Você está na página 1de 15

1.

NOÇÃO DE RELAÇÃO JURÍDICA

O direito é um sistema de normas de conduta social que se destina


a disciplinar a conduta dos homens não isoladamente, mas em ralação
com outros homens. Efectivamente, o homem tem uma natureza
eminentemente social, necessitando de viver em sociedade, em relação
com outros homens. Porém essa convivência pode originar conflitos, uma
vez que os homens têm muitas vezes interesses conflituantes. Neste
contexto, tornou-se indispensável a existência de normas jurídicas
susceptível de aplicação coerciva, para disciplinar as relações entre
os homens, alegando os interesses que lhe pareçam relevantes, e
atribuindo, por um lado, ao titular desses interesse um direito, e
impondo, por outro lado, ao sujeito que com ele se relaciona, um dever.

Ora, essas relações sociais, uma vez disciplinadas pelo Direito,


denominam-se relações jurídicas.

A relação jurídica é toda a relação da vida social disciplina


pelo direito, mediante a atribuição a uma pessoa de um direito
subjectivo, e a imposição a outra de um dever jurídico ou de uma
sujeição.

Assim, ao Direito compete atribuir os direitos subjectivos


conducentes á realização dos interesses protegidos, e
consequentemente, ordena deveres. A disciplina da relação jurídica
processa-se, pois, através de atribuição de poderes ou faculdades, e
da correlativa imposição de deveres ou vinculações. Ao sujeito que se
encontra num dos polos da relação é atribuído o direito subjectivo,
para que realize o interesse protegido pelo direito (lado activo). Ao
invés a outro sujeito é cominado um dever (lado passivo).

1.1. ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURIDICA

Toda a relação jurídica existe entre sujeitos, incidirá,


normalmente, sobre um objectivo, promana de um facto jurídico, e a sua

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 1
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
efectivação pode fazer-se mediante o recurso a providencias
coercitivas, ou seja, a relação jurídica é dotada de uma garantia.

Exemplo: A e B celebraram um contrato de compra e venda, pelo


qual o primeiro vendeu ao segundo o prédio X pelo preço de
1.000.000,00. Nos termos da alinha c) do art.º 879.º do CC, a compra
e venda produz, entre outros os efeitos a obrigação de pagar o preço
da coisa vendida. O contrato celebrado por A e B, criou, assim, entre
eles um certo vínculo, traduzido por poderes e vinculação recíprocos.

Assim, por virtude do contrato descrito, A passou a ser titular


do poder jurídico e exigir de B um determinado comportamento, traduzido
na entrega do preço. Por seu turno, B ficou adstrito a entregar a A
essa quantia. Se, por ventura, B não adoptar voluntariamente esse
comportamento, o direito atribui a A o poder de se dirigir ao órgão
jurisdicional para este prosseguir por meios coercivos esse resultado,
nomeadamente pela apreensão de dinheiro ou bens de B, necessários para
se obter o valor correspondente ao preço, e sua entrega a A.

2. SUJEITOS

Os sujeitos são os entes entre os quais se estabelece as


relações jurídicas, podendo ser sujeitos activos ou sujeitos passivos.
A relação jurídica trava-se entre dois sujeitos. Os sujeitos da relação
jurídica devem, forçosamente, ter uma qualidade que consiste na
susceptibilidade de serem susceptivel de direitos e obrigações. Assim,
a esta aptidão para ser titular de direito e obrigações chama-se
personalidade jurídica (titularidade, qualidade), nos termos do art.º
66.º do CC. Os sujeitos das relações jurídicas são, necessariamente,
pessoas jurídicas.

Noção afim de personalidade jurídica, é a de capacidade


jurídica que se apresenta por duas formas:

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 2
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
a) Capacidade de gozo, aparentemente confundível com a noção
de personalidade jurídica, contudo, a noção de personalidade é uma
noção qualitativa, sendo a noção de capacidade de natureza
quantitativa. A capacidade de gozo, como a medida de direito e
vinculações de que a pessoa é susceptivel de ser titular (art.º 67.º
do CC);

b) Capacidade de exercício, a qual se traduz na medida dos


direitos e vinculações que a pessoa pode exercer por si, pessoal e
livremente. Afinal, como refere Manuel de Andrade, a capacidade de
exercício é a susceptibilidade do sujeito da relação jurídica
utilizar, ele próprio, a sua capacidade de gozo.

Deste, assim como a capacidade de gozo pressupõe a personalidade


jurídica, também a capacidade de exercício supõe a pré-existência da
capacidade de gozo. Para que o sujeito possa exercer o direito ou
cumprir o dever, é necessário que esse direito, ou dever, caiba na
dimensão da sua capacidade de gozo.

2.1. PESSOAS SINGULARES

Refere o art.º 6 da Declaração dos Direitos do Homem, que “todos


os indivíduos têm o direito ao reconhecimento em todos os lugares da
sua personalidade jurídica”.

2.1.1. INCAPACIDADES E SEUS SUPRIMENTO (ART.º 122.º E SS DO CC)

As incapacidades previstas no código civil, são:

a) Menoridade;
b) Interdição;
c) Inabilitações;
d) Casamento (incapacidades conjugais).

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 3
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
Da incapacidade natural acidental, considerando no não
entendimento, por qualquer causa, do sentido da declaração negocial
ou na falta de livre exercício da vontade (art.º 257.º do CC).

Se falta aptidão para ser titular de direitos, e de estar


adstrito a vinculações, ou se falta capacidade de actuar por si,
pessoal e livremente, estamos perante uma incapacidade de gozo ou uma
incapacidade de exercício de direitos (o sujeito não age pessoalmente
mais por intermedio de um representante que age juridicamente em nome
do incapaz, ou não age livremente dado que necessita da autorização
de um assistente, para suprir a sua incapacidade).

2.1.1.2. INCAPACIDADE DE GOZO DE DIREITOS

A regra geral, traduz-se no facto de por inerência ao conceito


de personalidade, todas as pessoas poderem ser sujeitos de quaisquer
relações jurídicas, ou seja, são doptadas de capacidade jurídicas
(art.º 67.º do CC), ou capacidade de gozo de direitos.

Existem, porém, consagradas na lei algumas restrições a predita


regra geral, as quais, esquematicamente poderemos identificar da
seguinte forma:

a) Incapacidade de testar dos menores não emancipados, e dos


interditos por anomalia psíquica, faço que leva se não cumprido, alhais
a nulidade do testamento, nos termos do art.º 2189.º do CC;

b) Incapacidade para perfilhar, no que concerne ao menores de


16 anos, dos interditos por anomalia psíquica e dos notoriamente
dementes no momento da perfilhação (art.º 1850 do CC);

c) Incapacidade dos menores quando não emancipados, para


representar os seus filhos, e administrar os seus bens, no âmbito do
poder paternal (art.º 1913.º do CC);

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 4
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
d) Incapacidade nupciais (art.º 1601.º e 1602.º ambos do CC),
as quais se concretizam, por exemplo, no facto de os menores não
poderem casar antes de atingirem os 16 anos.

Quando um dos sujeitos intervenientes no negócio sofre de uma


incapacidade negocial de gozo, esse negócio é nulo, tendo que essa
nulidade é insuprível, ou seja, tais negócios não podem ser concluido
pelo incapaz, mais, outro sim, por pessoa diversa do incapaz em nome
daquele, ou com autorização de outra entidade competente.

2.1.1.2. INCAPACIDADE DE EXERCICIO DE DIREITO

O princípio geral, é o de que todas as pessoas têm capacidade


de exercício de direitos, surgindo como excepções a essa realidade as
situações da menoridade, interdição e inabilitação, entre outras.

Quando um dos sujeitos intervenientes no negocio sofre de uma


incapacidade negocial de exercício, esse negocio que celebrou é
anulável, e anulabilidade é suprível, pós o negocio pode ser celebrado,
não direitamente pelo incapaz, ou por um representante por si nomeado,
mais por meio de poder paternal, tutela e curatela (meios de suprir a
incapacidade de exercício de direitos). Assim:

a) Incapacidade dos menores (art.º 122.º e SS do CC), ou seja,


daqueles que não atingiram a maioridade (art.º 122.º) e. como tal,
carecem de capacidade para o exercícios de direitos (art.º 123.º),
pelos os negócios por eles celebrados sem suprimento da sua
incapacidade (art.º 124.º), serão anuláveis, nos termos do (art.º
125.º), com a excepção dos previstos no (art.º 127.º). a incapacidade
decorrente da menoridade cessa quando o menor atingir a maioridade,
ou quando se emancipar, tal como determina o (art.º 129.º), com as
restrições ou melhor, consequências resultantes e consagradas no art.º
1649.º do CC.

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 5
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
b) Incapacidade dos interditos e inabilitados, ou seja, as
pessoas a quem uma sentença judicial, provocada pelas condições
previstas, nos art.º 138.º e 152.º ambos do CC, limita a capacidade
de exercício. Vide, art.º 138.º e SS e 152.º e SS do CC.

2.2. PESSOAS COLECTIVAS

As pessoas colectivas são organizações constituídas por uma


colectividade de pessoas ou por uma massa de bens dirigidos a
realização de interesses comuns ou colectivos, as quais a ordem
jurídica atribui a personalidade jurídica.

É um organismo social destinado a um fim lícito que o direito


atribui a susceptibilidade de direitos e vinculações.
Trata-se de organizações integradas essencialmente por pessoas
ou pessoas ou essencialmente por bens que constituem centros autónomos
de relações jurídicas (art.º 157.º e SS do CC).

2.2.1. A CAPACIDADE DE GOZO

A capacidade de gozo (das pessoas colectivas), está limitada


pelo princípio da especialidade, previsto no art.º 160.º do CC, nos
termos do qual a capacidade das pessoas colectivas, abrange todos os
direitos e obrigações necessários ou convenientes a prossecução dos
seus fins. Assim, e genericamente, as sociedades não podem realizar
doações por serem contrárias a seu fim, que é a prossecução do lucro,
sendo que as associações que não tem um fim lucrativo, não podem, por
exemplo, explorar uma loja, a não ser que seja, um meio para obter
fundos para a prossecução do seu fim principal.

2.2.2. A CAPACIDADE DE EXERCICIO

Quanto a capacidade de exercício, as pessoas colectivas são


representadas por órgãos, pelo que aparentemente não seriam dotadas
de capacidade de exercício. Porém, um estudo mais pormenorizado,

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 6
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
permite-nos concluir que tem capacidade de exercício de direitos, uma
vez que são responsáveis pela actuação dos órgãos que agem em seu
nome.

3. OBJECTO

A pessoa colectiva deve prosseguir uma certa finalidade,


justamente a fim ou causa fundamental da formação da colectividade
social da dotação fundacional. Torna-se necessário que o escopo visado
pela pessoa colectiva satisfaça certos requisitos, assim:

a) Deve revestir os requisitos gerais do objectivo de qualquer


negócio jurídico (art.º 280.º do CC). Assim, deve o escopo da pessoa
colectiva ser determinável, física ou legalmente, não contraria a lei
ou a ordem pública nem ofensivos aos bens costumes;

b) Deve ser comum ou colectivo. Manifesta-se a sua exigência


quanto as sociedades. Quanto as associações que não tenham por fim o
lucro económico dos associados não há preceito expresso formulando a
sua exigência, mais essa deriva da razão de ser do instituto da
personalidade colectiva;

c) No que concerne as fundações as exigências desse


requisito, não oferece duvidas, estando excluída a admissibilidade de
uma fundação dirigida a um fim privado do fundador ou da sua família.
Com efeito, dos art.º 157.º e 188.º/1 do CC, resulta a necessidade de
o escopo fundacional de ser de interesse social. Pôs-se, por vezes, o
problema de saber se o escopo das pessoas colectiva deve ser duradouro
ou permanente.

Não é legitima a exigência deste requisito em termos da sua


falta, impedir forçosamente a constituição de uma pessoa colectiva.
Assim são os modos de acção através dos quais a pessoa colectiva
prossegue o seu fim. O objecto identifica-se com a actividade dos

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 7
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
órgãos para que se atinja o escopo da pessoa colectiva e deve revestir
duas características; que actividade seja licita e duradoura.

3.1. OBJECTO IMEDIATO

O objecto imediato é o que dá origem a relação jurídica, ou


seja, é o nexo formado pelo direito subjectivos, por um lado, e pela
vinculação por outro dos sujeitos envolvidos na dita relação jurídica.
É, pois, o elo de ligação de um ao outro sujeito da relação, sendo,
nas doutas palavras de CASTRO MENDES, “o binómio poder-dever”.

3.1.1. LADO ACTIVO DA RELAÇÃO JURIDICA

O lado activo da relação jurídica é dotado do designado direito


subjectivos o qual se pode definir como:

a) O poder, reconhecido pela ordem jurídica a uma pessoa, de


livremente exigir ou pretender, de outrem um comportamento positivo
(acção) ou negativo (omissão), ou poder jurídico de por um acto de
livre vontade, só de per si, ou integrado por um acto de uma autoridade
pública produzir determinados efeitos jurídicos, os quais,
inelutavelmente, se impõe a outra pessoa (contraparte);

b) O exercício do poder jurídico que integra o direito


subjectivo depende, unicamente, da vontade do titular desse direito;

c) Traduz-se um meio de manifestação da autonomia da vontade,


pós traduz-se uma liberdade de actuação do seu titular;

d) Pelo que não são direitos subjectivos os poderes-deveres,


que o poder paternal implica, porque estes são exercidos de acordo com
o definido pela lei, nem assim, os poderes jurídicos, “stricto sensu”,
ou faculdades, pois não há, contraparte vinculada a um dever jurídico,
tal como resulta da faculdade de contratar.

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 8
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
A noção apresentada de direito subjectivo, faz com esse
conceito, se possa dividir em duas modalidades:

a) Direitos subjectivos propriamente ditos ou stricto sensu,


os quais se traduz no poder no poder de exigir ou pretender de outrem
um determinado comportamento positivo (acção) ou negativo (omissão);

b) Contrapõe-se-lhe um dever jurídico da contraparte, de facer


ou nom facere.

O dever jurídico, consiste na necessidade de (ou a vinculação


a) realizar o comportamento a que tem direito o titular activo da
relação jurídica. Tal é o caso dos:

a) Direitos de créditos, nos quais os deveres jurídicos


impedem sobre pessoas determinadas, dai que lhes chamem direitos
relativos. Por exemplos, no contrato de compra e venda, o vendedor,
como seu sujeito activo, tem o direito de exigir do comprador, sujeito
passivo a entrega da quantia correspondente ao preço;

b) Direitos reias e direitos de personalidade, aos quais se


lhes contrapõe uma obrigação passiva universal ou dever geral de
abstenção, que recai sobre todas as outras pessoas, dai se denominarem
de direitos absolutos. Assim, por exemplo, se A é proprietário de
certa coisa, e nesse contexto, correspondentemente, todas as demais
pessoas, além de A, se encontram vinculadas a respeitar o direito de
A, não interferindo por qualquer modo no seu exercício.

O poder de exigir um comportamento de terceiro, resultante de


direito subjectivo, abrange os casos em que o titular (do direito
subjectivo,) pode exigir judicialmente o cumprimento do dever
jurídico, a que a contraparte está obrigada (pedir a condenação no
pagamento de uma divida, a reconhecer o direito de propriedade), quando
este não o observe, podendo o titular do direito violado, ser
ressarcido ou ver a situação reposta tal como existia.

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 9
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
Por seu turno, o poder de pretender resultante da faculdade de
ser detentor de um direito subjectivo, reporta-se aos casos em que o
titular do direito não pode exigir judicialmente o comportamento
devido, quando não adoptado pelo titular passivo. Tratam-se de
situações caso o devedor cumpra, tudo se passa como se o cumprimento
lhe pudesse ter exigido. É o caso das obrigações naturais, as quais
se fundam no mero dever de ordem moral ou social cujo o cumprimento
não é judicialmente exigível, mais corresponde a um dever de justiça
– art.º 402.º do CC. Por seu turno, os direitos potestativos, são os
poderes jurídicos de, por um acto de livre vontade, só de per si, ou
integrado numa decisão judicial, produzir efeitos jurídicos, que se
impõe, necessariamente, a outra parte, correspondendo-lhe a sujeição
a situação em que a contraparte devera ter a expectativa de ver
produzir, necessariamente, uma consequência na sua esfera jurídica,
em virtude de mero exercício de um direito pelo seu titular, neste
contexto, atinge-se a esfera jurídica da contraparte, sem o
consentimento, o qual, normalmente se exigiria.

3.1.2. LADO PASSIVO DA RELAÇÃO JURIDICA

O lado passivo da relação jurídica, traduz-se num dever jurídico


ou numa sujeição. Ao dever jurídico contrapõe-se os direitos
subjectivos propriamente ditos, pois que:

a) o sujeito do dever tenha a possibilidade pratica de não


cumprir, ou seja, nos termos legais, tem que adoptar determinado
comportamento, o qual é tutelado pela aplicação das sanções legais,
estatuída para o sujeito faltosa, quer a falta seja a título de dolo,
quer seja praticada a título de negligencia;

b) quando os deveres jurídicos impedem sobre pessoas


determinadas, seja no âmbito dos direitos de créditos, seja no seio
dos direitos reais;

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 10
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
c) quando os deveres de abstenção recaiam sobre todas as
pessoas, a chamada obrigação passiva universal, a qual se concretiza
nos direitos absolutos ou relação jurídicas absolutas.

As sujeições contrapõem-se os direitos potestativos pois que o


sujeito da sujeição não pode violar ou infringir a situação, por que
vai sofrer, necessariamente, os resultados derivados do exercício do
direito potestativo.

3.2. O OBJECTO MEDIATO

O objecto mediato da relação jurídica corresponde a realidade


sobre que recai o poder do sujeito activo realidade esta que pode ser
uma coisa (o prédio, a bicicleta que que se reporta o direito de
proprietário), uma prestação (a actividade de pintar uma parede, a
conduta de pagar um montante de uma divida), uma pessoa ou elementos
da personalidade (o filho menor sobre quem recai o poder paternal) ou
mesmo um direito.

É, precisamente, neste âmbito que se realiza a identificação do


objecto, da relação jurídica. Assim,, se A contrata com o pintor B
esse lhe pinte as paredes de um quarto, e lhe paga o valor para tal
convencionado, o objecto imediato desta relação estabelecida entre A
e B, consiste no direito que A tem, de exigir que o B lhe pinte as
ditas paredes, e o dever de B de pinta-las. O objecto mediato é a
conduta, actividade de B consubstanciada na própria conduta. A conduta
a que B esta obrigado, designa-se prestação.

3.3. COISAS. NOÇÃO DE COISAS

O art.º 202.º do CC define coisa como tudo que pode ser objecto
das relações jurídicas. Porém, esta noção amplíssima, tem sido objecto
de inúmeras críticas, dado que não são apenas as coisas, o objecto da
relação jurídica, mais também as prestações, os direitos e,
inclusivamente, as pessoas.
Universidade Lueji A´nkonde
Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 11
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
CASTRO MENDE, define coisas como “a realidade estática e
autónoma susceptivel de apropriação ou destino jurídico”.

As coisas podem classificar-se, de entre as seguintes


tipologias:

a) coisas no comercio jurídico (os quais podem ser objecto de


relações jurídicas privadas) e coisas fora do comercio jurídico (as
quais so podem ser objecto da relação jurídica não privadas, tais como
públicas e internacionais, como por exemplo a estatua da praça), nos
termos do art.º 202.º/2 do CC;

b) coisas corpóreas (como por exemplo um prédio) e coisas


incorpóreas (tais como a marca ou a patente);

c) coisas moveis e coisas imoveis, art.º 204.º e 205.º ambos


do CC;

d) Coisas presentes e coisas futuras (sendo as ultimas aquelas


que não existem na actualidade, tais como os frutos do pomar, ou que
existem mais não são do disponente, ou seja o automóvel que A irá
vender a B, mas que ainda, não foi por si adquirido a terceiro), nos
termos do art.º 211.º do CC.

3.4. PRESTACÕES

As prestações são condutas humanas voluntarias, aptas a


satisfazer o interesse do sujeito activo da relação jurídica, e que
lhe são especificamente divididas.

Genericamente as prestações poder-se-ão classificar em:

a) Prestação de coisas (ou seja aquela que se traduz na entrega


de uma coisa, como por exemplo a entrega do livre emprestado) e
prestação de facto (qualquer outra, como por exemplo o acto de pintar
um quadro), a qual se subdistingue em prestação de facto positivo

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 12
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
(pagar, fazer obra) e prestação de facto negativo (não abrir loja
concorrente);

b) Prestação fungível (sempre que a conduta que satisfaça o


interesse do sujeito activo possa ser praticado pelo sujeito passivo
ou por outrem em sua substituição. Assim se A é credor de B, é
indiferentemente que a divida de 200.000,00 seja paga pessoalmente por
B, ou por C), e prestação infungível (só consubstanciando uma conduta
pessoal do sujeito passivo é que a prestação sub judice é apta a
satisfazer o interesse do sujeito activo. É o caso de D contratar E,
pintor de renome, para pintar o seu retrato).

3.5. OUTROS OBJECTOS MEDIATOS: ELEMENTOS DA PERSONALIDADE

Os elementos da personalidade podem concretizar-se no nosso


corpo, honra, liberdade, nome, ou em direitos, tais como direitos
sobre direitos, como é o caso da hipoteca que é um direito real que
recai sobre prédio rústicos, urbanos ou mistos, mais que pode recair
sobre usufruto de prédios, e neste caso temos um direito sobre um
direito.

4. FACTO JURIDICO

Para que apareça e seja juridicamente relevante, uma relação


jurídica, é necessariamente a verificação de um evento, um
acontecimento do qual esse resulte.

Ora o facto jurídico, é o acontecimento, o evento a que o Direito


confere um feito, uma consequência jurídica, tendente a constituição,
modificação ou extinção de uma relação jurídica.

O facto jurídico pode ser tanto um acontecimento de natureza


(terramoto, ou fogo que vai acionar o seguro), como um facto
consubstanciado numa conduta humana, voluntaria (casamento) ou

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 13
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
involuntária (alguém que escorrega), seja ela positiva (um fazer) ou
negativa (um não fazer).

Assim para que A fique obrigado a pagar a B, é precisamente que


se realize o contrato de empréstimo ou mútuo.

Contudo, nem a todos os acontecimentos, o Direito atribui o


efeito jurídico, pois que existem os ditos factos ajurídicos, como por
exemplo o cair de um raio no alto mar, o nascer uma pessoa com cabelos
castanhos, etc.

Os factos jurídicos poder-se-ão classificar em:

a) Os factos constitutivos, modificativos ou extintivos da


relação jurídica;

b) Factos naturais (fogo que vai acionar o seguro), e actos


jurídicos (atuações voluntarias, sejam elas positivas ou negativas);

c) Actos jurídicos os quais podem ser lícitos ou ilícitos. Os


actos jurídicos lícitos podem ser actos jurídicos simples (nesse caso,
a norma liga efeitos ao acto, porque esse é voluntario, mais
independentemente de o agente querer esses efeitos ou não, como por
exemplo, a ocupação de domicílio voluntario), ou negócio jurídico
(manifestação de vontade praticada, tendo em vista a produção de
efeitos jurídicos). (quando a vontade provem de uma só pessoa, como
por exemplo, o testamento) ou bilaterais (acordo de vontades de mais
do que uma pessoa, no sentido de um resultado unitário como por exemplo
o contrato de compra e venda).

5. GARANTIA

Este é o elemento específico da relação jurídica, porquanto a


distingue das demais relações. O direito disciplina certas relações
socias, visando harmonização indispensável ao viver em sociedade,
valorando interesses de que os homens são portadores, qualificando-os
Universidade Lueji A´nkonde
Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 14
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral
como dignos de protecção e preteríveis, e intentando assegura-lhes a
devida protecção. Para tal, atribui-se os poderes necessários a
consecução desse mesmo interesses, garantindo a consecução dos mesmos.

A garantia da relação jurídica traduz -se na susceptibilidade


que é conferida ao sujeito activo de recorrer a força, se necessário
por intermedio dos órgãos do Estado, para tal competentes, para exercer
o direito que lhe é conferido, e, assim, realizar o interesse defendido
o que se consegue impondo ao sujeito passivo, a conduta que corporiza
os respectivos deveres ou vinculação, ou sujeita-los as consequências
eventuais incumprimentos.

Universidade Lueji A´nkonde


Faculdade de Direito – Dundo
Material de apoio Introdução ao Estudo de Direito 15
Ano acadêmico 2023/2024
Docente: Jesse Maria Abel
1º Ano/Laboral

Você também pode gostar