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DA POSSE

ELISÂNGELA SILVEIRA STEPHAN


DIREITO - 6º PERÍODO
FACULDADE SUDAMERICA
POSSE

Sumário
1.1. POSSE...........................................................................................................2

1.2. CONCEITO....................................................................................................2

1.3. TEORIAS QUE JUSTIFICAM A POSSE.......................................................3

1.4. ELEMENTOS (CORPUS/ANIMUS)...............................................................4

1.5. CLASSIFICAÇÃO..........................................................................................4

a. Quanto ao exercício e gozo da posse (art. 1.197 do CC)............................4

b. Quanto à existência do vício (art. 1.200 do CC)...........................................5

c. Quanto à boa-fé (art. 1.201 do CC)...............................................................5

d. Quanto à presença de título (causa ou o elemento subjetivo criador da


relação jurídica)..........................................................................................................6

e. Quanto ao tempo (art. 1.211 do CC).............................................................6

f. Quanto aos efeitos.........................................................................................7

g. Quanto à quantidade de titulares da relação possessória (art. 1.199 do


CC);............................................................................................................................8

1.6. DIFERENÇA ENTRE POSSE, PROPRIEDADE E DETENÇÃO..................8

1.7. FATOS JURÍDICOS DA POSSE.................................................................10

1.7.1. Aquisição da posse...................................................................................10

1.7.2. Modos de aquisição da posse..................................................................11

I. Originária:.....................................................................................................11

II. Derivada:.....................................................................................................11

1.7.3. Perda da Posse........................................................................................12

1.8. Outros efeitos jurídicos da posse (art. 1.210 a 1.222 do CC).....................13

1.8.1. Percepção dos frutos.................................................................14

1.8.2. Sobre a Indenização e a retenção pelas benfeitorias...............15

1.8.3. A proteção possessória, abrangendo a autodefesa e a


invocação dos interditos possessórios................................................16

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1.8.4. A responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa;........17

1.8.5. A usucapião...............................................................................18

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POSSE

1.1. POSSE

1.2. CONCEITO

Na visão doutrinária, especialmente do que se colhe da obra de Flávio Tartuce


(2019), duas são as correntes que conceituam a posse. Uma afirma que a posse se
trata de um mero fato e outra afirma que a posse constitui um direito, sendo essa
corrente a que prevalece na doutrina. Ligando o instituto da posse em relação a
direitos reais e pessoais, a posse é ter domínio sobre a coisa, não sendo um direito
real.
Para Maria Helena Diniz, a posse é um direito real, como desdobramento do
direito da propriedade. Conforme orienta Orlando Gomes, a conclusão da referida
professora está correta, haja vista o famoso conceito do direito, formulado “espírito
do direito romano”, no qual identifica-se se que “o direito é o interesse juridicamente
protegido”.

1.3. TEORIAS QUE JUSTIFICAM A POSSE

Duas grandes e clássicas escolas procuraram delimitar e justificar o conceito


de posse:
I. Teoria subjetiva ou subjetivista: teve como defensor Friedrich Carl
Savigny, pela qual a posse se conceitua como “poder direto e imediato
que a pessoa tem de dispor fisicamente de um bem com a intenção de
tê-lo para si e defendê-lo contra a intervenção ou agressão de quem
quer que seja”. Em suma, a posse seria o poder físico da pessoa
sobre a coisa, com a intenção de tê-la para si e defender contra
terceiros.
II. Teoria objetiva ou simplificada: Teve como defensor Rudolf Von Ihering
conhece na posse somente o corpus, considerando-lhe como
visibilidade do domínio. Tendo a posse aquele que age em relação à
coisa como se fosse proprietário, mesmo que não o seja,
independentemente da intenção. (tendo como exceção: usucapião)
Embora não haja uma posição pacífica dos tribunais e da doutrina a respeito de
qual teoria é adotada para conceituar o instituto da posse (objetiva, de Ihering, ou
subjetiva, de Savigny), o Código Civil adotou a teoria objetiva defendida por

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Rudolf Von Ihering determinando que para a posse, basta que a pessoa disponha
fisicamente da coisa, ou que tenha a mera possibilidade de exercer esse contato.
Identifica a posse com apenas um elemento, qual seja, o corpus (elemento material
e único fator visível e suscetível de comprovação), dispensando a intenção de ser
dono. O possuidor, portanto, nessa teoria, age em relação a coisa com a intenção de
explorá-la.

1.4. ELEMENTOS (CORPUS/ANIMUS)

Temos, em suma, dois elementos da posse, o elemento material (corpus) e o


elemento subjetivo (animus), assim descritos:
I. Corpus: elemento material, poder físico da pessoa sobre a coisa;
II. Animus domini: elemento intelectual, a vontade de ter a coisa como sua,
de exercer sobre ela o direito de propriedade.
Para Ihering, cuja teoria o nosso direito positivo acolheu, posse é conduta de
dono e que o elemento material e único fator visível e suscetível de comprovação.
Sempre que haja o exercício dos poderes de fato, inerentes à propriedade, existe a
posse, a não ser que alguma norma diga que esse exercício configura a detenção e
não a posse.
O art. 1.196 do CC/02, considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o
exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

1.5. CLASSIFICAÇÃO

O Código Civil destaca as espécies de posse os quais são classificadas:


a. Quanto ao exercício e gozo da posse (art. 1.197 do CC) 

Posse Direta: aquela exercida mediante o poder material ou contato direto com a
coisa. (Ex. Locatário - quem aluga e usa o bem.)
Posse indireta: aquela exercida por via oblíqua, pela qual alguém frui ou goza da
coisa sem que esteja direta e pessoalmente exercendo o poder físico ou material
sobre ela, ou seja, aquele de quem foi havida a posse direta da coisa (Locador –
dono da coisa e que a alugou ao possuidor direto).

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A relação possessória desdobra-se. O proprietário exerce a posse indireta. Uma


não anula a outra. Ambas coexistem e são posses jurídicas, não autônomas, pois
implicam o exercício de efetivo direito sobre a coisa.
Tanto o possuidor direto como o indireto podem invocar a proteção possessória
contra terceiro.
A posse direta não se confunde com a detenção. O detentor não
b. Quanto à existência do vício (art. 1.200 do CC)

Posse Justa: é a que nasceu livre de vícios, tais como a violência, clandestinidade
ou precariedade.
Os vícios são verificados no momento da aquisição da coisa (art. 1.208 do CC).
Posse Violenta: quando se adquire por ato de força ou ameaça;
Posse Clandestina: quando se adquire de forma ardil, via processo de ocultamento em
relação àquele contra quem é praticado o apossamento. Na clandestinidade, o possuidor
não percebe a violação do seu direito e, por isso não pode reagir. É obtida às
escondidas, à surdina, de forma oculta;
Posse Precária: quando o possuidor recebe a coisa com a obrigação de restituí-la e,
abusando da confiança, deixa de devolvê-la ao proprietário ou ao possuidor legítimo. Ex.
Aquele que se recusa a devolver o carro alugado.

Posse Injusta: é a que nasceu com vício, mas não apresenta mais esse defeito.
Isso porque se a violência, a clandestinidade ou a precariedade se mantém, a
hipótese é de detenção e não de posse. Os atos de violência, só podem ser
alegados pelo possuidor. Nos termos do art. 1.203 do CC/02 a posse transmite-se
com todos os seus atributos positivos e negativos. Ex.: Se a pessoa invade e a
pessoa vende, quem comprou, vai transmitir com as características, ainda que a
pessoa não saiba.
A conversão da posse injusta em justa: a posse injusta não se pode converter
em justa quer pela vontade ou pela ação do possuidor, quer pelo decurso do tempo.
Ainda que viciada a posse injusta não deixa de ser posse. A violência e clandestinidade
podem cessar, onde chama-se convalescimento dos vícios, porém, enquanto não findam,
existe apenas a detenção. Cessados os vícios, surge a posse, em relação a quem
perdeu. Ex.: uma posse inicialmente injusta se torna justa, mediante a interferência de
uma causa diversa, como seria o caso de quem tomou pela violência comprar do
esbulhado, ou de quem possui clandestinamente herdar do desapossado.

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c. Quanto à boa-fé (art. 1.201 do CC)

Posse de boa-fé: quando o possuidor desconhece/ignora os vícios ou os obstáculos


que impedem a aquisição da coisa ou, ainda, quando tem um justo título que
fundamente a sua posse, art. 1.201, CC/02. A posse de boa-fé só perde este caráter
no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o
possuidor não ignora que possui indevidamente, art. 1.202,CC/02.
Posse de má-fé: A posse de má-fé é aquela que o possuidor tem ciência de seus
vícios que acomete a coisa, mas, mesmo assim, pretende exercer o domínio fático
sobre a coisa.
d. Quanto à presença de título (causa ou o elemento subjetivo criador da
relação jurídica)

Posse sem título – natural: é a que se constitui pelo exercício de poderes de fato
sobre a coisa. Posse fruto da ocupação de um bem sem que haja relação jurídica
que a fundamenta. Exemplo: “Pessoa A” viu um lote vago, decide ocupar o lote e ali
concede ao bem uma função social. Gera ius possessionis, direito de posse, ou seja,
o poder sobre a coisa e, a possibilidade de sua defesa por intermédio dos interditos
(interdito proibitório, de manutenção da posse ou de reintegração de posse).
Posse com título – civil: é a que se adquire por força da lei, sem necessidade de
atos físicos ou da apreensão material da coisa. O sujeito ocupa o bem, e ali está em
decorrência de um direito obrigacional ou direito real. Tem por objeto a posse em si
mesma e detém um título que a fundamenta, gerando ius possidendis, direito de
propriedade. Ex.: A posse do locatário, do comodatário, do arrendatário, do
usufrutuário etc.

Posse natural: não há relação entre possuidor e proprietário.


Posse civil: há relação jurídica entre possuidor e proprietário.

e. Quanto ao tempo (art. 1.211 do CC)

Posse nova: com até um ano


Posse velha: com pelo menos um ano e um dia
O art. 1.211 diz que: “Quando mais de uma pessoa se disser possuidora,
manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a

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obteve de alguma das outras por modo vicioso”. Como o dispositivo não distingue
entre a posse velha e a posse nova, caberá ao juiz, em cada caso, avaliar a melhor
posse, assim considerando a que não contiver nenhum vício.

f. Quanto aos efeitos

Posse ad interdicta: posse que autoriza a utilização dos interditos proibitórios. Para
ela existir basta que o possuidor demonstre os elementos essenciais da posse,
corpus e animus, e a moléstia, mas não conduz a usucapião, como no caso do
locatário. O possuidor, como o locatário, por exemplo, vítima de ameaça ou de
efetiva *turbação ou *esbulho, tem a faculdade de defendê-la ou de recuperá-la pela
ação possessória adequada até mesmo contra o proprietário. Para ser protegida
pelos interditos basta que a posse seja justa, isto é, que não contenha os vícios da
violência, da clandestinidade ou da precariedade. Trata-se ainda de posse comum,
de boa-fé, onde não existe a presunção de futuro usucapião.

Esbulho: é a perda total da posse. Viabiliza ao possuidor a restituição da


coisa (ação de reintegração de posse);
Turbação: Turbação é todo ato que embaraça o livre exercício da posse. É
o esbulho parcial, ou seja, é a perda de alguns poderes sobre a coisa (incômodo
da posse). Viabiliza que o possuidor seja mantido na posse da coisa (ação de
manutenção de posse);

Posse ad ucucapionem: é a posse que se prolonga por determinado lapso de


tempo estabelecido na lei, deferindo a seu titular a aquisição do domínio. Há nela a
vontade de ter para si, que pode transformar-se em um direito real (propriedade),
através da usucapião.

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Embora seja suficiente a ausência de vícios (posse justa) para que a posse se denomine
ad interdicta, a ausência de vício torna-se necessária, para que dê origem à usucapião
(ad usucapionem), que, além dos elementos essenciais à posse, há outros elementos
necessários como o decurso do tempo exigido na lei, o exercício de maneira mansa e
pacífica, o animus domini e, em determinados casos, a boa-fé e o justo título.

Ao fim de um período de dez anos, aliado a outros requisitos, como o ânimo de dono, o
exercício contínuo e de forma mansa e pacífica, além do justo título e boa-fé, dá origem à
usucapião ordinária (CC, art. 1.242). Quando a posse, com essas características,
prolonga-se por quinze anos, a lei defere a aquisição do domínio pela usucapião
extraordinária, independentemente de título e boa-fé (CC, art. 1.238)188.

g. Quanto à quantidade de titulares da relação possessória (art. 1.199 do


CC);

Exclusiva: é a posse de um único possuidor, um único titular (pessoa física ou


jurídica exercendo posse sobre a coisa. Pode ser:
 Exclusiva plena: é a posse em que o possuidor exerce de fato os poderes
inerentes à propriedade como se a coisa fosse sua (usar, gozar, dispor e
reaver). O titular exerce todas as faculdades do art. 1.228, do CC.
 Exclusiva parcial: o titular exerce algumas das faculdades.
Composse: É a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem,
simultaneamente poderes possessórios sobre a mesma coisa. Art. 1.199: “Se duas
ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos
possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.” A
composse pode ser ainda:
 Composse pro diviso: cada um se localiza em partes determinadas do
imóvel, estabelecendo uma divisão de fato.
 Composse pro indiviso: os compossuidores têm posse somente de partes
ideais da coisa, não havendo divisão de fato.
Posse paralela: é a posse múltipla de vários titulares. É o caso do desdobramento
da posse em direta e indireta. Há sobreposição das posses. Exemplo: Entre o
locador e o locatário não há composse, mas apenas posse paralela. A posse de

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cada uma dessas partes será exclusiva: uma posse será exclusiva direta e a outra,
posse exclusiva indireta e indireta

1.6. DIFERENÇA ENTRE POSSE, PROPRIEDADE E DETENÇÃO

Carlos Roberto Gonçalves (2021) destaca que:

“Nem todo estado de fato, relativamente à coisa ou à sua utilização, é


juridicamente posse. Às vezes o é. Outras vezes não passa de mera
detenção, que muito se assemelha à posse, mas que dela difere na
essência, como nos efeitos. Aí é que surge a doutrina, com os elementos de
caracterização, e com os pressupostos que autorizam estremar uma de
outra”.

No direito positivo brasileiro, art. 1.196 do Código Civil, indiretamente conceitua


posse, ao considerar possuidor “todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou
não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”, que são os de gozar, reaver,
usar e dispor (GRUD). Contudo, o art. 1.198 do mesmo diploma, considera detentor
“ aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro,
conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções
suas”. O parágrafo único do mesmo artigo art. 1.198, estabeleceu presunção juris
tantum de detenção: “Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve
este artigo (ou seja, que conserva a posse em cumprimento as ordens, sob
instruções ou em relação de dependência à outra pessoa) alguém) presume-se
detentor, até que prove o contrário”. Sendo a expressão “prove o contrário” a
necessidade de o agente demonstrar, de forma inequívoca, que deixou de conservar
a posse em nome de outrem, e de cumprir as ordens e instruções suas.
Complementa o quadro o art. 1.208, prescrevendo que: “Não induzem posse os atos
de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos
violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade”.
A propriedade abrange as coisas corpóreas e as incorpóreas, podendo
ser considerada como campo dos direitos sobre o patrimônio, no caso da posse não
se limita a coisas corpóreas, podendo o seu objeto consistir em qualquer bem.
Diante ao exposto, como exemplo, uma pessoa que aluga um imóvel e
pede uma outra pessoa para roçar o pomar, essa pessoa que está roçando é um
detentor, não podendo adquirir a coisa por usucapião, pois exerce a coisa em nome
de outro, já o possuidor pode.

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Outra observação importante é que não se admite posse de bens


públicos, mas apenas mera detenção. Portanto temos a distinção como segue:

1.7. FATOS JURÍDICOS DA POSSE

A aquisição, exercício e perda da posse são hipóteses que acontecem no


mundo dos fatos. Quando esse fato ganha importância para o direito, com efeito, ao
tornar-se relevante, a posse é objeto de uma norma e, então, surge o fato jurídico da
posse.

1.7.1. Aquisição da posse

O art.1.204 do CC/02 dispõe que “adquire-se a posse desde o momento em


que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes
inerentes à propriedade” e o artigo seguinte explica que a posse pode ser adquirida:

I. Pela própria pessoa que a pretende, desde que tenha capacidade de


fato (ou de exercício) para praticar o ato de aquisição da posse;
II. Pelo representante legal (pais, tutor ou curador) ou pelo representante
convencional (instrumento de mandato);
III. Por terceiro sem mandato, situação que exigirá futuro ato de ratificação
da aquisição por parte daquele que é o real destinatário da posse.
Insta dizer que a ratificação tem efeito ex tunc, de modo que o
destinatário será considerado possuidor desde a data que o terceiro a
recebeu por ele.

Tito Fulgêncio apud Carlos Roberto Gonçalves, assinala que:

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“quem pretende demonstrar a aquisição da propriedade tem de ministrar a


prova da origem ou do motivo que a engendrou. O mesmo, porém, não se
dá com a posse. Tratando-se de mero estado de fato, que pode ser
demonstrado como tal, não há razão para se lhe remontar à origem”.

Não se adquire a posse por atos de mera permissão ou tolerância, e não autorizam
a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou
a clandestinidade. Ex.: o ladrão não adquire a posse enquanto foge ou o colega não
guarda a coisa do companheiro que se ausenta rapidamente, isso é detenção. (art. 1.208,
CC)
Sendo a posse o exercício de fato de um dos poderes inerentes à propriedade,
é importante saber o momento e as formas de aquisição da posse pois, assim como
vimos no estudo sobre a classificação da posse, os vícios (violência, clandestinidade
e precariedade) são verificados no momento da aquisição da coisa e é a partir dele
que são apurados o lapso de ano e dia capaz de distinguir a posse nova da posse
velha, e ainda o início do prazo no caso de usucapião.

1.7.2. Modos de aquisição da posse

A regra constante do art. 1.208 do Código Civil Muito tem caráter genérico
sendo a aquisição da posse concretizada por qualquer dos modos de aquisição em
geral, dos quais são classificados em originários e derivados, como descreve a
seguir:

I. Originária: quando não há consentimento do possuidor anterior -


adquire-se a posse por modo originário quando não há
consentimento do possuidor precedente, acontece
independentemente de relação jurídica bilateral, ou seja, não há
translado ou tradição da coisa. A aquisição decorre de ato
unilateral de vontade. É também o caso quando há esbulho, e o
vício, posteriormente, convalesce. A aquisição originária livra o
possuidor dos vícios da posse:

Apreensão: A apreensão consiste na apropriação unilateral de coisa “sem dono”. A


coisa diz-se “sem dono” quando tiver sido abandonada (res derelicta) ou quando não
for de ninguém (res nullius).

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Com relação aos bens imóveis a apreensão se revela pela ocupação, pelo uso da
coisa.

Exercício de um direito: manifestação externa de um direito que tem como objeto


uma relação possessória.
II. Derivada: quando há consentimento do possuidor anterior para
aquisição da posse - adquire-se a posse por modo derivado ela é
fruto de uma relação jurídica bilateral, que se dá com anuência
do anterior possuidor. Pode acontecer por ato intervivos (doação,
compra e venda, locação, dação em pagamento, permuta e etc.),
ou causa mortis (herança legítima, herança testamentária e
legado), como na tradição (entrega da coisa ao adquirente, com
a intenção de lhe transferir a sua propriedade ou a posse)
precedida de negócio jurídico, ocorrendo a transmissão da posse
ao adquirente pelo alienante. A aquisição derivada os vícios da
posse são transmitidos ao possuidor:

Tradição: Entrega ou transferência voluntária da coisa.


 Efetiva: efetiva entrega da coisa (material);
 Simbólica: entrega de elementos que simboliza a coisa (ex. chaves).
 Consensual: entrega ficta da coisa - decorrente do constituto possessório,
possuidor possuía em nome próprio e passa a possuir em nome alheio.

Sucessão: transmitida aos herdeiros ou legatários do possuidor quando de sua


morte.

1.7.3. Perda da Posse

Perde-se a posse quando cessa o poder sobre o bem, ou seja, aquele que
tinha a possibilidade de exercer um dos atributos da propriedade (gozar, reaver usar,
dispor - GRUD) não o exerce mais, sendo a perda materializada no momento em
que não pode mais continuar usando, fruindo ou dispondo da coisa, por fato jurídico
ou determinação legal. Para tanto, o art. 1.224 do CC, prevê que “só se considera
perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele,
se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido”.

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De descritivo, o art. 1.223 do CC prevê, todavia, que “perde-se a posse


quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual
se refere o art. 1.196 (exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade). Nesse interin possuidor poderá perder a posse nas seguintes
hipóteses:

Por abandono: Ato unilateral que também implica em perda da propriedade.


Chamada de derrelição, e o ato intencional de se desfazer daquilo que está consigo,
tornando a coisa em res derelicta (coisa que já teve dono, mas não o tem mais por
motivo de abandono, que no caso não se presume).

Por tradição: Forma de aquisição da posse, mas também de perda da posse, por
aquele que entrega a coisa a um novo possuidor.

Pela perda da coisa: Quando o objeto da posse desaparece sem intenção do


possuidor, não podendo mais ser encontrado. Considera-se perdido quando em
lugar inacessível. Obs.: Carteira em casa, não está perdida. Uma joia no fundo do
mar será declarada perdida quando da desistência da busca.

Pela destruição da coisa: inutilização total da coisa, decorrente de evento natural,


caso fortuito, ou ato humano culposo ou doloso, praticado pelo possuidor ou por
terceiro. Perecendo o objeto, extingue-se o direito. Ex.: Desaparecimento da
substância, nos casos de morte de animal, incêndio em uma casa, etc. e o caso de
perda das qualidades essenciais à sua utilização como o trecho da praia submerso.
Obs.: A simples danificação não implica perda da posse.

Por ato de Terceiro: configurado no esbulho, é a usurpação da posse por violência,


clandestinidade ou precariedade (CC, art. 1224) sendo passível de reintegração de
posse.

Por inalienabilidade: quando a coisa é posta fora do comércio por motivo de ordem
pública, moralidade, de higiene ou de segurança coletiva, ou seja, se tornado
inalienável (não pode ser vendido ou cedido por ordem pública);

Pela posse de outrem: quando a posse é tomada com vício (turbado ou esbulhado)
e o possuidor primitivo permaneceu sem contestar a posse da coisa no prazo de ano

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e dia acarreta perda da sua posse, dando lugar a uma nova posse em favor de
outrem.

Pelo constituto possessório: há constituto, quando o vendedor, transferindo a


outrem o domínio da coisa (fica com a posse indireta), conserva-a em seu poder
(posse direta), mas agora na condição ou qualidade de locatário, havendo apensa a
“tradição ficta”. A “cláusula constituti” não se presume, deve constar em cláusula
contratual.
“Traditio brevi manu” é exatamente o inverso do constituto possessório, pois se
configura quando o possuidor de uma coisa alheia passa a possuí-la como própria. Ex.:
Locatário que adquire o bem.

Pela usocapião: A perda da posse por usucapião vem da perda de domínio através
da posse mansa e pacífica, ou seja, sem oposição, exercida com “animus domini”
(intenção de dono)por outrem, por certo tempo fixado em lei. Para essa perda por
usucapião é irrelevante que a coisa tenha proprietário registrado. O Código Civil
trata da usucapião dos art. Art. 1.238 a 1.244.

1.8. Outros efeitos jurídicos da posse (art. 1.210 a 1.222 do CC)

O direito positivo (CC, arts. 1.210 a 1.222 e 1.238 e seguintes), evidenciam os


cinco principais efeitos da posse:

I. A percepção dos frutos


II. A indenização pelas benfeitorias e o direito de retenção;
III. A proteção possessória, abrangendo a autodefesa e a invocação dos
interditos possessórios
IV. A responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa;
V. A usucapião.

1.8.1. Percepção dos frutos

De forma geral, os frutos pertencem ao proprietário, uma vez que o acessório


segue o principal. Porém, há diferença se ele for possuidor de boa-fé ou de má-fé,
pois, conforme o art. 1.214 do CC, só ganha os frutos o possuidor de boa-fé. Já o
possuidor de má-fé responde pelos frutos colhidos e pelos que deixou de colher por

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sua culpa, desde o momento em que restou caracterizada a má-fé (art. 1.216 do
CC). Outro ponto fundamental é que para a aquisição dos frutos é a existência de
um justo título, mesmo que viciado, não tendo direito aos frutos o possuidor que
tem somente a posse, sem título que a valorize.

Como percebido, os frutos são bens acessórios, pois dependem da coisa


principal. A classe de coisas acessórias, no Código Civil, engloba frutos e produtos e
ambos podem ser objeto de negócio jurídico (CC, art. 95). Cabe então, diferenciar
frutos e produtos:

i. Produtos: são as utilidades que se retiram da coisa principal, diminuindo-


lhes a quantidade, porque a principal não se reproduz periodicamente.
Ex.: pedras e metais que se extraem das pedreiras e das minas.
ii. Frutos: são bens que saem do principal sem diminuir sua quantidade
pois, nascem e renascem da coisa principal sem causar sua
destruição parcial ou total. Ex.: frutas das árvores, o leite, os cereais,
as crias dos animais, etc.

Tais frutos, por sua vez, dividem-se:

a. Quanto à origem em naturais, industriais e civis.


 Naturais: são os que se desenvolvem e se renovam
periodicamente, em virtude da força orgânica da própria
natureza, como os cereais, as frutas das árvores, as crias
dos animais etc.
 Industriais: são os que aparecem pela mão do homem, isto
é, os que surgem em razão da atuação do homem sobre a
natureza, como a produção de uma fábrica.
 Civis: são as rendas produzidas pela coisa, em virtude de sua
utilização por outrem que não o proprietário, como os juros
e os aluguéis.

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1.8.2. Sobre a Indenização e a retenção pelas benfeitorias

Art. 96 do CC - As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.


Voluptuárias: as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual
do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
Úteis: as que aumentam ou facilitam o uso do bem.
Necessárias: as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.
Art. 96 do CC - Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos
sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.

De acordo com o art. 1.219 do CC, o possuidor de boa-fé tem direito à


indenização das benfeitorias necessárias, úteis e voluptuárias se não lhe forem
pagas, a levantá-las (ius tollendi - direito de tolher), quando o puder sem detrimento
da coisa. Poderá ainda exercer o direito de retenção (ius retentionis) pelo valor das
benfeitorias necessárias e úteis, até que receba o que lhe é devido (arts. 884 a 886
do CC). No caso de haver danos, a indenização referente às benfeitorias será
compensada.

A saber que, a retenção é um direito pessoal com função de garantia, que


permite a manutenção na posse até que o possuidor seja indenizado. Tal direito não
autoriza o uso da coisa. Sendo assim, temos:

a. Quando possuidor de boa-fé:


 Se realizou benfeitorias necessárias: direito a indenização +
retenção;
 Se realizou benfeitorias úteis: direito a indenização +
retenção;
 Se realizou benfeitorias voluptuárias: tem jus tollendi, sem
direito de retenção;
b. Quando possuidor de má-fé:
 Se realizou benfeitorias: Apenas restituição do valor gasto
pelo possuidor.

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POSSE

1.8.3. A proteção possessória, abrangendo a autodefesa e a invocação


dos interditos possessórios

A simples propriedade não configura posse, mas retrata um direito que lhe é
inerente. As ações possessórias, como o próprio nome indica, tem como
característica a discussão exclusivamente sobre a posse, sem análise da
propriedade
A proteção possessória abrange a autodefesa e a invocação dos interditos
possessórios.

I. Autodefesa: é exceção. O possuidor ou proprietário (na Posse Direta)


poderá utilizar a autodefesa para garantir sua posse em:
 Legítima defesa: consiste no direito de autoproteção da posse
no caso do possuidor, apesar de presente na coisa, estar sendo
perturbado, ou seja, o possuidor molestado pode reagir
incontinenti contra o agressor, empregando meios estritamente
necessários para manter-se na posse. Neste caso, não chegou a
haver perda da posse.
 Desforço imediato: consiste no direito de autoproteção da posse
no caso de esbulho, de perda da posse, ou seja, pode recuperar
a posse perdida, empregando meios moderados, agindo
pessoalmente ou sendo ajudado por amigos ou serviçais.
II. Invocação dos interditos:
Interditos possessórios são as ações (art. 554 a 567 do CPC/15) que o
possuidor tem para a defesa da posse em face da prática de três diferentes
graus de gravidade de ofensa a ela cometida: esbulho, turbação ou
ameaça. São instrumentos jurídicos, é gênero da qual fazem parte a Ação
de Reintegração de Posse, Ação de Manutenção de Posse e Interdito
Proibitório, dos quais:
a. Reintegração de posse: é aquela que visa recuperar a posse
perdida, ou seja, é cabível no esbulho possessório (perda da
posse em razão de violência, clandestinidade ou precariedade).

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b. Manutenção de posse: é cabível quando houver turbação


possessória, ou seja, molestação ou perturbação da posse. Neste
caso, houve um atentado à posse, mas sem retirá-la do
possuidor. É para a preservação da posse.
c. Interdito proibitório: Caso de ameaça ou risco ao exercício da
posse do titular, é a proteção de perigo iminente. Cabível quando
houver justo receio de turbação ou esbulho, ou seja, uma ameaça
concreta. Trata-se de uma ação preventiva, pois visa evitar a
consumação da turbação ou do esbulho. CPC: Art. 932. O
possuidor direto ou indireto, que tenha justo receio de ser
molestado na posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da
turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório, em
que se comine ao réu determinada pena pecuniária, caso
transgrida o preceito.

1.8.4. A responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa;

Conforme o art. 1.217 do Código Civil: “O possuidor de boa-fé não responde


pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa”. Neste caso a expressão
“a que não der causa” significa que para responder pela perda ou deterioração da
coisa é preciso caracterizar a ação do possuidor como dolosa ou culposa.
No caso de possuidor de má-fé, entretanto, o art. 1.218 do mesmo diploma
prescreve que ele “responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que
acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse
do reivindicante”. Isso, por sua vez, considera que o administrador de coisa alheia,
não pode abandoná-la ou abusar dela (animus disponendi), devendo responder se
culposamente causar dano a ela, contudo, não bastando provar a ausência de culpa
ou força maior, sendo necessário provar também que mesmo se a coisa tivesse na
posse do reivindicante teriam havido esses mesmos danos.

1.8.5. A usucapião

A usucapião trata-se de um dos principais efeitos da posse e pode ser


entendida como a transformação da posse – um fato – em propriedade – um direito.
Atualmente existem vários tipos de usucapião:

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1. A usucapião ordinária: art. 1.242 do Código Civil de 2002;


2. Usucapião extraordinária: art. 1.238 do Código Civil de 2002;
3. A usucapião especial rural: artigo 1.239 do Código Civil de 2002;
4. A usucapião especial urbana: artigo 1.240, do Código Civil de 2002;
5. A usucapião indígena: Estatuto do Índio;
6. A usucapião coletiva: Estatuto da Cidade;
7. A usucapião extrajudicial imobiliária: Lei nº 13.465 de 2017 que
alterou artigos do Código de Processo Civil de 2015.

A usucapião extraordinária está disposta no artigo 1.238 do Código Civil de


2002 e os requisitos são:
i. a posse justa, sem violência, precariedade e clandestinidade;
ii. o lapso temporal – quinze anos -;
iii. o animus domini – possuidor deve agir com intenção de dono
iv. o objeto hábil a ser usucapido.

Na usucapião extraordinária, acrescenta-se os requisitos: justo título e boa-fé,


que são presumidos na ordinária.

Atualmente, a legislação possui previsão de oito tipos de usucapião, cada um


com requisitos específicos, são eles:

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