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DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Bem jurídico tutelado: a propriedade, posse e detenção, atingindo só o


patrimônio lícito (uns, como Nélson Hungria, dizem que é só a propriedade,
outros que é, também, a posse).

FURTO: ART. 155

1. Sujeitos: qualquer pessoa

2. Tipo Objetivo: Subtrair significa tirar


O objeto material é tudo aquilo que pode ser removido, é diferente de
coisa no civil. Assim, por exemplo, na esfera cível os tijolos que são separados,
temporariamente de uma construção, são bens imóveis (art. 81, II CC).
Contudo, para o CP trata-se de bens móveis, podendo, por isso, ser objeto de
furto.
Se uma casa pode ser removida, houve furto, um navio.
Os direitos não podem ser objeto do crime de furto, embora possam sê-
lo os títulos que os representam.
É crime material que requer desfalque no patrimônio da vítima.
Não podem ser objeto de furto: a res nullius (coisa de ninguém, nunca

teve dono, tais como o ar, a luz, a lua, caça solta, peixes no mar etc.); a res
derelicta (coisa abandonada, que o dono não quis). Mas, comete crime de
apropriação indébita quem se apossa de coisa perdida (res deperdita) - art.
169, II.
É praticamente pacífico de que não há furto quando há subtração de
algo com valor econômico insignificante. Ex.: alfinete, um palito, flor, folha de
papel etc. Aplica-se o princípio da insignificância.1
OBS. o delito de apropriação indébita, diferenciando-se do estelionato
e do furto, não existe subtração ou fraude, pois o indivíduo tem a posse
anterior e passa a agir como se fosse dono da coisa. Previsto no

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STJ habeas corpus 141903

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art. 168 do CP, esse tipo exige que a coisa tenha sido entregue ao sujeito
pela vítima, sem fraude.

3. Tipo subjetivo:
É o dolo, vontade consciente de subtrair para si ou para outrem.
É atípico o fato de fazer desaparecer a coisa: como soltar um pássaro da
gaiola, jogar uma joia no mar etc.
Finalidade de dispor da coisa com animus definitivo.
Não há culposo, mas pode haver erro de tipo.
O consentimento da vítima exclui a constituição do crime em tela, pois
subtrair significa tirar contra a vontade do possuidor.

Furto de uso: INTENÇÃO DE RESTITUIR. É fato atípico, mas é


necessário que devolva o objeto material nas mesmas condições e
imediatamente após cessada a alegada necessidade de sua utilização.

4. Consumação/tentativa:
Há duas posições com relação à consumação do delito:
1. Damásio, STJ e STF: está consumado com a posse da “res furtiva”,
embora em curto espaço de tempo, por perseguição imediata.(Posição
majoritária).
2. retirada do bem da esfera de disponibilidade da vítima mais a posse
tranquila. Se houver perseguição há tentativa.
O fato de não ser descoberto ou identificado o proprietário ou possuidor
da coisa furtada, por si só, não afasta a tipicidade da subtração de coisa alheia.

 Crime impossível? Furtar em lojas que possuem detector magnético ou


vigilância. O TJ/RS entende assim.
O entendimento dominante, todavia, é de que a só instalação de sistemas
de vigilância não torna impossível a consumação do crime, tanto que o
STJ editou a súmula nº 567 neste exato sentido: “Sistema de vigilância
realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no

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interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a
configuração do crime de furto”.
Em 22 de agosto de 2017 o STF concedeu habeas corpus em dois casos
em que, segundo observou o relator – min. Dias Toffoli –, “a forma
específica mediante a qual os funcionários dos estabelecimentos
exerceram a vigilância direta sobre os acusados, acompanhando
ininterruptamente todo o trajeto de suas condutas, tornou impossível a
consumação do crime, dada a ineficácia absoluta do meio empregado”.
Mas, ressaltou, a conclusão pela atipicidade depende sempre da análise
pormenorizada das circunstâncias do caso concreto (HC 844.851/SP e
RHC 144.516/SC).

Obs.: punguista que coloca a mão no bolso da vítima: se a carteira estiver no outro bolso
há tentativa, se não tiver carteira é crime impossível.

5. Concurso: é possível concurso material (furto e estupro), concurso formal


(subtração de coisas de pessoas diversas, na mesma oportunidade) e crime
continuado, mesmo entre o furto simples e qualificado. Entre furto e roubo, já
se tem decidido pela continuidade, pois, embora sejam crimes da mesma
natureza, não são da mesma espécie. Contudo, há decisões em contrário.
Crimes absorvidos: violação de domicílio, o dano no crime qualificado
pelo rompimento.

6. FURTO NOTURNO: §1º


Não importa se habitada ou seus moradores em vigilância. A doutrina
majoritária diz que não se aplica para a forma qualificada.

7. FURTO PRIVILEGIADO: §2º


Aplicável ao furto simples e noturno, mas há posições que diz ser
aplicável ao qualificado. Pode incidir sobre o consumado ou tentado.
1. pequeno valor: + ou – um salário mínimo e não é avaliada a situação
econômica da vítima.
2. primariedade do criminoso (que não é reincidente):
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Obs: Tais circunstâncias devem ser analisadas em relação à data do
cometimento do crime, pois o delito é instantâneo (DAMÁSIO).

8. FURTO QUALIFICADO: § 4º
Rol taxativo. Todas são circunstâncias objetivas, ou seja, se comunicam
aos outros agentes, com exceção da prevista no inciso II (abuso de confiança),
a qual é subjetiva.
Caso o furto possua 2 ou mais qualificadoras, uma delas qualifica o
delito e as demais devem ser consideradas, na aplicação da pena.
I- Tem que ter a perícia2. Basta a destruição total ou parcial de qualquer
elemento, mas não configura se houver estragos na coisa. Deve ser inerente à
coisa.
A violência à própria coisa a ser subtraída não qualifica. Ex.: o agente
furta um cofre e tira o conteúdo. O furto é simples. Se tivesse usado um
maçarico no local é qualificado.
Deve ser empregada pelo sujeito antes ou durante a tirada, mas nunca
depois de consumado o furto.

II - É necessária a relação subjetiva que existe entre a vítima e o réu,


não basta a relação de emprego. Só se na relação de emprego está ínsita a
confiança. Ex.: vigia.
Pode-se aplicar a agravante genérica - art. 61, II “f”. Confiança subjetiva. No
caso de empregado doméstico, só o vínculo não qualifica.

III – O agente ilude a vigilância da vítima: a fraude também pode tipificar


o estelionato, mas há estelionato quando ilude o consentimento da vítima.

 Mediante fraude (vigilância) ≠ de estelionato (consentimento da vítima


confiando)

2
STJ já sedimentou em entendimento no sentido de que prova técnica não é a única apta a comprovar a
materialidade do furto.

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IV - Escalada: o agente usa uma via ANORMAL (em relação ao homem
médio) para atingir o local do furto, exige um esforço grande do agente. Tanto
para cima, como para baixo. Ex. uso de escada, corda, saltar um muro, entrar
pelo telhado, túnel, etc.

V - Destreza: é uma habilidade que o agente tem em não deixar que a


vítima perceba a subtração, na sua presença. Frustração da subtração em face
da inabilidade do sujeito: não há qualificadora, subsiste tentativa de furto
simples. Ex.: punga.

VI - Chave falsa: é polêmico. É qualquer instrumento que utilizado não


estraga a fechadura (ex.: grampos, arames etc.). Chave verdadeira conseguida
ardilosamente: há 2 posições: 1: Há a qualificadora; 2: Há fraude e não
qualificadora da chave falsa (Damásio).

 Cópia de chave não é chave falsa!

VII - Concurso de pessoas: se utilizar um menor há concurso de pessoas


mais corrupção de menor.
Ainda que não identificado o coautor subsiste a qualificadora.
As 2 pessoas devem estar no local? Hungria diz que sim, a maioria dos
doutrinadores entende não ser necessário.
A quadrilha – concurso material – não configura “bis in idem”, majoritário.
Se o furto for praticado por 2 pessoas e uma for absolvida, acarretará a
desclassificação do furto do outro agente para furto simples.

§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se


houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum.

Furto qualificado: furto mediante fraude por meio eletrônico (§ 4º-


B).
A Lei 14.155, de 27 de maio de 2021, inseriu nova modalidade
qualificada, com pena de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Incide

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se o furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou
informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação
de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por
qualquer outro meio fraudulento análogo. Pela extensão da previsão, percebe-
se que basta que a fraude seja eletrônica, já que não é necessário que haja
violação de senha nem mesmo conexão à internet. Exemplo de crime dessa
espécie, ainda que o julgado seja anterior à modificação legislativa e incidia a
qualificadora do parágrafo quarto, inciso II:
“(…) A jurisprudência desta Corte tem se orientado no sentido de que a
realização de saques indevidos (ou transferências bancárias) na conta
corrente da vítima sem o seu consentimento, seja por meio de clonagem de
cartão e/ou senha, seja por meio de furto do cartão, seja via internet,
configuram o delito de furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II, do CP) (…)”
(STJ, CC 149752/PI, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Terceira Seção,
DJe 01/02/2017).

Majorantes do furto qualificado mediante fraude por meio eletrônico


(§ 4º-C)
A Lei 14.155, de 27 de maio de 2021, inseriu, ainda, majorantes para o
furto qualificado mediante fraude por meio eletrônico, previsto no artigo 155, §
4º-B. Assim, o furto qualificado mediante fraude terá uma causa de aumento de
pena variável, a ser escolhida pelo critério da relevância do resultado gravoso:
de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços): se o crime for praticado mediante a
utilização de servidor mantido fora do território nacional. Nesse caso, há maior
gravidade pela dificuldade de repressão a um delito praticado a partir de um
servidor, de um equipamento de informática central, localizado fora do território
brasileiro. De 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime for praticado contra idoso ou
vulnerável. Aqui o desvalor diferenciado se volta à vítima, mais vulnerável. Não
houve definição de quem é o vulnerável. Se utilizado o conceito do artigo 217-
A, § 1º, do CP, com adaptações e em interpretação sistemática, pode-se
compreender como aquele que, por enfermidade ou deficiência mental,
apresenta maior vulnerabilidade a fraudes. É possível, ainda, entender que o
juiz deve analisar caso a caso.

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§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de
veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior.
§ 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a
subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou
dividido em partes no local da subtração.
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se
a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta
ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.

ROUBO: art. 157

1. Conceito: é crime complexo: furto + constrangimento ilegal + lesões


corporais leves, quando houver.

2. Objeto jurídico: patrimônio, liberdade individual, integridade física, e a


saúde.

3. Espécies:
3.1 Roubo próprio: “caput”
3.2 Roubo impróprio: §1º
3.3 Roubo majorado: §2º
3.4 Roubo qualificado por lesões graves: §3º, I
3.5 Latrocínio: §3º, II.

4. Sujeitos: é delito comum, qualquer pessoa pode ser agente. O sujeito


passivo: proprietário, possuidor, detentor, como qualquer pessoa atingida pela
violência ou ameaça. Pode ter dupla subjetividade passiva.

5. Tipo objetivo: além de subtrair, utiliza da violência (lesões leves ou vias de


fato) faz parte do tipo, grave ameaça ou qualquer outro meio que reduza a
possibilidade de resistência (drogas, hipnose, voz de assalto, porte ostensivo
de arma, simulação que está portando arma – se for de brinquedo, é o caput).

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Não é necessário que da violência resulte lesões à vítima: um empurrão
e “gravata” configuram. Basta que seja idônea para coagir a vítima.
Não se aplica o princípio da bagatela, nem roubo de uso.
Há crime de roubo “caput” quando o sujeito finge portar arma.

 Arrebatamento de objeto junto ao corpo da pessoa – 2 posições:


1ª) furto: Damásio e Capez: a violência não é empregada contra a
pessoa;
2ª) Roubo: STJ: se acarreta lesões corporais.

TROMABADA: com o intuito de distrair a vítima, deslocando sutilmente é furto,


se é para reduzir os movimento: roubo.

6. Tipo subjetivo: o dolo (roubo próprio) e dolo mais elemento subjetivo para
assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa (roubo impróprio).

7. Consumação e tentativa:
Roubo próprio (a violência é no início ou concomitante à subtração): há 2
posições para a consumação: No momento em que o agente subtrai o bem,
independentemente da posse tranquila: Capez, Bitencourt e STF.
Súmula 582 do STJ: “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse
do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve
tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa
roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.”
Retirada do bem da esfera de disponibilidade mais a posse tranquila:
Delmanto, Mirabete, Hungria. Enquanto sofre perseguição há tentativa.

7.2 Roubo Impróprio (primeiro subtrai, depois ameaça):


A consumação do crime ocorre, após a retirada do bem, com o emprego
da violência ou grave ameaça. Não há tentativa de roubo impróprio (posição
dominante).
Se não conseguiu se apoderar da res e é perseguido, empregando a
violência ou grava ameaça? O crime é de furto tentado ou consumado

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(depende da corrente) em concurso material com o crime contra a pessoa
(Bitencourt e Capez).
A violência deve ser empregada na flagrância ou quase-flagrância do
delito.
Se a violência for empregada após a posse tranquila da res = furto
consumado + crime contra a pessoa.

8. Causas de aumento de pena: §2º e § 2º A


I- Concurso de pessoas: STF e STJ: condenados por crime de quadrilha não
fica afastada a qualificadora. Há concurso material de crimes.
Vale o inimputável. Vale se o coautor não for encontrado.

II– se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal


circunstância. Ex.: Carros fortes: o agente tem que ter conhecimento desta
circunstância.

III - Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para
outro Estado ou para o exterior.

IV - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua


liberdade. Ex.: pretendendo levar o veículo o agente coloca a vítima no porta-
malas, rodando algum tempo para depois libertar a vítima. Só nesta hipótese,
caso contrário há extorsão mediante sequestro. Especialmente criada tal
qualificadora devido aos crescentes “SEQUESTROS-RELÂMPAGO” hoje
tipificado no art. 158, §3º acrescentado pela Lei 11.923/09.

V - Se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que,


conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou
emprego.

VI - Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca.

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Arma: tem-se arma própria (criada exclusivamente para matar ou lesionar. Ex.
revólver e arma imprópria como a faca). Se a arma for “branca” a pena será
aumentada de 1/3 (um terço) até metade, se a arma for própria (arma de fogo)
a pena aumenta-se de 2/3 (dois terços).

 Tem que ter potencial ofensivo! Arma de brinquedo não majora, apenas
serve pelo elemento “grave ameaça”. Ou seja, o agente responde pelo
caput.

O porte ostensivo de arma (tanto de fogo quanto branca) não configura a


qualificadora porque o código fala em “emprego de arma” (há posições em
contrário). Ela deve ser manejada.
Arma defeituosa ou descarregada: há duas posições, mas a posição majoritária
é que não qualifica. O porte fica absorvido (princípio da consunção).

VII - se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de


explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum a pena aumenta-se
de 2/3 (dois terços) e se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego
de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista
no caput deste artigo (§ 2º-B).

 O § 2º está impedido de ser aplicado ao § 3º.

8. LATROCÍNIO: §3º Lesões Graves (crime qualificado pelo resultado)


A lesão grave deve decorrer da violência que o agente produziu na
vítima.
Não está o agente sujeito às penas previstas no dispositivo em estudo
se o evento letal decorre de grave ameaça (enfarte, choque nervoso, trauma
psíquico etc.) ou do emprego de narcóticos (coma, lesão cerebral etc.). Haverá,
no caso, roubo simples e lesões corporais em concurso formal.
É indiferente que o resultado mais grave seja voluntário ou involuntário.
 A morte pode resultar em outra pessoa que não a dona da coisa
subtraída, havendo dois sujeitos passivos.

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Ocorrendo lesão grave, é irrelevante para a consumação do crime não
ter o agente conseguido a subtração, mas há decisões pela tentativa do crime
do art. 157, § 3º, I.
 O resultado (consequente) pode ser dolo ou culpa – crime qualificado pelo
resultado -. Contudo, não é genuinamente preterdoloso.

LATROCÍNIO / tentativa e consumação


Subtração tentada + morte tentada = Latrocínio tentado
Subtração consumada + morte consumada Latrocínio consumado
Subtração consumada + morte tentada = Latrocínio tentado (STF) ou tentativa de
homicídio qualificado (pela finalidade)
*Subtração tentada + morte consumada = Latrocínio consumado / súmula 610 STF

Há tentativa de latrocínio: agente dispara vários disparos contra a vítima,


com dolo de matar, mas erra o alvo.
 A morte pode ser dolosa ou culposa.
Se a morte advém da violência moral (grave ameaça) não há latrocínio,
responde por concurso formal: roubo/homicídio.
Se houver pluralidades de sujeitos passivos: Posição majoritária: há um
só delito qualificado pelo resultado: a morte qualifica o delito, as outras servem
para as circunstâncias judiciais do art. 59.

 Uma situação: o agente matou e depois aproveitou para subtrair a coisa =


concurso material de homicídio + furto (STJ/ Ag 36.618-7).

EXTORSÃO: ART. 158 - é a chantagem

Diferenças entre ROUBO E EXTORSÃO

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ROUBO EXTORSÃO
O mal é iminente e o proveito é O mal prometido é futuro, assim como a
contemporâneo vantagem
O agente toma a coisa ou obriga a vítima A vítima pode não acatar e resistir, já se
a entregá-la configura – crime formal
O ladrão subtrai O extorsionário faz com que a vítima lhe
entregue a coisa
O agente subtrai mediante violência Há ato da vítima, ela entrega a coisa

Ex: o agente aponta o revólver para obter o carro da vítima: roubo. O


agente aponta o revólver para o filho, pra que o pai busque o carro na
garagem: extorsão.
Há diversos bens que podem ser visados na ameaça: a vida, a
integridade física, a honra, reputação, renome profissional.
Já em relação ao estelionato, neste a vítima é fraudada; na extorsão ela
é coagida sendo indiferente que o mal prometido pelo agente seja, em si
mesmo, justo ou injusto.

1. Sujeitos: pode ter dois sujeitos passivos: o da perda patrimonial e quem


sofre a violência. A pessoa jurídica pode ser vítima.

2. Tipo objetivo: constranger + intuito de obter vantagem econômica (se


ausente a vantagem “econômica” pode ser constrangimento ilegal). A
vantagem deve ser indevida, pois se é devida não há extorsão e sim exercício
arbitrário das próprias razões (art. 345, CP). A violência empregada deve ser
idônea para criar uma espécie de coação na vítima. A vantagem não precisa
necessariamente ser em dinheiro.
Existem 3 momentos: 1. O agente constrange a vítima, 2. A vítima faz algo, 3.
O agente obtém (exaurimento).
3. Tipo subjetivo: constranger alguém. O especial fim de obter indevida
vantagem econômica não traduz o dolo que anima a conduta do agente. Esse
elemento subjetivo especial do tipo especifica o dolo, sem necessidade de se
concretizar, sendo suficiente que exista no psiquismo do autor.

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4. Consumação: há duas posições:
4.1 A extorsão é crime formal: não exige a produção do resultado para a
consumação do crime, embora possa ocorrer: Súmula 96 do STJ e doutrina.
A obtenção de vantagem indevida é mero exaurimento. A tentativa ocorre
quando mesmo o sujeito passivo tendo sido constrangido pelo autor a conduta
não se realiza por circunstâncias alheias à vontade do agente (ex.: a vítima
recebe um telefonema do extorsionário e não concorda com o pedido feito). Ou
quando a ameaça não chega ao conhecimento da vítima, ou quando a vítima
não se intimida. MAIORIA!
4.2 Há posições que é material, consuma-se quando da obtenção da vantagem
econômica indevida.

4.3 Tentativa: só a conduta de constranger não consuma, é tentativa (como


quando por telefone e a vítima não anui com o pedido), é necessária as
condutas de “faz, tolera, não faz” pela vítima.

5. Art. 158, §3º (“sequestro-relâmpago”): é considerado hediondo quando


resultar lesão grave ou morte.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA - ART. 168

1.Conceito: é a inversão da posse lícita anterior. Há um dolo subsequente. O


bem jurídico protegido é a inviolabilidade patrimonial, principalmente em
relação à propriedade.

2. Sujeito Ativo: quem tinha a posse ou a detenção. Pode ser sócio, coerdeiro
ou coproprietário (no momento em que tornam sua a coisa comum). Se for
funcionário público há peculato-apropriação.

3. Sujeito passivo: quem sofre o prejuízo (regra: o proprietário, mas pode ser
o possuidor). Não apenas o dono da coisa, como também o titular do direito
real de garantia como o usufrutuário ou credor pignoratício.

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Tendo o sujeito a posse ou a detenção do objeto material, em dado
momento faz mudar o título da posse ou da detenção, comportando-se como
se fosse o dono (venda, locação, consumo, ocultação etc.). Na negativa de
restituição o sujeito afirma claramente que não irá devolver.

4. Tipo subjetivo: o agente deve revelar o animus rem sibi habendi, além
disso, é indispensável que o agente tenha obtido legitimamente a posse ou a
detenção da coisa sem transferência de domínio.

Diferença do estelionato: a posse se dá por ter o agente ludibriado a vítima.


A fraude é anterior ao apossamento da coisa. Na ap. indébita, o agente recebe
a coisa licitamente.
O dolo (animus rem sibi habendi) é posterior ao recebimento da coisa.
Não há culpa.

Diferença do furto: Enquanto no furto o sujeito não tem a posse, ele subtrai,
na apropriação indébita o sujeito tem a posse e começa a agir como se dono
fosse.

5. Consumação/ tentativa: quando o agente inverte a posse, se comportando


como se dono fosse ou quando o sujeito se recusa a entregar. Algum ato
externo que demonstre o animus de apropriar-se da coisa.
A tentativa é possível na ap. indébita propriamente dita, na negativa de
restituição não é possível.

6. Formas majoradas: I – coisa recebida em depósito necessário: é o


‘depósito miserável’, diferente do depósito legal. II – em virtude de qualidade
pessoal do agente (Ex.: tutor, curador etc.). III - em razão de ofício, emprego ou
profissão (mais como abuso de confiança).

QUESTÕES:
1. Assinale V ou F nas seguintes assertivas:

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( ) (DELEGADO DE POLÍCIA/PCMG/2007) A apropriação indébita de coisa
furtada não é possível ainda que desconheça o agente sua origem.
( ) João empregado da loja X, é diariamente vigiado pelo seu gerente, um
determinado dia decide pegar para si um dos produtos da loja em que trabalha.
João praticou o delito de apropriação indébita.
( ) Maria, curadora de Angélica, tem a posse lícita de todos os bens desta.
Maria começa a agir como se dona fosse do carro que pertence a Angélica.
Maria responderá por peculato-apropriação, pois exerce função de munus
publico.
( ) A tentativa somente é possível quando houver apropriação indébita
propriamente dita.

2. João subtrai uma furadeira pertencente a seu vizinho José, sem que este
saiba disto, com o intuito de usá-la para pendurar um quadro na sala de sua
casa, devolvendo-a intacta, minutos depois, no mesmo lugar. José descobre tal
fato. Na hipótese, ocorreu
a) apropriação indébita – art. 168, caput, do Código Penal.
b) furto simples – art. 155, caput, do Código Penal.
c) furto de uso, que é fato atípico.
d) roubo simples – art. 157, caput, do Código Penal

3. Apoderar-se de coisa cuja posse lhe pertença, configura:


a) apropriação indébita.
b) furto.
c) estelionato.
d) roubo.

4. Um funcionário de uma empresa particular utiliza, para o desempenho das


atribuições do seu cargo, um bem pertencente ao acervo patrimonial de sua
instituição. Após a jornada de trabalho, ele se apodera do bem em questão.
Essa situação caracteriza um crime de:

a) peculato.
b) estelionato.

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c) furto qualificado.
d) apropriação indébita.

GABARITO:
1. F/F/F/V 2.C 3.A 4.D

ESTELIONATO: Art. 171

1. Sujeitos:
1.1 Sujeito passivo: deve ser pessoa certa e determinada, ocorrendo crime
contra a economia popular quando atingidas vítimas indeterminadas (ex.:
aparelhos nas balanças, nas bombas de gasolina etc.), geralmente quem sofre
o dano patrimonial (Lei 1.521/51).

1.2 Sujeito Ativo: qualquer pessoa que induz ou mantém a vítima em erro.
Aquele que obtém o proveito, se tiver dolo, também será sujeito ativo.

2. Tipo objetivo: Temos que ter 4 elementos:


2.1 fraude ou ardil;
2.2 erro de outrem;
2.3 obter vantagem ilícita;
2.4 prejuízo alheio.

É indispensável que a vantagem obtida, além de ilícita, decorre de erro


produzido pelo agente, isto é, que aquele seja consequência deste. Se a
vantagem for lícita haverá o delito de exercício arbitrário das próprias razões.
A característica primordial é a FRAUDE, citando a lei o artifício, o ardil
ou qualquer outro meio. O meio executivo deve ser apto para enganar a vítima,

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tratando-se de meio grotesco, que facilmente demonstra a intenção
fraudulenta, não há tentativa, é atípico.
ARTIFÍCIO é toda simulação idônea para induzir uma pessoa em erro,
levando-a à percepção de uma falsa aparência da realidade. Já o ARDIL é a
trama, o estratagema, a astúcia.
Quanto à VANTAGEM, é necessariamente a econômica? Para Fragoso
e Régis Prado sim; para Bitencourt, não necessariamente.

A aferição da idoneidade: há duas posições


A) deve ser impessoal, de acordo com a prudência ordinária, homo
medius;
B) deve ser pessoal, levando-se em conta as condições pessoais da
vítima (predominante).
A vítima precisa ter capacidade de discernimento, se não tiver
autodeterminação, como a criança ou o débil mental, o crime será o de “abuso
de incapazes” (art. 173). Se não tiver capacidade natural de ser iludida (como o
ébrio em coma) será o furto.
É necessário que o sujeito obtenha a vantagem ilícita (CRIME
MATERIAL) que venha causar prejuízo a terceiros; pode configurar tentativa se
não causar prejuízo.

3. Tipo subjetivo:
Só é punido a título de dolo, o dolo deve ser anterior ao resultado,
elemento subjetivo do tipo: “apoderar-se de vantagem ilícita”. A simples
finalidade de produzir dano patrimonial ou prejuízo não caracteriza o
estelionato.

4. Consumação e tentativa:
Consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita. Há tentativa quando o
sujeito engana a vítima, mas não obtém a vantagem ilícita, bem como quando
não causa prejuízo à vítima (Damásio).
É um crime que requer a COOPERAÇÃO DA VÍTIMA, o início da
execução se dá com o engano da vítima. Quando o agente não consegue
enganar, o simples emprego de artifício ou ardil caracteriza apenas a prática de

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atos preparatórios, não podendo se cogitar de tentativa! (BITENCOURT:
consumação = obtenção da vantagem + prejuízo à vítima).

5. Formas especiais de estelionato (§2º):


I – vender coisa alheia como própria. A vítima não pode saber. Crime próprio.
II – alienação ou oneração de coisa própria gravada com ônus. Apenas
prometer à venda é ilícito civil. Exige aqui o verbo vender.
III – defraudação de penhor da penhora judicial.
IV – fraude na entrega da coisa. Se não houve a tradição pode ser o art. 275.
V – fraude para o recebimento de indenização ou valor do seguro. Crime formal
e próprio.
VI – fraude por meio de CHEQUE! Para Bitencourt, se o cheque sem fundos é
pós-datado não há crime, mas ilícito civil (pois não seria cheque). Cheque “à
vista” sem fundos cai nessa espécie. O pós-datado sem fundos cai no caput. A
fraude deve ser posterior à emissão do cheque. Se for anterior, responde pelo
caput.
Ver súmulas: 554, 246 e 521 do STF.

6. Fraude bilateral ou torpeza bilateral: em muitos casos a vítima também


pretende um fim ilícito. Ex.: “conto da guitarra”, em que o sujeito passivo
pretende, com a aquisição da “máquina”, fabricar dinheiro. Não há exclusão do
estelionato. A boa-fé da vítima não é elementar.3
Conto do bilhete premiado: A vítima está sempre sozinha. Um homem mais
velho com aparência simples pede ajuda. Diz que ganhou na loteria, mas que é
analfabeto e que está sem documentos. Em troca de ajuda para sacar o
dinheiro, oferece 10% do valor do prêmio. Um segundo golpista se apresenta
como advogado, oferece ajuda e liga para uma suposta lotérica. Do outro lado
da linha, um terceiro envolvido confirma os números do bilhete premiado. Para
dar credibilidade, geralmente o golpista que se passa por advogado saca uma
alta quantia. Na verdade, são apenas algumas notas recheadas com papel,
dando a ideia de que há muito dinheiro ali.

7. Documento falso e estelionato: há 4 posições:


3
Em sentido contrário Nélson Hungria.

18
1) falso absorve o estelionato.
2) *estelionato absorve o falso. STJ. Súmula 17 “quando o falso se exaure no
estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. Existe só
estelionato;
3) concurso material. Fragoso.
4) *concurso formal. STF

QUESTÕES:
1. Mévio encerrou a sua conta corrente. Posteriormente, entregou a Paulo um
cheque vinculado a referida conta. Mévio responderá por:
a) fraude no pagamento de cheque (art. 171, VI);
b) estelionato na forma simples (art. 171, caput);
c) extorsão (art. 158);
d) fato é atípico.

3. Assinale as seguintes assertivas e marque a opção correta:


I- O estelionato consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita, com prejuízo
a terceiro.
II- É prescindível que a vítima tenha discernimento, porquanto o que importa
para que se configure o estelionato é a fraude empregada.
III – No caso do conto do bilhete premiado, há má-fé das duas partes, sendo
que a vontade ilícita do sujeito passivo exclui o dolo com relação ao sujeito
passivo, não havendo, pois, que se falar em estelionato, pois a conduta será
atípica.
IV- Mário adentra na residência de Chico, aduzindo ser o assistente de
informática. Então, pega o computador e dirige-se à saída, ao abrir a porta
depara-se com a verdadeiro técnico. Nesse caso, Mário responderá por
tentativa de estelionato.

a) II e III estão incorretas;


b) I, II e III estão incorretas;

19
c) II, III e IV estão incorretas;
d) III e IV estão incorretas;
e) II e IV estão incorretas.

3. Assinale a opção CORRETA.


a) O crime de estelionato, que pressupõe conduta fraudulenta do agente com o
fim de obtenção de vantagem ilícita, tem por objetividade jurídica a fé pública.
b) Configura crime de estelionato o descumprimento de contrato, quando o
pagamento da obra ou do serviço se dá de forma antecipada, o que faz
presumir a má-fé do contratado, se este não executa o serviço no prazo
avençado.
c) A emissão de cheque sem a pertinente provisão de fundos configura, em
qualquer hipótese, crime.
d) O crime de estelionato, quando na modalidade de fraude no pagamento por
meio de cheque, consuma-se no momento e local em que o banco sacado
recusa o seu pagamento.

4. Sobre o crime de estelionato, é CORRETO dizer:

a) O crime estará consumado apenas com a ocorrência da vantagem do


agente.
b) A reparação do dano, a restituição e a apreensão do objeto material,
excluindo ou reduzindo o prejuízo da vítima, excluem o delito.
c) O estelionato só é punível a título de dolo, que consiste na vontade de
enganar a vítima, dela obtendo vantagem ilícita, em prejuízo alheio.
d) Será privilegiado o crime cometido em detrimento de entidade de direito
público.

GABARITO:
1.B 2.A 3.D 4.C

RECEPTAÇÃO DOLOSA: art. 180

20
1. Conceito: é crime autônomo, não se podendo falar em coautoria ou
participação quando o agente pratica a conduta após a consumação do delito
antecedente. É indispensável a prática de um crime anterior.
2.Sujeitos:
2.1 Ativo - qualquer pessoa, menos o autor, coautor ou partícipe do delito
anterior. Ex.: o partícipe do furto que influi para que 3º adquira a coisa
responde apenas pelo art. 155 e não pela receptação que é pós fato impunível.
Tratando-se de comerciante ou industrial, aplica-se o § 1º do dispositivo.
Obs: o proprietário do bem do delito anterior pode ser sujeito ativo da
receptação, quando estava o bem na posse legítima de terceiro.

2.2 Passivo - é o proprietário da coisa que foi objeto do crime antecedente, é o


mesmo do crime anterior.

3. Tipo objetivo: o pressuposto indispensável é a prática de crime anterior. É


crime acessório, somente caracterizado quando a coisa é produto de crime. Há
o crime quando a coisa for subtraída por menor ou inimputável. É admissível
receptação de receptação.
Não responde pelo crime terceiro de boa-fé que transmite a outrem,
mesmo este sabendo ser produto de crime.
Indiferente que o acusado do crime anterior tenha sido absolvido por falta
de provas da autoria ou extinta a punibilidade.
Não há necessidade da existência de IP ou processo, mas é imprescindível
prova da ocorrência de crime anterior (peculato, contrabando, furto…)

4. Tipos
4.1 Própria: 1ª parte do art. 180 - “adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar em proveito próprio ou alheio”. Crime material que admite tentativa.

4.2 Imprópria: 2ª parte - influenciar para que terceiro de boa-fé adquira, receba
ou oculte. Fica dúvida se há crime ou se há influência para que 3º de boa-fé
transporte ou conduza o objeto. INFLUIR é autoria aqui, mediação para a
receptação.

21
Se o terceiro estiver de má-fé, será receptador próprio, enquanto o
influenciador será partícipe do fato descrito na 1ª parte.
CAPEZ: punir quem sabe e também quem deveria saber (majoritário).

4.3 Receptação qualificada: §1


Um verdadeiro outro tipo penal. Crime próprio (tem que ser comerciante
ou industrial), no exercício da atividade, tem que ter nexo a receptação com a
atividade. Deve agir com “animus lucrandi”. Dolo eventual = “deve saber”. No
caput é dolo direto (“sabe”). Para Bitencourt os dois são dolos diretos. Difere
nos verbos “vender, expor à venda”.

4.4 Receptação culposa: §3º


Se tiver dúvida quanto à proveniência do objeto, cai na culposa. A
conduta é adquirir ou receber. Não são típicas as condutas culposas de
transportar, conduzir, ter em depósito, desmontar, montar, nem para que 3º de
boa-fé adquira ou receba quando o agente tem dúvida quanto a sua
procedência.

4.4.1 Requisitos: deve presumir a obtenção da coisa por meio criminoso pela:
natureza da coisa; desproporção entre valor e preço; condição de quem
oferece.

5. Tipo subjetivo: é o dolo + elemento subjetivo do tipo: intuito de obter


proveito próprio ou em favor de terceiro. Não basta o dolo eventual. Se o
sujeito tem dúvida da procedência ilícita, a receptação é culposa.
Se o sujeito está de boa-fé e adquire a coisa e depois vem a saber que a
coisa é produto de crime, Damásio entende não há o ilícito, porque o dolo tem
que ser contemporâneo com a conduta e não subsequente, mas há posições
em contrário.
Obter a vantagem é elemento subjetivo especial do injusto.
Bitencourt: “a presença, in concreto, das elementares ‘sabe’ e ‘deve
saber’ significa somente atualidade ou potencialidade da consciência da
ilicitude, não definindo a espécie de dolo” (se direito ou eventual).
Tanto o caput quanto o § indicam dolo direto.

22
No STF: o §1º também abrange o dolo eventual e o direto, entendimento
majoritário.

6. Consumação e tentativa:
Na receptação própria: é delito material, consuma-se com o ato de
aquisição, recebimento ou ocultação, com a efetiva tradição, bem como com o
transporte ou condução. Admite a tentativa.
Na receptação imprópria: é delito formal, consuma-se com a simples
influência, independe de o terceiro de boa-fé, adquirir, ocultar etc. o produto do
crime. Não admite a tentativa.

QUESTÕES:
1. Fulano pede a Beltrano, seu amigo de longa data, que guarde em sua casa
um computador de sua propriedade, até que volte de uma viagem que fará
para a Europa. Dias após ter recebido o aparelho de boa-fé, quando Fulano já
se encontrava no passeio, como se fosse seu, Beltrano vende o computador
para terceira pessoa. A conduta de Beltrano se amolda à prática de:
a) receptação;
b) receptação qualificada;
c) furto;
d) apropriação indébita;
e) estelionato.

2. (Delegado de Polícia/PCDF/NCE/2005) Quem influi para que terceiro de má-


fé adquira produto de crime, pratica:
a) receptação própria;
b) receptação imprópria;
c) receptação privilegiada;
d) receptação culposa.

3.Sobre crime de receptação, é INCORRETO dizer:

23
a) Constitui receptação simples o fato de adquirir, receber, ocultar etc., em
proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime.
b) É privilegiado o crime de receptação praticado por réu primário ou se o
objeto receptado for de pequeno valor material.
c) A receptação dolosa imprópria constitui no fato do agente adquirir coisa
móvel por preço muito baixo, mas sem saber que se trata de fruto de crime.
d) Será qualificada a receptação de bens e instalações do patrimônio da União,
Estado ou Municípios.
GABARITO:
1.D 2.A 3.C

DISPOSIÇÕES GERAIS: art. 181, 182, 183

É por razões de política criminal.


Art. 181 = imunidades (imunidade absoluta). Art. 182 = condição de
procedibilidade (imunidade relativa). Art. 183 = exceções aos artigos anteriores.
Art. 181 - Exclui-se a punibilidade, mesma natureza das causas do art.
107 CP. A autoridade policial está impedida de instaurar inquérito, só se houver
dúvidas com relação ao parentesco. A enumeração legal é taxativa. Só é
aplicável nos delitos patrimoniais.
- A isenção exige que o prejuízo recaia sobre o parente ou cônjuge.
- Quanto ao companheiro - união estável? Deve se estender à hipóteses
de união estável em que o companheiro é equiparado ao cônjuge (Damásio) -
RT 506/431: exclui o companheiro.

24
DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

Antes denominados crimes contra os costumes.

Art. 213 – ESTUPRO

1. Conceito:
A Lei 12.015 de 7 de agosto de 2009 introduziu diversas mudanças
acerca dos crimes sexuais. Dentre elas pode-se citar: a revogação do art. 214,
que versava sobre atentado violento ao pudor e a modificação na redação do
art. 213.
Até o advento da referida lei, o Código Penal tipificava dois crimes
distintos: estupro e atentado violento ao pudor. O primeiro consistia em
“constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça”,
enquanto que o segundo descrevia a conduta de “constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se
pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal”.
A partir de agosto de 2009 os dois tipos foram fundidos em um só e
mantiveram o nome iuris de estupro.

25
Assim, estupro é a posse por força ou grave ameaça, supondo dissenso
sincero e positivo da vítima, não bastando recusa meramente verbal ou
oposição passiva e inerte.

2. Natureza:
É crime hediondo em qualquer das suas modalidades típicas. É crime de
mera conduta, uma vez que o tipo só menciona o comportamento do sujeito,
não prevendo resultado naturalístico.

3. Bem jurídico tutelado:


Protege-se a liberdade sexual da PESSOA, em outras palavras,
resguarda-se o direito que tem a pessoa de escolher livremente seu parceiro
sexual.

4. Sujeitos:
4.1 Ativo: qualquer pessoa.

4.2 Passivo: qualquer pessoa.

5. Tipo objetivo:
A conduta é constranger (vis compulsiva), que significa obrigar, forçar
(vis corporalis), visando à conjunção carnal ou a outro ato libidinoso. Conjunção
carnal é a cópula vagínica, seja completa ou não, que ocorra ou não
ejaculação. Ato libidinoso (que visa o prazer sexual, todo ato que serve de
desafogo à concupiscência), compreendendo coito oral ou anal, o uso de
instrumentos etc. Não é necessário que a vítima pratique o ato libidinoso com o
agente, pode ser levada a praticar com 3ª pessoa ou si mesma. Não é
necessário que se desnude qualquer parte do corpo. Na forma praticar é a
própria vítima obrigada a realizar o ato; na forma permitir, esta é submetida à
violência de forma passiva.
É necessário o dissenso da vítima, demonstrando a vontade de evitar o
ato desejado pelo agente, não podendo haver adesão de vontade. Quando a
violência ocorre durante a conjunção carnal ou o ato libidinoso (sadismo) não
há estupro, mas, eventualmente, lesão corporal.

26
A força empregada não precisa ser irresistível, basta ser idônea para
coagir.
Não há necessidade de que a violência seja traduzida em lesões
corporais.

6. Tipo subjetivo:
É o dolo, consubstanciado na vontade de constranger mediante o
emprego de violência ou grave ameaça.
Não há previsão de modalidade culposa.
Para caracterizar o crime não é necessária a finalidade de satisfazer a
própria lascívia.

7. Consumação e tentativa:
Consuma-se com a introdução completa ou incompleta do pênis na
vagina, independentemente de ejaculação ou com a prática do ato libidinoso,
mediante violência ou grave ameaça.
A tentativa pode ocorrer, devendo ser analisado o dolo do agente: se era
a conjunção carnal ou atos libidinosos. É admissível quando o sujeito emprega
a violência ou grave ameaça, mas não prossegue na conduta criminosa por
circunstâncias alheias a sua vontade.

8. Concurso de crimes:
Se, por exemplo, a pessoa for estuprada 3 vezes pode haver
continuidade delitiva.
As lesões leves, resultantes da violência são absorvidas pelo estupro.
Mas se a lesão for praticada por sadismo, com desígnio autônomo, há
concurso material.
Se do estupro resultar lesões graves ou morte se aplica o art. 213 §§1º e
2º, respectivamente. Haverá concurso material com o homicídio ou lesões
graves se houver desígnio autônomo com relação à morte ou lesão grave.

27
Se houver estupros sucessivos praticados por vários agentes contra
uma só vítima, há continuidade pela autoria direta e coautoria em relação aos
atos do parceiro.

Art. 215 - POSSE SEXUAL MEDIANTE FRAUDE

1. Bem jurídico tutelado:


Protege-se a liberdade sexual da pessoa, ou seja, a liberdade de dispor
de seu corpo, a liberdade de consentir na prática do ato sexual, sem que esse
consentimento seja obtido mediante fraude.

2. Sujeitos:
2.1 Ativo: qualquer pessoa.

2.2 Passivo: qualquer pessoa.

3. Tipo objetivo:
A ação tipificada consiste em ter conjunção carnal ou ato libidinoso,
mediante fraude. A fraude é o engodo, o ardil, o artifício que leva ao engano. A
fraude deve constituir meio idôneo para enganar sobre a identidade pessoal do
agente ou sobre a legitimidade do ato. Não existe violência ou grave ameaça,
mas sim um engodo, artifício que leva a pessoa enganada à falsa aparência da
realidade.
É chamado pela doutrina de estelionato sexual.

4. Tipo subjetivo:
É o dolo, apontando-se, ainda, o elemento subjetivo do tipo consistente
no especial fim de agir. Inexiste forma culposa.

5. Consumação e tentativa:
Consuma-se o crime com a conjunção carnal ou com a pratica do ato
libidinoso. Admite-se a tentativa.

28
Obs.: se o crime for praticado a fim de obter vantagem econômica, aplica-
se o parágrafo único, o qual comina além da pena privativa de liberdade a pena
de multa.

Art. 216-A – ASSÉDIO SEXUAL

1. Bem jurídico tutelado:


a) A liberdade sexual de homem e mulher, indiferentemente;
b) A honra e a dignidade sexuais são igualmente protegidas por este
dispositivo;
c) A dignidade das relações trabalhista-funcionais também assumem a
condição de bem jurídico penalmente protegido por este dispositivo legal.

2. Sujeitos:
2.1 Ativo: Qualquer pessoa, mulher ou homem, desde que seja superior
hierárquico da vítima ou tenha ascendência sobre ela, em razão do exercício
de emprego, cargo ou função. Admite autoria mediata e coautoria. NÃO HÁ
ASSÉDIO SEXUAL ENTRE COLEGAS DE TRABALHO!

2.2 Passivo: dependentes de mando, irrelevante o sexo do sujeito passivo.

3. Tipo objetivo:
NAS RELAÇOES DE TRABALHO!!!
Indispensável que o sujeito ativo se prevaleça de sua condição de
superioridade e que exista o temor por parte da vítima. Não é qualquer gracejo,
mas, tão-somente, a importunação grave, ofensiva, chantagiosa ou
ameaçadora a alguém subordinado. Embaraçar a vítima.
Ascendência, não há degraus, não há carreira, há uma posição de
domínio, de influência. Superior hierárquico há degraus, há carreira.
Bastam o temor reverencial e a insistência constrangedora do sujeito
ativo, deixando subliminarmente demonstrado que a recusa poderá causar
prejuízo profissional ou funcional. A vítima sente-se em risco de prejuízo, seja
desemprego, menor remuneração, empecilho para progredir na carreira etc.,

29
assim como ferir-lhe o sentimento de honra sexual, sua liberdade de escolha,
seu sentimento de amor próprio.

4. Tipo subjetivo:
É o dolo (constranger) mais o elemento subjetivo “obter vantagem ou
favorecimento de natureza sexual”. Não há modalidade culposa. “Nem só os
tarados, mas os apaixonados podem assediar seus eleitos...”

5. Consumação e tentativa:
Consuma-se com a prática do ato constrangedor. Basta a prática de um
único ato. É crime formal.
A tentativa é admissível quando emprega o constrangimento e a vítima
não vem a saber ou não fica intimidada.
É desnecessária a prática de qualquer ato libidinoso, se houver, será
mero exaurimento do crime (Bitencourt).

6. Confronto:
Havendo apenas importunação ofensiva ao pudor (em lugar público ou
acessível ao público + ferir os bons costumes) ou perturbação da tranquilidade,
vide arts. 61 e 65 da LCP. Se o constrangimento é feito mediante violência ou
grave ameaça e não tiver por objeto satisfação de desejo sexual, poderá
caracterizar-se o crime do art. 146 do CP ou até mesmo o do art. 158 do CP,
se o intuito for o de obter indevida vantagem econômica.
Se a vítima for menor de 18 anos aplica-se o §2º (causa de aumento de
pena).

7. Concurso de pessoas:
Pode haver, desde que o coautor ou partícipe saiba da superioridade
hierárquica ou ascendência do agente sobre a vítima (CP, art. 30) e da real
intenção daquele (CP, art. 29).

Art. 217 A – ESTUPRO DE VULNERÁVEL

30
A primeira hipótese de vulnerável é a vítima menor de 14 anos. Neste
particular, em razão da clareza do dispositivo, não haverá mais discussão
acerca do dia do aniversário de 14 anos, porquanto apenas menores de 14
anos são considerados vulneráveis. Portanto, antes de implementarem os 14
anos de idade. No dia do aniversário, incidirá o artigo 213, parágrafo 1º, do
Código Penal. Ademais e muito importante, eliminou-se a discussão acerca de
haver presunção de violência relativa ou absoluta quanto à idade da vítima.
Passou o legislador a considerar os menores de 14 anos, objetivamente,
vulneráveis e incapazes de entender o caráter do fato. Sem condições, pois, de
oferecer resistência.
A segunda hipótese de vítima vulnerável diz respeito àqueles que, por
enfermidade mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática
do ato. Está-se, aqui, diante de inimputáveis absolutamente, i.e., aqueles
elencados no “caput” do artigo 26 do Código Penal. De qualquer sorte, a
comprovação desta circunstância dependerá de exame pericial ou prova
equivalente que demonstre a total incapacidade da vítima em virtude de
enfermidade mental. Por enfermidade mental deve-se entender uma patologia.
Anteriormente, no art. 224, exigia-se para a presunção da violência, que o autor
do delito tivesse ciência dessa circunstância, ou seja, o dolo direto. Agora, não
houve tal exigência, bastando dolo direto ou eventual por parte do agente
quanto à condição de inimputabilidade da vítima.
A terceira hipótese diz respeito às vítimas que, por deficiência mental,
não tenham o necessário discernimento para a prática do ato. Neste caso,
trata-se de pessoa semi-imputável, i.e., aqueles elencados no parágrafo único
do artigo 26 do Código Penal. Está-se, pois, diante de total inovação se
comparada com as anteriores hipóteses de presunção de violência. Considera-
se vulnerável, inclusive, o semi-imputável. Evidentemente, neste caso, há de
ser analisado o caso concreto, verificando-se o grau de alienação da vítima a
partir de perícia ou prova equivalente. A Deficiência mental necessariamente
não decorrerá de patologia, podendo ser debilidade congênita de
desenvolvimento mental incompleto. Acredita-se que nesta hipótese poderá

31
haver uma espécie de vulnerabilidade relativa, que não autoriza a tipicidade, e
vulnerabilidade absoluta, que faz incidir o tipo penal. Isso porque a
vulnerabilidade exigida no tipo penal impõe que a vítima não possa oferecer
resistência (parte final do § 1º d art. 217). A quarta e última situação de
vulnerabilidade da vítima dá-se quando não pode ela oferecer resistência
por qualquer outra causa, evidentemente que não a idade inferior a 14 anos,
a enfermidade ou deficiência mental. De qualquer sorte, neste particular, está-
se diante de um tipo penal aberto, porquanto as demais hipóteses devem
ocorrer a exemplo dos modelos antes objetivamente referidos. Em suma, está
o legislador a autorizar analogia “intra legem” ou interpretação analógica,
permitidas em Direito Penal. Para tanto, qualquer outra hipótese deverá ser a
exemplo da menoridade (menor de 14 anos), enfermidade ou deficiência
mental, consoante já dito. Exemplo pode ser citado com relação àquelas
pessoas absolutamente embriagadas, absolutamente narcotizadas, em estados
de inconsciência, senilidade avançada, deficiências físicas acentuadas, etc.

Os parágrafos 3º e 4º qualificam o delito de estupro contra vulnerável se


da conduta ocorrer resultado lesão grave (por consequência, gravíssima
também) ou morte da vítima. Veja-se que a pena, para o resultado lesão
corporal grave, é de 10 a 20 anos. Quando ocorrer morte, 12 a 30 anos de
reclusão.
Ação Penal : Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título,
procede-se mediante ação penal pública incondicionada.

QUESTÕES:
1. Dr. Tício, numa consulta com um menino de 8 anos, A.L.J., praticou com ele
atos libidinosos, mas sem violência ou grave ameaça. Dr. Tício constantemente
praticava tais atos que foram descobertos após os pais de A.L.J. levarem ao
conhecimento da polícia.
Em defesa Dr. Tício disse que houve o consentimento dos menores e que
portanto não houve crime algum. Capitule a conduta de Dr. Tício:

2. Assinale V ou F nas seguintes assertivas:

32
( ) No assédio sexual, diferentemente do que ocorre no crime de
estupro, o sujeito passivo pode ser o homem ou a mulher.
( ) João realiza atos libidinosos com Maria, maior, sem o consentimento
desta, ocorre que, posteriormente ao ocorrido ele se arrepende. Estará,
assim configurado o delito de estupro.
( ) É possível falar em assédio sexual entre colegas de trabalho.
( ) Tratando-se de assédio sexual mediante fraude, em regra, a ação
será pública condicionada à representação;

3. Mário realiza conjunção carnal com Mévio, sem o consentimento deste


e mediante grave ameaça, posteriormente ao referido ato, desfere 2 tiros,
a fim de matar Mévio. Mário responderá por:
a) atentado violento ao pudor qualificado pelo resultado morte.
b) estupro qualificado pelo resultado morte.
c) estupro em concurso material com homicídio doloso.
d) estupro em concurso formal com homicídio doloso.

4. (Exame de Ordem - Maio/2013) José, rapaz de 23 anos, acredita ter


poderes espirituais excepcionais, sendo certo que todos conhecem esse
seu “dom”, já que ele o anuncia amplamente. Ocorre que José está
apaixonado por Maria, jovem de 14 anos, mas não é correspondido.
Objetivando manter relações sexuais com Maria e conhecendo o
misticismo de sua vítima, José a faz acreditar que ela sofre de um mal
espiritual, o qual só pode ser sanado por meio de um ritual mágico de
cura e purificação, que consiste em manter relações sexuais com alguém
espiritualmente capacitado a retirar o malefício. José diz para Maria que,
se fosse para livrá-la daquilo, aceitaria de bom grado colaborar no ritual
de cura e purificação. Maria, muito assustada com a notícia, aceita e
mantém, de forma consentida, relação sexual com José, o qual fica muito
satisfeito por ter conseguido enganá-la e, ainda, satisfazer seu intento,
embora tenha ficado um pouco frustrado por ter descoberto que Maria
não era mais virgem. Com base na situação descrita, assinale a
alternativa que indica o crime que José praticou.

33
A) Corrupção de menores (Art. 218, do CP).

B) Violência sexual mediante fraude (Art. 215, do CP).

C) Estupro qualificado (Art. 213, § 1º, parte final, do CP).


D) Estupro de vulnerável (Art. 217-A, do CP).

5.(OAB/Exame Unificado – 2016.2) Durante dois meses, Mário, 45 anos, e Jo


ana, 14 anos, mantiveram relações sexuais em razão de relacionamento
amoroso. Apesar do consentimento de ambas as partes, ao tomar
conhecimento da situação, o pai de Joana, revoltado, comparece à Delegacia e
narra o ocorrido para a autoridade policial, esclarecendo que o casal se
conhecera no dia do aniversário de 14 anos de sua filha. Considerando
apenas as informações narradas, é correto afirmar que a conduta de Mário

(A) é atípica, em razão do consentimento da ofendida. (B) configura crime de e


stupro de vulnerável. (C) é típica, mas não é antijurídica, funcionando o consen
timento da ofendida como causa supralegal de exclusão da
ilicitude. (D) configura crime de corrupção de menores.

6. (Juiz 2019) Tícia, de 16 anos, há dois anos namora Caio, de 19 anos. Tícia é
virgem e está decidida a apenas manter relação sexual após o casamento, já
marcado para ocorrer no dia em que ela completará 18 anos. Quando estavam
sozinhos, na sala, assistindo TV, Caio, aproveitando-se que Tícia cochilava,
masturbou-se e ejaculou no corpo da namorada que, imediatamente, acordou.
Sentindo-se profundamente violada e agredida, Tícia grita e acorda os pais,
que dormiam no quarto da casa. Os pais, vendo a filha suja e em pânico,
impedem Caio de fugir e decidem chamar a polícia. Acionada a polícia, Caio é
preso, em flagrante delito e, encerradas as investigações, denunciado pelo
crime sexual praticado. Diante da situação hipotética, Caio poderá ser
processado pelo crime de
A. corrupção de menores, tratando-se de ação penal pública incondicionada.
B. violação sexual mediante fraude, haja vista que Tícia estava dormindo, sem
possibilidade de resistir, tratando-se de crime de ação penal pública
condicionada.
C. importunação sexual, tratando-se de ação penal pública incondicionada.

34
D. estupro de vulnerável, haja vista que Tícia é menor, tratando-se de crime de
ação penal pública incondicionada.
E. estupro, incidindo causa de aumento em virtude de a vítima ser menor de
18, tratando-se de ação penal pública condicionada.

7. (Analista MP 2019) Tício, padrasto de Lourdes, criança de 11 anos de idade,


praticou, mediante violência consistente em diversos socos no rosto, atos
libidinosos diversos da conjunção carnal com sua enteada. A vítima contou o
ocorrido à sua mãe, apresentando lesões no rosto, de modo que a genitora de
Lourdes, de imediato, compareceu com a filha em sede policial e narrou o
ocorrido.Recebidos os autos do inquérito policial, o promotor de justiça com
atribuição deverá oferecer denúncia imputando a Tício o crime de:
A. estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), podendo o emprego de violência
real ser considerado na pena base para fins de aplicação da sanção penal,
bem como cabendo reconhecimento da causa de aumento de pena pelo fato
de o autor ser padrasto da ofendida;
B. estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), não podendo o emprego de
violência real ser considerado na pena base por já funcionar como elementar
do delito, mas cabendo reconhecimento da causa de aumento de pena pelo
fato de o autor ser padrasto da ofendida;
C. estupro qualificado pela idade da vítima (art. 213, §1º do CP), diante da
violência real empregada, de modo que a idade da vítima não poderá funcionar
como agravante, apesar de presente a causa de aumento pelo fato de o autor
ser padrasto da ofendida;
D. estupro simples (art. 213 do CP), diante da violência real empregada,
funcionando a idade da vítima como agravante da pena, não havendo previsão
de causa de aumento de pena, que somente seria aplicável se o autor fosse
pai da ofendida;
E. estupro qualificado pela idade da vítima (art. 213, §1º do CP), sem causa de
aumento por ser o autor padrasto da ofendida, diante da violência real
empregada, podendo a idade da vítima funcionar também como agravante da
pena.

35
8. (MP 2019) De acordo com o ordenamento jurídico e o posicionamento dos
tribunais superiores sobre os crimes contra a dignidade sexual,
A. a prática de passar as mãos nas coxas e seios da vítima menor de 14 anos,
por dentro de sua roupa, não pode ser tipificado como crime de estupro de
vulnerável (art. 217-A do Código Penal), haja vista que não houve a conjunção
carnal.
B. o estupro (art. 213 do Código Penal), com redação dada pela Lei n°
12.015/2009, é tipo penal misto alternativo. Logo, se o agente, no mesmo
contexto fático, pratica conjunção carnal e outro ato libidinoso contra uma só
vítima, pratica um só crime do art. 213 do Código Penal.
C. a conduta consistente em manter casa para fins libidinosos é suficiente para
a caracterização do crime tipificado no art. 229 do Código Penal, sendo
desnecessário, para a configuração do delito, que haja exploração sexual,
assim entendida como a violação à liberdade das pessoas que ali exercem a
mercancia carnal.
D. somente no crime de estupro, praticado mediante violência real, é que a
ação penal é pública incondicionada. Nas demais modalidades de violência,
trata-se de crime de ação penal condicionada a representação.
E. segundo a legislação brasileira, o estupro coletivo é aquele praticado
mediante concurso de três ou mais pessoas.

GABARITO:
1. Responderá pelo delito de estupro de vulnerável, independentemente se
houve ou não violência ou grave ameaça.
2.F/V/F/V 3.C 4.B; 5. A; 6. C; 7. A; 8. B

36
DOS CRIMES DE PERIGO COMUM
DOLOS DE DANO

Art. 250 – INCÊNDIO

1. Bem jurídico tutelado:


Protege-se a incolumidade pública. Incolumidade, conforme Rogério
Greco citando Hungria, “é o estado de preservação ou segurança em face de
possíveis eventos lesivos. É irrelevante a efetiva lesão física ou patrimonial que
poderá, conforme o caso, ser qualificadora do ilícito em estudo.

2. Sujeitos:
2.1 Ativo: qualquer pessoa, inclusive o proprietário da coisa incendiada.
2.2 Passivo: a coletividade, o Estado, bem como os bens jurídicos lesados ou
ameaçados.

37
3. Tipo objetivo:
A conduta típica é causar incêndio, provocar de algum modo a
combustão.
É indispensável a prova da ocorrência de perigo efetivo ou concreto
(comprovado caso a caso) para pessoas ou coisas indeterminadas, através do
auto de exame de corpo de delito. Não precisa ser alheia a coisa incendiada.
Não é necessário que pessoas ou coisas sejam lesadas ou postas em
risco.
Se não tiver potencialidade lesiva à vida, integridade física ou ao
patrimônio de um nº. indeterminado de pessoas pode caracterizar o dano do
art. 163.
Não importa a natureza da coisa incendiada, nem que ela seja de
propriedade do agente. Também são irrelevantes os meios de execução
utilizados pelo autor, pois o incêndio pode ser provocado até por omissão,
quando o agente tem o dever jurídico de evitá-lo (CP, art. 13, § 2º).

 Se foi praticado em lugar ermo, sem riscos à incolumidade pública, é o


crime de dano qualificado – art. 163, parágrafo único – a pena é menor
(só que aqui a coisa é alheia).

4. Tipo subjetivo:
É o dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de o incêndio acarretar
perigo comum. Se a conduta não foi animada desse elemento subjetivo, sequer
na modalidade eventual, então o incêndio é culposo: §2º.
Não é necessário que o agente queira causar dano, basta que saiba que
há probabilidade de sua superveniência.
Quando o delito for culposo não incidirão as majorantes do §1º.

 Se o agente expuser a perigo um nº certo de pessoas o crime é do art.


132/CP.
 Pode configurar crime contra a segurança nacional – art. 26 da Lei
6620/78.

38
5. Consumação e tentativa:
Sendo crime de perigo concreto, consuma-se quando ocorrer à
situação de perigo comum. Pouco importa o tempo de duração e o maior ou
menor estrago, ocorre à consumação com a expansão do fogo que torna difícil
a sua extinção. EXIGE O PERIGO CONCRETO.

 A eventual produção de dano é irrelevante para a caracterização do


crime. Sem a existência de perigo para a vida, integridade física ou ao
patrimônio de outrem, também não se configura.

Pode ocorrer tentativa, se o fogo, por circunstâncias alheias, não


ocasionar perigo comum, p.ex., é extinto antes de ocorrer o perigo comum.
Ex. Após jogar álcool no local é imediatamente apagado por terceiros.
Pode haver arrependimento eficaz.

6. Causas de aumento de pena: §1º


I - exige-se o elemento subjetivo do injusto que é a finalidade de obter a
vantagem pecuniária. Quando o agente destina-se à obter seguro, há incêndio
qualificado e não estelionato (art.171, §2º, V) que é absorvido pelo crime mais
grave. A vantagem não precisa ser necessariamente alcançada, basta a
intenção.

II –
a) embora não esteja ocupada, tem esta finalidade. O agente tem que
ter consciência da habitação; basta que ele saiba ser o local destinado à
habitação.
b) cinemas, teatros, templos, hotéis, hospitais, sanatórios, creches,
bibliotecas, etc. Destinado ao uso público.
c) não se exige que estejam ocupados por passageiros;
h) mata ou floresta: art. 41 da Lei 9605/98 quando não advir perigo à
incolumidade pública.

7. Incêndio culposo: §2º, art. 250.


Exemplo costumeiro: queimadas.

39
O incêndio culposo não pode ser qualificado pela natureza ou
destinação da coisa atingida, a menos que tenha como resultado lesão corporal
ou morte de alguém. Ou seja, não incidem as majorantes do §1º.

8. Incêndio qualificado pelo resultado:


Quando do incêndio doloso resultar lesão corporal grave ou morte: art.
258, 1ª parte (crime preterintencional).
Havendo dolo (direto ou eventual) com relação à morte da vítima haverá
homicídio qualificado por ter sido praticado por fogo, que absorve o perigo
comum. “Quando o sujeito ativo objetiva, com a produção do incêndio, matar
ou lesionar pessoa certa, haverá concurso formal entre o delito de incêndio e o
homicídio qualificado, ou o de lesão corporal com a agravante do art. 61, II, d.”
(Bitencourt)
Havendo lesão dolosa há concurso formal.
No caso de culpa aplica-se o §2º, 2ª parte.
O incêndio, como crime de perigo comum, dirige-se a um nº
indeterminado de pessoas ou coisas e a morte de uma ou várias pessoas,
tanto na forma dolosa como culposa, configura crime único qualificado pelo
resultado e não concurso formal.

Art. 282 - EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA, ARTE DENTÁRIA OU


FARMACÊUTICA

1. Bem jurídico tutelado: Protege-se a saúde pública.


Crime de perigo abstrato, não depende da ocorrência de dano ou risco
concreto à coletividade.

2. Sujeitos:
2.1 Ativo: é composto de duas partes:
1ª) qualquer pessoa (crime comum).
2ª) só o médico, dentista ou farmacêutico que excede os limites de sua
profissão (crime próprio).
Nada impede a co-autoria ou participação.

40
2.2 Passivo: a coletividade em primeiro plano, em segundo lugar, aquele que é
atendido.

3. Tipo objetivo:
Exercer é praticar, desempenhar, exercitar ilegalmente.
Quanto à 1ª parte é exercê-la sem que o agente esteja habilitado
legalmente para esta atividade ou por não possuir diploma ou por não estar
registrado no Departamento Nacional de Saúde Pública e no Departamento de
Saúde do Estado que pretenda realizar suas atividades.
Pratica quem mantém consultório, expede receitas, atende doentes, faz
diagnósticos, mantém laboratório de análises clínicas (isto no exercício da
medicina).
Parteira sem o certificado do art. 2º, IV, da Lei 2064/55 e inscrição como
prática comete o delito.
Na profissão de farmacêutico: é a arte de preparar medicamentos,
segundo Fragoso. O simples comércio de medicamentos já preparados não é
crime.
A ausência de farmacêutico numa farmácia constitui infração
administrativa.
Não configura crime aplicar injeções.
O protético não pode exercer a função de cirurgião-dentista, senão
comete crime.
A 2ª conduta é exercer a profissão extravasando os seus limites: ex.: se
é formado em medicina e farmácia não pode exercer as 2 profissões (Dec.
20.931/32 art.16); farmacêutico expedir receitas, médico preparar
medicamentos etc.

 ATENÇÃO: Se o exercício ilegal for de outra profissão que não de


médico, farmacêutico ou dentista aplica-se o art. 47 da Lei de
Contravenções Penais.

Exercer é crime habitual, deve haver reiteração nos atos. Mas há casos
na jurisprudência que se prendeu o agente após atender a 1ª consulta
(JTACrSP 50/224).

41
4. Tipo subjetivo:
É o dolo, ou seja, a vontade de exercer ilegalmente ou exceder os
limites da profissão. Se houver o intuito de lucro aplica-se a qualificadora
(parágrafo único).

5. Consumação e tentativa:
Consuma-se com a reiteração de atos, com o exercício habitual disso.
Não é necessário qualquer dano a pessoa atendida. Não é possível a tentativa,
pois é crime habitual.

6. Qualificadora:
Havendo morte ou lesão corporal - arts. 258 e 285.

Art. 283 – CHARLATANISMO

1. Bem jurídico tutelado: Protege-se a saúde pública. “ciarlare” =tagarelar


2. Sujeitos:
2.1 Ativo: qualquer pessoa, inclusive o médico.
2.2 Passivo: a coletividade, bem como a pessoa que venha a ser enganada.

3. Tipo objetivo:
Inculcar = indicar, propor como vantajoso, fazer falsa afirmação e
anunciar = divulgar, propagar, noticiar (crime de ação múltipla).
Promete o agente que pode curar moléstias que, em regra, são
consideradas incuráveis pela ciência atual, com p. ex. a AIDS.
A afirmação que é infalível a cura é indispensável à ocorrência do ilícito.
Não exige habitualidade, basta uma inculca ou anúncio para ocorrer o
crime.

4. Tipo subjetivo:
É o dolo, consistente na vontade de inculcar ou anunciar cura por meio
secreto ou infalível, sabendo o sujeito da ineficiência dos meios apregoados. O

42
charlatão deve comportar-se com insinceridade e com falsidade. Se o agente
acredita, sinceramente, na eficácia dos meios apregoados para a cura, o dolo
está excluído, sendo, pois, o fato atípico.
Má fé. O agente não acredita no seu meio, sabe que sua fórmula é
inócua.

 Se o agente pratica o crime com a finalidade lucrativa, haverá o concurso


formal com o estelionato (Bitencourt). Com intuito de lucro há estelionato:
RT 698/357

5. Consumação e tentativa:
Consuma-se com a inculcação ou anúncio da cura, independente de
qualquer resultado. A tentativa é possível: ex.: o agente é impedido de distribuir
folhetos. É irrelevante que o autor tenha conseguido convencer alguém com
sua ação. O perigo para a saúde pública é presumido (crime de perigo
abstrato).

Art. 284 – CURANDEIRISMO

1. Bem jurídico tutelado: Protege-se a saúde pública.


2. Sujeitos
2.1 Ativo: qualquer pessoa que não possua conhecimentos médicos.
Normalmente, são indivíduos atrasados, ignorantes, grosseiros ou místicos
(feiticeiros, médiuns, pais-de-santo etc).
Não é curandeirismo a prática religiosa lícita, empregada pelo ministro
de culto, desde que não saia do terreno puramente espiritual e não substitua,
nem impeça a ação médica.
Não são sujeitos ativos: os ministros de igreja, quando praticam atos de
exorcismo; quem pratica atos de qualquer religião ou doutrina, inclusive o
espiritismo, desde que não ofenda a moral, os bons costumes ou com perigo a
saúde pública.

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2.2 Passivo: a coletividade. Não há necessidade da identificação das vítimas
materiais.

3. Tipo objetivo:
São três ações: prescrever (receitar); ministrar (dar a consumo) ou
aplicando (diagnosticando). Exercer é praticar, desempenhar ou exercitar. É o
exercício da arte de curar de quem não tem a necessária habilitação
profissional, por meios não científicos.
É necessária a habitualidade, o perigo é abstrato.

4. Tipo subjetivo:
É o dolo, que consiste na vontade livre e consciente de praticar
reiteradamente as condutas descritas, de exercer o curandeirismo. Não importa
se é gratuito. Inexiste modalidade culposa.
5. Consumação e tentativa:
Ocorre a consumação com a reiteração de atos mencionados nos incisos.
A tentativa é inadmissível, em razão de a habitualidade ser característica.

 Se mediante falsa promessa de cura, percebe remuneração, utilizando-se


de meio fraudulento há ESTELIONATO que absorve o Curandeirismo.

Obs.: é irrelevante a indagação se o sujeito é ou não bem sucedido nos


tratamentos aplicados, se a substância é ou não nociva à saúde ou se tem
propriedades idôneas à cura.
Macumba, umbanda e quimbanda quando a conduta se enquadra no
tipo, existe o delito.

QUESTÕES:
1. Assinale V ou F nas assertivas a seguir:
( ) O crime previsto na 1ª parte do art. 282 é crime próprio, pois somente pode
ser exercido por médico, dentista ou farmacêutico. Se houver exercício ilegal
de outras profissões, por exemplo advogado, tratar-se-á de contravenção
penal.

44
( ) Maria reside no topo da colina, sendo que o vizinho mais próximo reside a
100 km de sua residência. Um dia Maria resolve atear fogo na sua casa,
porquanto encontrou seu marido na cama com outra e aquele local lhe trazia
más recordações. Assim, provocou uma combustão, queimando a localidade.
Ela responderá por crime de incêndio, forte no artigo 250 do CP.
( ) Para que se configure o delito de curandeirismo é desnecessário analisar
se o produto ministrado era nocivo à saúde ou se, de fato, houve a cura da
moléstia.
( ) José, médico, devidamente registrado, anuncia que possui à cura para o
câncer por meios secretos. José praticou o delito de charlatanismo.

2. Mária, não é dentista, porém seu falecido pai exercia a referida profissão.
Assim, Mária aprendeu com seu pai tudo acerca da odontologia. Com a morte
deste, mesmo sabendo que não tinha habilitação para tanto, passou a atender
os ex-pacientes do seu pai. João, por sua vez, não tendo qualquer
conhecimento médico, intitula-se feiticeiro e começa a ministrar ervas para a
cura de determinadas doenças. Mária e João responderão, respectivamente
por:
a) charlatanismo e curandeirismo
b) curandeirismo e exercício ilegal da arte dentária
c) exercício ilegal da arte dentária e curandeirismo
d) exercício ilegal da arte dentária e charlatanismo
e) exercício ilegal da arte dentária e exercício ilegal da medicina

GABARITO:
1.F/F/V/V 2.C

45
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1. Objetividade Jurídica – o interesse da normalidade funcional, probidade,


prestígio, incolumidade e decoro da Administração Pública.
Noronha: “o conceito de administração Pública, no que diz respeito aos
delitos compreendidos neste título, é tomado no sentindo mais amplo,
compreensivo da atividade total do Estado e de outros entes públicos. Portanto,
com as normas que refletem os crimes contra a Administração Pública, é
tutelada não só a atividade administrativa em sentido restrito, técnico, mas, sob
certo aspecto, também a legislativa e a judiciária. Na verdade, a lei penal, neste
título, prevê e persegue fatos que impedem ou perturbem o desenvolvimento
regular da atividade do Estado e de outros entes públicos.”
Pune não só a conduta ilícita dos agentes públicos (os funcionários
públicos), como a dos estranhos (os particulares).

2. Classificação:
A) Crimes cometidos por funcionários públicos contra a Administração
Pública em geral (art.312 a 326);
B) Crimes praticados por particulares contra a Administração Pública em
geral (art.328 a 337);
C) Crimes praticados por particulares contra a Administração Pública
estrangeira (art. 337-B a 337- D);
D) Dos crimes em licitações e contratos administrativos (art. 337 E a 337
P);
E) Crimes contra a Administração da Justiça (art.338 a 359);
F) Crimes contra as finanças públicas (359-A a 359-H).

3. Classificação dos crimes funcionais:


a) Delitos funcionais próprios: Quando a qualidade de funcionário
público é essencial à realização do crime. Se ausente esta condição no agente,
o fato se torna atípico, isto é, não seria crime. Não há uma figura penal-típica
"subsidiária" para quem não seja funcionário público e pratica tal ação
ou omissão.

46
Por exemplo, se o crime de prevaricação (Código Penal, Art. 319) é praticado
por empregado não funcionário público, essa conduta não se caracteriza
como crime.

b) Delitos funcionais impróprios: Quando o agente não tem a condição


de funcionário público, a tipicidade do ato criminoso é dada de forma diversa.
Por exemplo, o funcionário público que se apropria de um bem
da repartição que ele tenha a posse comete o crime de peculato (Código
Penal, Art. 312). Porém, se o mesmo ato é praticado por agente não
funcionário público, o tipo penal da conduta é o crime comum de apropriação
indébita (Código Penal, Art. 168).

4. Conceito de funcionário público: art.327, caput do CP


Incluem-se não só os funcionários públicos que desempenham cargos
criados por lei, regularmente investidos, nomeados e pagos pelos cofres
públicos, como também os que exercem fé pública ou são investidos em
empregos (contratados, mensalistas, diaristas ou nomeados a título precário).
Aqui é mais amplo que no Direito Administrativo. NÃO SE EXIGE
EXERCÍCIO PROFISSIONAL, BASTA EXERCER CARGO, EMPREGO OU
FUNÇÃO PÚBLICA!
Para efeitos penais, nesse conceito amplo, são funcionários públicos: o
Presidente da República, o prefeito, os membros do Congresso Nacional e dos
Tribunais, o militar, o serventuário da justiça, os jurados, etc.

Não são funcionários: os curadores, tutores nomeados, os inventariantes


judiciais, o síndico, o liquidatário, testamenteiro ou depositário judicial,
nomeado pelo juiz, etc., não confundir função pública com “munus público”.
Devem, se for o caso em apreço, responder pelo crime de apropriação indébita
majorada (CP, Artigo 168, § II).

Obs.: Concurso de pessoas: a condição para que se configurem os


crimes em estudo é o exercício de função pública. Tal é pessoal, subjetiva, mas
se comunica aos demais agentes desde que estes tenham conhecimento de
tanto.

47
ART. 312 – PECULATO

1. Conceito: é uma espécie de furto praticado por funcionário público


aproveitando-se dessa condição.

2. Sujeitos:
2.1 Sujeito Ativo - funcionário público (art.327) é crime próprio, o particular
que concorre com o funcionário será responsabilizado pelo art.312 se conhecia
a condição dele.

2.2 Sujeito Passivo – o Estado e em segundo lugar o particular proprietário do


bem apropriado ou desviado, quando este for particular.

3. Espécies:
3.1 peculato-apropriação: art.312, caput, 1ª parte
3.2 peculato desvio: art.312, caput, 2ª parte
3.3 peculato furto: § 1º
3.4 peculato culposo: § 2º

3.1 PECULATO APROPRIAÇÃO E DESVIO (caput)


É o denominado peculato próprio.

3.1.1 Tipo objetivo: No Peculato Apropriação há inversão da posse, dispondo


o sujeito da coisa como se fosse dono; é nos moldes da apropriação indébita.
No Peculato Desvio, o funcionário não tem ânimo de apossamento definitivo,
ele emprega o objeto material um fim diverso de sua destinação específica em
proveito próprio ou alheio, p. ex. empresta dinheiro público para perceber juros.
Nas duas hipóteses são exigidas as seguintes condições:
 Que o sujeito tenha a posse (ou detenção) lícita do objeto material.
 Que a posse tenha sido confiada em razão de cargo.

48
3.1.2 Tipo subjetivo: Além do dolo é necessário o elemento subjetivo, um fim
específico de agir, “em proveito próprio ou alheio”. Nas duas modalidades de
peculato. Dolo de transformar a posse em domínio.

3.1.3 Consumação e tentativa: Consuma-se o delito, na modalidade


apropriação, no momento em que o sujeito age como se fosse dono (retém,
aliena). No peculato desvio, no momento em que o funcionário desvia, sendo
irrelevante se consegue ou não o proveito próprio ou alheio.
 É delito material, por isso possível a tentativa.

3.3 PECULATO FURTO (§ 1º)


É o denominado peculato impróprio.
O peculato aqui está descrito na forma do furto, através da expressão
“subtrair”. NÃO TENHO A POSSE LÍCITA ANTERIOR
Nada mais é que furto praticado por funcionário público, valendo-se de
sua condição. Aqui ele realiza a subtração ou concorre, voluntária e consciente,
para que outrem subtraia o objeto material.
Nos dois casos, o funcionário não tem a posse ou detenção do bem, se
tivesse responderia pelo “caput”.
Ex.: Vai furtar o depósito, e apresenta ao guarda noturno a carteira de
funcionário, o guarda deixa-o passar. Ele não tem a posse, ele vai subtrair,
usando-se da condição de funcionário público.

 Se um terceiro ajudá-lo, por exemplo, a carregar as mercadorias,


responderá o terceiro por peculato furto (coautor). Aplica-se o art.30.

Se o funcionário e o terceiro arrombaram a porta, pularam muro deste


local e levaram as mercadorias do depósito, aí é furto do 155 qualificado, pois a
condição de funcionário em nada facilitou.
A consumação de peculato furto ocorre nos mesmos moldes do furto.
Crime material, admite tentativa.
Exige-se além do dolo, o elemento subjetivo do tipo concernente na
intenção de obtenção de proveito próprio ou alheio.

49
3.4 PECULATO CULPOSO § 2º
Aqui o funcionário por negligência, imprudência ou imperícia concorre
para a prática do crime de outrem (funcionário ou particular).
Em face de ausência de cautela o funcionário facilita a subtração,
apropriação.
O crime se aperfeiçoa com a conduta dolosa de outrem, havendo
necessidade da existência de nexo causal entre os delitos, de maneira que o
primeiro tenha permitido a prática do segundo.
Consuma-se, portanto, no momento em que o outro crime atinge seu
momento consumativo. Culposa a modalidade, não admite tentativa.
O peculato culposo é aplicável ao “caput” e § 1º, refere-se penas ao
peculato do 312 e peculato furto. Mirabete: o § 2º deve ser interpretado em
conjunto com o “caput” e § 1º (espécie de peculato). Mas há entendimento que
o “outro crime” pode ser o furto, roubo etc. (Damásio).

A extinção da punibilidade pela reparação do dano só é possível no crime


de peculato culposo.

Se reparar o dano não aplica o art.16 (arrependimento posterior) se


antes da sentença irrecorrível, mas extingue-se a punibilidade.
A reparação pode ser do sujeito ativo do peculato ou por terceiro em seu
nome.
A extinção de punibilidade só aproveita ao funcionário autor de peculato
culposo.

ART. 316 – CONCUSSÃO

1. Tipo objetivo: EXIGIR, OBRIGAR algo INDEVIDO. É uma imposição do


funcionário. Não ocorre se não houver relação de causalidade entre a função e
o fato imputado. A vítima fica temerosa.

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2. Tipo subjetivo: O Estado não pode ser o favorecido com essa ação, senão,
excesso de exação (na cobrança de tributos), por faltar-lhe o elemento
subjetivo “para si ou para outrem”.

3. Consumação: Trata-se de crime formal (verifica-se com a simples


exigência). Não é necessário que a vítima pague. O pagamento é mero
exaurimento. Não ocorre o crime quando a exigência de vantagem por parte do
sujeito ativo ocorre após a ação ou benefício da suposta vítima (exigir depois
de dar alta no hospital, por exemplo).

4. Sujeitos:
4.1 Ativo: funcionário público, ainda que de férias, licença ou que não tenha
tomado posse.

4.2 Passivo: em primeiro lugar o Estado e, em segundo plano, o particular.


 Obs.: a vantagem deve ser indevida, se for devida poderá configurar o
abuso de autoridade.

ART. 317 - CORRUPÇÃO PASSIVA

1. Tipo objetivo: Aqui o verbo do tipo é SOLICITAR,(≠ da concussão, que é


Exigir).
Solicitar é pedir, induzir, manipular desejo de receber. Na solicitação a
iniciativa é do agente, no recebimento e aceitação da vantagem é do terceiro
(que praticará corrupção ativa – 333).
Receber = tomar, obter. Aceitar promessa ou vantagem é consentir,
concordar.
Ocorre uma exceção ao art.29, teoria monista, pois existe um tipo para
quem concorre, ou seja, o funcionário responde pela corrupção passiva, o
particular pelo crime de corrupção ativa (mas nem sempre, mais para os verbos
RECEBER (art. 317) que se coaduna com o OFERECER da corrupção ativa,
assim como ACEITAR PROMESSA de vantagem em relação ao corruptor ativo
que OFERECE PROMESSA).

51
Não há coautoria entre corrupto e corruptor.
Não se tipifica se a vantagem desejada pelo corruptor não é da
atribuição e competência do funcionário. Há crime mesmo se a vantagem é
solicitada ou recebida ou a promessa é aceita para a prática de ato regulador e
legal.
Trata-se de crime próprio, mas admite participação.
A vantagem indevida pode ser solicitada direta ou indiretamente.

2. Consumação e tentativa: É crime formal: independe da ocorrência de


resultado. Consuma-se com a simples solicitação da vantagem ou aceitação da
promessa, ainda que esta não se concretize. A tentativa é possível, não sendo
oral (modalidades de solicitar). Se o funcionário praticar ou deixar de praticar
ato funcional, haverá mero exaurimento.

3. Tipo subjetivo: Dolo de participar as ações previstas e mais “para si ou para


outrem”.

ART. 319 – PREVARICAÇÃO

O agente visa a satisfação de interesse ou sentimento pessoal (interesse


que pode ser patrimonial ou moral). O sentimento, por sua vez, é resultado de
paixão ou emoção do agente. SEM DINHEIRO!
Percebe-se uma semelhança com o §2º da CORRUPÇÃO PASSIVA. As
penas são as mesmas. Lá é por dinheiro.
Obs.: a tentativa somente é possível na modalidade comissiva.

52
EXERCÍCIOS SOBRE CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1. João Pedro, funcionário público, auxiliado por particular, Adão José,
apropria-se, em proveito de ambos, da quantia de R$ 2.000,00, pertencente à
repartição pública em que se acha lotado, da qual tinha a posse em razão do
cargo. Adão José, que conhecia a condição pessoal do agente e o auxilia,
responde por
a) apropriação indébita.
b) concussão.
c) corrupção passiva.
d) furto simples.
e) peculato.

2. Funcionário público, lotado na Delegacia de Furtos de Salinas, no exercício de


suas funções, pediu, para si, a quantia de R$ 500,00 para não instaurar inquérito
policial contra autor de crime de furto, com o que não concordou o acusado. O
funcionário público cometeu o crime de
a) concussão consumada.
b) corrupção passiva consumada.
c) corrupção ativa na forma tentada.
d) corrupção passiva na forma tentada.
e) prevaricação consumada.

3. Janice, funcionária do fórum, às 4 horas da manhã, utilizando cópia da chave


que possui em razão de seu cargo no referido local, se dirige até a sala onde
trabalha e subtrai 3 computadores com o auxílio de Márcia, que é amiga de
longa data de Janice, tendo, portanto, conhecimento de que Janice é
funcionária pública. Janice e Márcia irão responder, respectivamente, por:
a) ambas, por peculato-furto;
b) ambas, por furto qualificado;
c) Janice por peculato-furto e Márcia por furto qualificado;
d) ambas, por peculato-apropriação;
e) Janice por peculato-furto e Márcia por receptação.

4. Assinale a alternativa incorreta:


a) na receptação o tipo objetivo é de conteúdo variado;
b) no peculato próprio há apropriação de dinheiro ou outro bem móvel, público
ou particular, ou desvio em proveito próprio, por quem tem a posse em razão
do cargo;
c) no peculato culposo a reparação do dano antes de sentença irrecorrível,
extingue a punibilidade;
d) o ato de funcionário público solicitar ou receber, para si ou para outrem,
vantagem indevida, caracteriza a concussão.

5. Marília exigiu de Luciana, para si, em razão da função pública que exercia,
vantagem consistente em R$ 10.000,00. Nessa situação hipotética, Marília
cometeu o crime de
A) corrupção ativa.
B) corrupção passiva.

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C) excesso de exação.
D) concussão.

6. José, funcionário público, em razão de sua função, exigiu vantagem indevida


a João. No entanto, quando foi receber o dinheiro das mãos de João, José foi
surpreendido pela polícia e, portanto, deixou de obter a vantagem. José:

a) não responde por delito algum.


b) responde pelo crime de concussão na forma tentada.
c) responde pelo crime de concussão na forma consumada.
d) responde pelo crime de extorsão.

7. Em atenção aos crimes praticados contra a Administração Pública, assinale


a alternativa correta.
a) Prefeito Municipal que é flagrado usando, indevidamente, o veículo oficial
da prefeitura para passear com familiares, não responde, na esfera criminal,
por faltar a sua conduta, o ânimo de assenhoramento definitivo, indispensável
para a configuração do crime de peculato.
b) Recente entendimento do Superior Tribunal de Justiça fixou o
entendimento de que é aplicável o princípio da insignificância aos crimes contra
a Administração Pública, o que muda o entendimento da jurisprudência em
relação ao crime de descaminho.
c) Médico de hospital privado, conveniado ao Sistema Único de Saúde, que
constrange filho do paciente a entregar-lhe determinada quantia em dinheiro,
sob pena de não realizar cirurgia, não pratica o crime de concussão.
d) No crime de peculato culposo, previsto no artigo 312, parágrafo 3º do
Código Penal, o arrependimento posterior não pode dar causa à extinção da
punibilidade do agente.
e) Não pratica o crime de prevaricação o Delegado de Polícia que, por
ocasião da elaboração do relatório final do Inquérito Policial, deixa de indiciar
alguém, com base no entendimento de que a conduta praticada e posta sob
sua análise é atípica materialmente.

8. Paulo deixou de lavrar o auto de prisão em flagrante, visando recebimento


prometido de dinheiro por parte do autor do crime, como forma de
agradecimento. Paulo praticou o crime de:
a) prevaricação. b) concussão. c) corrupção ativa. d) corrupção passiva.

9. Caio, funcionário de escola pública estadual, exige dos alunos um


pagamento pelos serviços prestados. Caio comete o crime de:
a) prevaricação. b) corrupção passiva. c) concussão. d) corrupção ativa.

10. Milton, valendo-se de sua condição de servidor público e cedendo a pedido


de amigo íntimo, deixou de cumprir seu dever funcional ao não ter promovido
ação para apurar infração de determinada empresa vinculada à administração
pública. Nessa situação hipotética, apurada a conduta de Milton, ele deverá
responder pelo crime de
A) advocacia administrativa qualificada.
B) corrupção passiva privilegiada.
C) corrupção ativa.

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D) concussão.
E) condescendência criminosa.
11. Suponha que Caio, funcionário público municipal, solicitou para si,
diretamente, no exercício de sua função e em razão dela, vantagem indevida
consistente no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para deixar de praticar ato
de ofício dentro de um processo administrativo, o que beneficiou Tício, figura
influente na região. Nessa hipótese, Caio praticou crime de:
A) excesso de exação. B) peculato. C) corrupção. D) moeda falsa. E)
roubo.

12. A respeito do peculato, assinale a opção correta.


A. Celecanto é o responsável por organizar um determinado concurso para o
provimento de um cargo efetivo na administração pública federal. Omena, seu
amigo de longa data, toma conhecimento de que ele está participando da
banca examinadora e, em nome de sua antiga amizade, decide pedir a ele que
lhe passe as questões que serão objeto da prova na semana seguinte.
Celecanto fica bastante ofendido com o pedido e informa que nunca faria isso,
mas que, como Omena era seu amigo de longa data, forneceria a ele um
relação de cinco livros que foram utilizados pelos integrantes da banca do
concurso para realizarem a prova e que não constavam expressamente do
edital que foi divulgado. Essa atitude de Celecanto configura a prática do delito
de fraude em certames de interesse público.
B) Segundo o STJ, nenhum dos crimes contra a administração pública admite
a incidência do princípio da insignificância.
C) O crime de peculato-apropriação consuma-se a partir do momento em que o
funcionário público passa a obter vantagem em relação ao objeto material do
delito, ainda que esta não seja necessariamente de caráter econômico, uma
vez que o bem jurídico tutelado é a administração pública.
D) Segundo a jurisprudência do STJ, a conduta de agente público pertencente
à administração pública fazendária que procede à prévia correção quanto aos
aspectos gramaticais e técnicos das impugnações administrativas feitas pelos
administrados perante a administração pública fazendária, comete o delito
previsto no art. 3º, III da Lei 8.137/90.
E) Na hipótese de peculato culposo, caso o agente repare o dano após a
sentença irrecorrível, haverá a redução de metade da pena cominada
abstratamente ao referido delito.

13. Mévio é funcionário público municipal e retardou, indevidamente, ato de


ofício, para satisfazer sentimento pessoal. De fato, ele trabalha no setor de
recursos humanos e atrasou a concessão das férias de um colega de trabalho,
desafeto seu, com o fim de fazê-lo perder a passagem aérea que ele havia
comprado para passar férias no exterior. Consequentemente, o colega perdeu
a viagem, o que satisfez o sentimento pessoal de Mévio de ver o colega infeliz.
Considerando essa situação hipotética, é correto dizer que com essa conduta
Mévio praticou crime contra a Administração Pública, consistente no delito de:
A) concussão B) corrupção C) peculato D) estelionato E) prevaricação

14. Rogério, funcionário público municipal, no exercício de cargo em comissão,


por ser pessoa de confiança dentro da estrutura da Administração Pública

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Direta, subtraiu, fora do horário de serviço, o laptop da repartição em que
trabalhava.
Para tanto, ele contou com a ajuda do primo João, que não tinha qualquer
vínculo com o Poder Público, mas que, certamente, tinha conhecimento do
cargo que Rogério exercia e da facilidade que teriam em razão do acesso ao
local dos fatos.
Ocorre que a conduta dos primos foi registrada pelas câmeras de segurança,
sendo as imagens encaminhadas para a autoridade policial.
Com base apenas nas informações narradas, é correto afirmar que a conduta
de Rogério configura crime de
A) peculato, sendo aplicável a ele causa de aumento de pena, em razão do
cargo em comissão que exercia, respondendo João também pelo crime contra
Administração Pública, apesar de este ser classificado como próprio.
B) peculato simples, sem qualquer causa de aumento, já que o exercício de
função de confiança é inerente à definição de funcionário público, respondendo
João também pelo crime contra a Administração Pública, apesar da natureza
própria do delito.
C) peculato simples, sem qualquer causa de aumento, já que o exercício de
função de confiança é inerente à definição de funcionário público, respondendo
João pelo crime de furto, diante da natureza própria do delito.
D) peculato, sendo aplicável a ele causa de aumento de pena em razão do
cargo em comissão que exercia, respondendo João, porém, pelo crime de
furto, diante da natureza própria do delito.
E) furto qualificado pelo concurso de agentes, assim como João, já que os
fatos ocorreram fora do horário de serviço.

15. Mário, servidor público, subtraiu da administração um bem que estava sob
sua posse e passou a tratá-lo como sua propriedade por um mês em sua
residência. Convencido por sua esposa, Mário restituiu o bem, intacto, à
administração pública.
Considerando-se que, nessa situação hipotética, a conduta do servidor
consista em peculato-apropriação e que, até a restituição da coisa subtraída,
não tenha havido indiciamento nem denúncia, é correto afirmar que Mário
A) não deverá responder pelo crime, uma vez que ocorreu a desistência
voluntária.
B) deverá responder pelo crime, pois a desistência não foi voluntária, mas
determinada por terceiro.
C) não deverá responder pelo crime, visto que agiu com arrependimento eficaz.
D) deverá responder pelo crime, estando, porém, sujeito a redução de pena em
razão do arrependimento posterior.
E) deverá responder pelo crime na modalidade tentada, uma vez que o crime
não se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade.

16. Paulo e Pedro, servidores da Advocacia-Geral da União, resolveram, no


mesmo dia, praticar condutas vedadas pelo Código Penal Brasileiro. Paulo
intimidou e exigiu abusivamente dinheiro para si, prometendo conceder
vantagem a que determinado administrado não fazia jus. Pedro, por sua vez,
sem receber qualquer valor monetário ou vantagem diversa, deixou de praticar
ato a que estava obrigado, em atendimento a pedido de seu amigo João. Paulo
e Pedro praticaram, respectivamente, os crimes de

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A) concussão e prevaricação.
B) corrupção passiva e prevaricação
C) concussão e corrupção passiva privilegiada.
D) corrupção passiva e corrupção passiva privilegiada.
E) corrupção passiva e prevaricação.

17. Tício, reclamante em uma ação trabalhista, arrola como testemunha Caio,
sendo certo que ambos já haviam acertado que o depoimento seria mentiroso,
atestando condições de trabalho inexistentes. No dia do depoimento, Caio, ao
ser informado pelo Juízo que estava sob juramento e incorreria em crime de
falso testemunho caso faltasse com a verdade, conta que foi arrolado para
mentir, pois em realidade, sabia que Tício não tinha razão na ação proposta.
Caio ainda afirmou não estar ganhando qualquer vantagem econômica para
compensar o risco de ser processado por mentir, sem contar que Tício nem era
tão amigo, para ajudar de graça.
Diante da situação hipotética, e com base na Parte Geral e Especial do Código
Penal, assinale a alternativa correta.
A) Caio, muito embora tenha permitido que fosse arrolado, não incorreu em
crime de falso testemunho, sequer na modalidade tentada, pois o tipo penal
exige o recebimento de vantagem patrimonial pelo agente, o que não se deu.
B) Caio, por não ter faltado com a verdade, no momento em que prestou
compromisso, não incorreu no crime de falso testemunho. Mas Tício, pelo
ajuste, será investigado e processado pelo crime de falso testemunho.
C) Tício, pela instigação, deverá ser investigado e processado como partícipe
de crime de falso testemunho praticado por Caio, na modalidade tentada.
D) Caio e Tício não serão investigados ou processados por crime de falso
testemunho. Não se pune o ajuste se o crime não chega a ser tentado.
E) Caio deverá ser investigado e processado pelo crime de falso testemunho,
na modalidade tentada, vez que a execução do crime iniciou no momento em
que permitiu que fosse arrolado.

Gabarito: 1. E; 2. B; 3.A; 4. D; 5. D; 6. C; 7. E; 8. D; 9. C; 10.B; 11. C; 12. A; 13.


E; 14. A; 15. D; 16. C; 17.D.

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