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2 NATUREZA JURÍDICA
É profunda e antiga a divergência sobre a natureza jurídica da
posse. Indaga-se, inicialmente, se a posse é um fato ou um direito. Essa
divergência já era observada nos textos romanos. Muitos séculos se
passaram e a discussão ainda persiste, dividindo-se a doutrina em três
correntes.
A teoria da posse como um direito subjetivo está baseado nos
estudos de Ihering. Para ele, “os direitos são os interesses juridicamente
protegidos”. Como a posse é um interesse juridicamente protegido, o
mesmo classifica a posse como um direito.
Outra corrente sustenta que a posse é um fato, uma vez que não
tem autonomia, não tem valor jurídico próprio. O fato possessório não
está subordinado aos princípios que regulam a relação jurídica.
A corrente mais comum é a eclética, que admite que a posse seja
um fato e um direito. A posse seria por si só um fato, mas um direito em
relação a seus efeitos.
4 CONCEITO DE POSSE
O Direito Positivo Brasileiro acolheu a teoria positiva de Ihering a
respeito da posse. Entretanto, o Código Civil traz seu próprio conceito de
posse, que é retirado da inteligência do art. 1.196: Considera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de
algum dos poderes inerentes à propriedade.
Para melhor compreensão deste conceito é necessário
entendermos os poderes inerentes à propriedade, que são: usar, gozar e
dispor da coisa. Apenas o proprietário exerce de fato estes três poderes.
Por outro lado, o possuidor poderá apenas usar e gozar da coisa.
O artigo 1.198 nos traz o conceito de detentor ao dizer que:
Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência
para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas.
Isto quer dizer que nem sempre aquele que estiver na posse será
considerado possuidor. Caso esteja na posse em cumprimento de ordens
ou instruções, ou em nome do possuidor, este será mero detentor. É o
que ocorre com o caseiro ou o locatário, que apesar de usarem e gozarem
das coisas, apenas o fazem por determinação do possuidor.
Outros exemplos de detenção são citados por Pontes de Miranda: a
situação do soldado em relação às armas e à cama do quartel; a dos
funcionários públicos quanto aos móveis da repartição; a do preso em
relação às ferramentas da prisão com que trabalha; a dos domésticos
quanto às coisas do empregador. Em todas essas hipóteses, aduz, o que
sobreleva é a falta de independência da vontade do detentor, que age
como lhe determina o possuidor.