Curso: Direito Disciplina: Direito Penal IV Data: 24/06/2022
Peso: 3,0 (TA2) Turma: 2022/1 Prof. Ms. Silvio Erasmo Souza da Silva Nota: Acadêmico: Bárbara Renata Klafke
TRABALHO AVALIATIVO 2
ATIVIDADE: Analisar e responder aos questionamentos relativos aos estudos de
casos expostos abaixo. Raimundo Nonato, morador de Cruz Alta, com conta bancária no Banrisul daquele município, resolve levar sua namorada Anastácia em um dos restaurantes mais caros de Santa Cruz do Sul. Ao final da noite, Raimundo recebe a conta da ostentação, importando a quantia de R$ 2.000,00. Mesmo sabendo previamente não possuir suficiente provisão de fundos, Raimundo emite um cheque e efetua o pagamento das despesas. No dia seguinte, Pedro Jorge, o responsável pelo restaurante, tenta descontar o cheque em Santa Cruz do Sul, quando recebe a notícia de que não havia suficiente provisão de fundos. Indignado, Pedro Jorge registra ocorrência policial. Após diligências, o Delegado de Polícia concluiu o inquérito e o encaminhou ao Ministério Público. O Promotor de Justiça oferece a denúncia, sendo recebida pelo Magistrado. Desesperado com o ajuizamento da ação penal, Raimundo Nonato, procura o proprietário do restaurante e efetua o pagamento da dívida contraída. A) Com base na situação descrita acima, qual crime Raimundo cometeu? B) Com o pagamento do cheque, a punibilidade será extinta? C) É possível alegar o arrependimento posterior? D) Qual comarca será competente para julgar o crime, caso tenha ocorrido? Fundamente E) Raimundo Nonato, pelo fato de pagar o cheque, terá algum benefício durante a aplicação da pena? Explique e fundamente A) Com base na situação descrita acima, qual crime Raimundo cometeu? B) Com o pagamento do cheque, a punibilidade será extinta? C) É possível alegar o arrependimento posterior? D) Qual comarca será competente para julgar o crime, caso tenha ocorrido? Fundamente E) Raimundo Nonato, pelo fato de pagar o cheque, terá algum benefício durante a aplicação da pena? Explique e fundamente
De acordo com o caso narrado, Raimundo Nonato incorreu no crime de
estelionato, com incidência do art. 171, §2º, VI, do Código Penal, o qual determina Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. (Vide Lei nº 7.209, de 1984) [...] § 2º - Nas mesmas penas incorre quem: Fraude no pagamento por meio de cheque VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. Ainda, têm-se que para a configuração do estelionato o agente precisa agir com dolo e má fé, ambos os elementos estão presentes no caso de Raimundo, pois, mesmo sabendo previamente não possuir suficiente provisão de fundos, emite um cheque e efetua o pagamento das despesas. Mesmo que o cheque emitido por Raimundo fosse pago, este não extinguiria a punibilidade pois, conforme entendimento de AGUIAR (2020) A punibilidade do crime não é extinta porque, assim, não haveria incentivo para que alguém deixasse de cometer o crime. Nesse sentido, se alguém furta um objeto e deixa de ser condenado porque o devolveu, seu risco é zero, e a lei não terá efeito dissuasório nenhum sobre os potenciais criminosos. É sempre preciso que eles experimentem um prejuízo maior do que o lucro que obteriam com o crime. Ademais, conforme entendimento do Supremo Tribunal de justiça, na Súmula 554 “O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal”, ou seja, o pagamento da dívida não impedirá o prosseguimento da ação Penal. Essa súmula, entretanto, não se aplica a outras modalidades de estelionato, em relação às quais o ressarcimento antes do início da ação tem apenas o condão de reduzir a pena em face do arrependimento posterior. Assim, compreende-se que do crime de Estelionato, caberá arrependimento posterior do agente, este estará configurado quando da presença de 4 requisitos: ser crime cometido sem violência ou grave ameaça, restituição da coisa, ato voluntario do agente e tem que ser até o recebimento da queixa ou denúncia. Neste sentido temos o entendimento utilizado também pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios e de autoria de Ricardo Antônio Andreucci “O arrependimento posterior é figura nova no nosso ordenamento jurídico e vem tratado no art. 16 do Código Penal. Nele, o agente já consumou o delito, restando-lhe, agora, a reparação do dano ou a restituição da coisa, tudo isso, se possível, até o recebimento da denúncia ou queixa.” (ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 110). Para determinação do foro competente para o crime de estelionato, devemos observar o que dispõe a Súmula 521 do STF “O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade de emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.” Sendo assim, conclui-se que o foro competente para julgar o crime cometido por Raimundo será o foro de Santa Cruz, visto que o restaurante está situado na cidade de Santa Cruz do Sul onde se deu a entrega do cheque sem fundo e onde restou negado, ou rejeitado, o pagamento. Outrossim, temos que quando a vítima sofre o prejuízo em uma comarca e a vantagem é obtida pelo agente em outra é nessa última que a ação penal deve ser proposta, pois este será o local da consumação. Nesta mesma síntese, uma vez que o crime de estelionato é entendido como crime material, este consuma-se somente quando o agente efetivamente obtém a vantagem ilícita almejada. No caso de Raimundo, verifica-se que a consumação do crime de estelionato deu-se no momento em que entregou o cheque sem fundo ao restaurante, resultando no duplo resultado necessário para consumação do crime de estelionato: o prejuízo da vítima e a vantagem do agente. Por todo o exposto, conclui-se que por Raimundo Nonato ter pagado o cheque, ele possui direito à diminuição de sua penal, conforme previsto no artigo 65 do Código Penal, conforme entendimento de ANDREUCCI (2020, p. 110) “Caso a reparação do dano ou a restituição da coisa ocorra após o recebimento da denúncia ou queixa, estará configurada apenas uma circunstância atenuante genérica, prevista no art. 65. III, b, do Código Penal." (ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 110). REFERÊNCIAS AGUIAR, Alexandre Magno Fernandes Moreira. Estelionato: reparação do dano x extinção da punibilidade. O “Direito Penal dos ricos” e o “Direito Penal dos pobres”. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 12, n. 1539, 18 set. 2007. Disponível em <https://jus.com.br/artigos/10421>. Acesso em: 25 nov. 2020. SILVA, Silvio Erasmo Souza da. DIREITO PENAL IV, PLANO DE AULA INTEGRAL. (2022) Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Disponível em <https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/a- doutrina-na-pratica/copy_of_arrependimento- posterior#:~:text=%22O%20arrependimento%20posterior%20%C3%A9%20figura, recebimento%20da%20den%C3%BAncia%20ou%20queixa.>. Acesso em 24/06/2022, às 20:13.