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teve dono, tais como o ar, a luz, a lua, caça solta, peixes no mar etc.); a res
derelicta (coisa abandonada, que o dono não quis). Mas, comete crime de
apropriação indébita quem se apossa de coisa perdida (res deperdita) - art.
169, II.
É praticamente pacífico de que não há furto quando há subtração de
algo com valor econômico insignificante. Ex.: alfinete, um palito, flor, folha de
papel etc. Aplica-se o princípio da insignificância.1
OBS. o delito de apropriação indébita, diferenciando-se do estelionato
e do furto, não existe subtração ou fraude, pois o indivíduo tem a posse
anterior e passa a agir como se fosse dono da coisa. Previsto no
1
STJ habeas corpus 141903
1
art. 168 do CP, esse tipo exige que a coisa tenha sido entregue ao sujeito
pela vítima, sem fraude.
3. Tipo subjetivo:
É o dolo, vontade consciente de subtrair para si ou para outrem.
É atípico o fato de fazer desaparecer a coisa: como soltar um pássaro da
gaiola, jogar uma joia no mar etc.
Finalidade de dispor da coisa com animus definitivo.
Não há culposo, mas pode haver erro de tipo.
O consentimento da vítima exclui a constituição do crime em tela, pois
subtrair significa tirar contra a vontade do possuidor.
4. Consumação/tentativa:
Há duas posições com relação à consumação do delito:
1. Damásio, STJ e STF: está consumado com a posse da “res furtiva”,
embora em curto espaço de tempo, por perseguição imediata.(Posição
majoritária).
2. retirada do bem da esfera de disponibilidade da vítima mais a posse
tranquila. Se houver perseguição há tentativa.
O fato de não ser descoberto ou identificado o proprietário ou possuidor
da coisa furtada, por si só, não afasta a tipicidade da subtração de coisa alheia.
2
interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a
configuração do crime de furto”.
Em 22 de agosto de 2017 o STF concedeu habeas corpus em dois casos
em que, segundo observou o relator – min. Dias Toffoli –, “a forma
específica mediante a qual os funcionários dos estabelecimentos
exerceram a vigilância direta sobre os acusados, acompanhando
ininterruptamente todo o trajeto de suas condutas, tornou impossível a
consumação do crime, dada a ineficácia absoluta do meio empregado”.
Mas, ressaltou, a conclusão pela atipicidade depende sempre da análise
pormenorizada das circunstâncias do caso concreto (HC 844.851/SP e
RHC 144.516/SC).
Obs.: punguista que coloca a mão no bolso da vítima: se a carteira estiver no outro bolso
há tentativa, se não tiver carteira é crime impossível.
8. FURTO QUALIFICADO: § 4º
Rol taxativo. Todas são circunstâncias objetivas, ou seja, se comunicam
aos outros agentes, com exceção da prevista no inciso II (abuso de confiança),
a qual é subjetiva.
Caso o furto possua 2 ou mais qualificadoras, uma delas qualifica o
delito e as demais devem ser consideradas, na aplicação da pena.
I- Tem que ter a perícia2. Basta a destruição total ou parcial de qualquer
elemento, mas não configura se houver estragos na coisa. Deve ser inerente à
coisa.
A violência à própria coisa a ser subtraída não qualifica. Ex.: o agente
furta um cofre e tira o conteúdo. O furto é simples. Se tivesse usado um
maçarico no local é qualificado.
Deve ser empregada pelo sujeito antes ou durante a tirada, mas nunca
depois de consumado o furto.
2
STJ já sedimentou em entendimento no sentido de que prova técnica não é a única apta a comprovar a
materialidade do furto.
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IV - Escalada: o agente usa uma via ANORMAL (em relação ao homem
médio) para atingir o local do furto, exige um esforço grande do agente. Tanto
para cima, como para baixo. Ex. uso de escada, corda, saltar um muro, entrar
pelo telhado, túnel, etc.
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se o furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou
informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação
de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por
qualquer outro meio fraudulento análogo. Pela extensão da previsão, percebe-
se que basta que a fraude seja eletrônica, já que não é necessário que haja
violação de senha nem mesmo conexão à internet. Exemplo de crime dessa
espécie, ainda que o julgado seja anterior à modificação legislativa e incidia a
qualificadora do parágrafo quarto, inciso II:
“(…) A jurisprudência desta Corte tem se orientado no sentido de que a
realização de saques indevidos (ou transferências bancárias) na conta
corrente da vítima sem o seu consentimento, seja por meio de clonagem de
cartão e/ou senha, seja por meio de furto do cartão, seja via internet,
configuram o delito de furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II, do CP) (…)”
(STJ, CC 149752/PI, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Terceira Seção,
DJe 01/02/2017).
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§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de
veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior.
§ 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a
subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou
dividido em partes no local da subtração.
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se
a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta
ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
3. Espécies:
3.1 Roubo próprio: “caput”
3.2 Roubo impróprio: §1º
3.3 Roubo majorado: §2º
3.4 Roubo qualificado por lesões graves: §3º, I
3.5 Latrocínio: §3º, II.
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Não é necessário que da violência resulte lesões à vítima: um empurrão
e “gravata” configuram. Basta que seja idônea para coagir a vítima.
Não se aplica o princípio da bagatela, nem roubo de uso.
Há crime de roubo “caput” quando o sujeito finge portar arma.
6. Tipo subjetivo: o dolo (roubo próprio) e dolo mais elemento subjetivo para
assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa (roubo impróprio).
7. Consumação e tentativa:
Roubo próprio (a violência é no início ou concomitante à subtração): há 2
posições para a consumação: No momento em que o agente subtrai o bem,
independentemente da posse tranquila: Capez, Bitencourt e STF.
Súmula 582 do STJ: “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse
do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve
tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa
roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.”
Retirada do bem da esfera de disponibilidade mais a posse tranquila:
Delmanto, Mirabete, Hungria. Enquanto sofre perseguição há tentativa.
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(depende da corrente) em concurso material com o crime contra a pessoa
(Bitencourt e Capez).
A violência deve ser empregada na flagrância ou quase-flagrância do
delito.
Se a violência for empregada após a posse tranquila da res = furto
consumado + crime contra a pessoa.
III - Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para
outro Estado ou para o exterior.
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Arma: tem-se arma própria (criada exclusivamente para matar ou lesionar. Ex.
revólver e arma imprópria como a faca). Se a arma for “branca” a pena será
aumentada de 1/3 (um terço) até metade, se a arma for própria (arma de fogo)
a pena aumenta-se de 2/3 (dois terços).
Tem que ter potencial ofensivo! Arma de brinquedo não majora, apenas
serve pelo elemento “grave ameaça”. Ou seja, o agente responde pelo
caput.
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Ocorrendo lesão grave, é irrelevante para a consumação do crime não
ter o agente conseguido a subtração, mas há decisões pela tentativa do crime
do art. 157, § 3º, I.
O resultado (consequente) pode ser dolo ou culpa – crime qualificado pelo
resultado -. Contudo, não é genuinamente preterdoloso.
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ROUBO EXTORSÃO
O mal é iminente e o proveito é O mal prometido é futuro, assim como a
contemporâneo vantagem
O agente toma a coisa ou obriga a vítima A vítima pode não acatar e resistir, já se
a entregá-la configura – crime formal
O ladrão subtrai O extorsionário faz com que a vítima lhe
entregue a coisa
O agente subtrai mediante violência Há ato da vítima, ela entrega a coisa
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4. Consumação: há duas posições:
4.1 A extorsão é crime formal: não exige a produção do resultado para a
consumação do crime, embora possa ocorrer: Súmula 96 do STJ e doutrina.
A obtenção de vantagem indevida é mero exaurimento. A tentativa ocorre
quando mesmo o sujeito passivo tendo sido constrangido pelo autor a conduta
não se realiza por circunstâncias alheias à vontade do agente (ex.: a vítima
recebe um telefonema do extorsionário e não concorda com o pedido feito). Ou
quando a ameaça não chega ao conhecimento da vítima, ou quando a vítima
não se intimida. MAIORIA!
4.2 Há posições que é material, consuma-se quando da obtenção da vantagem
econômica indevida.
2. Sujeito Ativo: quem tinha a posse ou a detenção. Pode ser sócio, coerdeiro
ou coproprietário (no momento em que tornam sua a coisa comum). Se for
funcionário público há peculato-apropriação.
3. Sujeito passivo: quem sofre o prejuízo (regra: o proprietário, mas pode ser
o possuidor). Não apenas o dono da coisa, como também o titular do direito
real de garantia como o usufrutuário ou credor pignoratício.
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Tendo o sujeito a posse ou a detenção do objeto material, em dado
momento faz mudar o título da posse ou da detenção, comportando-se como
se fosse o dono (venda, locação, consumo, ocultação etc.). Na negativa de
restituição o sujeito afirma claramente que não irá devolver.
4. Tipo subjetivo: o agente deve revelar o animus rem sibi habendi, além
disso, é indispensável que o agente tenha obtido legitimamente a posse ou a
detenção da coisa sem transferência de domínio.
Diferença do furto: Enquanto no furto o sujeito não tem a posse, ele subtrai,
na apropriação indébita o sujeito tem a posse e começa a agir como se dono
fosse.
QUESTÕES:
1. Assinale V ou F nas seguintes assertivas:
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( ) (DELEGADO DE POLÍCIA/PCMG/2007) A apropriação indébita de coisa
furtada não é possível ainda que desconheça o agente sua origem.
( ) João empregado da loja X, é diariamente vigiado pelo seu gerente, um
determinado dia decide pegar para si um dos produtos da loja em que trabalha.
João praticou o delito de apropriação indébita.
( ) Maria, curadora de Angélica, tem a posse lícita de todos os bens desta.
Maria começa a agir como se dona fosse do carro que pertence a Angélica.
Maria responderá por peculato-apropriação, pois exerce função de munus
publico.
( ) A tentativa somente é possível quando houver apropriação indébita
propriamente dita.
2. João subtrai uma furadeira pertencente a seu vizinho José, sem que este
saiba disto, com o intuito de usá-la para pendurar um quadro na sala de sua
casa, devolvendo-a intacta, minutos depois, no mesmo lugar. José descobre tal
fato. Na hipótese, ocorreu
a) apropriação indébita – art. 168, caput, do Código Penal.
b) furto simples – art. 155, caput, do Código Penal.
c) furto de uso, que é fato atípico.
d) roubo simples – art. 157, caput, do Código Penal
a) peculato.
b) estelionato.
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c) furto qualificado.
d) apropriação indébita.
GABARITO:
1. F/F/F/V 2.C 3.A 4.D
1. Sujeitos:
1.1 Sujeito passivo: deve ser pessoa certa e determinada, ocorrendo crime
contra a economia popular quando atingidas vítimas indeterminadas (ex.:
aparelhos nas balanças, nas bombas de gasolina etc.), geralmente quem sofre
o dano patrimonial (Lei 1.521/51).
1.2 Sujeito Ativo: qualquer pessoa que induz ou mantém a vítima em erro.
Aquele que obtém o proveito, se tiver dolo, também será sujeito ativo.
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tratando-se de meio grotesco, que facilmente demonstra a intenção
fraudulenta, não há tentativa, é atípico.
ARTIFÍCIO é toda simulação idônea para induzir uma pessoa em erro,
levando-a à percepção de uma falsa aparência da realidade. Já o ARDIL é a
trama, o estratagema, a astúcia.
Quanto à VANTAGEM, é necessariamente a econômica? Para Fragoso
e Régis Prado sim; para Bitencourt, não necessariamente.
3. Tipo subjetivo:
Só é punido a título de dolo, o dolo deve ser anterior ao resultado,
elemento subjetivo do tipo: “apoderar-se de vantagem ilícita”. A simples
finalidade de produzir dano patrimonial ou prejuízo não caracteriza o
estelionato.
4. Consumação e tentativa:
Consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita. Há tentativa quando o
sujeito engana a vítima, mas não obtém a vantagem ilícita, bem como quando
não causa prejuízo à vítima (Damásio).
É um crime que requer a COOPERAÇÃO DA VÍTIMA, o início da
execução se dá com o engano da vítima. Quando o agente não consegue
enganar, o simples emprego de artifício ou ardil caracteriza apenas a prática de
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atos preparatórios, não podendo se cogitar de tentativa! (BITENCOURT:
consumação = obtenção da vantagem + prejuízo à vítima).
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1) falso absorve o estelionato.
2) *estelionato absorve o falso. STJ. Súmula 17 “quando o falso se exaure no
estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. Existe só
estelionato;
3) concurso material. Fragoso.
4) *concurso formal. STF
QUESTÕES:
1. Mévio encerrou a sua conta corrente. Posteriormente, entregou a Paulo um
cheque vinculado a referida conta. Mévio responderá por:
a) fraude no pagamento de cheque (art. 171, VI);
b) estelionato na forma simples (art. 171, caput);
c) extorsão (art. 158);
d) fato é atípico.
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c) II, III e IV estão incorretas;
d) III e IV estão incorretas;
e) II e IV estão incorretas.
GABARITO:
1.B 2.A 3.D 4.C
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1. Conceito: é crime autônomo, não se podendo falar em coautoria ou
participação quando o agente pratica a conduta após a consumação do delito
antecedente. É indispensável a prática de um crime anterior.
2.Sujeitos:
2.1 Ativo - qualquer pessoa, menos o autor, coautor ou partícipe do delito
anterior. Ex.: o partícipe do furto que influi para que 3º adquira a coisa
responde apenas pelo art. 155 e não pela receptação que é pós fato impunível.
Tratando-se de comerciante ou industrial, aplica-se o § 1º do dispositivo.
Obs: o proprietário do bem do delito anterior pode ser sujeito ativo da
receptação, quando estava o bem na posse legítima de terceiro.
4. Tipos
4.1 Própria: 1ª parte do art. 180 - “adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar em proveito próprio ou alheio”. Crime material que admite tentativa.
4.2 Imprópria: 2ª parte - influenciar para que terceiro de boa-fé adquira, receba
ou oculte. Fica dúvida se há crime ou se há influência para que 3º de boa-fé
transporte ou conduza o objeto. INFLUIR é autoria aqui, mediação para a
receptação.
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Se o terceiro estiver de má-fé, será receptador próprio, enquanto o
influenciador será partícipe do fato descrito na 1ª parte.
CAPEZ: punir quem sabe e também quem deveria saber (majoritário).
4.4.1 Requisitos: deve presumir a obtenção da coisa por meio criminoso pela:
natureza da coisa; desproporção entre valor e preço; condição de quem
oferece.
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No STF: o §1º também abrange o dolo eventual e o direto, entendimento
majoritário.
6. Consumação e tentativa:
Na receptação própria: é delito material, consuma-se com o ato de
aquisição, recebimento ou ocultação, com a efetiva tradição, bem como com o
transporte ou condução. Admite a tentativa.
Na receptação imprópria: é delito formal, consuma-se com a simples
influência, independe de o terceiro de boa-fé, adquirir, ocultar etc. o produto do
crime. Não admite a tentativa.
QUESTÕES:
1. Fulano pede a Beltrano, seu amigo de longa data, que guarde em sua casa
um computador de sua propriedade, até que volte de uma viagem que fará
para a Europa. Dias após ter recebido o aparelho de boa-fé, quando Fulano já
se encontrava no passeio, como se fosse seu, Beltrano vende o computador
para terceira pessoa. A conduta de Beltrano se amolda à prática de:
a) receptação;
b) receptação qualificada;
c) furto;
d) apropriação indébita;
e) estelionato.
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a) Constitui receptação simples o fato de adquirir, receber, ocultar etc., em
proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime.
b) É privilegiado o crime de receptação praticado por réu primário ou se o
objeto receptado for de pequeno valor material.
c) A receptação dolosa imprópria constitui no fato do agente adquirir coisa
móvel por preço muito baixo, mas sem saber que se trata de fruto de crime.
d) Será qualificada a receptação de bens e instalações do patrimônio da União,
Estado ou Municípios.
GABARITO:
1.D 2.A 3.C
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DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
1. Conceito:
A Lei 12.015 de 7 de agosto de 2009 introduziu diversas mudanças
acerca dos crimes sexuais. Dentre elas pode-se citar: a revogação do art. 214,
que versava sobre atentado violento ao pudor e a modificação na redação do
art. 213.
Até o advento da referida lei, o Código Penal tipificava dois crimes
distintos: estupro e atentado violento ao pudor. O primeiro consistia em
“constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça”,
enquanto que o segundo descrevia a conduta de “constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se
pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal”.
A partir de agosto de 2009 os dois tipos foram fundidos em um só e
mantiveram o nome iuris de estupro.
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Assim, estupro é a posse por força ou grave ameaça, supondo dissenso
sincero e positivo da vítima, não bastando recusa meramente verbal ou
oposição passiva e inerte.
2. Natureza:
É crime hediondo em qualquer das suas modalidades típicas. É crime de
mera conduta, uma vez que o tipo só menciona o comportamento do sujeito,
não prevendo resultado naturalístico.
4. Sujeitos:
4.1 Ativo: qualquer pessoa.
5. Tipo objetivo:
A conduta é constranger (vis compulsiva), que significa obrigar, forçar
(vis corporalis), visando à conjunção carnal ou a outro ato libidinoso. Conjunção
carnal é a cópula vagínica, seja completa ou não, que ocorra ou não
ejaculação. Ato libidinoso (que visa o prazer sexual, todo ato que serve de
desafogo à concupiscência), compreendendo coito oral ou anal, o uso de
instrumentos etc. Não é necessário que a vítima pratique o ato libidinoso com o
agente, pode ser levada a praticar com 3ª pessoa ou si mesma. Não é
necessário que se desnude qualquer parte do corpo. Na forma praticar é a
própria vítima obrigada a realizar o ato; na forma permitir, esta é submetida à
violência de forma passiva.
É necessário o dissenso da vítima, demonstrando a vontade de evitar o
ato desejado pelo agente, não podendo haver adesão de vontade. Quando a
violência ocorre durante a conjunção carnal ou o ato libidinoso (sadismo) não
há estupro, mas, eventualmente, lesão corporal.
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A força empregada não precisa ser irresistível, basta ser idônea para
coagir.
Não há necessidade de que a violência seja traduzida em lesões
corporais.
6. Tipo subjetivo:
É o dolo, consubstanciado na vontade de constranger mediante o
emprego de violência ou grave ameaça.
Não há previsão de modalidade culposa.
Para caracterizar o crime não é necessária a finalidade de satisfazer a
própria lascívia.
7. Consumação e tentativa:
Consuma-se com a introdução completa ou incompleta do pênis na
vagina, independentemente de ejaculação ou com a prática do ato libidinoso,
mediante violência ou grave ameaça.
A tentativa pode ocorrer, devendo ser analisado o dolo do agente: se era
a conjunção carnal ou atos libidinosos. É admissível quando o sujeito emprega
a violência ou grave ameaça, mas não prossegue na conduta criminosa por
circunstâncias alheias a sua vontade.
8. Concurso de crimes:
Se, por exemplo, a pessoa for estuprada 3 vezes pode haver
continuidade delitiva.
As lesões leves, resultantes da violência são absorvidas pelo estupro.
Mas se a lesão for praticada por sadismo, com desígnio autônomo, há
concurso material.
Se do estupro resultar lesões graves ou morte se aplica o art. 213 §§1º e
2º, respectivamente. Haverá concurso material com o homicídio ou lesões
graves se houver desígnio autônomo com relação à morte ou lesão grave.
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Se houver estupros sucessivos praticados por vários agentes contra
uma só vítima, há continuidade pela autoria direta e coautoria em relação aos
atos do parceiro.
2. Sujeitos:
2.1 Ativo: qualquer pessoa.
3. Tipo objetivo:
A ação tipificada consiste em ter conjunção carnal ou ato libidinoso,
mediante fraude. A fraude é o engodo, o ardil, o artifício que leva ao engano. A
fraude deve constituir meio idôneo para enganar sobre a identidade pessoal do
agente ou sobre a legitimidade do ato. Não existe violência ou grave ameaça,
mas sim um engodo, artifício que leva a pessoa enganada à falsa aparência da
realidade.
É chamado pela doutrina de estelionato sexual.
4. Tipo subjetivo:
É o dolo, apontando-se, ainda, o elemento subjetivo do tipo consistente
no especial fim de agir. Inexiste forma culposa.
5. Consumação e tentativa:
Consuma-se o crime com a conjunção carnal ou com a pratica do ato
libidinoso. Admite-se a tentativa.
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Obs.: se o crime for praticado a fim de obter vantagem econômica, aplica-
se o parágrafo único, o qual comina além da pena privativa de liberdade a pena
de multa.
2. Sujeitos:
2.1 Ativo: Qualquer pessoa, mulher ou homem, desde que seja superior
hierárquico da vítima ou tenha ascendência sobre ela, em razão do exercício
de emprego, cargo ou função. Admite autoria mediata e coautoria. NÃO HÁ
ASSÉDIO SEXUAL ENTRE COLEGAS DE TRABALHO!
3. Tipo objetivo:
NAS RELAÇOES DE TRABALHO!!!
Indispensável que o sujeito ativo se prevaleça de sua condição de
superioridade e que exista o temor por parte da vítima. Não é qualquer gracejo,
mas, tão-somente, a importunação grave, ofensiva, chantagiosa ou
ameaçadora a alguém subordinado. Embaraçar a vítima.
Ascendência, não há degraus, não há carreira, há uma posição de
domínio, de influência. Superior hierárquico há degraus, há carreira.
Bastam o temor reverencial e a insistência constrangedora do sujeito
ativo, deixando subliminarmente demonstrado que a recusa poderá causar
prejuízo profissional ou funcional. A vítima sente-se em risco de prejuízo, seja
desemprego, menor remuneração, empecilho para progredir na carreira etc.,
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assim como ferir-lhe o sentimento de honra sexual, sua liberdade de escolha,
seu sentimento de amor próprio.
4. Tipo subjetivo:
É o dolo (constranger) mais o elemento subjetivo “obter vantagem ou
favorecimento de natureza sexual”. Não há modalidade culposa. “Nem só os
tarados, mas os apaixonados podem assediar seus eleitos...”
5. Consumação e tentativa:
Consuma-se com a prática do ato constrangedor. Basta a prática de um
único ato. É crime formal.
A tentativa é admissível quando emprega o constrangimento e a vítima
não vem a saber ou não fica intimidada.
É desnecessária a prática de qualquer ato libidinoso, se houver, será
mero exaurimento do crime (Bitencourt).
6. Confronto:
Havendo apenas importunação ofensiva ao pudor (em lugar público ou
acessível ao público + ferir os bons costumes) ou perturbação da tranquilidade,
vide arts. 61 e 65 da LCP. Se o constrangimento é feito mediante violência ou
grave ameaça e não tiver por objeto satisfação de desejo sexual, poderá
caracterizar-se o crime do art. 146 do CP ou até mesmo o do art. 158 do CP,
se o intuito for o de obter indevida vantagem econômica.
Se a vítima for menor de 18 anos aplica-se o §2º (causa de aumento de
pena).
7. Concurso de pessoas:
Pode haver, desde que o coautor ou partícipe saiba da superioridade
hierárquica ou ascendência do agente sobre a vítima (CP, art. 30) e da real
intenção daquele (CP, art. 29).
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A primeira hipótese de vulnerável é a vítima menor de 14 anos. Neste
particular, em razão da clareza do dispositivo, não haverá mais discussão
acerca do dia do aniversário de 14 anos, porquanto apenas menores de 14
anos são considerados vulneráveis. Portanto, antes de implementarem os 14
anos de idade. No dia do aniversário, incidirá o artigo 213, parágrafo 1º, do
Código Penal. Ademais e muito importante, eliminou-se a discussão acerca de
haver presunção de violência relativa ou absoluta quanto à idade da vítima.
Passou o legislador a considerar os menores de 14 anos, objetivamente,
vulneráveis e incapazes de entender o caráter do fato. Sem condições, pois, de
oferecer resistência.
A segunda hipótese de vítima vulnerável diz respeito àqueles que, por
enfermidade mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática
do ato. Está-se, aqui, diante de inimputáveis absolutamente, i.e., aqueles
elencados no “caput” do artigo 26 do Código Penal. De qualquer sorte, a
comprovação desta circunstância dependerá de exame pericial ou prova
equivalente que demonstre a total incapacidade da vítima em virtude de
enfermidade mental. Por enfermidade mental deve-se entender uma patologia.
Anteriormente, no art. 224, exigia-se para a presunção da violência, que o autor
do delito tivesse ciência dessa circunstância, ou seja, o dolo direto. Agora, não
houve tal exigência, bastando dolo direto ou eventual por parte do agente
quanto à condição de inimputabilidade da vítima.
A terceira hipótese diz respeito às vítimas que, por deficiência mental,
não tenham o necessário discernimento para a prática do ato. Neste caso,
trata-se de pessoa semi-imputável, i.e., aqueles elencados no parágrafo único
do artigo 26 do Código Penal. Está-se, pois, diante de total inovação se
comparada com as anteriores hipóteses de presunção de violência. Considera-
se vulnerável, inclusive, o semi-imputável. Evidentemente, neste caso, há de
ser analisado o caso concreto, verificando-se o grau de alienação da vítima a
partir de perícia ou prova equivalente. A Deficiência mental necessariamente
não decorrerá de patologia, podendo ser debilidade congênita de
desenvolvimento mental incompleto. Acredita-se que nesta hipótese poderá
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haver uma espécie de vulnerabilidade relativa, que não autoriza a tipicidade, e
vulnerabilidade absoluta, que faz incidir o tipo penal. Isso porque a
vulnerabilidade exigida no tipo penal impõe que a vítima não possa oferecer
resistência (parte final do § 1º d art. 217). A quarta e última situação de
vulnerabilidade da vítima dá-se quando não pode ela oferecer resistência
por qualquer outra causa, evidentemente que não a idade inferior a 14 anos,
a enfermidade ou deficiência mental. De qualquer sorte, neste particular, está-
se diante de um tipo penal aberto, porquanto as demais hipóteses devem
ocorrer a exemplo dos modelos antes objetivamente referidos. Em suma, está
o legislador a autorizar analogia “intra legem” ou interpretação analógica,
permitidas em Direito Penal. Para tanto, qualquer outra hipótese deverá ser a
exemplo da menoridade (menor de 14 anos), enfermidade ou deficiência
mental, consoante já dito. Exemplo pode ser citado com relação àquelas
pessoas absolutamente embriagadas, absolutamente narcotizadas, em estados
de inconsciência, senilidade avançada, deficiências físicas acentuadas, etc.
QUESTÕES:
1. Dr. Tício, numa consulta com um menino de 8 anos, A.L.J., praticou com ele
atos libidinosos, mas sem violência ou grave ameaça. Dr. Tício constantemente
praticava tais atos que foram descobertos após os pais de A.L.J. levarem ao
conhecimento da polícia.
Em defesa Dr. Tício disse que houve o consentimento dos menores e que
portanto não houve crime algum. Capitule a conduta de Dr. Tício:
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( ) No assédio sexual, diferentemente do que ocorre no crime de
estupro, o sujeito passivo pode ser o homem ou a mulher.
( ) João realiza atos libidinosos com Maria, maior, sem o consentimento
desta, ocorre que, posteriormente ao ocorrido ele se arrepende. Estará,
assim configurado o delito de estupro.
( ) É possível falar em assédio sexual entre colegas de trabalho.
( ) Tratando-se de assédio sexual mediante fraude, em regra, a ação
será pública condicionada à representação;
33
A) Corrupção de menores (Art. 218, do CP).
6. (Juiz 2019) Tícia, de 16 anos, há dois anos namora Caio, de 19 anos. Tícia é
virgem e está decidida a apenas manter relação sexual após o casamento, já
marcado para ocorrer no dia em que ela completará 18 anos. Quando estavam
sozinhos, na sala, assistindo TV, Caio, aproveitando-se que Tícia cochilava,
masturbou-se e ejaculou no corpo da namorada que, imediatamente, acordou.
Sentindo-se profundamente violada e agredida, Tícia grita e acorda os pais,
que dormiam no quarto da casa. Os pais, vendo a filha suja e em pânico,
impedem Caio de fugir e decidem chamar a polícia. Acionada a polícia, Caio é
preso, em flagrante delito e, encerradas as investigações, denunciado pelo
crime sexual praticado. Diante da situação hipotética, Caio poderá ser
processado pelo crime de
A. corrupção de menores, tratando-se de ação penal pública incondicionada.
B. violação sexual mediante fraude, haja vista que Tícia estava dormindo, sem
possibilidade de resistir, tratando-se de crime de ação penal pública
condicionada.
C. importunação sexual, tratando-se de ação penal pública incondicionada.
34
D. estupro de vulnerável, haja vista que Tícia é menor, tratando-se de crime de
ação penal pública incondicionada.
E. estupro, incidindo causa de aumento em virtude de a vítima ser menor de
18, tratando-se de ação penal pública condicionada.
35
8. (MP 2019) De acordo com o ordenamento jurídico e o posicionamento dos
tribunais superiores sobre os crimes contra a dignidade sexual,
A. a prática de passar as mãos nas coxas e seios da vítima menor de 14 anos,
por dentro de sua roupa, não pode ser tipificado como crime de estupro de
vulnerável (art. 217-A do Código Penal), haja vista que não houve a conjunção
carnal.
B. o estupro (art. 213 do Código Penal), com redação dada pela Lei n°
12.015/2009, é tipo penal misto alternativo. Logo, se o agente, no mesmo
contexto fático, pratica conjunção carnal e outro ato libidinoso contra uma só
vítima, pratica um só crime do art. 213 do Código Penal.
C. a conduta consistente em manter casa para fins libidinosos é suficiente para
a caracterização do crime tipificado no art. 229 do Código Penal, sendo
desnecessário, para a configuração do delito, que haja exploração sexual,
assim entendida como a violação à liberdade das pessoas que ali exercem a
mercancia carnal.
D. somente no crime de estupro, praticado mediante violência real, é que a
ação penal é pública incondicionada. Nas demais modalidades de violência,
trata-se de crime de ação penal condicionada a representação.
E. segundo a legislação brasileira, o estupro coletivo é aquele praticado
mediante concurso de três ou mais pessoas.
GABARITO:
1. Responderá pelo delito de estupro de vulnerável, independentemente se
houve ou não violência ou grave ameaça.
2.F/V/F/V 3.C 4.B; 5. A; 6. C; 7. A; 8. B
36
DOS CRIMES DE PERIGO COMUM
DOLOS DE DANO
2. Sujeitos:
2.1 Ativo: qualquer pessoa, inclusive o proprietário da coisa incendiada.
2.2 Passivo: a coletividade, o Estado, bem como os bens jurídicos lesados ou
ameaçados.
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3. Tipo objetivo:
A conduta típica é causar incêndio, provocar de algum modo a
combustão.
É indispensável a prova da ocorrência de perigo efetivo ou concreto
(comprovado caso a caso) para pessoas ou coisas indeterminadas, através do
auto de exame de corpo de delito. Não precisa ser alheia a coisa incendiada.
Não é necessário que pessoas ou coisas sejam lesadas ou postas em
risco.
Se não tiver potencialidade lesiva à vida, integridade física ou ao
patrimônio de um nº. indeterminado de pessoas pode caracterizar o dano do
art. 163.
Não importa a natureza da coisa incendiada, nem que ela seja de
propriedade do agente. Também são irrelevantes os meios de execução
utilizados pelo autor, pois o incêndio pode ser provocado até por omissão,
quando o agente tem o dever jurídico de evitá-lo (CP, art. 13, § 2º).
4. Tipo subjetivo:
É o dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de o incêndio acarretar
perigo comum. Se a conduta não foi animada desse elemento subjetivo, sequer
na modalidade eventual, então o incêndio é culposo: §2º.
Não é necessário que o agente queira causar dano, basta que saiba que
há probabilidade de sua superveniência.
Quando o delito for culposo não incidirão as majorantes do §1º.
38
5. Consumação e tentativa:
Sendo crime de perigo concreto, consuma-se quando ocorrer à
situação de perigo comum. Pouco importa o tempo de duração e o maior ou
menor estrago, ocorre à consumação com a expansão do fogo que torna difícil
a sua extinção. EXIGE O PERIGO CONCRETO.
II –
a) embora não esteja ocupada, tem esta finalidade. O agente tem que
ter consciência da habitação; basta que ele saiba ser o local destinado à
habitação.
b) cinemas, teatros, templos, hotéis, hospitais, sanatórios, creches,
bibliotecas, etc. Destinado ao uso público.
c) não se exige que estejam ocupados por passageiros;
h) mata ou floresta: art. 41 da Lei 9605/98 quando não advir perigo à
incolumidade pública.
39
O incêndio culposo não pode ser qualificado pela natureza ou
destinação da coisa atingida, a menos que tenha como resultado lesão corporal
ou morte de alguém. Ou seja, não incidem as majorantes do §1º.
2. Sujeitos:
2.1 Ativo: é composto de duas partes:
1ª) qualquer pessoa (crime comum).
2ª) só o médico, dentista ou farmacêutico que excede os limites de sua
profissão (crime próprio).
Nada impede a co-autoria ou participação.
40
2.2 Passivo: a coletividade em primeiro plano, em segundo lugar, aquele que é
atendido.
3. Tipo objetivo:
Exercer é praticar, desempenhar, exercitar ilegalmente.
Quanto à 1ª parte é exercê-la sem que o agente esteja habilitado
legalmente para esta atividade ou por não possuir diploma ou por não estar
registrado no Departamento Nacional de Saúde Pública e no Departamento de
Saúde do Estado que pretenda realizar suas atividades.
Pratica quem mantém consultório, expede receitas, atende doentes, faz
diagnósticos, mantém laboratório de análises clínicas (isto no exercício da
medicina).
Parteira sem o certificado do art. 2º, IV, da Lei 2064/55 e inscrição como
prática comete o delito.
Na profissão de farmacêutico: é a arte de preparar medicamentos,
segundo Fragoso. O simples comércio de medicamentos já preparados não é
crime.
A ausência de farmacêutico numa farmácia constitui infração
administrativa.
Não configura crime aplicar injeções.
O protético não pode exercer a função de cirurgião-dentista, senão
comete crime.
A 2ª conduta é exercer a profissão extravasando os seus limites: ex.: se
é formado em medicina e farmácia não pode exercer as 2 profissões (Dec.
20.931/32 art.16); farmacêutico expedir receitas, médico preparar
medicamentos etc.
Exercer é crime habitual, deve haver reiteração nos atos. Mas há casos
na jurisprudência que se prendeu o agente após atender a 1ª consulta
(JTACrSP 50/224).
41
4. Tipo subjetivo:
É o dolo, ou seja, a vontade de exercer ilegalmente ou exceder os
limites da profissão. Se houver o intuito de lucro aplica-se a qualificadora
(parágrafo único).
5. Consumação e tentativa:
Consuma-se com a reiteração de atos, com o exercício habitual disso.
Não é necessário qualquer dano a pessoa atendida. Não é possível a tentativa,
pois é crime habitual.
6. Qualificadora:
Havendo morte ou lesão corporal - arts. 258 e 285.
3. Tipo objetivo:
Inculcar = indicar, propor como vantajoso, fazer falsa afirmação e
anunciar = divulgar, propagar, noticiar (crime de ação múltipla).
Promete o agente que pode curar moléstias que, em regra, são
consideradas incuráveis pela ciência atual, com p. ex. a AIDS.
A afirmação que é infalível a cura é indispensável à ocorrência do ilícito.
Não exige habitualidade, basta uma inculca ou anúncio para ocorrer o
crime.
4. Tipo subjetivo:
É o dolo, consistente na vontade de inculcar ou anunciar cura por meio
secreto ou infalível, sabendo o sujeito da ineficiência dos meios apregoados. O
42
charlatão deve comportar-se com insinceridade e com falsidade. Se o agente
acredita, sinceramente, na eficácia dos meios apregoados para a cura, o dolo
está excluído, sendo, pois, o fato atípico.
Má fé. O agente não acredita no seu meio, sabe que sua fórmula é
inócua.
5. Consumação e tentativa:
Consuma-se com a inculcação ou anúncio da cura, independente de
qualquer resultado. A tentativa é possível: ex.: o agente é impedido de distribuir
folhetos. É irrelevante que o autor tenha conseguido convencer alguém com
sua ação. O perigo para a saúde pública é presumido (crime de perigo
abstrato).
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2.2 Passivo: a coletividade. Não há necessidade da identificação das vítimas
materiais.
3. Tipo objetivo:
São três ações: prescrever (receitar); ministrar (dar a consumo) ou
aplicando (diagnosticando). Exercer é praticar, desempenhar ou exercitar. É o
exercício da arte de curar de quem não tem a necessária habilitação
profissional, por meios não científicos.
É necessária a habitualidade, o perigo é abstrato.
4. Tipo subjetivo:
É o dolo, que consiste na vontade livre e consciente de praticar
reiteradamente as condutas descritas, de exercer o curandeirismo. Não importa
se é gratuito. Inexiste modalidade culposa.
5. Consumação e tentativa:
Ocorre a consumação com a reiteração de atos mencionados nos incisos.
A tentativa é inadmissível, em razão de a habitualidade ser característica.
QUESTÕES:
1. Assinale V ou F nas assertivas a seguir:
( ) O crime previsto na 1ª parte do art. 282 é crime próprio, pois somente pode
ser exercido por médico, dentista ou farmacêutico. Se houver exercício ilegal
de outras profissões, por exemplo advogado, tratar-se-á de contravenção
penal.
44
( ) Maria reside no topo da colina, sendo que o vizinho mais próximo reside a
100 km de sua residência. Um dia Maria resolve atear fogo na sua casa,
porquanto encontrou seu marido na cama com outra e aquele local lhe trazia
más recordações. Assim, provocou uma combustão, queimando a localidade.
Ela responderá por crime de incêndio, forte no artigo 250 do CP.
( ) Para que se configure o delito de curandeirismo é desnecessário analisar
se o produto ministrado era nocivo à saúde ou se, de fato, houve a cura da
moléstia.
( ) José, médico, devidamente registrado, anuncia que possui à cura para o
câncer por meios secretos. José praticou o delito de charlatanismo.
2. Mária, não é dentista, porém seu falecido pai exercia a referida profissão.
Assim, Mária aprendeu com seu pai tudo acerca da odontologia. Com a morte
deste, mesmo sabendo que não tinha habilitação para tanto, passou a atender
os ex-pacientes do seu pai. João, por sua vez, não tendo qualquer
conhecimento médico, intitula-se feiticeiro e começa a ministrar ervas para a
cura de determinadas doenças. Mária e João responderão, respectivamente
por:
a) charlatanismo e curandeirismo
b) curandeirismo e exercício ilegal da arte dentária
c) exercício ilegal da arte dentária e curandeirismo
d) exercício ilegal da arte dentária e charlatanismo
e) exercício ilegal da arte dentária e exercício ilegal da medicina
GABARITO:
1.F/F/V/V 2.C
45
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
2. Classificação:
A) Crimes cometidos por funcionários públicos contra a Administração
Pública em geral (art.312 a 326);
B) Crimes praticados por particulares contra a Administração Pública em
geral (art.328 a 337);
C) Crimes praticados por particulares contra a Administração Pública
estrangeira (art. 337-B a 337- D);
D) Dos crimes em licitações e contratos administrativos (art. 337 E a 337
P);
E) Crimes contra a Administração da Justiça (art.338 a 359);
F) Crimes contra as finanças públicas (359-A a 359-H).
46
Por exemplo, se o crime de prevaricação (Código Penal, Art. 319) é praticado
por empregado não funcionário público, essa conduta não se caracteriza
como crime.
47
ART. 312 – PECULATO
2. Sujeitos:
2.1 Sujeito Ativo - funcionário público (art.327) é crime próprio, o particular
que concorre com o funcionário será responsabilizado pelo art.312 se conhecia
a condição dele.
3. Espécies:
3.1 peculato-apropriação: art.312, caput, 1ª parte
3.2 peculato desvio: art.312, caput, 2ª parte
3.3 peculato furto: § 1º
3.4 peculato culposo: § 2º
48
3.1.2 Tipo subjetivo: Além do dolo é necessário o elemento subjetivo, um fim
específico de agir, “em proveito próprio ou alheio”. Nas duas modalidades de
peculato. Dolo de transformar a posse em domínio.
49
3.4 PECULATO CULPOSO § 2º
Aqui o funcionário por negligência, imprudência ou imperícia concorre
para a prática do crime de outrem (funcionário ou particular).
Em face de ausência de cautela o funcionário facilita a subtração,
apropriação.
O crime se aperfeiçoa com a conduta dolosa de outrem, havendo
necessidade da existência de nexo causal entre os delitos, de maneira que o
primeiro tenha permitido a prática do segundo.
Consuma-se, portanto, no momento em que o outro crime atinge seu
momento consumativo. Culposa a modalidade, não admite tentativa.
O peculato culposo é aplicável ao “caput” e § 1º, refere-se penas ao
peculato do 312 e peculato furto. Mirabete: o § 2º deve ser interpretado em
conjunto com o “caput” e § 1º (espécie de peculato). Mas há entendimento que
o “outro crime” pode ser o furto, roubo etc. (Damásio).
50
2. Tipo subjetivo: O Estado não pode ser o favorecido com essa ação, senão,
excesso de exação (na cobrança de tributos), por faltar-lhe o elemento
subjetivo “para si ou para outrem”.
4. Sujeitos:
4.1 Ativo: funcionário público, ainda que de férias, licença ou que não tenha
tomado posse.
51
Não há coautoria entre corrupto e corruptor.
Não se tipifica se a vantagem desejada pelo corruptor não é da
atribuição e competência do funcionário. Há crime mesmo se a vantagem é
solicitada ou recebida ou a promessa é aceita para a prática de ato regulador e
legal.
Trata-se de crime próprio, mas admite participação.
A vantagem indevida pode ser solicitada direta ou indiretamente.
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EXERCÍCIOS SOBRE CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1. João Pedro, funcionário público, auxiliado por particular, Adão José,
apropria-se, em proveito de ambos, da quantia de R$ 2.000,00, pertencente à
repartição pública em que se acha lotado, da qual tinha a posse em razão do
cargo. Adão José, que conhecia a condição pessoal do agente e o auxilia,
responde por
a) apropriação indébita.
b) concussão.
c) corrupção passiva.
d) furto simples.
e) peculato.
5. Marília exigiu de Luciana, para si, em razão da função pública que exercia,
vantagem consistente em R$ 10.000,00. Nessa situação hipotética, Marília
cometeu o crime de
A) corrupção ativa.
B) corrupção passiva.
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C) excesso de exação.
D) concussão.
54
D) concussão.
E) condescendência criminosa.
11. Suponha que Caio, funcionário público municipal, solicitou para si,
diretamente, no exercício de sua função e em razão dela, vantagem indevida
consistente no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para deixar de praticar ato
de ofício dentro de um processo administrativo, o que beneficiou Tício, figura
influente na região. Nessa hipótese, Caio praticou crime de:
A) excesso de exação. B) peculato. C) corrupção. D) moeda falsa. E)
roubo.
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Direta, subtraiu, fora do horário de serviço, o laptop da repartição em que
trabalhava.
Para tanto, ele contou com a ajuda do primo João, que não tinha qualquer
vínculo com o Poder Público, mas que, certamente, tinha conhecimento do
cargo que Rogério exercia e da facilidade que teriam em razão do acesso ao
local dos fatos.
Ocorre que a conduta dos primos foi registrada pelas câmeras de segurança,
sendo as imagens encaminhadas para a autoridade policial.
Com base apenas nas informações narradas, é correto afirmar que a conduta
de Rogério configura crime de
A) peculato, sendo aplicável a ele causa de aumento de pena, em razão do
cargo em comissão que exercia, respondendo João também pelo crime contra
Administração Pública, apesar de este ser classificado como próprio.
B) peculato simples, sem qualquer causa de aumento, já que o exercício de
função de confiança é inerente à definição de funcionário público, respondendo
João também pelo crime contra a Administração Pública, apesar da natureza
própria do delito.
C) peculato simples, sem qualquer causa de aumento, já que o exercício de
função de confiança é inerente à definição de funcionário público, respondendo
João pelo crime de furto, diante da natureza própria do delito.
D) peculato, sendo aplicável a ele causa de aumento de pena em razão do
cargo em comissão que exercia, respondendo João, porém, pelo crime de
furto, diante da natureza própria do delito.
E) furto qualificado pelo concurso de agentes, assim como João, já que os
fatos ocorreram fora do horário de serviço.
15. Mário, servidor público, subtraiu da administração um bem que estava sob
sua posse e passou a tratá-lo como sua propriedade por um mês em sua
residência. Convencido por sua esposa, Mário restituiu o bem, intacto, à
administração pública.
Considerando-se que, nessa situação hipotética, a conduta do servidor
consista em peculato-apropriação e que, até a restituição da coisa subtraída,
não tenha havido indiciamento nem denúncia, é correto afirmar que Mário
A) não deverá responder pelo crime, uma vez que ocorreu a desistência
voluntária.
B) deverá responder pelo crime, pois a desistência não foi voluntária, mas
determinada por terceiro.
C) não deverá responder pelo crime, visto que agiu com arrependimento eficaz.
D) deverá responder pelo crime, estando, porém, sujeito a redução de pena em
razão do arrependimento posterior.
E) deverá responder pelo crime na modalidade tentada, uma vez que o crime
não se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade.
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A) concussão e prevaricação.
B) corrupção passiva e prevaricação
C) concussão e corrupção passiva privilegiada.
D) corrupção passiva e corrupção passiva privilegiada.
E) corrupção passiva e prevaricação.
17. Tício, reclamante em uma ação trabalhista, arrola como testemunha Caio,
sendo certo que ambos já haviam acertado que o depoimento seria mentiroso,
atestando condições de trabalho inexistentes. No dia do depoimento, Caio, ao
ser informado pelo Juízo que estava sob juramento e incorreria em crime de
falso testemunho caso faltasse com a verdade, conta que foi arrolado para
mentir, pois em realidade, sabia que Tício não tinha razão na ação proposta.
Caio ainda afirmou não estar ganhando qualquer vantagem econômica para
compensar o risco de ser processado por mentir, sem contar que Tício nem era
tão amigo, para ajudar de graça.
Diante da situação hipotética, e com base na Parte Geral e Especial do Código
Penal, assinale a alternativa correta.
A) Caio, muito embora tenha permitido que fosse arrolado, não incorreu em
crime de falso testemunho, sequer na modalidade tentada, pois o tipo penal
exige o recebimento de vantagem patrimonial pelo agente, o que não se deu.
B) Caio, por não ter faltado com a verdade, no momento em que prestou
compromisso, não incorreu no crime de falso testemunho. Mas Tício, pelo
ajuste, será investigado e processado pelo crime de falso testemunho.
C) Tício, pela instigação, deverá ser investigado e processado como partícipe
de crime de falso testemunho praticado por Caio, na modalidade tentada.
D) Caio e Tício não serão investigados ou processados por crime de falso
testemunho. Não se pune o ajuste se o crime não chega a ser tentado.
E) Caio deverá ser investigado e processado pelo crime de falso testemunho,
na modalidade tentada, vez que a execução do crime iniciou no momento em
que permitiu que fosse arrolado.
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