumas exceções à incapacidade, nomeadamente o artigo 127º, o artigo 1601º, o artigo 2189º,
bem como o artigo 1850º. Neste caso, não está em causa nenhuma destas exceções.
Com efeito, o negócio celebrado entre A e B é anulável, nos termos do artigo 125º. A pode, de facto, arguir
a anulabilidade (artigo 125º, 1, b), sendo, neste caso, relevante destacar o artigo 287º, 2, que estabelece
que a anulabilidade pode ser invocada sem pendência de prazo, se o negócio não estiver integralmente
cumprido: o negócio entre A e B não estava, de facto, integralmente cumprido, porque ainda faltavam seis
prestações.

O negócio celebrado entre A e C também seria anulável, por força do artigo 125º, 1, b), contudo o prazo para
arguir a anulabilidade já se tinha esgotado.

Sendo o primeiro negócio anulável, seriam aplicados os efeitos do artigo 289º: dá-se a destruição retroativa
dos efeitos do ato, restituindo-se tudo o que tiver sido prestado, ou, se a restituição não for possível,
atribuindo-se o valor correspondente.

Numa outra perspetiva, era possível equacionar se estava aqui em causa a exceção que deriva da proteção
de terceiros de boa fé, mais concretamente, o artigo 291º, que contraria a regra de que ninguém pode
transmitir mais direitos do que aqueles de que é titular. C é, de facto, um terceiro, sendo que um terceiro
para efeitos de boa fé, é aquele que, encontrando-se numa cadeia de transmissões, vê a sua posição afetada
por uma ou mais invalidades anteriores ao negócio que é parte. De seguida, tem de estar em causa uma
invalidade anterior. É necessário que seja um bem imóvel ou um bem móvel sujeito a registo. O direito deve
ser adquirido onerosamente, bem como a aquisição deve ser registada. Não pode ser proposta uma ação de
invalidade nos três anos posteriores ao negócio inválido. C deve estar de boa fé, sem culpa. Assim, é possível
concluir que os requisitos não estavam preenchidos, designadamente a necessidade de passarem três anos
sem ser proposta uma ação de invalidade. C não estava, assim, protegido pelo artigo 291º.

Face ao exposto, A pode, de facto, arguir a anulabilidade, nos termos dos artigos 125º, 1, b) e 287º, 2. Os
efeitos da anulabilidade estão previstos no artigo 289º, devendo restituir-se tudo o que tiver sido prestado,
e podendo A devolver o carro a B.

Grupo II

O caso prático apresentado enquadra-se no âmbito dos direitos de personalidade. Os direitos de


personalidade são direitos absolutos, pertencentes a todas as pessoas, por força do seu nascimento,
incidindo estes sobre os vários modos de ser físicos ou morais da sua personalidade.

No Direito Civil, verifica-se uma tutela geral da personalidade, prevista no artigo 70º, e uma tutela de aspetos
parcelares da personalidade. É ainda relevante mencionar que o artigo 70º abrange todas as manifestações
previsíveis e imprevisíveis da personalidade humana. É um direito ao livre desenvolvimento da
personalidade humana, sendo que a pessoa é o bem protegido. É um direito abstratamente ilimitado e
ilimitável, sendo o fundamento dos direitos especiais de personalidade (direito-matriz).
Com efeito, relativamente a X, poderia estar em causa a violação do direito à honra, que se trata da projeção
moral do direito à inviolabilidade pessoal. O direito à honra não tem consagração expressa no Código Civil,
aparecendo como uma limitação do direito à imagem (artigo 79º, 3). Existe, contudo, um aprofundamento
da honra no âmbito do Direito das Obrigações, mais concretamente no artigo 484º. Este ainda se encontra
previsto no artigo 26º, 1 da CRP, constituindo, assim, um direito fundamental. O direito à honra consiste no
direito à reputação, à “imagem” que os outros têm da pessoa, independentemente da sua correspondência
com a realidade, sendo que, neste caso, estava em causa a honra deontológica e profissional. Efetivamente,
X foi afastado do caso e esperava com este livro repor o seu bom nome e a sua reputação profissional.

Numa outra perspetiva, em relação aos pais da criança, X e Z, era possível invocar a violação de vários direitos
de personalidade. Em primeiro lugar, o direito à honra (artigo 26º, 1 CRP), que pode ser violado com a
divulgação de factos verdadeiros. Neste caso, estaria em causa a honra propriamente dita, mais
concretamente, a honra pessoal, familiar, a honestidade, já que os pais estão a ser acusados de matar
acidentalmente a sua filha e de simular um rapto. Em segundo lugar, caso as informações divulgadas não
sejam verdadeiras, poderia estar aqui em causa a violação do direito à verdade pessoal, que se encontra
abrangido pelo direito à identidade pessoal (artigo 26º, 1 CRP). O direito à verdade pessoal consiste no
direito a que não se deforme a verdade através de informações falsas. É, por isso, violado pela mentira. É
ainda relevante fazer referência ao direito à reserva da vida privada, que se trata da projeção vital do direito
à inviolabilidade pessoal, previsto no artigo 80º do CC e no artigo 26º da CRP. Trata-se de um direito de cada
pessoa de controlar a divulgação de informações que lhe digam respeito. Abrange ainda um direito à solidão,
isto é, um direito a um último reduto de isolamento, de paz, onde não se admitam intromissões externas.
Neste caso concreto, o direito à reserva da vida privada dos pais foi, de facto, violado, na medida em que
este foram objeto de uma enorme exposição pública, sendo esta sobretudo gerada pela publicação do livro.

Finalmente, em relação aos filhos de X e Z, para além de estar em causa, igualmente, o direito à reserva da
vida privada, é de realçar o direito à integridade física, pois o seu desenvolvimento está a ser perturbado. É
de salientar que o direito à integridade física se encontra previsto no artigo 25º da CRP, abrangendo a
integridade físico-psíquica.

Assim, neste caso concreto, verifica-se uma colisão de direitos, nos termos do artigo 335º, pois os direitos
dos pais e dos filhos, mencionados anteriormente, colidem com os de X, designadamente o direito à criação
pessoal (artigo 42º CRP) e o direito moral de autor. Nos termos do artigo 335º, 2, se os direitos forem
desiguais ou de espécie diferente, prevalece o que deva considerar-se superior, sendo que, neste caso
concreto, deveriam prevalecer os direitos dos pais e das crianças.

Deste modo, X poderia ter que responder, nos termos da responsabilidade civil extracontratual (artigo 483º),
porque está aqui em causa a violação de vários direitos absolutos, mais concretamente, de vários direitos
de personalidade. A responsabilidade civil extracontratual está associada a um conjunto de requisitos: a
existência de um facto gerador de um dano e de uma ligação causal entre o facto e o dano; este facto deve
ser ilícito, isto é, violador de direitos subjetivos ou interesses alheios tutelados por uma disposição legal e
culposo, ou seja, passível de uma censura ético-jurídica ao sujeito atuante. Face ao exposto, e dado que
estão preenchidos todos os requisitos anteriormente mencionados, X responde perante os pais e os filhos,
havendo, efetivamente, lugar à responsabilidade civil.

Acresce ainda que os filhos são menores (artigo 122º), sendo a menoridade uma incapacidade de exercício
geral, nos termos do artigo 123º. Trata-se de uma incapacidade suprida pela representação legal (artigo
124º), mais concretamente, pelo poder paternal (artigos 1877º e ss.). X e Z podiam, assim, representar os
seus filhos, nos termos do artigo 1881º.

Neste caso concreto, estavam em causa danos morais (não patrimoniais), pelo que a responsabilidade civil
daria lugar a uma compensação. É de realçar que os danos morais não são sempre compensáveis: só são
compensáveis os danos morais que pela sua gravidade merecem tutela (artigo 496º).

Finalmente, ao abrigo do artigo 70º, 2, para além da responsabilidade civil, os pais poderiam requerer as
providências adequadas às circunstâncias do caso, com o fim de evitar a consumação da ameaça ou atenuar
os efeitos da ofensa já cometida. Ou seja, estes poderiam requerer que o livro fosse retirado de circulação,
ou que X desmentisse as informações divulgadas e efetuasse um pedido de desculpas publicamente.

1º teste 2015/2016

Grupo I

O caso prático apresentado enquadra-se no âmbito dos direitos de personalidade. Os direitos de


personalidade são direitos absolutos, pertencentes a todas as pessoas, por força do seu nascimento,
incidindo estes sobre os vários modos de ser físicos ou morais da sua personalidade.

No Direito Civil, verifica-se uma tutela geral da personalidade, prevista no artigo 70º, e uma tutela de aspetos
parcelares da personalidade. É ainda relevante mencionar que o artigo 70º abrange todas as manifestações
previsíveis e imprevisíveis da personalidade humana. É um direito ao livre desenvolvimento da
personalidade humana, sendo que a pessoa é o bem protegido. É um direito abstratamente ilimitado e
ilimitável, sendo o fundamento dos direitos especiais de personalidade (direito-matriz).

a) Com efeito, relativamente a B, era possível invocar a violação de vários direitos de personalidade. Em
primeiro lugar, é de realçar a violação ao direito à reserva da vida privada, que se trata da projeção vital
do direito à inviolabilidade pessoal, previsto no artigo 80º do CC e no artigo 26º da CRP. Trata-se de um
direito de cada pessoa de controlar a divulgação de informações que lhe digam respeito. Neste caso, A
ao aceder ao correio eletrónico de B, bem como à área confidencial da página desta numa rede social,
está a colocar em causa a intimidade privada de B, violando, concretamente, a sua esfera de segredo,
que abrange, não só dados naturalmente secretos, como também dados secretos por determinação da
pessoa. Seguidamente, foi colocado em causa o direito à honra, que se trata da projeção moral do direito
à inviolabilidade pessoal. O direito à honra não tem consagração expressa no Código Civil, aparecendo
como uma limitação do direito à imagem (artigo 79º, 3). Existe, contudo, um aprofundamento da honra
no âmbito do Direito das Obrigações, mais concretamente no artigo 484º. Este ainda se encontra previsto
no artigo 26º, 1 da CRP, constituindo, assim, um direito fundamental. O direito à honra consiste no direito
à reputação, à “imagem” que os outros têm da pessoa, independentemente da sua correspondência com
a realidade. Acresce ainda que o direito à honra pode ser violado com a divulgação de factos verdadeiros.
A, ao enviar mensagens íntimas de B à sua família, está a violar a sua honra propriamente dita, isto é, a
honra pessoal, familiar, ligada diretamente à dignidade humana. Quando cria perfis de utilizador falsos,
em nome de B, para lhe imputar atitudes e comportamentos socialmente reprováveis no círculo
profissional, familiar e convivial, está também a violar a sua honra propriamente dita, bem como a sua
honra deontológica e profissional: o bom nome e a reputação. É ainda relevante fazer referência ao
direito à verdade pessoal, que se encontra abrangido pelo direito à identidade pessoal (artigo 26º, 1
CRP). O direito à verdade pessoal consiste no direito a que não se deforme a verdade através de
informações falsas. É, por isso, violado pela mentira.

Deste modo, A poderia ter que responder, nos termos da responsabilidade civil extracontratual (artigo
483º), porque está aqui em causa a violação de vários direitos absolutos, mais concretamente, de vários
direitos de personalidade. A responsabilidade civil extracontratual está associada a um conjunto de
requisitos: a existência de um facto gerador de um dano e de uma ligação causal entre o facto e o dano;
este facto deve ser ilícito, isto é, violador de direitos subjetivos ou interesses alheios tutelados por uma
disposição legal e culposo, ou seja, passível de uma censura ético-jurídica ao sujeito atuante. Face ao
exposto, e dado que estão preenchidos todos os requisitos anteriormente mencionados, A responde
perante B, havendo, efetivamente, lugar à responsabilidade civil.

Neste caso concreto, estavam em causa danos morais (não patrimoniais), pelo que a responsabilidade
civil daria lugar a uma compensação. É de realçar que os danos morais não são sempre compensáveis:
só são compensáveis os danos morais que pela sua gravidade merecem tutela (artigo 496º).

Finalmente, ao abrigo do artigo 70º, 2, para além da responsabilidade civil, B poderia requerer as
providências adequadas às circunstâncias do caso, com o fim de evitar a consumação da ameaça ou
atenuar os efeitos da ofensa já cometida. Ou seja, poderia, por exemplo, requerer que A apagasse os
perfis falsos e desmentisse as informações que divulgou.

b) Neste caso concreto, estaria em causa a violação do direito à imagem, que tem consagração legal
expressa no artigo 79º. O direito à imagem consiste no direito a controlar a captação e a divulgação do
retrato (abrangendo qualquer aspeto físico que possa identificar a pessoa). A forma mais grave de
agressão é constituída pela divulgação da imagem, embora a simples captação já constitua uma violação.

Assim, B poderia ter que responder perante A, nos termos da responsabilidade civil extracontratual
(artigo 483º). Para além da responsabilidade civil, A poderia requerer as providências adequadas às
circunstâncias do caso, com o fim de evitar a consumação da ameaça ou atenuar os efeitos da ofensa já
cometida, nos termos do artigo 70º, 2. Ou seja, poderia, por exemplo, requerer que B apagasse as
fotografias publicadas nas redes sociais sem o seu consentimento.

Grupo II

O contrato mencionado no caso prático trata-se de um contrato de adesão, celebrado ao abrigo de cláusulas
contratuais gerais, pelo que é regido pelo Decreto-Lei nº 446/85, de 25 de outubro.

Primeiramente, é importante salientar que a autonomia privada é um dos princípios fundamentais do Direito
Civil, consistindo esta no poder reconhecido aos particulares de autorregulamentação dos seus interesses,
de autogoverno da sua esfera jurídica. A autonomia privada tem a sua manifestação mais expressiva nos
negócios jurídicos bilaterais (ou contratos), enquanto liberdade contratual, consagrada no artigo 405º. A
liberdade contratual pressupõe a liberdade de celebração de contratos e a liberdade de modelação do
conteúdo contratual.

Uma importante limitação de ordem prática à liberdade de modelação do conteúdo contratual é a que se
verifica nos chamados contratos de adesão. Nos termos do artigo 1º, 1 do Decreto-Lei nº 446/85, as cláusulas
contratuais gerais são prévia e unilateralmente formuladas, limitando-se a outra parte a aceitar essas
condições, não podendo modelar o seu conteúdo. Assentam, assim, em três características fundamentais: a
pré-formulação, a imodificabilidade e a generalização.

Relativamente ao âmbito subjetivo, o Decreto-Lei nº 446/85 abrange as relações com consumidores finais e
relações entre empresários e entidades equiparadas. Neste caso concreto, está em causa uma relação com
consumidores finais.

O Decreto-Lei nº 446/85 prevê um controlo de inclusão e um controlo de conteúdo. O controlo de inclusão


está associado a duas obrigações ao predisponente: o dever de comunicação prévia (artigo 5º) e o dever de
informação (artigo 6º).

Neste caso concreto, relevava o controlo de conteúdo, sendo que, na medida em que está em causa uma
relação com consumidores finais, são proibidas as cláusulas previstas nos artigos 18º e 21º (absolutamente
proibidas) e nos artigos 19º e 22º (relativamente proibidas). Tendo em conta estes artigos, é de realçar que
a cláusula mencionada no caso prático poderia ser enquadrada no artigo 19º, 1, c), que se trata de uma
cláusula relativamente proibida. Contudo, o artigo 19º, 2, b) determina que a cláusula não será proibida se
esta alteração unilateral do conteúdo do contrato for acompanhada de um dever de informar a contraparte
com um pré-aviso razoável, dando-lhe a faculdade de resolver o contrato. Deste modo, na medida em que
estes pressupostos do artigo 19º, 2, b) foram cumpridos pela cláusula mencionada no caso prático, esta não
será proibida e, consequentemente, não será nula (artigo 12º).

Grupo III

a) O caso prático apresentado evidencia a exceção que deriva do funcionamento do registo à regra de que
ninguém pode transmitir mais direitos do que aqueles de que é titular.

O registo tem como finalidade dar publicidade às situações que são alvo de registo, por razões de
segurança jurídica (artigo 1º Código do Registo Predial). Em Portugal, o registo é meramente declarativo,
ou seja, não está em causa um registo constitutivo de direitos. No entanto, é de salientar que o registo
é obrigatório, nos termos do artigo 8º-A do Código do Registo Predial.

D vende a F um terreno, nos termos dos artigos 875º e 220º, sendo este negócio válido. Contudo, F não
regista a aquisição (aquisição derivada translativa).
Na medida em que o registo não é constitutivo de direitos, F é o proprietário. Contudo, este não pode
opor o seu direito a terceiros. A oponibilidade a terceiros (artigo 5º Código do Registo Predial) insere-se
no efeito central do registo: os factos sujeitos a registo só produzem efeitos contra terceiros depois da
data do respetivo registo. Terceiros, para efeitos de registo, são aqueles que tenham adquirido de um
autor comum direitos incompatíveis entre si. F e o filho de D são terceiros para efeitos de registo. F não
pode, por isso, opor o seu direito contra o filho de D.

Nos termos do artigo 6º do Código do Registo Predial, que estabelece a prioridade de registo, o direito
inscrito em primeiro lugar prevalece sobre os que se lhe seguirem relativamente aos mesmos bens.
Assim, na medida em que o filho efetuou o registo, este adquire o direito de propriedade a non domino,
e o direito de F extingue-se por decadência.

b) O filho de C e D é menor (artigo 122º), sendo a menoridade uma incapacidade de exercício geral (artigo
123º). A incapacidade de menores é suprida através do instituto da representação legal (artigo 124º). Os
meios de suprimento da incapacidade dos menores, através da representação, são, em primeira linha o
poder paternal e, subsidiariamente, a tutela. Neste caso, e na medida em que os pais já haviam falecido,
seria de aplicar a tutela. O menor está obrigatoriamente sujeito a tutela se os pais houverem falecido,
nos termos do artigo 1921º, 1, a). O regime da tutela encontra-se previsto nos artigos 1935º e ss., sendo
relevante destacar que o poder tutelar não é tao extenso, relativamente ao poder paternal.

É ainda relevante fazer referência ao apadrinhamento civil, que se encontra regulado na Lei nº 103/2009,
de 11 de setembro. Nos termos do artigo 2º, o apadrinhamento civil é uma relação jurídica,
tendencialmente de caráter permanente, entre uma criança ou jovem e uma pessoa singular ou uma
família que exerça os poderes e deveres próprios dos pais e que com ele estabeleçam vínculos afetivos
que permitam o seu bem-estar e desenvolvimento, constituída por homologação ou decisão judicial e
sujeita a registo civil. A designação e habilitação dos padrinhos dá-se de acordo com os artigos 11º e 12º
da Lei nº 103/2009. Os padrinhos exercem as responsabilidades parentais, ressalvadas as limitações
previstas no compromisso de apadrinhamento civil ou na decisão judicial. São aplicáveis, com as
necessárias adaptações, os artigos 1936º a 1941º do Código Civil. Se os pais da criança ou do jovem
tiverem falecido são ainda aplicáveis, com as devidas adaptações, os artigos 1943º e 1944º.

Recurso 2015/2016

Grupo I

O caso prático apresentado enquadra-se no âmbito dos direitos de personalidade. Os direitos de


personalidade são direitos absolutos, pertencentes a todas as pessoas, por força do seu nascimento,
incidindo estes sobre os vários modos de ser físicos ou morais da sua personalidade.

No Direito Civil, verifica-se uma tutela geral da personalidade, prevista no artigo 70º, e uma tutela de aspetos
parcelares da personalidade. É ainda relevante mencionar que o artigo 70º abrange todas as manifestações
previsíveis e imprevisíveis da personalidade humana. É um direito ao livre desenvolvimento da
personalidade humana, sendo que a pessoa é o bem protegido. É um direito abstratamente ilimitado e
ilimitável, sendo o fundamento dos direitos especiais de personalidade (direito-matriz).

a) Neste caso concreto, relativamente a A, está em causa a violação do direito à vida (artigo 24º CRP), que
se trata de um direito à conservação da vida, entendendo-se esta como simples existência biológica.

Relativamente a B, está em causa a violação do direito à integridade física (artigo 25º CRP), que abrange
a integridade físico-psíquica.

Deste modo, C poderia ter que responder, nos termos da responsabilidade civil extracontratual (artigo
483º), porque está aqui em causa a violação de direitos absolutos, mais concretamente, de direitos de
personalidade. A responsabilidade civil extracontratual está associada a um conjunto de requisitos: a
existência de um facto gerador de um dano e de uma ligação causal entre o facto e o dano; este facto
deve ser ilícito, isto é, violador de direitos subjetivos ou interesses alheios tutelados por uma disposição
legal e culposo, ou seja, passível de uma censura ético-jurídica ao sujeito atuante. Face ao exposto, e
dado que estão preenchidos todos os requisitos anteriormente mencionados, haveria, efetivamente,
lugar à responsabilidade civil.

Numa outra perspetiva, em relação a A, é relevante fazer referência à compensação de danos


patrimoniais em caso de violação do direito à vida, nos termos do artigo 496º, 2 e 3: o dano não
patrimonial central da própria vítima e danos não patrimoniais laterais, sofridos por aqueles que com ela
conviviam. Ao admitir a reparação do dano da vida não se está a violar o artigo 68º, 1, pois o que está
em causa não é a transmissão do direito à vida (intransmissível por natureza), mas sim a transmissão do
direito a uma compensação (atribuível pela ilícita supressão da vida), que nada impede se integre no
património da vítima.

Já em relação a B, era ainda possível invocar o artigo 70º, 2: para além da responsabilidade civil, B poderia
requerer as providências adequadas às circunstâncias do caso, com o fim de evitar a consumação da
ameaça ou atenuar os efeitos da ofensa já cometida. Ou seja, poderia, por exemplo, requerer que fosse
acompanhado, de modo a melhorar a sua condição.

b) Certos direitos de personalidade podem ser limitados pelo próprio titular do direito, mediante
consentimento. Este não tem por efeito a extinção do direito de personalidade. O direito à integridade
física pode, efetivamente, ser alvo de limitação, através de consentimento.

Neste caso concreto, estava em causa um consentimento vinculante, que confere o poder jurídico de
agressão, sendo resultado de um negócio jurídico (um contrato).
Acresce ainda que a situação económica de B não é suficiente para fundamentar a invalidade do
consentimento prestado.

Grupo II

a) Nos termos do artigo 67º, à personalidade jurídica é inerente a capacidade jurídica, que traduz a aptidão
para ser titular de um círculo, com mais ou menos restrições, de relações jurídicas. Pode, por isso, ter-se
uma medida maior ou menor de capacidade, segundo certas condições ou situações, sendo-se sempre
pessoa, seja qual for a medida da capacidade. Por outro lado, é relevante fazer referência à capacidade
de exercício de direitos, que consiste na idoneidade para atuar juridicamente, exercendo direitos ou
cumprindo deveres, adquirindo direitos ou assumindo obrigações, por ato próprio e exclusivo ou
mediante um representante voluntário ou procurador, isto é, um representante escolhido pelo próprio
representado.

Com efeito, é relevante salientar que existem casos de incapacidade de exercício de direitos, de que são
exemplos a menoridade (artigos 122º e ss.) e o acompanhamento de maiores (artigos 138º e ss. e Lei nº
49/2018, de 14 de agosto).

Neste caso concreto, A é menor, nos termos do artigo 122º, sendo a menoridade uma incapacidade
geral, pois abrange quaisquer negócios de natureza pessoal e patrimonial (artigo 123º). Nos termos do
artigo 123º, existem algumas exceções à incapacidade, nomeadamente o artigo 127º, o artigo 1601º, o
artigo 2189º, bem como o artigo 1850º. Neste caso, não está em causa nenhuma destas exceções.
Com efeito, o negócio celebrado entre D e E é anulável, nos termos do artigo 125º. Os pais,
representantes legais de D (artigo 124º), podem, efetivamente, arguir a anulabilidade, no prazo de um
ano a contar do conhecimento que o requerente haja tido do negócio impugnado (artigo 125º, 1, a). Os
efeitos da anulabilidade estão previstos no artigo 289º: dá-se a destruição retroativa dos efeitos do ato,
restituindo-se tudo o que tiver sido prestado, ou, se a restituição não for possível, atribuindo-se o valor
correspondente.

Com efeito, F não seria protegido pelo artigo 291º. Aqui podia, efetivamente, estar em causa a proteção
de terceiros de boa fé, que se trata de uma exceção à regra de que ninguém pode transmitir mais direitos
do que aqueles de que é titular. F é, de facto, um terceiro, sendo que um terceiro para efeitos de boa fé,
é aquele que, encontrando-se numa cadeia de transmissões, vê a sua posição afetada por uma ou mais
invalidades anteriores ao negócio que é parte. Está, de facto, em causa uma invalidade anterior. Trata-
se de um bem móvel sujeito a registo. O direito foi adquirido onerosamente, devendo a aquisição ser
registada. F estava de boa fé sem culpa. Contudo, apesar de estarem preenchidos todos estes requisitos,
há um que não se encontra concretizado, isto é, a necessidade de não ser proposta uma ação de
invalidade nos três anos posteriores ao negócio inválido.

Face ao exposto, se os pais do menor ou o próprio menor arguirem a anulabilidade, nos termos dos
artigos 125º e 289º, F não adquirirá o direito a non domino, não se encontrando acautelado pelo artigo
291º, continuando o carro a estar na propriedade de D.

b) O abuso de direito encontra-se previsto no artigo 334º, consistindo na desconformidade entre a imagem
que é estruturalmente correta do direito subjetivo e a finalidade que está na sua base. Neste caso
concreto, não poderia estar em causa a figura do abuso de direito, pois o artigo 125º, que permite ao
menor arguir a anulabilidade, serve, efetivamente, para que este, quando atinga a maioridade, possa
corrigir os atos levados a cabo quando ainda era menor.

1º teste 2014/2015

Grupo I

O caso prático apresentado enquadra-se no âmbito dos direitos de personalidade. Os direitos de


personalidade são direitos absolutos, pertencentes a todas as pessoas, por força do seu nascimento,
incidindo estes sobre os vários modos de ser físicos ou morais da sua personalidade.

No Direito Civil, verifica-se uma tutela geral da personalidade, prevista no artigo 70º, e uma tutela de aspetos
parcelares da personalidade. É ainda relevante mencionar que o artigo 70º abrange todas as manifestações
previsíveis e imprevisíveis da personalidade humana. É um direito ao livre desenvolvimento da
personalidade humana, sendo que a pessoa é o bem protegido. É um direito abstratamente ilimitado e
ilimitável, sendo o fundamento dos direitos especiais de personalidade (direito-matriz).

Certos direitos de personalidade podem ser limitados pelo próprio titular do direito, mediante
consentimento. Este não tem por efeito a extinção do direito de personalidade. Neste caso concreto, estava
em causa um consentimento tolerante, que não atribui um poder de agressão, mas constitui uma justificação
da ação (consentimento manifestado em benefício próprio). É ainda relevante salientar que, neste caso, se
provou a ausência de consentimento, o que gera a lesão do direito.

Com efeito, neste caso concreto, os direitos que foram violados foram o direito à integridade física e o direito
à liberdade. O direito à integridade física encontra-se previsto no artigo 25º da CRP, abrangendo a
integridade físico-psíquica. Já o direito à liberdade encontra-se consagrado no artigo 24º da CRP, abrangendo
as liberdades físicas e morais.

Deste modo, o hospital poderia ter que responder, nos termos da responsabilidade civil extracontratual
(artigo 483º), pois está aqui em causa a violação de direitos absolutos, mais concretamente, de direitos de
personalidade. A responsabilidade civil extracontratual está associada a um conjunto de requisitos: a
existência de um facto gerador de um dano e de uma ligação causal entre o facto e o dano; este facto deve
ser ilícito, isto é, violador de direitos subjetivos ou interesses alheios tutelados por uma disposição legal e
culposo, ou seja, passível de uma censura ético-jurídica ao sujeito atuante. Face ao exposto, e dado que
estão preenchidos todos os requisitos anteriormente mencionados, haveria, efetivamente, lugar à
responsabilidade civil.

Ao abrigo do artigo 70º, 2, para além da responsabilidade civil, B poderia requerer as providências adequadas
às circunstâncias do caso, com o fim de evitar a consumação da ameaça ou atenuar os efeitos da ofensa já
cometida.

Numa outra perspetiva, o caso prático apresentado também evidencia a questão da compensação por danos
não patrimoniais em caso de violação do direito à vida (artigo 496º, 2 e 3): o dano não patrimonial central
da própria vítima e danos não patrimoniais laterais, sofridos por aqueles que com ela conviviam. Ao admitir
a reparação do dano da vida não se está a violar o artigo 68º, 1, pois o que está em causa não é a transmissão
do direito à vida (intransmissível por natureza), mas sim a transmissão do direito a uma compensação
(atribuível pela ilícita supressão da vida), que nada impede se integre no património da vítima.

Relativamente ao filho, é de realçar que este se trata de um nascituro, porque já foi concebido, mas ainda
não se deu o nascimento completo e com vida, que assinala o início da personalidade jurídica (artigo 66º, 1).
Há quem considere que os nascituros já são pessoas jurídicas, sendo isso visível na atribuição a estes de
direitos patrimoniais e sucessórios (artigos 952º e 2033º). Há quem negue totalmente a possibilidade de os
nascituros disporem de personalidade jurídica. Se qual for a posição que se adote, é de admitir a tutela
jurídica de um nascituro já concebido, no que toca às lesões nele provocadas. O surgimento deste direito de
indemnização não impõe forçosamente a atribuição de personalidade jurídica aos nascituros, estejam ou
não concebidos. O direito surge só no momento do nascimento, momento em que o dano verdadeiramente
se consuma, apesar de a ação, que o começa a desencadear, ser anterior. É importante salientar que se o
feto, “agredido” no ventre materno, não chega a nascer com vida, ele não terá direito a qualquer
indemnização.

Grupo II

Primeiramente, é importante salientar que a autonomia privada é um dos princípios fundamentais do Direito
Civil, consistindo esta no poder reconhecido aos particulares de autorregulamentação dos seus interesses,
de autogoverno da sua esfera jurídica. A autonomia privada tem a sua manifestação mais expressiva nos
negócios jurídicos bilaterais (ou contratos), enquanto liberdade contratual, consagrada no artigo 405º. A
liberdade contratual pressupõe a liberdade de celebração de contratos e a liberdade de modelação do
conteúdo contratual.

Uma importante limitação de ordem prática à liberdade de modelação do conteúdo contratual é a que se
verifica nos chamados contratos de adesão. Nos termos do artigo 1º, 1 do Decreto-Lei nº 446/85, as cláusulas
contratuais gerais são prévia e unilateralmente formuladas, limitando-se a outra parte a aceitar essas
condições, não podendo modelar o seu conteúdo. Assentam, assim, em três características fundamentais: a
pré-formulação, a imodificabilidade e a generalização.

Relativamente ao âmbito subjetivo, o Decreto-Lei nº 446/85 abrange as relações com consumidores finais e
relações entre empresários e entidades equiparadas.

O Decreto-Lei nº 446/85 prevê um controlo de inclusão e um controlo de conteúdo. Neste caso concreto, é
de realçar o controlo de inclusão, que assenta em duas obrigações do predisponente: o dever de
comunicação prévia (artigo 5º) e o dever de informação (artigo 6º). Ao abrigo do artigo 8º, as cláusulas que
não tenham sido previamente comunicadas, ou que o foram, mas com violação do dever de informação, são
excluídas dos contratos singulares, ou seja, o acordo estabelecido entre as partes não abrange essas
cláusulas (artigo 8º, a) e b).

Ao abrigo do artigo 9º, nos casos previstos no artigo 8º, os contratos singulares mantêm-se, vigorando na
parte afetada as normas supletivas aplicáveis, com recurso, se necessário, às regras de integração dos
negócios jurídicos. Os referidos contratos são nulos quando ocorra uma indeterminação insuprível de
aspetos essenciais ou um desequilíbrio nas prestações gravemente atentatório da boa fé.

Numa outra perspetiva, o abuso de direito encontra-se previsto no artigo 334º, consistindo na
desconformidade entre a imagem que é estruturalmente correta do direito subjetivo e a finalidade que está
na sua base.
Com efeito, a invocação da exclusão de uma cláusula por falta do cumprimento dos deveres de comunicação
e de informação não constitui um abuso de direito, na medida em que o segurado tem esse direito, que
encontra previsto no Decreto-Lei nº 446/85. Tal como Maria Clara Sottomayor menciona, o segurado não
está à espera de encontrar problemas na execução do contrato, só podendo reagir quando esses problemas
surgem efetivamente. Se até então não tinha surgido qualquer problema relativo às cláusulas que não foram
devidamente comunicadas e informadas, é natural que o segurado ainda não tivesse invocado a exclusão
das mesmas.

Grupo III

Nos termos do artigo 67º, à personalidade jurídica é inerente a capacidade jurídica, que traduz a aptidão
para ser titular de um círculo, com mais ou menos restrições, de relações jurídicas. Pode, por isso, ter-se
uma medida maior ou menor de capacidade, segundo certas condições ou situações, sendo-se sempre
pessoa, seja qual for a medida da capacidade. Por outro lado, é relevante fazer referência à capacidade de
exercício de direitos, que consiste na idoneidade para atuar juridicamente, exercendo direitos ou cumprindo
deveres, adquirindo direitos ou assumindo obrigações, por ato próprio e exclusivo ou mediante um
representante voluntário ou procurador, isto é, um representante escolhido pelo próprio representado.

Com efeito, é relevante salientar que existem casos de incapacidade de exercício de direitos, de que são
exemplos a menoridade (artigos 122º e ss.) e o acompanhamento de maiores (artigos 138º e ss. e Lei nº
49/2018, de 14 de agosto).

Neste caso concreto, C é menor, nos termos do artigo 122º, sendo a menoridade uma incapacidade geral,
pois abrange quaisquer negócios de natureza pessoal e patrimonial (artigo 123º). Nos termos do artigo 123º,
existem algumas exceções à incapacidade, nomeadamente o artigo 127º, o artigo 1601º, o artigo 2189º,
bem como o artigo 1850º. Neste caso, não está em causa nenhuma destas exceções.

Com efeito, o negócio celebrado entre C e D é anulável, nos termos do artigo 125º. No entanto, o direito de
invocar a anulabilidade é precludido pelo comportamento malicioso do menor, no caso de este ter usado de
dolo ou má fé, a fim de se fazer passar por maior ou emancipado (artigo 126º). Acresce ainda que não basta
que o menor declare ser maior. São necessários artifícios, manobras ou sugestões de carácter fraudulento
(artigo 253º, 1), o que, neste caso, se concretiza com a apresentação de um documento de identificação
falsificado. É ainda relevante destacar que, quando se verifique dolo do menor, há quem considere que ficam
inibidos de invocar a anulabilidade não só o menor, mas também os herdeiros ou o representante (neste
caso, o pai). Há, contudo, quem afirme que, ainda que o menor e os herdeiros não o possam fazer, o
representante pode arguir a anulabilidade. Neste caso concreto, o pai não poderia fazê-lo, na medida em o
caso prático refere que este pretendia arguir a anulabilidade depois da maioridade do filho, o que não é
possível, nos termos do artigo 125º, 1, a).
Considerando o negócio entre C e D anulável, e considerando que ninguém poderia arguir a anulabilidade
(nem mesmo o pai), é de realçar que E poderia estar protegido pelo artigo 291º, que constitui uma exceção
(derivada da proteção de terceiros de boa fé) à regra de ninguém pode transmitir mais direitos do que
aqueles de que é titular. Está em causa um terceiro (E), sendo que um terceiro para efeitos de boa fé, é
aquele que, encontrando-se numa cadeia de transmissões, vê a sua posição afetada por uma ou mais
invalidades anteriores ao negócio que é parte. Seguidamente, está em causa uma invalidade anterior, isto
é, a anulabilidade do negócio celebrado entre C e D. O terreno trata-se de um bem imóvel. E adquiriu o
direito onerosamente, sendo necessário o registo da aquisição. É necessário que E esteja de boa fé sem
culpa, traduzindo-se a boa fé no desconhecimento efetivo da invalidade anterior. Finalmente, não pode ser
proposta uma ação de invalidade nos três anos posteriores ao negócio inválido. O caso prático apresentado
não dá informações que permitam concluir que todos estes requisitos estão cumpridos. Contudo, se
estivessem todos cumpridos, E estaria, de facto protegido pelo artigo 291º, adquirindo o terreno a non
domino.

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