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DIREITO IMOBILIÁRIO

Teoria geral da posse e atividade notarial e


registral

POSSE COMO OBJETO, CONDIÇÃO E


FUNDAMENTO DE UM DIREITO.

1. ORIGENS HISTÓRICAS
Inúmeras são as dificuldades que aparecem no estudo da posse, com
vigorosa influência dos dois mais célebres autores, Savigny e Ihering, que com
vistas ao direito romano, trataram da posse no século XIX.
Quanto a origem da posse, Carlos Roberto Gonçalves (2019) nos ensina:
A origem da posse é questão controvertida, malgrado se admita que
em Roma tenha ocorrido o seu desenvolvimento. As diversas
soluções propostas costumam ser reunidas em dois grupos: no
primeiro, englobam-se as teorias que sustentam ter a posse sido
conhecida do direito antes dos interditos; no segundo, figuram todas
aquelas que consideram a posse mera consequência do processo
reivindicatório.(GONÇALVES, 2019)1

Anaide Cavalcanti Lobo e Nelson Sussumu Shikicima (2018) ensinam sobre


o tema:
Sendo a posse um poder de fato que uma pessoa tem sobre a coisa
que traz consigo, Caio Mário da Silva Pereira aduz que o Direito
Romano “foi particularmente minucioso ao disciplinar este instituto.
Tão cuidadoso que todos os sistemas jurídicos vigentes adotam-no
por modelo” (2008, p. 15 apud SANTOS, 2016). Ou seja, os romanos
entenderam que a posse deveria ser protegida independentemente
do seu possuidor ser ou não proprietário da coisa, devendo
conferir-lhe tratamento jurídico eficaz, protegendo-se a posse (estado
de fato), protege-se também a propriedade (estado de direito). Neste
sentido, as ideias e os conceitos oriundos do direito romano,

1
GONÇALVES, Carlos Roberto Direito das Coisas - Coleção Direito Civil Brasileiro Volume 5 – 17.
ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Cit. P. 46.

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tornaram-se fontes de inspiração para as teorias especialmente de
Savigny, Ihering e Saleilles. (LOBO; SHIKICIMA, 2018) 2

Muitas são as versões sobre a origem do conceito de posse, mas podem ser
representadas por dois grupos, como nos ensina Anaide Cavalcante Lobo e Nelson
Sussumu Shikicima, in verbis:
É possível constatar que diversas versões sobre a origem do
conceito de posse são conhecidas, mas podem ser representadas,
basicamente, por dois grupos, a teoria de Niebuhr, que é a teoria
adotada por Savigny e pela teoria jurista de Ihering. (LOBO,
SHIKICIMA, 2018) 3
 
Na teoria de Niebuhr defende-se que a posse surgiu com a repartição de
terras conquistadas pelos romanos, passando a ser um estado de fato protegido
pelo interdito possessório; Por outro lado, para Ihering, a posse é consequência do
processo reivindicatório.
A primeira é a teoria subjetiva, defendida por Savigny, e a segunda é a teoria
objetiva defendida por Ihering.
O conflito dessas teorias está pautado na configuração jurídica de dois
elementos da posse: animus e corpus.
O corpus é o elemento material da posse, e diz respeito ao elemento físico
da coisa, a detenção que a pessoa tem sobre ela. Já o animus é o elemento
intelectual, e diz respeito à intenção de ter a coisa como sua.
O estudo da posse é repleto de teorias que procuram explicar o seu
conceito; mas pode-se reduzir a dois grupos: o das teorias subjetivas, no qual se filia
Savigny, que foi quem primeiro tratou da questão nos tempos modernos; e o das
teorias objetivas, cujo principal propugnador foi Ihering.
Quanto a teoria subjetiva, ao qual se filia Savigny, Carlos Roberto Gonçalves
nos ensina:
Para Savigny, a posse caracteriza-se pela conjugação de dois
elementos: o corpus, elemento objetivo que consiste na detenção
física da coisa, e o animus, elemento subjetivo, que se encontra na

2
LOBO, Anaide Cavalcanti e col. Posse: Evolução Histórica e Doutrinária, Conceito e Classificação
no Brasil. Revista jurídica Jurisway. Publicado em: 31 de janeiro de 2018. Disponível em
<https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=19596> Acesso em 26.06.2022.
3
Idem.

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intenção de exercer sobre a coisa um poder no interesse próprio e de
defendê-la contra a intervenção de outrem. Não é propriamente a
convicção de ser dono (opinio seu cogitatio domini), mas a vontade
de tê-la como sua (animus domini ou animus rem sibi habendi), de
exercer o direito de propriedade como se fosse o seu
titular.(GONÇALVES, 2019)4

Portanto, o corpus e o animus são elementos indispensáveis, faltando o


corpus, inexiste posse, e, sem o animus não existe posse, mas mera detenção. A
teoria se diz subjetiva em razão deste último elemento.
Assim, para Savigny, a aquisição da posse existe quando o elemento
material, ou seja, o poder físico da coisa vem juntar-se à intenção de tê-la como sua,
ou seja, o elemento espiritual.
Contudo, a teoria não encontrou sustentáculo, e o direito moderno não pode
negar proteção possessória ao arrendatário, ao locatário e ao usufrutuário, que têm
a faculdade de ajuizar as medidas competentes enquanto exercerem a posse, sob
alegação de que detém a coisa ânimo nomine alieno.
Já para a teoria objetiva, denominação cunhada pelo próprio Ihering, a
intenção ou animus não tem a importância que lhe confere a teoria subjetiva.
Carlos Roberto (2019) nos ensina que:
Para Ihering, portanto, basta o corpus para a caracterização da
posse. Tal expressão, porém, não significa contato físico com a
coisa, mas sim conduta de dono. Ela se revela na maneira como o
proprietário age em face da coisa, tendo em vista sua função
econômica. Tem posse quem se comporta como dono, e nesse
comportamento já está incluído o animus. O elemento psíquico não
se situa na intenção de dono, mas tão somente na vontade de agir
como habitualmente o faz o proprietário (affectio tenendi),
independentemente de querer ser dono (animus domini).5

Assim, a posse é a exteriorização da propriedade, sua visibilidade de


domínio e uso econômico.
A teoria objetiva de Ihering revelou-se mais adequada e satisfatória, tendo
sido adotada pelo Código Civil de 1916 (artigo 485), e também o Código Civil de
2002, como se depreende da definição de possuidor constante do art. 1.196:
4
GONÇALVES, Carlos Roberto Direito das Coisas - Coleção Direito Civil Brasileiro Volume 5 – 17.
ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Cit. P. 48.
5
Idem. p. 49/50.

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Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de
algum dos poderes inerentes à propriedade.”
Como visto o artigo não conceitua a posse, opta por concentrar-se na figura
do possuidor, podendo se verificar nessa conceituação os seguintes componentes:
a) exercício de fato, b) (da) totalidade ou parte (de), c) poder inerente à propriedade
(uso, fruição e disposição da coisa).
Portanto, para ser considerado possuidor é suficiente que tenha o exercício
de fato de parte ou da totalidade de qualquer desses poderes em relação à coisa
(pode usar, sem fruir, por exemplo).
Não é necessário que o poder de fato sobre a coisa, muito menos se impõe
a exteriorização do comportamento próprio de dono da coisa, tanto que no direito
brasileiro, a posse da herança se transmite aos herdeiros de modo automático, com
a abertura da sucessão, mesmo que eles não tenham conhecimento ou manifestado
aceitação expressa ou tácita (artigo 1.784, CC).
Portanto, a posse é um instituto controvertido, e também sofre alterações
contínuas e com objetivos diversos, razão pela qual sempre se poderá constatar
diversas opiniões doutrinárias, que demonstram a complexidade e difícil
compreensão da posse; o que não retira a importância da sua compreensão em
virtude dos efeitos que a posse produz.

2. CONCEITO DE POSSE

Não há uma definição legal de posse, o Código Civil concentra-se na figura


do possuidor, como visto no Artigo 1.196: “Considera-se possuidor todo aquele que
tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.”

A conceituação do instituto fica sob a responsabilidade dos doutrinadores,


que remonta aos textos e proposições que os jurisconsultos romanos formularam ao
nosso direito pré-codificado, ao sistema do Código Civil de 1916 e às diversas
teorias estudadas.
O ilustre doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (2019) nos ensina que:

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Não obstante os diferentes entendimentos, “em todas as escolas
está sempre em foco a ideia de uma situação de fato, em que uma
pessoa, independentemente de ser ou de não ser proprietária,
exerce sobre uma coisa poderes ostensivos, conservando-a e
defendendo-a. É assim que procede o dono em relação ao que é
seu; é assim que faz o que tem apenas a fruição juridicamente
cedida por outrem (locatário, comodatário, usufrutuário); é assim que
se porta o que zela por coisa alheia (administrador, inventariante,
síndico); é assim que age o que se utiliza de coisa móvel ou imóvel,
para dela sacar proveito ou vantagem (usufrutuário). Em toda posse
há, pois, uma coisa e uma vontade, traduzindo a relação de fruição.
(GONÇALVES, 2019)6

Assim, no conceito mais simples sobre posse pode-se defini-la como estar
no exercício de fato do bem.
Mesmo assim ainda haverá grande dificuldade de se distinguir se esse
exercício de fato do bem trata-se de posse ou detenção.
O Código Civil brasileiro orientou-se na distinção entre posse e detenção
pela teoria objetiva, esclarecendo o que é o detentor através do artigo 1.1198:
“Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para
com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou
instruções suas.”

3. NATUREZA JURÍDICA DA POSSE – FATO OU DIREITO?

Novamente, há controvérsias que dificultam a solução do problema da


natureza da posse, mas não se trata apenas de questão acadêmica, sua solução
depende da determinação do verdadeiro fundamento da proteção possessória.
Assim, consiste-se em saber se a posse é um fato ou um direito - questão
básica que também se manifestou na oposição de Ihering a Savigny.
Carlos Roberto Gonçalves (2019) nos ensina que:
Para Savigny, a posse caracteriza-se pela conjugação de dois
elementos: o corpus, elemento objetivo que consiste na detenção
física da coisa, e o animus, elemento subjetivo, que se encontra na
intenção de exercer sobre a coisa um poder no interesse próprio e de
defendê-la contra a intervenção de outrem. Não é propriamente a

6
GONÇALVES, Carlos Roberto Direito das Coisas - Coleção Direito Civil Brasileiro Volume 5 – 17.
ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Cit. P. 57.

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convicção de ser dono (opinio seu cogitatio domini), mas a vontade
de tê-la como sua (animus domini ou animus rem sibi habendi), de
exercer o direito de propriedade como se fosse o seu titular.
(GONÇALVES, 2019)7

O doutrinador supracitado ensina sobre a teoria da posse segundo Ihering:


não empresta à intenção, ao animus, a importância que lhe confere a
teoria subjetiva. Considera-o como já incluído no corpus e dá ênfase,
na posse, ao seu caráter de exteriorização da propriedade. Para que
a posse exista, basta o elemento objetivo, pois ela se revela na
maneira como o proprietário age em face da coisa. (GONÇALVES,
2019)8

Assim, para Savigny, a posse é um fato e um direito ao mesmo tempo. Será


um fato quando considerada em si mesmo, mas quanto aos efeitos que produz,
usucapião e interditos, é um direito.
Em contrapartida, para Ihering a posse é um direito, conclusão que chega
em face do seu famoso conceito de direito, formulado no Espírito do Direito Romano.
Para ele, direito é o interesse juridicamente protegido.
A maioria dos juristas reconhece a posse como um direito, assim como o
Código Civil brasileiro, que adotou a teoria de Ihering.

4. POSSE: DIREITO REAL OU DIREITO PESSOAL?

Se a posse é um direito, como o reconhece, é preciso saber se tem a


natureza de um direito real ou pessoal. E a doutrina se divide quanto à temática.
Para os autores: Caio Mário Pereira da Silva e Orlando Gomes, a posse é
um direito real pela existência de três elementos estruturantes:

O objeto é uma coisa Eficácia é erga omnes Imediaticidade do exercício

Já para Silvio Rodrigues, Darcy Bessone e Nelson Nery Jr, a posse é um


direito pessoal, por cinco aspectos:

7
GONÇALVES, Carlos Roberto Direito das Coisas - Coleção Direito Civil Brasileiro Volume 5 – 17.
ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Cit. P. 48
8
Idem, p. 49.

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Vem tipificada antes dos direitos reais no Código Civil Brasileiro

Não está tipificada no Artigo 1.225 do Código Civil Brasileiro

Não é passível de registro imobiliário

Eficácia erga omnes é limitada, por não possuir todos os elementos dos direitos
como o poder de sequela, a preferência e a publicidade

O Artigo 73, § 2º do Código de Processo Civil minimiza a participação dos


cônjuges nas ações possessórias

4. TEORIA SOCIAL DA POSSE

A partir do início do século passado, a contribuição de juristas sociólogos


como o italiano Silvio Perozzi deu novos rumos à posse quanto a adquirir autonomia
frente à propriedade.
Para essa teoria a ênfase que se dá a posse é o seu caráter econômico e
sua função social aliada a também nova concepção da propriedade posse, aliadas à
nova concepção do direito de propriedade ligada a sua função social.
Tal teoria foi adotada pela Constituição Federal de 1988, conforme se
verifica do inciso XXIII do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988: “art. 5º. (...)
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;”
E, no mesmo sentido, no Código Civil, pode ser encontrado no § 4º do Artigo
1.228:

O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel


reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de
boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas,
e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente,
obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e
econômico relevante. (Código Civil, art. 1.288)

Assim, verifica-se que o ordenamento brasileiro limita o direito da


propriedade visando sua função social, além da econômica.

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5. DETENÇÃO

Há grande dificuldade em distinguir a posse do estado de fato que se


denomina detenção. Isso porque a detenção é uma posse degradada pela lei.
Para o Código Civil Brasileiro uma pessoa não é considerada possuidora,
mesmo exercendo poderes de fato sobre uma coisa, quando a conserva em nome
de outrem ou em cumprimento de ordens ou instruções daquele em cuja
dependência se encontre.
Isso pode ser identificado no Artigo 1.1198: “Considera-se detentor aquele
que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em
nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.” Portanto, há uma
dependência entre o detentor e o possuidor do bem.
Como nos ensina Orlando Gomes (2012):
Embora se conceda a posse àquele que, por força de obrigação ou
direito, detêm temporariamente a coisa, alguns há que se encontram
nessa situação e, sem embargo disso, não são considerados
possuidores. Tais os que estão em situação de dependência para
com outrem. Entende-se, que, nesses casos, os que detêm a coisa
conservam a posse em nome dos que a entregaram. São, portanto,
detentores, razão por que lhes não assiste o direito de invocar a
proteção possessória.(GOMES, 2012)9

Sem dúvida, é uma categoria especial, chamados também de servidores da


posse, são os que estão unidos por um possuidor por um vínculo de subordinação.
É o caso típico dos caseiros e de todos aqueles que zelam por propriedades
em nome do dono e que são dependentes da autorização expressa do proprietário,
ou pelo menos de tolerância.
Ainda que não seja possuidor, o detentor pode defender a posse por um não
possuidor, como nos ensina Orlando Gomes (2012):
Contudo, a existência do vínculo jurídico em razão do qual a coisa
fica sob o poder temporário e eventual das pessoas dependentes,
assegura-lhes certas prerrogativas que são próprias dos
possuidores. A elas se reconhece, por exemplo, o direito ao desforço
incontinenti, na hipótese de turbação da posse, o qual, embora em
caráter de exceção, é um meio de defesa da posse. Isso importa

9
Gomes, Orlando. Direitos Reais - 21a ed. rev. e atual. - Rio de Janeiro: Forense, 2012. Cit.P.45.

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admitir que a posse possa ser defendida por aquele que não é
possuidor, o que constitui, sem dúvida, uma anomalia. Se não fora o
receio da confusão de conceitos, poder-se-ia dizer que essas
pessoas têm meia-posse. (GOMES, 2012)10

Por fim, é possível que a detenção transmute-se em posse quando o


detentor rompida a subordinação, começa a exercer em nome próprio os atos
possessórios, sem que o verdadeiro possuidor conteste tais atos.

6. VIOLÊNCIA E CLANDESTINIDADE
Como na detenção prevista no artigo 1.198 do Código Civil, não se
caracteriza a posse nos estados de violência e clandestinidade em face do
proprietário da coisa, conforme se verifica da segunda parte do artigo 1.208 do
Código Civil:
Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim
como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou
clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a
clandestinidade.

Assim, para que haja a aquisição legal da posse não pode ter havido
violência ou clandestinidade em sua aquisição.
Como nos ensina Orlando Gomes (2012):
Posse justa é aquela cuja aquisição não repugna ao Direito. Para ter
essa qualidade, o que importa é a forma da aquisição. Se foi
adquirida por um dos modos admitidos na lei, a posse terá esse
predicado. Justa é, por conseguinte, toda posse cuja aquisição for
conforme ao direito. Em termos mais concretos, a posse é justa
quando isenta de vícios originais (GOMES, 2012). 11

Assim, desde que seja adquirida sem quaisquer vícios objetivos, que
maculam a posse, e são: a violência, a clandestinidade e a precariedade; e dividem
a posse em:

posse violenta posse clandestina posse precária

10
Idem.
11
Gomes, Orlando. Direitos Reais - 21a ed. rev. e atual. - Rio de Janeiro: Forense, 2012. Cit.P.49.

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A posse será violenta quando adquirida pela força, através de atos materiais
irresistíveis; e será clandestina quando se adquire a posse às ocultas, ou usando de
artifícios para iludir o que tem a posse. E por fim, será precária quando adquirida
com abuso de confiança.
Portanto, a posse é justa; enquanto a posse injusta é, em suma, a posse
ilícita na sua aquisição. Aquela em que se verifica a presença de um dos vícios
objetivos.
Por fim, para aprofundarmos sobre a temática, analisaremos alguns casos,
ora jurisprudências dos tribunais acerca do direito possessório. A primeira
jurisprudência analisada será do Superior Tribunal de Justiça sobre a
desapropriação de imóvel já pertencente ao próprio desapropriante, ou seja, o
Município do Rio de Janeiro demandou ação para desapropriação de imóvel, porém,
no decorrer do processo verificou que o respectivo imóvel, objeto da ação, era do
próprio ente federativo. Vejamos a ementa, in verbis:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO EM
RECURSO ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE DE RECONVENÇÃO
OU PEDIDO CONTRAPOSTO EM AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO.
PRECEDENTES. DESAPROPRIAÇÃO DE IMÓVEL JÁ
PERTENCENTE AO PRÓPRIO ENTE DESAPROPRIANTE.
INDENIZAÇÃO PELAS BENFEITORIAS. IMPOSSIBILIDADE. MERA
DETENÇÃO DE BEM PÚBLICO. PRECEDENTES.
1. Trata-se de desapropriação movida pelo Município do Rio de
Janeiro, na qual se constatou, no curso do processo, que o imóvel
pertence ao próprio Município.
2. O Superior Tribunal de Justiça entende ser incabível a
reconvenção ou pedido contraposto em ação de desapropriação,
uma vez que a desapropriação é de interesse exclusivo do ente
público e que as matérias passíveis de discussão são limitadas, nos
moldes do art. 20 do Decreto-Lei 3.365/1941 (REsp 1737864/GO,
Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 29.5.2019; e
AgRg no AREsp 94.329/PR, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda
Turma, DJe 18.10.2013).
3. Está consignado no acórdão recorrido que o imóvel objeto da ação
de desapropriação pertence ao próprio Município do Rio de Janeiro.
Dessa forma, a ocupação por particulares caracteriza mera
detenção.
4. O STJ entende ser incabível o pagamento de indenização em
virtude de detenção de bem público, independentemente da boa ou
má-fé do ocupante, sob pena de se reconhecer, por via indireta, a
posse privada de bem coletivo. Precedentes: AREsp 1.725.385/SP,
Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 9.4.2021; AgInt
no AREsp 1.564.887/MT, Rel. Ministra Assusete Magalhães,
Segunda Turma, DJe 10.3.2020; AgInt no AREsp 460.180/ES, Rel.

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Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 18.10.2017; e AgRg no
AREsp 362.913/SP, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira
Turma, DJe 12.5.2016.
5. Registre-se que a existência de acordos indenizatórios com outros
moradores da localidade não influi na presente demanda, uma vez
que seria necessário averiguar, em cada um desses casos de
acordo, se as hipóteses fáticas são as mesmas da presente
demanda, qual seja: desapropriação de imóvel pertencente ao
próprio Município do Rio de Janeiro, o que não consta no acórdão de
origem.
6. Agravo Interno não provido. (AgInt nos EDcl no REsp n.
1.944.329/RJ, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma,
julgado em 21/2/2022, DJe de 15/3/2022.)

É importante destacar uma decisão recente do Supremo Tribunal Federal do


Ministro Luís Roberto Barroso, por conta da COVID-19, qual suspendeu os despejos
e desocupações, em razão da pandemia, com base na Lei nº 14.216/21:

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E CIVIL. ARGUIÇÃO DE


DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. DIREITO À
MORADIA E À SAÚDE DE PESSOAS VULNERÁVEIS NO
CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19. PRORROGAÇÃO DA
MEDIDA CAUTELAR ANTERIORMENTE DEFERIDA. 1. Pedido de
extensão da medida cautelar anteriormente deferida, a fim de que se
mantenha a suspensão de desocupações coletivas e despejos
enquanto perdurarem os efeitos da crise sanitária da COVID-19. 2.
Após um período de queda nos números da pandemia, este mês
houve nova tendência de alta. Em 28.06.2022, a média móvel
registrou 198 mortes diárias, tendo-se verificado alguns dias com
mais de 300 mortes por Covid-19 na última semana. Entre 19 e
25.06.2022, o Brasil teve a semana epidemiológica com mais casos
desde fevereiro, com 368.457 infecções pela doença em todo o
território nacional. 3. Nesse cenário, em atenção aos postulados da
cautela e precaução, é recomendável a prorrogação da medida
cautelar anteriormente deferida. 4. Não obstante, na linha do que
registrei na última decisão, com a progressiva superação da crise
sanitária, os limites da jurisdição deste relator se esgotarão. Por isso,
será preciso estabelecer um regime de transição para a retomada da
execução das decisões suspensas por esta ação. 5. Projeto de lei
em trâmite na Câmara dos Deputados com tal objetivo. Deferência
ao Poder Legislativo para disciplinar a matéria, sem descartar,
todavia, a hipótese de intervenção judicial em caso de omissão. 6.
Deferimento parcial do pedido de medida cautelar incidental para
manutenção da suspensão temporária de desocupações e despejos,
inclusive para as áreas rurais, de acordo com os critérios previstos
na Lei nº 14.216/2021, até 31 de outubro de 2022. (ADPF 828
TPI-segunda-Ref, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal
Pleno, julgado em 07/04/2022, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-101 DIVULG 25-05-2022 PUBLIC 26-05-2022)

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Diante do exposto, na respectiva decisão, foi prorrogado a medida provisória
cautelar já definida anteriormente. Em outras palavras, foi prorrogado o prazo por
mais um ano ou, até cessar os efeitos sociais e econômicos da Pandemia. Diante
disso, serão suspensos todos os processos, procedimentos ou qualquer outro meio
que vise expedição de medidas judiciais, extrajudiciais, administrativas de
desocupação e/ou remoção, reintegração de posse, bem como, despejos de família
vulneráveis, enquanto pela Organização Mundial de Saúde (OMS) não declarar fim à
Pandemia da COVID-19.

Bibliografia
BRASIL (Planalto). Constituição da República Federativa do Brasil.
Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituição/ConstituicaoCompilado.> Htm.
Acesso em: 20/06/2022.

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BRASIL (Planalto). Lei nº 10.406, de 10 de março de 2002. (institui o Código
Civil). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm.> Acesso em:
21/06/2022.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Coisas - Coleção Direito Civil


Brasileiro Volume 5 – 17. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

GOMES, Orlando. Direitos Reais - 21a ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2012.
LOBO, Anaide Cavalcanti e col. Posse: Evolução Histórica e Doutrinária,
Conceito e Classificação no Brasil. Revista jurídica Jurisway. Publicado em: 31 de
janeiro de 2018. Disponível em
<https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=19596> Acesso em 26.06.2022.

NETO, José Agostinho dos Santos. A evolução do conceito da posse através


das teorias de Savigny, Ihering e Saleilies. Disponível em:
https://joseagostinhoneto.jusbrasil.com.br/artigos/247469407/a-evolucao-do-conceito
-de-posse-atraves-das-teorias-de-savigny-ihering-e-saleilles. Acesso em 26/06/2022.

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