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CRIMES PATRIMONIAIS
autora
PATRICY BARROS JUSTINO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2018
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018.
isbn: 978-85-5548-549-7.
1. Crime de furto 11
Introdução 12
Da investigação 17
Da subtração 20
Furto privilegiado 25
Furto de energia 26
Crime roubo 45
Tipo objetivo e subjetivo 45
Consumação e tentativa 46
Latrocínio 51
Crime extorsão 54
Considerações gerais 54
Objetividade jurídica 55
Consumação e tentativa 56
Concurso de crimes 63
Anexos 77
3. Extorsão mediante sequestro 83
Introdução 84
Conceitos e diferenciações 86
Objeto jurídico 87
Elementos do tipo 87
Sujeitos do crime 88
Elemento subjetivo 88
Formas de extorsão 90
Receptação 147
Receptação própria 148
Tipo subjetivo 149
Objeto material 149
Sujeitos do crime de receptação 150
Consumação e tentativa do crime de receptação 150
Receptação e lavagem de dinheiro 150
Receptação de semovente domesticável de produção 152
Receptação privilegiada 152
Prezados(as) alunos(as),
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Ocasionalmente, pode ser objeto de crime, a coisa subtraída que não expresse
valor patrimonial, como exemplo, papéis escritos, a sonegação de documentos,
entretanto, não incorpora o rol de crimes contra o patrimônio.
A disciplina está estruturada em cinco (5) capítulos:
Capítulo 1: encontram-se nesse capítulo os seguintes temas: o conceito de
posse para efeitos penais; da coisa móvel e da coisa alheia para o direito penal; a
investigação do crime de furto e a análise do crime de furto.
Capítulo 2: incluem-se nesse capítulo: o crime de roubo e extorsão; os ob-
jetivos do crime de roubo; crime de roubo e seus tipos objetivo e subjetivo; a
consumação e a tentativa do crime de roubo; os sujeitos do crime de roubo; roubo
próprio e impróprio e suas distinções; roubo qualificado pelo resultado; latrocínio
e seus requisitos; natureza hedionda do crime de latrocínio; competência; crime de
extorsão; objetividade jurídica; sujeitos do crime de extorsão; tipos objetivo e sub-
jetivo; consumação e tentativa do crime de extorsão; causas de aumento de pena
no crime de extorsão, extorsão qualificada pelo resultado; restrição de liberdade:
sequestro relâmpago; distinções entre o crime extorsão e outros crimes; extorsão e
roubo; extorsão e concussão; extorsão e estelionato; extorsão e exercício arbitrário
das próprias razões e concurso de crimes.
Capítulo 3: trata-se da análise do crime de extorsão mediante sequestro; ob-
jetivos, conceito e diferenciações; objeto jurídico e elementos do tipo; sujeitos do
crime de extorsão mediante sequestro; elemento subjetivo; momento consumati-
vo e tentativa; formas de extorsão.
Capítulo 4: abordam-se nesse capítulo os seguintes temas: crime de apropria-
ção indébita; objetivos; objeto jurídico do crime de apropriação indébita; requisi-
tos para configuração do crime de apropriação indébita; consumação e tentativa;
apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza; apro-
priação indébita previdenciária; figuras equiparadas; extinção da punibilidade e
perdão judicial e privilégio.
Capítulo 5: são desenvolvidos os seguintes temas neste capítulo: crimes de es-
telionato e receptação; objetivos; consumação do crime de estelionato; tentativa do
crime de estelionato; sujeito ativo do crime de estelionato; sujeito passivo do crime
de estelionato; diferenciação do crime de estelionato com outros crimes em relação
ao sujeito passivo; estelionato e jogo de azar; estelionato e curandeirismo; estelionato
e furto de energia; estelionato, tráfico de influência e exploração de prestígio; este-
lionato e falsificação de documento; forma privilegiada de estelionato; consequência
do privilégio, estelionato e as figuras assemelhadas; disposição de coisa alheia como
própria; alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria; defraudação do pe-
nhor; fraude na entrega da coisa; fraude para recebimento de indenização ou valor
de seguro; fraude no pagamento por meio de cheque; consumação do crime de
fraude no pagamento por meio de cheque; tentativa e causas de aumento de pena.
O presente trabalho tem por escopo facilitar o estudo sobre os crimes patri-
moniais, com uma abordagem clara e simples sobre os citados temas, para que o
aluno tenha noção acessível.
Bons estudos!
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Crime de furto
Crime de furto
Introdução
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habitualmente agem nessa modalidade. O termo "profissional" é usado no sentido
de especialização de alguns ladrões que têm habilidades especiais para essa prática
criminosa, sendo conhecidos por sua destreza, e até respeitados no meio da mar-
ginalidade por suas habilidades. Igualmente, a "Punga" que é o furto de carteira
em locais com aglomeração de pessoas, geralmente ônibus, em que o ladrão usa
de habilidade para subtrair a coisa sem que a vítima perceba. Atualmente com o
desenvolvimento urbano e o surgimento das grandes metrópoles, já não há um
grupo seleto desses profissionais, cujas técnicas se difundiram entre a marginalida-
de, tornando mais difícil o trabalho da investigação.
OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é estudar o crime de furto, como uma área do conhecimento.
O direito dá oportunidade a um campo amplo para debates, principalmente em sociedades
contemporâneas marcadas pela multiplicidade de valores.
Identificar os princípios norteadores da conduta punitiva nas suas formas qualificadas,
bem como reconhecer as normas com as orientações para conflitos de interesses.
O objetivo é a delineação, de uma forma geral, mas de maneira articulada, do capítulo
do Código Penal Brasileiro que discrimina os crimes contra o patrimônio, indicando um ca-
minho a ser trilhado na investigação policial a ser procedida na ocorrência de cada uma das
condutas tipificadas. Obviamente, o estudo faz uma indicação de forma geral dos atos de
investigação a serem processados no curso da apuração da autoria do crime e o arrolamento
das provas do fato criminoso, uma vez que o crime é fenômeno social, multifacetado e, sendo
uma criação humana, seu limite é o que pode produzir a mente do homem.
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Além disso, a coisa deve ser móvel. O Código Civil, em seu artigo 81, prevê:
Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:
I. As edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade,
forem removidas para outro local.
II. Os materiais provisoriamente separados de um prédio para nele se
reempregarem.
Somente coisa móvel pode ser objeto de furto, tendo em vista que ela pode ser
transportada e, desta forma, afastada da esfera de vigilância da vítima. Portanto, os
bens imóveis, ou seja, aqueles que não podem ser levados de um local para outro,
não podem ser furtados.
Não obstante, quando o Código Civil ou leis especiais, por ficção, por exem-
plo, equiparam a imóvel os aviões e as embarcações para fim de registro de hipote-
ca, não lhes retira a possibilidade de ser produto de furto em virtude que são, em
sua essência, coisas móveis.
Art. 1.473, do CC – podem ser objeto de hipoteca:
VI. Os navios.
VII. As aeronaves.
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Podem ainda ser objeto de furto, as partes de um imóvel, por exemplo, a reti-
rada de portões já colocados, telhas já instaladas. Em tais casos, o agente mobiliza
os bens antes de levá-los.
O furto de energia elétrica e de outras formas de energia, como a nuclear,
térmica etc. que tenham valor econômico, pode ser equiparado à coisa móvel,
podendo ser produto de furto, conforme dispõe expressamente o artigo 155, pa-
rágrafo 3o, do Código Penal.
Art. 155, do CP – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia, móvel:
§ 3o – Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha
valor econômico.
Os seres humanos podem ser transportados, não obstante, não se enquadram
na definição de coisa, de forma que não podem ser objeto material de furto, so-
mente de crimes específicos como sequestro disposto no art. 148, do Código
Penal, extorsão mediante sequestro, constante no art.159, do Código Penal e a
subtração de incapaz, inserida no art. 249, do Código Penal.
De idêntica forma, a subtração de parte de ser humano, enquanto o integra,
constitui crime de lesão corporal ou contravenção de vias de fato, ainda que pre-
valeça o interesse econômico, como por exemplo, no caso do corte não autorizado
de cabelo alheio para venda à confecção de perucas ou a cabeleireiros que as usam
em apliques capilares. Não obstante, é provável que exista furto em relação a te-
cido humano que já não integre o corpo, por exemplo, a subtração de sangue do
banco que o armazena.
Constitui crime previsto no art. 14, na lei no 9.434/97, para fim de transplan-
te, a extração não autorizada, ou seja, a subtração de órgão ou tecido humano.
A finalidade desta lei especial é a regulamentação de transplantes de órgãos hu-
manos. Como exemplo, temos o médico que para extração de apêndice, durante
cirurgia na cavidade abdominal, retira, de forma furtiva, o rim da vítima, para
transplantá-lo em outro paciente.
capítulo 1 • 15
ninguém, ou seja, aquela que nunca teve proprietário, como os peixes das águas
públicas, um cão de rua e a coisa abandonada.
O Código Civil prevê nos artigos 1.263 e 1.275, inciso III, que quem encon-
tra coisa abandonada e dela se apodera se torna seu legítimo proprietário. Assim,
se o dono jogou fora um par de sapatos, quem o encontrar e com ele ficar, passa a
ser seu novo proprietário. O par de sapatos, a partir desse instante, deixou de ser
coisa abandonada e novamente poderá ser objeto de furto, inclusive por parte do
antigo dono.
As coisas de uso comum são aquelas que todos podem fazer uso, como a água
e o ar, e não podem, em princípio, ser objeto material de furto. Entretanto, caso
já tenham sido destacadas de seu ambiente natural e estejam sendo exploradas co-
mercialmente por alguém, constitui crime de furto a subtração, conforme ocorre
com o desvio de água encanada que pertence à concessionária, a qual tem custos
para a captação e tratamento, na forma do art. 155, § 4o, II, do Código Penal.
Não obstante, o pagamento pelo agente dos valores apurados pela vítima em
razão da subtração da energia elétrica ou da água encanada, realizado antes do
início da ação penal, gera extinção da punibilidade, segundo entendimento do
Superior Tribunal de Justiça, Súmula 83 do STJ.
Igualmente, constitui modalidade do crime de usurpação, o desvio ou o repre-
samento de águas correntes, conforme art. 161, § 1o, I, do Código Penal.
A conduta de subtração de cadáver ou parte dele pode configurar crime dis-
posto no art. 211 do Código Penal, furto ou delito previsto na Lei de Transplantes,
dependendo da hipótese.
O legislador prevendo que poderia haver questionamento em torno de o cadá-
ver constituir patrimônio dos familiares, no sentido econômico, erigiu a subtração
de cadáver ou de parte deste à condição de crime autônomo contra o respeito
aos mortos.
Não obstante, se o cadáver pertencer a uma faculdade de medicina ou insti-
tuto científico, ou mesmo a museus onde há exposição de múmias, a subtração
lesa evidentemente o patrimônio de tais instituições, configurando crime de furto.
Finalizando, configura crime do art. 14 da lei no 9.434/97, a subtração de
tecido ou órgão de cadáver, logo após a morte, para fim de transplante. Óbvio que
não haverá crime se existir autorização para a retirada dos órgãos.
No que se refere à subtração de objetos enterrados com o cadáver, a invasão
de cemitérios para arrombamento de sepultura e posterior subtração das roupas
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e sapatos enterrados que estão dentro do caixão, ou dos dentes ou obturações de
ouro, joias que os familiares não retiram, é muito corriqueiro. Nesses casos, há
divergência doutrinária em torno da classificação jurídica a ser aplicada, haja vista
não haver consenso em torno de se tratar ou não de coisa alheia.
Alguns juristas entendem que esses objetos se equiparam à coisa abandonada,
em virtude de não existir mais interesse por parte dos herdeiros em tê-los de volta.
Desta forma, o crime não seria de furto, mas sim o de violação de sepultura, des-
crito no art. 210 do Código Penal.
Outros consideram que os bens pertencem aos herdeiros e que a subtração
constitui crime de furto, pelo rompimento de obstáculo, e não crime autônomo.
Somos adeptos da primeira corrente, em vista de que nos parece que o senti-
mento do herdeiro em tais casos é o de indignação com o desrespeito à sepultura
do ente querido, e não o de ter sofrido lesão patrimonial. A opção pelo crime
de violação de sepultura resolve apenas a questão das pessoas enterradas que não
deixaram herdeiros.
RES DERELICTA
Da investigação
capítulo 1 • 17
O citado dispositivo foi encampado pelo legislador constituinte, conforme
dispôs no § 4o do artigo 144 da Constituição Federal.
O exercício do mister investigativo há de se pautar por parâmetros profissio-
nais e legais para a consecução de seu objetivo maior, que é a apuração do crime
e de sua autoria.
Entende-se por parâmetros profissionais, a metodologia a ser empregada para
se chegar ao fim colimado. A palavra metodologia é de origem grega – méthodos
– significando o caminho a ser percorrido para se chegar a um fim. A formação
técnico-profissional ministrada ao policial civil durante o curso de formação fornece
a base de conhecimentos necessários a serem empregados no mister investigativo.
A Constituição Federal de 1988 assegurou uma série de direitos e garantias ao
cidadão, porquanto se exige da polícia civil a estrita observância das normas legais
nos procedimentos investigatórios, principalmente no que se refere aos direitos e
garantias do investigado, bem como a licitude na colheita de provas, a fim de que
estas não sejam invalidadas em juízo. A não observância de algum dispositivo legal
na colheita de prova pode invalidar meses de trabalho investigativo, e pior, será
usado pela defesa para desacreditar o inquérito policial e o conjunto probatório.
Assim, se pode concluir que, se um inquérito policial for mal conduzido, a absol-
vição será certa.
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Figura 1.1 – Disponível em: <www. andremansur.com>. Acesso em: dez. 2017.
Figura 1.2 – Disponível em: <www. entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.
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Da subtração
capítulo 1 • 20
deixe o local em sua posse, acreditando em sua boa-fé, não obstante vê-se despo-
jada pela falta de devolução.
A diferença entre posse vigiada e não vigiada é apenas a existência ou não de
autorização para deixar o local na posse do bem. Como por exemplo, quem recebe
um carro emprestado de um amigo para viajar e depois não o devolve comete
apropriação indébita.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, com exceção do dono do bem, haja
vista que o tipo penal exige que se trate de coisa alheia. Trata-se de crime comum.
Não responde por tentativa de furto, aquele que, por erro, julgando que um
bem é alheio, subtrai coisa própria. No caso de uma pessoa para “pregar uma peça”
em um ladrão que é seu amigo, guarda a carteira deste dentro de uma sacola que
está num vestiário de uma casa comercial onde eles se encontram e o convence a ir
ao vestiário para furtar a carteira. O fato é atípico, eis que a carteira é do próprio
agente, mesmo que ele desconheça isso. Assim, estamos diante de crime putativo,
ou seja, imaginário, haja vista que o sujeito julga que está praticando um crime,
porém não está.
Por outro lado, considera-se, como sujeito passivo, a pessoa natural ou jurídi-
ca que tem a posse a propriedade. Os sujeitos passivos são o proprietário e o pos-
suidor da coisa alheia móvel, podendo, nesse caso, figurar tanto a pessoa física, ou
seja, natural, quanto a pessoa jurídica. Na hipótese em que a subtração ocorra de
quem detenha a detenção desinteressada, apenas o proprietário será considerado
como vítima do ato delituoso.
O crime de furto exige a finalidade de ter para si ou para outrem a coisa alheia
móvel pertencente à vítima, como elemento subjetivo do tipo, dando corpo, desta
forma, ao dolo específico, animus furandi ou animus rem sibihabendi.
É de se evidenciar que não basta apenas a subtração, o arrebatamento de
cunho temporário, com o intento de proceder a devolução da coisa alheia móvel
em seguida. Não depende, não obstante, de intuito de lucro por parte do agente,
que pode atuar por vingança, despeito, superstição, capricho etc. É atípico, por
outro lado, o fato de fazer desaparecer a coisa.
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Além disso, é da essência da conduta que o agente objetive ter para si ou
para outrem a res furtiva. Tal fato tem base na premissa que, sendo apresentado
comportamento diverso, será considerado como um indiferente penal, tal como
ocorre com o denominado, pela doutrina, de furto de uso. Igualmente, também
se considera que o assentimento da vítima elidirá o crime, já que o patrimônio é
disponível, desde que esta não seja dada após a consumação do delito, pois restará
configurado o delito em questão.
capítulo 1 • 22
A teoria adotada entre aquelas supramencionadas é a da amotio embora al-
guns julgados do Superior Tribunal de Justiça, de forma equivocada, digam que a
teoria da amotio é também intitulada de apprehensio.
A tentativa é possível em todas as modalidades de furto: simples, privilegiado
e qualificado.
A doutrina habitualmente evidencia que, quando o agente deseja furtar obje-
tos do interior de uma residência, o simples ato de entrar na área externa da casa
ainda não constitui ato executório, devendo o agente, se em tal momento for
flagrado, responder por crime de violação de domicílio, por ter havido simples
ato preparatório do furto. Entretanto, tal entendimento só é aceitável se o agente
limitou-se a ingressar em área aberta da residência, sem ter saltado muro ou ar-
rombado portão, uma vez que essas condutas, por constituírem qualificadores do
furto, indicam evidentemente que o agente já está cometendo tal crime, de forma
que, se nesta oportunidade a pessoa for presa, antes de se apossar de qualquer bem
da vítima, irá responder por tentativa de furto qualificado.
NÃO ACEITA
Seria simplesmente tocar com a mão o
TEORIA DA
objeto, a consumação se dá pelo simples
CONTRECTATIO
contato entre o agente e a coisa alheia,
dispensando o seu deslocamento.
NÃO ACEITA
Seria o transporte da coisa para fora da
TEORIA DA
habitação, da casa. Tem a consumação
ABLATIO
ocorrida quando a coisa, além de apreendida,
é transportada de um lugar para outro.
NÃO ACEITA
TEORIA DA Para ocorrer a consumação, que a coisa
ILLATIO seja levada ao local desejado
pelo ladrão para lê-la a salvo.
ACEITA
TEORIA DA Segundo a qual se consuma esse
AMOTIO crime quando a coisa passa para o
poder do agente.
capítulo 1 • 23
Causas de aumento de pena no crime de furto
capítulo 1 • 24
A totalidade das qualificadoras do parágrafo 4o, do art. 155 do Código Penal
referem-se aos meios de execução do crime de furto, de forma que todas são com-
patíveis com o instituto da tentativa, suficiente, para tanto, que o agente não
consiga realizar a subtração.
Furto privilegiado
capítulo 1 • 25
Há julgado do Superior Tribunal de Justiça, que menciona que a subtração de
bens, cujo valor não pode ser tido como ínfimo, não permite ser tratado como um
indiferente penal e expõe ainda, que a ausência de reprimenda a pequenos delitos,
consubstanciaria como insumo fértil para a multiplicação dessas condutas, o que
traria desordem no âmbito social.
Furto de energia
capítulo 1 • 26
A primeira hipótese encontra-se inserta na redação do inciso I do dispositivo
supra, o qual prevê, como qualificadora do crime de furto, se da conduta perpetra-
da resultar “destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa”.
O vocábulo obstáculo é considerado como tudo aquilo que tenha como fim
maior proteger a coisa e que também não seja a ela inerente naturalmente, signi-
ficando, seja artificial.
A qualificadora em questão está caracterizada quando o agente inutiliza, des-
faz, desmancha, arrebenta, rasga, fende, corta ou deteriora um obstáculo, tais
como: trincos, portas, janelas, fechaduras, fios de alarme etc., que objetivam im-
pedir a subtração.
A primeira modalidade – destruição – tipificada no inciso I exige do agente
um comportamento violento contra a coisa que obsta a subtração da coisa. Quer
dizer, usa de violência contra a coisa, destruindo, eliminando ou fazendo desapa-
recer aquilo que o impedia de levar a efeito a subtração. Assim, a qualificadora
restará consubstanciada quando o agente delituoso que emprega um pé de cabra
ou outro instrumento semelhante arrebenta o cadeado que obstava a entrada de
estranhos ao local onde se encontrava o objeto do furto.
A destruição total ou parcial de qualquer elemento dá ensejo à qualificadora
prevista no inciso I, parágrafo 4o, do artigo 155, do Código Penal.
O rompimento de qualquer obstáculo externo ao objeto do furto caracteriza
a circunstância qualificadora em exame. Entrementes, o simples estrago na coisa,
por si só, afasta a substancialização da hipótese de qualificação do crime. Assinale-
se, à propósito, que é imprescindível que a conduta delituosa atinja o objeto que
obsta a apreensão ou a remoção da res furtiva.
A segunda modalidade constante na redação do inciso I do parágrafo 4º do
artigo 155 é o rompimento, que “designa a ação ou consequência de romper, que
importa partir, despedaçar, separar, rasgar, abrir, etc.”.
Deste modo, evidencia-se que a qualificadora de rompimento de obstáculo res-
tará configurada quando existe o vencimento do óbice material à consumação da
conduta delituosa. O rompimento pode ser compreendido com o intuito de afastar
ou ainda eliminar o obstáculo, mesmo que este seja preservado intacto. Todavia
alguns autores, acenam, em sentido contrário, com maciça ênfase, que para a moda-
lidade em destaque, mister se faz a ocorrência de dano efetivo à integração da coisa.
Há manifestações jurisprudenciais, no sentido de que o exame pericial não
constitui o único meio probatório apto para a comprovação da qualificadora em
análise, sendo permitida a utilização de outros meios, como a prova testemunhal
capítulo 1 • 27
e a documental, para obter a verdade real. Destarte, conquanto o exame pericial
goze de importância para a materialização da modalidade em análise, este não é
o único meio, sendo, como visto alhures, admitida a utilização de outros instru-
mentos probatórios.
capítulo 1 • 28
normalmente, não são destinadas ao trânsito de pessoas. Ressalte-se ainda, que o
agente delituoso deverá lançar mãos de instrumentos artificiais, ou seja, não vio-
lentos, ou ainda de sua própria agilidade.
Além disso, a escalada compreende tanto o galgar uma altura, como saltar um
desvão, a exemplo de um fosso, ou mesmo passar por uma via subterrânea, desde
que esta não seja transitável comumente, como é o caso dos túneis de esgoto e
galerias pluviais. Há, também, a escalada quando o agente delituoso adentra no
local pelo telhado, removendo as telhas que o cobrem.
Doutro modo, não se caracteriza a escalada quando o agente emprega destreza
normal para ultrapassar obstáculo de pequena altura ou, ainda, quando, para a
subtração de fios elétricos, escala o poste, já que este não se afigura como meio de
defesa ou ainda de proteção à coisa nem o agente delituoso se valeu de via anormal
para subtrair a coisa.
A última modalidade compreendida na redação do inciso em exame se refere à
utilização de destreza, que consiste na habilidade física ou manual do agente, por
meio da qual a subtração resta possibilitada, sem que a vítima perceba. Trata-se
da conjugação de habilidade com dissimulação, na qual se constata que o indiví-
duo se adestra, treina, especializa-se, adquirindo agilidade para subtrair a res. O
típico exemplo da utilização dessa modalidade é a “punga”, isto é, a subtração por
arrebatamento (crime de trombadinha), consistente na subtração da carteira em
local em que se aglomeram pessoas. Todavia, não há que se falar na incidência da
modalidade em epígrafe, quando da subtração, se a vítima se encontrar dormindo.
O inciso III do parágrafo 4o do artigo 155, do Código Penal, traz como qua-
lificadora do crime de furto, o emprego de chave falsa, cujo conceito abarca, além
da imitação da chave verdadeira, todo o instrumento de que se utiliza o agente
para que o mecanismo de uma fechadura ou ainda dispositivo similar possa fun-
cionar, como gazuas, grampos, tesoura, arames etc., facilitando ou mesmo possi-
bilitando a perpetração da conduta delituosa.
Há jurisprudência que se posiciona no sentido de que o conceito de chave
falsa compreende todo o instrumento, com ou sem forma de chave, empregado
como dispositivo para abrir fechadura, assim como a utilização de mixa, com o
intento de acionar o motor do automóvel, tendo o condão de caracterizar a quali-
ficadora inserta na redação do inciso III do § 4o do artigo 155, do Código Penal.
capítulo 1 • 29
Concurso de Duas ou Mais Pessoas
capítulo 1 • 30
transporte de pessoa ou carga, tais como: automóveis, utilitários, caminhões, ôni-
bus, motocicletas etc. Observa-se, ao examinar a reprimenda cominada no pa-
rágrafo 5o, do artigo 155, do Código Penal, que o legislador desejou punir, com
mais severidade, a perpetração da espécie em apreciação, qual seja: reclusão de três
a oito anos.
O legislador considerou que a conduta contida no dispositivo supramencio-
nado vem, de maneira maciça, alcançando proporções alarmantes, assim como,
geralmente, causa prejuízo econômico à vítima, bem como a dificuldade na
apreensão da res furtiva. É conveniente assinalar que, para a atribuição da qua-
lificadora em exame, é imprescindível o transporte do veículo automotor para
outro estado da federação, local diverso da subtração, ou para o exterior. Assim,
se o agente subtrai veículo automotor sem a finalidade de ultrapassar a barreira de
seu estado, o furto será simples, e não qualificado. Dessa forma, constata-se que
a qualificadora requer a conjugação do objeto material, com o transporte efetivo
do veículo automotor para outro estado ou mesmo para o exterior, a fim de que
a qualificadora possa subsistir. A efetiva transposição do veículo automotor apre-
senta-se como conditio sine qua non para a ocorrência da espécie da qualificadora.
O art. 155, § 6o, do Código Penal, introduzido pela lei 13.330/2016, define
uma terceira figura de furto qualificado, assim transcrito: “se a subtração for de
semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no
local da subtração”. Destarte, enquanto o furto simples tem pena de reclusão de
1 a 4 anos e multa, a presente figura qualificada tem pena de reclusão de 2 a 5 anos.
Trata-se também de um tipo penal autônomo, distinto das demais figuras
qualificadas, inclusive, da mesma forma do parágrafo anterior, sem a previsão legal
da pena de multa.
Essa qualificadora não está relacionada ao meio de execução do furto ou ao
resultado posterior à subtração, mas ao objeto material do crime, qual seja o semo-
vente domesticável de produção.
O dispositivo legal objetiva combater o abigeato ou abacto que consiste no
furto de animais no campo, tanto gado bovino quanto equino, que é muito co-
mum em zonas de fronteiras “secas” entre dois países, como Brasil e Uruguai
ou Paraguai.
capítulo 1 • 31
Para caracterizar a qualificadora em estudo, é necessário que o objeto material
do crime seja semovente domesticável de produção. Assim, são três os elementos:
1. Semovente – é aquele que anda ou se move por si, ou seja, são animais de
bando, tais como: os bovinos (boi, bisonte, búfalo); ovinos (carneiro, ovelha, cor-
deiro); suínos (porco doméstico, leitão, javali) e equinos (cavalo, burro, jumento)
etc.
2. Domesticável – é aquele que se pode domesticar. Há divergência de entendi-
mentos com referência a esse elemento.
3. De produção – é aquele cuja finalidade da criação é a obtenção de produtos
com objetivo comercial.
Destarte, não basta o objeto material tratar-se de semovente, haja vista que,
também se exige que o mesmo seja domesticável e de produção. Ainda que o
objeto material seja abatido (morto) ou dividido em partes (cortado em peda-
ços) no local da subtração (lugar do crime), haverá a incidência da qualificadora
em estudo.
A identificação dessa qualificadora afasta a incidência daquelas relacionadas ao
meio de execução do furto, qual seja parágrafo 4o, do art. 155, do Código Penal
que, no caso de coexistência, aquelas serão tratadas como circunstâncias judiciais
desfavoráveis, na forma do Art. 59, caput, do Código Penal.
Assim sendo, verifica-se um flagrante contrassenso, eis que, o agente acaba
incidindo em uma pena menor da que seria aplicada antes da inovação.
ATIVIDADES
Ao responder os questionamentos, você fixará melhor o conteúdo trabalhado neste ca-
pítulo. Boa sorte.
01. Pretendendo subtrair bens do escritório onde exerce a função de secretária particular
do diretor, Júlia ingressa no respectivo imóvel arrombando a janela. Júlia é auxiliada por seu
irmão Luiz, a quem coube a função de permanecer de vigília na porta. Ao escutar um barulho
que a faz acreditar existir alguém no escritório, Júlia foge, deixando no local seu comparsa,
que vem a ser preso por policiais. Aponte o(s) delito(s) perpetrado(s) por Júlia e Luiz.
a) Ela responderá por tentativa de furto qualificado e ele, pelo delito consumado.
b) Trata-se de desistência voluntária, não havendo qualquer delito a ser imputado.
c) Ambos respondem por violação de domicílio.
d) Júlia responde por invasão de domicílio e Luiz por tentativa de furto.
capítulo 1 • 32
02. Dentre as alternativas a seguir, aquela que qualifica o crime de furto é
a) valor da coisa furtada. c) violência contra o lesado.
b) idade da pessoa lesada. d) participação de duas ou mais pessoas.
03. Tício furta um rádio da residência de Caio, inexistindo qualquer tipo de violência. Perse-
guido pela polícia, Tício dispara tiros para o alto e foge. Na hipótese ocorreu
a) crime de furto.
b) crime de roubo.
c) crime de roubo impróprio.
d) crime de roubo qualificado.
04. Mévio, após esconder no mato uma bicicleta que havia furtado, viu-se despojado dela
por parte de Carlos, que a subtraiu para si, com pleno conhecimento da origem do objeto.
Pode-se afirmar que o segundo ladrão
a) cometeu crime de apropriação de coisa achada.
b) cometeu crime de receptação dolosa.
c) cometeu crime de furto, assim como Mévio.
d) não responde por nenhum delito, porque subtraiu para si a coisa já furtada.
capítulo 1 • 33
a) responderá por furto qualificado tentado.
b) responderá por furto qualificado consumado.
c) responderá por furto privilegiado.
d) não responderá por qualquer ilícito, pois a hipótese configura crime impossível.
10. Mário e Mauro combinam a prática de um crime de furto a uma residência. Contudo,
sem que Mário saiba, Mauro arma-se de um revólver devidamente municiado. Ambos, então,
ingressam na residência escolhida para subtrair os bens ali existentes. Enquanto Mário sepa-
rava os objetos para subtração, Mauro é surpreendido com a presença de um dos moradores
que, ao reagir a ação criminosa, acaba sendo morto por Mauro. Nesta hipótese:
a) Mário e Mauro responderão pela prática de latrocínio.
b) Mário e Mauro responderão pela prática de furto.
c) Mário responderá pela prática de furto simples e Mauro responderá pela prática de furto
qualificado.
capítulo 1 • 34
d) Mário responderá apenas pelo furto e Mauro responderá pela prática dos crimes de
porte ilegal de arma de fogo, furto e homicídio.
e) Mário responderá pela prática de furto e Mauro pelo crime de latrocínio.
JURISPRUDÊNCIA
STJ – CC: 131043 MA 2013/0368035-0
RELATOR: MINISTRO GURGEL DE FARIA
Data de Julgamento: 8/10/2014
S3 – TERCEIRA SEÇÃO
Data de Publicação: 14/10/2014
capítulo 1 • 35
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 5a Vara de Santos-SJ/
SP, o suscitado.
capítulo 1 • 36
1. Não há falar em bis in idem, porquanto evidente a independência das esferas criminal
comum e trabalhista, esta última voltada para o deslinde exclusivo da matéria laboral.
2. Descabe na via eleita a pretensão da análise da ocorrência, ou não, do elemento subje-
tivo exigido pelo tipo penal contido no art. 155, § 4o, II do CPB, diante da evidente estreiteza
cognitiva do habeas corpus. Ademais, a denúncia contém elementos suficientes a possibilitar
a ampla defesa, descrevendo o fato havido por criminoso e todas as suas circunstâncias, tra-
zendo, outrossim, indícios suficientes de autoria, tudo em acordo com a legislação processual
penal em vigor.
3. Parecer do MPF pelo desprovimento do recurso.
4. Recurso Ordinário desprovido.
capítulo 1 • 37
EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE
RECURSO ESPECIAL. NÃO CONHECIMENTO DO WRIT. CRIMES DE LATROCÍNIOS (TRÊS
CONSUMADOS E UM TENTADO). PLEITO DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE
ROUBO MAJORADO. VIA IMPRÓPRIA. NECESSIDADE DE REEXAME APROFUNDADO
DA PROVA. CRIME COMPLEXO. RESULTADO: UMA SUBTRAÇÃO E VÁRIAS MORTES.
TESE DE OCORRÊNCIA DE CRIME ÚNICO. NÃO OCORRÊNCIA. APLICAÇÃO DO CON-
CURSO FORMAL DE CRIMES. DESÍGNIOS AUTÔNOMOS. CONSTRANGIMENTO ILE-
GAL NÃO EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 1. Ressalvada pessoal
compreensão diversa, uniformizou o Superior Tribunal de Justiça ser inadequado o writ em
substituição a recursos especial e ordinário, ou de revisão criminal, admitindo-se, de ofício,
a concessão da ordem ante a constatação de ilegalidade flagrante, abuso de poder ou te-
ratologia. 2. O exame do pleito de desclassificação para o delito de roubo majorado, por de-
mandar a análise aprofundada do material cognitivo produzido nos autos, mostra-se inviável
em sede de habeas corpus, sobretudo quando as instâncias ordinárias, soberanas na análise
fático-probatória, concluíram pela prática dos delitos de latrocínio. Precedentes. 3. Prevalece,
no Superior Tribunal de Justiça, o entendimento no sentido de que, nos delitos de latrocínio
– crime complexo, cujos bens jurídicos protegidos são o patrimônio e a vida –, havendo uma
subtração, porém mais de uma morte, resta configurada hipótese de concurso formal impró-
prio de crimes e não crime único. Precedentes. 4. Habeas corpus não conhecido.
capítulo 1 • 38
medida cautelar, especialmente em elementos extraídos da conduta perpetrada pelo acusa-
do, quais sejam, o modus operandi delitivo e a periculosidade do agente, cifrados em intré-
pida e audaz ação criminosa, dispondo de uma perniciosa influência intimidatória, demons-
trando-se, assim, a necessidade da prisão para a garantia da ordem pública. 2. Não estando
o acusado segregado, eis que ausente do distrito da culpa, é inviável a apreciação da tese do
excesso de prazo para quem nem preso está, acrescentando-se que a temática sequer fora
apresentada perante o Colegiado de origem. 3. Recurso parcialmente conhecido e, nessa
extensão, negado provimento.
capítulo 1 • 39
Data de Julgamento: 10/4/2013
Câmara Criminal
Data de Publicação: 5/6/2013
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDREUCCI, Ricardo Antunes. Direito penal e criação judicial. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1989.
BASTOS, João José Caldeira. Crimes contra o patrimônio: anotações crítico-metodológicas. Revista
Sequência – Estudos Jurídicos e Políticos, n. 33. Florianópolis: CPGD/UFSC, dez. 1996. Igualmente
em: Jurisprudência Catarinense, v. 78. Florianópolis: TJSC, 1997. Texto disponível em Jus Navigandi,
disponível em: <www.jus.com.br>; Buscalegis, disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br>. Acessos em:
dez. 2017.
CAMARGO, Antonio Luis Chaves. Tipo penal e linguagem. Rio de Janeiro: Forense, 1982.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte Especial – v. 2. 16. ed. Saraiva: 2016.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Especial – v. II – 13. ed. Impetus: 2016.
HASSEMER, Winfried. Três Temas Penais, Publicação da Fundação Escola Superior do Ministério
Público, Porto Alegre, 1993.
JESUS, Damásio de. Direito Penal – v. 2 – Parte Especial – 35. ed. Saraiva: 2015.
OLIVEIRA, C. M. C. B. de; MACHADO, M. L. Filosofia, ética e cidadania. Rio de Janeiro: SESES,
2016.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 28. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A. 2014.
capítulo 1 • 40
CINE CONHECIMENTO
No fim do túnel – 2016
Sinopse: o cadeirante Joaquín (Leonardo Sbaraglia)
é muito solitário e para acabar com isso, ele aluga um dos
quartos para uma stripper e sua filha. A vida dele muda com
a presença delas. No entanto, a mulher, juntamente com o
namorado, planeja construir um túnel por baixo da casa e
roubar um banco.
capítulo 1 • 41
A ocasião faz o ladrão – 2010
Sinopse: acusado por assaltar um banco em Nova
York, Henry, um pacato cobrador de pedágios, é condena-
do injustamente. Após cumprir pena, ele tem um objetivo
na vida: realizar de verdade o crime que não cometeu. O
plano é simples: infiltrar-se na produção de uma peça que
será exibida em um teatro, cuja construção tem um túnel
que leva ao banco em questão. Tudo parece perfeito depois
que seu amigo de cadeia Max decide ajudá-lo, mas a bela
atriz Julie, por quem acaba se apaixonando, não estava no
planejado.
Nokas – 2010
Sinopse: o filme tem base em fatos reais. Em 2005,
11 homens encapuzados invadem o maior banco de Sta-
vanger, na Noruega. Eles arquitetam um plano e em 20
minutos conseguem roubar US$ 10 milhões, enquanto a
polícia fecha o cerco contra a quadrilha.
capítulo 1 • 42
2
Crime de roubo e
extorsão
Crime de roubo e extorsão
Introdução
OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é estudar os crimes de roubo, contido no Art.157 do Código Pe-
nal e de extorsão, inserido no Art. 158 do Código Penal e as diversas condutas que se amol-
dam a mais de um tipo penal, criando uma imensa discussão doutrinária e jurisprudencial
acerca de qual dos tipos penais se aplicará àquela conduta. Isso ocorre devido à semelhança
entre os tipos penais, que abrangem ou deixam de abranger condutas distintas por ocasião
capítulo 2 • 44
de sua redação. No campo dos crimes patrimoniais, talvez os tipos penais mais similares e
que causam essa confusão são o roubo e a extorsão.
Crime roubo
O delito descrito no tipo penal preceitua que a subtração da coisa deve vir
ligada com a violência ou a grave ameaça, sendo esta empregada, antes ou depois,
contra a pessoa. A conduta deve ser por uma via apta a causar o temor na vítima,
ou seja, o sofrimento psíquico, tornando diminuta sua capacidade de resistência
à intenção de subtrair, ou impor a ela algum tipo de dor, martírio, que é vislum-
brado por meio da violência (sofrimento físico), mas deve ser abstraído o grau da
lesão corporal, de lesividade à integridade física que fora empregado, bastando a
constrição física.
A ameaça independe de uma gradação, porém, revela-se contumaz, para sua
configuração a aparição dos seus reflexos na vítima, gerando a ela, um temor, um
medo em relação à sua integridade física.
A vis moralis pode surgir de diversas formas, não exigindo o comando le-
gal uma vinculação a formas específicas de gerar a ameaça. Esta pode se dar por
meio de gestos, gritos, ou seja, ameaçando com palavras de matar o ente querido
que está no lugar ou mirando a arma para outra pessoa na sala. Essa ameaça de
ocorrência de violência deve recair sobre pessoa humana, não podendo de forma
alguma ser sobre um objeto. No caso de ser sobre objeto, estaremos, pois, diante
de uma necessária desclassificação para o crime de furto qualificado, disposto no
art.155, § 4o, I, do Código Penal.
A violência deve ser manifestadamente física, com a utilização de meio apto
a lesionar, a causar uma alteração no estado de integridade física da pessoa. A
gravidade, o teor da lesão corporal deve ser apreciado para fins de aplicação do
princípio da absorção ou não. A lesão sendo leve será absorvida pelo roubo, haja
vista que está inserido no tipo, mas, ao contrário, se o dano físico for subsumido
à forma grave, estaremos diante de uma qualificadora, conforme o artigo 157,
inciso V, § 3o do Código Penal. Porém, se essa lesão for de cunho gravíssimo
capítulo 2 • 45
a conduta será apreciada em crime autônomo na forma de concurso com o
artigo 69 do Código Penal.
O meio capaz de reduzir a possibilidade de resistência deve ser compreendido
como todo aquele que seja apto a tornar diminuta a capacidade de apresentar
repulsa a subtração patrimonial. A determinação do meio que tenha eficácia para
decrescer a vontade de evitar o ilícito deve ser de forma subjetiva, sob a resistên-
cia dele ao meio e não submetendo isso a critérios objetivos, ou seja, do homem
médio.
Alguns exemplos podem ser colhidos na doutrina, tais como, sonífero, em-
prego de drogas, hipnose, intoxicação etílica. Os meios definidos no artigo como
garantidores da consumação do delito, que no primeiro momento revela como
crime de furto, com o fato agressor da integridade física ou psíquica, sendo agre-
gado e dando a configuração de roubo.
O elemento subjetivo do tipo é o ânimo de ter para si coisa móvel pertencente
a terceiros. Essa vontade de subtrair traz consigo o emprego de algumas das formas
vinculadas no caput do artigo, sendo exigido o chamado dolo específico.
Consumação e tentativa
capítulo 2 • 46
Segundo entendimento nos Tribunais Superiores, atualmente, o crime de rou-
bo se consuma no momento em que o agente se apossa do bem da vítima, ainda
que seja preso no local, conforme Súmula no 582, do Superior Tribunal de Justiça,
dispondo que: “consuma-se o crime de roubo coma inversão da posse do bem,
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida a perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a possa mansa e pacífica ou desvigiada.”.
A tentativa é possível quando o agente emprega a violência ou grave ameaça e
não consegue se apropriar dos bens visados. Como exemplo se pode citar a vítima
que, ao ter a arma mirada para ela, acelera o carro que dirige e foge: o ladrão que é
preso no momento da abordagem em virtude de policiais que passavam pelo local
e flagraram sua conduta.
O sujeito ativo do crime de roubo pode ser qualquer pessoa, com exceção do
próprio dono da coisa, haja vista que a lei exige que a coisa seja alheia. Trata-se de
crime comum. Admite coautoria e participação. No caso da coautoria, para sua
existência não é preciso que todos os envolvidos realizem todos os atos de execu-
ção, podendo ser as tarefas repartidas. Exemplificando, se um dos agentes usa a
violência para derrubar a vítima, possibilitando com que o comparsa possa colocar
a mão no bolso dela e retirar a carteira, temos a coautoria, haja vista que ambos
os envolvidos cometeram ato de execução, ou seja, o primeiro visto que usou de
violência e o segundo porque efetuou a subtração.
O sujeito passivo é o proprietário, assim como o possuidor ou detentor do
bem, que sofra prejuízo econômico, bem como todos aqueles que sofram a vio-
lência ou grave ameaça, mesmo que não tenham prejuízo material. Tratando-se de
crime complexo, é possível haver diversas vítimas de um só roubo. Como exem-
plo, Mário empresta a moto para José, e os ladrões apontam a arma para este,
levando a moto. O crime de roubo é apenas um e as vítimas são duas: José, porque
sofreu grave ameaça e Mário, porque ficou sem a moto.
A pessoa jurídica pode também ser sujeito passivo do crime de roubo na con-
dição de dona dos valores subtraídos. No caso, se os assaltantes entram em um es-
tabelecimento bancário e dominam quinze pessoas, entre funcionários e clientes,
no entanto levam somente o dinheiro do cofre da agência, mostram-se presentes
capítulo 2 • 47
dezesseis vítimas, ou seja, as quinze pessoas que sofreram a grave ameaça, e a pes-
soa jurídica dona dos valores levados, qual seja, o banco.
capítulo 2 • 48
impunidade ou a retenção do bem subtraído. No roubo impróprio, a violência ou
grave ameaça sempre ocorrem depois da subtração.
ROUBO ROUBO
PRÓPRIO IMPRÓPRIO
Art. 157 - Subtrair coisa móvel Art. 157 - § 1º - Na mesma pena incorre
alheia, para si ou para outrem, quem, logo depois de subtraída a coisa,
mediante grave ameaça ou emprega violência contra pessoa ou
violência a pessoa, ou depois de grave ameaça, a fim de assegurar a
havê-la, por qualquer meio, reduzido impunidade do crime ou a detenção
à impossibilidade de resistência da coisa para si ou para terceiro.
ATENÇÃO ATENÇÃO
O Art. 157, § 2o, do Código Penal indica cinco (5) causas de aumento de
pena, de um terço até a metade, que são aplicáveis tanto ao roubo próprio quanto
ao impróprio.
• Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma
O fundamento da agravante consiste no maior perigo que o uso da arma en-
volve razão pela qual é indispensável que o instrumento usado pelo agente, qual
seja, arma própria ou imprópria, tenha idoneidade para ofender a incolumidade
capítulo 2 • 49
física. A Súmula 174 do STJ autorizava o aumento de pena quando o agente utili-
zava arma de brinquedo para cometer o crime, não obstante, com o cancelamento
da supramencionada súmula, esta conduta passou a ser considerada uma grave
ameaça relacionada ao roubo simples.
A doutrina e jurisprudência pacificaram que o fato de o agente mentir que está
armado, quer verbalmente, quer por meio de gestos, ou seja, encostando um de
seus dedos nas costas da vítima, ou colocando sua mão sob a blusa, não constitui
emprego de arma, haja vista que, obviamente, não manuseou qualquer arma.
• Se há o concurso de duas ou mais pessoas
A doutrina predominante afirma que não há necessidade de estarem to-
dos os agentes presentes no local do crime, basta haver o concurso de duas ou
mais pessoas.
• Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece
tal circunstância
A norma tutela aqueles que transportam valores, seja o valor de qualquer tipo
como ouro, dinheiro, pedras preciosas etc. O agente deve saber que a vítima está
a transportar valores, dolo direto, portanto.
• Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para
outro estado ou para o exterior
É necessário para a consumação do delito que o veículo seja levado para outro
estado ou país, não havendo, assim, possibilidade de ocorrer tentativa. O agente,
ou leva e ingressa com o veículo em outro estado ou país e o crime está consuma-
do, ou não ingressa e o crime será de furto ou roubo conforme a circunstância.
• Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade
Após o emprego da violência ou grave ameaça, o objetivo do agente é manter
a vítima em seu poder e assim facilitar a subtração. A restrição de liberdade da
vítima deve ser por tempo razoável, suficiente para que o agente consuma o delito
sem ser descoberto pela polícia.
capítulo 2 • 50
V I
MANTÉM A VÍTIMA
EM SEU PODER EMPREGO DE ARMA
Restringindo a sua liberdade
II
Crimes Contra
Patrimônio CONCURSO DE
PESSOAS
ROUBO
AUMENTO DE 1/3
DE PENA* ATÉ 1/2
* CP art. 157, § 2º
Estados IV III
a outros ROUBO DE VÍTIMA TRANSPORTA
VEÍCULOS + VALORES
Países REMESSA Por ofício
+1 CAUSA DE
AUMENTO
Individualizar o quantum
de aumento a cada caso
Latrocínio
capítulo 2 • 51
b) No caso de a subtração ficar na esfera da tentativa, porém o agente de forma
efetiva mata a vítima, temos latrocínio consumado. É o teor da Súmula no 610
do STF: “Há crime de latrocínio quando o homicídio se consuma ainda que não
realize o agente a subtração de bens da vítima.”.
c) Haverá tentativa de latrocínio, no caso da subtração e da morte serem tentadas.
d) Em sendo a subtração consumada e a morte tentada, o crime também será o
de tentativa de latrocínio, de acordo com vasta jurisprudências e entendimento
doutrinário dominante, inclusive decorrente da Súmula no 610, do STF.
Requisitos do latrocínio
capítulo 2 • 52
Figura 2.3 – Disponível em: <www.entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.
capítulo 2 • 53
Natureza hedionda
Competência
Crime extorsão
Considerações gerais
capítulo 2 • 54
Objetividade jurídica
A extorsão pode ser praticada por qualquer pessoa, mas sendo o agente fun-
cionário público a simples exigência de uma vantagem indevida em razão da fun-
ção caracteriza o delito descrito no Art.316 do Código Penal, qual seja o crime
de concussão.
Não obstante, o agente da autoridade que constrange alguém, com emprego
de violência ou grave ameaça, para obter proveito indevido, não incorre somente
nas penas do delito de concussão; vai mais além, praticando uma extorsão.
Uma ou varias pessoas podem ser sujeitos passivos do crime em estudo. É viti-
ma aquele que é sujeito à violência ou ameaça, o que deixa de fazer ou tolerar que
se faça alguma coisa e, também, o que sofre prejuízo econômico.
capítulo 2 • 55
certa quantia; a omissão desta, ou seja, não cobrar uma dívida ou a sua permissão
para algum ato, como a destruição de um título de crédito de que é credor.
A jurisprudência tem entendido que configura grave ameaça ter fotografias
ou vídeos de alguém mantendo relações extraconjugais e exigir-lhe dinheiro para
não divulgar o fato para a família ou para não reproduzir as imagens na internet.
Também se tem confirmado a existência do crime quando alguém finge ser fis-
cal de algum órgão público e ameaça interditar o estabelecimento da vítima ou
autuá-la em elevados valores, exigindo dinheiro para não o fazer.
O elemento subjetivo do tipo, ou seja, o dolo especifico, é a vontade de obter
uma vantagem econômica ilícita, constituindo esta corolário da ameaça ou violên-
cia. Na ausência de um fim econômico, o delito será outro, qual seja o constran-
gimento ilegal, crime contra os costumes etc.
No constrangimento ilegal, o agente também emprega violência ou grave
ameaça para obrigar a vítima a fazer ou não fazer algo, não obstante, sua intenção
não é de obter alguma vantagem econômica, mas outra vantagem qualquer.
O elemento normativo do crime de extorsão se fundamenta na necessidade de
ser a vantagem visada indevida.
Consumação e tentativa
capítulo 2 • 56
extorsão. Há, por outro lado, hipóteses em que a vantagem econômica é obtida
após o comportamento da vítima.
Como exemplo pode-se citar que, sob a pressão de uma carta ameaçadora que
lhe enviou o agente da extorsão, a vítima deposite em um determinado lugar a
quantia exigida, e que aquele, é preso por outro crime ocorrido no curso de outro
fato, não alcança apoderar-se do dinheiro, que vem a ser recuperado pela vítima
no mesmo lugar em que o deixara; há de se reconhecer, apesar do insucesso final
do agente, que a extorsão se consumou.
Igualmente, se a vítima deposita o dinheiro no local assinalado pelo agente,
mas, simultaneamente, denuncia o fato à autoridade policial, que vem a flagrá-lo
no momento em que ele se apodera da quantia, haverá crime consumado, e não
tentado, haja vista que o crime se perfez em momento anterior, ou seja, no instan-
te em que a vítima atendeu à exigência do agente.
Esse é o entendimento que prevalece na doutrina. Nesse mesmo sentido o
Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 96: “O crime de extorsão consuma-
se independentemente de obtenção da vantagem indevida”.
b) A extorsão é crime material e se consuma com a produção do resultado — a
obtenção da indevida vantagem econômica
Essa posição é minoritária e vencida. A primeira posição é a mais correta, pois
o verbo do tipo não é obter vantagem econômica, mas constranger a vítima com
essa finalidade, ou seja, a obtenção da vantagem indevida, por isso, constitui sim-
ples exaurimento do crime.
CONCEITO
Extorsão:
O crime de extorsão consuma-se independente da obtenção da vantagem indevida.
É possível falar em tentativa mesmo para quem entende ser a extorsão crime for-
mal, que é a posição tecnicamente mais correta. Essa qualidade não impede a inci-
dência da tentativa. Explica-se: a extorsão é crime formal e plurissubsistente, e, assim,
comporta um iter que pode ser obstado por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Desse modo, haverá tentativa se a vítima, constrangida pelo emprego da vio-
lência ou grave ameaça, não realizar o comportamento ativo ou omissivo por cir-
cunstâncias alheias à vontade do agente.
capítulo 2 • 57
Exige-se para a configuração da tentativa que o meio coativo empregado seja idô-
neo a intimidar, a constranger a vítima, de modo a levá-la à realização do comporta-
mento almejado pelo agente. Se inidôneo, nem sequer se poderá falar em tentativa.
Diz-se idôneo o meio, quando seja apto de intimidar, o homem comum. Se o
meio se apresenta adequado ao fim a que o agente tem por objetivo, não deixa de
ser considerado como tal quando, no caso concreto, não obtenha êxito, por moti-
vo de excepcional resistência ou bravata da vítima ou qualquer outra circunstância
alheia à vontade do agente.
Assim, no caso de ameaça que, de regra se reconheça eficiente, mas acontecendo
que o ameaçado vence o temor inspirado e deixa de atender à imposição, preferindo
enfrentar o perigo ou solicitar, confiantemente, a intervenção policial, é inquestio-
nável a tentativa de extorsão. Igualmente haverá tentativa se, praticada a violência
ou grave ameaça, a vítima não realizar o comportamento exigido pelo sujeito ativo.
capítulo 2 • 58
b) Ou com emprego de arma: aplicam-se aqui os comentários ao crime de roubo
majorado pelo emprego de arma, disposto no Art.157, § 2o, I, do Código Penal.
capítulo 2 • 59
Nos termos do Art. 9o da lei no 8.072/90, se a vítima se enquadrasse em
qualquer das hipóteses do Art. 224 do Código Penal, a pena seria acrescida de
metade, respeitado o limite máximo de 30 anos. No entanto, uma vez que o
Art. 224 do CP foi revogado expressamente pela lei no 12.015/2009 e as con-
dições nele previstas integram tipo autônomo específico, qual seja, o crime de
estupro de vulnerável constante no Art. 217-A, do Código Penal, que não tem
aplicação genérica sobre outros delitos, não há mais que se cogitar na incidência
da aludida causa de aumento de pena nos delitos patrimoniais, constantes dos
artigos 157, § 3o; 158, § 2o; 159, caput e seus §§ 1o, 2o e 3o, do Código Penal.
Por se tratar de crime hediondo, o agente estará sujeito à totalidade das regras
mais severas constantes do Art. 2o da lei no 8.072/90. O crime de extorsão com
morte da vítima, assim como o latrocínio, é da competência do juiz singular, e não
do Tribunal do Júri. Para melhor compreensão do tema, consulte os comentários
ao crime de roubo qualificado.
Segundo dispõe o Art. 158, parágrafo 3o, do Código Penal, sendo o crime
cometido mediante a restrição da liberdade, e essa condição é necessária para ob-
tenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de seis a doze anos, além da
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
Art. 159, parágrafos 2o e 3o, respectivamente, do Código Penal.
Em virtude do aumento dos caixas eletrônicos em via pública, multiplicou-
se de forma assombrosa uma espécie de crime consistente em capturar a vítima,
apossar-se de seu cartão bancário e, em seguida, exigir, por meio de grave ameaça,
o fornecimento da senha, com a qual os bandidos fazem saques da conta da ví-
tima. Tendo em vista que nessa modalidade delituosa a vítima permanece algum
tempo com os agentes, passou a ser conhecida como sequestro-relâmpago.
Na doutrina e jurisprudência três correntes surgiram em torna da capitulação
a ser dada a esse tipo de delito: roubo, extorsão ou extorsão mediante sequestro,
tendo prevalecido a interpretação de que se trata de crime de extorsão por ser im-
prescindível a colaboração da vítima em fornecer a senha.
A lei no 11.923, de 17 de abril de 2009 pacificou o tema, transformando o
sequestro-relâmpago em figura qualificada do crime de extorsão.
capítulo 2 • 60
O delito se distingue da extorsão mediante sequestro, haja vista que, nesta,
o resgate é exigido de outras pessoas, tais como, familiares em geral; enquanto,
no sequestro-relâmpago, não há tal exigência, mas à própria pessoa sequestrada,
como por exemplo, para que a senha seja fornecida.
É de se mencionar que a pena prevista para o sequestro-relâmpago é de reclusão,
de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa, portanto, maior que a estabelecida para o
delito de roubo na forma agravada, em decorrência da privação da liberdade da vítima.
De idêntica forma, o parágrafo terceiro do Art. 158, do Código Penal deter-
mina a incidência das penas previstas no Art. 159, §§ 2o e 3o, do Código Penal se
do crime resultar lesão corporal grave, reclusão de 16 a 24 anos ou morte, reclusão
de 24 a 30 anos. Portanto, superiores às sanções cominadas no Art. 157, § 3o, o
qual prescreve que, se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclu-
são, de 7 a 15 anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de 20 a 30 anos,
sem prejuízo da multa.
Exemplificando o caso de um assaltante que obriga um pedestre a adentrar em
seu veículo, a fim de que este o leve à sua residência para realizar o roubo, responde
pelo referido delito, nas condições do Art. 157, § 3o, caso advenham àqueles re-
sultados agravadores. Não obstante, se a privação da liberdade de locomoção visa
obrigar a vítima a entregar-lhe o cartão magnético e a fornecer-lhe a senha, para
sacar o numerário em agências bancárias, responde pela extorsão nas condições do
Art. 158, § 3o, caso advenham às consequências mais gravosas.
A previsão das sanções, nesse contexto, fere o princípio da proporcionalidade
das penas, na medida em que, muito embora sejam crimes autônomos, são pra-
ticamente idênticos, pois muito se assemelham pelo modo de execução, além de
tutelarem idêntico bem jurídico.
Extorsão e roubo
capítulo 2 • 61
ROUBO – 157 EXTORSÃO – 158
A vítima não tem opção de escolha A vítima tem opção de escolha
Extorsão e concussão
Extorsão e estelionato
capítulo 2 • 62
em virtude de fraude empregada pelo agente, ou seja, por estar iludida, enganada,
a vítima faz a entrega voluntariamente.
Nada impede que o agente se utilize da fraude e da coação – violência ou grave
ameaça – para obtenção da vantagem econômica indevida, configurando-se no
caso o crime de extorsão.
Podemos citar como exemplo, o caso de agente que se finge de autoridade
policial e, sob ameaça de prisão ou de futuro procedimento penal, faz com que a
pessoa que compra para revender, lhe entregue o objeto de valor, a pretexto de se
tratar de coisa proveniente de furto, ou lhe dê dinheiro em troca de seu silêncio.
A vítima cedeu pela coação, embora para a eficácia desta haja contribuído decisi-
vamente um engano.
Concurso de crimes
capítulo 2 • 63
patrimoniais, ou seja, da mesma natureza, não são delitos da mesma espécie, pois
não estão previstos no tipo penal diverso; logo, não há que se falar em continui-
dade delitiva entre ambos.
São comuns situações em que o agente rouba a vítima e, em ação subsequente,
ainda a obriga a emitir cheque ou a entregar-lhe qualquer outro objeto, por exem-
plo, cartão de crédito com a respectiva senha.
Na hipótese se discute se há concurso material entre roubo e extorsão, ou
crime único. Em tais situações é importante lançar mão das distinções entre os
crimes supramencionados, pois se não observarmos com atenção tais distinções,
consideraremos como crime único ações que tipificam crimes autônomos.
Tendo em vista a distinção já realizada nos comentários ao delito do Art. 157
do Código Penal, o ato de obrigar a vítima a emitir um cheque, ou fornecer o cartão
magnético com a respectiva senha, configura crime de extorsão, em face da impres-
cindibilidade do comportamento do sujeito passivo, pois sem a ação deste é inviável
a obtenção da vantagem econômica pelo agente, ao contrário do crime de roubo.
Desta forma, não há como conceber a existência de crime único na hipótese
citada, mas, sim, de concurso material. Existem dois crimes autônomos: roubo
dos objetos e extorsão, ou seja, a forçada emissão de cheque ou fornecimento do
cartão com a respectiva senha.
O Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido de que responde por
concurso material de delitos o agente que, em uma única oportunidade fática,
pratica, mediante ações imediatamente subsequentes, roubo e extorsão.
O Superior Tribunal de Justiça também tem decidido no sentido de que se
configuram os crimes de roubo e extorsão, em concurso material, se o agente,
após subtrair alguns pertences da vítima, obriga-a a entregar o cartão do banco e
fornecer a respectiva senha.
capítulo 2 • 64
Figura 2.4 – Disponível em: <www.entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.
capítulo 2 • 65
ATIVIDADES
Ao responder os questionamentos, você fixará melhor o conteúdo trabalhado neste ca-
pítulo. Boa sorte.
01. Cada uma das próximas opções apresenta uma situação hipotética, seguida de uma
assertiva a ser julgada à luz da doutrina majoritária sobre restrição da liberdade de ir e vir da
vítima nos crimes contra o patrimônio. Assinale a opção que apresenta a assertiva correta.
a) Júlio, com o auxílio de terceiros, simulou o próprio sequestro para extorquir seus familia-
res. Nessa situação, Júlio responderá pelo crime de extorsão mediante sequestro.
b) Márcio tentou extorquir a família de Mara mediante o sequestro desta. Entretanto, poli-
ciais descobriram o cativeiro da vítima e libertaram-na sem que houvesse pagamento de
resgate. Nessa situação, ante o fato de que a extorsão mediante sequestro integra o rol
dos crimes contra o patrimônio, Márcio só responderia por tal crime se tivesse obtido a
vantagem pretendida – o resgate.
c) Aldo, com grave ameaça, coagiu José a entregar-lhe seu cartão de banco e informar
sua senha. Lucas, comparsa de Aldo, manteve José preso em um carro enquanto Aldo
sacava dinheiro da conta de José. Após tais fatos, Aldo e Lucas liberaram José em local
distante para retardar o pedido de socorro à polícia. Nessa situação, Aldo e Lucas res-
ponderão pelo crime de roubo com aumento de pena.
d) Jair praticou o crime de roubo contra Laura e, para tal, a manteve em seu poder por cur-
tíssimo tempo, destinado unicamente à subtração de bens de propriedade dela. Nessa
situação, a despeito de Laura ter ficado em poder de Jair por curtíssimo tempo, tal fato
constituirá causa de aumento de pena.
02. Mário e Mauro combinam a prática de um crime de furto a uma residência. Contudo,
sem que Mário saiba, Mauro arma-se de um revólver devidamente municiado. Ambos, então,
ingressam na residência escolhida para subtrair os bens ali existentes. Enquanto Mário sepa-
rava os objetos para subtração, Mauro é surpreendido com a presença de um dos moradores
que, ao reagir à ação criminosa, acaba sendo morto por Mauro. Nesta hipótese
a) Mário e Mauro responderão pela prática de latrocínio.
b) Mário e Mauro responderão pela prática de furto.
c) Mário responderá pela prática de furto simples e Mauro responderá pela prática de furto
qualificado.
capítulo 2 • 66
d) Mário responderá apenas pelo furto e Mauro responderá pela prática dos crimes de
porte ilegal de arma de fogo, furto e homicídio.
e) Mário responderá pela prática de furto e Mauro pelo crime de latrocínio.
03. Antônio, junto com comparsa, abordou dois rapazes que caminhavam na rua e os amea-
çou com um revólver de brinquedo, subtraindo do primeiro R$ 20 e do segundo um isqueiro
no valor de R$ 8. Notificados da ocorrência, os componentes de uma guarnição da Polícia
Militar de Pernambuco, ao final de rápida diligência, os localizaram e prenderam em situação
de flagrância, já que estavam na posse da res furtiva. Durante a lavratura do flagrante, Antô-
nio identificou-se com nome fictício, para esconder seus antecedentes criminais, não tendo
exibido documento de identidade.
Nessa situação hipotética, Antônio responderá pela prática de
a) roubos em concurso formal mais falsidade ideológica.
b) roubo impróprio.
c) roubos em concurso formal mais falsa identidade em concurso material.
d) roubo com majorante de uso de arma.
e) roubo continuado.
05. A fim de subtrair pertences de Bartolomeu, Marinalda coloca barbitúricos em sua be-
bida, fazendo-o desfalecer. Em seguida, a mulher efetiva a subtração e deixa o local, sendo
certo que o lesado somente vem acordar algumas horas depois. Nesse contexto, é correto
afirmar que Marinalda praticou crime de
a) furto qualificado. d) extorsão.
b) apropriação indébita. e) roubo.
c) estelionato.
capítulo 2 • 67
06. Considere que José tenha subtraído dinheiro de Manoel, após lhe impossibilitar a resis-
tência. Nessa situação hipotética, fica caracterizada a causa de aumento de pena se José
tiver cometido o crime
a) com emprego de chave falsa.
b) com restrição da liberdade de Manoel.
c) com destruição de obstáculo à subtração do dinheiro.
d) mediante fraude, escalada ou destreza.
e) durante o repouso noturno.
07. Mévio, mediante grave ameaça, subtraiu um telefone celular de Maria Rosa, avaliado em
R$ 2.000,00 (dois mil reais), mantendo-a em seu poder, restringindo sua liberdade por duas
horas, com o propósito de garantir o êxito da empreitada criminosa. Mévio responderá por
a) roubo circunstanciado.
b) roubo e sequestro, em concurso formal.
c) sequestro, já que este absorve o roubo.
d) roubo e sequestro, em concurso material.
e) roubo impróprio.
08. Gilson, 35 anos, juntamente com seu filho Rafael, de 15 anos, em dificuldades financei-
ras, iniciaram atos para a subtração de um veículo automotor. Gilson portava arma de fogo e,
quando a vítima tentou empreender fuga, ele efetua disparos contra ela, a fim de conseguir
subtrair o carro. O episódio levou o proprietário do automóvel a falecer. Apesar disso, os
agentes não levaram o veículo, já que outras pessoas que estavam no local chamaram a
Polícia. Descobertos os fatos, Gilson é denunciado pelo crime de latrocínio consumado e
corrupção de menores em concurso formal, sendo ao final da instrução, após confessar os
fatos, condenado à pena mínima de 20 anos pelo crime do Art. 157, § 3o, do Código Penal,
e à pena mínima de 1 (um) ano pelo delito de corrupção de menores, não havendo reconhe-
cimento de quaisquer agravantes ou atenuantes. Reconhecido, porém, o concurso formal
de crimes, ao invés de as penas serem somadas, a pena mais grave foi aumentada de 1/6,
resultando em um total de 23 anos e 4 (quatro) meses de reclusão. Considerando a situação
narrada, o advogado de Gilson poderia pleitear, observando a jurisprudência dos Tribunais
Superiores, em sede de recurso de apelação
a) a aplicação da regra do cúmulo material em detrimento da exasperação, pelo concurso
formal de crimes.
b) a aplicação da pena intermediária abaixo do mínimo legal, em razão do reconhecimento
da atenuante da confissão espontânea.
capítulo 2 • 68
c) o reconhecimento da modalidade tentada do latrocínio, já que o veículo automotor não
foi subtraído.
d) o afastamento da condenação por corrupção de menor, pela natureza material do delito.
11. Quem constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite,
ou a fazer o que ela não manda estará incorrendo no crime de
a) constrangimento ilegal. c) estelionato.
b) extorsão. d) extorsão indireta.
capítulo 2 • 69
12. Considere a seguinte situação hipotética: Gerônimo, 21 anos de idade, abordou Caio e
Tácito, subtraindo, mediante grave ameaça com uma faca, um relógio de Caio (avaliado em
R$ 100,00) e de Tácito apenas uma moeda de R$ 1,00. Nesse caso
a) deverá ser reconhecido o concurso de crimes, havendo dois roubos.
b) haverá apenas um roubo, visto que no crime praticado contra Tácito deverá incidir o
princípio da insignificância, afastando a tipicidade da conduta.
c) não há a incidência de nenhuma qualificadora ou majorante.
d) houve roubo impróprio.
e) nenhuma das alternativas anteriores está correta.
14. Tício furta um rádio da residência de Caio, inexistindo qualquer tipo de violência. Perse-
guido pela polícia, Tício dispara tiros para o alto e foge. Na hipótese ocorreu
a) crime de furto. c) crime de roubo impróprio.
b) crime de roubo. d) crime de roubo qualificado.
capítulo 2 • 70
TJ-DF - APELAÇÃO CRIMINAL APR 20140410068873 (TJ-DF)
RELATOR: SANDOVAL PEREIRA
Data do Julgamento: 25/2/2016
Data de publicação: 29/2/2016
capítulo 2 • 71
1. O modus operandi do réu, que teria extorquido a vítima em três oportunidades, mediante
grave ameaça, revela a sua periculosidade a justificar o decreto da prisão preventiva como
forma de garantia da ordem pública.
2. Decisão atacada que visa proteger a comunidade ordeira da reiteração criminosa, não
implicando violação ao princípio da presunção de inocência porque devidamente fundamen-
tada e ainda porque a prisão tem natureza cautelar.
3. Embora certo que a Constituição Federal, em seu artigo 5o, inciso LXXVII, assegure a
todos, no âmbito judicial e administrativo, a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação, não menos certo é que, na espécie, não se vislum-
bra retardamento injustificado do feito por parte do juízo ou ato procrastinatório imputável
à acusação, que pudessem ensejar a ilegalidade apontada, tramitando o feito no seu curso
normal, tanto que já designada audiência de instrução para os próximos dias.
4. Hipótese em que não verificada a ocorrência do alegado constrangimento ilegal, seja
porque presentes os requisitos da prisão cautelar, seja porque não caracterizado o excesso
de prazo para a formação da culpa. ORDEM DENEGADA.
capítulo 2 • 72
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIMES
CONTRA O PATRIMÔNIO. ROUBO CONSUMADO. ART.157, DO CP. DESCLASSIFICAÇÃO
PARA O DELITO DE FURTO. INVIABILIDADE. REEXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBA-
TÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA 7/STJ. MOMENTO DA CONSUMA-
ÇÃO. SIMPLES POSSE. TENTATIVA. NÃO CABIMENTO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRI-
VATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. NÃO PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS LEGAIS. ART.44, DO CP. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A alteração das conclusões do acórdão recorrido exige reapreciação do acervo fático
-probatório da demanda, o que faz incidir o óbice da Súmula 7, STJ.
2. Prevalece nesta Corte a orientação de que o delito de roubo, assim como o de furto, fica
consumado com a simples posse, ainda que breve, da coisa alheia, mesmo que haja imediata
perseguição do agente, não sendo necessário que o objeto do crime saia da esfera de vigi-
lância da vítima. Precedentes.
3. Inviável a concessão de substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de
direitos, considerando o não preenchimento dos requisitos previstos no Art. 44 do CP.
4. Agravo regimental não provido.
capítulo 2 • 73
EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. CONDENAÇÃO. Art. 158, § 1o, do CP. O Réu, no
interior de um táxi, no intuito de não pagar pelo serviço, e, na posse de arma branca “prego”
– ameaçou o taxista aproximando o instrumento ao seu pescoço, logrando ferir o braço da
vítima. Laudo pericial comprovando a lesão. Provas consistentes para se manter a condena-
ção. Vítima descreve com detalhes a dinâmica do evento e reconhece o apelante. Palavra da
vítima apta a ensejar o edito repressivo. Crime de extorsão consumado, eis que sendo crime
formal caracteriza-se com o constrangimento efetuado. O réu deixou de pagar a corrida, ob-
tendo vantagem econômica indevida. Descabimento do afastamento da causa de aumento
referente ao emprego de arma, eis que qualquer instrumento vulnerante que sirva para au-
mentar o poder de ataque do agente, mesmo que sendo arma imprópria, é considerado para
aumento da pena por força do § 1o, do Art. 158, do CP. Dosimetria reduzida para adequar
aos parâmetros da proporcionalidade, entre eles, a minoração do percentual aplicado pela
reincidência. Não há que se falar em bis in idem, na medida em que os acréscimos proce-
didos foram feitos com base em condenações distintas. Provimento em parte do recurso
defensivo. Unânime.
capítulo 2 • 74
3. Se o magistrado de primeiro grau concluiu pela existência de "desígnios autônomos
direcionados à violação de duas normas penais", asseverando que a extorsão "foi cometida
em momento temporal diverso", inviável a inversão do decidido nesta sede.
4. Conforme entendimento desta Corte, não há continuidade delitiva entre os delitos de
roubo e extorsão, porque de espécies diferentes.
5. Hipótese em que o Juiz a quo reconheceu a consumação do crime, assentando "a reti-
rada da res furtiva e da esfera de disponibilidade de seu titular", sendo inviável alterar tal con-
clusão nesta via estreita. E esta Corte entende que, para a consumação do crime de roubo, é
prescindível a posse mansa e pacífica dos bens. Quanto ao crime de extorsão, foi ressaltada
sua natureza formal, tese nãoimpugnada pela Defesa.
6. Writ não conhecido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código penal em exemplos práticos. 5. ed. Florianópolis:
OAB/SC, 2006.
BATISTA, Weber Martins. O furto e o roubo no direito e no processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1995.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. v. 3, 7. ed. São Paulo: Saraiva 2011.
DUTRA, Mário Hoeppner. O furto e o roubo. São Paulo: Max Limonad, 1955.
FRANCO, Alberto Silva. Dos crimes contra o patrimônio. In: Código penal e sua interpretação
jurisprudencial. 7. ed. Coordenadores: Alberto Silva Franco e Rui Stoco. São Paulo: RT, 2001.
GRACIA MARTIN, Luis. O horizonte do finalismo e o direito penal do inimigo. Tradução: Luiz
Regis Prado e Érika Mendes de Carvalho. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007;
MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis; SAAD, Marta. Dos crimes contra o patrimônio. In: Código
penal e sua interpretação – doutrina e jurisprudência. 8. ed., coordenação de Alberto Silva Franco e
Rui Stoco. São Paulo: RT, 2007.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. La expansión del derecho penal: Aspectos de la política criminal en
las sociedades postindustriales. Madrid: Cuadernos Civitas, 1999.
capítulo 2 • 75
CINE CONHECIMENTO
O caso dos irmãos Naves – 1967
Sinopse: a reconstituição de um caso real, ocorrido no
Estado Novo em 1937, na cidade de Araguari (MG). Tudo
começa quando um homem foge, levando o dinheiro de
uma safra de arroz. Os irmãos Joaquim (Raul Cortez) e Se-
bastião Naves (Juca de Oliveira), sócios do fugitivo, denun-
ciam o caso à polícia. De acusadores eles passam a réus,
por obra e graça do tenente de polícia (Anselmo Duarte)
que dirige a investigação. Presos e torturados, os Naves
são obrigados a confessar o crime que não cometeram.
capítulo 2 • 76
Loucos e perigosos – Once upon a time in Venice –
2017
Sinopse: em Los Angeles, o detetive particular Steve
(Bruce Willis) divide seu tempo entre o trabalho e os mo-
mentos de descanso ao lado de seu cachorro, Buddy. Mas
o animal é roubado por uma gangue, liderada por Spider
(Jason Momoa), e Steve parte em seu encalço, provando
que o bandido jamais deveria ter se metido com um dono
de cachorro.
Anexos
LEGISLAÇÃO
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
capítulo 2 • 77
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte lei:
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto
-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados ou tentados: (Reda-
ção dada pela Lei no 8.930, de 1994) (Vide Lei no 7.210, de 1984)
I. A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (Art. 129, § 2o) e lesão corporal se-
guida de morte (Art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos
Arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Na-
cional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição;
(Incluído pela Lei no 13.142, de 2015)
II. latrocínio (Art. 157, § 3o, in fine); (Inciso incluído pela lei no 8.930, de 1994)
III. extorsão qualificada pela morte (Art. 158, § 2o); (Inciso incluído pela Lei no 8.930,
de 1994)
IV. extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (Art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);
(Inciso incluído pela Lei no 8.930, de 1994).
V. estupro (Art. 213, caput e §§ 1o e 2o); (Redação dada pela Lei no 12.015, de 2009)
VI. estupro de vulnerável (Art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); (Redação dada pela lei
no 12.015, de 2009)
VII. epidemia com resultado morte (Art. 267, § 1o). (Inciso incluído pela Lei no 8.930,
de 1994)
VII. A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei no 9.695, de 1998)
VII. B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins tera-
pêuticos ou medicinais (Art.273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei
no 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela lei no 9.695, de 1998)
VIII. favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou
adolescente ou de vulnerável (Art. 218-B, caput, e §§ 1o e 2o). (Incluído pela lei no 12.978,
de 2014)
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos o crime de genocídio previsto nos
Arts. 1o, 2o e 3o da lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, e o de posse ou porte ilegal de
capítulo 2 • 78
arma de fogo de uso restrito, previsto no Art.16 da lei no 10.826, de 22 de dezembro de
2003, todos tentados ou consumados. (Redação dada pela lei no 13.497, de 2017)
Art. 2o Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
gas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I. anistia, graça e indulto;
II. fiança. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fecha-
do. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo,
dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de
3/5 (três quintos), se reincidente. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu
poderá apelar em liberdade. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989,
nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual pe-
ríodo em caso de extrema e comprovada necessidade. (Incluído pela lei no 11.464, de 2007)
Art. 3o A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao
cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em
presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública.
Art. 4o (Vetado).
Art. 5o Ao Art.83 do Código Penal é acrescido o seguinte inciso:
Art. 83. ..............................................................
........................................................................
V. cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime he-
diondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o
apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.
Art. 6o Os Arts. 157, § 3o; 159, caput e seus §§ 1o, 2o e 3o; 213; 214; 223, caput e seu
parágrafo único; 267, caput e 270; caput, todos do Código Penal, passam a vigorar com a
seguinte redação:
Art.157. .............................................................
§ 3o Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de cinco a quin-
ze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo
da multa.
........................................................................
capítulo 2 • 79
Art. 159. ...............................................................
Pena – reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1o .................................................................
Pena – reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2o .................................................................
Pena – reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3o .................................................................
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
........................................................................
Art. 213. ...............................................................
Pena – reclusão, de seis a dez anos.
Art. 214. ...............................................................
Pena – reclusão, de seis a dez anos.
........................................................................
Art. 223. ...............................................................
Pena – reclusão, de oito a doze anos.
Parágrafo único. ........................................................
Pena – reclusão, de doze a vinte e cinco anos.
........................................................................
Art. 267. ...............................................................
Pena – reclusão, de dez a quinze anos.
........................................................................
Art.270. ...............................................................
Pena – reclusão, de dez a quinze anos.
.......................................................................
Art. 7o ao Art.159 do Código Penal fica acrescido o seguinte parágrafo:
Art. 159. ..............................................................
........................................................................
§ 4o Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o coautor que denunciá-lo à auto-
ridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.
Art. 8o Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no Art. 288 do Código Penal,
quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou
quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.
capítulo 2 • 80
Art. 9o As penas fixadas no Art. 6o para os crimes capitulados nos Arts. 157, § 3o, 158, §
2o, 159, caput e seus §§ 1o, 2o e 3o, 213, caput e sua combinação com o Art. 223, caput e pa-
rágrafo único, 214 e sua combinação com o Art. 223, caput e parágrafo único, todos do Có-
digo Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão,
estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no Art. 224 também do Código Penal.
Art. 10. O Art. 35 da lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, passa a vigorar acrescido
de parágrafo único, com a seguinte redação:
Art. 35. ................................................................
Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste capítulo serão contados em dobro
quando se tratar dos crimes previstos nos Arts. 12, 13 e 14.
Art. 11. (Vetado).
Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.
FERNANDO COLLOR
Bernardo Cabral
capítulo 2 • 81
capítulo 2 • 82
3
Extorsão mediante
sequestro
Extorsão mediante sequestro
Introdução
capítulo 3 • 84
1859 e Art. 360, do toscano em 1853. Entretanto, o crime de sequestro capitula-
do atualmente no Código Penal brasileiro apresenta elementares semelhantes ao
código toscano de 1853. Na maioria dos países latino-americanos o crime de se-
questro surge nos respectivos códigos como sendo uma conduta que fere garantias
constitucionais. O Paraguai é um exemplo, vista que enumerou no rol dos crimes
que ferem garantias fundamentais, o sequestro.
No Brasil, o crime de extorsão mediante sequestro ganhou mais notoriedade
nas últimas décadas do século XX, e a motivação foi a edição de leis mais severas,
como exemplo a lei no 8.072/90 que versa sobre crimes hediondos, e que regula-
mentou o inciso XLIII do Art. 5o da Constituição Federal.
A prática do crime de extorsão mediante sequestro, em tempos de inquestio-
nável rebaixamento do poder econômico-social e de fundadas inquietações devido
à alta dos índices de criminalidade, volta a preocupar os grandes centros urbanos
e, em sentido amplo, o cenário da segurança pública.
Basicamente alicerçada em causas sociais que vão desde a ausência de cultura
e educação até a miséria, bem como, a negação de todo e qualquer direito fun-
damental, de status constitucional, com a inevitável interligação de tais fatores,
as estatísticas criminais de tempos em tempo só aumentam, se elevam de forma
sensível em relação a delitos que estão ligados diretamente a causas econômicas
como, em parte, é o caso do crime de que ora se cuida.
Não é correto pensar que tais delitos são praticados ou promovidos exclu-
sivamente pelo “crime organizado”; pelo narcotráfico, visando à obtenção de
recursos que se destinam ao fomento de todas as práticas ilícitas que envolvem
tais atividades.
Embora notícias jornalísticas muitas das vezes se refiram às investidas patroci-
nadas pelo “crime organizado”, a criminalidade difusa e desorganizada, estatistica-
mente, é bem maior que a primeira, é reincidente em tal incidência penal.
A lei no 8.072/90, denominada Lei dos Crimes Hediondos, visando coibir a
prática de tais delitos, aumentou o mínimo das penas de reclusão do caput e dos
§§ 1o a 3o do Art. 159, excluindo as penas de multa.
OBJETIVOS
O principal objetivo deste capítulo é analisar o delito de extorsão mediante sequestro, um
crime contemporâneo, e que como não podia ser previsto pelo legislador de 1940, neces-
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sário foi interpretar os tipos penais já existentes no ordenamento jurídico. Não obstante, fez
surgir várias divergências quanto a melhor tipificação do referido delito.
O aluno deverá entender a motivação para a prática do crime de extorsão mediante
sequestro, além de suas formas e modalidades qualificadoras. Em sede doutrinária também
será feita uma relevante referência à tutela do referido crime pela lei 8.072/90, a qual re-
gulamentou o XLIII do Art. 5o da Constituição Federal, tornando a conduta mais severamen-
te punida.
Conceitos e diferenciações
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delito apresenta o prolongamento da vítima no cativeiro. Assim, se pode também
falar na possibilidade de tentativa, vista que o tipo é plurissubsistente.
Necessário especificar algumas diferenças conceituais entre sequestro e cárcere
privado, para melhor compreensão do tipo em análise.
A primeira diferença é que o cárcere privado consiste na privação da liberdade
de locomoção de uma pessoa nos moldes mais estrito, realizada por meio da clau-
sura, no local onde ela estiver. De outra forma, o sequestro admite que essa mesma
privação da liberdade de locomoção seja efetivada de uma forma mais ampla, ou
seja, geograficamente, admitindo sua efetivação em local diverso daquele no qual
ela se encontrar.
Para alguns autores, o sequestro e o cárcere privado constituem formas da
privação total ou parcial da liberdade de locomoção de alguém. Configuram-se,
embora reste ainda à pessoa certa liberdade, ainda que ela possa, dentro em certos
limites, movimentar-se ou locomover-se. O bem jurídico é o direito de ir e vir, a
liberdade de movimento no espaço. A lei o tutela, só o Estado, por forma compe-
tente, pode privar o indivíduo do gozo desse bem.
Embora exista uma incontestável semelhança entre as condutas delituosas, fica
claro que cada uma detém suas peculiares características e efeitos.
Objeto jurídico
Por se tratar de crime complexo, formado pela fusão de dois crimes, quais
sejam, sequestro ou cárcere privado e extorsão, tutela-se a inviolabilidade patri-
monial e a liberdade de locomoção, além da integridade física, diante da previsão
das formas qualificadas pelo resultado lesão corporal grave ou morte. Em que pese
haver ofensa à liberdade pessoal, cuida-se de crime patrimonial, pois o sequestro é
crime-meio para obtenção de vantagem patrimonial.
Elementos do tipo
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O que difere o sequestro previsto no art. 148 do Código Penal da extorsão
mediante sequestro é que neste último há uma finalidade especial do agente, con-
substanciada na vontade de obter, para si ou para outrem, vantagem como condi-
ção ou preço do resgate. Embora o tipo fale em “qualquer vantagem”, esta deve,
necessariamente, ser de natureza econômica, pois se trata de um crime contra o
patrimônio. A intenção de se obter essa vantagem não necessita ser anterior ao
sequestro; pode ocorrer posteriormente a este. Assim exemplificando, é o caso de
quem sequestra um inimigo, por qualquer razão, inclusive até para se defender,
mas depois exige, para restituição à liberdade, lhe seja paga certa quantia.
Sujeitos do crime
O sujeito ativo do crime não é apenas aquele que realiza o sequestro da pessoa,
mas também o que vigia a vítima no local do crime para que ela não fuja e também
aquele que leva a mensagem aos parentes da vítima. Trata-se de crime comum.
Qualquer pessoa pode praticá-lo. Por ser crime formal, é irrelevante a obtenção de
vantagem indevida. Caso o agente seja funcionário público no exercício das suas
funções, poderá ocorrer, além da extorsão, o delito previsto nos artigos 3o, “a”, e
4o, “a”, da lei no 4.898/65.
São sujeitos passivos tanto a pessoa que sofre a lesão patrimonial como a que
é sequestrada.
Elemento subjetivo
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Essa menção, para alguns autores, é supérflua, uma vez que a sua ilegitimida-
de resulta de ser exigida como preço da cessão de um crime. Se o sequestro visa à
obtenção de vantagem devida, o crime será o de exercício arbitrário das próprias
razões, disposto no Art. 345 do Código Penal, em concurso formal com o crime
de sequestro, contido no Art. 148 do citado diploma legal.
Citando como exemplo, o credor que sequestra o seu devedor como forma
de constranger os filhos deste a lhe pagarem a dívida. A lei se refere à obtenção de
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate. Referindo-se a preço do
resgate, a lei indica a exigência de um valor em dinheiro ou em qualquer utilidade
e, ao se referir à condição, a qualquer tipo de ação do sujeito passivo que possa
conduzir a uma vantagem econômica, qual seja, a assinatura de uma promissória,
entrega de um documento etc.
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circunstâncias alheias à sua vontade, provada a sua intenção específica de obter
vantagem econômica, haverá o crime de tentativa de extorsão mediante sequestro;
por exemplo, no momento em que a vítima está sendo levada para o veículo do
sequestrador, este é interceptado pela polícia, vindo o agente a confessar poste-
riormente que pretendia com tal ação obter vantagem como condição ou preço
do resgate.
Formas de extorsão
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o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado”.
No tocante ao sequestrado maior de 60 anos, a referida qualificadora foi in-
cluída no parágrafo 1o pelo Art. 110 da lei no 10.741, de 1o de outubro de 2003,
do Estatuto do Idoso.
c) Sequestro praticado por bando ou quadrilha. Trata-se do crime a que se refere
o Art. 288 do CP, ou seja, a reunião de mais de três pessoas para o fim de cometer
crimes, não se configurando essa majorante se a reunião for ocasional. A reunião
tem que ser especificamente para cometer o crime de extorsão mediante sequestro.
Questiona-se sobre a possibilidade de responsabilizar-se o agente pelo crime
autônomo de quadrilha ou bando, disposto no Art. 288, do Código Penal, em
concurso material com a forma qualificada em estudo.
A controvérsia reside em saber se a hipótese configura ou não bis in idem. Não
há que se falar em bis in idem, uma vez que os momentos de consumação e a ob-
jetividade jurídica entre tais crimes são totalmente diversos, além do que a figura
prevista no Art. 288 do Código Penal existe independentemente de algum crime
vir a ser praticado pela quadrilha ou bando.
Do mesmo modo que não há dupla apenação entre associação criminosa,
constante do Art. 35 da lei no 11.343/2006 e o tráfico por ela praticado. Aqui
também incide a regra do concurso material.
§ 2o – Extorsão mediante sequestro, qualificada pela lesão corporal de natu-
reza grave (pena de 16 a 24 anos). Trata-se de crime qualificado pelo resultado. O
evento posterior agravador tanto pode ter sido ocasionado de forma dolosa quanto
culposa. Pode resultar tanto dos maus-tratos acaso infligidos ao sequestrado quan-
to da própria natureza ou modo do sequestro.
A doutrina entende que, se a vítima desses resultados agravadores não é o pró-
prio sequestrado, mas, sim, terceira pessoa, por exemplo, um segurança da vítima
ou a pessoa que estava efetuando o pagamento do resgate, haverá o crime de extor-
são mediante sequestro na forma simples em concurso com crime contra a pessoa.
§ 3o – Extorsão mediante sequestro, qualificada pela morte. Pena de 24 a 30
anos.
É a pena mais elevada do Código Penal.
O Art. 6o, da Lei dos Crimes Hediondos, ao exacerbar o mínimo penal
deste dispositivo para 24 anos de reclusão, havia criado uma situação em que
a pena mínima era igual à pena máxima, ferindo, por conseguinte, o princípio
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constitucional da individualização da pena: tratava-se da situação em que a vítima
se encontrava nas condições do Art. 224 do Código Penal, caso em que o Art. 9o
da lei no 8.072/90 determinava que a pena devesse ser agravada de metade. Assim,
como o Art. 75 do Código Penal proibia tal hipótese, tínhamos a pena mínima
equivalente a 30 anos, ou seja, idêntica à pena máxima prevista para o caso.
No entanto, com a revogação do Art. 224 do CP pela lei no 12.015/2009,
tal situação deixou de existir. Desse modo, a morte da vítima deve decorrer dos
maus-tratos dispensados ao sequestrado como da natureza ou modo do sequestro.
Crimes Hediondos – Lei 8072/1990
Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (Artigo Caput 159 e
§ 1o, 1o e 3o)
Sequestrar a pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem,
condição ou preço de resgate.
§ 1o - Se o sequestro dura mais de 24 horas, se o sequestro é menor de 18 anos ou
maior de 60 anos ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha;
§ 2o - Se o fato resulta lesão corporal de natureza grave;
§ 3o - Se resulta a morte.
A delação eficaz ou premiada, prevista no parágrafo 4o, do Art. 7o, da Lei dos
Crimes Hediondos criou uma causa de diminuição de pena específica para o cri-
me de extorsão mediante sequestro praticada em concurso. Cuida-se da chamada
delação eficaz ou premiada.
Posteriormente, a lei no 9.269/96 deu ao parágrafo 4o do Art. 159 do Código
Penal a seguinte redação:
Art.159, CP – Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem como condição ou preço do resgate:
Pena – reclusão, de oito a quinze anos.
Parágrafo 4o – Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o de-
nunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá a sua pena re-
duzida de um a dois terços.
Para a aplicação da delação eficaz são necessários os seguintes pressupostos:
a) Prática de um crime de extorsão mediante sequestro.
b) Cometido em concurso.
c) Delação feita por um dos coautores ou partícipes à autoridade.
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d) Eficácia da delação: liame subjetivo entre os agentes. Para aplicação dessa cau-
sa de diminuição de pena é necessário que o crime tenha sido cometido em con-
curso. Se a extorsão mediante sequestro não tiver sido praticada em concurso, por
dois ou mais agentes, isto é, não havendo unidade de desígnios entre os autores e
partícipes, ainda que haja a delação, a pena não sofrerá qualquer redução.
No caso de autoria colateral não há que se falar em aplicação do benefício,
em virtude da inexistência da unidade de desígnios entre os agentes. A delação
deve ser eficaz. A dicção “denunciá-lo à autoridade” se refere ao delito de extorsão
mediante sequestro. No entanto, aquele que apenas dá a conhecer a existência do
crime, sem indicar dados que possibilitem a libertação da vítima por ele seques-
trada, mesmo que coautor ou partícipe, não pode beneficiar-se da delação eficaz.
Não confundir delação eficaz com a figura da traição benéfica que está prevista
no Art. 8o, parágrafo único, da lei no 8.072/90, pois na delação o que deve ser
levado ao conhecimento da autoridade é o crime de extorsão mediante sequestro.
É necessário, portanto: que o coautor ou partícipe delate o crime à autoridade;
que a vítima seja libertada; que a delação tenha efetivamente contribuído para a
libertação do sequestrado.
A eficácia da delação consiste na libertação do sequestrado. Assim sendo, para
que a denúncia seja considerada eficaz são necessários dois requisitos: a efetiva
libertação do ofendido e o nexo causal entre esta e a delação.
Considera-se autoridade para efeito do texto, agente público ou político, com
poderes para tomar alguma medida que dê início à persecução penal. Portanto, o
delegado de polícia, que pode instaurar o inquérito policial, o promotor de justiça
e o juiz de direito, que podem requisitar a sua instauração. A jurisprudência pode
vir a incluir outros agentes nesse rol.
O quantum a ser reduzido pelo juiz varia de acordo com a maior ou menor
contribuição da delação para a libertação do sequestrado. Quanto maior a contri-
buição, tanto maior será a redução. Trata-se de causa obrigatória de diminuição de
pena. Preenchidos os pressupostos, não pode ser negada pelo juiz. É também cir-
cunstância de caráter pessoal, incomunicável aos demais agentes. Cuidando-se de
norma de natureza penal, pode retroagir em benefício do agente, para alcançar os
crimes de extorsão mediante sequestro, cometidos antes da sua entrada em vigor.
A delação eficaz tem por base o seguinte binômio: denúncia da extorsão me-
diante sequestro e libertação do sequestrado.
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A lei no 9.807, de 13/7/1999, é a lei de proteção a vítimas e testemunhas
ameaçadas, bem como, a acusados ou condenados que tenham voluntariamente
prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal.
Expõe o Art. 13 da lei no 9.807/99, que o juiz, de ofício ou a requerimento das
partes, poderá conceder o perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade
ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com
a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:
I. A identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa.
II. A localização da vítima com a sua integridade física preservada.
III. A recuperação total ou parcial do produto do crime.
Fará jus ao perdão judicial:
a) O acusado que for primário, isto é, que não for reincidente – Art. 13, caput,
da lei no 9.807/99.
b) Que identificar os demais coautores ou partícipes da ação criminosa – Art. 13,
I, da lei no 9.807/99.
c) Que possibilitar a localização da vítima com a sua integridade física preservada
– Art. 13, II, da lei no 9.807/99.
d) que proporcionar a recuperação total ou parcial do produto do crime - Art.
13, III,da Lei no. 9.807/99;
e) Que tiver as circunstâncias do parágrafo único do Art. 13, da Lei no 9.807/99
a seu favor, ou seja, a concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade
do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato
criminoso.
Dessa forma, o acusado por crime de extorsão mediante sequestro que preen-
cher todos os requisitos legais anteriormente apontados poderá ser contempla-
do com o perdão judicial e não apenas na forma do Art. 7o, da Lei dos Crimes
Hediondos.
Na hipótese do Art. 13, da lei no 9.807/99, o agente deverá, necessariamente,
ser primário. O reincidente poderá, no máximo, e desde que preencha os requisi-
tos legais, ser enquadrado no Art. 14, da citada lei.
No entanto, a primariedade não confere direito público subjetivo ao perdão
judicial, devendo o juiz analisar os antecedentes, a personalidade, a conduta social,
a gravidade e as consequências do crime, nos termos do parágrafo único do Art. 13
da Lei de Proteção a Testemunhas.
Não obstante, há necessidade de que a delação tenha eficácia, identificada
em um dos incisos do Art. 13 da mencionada lei, os quais não são cumulativos,
capítulo 3 • 94
ficando a critério de o juiz conceder o perdão diante da configuração de apenas
uma das hipóteses. Não concedendo o perdão, ainda assim restará a possibilida-
de de redução de pena, com base no Art. 14, da lei no 9.807/99, cuja natureza é
residual.
Por sua vez o Art. 14, da lei no 9.807/99, dispõe que terá a pena reduzida de
um a dois terços, o indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a
investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores
ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total
ou parcial do produto do crime, no caso de condenação.
A lei, aqui, não exige a primariedade, muito menos o resultado, bastando a
colaboração. Por outro lado, os efeitos são bem menos abrangentes, havendo sim-
ples diminuição de pena. O Art. 14 fica, portanto, previsto de modo residual, ou
seja, aplica-se subsidiariamente, desde que não configurada a hipótese do Art. 13,
da lei no 9.807/99.
Como exemplo, se o criminoso não for primário, ou quando sua cooperação
não tiver levado a uma das situações previstas no Art. 13, poderá ter incidência o
dispositivo do Art. 14. Nota-se que, a delação eficaz prevista nos artigos 13 e 14 da
Lei de Proteção a Testemunhas, é mais abrangente do que a prevista no Art. 7o da
Lei dos Crimes Hediondos, pois a lei no 9.807/99, no Art. 13, prevê a possibilida-
de de aplicar o perdão judicial, e não apenas a redução da pena. Além disso, a lei
em questão se aplica a todos os delitos, hediondos ou não, e não apenas ao crime
de extorsão mediante sequestro praticado em concurso de agentes.
No que se refere ao Art. 14, da lei no 9.807/99, embora também preveja mera
diminuição de pena, sua aplicação não se restringe aos delitos previstos na Lei dos
Crimes Hediondos, e não exige efetivo resultado na delação, mas apenas e tão
somente a cooperação voluntária do criminoso.
ATIVIDADES
01. Sobre o crime de extorsão mediante sequestro, é correto afirmar que
a) a consumação do crime do Art. 159 do CP se opera com a exigência de uma vantagem
como condição ou preço do resgate, o que faz com que o delito seja doutrinariamente
classificado como crime formal.
b) o crime é hediondo mesmo em sua forma simples, dispensando a verificação de resul-
tados morte ou lesão corporal de natureza grave para a incidência da lei no 8.072, de
1990.
capítulo 3 • 95
c) o concurso de pessoas é uma das circunstâncias qualificadoras concernentes ao crime
de extorsão mediante sequestro, nos mesmos moldes do furto e diferentemente do que
ocorre no roubo, no qual a pluralidade de agentes tem a natureza de causa de aumento
da pena.
d) há, no Art. 159 do Código Penal, previsão expressa de delação premiada, determinando
diminuição da pena ao participante que revelar o crime à autoridade, permitindo a liber-
tação do sequestrado ou a recuperação do produto ou do proveito do crime.
e) ocorre a forma qualificada da extorsão mediante sequestro, entre outras hipóteses,
quando a restrição à liberdade da vítima dura mais de quinze dias, mas nunca em tempo
inferior.
02. Após a leitura das alternativas a seguir, que contêm alguns dos crimes contra o patrimô-
nio previstos no Código Penal Brasileiro, identifique a(s) afirmações correta(s):
I. Extorsão: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de
obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou
deixar de fazer alguma coisa.
II. Extorsão indireta: solicitar, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém,
documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro.
III. Extorsão mediante sequestro: sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate.
IV. Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza: apropriar-se
alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por descuido, ou em força da natureza:
Assinale a alternativa correta.
a) As assertivas I e IV estão corretas.
b) As assertivas I, II e III estão corretas.
c) Apenas a assertiva III está correta.
d) Apenas as assertivas I e III estão corretas.
capítulo 3 • 96
04. Mévio, endividado, sequestra o próprio pai, senhor de 70 anos, objetivando obter como
resgate, de seus irmãos, a quantia de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Para tanto, conta com
a ajuda de Caio. Passadas 13 horas do sequestro, Caio se arrepende e decide comunicar o
crime à Polícia que, pouco depois, invade o local do sequestro, libertando a vítima. A respeito
da situação retratada, é correto afirmar que
a) Mévio e Caio praticaram extorsão mediante sequestro, na forma qualificada, haja vista
que o crime perdurou por período superior a 12 horas.
b) por se tratar de crime contra o patrimônio, Mévio é isento de pena, pois cometeu o crime
em prejuízo de ascendente.
c) por se tratar de crime contra o patrimônio, relativamente a Mévio, que praticou o crime
em prejuízo de ascendente, a ação penal é pública condicionada à representação.
d) Caio, mesmo tendo denunciado o crime à autoridade policial, não faz jus à redução da
pena, por se tratar de crime na forma qualificada.
e) Mévio e Caio praticaram extorsão mediante sequestro, na forma qualificada, por se tratar
de vítima idosa.
05. Acerca de crimes contra a pessoa e contra o patrimônio, assinale a opção correta.
a) O juiz poderá deixar de aplicar a pena ao autor que tenha cometido crime de roubo con-
tra ascendente por razões de política criminal, concedendo-lhe o perdão judicial.
b) Situação hipotética: João sequestrou Sandra e exigiu de sua família o pagamento do
resgate. Após manter a vítima em cárcere privado por uma semana, João a libertou, em-
bora não tenha recebido a quantia exigida como pagamento. Assertiva: nessa situação,
está configurado o crime de extorsão mediante sequestro qualificado.
c) Situação hipotética: Maria, Lúcia e Paula furtaram medicamentos em uma farmácia, sem
que o vendedor percebesse, tendo sido, contudo, flagradas pelas câmeras de segurança.
Assertiva: nessa situação, Maria, Lúcia e Paula responderão pelo crime de furto simples.
d) Situação hipotética: Alexandre adquiriu mercadorias em um supermercado e pagou
as compras com um cheque subtraído de terceiro. No caixa, Alexandre apresentou-se
como titular da conta corrente, preencheu e falsificou a assinatura na cártula. Assertiva:
nessa situação, Alexandre responderá pelo crime de furto mediante fraude.
e) Situação hipotética: na tentativa de subtrair o veículo de Paulo, José desferiu uma fa-
cada em Paulo e saiu correndo do local, sem levar o veículo, após gritos de socorro da
vítima e da recusa desta em entregar-lhe as chaves do carro. Paulo faleceu em decor-
rência do ferimento. Assertiva: nessa situação, José responderá pelo crime de homicídio
doloso qualificado pelo motivo fútil.
capítulo 3 • 97
06. Um crime de extorsão mediante sequestro perdura há meses e, nesse período, nova lei
penal entrou em vigor, prevendo causa de aumento de pena que se enquadra perfeitamente
no caso em apreço.
Nessa situação hipotética
a) a lei penal mais grave não poderá ser aplicada: o ordenamento jurídico não admite a
novatio legis in pejus.
b) a lei penal menos grave deverá ser aplicada, já que o crime teve início durante a sua
vigência e a legislação, em relação ao tempo do crime, aplica a teoria da atividade.
c) a lei penal mais grave deverá ser aplicada, pois a atividade delitiva prolongou-se até a
entrada em vigor da nova legislação, antes da cessação da permanência do crime.
d) a aplicação da pena deverá ocorrer na forma prevista pela nova lei, dada a incidência do
princípio da ultratividade da lei penal.
e) a aplicação da pena ocorrerá na forma prevista pela lei anterior, mais branda, em virtude
da incidência do princípio da irretroatividade da lei penal.
07. O agente que for acusado da prática de crime de extorsão mediante sequestro em sua
forma qualificada estará impedido de obter, durante o processo ou após a condenação tran-
sitada em julgado,
a) cumprimento de pena sob regime progressivo.
b) fiança e liberdade provisória.
c) apenas liberdade provisória.
d) anistia, graça e indulto.
e) livramento condicional.
capítulo 3 • 98
d) O denominado sequestro-relâmpago é uma modalidade de crime de extorsão cometido
mediante a privação total da liberdade da vítima.
e) As formas qualificadas do roubo não decorrem, necessariamente, do emprego
da violência.
10. Cada uma das próximas opções apresenta uma situação hipotética, seguida de uma
assertiva a ser julgada à luz da doutrina majoritária sobre restrição da liberdade de ir e vir da
vítima nos crimes contra o patrimônio. Assinale a opção que apresenta a assertiva correta.
a) Júlio, com o auxílio de terceiros, simulou o próprio sequestro para extorquir seus familia-
res. Nessa situação, Júlio responderá pelo crime de extorsão mediante sequestro.
b) Márcio tentou extorquir a família de Mara mediante o sequestro desta. Entretanto, poli-
ciais descobriram o cativeiro da vítima e libertaram-na sem que houvesse pagamento de
resgate. Nessa situação, ante o fato de que a extorsão mediante sequestro integra o rol
dos crimes contra o patrimônio, Márcio só responderia por tal crime se tivesse obtido a
vantagem pretendida — o resgate.
c) Aldo, com grave ameaça, coagiu José a entregar-lhe seu cartão de banco e informar
sua senha. Lucas, comparsa de Aldo, manteve José preso em um carro enquanto Aldo
sacava dinheiro da conta de José. Após tais fatos, Aldo e Lucas liberaram José em local
distante para retardar o pedido de socorro à polícia. Nessa situação, Aldo e Lucas res-
ponderão pelo crime de roubo com aumento de pena.
d) Jair praticou o crime de roubo contra Laura e, para tal, a manteve em seu poder por cur-
tíssimo tempo, destinado unicamente à subtração de bens de propriedade dela. Nessa
situação, a despeito de Laura ter ficado em poder de Jair por curtíssimo tempo, tal fato
constituirá causa de aumento de pena.
e) Um policial civil, fora do exercício de suas funções, praticou extorsão mediante seques-
tro. Nessa situação, o policial responderá pelo referido crime e, também, pelo crime de
abuso de autoridade.
capítulo 3 • 99
2. Extorsão mediante sequestro e roubo majorado pelo emprego de arma de fogo e con-
curso de agentes. Condenação. Fixação do regime inicial fechado.
3. Reconhecimento fotográfico no âmbito do inquérito corroborado por outras provas dos
autos. Possibilidade.
4. Elementos do tipo extorsão mediante sequestro devidamente configurados.
5. Provas demonstram emprego de arma de fogo e concurso de pessoas.
6. Fixação da pena-base acima do mínimo legal. Circunstâncias judiciais desfavoráveis.
Ausência de ilegalidade.
7. Mantida a condenação, não há que se falar em alteração do regime prisional.
8. Recurso ordinário a que se nega provimento.
capítulo 3 • 100
traficante para exigir resgate, além de cárcere privado outras duas pessoas – com menção
a peculiar situação dos sentenciados serem agentes públicos com treinamento policial e
militar, o que evidenciava a elevada periculosidade dos condenados e autoriza a custódia
cautelar para garantia da ordem pública. Habeas corpus denegado.
capítulo 3 • 101
CONHECIMENTO DE OFÍCIO. CONDUTA QUE SE AMOLDA AO ART. 158, § 1o, DO CP E
NÃO AO ART. 159 DO CP. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. A alegação de que os crimes não foram consumados não foi deduzida no apelo da defesa
e, por tal motivo, deixou de ser analisada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o que
impede sua cognição direta por esta Corte Superior, sob pena de indevida supressão de instância.
2. Ficam configurados os crimes de roubo e extorsão, em concurso material, se o agente,
após subtrair bens da vítima, mediante emprego de violência ou grave ameaça, a constrange
a entregar o cartão bancário e a respectiva senha, para sacar dinheiro de sua conta corrente.
3. O paciente foi condenado, por fatos ocorridos em 4/6/2007, como incurso no Art. 159
do CP, mas, na extorsão mediante sequestro (Art. 159 do CP), a privação da liberdade é uti-
lizada como condição ou preço do resgate, não verificada na hipótese. Nesse cenário, deve
ser reconhecida, de ofício, a prática do crime descrito no Art. 158, § 1o, do CP, observada a
restrição da liberdade da vítima como circunstância judicial, pois o crime foi praticado antes
da lei no 11.923/2009.
4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para reconhecer a prática
do crime descrito no Art. 158, § 1o do CP e determinar a devolução dos autos ao Tribunal de
Justiça de origem, para realização de nova dosimetria da pena.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código Penal em exemplos práticos. 5. ed. Florianópolis:
OAB/SC, 2006.
BATISTA, Weber Martins. O Furto e o Roubo no Direito e no Processo Penal. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1995.
BITENCOURT, César Roberto. Elementos de Direito Penal. São Paulo: RT, v. 2, 2004.
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal – Parte Especial. 10. ed. Forense. Rio de
Janeiro: Forense, 2003.
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
MAGALHÃES NORONHA, Edgard. Direito Penal. 2. ed, Saraiva. São Paulo: Saraiva, 2001.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 18. ed. São Paulo: Atlas, v. II, 2001.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal – Parte Geral e Especial, 4. ed. São Paulo/SP:
Revista dos Tribunais, 2008.
PRADO, Luis Régis. Elementos de direito penal. São Paulo: RT, 2003.
capítulo 3 • 102
CINE CONHECIMENTO
O sequestro – 2017
Sinopse: uma mulher (Halle Berry) trabalha como gar-
çonete e se vira para cuidar de seu filho pequeno. Certo
dia, o menino é sequestrado e a mãe parte numa luta de-
sesperada para reencontrar o filho, enquanto tenta conse-
guir o dinheiro do resgate.
Reféns – 2011
Sinopse: Kyle (Nicolas Cage) e Sarah (Nicole Kidman)
vivem em uma elegante e segura casa com todos os con-
fortos modernos. Sua única filha, Avery (Liana Liberato) é
uma adolescente linda, mas ainda muito rebelde. Tudo está
bem até o momento em que a casa é invadida por crimino-
sos e a família é feita refém. Agora todos os segredos da
família deverão ser revelados na luta contra os invasores.
El mate – 2016
Sinopse: Russo foi sequestrado e está amarrado na
casa do assassino de aluguel Armando. Este, por sua vez,
aguarda os mandantes do sequestro. Nessa espera quem
bate na porta é um evangélico, pronto para levar a palavra
de Deus para quem está na casa, despertando estranhos
conflitos.
capítulo 3 • 103
Rapt – o sequestro de um herói – 2011
Sinopse: o rico e poderoso industrial, Stanislas Graff
(Yvan Attal), é sequestrado numa manhã em frente a sua
mansão. Começa então um calvário que vai durar algumas
semanas. Amputado, humilhado, em condições sub-hu-
manas, ele resiste sem reagir a seus sequestradores. Ele
responde a barbárie com dignidade, enquanto sua vida é
completamente devassada por investigações policiais e
pela imprensa. A intimidade que Graff preservava é reve-
lada: muitas amantes e quantias escandalosas perdidas na
mesa de jogo estão diariamente nas páginas dos jornais
e revistas.
No cativeiro, sem contato com o mundo externo, ele
não recebe nenhuma informação da boca dos seus algo-
zes. Graff não compreende porque ninguém paga o resga-
te exigido. Cada um descobre um homem que está longe
de parecer o que todos imaginavam.
Fragmentado – 2017
Sinopse: o psicopata Kevin (James McAvoy) tem nada
menos que 23 personalidades. Um dia, ele sequestra três
garotas. No cativeiro, Kevin começa a atormentá-las com
seu comportamento instável. Para o terror das jovens, a
pior dessas personalidades, conhecida como The Beast,
ganha vida.
capítulo 3 • 104
4
Crime apropriação
indébita
Crime apropriação indébita
Introdução
OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é estudar o crime de apropriação indébita, contido no Art. 168
do Código Penal, bem como, as diversas condutas que se amoldam a mais de um tipo penal,
criando uma imensa discussão doutrinária e jurisprudencial acerca de qual dos tipos penais
se aplicará àquela conduta.
Isso ocorre devido à semelhança entre os tipos penais, que abrangem ou deixam de
abranger condutas distintas por ocasião de sua redação. No campo dos crimes patrimoniais,
talvez os tipos penais mais similares e que causam essa confusão são o roubo e a extorsão.
No capítulo da Apropriação Indébita estão previstos ou crimes de apropriação indébita
previdenciária, apropriação indébita de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natu-
reza, apropriação de tesouro e apropriação de coisa achada.
capítulo 4 • 106
O crime de apropriação indébita está tipificado no artigo 168 do Código Penal.
O tipo penal trata da conduta daquele que tem a posse ou detenção lícita, ou
seja, posse precária da coisa e, que em determinado momento, inverte o sentido
dessa posse ou detenção, passando a agir como se proprietário fosse da coisa ou
bem que detém.
No caso da detenção que é a posse precária, esta não deverá ser fiscalizada,
pois ao contrário, havendo a disposição da coisa ou bem vigiada, ocorrerá o furto.
Em se tratando de funcionário público como autor da apropriação indébita, e
esta se der em razão do cargo, haverá o crime de Peculato.
No caso do dolo ab initio na disposição de coisa alheia que recebeu configura
o Estelionato e não o crime de Apropriação Indébita.
A coisa fungível recebida em mútuo, ou seja, empréstimo de dinheiro ou de-
pósito, não pode ser objeto de Apropriação Indébita, pois nesses casos há a trans-
ferência da propriedade e o estabelecimento do direito de crédito em relação ao
anterior proprietário da coisa.
O trabalho da investigação será tão somente o de colheita de provas, pois que
a autoria é indicada pela vítima, seu representante ou qualquer pessoa que tenha
conhecimento do fato.
Objeto jurídico
capítulo 4 • 107
achando-se em relação de dependência para com o outro, conserva a posse em
nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
No âmbito penal, a diferenciação não se mostra tão relevante, haja vista que
esse crime se encontra presente em qualquer das duas hipóteses.
capítulo 4 • 108
Assim, havendo dúvidas em caso concreto em torno da boa ou má-fé do agen-
te no momento do recebimento do bem, ele deverá ser condenado por apropria-
ção indébita. Isto porque a boa-fé é presumida, enquanto que a má-fé deve ser
provada e também porque a apropriação indébita tem pena menor.
d) que o agente inverta o ânimo em relação ao objeto que está em seu poder, ou
seja, depois que recebe o bem de boa fé, o agente modifica seu comportamento,
agindo de má fé, querendo apropriar-se da coisa e não apenas ter detenção.
capítulo 4 • 109
Portanto, existem duas formas do crime de apropriação indébita: a propria-
mente dita e a negativa de restituição. A distinção se fundamenta no fato de o
agente ter se desfeito do bem no momento do crime ou ter ficado com ele.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, menos o proprietário da coisa e o
sujeito passivo é a pessoa física, pessoa jurídica que suporte e tenha prejuízos.
CONCEITO
Apropriação Indébita:
Tomar algo de alguém sem o seu consentimento. Ex.: venda em consignação onde a loja
não repassa o dinheiro ao dono.
Consumação e tentativa
Art. 169, caput, CP. Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda a seu poder por
erro, caso fortuito ou força da natureza:
Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.
O Art. 169, caput, do Código Penal tutela a propriedade. Existem duas figuras
criminais distintas no citado artigo, que serão estudadas separadamente:
1. Apropriação de coisa havida por erro.
Assim como sucede na apropriação indébita, no crime de apropriação de coisa ha-
vida por erro também é a vítima quem de forma espontânea entrega o bem ao agente.
capítulo 4 • 110
A diferença entre os dois crimes está no fato de que, na apropriação indébita,
a vítima entrega o bem sem estar em erro, ao passo que o delito de apropriação
de coisa havida por erro é preciso que a vítima, por qualquer motivo, esteja em
situação de erro, quer dizer, com uma percepção incorreta da realidade que, no
caso concreto é a causa determinante da entrega.
O erro da vítima pode se relacionar
a) à pessoa destinatária do bem, significando, que o objeto deveria ser entregue a
uma pessoa, e a vítima, por equívoco, entrega a outra.
b) à coisa entregue, se verifica quando uma pessoa compra um bem de valor me-
nor e, por erro, os funcionários da loja põem na embalagem objeto bem mais caro
e o agente, em casa ao abrir o pacote, decide não devolver.
c) à existência da obrigação ou parte dela. Acontece quando a pessoa se engana,
julgando que deve entregar um bem ou valor a terceiro, quando tal não é preci-
so. Por exemplo, é o caso do homem que já pagou os valores que devia, por ter
adquirido fiado em uma peixaria durante um mês, e o funcionário que recebeu o
dinheiro deu a entrada no caixa, entretanto não comunicou ao patrão. A esposa,
depois, sem saber que a dívida já havia sido quitada, efetua novamente o paga-
mento, agora ao dono do estabelecimento. Depois de receber o dinheiro, o dono,
quando vai dar entrada no caixa, verifica a anotação feita pelo funcionário de que
a dívida havia sido quitada, mas resolve ficar com o dinheiro.
É de se relevar por ser muito importante que o crime de apropriação de coisa
havida por erro tem como requisito fundamental que o agente receba o bem de
boa-fé, quer dizer, que apenas perceba o equívoco da vítima quando já está na
posse ou detenção do bem e que, nesse instante somente, resolva apoderar-se
dele, não o devolvendo a quem de direito. É inevitável essa conclusão, na me-
dida em que, se o agente, antes de receber o bem, percebe que está havendo um
engano e que a vítima está prestes a lhe entregar algo por erro, não obstante, de
forma maliciosa, mantém-se em silencio para que a entrega se viabilize, o crime
é o de estelionato.
Pelo exposto, podem ser enumerados os seguintes requisitos no crime de apro-
priação havida por erro:
a) que a vítima esteja em erro não provocado pelo agente.
b) que a vítima de forma espontânea entregue o bem ao agente.
capítulo 4 • 111
c) que o agente ao receber o bem, esteja de boa-fé, ou seja, não perceba o erro da
vítima, posto que, em caso contrário, o crime seria o de estelionato.
d) que, estando na posse do bem, perceba que o recebeu por erro e resolva dele
se apropriar.
O crime não existe quando o agente pensa haver recebido uma doação ou prê-
mio, haja vista que, nesses casos, não há dolo de locupletamento ilícito. Inexiste
também crime se o agente, ao perceber o erro, não tem como devolver o bem ou
valores ao dono, em virtude de desconhecer quem seja e não possuir meios para
identificá-lo. Ao contrário do que acontece com o delito de apropriação de coisa
achada, no crime de apropriação de coisa havida por erro, não existe a obrigação
de contatar autoridades públicas para a elas efetuar a devolução, mesmo porque
quem incidiu em erro é que tem condições de procurar a pessoa a quem entregou
o objeto. Então, se esta recusar a devolução, haverá crime.
capítulo 4 • 112
Figura 4.1 – Disponível em: <www.entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.
Relativamente novo o tema, mas cada vez mais vem se ampliando, haja vista
que foi introduzido, no ordenamento jurídico, por intermédio da promulgação
da lei no 9.983/2000.
O crime de apropriação indébita previdenciária está previsto no Art. 168-A do
Código Penal, acrescentado pela referida lei, que dispõe:
capítulo 4 • 113
Art. 168-A, CP: Deixar de repassar à Previdência Social as contribuições reco-
lhidas dos contribuintes, no prazo e na forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de
I. recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à
Previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados,
a terceiros ou arrecadada do público.
II. recolher contribuições devidas à Previdência Social que tenham integrado des-
pesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços.
III. pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já
tiverem sido reembolsados à empresa pela Previdência Social.
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa
e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta informa-
ções devidas à Previdência Social, na forma definida em lei ou regulamento, antes
do inicio da ação fiscal.
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa
se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
I. tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia,
o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios.
II. o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior
àquele estabelecido pela Previdência Social, administrativamente, como sendo o
mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
O citado dispositivo tem por finalidade tutelar as fontes de custeio da pre-
vidência social e, por consequência, os benefícios a que têm direito os cidadãos
garantidos pelo sistema de seguridade social.
O crime de apropriação indébita previdenciária consiste em deixar de repassar,
à Previdência Social, as contribuições, valores a recolher dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional. É relevante destacar que o agente público só
pratica o citado crime se tal recolhimento for de sua responsabilidade, haja vista
que, se a contribuição não for retida do empregado, não existirá crime.
O objeto material do crime é a contribuição social que já foi recolhido, mas
não foi repassada ao sistema previdenciário dentro do prazo legal ou convencional.
O sujeito ativo é a pessoa responsável por repassar a contribuição recolhida ao
sistema previdenciário e o sujeito passivo é o Estado, representado pelo Instituto
do Seguro Social – INSS.
capítulo 4 • 114
A consumação do delito se verifica com o decurso do prazo para o repasse,
haja vista ser tratar de crime doloso e para sua configuração basta o dolo genérico,
sendo desnecessária a intenção específica da locupletação.
Não se admite tentativa do crime de apropriação indébita previdenciária, eis
que é um crime próprio omissivo.
Os tribunais superiores firmaram entendimento de que, em relação aos cri-
mes de natureza fiscal ou equiparados, a ação penal somente pode ser ajuizada
após haver se esgotado os trâmites administrativos, ou seja, após o lançamento
definitivo é que a denúncia pode ser oferecida. Antes disso, não tem início o lap-
so prescricional.
Assim, a consumação do crime ocorre na data do término do prazo conven-
cional ou legal do repasse ou recolhimento das contribuições devidas ou do pa-
gamento do benefício devido a reembolsado ou segurado ao estabelecimento pela
Previdência Social.
É relevante assinalar que, não há de se falar em prisão por dívida quando
configurado o crime de apropriação indébita previdenciária, e sim na prisão cri-
minal em regime de reclusão. A competência para processar e julgar, é da Justiça
Federal. A ação é pública incondicionada, com representação do Ministério
Público Federal.
Figuras equiparadas
capítulo 4 • 115
destinado à previdência e não o recolhe. No caso dos crimes desse inciso, o sujeito
ativo é o empresário individual, o administrador da empresa, o empregador etc.
O inciso II tem incidência quando no preço final do produto ou serviço está
inserido o valor das contribuições devidas e estas após contabilizadas, não são
recolhidas para o INSS.
Na hipótese do inciso III, a empresa deve ter sido reembolsada pela Previdência
Social e não ter pagado no prazo, o benefício ao segurado. Citando como exemplo,
o que ocorre com o salário-família reembolsado à empresa pela Previdência Social.
Extinção da punibilidade
capítulo 4 • 116
Perdão judicial e privilégio
capítulo 4 • 117
ATIVIDADES
01. Na apropriação indébita previdenciária, se o valor das contribuições devidas, inclusive
acessórios, for igual ou inferior àquele estabelecido pela Previdência Social, administrativa-
mente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais, é facultado ao
juiz, na hipótese de o agente ser primário e de bons antecedentes
a) substituir a pena de reclusão pela de detenção.
b) reduzir de metade o valor do dia-multa.
c) reduzir a pena privativa de liberdade de 1/3 a 2/3.
d) aplicar somente a pena de multa.
e) considerar o fato como circunstância atenuante e fixar a pena abaixo do mínimo legal.
02. Leonardo encontra uma cédula de R$ 50,00 sob a poltrona da sala da casa de seu ami-
go Fausto, lugar que habitualmente frequenta e, sem que o dono da casa perceba, dela se
apodera. Diante do caso hipotético apresentado, Leonardo pratica o crime de
a) apropriação de coisa achada. d) furto simples.
b) furto qualificado. e) apropriação indébita.
c) estelionato.
04. Alcides, administrador de um cemitério, percebendo que, depois de uma chuva torren-
cial, ossos anteriormente sepultados em uma cova rasa ficaram expostos, decide levar para
sua casa o crânio que compunha aquele esqueleto. Assinale a alternativa que corretamente
indica a subsunção de seu comportamento à norma penal.
a) Conduta atípica c) Apropriação indébita e) Vilipêndio a cadáver
b) Subtração de cadáver d) Furto
capítulo 4 • 118
05. Após a leitura das alternativas a seguir, que contém alguns dos crimes contra o patrimô-
nio previstos no Código Penal Brasileiro, identifique a(s) afirmações correta(s).
I. Extorsão: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de
obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou
deixar de fazer alguma coisa.
II. Extorsão indireta: solicitar, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém,
documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro.
III. Extorsão mediante sequestro: sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate.
IV. Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza: apropriar-se
alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por descuido, ou em força da natureza.
Assinale a alternativa correta.
a) As assertivas I e IV estão corretas.
b) As assertivas I, II e III estão corretas.
c) Apenas a assertiva III está correta.
d) Apenas as assertivas I e III estão corretas.
06. Lucas é empregador dos trabalhadores Manuel, Francisco e Pedro em sua fazenda na
zona rural.
Analise as três situações apresentadas.
I. Lucas retém a carteira de identidade de Manuel, único documento deste, impedindo que
deixe o local de trabalho.
II. Lucas autoriza que Francisco gaste apenas 15 minutos todo dia para horário de almoço,
de modo que Francisco somente pode comprar uma refeição na pequena cantina de Lucas
que funciona dentro da fazenda. Em razão dos altos preços dos produtos, Francisco contrai
dívida alta e é impedido de deixar a fazenda antes do pagamento dos valores devidos.
III. Lucas instala diversas câmeras e outros mecanismos de vigilância ostensiva na fazenda
com o fim de reter Pedro em seu local de trabalho.
Considerando as situações apresentadas, o comportamento de Lucas em relação a Ma-
nuel, Francisco e Pedro configura, respectivamente, o(s) crime(s) de
a) redução à condição análoga à de escravo, nas três situações.
b) redução à condição análoga à de escravo, exercício arbitrário das próprias razões e
redução à condição análoga à de escravo.
c) apropriação indébita, redução à condição análoga à de escravo e redução à condição
análoga à de escravo.
capítulo 4 • 119
d) cárcere privado, exercício arbitrário das próprias razões e redução à condição análoga
à de escravo.
e) redução à condição análoga à de escravo, redução à condição análoga à de escravo e
constrangimento ilegal.
08. A fim de subtrair pertences de Bartolomeu, Marinalda coloca barbitúricos em sua bebida,
fazendo-o desfalecer. Em seguida, a mulher efetiva a subtração e deixa o local, sendo certo
que o lesado somente vem acordar algumas horas depois. Nesse contexto, é correto afirmar
que Marinalda praticou crime de
a) estelionato. c) roubo. e) furto qualificado.
b) extorsão. d) apropriação indébita.
09. Lucius, funcionário público, escrevente de cartório de secretaria de Vara Criminal, apro-
priou-se de um relógio valioso que foi remetido ao Fórum juntamente com os autos do inqué-
rito policial no qual foi objeto de apreensão. Lucius cometeu crime de
a) apropriação de coisa achada.
b) apropriação indébita simples.
c) apropriação indébita qualificada pelo recebimento da coisa em razão de ofício, emprego
ou profissão.
d) apropriação de coisa havida por erro.
e) peculato.
capítulo 4 • 120
10. Placídio achou na rua um cartão de crédito e o utilizou para efetuar compras de roupas
finas em um estabelecimento comercial. Essa conduta caracterizou o crime de
a) apropriação de coisa achada. d) extorsão simples.
b) furto qualificado pela fraude. e) receptação.
c) estelionato.
11. Brutus, no interior de uma loja, a pretexto de adquirir roupas, solicitou ao vendedor vários
modelos para experimentar, mas, no interior do provador, escondeu uma das peças dentro de
suas vestes, devolveu as demais e deixou o local. Brutus cometeu crime de
a) apropriação de coisa achada. d) extorsão simples.
b) furto qualificado pela fraude. e) receptação.
c) estelionato.
12. Penélope, funcionária pública, recebeu doações de roupas feitas para a Secretaria de
Assistência Social, local em que exercia as suas funções, destinadas a campanha de solida-
riedade, para serem distribuídas a pessoas pobres. De posse dessas mercadorias, apropriou-
se de várias peças. Nesse caso, Penélope
a) cometeu crime de apropriação indébita simples.
b) cometeu crime de peculato doloso.
c) cometeu crime de apropriação indébita qualificada pelo recebimento da coisa em razão
de ofício, emprego ou profissão.
d) cometeu crime de peculato culposo.
e) não cometeu delito por tratar-se de bens recebidos em doação.
14. Pretendendo subtrair bens do escritório onde exerce a função de secretária particular
do diretor, Júlia ingressa no respectivo imóvel arrombando a janela. Júlia é auxiliada por seu
irmão Luiz, a quem coube a função de permanecer de vigília na porta. Ao escutar um barulho
que a faz acreditar existir alguém no escritório, Júlia foge, deixando no local seu comparsa,
que vem a ser preso por policiais. Aponte o(s) delito(s) perpetrado(s) por Júlia e Luiz.
a) Ela responderá por tentativa de furto qualificado e ele, pelo delito consumado.
b) Trata-se de desistência voluntária, não havendo qualquer delito a ser imputado.
c) Ambos respondem por violação de domicílio.
d) Júlia responde por invasão de domicílio e Luiz por tentativa de furto.
capítulo 4 • 121
15. Um funcionário de uma empresa particular utiliza, para o desempenho das atribuições do
seu cargo, um bem pertencente ao acervo patrimonial de sua instituição. Após a jornada de
trabalho, ele se apodera do bem em questão. Essa situação caracteriza um crime de
a) peculato.
b) estelionato.
c) furto qualificado
d) apropriação indébita com a pena acrescida de 1/3, por ter o agente recebido a coisa em
razão de ofício, emprego ou profissão.
16. Tício, fazendeiro, encontra em sua propriedade animais que sabe serem do vizinho e, ao
invés de devolvê-los, vende-os como seus, comete o delito de
a) receptação. c) apropriação indébita.
b) furto. d) apropriação de coisa havida por erro.
JURISPRUDÊNCIA
TJ-DF – APELAÇÃO CRIMINAL APR 20140410068873 (TJ-DF)
RELATOR: SANDOVAL PEREIRA
Data do Julgamento: 25/2/2016
Data de publicação: 29/2/2016
capítulo 4 • 122
EMENTA: HABEAS CORPUS. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA. SEMILIBERDADE. SUBS-
TITUIÇÃO. LIBERDADE ASSISTIDA. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO CRIME DE
ROUBO. VEDAÇÃO. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA.
1. Não se revela adequada a substituição da medida socioeducativa de semiliberdade pela
liberdade a reeducando que praticou ato infracional equiparado ao crime de roubo, apresenta
personalidade agressiva e faz uso constante de drogas.
2. Ordem denegada.
capítulo 4 • 123
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIMES
CONTRA O PATRIMÔNIO. ROUBO CONSUMADO. ART. 157, DO CP. DESCLASSIFICAÇÃO
PARA O DELITO DE FURTO. INVIABILIDADE. REEXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBA-
TÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA 7/STJ. MOMENTO DA CONSUMA-
ÇÃO. SIMPLES POSSE. TENTATIVA. NÃO CABIMENTO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRI-
VATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. NÃO PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS LEGAIS. ART. 44, DO CP . AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A alteração das conclusões do acórdão recorrido exige reapreciação do acervo fático
-probatório da demanda, o que faz incidir o óbice da Súmula 7, STJ.
2. Prevalece nesta Corte a orientação de que o delito de roubo, assim como o de furto, fica
consumado com a simples posse, ainda que breve, da coisa alheia, mesmo que haja imediata
perseguição do agente, não sendo necessário que o objeto do crime saia da esfera de vigi-
lância da vítima. Precedentes.
3. Inviável a concessão de substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de
direitos, considerando o não preenchimento dos requisitos previstos no Art. 44, do CP.
4. Agravo regimental não provido.
capítulo 4 • 124
EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. CONDENAÇÃO. Art. 158, § 1o, do CP. O Réu, no
interior de um táxi, no intuito de não pagar pelo serviço e na posse de arma branca “prego”
– ameaçou o taxista aproximando o instrumento ao seu pescoço, logrando ferir o braço da
vítima. Laudo pericial comprovando a lesão. Provas consistentes para se manter a condena-
ção. Vítima descreve com detalhes a dinâmica do evento e reconhece o apelante. Palavra da
vítima apta a ensejar o edito repressivo. Crime de extorsão consumado, eis que sendo crime
formal caracteriza-se com o constrangimento efetuado. O réu deixou de pagar a corrida, ob-
tendo vantagem econômica indevida. Descabimento do afastamento da causa de aumento
referente ao emprego de arma, eis que qualquer instrumento vulnerante que sirva para au-
mentar o poder de ataque do agente, mesmo que sendo arma imprópria, é considerado para
aumento da pena por força do § 1o, do Art. 158, do CP. Dosimetria reduzida para adequar aos
parâmetros da proporcionalidade, entre eles, a minoração do percentual aplicado pela rein-
cidência. Não há que se falar em bis in idem, na medida em que os acréscimos procedidos
foram feitos com base em condenações distintas. Provimento em parte do recurso defensivo.
Unânime.
capítulo 4 • 125
4. Conforme entendimento desta Corte, não há continuidade delitiva entre os delitos de
roubo e extorsão, porque de espécies diferentes.
5. Hipótese em que o Juiz a quo reconheceu a consumação do crime, assentando "a reti-
rada da res furtiva e da esfera de disponibilidade de seu titular", sendo inviável alterar tal con-
clusão nesta via estreita. E esta Corte entende que, para a consumação do crime de roubo, é
prescindível a posse mansa e pacífica dos bens. Quanto ao crime de extorsão, foi ressaltada
sua natureza formal, tese não impugnada pela Defesa.
6. Writ não conhecido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código penal em exemplos práticos. 5. ed. Florianópolis:
OAB/SC, 2006.
BATISTA, Weber Martins. O furto e o roubo no direito e no processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1995.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. v. 3, 7. ed. São Paulo: Saraiva 2011.
DUTRA, Mário Hoeppner. O furto e o roubo. São Paulo: Max Limonad, 1955.
FRANCO, Alberto Silva. Dos crimes contra o patrimônio. In: Código penal e sua interpretação
jurisprudencial. 7. ed. Coordenadores: Alberto Silva Franco e Rui Stoco. São Paulo: RT, 2001.
GRACIA MARTIN, Luis. O horizonte do finalismo e o direito penal do inimigo. Tradução: Luiz
Regis Prado e Érika Mendes de Carvalho. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 14. ed. rev. atual e ampl. Rio de Janeiro:
Forense, 2014.
MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis; SAAD, Marta. Dos crimes contra o patrimônio. In: Código
penal e sua interpretação – doutrina e jurisprudência, 8. ed., coordenação de Alberto Silva Franco e
Rui Stoco. São Paulo: RT, 2007.
SANTOS, Marisa Ferreira. Direito Previdenciário esquematizado. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. La expansión del derecho penal: Aspectos de la política criminal en
las sociedades postindustriales. Madrid: Cuadernos Civitas, 1999.
VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Previdência Social: Custeio e benefícios. 2. ed. São Paulo: LTr, 2008.
capítulo 4 • 126
CINE CONHECIMENTO
Wall Street: poder e cobiça – 1987
Sinopse: Nova York, 1985. Bud Fox (Charlie Sheen)
é um jovem e ambicioso corretor que trabalha no mercado
de ações. Após várias tentativas ele consegue falar com
Gordon Gekko (Michael Douglas), um inescrupuloso bilio-
nário. Durante a conversa, Bud sente que precisa dar al-
guma dica muito quente para ter a atenção de Gekko e
então lhe fala o que seu pai, Carl Fox (Martin Sheen), um
líder sindical, tinha lhe dito, que a Bluestar, a companhia aé-
rea para a qual trabalha, ganhou um importante processo.
Esta informação não foi ainda divulgada oficialmente, mas
quando isto acontecer as ações terão uma significativa
alta. Gekko o adota como discípulo e logo Bud trabalha se-
cretamente para Gekko, abandonando qualquer escrúpulo,
ética e meios lícitos, pois só quer enriquecer. Bud obtém
sucesso, o que faz seu padrão de vida mudar. Além disso se
envolve Darien Taylor (Daryl Hannah), uma decoradora em
ascensão, mas se os ganhos são bem maiores, os riscos
também são.
capítulo 4 • 127
Margin Call – O dia antes do fim – 2011
Sinopse: Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Breg-
man (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) traba-
lham no setor de riscos em uma corretora, que está rea-
lizando uma série de demissões. Cerca de 80% do setor
em que trabalham foi demitido, entre eles o chefe do trio,
Eric Dale (Stanley Tucci). Ao pegar o elevador Eric entrega
a Peter um pen drive, que contém algo em que estava tra-
balhando no momento. O alerta para que tomasse cuidado
com o conteúdo chama a atenção de Peter, que fica após
o horário de trabalho para dar uma olhada no arquivo. Logo
ele descobre que se trata de uma análise da volatilidade da
empresa, que indica que há duas semanas ela ultrapassou
e muito o limite de risco o qual pode correr. Desta forma a
empresa está prestes a falir, o que provoca uma reunião de
emergência com diversos setores da empresa, entre eles
seu dono, o acionista John Tuld (Jeremy Irons).
ANEXOS
LEGISLAÇÃO
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
capítulo 4 • 128
I. homicídio (Art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda
que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (Art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, VI
e VII); (Redação dada pela lei no 13.142, de 2015) .
I. A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (Art. 129, § 2o) e lesão corporal se-
guida de morte (Art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos
Arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Na-
cional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição;
(Incluído pela lei no 13.142, de 2015)
II. latrocínio (Art. 157, § 3o, in fine); (Inciso incluído pela lei no 8.930, de 1994)
III. extorsão qualificada pela morte (Art. 158, § 2o); (Inciso incluído pela lei no 8.930,
de 1994)
IV. extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (Art. 159, caput, e §§ 1o, 2o e 3o);
(Inciso incluído pela lei no 8.930, de 1994).
V. estupro (Art. 213, caput e §§ 1o e 2o); (Redação dada pela lei no 12.015, de 2009)
VI. estupro de vulnerável (Art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); (Redação dada pela lei no
12.015, de 2009)
VII. epidemia com resultado morte (Art. 267, § 1o). (Inciso incluído pela lei no 8.930, de 1994)
VII. A – (VETADO) (Inciso incluído pela lei no 9.695, de 1998)
VII. B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins tera-
pêuticos ou medicinais (Art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela lei
no 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela lei no 9.695, de 1998)
VIII. favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou
adolescente ou de vulnerável (Art. 218-B, caput, e §§ 1o e 2o). (Incluído pela lei no 12.978,
de 2014)
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos o crime de genocídio previsto nos
Arts. 1o, 2o e 3o da lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, e o de posse ou porte ilegal de
arma de fogo de uso restrito, previsto no Art. 16 da lei no 10.826, de 22 de dezembro de
2003, todos tentados ou consumados. (Redação dada pela lei no 13.497, de 2017)
Art. 2o Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
gas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I. anistia, graça e indulto;
II. fiança. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fecha-
do. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
capítulo 4 • 129
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo,
dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de
3/5 (três quintos), se reincidente. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu
poderá apelar em liberdade. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989,
nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual perío-
do em caso de extrema e comprovada necessidade. (Incluído pela lei no 11.464, de 2007)
Art. 3o A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao
cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em
presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública.
Art. 4o (Vetado).
Art. 5o Ao Art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte inciso:
Art. 83. ..............................................................
........................................................................
V. cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo,
prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado
não for reincidente específico em crimes dessa natureza
Art. 6o Os Arts. 157, § 3o; 159, caput e seus §§ 1o, 2o e 3o; 213; 214; 223, caput e seu
parágrafo único; 267, caput e 270; caput, todos do Código Penal, passam a vigorar com a
seguinte redação:
Art. 157. .............................................................
§ 3o Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de cinco a quin-
ze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo
da multa.
........................................................................
Art. 159. ...............................................................
Pena – reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1o .................................................................
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2o .................................................................
Pena – reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3o .................................................................
Pena – reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
........................................................................
capítulo 4 • 130
Art. 213. ...............................................................
Pena – reclusão, de seis a dez anos.
Art. 214. ...............................................................
Pena – reclusão, de seis a dez anos.
........................................................................
Art. 223. ...............................................................
Pena – reclusão, de oito a doze anos.
Parágrafo único. ........................................................
Pena – reclusão, de doze a vinte e cinco anos.
........................................................................
Art. 267. ...............................................................
Pena – reclusão, de dez a quinze anos.
........................................................................
Art. 270. ...............................................................
Pena – reclusão, de dez a quinze anos.
.......................................................................
Art. 7o ao Art. 159 do Código Penal fica acrescido o seguinte parágrafo:
Art. 159. ..............................................................
........................................................................
§ 4o Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o coautor que denunciá-lo à auto-
ridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.
Art. 8oo Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no Art. 288 do Código Penal,
quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou
quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.
Art. o As penas fixadas no Art. 6o para os crimes capitulados nos Arts. 157, § 3o, 158, § 2o,
159, caput e seus §§ 1o, 2o e 3o, 213, caput e sua combinação com o Art. 223, caput e pará-
grafo único, 214 e sua combinação com o Art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código
Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão,
estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no Art. 224 também do Código Penal.
Art. 10. O Art. 35 da lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, passa a vigorar acrescido
de parágrafo único, com a seguinte redação:
capítulo 4 • 131
Art. 35. ................................................................
Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste capítulo serão contados em dobro
quando se tratar dos crimes previstos nos Arts. 12, 13 e 14
Art. 11. (Vetado).
Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.
FERNANDO COLLOR
Bernardo Cabral
capítulo 4 • 132
5
Crimes de
estelionato e
receptação -
Disposições gerais
Crimes de estelionato e receptação -
Disposições gerais
Introdução
capítulo 5 • 134
O crime de receptação, disposto no artigo. Art. 180 do Código Penal, consiste
em receber a coisa, em proveito próprio ou alheio, tendo a ciência de sua origem
ilícita. Isso é o que a doutrina diz ser um desdobramento ou consequência de um
crime anterior, ou seja, pelo bem próprio ou alheio, caracterizando a receptação.
OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é estudar o crime de estelionato e suas subespécies, anali-
sando as diversas condutas que se amoldam a mais de um tipo penal, criando uma imensa
discussão doutrinária e jurisprudencial acerca de qual dos tipos penais se aplicará àquela
conduta. Isso ocorre devido à semelhança entre os tipos penais, que abrangem ou deixam de
abranger condutas distintas por ocasião de sua redação.
O artigo 171 do Código Penal tutela o patrimônio.
O crime de estelionato é caracterizado pelo emprego de fraude, haja vista que o agente
consegue ludibriar a vítima, utilizando-se de algum artifício e convencendo-a a entregar-lhe
algum bem para, no ato seguinte, locupletar-se de forma ilícita com tal bem.
O golpista emprega artifício, ardil ou qualquer outra fraude, ao inicia a execução
do estelionato.
O artifício se constata quando, para ludibriar a vítima, o agente utiliza algum objeto para
facilitá-lo a enganar. Por exemplo, no caso do conto do bilhete premiado, o agente engana a
vítima com um falso bilhete. O meio engenhoso também pode consistir em efeitos especiais
e disfarces.
O agente ludibria a vítima com mentiras verbais, sendo o ardil, a conversa enganosa,
como por exemplo, sabendo que um computador deve ser retirado em determinado local por
alguém denominado Francisco, o agente aparece antes por alguns minutos, ilude chamar-se
Francisco, pega o computador e se retira com ele.
No que se refere à expressão outro meio fraudulento é uma fórmula genérica, que se
acha inserida no tipo penal para incluir qualquer outro meio capaz de ludibriar o sujeito pas-
sivo, podendo citar como exemplo, o silêncio.
Ressalva o Artigo 61, da Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal, que,
quando malicioso ou intencional, acerca do preexistente erro da vítima, o próprio silêncio,
constitui meio fraudulento característico do estelionato. Destarte, se de forma espontânea a
vítima incide em erro e, por tal, está propícia a entregar um bem ou valor ao agente, e este,
antes de recebê-lo, nota o engano e silencia, para que a entrega se viabilize e ele obtenha
vantagem, responde por estelionato. Neste caso, o agente manteve a vítima em erro por meio
de fraude, ou seja, do silêncio. Assim, percebe-se que a fraude determinante do estelionato
pode resumir em uma omissão.
capítulo 5 • 135
É preciso, de conformidade com o tipo penal do estelionato, que o agente ao empregar o
artifício, ardil ou outra fraude, tenha por escopo induzir ou manter o sujeito passivo em erro.
No primeiro caso, é o agente quem toma a iniciativa de procurar a vítima para enganá-la. Ao
passo que, no segundo caso, ela de maneira espontânea incorre em erro com referência a
determinada situação, e o agente, ao notar tal engano, a mantém nesse estado.
Consumação e tentativa
O estelionato é crime material, haja vista a forma como o Art. 171 do Código
Penal está redigido, não permitindo conclusão diversa, haja vista que o crime só
se consuma quando o agente efetivamente obtém a vantagem ilícita desejada.
Ressalte-se que o estelionato pressupõe resultado duplo, quais sejam o prejuízo da
vítima e a vantagem do agente.
É possível a tentativa de estelionato em várias fases do crime, desde que o
agente já tenha iniciado a execução do delito e ainda não tenha obtido a vantagem
almejada.
a) O agente utiliza a fraude, mas não consegue ludibriar a vítima. É necessário,
nesse caso, que o meio fraudulento não seja ineficaz.
b) O agente emprega a fraude, ilude a vítima, porém ela acaba não entregando
os bens ou valores a ele. Pode-se citar como exemplo, no instante em que a vítima
enganada iria efetuar a entrega, surge outra pessoa e a alerta sobre o golpe, evitan-
do que se realize a entrega.
c) O agente usa a fraude, engana a vítima, ela entrega os bens ou valores, não
obstante estes não chegam ao agente, que, assim, não obtém a vantagem preten-
dida. O exemplo é o caso da vítima iludida e convencida a enviar algum bem ao
agente, pelo correio ou por transportadora, e no trajeto o bem desaparece.
O sujeito ativo do crime de estelionato tanto pode ser aquele que emprega a
fraude como o que dolosamente recebe a vantagem indevida.
Para a existência do crime, é preciso que o agente tenha como escopo o pro-
veito próprio ou alheio.
O sujeito passivo do crime de estelionato é aquele que sofre o prejuízo patri-
monial, bem como todos os que forem enganados pela fraude cometida, mesmo
capítulo 5 • 136
que não sejam prejudicados economicamente. Portanto, é possível que o agente
iluda uma pessoa e esta entregue bem pertencente à outra, caso em que ambas são
vítimas de um único estelionato. As pessoas jurídicas podem também ser sujeito
passivo do crime de estelionato na condição de economicamente prejudicadas
pelo golpe.
CONCEITO
Estelionato:
Receber vantagem ilegal, enganando outra pessoa e lhe causando prejuízo. Ex.: empresa
que cobra pelo serviço sabendo que não vai prestá-lo.
capítulo 5 • 137
a) Estelionato e Furto de Energia – segundo a conduta, a doutrina tem feito a
seguinte distinção. O crime praticado é o de furto, se o agente obtém de forma
clandestina a energia da rede pública ou do vizinho, tenha havido desvio total ou
fraude no aparelho, para que o consumo seja registrado a menor, enquanto ocorre
o consumo.
b) O crime é o de estelionato, se o consumo ocorre de forma normal e é regis-
trado no medidor regularmente e, depois, o agente adultera o medidor para que o
valor da conta diminua.
• Estelionato, Tráfico de Influência e Exploração de Prestígio – segundo o
Art. 332, do Código Penal, no tráfico de influência a fraude consiste em o agente
contar à vítima que tem influência sobre certo funcionário público e pedir-lhe
dinheiro sob o pretexto de influenciar o mencionado funcionário no desempenho
de suas funções, para fins de ajudar a vítima.
• No crime de exploração de prestígio, disposto no Art. 357 do Código Penal,
a conduta é semelhante, porém o agente indica com precisão que sua influência
será exercida sobre o juiz, jurado, órgão do Ministério Público, perito, tradutor,
intérprete ou testemunha.
Estelionato e falsificação de documento – está tipificada como crime disposto
nos Artigos 297 a 299 do Código Penal, a falsificação de documento, público ou
particular. Não obstante, é bastante comum, que a falsificação do documento
tenha por finalidade enganar a vítima para possibilitar um golpe, conforme se ve-
rifica com a falsificação de cheque alheio. Há casos em que os golpistas falsificam
as próprias folhas do cheque, em gráficas. Outros alteram para mais o valor de
cheques recebidos, já preenchidos e assinados pelo titular da conta e, depois, de-
positam ou sacam o valor do cheque ou fazem uso dele para compras, ocasionando
ao emitente prejuízo. Atualmente, em razão da Súmula 17 do Superior Tribunal
de Justiça, o entendimento adotado é de que o agente responde apenas por este-
lionato, haja vista que o crime de falsificação de documento fica absorvido por ser
crime-meio, segundo o princípio da consunção.
Súmula 17, STJ – “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais poten-
cialidade lesiva, é por este absorvido”.
De conformidade com a súmula, quando o agente adultera um cheque alheio
e ludibria o vendedor de uma loja, fazendo-se passar pelo correntista, só responde
pelo estelionato em virtude de que, o cheque foi entregue ao vendedor, e o golpista
não pode mais usá-lo. Não obstante, se o agente também tivesse falsificado um
capítulo 5 • 138
documento de identidade para apresentá-lo ao vendedor por ocasião da compra
com o cheque falso, ele responderia por dois crimes, quais sejam o de estelionato
e o de falsificação de documento de identidade. Isso porque o documento per-
manece com o agente após a prática do estelionato, subsistindo, desta forma, a
potencialidade lesiva mencionada na súmula.
Consequências do privilégio
O parágrafo segundo, do Art. 171 do Código Penal descreve uma série de sub-
tipos de estelionato que possuem a mesma pena da figura fundamental do caput
do mencionado artigo.
capítulo 5 • 139
Art. 171, § 2o, CP – Nas mesmas penas incorre quem:
I vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia
como própria.
A diferenciação principal é que, por ser genérica, a figura fundamental é sub-
sidiária em relação ás demais.
Nesse crime, o agente se passa por dono de certo bem, seja móvel ou imóvel,
e o negocia com terceiro de boa-fé sem que, para tanto, tenha autorização do pro-
prietário, acarretando desta forma prejuízo ao comprador.
O crime se consuma no momento em que o agente recebe o preço. Em se tra-
tando de locação, a consumação se verifica com o recebimento do valor do aluguel.
É possível a tentativa.
Trata-se de crime comum.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o sujeito passivo é quem adquire,
aluga ou recebe o bem em garantia desconhecendo que não pertence ao agente.
No caso concreto, se este entregar o bem que vendeu ou alugou sem que seja o seu
dono, será também sujeito passivo o dono da coisa. Podemos citar como exemplo,
o caso de um caseiro de imóvel de campo, que, sabendo que os donos ficarão um
período sem ir ao local, identifica-se como dono e vende o imóvel a terceiro, entre-
gando-lhe as chaves e, em seguida, toma rumo ignorado. Os compradores durante
um tempo usam o imóvel até que os donos verdadeiros aparecem e descobrem
o sucedido, ingressando com ação para reaver a posse do imóvel. Assim, tanto o
comprador como o dono foram vítimas do crime.
Trata-se de crime de ação vinculada, haja vista que o tipo penal, de forma taxa-
tiva, relaciona os modos de execução, quais sejam, venda, permuta, locação, dação
em pagamento ou em garantia, inadmitindo ampliação por analogia.
capítulo 5 • 140
No crime em análise, o objeto pertence ao agente, não obstante está gravado
de cláusula de inalienabilidade ou de ônus, ou cuida-se de coisa litigiosa ou de
imóvel que o agente prometeu vender de forma parcelada a outrem. O objeto ma-
terial, somente na última figura, deve ser necessariamente coisa imóvel, tendo em
vista a expressa disposição legal. Nas outras, pode ser móvel ou imóvel.
Não haverá crime se o agente realizar o negócio depois de dar ciência à outra
parte acerca das circunstâncias que envolvem o bem, haja vista que o tipo penal
esclarece que, a exclusão só se verifica quando a parte informa a outra a esse res-
peito, de forma expressa.
Coisa inalienável é aquela que não pode ser vendida em razão de determina-
ção legal, convenção ou disposição testamentária e coisa gravada de ônus é aquela
sobre a qual pesa um direito real em virtude de cláusula contratual ou disposição
legal. Por exemplo, é o caso da hipoteca e da anticrese.
Considera-se bem litigioso aquele objeto de discussão judicial, ou seja, usuca-
pião contestado, reivindicação etc.
Defraudação do penhor
capítulo 5 • 141
É precisamente nessas hipóteses que pode ocorrer o crime de defraudação do
penhor, ou seja, quando o devedor está em poder do bem empenhado e o vende,
permuta, doa, ou de alguma outra forma inviabiliza como garantia de dívida, quer
destruindo-o, ocultando-o, inutilizando-o, consumindo-o etc.
O sujeito ativo é apenas o devedor que tem a posse do bem empenhado. Trata-
se de crime próprio e o sujeito passivo é o credor que, com a defraudação, fica sem
a garantia de sua dívida.
O crime se consuma no momento da defraudação, mesmo que depois, o agen-
te seja obrigado mediante ação judicial ao pagamento. É possível a tentativa.
capítulo 5 • 142
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
capítulo 5 • 143
Fraude no pagamento por meio de cheque
capítulo 5 • 144
c) Sustação do cheque antes de sua emissão – a fraude é anterior à própria emis-
são do cheque.
d) Emissão de cheques que estavam ainda em poder do agente, porém pertinen-
tes a conta corrente já encerrada.
O sujeito ativo é o titular da conta corrente do cheque emitido e o sujeito
passivo é aquele que sofre o prejuízo em virtude da recusa de pagamento por parte
do banco sacado.
capítulo 5 • 145
Art. 171, § 4o, CP – Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido con-
tra idoso.
A lei no 13.228/2015 acrescentou uma causa de aumento de pena no Art. 171,
§ 4 do Código Penal, tendo recebido a denominação “estelionato contra idoso”.
o
capítulo 5 • 146
Figura 5.1 – Disponível em: <www.entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.
Receptação
A receptação está tratada no Art. 180 do Código Penal, sendo do Título dos
Crimes contra o Patrimônio, delito dos mais importantes, tendo como modalida-
des a dolosa e a culposa.
capítulo 5 • 147
Art. 180, caput, 1a parte, CP – Adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou
influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: Pena - reclusão, de
um a quatro anos, e multa.
A receptação dolosa tem as seguintes formas:
a) Simples – pode ser própria: se incrimina a conduta do receptador.
O agente que adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar coisa que sabe
ser produto de crime; ou imprópria: incrimina-se a conduta do intermediário.
O agente que influir para que terceiro de boa fé adquira, receba ou oculte
coisa que sabe ser produto de crime. O terceiro deve agir de boa-fé, do contrário,
responderá por receptação, assim também o intermediário.
b) Qualificada.
c) Agravada.
d) Privilegiada.
Receptação própria
capítulo 5 • 148
Não constitui receptação o fato de pegar carona em carro que se tem ciência
de ser roubado, haja vista que a conduta do caronista não se amolda em qualquer
das figuras enumeradas no Art. 180 do Código Penal.
c) Transportar – carregar um objeto de um lugar para outro. Por exemplo, o
caso do motorista que transporta carga roubada.
d) Conduzir – dirigir veículo de origem ilícita.
e) Ocultar – encobrir, dispor o objeto em lugar que não seja percebido pe-
las pessoas.
Tipo subjetivo
Nas condutas incriminadas no caput do Art. 180 do Código Penal deve haver
dolo direto, haja vista que o legislador exigiu que o agente tivesse conhecimento
da origem espúria da coisa.
O entendimento da maioria dos doutrinadores é de que existe apenas recep-
tação quando o agente tem o conhecimento da origem ilícita do bem no instante
em que pratica a conduta típica. Assim, se uma pessoa adquire um objeto desco-
nhecendo a sua origem e, depois de estar na posse, vem a conhecer a procedência
criminosa e o mantém em seu poder, não responde por receptação.
Na realidade esse entendimento é decorrente da própria redação do Art. 180,
caput, do Código Penal, eis que, o fato é atípico, se o agente após tomar ciência
da origem, não adquiriu, recebeu, ocultou, conduziu ou transportou o bem. Não
obstante, estará caracterizada a receptação, se, após a ciência, o agente praticar
nova conduta típica.
Objeto material
capítulo 5 • 149
O preço do crime igualmente não pode ser objeto material de receptação.
Podemos citar como exemplo, o veículo adquirido de forma regular por alguém e
entregue a um criminoso como pagamento pelo assassinato combinado entre eles.
O veículo recebido é o preço, e não o produto do homicídio.
O Art. 1o da lei no 9613/98, que trata dos crimes de lavagem de dinheiro, foi
alterado pela Lei no 12.683/2012, e passou a punir com pena de reclusão, de três a
dez anos, e multa, quem ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, dis-
posição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
direta ou indiretamente, de infração penal. Entretanto, neste crime, presume-se a
intenção específica de dissimular a origem dos bens ou valores e lhes dar, de forma
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fraudulenta, o aspecto lícito, com a finalidade de serem novamente introduzidos
na economia formal, condições que não existentes na receptação.
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Receptação de semovente domesticável de produção
Receptação privilegiada
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Disposições gerais
Art. 181 – É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste
título, em prejuízo:
I. do cônjuge, na constância da sociedade conjugal.
II. de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja
civil ou natural.
O legislador, visando manter a unidade da família, tornou o fato impunível,
entretanto, não deixa de ser crime,só não se aplicará qualquer pena.
Se o crime ocorrer antes da união ou após o seu término, não há isenção de
pena. Não existe grau de limitação para os parentes em linha reta.
É irrelevante o regime de bens do casamento. A imunidade objetiva evitar
constrangimentos às pessoas casadas e à situação patrimonial decorrente do casa-
mento não tem qualquer relação.
Ressalte-se que, a separação de fato não exclui a imunidade, haja vista que
subsiste a sociedade conjugal.
É inconteste que, apesar de ser taxativa a enumeração legal, a escusa absolu-
tória também alcança os companheiros por fatos ocorridos durante a convivência
comum, face o reconhecimento da união estável como entidade familiar, prevista
no Art. 226, § 3o da Constituição Federal. Nesses casos haverá aplicação de ana-
logia in bonam partem.
A imunidade não se aplica ao parentesco por afinidade, ou seja, sogro ou so-
gra, genro ou nora etc.
As imunidades absolutas têm como resultado a total isenção de pena para o
autor da infração penal. As hipóteses analisadas são excludentes de punibilidade e,
portanto, não são extintivas da punibilidade. As imunidades só têm valor para os
crimes contra o patrimônio.
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Imunidades relativas
Exceções
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impliquem violência contra pessoa ou grave ameaça, como o caso de dano qua-
lificado, disposto no Art. 163, parágrafo único, III, do Código Penal e o esbulho
possessório, contido no Art. 161, § 1o, II, do Código Penal.
Art. 183 – Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I. se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando há emprego de
grave ameaça ou violência à pessoa.
II. ao estranho que participa do crime.
III. se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessen-
ta) anos.
Nos termos do Art. 183, inciso I, do Código Penal, as imunidades só devem
ser excluídas se o crime envolver violência contra a pessoa ou grave ameaça.
As imunidades são cabíveis no furto, na apropriação indébita e no estelionato
porque não há emprego de violência física contra a pessoa.
A ei no 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha, no Art. 7o, conceitua
violência doméstica ou familiar contra a mulher, incluindo, nos incisos I, II, III,
IV e V, para os fins de aplicação de mencionada lei, respectivamente, a violência
física, a psicológica, a sexual, a patrimonial e a moral.
Em virtude do inciso IV, do Art. 7o, da lei no 11.340/2006, fazer menção ao
patrimônio, alguns autores, de forma equivocada, interpretaram que todo crime
patrimonial cometido contra a esposa, a companheira, a filha etc., estaria excluí-
do das imunidades, mesmo que se tratasse de crimes como furto e apropriação
indébita.
Acontece que nem mesmo no texto da lei no 11.340/2006, a violência patri-
monial e violência física se confundem, pois estão diferenciados nos incisos I e IV,
da citada lei.
A Lei Maria da Penha ao dispor que existe violência patrimonial em crimes
como o furto, estabeleceu apenas que tal delito, por originar lesão patrimonial,
permite a incidência das normas de proteção à mulher, não havendo, entretanto,
extensão a dispositivos do Código Penal que não foram atingidos por ela.
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Figura 5.3 – Disponível em: <www.entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.
ATIVIDADES
01. O item a seguir, a respeito de crimes contra o patrimônio, apresenta uma situação hipoté-
tica seguida de uma assertiva a ser julgada à luz da doutrina e da jurisprudência pertinentes.
Maria não informou ao INSS o óbito de sua genitora e continuou a utilizar o cartão de be-
nefício de titularidade da falecida pelo período de dez meses. Nessa situação, Maria praticou
estelionato de natureza previdenciária, classificado, em decorrência de sua conduta, como
crime permanente, de acordo com o entendimento do STJ.
a) Certo
b) Errado
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02. Leonardo encontra uma cédula de R$ 50,00 sob a poltrona da sala da casa de seu ami-
go Fausto, lugar que habitualmente frequenta e, sem que o dono da casa perceba, dela se
apodera. Diante do caso hipotético apresentado, Leonardo pratica o crime de
a) apropriação de coisa achada. d) furto simples.
b) furto qualificado. e) apropriação indébita.
c) estelionato.
04. Depois de ter praticado a subtração de certo bem, Fulano obteve ajuda eficaz de Sicrano
para que o produto da subtração fosse escondido em lugar seguro para futura comercializa-
ção a cargo de Fulano. A conduta de Sicrano, nesse caso, em tese, configura
a) receptação dolosa. c) coautoria.
b) favorecimento pessoal. d) favorecimento real.
05. Um servidor que, durante seu expediente, receba equivocadamente de uma transporta-
dora uma encomenda que contenha um aparelho eletrônico destinado a outra pessoa que
não trabalha naquela empresa, e se aproprie desse aparelho, mesmo ciente de que tal bem
é proveniente de transação comercial legítima e não lhe pertence, responderá por crime de
receptação.
a) Certo
b) Errado
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06. Caio furta um carro e o esconde na praia da Polar. Mévio, com pleno conhecimento da
origem do carro, apodera-se dele. Mévio cometeu o crime de
a) furto, assim como Caio; d) furto qualificado;
b) apropriação indébita; e) receptação culposa.
c) receptação dolosa;
07. Sobre o crime de receptação previsto no Código Penal, assinale a alternativa incorreta.
a) Incide na receptação qualificada o sujeito que põe à venda coisa que deve saber ser
produto de crime.
b) A pena é aplicada em dobro quando se trata de bens e instalações do patrimônio da
União, estado, município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de
economia mista.
c) A receptação não é punível quando desconhecido ou isento de pena o autor do crime
de que proveio a coisa.
d) Incide no tipo quem influir para que terceiro, de boa-fé, adquira a coisa, produto de crime.
e) Incide no tipo quem influir para que terceiro, de boa-fé, oculte a coisa, produto do crime.
08. Cícero desviou energia elétrica para seu consumo, ligando os fios de entrada de sua
residência na rede elétrica da rua antes do relógio medidor do consumo. Nesse caso, ficou
caracterizado o delito de
a) furto; d) roubo;
b) estelionato; e) apropriação indébita.
c) receptação;
09. De acordo com os tipos penais previstos no Código Penal, é incorreto afirmar que
a) visando conferir maior proteção em razão da vulnerabilidade apresentada, o Código Pe-
nal determina que a pena deva ser dobrada, caso o crime de estelionato seja cometido
contra idoso.
b) exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento
que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro caracte-
riza a prática do crime denominado extorsão indireta.
c) destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia por motivo egoístico ou com prejuízo consi-
derável para a vítima constitui crime processado mediante ação penal privada.
d) Repetindo previsão específica contida no crime de furto, o legislador pátrio fez incidir no
delito de roubo uma qualificadora, caso haja subtração de veículo automotor que venha
a ser transportado para outro estado ou para o exterior.
capítulo 5 • 158
10. Assinale a opção correta acerca dos delitos de estelionato e receptação.
a) Folhas de cheque e cartões bancários não podem ser objeto material do crime de recep-
tação, uma vez que são desprovidos de valor econômico.
b) O preceito secundário do delito de receptação qualificada foi declarado inconstitucional
pelo STF, por violação aos princípios constitucionais da proporcionalidade e da indivi-
dualização da pena.
c) Para o reconhecimento do estelionato privilegiado, considera-se apenas o pequeno valor
da coisa, e não o prejuízo sofrido pela vítima.
d) O delito de estelionato previdenciário, segundo a pacífica jurisprudência do STJ, tem
natureza de crime permanente, cujos efeitos se prolongam.
e) Aplica-se o princípio da insignificância ao crime de estelionato, ainda que cometido em
detrimento de entidade de direito público.
11. Suponha que um determinado indivíduo vá até uma padaria e, utilizando uma cópia gros-
seira de uma nota de R$ 10,00 (dez reais), consiga comprar pães, causando prejuízo ao
referido estabelecimento. Este indivíduo praticou
a) crime de petrechos para falsificação de moeda e será julgado pela Justiça Federal.
b) crime de moeda falsa e será julgado pela Justiça Federal.
c) crime de estelionato e será julgado pela Justiça Estadual.
d) crime de falsificação de papéis públicos e será julgado pela Justiça Estadual.
e) crime contra o Sistema Financeiro Nacional e será julgado pela Justiça Federal.
12. No que tange ao Direito Penal, cada um dos itens apresenta uma situação hipotética,
seguida de uma assertiva a ser julgada.
Saulo, utilizando-se da fraude conhecida como conto do bilhete premiado, ofereceu o
falso bilhete a Salete para que esta resgatasse o prêmio. Encantada com a oferta e desco-
nhecendo a falsidade do bilhete, Salete entregou a Saulo vultosa quantia, sob a crença de
que o bilhete representasse maior valor. Após dirigir-se à casa lotérica, Salete descobriu o
engodo e procurou uma delegacia de polícia para registrar o fato. Nessa situação, não cabe
qualquer providência na esfera policial, porquanto a vítima também agiu de má-fé (torpeza
bilateral), ficando excluído o crime de estelionato.
a) Certo
b) Errado
capítulo 5 • 159
13. Marcelo é aprovado em concurso público para o cargo de Delegado de Polícia. Sabe
que seu vizinho tem expedido em seu desfavor mandado de prisão. Mesmo antes de assumir
o cargo, Marcelo procura seu vizinho, que é proprietário de automóvel de luxo, e solicita-lhe
comprar o veículo por 1/3 do preço de mercado, insinuando de modo implícito que caso a
proposta não seja aceita efetuará sua prisão tão logo assuma o cargo público. O vizinho não
cede e Marcelo, mesmo após assumir o cargo, não toma qualquer atitude em desfavor de seu
vizinho. Marcelo praticou
a) corrupção passiva;
b) estelionato, na modalidade tentada;
c) meros atos preparatórios;
d) corrupção passiva, na modalidade tentada;
e) concussão.
14. No crime de apropriação indébita exige-se uma quebra de confiança por parte do agen-
te, eis que a vítima voluntariamente entrega bem móvel de sua propriedade ou posse, per-
petuando-se o crime no momento que autor do delito se nega em devolver o objeto ao seu
legítimo dono. Entretanto, se o agente, de forma premeditada, pega o bem já consciente que
não irá devolvê-lo, cometerá a conduta de estelionato, e não a acima mencionada.
a) Certo
b) Errado
15. Everton Frühauf, ao adquirir mercadorias no Supermercado Preço Bom, pagou as com-
pras com um cheque subtraído de seu colega de trabalho, Renato Klein. No caixa, apre-
sentou-se como titular da conta-corrente. Preencheu a cártula e falsificou a assinatura de
Renato. O atendente, seguindo o procedimento de rotina, chamou o supervisor para liberar
a cártula, quando foram surpreendidos com a conduta de Everton, que deixou o estabele-
cimento em desabalada corrida, sem levar as mercadorias, por presumir que sua ação te-
ria sido descoberta. No estacionamento, o segurança do estabelecimento deteve Everton e
conduziu-o à autoridade policial. Esse caso configura
a) tentativa de furto qualificado pela fraude.
b) tentativa de estelionato.
c) desistência voluntária.
d) arrependimento posterior.
e) arrependimento eficaz.
capítulo 5 • 160
16. Helen, escriturária da sociedade empresária Ipilinha S/A., ao elaborar a folha de pa-
gamento dos funcionários, atribuiu, por equívoco, a Sérgio, chefe do departamento pessoal,
o salário líquido de R$ 6.000,00 (seis mil reais), quando a importância correta seria de R$
2.000,00 (dois mil reais). Percebendo o erro que em muito o favorecia, Sérgio encaminhou
a aludida folha de pagamento, após aprová-la, ao Banco Ching Ching S/A., agência Castelo.
No dia seguinte, já efetuado o crédito em sua conta corrente, Sérgio sacou do Banco a quan-
tia de R$ 6.000,00 (seis mil reais) em espécie. Diante da situação hipotética apresentada, é
correto afirmar que
a) Helen cometeu apropriação indébita culposa e Sérgio praticou apropriação indébita de
coisa havida por erro.
b) Sérgio praticou estelionato e Helen cometeu apropriação indébita culposa.
c) Sérgio praticou furto qualificado pela fraude e Helen não cometeu crime (fato atípico).
d) Helen não cometeu crime e Sérgio cometeu apropriação indébita de coisa havida por
erro.
e) Sérgio cometeu estelionato e Helen não cometeu crime.
17. Tício ingressa em uma joalheria com o braço direito imobilizado. Escolhe um colar e não
consegue preencher o cheque. Pede ao proprietário que de próprio punho escreva um bilhete
num cartão da loja com os seguintes dizeres: “Querida, por favor entregue ao portador a im-
portância de R$ 2.000,00 em dinheiro”. Com esse cartão escrito pelo joalheiro, Tício pede ao
seu motorista que vá ao endereço (da esposa do joalheiro) e volte com o dinheiro. A esposa
do joalheiro recebe um cartão da joalheria, com a caligrafia de seu marido e entrega ao mo-
torista de Tício a importância solicitada. Esse retorna à joalheria, o entrega a Tício que compra
a joia com o dinheiro do próprio joalheiro. A tipicidade desse crime corresponde
a) roubo;
b) estelionato;
c) furto qualificado pela fraude;
d) furto simples;
e) apropriação indébita.
18. João teve apreendido seu veículo pela financeira por falta de pagamento. Não podendo
ficar sem o carro para o cumprimento de suas atividades diárias, resolve certa noite se dirigir
a um restaurante conhecido da cidade e, fingindo ser manobrista, recebe do proprietário a
respectiva chave e, em seguida, desaparece com o carro sendo o fato registrado pelo lesado
na delegacia da área.
capítulo 5 • 161
Dias depois, o fato é descoberto e o carro recuperado, não sofrendo o lesado qualquer
prejuízo patrimonial.
A conduta de João tipifica o crime de
a) furto mediante fraude;
b) estelionato;
c) apropriação indébita;
d) furto tentado;
e) estelionato tentado.
19. João falsificou cédulas de R$ 100,00, para o fim de utilizá-las na aquisição de compu-
tador pertencente a Fritz, alemão que passava férias no Brasil. Após vender o bem, Fritz foi
preso em flagrante quando, sem perceber o engodo de que fora vítima, tentou pagar conta
de restaurante com uma das cédulas recebidas. A falsificação era grosseira (fato depois
atestado por laudo pericial) e foi facilmente detectada. Assinale a opção correta.
a) João deve responder pelo crime de falsificação de moeda (Artigo 289 do Código Penal),
já que logrou êxito em ludibriar a vítima, ofendendo o bem jurídico tutelado na norma
penal.
b) João responde por dois crimes (artigo 289, caput e Artigo 289, parágrafo 1o do Código
Penal), por ter fabricado a moeda falsa e por tê-la introduzido em circulação.
c) Fritz deve responder pelo delito culposo de usar moeda falsa, já que era fácil aferir a
falsidade, e João por um crime de moeda falsa, já que a introdução em circulação da
moeda, por quem a fabricou, constitui mero exaurimento do delito.
d) João somente responde pelo crime de introduzir moeda falsa em circulação, uma vez
que sua conduta era e foi eficiente a tanto.
e) João deve responder pelo delito de estelionato.
20. O órgão público “X” adquiriu aos veículos de sua frota interna sistemas de recepção e
produção de áudio de última geração e, após a instalação, Ronaldo, motorista oficial do ór-
gão, de posse do veículo, removeu o dispositivo recém-instalado, apropriando-se do bem. De
acordo com o Código Penal, a conduta de Ronaldo é tipificada ao crime de
a) roubo;
b) furto;
c) peculato;
d) estelionato.
capítulo 5 • 162
JURISPRUDÊNCIA
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA STJ – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ES-
PECIAL : AGRG NO RESP 1172092 RS 2009/0241368-3
capítulo 5 • 163
STJ – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 1192010 RS 2010/0079019-
2 (STJ)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. v. 2.
DUTRA, Mário Hoeppner. O furto e o roubo. São Paulo: Max Limonad, 1955.
FRANCO, Alberto Silva. Dos crimes contra o patrimônio. In: Código penal e sua interpretação
jurisprudencial. 7. ed. Coordenadores: Alberto Silva Franco e Rui Stoco. São Paulo: RT, 2001.
GRACIA MARTIN, Luis. O horizonte do finalismo e o direito penal do inimigo. Tradução: Luiz
Regis Prado e Érika Mendes de Carvalho. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 1999.
MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis; SAAD, Marta. Dos crimes contra o patrimônio. In: Código
penal e sua interpretação – doutrina e jurisprudência, 8. ed., coordenação de Alberto Silva Franco e
Rui Stoco. São Paulo: RT, 2007.
capítulo 5 • 164
CINE CONHECIMENTO
Golpe duplo – 2015
Sinopse: Nicky (Will Smith) é um golpista que se en-
volve com Jess (Margot Robbie), uma vigarista novata. Ele
resolve se afastar quando a mulher se aproxima demais.
Três anos mais tarde, Nicky fica balançado quando a reen-
contra em Buenos Aires. Ambos estão na cidade para pre-
parar o seu próprio – mas igualmente elaborado – golpe,
ambos visando o mesmo bilionário (Rodrigo Santoro), que
é proprietário de uma equipe de corrida.
GABARITO
Capítulo 1
01. A 07. B
02. D 08. D
03. C 09. A
04. C 10. E
05. C
06. B
capítulo 5 • 165
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
capítulo 5 • 166
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 167
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 168