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Direito Civil V – Direito das Coisas

Anotações das aulas1

Aula 1 – 24/2/2016

Há manuais que falam em Direitos Reais e Direito das Coisas. Alguns autores
dizem que reais são mais abrangentes; outros dizem que isso decorre de uma
tradição histórica ao nominar. Em Portugal, na Áustria e na Alemanha, fala-se
em Direito das Coisas; na França, em Direitos Reais. No Brasil, há ambas as
formas, não havendo diferença entre se falar um ou outro. A posse é citada,
primeiramente, antes da propriedade, no Código Civil brasileiro. Há uma
discussão doutrinária sobre o lugar que ela deveria ocupar. É considera um
“fantasma” nos Direito Reais. A posse é considerada uma exteriorização da
propriedade.

O Direito das Coisas é a matéria, no âmbito civil, mais parecido com o da


Roma antiga. Em outras áreas, como o Direito de Família, houve mais
alterações, como no caso das configurações de família. O CC brasileiro de
1916, a família patriarcal ainda guardava mais semelhança com a de Roma
antiga.

Vélez Sarsfield: argentino que se baseou no CC brasileiro, na redação de


Teixeira de Freitas, para implementá-lo no país vizinho.

A propriedade é o Direito Real mais completo. Da propriedade partem outros


direitos reais.

Classificação

Direitos Reais sobre Coisas Alheias: gozo/fruição – usufruto (uso de imóvel);


garantia – hipoteca; aquisição – compromisso de compra e venda

Direitos Reais sobre Coisa Própria: propriedade

Introdução ao Direito das Coisas: conjunto de normas que regulam as relações


entre os homens, tendo em vista os bens corpóreos.

Os bens incorpóreos fazem parte do Direito das Coisas? Não, apenas os


corpóreos, embora isso não esteja expresso no código brasileiro.

O vocábulo “coisa” determina determinados bens (aqueles que são passíveis


de apropriação e interesse econômico). Alguns autores dizem que coisa é
gênero e bem é espécie.

A coisa, em Direitos Reais, não é qualquer coisa. O ar, p.ex., não é, porque
não há o interesse em apropriar-se do ar. A água, p.ex., pode ser relevante ou

1
Professor Leonardo Zanini. Anotações: alexandrepastre@yahoo.com.br

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não: a da chuva, p.ex., não. As coisas que não são raras, não são abundantes
e não interessam economicamente, não interessam aos Direito Reais.

Há bens que não são coisas, tais como o direito à liberdade, direito à honra e à
vida.

Clóvis Bevilácqua: "direito das coisas é o complexo de normas reguladoras das


relações jurídicas referentes aos bens corpóreos" e, o direito real "é o poder
jurídico do homem sobre coisa determinada, aderindo a ela, enquanto perdura,
e prevalecendo contra todos".

Lafayette: é o direito que se prende à coisa, prevalecendo com a exclusão da


concorrência de quem quer que seja, independendo para o seu exercício da
colaboração de outrem e conferindo ao titular a possibilidade de ir buscar a
coisa onde ela se encontre, para sobre ela exercer seu direito. Dessa definição,
extraem-se as suas características próprias.

Comparando-se os direitos reais com os obrigacionais, verifica-se que ambos


têm características específicas: os primeiros são mais protegidos que os do
último tipo.

Direitos Reais: apresenta-se como um vínculo entre uma pessoa e uma


coisa  doutrina tradicional (outra corrente doutrinária diz que se trata de uma
relação de uma pessoa com um sujeito passivo universal, ou seja, ao ter uma
propriedade, uma pessoa tem uma relação com todas outras pessoas que
devem respeitá-la; nesse tipo de direito, há a colaboração de terceiros);
Obrigacionais: é obtido a partir da relação de uma pessoa com outra pessoa
(nesse tipo de direito, independe-se da colaboração de terceiros).

Outras características:

 Os Direitos Reais são oponíveis – são oponíveis erga omnes (contra


todos)  O Direito Real é oponível contra qualquer pessoa. Ao ter a sua
propriedade invadida por sem terra, o propriedade tem o direito real
oponível contra todas essas pessoas; nos obrigacionais, há a
relatividade dos contratos (os efeitos só vinculam as partes), a relação é
inter pars (entre as partes).
 Na quase totalidade dos casos (há algumas exceções), os direitos reais
são registrados no cartório de registro de imóveis, onde são registradas
as propriedades;
 Direito de sequela: direito de perseguir onde quer que ele esteja. Um
carro brasileiro furtado ou roubado no Brasil e levado a Bolívia pode ser
buscado no país vizinho, acionando-se as autoridades competentes. O
direito real dá origem a uma ação real (difere-se, assim, de uma ação
obrigacional);

2
 Exclusividade: não há possibilidade de duas ou mais títulos de
propriedade, com o mesmo conteúdo, sobre a mesma propriedade. Um
imóvel registrado não pode ser registrado em nome de outra pessoa.
Difere-se de uma copropriedade, na qual dois ou mais podem ser
proprietários (há simultaneidade e não exclusividade);
 Direitos Reais: estão enumerados pela Lei (em leis esparsas ou no CC)
– a enumeração é taxativa (numerus clausus)
Os direitos reais podem ser criados por decreto? Não, apenas por lei.

Aula 2 – 25/2/2016

Posse

É um tema bastante discutido, tendo várias teorias para explicá-la, embora


nenhuma delas a explique efetivamente. Liga-se mais à legislação do que a
doutrina para compreendê-la.

Posse não pode ser confundida com propriedade. São institutos diferentes. Há
uma sobreposição das coisas: às vezes são distintas, às vezes se confundem.

A posse é uma situação de fato protegida pelo Direito. O legislador a protege,


porque ela “parece” ser uma propriedade, proteger o proprietário. Quando se
dá a posse, busca-se um instrumento de evitar a violência, visando a
harmonização/pacificação social. É o caso, p.ex., da invasão de sem terras, no
qual pode incorrer a reintegração de posse.

Ius2 possidendi – é uma relação material existente entre a coisa e pessoa,


sendo a consequência de um ato jurídico. É uma posse com lastro jurídico,
como um contrato de compra e venda.

Ius possessionis3 – é o contrário. Trata-se de uma relação de fato que pode vir
desacompanha de um direito. Não há um ato jurídico, um contrato que vincule
a pessoa à terra. Por permanência na terra, a pessoa obtém o ius
possessionis.

É o caso, p.ex., como o contrato de locação, no qual ocorre o ius possessionis.

Quando o sem terra invade a propriedade, ele tem a detenção. Desaparecendo


a violência, tem a posse, ou seja, o ius possessionis.

A posse pode decorrer de um ato jurídico ou da invasão.

A posse tem dois principais efeitos:


2
Jus ou ius = ambos se equivalem. A forma clássica é com “i”. As expressões latinas não recebem acento
e hífen. Da mesma forma que Fórum e “Fovum”, no qual “u” e “v” se equivalem (“v” é a forma clássica),
de cujus  “de cvivs”.
3
Macete: Ius possessionis = sem título; Ius possidendi = por causa do título – posse causal ou titulada.

3
1) proteção possessória; 2) possibilidade de gerar a usucapião (adquire-se a
propriedade por permanência durante um tempo em imóvel). Não é qualquer
posse que gera a usucapião.

As ações podem ser declaratórias, constitutivas e condenatórias.

Pela teoria majoritária, a usucapião é declaratória.

São três possessórias:

 reintegração de posse (no caso de esbulho - PROVA);


 manutenção de posse (na hipótese de turbação4);
 interdito proibitório (no caso de ameaça à posse).

Outro efeito da posse é a geração da usucapião5.

A posse mansa ou pacífica por determinado tempo (10, 15 anos), preenchidos


determinados requisitos, há a sentença declaratória do direito.

Teorias da posse

São duas as mais relevantes:

Posse – é um instituto que já existia no Direito Romano. A partir do Iluminismo,


o Direito foi se modificando e tido como uma verdadeira ciência. A partir do séc.
XIX, estudou-se como os romanos resolviam o problema da posse e
procuraram teorizar o que os romanos faziam pela prática ou defendiam a
posse. Alguns códigos adotaram a Teoria de Savigny (pronuncia-se Zavini),
chamada de Teoria Subjetiva (por estar baseada no animus, ou seja, na
subjetividade), que, em O Direito da Posse (1803), 490 p., escrito em 24 anos
em alemão que é a sua origem, foi reexaminado o instituto e redescobriu-se o
seu sentido (“poder de dispor fisicamente da coisa, como se fosse considerada
sua e defendê-la contra a intervenção de outrem”).

De sua teoria, a posse tem dois elementos: material (corpus) - apreensão


material da coisa; e intelectual, ou seja, o subjetivo (animus), no qual a
pessoa tem a vontade de ter a coisa. Se há o corpus, mas não o animus, existe
a detenção. Posse: corpus + animus. O locatário, pela Teoria de Savigny, não
tem a posse (porque ele tem o corpus, mas não o ânimo de tê-la). Os locatários
são considerados meramente detentores e, portanto, não pode ocorrer a
proteção possessória, sendo esse um dos problemas dessa teoria.

Outro problema está relacionado ao animus (a vontade) no caso de


relativamente ou absolutamente incapazes que ele tentou resolver
considerando que, sendo representados, os assistidos adquirem a posse.

4
Turbação -> PERturbação
5
O correto é A usucapião (no feminino)

4
e Ihering, mais recente que Savigny (alguns dizem que o Brasil a adotou,
sendo a versão mais aceita); outros consideram que ela eclética. Ihering fez
duras críticas ao anterior. Propôs um novo entendimento da posse. Para ele a
posse não é a mera detenção da posse e, sim, como o proprietário age em
face da coisa. O animus é, para ele, considerado como parte do corpus,
estando dentro dele.

Exemplo dado por Ihering: um lavrador que deixa a colheita no campo continua
sendo o seu posseiro (há o ânimo de recolhê-la). É a sua forma natural de
agir6.

Anel deixado no banco da praça – não é natural deixar um anel valioso em


público. Assim, não se conserva a posse7.

Arapuca e captura de passarinho – o passarinho capturado não pode ser


recolhido por outra pessoa que não seja o seu caçador8.

Lenhador – o lenhador continua sendo o seu posseiro ao transportar a madeira


pela água, não está dispondo dela, não está deixando de ter a sua posse.

Em alguns casos, a proteção da posse é merecida. Às vezes, a posse pode ser


um conceito relativo: para um ladrão de carro, ele detém a posse, embora não
para outros. Por isso, a posse é analisada sempre em relação a duas pessoas.

Outro ponto da teoria é que, em princípio, é fácil agir como proprietário. Um


locatário pode agir como proprietário. O caseiro de uma chácara exerce atos da
apreensão física da coisa, mas com instrução, ordens do proprietário. O
caseiro possui, assim, a detenção. Por disposição legal, art. 1198 do CC,
considera-se mero detentor aquele que tem uma relação de dependência e não
posseiro (isso é uma origem da Teoria de Ihering).

Influência de Ihering na nossa legislação: art. 1208 CC – não há posse


enquanto há violência, precariedade e clandestinidade, apenas mera detenção.
Cessada a violência, para o ladrão de um carro, há a posse. Verifica-se,
entretanto, quem possui a “melhor posse”, a “posse maior” a fim de reaver o
bem.

Próxima aula: CC e a Teoria da Posse

Aula 3 – 2/3/2016

CC e Teoria da Posse

6
Não há necessidade de provar a posse. O corpus é suficiente para comprová-la.
7
O aspecto normal da relação do proprietário com a coisa constitui a posse.
8
O pássaro capturado é a situação normal para o possuidor.

5
Clóvis Bevilácqua, autor do Código de 1916, diz que o Brasil adotou a teoria de
Ihering; para outros, é mista.

A Teoria do Ihering está no CC brasileiro em particular no art. 1.196 do CC9.

Em alguns outros pontos, há deslizes que transparecem que há absorção da


Teoria de Savigny, embora sejam mínimos.

Considera-se, portanto, que a Teoria do Ihering é a adotada pelo CC do Brasil.

Natureza da posse:

Para Savigny, a posse é um direito (gera efeitos jurídicos, como a usucapião) e


um fato (há a detenção da coisa).

Para Ihering, a posse é um direito (qualquer interesse juridicamente relevante).

Vigora no Brasil: a posse é meramente um estado de fato. A lei dá a


proteção ao estado de fato e não passa disso. Não chega a ser um direito. Foi
defendida por Bevilácqua.

A posse não é um direito: o art. 1225 do CC enumera os direitos reais 10 e não


enumera a posse entre eles. Em nenhuma outra lei a posse também não está
incluída entre os direitos reais. A posse é protegida em atenção à propriedade.

O conceito de posse não está expresso no art. 1196 do CC, mas o de


possuidor.

Este conceito é feito juntamente com os artigos 1.198 e 1.208 do CC. A posse
é a exteriorização do domínio.

Fâmulo da posse – é o servidor da posse, é o detentor.

Espécies de posse: reguladas pela legislação brasileira, fundamentais para


entender a posse.

Posses direta e indireta: o desdobramento da posse ocorre da seguinte forma -


na direta o possuidor tem a coisa em seu poder (é o caso do locatário); o
locador tem a posse indireta (não tem a coisa nas mãos, mas transferiu,
temporariamente, a terceiro) -> art. 1.197 do CC. Outros exemplos: depositário,
usufrutuário e comodatário. Os possuidores diretos e indiretos podem recorrer
a ações possessórias para resgatar o bem jurídico. É possível que o possuidor
indireto defenda a posse contra o direto e vice-versa. É o que ocorre, p.ex., do
locador que pretende vistoriar o imóvel para verificar a sua conservação a

9
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade.
10
O rol não é taxativo, mas não se encontra a enumeração em outra lei

6
qualquer momento. É possível também em caso de descumprimento de
contrato.

No caso da composse11, no qual duas pessoas são possuidores do mesmo


imóvel, há posse conjunta e harmônica. O casal que vive junto no imóvel
possui composse, havendo composses direta e indireta. Está expresso no art.
1.199 do CC. É possível que proprietários também sejam compossuidores.
Também é possível ocorrer uma ação de um compossuidor contra o outro
(ação possessória), no caso de uma composse não harmônica, no qual ambos
pretendem questionar limites da propriedade. A jurisprudência dá proteção à
posse pro diviso (há divisão da propriedade).

Posses justa e injusta: pelo art. 1.200 do CC é justa a posse que não é
violenta, clandestina (feita às escondidas) e precária. É traduzida pela
expressão vis clam et precario (advinda, portanto, do Direito Romano, com
mais de dois mil anos12). Violência (utilização de força injusta): roubo;
clandestinidade (ocupação de forma clandestina, às escondidas, de forma a
ocultar o comportamento para que não seja descoberta a apreensão física do
bem): furto; precariedade (recebimento da coisa para depois devolvê-la, como
no caso do usufrutuário, comodatário e depositário; o locatário que permanece
no imóvel tem detenção precária): apropriação indébita.

Aula 3 – 3/3/2016

A detenção violenta pode se torna uma posse (basta a cessação da violência).


Há o convalescimento13. Se o ladrão acabou de roubar o bem, o sem terra
invadiu a propriedade, ele tem a detenção e, com a permanência, passa a ter
posse.

A posse clandestina pode convalescer? Sim, a princípio tem a detenção.

A detenção precária pode convalescer?

Pelo art. 1208 do CC14, por não falar em “precariedade”/não fazer previsão a
respeito, a detenção precária não convalesce/jamais convalesce, ou
seja, continua precária: não induz posse, nem mesmo injusta. Portanto, a
detenção precária não tem proteção possessória. É um entendimento
majoritário da doutrina.

Posses violenta e clandestina: podem convalescer, são protegidas.

11
É o caso de condomínio (com + domínio): domínio conjunto
12
Cerca de 1,5 e 1,6 mil artigos são de origem romana
13
O convalescimento é a passagem da posse injusta para a posse justa.
14
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a
sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.

7
Há uma contraposição entre os artigos 1.203 e 1.208 do CC. Pelo 1203, a
15

posse mantém o caráter com que adquirida, salvo previsão em contrário (quer
dizer que, se uma propriedade foi adquirida de forma injusta, ela continuará
sendo injusta); já o 1.208, pela presunção juris tantum, fala que há o
convalescimento.

Pela presunção juris tantum (relativa/não admite prova em contrário) o art.


1203, conciliado ao 1208, leva ao entendimento de que a posse mantém a sua
qualidade, salvo se, no caso das posses clandestina ou violenta, ocorrer o
convalescimento. Detenção violenta -> Posse injusta, passado ano e dia 16 ->
Posse justa

Posses de boa-fé e má fé: o critério de análise é subjetivo, considera a posição


psicológica do possuidor, ou seja, a sua subjetividade. Regra: 1.201 CC 17.
Exemplo: uma pessoa compra o imóvel, cuja venda foi feita por uma criança. A
má-fé é presumida, está viciada, maculada.

O erro inescusável (imperdoável) caracteriza a má-fé.

Compra e venda a non domino: compra de alguém que não é o proprietário, ou


seja, de um estelionatário. A pessoa não sabe que a aquisição está ocorrendo
de um estelionatário. Há, assim, uma posse de boa-fé por uma aquisição
regular. No caso de um veículo, verificada a alteração de um chassi em uma
batida policial, a posse de boa-fé passa a ser de má fé. A posse de boa-fé
pode, então, ser tornar uma posse de má-fé.

O regime jurídico é diferente para esses tipos de posses, como no caso de


benfeitorias (se há deterioração/estragos, há implicações diferentes nas posses
de boa ou má fé), frutos, usucapião (há prazos diferentes; no caso da
usucapião ordinária, é preciso ter a posse de boa-fé – prazo de 10 anos; no
caso da extraordinária, o prazo é de 15 anos).

Boa-fé subjetiva: interessa o elemento psicológico, se a pessoa está em


posse regular ou não. É a que interessa aos Direitos reais.

Boa-fé objetiva (lealdade/probidade): não interessa saber qual é a intenção da


pessoa ou não importa o elemento psicológico. É uma herança do direito
germânico e tem como origem os códigos de cavalaria (quais padrões de
conduta os cavaleiros medievais deveriam seguir para caracterizar a boa-fé
objetiva). Expressão no direito alemão, que não faz diferenciação entre a boa-
15
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi
adquirida.
16
O prazo de 1 ano e 1 dia é reiteradamente encontrado em Direito das Coisas. A origem é romana, em
referência ao período das colheitas. Se a pessoa deixava a colheita sem o devido cuidado pelo período
de um ano e um dia, presumia-se que a propriedade estava sem a devida proteção, abandonada e,
então, aquele que poderia ter o devido cuidado, merecia a posse justa.
17
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da
coisa.

8
fé entre os tipos subjetivo e objetivo: Treu und glauben (confiança e
credibilidade).

No Brasil, é um princípio contratual.

Posses ad interdicta e ad usucapionem: ad interdicta – é a posse que dá


acesso a ações possessórias; não conduz à usucapião. O locatário, tendo
posse direta, tem acesso a ações possessórias (mas não à ação de
usucapião). Se o locatário permanece no imóvel, há o vício da precariedade.
Portanto, não há possibilidade da usucapião. Permite apenas o acesso aos
interdictos possessórios.

ad usucapionem – leva à ação de usucapião. Posse violenta, após 15 anos ->


Pede-se usucapião -> Declara-se a posse.

Idade da Posse18

Posses nova e velha:

O sem terra invadiu a terra, cessada a violência, tem a posse nova. Passado
um ano e um dia, passa a ser posse velha. O prazo é contado a partir do
momento em que o sem terra entrou na posse.

Exemplo: fazendeiro morava na fazenda há 10 anos, tinha posse velha.


Quando a fazenda é invadida, surge o prazo para ação. Surge então a ação de
força nova e ação velha.

Ação de força nova e ação de força velha: o prazo é contado a partir de um dos
vícios que levaram à ação possessória: a data do esbulho, da turbação ou da
ameaça para entrar com uma ação de força nova ou força velha.

Ocorreu um esbulho hoje: a ação é de força nova. Passado ano e dia, a ação é
de força velha. Para que isso serve?

Se ação é de força nova, ocorrem as ações possessórias (têm liminar e rito


especial).

Nas ações de força velha, o rito é ordinário (não há ações possessórias).

Se uma pessoa vive na fazenda há 10 anos, há força velha. Houve invasão,


daqui uma semana entra com uma ação: ação é de força nova. Ocorreu
esbulho: ação possessória (reintegração de posse, rito especial).

10 anos de posse, ocorreu esbulho, a fazenda é no Pará, deixada por 2 anos.


A ação é de força velha, e a posse velha. O rito é ordinário.

Pode, então, ocorrer posse velha na ação de força nova ou velha. Assim como
é possível ter uma posse nova na ação de força nova ou velha.
18
Dias a quo: o dia começa a ser contado; dias a quem: o dia que termina a contagem?.

9
Posses pro diviso ou pro indiviso: resultado de uma construção
jurisprudencial.

Exemplo: dois irmãos são donos de uma fazenda, ambos têm composse, mas,
de repente, um deles quer ser dono sozinho de uma parte e resolve cercá-la.
Então, entra com uma ação possessória contra o outro. A jurisprudência tem
permitido a divisão da área, visando a harmonização. É a posse pro diviso.

Na indiviso, não há divisão.

Posses natural e civil (ou jurídica): a natural é o exercício de poderes de fato


sobre a coisa. A civil ou jurídica é uma posse por força de lei, sem a
necessidade de atos físicos ou materiais (é o caso do locador). Exemplo:
locatário (tem a posse natural por ter a apreensão física da coisa) e locador
(tem a posse jurídica, não tem a apreensão física da coisa, mas tem a posse
protegida pelo Direito).

Aula 4 – 9/3/2016

Aquisição e perda da posse

Há autores que dizem que a sua regulamentação é de pequena utilidade. O


marco do início da posse é fundamental em casos de usucapião (determinação
de prazo).

No CC de 1916, o art. 493 trazia as formas de aquisição da posse. A


enumeração era taxativa. Havia um dispositivo de abertura permitindo outras
formas (era contraditório um rol taxativo e, ao mesmo tempo, permitir novas
formas). Por finalidade prática, o CC de 2002 retirou essa enumeração dos
modos de aquisição da posse.

1.204 CC - Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o


exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.

1.205 CC – Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:

I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;

II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.

Formas de previsão de posse de 1916:

Ato unilateral – a aquisição da posse se dava por ato unilateral. É o caso da


apreensão: res derelicta – coisa abandonada (a pessoa abre mão do seu
direito de propriedade, como o carro abandonado que vira sucata); res nullius:
coisa sem dono (caça, peixe).

10
A ocupação do imóvel é uma forma de apreensão e aquisição da posse. Uma
coisa com dono também pode ter a aquisição de um possuidor.

Aquisição bilateral – ocorre a transferência da posse, de um possuidor para


outro, com a tradição. Há várias formas de tradição: efetiva – ocorre a entrega
material, real (o bem móvel vendido, como um livro); simbólica – a entrega da
chave simboliza a tradição; ficta – decorre do consenso (constituto possessorio,
o possuidor, por um título, passa a ser possuidor por outro título – o dono do
imóvel o vende, deixa de ser proprietário, passando a ser o locatário e
possuidor direto; traditio brevi manu, se ocorre o caminho inverso, ou seja, o
locatário se torna o proprietário e possuidor).

Definição de Clóvis Bevilácqua sobre constituto possessorio: ocorre quando,


aquele possuía em seu próprio nome, passa, em seguida, a possuir em nome
de outrem.

Outra classificação leva em consideração à origem da posse:

 Aquisição originária: na originária, não há uma relação de causalidade


(um negócio jurídico) entre o possuidor novo e o anterior;
 Aquisição derivada: se existe uma relação de causalidade, um contrato,
há uma aquisição derivada (é precedida, portanto, de um NJ).

Essa distinção importa à posse e propriedade: se há uma aquisição


originária, a posse não estará eivada de vícios: já a derivada pode ter sido
adquirida com os vícios da posse anterior, como ter ocorrido posse injusta
(como na invasão de terra). As classificações são necessárias para a
resolução de casos práticos, resolvê-los de forma lógica.

Aquisição a título universal e singular: a aquisição se dá a título singular


quando se adquire uma coisa específica e determinada (a compra e venda
se refere a um objeto específico, determinado); já na universal, há a
transferência de uma universalidade (a biblioteca é considerada uma
universalidade).

Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu


antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do
antecessor, para os efeitos legais.

Exemplo: herança (há a aquisição de uma universalidade de bens, de todo


o patrimônio de uma pessoa – aquisição a título universal). O herdeiro,
sucessor a título universal, não tem a faculdade de ser separá-la19.

19
Em Direito das Sucessões, há herdeiros e legatários. Os herdeiros recebem a título universal; os
legatários recebem a título singular (são determinados pelo testamento: o cachorro, p.ex., é um legado
– aquisição a título singular).

11
Trecho colorido: a posse viciada, a título singular, não precisa ser juntada à
posse não viciada.

Art. 1206 CC – A posse transmite-se aos herdeiros e legatários do


possuidor com os mesmos caracteres.

Saisina (do verbo francês saisir) – antes mesmo do inventário, os filhos são
compossuidores (sucessores a título universal). Por uma ficção jurídica
considera-se que há a transmissão automática.

Essas distinções para os efeitos da usucapião: se podem se somar ou não


à posse anterior (se ocorrem ou não os vícios).

A posse com defeito anterior pode ser descaracterizada.

1.205 CC – A posse pode ser adquirida:

I – pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;

II – por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. [mandato –


contrato; a Procuração é um instrumento do contrato, é a materialização do
mandato – art. 653 do CC]

Próxima aula: Perda da Posse, Efeitos da Efeito

Exemplo:

* estudo de caso com compra e venda  transmissão da posse a título


singular – facultado somar (fundamento jurídico - art. 1.207 CC), no caso de
caso de usucapião;

* bem transmitido por herança: universal – obrigado a somar;

* legatário – singular, contudo há exceção, pois segue a mesma regra


da herança (fundamento jurídico - art. 1206 c/c 1207 CC) - PROVA

Aula 5 – 10/3/2016

A perda da posse não é enumerada no CC atual. Há duas regras genéricas


pelos artigos 1223 e 1224 CC.

No CC de 1916 a perda da posse era enumerada: abandono, tradição,


perda, destruição, posse de outrem e constituto possessorio. Há clara
influência de Savigny, pois está implícita a perda do animus e o corpus. No
CC 2002 foi retirado.

12
Perda do objeto material: destruição do bem  perda da posse. Exemplos:
animal que fugiu da jaula; ilha invadida por água por derretimento das
calotas polares; coisa colocada fora do comércio20.

Art. 1.224 CC. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou
o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou,
tentando recuperá-la, é violentamente repelido.

Exemplo: imóvel invadido durante ausência do proprietário por dois anos.


Este, tendo notícia do esbulho, entra com uma ação de força nova
(reintegração de posse), em virtude da perda da posse para os invasores.

Efeitos da posse – a detenção não tem efeito jurídico (há apenas uma
relação de fato). O furto de um veículo, p.ex., não tem efeito jurídico
nenhum (há apenas efeito no plano fático, a relação de uma pessoa com a
coisa). Na posse há efeitos jurídicos, sendo os principais: 1) proteção
possessória e 2) pode gerar a usucapião.

Alguns outros efeitos: 3) percepção de frutos; 4) efeitos perda ou


deterioração da coisa; 5) efeitos em relação às benfeitorias (necessárias –
para manter a integridade da coisa, tendo como exemplo clássico o
conserto de um telhado; úteis – aumentam a utilidade do bem, como o
aquecedor na casa localizada em lugar frio; voluptuárias – para mero deleite
e aformoseamento, como uma banheira e uma fonte decorativa -> não se
pode pedir indenização por elas).

Proteção Possessória – gênero, formada por duas espécies: a legítima


defesa (defesa direta); e as ações possessórias.

Defesa direta da posse (legítima defesa) – presença estatal como regra


(pelo monopólio da jurisdição). Há possibilidade de autotutela no caso da
legítima defesa -> excludente de antijuridicidade (regra genérica - art. 188
CC21).

Regras específicas – art. 1210 CC 22 -> a legítima defesa existe no “manter-


se”; o desforço imediato é “restituir-se”. A defesa direta da posse deve ser
20
Coisas insuscetíveis de apropriação, como aqueles gravados com cláusula de inalienabilidade.
21
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou t5rrrra lesão a pessoa, a fim de remover perigo
iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem
absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

22
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de
esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força,
contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à
manutenção, ou restituição da posse.

13
incontinenti à agressão, ou seja, logo após a agressão (não se pode
aguardar dois anos para repelir “sem terras”, estando o autor sujeito a
responder pelo crime de exercício arbitrário das próprias razões). Assim, o
desforço imediato não é admitido no caso de uma posse de força nova (é
necessária a ação possessória23). Portanto, a legítima defesa é diferente
do desforço imediato.

Interditos possessórios – no Direito Romano, as ações possessórias eram


chamadas de interditos, de onde origina a palavra ainda usada. Há três tipos
de ações tipicamente possessórias no Brasil: reintegração de posse (esbulho),
manutenção de posse (para turbação) e interdito proibitório. Outras formas
admitidas são nunciação de obra nova, embargos de terceiro e imissão na
posse.

Exceção de domínio – antes existia essa previsão no CC de 1916. Discutia-se


o domínio, pela questão do melhor possuidor, em ações possessórias.
Atualmente, não cabe exceção de domínio em ações possessórias.
PROVA

Juízo possessório e juízo petitório: na ação possessória, não se alega


propriedade (antigamente, pelo CC antigo, admitia-se a “exceção de domínio” –
exceptio proprietatis), não se discute quem é o proprietário; pede-se na ação
petitória em caso de alguém reivindicar (requerer o imóvel) com base no título
da propriedade (a fim de obter a posse). No caso do trânsito em julgado de
uma ação possessória, pode haver uma ação reivindicatória (petitória).

Possessória: não se alega propriedade; petitória: não se alega posse.

Fundamento legal para não dizer que não se pode alegar propriedade em juízo
possessório: Art. 1210, § 2º - Não obsta à manutenção ou reintegração na
posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.

Aula 6 – 16/3/2016

A manutenção da posse visa dar uma resposta à turbação. Requisitos: 1)


provar turbação atual (não adianta alegar turbação que ocorre há 3, 4 anos); 2)
conservar a posse (se houve perda da posse, não faz sentido); 3) que a
turbação ocorre em menos de ano e dia.

§ 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito


sobre a coisa.
23
Se demorou, deve entrar com ação possessória

14
É feita uma petição inicial, o rito da ação é especial (por ocorrer em menos de
ano e dia). Ajuizada a ação, o juiz pode deferir a liminar, sem ouvir as partes
(inaudita altera parte) ou, se não estiver suficientemente convencido pela
inicial, ouvi-las em audiência de justificação, nas quais as partes poderão
justificar a sua posse (previsão no art. 562 NCPC24).

Contra PJ de DP: não é feita reintegração em liminar em casos contra a União


(é sempre feita uma audiência de justificação para ouvir as partes). O juiz não
concede de plano. Os advogados da União representam a União em juízo.

Alguns pontos que valem para todas as ações possessórias e se


diferenciam das demais

Regras gerais: 1) cumulação de pedidos – as ações possessórias permitem,


pela legislação, a cumulação de alguns pedidos (se for pelo r. especial, não
pode cumular pedidos, exceto se houver previsão legal – art. 555 NCPC 25).
Pode haver indenização por frutos e condenação por perdas e danos em
reintegração de posse, p.ex.

Se o pedido pretende ser cumulativo sem previsão legal, é preciso entrar pelo
procedimento comum/ordinário. Ex.: o autor pretende cumular uma rescisão
contratual em um compromisso de compra e venda (não há previsão dessa
cumulação e, então, não pode o autor entrar com a ação pelo rito especial).
Outra situação: ação possessória cumulada com demarcação de área. Se a
cumulação pretende ocorrer além das previsões legais, é necessário entrar
pelo rito comum. Se o pedido cumulativo, sem previsão legal, é feito pelo rito
especial, o juiz pode pedir para emendar a ação ou extinguir o processo.

Fungibilidade dos interditos: o juiz pode substituir um pedido por outro,


quando a situação fática se modifica nos três tipos de ações possessórias – art.
24
Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição
do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor
justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada.

Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a
reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.

25
Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:

I - condenação em perdas e danos;

II - indenização dos frutos.

Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e adequada para:

I - evitar nova turbação ou esbulho;

II - cumprir-se a tutela provisória ou final.

15
554 NCPC26. Se, p.ex., entrou-se com uma ação de manutenção de posse,
mas a posse, em vez de ser turbada, é invadida/esbulhada. Nesse caso a ação
não é extinta, sendo possível a fungibilidade (a apreciação passa a ser de outro
pedido). Não é possível a fungibilidade em outros tipos de ação, como
relacionada à locação.

Caráter dúplice (556 do NCPC27) – ex.: ação de cobrança – na contestação, o


réu alega que não deve 100 e sim que o autor lhe deve. Como juiz julga o
pedido? O juiz julga improcedente o pedido. Ainda que o réu tenha razão, o juiz
não pode dar os 100 que alega. Para ele obter o 100 que deseja é preciso
entrar com uma reconvenção que tem a natureza de outra ação. Na mesma
ação “não é possível pegar a lã e sair tosquiado”.

Já na ação possessória o caráter dúplice é possível. A ação possessória é uma


via de mão dupla: se o autor foi esbulhado e pede a reintegração, mas o réu diz
que o esbulhado foi ele e também pede a reintegração, o juiz verifica quem tem
a melhor posse e concedê-la. Na ação possessória, pode ser que o réu tenha
razão, e a posse pode lhe ser concedida. Desse modo, não é necessária a
reconvenção (na ação comum seria necessária). No Juizado Especial, nas
esferas estadual e federal, também é possível esse pedido, mas não é
chamado de caráter dúplice e sim de pedido contraposto.

Ação de reintegração de posse – há o possuidor esbulhado e tem de haver a


perda da posse, em menos de ano e dia. A liminar pode ser concedida de
plano ou exigir justificação para o juiz dar a reintegração. A regra é parecida
com a manutenção: a diferença é que nesta há a turbação.

Interdito proibitório (utilizada em caso de ameaça) – a ameaça deve ser séria,


caracterizada pelo justo receio (esbulho iminente). Pena: multa em caso de
transgressão à proibição de ameaça. Art. 567 NCPC28.

Outras ações consideradas por parte da doutrina como possessórias29:

Nunciação de obra nova – também chamada de embargo de obra nova. Qual


a sua finalidade? Visa impedir que a continuação de uma obra nova que
prejudica o proprietário ou possuidor de outro prédio. O objetivo é impedir a
continuidade das obras. Significa que ela está sendo construída em desacordo
26
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do
pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.
27
Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a
proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido
pelo autor.
28
Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse poderá
requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que
se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito.
29
Estão mais relacionadas à proteção da propriedade.

16
com regulamentos administrativos. Ex.: construção de arranha-céus em
cidades como Brasília e Paris que não permitem prédios com mais de 6
andares.

Ela tem caráter possessório, porque pode ser utilizada também pelo possuidor
(e não apenas pelo proprietário). A Ação de Nunciação de Obra Nova, pelo rito
especial, não encontra previsão no NCPC. Nesse caso, entra-se com o pedido
pelo rito ordinário.

Requisitos para Ação de Nunciação de Obra Nova: 1º) Posse ou


propriedade do prédio prejudicado; 2º) existência de obra nova (se não é
nova, ou seja, está na fase de acabamento/arremate, não é o caso de
nunciação de obra nova). Se a obra é velha, o juiz julga a ação carente, ou
seja, considera a falta uma das condições de ação (falta de interesse de
agir pela modalidade adequação, pois o rito processual não é adequado).

Ação demolitória – Se passou o prazo de obra nova, a ação é demolitória


(como a construção de um rancho em áreas de APP). Pode o condômino se
valer dessa ação.

Embargo extrajudicial para nunciação de obra nova – não existe mais (por
não ter mais o rito especial). Havia notificação verbal. Com o NCPC, ele
deixa de existir.

Embargos de terceiro - é uma ação conferida a uma determinada pessoa


que não é parte no feito e sofre turbação ou esbulho em decorrência desse
processo. Pode acontecer por penhora, aresto, sequestro, venda judicial,
arrecadação, partilha etc. nos quais é preciso defender o bem. Antes se
falava de embargos de terceiro apenas por “senhor e possuidor”
(proprietário e possuidor). Atualmente, basta apenas que seja possuidor. O
embargante alega domínio ou posse.

Ação de Imissão na Posse – o NCPC não faz previsão para essa ação
pelo rito especial (mas continua sendo possível pelo rito ordinário). Em
resumo, serve para comprovar o domínio da coisa que não foi possuidora
de fato (natural) e pede-se a posse jurídica. Ex.: arrematação de imóveis –
arrematou-se o imóvel que estava vazio. Chegou-se lá e verificou-se que o
imóvel está ocupado pelos sem terra: a pessoa tem a propriedade, tem a
carta de arrematação levada a registro, mas, mesmo assim, não tem a
posse de fato/natural (apenas a jurídica). Daí, entra-se com a ação de
imissão para a comprovação do domínio (com a posse jurídica) e assim
ocorrer a retirada dos sem terra.

Aula 7 – 17/3/2016

17
Posse de servidões – é um direito real sobre coisa alheia. Há os prédios
dominantes e servientes (um prédio serve a outro).

Ex.: passagem pela fazenda - para se ter a servidão da posse é necessária


a exteriorização.

Requisitos: aparente e contínua.

1379 CC, § único: existe a possibilidade de posse de servidão. Ocorre


apenas pela exteriorização do domínio.

Servidão de posse era, anteriormente, chamada de “quase-posse”.

Súmula 415 do STF

Efeitos da posse em relação aos frutos30: interessa saber se está de boa ou


má-fé. Art. 1214 CC.

Despesas em frutos de má-fé: ressarcimento do custo de produção (visa o


enriquecimento ilícito).

Responsabilidade pela perda (de um carro) ou deterioração da coisa


possuída – art. 1217 CC. Culpa grave (equiparada ao dolo) X culpa (não se
responde pela deterioração da coisa).

Próxima aula: término de posse (começa propriedade)

Matéria da prova – apenas posse

Aula 8 – 30/3/2016

Efeitos em relação às benfeitorias – 1.219 a 1.222 CC

Há indenização pelas benfeitorias úteis e necessárias se o possuidor estiver


de boa-fé (direito de retenção até que não sejam pagas; voluptuárias podem
ser descartas). Se o possuidor estiver de má-fé, apenas será ressarcida
pelas necessárias.

Ao possuidor de má-fé, não cabe o direito de retenção (1.220 CC).

Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao


possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu
custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.

30
São periodicamente tiradas da coisa sem haver redução da coisa principal (natural; civil: como o
aluguel; industrial: manufatura; pendente: aguardando a retirada da coisa principal; percebidos: já
coletados; percepiendos: estão prontos para a coleta; consumidos; estantes: colhido e armazenado);
produto – tem a redução da coisa principal.

18
Importa, portanto, o pagamento de benfeitorias se o possuidor estiver de má
ou boa-fé. Escolha de boa-fé: valor atual; má-fé: o reivindicante escolhe o
valor.

Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao


ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem.

Benfeitorias X acessões industriais – a benfeitoria é um acréscimo a uma


coisa que já existe, como um quarto construído a mais na casa; acessões:
uma coisa que não existia, como uma sede construída numa fazenda. Os
regimes jurídicos se diferem para esses casos.

Direito de retenção: é uma forma, uma defesa direta do possuidor. Consiste


em conservar coisa alheia além do momento/tempo que deveria a fim de
forçar uma pessoa a pagar uma indenização. Se a benfeitoria é útil e
necessária, há o direito de retenção. Ex.: uma coisa pode ficar com uma
pessoa, estando ela de boa fé, até que outra lhe pague. Estando de má-fé,
há o exercício arbitrário das próprias razões.

É, assim, um meio coercitivo, uma forma de compelir uma pessoa a pagar


uma dívida. A prisão por alimentos, p.ex., é um meio coercitivo, uma forma
de um pai ou mãe a pagar alimentos ao filho. Uma prisão por alimentos
nada tem a ver com prisão penal, não cabendo progressão de regime.

No tocante ao direito de retenção, a matéria é controversa: alguns dizem


que se trata de um direito pessoal; outro de um direito real. Não haveria
retenção para direito real. Assim, não seria um direito real. Argumento: art.
1227 CC.

Caso reconhecido pela jurisprudência: oficina mecânica, conserto de


veículo: a jurisprudência entende que, até o pagamento do serviço, seria
permitido o direito de retenção do carro. A benfeitoria no carro seria
necessária. Quem efetuou o reparo recebeu o veículo de boa-fé, portanto
caberia o direito de retenção. Cabem, entretanto, os deveres do depositário
e responsabilidade decorrente de danos ocorridos durante a retenção.

Matéria da prova até aqui

Propriedade

O contrato de locação não pode se tornar um direito real. Não há previsão


legal no art. 1.225 CC. Hipótese excepcional: há possibilidade de um
contrato de locação no Cartório de Registro de Imóveis (Lei do Inquilinato).
Isso não significa que o contrato de locação seja um contrato de Direito
Real.

19
Transmissão da coisa móvel: dá-se apenas pela tradição.

Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou


transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição.

Transmissão do imóvel com registro no Cartório de Registro:

Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por


atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de
Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos
neste Código.

Domínio X propriedade: alguns fazem essa distinção. É raramente aplicada.


A propriedade é um direito subjetivo mais complexo existente. Constitui o
próprio cerne dos Direitos Reais. Conhecendo o domínio, entende-se os
direitos reais e a posse. Para compreender a posse é necessário
compreender a propriedade e vice-versa.

A propriedade era conhecida a espinha-dorsal do Direito Privado (Silvio


Rodrigues), pois a sociedade era essencialmente patrimonialista.
Atualmente, importa mais a pessoa para o Direito31.

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da


coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente
a possua ou detenha

Os romanos já reconheciam os direitos de propriedade:

Ius utendi – faculdade de usar. Implica a possibilidade de usar a coisa de


acordo com a sua vontade.

Usufruto – usar e fruir. Resta ao proprietário dispor. Usufruto de bens pelos


pais aos filhos: os bens podem dispor os bens, podendo os filhos os
venderem a qualquer tempo (não apenas após a morte do pai).

Ius fruendi – gozar ou fruir. Há possibilidade recolher frutos e explorá-la


economicamente.

Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando


separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial,
couberem a outrem.

31
As coisas têm valor, mas as pessoas não. Essas têm dignidade, como defende Kant, logo os Direitos de
Personalidade são os mais importantes para o Direito. A Parte Geral do DC é construída na linha
kantiana.

20
Ius abutendi (distraendi) – no sentido de abusar (não significa que a coisa
pode ser gratuitamente destruída em vista de sua função social). Significa
dispor, alienar a coisa a qualquer título. Interessam as coisas não
consumíveis.

Livro – Para os efeitos da disposição é inconsumível. É consumível apenas


na situação do comerciante.

Poder de reivindicação – tem a natureza de uma ação real, petitória.


Fundamenta-se no direito da propriedade.

PROVA - Lista de ações – qual ação é possessória e real?


Reintegração, interdito, reivindicatória.

Direito de sequela - o direito de reaver é consequência da sequela que


permite que o titular do direito real o exerça contra qualquer pessoa.

Aula 9 – 31/3

A propriedade tem naturezas absoluta, perpétua e exclusiva.

A propriedade era um direito absoluto e ilimitado do proprietário que,


atualmente, não pode usá-la como bem entender. Há limitações, pois
nenhum direito é absoluto.

O direito de propriedade é fundamental, incluído no art. 5º da CF. É


necessário sopesar um direito de acordo com a hierarquia, cronologia e
especificidade.

A propriedade não é absoluta por incidir outros princípios constitucionais.

Direitos absolutos e relativos – direitos reais: absolutos; relativos:


obrigacionais, inter parts. A propriedade tem caráter absoluto, é oponível
erga omnes.

A propriedade é um direito exclusivo, porque o titular do direito pode exclui-


lo de qualquer outra pessoa. A propriedade se revela plena e exclusiva até
que se prove o contrário (art. 1231 CC). A desapropriação pode ser uma
forma de adquirir e perder a propriedade.

Exclusividade e condomínio – .

Perpetuidade – o direito é irrevogável. Perde-se pela própria vontade ou por


previsão legal.

Em resumo, a propriedade tem caráter absoluto (contudo, com ressalvas),


exclusivo e perpétuo.

21
Fundamentos da propriedade

Por que existe a propriedade? Teoria da Ocupação – a propriedade existe


para ser ocupada. Contestação: a ocupação não é fundamento para
aquisição da propriedade.

Outra concepção: a propriedade está fundamentada nas leis da natureza


(jusnaturalismo); para outros por estar prevista na lei.

Justificativa constitucional – A propriedade é um direito fundamental que


não pode ser abolido  cláusula pétrea (art. 60, 4º, I a IV CF).

Direito pleno e ilimitado – plena é a propriedade que tem todos os seus


elementos: uso, gozo e disposição.

Limites ao direito da propriedade

Na Antiguidade o direito era ilimitado (dizia-se que era usque ad


siderus/inferus – até o céu e inferno).

Altura e profundidade: limitações expressas no Art. 1.229. A propriedade do


solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e
profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a
atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou
profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las.

Art. 176 CF - As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os


potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo,
para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União,
garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra. [Há
compensação ao proprietário pela exploração.]

Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais


recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos
arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais.

Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos


minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não
submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto em lei
especial.

Evolução do Direito de Propriedade

No Direito Romano a propriedade tinha caráter individual, diferentemente da


concepção atual que possui diversas limitações. O ouro encontrado na

22
própria propriedade era do proprietário romano. A partir da queda de Roma,
o feudalismo trouxe a concepção dualista da propriedade, entre o vassalo
(explorado) e o senhor (proprietário). O regime feudal durou até a
Revolução Francesa com o advento do Código Napoleônico. Entre as ideias
burguesas, o imposto ao senhor feudal não fazia mais sentido, e a
dualidade foi suprimida.

Em resumo - Antiguidade: individualista; Feudalismo: dualista; Revolução


Francesa: individualista.

A partir da Revolução Industrial, do movimento socialista e encíclicas papais


o direito de propriedade sofreu atenuação, uma diminuição do poder do
proprietário e surgiu a ideia de função social da propriedade 32. No Brasil há
essa previsão na CF, art. 5 º, XXIII (a propriedade atenderá a sua função
social), XXIV (ocorre desapropriação por utilidade pública ou interesse
social mediante justa e prévia indenização33).

Há, portanto, a garantia da propriedade desde que atendida a sua função


social.

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa,


e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua
ou detenha.

§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as


suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados,
de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as
belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico,
bem como evitada a poluição do ar e das águas. [Previsão a partir do CC
2002]

Legislação especial: Código de Águas, Código Florestal

§ 2º São defesos [proibidos] os atos que não trazem ao proprietário


qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de
prejudicar outrem.  Uso abusivo da propriedade (ato emulatório: ato que
visa tão somente prejudicar o vizinho)

Defeso – que não é permitido, interditado, proibido. Substantivo: período do


ano que é proibido caçar e pescar.

32
Alguns chamam isso de socialização da propriedade que não encontra aceitação por levar à ideia de
que a propriedade será socializada, ou seja, haverá sacrifício da propriedade privada.
33
O confisco é autorizado em casos de trabalho escravo e exploração de atividade ilegal (como uma
propriedade com plantação de maconha).

23
Aula 10 – 6/4/2016

Caracteres da propriedade: perpetuidade, exclusividade, absolutismo e


elasticidade (o caráter elástico da propriedade refere-se à perda dos
poderes de uso, gozo e disposição).

A Lei de Locações limita o caráter absoluto da propriedade. A Ação


Renovatória (renova o contrato em determinadas situações, como no caso
de comércio).

Em que toca o caráter exclusivo, há tendência ao desdobramento da


propriedade (passar poderes a terceiros, ou seja, passam a ter poderes
reais sobre a coisa alheia).

Perpetuidade – em 1934, com a CF, o Código de Minas expropriou, retirou


a propriedade das mãos das pessoas. As jazidas eram dos proprietários.
Isso afeta o caráter perpétuo da propriedade. As jazidas passaram a ser da
União. Limitações da propriedade: desapropriação, reforma agrária.

Há uma inegável tendência, na legislação infraconstitucional e


constitucional, vinculá-la à função social. Os caracteres da Revolução
Francesa passaram a ser mitigados.

Modos de aquisição da propriedade

Aquisição natural de imóvel: art. 79 CC. A incorporação natural dá-se pela


plantação. Artificial: prédio. Navios e aeronaves, para fins de hipoteca, são
imóveis, mas são bens móveis.

Art. 82 CC: bens suscetíveis de movimento próprio - animais.

Art. 80 – A Ação possessória é um bem móvel –pois, pelo inciso I, a ação


petitória é um bem imóvel, um direito real.

Direito a Sucessão Aberta (II) - bem imóvel.

Art. 81 – I (transporte de casa – não deixa de ser imóvel); II – tijolos de


parede reempregados (continuam sendo imóveis).

Art. 83 – energia elétrica – considerada um bem móvel pelo inciso I.

Art. 84 – materiais de construção – bens móveis. Os tijolos de demolição


voltam a ser móveis.

Lei 9.610 – os direitos autorais reputam-se bens móveis.

24
A diferenciação entre bens móveis e imóveis é de origem medieval,
persistiu na legislação portuguesa (assim como outros códigos romano-
germânicos), a partir da qual se baseia a legislação brasileira.

Formas de transmissão de bens – feito por registro ocorre nos bens


imóveis; nos móveis ocorre pela tradição. O contrato de compra e venda
não transmite propriedade (diferentemente das legislações portuguesa,
francesa e italiana – basta o contrato para transmitir a propriedade).

Distinções: arts. 1226 e 1227 CC; 1245 CC

Classificações:

Quanto à Causa de Aquisição - a depender da relação jurídica entre o


atual e o anterior – derivado; se não tiver relação jurídica – originária (como
a usucapião, a caça, pesca, um veículo abandonado/res derelicta). O que
acontece com a usucapião de uma propriedade com o usufruto? O usufruto
não permanece.

O problema da aquisição derivada é adquirir com todas as limitações da


propriedade. Se a compra e venda de imóvel que estava em usufruto, ele
adquire a propriedade com usufruto. Se ocorre uma venda de um imóvel
que está sob hipoteca, a hipoteca prossegue com o imóvel.

Compra e venda de imóvel – por ser uma aquisição derivada, deve ser
verificada a cadeia de proprietários (linha sucessória) e o prazo da
usucapião (15 anos para extraordinária). Se até 15 anos antecedentes não
há problema algum com imóvel, não se contesta a propriedade.

Art. 108 CC – escritura, feita no cartório de Notas, em qualquer município


brasileiro, é necessária se o valor do imóvel é de 30 vezes o salário mínimo
vigente. O registro é feito no município onde o imóvel está situado.

Quanto à Maneira que será Processada a Aquisição – singular (aquisição


de um bem específico e determinado, como um contrato de doação,
permuta); universal (herança – por ficção jurídica há transmissão da posse
e da propriedade). Princípio da Continuidade – há transmissão da posse e
propriedade34.

Aula 11 – 7/4/2016

Modos de aquisição imóvel

Registro da escritura – cartório de notas e títulos de qualquer lugar.

Registro do imóvel – feito cartório de registro de imóveis do município. Se


tiver mais de um cartório, deve-se verificar o cartório a qual a propriedade
34
Saisina – vem do verbo francês saisir (Le mort saisit le vif). Princípio da Saisina – art. 1.784 CC.

25
está ligada (jurisdição imobiliária). O registro leva à presunção relativa
(admite prova em contrário)35.

O instrumento público é apresentado ao cartório que faz uma anotação no


livro de protocolo. Essa anotação leva ao registro. Se o oficial verifica
problemas na documentação, ele pede o complemento ou correção da
documentação para assim haver o registro. Se a correção não puder ser
feita, o oficial pode realizar um procedimento que pode suscitar dúvida em
relação ao título que será levado ao juiz estadual que corresponde pelo
cartório de registro de imóveis. Se a dúvida do oficial for procedente, o
oficial cancela a apresentação do pedido de registro. Se for julgada
improcedente, o título será apresentado novamente eserá realizado o
registro. Se o juiz julga em 30 dias, o registro guarda o mesmo número (é
chamada prenotação). Se depois desse período, o registro recebe outro
número. A legislação é criticada por isso, porque o registro, depois desse
período, outra pessoa pode fazer registrar e prejudicá-la. A data de registro
é a anotada no livro de protocolo. Se duas pessoas levaram a registro o
mesmo instrumento, é verificado o número do protocolo (quem registrou
primeiro adquire a propriedade). A suscitação de dúvida, após 30 dias, há
um novo pedido de protocolo (e quem levou a registro depois acaba ficando
com o registro).

Lei 6.015/73 (Lei de Registros Públicos), art. 174; art. 182, 183, 184, 185,
186.

Atos não contratuais sujeito à transcrição – como no caso da usucapião (a


sentença não é um ato contratual, mas está sujeita a registro). O que leva a
pessoa a adquirir a propriedade não é a sentença (e sim o ato). A sentença
apenas declara o ato.

Outra ação que tem de ser levada a registro – herança (a partir da morte há
automática transferência da posse e propriedade). Apesar de ser
proprietário dos bens do falecido, a partilha (o inventário), registrada, leva a
continuidade no registro a fim de dar publicidade da informação.

Outra ação é a divisória, como no caso de condomínio (duas pessoas são


donas do mesmo imóvel). A sentença de divisão de uma grande fazenda,
p.ex., deve ser levada a registro.

Enfim, atos contratuais e não contratuais podem ser registrados.

Outro modo de aquisição de propriedade é acessão.

Acessão
35
Pela doutrina alemã, feita por brasileiros, considera-se uma presunção absoluta. Originalmente, não é
assim considerada. Há dois contratos: um contrato de compra e venda e outro para transferência. Na
Áustria e Suíça, o sistema é similar ao brasileiro.

26
E o aumento do volume ou valor de uma coisa principal em razão de um
elemento externo. Uma coisa é incorporada por outra. Assim há aumento de
volume e também de valor. Ex.: um prédio construído num terreno, aumenta
o seu volume, constitui uma acessão.

Benfeitoria (acréscimo ao que já existe) X acessão (acréscimo que traz


elemento novo).

A acessão pode se dar por causas naturais ou pela vontade humana. Ex.:
acréscimo de terra em propriedade decorrente de volume de água;
construção de ilhas artificiais no mar em Dubai (também é uma forma de
acessão). Quem será o proprietário da terra que aumentou de volume ou
valor?

No Direito brasileiro, o acessório segue o principal. A terra seria, em regra,


do dono primitivo, mas há exceções (de forma a evitar um condomínio
indesejado). Levam-se em consideração os seguintes princípios: 1)
vedação ao enriquecimento ilícito; 2) o acessório seguindo o principal.

Ou “A” retira a acessão ou “B” passa a ser o seu proprietário.

A acessão é uma forma de aquisição da propriedade, prevista pelo art. 1248


CC. Hipóteses de acessão: 1) acessão por formação de ilhas; 2) acessão
por aluvião; 3) acessão por avulsão; 4) abandono de álveo (álveo
abandonado); 5) construção ou plantação.

Acessão por formação de ilhas – rios navegáveis (rios públicos) X não


navegáveis (rios particulares). Navegáveis que passam por mais um
Estado: competência da União (apenas num Estado: competência
estadual). A investigação cabe a PF e a apreciação pela Justiça Federal.

Rios não navegáveis são os que importam para o Direito Civil, porque diz
respeito aos particulares.

Art. 1249 CC

I) Ilhas formadas em rios não navegáveis – a ilha, no meio do rio, é


dividida ao meio entre os proprietários ribeirinhos.
II) Ilha formada de um dos lados – exclusivamente de propriedade dos
ribeirinhos que estiverem de frente pra ela.
III) Ilha formada por deslocamento de um braço do rio – continua a
pertencer a quem é dono da terra.

Essas hipóteses estão também previstas no Código de Água (há hipóteses


que correspondem a do Código).

Art. 1.250 CC

27
Aluvião – é o aumento insensível em rio anexa às terras marginais e de
forma vagarosa que, em dado momento, é impossível apreciar a quantidade
acrescida.

O proprietário do acréscimo é o dono das terras marginais. O acessório


segue o principal.

Código de Águas (art. 16): constituem aluvião os acréscimos que acessiva e


imperceptivelmente se formaram pelo mar...afastamento das águas.

Aula 12 – 27/4/2016

Próxima aula: Começa em Avulsão

Art. 1.251 CC

Requisitos pelo C. de Águas: reconhecibilidade e força das águas 36 para


remoção da porção de terra.

Se o proprietário nada fizer, passado um ano, incide o prazo decadencial.

Abandono de Álveo

Álveo – é o leito do rio. O leito do rio deixa de existir, ocorrendo o


abandono. Quem será o proprietário dessas terras que deixaram de ser rio?
Os proprietários das terras que margeavam o antigo curso do rio. O novo
curso das águas terá de ser tolerado pelos respectivos proprietários.

Acessão – 1.248 CC: formação de ilhas; por aluvião

Plantações ou construções37

Regra geral: 1.253 CC – presunção de que o acessório segue o principal

Situações: 1ª) o dono do solo que edifica ou planta em terreno próprio com
materiais alheios; 2ª) o dono da semente ou material de construção que
constrói ou planta em terreno alheio; 3ª) plantação ou construção alheia em
terreno alheio.

1ª) Art. 1.254 CC - os materiais, como acessórios, seguirão o principal. Se


estiver de boa-fé, haverá indenização aos materiais de construção e
sementes a fim de evitar o injusto enriquecimento; se estiver de má-fé,
haverá pagamento do respectivo e valor, além de perdas e danos.

2ª) Art. 1.255 CC; § único (ex.: construção de prédio com metragem
superior à do terreno)
36
Tem de haver força maior. Do contrário, será força humana e ocorrerá indenização
37
Testes na P2. Descrição de cada um e respectiva identificação

28
3ª) Ambos de má-fé: art. 1.256 CC

Edificações construídas em terrenos alheios: art. 1.258 CC. Boa-fé:


indenização deve cobrir a área perdida e a desvalorização do imóvel. Má-fé:
menos de vigésima parte, § único: indenização de 10 X esse valor para
aquisição da propriedade.

Invasão de boa-fé e acima da vigésima parte do solo: mesma regra do


artigo anterior; má-fé: demolição e pagamento de perdas e danos, pagos
em dobro.

Prescrição38 extintiva: adota-se o conceito de pretensão (anspruch) de


origem alemã. Assim, considera-se a perda da pretensão (e não de ação,
porque a pretensão independe do direito material); prescrição aquisitiva: é o
sinônimo de usucapião.

Em determinadas situações, da mesma forma que há pretensão extintiva, o


tempo pode influenciar e contar para a aquisição de um direito.

Aula 13 - 28/4/2016

Pressupostos da usucapião

No Direito Romano os requisitos eram os mesmos (apenas os prazos eram


diferentes)

Requisitos da usucapião (modo originário de aquisição da propriedade)


ordinária:

Res habilis (coisa hábil) – coisa que não esteja fora de comércio. Não pode
ser um bem público39.

Fides (boa-fé) – boa-fé subjetiva. Em Direitos Reais, importa a boa-fé


subjetiva. Para obter a usucapião importa a boa-fé OBJETIVA, ou seja,
ignorar o vício (art. 1.201 CC).

Tempus (tempo) – na usucapião ordinária o prazo é de 10 anos, conforme o


art. 1.242 CC. Na usucapião extraordinária, 1.238 CC.40

38
Silvio Rodrigues: perda do direito de ação
39
Qualquer bem público: bens uso comum do povo, dominicais e uso comum do povo - artigos 98 e 99
CC
40
Causas que obstam (o prazo não começa), suspendem (o prazo volta ocorrer do zero) e interrompem
(para e volta a correr tudo de novo) a prescrição. Impedem e suspendem: arts. 196-201; Interrupção:
arts. 202-204

29
Possessio (Posse) – para aquisição da usucapião ordinária é necessária a
posse mansa e pacífica. A posse não pode ser perturbada, não pode ter
oposição. Acessão de posse – união de posse41.

Titulus (Título) – existência de “justo título” (contrato/documento que


aparentemente daria a posse/domínio ao bem, mas não dá, ou seja, não há
transferência do título). Ex.: compra e venda a non domino.

Todos os prazos que valem para a prescrição aquisitiva valem para a


extintiva.

Outro requisito é a sentença judicial. A sentença da usucapião é


declaratória: Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição,
possuir como seu imóvel, adquire-lhe....podendo requerer ao juiz que assim
o DECLARE por sentença.

Finalidade: a sentença é apenas declaratória (não constitui o direito porque


já está constituída42). O registro da sentença visa a publicidade, a tornar os
efeitos públicos (Princípio da Publicidade dos Registros Públicos/Princípio
da Continuidade dos Registros Públicos).

Usucapião extraordinária – independe de título e boa-fé. Requisitos:


posse, tempo e coisa hábil. São considerados requisitos não exigidos.
Tempo: 15 anos43.

Redução de prazo: parágrafo único – redução para 10 anos se a pessoa


passa a morar no imóvel ou realizar obras (trabalhos) ou serviços de caráter
produtivo44.

Usucapião ordinária – art. 1.242 CC -> título + boa-fé + 10 anos

Houve mudança dos prazos para usucapião extraordinária: antes 20 anos;


atualmente, 15. O que acontece com o prazo que começou a ser contado
em vigência da lei antiga? Se transcorreu mais da metade, vale o prazo da
lei anterior; do contrário, da lei atual – art. 2.028 CC

Regra da enfiteuse (direito real que não está no rol do art. 1.225 CC): as
antigas continuam existindo (embora novas não possam ser constituídas).
Na enfiteuse o proprietário não tem uso, fruição e disposição (tem direito de
receber o cânon, espécie de aluguel anual pago ao proprietário; e laudêmio,
a palavra vem de laude, uma espécie de louvor, em referência à época

41
A acessão pode se dar por sucessão a título universal – herdam-se os vícios. Se a posse herdada do de
cujus foi de má-fé, a do sucessor assim também será.
42
Há posicionamento divergente, como o de Silvio Rodrigues (que considera a sentença como de caráter
constitutiva)
43
Teste da P2: fará menção a prazos.
44
Em prestígio da função social da propriedade

30
medieval, na qual o senhor feudal, em “louvor”, recebia uma taxa 45). Vende-
se a enfiteuse, não a propriedade.

Aula 14 – 4/5/2016

Usucapião ordinária – todos os requisitos (art. 1.242 CC). Redução para


cinco se a pessoa exerce a função social.

Extraordinária – art. 1.238 CC. Redução também para metade se houver


exercício social.

Usucapião especial – urbana e rural. São estabelecidas pela CF: arts. 183
e 191. Também há previsão no Estatuto da Cidade – arts. 9º (usucapião
urbana individual) e 10º (usucapião urbana coletiva).

Rural ou pró-labore – exercício da função social, incentivar quem explora e


ocupa a terra. O trabalho é valorizado para aquisição da terra. É uma forma
de fixar o homem à terra. Antes da CF, também havia previsão, mas, a
partir de 88, passou a ser constitucionalizada. Bens imóveis públicos não
podem ser adquiridos pela usucapião rural.

Art. 191 CF: Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de
terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares 46 [PROVA],
tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua
moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.

Não basta, portanto, uma posse simples, mas é preciso que a pessoa more
e trabalhe na terra. Não é necessário justo título e boa-fé.

PJ: pode adquirir usucapião rural? Não, porque não tem família e não vai
morar na terra.

Outro problema: acessão da posse (união da posse). Pode ou não? Não,


são requisitos personalíssimos, voltados a pessoas que estão trabalhando e
morando na terra.

A regra da CF é repetida no CC com a mesma redação: art. 1.239.

Como se sabe se a área é urbana ou rural? Basta saber se ela paga IPTU
(urbana) ou ITR (rural).

Usucapião especial urbana – como forma especial, também tem previsão


constitucional (art. 183 CF).

45
O controle é feito pelo SPU
46
Um hectare: 10 mil metros.

31
Art. 183 – Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para a sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem


ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil [união estável
não altera o estado civil].

2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma


vez.

3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Requisitos: prazo de cinco anos; até 250 m², não se aplica a um simples
terreno (pois precisa ter uma construção). A PJ também não pode adquirir
esse bem pela usucapião, pois não estabelecerá nele moradia e não tem
família. Não é necessário justo título e boa-fé.

Art. 1.240 CC – Aquele que possuir, como sua, área urbana de até
duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e
sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-
á o domínio, desde que não seja proprietário ou de outro imóvel urbano ou
rural.

§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem


e à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.

§ 2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao


mesmo possuidor mais de uma vez.

Disposição semelhante no Estatuto da Cidade (Lei 10.257, art. 9º). Ou seja,


há três menções ao mesmo assunto (CF, CC e Estatuto da Cidade, sendo
os dois últimos aprovados em datas próximas).

A previsão do Estatuto que se difere é em relação à acessão:

Art. 9º, § 3º - é possível a acessão de posse desde que seja um herdeiro


legítimo e resida no imóvel no momento da abertura da sucessão, ou seja, a
partir da morte (no caso da rural, não é possível).

Herdeiro legítimo (ou seja, previsto pela legislação) – que se difere do


herdeiro testamentário (este não pode ter a acessão de posse).

Inovação do Estatuto da Cidade (art. 10º): usucapião urbana coletiva. O


objetivo é regularizar áreas urbanas que viraram favelas ou aglomerados
residenciais que não são regularizados. Em suma, favorece a regularização

32
de ocupação irregular. Requisitos: área cima de 250 m², população de baixa
renda e não sendo possível individualizar a área de cada morador.

Usucapião familiar (inovação a partir de 2011): art. 1.240-A CC: aquele que
exercer, por dois anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com
exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250 m², cuja propriedade divida
com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou [abandono voluntário e
não por ordem judicial, Lei Maria da Penha] o lar, utilizando-o para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não
seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

Diferenças: tempo (dois anos); abandono de ex-cônjuge e ex-companheiro.

Usucapião indígena (Lei 6.001/73) – silvícola47, protegido pela Funai (casos


são apreciados na JF).

Art. 32 e 33 (dez anos, inferior a 250 m², moradia, não sendo exigidos justo
título e boa-fé, sendo, portanto, uma espécie de usucapião ordinária) do
Estatuto do Índio. Índio integrado ou não integrado – integrado pela Funai
ou não. Os índios não podem adquirir as terras da União constituídas em
reservas. Portanto, os índios adquirem as terras particulares e rurais (não
pode ser urbanas).

O NCPC (1.071) criou a usucapião extrajudicial. Deixa de existir um


processo judicial (acrescentou o 216-A da Lei de Registros Públicos – Lei
6.015), feita diante do cartório de Registro de Imóveis (desjudicialização de
determinados procedimentos). A usucapião extrajudicial é facultativa (pode
ingressar com a ação ou levar diretamente ao cartório, sendo necessária
uma documentação). Não pode existir impugnação ao pedido. Se há
impugnação do cartório, a pessoa entra com uma Ação Declarória de
Usucapião Extrajudicial, o juiz pede a emenda da inicial para incluir a
documentação e o processo mova o processo pelo procedimento comum
(antes chamado de ordinário).

Próxima aula: usucapião de coisas móveis e processo de usucapião

Aula 15 - 5/5/2016

Usucapião de coisas móveis – para coisas móveis há as mesmas regras


(1.260 e 1.261). Pela ordinária, também é necessário boa-fé e justo título.
Prazo de 3 anos.

Posse mansa e pacífica – usucapião de coisa móvel, sem título e boa-fé 


Prazo de 5 anos. Ex.: usucapião de veículo sem documento.

47
Silva + incola: origem latina - silva – floresta; incola – habitante.

33
Não é possível a usucapião de bens incorpóreos (porque não tem como ter
a posse).

Não há procedimento especial para usucapião (246 e 259, I). Tem apenas o
rito comum. É uma ação declaratória. Tem de ser foro rei citie. Todos os
vizinhos têm de ser citados, exceto se em condomínio. Tem de ser
publicado edital (art. 259, I CPC).

Art. 178, I – interesse social  participação do MP.

Aquisição da propriedade móvel

Formas

Acessão

Especificação

Invenção (Tesouro)

Ocupação (intitulo de coisas móveis; não há previsão para imóveis)

Usucapião

São seis formas de aquisição de propriedade móvel: usucapião, ocupação,


achado de tesouro (invenção), especificação, confusão e tradição.

Ocupação – tomada de posse de uma coisa sem dono (adquire-se o


domínio). Há coisas abandonadas (res derelicta), como uma televisão
jogada no lixo, e sem dono (res nullius). Não se adquire imóveis por
ocupação48. Art. 1.263 CC – Quem se assenhorear de coisa sem dono para
logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei.

Invenção (ou Achado de Tesouro) – tesouro é depósito antigo de coisas


preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória (art. 1.264 CC), como,
p.ex., um saco de moedas antigas encontrado na parede de uma casa
antiga. O problema é quando quem encontra o tesouro não é o proprietário
do prédio – nesse caso, é dividido por igual entre o proprietário do prédio e
que achar o tesouro casualmente.

Se o próprio proprietário encontrou, a ele pertencerá por inteiro (art. 1.265


CC). Se foi ordenado em pesquisa ou terceiro não autorizado, também será
tudo do proprietário.

Lei 7.542/86

48
Havia essa possibilidade no Direito Romano

34
Art. 1.266 CC Achando-se em terreno aforado, o tesouro será dividido por
igual entre o descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro uando ele
mesmo seja o descobridor.

Tradição – entrega da coisa: a propriedade das coisas não se transfere


pelos negócios jurídicos antes da tradição – art. 1.267 CC (a compra e
venda não transfere a propriedade, porque antes da tradição não houve
entrega).

Não é o registro do veículo que transfere a tradição. Havendo a entrega do


veículo, há transferência. Vale a regra res periti domino.

Art. 1.267 CC: tradição ficta - constituto possessório e traditio brevi manu.

Para que a tradição resulta efetivamente na aquisição do bem é


indispensável que a pessoa seja proprietário do bem.

Tradens – entrega de coisa que não é do proprietário – não há transmissão


da proprietário. Exceções: leilão e estabelecimento comercial que
oferece em circunstâncias de boa-fé (art. 1.268 CC)

§ 1º - é possível vender uma coisa que não é sua. O efeito da


transmissão só é válido com a aquisição.

Negócio jurídico nulo (§2º)

Especificação – matéria-prima transformada em outra coisa, como uma


escultura, a transformação do couro para confecção de um sapato.

Primeira regra: art. 1.269 CC – aquele que, trabalhando em matéria-prima


em parte alheia, obtiver espécie nova, desta será proprietário, se não se
puder restituir à forma anterior. Ex.: sapato, escultura que usa sucata (uma
parte com ferro-velho da pessoa e de outra – a diferença é paga a outra
pessoa).

Art. 1.270 – Se toda a matéria for alheia, e não se puder reduzir à forma
precedente, será do especificador de boa-fé a espécie nova.

§ 1º Sendo praticável a redução, ou quando impraticável, se a espécie nova


se obteve de má-fé, pertencerá ao dono da matéria-prima.

2º Em qualquer caso, inclusive o da pintura em relação à tela, da escultura,


escritura e outro qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, a
espécie nova será do especificador, se o seu valor exceder
consideravelmente o da matéria-prima. [não faz diferenciação de boa ou
má-fé, mas, para não ter de indenizar, presume-se que esteja de boa-fé]

35
Confusão, comistão e adjunção

Art. 1.273 (a forma correta é comistão e não comissão que se trata de um


erro de redação)

Há mistura de coisas, diferentemente da especificação na qual uma coisa é


transformada em outra.

Confusão: mistura de coisas líquidas. Ex.: água e leite. Quem é o dono?

Comistão: mistura de coisas sólidas ou secas. Ex.: mistura de grãos de café


de proprietários diferentes, açúcar.

Adjunção: justaposição de uma coisa sobre outra.

As coisas distintas que foram unidas são passíveis de separação, sem


prejuízo econômico.

As coisas pertencentes a diversos donos, confundidas, misturadas [mistura


= comistão], ou adjuntas sem o consentimento deles, continuam a
pertencer-lhes, sendo possível separá-las sem deterioração.

§ 1º Não sendo possível a separação das coisas, ou exigindo dispêndio


excessivo, subsiste indiviso o todo, cabendo a cada um dos donos quinhão
proporcional ao valor da coisa com que entrou para a mistura ou agregado
[há um condomínio para a coisa nova que será rateado em função do seu
valor]

§ 2º Se uma das coisas puder considerar-se principal, o dono sê-lo-á do


todo, indenizando os outros. Ex.: álbum de figurinhas (o dono cola
figurinhas de outra pessoa no álbum; o dono do álbum fica como
proprietário de tudo e indeniza o outro pelas figurinhas]

Art. 1.273 CC Se a confusão, comissão ou adjunção se operou de má-fé, à


outra...

Próximas aulas: Perda propriedade e condomínio

Aula 16 - 11/5/2015

Perda da Propriedade

O rol do art. 1.275 CC não é taxativo, pois, como está descrito no caput, há
outras causas de perda de propriedade que estão no CC. Também há
perda da propriedade por confisco, em caso e exploração de trabalho
escravo (EC nº 81, de 2014) e cultura de plantas psicotrópicas, sendo a

36
referida propriedade destinada a programas de habitação popular e reforma
agrária (art. 243 CF).

Parágrafo único: nos casos de incisos I e II, os efeitos da perda da


propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou
do ato renunciativo no Registro de Imóveis. Ficariam de fora os incisos II e
IV. Na desapropriação também é necessário o registro (art. 29 do Decreto-
lei 3.365 que regula a desapropriação).

Bem móvel – a transferência se dá por tradição; imóveis – pode exigir


registro, a depender do valor.

Renúncia – alto unilateral feita de forma expressa no Cartório de Registro


de Imóveis.

Renúncia a sucessão aberta (bem imóvel, art. 82) -1.806 CC: a renúncia da
herança deve constar expressamente de instrumento público [escritura
pública] ou termo judicial. PROVA

Abandono – diferentemente da renúncia, não exige formalidade ou de forma


expressa. Não há necessidade de registro. A apropriação de uma TV no lixo
(res derelicta) chama-se ocupação. Se imóvel, o abandono não é suficiente
para a perda da propriedade. Se há intenção do proprietário, considera-se o
bem vago. A arrecadação de coisa (art. 1.276) pode ser feita se o “imóvel
urbano que o proprietário abandonar, com intenção de não mais o
conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem,
poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à
propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se achar nas respectivas
circunscrições”.

Tanto os imóveis rural (§ 1º) e urbano podem ser arrecadados.

Ônus fiscais (§ 2º) – arrecadação de impostos.

Após três anos, se houve arrecadação mas permanecer vago, o primitivo


proprietário pode reaver o bem imóvel.

Abandono de resíduos sólidos – a disposição do resíduo deve ser feita de


forma adequada, conforme enunciado Jornada de Direito Civil de nº 565:
Não ocorre a perda da propriedade por abandono de resíduos sólidos, que
são considerados bens socioambientais, nos termos da Lei 12.305/2012.

Perecimento da coisa – pode se dar por ato voluntário (a própria pessoa


destrói o bem) ou involuntário (terremoto, incêndio, enchente, raio). O direito
irá perecer se o bem perecer junto com ele. Se existe uma casa na praia, há
derretimento das calotas polares e a casa fica encoberta, há perda do bem.

37
Pode ser dar por interesse público, necessidade pública e interesse
social, conforme expresso pela CF (art. 5º, XXIV).

Necessidade pública – ocorre em casos emergenciais.

Utilidade pública - opção vantajosa, como no caso de um terreno para


constituir um cemitério.

Interesse social – como nos casos de fazendas desapropriadas para


constituir moradia para população de baixa renda.

Sujeito ativo: entes públicos (União, Estado, município e territórios),


concessionárias públicas ou com funções delegadas pelo Poder Público,
com autorização expressa ou contrato. É possível a desapropriação se
atendida a função social da propriedade, como nos casos de reforma
agrária e moradias para população de baixa renda.

É necessária a declaração do ente expropriante (feito por um decreto que


proclama o interesse público, interesse social ou necessidade público).

Podem ser desapropriados bens corpóreos e incorpóreos (como direitos


autorais) e também para constituir uma servidão a fim de abastecer uma
região com energia elétrica ou para passar um oleoduto (é uma forma mais
barata que desapropriar um terreno).

Retrocessão – se o bem é desapropriado e não é utilizado nas


circunstâncias de interesse social, público ou necessidade pública, a
pessoa que perdeu o bem o adquire pelo valor atual: art. 519 CC – Se a
coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for
utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de
preferência, pelo preço atual da coisa.

No decreto, consta o preço a ser pago pela desapropriação. Normalmente,


o ente público não oferece preço adequado, e assim ocorre judicialização.
Art. 20 do Decreto-lei 3.365 – discute-se o vício ou impugnação do valor.
Art. 27 – itens que são levados em conta para a desapropriação.

Aula 17 – 12/5/2016

10/6 – P2 ???

Direitos de Vizinhança

Há restrições relacionadas aos direitos coletivos e individuais, compreendo


essas as de vizinhança. O objetivo dos Direitos de Vizinhança é evitar
conflitos e conciliar o exercício de propriedade.

38
Direito de Vizinhança X Servidão – Servidão de passagem (Servidão) X
Passagem forçada (é Direito de Vizinhança)

Direitos de Vizinhança – decorrem diretamente da legislação; estabelecem


direitos e deveres recíprocos; surgem independentemente do registro.
Como exemplo pode ser citado o barulho na vizinhança  direito recíproco.

Servidão – emanam da vontade das partes, feito por contrato registrado. As


servidões são direitos reais sobre a coisa alheia e são instituídas em favor
do proprietário do prédio dominante (prédio dominante, prédios servientes).

Natureza jurídica do DV: obrigações propter rem (derivam da coisa, como


um IPTU) ou ambulatória (deriva do verbo ambulare que significa andar).

Obrigação de permitir X obrigação de se abster – permitir = permitem a


prática de certos atos (os proprietários dos servientes permitem certos atos;
o vizinho de um prédio encravado tem de permitir a passagem; se existe
uma fazenda a 30 KM do asfalto é necessário ter a passagem – passagem
forçada - Direito de Vizinhança, direito de permitir; proprietário que tem
riacho passando por sua fazenda - é obrigatória a passagem da água -
obrigação de permitir; obrigação).

Art. 1.285 – prédio encravado; 1.288 – águas

Obrigação de se abster – o proprietário vizinho vai ser obrigado a se abster;


a conduta ativa nesse caso é do vizinho. Ex.: fazer mau uso do prédio que
prejudique a saúde, segurança e sossego do vizinho; abster-se de abrir
janela a determinada distância em relação ao vizinho.

Uso anormal da propriedade – atos nocivos. O mais importante é o art.


1.277 CC: o proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer
cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos
que o habitam, provocadas pela utilização da propriedade vizinhança.

Atos ilegais, abusivos e lesivos

O ato ilegal é o ato ilícito (art. 186 CC): Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Ex.: danos à plantação vizinha provocados por gado solto.

Uso abusivo (art. 187) – Também comete ato ilícito o titular de um direito
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Ex.: construção
de chaminé, sem necessidade, com a finalidade de prejudicar o vizinho que
tem a sua piscina sombreada. Há propósito deliberado de prejudicar o
vizinho, sem buscar a finalidade social. O critério, nesse caso, é objetivo

39
(não é necessário procurar a intenção do vizinho). A boa-fé é, assim,
objetiva.

Atos lesivos – são aqueles que causam dano ao vizinho, mas não são
considerados usos anormais, diferentemente dos outros dois casos (e sim
normais que causam dano). Pode, p.ex., existir uma autorização do Poder
Público, mas, mesmo assim, causar danos. É o caso de indústria que tem
autorização para funcionar, mas prejudica a vizinhança com o despejo no
rio, com fuligem. Outros exemplos: passagem de estrada de ferro rodoviária
em bairro residencial; rodoviária ao lado de residências.

Redução e eliminação dessas interferências – Art. 1.279 CC - Ainda que por


decisão judicial devam ser toleradas as interferências, poderá o vizinho
exigir a sua redução, ou eliminação, quando estas se tornarem possíveis.

Critérios para aferir a normalidade e anormalidade – 1.277, § único –


Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da utilização, a
localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações
em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos moradores da
vizinhança. Devem ser examinados o local, usos e costumes locais para se
estabelecer o limite de tolerância, como no caso de buzina acionada
próxima de hospitais; a análise de zona implica avaliar se o bairro é
residencial, comercial ou misto (o barulho de uma região industrial é
diferente de outra residencial).

Anterioridade da posse – a Teoria da Pré-Ocupação é um ponto a ser


considerado (mas pode ser relativizada de acordo com a extensão do dano;
examine da zona, usos e costumes locais).

Exemplo: em relação à segurança, como indústria de explosivos,


inflamáveis, mercadorias armazenadas em edifício (chumbo que passa a
ser armazenado em prédio residencial); em relação ao sossego, como no
caso de festas, atividades de danceteria, autofalante, loja com aglomeração
de pessoas e igrejas, sendo devido o isolamento acústico.

A regra geral (1.277) não fala de decoro, diferentemente do condomínio


(como no caso do condomínio edilício).

Critérios para soluções de composição: 1) observar que a questão e


vizinhança não remete apenas ao vizinho de muro, ao vizinho contíguo mas
a qualquer situação que possa incomodar outra pessoa; 2) se o incômodo é
normal, pela média, como um cachorro que late na casa do vizinho, não há
o que fazer, não tem como ser reprimido; 3) determinar que seja reduzida a
proporções normais, como fixar horários para atividade nociva (como, p.ex.,
autorizar o início operacional de um posto de gasolina em horário que
permita ser tolerável); 4) se não for possível reduzir incômodo a níveis

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suportáveis  determinada cessação da atividade, demolição de obra; 5)
se não for determinada a cessação e há interesse social – 1.278 CC O
direito a que se refere o artigo antecedente não prevalece quando as
interferências forem justificadas por interesse público, caso em que o
proprietário ou o possuidor, causador delas, pagará ao vizinho indenização
cabal.

Aula 18 – 18/5

Ação de Dano Infecto, Hipóteses de Direito de Vizinhança

Dia 15/6 – Toda matéria (porque as questões podem trazer algo sobre com
enfoque a partir de Direito de Propriedade)

Ação Cominatória – há cominação de multa se não há cumprimento da


aplicação de multa (536, § 4º e 537 CPC)

Ação de Dano Infecto (art.1280 CC) O proprietário ou o possuidor tem


direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a reparação deste,
quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano
iminente. Caução de dano de Dano de Infecto (pode ser pedida em outras
ações) ou pode entrar com Ação Cominatória. Esta ação pode ser ajuizada
pela Prefeitura.

Passagem de tubos/tubulações, aquedutos – art. 1.281 CC: O proprietário


ou o possuidor de um prédio, em que alguém tenha direito de fazer obras,
pode, no caso de dano iminente, exigir do autor delas as necessárias
garantias contra o prejuízo eventual. A caução pode ser real (de Direito
Real, como imóvel) ou fidejussória (de fides, relacionado à pessoa).
Garantia fidejussória = fiança (da mesma origem confiança, fides). Previsão
no CPC: art. 300, § 1º. No silêncio, cabe à pessoa obrigação a prestar a
caução.

Ação Demolitória – também baseada nos artigos 1.280 e 1.281 CC

Árvores limítrofes – três situações: 1.282 CC – A árvore, cujo tronco estiver


na linha divisória, presume-se pertencer em comum aos donos dos prédios
confinantes. Árvore em condomínio: pertence a ambos os proprietários. Se
cortada, a madeira é repartida. Um deles não pode arrancá-la sem o
consentimento do outro.

Art. 1.284 CC – Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao


dono do solo onde caíram, se este for de propriedade particular. Esta regra
é aplicada de formas diferentes: o Direito Romano mantinha a regra de que
o acessório seguia o principal, sendo autorizada a entrada de pessoa na

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propriedade vizinha para recolher o fruto. Se o fruto caiu na propriedade
pública, o fruto pertence ao dono da árvore. É necessário esperar a queda
do fruto, não sendo admitido sacudir a árvore.

Art. 1.283 CC: As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a


estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo
proprietário do terreno invadido. É admitida a poda se ramos e raízes
invadirem uma propriedade, ainda que a árvore morra (se isso ocorrer, não
há indenização). É uma espécie de justiça privada, o que é uma exceção,
ou seja, não exigida nenhuma formalidade.

Passagem forçada

Art. 1.285 CC O dono do prédio que não tiver acesso a via pública,
nascente ou porto [= imóvel encravado], pode, mediante pagamento de
indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo
será judicialmente fixado, se necessário.

Passagem forçada – direito de vizinhança (decorre unicamente da lei); não


há necessidade do registro

X Servidão de passagem (decorre da contratação) – direto real sobre a


coisa alheia; é necessário fazer o registro de imóveis.

Passagem forçada – regras/requisitos: imóvel que não tenha acesso a via


pública

Imóvel encravado – não tem acesso a via pública, nascente ou porto, ou


seja, não tem como escoar a sua produção. Restaria, nesse caso, apenas a
subsistência. A passagem forçada começou a ser aplicada, no Direito
Romano, em decorrência de sepulturas que não podiam ser visitadas por
ficarem encravadas.

§ 2º Se ocorrer alienação parcial do prédio, de modo que uma das partes


perca o acesso a via pública, nascente ou porto, o proprietário deve tolerar
a passagem. Se um proprietário vender uma parte de sua propriedade e
esta fica encravado, deve o alienante permitir passagem ao novo
proprietário.

§ 3º Aplica-se o disposto no parágrafo antecedente ainda quando, antes da


alienação, existia passagem através de imóvel vizinho, não estando o
proprietário deste constrangido, depois a dar uma outra.

§ 1º Sofrerá o constrangimento o vizinho cujo imóvel mais natural e


facilmente se prestar à passagem. O objetivo é impor o menor ônus
possível ao prédio serviente.

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Na passagem forçada, parte da doutrina considera que o proprietário não
pode escolher a passagem mais cômoda. Outra parte admite a comodidade
se a o caminho natural levar a algum tipo de perigo.

A abertura de uma via pública leva à extinção da passagem forçada. No


caso da servidão, por ter o registro, ela continua existindo.

Passagem de cabos e tubulações – não tinha previsão no CC anterior. Visa


solucionar o problema de grandes cidades, como o de uma cidade cheia de
prédios e a necessidade de passagem de cabos elétricos, gás e tubulações
hidráulicas, de telefonia.

1.286 CC Mediante recebimento de indenização [leva em consideração da


desvalorização da área] que atenda, também, à desvalorização da área
remanescente, o proprietário é obrigado a tolerar a passagem, através de
seu imóvel, de cabos, tubulações e outros condutos subterrâneos [pode ser
também aéreo ou que pode ser dentro de uma parede] de serviços de
utilidade pública, em proveito de proprietários vizinhos, quando de outro
modo for impossível ou excessivamente onerosa.

Parágrafo único. O proprietário prejudicado pode exigir que a instalação


seja feita de modo menos gravoso ao prédio onerado, bem como, depois,
seja removida, à sua custa, para outro local do imóvel.

1.287 CC Se a instalações oferecerem grave risco, será facultado ao


proprietário do prédio onerado exigir a realização de obras de segurança.

Das Águas

Há matérias reguladas pelo CC e pelo Código de Águas. Regulam


problemas atinentes, sobretudo, a propriedades rurais.

Aqueduto – canal para passagem de a´gua

Art. 1.293 CC É permitido a quem quer que seja, mediante prévia


indenização aos proprietários prejudicados, construir canais, através de
prédios alheios, para receber as águas a que tenha direito, indispensáveis
às primeiras necessidades da vida [necessidade de alimentação e higiene;
outras necessidades, como agrícola e industrial, não há o direito de exigir],
e, desde que não cause prejuízo considerável à agricultura e à ind´struia,.

§ 1º Ao proprietário prejudicado, em tal caso, também assiste direito a


ressarcimento pelos danos que de futuro lhe advenham da infiltração ou
irrupção das águas [irrupção – invasão abrupta de água; se o aqueduto
estoura, há direito à indenização], bem como da deterioração das obras
destinadas a canalizá-las.

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§ 2º O proprietário prejudicado poderá exigir que seja subterrânea a
canalização que atravessa áreas edificadas, pátios, hortas, jardins ou
quintais.

§ 3º O aqueduto será construído de maneira que cause o menor prejuízo


aos proprietários dos imóveis vizinhos, e a expensas do seu dono, a quem
incubem também as despesas de conservação.

Direito às sobras de águas, nascentes ou pluviais (decorrente da chuva;


pluvia, latim -chuva)

Art. 1.290 O proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas pluviais,


satisfeitas as necessidades de seu consumo, não pode impedir, ou desviar
o curso natural das águas remanescentes pelos prédios inferiores. A água
da nascente não pode ser entregue suja/poluída ao prédio vizinho.

1.288 O dono ou o possuidor do prédio inferior a receber as águas que


correm naturalmente do superior, não podendo realizar obras que
embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e anterior do prédio
inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do
prédio vizinho.

Quando as águas, artificialmente levadas ao prédio superior [pensa-se em


relevo, em propriedade que está acima de outra], ou aí colhidas, correrem
dele para o inferior, poderá o dono deste reclamar que se desviem, ou se
lhe indenize o prejuízo que sofrer.

Poluição das Águas (inovação trazida pelo CC 2002) – art. 1.291: O


possuidor do imóvel superior não poderá poluir as águas indispensáveis às
primeiras necessidades da vida dos possuidores dos imóveis inferiores; as
demais, que poluir, deverá recuperar, ressarcindo os danos que estes
sofrerem, se não for possível...

Represamento – art. 1.292 CC O proprietário tem direito de construir


barragens, açudes, ou obras para represamento de água em seu prédio; se
as águas represadas invadirem prédio alheio, será o seu proprietário
indenizado pelo dano sofrido, deduzido o valor do benefício obtido.

Limites entre prédios e direito de tapagem

Próxima semana: condomínio

Aula 19 - 19/5/2016

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Limites entre prédios – tapumes, genericamente se refere a um separador
entre dois prédios, podendo ser um muro ou uma cerca viva.

1.297 CC

O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo


o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a
proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, e aviventar rumos
apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se
proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas.

Metade da construção de um muro deve ser custeado por um proprietário,


metade pelo outro, mas a presunção é relativa (admite prova em contrário).

Tapumes comuns e especiais – comum = impede a passagem de animal de


grande porte; o especial impede a passagem de animal de pequeno porte.

§ 3º A construção de tapumes especiais para impedir a passagem de


animais de pequeno porte, ou para outro fim, pode ser exigida de quem
provocou a necessidade deles, pelo proprietário, que não está obrigado a
concorrer para as despesas.

Em casos de dúvida relacionada à demarcação da área, pode ser proposta


a Ação Demarcatória – ação de procedimento especial relacionada ao
Direito de Vizinhança, que demarca propriedades vizinhas. A Ação
Demarcatória pode ser do tipo Simples – visa sinalizar limites, restabelecer
ou reaviventar marcos (como no caso de muros que eventualmente foram
retirados); Qualificada – além de restabelecer limites, também procura
restituir as terras indevidamente ocupadas49.

Art. 1.298 CC - Sendo confusos, os limites em falta de outro meio, se


determinarão de conformidade com a posse justa; e, não se achando ela
provada, o terreno contestado se dividirá por partes iguais entre os prédios,
ou, não sendo possível a divisão cômoda, se adjudicará a um deles,
mediante indenização ao outro.

Não conseguindo provar o domínio, recorre-se à posse justa. Não sendo


possível, faz-se a divisão em partes iguais. Se ainda assim não for possível,
uma parte adjudicará e pagará indenização à outra.

Direito de construir – a construção deve obedecer as limitações de ordens


pública (regulamentos administrativos) e privado (impostas pelo Direito de
Vizinhança). Do contrário, pode não haver liberação do Habite-se.

Entre as regulamentações administrativas (de ordem pública) estão os


casos de limitação da altura de prédios próxima de aeroportos. Nesse caso,

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Ou pode ser ajuizada uma Ação de Reintegração de Posse

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pode haver demolição de parte do prédio. Em Brasília, também há limitação
relacionada à altura, também administrativa.

Limitações de Direito Privado – se desrespeitada alguma dessas


limitações, podem ser proposta a Ação de Nunciação de Obra Nova, se a
obra estiver na fase de acabamento; se estiver pronta, propõe-se a Ação
Demolitória. Pode ser proposta uma Ação de Indenização por Danos
Materiais, podendo ser requerida uma caução. É irrelevante se uma
Prefeitura autorizou ou não a obra para entrar com uma Ação Demolitória
ou Nunciação de Obra Nova.

A responsabilidade objetiva independe da demonstração de culpa, basta o


nexo de causalidade entre o dano e o fato. A objetiva imprópria (há uma
inversão do ônus, há uma presunção em desfavor da pessoa; a pessoa
culpada pode demonstrar que não teve culpa); responsabilidade subjetiva
(há necessidade de demonstrar a culpa). Elementos da responsabilidade
civil: dolo, culpa, nexo de causalidade, dano.

Responsável pelos danos: dono da obra, engenheiro ou empreiteiro que


executou a obra (alguns entendem que haveria responsabilidade solidária).

Devassamento da propriedade vizinha – envolve Direitos de Vizinhança e


Personalidade. Levam-se em conta alguns requisitos como recato, sossego
e privacidade familiar.

Art. 1.301 CC É defeso abrir janelas, ou fazer eirado (laje), terraço ou


varanda, a menos metro e meio do terreno vizinho.

Contada da linha divisória dos terrenos. Construção da janelas oblíquas – a


proibição não inclui as janelas oblíquas, para alguns autores.

§ 1º As janelas cuja visão não incida sobre a linha divisória, bem como as
perpendiculares, não poderão ser abertas a menos de setenta e cinco
centímetros.

Jurisprudência – muro alto (basta o muro para que a restrição relacionada à


distância seja desconsiderada, pois a norma visa preservar a privacidade, a
afastar o devassamento da vida alheia)

Porta – porta é admitida a menos de metro e meio; janela não.

Súmulas do STF: 120 e 414:

120 – Parede de tijolos de vidro translúcido pode ser levantada a menos de


metro e meio do prédio vizinho, não importando servidão sobre ele.

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414 – Não se distingue a visão direta da oblíqua, na proibição de abrir
janela, ou fazer terraço, eirado, ou varanda, a menos de metro e meio do
prédio de outrem.

Art. 1.302 O proprietário pode, no lapso de ano e dia após a conclusão da


obra, exigir que se desfaça janela, sacada, terraço

Regra: prazo decadencial de ano e dia para se tomar providência para, do


contrário, ser constituída uma servidão. O prazo é contado desde a
expedição do Habite-se.

Ação Negatória – nega a existência de uma servidão.

1.303 Na zona rural, não será permitido levantar edificações a menos de


três metros do terreno vizinho.

Águas e Beirais

Art. 1.300 CC O proprietário construirá de maneira que o seu prédio não


despeje águas, diretamente, sobre o prédio vizinho.

Proibição do estilícidio – goteiras advindas dos beirais para propriedades


vizinhas. As calhas resolvem o problema.

Paredes divisórias – paredes e muros. As disposições relacionadas aos


muros são as mesmas dos tapumes. Os muros são elementos de vedação.
A parede é um elemento de sustentação e tem disposições próprias.

1.305 CC O confinante, que primeiro construir, pode assentar a parede


divisória até meia espessura no terreno contíguo, sem perder por isso o
direito a haver meio valor se o vizinho a travejar, caso em que o primeiro
fixará a largura e a profundidade do alicerce.

Cada proprietário pode construir o seu muro para ter direito a travejar, ou
seja, de utilizar o muro para intervenções próprias. Trave – vigas de
grandes dimensões utilizadas nas construções.

Art. 1.313 Auxílio mútuo

O proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a tolerar que o vizinho


entre no prédio, mediante prévio-aviso, para:

I – dele temporariamente usar, quando indispensável à reparação,


construção, reconstrução ou limpeza de sua casa ou do muro divisório;

II – apoderar-se de coisas suas, inclusive animais que aí se encontrem


casualmente.

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1.308 Não é lícito encostar à parede divisória chaminés, fogões, fornos ou
quaisquer aparelhos ou depósitos suscetíveis de produzir infiltrações ou
interferências prejudiciais ao vizinho.

Parágrafo único: A disposição anterior não abrange chaminés ordinárias


[chaminés de lareira] e os fogões de cozinha.

1.306 O condômino da parede-meia pode utilizá-la até o meio da


espessura, não pondo em risco a segurança ou a separação dos dois
prédios, e avisando previamente o outro condômino das obras que ali
tenciona fazer; não pode sem consentimento do outro, fazer, na parede-
meio,

Ler até o art. 1.313

Próxima aula: condomínio

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