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TEORIA SOCIOLÓGICA DA POSSE

Carlos Renato da Silva*

RESUMO: O termo posse é de grande discussão na atualidade justamente por não


se encaixar adequadamente nos direitos reais, sendo assim conceituada com
facilidade pelo domínio que um indivíduo tem por um determinado objeto. Visto isso
ainda assim confunde-se posse com propriedade e detenção, portanto surgindo
também questionamentos quanto às ações possessórias.

palavras chaves: Direito civil, direito das coisas, posse

Introdução
no decorrer deste trabalho serão feitas análises quanto a posse, suas teorias com
destaque especial à teoria sociológica da posse pouco difundida, mas largamente
utilizada em nossos meios jurídicos

Dificuldades conceituais
De modo assaz simplista podemos dizer que posse é a coisa possuída por pessoa
(física ou jurídica) cujo instituto se encontra no art.1.196 do Código Civil, como
segue:

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o


exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade. (destaque nosso)

LOGO Ninguém sabe o que é Posse, diante dessa declaração formal além de que
posse é um fato que o direito regula e, como, quando ninguém sabe o que é algo,
surgem as teorias.
É sabido que ao longo da história a posse assumiu diversos
conceitos distintos. Porém, a doutrina atualmente define a posse
como sendo uma situação fática, de caráter potestativo, decorrente
de uma relação sócio-econômica entre o sujeito e a coisa, e que gera
efeitos no mundo jurídico (FIUZA, 2003).
Já para o Supremo Tribunal Federal não existe conceito definitivo de posse no
direito brasileiro, eis que conhecemos apenas as características de posse trazidas
por Savigny e Ihering, sendo que conceito de posse muitas vezes é confundido com
o conceito de possuidor.

A posse, por conseguinte, não pode ser confundida com a propriedade. A


propriedade é baseada em uma relação de direito, enquanto a posse é fundada em
uma relação de fato].

Poderes de proprietário
Tomamos, então, como ponto de partida para que possamos entender o que é
posse, o significado formal de “poderes inerentes à propriedade” citado no artigo em
tela. Para tanto nos remetemos ao art. 1.228 Caput, §1° do CC
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor
da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha.

§ 1° O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com


as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam
preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a
flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o
patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e
das águas.

Portanto, Usar, gozar, dispor e reaver são direitos do proprietário como expresso no
Caput do artigo acima, logo é certo afirmar que a pessoa que exercer tais ações
sobre a coisa pode ser considerado possuidor, porém ainda é muito vaga tal
afirmação então surgiram as diversas teorias intuindo clarificar o assunto .

Teorias aceitas majoritariamente


As teorias da Posse mais aceitas, as mais estudadas e mais pedidas, são duas:
TEORIAS SUBJETIVA e TEORIA OBJETIVA. Ambas têm origem na Alemanha, no
século XIX. A TEORIA SUBJETIVA (de Savigny) entende que a posse se configura
quando houver a apreensão física da coisa ( corpus ), mais a vontade de tê-la como
própria ( animus domini ). Segunda teoria, por sua vez, a TEORIA OBJETIVA (de
Ihering), indica que a posse se configura com a mera conduta de dono, pouco
importando a apreensão física da coisa e a vontade de ser dono da mesma. Basta
ter a coisa consigo, mesmo sem ter a intenção de possuí-la. Exemplo: comodato.

Ora, tendo Ihering conseguido rebater a teoria de Savigny em seus pontos


fundamentais, gerando muitas críticas a sua doutrina, o que levou à decadência da
teoria subjetiva e ao acolhimento da teoria objetiva de Ihering, que inclusive, é a
adotada pelo atual Código Civil brasileiro.

Teoria sociológica da posse


Não obstante todo o exposto, tem ganho muita força a TEORIA SOCIAL DA POSSE.
Essa teoria tem por patronos Silvio Perozzi, na Itália; Raymond Saleilles, na França
e Hernandez Gil, na Espanha.

Defendem a teoria sociológica que a posse existe quando a sociedade atribui ao


sujeito o exercício da posse àquele que der a destinação social ao bem da vida
Esta teoria preconiza que a posse tem autonomia em face da propriedade.

A Constituição Federal de 1988, no inciso XXIII, do art. 5º, consagra a função social
da propriedade: “a propriedade atenderá a sua função social”.

Perozzi entende que a desistência de terceiros diante de uma situação é o que


legitima a posse.

Para Saleilles o possuidor é aquele que manifesta a independência econômica


para, por exemplo, arcar com a manutenção e sustentabilidade da coisa.

Já Gil acredita que a propriedade deve servir a propósitos coletivos.

Visando adaptar o nosso Código Civil à Teoria Sociológica, bem como aos
conceitos de função social da posse e da propriedade presentes na Constituição
Federal e legislações esparsas, ainda em 2002, quando foi publicada a Lei
10.406/2002, apresentou-se na Câmara dos Deputados, por iniciativa do então
Deputado Ricardo Fiúza, o Projeto de Lei de n.º 6.960/2002, que propõe esta
redação ao artigo 1.196 do Código Civil:

“Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem poder fático
de ingerência sócio-econômica, absoluto ou relativo, direto ou
indireto, sobre determinado bem da vida, que se manifesta através
do exercício ou possibilidade de exercício inerente à propriedade ou
outro direito real suscetível de posse.”

Conclusão
Conclui-se que, caso aprovado o PL6.960/2002, por fim, que o Código Civil de 2002
adotaria a tese da posse-social, sustentada por Perozzi, Saleilles e Gil, mas foi
arquivado em 2008, contudo, muitos decisões ainda conferem grande importância
aos valores apregoados por essa teoria, principalmente nos casos de usucapião.

*Carlos Renato da Silva - Estudante de direito do 5° período da


Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim

REFERENCIAS

BRASIL, Código Civil, LEI N°-10.406. de 10 de janeiro de 2002, Disponivel


em :https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406compilada.htm Acesso
15/04/2022

_________, Câmara dos Deputados; Departamento de Comissões Coordenação de


Comissões Permanentes Memorando n.º 53/08 - COPER Brasília - DF, 14 de março
de 2008. Ao Senhor Diretor da Coordenação de Arquivo Assunto: arquivamento de
proposição. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?
codteor=544886&filename=Tramitacao-PL+6960/2002 Acesso 15/04/2022

FIUZA, Ricardo. Novo Código Civil Comentado. São Paulo: Saraiva, 2003

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