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Fernando Campos Scaff

Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – Largo São Francisco

APRESENTAÇÃO DO CURSO. PONTO 1: DIFERENÇA ENTRE DIREITOS REAIS E OBRIGACIONAIS.


PONTO 2: POSSE: ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA. TEORIAS PRINCIPAIS. CONCEITO. NATUREZA
JURÍDICA. ELEMENTOS. SUJEITO E OBJETO DE POSSE. A QUESTÃO DAS POSSE E OS DIREITOS
PESSOAIS

- Direito das Coisas: regula o poder dos homens sobre os bens e os modos de sua utilização
econômica.

- Distinção com os direitos pessoais:

- Teoria realista: o direito real é o poder imediato da pessoa sobre a coisa, que se exerce
erga omnes. O direito pessoal, por outro lado, opõe-se unicamente a uma pessoa de quem se
exige determinado comportamento.

- Manifestações típicas: a sequela e a preferência. Seu caráter absoluto decorre de ser um poder
direto e imediato sobre a coisa.

- Oposição a essas ideias: a) não pode haver relação jurídica senão entre pessoas; b) a
oponibilidade a terceiros não é peculiaridade dos direitos reais, mas sim característica de todos
os direitos absolutos. Além disso, há direitos reais que não se apresentam como um poder
imediato de uma pessoa sobre uma coisa, tal como ocorre com os direitos de garantia e as
chamadas servidões negativas. Há, por outro lado, direitos que determinam um poder imediato
sobre a coisa e mesmo assim estão incluídos entre os direitos pessoais, tal como é o caso do
locatário e do comodatário.

- Teoria personalista (Windscheid): os direitos reais são também relações jurídicas entre
pessoas, como os direitos pessoais. A distinção está no sujeito passivo: nos direitos pessoais,
o devedor é pessoa certa e determinada; no direito real, seria indeterminada, havendo uma dita
obrigação passiva universal.

- Distinção fundada no modo do exercício do direito (De Page): a característica do


direito real será sempre o fato de se exercer diretamente, sem interposição de quem quer que
seja, enquanto o direito pessoal supõe necessariamente a intervenção de outro sujeito de direito.

- Objeto do direito real: coisa determinada. Sua violação consiste sempre num fato
positivo. Gera ao seu titular um gozo permanente, pois tende à perpetuidade.

- Objeto do direito pessoal: coisa determinável. Sua violação pode ser por ação ou por
omissão. Gera ao seu titular um direito de natureza eminentemente transitória.

- Classificação dos direitos reais:


- Direito sobre a coisa própria: propriedade
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- Direitos sobre coisa alheia: servidões, o uso, o usufruto, a habitação, os direitos do


compromissário comprador, o penhor, a anticrese e a hipoteca.

- Esses subdividem-se em direitos de gozo e fruição, de um lado, e direitos de garantia,


de outro, estando nesse grupo a hipoteca, a anticrese e o penhor.

- Características:

- Direito de sequela: aquele que tem o titular de direito real de seguir a coisa em poder de todo
e qualquer detentor ou possuidor

- Direito de preferência: é restrito aos direitos reais de garantia. O direito de preferência é


referido no artigo 1419 do Código Civil.

- Estão previstos em numerus clausus os direitos reais (art. 1225 do Código Civil). Não sendo
previstas em lei, novas espécies são inadmissíveis.

- Constituição dos direitos reais: contrato, sucessão, desapropriação.

- Princípios principais sobre os quais se assenta a ideia de uma teoria de propriedade.


Tais princípios poderão ser, em alguma medida, conflitantes (Stephen R. Munzer – Theory of
Property. Pág. 3):

a) princípio da utilidade e eficiência,


b) princípio da justiça e equidade,
c) princípio do mérito baseado no trabalho.

Pág. 16- Esses contratastes entre o mundo sem-propriedade e o mundo real sugere dois
diferentes modos de entender propriedade. Um é a conceituação popular de propriedade. Ela
enxerga propriedade como bens. Para a maior parte, propriedade são coisas tangíveis – terra,
casas, automóveis, ferramentas, fábricas. Mas isso também inclui bens intangíveis – direitos
de autor, patentes e marcas. Muitas dessas coisas não existiriam num mundo sem propriedade.
O outro modo de entender propriedade é a conceituação sofisticada. Ela entende a propriedade
a partir da ideia das relações. Mais precisamente, propriedade consiste em certas relações,
usualmente relações legais, entre pessoas ou outras entidades com respeito a coisas.

NOÇÃO PRIMITIVA DE POSSE (JOSÉ CARLOS MOREIRA ALVES, Posse vol. 1, pág. 17):

- No direito romano: é ela a senhoria de fato, revogável e sem limite no tempo sobre imóvel
de que o concedente tem senhoria de direito. Senhoria de fato exercitada com o animus de ter
a coisa para si, insuscetível, porém, de transformar-se em senhoria de direito.

- Gewere (antigo direito germânico): designava o ato pelo qual se transferia juridicamente um
imóvel e no qual a pessoa que até então exercera a senhoria sobre ele declarava que a
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renunciava (Auflassung). Posteriormente, Gewere passou a indicar, também, a relação de


senhoria entre pessoa e coisa, quer tivesse por objeto coisa móvel ou imóvel, quer surgisse de
aquisição derivada ou originária. Enfim, Gewere traduz o objeto sobre o qual incide a senhoria.

Conceito de posse:

Savigny (Das Recht des Besitzes) Tratado da Posse, de 1803):

Seu objetivo era expor a teoria da posse como ela se apresenta no direito romano. O próprio
Savigny informa que, ao estudar as fontes romanas (dez últimos livros do Digesto), teve o
interesse de estudar a posse e renovar as opiniões contemporâneas dominantes a partir das
fontes romanas.

- Tratava-se, portanto, de livro voltado para a reconstrução da teoria da posse como a haviam
concebido os jurisconsultos romanos, e não de trabalho destinado a fins práticos (Moreira
Alves, págs. 208 e 209).

- Pág. 211- Em suas linhas gerais, parte ele da observação de que, no direito romano, só dois
efeitos legais se atribuem à posse como tal e independente de qualquer ideia de propriedade: a
usucapião e os interditos possessórios. A posse é condição de existência desses dois efeitos. É
ela fato e direito – por sua própria essência, é um fato: por suas consequências, assemelha-se
a um direito. O ius possessionis, que é o direito que resulta da posse, consiste apenas na
faculdade de invocar interditos possessórios, quando da violação da posse assume forma
determinada.

Pág. 212- Quais, então, são os elementos essenciais da noção de posse jurídica? São eles dois:
um fato exterior (o corpus) e uma vontade determinada que o acompanha (o animus, fato
interior). O corpus não é, como pretendiam os jurisconsultos desde o tempo da glosa, o contato
material com a coisa, nem são os atos simbólicos que, graças a uma ficção jurídica,
representam esse contato, mas, sim, a possibilidade real e imediata de dispor fisicamente da
coisa, e de defende-la contra agressões de terceiro. Já o animus que caracteriza a posse é o
animus domini (a intenção de ter a coisa como se fosse proprietário dela), que não se confunde
com a opinio domini (a crença de ser, realmente, o proprietário da coisa possuída). Portanto, o
que distingue a posse da detenção é a circunstância de que, na posse, mister se faz a existência
de um animus especial: o animus domini. Por tê-lo, o ladrão tem posse: por não o ter, – e isso
porque não considera a posse como sua – não a tem o inquilino, que é mero detentor. Mas, o
próprio Savigny não podia deixar de reconhecer que existiam casos em que, segundo os textos
romanos, havia posse, apesar da inexistência do animus domini: o do precarista, o do credor
pignoratício, o do depositário de coisa litigiosa e o do enfiteuta que, que possuíam sem ter
animus domini, e que, logicamente, deveriam ser meros detentores como o eram, por exemplo,
o locatário, o depositário, o comodatário, o usufrutuário. Considerou-os (pág. 213) Savigny
como derrogações aos princípios primitivos da posse, e explicou-os com a noção de posse
derivada: além da posse originária, cujos elementos essenciais são o corpus e o animus domini,
há a posse derivada, que é aquela que resulta da transferência, por parte do possuidor
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verdadeiro e originário, do ius possessionis ao que irá exercer o direito de propriedade em


nome daquele; o animus possidendi, na posse derivada, tem por objeto o ius possessionis
transferido pelo possuidor originário, e é a intenção de tê-lo.

A posse resultaria da conjunção de dois elementos, o corpus e o animus. O corpus é o elemento


material, que se traduz no poder físico de uma pessoa sobre a coisa. O animus é o elemento
intelectual, representando a vontade de ter a coisa como sua. A posse civil resulta da conjunção
desses elementos.
Posse derivada: situações excepcionais nas quais, mesmo sem o animus, é
garantida a proteção possessória. Essa é a chamada teoria subjetiva.

Ihering:

(Moreira Alves, pág. 223): A proteção da posse é um postulado da proteção da propriedade;


ela é o complemento indispensável do sistema da propriedade dos romanos. E é dele também
a afirmação que viria a celebrizar-se: a posse é uma posição avançada da propriedade. (...) Para
Ihering, sendo a posse a exteriorização ou a visibilidade da propriedade, o critério para a
verificação de sua existência é a maneira pela qual o proprietário exerce, de fato, sua
propriedade, o que implica dizer que o corpus é a relação de fato entre a pessoa e a coisa de
acordo com a sua destinação econômica, é o procedimento do possuidor, com referência à
coisa possuída, igual ao que teria normalmente o titular do domínio. As ideias de Ihering são
as seguintes:

É chamada de teoria objetiva. A posse é poder de fato sobre uma coisa, enquanto a propriedade
é poder de direito. Podem se unificar nas mãos de uma só pessoa, ou estarem separados.

Utilização econômica da propriedade consiste em usá-la de duas maneiras: a)


diretamente pelo proprietário (utilização imediata ou real), b) cedendo-a a outrem (utilização
mediata ou jurídica). Sendo assim, a noção de propriedade acarreta o direito do proprietário à
posse.

A posse, assim, seria: a) o conteúdo de um direito; b) condição de nascimento de um direito;


c) fundamento de um direito.

- A diferença entre posse e detenção não estaria na natureza particular da vontade de


possuir, mas sim na causa da aquisição.

- O critério para a verificação da posse seria a constatação de sua destinação econômica.


A posse vem a ser o exercício de um poder sobre a coisa correspondente ao da propriedade ou
a outro direito real.

Objeto da posse: podem ser objeto de posse as coisas e os direitos. Nestes, admite-se a posse
de direitos obrigacionais, desde que seu exercício esteja ligado à detenção de uma coisa
corpórea.
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- Detenção: servidores da posse – art. 1.198 do Código Civil.


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2ª SEMANA

03. AS DIVERSAS ESPÉCIES DE POSSE: POSSE "AD USUCAPIONEM", "AD INTERDICTA", DETENÇÃO.
POSSE DIRETA E INDIRETA. POSSE JUSTA E INJUSTA. POSSE DE BOA FÉ E DE MÁ FÉ.
04. AQUISIÇÃO E PERDA DE POSSE.
05. EFEITOS SECUNDÁRIOS DA POSSE: QUANTO A FURTOS, BENFEITORIAS, DIREITO DE RETENÇÃO.
A PRESUNÇÃO DE PROPRIEDADE

Objeto

Não encontra a posse, na linguagem legal, limitação às coisas corpóreas. Seu objeto, portanto,
pode consistir em qualquer bem. Podem ser objeto da proteção possessória, na verdade, tanto
as coisas corpóreas quanto os bens incorpóreos ou os direitos, mas, sendo a posse a visibilidade
do domínio, os direitos suscetíveis de posse hão de ser aqueles sobre os quais é possível exercer
um poder ou um atributo dominial, como se dá com a enfiteuse, as servidões, o penhor. Não
os outros, que deverão procurar medidas judiciais adequadas à sua proteção.

Espécies de posse

A posse existe como um todo unitário incindível. É sempre um poder de fato que corresponde
ao exercício de uma das faculdades inerentes ao domínio. Não obstante, a presença ou a
ausência de certos elementos, objetivos ou subjetivos, determina a especialização de
qualidades que a diversificam em várias espécies.

- Posse justa: é aquela cuja aquisição não é contrária ao direito. Importa, no caso, a
forma de aquisição. É ela isenta de vícios originais.
- Os vícios objetivos que maculam a posse são a violência, a clandestinidade e a
precariedade. (art. 1200 CC).

- A posse justa tem de ser pública e contínua. Pública para que o


interessado na sua extinção possa se opor a que continue a ser exercida por aquele que se
apresenta como legítimo possuidor. Deve ser contínua, uma vez que é o seu exercício manso
e pacífico que confirma, constantemente a legitimidade de sua aquisição.

- Posse injusta:

- posse violenta é a que se adquire pela força. Obtém-se pela prática de atos
materiais irresistíveis. A força pode ser natural ou física, ou ainda moral ou resultante
de ameaças que incutam na vítima sério receio;
- posse clandestina é a que se adquire às ocultas, com a utilização de artifícios
para iludir o que tem a posse ou agindo às escondidas.

- A violência e a clandestinidade, como vícios relativos, somente podem ser afirmados pela
vítima; em relação a qualquer outra pessoa, a posse produz seus efeitos normais. E. como vícios
temporários, podem ser purgados, com a sua cessação, desde que não consista a mudança em
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ato do próprio possuidor vicioso.


- posse precária é a que se adquire por abuso de confiança. Resulta, comumente,
da retenção indevida da coisa que deve ser restituída.

- Posse de boa-fé: é aquela na qual o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que lhe
impede a aquisição da coisa, ou do direito possuído. (art. 1201 CC).

- Posse com justo título: traz o sentido de causa ou de elemento criador da relação
jurídica. Diz-se justo o título hábil, em tese, para transferir a propriedade.

- Posse ad interdicta e ad usucapionem. Para que o possuidor obtenha o interdito que


o ampare contra o turbador ou esbulhador, basta que demonstre os elementos essenciais, o
animus e o corpus, isto é, a existência da posse e a moléstia. Mas, para que adquira por
usucapião, necessário será que, além dos elementos essenciais à posse, revista-se ainda esta de
outros acidentais: boa-fé, decurso de tempo suficiente, que seja mansa e pacífica, que se funde
em justo título, salvo na usucapião extraordinária, que seja cum animo domini.

- Posses paralelas: todo aquele que tem, de fato, o exercício, pleno ou não, de algum
dos poderes inerentes ao domínio é possuidor. Podem coexistir, portanto, sem se anularem,
duas posses sobre a mesma coisa. A coexistência decore da possibilidade do desdobramento
da relação possessória. Temporariamente, alguém passa a possuir coisa havida de outrem que,
por essa forma, a utiliza economicamente. A utilização indireta revela que o proprietário
conserva a posse. (arts. 1197 e 1.198).

- Posse direta é a que tem o não-proprietário a quem cabe o exercício de uma


das faculdades inerentes ao domínio, por força de obrigação ou de direito. São os seus titulares
aqueles exercem direito real sobre coisa alheia ou de direito pessoal que importe uso ou gozo
de coisa. É posse subordinada.

- Posse indireta é a que o proprietário conserva quando se demite,


temporariamente, de um dos direitos elementares do domínio, cedido a outem seu exercício.

- Composse: na sua forma típica, a posse, assim como a propriedade, é de titularidade


exclusiva. Contudo, por força de convenção ou a título hereditário, duas ou mais pessoas
tornam-se condôminos da mesma coisa, mantendo-se pro indiviso a situação respectiva, em
virtude da qual ela constitui objeto de propriedade de todos.

- Aquisição e perda da posse:

- Aquisição originária: não há consentimento do possuidor precedente (art. 1204 do


Código Civil).

- Apreensão: forma de disposição física da coisa, recaindo sobre bens materiais.


É a apropriação dela, realizada por ato unilateral do adquirente, desde que subordinada a certos
requisitos que enquadram o fato material na sistemática jurídica da teoria possessória.
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- Exercício do direito: torna possível a posse de um direito. É a manifestação


externa de quem efetiva uma conduta como titular do domínio (ex. servidão).
- Aquisição derivada: ocorre quando há consentimento do possuidor precedente. Diz-
se também por ato bilateral. O ato mais frequente é chamado tradição. Na sua concepção mais
pura, ela se manifesta por um ato material de entrega da coisa. Para tal, não é necessária uma
“declaração de vontade”, bastando a intenção das partes.

Espécies:
- Efetiva ou material: entrega real da coisa.
- Simbólica ou ficta: a entrega da coisa é substituída por atitudes, gestos,
ou mesmo atos, indicativos do propósito de transferir a posse.
- Consensual: traditio brevi manu e constitutum possessorium (art. 1205
do Código Civil).

- Acessão de posse: pode a posse ser continuada pela soma do tempo do atual possuidor com
o de seus antecessores. A conjunção de posses denomina-se acessão.

- Duas espécies: a) sucessão, quando o sucessor continua de direito a posse do


antecessor (art. 1206 do CC); b) união, que ocorre quando alguém compra alguma coisa,
existindo uma relação jurídica entre as partes (art. 1207).

- Atos que não induzem posse: aqueles fundados na mera permissão ou tolerância,
provenientes da confiança fundada em relações familiares ou de amizade. (art. 1208).

- Modos de perda da posse:

- Na conjunção do corpus e do animus:

a) abandono: o possuidor se despoja dela, voluntariamente, demitindo de si o


estado de fato que reflete a conduta normal do proprietário.

b) tradição. Também neste caso, o possuidor descarta o poder material sobre a


coisa porque não a quer mais.

- Pela perda do corpus:

a) perda da coisa: a consequente subtração do bem do senhorio da pessoa. Não


significa a perda do controle direto e material. Cumpre, na verdade, que esteja perdida
a coisa, efetivamente, quer por não envidar o possuidor recuperá-la, quer por ter outra
pessoa adquirido a sua posse.

b) destruição: perecendo o objeto, extingue-se o direito. Nesse sentido, pode se


considerar o desaparecimento efetivo da coisa ou a perda de suas qualidades essenciais.
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c) posse de outrem, decorrente do esbulho.

d) ter sido colocada a coisa como fora do comércio.

- Perda do animus:

- constitutum possessorium. Importa na perda da posse pelo ânimo, uma vez que
o possuidor, por via da cláusula constituti, altera a relação jurídica e, mudando o
elemento intencional (animus), passa a possuir nomine alieno aquilo que possuía para
si mesmo.

ADMINISTRATIVO E CIVIL. AÇÃO POSSESSÓRIA. TERRENO DE MARINHA.


OCUPAÇÃO PRECÁRIA. RETENÇÃO POR BENFEITORIAS. INADMISSIBILIDADE.
SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO.
1. Tratam os autos de Ação de Manutenção de Posse ajuizada por CAMPING MATINHOS LTDA contra a
UNIÃO FEDERAL objetivando a proteção de área situada no Município de Matinhos, litoral do Estado do
Paraná, em face de justo receio de turbação. Alegou o autor exercer a posse na área localizada em terreno de
marinha há mais de cinco anos, onde realiza suas atividades comerciais (camping), recolhendo impostos e taxas
pertinentes, além de haver edificado diversas benfeitorias. Tendo ocorrido em 06/05/2001 o fenômeno
denominado “ressaca marítima”, foi-lhe exigida pela União a imediata desocupação do imóvel pelo perigo
decorrente de sua localização. Em primeiro grau, julgou-se improcedente o pedido. O TRF/4ª Região negou
provimento à apelação, concluindo pela não-configuração de cerceamento de defesa e pela constatação de
irregularidade da ocupação, não vislumbrando posse justa nem de boa-fé, sendo defeso ao ocupante alegar
retenção pelas benfeitorias. O recurso especial é fundamentado na alínea “a” do permissivo constitucional
apontando vulneração dos arts. 535, II, CPC, 516 do CC e 6º da Lei 9.363/98, defendendo a anulação do aresto
ante a constatação de omissões; sua reforma, por ser inaplicável o art. 6º da Lei 9.363/98; ser possuidor de boa-
fé, devendo ser reconhecido seu direito à indenização pelas benfeitorias conforme o teor do art. 516 do CC. Em
contra-razões, a recorrida aduz que o acórdão merece manutenção, se ultrapassada a questão de ser matéria
fática a deduzida, o que atrairia a Súmula 07/STJ.
2. A posse do ocupante não se sobrepõe juridicamente ao domínio da União sobre imóvel. Tendo em vista a
ocupação se revestir de caráter precário, não sendo justa nem se sustentando em boa-fé, estando exercida sobre
bem público (terreno de marinha), assim reconhecida pelo próprio recorrente, não lhe sobejam direitos sobre o
imóvel ou à indenização pelas benfeitorias que realizou.
3. Os terrenos de marinha, discriminados pelo Serviço de Patrimônio da União com base em legislação
específica, só podem ser descaracterizados pelo particular por meio de ação judicial própria.
4. A ocupação de área de uso comum do povo por um particular configura ato lesivo à coletividade e, mesmo
se concedida pela União, poderia ser revogada discricionariamente. O interesse público tem supremacia sobre
o privado, pois visa à proteção da comunidade, da propriedade do Estado, do meio ambiente e, no presente caso,
da própria integridade física do recorrente.
5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, improvido.
(REsp 635.980/PR, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 03/08/2004, DJ
27/09/2004, p. 271)

REIVINDICATÓRIA. POSSE JUSTA. PROMISSÓRIO COMPRADOR.


AQUELE QUE POSSUI UM IMOVEL EM RAZÃO DE CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E
VENDA EXERCE POSSE JUSTA E NÃO PODE DELA SER DESPOJADO, EM AÇÃO
REIVINDICATÓRIA PROMOVIDA PELO PROPRIETÁRIO E PROMITENTE VENDEDOR, SEM
PREVIA OU CONCOMITANTE EXTINÇÃO DO CONTRATO.
SENDO A POSSE JUSTA, DERIVADA DE NEGOCIO JURIDICO QUE O LEGITIMA E EXPLICA, FALTA
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A REIVINDICATÓRIA UM DOS SEUS PRESSUPOSTOS, QUE E A POSSE INJUSTA, CONTRARIA AO


DIREITO.
PRECEDENTES. ART. 524 DO C CIVIL.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
(REsp 123.705/AL, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 26/08/1997,
DJ 17/11/1997, p. 59547)
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PONTO 6: PROTEÇÃO POSSESSÓRIA: AÇÕES POSSESSÓRIAS.

- Proteção juntamente com o que consta do sistema processual, previsto pelo artigo 1.210 do
Código Civil

- Interditos: meios processuais de que se pode servir o possuidor para defender a posse.

- Posse justa e injusta: a posse é injusta se foi adquirida com violência, clandestinidade ou
abuso de confiança.

- Fundamento da proteção do fato possessório:

- Savigny: a proteção seria concedida em atenção à vontade ou à pessoa da qual emana


o animus domini. Campo delitual.

- Rudorff: garantia da paz social, impedindo que as pessoas fizessem justiça pelas
próprias mãos.

- Gans – a posse deve ser protegida como o começo da propriedade.

- Stahl – a proteção possessória é concedida em atenção ao interesse econômico que a


posse apresenta.

- Ihering: a proteção à posse é um complemento necessário da proteção da propriedade.


Protege-se o estado de fato sem se cogitar do direito dominical.

- Tipos de ações:

a) imissão na posse
- O objetivo é o de permitir que alguém que esteja impedido de exercer sobre a coisa o poder
físico ou privado de utilizá-la, pela forma que lhe convenha, deve ter meio rápido de tomá-la
como, por exemplo, a pessoa que adquire um bem e dele não pode servir-se porque terceiro se
recusa a entregá-lo. O adquirente já é, porém, possuidor por haver adquirido a posse mediante
tradição ficta. Assim sendo, posse já tem. O que pretende é imitir-se na posse, tornando efetiva
a transmissão. Exemplo: execução na forma de mandado para a entrega de coisa certa (art.
625).

b) manutenção de posse
Meio de que pode se servir o possuidor em caso de turbação. Seu objetivo específico é o de
obter mandado judicial que faça cessá-la. Além disso, por meio dela pode se pretender o
recebimento de indenização pelos danos causados pela turbação, e a cominação de pena no
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caso de reincidência.

Turbação: todo ato que embaraça o livre exercício da posse. Podem ser atos positivos ou
negativos.
Pode ser proposta contra o dono do bem, sendo aplicável em relação às coisas móveis ou
imóveis.

- Ação intentada dentro do prazo de ano e dia (arts. 926 a 931) do Código de Processo Civil.
- Na resposta, é possível estabelecer pretensão contrária (caráter dúplice).
- É, também, ação fungível.

c) reintegração de posse
- Tem como objetivo específico a recuperação da posse que tenha sido esbulhada.
- Esbulho: constitui-se no ato de tomar alguma coisa a alguém contra sua vontade sem legítima
autoridade ou direito.

d) interdito proibitório
É ação possessória de caráter preventivo, para impedir que se efetivem a turbação ou o esbulho.
Está baseado numa mera ameaça.

Tem legitimidade para ingressar com a ação tanto o possuidor direto como o possuidor indireto.

e) nunciação de obra nova


É a ação para impedir que uma edificação seja prejudicada em sua natureza, substância,
servidão ou fins, por obra nova em prédio vizinho, ou impedir que condomínio execute obra
com prejuízo ou alteração da coisa comum.

- Necessário que a obra seja nova, isto é, que ela esteja sendo construída, mesmo que se trate
de obra provisória, da qual resulte ameaça ao objeto do direito do vizinho, nele compreendida
a posse.

- Não é ação cautelar, mas sim ação de natureza especial.

f) ação de dano infecto


- Quem tiver justo receio de sofrer dano proveniente da ruína da casa vizinha ou do vício das
obras pode pedir que o proprietário dê caução para garantia da indenização, da realização do
reparo necessário ou da demolição.

g) embargos de terceiro
- Aquele que, não sendo parte numa determinada ação judicial, sofre turbação ou esbulho em
sua posse por efeitos de penhora, depósito, arresto, seqüestro, venda judicial, arrecadação ou
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outro meio de apreensão judicial pode defender-se por meio de embargos de terceiro.

- É um processo acessório.

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