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PROFESSORA

ANDRÉA FLORES
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RAPHAEL RAPHAEL PASSARO
PASSARO BAUMGARDT
BAUMGARDT Date: 2023.08.21
15:13:33 -03'00'

AULA 08
AÇÃO PENAL NO CRIME DE ESTELIONATO

Redação ANTES da Lei 13.964/19 Redação DEPOIS da Lei 13.964/19

Art. 171. Obter, para si ou para outrem, Art. 171. Obter, para si ou para outrem,
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, induzindo ou mantendo alguém em erro,
mediante artifício, ardil, ou qualquer mediante artifício, ardil, ou qualquer outro
outro meio fraudulento: meio fraudulento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e Pena - reclusão, de um a cinco anos, e


multa, de quinhentos mil réis a dez contos multa, de quinhentos mil réis a dez contos
de réis. de réis.

§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de § 1º - Se o criminoso é primário, e é de


pequeno valor o prejuízo, o juiz pode pequeno valor o prejuízo, o juiz pode
aplicar a pena conforme o disposto no art. aplicar a pena conforme o disposto no art.
155, § 2º. 155, § 2º.

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem: § 2º - Nas mesmas penas incorre quem:

Disposição de coisa alheia como própria Disposição de coisa alheia como própria

I - Vende, permuta, dá em pagamento, em I - Vende, permuta, dá em pagamento, em


locação ou em garantia coisa alheia como locação ou em garantia coisa alheia como
própria; própria;

Alienação ou oneração fraudulenta de Alienação ou oneração fraudulenta de coisa


coisa própria própria

II - Vende, permuta, dá em pagamento ou II - Vende, permuta, dá em pagamento ou


em garantia coisa própria inalienável, em garantia coisa própria inalienável,
gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que
que prometeu vender a terceiro, prometeu vender a terceiro, mediante
mediante pagamento em prestações, pagamento em prestações, silenciando
silenciando sobre qualquer dessas sobre qualquer dessas circunstâncias;
circunstâncias;
Defraudação de penhor
Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo,
consentida pelo credor ou por outro a garantia pignoratícia, quando tem a posse
modo, a garantia pignoratícia, quando tem do objeto empenhado;
a posse do objeto empenhado;
Fraude na entrega de coisa
Fraude na entrega de coisa IV - Defrauda substância, qualidade ou
quantidade de coisa que deve entregar a
IV - Defrauda substância, qualidade ou alguém;
quantidade de coisa que deve entregar a
alguém; Fraude para recebimento de indenização ou
valor de seguro
Fraude para recebimento de indenização
ou valor de seguro V - Destrói, total ou parcialmente, ou oculta
coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a
V - Destrói, total ou parcialmente, ou saúde, ou agrava as consequências da lesão
oculta coisa própria, ou lesa o próprio ou doença, com o intuito de haver
corpo ou a saúde, ou agrava as indenização ou valor de seguro;
consequências da lesão ou doença, com o
intuito de haver indenização ou valor de Fraude no pagamento por meio de cheque
seguro;
VI - Emite cheque, sem suficiente provisão
Fraude no pagamento por meio de cheque de fundos em poder do sacado, ou lhe
frustra o pagamento.
VI - Emite cheque, sem suficiente provisão
de fundos em poder do sacado, ou lhe § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o
frustra o pagamento. crime é cometido em detrimento de
entidade de direito público ou de instituto
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se de economia popular, assistência social ou
o crime é cometido em detrimento de beneficência.
entidade de direito público ou de instituto
de economia popular, assistência social ou Estelionato contra idoso
beneficência.
§ 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime
Estelionato contra idoso for cometido contra idoso.

§ 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime § 5º Somente se procede mediante


for cometido contra idoso. representação, salvo se a vítima for:

I - A Administração Pública, direta ou


indireta;

II - Criança ou adolescente;

III - pessoa com deficiência mental;


ou

IV - Maior de 70 (setenta) anos de idade


ou incapaz.
O crime de estelionato, como grande parte dos crimes contra o patrimônio, era
de ação penal pública incondicionada, ou seja, não era necessária a representação do
ofendido nem tampouco a requisição de Ministro da Justiça ou o oferecimento de
queixa crime.
Contudo, o § 5º, acrescentado pelo Pacote Anticrime, passou a tratar o
estelionato como crime de ação penal pública condicionada a representação.
Para o professor Luciano Anderson de Souza (2020), o legislador perdeu a
oportunidade de dar o mesmo regramento aos demais crimes patrimoniais
perpetrados sem violência ou grave ameaça e defende que pode haver entendimento
de tratar tais crimes como de ação penal pública condicionada a representação por
analogia in bonam partem.
Ousamos divergir do ilustre doutrinador, pois acreditamos que o que motivou a
mudança do tipo de ação penal no estelionato diz respeito ao sentimento da vítima,
que por ter sido enganada, ludibriada, pode envergonhar-se em levar o caso adiante,
expondo sua fragilidade. Enquanto no crime de furto, por exemplo, o agente subtrai o
bem da vítima, no estelionato este bem é entregue por ela ao estelionatário, e, muitas
vezes, essa confiança em entregar a vantagem se deu em razão de um relacionamento
entre ambos. Assim, há mais do que o patrimônio envolvido; há também o sentimento
da vítima que pode preferir não se expor.
Trata-se de uma novatio legis in mellius, portanto, no conflito da lei penal no
tempo, retroage em benefício do réu. Portanto, naqueles casos em que já há um
inquérito policial, a vítima deverá ser intimada para se manifestar acerca da
representação. A dúvida é no que tange aos crimes em que já houve o oferecimento
da denúncia.
Para Rogério Sanches Cunha (2020, p. 65), se a denúncia já foi ofertada, trata-
se de ato jurídico perfeito, não sendo alcançado pela mudança. No mesmo sentido é o
entendimento de Luciano Anderson de Souza (2020, p. 58).
Renato Brasileiro de Lima (2020, p. 73) defende posicionamento contrário, de
que a vítima deverá ser intimada para oferecer representação, mesmo se já houver
ação penal, sendo-lhe dado prazo de 6 meses para tal, sob pena de decair do direito de
representação.
O Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM),
por intermédio de Comissão Especial, presidida pelo Presidente do CNPG e Procurador
Geral de Justiça do MPMS, Paulo Cezar dos Passos, emitiu o Enunciado 4 para o crime
de estelionato (art. 171, § 5º, do CP - art. 91 da Lei 9.099/95 c.c art. 3º do CPP) com o
seguinte teor: Nas investigações e processos em curso, o ofendido ou seu
representante legal será intimado para oferecer representação no prazo de 30 dias,
sob pena de decadência.
No julgamento da liminar do HC 573093, impetrado pela Defensoria Pública de
Santa Catarina, o Ministro Reynaldo Soares da Fonseca assim se manifestou ao
indeferir o pedido de liminar:
Sobre o tema em comento (retroatividade da Lei n. 13.964/2019,
determinando a intimação da vítima para se manifestar quanto à
representação), assevero que os Tribunais Superiores ainda não se
manifestaram de forma definitiva, em razão do curto lapso temporal
de vigência da nova lei.(...) Portanto, ao meu ver, a posição mais
acertada seria a de que a retroatividade da representação no crime
de estelionato deve se restringir à fase policial, não alcançando o
processo, o que não se amoldaria ao caso dos autos, considerando a
condição de procedibilidade da representação e não de
prosseguibilidade, conforme nos mostra Rogério Sanches.
Portanto, do acima exposto, temos três posicionamentos acerca dos casos em
que já tenha sido oferecida a denúncia:
a. Por ser ato jurídico perfeito, a lei nova não terá aplicação.
b. A lei nova retroagirá e a vítima será intimada para oferecer representação
no prazo de 30 dias, sob pena de decadência.
c. A lei nova retroagirá e a vítima será intimada para oferecer representação
no prazo de seis meses, sob pena de decadência.
Vale lembrar que o novo § 5º trouxe exceção à ação penal pública condicionada
à representação. Assim, continuam sendo de ação penal pública incondicionada os
estelionatos praticados contra:
I - A Administração Pública, direta ou indireta. Esta tem sido a regra em crimes
que têm a possibilidade de ter vítima particular ou ter como vítima a Administração
Pública, como se vê no crime de divulgação de segredo, previsto no art. 153, com
ressalva no § 2º do mesmo artigo, no crime de invasão de dispositivo informático,
previsto no art. 154-A, com ressalva no artigo 154-B, e, ainda, no crime de dano,
previsto no art. 163, parágrafo único, inciso III, com a ressalva no art. 167, todos do
Código Penal.
II - Criança ou adolescente. Este raciocínio já ocorria na redação antiga do art.
225 do Código Penal: embora previsse ação penal pública condicionada a
representação para os crimes sexuais, a ação era pública incondicionada se a vítima
fosse menor de 18 anos. Hoje, todos os crimes contra a Dignidade Sexual são de ação
penal pública incondicionada.
III - Pessoa com deficiência mental. Da mesma forma que o descrito para os
menores de 18 anos, a ação era pública incondicionada nos crimes sexuais praticados
contra portadores de deficiência mental.
IV - Maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. O Estatuto do Idoso, que
define idoso como sendo aquele com idade igual ou superior a 60 anos, ao definir os
crimes contra idosos faz a ressalva que são de ação penal pública incondicionada (Art.
95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes
aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal). Da mesma forma, o art. 183 do Código
Penal impede a aplicação da escusa absolutória do art. 181 e da mudança de ação
penal prevista no art. 182 para crimes patrimoniais praticados sem violência ou grave
ameaça à pessoa, quando a vítima é maior de 60 anos. O que não parece justificável é
que o legislador tenha feito a ressalva à vítima maior de 70 anos. No que tange aos
incapazes, de acordo com o artigo 4º do Código Civil, são incapazes, relativamente a
certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de
dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por
causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos.
Nas lições de Luciano Anderson de Souza, entretanto, foi infeliz a
construção das exceções trazidas pelo § 5º:
Se o titular do bem atingido por prática de estelionato for a
Administração Pública, direta ou indireta, ninguém melhor do
que ela própria, por meio de suas procuradorias jurídicas, para
decidir se compensa ou não a persecução penal. (...) Quanto à
criança ou adolescente, a previsão excepcional somente se
justificaria se o menor não possuísse representante legal ou se
o autor do crime fosse este. (...) Idêntico raciocínio feito aos
menores serve às previsões relativas à vítima ser pessoa com
deficiência mental ou incapaz. No que diz respeito ao ofendido
ser pessoa maior de 70 anos de idade mostra-se fora de
propósito a circunstância estabelecida. A pessoa nessa
condição pode se encontrar perfeitamente lúcida e capaz de
decidir acerca de seus interesses.

Ousamos discordar. Entendemos que, como costuma acontecer em outros


crimes, há uma maior preocupação com a vulnerabilidade da vítima que justifica a
ação penal pública incondicionada. Única crítica fazemos quanto à escolha do idoso
maior de 70 anos, e não do idoso a partir dos 60 anos.
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