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1 DIREITO DAS COISAS

O Código Civil dedica um livro inteiro para o Direito das Coisas. Apesar
desta disciplina ser comumente chamada de Direitos reais, este é apenas um
capítulo do livro.

Segundo a clássica definição de Clóvis Beviláqua, direito das coisas é o


complexo de normas reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas
suscetíveis de apropriação pelo homem. Tais coisas são, ordinariamente, do
mundo físico, porque sobre elas é que é possível exercer o poder de domínio.

Isto quer dizer que não é sobre qualquer coisa se preocupa esta
disciplina, apenas coisas suscetíveis de apropriação pelo homem e que possam
ser objeto de relações jurídicas. A título de exemplo temos o ar, que apesar de
ser mais importante para o ser humano do que um imóvel, o primeiro não
pode ser alvo de apropriação pelo homem e objeto de uma relação jurídica.

Pode-se afirmar que, tomado nos seus lineamentos básicos, o direito


das coisas resume-se em regular o poder dos homens, no aspecto jurídico,
sobre a natureza física, nas suas variadas manifestações, mais precisamente
sobre os bens e os modos de sua utilização econômica.

2 DIREITOS REAIS X DIREITOS PESSOAIS

Para delimitar e precisar o objeto de estudo dos direitos das coisas, é


necessário estabelecer uma distinção entre direitos reais e pessoais.

O direito pessoal é composto por uma relação entre um sujeito ativo,


um sujeito passivo e uma prestação, que pode ser uma prestação de dar, fazer
ou não fazer. Neste tipo de relação jurídica, as partes, no âmbito de suas
vontades individuais, celebram um acordo que tem como objeto uma
prestação. Sendo assim, fica o sujeito passivo obrigado para com o sujeito
ativo.

Por sua vez, a relação de direito real é composta por o sujeito ativo, a
coisa e o direito do sujeito sobre a coisa. Figura no polo passivo de uma
relação de direitos reais, toda a sociedade. Isto porquê toda a sociedade é
obrigada a se abster de causar dano na relação do sujeito com a sua coisa.

O titular de um direito real exerce este seu direito contra a coisa, já o


titular de um direito pessoal exerce seu direito sobre outra pessoa. O direito
real opera se caráter imediato, como efetivação direta, não depende da
colaboração de ninguém, enquanto o direito pessoal só se efetiva quando o
sujeito passivo cumpre suas obrigações devidas.

As relações de direito pessoal são de caráter transitório, nascem com a


celebração do acordo e duram até o cumprimento da obrigação. Já as relações
de direito real são ad perpetum, tende-se a durar até a morte.

Ademais, as normas que regulam os direitos reais são de natureza


cogente, de ordem pública e possuem eficácia erga omnes (oponíveis contra
todos), ao passo que as que disciplinam o direito obrigacional são, em regra,
dispositivas ou facultativas, permitindo às partes o livre exercício da autonomia
da vontade e possuem eficácia inter parts (exigíveis entre as partes).

Segue uma tabela exemplificativa dessas diferenças:

DIREITOS PESSOAIS DIREITOS REAIS


Os sujeitos são
Os sujeitos são indeterminados e podem
determinados no momento varias a depender da
da formação da celebração situação;
SUJEITOS
do acordo; Sujeito Ativo: Titular de um
Sujeito Ativo: Credor; direito real;
Sujeito Passivo: Devedor; Sujeito Passivo: Toda a
sociedade;
O Cumprimento de
Uma coisa suscetível de
determinada prestação;
OBJETO apropriação pelo homem e
Obrigação de dar, fazer e
alvo de uma relação jurídica;
não fazer
São criados pelas partes;
São criados por lei;
A lei traz um rol
FORMAÇÃO A lei traz um rol taxativo e
exemplificativo e ilimitado;
limitado;

Possui um caráter
transitório; São de caráter perpétuo, não
DURAÇÃO
Se extinguem com o se extinguem pelo não uso.
cumprimento da obrigação;
Exercido contra todas as
Somente é exercido contra
pessoas da sociedade;
o devedor;
EXERCÍCIO É exigido um ato negativo, se
É exigido um ato positivo,
abster de interferir no
cumprir a obrigação;
exercício do direito;

3 PRINCÍPIOS DE DIREITO DAS COISAS

Princípio da aderência, especialização ou inerência:

Estabelece um vínculo, uma relação de senhoria entre o sujeito e a


coisa, não dependendo da colaboração de nenhum sujeito passivo para existir.
O direito real gera, pois, entre a pessoa e a coisa, como foi dito, uma relação
direta e imediata.

A aderência do direito real à coisa não é senão a constatação do fato de


que o direito real permanece incidindo sobre o bem, ainda que este circule de
mão em mão e se transmita a terceiros, pois o aludido direito segue a coisa
(jus persequendi), em poder de quem quer que ela se encontre. Em
consequência, a tutela do direito real é sempre mais enérgica e eficaz que a do
direito de crédito.

Princípio do absolutismo:

Os direitos reais se exercem erga omnes, ou seja, contra todos, que


devem abster-se de molestar o titular. Surge, daí, o direito de sequela ou jus
persequendi, isto é, de perseguir a coisa e de reivindicá-la em poder de quem
quer que esteja (ação real), bem como o jus praeferendi ou direito de
preferência.

Princípio da publicidade ou da visibilidade:

Sendo oponíveis erga omnes, faz-se necessário que todos possam


conhecer os seus titulares, para não os molestar. O registro e a tradição atuam
como meios de publicidade da titularidade dos direitos reais.

No que diz respeito especificamente às coisas móveis, manifesta-se


precipuamente esta publicidade por meio da posse; no que tange aos imóveis,
avulta a função do Registro, como representativo de tal princípio e onde ele se
realiza e encontra expressão prática.

Princípio da taxatividade ou numerus clausus:

Os direitos reais são criados pelo direito positivo por meio da técnica
denominada numerus clausus. A lei os enumera de forma taxativa, não
ensejando, assim, aplicação analógica da lei. O número dos direitos reais é,
pois, limitado, taxativo, sendo assim considerados somente os elencados na
lei.

Os direitos reais existem de acordo com os tipos legais. São definidos e


enumerados determinados tipos pela norma, e só a estes correspondem os
direitos reais, sendo, pois, seus modelos.

Princípio da perpetuidade:

A propriedade é um direito perpétuo, pois não se perde pelo não uso,


mas somente pelos meios e formas legais: desapropriação, usucapião,
renúncia, abandono etc.

Em realidade, a característica da perpetuidade dos direitos reais não é


absoluta, embora tenham mais estabilidade do que os direitos obrigacionais,
pois também se extinguem em determinadas circunstâncias, como
mencionado. Também se desmembram do direito-matriz, que é a propriedade,
e, uma vez extintos, o poder que se encontrava em mãos do titular de tais
direitos retorna, ou seja, consolida-se em mãos do proprietário.

Princípio da exclusividade:

Não pode haver dois direitos reais, de igual conteúdo, sobre a mesma
coisa. Duas pessoas não ocupam o mesmo espaço jurídico, deferido com
exclusividade a alguém, que é o sujeito do direito real. Assim, não é possível
instalar-se direito real onde outro já exista. No condomínio, cada consorte tem
direito a porções ideais, distintas e exclusivas.

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