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DIREITO PENAL

Dos Crimes Contra o


Patrimônio

Versão Condensada
Sumário
Dos Crimes Contra o Patrimônio����������������������������������������������������������������������������������� 3

1. Roubo����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.1 Entendimentos relevantes�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 4

1.2 Causas de aumento de pena e qualificadoras����������������������������������������������������������������������������������������������������������������5

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A L F A C O N
Dos Crimes Contra o Patrimônio

1. Roubo

Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois
de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave
ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:

I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018.)

II – se há o concurso de duas ou mais pessoas;

III – se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância;

IV – se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior;

V – se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade;

VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego;

VII – se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca.

§ 2º-A. A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):

I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;

II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que


cause perigo comum.

§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, apli-
ca-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.

§ 3º Se da violência resulta:

I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa;

II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

O crime é comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa, exceto, naturalmente, o dono do bem subtraído.

Nesse artigo, laboramos com uma modalidade de crime complexo (tipo que se materializa pela junção de dois tipos
penais: furto e constrangimento ilegal).

Há também uma complexidade sobre o bem tutelado, já que, aqui, a proteção recai sobre o patrimônio, a liberdade
individual e a integridade física do agente.

Dentre as condutas previstas é considerado hediondo o roubo cometido com restrição à liberdade de locomoção da vítima,
com emprego de arma de fogo (uso permitido, restrito ou proibido) ou do qual resulte lesão corporal grave ou morte.

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Outro destaque importante é que, o roubo possui nove causas de aumento e apenas duas figuras qualificadas (dispos-
tas no § 3º do art. 157). É importante essa menção pois, no furto, temos três causas de aumento e nove qualificadoras.
Portanto, importante atentar para as disposições topográficas, pois, eventualmente, mencionar que uma determinada
causa qualifica o roubo tornará a questão ou assertiva equivocada.

O roubo será consumado no momento em que ocorre a inversão da posse do bem, após o emprego da violência ou da
grave ameaça, ainda que seja por breve espaço de tempo ou após perseguição imediata do agente, sendo desnecessária
a posse mansa e pacífica do bem. Inclusive, esta disposição encontra guarida no entendimento sumular nº 582 do STJ.

Adota-se, pois, a teoria da amotio ou apprehensio para se definir o momento consumativo do delito, conforme explanado
nas considerações iniciais do furto.

A figura prevista no caput é descrita como “roubo próprio”, que é aquela conduta em que o agente, para se apropriar do
patrimônio alheio, aplica violência (violência direta contra o corpo do agente, que lhe cause lesão ou uma redução de
determinada capacidade física); grave ameaça (intimidação) – o que se denomina violência própria; ou qualquer outro
meio capaz de impossibilitar a vítima de resistir ou defender-se (esta última hipótese também chamada de violência
imprópria – ex.: emprego de drogas, sonífero, hipnose, trancar a vítima em um cômodo, de maneira sorrateira).

No § 1º, temos a figura do roubo impróprio ou roubo por aproximação/equiparação, que se configura quando o agente
se vale da violência ou grave ameaça não para subtrair a coisa, mas para assegurar a impunidade do crime ou a deten-
ção da coisa que já está na sua posse. Resumindo, a conduta se amoldaria a um furto, todavia, para assegurar a posse
mansa e pacífica do bem emprega-se a violência própria.

Atenção

Podemos trazer aqui um raciocínio importante.

A figura do caput é o roubo próprio, que admite tanto a violência própria como a imprópria.

Noutro norte, o roubo impróprio somente admite a violência própria.

1.1 Entendimentos relevantes

Importante também colacionar alguns entendimentos pertinentes:

a) Não cabe a aplicação do princípio da insignificância ao crime de roubo.

b) É típica a conduta de roubar bem ilícito, pois a res furtiva tem relevância econômica para a vítima.

c) O STF entendeu que o roubo cometido contra mais de uma pessoa no mesmo contexto fático caracteriza concur-
so formal. O STJ ratificou esse entendimento, com ressalvas: havendo a interpelação de duas ou mais pessoas
para subtração do patrimônio de apenas uma delas, teremos um crime único de roubo. Todavia, se for atingido
o patrimônio de mais de uma pessoa, haverá o concurso formal.

Inclusive, o fato de as pessoas serem da mesma família não torna o crime único.

d) A ocasional inexistência de valores em poder da vítima de assalto, inviabilizando sua consumação, traduz caso
de impropriedade relativa do objeto, o que caracteriza a tentativa e não a figura de crime impossível.

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1.2 Causas de aumento de pena e qualificadoras

Avançando para as hipóteses que representam um aumento da pena ou tratam de figuras qualificadoras, passemos à
análise.

Primeiramente, analisaremos as causas de aumento do § 2º, que prevê um aumento de 1/3 até a metade, nas hipóteses
abaixo destacadas.

O inciso I do § 2º, que laborava sobre o uso de arma, foi revogado tendo em vista que agora existem causas de aumento
distintas para o emprego de arma branca e para o emprego de arma de fogo, que serão abordadas posteriormente.

O inciso II faz referência ao concurso de pessoas. Para sua incidência, é imprescindível que os agentes pratiquem o núcleo
do tipo e, ainda, um mínimo de duas pessoas, devendo considerar possíveis inimputáveis ou agentes não identificados.

O inciso III traz a causa de aumento para situações em que o agente está em situação de transporte de valores (carro
forte, correios, transportadora etc.).

O STJ tem decidido que o roubo cometido contra os Correios atrai esta majorante (REsp nº 1.309.966/RJ, j. 26.08.2014).

Redobre a atenção, pois, neste caso, nos termos do art. 109, IV, da CF, a competência para julgamento será da Justiça
Federal.

Mas isso nem sempre será assim. Como é notório, os Correios também atuam em sistema de agências franqueadas,
pessoas jurídicas de direito privado que alçam o status por conta de processo licitatório. Dessa forma se o fato atingir
uma empresa franqueada, a competência será da Justiça Estadual. Mas este entendimento diz respeito ao patrimônio
da agência propriamente dita.

Se a conduta atingir os bens transportados por Sedex – ainda que por agente terceirizado, o STJ considera crime contra
o serviço postal, atraindo a competência da Justiça Federal.

No inciso IV, temos a figura majorada do roubo quando o veículo tem por objetivo o deslocamento para outro Estado
da Federação ou para outro país.

Como mencionado para a hipótese do furto, é indispensável que ocorra a transposição de fronteiras para sua consumação.
Não demonstrada a transposição de fronteiras, o roubo será simples, a menos que exista outra qualificadora na espécie.

O inciso V aumenta a pena para hipóteses em que o agente mantém a vítima em seu poder.

São hipóteses em que o agente, para consumar o crime ou garantir o sucesso da fuga, mantém a vítima em seu poder.
Essa hipótese agora é considerada como crime hediondo.

Basta imaginar a conduta de três pessoas que entram em uma residência, anunciam o assalto e levam a camionete de
propriedade do morador. Para isso, dois indivíduos permanecem na residência, cerceando o direito de ir e vir do morador,
enquanto o outro comparsa desloca-se com a camionete até o Paraguai.

Naturalmente, haverá a incidência desta causa de aumento.

O inciso VI aumenta a pena se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.

Por fim, o inciso VII tem previsão de aumento de pena para o roubo cometido com emprego de arma branca (tais como:
faca de cozinha, tesoura, navalha, pedra, vidro etc.). Esta hipótese foi remanejada para o inciso VII, para que possamos
ter uma relação de proporcionalidade entre o meio empregado para assegurar o êxito do roubo.

O § 2º-A também consagra uma causa de aumento de pena (quantum fixo de 2/3) nas seguintes hipóteses:

No inciso I, incidirá o aumento se a violência ou a ameaça é exercida com emprego (não bastando o mero porte) de
arma de fogo;

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Atenção

Acerca do uso da arma de brinquedo, deve-se destacar que a Súmula nº 174 do STJ já foi há muito revogada
(ano de 2001).

Além disso, o STJ e o STF entendem que, para a configuração da majorante, é desnecessária a apreensão da
arma, desde que sua utilização seja ratificada por outros meios.

Entretanto, se a arma de fogo usada no crime for apreendida, periciada e se constatar sua ineficiência, não
haverá que se falar em majorante.

Também aqui destacamos a divergência jurisprudencial existente no STJ acerca da (in)aplicabilidade da causa
de aumento se a arma de fogo estiver desmuniciada.

Há um primeiro entendimento que especifica que, para incidir a causa de aumento, a arma deve estar acompa-
nhada da munição, pois, caso contrário, não estará apta a produzir o disparo, equiparando-se a um simulacro.

Noutro giro, há posição contrária, laborando que deve ser aplicada a causa de aumento, caso a arma seja apta
a produzir lesões graves.

Em que pese se tratar de posicionamento minoritário ousamos concordar com a segunda posição, na medida em que,
havendo o emprego efetivo de arma de fogo, há, de fato, uma redução na capacidade da vítima que resta atemorizada
pelo emprego da arma.

Além disso, com o emprego da arma, a vítima, em razão do abalo mental, não possui condições de aferir se o armamento
está ou não municiado.

Por essa razão, e partindo da premissa do próprio texto legal, havendo o emprego de arma de fogo e sendo esta apta
a produzir disparos, deve incidir a causa de aumento.

O inciso II do § 2º-A dispõe que haverá o aumento caso ocorra a destruição ou rompimento de obstáculo mediante o
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.

Destacamos que, por uma absurda incongruência o legislador ordinário não incluiu este inciso como crime hediondo.
Isso se torna curioso, na medida em que o fez com relação ao furto (modus operandi menos grave).

A doutrina trata o tema como uma “omissão terrível”.

Ora, é evidente que esta postura, além de causar uma insegurança jurídica terrível, demonstra o despreparo do legisla-
dor ao inserir o furto qualificado (pelo emprego de explosivo ou artefato análogo) como hediondo e desprezar o roubo
com emprego de explosivo.

O § 2º-B prevê que a pena é aplicada em dobro se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido.

Aqui, estamos diante de norma penal em branco, tendo em vista que os decretos que complementam o Estatuto do
Desarmamento é que permitirão essa identificação.

Em resumo, as armas de fogo são aquelas de uso restrito das forças policiais, enquanto as armas de fogo de uso per-
mitido são aquelas que possuem aparência de instrumento inofensivo, mas que são suscetíveis de causar o disparo de
um projetil a partir da explosão causada pela expansão de gases.

Para a análise geral das causas de aumento, é imperioso ressaltar a Súmula nº 443 do STJ, que estabelece que a aplicação
das causas de aumento deve ser devidamente fundamentada, não bastando a mera indicação do número de majorantes.

Por derradeiro, o § 3º traz duas figuras que (agora sim) qualificam o crime de roubo, a primeira, no que diz respeito à
lesão corporal de natureza grave ou gravíssima (pena de reclusão de 7 a 18 anos) e a segunda hipótese, que se trata
do resultado morte, o popular latrocínio (pena de 20 a 30 anos).

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Para a ocorrência das qualificadoras, o resultado deve ter sido causado ao menos de forma culposa – naturalmente que
também qualificará o roubo se o resultado lesão grave ou morte for causado a título de dolo.

Relevante atinar, de igual forma, que as majorantes dos §§ 2º, 2º-A e 2º-B têm exclusiva aplicação aos crimes de roubo
próprio e impróprio, não se aplicando para as hipóteses de roubo qualificado.

E extraímos isto de duas situações: a primeira, diz respeito ao quantum de pena previsto, que, para o roubo qualificado
apresenta pena de 20 a 30 anos. A segunda, diz respeito à disposição topográfica da qualificadora, que é prevista após
as causas de aumento, logo, não possuindo aplicação.

Acerca do latrocínio, impende ressaltar que o crime é complexo, formado pela soma de um crime patrimonial e um crime
contra a vida.

Atenção para a tabela passada durante a aula.

Em resumo, se há a consumação da morte, ainda que a subtração não se materialize, estaremos diante do crime de
homicídio.

Sobre a terceira situação, Rogério Greco (2018) discorda, entendendo que, caso ocorra homicídio consumado e subtração
tentada, deveria o agente responder por tentativa de latrocínio e não por homicídio qualificado ou latrocínio consumado.

Noutro giro, havendo latrocínio com pluralidade de vítimas, de um lado, Bitencourt e o STF, ao sustentarem que é des-
necessário que a vítima da violência seja a mesma da subtração da coisa, desde que haja conexão entre os fatos, não
haverá o desvirtuamento de crime único.

O STJ tem, igualmente, entendimento contrário, que aduz que, na espécie, poder-se-ia estar diante de concurso formal
impróprio, que implica, basicamente, em aplicar a regra do concurso material, em razão das unidades de desígnios
autônomos.

Outro ponto que merece destaque é que o latrocínio se encontra previsto no rol dos crimes patrimoniais, por essa razão,
sua ocorrência enseja a competência da Justiça Comum.

O processamento do roubo, em todas as suas modalidades, opera-se mediante ação penal pública incondicionada.

O crime somente é praticado mediante dolo.

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