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CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

FURTO:
PENAL. RECURSO ESPECIAL. FURTO DE FIOS CONDUTORES DE ENERGIA
ELÉTRICA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.
TIPICIDADE MATERIAL. TEORIA CONSTITUCIONALISTA DO DELITO.
LESÃO AO BEM JURIDICO TUTELADO. RECURSO PROVIDO.(...) 3. O furto de
fios condutores de energia elétrica, avaliados em R$ 125,00, apesar do pequeno
valor, não se mostra inexpressivo, em virtude do desvalor da ação, pois a subtração
deles pode ocasionar a interrupção do fornecimento da energia elétrica, gerando uma
significativa lesão ao bem jurídico tutelado.

INTERCEPTAÇÃO OU RECEPTAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SINAL DE TV A


CABO. FURTO DE ENERGIA (ART. 155, § 3o, DO CÓDIGO PENAL).
ADEQUAÇÃO TÍPICA NÃO EVIDENCIADA. CONDUTA TÍPICA PREVISTA NO
ART. 35 DA L EI 8.977/95. INEXISTÊNCIA DE PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE. APLICAÇÃO DE ANALOGIA IN MALAM PARTEM
PARA COMPLEMENTAR A NORMA. INADMISSIBILIDADE. OBEDIÊNCIA AO
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA ESTRITA LEGALIDADE PENAL.
PRECEDENTES. (...) O sinal de TV a cabo não é energia, e assim, não pode ser
objeto material do delito previsto no art. 155, § 3, do Código Penal. Daí a
impossibilidade de se equiparar o desvio de sinal de TV a cabo ao delito descrito no
referido dispositivo. Ademais, na esfera penal não se admite a aplicação da
analogia para suprir lacunas, de modo a se criar penalidade não mencionada na lei
(analogia in malam partem), sob pena de violação ao princípio constitucional da
estrita legalidade. Precedentes. Ordem concedida” (HC 97261/RS, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, 2a T., j. 12/04/2011, v.u.).

Para a configuração da circunstância majorante do § 1º do art. 155 do Código


Penal, basta que a conduta delitiva tenha sido praticada durante o repouso
noturno, dada a maior precariedade da vigilância e a defesa do patrimônio
durante tal período e, por consectário, a maior probabilidade de êxito na
empreitada criminosa, sendo irrelevante o fato das vítimas não estarem dormindo
no momento do crime, ou, ainda, que tenha ocorrido em estabelecimento comercial ou
em via pública, dado que a lei não faz referência ao local do crime.
STJ. 5ª Turma. AgRg-AREsp 1.746.597-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
17/11/2020.

Súmula 582, STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.
Súmula 567, STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou
por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não
torna impossível a configuração do crime de furto.

Fique atento: diversamente dos que ocorre nos crimes tributários, o pagamento da
dívida decorrente da subtração de energia elétrica antes do recebimento da denúncia não
extingue a punibilidade do autor do crime. Trata-se de arrependimento posterior.

IMPORTANTE:
No caso narrado da questão, o delinquente subtraiu o cofre e o levou para um beco com
a finalidade de arrombá-lo. Somente deve incidir a qualificadora do rompimento de
obstáculo se o sujeito rompe o obstáculo para subtrair a coisa, percebam que não
houve rompimento de obstáculo para subtrair a res furtiva, mas arrombou o cofre, que
tinha as jóias dentro, depois de já ter o subtraído, logo, não deveria incidir a
qualificadora objetiva (entendimento do STF [HC 98606/RS e HC 77675 / PR]).

IMPORTANTE: É firme o entendimento deste Superior Tribunal de Justiça no sentido


de que o exame de corpo de delito, direto ou indireto, é indispensável para a
incidência da qualificadora do rompimento de obstáculo, no delito de furto,
consoante disposto no art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal, c/c o art. 158, do Código
de Processo Penal. (AgRg no REsp 1838301/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES
DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 07/11/2019, DJe 22/11/2019)

IMPORTANTE: Quanto à qualificadora do rompimento de obstáculo, a jurisprudência


do Superior Tribunal de Justiça é assente no sentido de que a incidência da
qualificadora prevista no art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal exige exame
pericial, somente admitindo-se prova indireta quando justificada a impossibilidade
de realização do laudo direito. (HC 521.617/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, julgado em 10/10/2019, DJe 15/10/2019)

IMPORTANTE: “(....) 2. Nos termos da pacífica jurisprudência desta Corte,


consolidada na Súmula n. º 511 do Superior Tribunal de Justiça - STJ, é viável a
incidência do privilégio na hipótese de furto qualificado, desde que a qualificadora seja
de caráter objetivo. Decerto, a única qualificadora que inviabiliza o benefício penal é a
de abuso de confiança, de acordo com o Código Penal, art. 155, § 4.º, inciso II, primeira
parte. Precedentes. 3. Agravo interno desprovido.” (AgInt nos EDcl no AREsp
1386937/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
05/02/2019, DJe 14/02/2019)
IMPORTANTE:
Súmula 636, STJ:
A folha de antecedentes criminais é documento suficiente a comprovar os maus
antecedentes e a reincidência.

Furto qualificado (art.155)


§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente
domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da
subtração.

Art. 181 do CP preleciona que: É isento de pena quem comete qualquer dos crimes
previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou
natural.
Art. 183 - NÃO SE APLICA o disposto nos dois artigos anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave
ameaça ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual OU superior a 60 (sessenta)
anos;

RACIOCÍNIO IMPORTANTE:
1. Quando pulou o muro para ingressar na residência com o dolo de furtar, configurou a
qualificadora da escalada (art. 155, §4°, inciso II do CP)
2. O agente, embora tenha separado os bens para levá-los (subtraí-los), não inverteu a
posse, não consumando o furto (súmula 582-STJ)
3. O crime não se consumou por circunstâncias alheias à vontade. Perceba que ele não
desistiu voluntariamente do crime, mas somente porque ouviu barulho de pessoas na
calçada (fator externo).Portanto, o agente efetivamente pulou o muro da residência a fim
de furtar os objetos do local, o que só não foi possível por circunstâncias alheias à sua
vontade (ouviu barulhos na calçada e fugiu para não ser preso), o que configura furto
qualificado pelo rompimento de obstáculo à subtração da coisa, porém, tentado haja
vista não ter efetivamente conseguido levar consigo os objetos do local.

RACIOCÍNIO IMPORTANTE:
Caso alguém furte um pertence de sua própria esposa, não incidirá a exclusão da
punibilidade prevista no art. 181 do CP, se o executar o crime não tinha conhecimento
de que o celular pertencia à sua esposa, pois acreditava que pertencia a outrem. Assim,
no caso, houve um erro sobre a pessoa (isto é, Antônio queria atingir pessoa diversa
da que atingiu) e, consequentemente, responderá pelo crime como se tivesse atingido a
pessoa desejada (outra pessoa que não seja sua esposa), e não aquela que efetivamente
atingiu (trata-se da teoria da equivalência do bem jurídico).
Receptação
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou
alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Receptação qualificada
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar,
montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve
saber ser produto de crime :
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer
forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência.

IMPORTANTE: Em relação à infração penal a ser tipificada nesses casos de


fraudes com cartões de crédito e/ou débito subtraídos ou clonados a tipificação que
tem sido considerada mais correta pela doutrina e jurisprudência é a de furto
mediante fraude (artigo 155, § 2º., II, CP) e não de estelionato (artigo 171 do CP).
Isso porque o que distingue essas infrações é a participação da vítima na concessão
do patrimônio ao fraudador, o que não ocorre nesses casos, já que o autor do ilícito
atua à revelia da vítima que, geralmente, vem as saber da lesão patrimonial sofrida
somente depois de algum tempo. Portanto, na verdade, o que ocorre é uma fraude
para possibilitar uma subtração por parte do agente e não uma fraude para fazer
com que a vítima entregue seu patrimônio, fato que configura o furto mediante
fraude e descarta a tipificação de estelionato.
NÃO CONFUNDIR COM A FRAUDE ELETRÔNICA, QUE É ESTELIONATO
QUALIFICADO:
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é
cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro
induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio
eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela
Lei nº 14.155, de 2021).

Ilustremos com exemplos ambas as figuras para bem diferenciá-las:


a. Aproveitando a vulnerabilidade de pessoas que utilizam uma rede pública de
internet, um hacker intercepta a e obtém dados de acesso a contas bancárias.
Com esses dados à disposição, acessa as contas e transfere quantias em
dinheiro para outra conta da qual fetua saques. É um caso típico de furto
mediante fraude, no qual a manobra ardilosa (interceptar os dados transmitidos
entre o usuário e o ponto de conexão) é utilizada para que as vítimas sejam
despojadas de seus bens sem que nada percebam.
b. Pretendendo adquirir um televisor, um indivíduo faz uma pesquisa na internet e
encontra a página de uma conhecida rede varejista na qual o produto está
sendo anunciado por um preço muito abaixo das concorrentes. Insere seus
dados pessoais e bancários sem saber que, na verdade, se trata de uma página
clonada, que apenas copia os caracteres da famosa rede varejista, para induzir
as pessoas em erro. Efetuado o pagamento, o dinheiro é creditado ao autor da
fraude, que evidentemente não pretende entregar o produto anunciado. Nesse
exemplo, ao contrário do anterior, a vítima tem participação direta, pois,
induzida por um anúncio enganoso, fornece os dados para que o autor da
fraude possa obter a vantagem. Trata-se, portanto, de estelionato”.

ESTELIONATO:
Estelionato judicial:
O estelionato judicial consistiria no uso do processo judicial para auferir lucros ou
vantagens indevidas, mediante fraude, ardil ou engodo, ludibriando a Justiça. A
jurisprudência entende que esta conduta é penalmente atípica e não configura o delito
do art. 171 do CP.
Assim, não configura crime de “estelionato judicial” a conduta de fazer afirmações
possivelmente falsas, com base em documentos também tidos por adulterados, em ação
judicial. Isso porque a Constituição Federal assegura à parte o acesso ao Poder
Judiciário.
O processo tem natureza dialética, possibilitando o exercício do contraditório e a
interposição dos recursos cabíveis, não se podendo falar, no caso, em “indução em erro”
do magistrado.
DIFERENCIAR ESTELIONATO DE PECULATO FURTO POR ERRO DE
OUTREM
No crime de peculato por erro de outrem o agente se apropria de dinheiro ou utilidade
que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem.
O erro da vítima que entrega o dinheiro ou qualquer outra utilidade deve
ser espontâneo para configurar o peculato por erro de outrem, isto é, pouco importando
qual a sua causa (desatenção, confusão etc.).
Se o erro for dolosamente provocado pelo funcionário público, estará configurado o
crime de estelionato.

DIFERENÇA FURTO E APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA


É de extrema importância à configuração do delito em exame que a coisa seja perdida, e
não esquecida ou mesmo deixada voluntariamente em algum lugar pela própria vítima.
É que, nesses últimos casos, se o agente que as encontra resolve tê-las para si, o delito
praticado será o de furto, e não o de apropriação de coisa achada. Greco, Rogério. Curso
de direito penal: volume 2: parte especial : artigos 121 a 212 do código penal /Rogério
Greco. – 19. ed. – Barueri [SP] : Atlas, 2022.

ESQUEMA FURTO X ROUBO


ROUBO:
IMPORTANTE:
Há doutrina no sentido de que a ausência de bens NÃO descaracteriza o crime de
roubo, tendo em vista se tratar de crime complexo, de modo que o início da sua
execução se dá mediante a violência ou grave ameaça (Cezar Bitencourt).
Nesse último sentido é a jurisprudência pátria, vejamos:
2. Nos termos da jurisprudência desta Corte, ainda que não exista nenhum bem com a
vítima, o crime de roubo, por ser delito complexo, tem iniciada sua execução
quando o agente, visando a subtração de coisa alheia móvel, realiza o núcleo da
conduta meio (constrangimento ilegal/lesão corporal ou vias de fato), ainda que
não consiga atingir o crime fim (subtração da coisa almejada). (REsp
1.340.747/RJ, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, 6ª TURMA,
j. 13/05/2014, DJe 21/05/2014).
IMPORTANTE:
Na verdade, a natureza licita ou ilícita da coisa subtraída é irrelevante para a
tipicidade dos crimes contra o patrimônio.

"[...] 4. Inexistindo no tipo penal dos crimes contra o patrimônio qualquer análise
concernente à ilicitude da coisa alheia, não há como se dispensar tratamento
restritivo na aplicação da norma, já que não há na lei essa limitação concernente ao
objeto material." (STJ, REsp 1.645.969/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª Turma,
j. 06-12-2018, DJe 01-02-2019).

IMPORTANTE: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. ROUBO. EMPREGO DE ARMA. PRESCINDIBILIDADE DE
APREENSÃO E DE PERÍCIA. INCIDÊNCIA DA MAJORANTE. AGRAVO
IMPROVIDO. 1 As Turmas que compõem a Terceira Seção desta Corte firmaram
entendimento no sentido de que, para a incidência da majorante prevista no art. 157,
§ 2º, I, do Código Penal, é prescindível a apreensão e perícia da arma, quando
evidenciada sua utilização por outros meios de prova, tais como a palavra da vítima
ou o depoimento de testemunhas. 2. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp
1577607/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
05/03/2020, DJe 09/03/2020).

IMPORTANTE: De acordo com o STF (HC 147.584/RJ), o indivíduo que simula um


roubo contra si e outra pessoa visando a se apoderar de dinheiro pertencente à empresa
em que ambos trabalham é sujeito ativo de subtração violenta, não de estelionato. Em
outras palavras, configura o crime de roubo (e não estelionato) a conduta do funcionário
de uma empresa que combina com outro indivíduo para que este simule que assalta o
empregado com uma arma de fogo e, dessa forma, leve o dinheiro da empresa.

IMPORTANTE: ROUBO EM TRANSPORTE COLETIVO:


Imagine que o sujeito pratica roubo dentro de um ônibus repleto de passageiros. O juiz
poderá aumentar a pena-base sob o argumento de que o crime foi praticado no interior
de um meio de transporte coletivo?
Sim. A prática do crime de roubo no interior de transporte coletivo autoriza o aumento
da pena-base por revelar maior gravidade do delito, tendo em conta a exposição de
maior número de pessoas.
E se o ônibus estiver vazio, neste caso, também será possível aumentar a pena-
base?
Não. A prática de roubo dentro de um transporte coletivo autoriza a elevação da pena-
base em razão do fato de que neste local há grande circulação de pessoas. Logo, existe
uma elevada periculosidade da ação. Esse é o argumento que justifica o aumento da
pena-base. Contudo, se o ônibus está vazio, o argumento utilizado para justificar o
aumento da pena não existe.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 693887-ES, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
15/02/2022 (Info 727).

IMPORTANTE:
Na realidade, o STJ considerou que o rompimento de cadeado e destruição de
fechadura da porta da casa da vítima, com o intuito de, mediante uso de arma de
fogo, efetuar subtração patrimonial da residência, configuram meros atos
preparatórios que impedem a condenação por tentativa de roubo circunstanciado,
vejamos:
Adotando-se a teoria objetivo-formal, o rompimento de cadeado e destruição de
fechadura da porta da casa da vítima, com o intuito de, mediante uso de arma de
fogo, efetuar subtração patrimonial da residência, configuram meros atos
preparatórios que impedem a condenação por tentativa de roubo circunstanciado.
Caso adaptado: João e Pedro caminhavam nas ruas de um bairro e decidiram praticar
assalto em uma das casas. Eles arrombaram o cadeado e destruíram a fechadura da
porta da casa, no entanto, quando iam adentrar na residência, passou uma viatura da
Polícia Militar. Os indivíduos correram quando perceberam a presença das
autoridades de segurança. Os policiais perseguiram a dupla, conseguindo prendê-los.
Com eles, foi encontrada uma arma de fogo de uso permitido. Vale ressaltar, contudo,
que não possuíam porte de arma. Não se pode falar que houve roubo circunstanciado
tentado.
STJ. 5ª Turma. AREsp 974254-TO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 21/09/2021
(Info 711).

EXTORSÃO:
A extorsão é crime formal, pois consuma-se independentemente da obtenção da
vantagem indevida (súmula 96 do STJ).

CP, Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o
intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar
que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma,
aumenta-se a pena de um terço até metade.

IMPORTANTE:
A prática sucessiva de roubo e, no mesmo contexto fático, de extorsão, com subtração
violenta de bens e posterior constrangimento da vítima a entregar o cartão bancário e a
respectiva senha, revela duas condutas distintas, praticadas com desígnios
autônomos, devendo-se reconhecer, portanto, o concurso material. STF. 1ª Turma.
HC 190909, rel. org. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em
26/10/2020.
Não há continuidade delitiva entre os crimes de roubo e extorsão, ainda que
praticados em conjunto. Isso porque, nos termos da pacífica jurisprudência do STJ, os
referidos crimes, conquanto de mesma natureza, são de espécies diversas, o que
impossibilita a aplicação da regra do crime continuado, ainda quando praticados em
conjunto.
STJ. 6ª Turma. HC 77467-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 2/10/2014 (Info
549).
IMPORTANTE: Na verdade, em se tratando de crime de extorsão (CP, art.
158), admite-se a tentativa. Apesar de seu aspecto formal, a extorsão é em regra crime
plurissubsistente, ou seja, a conduta pode ser fracionada em diversos atos, razão pela
qual sua execução pode ser impedida por circunstâncias alheias à vontade do agente.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA:

Apropriação indébita previdenciária


Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos
contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Art. 168-A. § 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara,


confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as
informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento,
antes do início da ação fiscal. (EXECUÇÃO FISCAL, DEPOIS DA SENTENÇA
DEFINITIVA)
IMPORTANTE:
Vale salientar, por oportuno, que ainda que o pagamento das contribuições fosse feito
após o início da ação fiscal, ainda assim haveria a extinção da punibilidade, nos termos
do artigo 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/03, a saber:
Art. 9º § 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a
pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos
oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios.
Por fim, nesse sentido é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, observe:
O pagamento do débito tributário, a qualquer tempo, até mesmo após o advento do
trânsito em julgado da sentença penal condenatória, é causa de extinção da
punibilidade do acusado. (HC 362.478-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 14/9/2017, DJe
20/9/2017).

Súmula Vinculante nº 24: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária,
previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo
do tributo.

IMPORTANTE: O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça,


atualmente, não vêm admitido a aplicação do princípio da insignificância ao crime
de apropriação indébita previdenciária, dada importância da Previdência Social para
os trabalhadores brasileiros, e as dificuldades de ordem financeiras pelas quais o órgão
pode passar em função do aludido crime, impedindo-o de desempenhar o seu relevante
papel social, como se observa na decisão adotada pelo Supremo Tribunal Federal, no
HC 111918, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/05/2012, bem como pelo Superior
Tribunal de Justiça, no AgRg no AREsp 627891/RN, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado
em 17/11/2015.

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