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INVESTIGAÇÃO I

CRIMES PATRIMONIAIS

autora
PATRICY BARROS JUSTINO

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2018
Conselho editorial  roberto paes e gisele lima

Autor do original  patricy barros justino

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  gisele lima, paula r. de a. machado e aline karina


rabello

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  raimundo de albuquerque gomes

Imagem de capa  yakovenko maksim | shutterstock.com

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

J96i Justino, Patricy Barros


Investigação I: crimes patrimoniais / Patricy Barros Justino.
Rio de Janeiro : SESES, 2018.
168 p: il.

isbn: 978-85-5548-549-7.

1. Investigação. 2. Crimes patrimoniais. 3. Estelionato. 4. Extorção.


I. SESES. II. Estácio.
cdd 345

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário
Prefácio 9

1. Crime de furto 11
Introdução 12

Conceito de posse para efeitos penais 13

Coisa móvel para o Direito Penal 14

Coisa alheia para efeitos penais 15

Da investigação 17

Análise do crime de furto 18

Da subtração 20

Sujeitos do crime de furto 21

Elemento subjetivo do tipo 21

Consumação e tentativa do crime de furto 22

Causas de aumento de pena no crime de furto 24

Furto privilegiado 25

Furto de energia 26

Causas de aumento de pena 26


Destruição ou rompimento de obstáculo 26
Abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza 28
Emprego de chave falsa 29
Concurso de Duas ou Mais Pessoas 30
Subtração de veículo automotor transportado para outro estado ou para o
exterior 30

Furto qualificado de semovente domesticável de produção 31


2. Crime de roubo e extorsão 43
Introdução 44

Crime roubo 45
Tipo objetivo e subjetivo 45

Consumação e tentativa 46

Sujeitos do crime de roubo 47

Roubo próprio e impróprio: distinções 48

Causas de aumento de pena no roubo 49

Roubo qualificado pelo resultado 51


Lesão corporal grave 51

Latrocínio 51

Crime extorsão 54
Considerações gerais 54

Objetividade jurídica 55

Sujeitos do crime de extorsão 55

Tipo objetivo e subjetivo 55

Consumação e tentativa 56

Causas de aumento da pena extorsão 58

Extorsão qualificada pelo resultado 59

Restrição de liberdade: sequestro-relâmpago 60

Distinções entre o crime extorsão e outros crimes 61


Extorsão e roubo 61
Extorsão e concussão 62
Extorsão e estelionato 62
Extorsão e exercício arbitrário das próprias razões 63

Concurso de crimes 63

Anexos 77
3. Extorsão mediante sequestro 83
Introdução 84

Conceitos e diferenciações 86

Objeto jurídico 87

Elementos do tipo 87

Sujeitos do crime 88

Elemento subjetivo 88

Momento consumativo e tentativa 89

Formas de extorsão 90

4. Crime apropriação indébita 105


Introdução 106

Objeto jurídico 107

Requisitos para configuração do crime de apropriação indébita 108

Consumação e tentativa 110

Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força


da natureza 110

Apropriação indébita previdenciária 113


Figuras equiparadas 115
Extinção da punibilidade 116
Perdão judicial e privilégio 117

5. Crimes de estelionato e receptação -


Disposições gerais 133
Introdução 134

Consumação e tentativa 136


Sujeitos do crime de estelionato 136
Diferenciação do estelionato com outros crimes em
relação ao sujeito passivo 137

Forma privilegiada de estelionato 139

Consequências do privilégio 139

Estelionato e as figuras assemelhadas 139

Disposição de coisa alheia como própria 140

Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria 140

Defraudação do penhor 141

Fraude na entrega da coisa 142

Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro 143

Fraude no pagamento por meio de cheque 144

Consumação e tentativa do crime de fraude no pagamento


por meio de cheque 145

Causas de aumento de pena 145

Súmulas relativas ao estelionato 146

Receptação 147
Receptação própria 148
Tipo subjetivo 149
Objeto material 149
Sujeitos do crime de receptação 150
Consumação e tentativa do crime de receptação 150
Receptação e lavagem de dinheiro 150
Receptação de semovente domesticável de produção 152
Receptação privilegiada 152

Disposições gerais 153


Escusas absolutórias ou imunidades absolutas 153
Imunidades relativas 154
Exceções 154
Prefácio

Prezados(as) alunos(as),

A origem dos crimes contra o patrimônio remonta ao surgimento da huma-


nidade. Entretanto, a noção de crime, bem como a sua descrição e tipificação, é
de classificação mais recente, resultando alguns tipos penais com o surgimento
do Instituto da Propriedade Privada, tema de estudo nos princípios do Direito
Romano, tal como é o caso do furto. No século II, período clássico do Direito
Romano, surgiu o estelionato.
Particularmente, nesse período, houve por parte dos pensadores do Direito
Romano extraordinário avanço no estudo da ciência jurídica. Nessa época, o es-
tudo do direito alcançou um notável desfecho, perceptível não apenas pelas obras
doutrinárias, como também pela perfeição das construções caracterizadoras de
condutas.
Diferentes de hoje, naquela época, os legisladores se preocupavam com o rigor
científico na construção do tipo penal, a fim de que este não atingisse apenas uma
momentânea casuística na sociedade daquele tempo. A preocupação era se criar
normas cogentes permanentes com segurança jurídica para o cidadão e garantido-
ras da paz social.
Os crimes contra o patrimônio trazem em si a ideia de lesão ao patrimônio de
alguém, assim, são na essência, crimes que exigem o prejuízo de alguém, que tem
de certa forma seus bens reduzidos por ação do agente criminoso.
A doutrina tem divergências sobre o conceito de patrimônio no direito, não
obstante pareça intuitiva em virtude de sua denominação, em se tratando de cri-
mes contra o patrimônio, sobretudo porque na esfera penal, na proteção deste há
a imposição de pena, que deve ser imposta de maneira restrita no direito moderno.
Para alguns autores, nem só bens em dinheiro quantificáveis ou outro valor
econômico são suscetíveis de causar prejuízo patrimonial.
Nessa trilha de pensamento, bens ou objetos não mensuráveis economica-
mente, como exemplo, uma carta de amor cujo valor é inestimável para seu pro-
prietário, devem ser levados em consideração pelo direito penal.
Entretanto, na apreciação do caso concreto pelo Poder Judiciário tem preva-
lecido o entendimento de que não há crime patrimonial sem lesão de interesse
economicamente apreciável, apesar de tais ideias serem consideráveis por sua cons-
trução doutrinária.

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Ocasionalmente, pode ser objeto de crime, a coisa subtraída que não expresse
valor patrimonial, como exemplo, papéis escritos, a sonegação de documentos,
entretanto, não incorpora o rol de crimes contra o patrimônio.
A disciplina está estruturada em cinco (5) capítulos:
Capítulo 1: encontram-se nesse capítulo os seguintes temas: o conceito de
posse para efeitos penais; da coisa móvel e da coisa alheia para o direito penal; a
investigação do crime de furto e a análise do crime de furto.
Capítulo 2: incluem-se nesse capítulo: o crime de roubo e extorsão; os ob-
jetivos do crime de roubo; crime de roubo e seus tipos objetivo e subjetivo; a
consumação e a tentativa do crime de roubo; os sujeitos do crime de roubo; roubo
próprio e impróprio e suas distinções; roubo qualificado pelo resultado; latrocínio
e seus requisitos; natureza hedionda do crime de latrocínio; competência; crime de
extorsão; objetividade jurídica; sujeitos do crime de extorsão; tipos objetivo e sub-
jetivo; consumação e tentativa do crime de extorsão; causas de aumento de pena
no crime de extorsão, extorsão qualificada pelo resultado; restrição de liberdade:
sequestro relâmpago; distinções entre o crime extorsão e outros crimes; extorsão e
roubo; extorsão e concussão; extorsão e estelionato; extorsão e exercício arbitrário
das próprias razões e concurso de crimes.
Capítulo 3: trata-se da análise do crime de extorsão mediante sequestro; ob-
jetivos, conceito e diferenciações; objeto jurídico e elementos do tipo; sujeitos do
crime de extorsão mediante sequestro; elemento subjetivo; momento consumati-
vo e tentativa; formas de extorsão.
Capítulo 4: abordam-se nesse capítulo os seguintes temas: crime de apropria-
ção indébita; objetivos; objeto jurídico do crime de apropriação indébita; requisi-
tos para configuração do crime de apropriação indébita; consumação e tentativa;
apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza; apro-
priação indébita previdenciária; figuras equiparadas; extinção da punibilidade e
perdão judicial e privilégio.
Capítulo 5: são desenvolvidos os seguintes temas neste capítulo: crimes de es-
telionato e receptação; objetivos; consumação do crime de estelionato; tentativa do
crime de estelionato; sujeito ativo do crime de estelionato; sujeito passivo do crime
de estelionato; diferenciação do crime de estelionato com outros crimes em relação
ao sujeito passivo; estelionato e jogo de azar; estelionato e curandeirismo; estelionato
e furto de energia; estelionato, tráfico de influência e exploração de prestígio; este-
lionato e falsificação de documento; forma privilegiada de estelionato; consequência
do privilégio, estelionato e as figuras assemelhadas; disposição de coisa alheia como
própria; alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria; defraudação do pe-
nhor; fraude na entrega da coisa; fraude para recebimento de indenização ou valor
de seguro; fraude no pagamento por meio de cheque; consumação do crime de
fraude no pagamento por meio de cheque; tentativa e causas de aumento de pena.
O presente trabalho tem por escopo facilitar o estudo sobre os crimes patri-
moniais, com uma abordagem clara e simples sobre os citados temas, para que o
aluno tenha noção acessível.

Bons estudos!
1
Crime de furto
Crime de furto

Introdução

Neste capítulo procura-se evidenciar os temas principais questionados em tor-


no do crime de furto, de forma objetiva, úteis ao esclarecimento de problemas
comuns na prática do foro, envolvendo em especial a ocasião e limites para o uso
dos meios lícitos de prova.
A origem da palavra furto vem do latim furtum, furto, roubo, coisa oculta,
escondida, emboscada. O furto é palavra latina ligada a duas outras, fur e latro,
ambas para designar quem rouba – latro –, ladrão em português, pela declina-
ção latrone.
A evolução da sociedade e da tecnologia trouxe inovação e enorme diversidade
na incidência dos crimes contra o patrimônio. Há cinquenta anos seria impensável
se falar na prática de furto de bens depositados em instituições financeiras, por
meio de meios eletrônicos. O dinheiro de plástico, ou seja, os cartões de crédito
e débito, e as transações bancárias pela internet surgiram há pouco tempo, não
obstante, a implicação dessas novas tecnologias é imensa. As mentes criminosas,
sempre criativas, imediatamente viram nesse filão um modo de obter lucro de for-
ma rápida e com pouco esforço, e o crime organizado não perdeu tempo também.
Entretanto, o núcleo dos crimes contra o patrimônio continua o mesmo, qual seja
a obtenção de vantagem indevida apreciável economicamente com prejuízo para
a vítima.
A definição dessa modalidade de crime patrimonial é a subtração, para si ou
para outrem, de coisa alheia móvel. O legislador brasileiro subdividiu essa figura
delituosa em simples e qualificado.
A investigação dos delitos de furto simples, paradoxalmente à designação, de-
mandam certa dificuldade para a investigação. Geralmente esse tipo de crime não
deixa vestígios e tampouco indícios peculiares que indiquem a autoria. Em geral
não há testemunhas e sequer a vítima pode oferecer informações úteis para a in-
vestigação, portanto, o investigador inicia o trabalho no escuro.
Determinadas modalidades como o "Espianto", furto em que o descuido da
vítima enseja a ação do ladrão, e a "Goma" furto em residência, oferecem dificul-
dade na medida em que nos dias de hoje já não são poucos os “profissionais” que

capítulo 1 • 12
habitualmente agem nessa modalidade. O termo "profissional" é usado no sentido
de especialização de alguns ladrões que têm habilidades especiais para essa prática
criminosa, sendo conhecidos por sua destreza, e até respeitados no meio da mar-
ginalidade por suas habilidades. Igualmente, a "Punga" que é o furto de carteira
em locais com aglomeração de pessoas, geralmente ônibus, em que o ladrão usa
de habilidade para subtrair a coisa sem que a vítima perceba. Atualmente com o
desenvolvimento urbano e o surgimento das grandes metrópoles, já não há um
grupo seleto desses profissionais, cujas técnicas se difundiram entre a marginalida-
de, tornando mais difícil o trabalho da investigação.

OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é estudar o crime de furto, como uma área do conhecimento.
O direito dá oportunidade a um campo amplo para debates, principalmente em sociedades
contemporâneas marcadas pela multiplicidade de valores.
Identificar os princípios norteadores da conduta punitiva nas suas formas qualificadas,
bem como reconhecer as normas com as orientações para conflitos de interesses.
O objetivo é a delineação, de uma forma geral, mas de maneira articulada, do capítulo
do Código Penal Brasileiro que discrimina os crimes contra o patrimônio, indicando um ca-
minho a ser trilhado na investigação policial a ser procedida na ocorrência de cada uma das
condutas tipificadas. Obviamente, o estudo faz uma indicação de forma geral dos atos de
investigação a serem processados no curso da apuração da autoria do crime e o arrolamento
das provas do fato criminoso, uma vez que o crime é fenômeno social, multifacetado e, sendo
uma criação humana, seu limite é o que pode produzir a mente do homem.

Conceito de posse para efeitos penais

Na esfera Penal não há definição que conceitue posse, propriedade ou de-


tenção, portanto, devemos nos utilizar dos conhecimentos do Direito Civil para
obtermos tal resposta. Não obstante, dentro da doutrina civilista muitas são as
discussões acerca do assunto.
O conceito de posse, propriedade e detenção no Direito Civil não é pacífico.
Os autores, a fim de buscar alguns conceitos, remontam inclusive às teorias subje-
tivas, objetivas e sociológicas.

capítulo 1 • 13
Além disso, a coisa deve ser móvel. O Código Civil, em seu artigo 81, prevê:
Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:
I. As edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade,
forem removidas para outro local.
II. Os materiais provisoriamente separados de um prédio para nele se
reempregarem.

Ou seja, o elevador momentaneamente retirado de um prédio, para nele ser


reinstalado, não perde a qualidade de imóvel.
Não obstante, para o Direito Penal, o conceito de móvel é o natural. O objeto
material do furto pode ser tudo aquilo que é removível de um local para outro,
pouco importando se a coisa está ou não incorporada ao solo.
No exemplo do elevador, se o agente subtraí-lo, praticará o crime de furto.
Além do mais, também pratica o crime de furto aquele que subtrai mudas de
plantas incorporadas ao solo. Podem ser subtraídas até mesmo construções resi-
denciais, desde que possam ser desprendidas do solo – em nosso país, é incomum
a transferência de construções, mas sabemos que não é impossível, pois é praticada
em outros países. Ressalte-se que apenas bens corpóreos podem ser furtados. Não
há como furtar os direitos pessoais de caráter patrimonial, conforme dispõe o art.
83, inciso III, do Código Civil, por exemplo.

Coisa móvel para o Direito Penal

Somente coisa móvel pode ser objeto de furto, tendo em vista que ela pode ser
transportada e, desta forma, afastada da esfera de vigilância da vítima. Portanto, os
bens imóveis, ou seja, aqueles que não podem ser levados de um local para outro,
não podem ser furtados.
Não obstante, quando o Código Civil ou leis especiais, por ficção, por exem-
plo, equiparam a imóvel os aviões e as embarcações para fim de registro de hipote-
ca, não lhes retira a possibilidade de ser produto de furto em virtude que são, em
sua essência, coisas móveis.
Art. 1.473, do CC – podem ser objeto de hipoteca:
VI. Os navios.
VII. As aeronaves.

capítulo 1 • 14
Podem ainda ser objeto de furto, as partes de um imóvel, por exemplo, a reti-
rada de portões já colocados, telhas já instaladas. Em tais casos, o agente mobiliza
os bens antes de levá-los.
O furto de energia elétrica e de outras formas de energia, como a nuclear,
térmica etc. que tenham valor econômico, pode ser equiparado à coisa móvel,
podendo ser produto de furto, conforme dispõe expressamente o artigo 155, pa-
rágrafo 3o, do Código Penal.
Art. 155, do CP – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia, móvel:
§ 3o – Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha
valor econômico.
Os seres humanos podem ser transportados, não obstante, não se enquadram
na definição de coisa, de forma que não podem ser objeto material de furto, so-
mente de crimes específicos como sequestro disposto no art. 148, do Código
Penal, extorsão mediante sequestro, constante no art.159, do Código Penal e a
subtração de incapaz, inserida no art. 249, do Código Penal.
De idêntica forma, a subtração de parte de ser humano, enquanto o integra,
constitui crime de lesão corporal ou contravenção de vias de fato, ainda que pre-
valeça o interesse econômico, como por exemplo, no caso do corte não autorizado
de cabelo alheio para venda à confecção de perucas ou a cabeleireiros que as usam
em apliques capilares. Não obstante, é provável que exista furto em relação a te-
cido humano que já não integre o corpo, por exemplo, a subtração de sangue do
banco que o armazena.
Constitui crime previsto no art. 14, na lei no 9.434/97, para fim de transplan-
te, a extração não autorizada, ou seja, a subtração de órgão ou tecido humano.
A finalidade desta lei especial é a regulamentação de transplantes de órgãos hu-
manos. Como exemplo, temos o médico que para extração de apêndice, durante
cirurgia na cavidade abdominal, retira, de forma furtiva, o rim da vítima, para
transplantá-lo em outro paciente.

Coisa alheia para efeitos penais

A coisa alheia é elemento normativo do furto, pois pressupõe que, em todo


caso concreto, o juiz verifique se o bem não pertencia a quem o subtraiu.
É preciso que uma coisa tenha dono, para que seja considerada alheia. Dessa
forma, não pode ser considerado objeto de furto, por não ter dono, coisa de

capítulo 1 • 15
ninguém, ou seja, aquela que nunca teve proprietário, como os peixes das águas
públicas, um cão de rua e a coisa abandonada.
O Código Civil prevê nos artigos 1.263 e 1.275, inciso III, que quem encon-
tra coisa abandonada e dela se apodera se torna seu legítimo proprietário. Assim,
se o dono jogou fora um par de sapatos, quem o encontrar e com ele ficar, passa a
ser seu novo proprietário. O par de sapatos, a partir desse instante, deixou de ser
coisa abandonada e novamente poderá ser objeto de furto, inclusive por parte do
antigo dono.
As coisas de uso comum são aquelas que todos podem fazer uso, como a água
e o ar, e não podem, em princípio, ser objeto material de furto. Entretanto, caso
já tenham sido destacadas de seu ambiente natural e estejam sendo exploradas co-
mercialmente por alguém, constitui crime de furto a subtração, conforme ocorre
com o desvio de água encanada que pertence à concessionária, a qual tem custos
para a captação e tratamento, na forma do art. 155, § 4o, II, do Código Penal.
Não obstante, o pagamento pelo agente dos valores apurados pela vítima em
razão da subtração da energia elétrica ou da água encanada, realizado antes do
início da ação penal, gera extinção da punibilidade, segundo entendimento do
Superior Tribunal de Justiça, Súmula 83 do STJ.
Igualmente, constitui modalidade do crime de usurpação, o desvio ou o repre-
samento de águas correntes, conforme art. 161, § 1o, I, do Código Penal.
A conduta de subtração de cadáver ou parte dele pode configurar crime dis-
posto no art. 211 do Código Penal, furto ou delito previsto na Lei de Transplantes,
dependendo da hipótese.
O legislador prevendo que poderia haver questionamento em torno de o cadá-
ver constituir patrimônio dos familiares, no sentido econômico, erigiu a subtração
de cadáver ou de parte deste à condição de crime autônomo contra o respeito
aos mortos.
Não obstante, se o cadáver pertencer a uma faculdade de medicina ou insti-
tuto científico, ou mesmo a museus onde há exposição de múmias, a subtração
lesa evidentemente o patrimônio de tais instituições, configurando crime de furto.
Finalizando, configura crime do art. 14 da lei no 9.434/97, a subtração de
tecido ou órgão de cadáver, logo após a morte, para fim de transplante. Óbvio que
não haverá crime se existir autorização para a retirada dos órgãos.
No que se refere à subtração de objetos enterrados com o cadáver, a invasão
de cemitérios para arrombamento de sepultura e posterior subtração das roupas

capítulo 1 • 16
e sapatos enterrados que estão dentro do caixão, ou dos dentes ou obturações de
ouro, joias que os familiares não retiram, é muito corriqueiro. Nesses casos, há
divergência doutrinária em torno da classificação jurídica a ser aplicada, haja vista
não haver consenso em torno de se tratar ou não de coisa alheia.
Alguns juristas entendem que esses objetos se equiparam à coisa abandonada,
em virtude de não existir mais interesse por parte dos herdeiros em tê-los de volta.
Desta forma, o crime não seria de furto, mas sim o de violação de sepultura, des-
crito no art. 210 do Código Penal.
Outros consideram que os bens pertencem aos herdeiros e que a subtração
constitui crime de furto, pelo rompimento de obstáculo, e não crime autônomo.
Somos adeptos da primeira corrente, em vista de que nos parece que o senti-
mento do herdeiro em tais casos é o de indignação com o desrespeito à sepultura
do ente querido, e não o de ter sofrido lesão patrimonial. A opção pelo crime
de violação de sepultura resolve apenas a questão das pessoas enterradas que não
deixaram herdeiros.

FURTO - art. 155, CP

OBJETO É A COISA SOBRE A QUAL


MATERIAL RECAI A CONDUTA

RES DERELICTA

RES NULLIUS NÃO PODEM SER OBJETO DO


CRIME DE FURTO
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda
RES DEPERDITA ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza:
Art. 169, II, CP Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Da investigação

No Brasil a investigação de crime está a cargo da Polícia Civil, realizada pela


Autoridade Policial e seus agentes, consoante o artigo 4o do Código de Processo
Penal, que disciplina:
Art. 4 do CPP – A polícia Judiciária será exercida pelas autoridades policiais
no território de suas respectivas circunscrições e terá por finalidade a apuração das
infrações penais e da sua autoria.

capítulo 1 • 17
O citado dispositivo foi encampado pelo legislador constituinte, conforme
dispôs no § 4o do artigo 144 da Constituição Federal.
O exercício do mister investigativo há de se pautar por parâmetros profissio-
nais e legais para a consecução de seu objetivo maior, que é a apuração do crime
e de sua autoria.
Entende-se por parâmetros profissionais, a metodologia a ser empregada para
se chegar ao fim colimado. A palavra metodologia é de origem grega – méthodos
– significando o caminho a ser percorrido para se chegar a um fim. A formação
técnico-profissional ministrada ao policial civil durante o curso de formação fornece
a base de conhecimentos necessários a serem empregados no mister investigativo.
A Constituição Federal de 1988 assegurou uma série de direitos e garantias ao
cidadão, porquanto se exige da polícia civil a estrita observância das normas legais
nos procedimentos investigatórios, principalmente no que se refere aos direitos e
garantias do investigado, bem como a licitude na colheita de provas, a fim de que
estas não sejam invalidadas em juízo. A não observância de algum dispositivo legal
na colheita de prova pode invalidar meses de trabalho investigativo, e pior, será
usado pela defesa para desacreditar o inquérito policial e o conjunto probatório.
Assim, se pode concluir que, se um inquérito policial for mal conduzido, a absol-
vição será certa.

Análise do crime de furto

O crime do art. 155 do CP consiste em subtrair coisa alheia móvel. A subtra-


ção é o ato de tomar para si aquilo que não está sob a sua legítima posse ou de que
não seja de sua propriedade.
A conduta está prevista em outros tipos penais, a exemplo do roubo, disposto
o art.157, do Código Penal. Não se confunde com a apropriação, que se dá quan-
do o agente detém a posse ou a detenção da coisa de forma legítima, e, sem que lhe
seja permitido, inverte a propriedade da coisa, passando a agir como se dono fosse.
A distinção é fundamental para que não se confunda o furto, capitulado
no art. 155, do Código Penal, com a apropriação indébita, inserida no art.168,
do Código Penal, ou o “peculato-apropriação”, disposto no art. 312, caput, do
Código Penal, com o “peculato-furto”, do art. 312, § 1o, do Código Penal.

capítulo 1 • 18
Figura 1.1  –  Disponível em: <www. andremansur.com>. Acesso em: dez. 2017.

Figura 1.2  –  Disponível em: <www. entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.

capítulo 1 • 19
Da subtração

O núcleo do tipo do crime de furto, a subtração, se constata em duas hipóteses.


A primeira se dá quando o agente se apoderar da coisa alheia e a leva em-
bora, sem qualquer autorização, causando desta forma, prejuízo econômico à
vítima, que fica privada da posse do bem que lhe pertence. É a mais comum.
Exemplificando: existe furto quando a empregada doméstica se apossa de um colar
da patroa e o leva para sua casa no fim do expediente, quando o agente vê uma
bicicleta estacionada na rua e sai com ela pedalando, quando alguém se apodera
de produtos na prateleira de um supermercado, esconde-os sob a camisa e sai do
local sem efetuar o devido pagamento etc.
A segunda forma de subtração exige maior atenção para não ser confundida
com o crime de apropriação indébita. É que, considerando-se as características do
furto, julgadores e doutrinadores concluíram que, se quem faz a entrega do objeto
ao agente, é a própria vítima, porém não autoriza que ele deixe o local em sua pos-
se, mas ele, de forma furtiva ou mediante fuga, tira o bem dali, o crime é de furto.
Diz-se, nesse caso que a posse ou detenção eram vigiadas, e que o agente, ao levar
o objeto, retirou-o da esfera de vigilância do dono, praticando, assim, o crime de
furto. Acontece, por exemplo, quando alguém pede para ver uma joia dentro de
uma loja e, ao recebê-la, sai correndo com ela.
É de se observar que, para a posse ser considerada vigiada, é suficiente que o
agente tenha recebido o bem em determinado local e que não tenha obtido auto-
rização para sair dali com ele, haja vista que, em tais casos, o agente, para se locu-
pletar, tem que tirar o objeto do local e é precisamente isso que faz estabelecer-se
o crime de furto. Não é preciso que a vítima esteja olhando para o agente para que
a posse seja considerada vigiada, é suficiente que não o tenha autorizado a deixar
o local na posse do bem.
Igualmente, é preciso destacar que, como nos casos de posse vigiada dão ori-
gem ao crime de furto, por eliminação, somente nas hipóteses em que a posse
não é vigiada, ou seja, o agente não restitui o bem, é que se configura o crime de
apropriação indébita.
A doutrina e a jurisprudência firmaram entendimento de que a posse vigia-
da dá origem ao crime de furto e nas hipóteses em que a posse ou detenção não
tiverem vigilância, será crime de apropriação indébita. Isso faz os doutrinadores
darem ênfase à quebra de confiança como característica da apropriação indébita,
na medida em que a vítima, mesmo entregando o bem ao agente, autoriza que ele

capítulo 1 • 20
deixe o local em sua posse, acreditando em sua boa-fé, não obstante vê-se despo-
jada pela falta de devolução.
A diferença entre posse vigiada e não vigiada é apenas a existência ou não de
autorização para deixar o local na posse do bem. Como por exemplo, quem recebe
um carro emprestado de um amigo para viajar e depois não o devolve comete
apropriação indébita.

Sujeitos do crime de furto

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, com exceção do dono do bem, haja
vista que o tipo penal exige que se trate de coisa alheia. Trata-se de crime comum.
Não responde por tentativa de furto, aquele que, por erro, julgando que um
bem é alheio, subtrai coisa própria. No caso de uma pessoa para “pregar uma peça”
em um ladrão que é seu amigo, guarda a carteira deste dentro de uma sacola que
está num vestiário de uma casa comercial onde eles se encontram e o convence a ir
ao vestiário para furtar a carteira. O fato é atípico, eis que a carteira é do próprio
agente, mesmo que ele desconheça isso. Assim, estamos diante de crime putativo,
ou seja, imaginário, haja vista que o sujeito julga que está praticando um crime,
porém não está.
Por outro lado, considera-se, como sujeito passivo, a pessoa natural ou jurídi-
ca que tem a posse a propriedade. Os sujeitos passivos são o proprietário e o pos-
suidor da coisa alheia móvel, podendo, nesse caso, figurar tanto a pessoa física, ou
seja, natural, quanto a pessoa jurídica. Na hipótese em que a subtração ocorra de
quem detenha a detenção desinteressada, apenas o proprietário será considerado
como vítima do ato delituoso.

Elemento subjetivo do tipo

O crime de furto exige a finalidade de ter para si ou para outrem a coisa alheia
móvel pertencente à vítima, como elemento subjetivo do tipo, dando corpo, desta
forma, ao dolo específico, animus furandi ou animus rem sibihabendi.
É de se evidenciar que não basta apenas a subtração, o arrebatamento de
cunho temporário, com o intento de proceder a devolução da coisa alheia móvel
em seguida. Não depende, não obstante, de intuito de lucro por parte do agente,
que pode atuar por vingança, despeito, superstição, capricho etc. É atípico, por
outro lado, o fato de fazer desaparecer a coisa.

capítulo 1 • 21
Além disso, é da essência da conduta que o agente objetive ter para si ou
para outrem a res furtiva. Tal fato tem base na premissa que, sendo apresentado
comportamento diverso, será considerado como um indiferente penal, tal como
ocorre com o denominado, pela doutrina, de furto de uso. Igualmente, também
se considera que o assentimento da vítima elidirá o crime, já que o patrimônio é
disponível, desde que esta não seja dada após a consumação do delito, pois restará
configurado o delito em questão.

Consumação e tentativa do crime de furto

São várias as teorias que procuram explicar o momento consumativo do furto.


A primeira é a teoria da concretatio, segundo a qual o delito de furto restava
consubstanciado quando o agente delituoso simplesmente tocava na res com o
escopo de subtraí-la, ainda que não conseguisse lograr êxito na remoção da coisa
no local em que se encontrava.
Em sentido diametralmente oposto, foi criada a teoria da illactio ou apprehen-
sio rei, em que o furto se consumava quando o agente conseguia levar o objeto ao
lugar destinado.
As teorias da ablatio e da amotio afiguravam-se em posição intermediária às
demais, sendo que a primeira exigia o deslocamento da coisa para que restasse con-
sumado o crime de furto, ao passo que a segunda se edificava sobre dois requisitos,
a saber: a apreensão e a deslocação do objeto material.
É possível concluir, pesquisando a doutrina e a jurisprudência nacional, que
foi adotada uma orientação que pode ser denominada de teoria da inversão da
posse para determinar o momento da consumação. Essa corrente exige que a ví-
tima perca a posse e o agente a obtenha. A doutrina e a jurisprudência, durante
muito tempo, entenderam que essa inversão da posse pressupunha que o bem
fosse tirado da esfera de vigilância da vítima e o agente conseguisse, mesmo por
pouco tempo, sua posse tranquila.
Não obstante, posteriormente, os tribunais superiores modificaram tal enten-
dimento e passaram a decidir que o furto se consuma no momento em que cessa a
clandestinidade por parte do agente, não sendo necessária a posse mansa e pacífica
e a retirada da esfera de vigilância da vítima. Considera-se que cessa a clandestini-
dade quando o agente consegue deslocar o bem do local onde se achava, ainda que
ele seja imediatamente perseguido e preso.

capítulo 1 • 22
A teoria adotada entre aquelas supramencionadas é a da amotio embora al-
guns julgados do Superior Tribunal de Justiça, de forma equivocada, digam que a
teoria da amotio é também intitulada de apprehensio.
A tentativa é possível em todas as modalidades de furto: simples, privilegiado
e qualificado.
A doutrina habitualmente evidencia que, quando o agente deseja furtar obje-
tos do interior de uma residência, o simples ato de entrar na área externa da casa
ainda não constitui ato executório, devendo o agente, se em tal momento for
flagrado, responder por crime de violação de domicílio, por ter havido simples
ato preparatório do furto. Entretanto, tal entendimento só é aceitável se o agente
limitou-se a ingressar em área aberta da residência, sem ter saltado muro ou ar-
rombado portão, uma vez que essas condutas, por constituírem qualificadores do
furto, indicam evidentemente que o agente já está cometendo tal crime, de forma
que, se nesta oportunidade a pessoa for presa, antes de se apossar de qualquer bem
da vítima, irá responder por tentativa de furto qualificado.
NÃO ACEITA
Seria simplesmente tocar com a mão o
TEORIA DA
objeto, a consumação se dá pelo simples
CONTRECTATIO
contato entre o agente e a coisa alheia,
dispensando o seu deslocamento.

NÃO ACEITA
Seria o transporte da coisa para fora da
TEORIA DA
habitação, da casa. Tem a consumação
ABLATIO
ocorrida quando a coisa, além de apreendida,
é transportada de um lugar para outro.

NÃO ACEITA
TEORIA DA Para ocorrer a consumação, que a coisa
ILLATIO seja levada ao local desejado
pelo ladrão para lê-la a salvo.

ACEITA
TEORIA DA Segundo a qual se consuma esse
AMOTIO crime quando a coisa passa para o
poder do agente.

capítulo 1 • 23
Causas de aumento de pena no crime de furto

O parágrafo primeiro do artigo 155 do Código Penal abarca, em sua redação,


a situação em que o furto tem sua pena majorada, a saber:
Art. 155, § 1o – a pena aumenta-se de 1/3 (um terço) se o crime é praticado
durante o repouso noturno.
Segundo alguns juristas, a majorante contida no dispositivo supramencionado
visa assegurar a propriedade móvel contra maior precariedade de vigilância e defe-
sa durante o recolhimento das pessoas para o repouso durante o repouso noturno.
É de se salientar que a disposição contida no parágrafo primeiro do artigo 155
do Código Penal não deve ser interpretada como sinônimo de noite, porquanto
este esteja adstrito à ausência de luz solar enquanto aquele faz menção ao período
em que a cidade local repousa.
Destarte, o horário de repouso noturnoé variável, devendo obedecer aos cos-
tumes locais relativos à hora em que a população se recolhe e a em que desperta
para a vida cotidiana. Considera-se como irrelevante que o fato ocorra dentro de
estabelecimento comercial ou ainda na residência, habitada ou desabitada, bem
como estar a vítima descansando ou não, já que o período de repouso noturno é
tido como o de maior vulnerabilidade para as residências, lojas e veículos.
A causa de aumento de pena não está vinculada ao local em que se deu o ato
delituoso, mas sim ao momento em que o mesmo foi perpetrado, qual seja: du-
rante o repouso noturno.
Além disso, ao examinar a redação do parágrafo primeiro do artigo 155, do
Código Penal, observa-se que a majorante só terá aplicação ao crime de simples
furto, não sendo aplicável nas hipóteses de furto qualificado. Ao lado disso, se
fosse a intenção do legislador estender a causa de aumento de pena às modalidades
qualificadas do delito em estudo, o repouso noturno teria sido posto subsequente-
mente a redação do § 4o do artigo 155 do Código Penal.
As qualificadoras estão previstas nos parágrafos 4o e 5o, do art. 155 do
Código Penal.
No parágrafo 4o existem sete qualificadoras, ao todo, distribuídas em quatro
incisos. É muito comum o juiz reconhecer duas ou mais qualificadoras deste pa-
rágrafo e no caso de isso ocorrer, a primeira servirá para qualificar o crime e as
demais servirão como circunstância judicial para a fixação da pena-base acima
do mínimo.

capítulo 1 • 24
A totalidade das qualificadoras do parágrafo 4o, do art. 155 do Código Penal
referem-se aos meios de execução do crime de furto, de forma que todas são com-
patíveis com o instituto da tentativa, suficiente, para tanto, que o agente não
consiga realizar a subtração.

Furto privilegiado

Primeiramente, ao se examinar a redação do parágrafo 2o do artigo 155, in-


fere-se que o legislador trouxe à baila uma modalidade de furto privilegiado, que
se refere:
Art. 155, § 2o – se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa fur-
tada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la um a
dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
Trata-se da situação em que o furto é tido como de pequeno valor ou furto
mínimo, em que a conjugação da menor gravidade do fato e a primariedade do
agente delituoso exigem um tratamento penal menos severo do que aquele que é
habitual na perpetração de tal conduta.
O primeiro requisito enumerado pelo dispositivo supramencionado é ser o
agente primário, ou seja, não tenha sofrido, em decorrência de outro crime, con-
denação anterior transitada em julgado. Entretanto, não seja tecnicamente rein-
cidente, não goza do benefício o réu que já tenha sido condenado anteriormente
em outro processo, embora não tenha a decisão transitada em julgado antes do
cometimento do segundo crime.
Inclusive já se decidiu no Recurso Especial no 166.750/SP, de relatoria do mi-
nistro Félix Fischer, integrante da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça,
que a reincidência do agente delituoso impede o reconhecimento do privilégio
contido no parágrafo 2o do artigo 155, do Código Penal.
O segundo requisito é ser a res furtiva de pequeno valor, sendo reconhecido,
segundo a doutrina e a jurisprudência, quando a coisa subtraída não alcança o
importe de um salário mínimo vigente à época do fato.
Não se pode confundir bem de pequeno valor com de valor insignificante,
porquanto este, por necessário, exclui o crime em face da ausência de ofensa ao
bem jurídico tutelado, sendo-lhe aplicável o princípio da insignificância, ao passo
que aquele dá ensejo ao privilégio em comento, motivo pelo qual a Lei Penal des-
tina reprimenda mais branda.

capítulo 1 • 25
Há julgado do Superior Tribunal de Justiça, que menciona que a subtração de
bens, cujo valor não pode ser tido como ínfimo, não permite ser tratado como um
indiferente penal e expõe ainda, que a ausência de reprimenda a pequenos delitos,
consubstanciaria como insumo fértil para a multiplicação dessas condutas, o que
traria desordem no âmbito social.

Furto de energia

O legislador, ao dispor a conduta de furto de energia, equiparou a coisa móvel


à energia elétrica ou a qualquer outra que goze de valor econômico, ficando, dessa
forma, eliminadas as discussões sobre a possibilidade de subtração de energia, in-
cluindo-se, com efeito, além da elétrica, também a térmica, sonora, solar, atômica
e mecânica, dentre outras. Significando, qualquer energia que tenha valor econô-
mico poderá ser objeto de subtração, nos moldes preconizados pelo mencionado
parágrafo, a exemplo de energia genética, ou seja, o sêmen dos reprodutores.
Toda energia economicamente utilizável e suscetível de incidir no poder de
disposição material e exclusiva de um indivíduo, tais como: a eletricidade, a ra-
dioatividade, a energia genética dos reprodutores etc., pode ser incluída, mesmo
do ponto de vista técnico, entre as coisas móveis, a cuja regulamentação jurídica
deve ficar sujeita.
De forma contrária ao que ocorre no de coisa móvel, o furto de energia, na-
turalmente corpórea deve ser tido como de cunho permanente, porquanto a sua
consumação se protrai no tempo. Logo, quando descoberta a ligação de cunho
clandestino, poderá o agente ser preso em flagrante cometimento do delito, haja
vista que o fato se dá em razão do furto de energia não se esgotar no ato, mas
se prolongar enquanto não for descoberta a ligação clandestina que beneficia
o agente.

Causas de aumento de pena

Destruição ou rompimento de obstáculo

A redação do parágrafo 4o do artigo 155, do Código Penal traz um sucedâneo


de hipóteses que qualificam a conduta do furto, cominando, nesta hipótese, pena
de dois a oito anos, bem como multa.

capítulo 1 • 26
A primeira hipótese encontra-se inserta na redação do inciso I do dispositivo
supra, o qual prevê, como qualificadora do crime de furto, se da conduta perpetra-
da resultar “destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa”.
O vocábulo obstáculo é considerado como tudo aquilo que tenha como fim
maior proteger a coisa e que também não seja a ela inerente naturalmente, signi-
ficando, seja artificial.
A qualificadora em questão está caracterizada quando o agente inutiliza, des-
faz, desmancha, arrebenta, rasga, fende, corta ou deteriora um obstáculo, tais
como: trincos, portas, janelas, fechaduras, fios de alarme etc., que objetivam im-
pedir a subtração.
A primeira modalidade – destruição – tipificada no inciso I exige do agente
um comportamento violento contra a coisa que obsta a subtração da coisa. Quer
dizer, usa de violência contra a coisa, destruindo, eliminando ou fazendo desapa-
recer aquilo que o impedia de levar a efeito a subtração. Assim, a qualificadora
restará consubstanciada quando o agente delituoso que emprega um pé de cabra
ou outro instrumento semelhante arrebenta o cadeado que obstava a entrada de
estranhos ao local onde se encontrava o objeto do furto.
A destruição total ou parcial de qualquer elemento dá ensejo à qualificadora
prevista no inciso I, parágrafo 4o, do artigo 155, do Código Penal.
O rompimento de qualquer obstáculo externo ao objeto do furto caracteriza
a circunstância qualificadora em exame. Entrementes, o simples estrago na coisa,
por si só, afasta a substancialização da hipótese de qualificação do crime. Assinale-
se, à propósito, que é imprescindível que a conduta delituosa atinja o objeto que
obsta a apreensão ou a remoção da res furtiva.
A segunda modalidade constante na redação do inciso I do parágrafo 4º do
artigo 155 é o rompimento, que “designa a ação ou consequência de romper, que
importa partir, despedaçar, separar, rasgar, abrir, etc.”.
Deste modo, evidencia-se que a qualificadora de rompimento de obstáculo res-
tará configurada quando existe o vencimento do óbice material à consumação da
conduta delituosa. O rompimento pode ser compreendido com o intuito de afastar
ou ainda eliminar o obstáculo, mesmo que este seja preservado intacto. Todavia
alguns autores, acenam, em sentido contrário, com maciça ênfase, que para a moda-
lidade em destaque, mister se faz a ocorrência de dano efetivo à integração da coisa.
Há manifestações jurisprudenciais, no sentido de que o exame pericial não
constitui o único meio probatório apto para a comprovação da qualificadora em
análise, sendo permitida a utilização de outros meios, como a prova testemunhal

capítulo 1 • 27
e a documental, para obter a verdade real. Destarte, conquanto o exame pericial
goze de importância para a materialização da modalidade em análise, este não é
o único meio, sendo, como visto alhures, admitida a utilização de outros instru-
mentos probatórios.

Abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza

Inicialmente, ao se examinar em detalhes as hipóteses contidas no inciso II do


parágrafo 4o do artigo 155, do Código Penal, verifica-se que o legislador inscre-
veu diversas modalidades que, uma vez presentes na perpetração do ato delituoso,
terão o condão de qualificar o crime.
O abuso de confiança, a que se refere o dispositivo em exposição, pressupõe
presença de liberdade, lealdade, credibilidade, pressupõe a existência de honestidade
entre as pessoas. Abusa o agente da confiança que nele fora depositada quando se
aproveita dessa relação de fidelidade existente anteriormente para praticar a subtra-
ção. Desta sorte, para que reste configurada a modalidade em análise, necessária a
demonstração da existência da relação de sincera fidelidade, a qual continha sensação
de segurança e fidelidade, antes da perpetração da subtração da coisa. O abuso de
confiança existe quando, aproveitando-se da menor proteção dispensada pelo sujeito
passivo à coisa, diante da confiança que deposita no agente, pratica este a subtração.
Relevante consignar, que a relação de emprego, por si só, não é rotunda para
a caracterização da modalidade em questão, sendo também imprescindível a de-
monstração da existência de uma relação pautada na confiança que era dispensada
à figura do sujeito ativo. Não existindo tal aspecto, não haverá a incidência da mo-
dalidade em apreço, mas sim a agravante genérica entalhada no artigo 61, inciso
II, alínea “f ”, atinentes às relações domésticas, da coabitação ou de hospitalidade.
A fraude, por sua vez, está alicerçada no emprego dos meios tidos como ar-
dilosos, insidiosos, fazendo a vítima incorrer ou ainda se manter em erro, com
o escopo de que o agente pratique a conduta delituosa. Trata-se de subterfúgio
empregado com o fito exclusivo de facilitar a subtração, sendo pelo agente deli-
tuoso levado a efeito. Neste ponto, considera-se a ocorrência da fraude quando o
agente, de maneira ardilosa, constrói uma relação pautada na confiança, com o
fim de perpetrar a subtração, fazendo, destarte, que a vítima incorra em erro, no
que refere à fidelidade recíproca.
A escalada é tida como o emprego da via anormal, com a intenção de aden-
trar na casa ou local em que irá perpetrar a subtração da res. Trata-se do ingresso
em edifício ou recinto fechado ou ainda saída dele, utilizando-se de vias que,

capítulo 1 • 28
normalmente, não são destinadas ao trânsito de pessoas. Ressalte-se ainda, que o
agente delituoso deverá lançar mãos de instrumentos artificiais, ou seja, não vio-
lentos, ou ainda de sua própria agilidade.
Além disso, a escalada compreende tanto o galgar uma altura, como saltar um
desvão, a exemplo de um fosso, ou mesmo passar por uma via subterrânea, desde
que esta não seja transitável comumente, como é o caso dos túneis de esgoto e
galerias pluviais. Há, também, a escalada quando o agente delituoso adentra no
local pelo telhado, removendo as telhas que o cobrem.
Doutro modo, não se caracteriza a escalada quando o agente emprega destreza
normal para ultrapassar obstáculo de pequena altura ou, ainda, quando, para a
subtração de fios elétricos, escala o poste, já que este não se afigura como meio de
defesa ou ainda de proteção à coisa nem o agente delituoso se valeu de via anormal
para subtrair a coisa.
A última modalidade compreendida na redação do inciso em exame se refere à
utilização de destreza, que consiste na habilidade física ou manual do agente, por
meio da qual a subtração resta possibilitada, sem que a vítima perceba. Trata-se
da conjugação de habilidade com dissimulação, na qual se constata que o indiví-
duo se adestra, treina, especializa-se, adquirindo agilidade para subtrair a res. O
típico exemplo da utilização dessa modalidade é a “punga”, isto é, a subtração por
arrebatamento (crime de trombadinha), consistente na subtração da carteira em
local em que se aglomeram pessoas. Todavia, não há que se falar na incidência da
modalidade em epígrafe, quando da subtração, se a vítima se encontrar dormindo.

Emprego de chave falsa

O inciso III do parágrafo 4o do artigo 155, do Código Penal, traz como qua-
lificadora do crime de furto, o emprego de chave falsa, cujo conceito abarca, além
da imitação da chave verdadeira, todo o instrumento de que se utiliza o agente
para que o mecanismo de uma fechadura ou ainda dispositivo similar possa fun-
cionar, como gazuas, grampos, tesoura, arames etc., facilitando ou mesmo possi-
bilitando a perpetração da conduta delituosa.
Há jurisprudência que se posiciona no sentido de que o conceito de chave
falsa compreende todo o instrumento, com ou sem forma de chave, empregado
como dispositivo para abrir fechadura, assim como a utilização de mixa, com o
intento de acionar o motor do automóvel, tendo o condão de caracterizar a quali-
ficadora inserta na redação do inciso III do § 4o do artigo 155, do Código Penal.

capítulo 1 • 29
Concurso de Duas ou Mais Pessoas

A circunstância inserida no inciso IV do parágrafo 4o do artigo 155, do Código


Penal, denota maior periculosidade dos agentes, já que unem seus esforços para a
perpetração da conduta delituosa, subsistindo a qualificadora ainda que um dos
integrantes do concurso seja inimputável.
Na realidade, para que se configure a mencionada qualificadora basta, tão
somente, que um dos agentes seja imputável, não importando se os demais par-
ticipantes possuam ou não esse status. Igualmente, é necessário que tão somente
um dos envolvidos seja descoberto, não subsistindo a imprescindibilidade sequer
da qualificação dos demais agente.
Existem julgados em nossos tribunais que manifestam a possibilidade da coe-
xistência do furto qualificado pelo concurso de duas ou mais pessoas com o crime
de quadrilha. O argumento estruturante se alicerçou na premissa que as condutas
ora aludidas são autônomas e independentes, sendo que a primeira é ofensiva ao
patrimônio, ao passo que a segunda à paz pública. Alegam que, não haveria o bis
in idem, em razão dos aspectos supramencionados.
Apesar da divergência doutrinária em relação ao tema, na jurisprudência tem
se visto o reconhecimento da qualificadora em qualquer caso de envolvimento de
duas ou mais pessoas no crime, adotando-se, assim, a corrente que interpreta que
a qualificadora atinge todas as pessoas envolvidas na infração penal, ainda que não
tenham praticado atos executórios e mesmo que uma só tenha estado no local do
crime realizando ato de subtração.
Entretanto, não existe qualquer divergência, quando há duas pessoas no local
realizando ato executório, contando coma ajuda de uma terceira pessoa na con-
dição de partícipe. Destarte, é pacífico nesse caso que a qualificadora se aplica a
todos eles.

Subtração de veículo automotor transportado para outro estado ou para o exterior

O objeto material da qualificadora incluída no parágrafo 5o do artigo 155, do


Código Penal é o veículo automotor, incluindo-se em tal acepção automóveis, ca-
minhões, lanchas, motocicletas etc., desde que venha ser transportado para outro
estado ou para o exterior.
O objeto material dessa espécie de furto qualificado é veículo automotor, ou
seja, aquele que se move mecanicamente, especialmente a motor de explosão, para

capítulo 1 • 30
transporte de pessoa ou carga, tais como: automóveis, utilitários, caminhões, ôni-
bus, motocicletas etc. Observa-se, ao examinar a reprimenda cominada no pa-
rágrafo 5o, do artigo 155, do Código Penal, que o legislador desejou punir, com
mais severidade, a perpetração da espécie em apreciação, qual seja: reclusão de três
a oito anos.
O legislador considerou que a conduta contida no dispositivo supramencio-
nado vem, de maneira maciça, alcançando proporções alarmantes, assim como,
geralmente, causa prejuízo econômico à vítima, bem como a dificuldade na
apreensão da res furtiva. É conveniente assinalar que, para a atribuição da qua-
lificadora em exame, é imprescindível o transporte do veículo automotor para
outro estado da federação, local diverso da subtração, ou para o exterior. Assim,
se o agente subtrai veículo automotor sem a finalidade de ultrapassar a barreira de
seu estado, o furto será simples, e não qualificado. Dessa forma, constata-se que
a qualificadora requer a conjugação do objeto material, com o transporte efetivo
do veículo automotor para outro estado ou mesmo para o exterior, a fim de que
a qualificadora possa subsistir. A efetiva transposição do veículo automotor apre-
senta-se como conditio sine qua non para a ocorrência da espécie da qualificadora.

Furto qualificado de semovente domesticável de produção

O art. 155, § 6o, do Código Penal, introduzido pela lei 13.330/2016, define
uma terceira figura de furto qualificado, assim transcrito: “se a subtração for de
semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no
local da subtração”. Destarte, enquanto o furto simples tem pena de reclusão de
1 a 4 anos e multa, a presente figura qualificada tem pena de reclusão de 2 a 5 anos.
Trata-se também de um tipo penal autônomo, distinto das demais figuras
qualificadas, inclusive, da mesma forma do parágrafo anterior, sem a previsão legal
da pena de multa.
Essa qualificadora não está relacionada ao meio de execução do furto ou ao
resultado posterior à subtração, mas ao objeto material do crime, qual seja o semo-
vente domesticável de produção.
O dispositivo legal objetiva combater o abigeato ou abacto que consiste no
furto de animais no campo, tanto gado bovino quanto equino, que é muito co-
mum em zonas de fronteiras “secas” entre dois países, como Brasil e Uruguai
ou Paraguai.

capítulo 1 • 31
Para caracterizar a qualificadora em estudo, é necessário que o objeto material
do crime seja semovente domesticável de produção. Assim, são três os elementos:
1. Semovente – é aquele que anda ou se move por si, ou seja, são animais de
bando, tais como: os bovinos (boi, bisonte, búfalo); ovinos (carneiro, ovelha, cor-
deiro); suínos (porco doméstico, leitão, javali) e equinos (cavalo, burro, jumento)
etc.
2. Domesticável – é aquele que se pode domesticar. Há divergência de entendi-
mentos com referência a esse elemento.
3. De produção – é aquele cuja finalidade da criação é a obtenção de produtos
com objetivo comercial.
Destarte, não basta o objeto material tratar-se de semovente, haja vista que,
também se exige que o mesmo seja domesticável e de produção. Ainda que o
objeto material seja abatido (morto) ou dividido em partes (cortado em peda-
ços) no local da subtração (lugar do crime), haverá a incidência da qualificadora
em estudo.
A identificação dessa qualificadora afasta a incidência daquelas relacionadas ao
meio de execução do furto, qual seja parágrafo 4o, do art. 155, do Código Penal
que, no caso de coexistência, aquelas serão tratadas como circunstâncias judiciais
desfavoráveis, na forma do Art. 59, caput, do Código Penal.
Assim sendo, verifica-se um flagrante contrassenso, eis que, o agente acaba
incidindo em uma pena menor da que seria aplicada antes da inovação.

ATIVIDADES
Ao responder os questionamentos, você fixará melhor o conteúdo trabalhado neste ca-
pítulo. Boa sorte.

01. Pretendendo subtrair bens do escritório onde exerce a função de secretária particular
do diretor, Júlia ingressa no respectivo imóvel arrombando a janela. Júlia é auxiliada por seu
irmão Luiz, a quem coube a função de permanecer de vigília na porta. Ao escutar um barulho
que a faz acreditar existir alguém no escritório, Júlia foge, deixando no local seu comparsa,
que vem a ser preso por policiais. Aponte o(s) delito(s) perpetrado(s) por Júlia e Luiz.
a) Ela responderá por tentativa de furto qualificado e ele, pelo delito consumado.
b) Trata-se de desistência voluntária, não havendo qualquer delito a ser imputado.
c) Ambos respondem por violação de domicílio.
d) Júlia responde por invasão de domicílio e Luiz por tentativa de furto.

capítulo 1 • 32
02. Dentre as alternativas a seguir, aquela que qualifica o crime de furto é
a) valor da coisa furtada. c) violência contra o lesado.
b) idade da pessoa lesada. d) participação de duas ou mais pessoas.

03. Tício furta um rádio da residência de Caio, inexistindo qualquer tipo de violência. Perse-
guido pela polícia, Tício dispara tiros para o alto e foge. Na hipótese ocorreu
a) crime de furto.
b) crime de roubo.
c) crime de roubo impróprio.
d) crime de roubo qualificado.

04. Mévio, após esconder no mato uma bicicleta que havia furtado, viu-se despojado dela
por parte de Carlos, que a subtraiu para si, com pleno conhecimento da origem do objeto.
Pode-se afirmar que o segundo ladrão
a) cometeu crime de apropriação de coisa achada.
b) cometeu crime de receptação dolosa.
c) cometeu crime de furto, assim como Mévio.
d) não responde por nenhum delito, porque subtraiu para si a coisa já furtada.

05. Assinale a alternativa correta.


a) O crime de roubo é a subtração de coisa móvel alheia, para si ou para outrem, sem
emprego de violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência.
b) O crime de roubo é a subtração de coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante
ameaça e destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa.
c) O roubo impróprio ocorre quando o agente, logo depois de subtraída a coisa, emprega
violência à pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
detenção da coisa para si ou para terceiro.
d) O furto do sinal de TV a cabo não tem tipificação no Código Penal, razão pela qual não
pode ser considerada infração.

06. Dois indivíduos, previamente ajustados, saem de um supermercado, com mercadorias,


sem passar pelo caixa, vindo um deles a ser preso em flagrante no estacionamento do su-
permercado, com parte das mercadorias, enquanto seu comparsa consegue fugir com o res-
tante das mercadorias. Com relação à situação apresentada, é correto afirmar que o indivíduo
preso em flagrante

capítulo 1 • 33
a) responderá por furto qualificado tentado.
b) responderá por furto qualificado consumado.
c) responderá por furto privilegiado.
d) não responderá por qualquer ilícito, pois a hipótese configura crime impossível.

07. O roubo próprio ocorre quando


a) o agente emprega a violência ou a ameaça após ter subtraído a coisa alheia.
b) o agente emprega a violência ou a ameaça antes de ter subtraído a coisa alheia.
c) o agente não utiliza violência ou ameaça para subtrair a coisa da vítima.
d) o agente induz a vítima a erro para subtrair-lhe a coisa.

08. O crime de roubo qualificado pelo resultado morte


a) é hediondo, segundo a lei no 8.072/90.
b) a pena é aumentada quando a vítima é menor de 14 anos.
c) a morte da vítima pode ser culposa ou dolosa.
d) Todas as respostas anteriores estão corretas.

09. Analise as afirmações a seguir e escolha a resposta correta.


I. Furto de uso, em face do Código Penal vigente, não constitui crime.
II. No furto mediante fraude, a fraude visa permitir que a vítima incida em erro e, por isso,
despoje voluntariamente de seu bem, tendo consciência de que este está ingressando na
esfera de disponibilidade do autor.
III. No furto qualificado pelo abuso de confiança, o sujeito não tem a posse do objeto mate-
rial, que continua na esfera de proteção de seu dono.
a) Apenas a afirmação I está correta. c) As afirmações I e III estão corretas.
b) As afirmações II e III estão corretas. d) Todas as afirmações estão corretas.

10. Mário e Mauro combinam a prática de um crime de furto a uma residência. Contudo,
sem que Mário saiba, Mauro arma-se de um revólver devidamente municiado. Ambos, então,
ingressam na residência escolhida para subtrair os bens ali existentes. Enquanto Mário sepa-
rava os objetos para subtração, Mauro é surpreendido com a presença de um dos moradores
que, ao reagir a ação criminosa, acaba sendo morto por Mauro. Nesta hipótese:
a) Mário e Mauro responderão pela prática de latrocínio.
b) Mário e Mauro responderão pela prática de furto.
c) Mário responderá pela prática de furto simples e Mauro responderá pela prática de furto
qualificado.

capítulo 1 • 34
d) Mário responderá apenas pelo furto e Mauro responderá pela prática dos crimes de
porte ilegal de arma de fogo, furto e homicídio.
e) Mário responderá pela prática de furto e Mauro pelo crime de latrocínio.

JURISPRUDÊNCIA
STJ – CC: 131043 MA 2013/0368035-0
RELATOR: MINISTRO GURGEL DE FARIA
Data de Julgamento: 8/10/2014
S3 – TERCEIRA SEÇÃO
Data de Publicação: 14/10/2014

EMENTA: CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. CRIME DE FURTO MEDIANTE


FRAUDE. TRANSFERÊNCIA FRAUDULENTA DE VALORES ENTRE CONTAS BANCÁ-
RIAS. LOCAL DA CONSUMAÇÃO. 1. Nos termos do entendimento da Terceira Seção desta
Corte, a subtração de valores de conta-corrente, mediante transferência fraudulenta para
conta de terceiro, sem consentimento da vítima, configura crime de furto mediante fraude,
previsto no art. 155, § 4o, inciso II do Código Penal. 2. É competente o Juízo do lugar da
consumação do delito de furto, in casu, o local em que se situa a conta bancária subtraída. 3.
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 5a Vara de Santos-SJ/
SP, o suscitado.

STJ – CC: 131043 MA 2013/0368035-0


RELATOR: MINISTRO GURGEL DE FARIA
Data de Julgamento: 8/10/2014
S3 – TERCEIRA SEÇÃO
Data de Publicação: 14/10/2014

EMENTA: CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. CRIME DE FURTO MEDIANTE


FRAUDE. TRANSFERÊNCIA FRAUDULENTA DE VALORES ENTRE CONTAS BANCÁ-
RIAS. LOCAL DA CONSUMAÇÃO. 1. Nos termos do entendimento da Terceira Seção desta
Corte, a subtração de valores de conta-corrente, mediante transferência fraudulenta para
conta de terceiro, sem consentimento da vítima, configura crime de furto mediante fraude,
previsto no art. 155, § 4o, inciso II do Código Penal. 2. É competente o Juízo do lugar da
consumação do delito de furto, in casu, o local em que se situa a conta bancária subtraída. 3.

capítulo 1 • 35
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 5a Vara de Santos-SJ/
SP, o suscitado.

STJ – CC: 131043 MA 2013/0368035-0


RELATOR: MINISTRO GURGEL DE FARIA
Data de Julgamento: 8/10/2014
S3 – TERCEIRA SEÇÃO
Data de Publicação: 14/10/2014

EMENTA: CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. CRIME DE FURTO MEDIANTE


FRAUDE. TRANSFERÊNCIA FRAUDULENTA DE VALORES ENTRE CONTAS BANCÁ-
RIAS. LOCAL DA CONSUMAÇÃO. 1. Nos termos do entendimento da Terceira Seção desta
Corte, a subtração de valores de conta-corrente, mediante transferência fraudulenta para
conta de terceiro, sem consentimento da vítima, configura crime de furto mediante fraude,
previsto no art. 155, § 4o, inciso II do Código Penal. 2. É competente o Juízo do lugar da
consumação do delito de furto, in casu, o local em que se situa a conta bancária subtraída. 3.
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 5a Vara de Santos-SJ/
SP, o suscitado.

STJ – RHC: 2190221902 MG 2007/0200501-1


RELATOR: MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
Data de Julgamento: 16/03/2010
T5 – QUINTA TURMA
Data de Publicação: 26/04/2010

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. RECORRENTE, GERENTE


NA FAZENDA DE PROPRIEDADE DA VÍTIMA, DENUNCIADO POR FURTO QUALIFICADO
PELO ABUSO DE CONFIANÇA (ART. 155, § 4o, II DO CPB). FURTO DE 26 CABEÇAS
DE GADO, COM SUA POSSÍVEL REVENDA A AÇOUGUES DA REGIÃO. DEMISSÃO POR
JUSTA CAUSA. APURAÇÃO DO FATO PELA JUSTIÇA TRABALHISTA. AUSÊNCIA DE BIS
IN IDEM. COMPETÊNCIAS DISTINTAS DA JUSTIÇA TRABALHISTA E DA ESTADUAL CO-
MUM. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DO ELEMENTO SUBJETIVO DO
TIPO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. PEÇA ACUSATÓRIA QUE INFORMA A AUSÊNCIA
DE AUTORIZAÇÃO DO PROPRIETÁRIO PARA A VENDA DAS RESES. PARECER DO MPF
PELA DESPROVIMENTO DO RECURSO. RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO.

capítulo 1 • 36
1. Não há falar em bis in idem, porquanto evidente a independência das esferas criminal
comum e trabalhista, esta última voltada para o deslinde exclusivo da matéria laboral.
2. Descabe na via eleita a pretensão da análise da ocorrência, ou não, do elemento subje-
tivo exigido pelo tipo penal contido no art. 155, § 4o, II do CPB, diante da evidente estreiteza
cognitiva do habeas corpus. Ademais, a denúncia contém elementos suficientes a possibilitar
a ampla defesa, descrevendo o fato havido por criminoso e todas as suas circunstâncias, tra-
zendo, outrossim, indícios suficientes de autoria, tudo em acordo com a legislação processual
penal em vigor.
3. Parecer do MPF pelo desprovimento do recurso.
4. Recurso Ordinário desprovido.

TJ-MA – APL: 0186722015 MA 0000104-77.2004.8.10.0137


RELATOR: RAIMUNDO NONATO MAGALHÃES MELO
Data de Julgamento: 15/03/2016
PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL
Data de Publicação: 22/03/2016

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL – ROUBO QUALIFICADO –MATERIALIDADE E AU-


TORIA CONFIRMADA – CONCURSO DE PESSOAS – USO DE VIOLÊNCIA MEDIANTE
USO DE ARMA – RECURSO IMPROVIDO. 1.: APELAÇÃO CRIMINAL – ROUBO QUALI-
FICADO – MATERIALIDADE E AUTORIA CONFIRMADA – CONCURSO DE PESSOAS
– USO DE VIOLÊNCIA MEDIANTE USO DE ARMA – RECURSO IMPROVIDO. 1.: APELA-
ÇÃO CRIMINAL – ROUBO QUALIFICADO – MATERIALIDADE E AUTORIA CONFIRMADA
– CONCURSO DE PESSOAS – USO DE VIOLÊNCIA MEDIANTE USO DE ARMA – RECUR-
SO IMPROVIDO. 1.: APELAÇÃO CRIMINAL – ROUBO QUALIFICADO – MATERIALIDADE E
AUTORIA CONFIRMADA – CONCURSO DE PESSOAS – USO DE VIOLÊNCIA MEDIANTE
USO DE ARMA – RECURSO IMPROVIDO. 1. Autoria e materialidade delitiva devidamente
confirmadas. 2. Concurso de pessoas – foi comprovado que o Apelante agiu em companhia
de outro. 3. Recurso Improvido.

STJ – HC: 185101 SP 2010/0170000-5


RELATOR: MINISTRO NEFI CORDEIRO
Data de Julgamento: 7/4/2015
T6 – SEXTA TURMA
Data de Publicação: 16/4/2015.

capítulo 1 • 37
EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE
RECURSO ESPECIAL. NÃO CONHECIMENTO DO WRIT. CRIMES DE LATROCÍNIOS (TRÊS
CONSUMADOS E UM TENTADO). PLEITO DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE
ROUBO MAJORADO. VIA IMPRÓPRIA. NECESSIDADE DE REEXAME APROFUNDADO
DA PROVA. CRIME COMPLEXO. RESULTADO: UMA SUBTRAÇÃO E VÁRIAS MORTES.
TESE DE OCORRÊNCIA DE CRIME ÚNICO. NÃO OCORRÊNCIA. APLICAÇÃO DO CON-
CURSO FORMAL DE CRIMES. DESÍGNIOS AUTÔNOMOS. CONSTRANGIMENTO ILE-
GAL NÃO EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 1. Ressalvada pessoal
compreensão diversa, uniformizou o Superior Tribunal de Justiça ser inadequado o writ em
substituição a recursos especial e ordinário, ou de revisão criminal, admitindo-se, de ofício,
a concessão da ordem ante a constatação de ilegalidade flagrante, abuso de poder ou te-
ratologia. 2. O exame do pleito de desclassificação para o delito de roubo majorado, por de-
mandar a análise aprofundada do material cognitivo produzido nos autos, mostra-se inviável
em sede de habeas corpus, sobretudo quando as instâncias ordinárias, soberanas na análise
fático-probatória, concluíram pela prática dos delitos de latrocínio. Precedentes. 3. Prevalece,
no Superior Tribunal de Justiça, o entendimento no sentido de que, nos delitos de latrocínio
– crime complexo, cujos bens jurídicos protegidos são o patrimônio e a vida –, havendo uma
subtração, porém mais de uma morte, resta configurada hipótese de concurso formal impró-
prio de crimes e não crime único. Precedentes. 4. Habeas corpus não conhecido.

STJ – RHC: 58275 SP 2015/0083277-1


RELATOR: MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Data de Julgamento: 7/5/2015
T6 – SEXTA TURMA
Data de Publicação: DJe 15/5/2015.

EMENTA: PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. OR-


GANIZAÇÃO CRIMINOSA, ROUBOS CIRCUNSTANCIADOS (CONSUMADOS E TENTA-
DOS), EXTORSÃO, TENTATIVA DE LATROCÍNIO, FURTO QUALIFICADO E RECEPTAÇÃO.
PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO. GRAVIDADE DO CRIME. MODUS OPERANDI
DELITIVO. PERICULOSIDADE DO ACUSADO. ELEMENTOS CONCRETOS A JUSTIFICAR
A MEDIDA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. OCORRÊNCIA. TESE DE LETARGIA PROCES-
SUAL. ACUSADO NÃO SEGREGADO. APRECIAÇÃO DA TEMÁTICA. IMPOSSIBILIDADE.
ARGUMENTO DEFENSIVO NÃO APRESENTADO PERANTE O COLEGIADO ESTADUAL.
RECURSO CONHECIDO EM PARTE E, NESSA EXTENSÃO, DESPROVIDO. 1. Não é ilegal
o encarceramento provisório que se funda em dados concretos a indicar a necessidade da

capítulo 1 • 38
medida cautelar, especialmente em elementos extraídos da conduta perpetrada pelo acusa-
do, quais sejam, o modus operandi delitivo e a periculosidade do agente, cifrados em intré-
pida e audaz ação criminosa, dispondo de uma perniciosa influência intimidatória, demons-
trando-se, assim, a necessidade da prisão para a garantia da ordem pública. 2. Não estando
o acusado segregado, eis que ausente do distrito da culpa, é inviável a apreciação da tese do
excesso de prazo para quem nem preso está, acrescentando-se que a temática sequer fora
apresentada perante o Colegiado de origem. 3. Recurso parcialmente conhecido e, nessa
extensão, negado provimento.

TJ-DF – APR: 94569420088070010 DF 0009456-94.2008.807.0010


Relator: ROBERVAL CASEMIRO BELINATI
Data de Julgamento: 25/3/2010
2a Turma Criminal
Data de Publicação: 14/4/2010

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE ROUBO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂN-


CIA. NÃO APLICAÇÃO. CONFISSÃO ESPONTÂNEA JÁ RECONHECIDA PELA SENTEN-
ÇA. REDUÇÃO DA PENA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. NÃO
É CABÍVEL A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO CRIME DE ROUBO,
EM RAZÃO DA VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA A ELE INERENTE, E POR SEREM TUTE-
LADAS, ALÉM DO PATRIMÔNIO, A INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL DA VÍTIMA. 2. DEVE
SER EXCLUÍDA A AVALIAÇÃO DESFAVORÁVEL DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DA
CONDUTA SOCIAL, DA PERSONALIDADE, DOS MOTIVOS E DAS CONSEQUÊNCIAS DO
CRIME, MANTENDO-SE, TODAVIA, A AVALIAÇÃO NEGATIVA DOS ANTECEDENTES. NÃO
É POSSÍVEL A EXACERBAÇÃO DA PENA-BASE COM FUNDAMENTO EM CONJECTU-
RAS NÃO COMPROVADAS NOS AUTOS E NAQUELAS INERENTES AO TIPO PENAL.
3. NÃO HÁ INTERESSE NO PEDIDO DA DEFESA QUANTO AO RECONHECIMENTO DA
CONFISSÃO ESPONTÂNEA, TENDO EM VISTA QUE A REDUÇÃO PRETENDIDA JÁ FORA
DEVIDAMENTE REALIZADA PELA SENTENÇA. 4. RECURSO CONHECIDO E PARCIAL-
MENTE PROVIDO PARA EXCLUIR A AVALIAÇÃO DESFAVORÁVEL DAS CIRCUNSTÂN-
CIAS JUDICIAIS DA CONDUTA SOCIAL, DA PERSONALIDADE, DOS MOTIVOS E DAS
CONSEQUÊNCIAS DO CRIME, REDUZINDO A PENA PARA 04 (QUATRO) ANOS DE RE-
CLUSÃO E 10 (DEZ) DIAS-MULTA, NO VALOR MÍNIMO LEGAL.

TJ-AL – APL: 00026524220128020000 AL 0002652-42.2012.8.02.0000


RELATOR: DES. EDIVALDO BANDEIRA RIOS

capítulo 1 • 39
Data de Julgamento: 10/4/2013
Câmara Criminal
Data de Publicação: 5/6/2013

EMENTA: PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE ROUBO. PRINCÍPIO DA IN-


SIGNIFICÂNCIA. INVIABILIDADE. VALOR SUBSTANCIAL DA RES FURTIVA. CRIME CO-
METIDO COM VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA. LESÃO À INTEGRIDADE FÍSICA E/OU
PSÍQUICA DA VÍTIMA. ESPECIAL REPROVABILIDADE DA CONDUTA DO AGENTE. DES-
CLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE ROUBO CONSUMADO PARA TENTATIVA. NÃO OCOR-
RÊNCIA. APLICAÇÃO DA TEORIA DA AMOTIO. DIMINUIÇÃO NO QUANTUM RELATIVO À
ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. REDIMENSIONAMENTO DA PENA E ALTE-
RAÇÃO DO REGIME PRISIONAL. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDREUCCI, Ricardo Antunes. Direito penal e criação judicial. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1989.
BASTOS, João José Caldeira. Crimes contra o patrimônio: anotações crítico-metodológicas. Revista
Sequência – Estudos Jurídicos e Políticos, n. 33. Florianópolis: CPGD/UFSC, dez. 1996. Igualmente
em: Jurisprudência Catarinense, v. 78. Florianópolis: TJSC, 1997. Texto disponível em Jus Navigandi,
disponível em: <www.jus.com.br>; Buscalegis, disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br>. Acessos em:
dez. 2017.
CAMARGO, Antonio Luis Chaves. Tipo penal e linguagem. Rio de Janeiro: Forense, 1982.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte Especial – v. 2. 16. ed. Saraiva: 2016.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Especial – v. II – 13. ed. Impetus: 2016.
HASSEMER, Winfried. Três Temas Penais, Publicação da Fundação Escola Superior do Ministério
Público, Porto Alegre, 1993.
JESUS, Damásio de. Direito Penal – v. 2 – Parte Especial – 35. ed. Saraiva: 2015.
OLIVEIRA, C. M. C. B. de; MACHADO, M. L. Filosofia, ética e cidadania. Rio de Janeiro: SESES,
2016.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 28. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A. 2014.

capítulo 1 • 40
CINE CONHECIMENTO
No fim do túnel – 2016
Sinopse: o cadeirante Joaquín (Leonardo Sbaraglia)
é muito solitário e para acabar com isso, ele aluga um dos
quartos para uma stripper e sua filha. A vida dele muda com
a presença delas. No entanto, a mulher, juntamente com o
namorado, planeja construir um túnel por baixo da casa e
roubar um banco.

Despedida em grande estilo – 2017


Sinopse: os amigos Willie (Morgan Freeman), Joe
(Michael Caine) e Albert (Alan Arkin) não imaginavam que
a vida de aposentado seria tão tediosa. O grande diver-
timento deles é ver televisão. O trio então busca alguma
forma para dar uma agitada na rotina e também nas suas
contas, já que suas pensões foram congeladas. Então, a
solução encontrada pelos idosos é roubar um banco.

Assalto ao Banco Central – 2011


Sinopse: em agosto de 2005, 164.7 milhões de reais
foram roubados do Banco Central em Fortaleza, Ceará.
Sem dar um único tiro, sem disparar um alarme, os bandi-
dos entraram e saíram por um túnel de 84 metros cavado
sob o cofre, carregando 3 toneladas de dinheiro. Foram
mais de três meses de operação. Milhares de reais foram
gastos no planejamento. Foi o segundo maior assalto a
banco do mundo. Um dos crimes mais sofisticados e bem
planejados de que já se teve notícia no Brasil. Quem eram
essas pessoas? E o que aconteceu com elas depois? São
as perguntas que todo o Brasil se faz desde então.

capítulo 1 • 41
A ocasião faz o ladrão – 2010
Sinopse: acusado por assaltar um banco em Nova
York, Henry, um pacato cobrador de pedágios, é condena-
do injustamente. Após cumprir pena, ele tem um objetivo
na vida: realizar de verdade o crime que não cometeu. O
plano é simples: infiltrar-se na produção de uma peça que
será exibida em um teatro, cuja construção tem um túnel
que leva ao banco em questão. Tudo parece perfeito depois
que seu amigo de cadeia Max decide ajudá-lo, mas a bela
atriz Julie, por quem acaba se apaixonando, não estava no
planejado.

Nokas – 2010
Sinopse: o filme tem base em fatos reais. Em 2005,
11 homens encapuzados invadem o maior banco de Sta-
vanger, na Noruega. Eles arquitetam um plano e em 20
minutos conseguem roubar US$ 10 milhões, enquanto a
polícia fecha o cerco contra a quadrilha.

capítulo 1 • 42
2
Crime de roubo e
extorsão
Crime de roubo e extorsão

Introdução

Neste capítulo procura-se evidenciar de forma objetiva o crime de roubo, que


se encontra inserido no rol dos crimes contra o patrimônio. Esse crime tem idên-
ticas características do furto, mas, fatores que, agregados ao elemento do tipo sub-
trair, geram um novo tipo penal. Há no roubo a subtração de coisa alheia móvel,
para si ou para outrem, porém com a existência de grave ameaça ou com o empre-
go de violência contra a pessoa. Os fatores empregados, culminando na entrega da
coisa, são as circunstâncias especiais que relevam sua diferença para o furto.
Assim alguns autores expõem que, a diferença conceitual entre furto e roubo
é que no primeiro, a subtração é clandestina e no segundo, o arrebatamento é
público e violento.
Nesse aspecto, expõe o Art.157 do Código Penal:
Artigo 157 do Código Penal – Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para
outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por
qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Pena – reclusão, de 4
(quatro) a 10 (dez) anos, e multa.
A tutela jurídica oferecida pelo tipo penal do roubo é a de acobertar o patri-
mônio contra terceiros. A essência do crime de roubo é a de ser um crime contra
o patrimônio. Não obstante, convém assinalar que este é um crime complexo e
tratando-se de crime complexo, o objeto jurídico imediato do roubo é o patrimô-
nio. Também se protege a integridade corporal, a liberdade e, no latrocínio, a vida
do sujeito passivo.

OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é estudar os crimes de roubo, contido no Art.157 do Código Pe-
nal e de extorsão, inserido no Art. 158 do Código Penal e as diversas condutas que se amol-
dam a mais de um tipo penal, criando uma imensa discussão doutrinária e jurisprudencial
acerca de qual dos tipos penais se aplicará àquela conduta. Isso ocorre devido à semelhança
entre os tipos penais, que abrangem ou deixam de abranger condutas distintas por ocasião

capítulo 2 • 44
de sua redação. No campo dos crimes patrimoniais, talvez os tipos penais mais similares e
que causam essa confusão são o roubo e a extorsão.

Crime roubo

Tipo objetivo e subjetivo

O delito descrito no tipo penal preceitua que a subtração da coisa deve vir
ligada com a violência ou a grave ameaça, sendo esta empregada, antes ou depois,
contra a pessoa. A conduta deve ser por uma via apta a causar o temor na vítima,
ou seja, o sofrimento psíquico, tornando diminuta sua capacidade de resistência
à intenção de subtrair, ou impor a ela algum tipo de dor, martírio, que é vislum-
brado por meio da violência (sofrimento físico), mas deve ser abstraído o grau da
lesão corporal, de lesividade à integridade física que fora empregado, bastando a
constrição física.
A ameaça independe de uma gradação, porém, revela-se contumaz, para sua
configuração a aparição dos seus reflexos na vítima, gerando a ela, um temor, um
medo em relação à sua integridade física.
A vis moralis pode surgir de diversas formas, não exigindo o comando le-
gal uma vinculação a formas específicas de gerar a ameaça. Esta pode se dar por
meio de gestos, gritos, ou seja, ameaçando com palavras de matar o ente querido
que está no lugar ou mirando a arma para outra pessoa na sala. Essa ameaça de
ocorrência de violência deve recair sobre pessoa humana, não podendo de forma
alguma ser sobre um objeto. No caso de ser sobre objeto, estaremos, pois, diante
de uma necessária desclassificação para o crime de furto qualificado, disposto no
art.155, § 4o, I, do Código Penal.
A violência deve ser manifestadamente física, com a utilização de meio apto
a lesionar, a causar uma alteração no estado de integridade física da pessoa. A
gravidade, o teor da lesão corporal deve ser apreciado para fins de aplicação do
princípio da absorção ou não. A lesão sendo leve será absorvida pelo roubo, haja
vista que está inserido no tipo, mas, ao contrário, se o dano físico for subsumido
à forma grave, estaremos diante de uma qualificadora, conforme o artigo 157,
inciso V, § 3o do Código Penal. Porém, se essa lesão for de cunho gravíssimo

capítulo 2 • 45
a conduta será apreciada em crime autônomo na forma de concurso com o
artigo 69 do Código Penal.
O meio capaz de reduzir a possibilidade de resistência deve ser compreendido
como todo aquele que seja apto a tornar diminuta a capacidade de apresentar
repulsa a subtração patrimonial. A determinação do meio que tenha eficácia para
decrescer a vontade de evitar o ilícito deve ser de forma subjetiva, sob a resistên-
cia dele ao meio e não submetendo isso a critérios objetivos, ou seja, do homem
médio.
Alguns exemplos podem ser colhidos na doutrina, tais como, sonífero, em-
prego de drogas, hipnose, intoxicação etílica. Os meios definidos no artigo como
garantidores da consumação do delito, que no primeiro momento revela como
crime de furto, com o fato agressor da integridade física ou psíquica, sendo agre-
gado e dando a configuração de roubo.
O elemento subjetivo do tipo é o ânimo de ter para si coisa móvel pertencente
a terceiros. Essa vontade de subtrair traz consigo o emprego de algumas das formas
vinculadas no caput do artigo, sendo exigido o chamado dolo específico.

Consumação e tentativa

O roubo é considerado consumado quando a coisa sai completamente do


domínio da vítima, ou, quando a coisa sai da esfera de vigilância da vítima. Mas o
crime estará consumado se o agente, tendo a posse calma da coisa, mesmo que por
pouco tempo, tendo que se desfazer dela para evitar o flagrante ou a perde durante
a perseguição, estaremos diante do delito na sua forma consumada.
Tempos atrás, se entendia que para a consumação do crime de roubo era ne-
cessário que o bem fosse tirado da esfera de vigilância do proprietário e o agente
tivesse sua posse tranquila, mesmo que por lapso de tempo diminuto.
Não obstante, os julgadores perceberam que, como no roubo, primeiramente
o agente domina a vítima pelo emprego de violência ou grave ameaça, no mo-
mento exato em que ele se apossa do bem pretendido, já é efetiva sua posse, sendo
desnecessário tirá-lo do lugar.
O lapso temporal em que há a posse tranquila é irrelevante para a consumação
do fato típico. O requisito é a existência dessa posse em algum momento, não pre-
cisando desse liame entre a passividade da posse e o tempo decorrido do alcance
da posse.

capítulo 2 • 46
Segundo entendimento nos Tribunais Superiores, atualmente, o crime de rou-
bo se consuma no momento em que o agente se apossa do bem da vítima, ainda
que seja preso no local, conforme Súmula no 582, do Superior Tribunal de Justiça,
dispondo que: “consuma-se o crime de roubo coma inversão da posse do bem,
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida a perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a possa mansa e pacífica ou desvigiada.”.
A tentativa é possível quando o agente emprega a violência ou grave ameaça e
não consegue se apropriar dos bens visados. Como exemplo se pode citar a vítima
que, ao ter a arma mirada para ela, acelera o carro que dirige e foge: o ladrão que é
preso no momento da abordagem em virtude de policiais que passavam pelo local
e flagraram sua conduta.

Sujeitos do crime de roubo

O sujeito ativo do crime de roubo pode ser qualquer pessoa, com exceção do
próprio dono da coisa, haja vista que a lei exige que a coisa seja alheia. Trata-se de
crime comum. Admite coautoria e participação. No caso da coautoria, para sua
existência não é preciso que todos os envolvidos realizem todos os atos de execu-
ção, podendo ser as tarefas repartidas. Exemplificando, se um dos agentes usa a
violência para derrubar a vítima, possibilitando com que o comparsa possa colocar
a mão no bolso dela e retirar a carteira, temos a coautoria, haja vista que ambos
os envolvidos cometeram ato de execução, ou seja, o primeiro visto que usou de
violência e o segundo porque efetuou a subtração.
O sujeito passivo é o proprietário, assim como o possuidor ou detentor do
bem, que sofra prejuízo econômico, bem como todos aqueles que sofram a vio-
lência ou grave ameaça, mesmo que não tenham prejuízo material. Tratando-se de
crime complexo, é possível haver diversas vítimas de um só roubo. Como exem-
plo, Mário empresta a moto para José, e os ladrões apontam a arma para este,
levando a moto. O crime de roubo é apenas um e as vítimas são duas: José, porque
sofreu grave ameaça e Mário, porque ficou sem a moto.
A pessoa jurídica pode também ser sujeito passivo do crime de roubo na con-
dição de dona dos valores subtraídos. No caso, se os assaltantes entram em um es-
tabelecimento bancário e dominam quinze pessoas, entre funcionários e clientes,
no entanto levam somente o dinheiro do cofre da agência, mostram-se presentes

capítulo 2 • 47
dezesseis vítimas, ou seja, as quinze pessoas que sofreram a grave ameaça, e a pes-
soa jurídica dona dos valores levados, qual seja, o banco.

Roubo próprio e impróprio: distinções

A figura criminosa inserida no Art.157 do Código Penal abrange o roubo


simples, que pode ser próprio ou impróprio, cinco causas de aumento de pena e
duas qualificadoras.
O roubo próprio está inserido no caput do Art.157 do Código Penal que dis-
põe: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça
ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impos-
sibilidade de resistência.”.
O roubo impróprio é o centro do presente trabalho, que encontra base nor-
mativa no parágrafo primeiro do artigo 157, do Código Penal, assim transcrito:
"Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violên-
cia contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
detenção da coisa para si ou para terceiro".
Esta forma de roubo difere do roubo próprio justamente porque neste, a
ameaça e a violência são meios para a consecução da apreensão, ao passo que, nele
o agente já se apoderou da coisa.
Não há roubo impróprio, sem a detenção anterior da coisa, pelo delinquente,
seguindo-se a ameaça ou a violência, para o fim de assegurar a detenção da coisa
ou a impunidade do delito.
A diferença reside no momento da agressão, enquanto no tipo originário a
agressão se dá para obter a subtração da coisa, no tipo derivado a agressão ocorre
com o objetivo de manter para si a posse da coisa ou acautelar-se da aplicação
da pena.
As diferenças principais entre roubo próprio e roubo impróprio são as
seguintes:
•  No roubo próprio, a violência e a grave ameaça constituem o meio para
o agente subjugar a vítima e obter a subtração. Portanto, são utilizadas antes e
durante a subtração.
•  No roubo impróprio, o agente inicialmente pretendia cometer somente um
furto e até já havia se apoderado do bem visado, não obstante, logo após a sub-
tração, ele emprega violência ou grave ameaça com a finalidade de garantir sua

capítulo 2 • 48
impunidade ou a retenção do bem subtraído. No roubo impróprio, a violência ou
grave ameaça sempre ocorrem depois da subtração.

ROUBO ROUBO
PRÓPRIO IMPRÓPRIO

Art. 157 - Subtrair coisa móvel Art. 157 - § 1º - Na mesma pena incorre
alheia, para si ou para outrem, quem, logo depois de subtraída a coisa,
mediante grave ameaça ou emprega violência contra pessoa ou
violência a pessoa, ou depois de grave ameaça, a fim de assegurar a
havê-la, por qualquer meio, reduzido impunidade do crime ou a detenção
à impossibilidade de resistência da coisa para si ou para terceiro.

ATENÇÃO ATENÇÃO

• Violência ou grave ameaça • Somente violência ou


ou redução da capacidade grave ameaça
de resistência
• Momento: após a subtração
• Momento: antes ou durante a
subtração • Finalidade: assegurar a
detenção da coisa ou garantir a
• Finalidade: subtrair impunidade

Figura 2.1  –  Disponível em :<http://www.pictame.com>. Acesso em: dez. 2017.

Causas de aumento de pena no roubo

O Art. 157, § 2o, do Código Penal indica cinco (5) causas de aumento de
pena, de um terço até a metade, que são aplicáveis tanto ao roubo próprio quanto
ao impróprio.
•  Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma
O fundamento da agravante consiste no maior perigo que o uso da arma en-
volve razão pela qual é indispensável que o instrumento usado pelo agente, qual
seja, arma própria ou imprópria, tenha idoneidade para ofender a incolumidade

capítulo 2 • 49
física. A Súmula 174 do STJ autorizava o aumento de pena quando o agente utili-
zava arma de brinquedo para cometer o crime, não obstante, com o cancelamento
da supramencionada súmula, esta conduta passou a ser considerada uma grave
ameaça relacionada ao roubo simples.
A doutrina e jurisprudência pacificaram que o fato de o agente mentir que está
armado, quer verbalmente, quer por meio de gestos, ou seja, encostando um de
seus dedos nas costas da vítima, ou colocando sua mão sob a blusa, não constitui
emprego de arma, haja vista que, obviamente, não manuseou qualquer arma.
•  Se há o concurso de duas ou mais pessoas
A doutrina predominante afirma que não há necessidade de estarem to-
dos os agentes presentes no local do crime, basta haver o concurso de duas ou
mais pessoas.
•  Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece
tal circunstância
A norma tutela aqueles que transportam valores, seja o valor de qualquer tipo
como ouro, dinheiro, pedras preciosas etc. O agente deve saber que a vítima está
a transportar valores, dolo direto, portanto.
•  Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para
outro estado ou para o exterior
É necessário para a consumação do delito que o veículo seja levado para outro
estado ou país, não havendo, assim, possibilidade de ocorrer tentativa. O agente,
ou leva e ingressa com o veículo em outro estado ou país e o crime está consuma-
do, ou não ingressa e o crime será de furto ou roubo conforme a circunstância.
•  Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade
Após o emprego da violência ou grave ameaça, o objetivo do agente é manter
a vítima em seu poder e assim facilitar a subtração. A restrição de liberdade da
vítima deve ser por tempo razoável, suficiente para que o agente consuma o delito
sem ser descoberto pela polícia.

capítulo 2 • 50
V I
MANTÉM A VÍTIMA
EM SEU PODER EMPREGO DE ARMA
Restringindo a sua liberdade

II
Crimes Contra
Patrimônio CONCURSO DE
PESSOAS
ROUBO

AUMENTO DE 1/3
DE PENA* ATÉ 1/2
* CP art. 157, § 2º
Estados IV III
a outros ROUBO DE VÍTIMA TRANSPORTA
VEÍCULOS + VALORES
Países REMESSA Por ofício

+1 CAUSA DE
AUMENTO
Individualizar o quantum
de aumento a cada caso

Figura 2.2  –  Disponível em: <http://www.mapasequestões.com.br>. Acesso em: dez. 2017.

Roubo qualificado pelo resultado

Lesão corporal grave

As lesões graves que qualificam o roubo estão descritas no Art.129, parágrafos


primeiro e segundo, do Código Penal. A provocação de lesão de natureza leve
decorrente da violência empregada fica absorvida pelo crime de roubo, tendo em
vista que o texto não a menciona como figura qualificada nem ressalva a sua auto-
nomia, conforme corre com outros delitos.

Latrocínio

A morte é a figura conhecida como latrocínio, que se dá quando o agente


provoca a morte da vítima durante o roubo.
O conceito de crime de latrocínio se enquadra como crime complexo, eis que
atinge mais de um bem jurídico, quais sejam a vida e o patrimônio. Em virtude
disso, várias hipóteses se mostram possíveis quando o agente atua com intenção de
matar durante o roubo, quais sejam:
a) Temos latrocínio consumado, se a subtração e a morte se consumam.

capítulo 2 • 51
b) No caso de a subtração ficar na esfera da tentativa, porém o agente de forma
efetiva mata a vítima, temos latrocínio consumado. É o teor da Súmula no 610
do STF: “Há crime de latrocínio quando o homicídio se consuma ainda que não
realize o agente a subtração de bens da vítima.”.
c) Haverá tentativa de latrocínio, no caso da subtração e da morte serem tentadas.
d) Em sendo a subtração consumada e a morte tentada, o crime também será o
de tentativa de latrocínio, de acordo com vasta jurisprudências e entendimento
doutrinário dominante, inclusive decorrente da Súmula no 610, do STF.

Requisitos do latrocínio

Embora a lei não descreva de forma expressa quais os requisitos do crime de


latrocínio, ante as manifestações doutrinárias e de vários julgados a respeito do
tema, foi possível enumerar para a configuração do crime de latrocínio, três requi-
sitos, que na ausência de qualquer deles, contudo ocorrendo a subtração e a morte,
o agente responderá por crimes de homicídio e roubo em concurso.
São requisitos do latrocínio:
1. Que a morte seja decorrente da violência empregada pelo agente – está expres-
so no Art.157, § 3o, do Código Penal.
Assim, haverá latrocínio se o agente atirar contra a vítima, esfaqueá-la, jogá-la
do prédio etc. O exigido pela lei é a violência intencional, haja vista que o roubo é
crime doloso. Não obstante, haverá latrocínio, quer tenha havido dolo, quer tenha
havido culpa em relação ao resultado morte.
2. Que a violência que deu causa à morte tenha sido empregada durante o con-
texto fático do roubo.
Instalá-la o roubo com o início da execução e se prolonga até a imediata fuga
posterior ao ato de subtração. Não é necessário, para a configuração do latrocínio,
que a vítima morra durante o roubo, suficiente que a violência seja empregada em
seu contexto fático, mesmo que o resultado venha a ocorrer horas ou dias após,
desde que em razão daquela violência.
3. Que haja nexo causal entre a violência provocadora da morte e o roubo
em andamento.
O crime de latrocínio exige que a morte tenha sido causada pela violência
empregada em razão do roubo que estava sendo praticado

capítulo 2 • 52
Figura 2.3  –  Disponível em: <www.entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.

capítulo 2 • 53
Natureza hedionda

O latrocínio, consumado ou tentado é crime hediondo, conforme disposição


contida no Art.1o, inciso II, da lei no 8.072/90. No entanto, o roubo qualificado
pela lesão grave não tem essa natureza por não haver menção na mencionada lei.
Por ser crime hediondo, o autor do latrocínio não pode obter anistia, graça
ou indulto. O regime inicial deve ser o fechado, haja vista a pena mínima ser de
vinte (20) anos. A progressão para regime mais brando só pode ocorrer depois do
cumprimento de dois quintos (2/5) da pena, se primário o condenado, e de três
quintos (3/5) em caso de reincidência. O livramento condicional só é admitido
se cumpridos dois terços (2/3) da pena e somente no caso do condenado não ser
reincidente específico.

Competência

O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de que o latrocínio mes-


mo decorrente de morte dolosa, por estar previsto no Título dos crimes contra o
patrimônio, não se enquadra na competência do Júri, que é apenas competente
para as infrações classificadas em lei como crimes contra a vida.
Assim sendo, foi editada a Súmula no 603 do STF segundo a qual, “a com-
petência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do
Tribunal do Júri”.

Crime extorsão

Considerações gerais

O delito de extorsão encontra-se definido no Art.158, que é “constranger al-


guém mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar, que se faça ou deixa de
fazer alguma coisa.”. A pena é de reclusão, de 4 a 10 anos e multa.
Portanto, o crime ocorre quando o agente obriga o sujeito passivo a entregar-
lhe dinheiro, a não efetuar uma cobrança, a não impedir que se lhe rasgue um
titulo de crédito.

capítulo 2 • 54
Objetividade jurídica

A extorsão constitui crime contra o patrimônio, assim tutela-se, principal-


mente, a inviolabilidade patrimonial e em segundo lugar, a tutela da vida, a in-
tegridade física, a tranquilidade e a liberdade pessoal. É que, como no crime de
roubo, a ofensa à pessoa é o meio executório para a consecução do objetivo final,
que é a vantagem patrimonial. A extorsão é crime complexo, razão pela qual, nos
moldes do delito de roubo, a extorsão foi classificada como crime patrimonial e
não como crime contra a pessoa.

Sujeitos do crime de extorsão

A extorsão pode ser praticada por qualquer pessoa, mas sendo o agente fun-
cionário público a simples exigência de uma vantagem indevida em razão da fun-
ção caracteriza o delito descrito no Art.316 do Código Penal, qual seja o crime
de concussão.
Não obstante, o agente da autoridade que constrange alguém, com emprego
de violência ou grave ameaça, para obter proveito indevido, não incorre somente
nas penas do delito de concussão; vai mais além, praticando uma extorsão.
Uma ou varias pessoas podem ser sujeitos passivos do crime em estudo. É viti-
ma aquele que é sujeito à violência ou ameaça, o que deixa de fazer ou tolerar que
se faça alguma coisa e, também, o que sofre prejuízo econômico.

Tipo objetivo e subjetivo

A conduta prevista no dispositivo é constranger a vítima, ou seja, obrigar,


forçar, coagir, mediante violência ou grave ameaça, desde que seja por meios idô-
neos a intimidar. Embora tenha em vista o homem médio, quanto à possibilidade
de intimação, já se tem decidido que é indispensável que o sujeito passivo sofra a
ameaça de dano capaz de intimidá-lo. A ameaça pode constituir-se na promessa
de revelar um segredo.
A simples ameaça de recorrer à justiça ou mover ação não configura, porém,
ilícito penal.
Na extorsão, ao contrário do que ocorre quanto ao roubo, não prevê a lei ou-
tros meios que não seja a grave ameaça ou a violência. A violência física ou moral
deve ser destinada a pratica de um ato pela vítima, qual seja, entregar ao agente

capítulo 2 • 55
certa quantia; a omissão desta, ou seja, não cobrar uma dívida ou a sua permissão
para algum ato, como a destruição de um título de crédito de que é credor.
A jurisprudência tem entendido que configura grave ameaça ter fotografias
ou vídeos de alguém mantendo relações extraconjugais e exigir-lhe dinheiro para
não divulgar o fato para a família ou para não reproduzir as imagens na internet.
Também se tem confirmado a existência do crime quando alguém finge ser fis-
cal de algum órgão público e ameaça interditar o estabelecimento da vítima ou
autuá-la em elevados valores, exigindo dinheiro para não o fazer.
O elemento subjetivo do tipo, ou seja, o dolo especifico, é a vontade de obter
uma vantagem econômica ilícita, constituindo esta corolário da ameaça ou violên-
cia. Na ausência de um fim econômico, o delito será outro, qual seja o constran-
gimento ilegal, crime contra os costumes etc.
No constrangimento ilegal, o agente também emprega violência ou grave
ameaça para obrigar a vítima a fazer ou não fazer algo, não obstante, sua intenção
não é de obter alguma vantagem econômica, mas outra vantagem qualquer.
O elemento normativo do crime de extorsão se fundamenta na necessidade de
ser a vantagem visada indevida.

Consumação e tentativa

Há duas orientações quanto à consumação do crime: a primeira, diz que ex-


torsão é um crime formal, consumando-se quando a vitima faz, deixa de fazer ou
tolera que se faça alguma coisa; a segunda, o delito é material e só estará consuma-
do quando o agente obtiver a vantagem econômica.
O crime de extorsão, embora formal, a ocorrência da tentativa é possível, uma
vez que o crime não se perfaz, num único ato.
Na doutrina há divergência acerca do momento consumativo do crime de
extorsão. Existem duas correntes:
a) A extorsão é crime formal ou de consumação antecipada
Assim se denomina o tipo penal que não exige a produção do resultado para
a consumação do crime, embora seja possível a sua ocorrência. É suficiente que a
vítima, constrangida pelo emprego de violência ou grave ameaça, faça, tolere que
se faça ou deixe de fazer alguma coisa para que o crime se repute consumado; não
se exige a obtenção da indevida vantagem econômica pelo agente.
É claro que, por vezes, a ação ou omissão da vítima já importa em prejuízo
patrimonial e, por consequência, em vantagem econômica para o agente. É o caso
da destruição de documento, em que está consubstanciada a dívida do agente da

capítulo 2 • 56
extorsão. Há, por outro lado, hipóteses em que a vantagem econômica é obtida
após o comportamento da vítima.
Como exemplo pode-se citar que, sob a pressão de uma carta ameaçadora que
lhe enviou o agente da extorsão, a vítima deposite em um determinado lugar a
quantia exigida, e que aquele, é preso por outro crime ocorrido no curso de outro
fato, não alcança apoderar-se do dinheiro, que vem a ser recuperado pela vítima
no mesmo lugar em que o deixara; há de se reconhecer, apesar do insucesso final
do agente, que a extorsão se consumou.
Igualmente, se a vítima deposita o dinheiro no local assinalado pelo agente,
mas, simultaneamente, denuncia o fato à autoridade policial, que vem a flagrá-lo
no momento em que ele se apodera da quantia, haverá crime consumado, e não
tentado, haja vista que o crime se perfez em momento anterior, ou seja, no instan-
te em que a vítima atendeu à exigência do agente.
Esse é o entendimento que prevalece na doutrina. Nesse mesmo sentido o
Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 96: “O crime de extorsão consuma-
se independentemente de obtenção da vantagem indevida”.
b) A extorsão é crime material e se consuma com a produção do resultado — a
obtenção da indevida vantagem econômica
Essa posição é minoritária e vencida. A primeira posição é a mais correta, pois
o verbo do tipo não é obter vantagem econômica, mas constranger a vítima com
essa finalidade, ou seja, a obtenção da vantagem indevida, por isso, constitui sim-
ples exaurimento do crime.

CONCEITO
Extorsão:
O crime de extorsão consuma-se independente da obtenção da vantagem indevida.

É possível falar em tentativa mesmo para quem entende ser a extorsão crime for-
mal, que é a posição tecnicamente mais correta. Essa qualidade não impede a inci-
dência da tentativa. Explica-se: a extorsão é crime formal e plurissubsistente, e, assim,
comporta um iter que pode ser obstado por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Desse modo, haverá tentativa se a vítima, constrangida pelo emprego da vio-
lência ou grave ameaça, não realizar o comportamento ativo ou omissivo por cir-
cunstâncias alheias à vontade do agente.

capítulo 2 • 57
Exige-se para a configuração da tentativa que o meio coativo empregado seja idô-
neo a intimidar, a constranger a vítima, de modo a levá-la à realização do comporta-
mento almejado pelo agente. Se inidôneo, nem sequer se poderá falar em tentativa.
Diz-se idôneo o meio, quando seja apto de intimidar, o homem comum. Se o
meio se apresenta adequado ao fim a que o agente tem por objetivo, não deixa de
ser considerado como tal quando, no caso concreto, não obtenha êxito, por moti-
vo de excepcional resistência ou bravata da vítima ou qualquer outra circunstância
alheia à vontade do agente.
Assim, no caso de ameaça que, de regra se reconheça eficiente, mas acontecendo
que o ameaçado vence o temor inspirado e deixa de atender à imposição, preferindo
enfrentar o perigo ou solicitar, confiantemente, a intervenção policial, é inquestio-
nável a tentativa de extorsão. Igualmente haverá tentativa se, praticada a violência
ou grave ameaça, a vítima não realizar o comportamento exigido pelo sujeito ativo.

Causas de aumento da pena extorsão

O crime de extorsão se classifica com o aumento da pena de 1/3 (um terço)


até a metade quando é ele cometido por duas ou mais pessoas ou com emprego de
arma, conforme dispõe o parágrafo primeiro do Art.158, do Código Penal.
Redação diferente daquela existente no roubo mediante concurso de agentes,
de modo que se exige coautoria na extorsão, quer dizer, é preciso a presença de
ao menos duas pessoas praticando atos executórios para que a pena seja agravada.
A causa especial de aumento de pena prevista no § 1o, do Art.158 do Código
Penal também é conhecida como qualificadora, ainda que tecnicamente se trate de
causa especial de aumento de pena, que é elevada de 1/3 até metade.
Assim, essa circunstância é impropriamente denominada extorsão qualificada,
como se pode constatar:
a) Cometimento do crime por duas ou mais pessoas: a lei fala em cometimento,
não em concurso, sendo indispensável que os coagentes pratiquem atos executó-
rios do crime, ou seja, que haja o constrangimento da vítima, por meio do em-
prego de violência ou grave ameaça. Assim, a majorante não se configurará se um
dos agentes limitar-se a realizar vigília para que o seu comparsa realize a extorsão.
Portanto, se exige a coautoria e não a mera participação. Não se deve confundir
essa majorante com a prevista no crime de roubo e furto, pois os artigos. 155, §
4o, IV, e 157, § 2o, II, do Código Penal preveem o concurso de pessoas, o qual
abrange a coautoria e a participação, ao contrário da majorante em estudo.

capítulo 2 • 58
b) Ou com emprego de arma: aplicam-se aqui os comentários ao crime de roubo
majorado pelo emprego de arma, disposto no Art.157, § 2o, I, do Código Penal.

Extorsão qualificada pelo resultado

Na forma do disposto no parágrafo segundo, do Art.158 do Código Penal, à


extorsão praticada mediante violência, aplica-se o disposto no parágrafo terceiro
do artigo anterior.
De acordo com o que ocorre no crime de roubo, estas qualificadoras apenas se
aplicam quando a lesão grave ou morte decorrem da violência empregada na prá-
tica da extorsão. Nos termos expressos da lei, seguem as qualificadoras as mesmas
normas do roubo qualificado pela lesão grave ou morte.
O Art. 1o, inciso III, da lei no 8.072/90, dispõe que a extorsão qualificada pela
morte, consumada ou tentada, constitui crime hediondo. Igualmente, o Art. 9o da
lei no 8.072/90 prevê um aumento de metade da pena se a vítima fatal estiver em
quaisquer das condições do Art. 224 do Código Penal, ou seja, não for maior de 14
anos, for alienada ou débil mental, e o agente souber disso ou, por qualquer causa,
não puder oferecer resistência. Entretanto, como o Art. 224 do Código Penal foi
revogado expressamente pela lei no 12.015/2009 se entende que esse aumento
tornou-se ineficaz por ter desaparecido o dispositivo que lhe dava complemento.
A extorsão qualificada está prevista no § 2o, do Art. 158, do Código Penal e
conforme esse parágrafo aplica-se a ela o disposto no § 3o do Art.157, do Código
Penal, ou seja, o mesmo preceito sancionatório.
Efetivamente trata-se de qualificadora, já que o dispositivo cuida de situações
que elevam os limites da pena de extorsão em razão de seu resultado, quer dizer,
a pena passa a ser de 7 a 15 anos de reclusão, se resultar lesão corporal grave, em
virtude da alteração promovida pela lei no 9.426/96 e, de 20 a 30 anos, se hou-
ver morte.
A extorsão qualificada pelo resultado morte foi erigida à categoria de crime he-
diondo, conforme disposição constante no Art. 1o, III, da lei no 8.072/90. Assim
sendo, muito embora o Art. 6o da lei no 8.072/90 nada diga a esse respeito, o
tipo da extorsão qualificada pela morte sofreu uma exacerbação punitiva, haja
vista que o parágrafo segundo do Art. 158 do Código Penal estatui que à extorsão
qualificada pela morte será aplicado o preceito sancionatório do latrocínio, e este,
conforme já visto, sofreu um acréscimo no que tange ao mínimo penal.

capítulo 2 • 59
Nos termos do Art. 9o da lei no 8.072/90, se a vítima se enquadrasse em
qualquer das hipóteses do Art. 224 do Código Penal, a pena seria acrescida de
metade, respeitado o limite máximo de 30 anos. No entanto, uma vez que o
Art. 224 do CP foi revogado expressamente pela lei no 12.015/2009 e as con-
dições nele previstas integram tipo autônomo específico, qual seja, o crime de
estupro de vulnerável constante no Art. 217-A, do Código Penal, que não tem
aplicação genérica sobre outros delitos, não há mais que se cogitar na incidência
da aludida causa de aumento de pena nos delitos patrimoniais, constantes dos
artigos 157, § 3o; 158, § 2o; 159, caput e seus §§ 1o, 2o e 3o, do Código Penal.
Por se tratar de crime hediondo, o agente estará sujeito à totalidade das regras
mais severas constantes do Art. 2o da lei no 8.072/90. O crime de extorsão com
morte da vítima, assim como o latrocínio, é da competência do juiz singular, e não
do Tribunal do Júri. Para melhor compreensão do tema, consulte os comentários
ao crime de roubo qualificado.

Restrição de liberdade: sequestro-relâmpago

Segundo dispõe o Art. 158, parágrafo 3o, do Código Penal, sendo o crime
cometido mediante a restrição da liberdade, e essa condição é necessária para ob-
tenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de seis a doze anos, além da
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
Art. 159, parágrafos 2o e 3o, respectivamente, do Código Penal.
Em virtude do aumento dos caixas eletrônicos em via pública, multiplicou-
se de forma assombrosa uma espécie de crime consistente em capturar a vítima,
apossar-se de seu cartão bancário e, em seguida, exigir, por meio de grave ameaça,
o fornecimento da senha, com a qual os bandidos fazem saques da conta da ví-
tima. Tendo em vista que nessa modalidade delituosa a vítima permanece algum
tempo com os agentes, passou a ser conhecida como sequestro-relâmpago.
Na doutrina e jurisprudência três correntes surgiram em torna da capitulação
a ser dada a esse tipo de delito: roubo, extorsão ou extorsão mediante sequestro,
tendo prevalecido a interpretação de que se trata de crime de extorsão por ser im-
prescindível a colaboração da vítima em fornecer a senha.
A lei no 11.923, de 17 de abril de 2009 pacificou o tema, transformando o
sequestro-relâmpago em figura qualificada do crime de extorsão.

capítulo 2 • 60
O delito se distingue da extorsão mediante sequestro, haja vista que, nesta,
o resgate é exigido de outras pessoas, tais como, familiares em geral; enquanto,
no sequestro-relâmpago, não há tal exigência, mas à própria pessoa sequestrada,
como por exemplo, para que a senha seja fornecida.
É de se mencionar que a pena prevista para o sequestro-relâmpago é de reclusão,
de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa, portanto, maior que a estabelecida para o
delito de roubo na forma agravada, em decorrência da privação da liberdade da vítima.
De idêntica forma, o parágrafo terceiro do Art. 158, do Código Penal deter-
mina a incidência das penas previstas no Art. 159, §§ 2o e 3o, do Código Penal se
do crime resultar lesão corporal grave, reclusão de 16 a 24 anos ou morte, reclusão
de 24 a 30 anos. Portanto, superiores às sanções cominadas no Art. 157, § 3o, o
qual prescreve que, se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclu-
são, de 7 a 15 anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de 20 a 30 anos,
sem prejuízo da multa.
Exemplificando o caso de um assaltante que obriga um pedestre a adentrar em
seu veículo, a fim de que este o leve à sua residência para realizar o roubo, responde
pelo referido delito, nas condições do Art. 157, § 3o, caso advenham àqueles re-
sultados agravadores. Não obstante, se a privação da liberdade de locomoção visa
obrigar a vítima a entregar-lhe o cartão magnético e a fornecer-lhe a senha, para
sacar o numerário em agências bancárias, responde pela extorsão nas condições do
Art. 158, § 3o, caso advenham às consequências mais gravosas.
A previsão das sanções, nesse contexto, fere o princípio da proporcionalidade
das penas, na medida em que, muito embora sejam crimes autônomos, são pra-
ticamente idênticos, pois muito se assemelham pelo modo de execução, além de
tutelarem idêntico bem jurídico.

Distinções entre o crime extorsão e outros crimes

Extorsão e roubo

A extorsão é um crime semelhante ao roubo, sendo muitas vezes difícil de ser


dele distinguida. Aponta-se como diferença principal entre ele o fato de existir, no
roubo, a subtração, ou seja, uma atividade do agente e, na extorsão, uma conduta
da vítima em entregar a coisa, praticar um ato etc. Não há diferença ponderável no
fato de o agente, sob ameaça, subtrair a carteira da vítima ou na mesma circuns-
tância obrigar a vítima a entregá-la. No primeiro há roubo e no segundo, extorsão.

capítulo 2 • 61
ROUBO – 157 EXTORSÃO – 158
A vítima não tem opção de escolha A vítima tem opção de escolha

O bem é retirado da vítima Ocorre a entrega do bem

Pode ser qualquer objeto Precisa ser o valor económico

Extorsão e concussão

Neste último crime, o sujeito ativo é funcionário público, e, em razão da fun-


ção, exige vantagem indevida, a qual a vítima cede, exclusivamente, em virtude do
metus auctoritatis causa.
Assim, não há o emprego de qualquer violência, seja física ou grave ameaça
contra a vítima. Entretanto, nada impede que o funcionário público, ainda que
em razão do cargo, pratique o crime de extorsão; basta que constranja a vítima
mediante o emprego de violência ou grave ameaça.
Podemos citar como exemplo obtido na jurisprudência: policiais que cons-
trangem a vítima, sob a mira de revólveres e sob ameaça de injusta prisão, a lhes
entregar dinheiro. Cometem eles o crime de extorsão, em face do emprego de
grave ameaça. Extorsão e constrangimento ilegal. Como já estudado, a extorsão é
uma espécie do gênero “constrangimento ilegal”, conforme disposto no Art. 146,
do Código Penal.
Se a vantagem almejada for apenas moral, haverá constrangimento ilegal.
Trata-se de crime eminentemente subsidiário. Caso o intuito do agente seja auferir
vantagem econômica, haverá o crime de extorsão.

Extorsão e estelionato

O ponto em comum desses dois crimes reside na entrega da coisa ao agente


pela própria vítima.
Na extorsão, a entrega da coisa se dá mediante o emprego de meios coativos,
quais sejam, a violência ou grave ameaça; no estelionato, a entrega do bem se dá

capítulo 2 • 62
em virtude de fraude empregada pelo agente, ou seja, por estar iludida, enganada,
a vítima faz a entrega voluntariamente.
Nada impede que o agente se utilize da fraude e da coação – violência ou grave
ameaça – para obtenção da vantagem econômica indevida, configurando-se no
caso o crime de extorsão.
Podemos citar como exemplo, o caso de agente que se finge de autoridade
policial e, sob ameaça de prisão ou de futuro procedimento penal, faz com que a
pessoa que compra para revender, lhe entregue o objeto de valor, a pretexto de se
tratar de coisa proveniente de furto, ou lhe dê dinheiro em troca de seu silêncio.
A vítima cedeu pela coação, embora para a eficácia desta haja contribuído decisi-
vamente um engano.

Extorsão e exercício arbitrário das próprias razões

O crime de extorsão caracteriza-se pela exigência, mediante o emprego de vio-


lência ou grave ameaça, de indevida vantagem econômica. Se tais meios de coação
forem empregados contra a vítima com o intuito de se obter vantagem econômica
devida, o crime será outro: exercício arbitrário das próprias razões, contido no Art.
345, do Código Penal.
Assim, como anteriormente exposto, se o credor ameaçar o devedor de divul-
gar fatos difamatórios sobre este, caso ele não lhe pague a quantia devida, respon-
derá pelo crime previsto no Art. 345, do Código Penal, em que pese o emprego da
ameaça, pois a vantagem almejada é devida.

Concurso de crimes

A caracterização da continuidade delitiva é possível se os vários crimes de


extorsão forem praticados contra uma só ou diversas pessoas; basta que estejam
presentes os demais requisitos do crime continuado.
Há na jurisprudência decisão no sentido de que o pagamento parcelado da
vantagem econômica exigida não constitui vários crimes, mas crime único, pois
uma única ação foi desmembrada em vários atos.
Um dos requisitos para a configuração da continuidade delitiva é que os cri-
mes sejam da mesma espécie. Roubo e extorsão, em que pese constituírem crimes

capítulo 2 • 63
patrimoniais, ou seja, da mesma natureza, não são delitos da mesma espécie, pois
não estão previstos no tipo penal diverso; logo, não há que se falar em continui-
dade delitiva entre ambos.
São comuns situações em que o agente rouba a vítima e, em ação subsequente,
ainda a obriga a emitir cheque ou a entregar-lhe qualquer outro objeto, por exem-
plo, cartão de crédito com a respectiva senha.
Na hipótese se discute se há concurso material entre roubo e extorsão, ou
crime único. Em tais situações é importante lançar mão das distinções entre os
crimes supramencionados, pois se não observarmos com atenção tais distinções,
consideraremos como crime único ações que tipificam crimes autônomos.
Tendo em vista a distinção já realizada nos comentários ao delito do Art. 157
do Código Penal, o ato de obrigar a vítima a emitir um cheque, ou fornecer o cartão
magnético com a respectiva senha, configura crime de extorsão, em face da impres-
cindibilidade do comportamento do sujeito passivo, pois sem a ação deste é inviável
a obtenção da vantagem econômica pelo agente, ao contrário do crime de roubo.
Desta forma, não há como conceber a existência de crime único na hipótese
citada, mas, sim, de concurso material. Existem dois crimes autônomos: roubo
dos objetos e extorsão, ou seja, a forçada emissão de cheque ou fornecimento do
cartão com a respectiva senha.
O Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido de que responde por
concurso material de delitos o agente que, em uma única oportunidade fática,
pratica, mediante ações imediatamente subsequentes, roubo e extorsão.
O Superior Tribunal de Justiça também tem decidido no sentido de que se
configuram os crimes de roubo e extorsão, em concurso material, se o agente,
após subtrair alguns pertences da vítima, obriga-a a entregar o cartão do banco e
fornecer a respectiva senha.

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Figura 2.4  –  Disponível em: <www.entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.

capítulo 2 • 65
ATIVIDADES
Ao responder os questionamentos, você fixará melhor o conteúdo trabalhado neste ca-
pítulo. Boa sorte.

01. Cada uma das próximas opções apresenta uma situação hipotética, seguida de uma
assertiva a ser julgada à luz da doutrina majoritária sobre restrição da liberdade de ir e vir da
vítima nos crimes contra o patrimônio. Assinale a opção que apresenta a assertiva correta.
a) Júlio, com o auxílio de terceiros, simulou o próprio sequestro para extorquir seus familia-
res. Nessa situação, Júlio responderá pelo crime de extorsão mediante sequestro.
b) Márcio tentou extorquir a família de Mara mediante o sequestro desta. Entretanto, poli-
ciais descobriram o cativeiro da vítima e libertaram-na sem que houvesse pagamento de
resgate. Nessa situação, ante o fato de que a extorsão mediante sequestro integra o rol
dos crimes contra o patrimônio, Márcio só responderia por tal crime se tivesse obtido a
vantagem pretendida – o resgate.
c) Aldo, com grave ameaça, coagiu José a entregar-lhe seu cartão de banco e informar
sua senha. Lucas, comparsa de Aldo, manteve José preso em um carro enquanto Aldo
sacava dinheiro da conta de José. Após tais fatos, Aldo e Lucas liberaram José em local
distante para retardar o pedido de socorro à polícia. Nessa situação, Aldo e Lucas res-
ponderão pelo crime de roubo com aumento de pena.
d) Jair praticou o crime de roubo contra Laura e, para tal, a manteve em seu poder por cur-
tíssimo tempo, destinado unicamente à subtração de bens de propriedade dela. Nessa
situação, a despeito de Laura ter ficado em poder de Jair por curtíssimo tempo, tal fato
constituirá causa de aumento de pena.

02. Mário e Mauro combinam a prática de um crime de furto a uma residência. Contudo,
sem que Mário saiba, Mauro arma-se de um revólver devidamente municiado. Ambos, então,
ingressam na residência escolhida para subtrair os bens ali existentes. Enquanto Mário sepa-
rava os objetos para subtração, Mauro é surpreendido com a presença de um dos moradores
que, ao reagir à ação criminosa, acaba sendo morto por Mauro. Nesta hipótese
a) Mário e Mauro responderão pela prática de latrocínio.
b) Mário e Mauro responderão pela prática de furto.
c) Mário responderá pela prática de furto simples e Mauro responderá pela prática de furto
qualificado.

capítulo 2 • 66
d) Mário responderá apenas pelo furto e Mauro responderá pela prática dos crimes de
porte ilegal de arma de fogo, furto e homicídio.
e) Mário responderá pela prática de furto e Mauro pelo crime de latrocínio.

03. Antônio, junto com comparsa, abordou dois rapazes que caminhavam na rua e os amea-
çou com um revólver de brinquedo, subtraindo do primeiro R$ 20 e do segundo um isqueiro
no valor de R$ 8. Notificados da ocorrência, os componentes de uma guarnição da Polícia
Militar de Pernambuco, ao final de rápida diligência, os localizaram e prenderam em situação
de flagrância, já que estavam na posse da res furtiva. Durante a lavratura do flagrante, Antô-
nio identificou-se com nome fictício, para esconder seus antecedentes criminais, não tendo
exibido documento de identidade.
Nessa situação hipotética, Antônio responderá pela prática de
a) roubos em concurso formal mais falsidade ideológica.
b) roubo impróprio.
c) roubos em concurso formal mais falsa identidade em concurso material.
d) roubo com majorante de uso de arma.
e) roubo continuado.

04. Desejando roubar um estabelecimento comercial, Celidônio rouba primeiramente um


carro, deixando-o ligado em frente ao estabelecimento para a facilitação de sua fuga. Quan-
do Celidônio se afasta, Arlindo casualmente passa pelo local e, vendo o veículo ligado, opta
por subtraí-lo, dirigindo ininterruptamente até ingressar em outro estado da federação. Nes-
se contexto, é correto falar que Arlindo cometeu crime de
a) receptação. d) furto.
b) furto qualificado. e) roubo majorado.
c) roubo.

05. A fim de subtrair pertences de Bartolomeu, Marinalda coloca barbitúricos em sua be-
bida, fazendo-o desfalecer. Em seguida, a mulher efetiva a subtração e deixa o local, sendo
certo que o lesado somente vem acordar algumas horas depois. Nesse contexto, é correto
afirmar que Marinalda praticou crime de
a) furto qualificado. d) extorsão.
b) apropriação indébita. e) roubo.
c) estelionato.

capítulo 2 • 67
06. Considere que José tenha subtraído dinheiro de Manoel, após lhe impossibilitar a resis-
tência. Nessa situação hipotética, fica caracterizada a causa de aumento de pena se José
tiver cometido o crime
a) com emprego de chave falsa.
b) com restrição da liberdade de Manoel.
c) com destruição de obstáculo à subtração do dinheiro.
d) mediante fraude, escalada ou destreza.
e) durante o repouso noturno.

07. Mévio, mediante grave ameaça, subtraiu um telefone celular de Maria Rosa, avaliado em
R$ 2.000,00 (dois mil reais), mantendo-a em seu poder, restringindo sua liberdade por duas
horas, com o propósito de garantir o êxito da empreitada criminosa. Mévio responderá por
a) roubo circunstanciado.
b) roubo e sequestro, em concurso formal.
c) sequestro, já que este absorve o roubo.
d) roubo e sequestro, em concurso material.
e) roubo impróprio.

08. Gilson, 35 anos, juntamente com seu filho Rafael, de 15 anos, em dificuldades financei-
ras, iniciaram atos para a subtração de um veículo automotor. Gilson portava arma de fogo e,
quando a vítima tentou empreender fuga, ele efetua disparos contra ela, a fim de conseguir
subtrair o carro. O episódio levou o proprietário do automóvel a falecer. Apesar disso, os
agentes não levaram o veículo, já que outras pessoas que estavam no local chamaram a
Polícia. Descobertos os fatos, Gilson é denunciado pelo crime de latrocínio consumado e
corrupção de menores em concurso formal, sendo ao final da instrução, após confessar os
fatos, condenado à pena mínima de 20 anos pelo crime do Art. 157, § 3o, do Código Penal,
e à pena mínima de 1 (um) ano pelo delito de corrupção de menores, não havendo reconhe-
cimento de quaisquer agravantes ou atenuantes. Reconhecido, porém, o concurso formal
de crimes, ao invés de as penas serem somadas, a pena mais grave foi aumentada de 1/6,
resultando em um total de 23 anos e 4 (quatro) meses de reclusão. Considerando a situação
narrada, o advogado de Gilson poderia pleitear, observando a jurisprudência dos Tribunais
Superiores, em sede de recurso de apelação
a) a aplicação da regra do cúmulo material em detrimento da exasperação, pelo concurso
formal de crimes.
b) a aplicação da pena intermediária abaixo do mínimo legal, em razão do reconhecimento
da atenuante da confissão espontânea.

capítulo 2 • 68
c) o reconhecimento da modalidade tentada do latrocínio, já que o veículo automotor não
foi subtraído.
d) o afastamento da condenação por corrupção de menor, pela natureza material do delito.

09. Considere as seguintes afirmações a respeito dos crimes contra o patrimônio.


I. Tratando-se de crime de roubo, o juiz poderá substituir a pena de reclusão pela de de-
tenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa, se o criminoso é
primário e se é de pequeno valor a coisa objeto do roubo.
II. No delito de estelionato a pena será aplicada em dobro se o crime for cometido
contra idoso.
III. O delito de receptação não admite a forma qualificada.
a) Apenas I. c) Apenas III. e) I, II e III.
b) Apenas II. d) Apenas I e III.

10. Aproveitando-se da ausência do morador, Francisco subtraiu de um sítio diversas ferra-


mentas de valor considerável, conduta não assistida por quem quer que seja. No dia seguinte,
o proprietário Antônio verifica a falta das coisas subtraídas, resolvendo se dirigir à delegacia
da cidade. Após efetuar o devido registro, quando retornava para o sítio, Antônio avistou
Francisco caminhando com diversas ferramentas em um carrinho, constatando que se trata-
vam dos bens dele subtraídos no dia anterior. Resolve fazer a abordagem, logo dizendo ser
o proprietário dos objetos, vindo Francisco, para garantir a impunidade do crime anterior, a
desferir um golpe de pá na cabeça de Antônio, causando-lhe as lesões que foram a causa de
sua morte. Apesar de tentar fugir em seguida, Francisco foi preso por policiais que passavam
pelo local, sendo as coisas recuperadas, ficando constatado o falecimento do lesado.
Revoltada, a família de Antônio o procura, demonstrando interesse em sua atuação como
assistente de acusação e afirmando a existência de dúvidas sobre a capitulação da conduta
do agente. Considerando o caso narrado, o advogado esclarece que a conduta de Francisco
configura o(s) crime(s) de
a) latrocínio consumado. c) furto tentado e homicídio qualificado.
b) latrocínio tentado. d) furto consumado e homicídio qualificado.

11. Quem constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite,
ou a fazer o que ela não manda estará incorrendo no crime de
a) constrangimento ilegal. c) estelionato.
b) extorsão. d) extorsão indireta.

capítulo 2 • 69
12. Considere a seguinte situação hipotética: Gerônimo, 21 anos de idade, abordou Caio e
Tácito, subtraindo, mediante grave ameaça com uma faca, um relógio de Caio (avaliado em
R$ 100,00) e de Tácito apenas uma moeda de R$ 1,00. Nesse caso
a) deverá ser reconhecido o concurso de crimes, havendo dois roubos.
b) haverá apenas um roubo, visto que no crime praticado contra Tácito deverá incidir o
princípio da insignificância, afastando a tipicidade da conduta.
c) não há a incidência de nenhuma qualificadora ou majorante.
d) houve roubo impróprio.
e) nenhuma das alternativas anteriores está correta.

13. Quanto ao crime de extorsão, assinale a alternativa correta.


a) Entende a doutrina majoritária que na extorsão, assim como no furto e no roubo, a van-
tagem indevida pretendida pelo agente deve ser necessariamente uma coisa móvel.
b) O sujeito que aponta um revólver para a cabeça da vítima, fazendo com que esta lhe
entregue sua carteira com dinheiro, comete crime de extorsão, visto ter sido o compor-
tamento da vítima útil para a subtração.
c) A extorsão se consuma quando o agente aufere a vantagem indevida pretendida.
d) O delito popularmente conhecido como sequestro-relâmpago, na realidade trata-se de
extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima.
e) O delito popularmente conhecido como sequestro-relâmpago, na realidade trata-se de
extorsão simples.

14. Tício furta um rádio da residência de Caio, inexistindo qualquer tipo de violência. Perse-
guido pela polícia, Tício dispara tiros para o alto e foge. Na hipótese ocorreu
a) crime de furto. c) crime de roubo impróprio.
b) crime de roubo. d) crime de roubo qualificado.

15. O crime de extorsão mediante sequestro consuma-se com:


a) a privação da liberdade da vítima.
b) a privação da liberdade da vítima após 24 horas.
c) a privação da liberdade da vítima e com o pedido de resgate.
d) o recebimento do resgate para libertação da vítima.

capítulo 2 • 70
TJ-DF - APELAÇÃO CRIMINAL APR 20140410068873 (TJ-DF)
RELATOR: SANDOVAL PEREIRA
Data do Julgamento: 25/2/2016
Data de publicação: 29/2/2016

EMENTA: PENAL. PROCESSO PENAL. ROUBO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA


TENTATIVA. INVIABILIDADE. CRIME CONSUMADO. INVERSÃO DA POSSE DOS BENS.
1. Conforme o entendimento jurisprudencial majoritário, aplica-se a teoria da amotio ou
aprehensio, pela qual entende-se que a consumação do delito de roubo ocorre no momento
em que o agente se torna possuidor do bem subtraído, sendo prescindível que a res saia da
esfera de vigilância da vítima ou que se dê a posse mansa e pacífica sobre ela.
2. Demonstrado no conjunto probatório que o acusado percorreu todo o iter criminis, des-
cabida a tese de desclassificação do crime de roubo consumado para tentado.
3. Recurso conhecido e desprovido.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA STJ - HC 277098 RN 2013/0305728-2


RELATOR: Ministro NEFI CORDEIRO
Data do Julgamento: 16/4/2015
Data de Publicação: DJe 27/4/2015

EMENTA: HABEAS CORPUS. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA. SEMILIBERDADE. SUBS-


TITUIÇÃO. LIBERDADE ASSISTIDA. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO CRIME DE
ROUBO. VEDAÇÃO. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA.
1. Não se revela adequada a substituição da medida socioeducativa de semiliberdade pela
liberdade a reeducando que praticou ato infracional equiparado ao crime de roubo, apresenta
personalidade agressiva e faz uso constante de drogas.
2. Ordem denegada.

HABEAS CORPUS No 70061165338, QUINTA CÂMARA CRIMINAL, TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL
RELATOR: CRISTINA PEREIRA GONZALES
Data do Julgamento: 3/9/2014

EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIMES DE EXTORSÃO. ART. 158, CAPUT, DO CP


(TRÊS VEZES). ALEGAÇÕES DE AUSÊNCIA DE REQUISITOS PARA A PRISÃO PREVEN-
TIVA E EXCESSO DE PRAZO À FORMAÇÃO DA CULPA.

capítulo 2 • 71
1. O modus operandi do réu, que teria extorquido a vítima em três oportunidades, mediante
grave ameaça, revela a sua periculosidade a justificar o decreto da prisão preventiva como
forma de garantia da ordem pública.
2. Decisão atacada que visa proteger a comunidade ordeira da reiteração criminosa, não
implicando violação ao princípio da presunção de inocência porque devidamente fundamen-
tada e ainda porque a prisão tem natureza cautelar.
3. Embora certo que a Constituição Federal, em seu artigo 5o, inciso LXXVII, assegure a
todos, no âmbito judicial e administrativo, a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação, não menos certo é que, na espécie, não se vislum-
bra retardamento injustificado do feito por parte do juízo ou ato procrastinatório imputável
à acusação, que pudessem ensejar a ilegalidade apontada, tramitando o feito no seu curso
normal, tanto que já designada audiência de instrução para os próximos dias.
4. Hipótese em que não verificada a ocorrência do alegado constrangimento ilegal, seja
porque presentes os requisitos da prisão cautelar, seja porque não caracterizado o excesso
de prazo para a formação da culpa. ORDEM DENEGADA.

TJ-DF - APELAÇÃO CRIMINAL APR 20050310114359 DF (TJ-DF)


Data de Publicação: 9/8/2006.

EMENTA: PENAL. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. CONCURSO DE PESSOAS E EM-


PREGO DE ARMA DE FOGO. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO. DESCLASSIFICAÇÃODO CRIME
DE ROUBO CONSUMADO PARA A TENTATIVA. IMPOSSIBILIDADE.
1. EM TENDO A VÍTIMA RECONHECIDO O ACUSADO COMO A PESSOA QUE LHE
SUBTRAIU OS BENS, MEDIANTE AGRESSÃO, SOMANDO-SE AO DEPOIMENTO DO PO-
LICIAL QUE EFETUOU O FLAGRANTE E QUE A TUDO PRESENCIOU, A CONDENAÇÃO
É MEDIDA QUE SE IMPÕE.
2. HÁ CONCURSO DE AGENTES QUANDO OS RÉUS SE VEEM LIGADO POR IDÊNTI-
CO PROPÓSITO, CADA QUAL DEMONSTRANDO RELEVÂNCIA CAUSAL NA CONDUTA.
3. O CRIME DE ROUBO SE CONSUMA NO MOMENTO EM QUE, CESSADA A VIOLÊN-
CIA OU GRAVE AMEAÇA, O RÉU VEM A SE ASSENHOREAR DA RES.
STJ – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL AgRg no AREsp
521133 BA 2014/0124543-7 (STJ)
Data de Publicação: 14/8/2014.

capítulo 2 • 72
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIMES
CONTRA O PATRIMÔNIO. ROUBO CONSUMADO. ART.157, DO CP. DESCLASSIFICAÇÃO
PARA O DELITO DE FURTO. INVIABILIDADE. REEXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBA-
TÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA 7/STJ. MOMENTO DA CONSUMA-
ÇÃO. SIMPLES POSSE. TENTATIVA. NÃO CABIMENTO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRI-
VATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. NÃO PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS LEGAIS. ART.44, DO CP. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A alteração das conclusões do acórdão recorrido exige reapreciação do acervo fático
-probatório da demanda, o que faz incidir o óbice da Súmula 7, STJ.
2. Prevalece nesta Corte a orientação de que o delito de roubo, assim como o de furto, fica
consumado com a simples posse, ainda que breve, da coisa alheia, mesmo que haja imediata
perseguição do agente, não sendo necessário que o objeto do crime saia da esfera de vigi-
lância da vítima. Precedentes.
3. Inviável a concessão de substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de
direitos, considerando o não preenchimento dos requisitos previstos no Art. 44 do CP.
4. Agravo regimental não provido.

TJ-PE – APELAÇÃO APL 3205007 PE (TJ-PE)


RELATOR: LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO
Data do Julgamento: 7/3/2014
Data de publicação: 14/3/2014

EMENTA: PENAL – PROCESSUAL PENAL – APELAÇÃO CRIMINAL CRIME DE EX-


TORSÃO CONSUMADO (ARTIGO 158, § 1o DO CÓDIGO PENAL) – CRIME DE ESTUPRO
TENTADO (ARTIGO 213, CAPUT, C/C ARTIGO 14, II DO CÓDIGO PENAL) - CRIMES SA-
TISFATORIAMENTE PROVADOS – CONJUNTO PROBATÓRIO FIRME E SEGURO – IM-
POSSIBILIDADE DE ABSOLVIÇÃO – DOSIMETRIA DA PENA – APLICAÇÃO CORRETA
– RECURSO NÃO PROVIDO.
TJ-RJ – APELACAO APL 03171153620128190001 RJ 0317115-36.2012.8.19.0001
(TJ-RJ)
RELATOR: DES. ANTONIO CARLOS NASCIMENTO AMADO
Data do Julgamento: 14/1/2014
Data de Publicação: 20/3/2014

capítulo 2 • 73
EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. CONDENAÇÃO. Art. 158, § 1o, do CP. O Réu, no
interior de um táxi, no intuito de não pagar pelo serviço, e, na posse de arma branca “prego”
– ameaçou o taxista aproximando o instrumento ao seu pescoço, logrando ferir o braço da
vítima. Laudo pericial comprovando a lesão. Provas consistentes para se manter a condena-
ção. Vítima descreve com detalhes a dinâmica do evento e reconhece o apelante. Palavra da
vítima apta a ensejar o edito repressivo. Crime de extorsão consumado, eis que sendo crime
formal caracteriza-se com o constrangimento efetuado. O réu deixou de pagar a corrida, ob-
tendo vantagem econômica indevida. Descabimento do afastamento da causa de aumento
referente ao emprego de arma, eis que qualquer instrumento vulnerante que sirva para au-
mentar o poder de ataque do agente, mesmo que sendo arma imprópria, é considerado para
aumento da pena por força do § 1o, do Art. 158, do CP. Dosimetria reduzida para adequar
aos parâmetros da proporcionalidade, entre eles, a minoração do percentual aplicado pela
reincidência. Não há que se falar em bis in idem, na medida em que os acréscimos proce-
didos foram feitos com base em condenações distintas. Provimento em parte do recurso
defensivo. Unânime.

STJ – HABEAS CORPUS HC 159349 RJ 2010/0005459-5 (STJ)


RELATOR: MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Data do Julgamento: 4/4/2013
Data de Publicação: 16/4/2013

EMENTA: HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE RECURSO ESPE-


CIAL. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. ROUBO E EXTORSÃO. CONDENAÇÃO. CON-
CURSO MATERIAL. ALEGAÇÃO DE CRIME ÚNICO. EXAME DAS PROVAS. VEDAÇÃO.
CONTINUIDADE DELITIVA. IMPOSSIBILIDADE. CRIMES DE ESPÉCIES DIVERSAS. DELI-
TOS CONSUMADOS. POSSE MANSA E PACÍFICA. DESNECESSIDADE. EXTORSÃO. CRI-
ME FORMAL. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE PATENTE. NÃO CONHECIMENTO.
1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do habeas corpus, em prestí-
gio ao âmbito de cognição da garantia constitucional, e, em louvor à lógica do sistema recur-
sal. In casu, foi impetrada indevidamente a ordem como substitutiva de recurso especial.
2. O reconhecimento de crime único entre os delitos de roubo e extorsão, afastando-se o
concurso material, assim como a incidência da continuidade delitiva, demandaria revolvimen-
to fático-probatório, não condizente com a via do writ.

capítulo 2 • 74
3. Se o magistrado de primeiro grau concluiu pela existência de "desígnios autônomos
direcionados à violação de duas normas penais", asseverando que a extorsão "foi cometida
em momento temporal diverso", inviável a inversão do decidido nesta sede.
4. Conforme entendimento desta Corte, não há continuidade delitiva entre os delitos de
roubo e extorsão, porque de espécies diferentes.
5. Hipótese em que o Juiz a quo reconheceu a consumação do crime, assentando "a reti-
rada da res furtiva e da esfera de disponibilidade de seu titular", sendo inviável alterar tal con-
clusão nesta via estreita. E esta Corte entende que, para a consumação do crime de roubo, é
prescindível a posse mansa e pacífica dos bens. Quanto ao crime de extorsão, foi ressaltada
sua natureza formal, tese nãoimpugnada pela Defesa.
6. Writ não conhecido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código penal em exemplos práticos. 5. ed. Florianópolis:
OAB/SC, 2006.
BATISTA, Weber Martins. O furto e o roubo no direito e no processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1995.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. v. 3, 7. ed. São Paulo: Saraiva 2011.
DUTRA, Mário Hoeppner. O furto e o roubo. São Paulo: Max Limonad, 1955.
FRANCO, Alberto Silva. Dos crimes contra o patrimônio. In: Código penal e sua interpretação
jurisprudencial. 7. ed. Coordenadores: Alberto Silva Franco e Rui Stoco. São Paulo: RT, 2001.
GRACIA MARTIN, Luis. O horizonte do finalismo e o direito penal do inimigo. Tradução: Luiz
Regis Prado e Érika Mendes de Carvalho. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007;
MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis; SAAD, Marta. Dos crimes contra o patrimônio. In: Código
penal e sua interpretação – doutrina e jurisprudência. 8. ed., coordenação de Alberto Silva Franco e
Rui Stoco. São Paulo: RT, 2007.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. La expansión del derecho penal: Aspectos de la política criminal en
las sociedades postindustriales. Madrid: Cuadernos Civitas, 1999.

capítulo 2 • 75
CINE CONHECIMENTO
O caso dos irmãos Naves – 1967
Sinopse: a reconstituição de um caso real, ocorrido no
Estado Novo em 1937, na cidade de Araguari (MG). Tudo
começa quando um homem foge, levando o dinheiro de
uma safra de arroz. Os irmãos Joaquim (Raul Cortez) e Se-
bastião Naves (Juca de Oliveira), sócios do fugitivo, denun-
ciam o caso à polícia. De acusadores eles passam a réus,
por obra e graça do tenente de polícia (Anselmo Duarte)
que dirige a investigação. Presos e torturados, os Naves
são obrigados a confessar o crime que não cometeram.

Atentado em Paris – 2016


Sinopse: um batedor de carteira acaba se metendo
numa enrascada quando rouba uma maleta, que aparen-
tava não levar nada de muito importante. Agora, ele se vê
envolvido numa trama terrorista, no Dia da Bastilha, investi-
gada pelo agente da CIA Sean Briar (Idris Elba).

Gênios do crime – 2015


Sinopse: em 1997, na cidade de Charlotte, na Caro-
lina do Norte, o motorista de carro-forte David Scott (Zach
Galifianakis) cria um plano ousado para roubar o banco
Loomis Fargo Bank, com a ajuda de seus comparsas. Mal
sabia ele que ficaria conhecido por ter perpetrado um dos
maiores roubos da história dos Estados Unidos, até então.

capítulo 2 • 76
Loucos e perigosos – Once upon a time in Venice –
2017
Sinopse: em Los Angeles, o detetive particular Steve
(Bruce Willis) divide seu tempo entre o trabalho e os mo-
mentos de descanso ao lado de seu cachorro, Buddy. Mas
o animal é roubado por uma gangue, liderada por Spider
(Jason Momoa), e Steve parte em seu encalço, provando
que o bandido jamais deveria ter se metido com um dono
de cachorro.

O preço da fama – 2014


Sinopse: o cineasta Charles Chaplin morreu em 25
de dezembro de 1977 e o corpo foi enterrado no cemitério
de Corsier sur-Vevey, na Suíça. No ano seguinte, dois ami-
gos decidem roubar o corpo do astro do cinema mudo para
tentar extorquir a família de Chaplin e conseguir o dinheiro
do resgate.

Anexos

LEGISLAÇÃO

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI No 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990.


Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do Art. 5o, inciso XLIII, da Constituição
Federal, e determina outras providências.

capítulo 2 • 77
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte lei:
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto
-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados ou tentados: (Reda-
ção dada pela Lei no 8.930, de 1994) (Vide Lei no 7.210, de 1984)

I. homicídio (Art.121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda


que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (Art.121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, VI
e VII); (Redação dada pela Lei no 13.142, de 2015)

I. A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (Art. 129, § 2o) e lesão corporal se-
guida de morte (Art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos
Arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Na-
cional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição;
(Incluído pela Lei no 13.142, de 2015)
II. latrocínio (Art. 157, § 3o, in fine); (Inciso incluído pela lei no 8.930, de 1994)
III. extorsão qualificada pela morte (Art. 158, § 2o); (Inciso incluído pela Lei no 8.930,
de 1994)
IV. extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (Art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);
(Inciso incluído pela Lei no 8.930, de 1994).
V. estupro (Art. 213, caput e §§ 1o e 2o); (Redação dada pela Lei no 12.015, de 2009)
VI. estupro de vulnerável (Art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); (Redação dada pela lei
no 12.015, de 2009)
VII. epidemia com resultado morte (Art. 267, § 1o). (Inciso incluído pela Lei no 8.930,
de 1994)
VII. A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei no 9.695, de 1998)
VII. B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins tera-
pêuticos ou medicinais (Art.273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei
no 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela lei no 9.695, de 1998)
VIII. favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou
adolescente ou de vulnerável (Art. 218-B, caput, e §§ 1o e 2o). (Incluído pela lei no 12.978,
de 2014)
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos o crime de genocídio previsto nos
Arts. 1o, 2o e 3o da lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, e o de posse ou porte ilegal de

capítulo 2 • 78
arma de fogo de uso restrito, previsto no Art.16 da lei no 10.826, de 22 de dezembro de
2003, todos tentados ou consumados. (Redação dada pela lei no 13.497, de 2017)
Art. 2o Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
gas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I. anistia, graça e indulto;
II. fiança. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fecha-
do. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo,
dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de
3/5 (três quintos), se reincidente. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu
poderá apelar em liberdade. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989,
nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual pe-
ríodo em caso de extrema e comprovada necessidade. (Incluído pela lei no 11.464, de 2007)
Art. 3o A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao
cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em
presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública.
Art. 4o (Vetado).
Art. 5o Ao Art.83 do Código Penal é acrescido o seguinte inciso:
Art. 83. ..............................................................
........................................................................
V. cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime he-
diondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o
apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.
Art. 6o Os Arts. 157, § 3o; 159, caput e seus §§ 1o, 2o e 3o; 213; 214; 223, caput e seu
parágrafo único; 267, caput e 270; caput, todos do Código Penal, passam a vigorar com a
seguinte redação:
Art.157. .............................................................
§ 3o Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de cinco a quin-
ze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo
da multa.
........................................................................

capítulo 2 • 79
Art. 159. ...............................................................
Pena – reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1o .................................................................
Pena – reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2o .................................................................
Pena – reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3o .................................................................
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
........................................................................
Art. 213. ...............................................................
Pena – reclusão, de seis a dez anos.
Art. 214. ...............................................................
Pena – reclusão, de seis a dez anos.
........................................................................
Art. 223. ...............................................................
Pena – reclusão, de oito a doze anos.
Parágrafo único. ........................................................
Pena – reclusão, de doze a vinte e cinco anos.
........................................................................
Art. 267. ...............................................................
Pena – reclusão, de dez a quinze anos.
........................................................................
Art.270. ...............................................................
Pena – reclusão, de dez a quinze anos.
.......................................................................
Art. 7o ao Art.159 do Código Penal fica acrescido o seguinte parágrafo:
Art. 159. ..............................................................
........................................................................
§ 4o Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o coautor que denunciá-lo à auto-
ridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.
Art. 8o Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no Art. 288 do Código Penal,
quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou
quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.

capítulo 2 • 80
Art. 9o As penas fixadas no Art. 6o para os crimes capitulados nos Arts. 157, § 3o, 158, §
2o, 159, caput e seus §§ 1o, 2o e 3o, 213, caput e sua combinação com o Art. 223, caput e pa-
rágrafo único, 214 e sua combinação com o Art. 223, caput e parágrafo único, todos do Có-
digo Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão,
estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no Art. 224 também do Código Penal.
Art. 10. O Art. 35 da lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, passa a vigorar acrescido
de parágrafo único, com a seguinte redação:
Art. 35. ................................................................
Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste capítulo serão contados em dobro
quando se tratar dos crimes previstos nos Arts. 12, 13 e 14.
Art. 11. (Vetado).
Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 25 de julho de 1990; 169o da Independência e 102o da República.

FERNANDO COLLOR
Bernardo Cabral

capítulo 2 • 81
capítulo 2 • 82
3
Extorsão mediante
sequestro
Extorsão mediante sequestro
Introdução

Na Antiguidade Clássica, especificamente na civilização romana, surgem re-


latos históricos apontando tanto para a extorsão quanto para extorsão mediante
sequestro, este último com menor intensidade. Obviamente, que a nomenclatura
usada não era essa, entretanto as elementares da conduta delituosa eram mais
próximas das atuais.
Houve um período de grande instabilidade político-administrativa, no bai-
xo Império Romano, assim como de grande vulnerabilidade social, os romanos
sofriam diariamente com a prática do sequestro/cárcere privado e os principais
responsáveis por este alto índice eram os bárbaros. Estes viviam muito próximos
de Roma, e se aproveitavam da evidente crise do exército romano, qual seja, a falta
de segurança, para privar a liberdade de filhos e filhas das autoridades romanas, a
fim de conseguir dinheiro, e até mesmo uma posição no decadente império.
A prática de privação de liberdade arbitrária com o objetivo de vantagem ou
seja, a extorsão mediante sequestro, era considerada um crime punível pela Lex
Julia, no Direito Romano. Após algum tempo, ou seja, em meados do ano 486
d.C., a Constituição de Zenon qualificou o delito como sendo um crime autô-
nomo, considerando que a única pessoa apta a determinar o encarceramento de
alguém era o soberano. O cárcere, nesse período, era configurado como crime de
“usurpação de poder”, haja vista que apenas o Rei poderia se insurgir na prática
do cárcere. Aplicava-se aos acusados a pena capital, ou seja, a morte, como conse-
quência dessa usurpação.
Na Idade Média, os isolamentos praticados pela Igreja Católica Apostólica
Romana, foram entendidos pelos críticos e artistas renascentistas como uma mo-
dalidade de cárcere privado, haja vista que, na maioria dos casos, essa prática não
havia o consentimento da vítima. Entretanto, a igreja, soberana, usava do mesmo
argumento romano para justificar o seu poder de privação de liberdade, qual seja,
apenas ela detinha esse poder, visto que o enclausuramento era uma instituição
divina para purificação de pecados. Por isso, incorria em crime de usurpação de
poder, quem praticasse o cárcere naquele período.
No século XIX chegamos com uma concepção mais evoluída do crime de
extorsão e extorsão mediante sequestro. No que tange ao direito comparado, o
antigo direito italiano previa o crime de sequestro no Art. 199 do código sardo de

capítulo 3 • 84
1859 e Art. 360, do toscano em 1853. Entretanto, o crime de sequestro capitula-
do atualmente no Código Penal brasileiro apresenta elementares semelhantes ao
código toscano de 1853. Na maioria dos países latino-americanos o crime de se-
questro surge nos respectivos códigos como sendo uma conduta que fere garantias
constitucionais. O Paraguai é um exemplo, vista que enumerou no rol dos crimes
que ferem garantias fundamentais, o sequestro.
No Brasil, o crime de extorsão mediante sequestro ganhou mais notoriedade
nas últimas décadas do século XX, e a motivação foi a edição de leis mais severas,
como exemplo a lei no 8.072/90 que versa sobre crimes hediondos, e que regula-
mentou o inciso XLIII do Art. 5o da Constituição Federal.
A prática do crime de extorsão mediante sequestro, em tempos de inquestio-
nável rebaixamento do poder econômico-social e de fundadas inquietações devido
à alta dos índices de criminalidade, volta a preocupar os grandes centros urbanos
e, em sentido amplo, o cenário da segurança pública.
Basicamente alicerçada em causas sociais que vão desde a ausência de cultura
e educação até a miséria, bem como, a negação de todo e qualquer direito fun-
damental, de status constitucional, com a inevitável interligação de tais fatores,
as estatísticas criminais de tempos em tempo só aumentam, se elevam de forma
sensível em relação a delitos que estão ligados diretamente a causas econômicas
como, em parte, é o caso do crime de que ora se cuida.
Não é correto pensar que tais delitos são praticados ou promovidos exclu-
sivamente pelo “crime organizado”; pelo narcotráfico, visando à obtenção de
recursos que se destinam ao fomento de todas as práticas ilícitas que envolvem
tais atividades.
Embora notícias jornalísticas muitas das vezes se refiram às investidas patroci-
nadas pelo “crime organizado”, a criminalidade difusa e desorganizada, estatistica-
mente, é bem maior que a primeira, é reincidente em tal incidência penal.
A lei no 8.072/90, denominada Lei dos Crimes Hediondos, visando coibir a
prática de tais delitos, aumentou o mínimo das penas de reclusão do caput e dos
§§ 1o a 3o do Art. 159, excluindo as penas de multa.

OBJETIVOS
O principal objetivo deste capítulo é analisar o delito de extorsão mediante sequestro, um
crime contemporâneo, e que como não podia ser previsto pelo legislador de 1940, neces-

capítulo 3 • 85
sário foi interpretar os tipos penais já existentes no ordenamento jurídico. Não obstante, fez
surgir várias divergências quanto a melhor tipificação do referido delito.
O aluno deverá entender a motivação para a prática do crime de extorsão mediante
sequestro, além de suas formas e modalidades qualificadoras. Em sede doutrinária também
será feita uma relevante referência à tutela do referido crime pela lei 8.072/90, a qual re-
gulamentou o XLIII do Art. 5o da Constituição Federal, tornando a conduta mais severamen-
te punida.

Conceitos e diferenciações

O crime de extorsão mediante sequestro está contido no Art. 159 do Código


Penal Brasileiro. O tipo é: “sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate”. A pena comi-
nada é reclusão, de oito a quinze anos.
Em análise a redação legal, o Art. 159 fala em “qualquer vantagem”, sem ex-
pressamente dizê-la indevida, como faz quanto à extorsão in genere, pois seria
isso supérfluo, desde que a sua ilegitimidade resulta de ser exigida como preço de
concessão de um crime.
Se o sequestro visa à obtenção de vantagem devida, o crime será o de exercício
arbitrário das próprias razões, disposto no Art. 345, do Código Penal, em concur-
so formal com o crime de sequestro, do Art. 148, do mesmo diploma legal.
Assim sendo, mesmo que o diploma legal não faça direta menção à vantagem
indevida, há que se entender a sua presença de forma intrínseca no tipo penal. Não
obstante, é importante relevar que não é toda e qualquer vantagem que incorre no
tipo penal em análise, haja vista que é necessário que a vantagem seja de relevante
valor econômico. Nesse sentido, é pacífica e majoritária a doutrina quanto à rele-
vância de ordem econômica e patrimonial.
Outra característica pertinente ao tipo penal de extorsão mediante sequestro é
o fato de este ser um crime complexo, formado pela conexão de dois crimes, o de
extorsão, e concomitantemente o de sequestro.
O objeto jurídico protegido pela norma é a inviolabilidade patrimonial e a
liberdade de locomoção. Em que pese haver ofensa à liberdade pessoal, trata-se de
crime contra o patrimônio, pois o sequestro é crime meio para obter vantagem
patrimonial. Diante da natureza formal da conduta, a sua consumação se dá no
próprio sequestro, acompanhando a característica peculiar de permanência que o

capítulo 3 • 86
delito apresenta o prolongamento da vítima no cativeiro. Assim, se pode também
falar na possibilidade de tentativa, vista que o tipo é plurissubsistente.
Necessário especificar algumas diferenças conceituais entre sequestro e cárcere
privado, para melhor compreensão do tipo em análise.
A primeira diferença é que o cárcere privado consiste na privação da liberdade
de locomoção de uma pessoa nos moldes mais estrito, realizada por meio da clau-
sura, no local onde ela estiver. De outra forma, o sequestro admite que essa mesma
privação da liberdade de locomoção seja efetivada de uma forma mais ampla, ou
seja, geograficamente, admitindo sua efetivação em local diverso daquele no qual
ela se encontrar.
Para alguns autores, o sequestro e o cárcere privado constituem formas da
privação total ou parcial da liberdade de locomoção de alguém. Configuram-se,
embora reste ainda à pessoa certa liberdade, ainda que ela possa, dentro em certos
limites, movimentar-se ou locomover-se. O bem jurídico é o direito de ir e vir, a
liberdade de movimento no espaço. A lei o tutela, só o Estado, por forma compe-
tente, pode privar o indivíduo do gozo desse bem.
Embora exista uma incontestável semelhança entre as condutas delituosas, fica
claro que cada uma detém suas peculiares características e efeitos.

Objeto jurídico

Por se tratar de crime complexo, formado pela fusão de dois crimes, quais
sejam, sequestro ou cárcere privado e extorsão, tutela-se a inviolabilidade patri-
monial e a liberdade de locomoção, além da integridade física, diante da previsão
das formas qualificadas pelo resultado lesão corporal grave ou morte. Em que pese
haver ofensa à liberdade pessoal, cuida-se de crime patrimonial, pois o sequestro é
crime-meio para obtenção de vantagem patrimonial.

Elementos do tipo

A ação nuclear resume-se no verbo sequestrar, que significa privar a vítima de


sua liberdade de locomoção, ainda que por breve espaço de tempo. A lei não se
refere ao cárcere privado, ao contrário do Art. 148 do Código Penal. Não obstan-
te, segundo a doutrina, o termo “sequestro” tem ampla acepção, compreendendo
também o cárcere privado, ou seja, a segregação da vítima em recinto fechado.

capítulo 3 • 87
O que difere o sequestro previsto no art. 148 do Código Penal da extorsão
mediante sequestro é que neste último há uma finalidade especial do agente, con-
substanciada na vontade de obter, para si ou para outrem, vantagem como condi-
ção ou preço do resgate. Embora o tipo fale em “qualquer vantagem”, esta deve,
necessariamente, ser de natureza econômica, pois se trata de um crime contra o
patrimônio. A intenção de se obter essa vantagem não necessita ser anterior ao
sequestro; pode ocorrer posteriormente a este. Assim exemplificando, é o caso de
quem sequestra um inimigo, por qualquer razão, inclusive até para se defender,
mas depois exige, para restituição à liberdade, lhe seja paga certa quantia.

Sujeitos do crime

O sujeito ativo do crime não é apenas aquele que realiza o sequestro da pessoa,
mas também o que vigia a vítima no local do crime para que ela não fuja e também
aquele que leva a mensagem aos parentes da vítima. Trata-se de crime comum.
Qualquer pessoa pode praticá-lo. Por ser crime formal, é irrelevante a obtenção de
vantagem indevida. Caso o agente seja funcionário público no exercício das suas
funções, poderá ocorrer, além da extorsão, o delito previsto nos artigos 3o, “a”, e
4o, “a”, da lei no 4.898/65.
São sujeitos passivos tanto a pessoa que sofre a lesão patrimonial como a que
é sequestrada.

Elemento subjetivo

É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de sequestrar a vítima,


acrescido da finalidade especial de obter, para si ou para outrem, qualquer vanta-
gem, como condição ou preço do resgate. Se não estiver presente essa finalidade
especial, o crime passa a ser outro: sequestro ou cárcere privado, ou seja, por exem-
plo, se a intenção for a de se vingar da vítima.
Em que pese a lei se referir a qualquer vantagem, somente a vantagem econô-
mica pode ser objeto desse crime, tais como, dinheiro, joia, títulos de crédito ou
outro documento que tenha algum valor econômico etc., vista que estamos diante
de um delito patrimonial.
A lei também não diz expressamente se a vantagem almejada é devida ou in-
devida, ao contrário do crime de extorsão, disposto o Art. 158 do Código Penal.

capítulo 3 • 88
Essa menção, para alguns autores, é supérflua, uma vez que a sua ilegitimida-
de resulta de ser exigida como preço da cessão de um crime. Se o sequestro visa à
obtenção de vantagem devida, o crime será o de exercício arbitrário das próprias
razões, disposto no Art. 345 do Código Penal, em concurso formal com o crime
de sequestro, contido no Art. 148 do citado diploma legal.
Citando como exemplo, o credor que sequestra o seu devedor como forma
de constranger os filhos deste a lhe pagarem a dívida. A lei se refere à obtenção de
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate. Referindo-se a preço do
resgate, a lei indica a exigência de um valor em dinheiro ou em qualquer utilidade
e, ao se referir à condição, a qualquer tipo de ação do sujeito passivo que possa
conduzir a uma vantagem econômica, qual seja, a assinatura de uma promissória,
entrega de um documento etc.

Momento consumativo e tentativa

Trata-se de crime formal ou de consumação antecipada, e não material. Dessa


forma, o crime se consuma com o sequestro, ou seja, com a privação da liberdade
da vítima, independentemente da obtenção da vantagem econômica.
Basta comprovar-se a intenção do agente de obter a vantagem como condição ou
preço do resgate, o que se faz por intermédio das negociações entre o sequestrador
e os parentes da vítima, via telefone, quanto às condições ou preço do resgate; ou
então por meio de mensagens escritas enviadas pelos sequestradores. Não compro-
vada essa intenção, o crime poderá ser outro, por exemplo, sequestro ou cárcere
privado etc.
Dessa forma, se o agente não entrar em contato com os parentes da vítima
para negociar a condição ou o preço do resgate, é de supor, no caso, que a intenção
dele era outra, por exemplo, vingar-se da vítima.
É crime permanente, cujo momento consumativo se prolonga no tempo,
enquanto a vítima é mantida no cativeiro. A cessação do crime depende única
e exclusivamente da vontade do agente. A prisão em flagrante pode ser realiza-
da a qualquer momento, enquanto a vítima ainda se encontra sob o poder dos
sequestradores.
Em relação à tentativa, trata-se de crime plurissubsistente, portanto a tentativa
é perfeitamente possível. Ocorre do mesmo modo que o crime de sequestro. Dessa
forma, se o agente não logra privar a vítima de sua liberdade de locomoção por

capítulo 3 • 89
circunstâncias alheias à sua vontade, provada a sua intenção específica de obter
vantagem econômica, haverá o crime de tentativa de extorsão mediante sequestro;
por exemplo, no momento em que a vítima está sendo levada para o veículo do
sequestrador, este é interceptado pela polícia, vindo o agente a confessar poste-
riormente que pretendia com tal ação obter vantagem como condição ou preço
do resgate.

Formas de extorsão

•  Simples: está prevista no caput do Art. 159 do Código Penal. Trata-se de


crime hediondo, nos termos do Art. 1o, IV, da lei no 8.072/90.
•  Qualificadas: estão previstas nos parágrafos 1o , 2o e 3o, do Art. 159 do
Código Penal. Trata-se também de crimes hediondos, nos termos do Art. 1o , III
e IV, da Lei no 8.072/90.
O parágrafo 1o, do Art. 159 do Código Penal prevê pena de 12 a 20 anos:
a) Sequestro por mais de 24 horas. Ao contrário do previsto no Art. 148, § 1o,
III, do Código Penal, seja, se a privação de liberdade no crime de sequestro dura
mais de 15 dias, o crime é punido de maneira mais severa se o sequestro dura mais
de 24 horas. Portanto, a lei contenta-se, com um prazo menor. Isso se dá em vir-
tude da maior gravidade do crime de extorsão mediante sequestro.
b) Sequestro de menor de 18 ou maior de 60 anos. Cuidava-se aqui da vítima
menor de 18 anos e maior de 14 anos, uma vez que o Art. 9o da lei no 8.072/90
previa um aumento de pena de metade se a vítima não fosse maior de 14 anos de
idade, conforme dispõe o Art. 224, do Código Penal.
No entanto, conforme já analisado, uma vez que o Art. 224 do CP foi revoga-
do expressamente pela lei no 12.015/2009 e as condições nele previstas integram
tipo autônomo específico, qual seja o estupro de vulnerável, contido no Art. 217-
A, do Código Penal, que não tem aplicação genérica sobre outros delitos, não há
mais que se cogitar da incidência da aludida causa de aumento de pena nos delitos
patrimoniais, quais sejam, os contidos nos Artigos 157, § 3o; 158, § 2o; 159, caput
e seus §§ 1o, 2o e 3o, do citado diploma legal.
Desse modo, a qualificadora em estudo passou a abranger também a vítima
com idade igual ou inferior a 14 anos. De acordo com o Art. 4o do CP, a idade da
vítima deverá ser considerada no momento da conduta: “Considera-se praticado

capítulo 3 • 90
o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado”.
No tocante ao sequestrado maior de 60 anos, a referida qualificadora foi in-
cluída no parágrafo 1o pelo Art. 110 da lei no 10.741, de 1o de outubro de 2003,
do Estatuto do Idoso.
c) Sequestro praticado por bando ou quadrilha. Trata-se do crime a que se refere
o Art. 288 do CP, ou seja, a reunião de mais de três pessoas para o fim de cometer
crimes, não se configurando essa majorante se a reunião for ocasional. A reunião
tem que ser especificamente para cometer o crime de extorsão mediante sequestro.
Questiona-se sobre a possibilidade de responsabilizar-se o agente pelo crime
autônomo de quadrilha ou bando, disposto no Art. 288, do Código Penal, em
concurso material com a forma qualificada em estudo.
A controvérsia reside em saber se a hipótese configura ou não bis in idem. Não
há que se falar em bis in idem, uma vez que os momentos de consumação e a ob-
jetividade jurídica entre tais crimes são totalmente diversos, além do que a figura
prevista no Art. 288 do Código Penal existe independentemente de algum crime
vir a ser praticado pela quadrilha ou bando.
Do mesmo modo que não há dupla apenação entre associação criminosa,
constante do Art. 35 da lei no 11.343/2006 e o tráfico por ela praticado. Aqui
também incide a regra do concurso material.
§ 2o – Extorsão mediante sequestro, qualificada pela lesão corporal de natu-
reza grave (pena de 16 a 24 anos). Trata-se de crime qualificado pelo resultado. O
evento posterior agravador tanto pode ter sido ocasionado de forma dolosa quanto
culposa. Pode resultar tanto dos maus-tratos acaso infligidos ao sequestrado quan-
to da própria natureza ou modo do sequestro.
A doutrina entende que, se a vítima desses resultados agravadores não é o pró-
prio sequestrado, mas, sim, terceira pessoa, por exemplo, um segurança da vítima
ou a pessoa que estava efetuando o pagamento do resgate, haverá o crime de extor-
são mediante sequestro na forma simples em concurso com crime contra a pessoa.
§ 3o – Extorsão mediante sequestro, qualificada pela morte. Pena de 24 a 30
anos.
É a pena mais elevada do Código Penal.
O Art. 6o, da Lei dos Crimes Hediondos, ao exacerbar o mínimo penal
deste dispositivo para 24 anos de reclusão, havia criado uma situação em que
a pena mínima era igual à pena máxima, ferindo, por conseguinte, o princípio

capítulo 3 • 91
constitucional da individualização da pena: tratava-se da situação em que a vítima
se encontrava nas condições do Art. 224 do Código Penal, caso em que o Art. 9o
da lei no 8.072/90 determinava que a pena devesse ser agravada de metade. Assim,
como o Art. 75 do Código Penal proibia tal hipótese, tínhamos a pena mínima
equivalente a 30 anos, ou seja, idêntica à pena máxima prevista para o caso.
No entanto, com a revogação do Art. 224 do CP pela lei no 12.015/2009,
tal situação deixou de existir. Desse modo, a morte da vítima deve decorrer dos
maus-tratos dispensados ao sequestrado como da natureza ou modo do sequestro.
Crimes Hediondos – Lei 8072/1990
Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (Artigo Caput 159 e
§ 1o, 1o e 3o)
Sequestrar a pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem,
condição ou preço de resgate.
§ 1o - Se o sequestro dura mais de 24 horas, se o sequestro é menor de 18 anos ou
maior de 60 anos ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha;
§ 2o - Se o fato resulta lesão corporal de natureza grave;
§ 3o - Se resulta a morte.

A delação eficaz ou premiada, prevista no parágrafo 4o, do Art. 7o, da Lei dos
Crimes Hediondos criou uma causa de diminuição de pena específica para o cri-
me de extorsão mediante sequestro praticada em concurso. Cuida-se da chamada
delação eficaz ou premiada.
Posteriormente, a lei no 9.269/96 deu ao parágrafo 4o do Art. 159 do Código
Penal a seguinte redação:
Art.159, CP – Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem como condição ou preço do resgate:
Pena – reclusão, de oito a quinze anos.
Parágrafo 4o – Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o de-
nunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá a sua pena re-
duzida de um a dois terços.
Para a aplicação da delação eficaz são necessários os seguintes pressupostos:
a) Prática de um crime de extorsão mediante sequestro.
b) Cometido em concurso.
c) Delação feita por um dos coautores ou partícipes à autoridade.

capítulo 3 • 92
d) Eficácia da delação: liame subjetivo entre os agentes. Para aplicação dessa cau-
sa de diminuição de pena é necessário que o crime tenha sido cometido em con-
curso. Se a extorsão mediante sequestro não tiver sido praticada em concurso, por
dois ou mais agentes, isto é, não havendo unidade de desígnios entre os autores e
partícipes, ainda que haja a delação, a pena não sofrerá qualquer redução.
No caso de autoria colateral não há que se falar em aplicação do benefício,
em virtude da inexistência da unidade de desígnios entre os agentes. A delação
deve ser eficaz. A dicção “denunciá-lo à autoridade” se refere ao delito de extorsão
mediante sequestro. No entanto, aquele que apenas dá a conhecer a existência do
crime, sem indicar dados que possibilitem a libertação da vítima por ele seques-
trada, mesmo que coautor ou partícipe, não pode beneficiar-se da delação eficaz.
Não confundir delação eficaz com a figura da traição benéfica que está prevista
no Art. 8o, parágrafo único, da lei no 8.072/90, pois na delação o que deve ser
levado ao conhecimento da autoridade é o crime de extorsão mediante sequestro.
É necessário, portanto: que o coautor ou partícipe delate o crime à autoridade;
que a vítima seja libertada; que a delação tenha efetivamente contribuído para a
libertação do sequestrado.
A eficácia da delação consiste na libertação do sequestrado. Assim sendo, para
que a denúncia seja considerada eficaz são necessários dois requisitos: a efetiva
libertação do ofendido e o nexo causal entre esta e a delação.
Considera-se autoridade para efeito do texto, agente público ou político, com
poderes para tomar alguma medida que dê início à persecução penal. Portanto, o
delegado de polícia, que pode instaurar o inquérito policial, o promotor de justiça
e o juiz de direito, que podem requisitar a sua instauração. A jurisprudência pode
vir a incluir outros agentes nesse rol.
O quantum a ser reduzido pelo juiz varia de acordo com a maior ou menor
contribuição da delação para a libertação do sequestrado. Quanto maior a contri-
buição, tanto maior será a redução. Trata-se de causa obrigatória de diminuição de
pena. Preenchidos os pressupostos, não pode ser negada pelo juiz. É também cir-
cunstância de caráter pessoal, incomunicável aos demais agentes. Cuidando-se de
norma de natureza penal, pode retroagir em benefício do agente, para alcançar os
crimes de extorsão mediante sequestro, cometidos antes da sua entrada em vigor.
A delação eficaz tem por base o seguinte binômio: denúncia da extorsão me-
diante sequestro e libertação do sequestrado.

capítulo 3 • 93
A lei no 9.807, de 13/7/1999, é a lei de proteção a vítimas e testemunhas
ameaçadas, bem como, a acusados ou condenados que tenham voluntariamente
prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal.
Expõe o Art. 13 da lei no 9.807/99, que o juiz, de ofício ou a requerimento das
partes, poderá conceder o perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade
ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com
a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:
I. A identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa.
II. A localização da vítima com a sua integridade física preservada.
III. A recuperação total ou parcial do produto do crime.
Fará jus ao perdão judicial:
a) O acusado que for primário, isto é, que não for reincidente – Art. 13, caput,
da lei no 9.807/99.
b) Que identificar os demais coautores ou partícipes da ação criminosa – Art. 13,
I, da lei no 9.807/99.
c) Que possibilitar a localização da vítima com a sua integridade física preservada
– Art. 13, II, da lei no 9.807/99.
d) que proporcionar a recuperação total ou parcial do produto do crime - Art.
13, III,da Lei no. 9.807/99;
e) Que tiver as circunstâncias do parágrafo único do Art. 13, da Lei no 9.807/99
a seu favor, ou seja, a concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade
do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato
criminoso.
Dessa forma, o acusado por crime de extorsão mediante sequestro que preen-
cher todos os requisitos legais anteriormente apontados poderá ser contempla-
do com o perdão judicial e não apenas na forma do Art. 7o, da Lei dos Crimes
Hediondos.
Na hipótese do Art. 13, da lei no 9.807/99, o agente deverá, necessariamente,
ser primário. O reincidente poderá, no máximo, e desde que preencha os requisi-
tos legais, ser enquadrado no Art. 14, da citada lei.
No entanto, a primariedade não confere direito público subjetivo ao perdão
judicial, devendo o juiz analisar os antecedentes, a personalidade, a conduta social,
a gravidade e as consequências do crime, nos termos do parágrafo único do Art. 13
da Lei de Proteção a Testemunhas.
Não obstante, há necessidade de que a delação tenha eficácia, identificada
em um dos incisos do Art. 13 da mencionada lei, os quais não são cumulativos,

capítulo 3 • 94
ficando a critério de o juiz conceder o perdão diante da configuração de apenas
uma das hipóteses. Não concedendo o perdão, ainda assim restará a possibilida-
de de redução de pena, com base no Art. 14, da lei no 9.807/99, cuja natureza é
residual.
Por sua vez o Art. 14, da lei no 9.807/99, dispõe que terá a pena reduzida de
um a dois terços, o indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a
investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores
ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total
ou parcial do produto do crime, no caso de condenação.
A lei, aqui, não exige a primariedade, muito menos o resultado, bastando a
colaboração. Por outro lado, os efeitos são bem menos abrangentes, havendo sim-
ples diminuição de pena. O Art. 14 fica, portanto, previsto de modo residual, ou
seja, aplica-se subsidiariamente, desde que não configurada a hipótese do Art. 13,
da lei no 9.807/99.
Como exemplo, se o criminoso não for primário, ou quando sua cooperação
não tiver levado a uma das situações previstas no Art. 13, poderá ter incidência o
dispositivo do Art. 14. Nota-se que, a delação eficaz prevista nos artigos 13 e 14 da
Lei de Proteção a Testemunhas, é mais abrangente do que a prevista no Art. 7o da
Lei dos Crimes Hediondos, pois a lei no 9.807/99, no Art. 13, prevê a possibilida-
de de aplicar o perdão judicial, e não apenas a redução da pena. Além disso, a lei
em questão se aplica a todos os delitos, hediondos ou não, e não apenas ao crime
de extorsão mediante sequestro praticado em concurso de agentes.
No que se refere ao Art. 14, da lei no 9.807/99, embora também preveja mera
diminuição de pena, sua aplicação não se restringe aos delitos previstos na Lei dos
Crimes Hediondos, e não exige efetivo resultado na delação, mas apenas e tão
somente a cooperação voluntária do criminoso.

ATIVIDADES
01. Sobre o crime de extorsão mediante sequestro, é correto afirmar que
a) a consumação do crime do Art. 159 do CP se opera com a exigência de uma vantagem
como condição ou preço do resgate, o que faz com que o delito seja doutrinariamente
classificado como crime formal.
b) o crime é hediondo mesmo em sua forma simples, dispensando a verificação de resul-
tados morte ou lesão corporal de natureza grave para a incidência da lei no 8.072, de
1990.

capítulo 3 • 95
c) o concurso de pessoas é uma das circunstâncias qualificadoras concernentes ao crime
de extorsão mediante sequestro, nos mesmos moldes do furto e diferentemente do que
ocorre no roubo, no qual a pluralidade de agentes tem a natureza de causa de aumento
da pena.
d) há, no Art. 159 do Código Penal, previsão expressa de delação premiada, determinando
diminuição da pena ao participante que revelar o crime à autoridade, permitindo a liber-
tação do sequestrado ou a recuperação do produto ou do proveito do crime.
e) ocorre a forma qualificada da extorsão mediante sequestro, entre outras hipóteses,
quando a restrição à liberdade da vítima dura mais de quinze dias, mas nunca em tempo
inferior.

02. Após a leitura das alternativas a seguir, que contêm alguns dos crimes contra o patrimô-
nio previstos no Código Penal Brasileiro, identifique a(s) afirmações correta(s):
I. Extorsão: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de
obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou
deixar de fazer alguma coisa.
II. Extorsão indireta: solicitar, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém,
documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro.
III. Extorsão mediante sequestro: sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate.
IV. Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza: apropriar-se
alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por descuido, ou em força da natureza:
Assinale a alternativa correta.
a) As assertivas I e IV estão corretas.
b) As assertivas I, II e III estão corretas.
c) Apenas a assertiva III está correta.
d) Apenas as assertivas I e III estão corretas.

03. O delito de extorsão mediante sequestro pode ser classificado como


a) delito de tendência interna transcendente peculiar.
b) delito de tendência interna transcendente de resultado separado.
c) delito de tendência interna transcendente incompleto de dois atos.
d) delito de tendência interna peculiar de resultado separado.
e) delito de tendência interna peculiar incompleto de dois atos.

capítulo 3 • 96
04. Mévio, endividado, sequestra o próprio pai, senhor de 70 anos, objetivando obter como
resgate, de seus irmãos, a quantia de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Para tanto, conta com
a ajuda de Caio. Passadas 13 horas do sequestro, Caio se arrepende e decide comunicar o
crime à Polícia que, pouco depois, invade o local do sequestro, libertando a vítima. A respeito
da situação retratada, é correto afirmar que
a) Mévio e Caio praticaram extorsão mediante sequestro, na forma qualificada, haja vista
que o crime perdurou por período superior a 12 horas.
b) por se tratar de crime contra o patrimônio, Mévio é isento de pena, pois cometeu o crime
em prejuízo de ascendente.
c) por se tratar de crime contra o patrimônio, relativamente a Mévio, que praticou o crime
em prejuízo de ascendente, a ação penal é pública condicionada à representação.
d) Caio, mesmo tendo denunciado o crime à autoridade policial, não faz jus à redução da
pena, por se tratar de crime na forma qualificada.
e) Mévio e Caio praticaram extorsão mediante sequestro, na forma qualificada, por se tratar
de vítima idosa.

05. Acerca de crimes contra a pessoa e contra o patrimônio, assinale a opção correta.
a) O juiz poderá deixar de aplicar a pena ao autor que tenha cometido crime de roubo con-
tra ascendente por razões de política criminal, concedendo-lhe o perdão judicial.
b) Situação hipotética: João sequestrou Sandra e exigiu de sua família o pagamento do
resgate. Após manter a vítima em cárcere privado por uma semana, João a libertou, em-
bora não tenha recebido a quantia exigida como pagamento. Assertiva: nessa situação,
está configurado o crime de extorsão mediante sequestro qualificado.
c) Situação hipotética: Maria, Lúcia e Paula furtaram medicamentos em uma farmácia, sem
que o vendedor percebesse, tendo sido, contudo, flagradas pelas câmeras de segurança.
Assertiva: nessa situação, Maria, Lúcia e Paula responderão pelo crime de furto simples.
d) Situação hipotética: Alexandre adquiriu mercadorias em um supermercado e pagou
as compras com um cheque subtraído de terceiro. No caixa, Alexandre apresentou-se
como titular da conta corrente, preencheu e falsificou a assinatura na cártula. Assertiva:
nessa situação, Alexandre responderá pelo crime de furto mediante fraude.
e) Situação hipotética: na tentativa de subtrair o veículo de Paulo, José desferiu uma fa-
cada em Paulo e saiu correndo do local, sem levar o veículo, após gritos de socorro da
vítima e da recusa desta em entregar-lhe as chaves do carro. Paulo faleceu em decor-
rência do ferimento. Assertiva: nessa situação, José responderá pelo crime de homicídio
doloso qualificado pelo motivo fútil.

capítulo 3 • 97
06. Um crime de extorsão mediante sequestro perdura há meses e, nesse período, nova lei
penal entrou em vigor, prevendo causa de aumento de pena que se enquadra perfeitamente
no caso em apreço.
Nessa situação hipotética
a) a lei penal mais grave não poderá ser aplicada: o ordenamento jurídico não admite a
novatio legis in pejus.
b) a lei penal menos grave deverá ser aplicada, já que o crime teve início durante a sua
vigência e a legislação, em relação ao tempo do crime, aplica a teoria da atividade.
c) a lei penal mais grave deverá ser aplicada, pois a atividade delitiva prolongou-se até a
entrada em vigor da nova legislação, antes da cessação da permanência do crime.
d) a aplicação da pena deverá ocorrer na forma prevista pela nova lei, dada a incidência do
princípio da ultratividade da lei penal.
e) a aplicação da pena ocorrerá na forma prevista pela lei anterior, mais branda, em virtude
da incidência do princípio da irretroatividade da lei penal.

07. O agente que for acusado da prática de crime de extorsão mediante sequestro em sua
forma qualificada estará impedido de obter, durante o processo ou após a condenação tran-
sitada em julgado,
a) cumprimento de pena sob regime progressivo.
b) fiança e liberdade provisória.
c) apenas liberdade provisória.
d) anistia, graça e indulto.
e) livramento condicional.

08. Assinale a alternativa que corresponde a crime classificado como formal.


a) extorsão mediante sequestro. d) estelionato.
b) homicídio. e) furto.
c) roubo.

09. Sobre os crimes contra o patrimônio, assinale a alternativa correta.


a) Os crimes de latrocínio, extorsão, roubo qualificado e extorsão mediante sequestro são
classificados como hediondos.
b) O crime de extorsão mediante sequestro classifica-se como crime material que se con-
suma quando o agente obtém a vantagem econômica exigida.
c) No roubo, o bem é retirado da vítima, enquanto que na extorsão ela própria é quem o
entrega ao agente.

capítulo 3 • 98
d) O denominado sequestro-relâmpago é uma modalidade de crime de extorsão cometido
mediante a privação total da liberdade da vítima.
e) As formas qualificadas do roubo não decorrem, necessariamente, do emprego
da violência.

10. Cada uma das próximas opções apresenta uma situação hipotética, seguida de uma
assertiva a ser julgada à luz da doutrina majoritária sobre restrição da liberdade de ir e vir da
vítima nos crimes contra o patrimônio. Assinale a opção que apresenta a assertiva correta.
a) Júlio, com o auxílio de terceiros, simulou o próprio sequestro para extorquir seus familia-
res. Nessa situação, Júlio responderá pelo crime de extorsão mediante sequestro.
b) Márcio tentou extorquir a família de Mara mediante o sequestro desta. Entretanto, poli-
ciais descobriram o cativeiro da vítima e libertaram-na sem que houvesse pagamento de
resgate. Nessa situação, ante o fato de que a extorsão mediante sequestro integra o rol
dos crimes contra o patrimônio, Márcio só responderia por tal crime se tivesse obtido a
vantagem pretendida — o resgate.
c) Aldo, com grave ameaça, coagiu José a entregar-lhe seu cartão de banco e informar
sua senha. Lucas, comparsa de Aldo, manteve José preso em um carro enquanto Aldo
sacava dinheiro da conta de José. Após tais fatos, Aldo e Lucas liberaram José em local
distante para retardar o pedido de socorro à polícia. Nessa situação, Aldo e Lucas res-
ponderão pelo crime de roubo com aumento de pena.
d) Jair praticou o crime de roubo contra Laura e, para tal, a manteve em seu poder por cur-
tíssimo tempo, destinado unicamente à subtração de bens de propriedade dela. Nessa
situação, a despeito de Laura ter ficado em poder de Jair por curtíssimo tempo, tal fato
constituirá causa de aumento de pena.
e) Um policial civil, fora do exercício de suas funções, praticou extorsão mediante seques-
tro. Nessa situação, o policial responderá pelo referido crime e, também, pelo crime de
abuso de autoridade.

STF – RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS RHC 117980 SP (STF)


RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Data de Julgamento: 3/6/2014
Data de Publicação: 20/6/2014

EMENTA: Recurso ordinário em habeas corpus.

capítulo 3 • 99
2. Extorsão mediante sequestro e roubo majorado pelo emprego de arma de fogo e con-
curso de agentes. Condenação. Fixação do regime inicial fechado.
3. Reconhecimento fotográfico no âmbito do inquérito corroborado por outras provas dos
autos. Possibilidade.
4. Elementos do tipo extorsão mediante sequestro devidamente configurados.
5. Provas demonstram emprego de arma de fogo e concurso de pessoas.
6. Fixação da pena-base acima do mínimo legal. Circunstâncias judiciais desfavoráveis.
Ausência de ilegalidade.
7. Mantida a condenação, não há que se falar em alteração do regime prisional.
8. Recurso ordinário a que se nega provimento.

SUPERIO TRIBUNAL FEDERAL – HABEAS CORPUS HC 114101 MT (STF)


RELATOR: MINISTRO MARCO AURÉLIO
Data de Julgamento: 8/10/2014
Data de Publicação: 29/10/2014

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUES-


TRO. INDEFERIMENTO DE LIMINAR. SÚMULA 691/STF. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
NÃO CONFIGURADO.
1 Não se conhece de habeas corpus impetrado contra indeferimento de liminar por Re-
lator em habeas corpus requerido a Tribunal Superior. Súmula 691. Óbice superável apenas
em hipótese de teratologia.
2. Ordem de habeas corpus não conhecida.

STJ – HABEAS CORPUS HC 290321 RJ 2014/0053032-0 (STJ)


RELATOR: MINISTRO ERICSON MARANHO
Data de Julgamento: 16/4/2015
Data de Publicação: 27/4/2015

EMENTA: HABEAS CORPUS. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO E CÁRCERE PRI-


VADO PRATICADO POR POLICIAIS MILITARES. ACÓRDÃO CONDENATÓRIO QUE NEGA
O DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE. ELEVADA PERICULOSIDADE DOS CONDE-
NADOS EVIDENCIADA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
HABEAS CORPUS DENEGADO. – O acórdão condenatório negou aos pacientes o direito
de recorrer em liberdade de forma devidamente fundamentada, tendo sido destacada a ex-
trema gravidade dos crimes perpetrados – sequestro por policiais militares de um suposto

capítulo 3 • 100
traficante para exigir resgate, além de cárcere privado outras duas pessoas – com menção
a peculiar situação dos sentenciados serem agentes públicos com treinamento policial e
militar, o que evidenciava a elevada periculosidade dos condenados e autoriza a custódia
cautelar para garantia da ordem pública. Habeas corpus denegado.

SUPERIOR TRIBUNAL JUSTIÇA – RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS


RHC 47171 RS 2014/0089386-9 (STJ)
RELATOR: MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Data de Julgamento: 20/5/2014
Data de publicação: 28/5/2014

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. EXTORSÃO MEDIANTE SE-


QUESTRO. EXCESSO DE PRAZO NO JULGAMENTO DA APELAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA.
RAZOABILIDADE. RECURSO IMPROVIDO.
1. Não se pode olvidar que a regra em nosso ordenamento jurídico é a liberdade, de forma
que toda prisão antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória reveste-se de
excepcionalidade, assumindo natureza exclusivamente cautelar. Assim, a segregação pre-
ventiva só pode ser decretada e mantida em razão de decisão escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, quando preenchidos os pressupostos necessários insculpi-
dos no Art. 312 do Código de Processo Penal e demonstrada concretamente e objetivamen-
te sua real necessidade.
2. Conforme entendimento pacífico desta Corte Superior, eventual excesso de prazo deve
ser analisado à luz do princípio da razoabilidade, sendo permitido ao Juízo, em hipóteses
excepcionais, ante as peculiaridades da causa, a extrapolação dos prazos previstos na lei
processual penal, visto que essa aferição não resulta de simples operação aritmética.
3. Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega provimento. Recomendação de ce-
leridade no julgamento do recurso de apelação interposto pela defesa.

STJ – HABEAS CORPUS HC 127320 SP 2009/0017088-4 (STJ)


RELATOR: MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ
Data de Julgamento: 7/5/2015
Data de publicação: 15/5/2015

EMENTA: HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO E EXTORSÃO MEDIAN-


TE SEQUESTRO. RECONHECIMENTO DA TENTATIVA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
CONCURSO MATERIAL. CARACTERIZAÇÃO. ERRO NA TIPIFICAÇÃO DA CONDUTA. RE-

capítulo 3 • 101
CONHECIMENTO DE OFÍCIO. CONDUTA QUE SE AMOLDA AO ART. 158, § 1o, DO CP E
NÃO AO ART. 159 DO CP. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. A alegação de que os crimes não foram consumados não foi deduzida no apelo da defesa
e, por tal motivo, deixou de ser analisada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o que
impede sua cognição direta por esta Corte Superior, sob pena de indevida supressão de instância.
2. Ficam configurados os crimes de roubo e extorsão, em concurso material, se o agente,
após subtrair bens da vítima, mediante emprego de violência ou grave ameaça, a constrange
a entregar o cartão bancário e a respectiva senha, para sacar dinheiro de sua conta corrente.
3. O paciente foi condenado, por fatos ocorridos em 4/6/2007, como incurso no Art. 159
do CP, mas, na extorsão mediante sequestro (Art. 159 do CP), a privação da liberdade é uti-
lizada como condição ou preço do resgate, não verificada na hipótese. Nesse cenário, deve
ser reconhecida, de ofício, a prática do crime descrito no Art. 158, § 1o, do CP, observada a
restrição da liberdade da vítima como circunstância judicial, pois o crime foi praticado antes
da lei no 11.923/2009.
4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para reconhecer a prática
do crime descrito no Art. 158, § 1o do CP e determinar a devolução dos autos ao Tribunal de
Justiça de origem, para realização de nova dosimetria da pena.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código Penal em exemplos práticos. 5. ed. Florianópolis:
OAB/SC, 2006.
BATISTA, Weber Martins. O Furto e o Roubo no Direito e no Processo Penal. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1995.
BITENCOURT, César Roberto. Elementos de Direito Penal. São Paulo: RT, v. 2, 2004.
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal – Parte Especial. 10. ed. Forense. Rio de
Janeiro: Forense, 2003.
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
MAGALHÃES NORONHA, Edgard. Direito Penal. 2. ed, Saraiva. São Paulo: Saraiva, 2001.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 18. ed. São Paulo: Atlas, v. II, 2001.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal – Parte Geral e Especial, 4. ed. São Paulo/SP:
Revista dos Tribunais, 2008.
PRADO, Luis Régis. Elementos de direito penal. São Paulo: RT, 2003.

capítulo 3 • 102
CINE CONHECIMENTO
O sequestro – 2017
Sinopse: uma mulher (Halle Berry) trabalha como gar-
çonete e se vira para cuidar de seu filho pequeno. Certo
dia, o menino é sequestrado e a mãe parte numa luta de-
sesperada para reencontrar o filho, enquanto tenta conse-
guir o dinheiro do resgate.

Reféns – 2011
Sinopse: Kyle (Nicolas Cage) e Sarah (Nicole Kidman)
vivem em uma elegante e segura casa com todos os con-
fortos modernos. Sua única filha, Avery (Liana Liberato) é
uma adolescente linda, mas ainda muito rebelde. Tudo está
bem até o momento em que a casa é invadida por crimino-
sos e a família é feita refém. Agora todos os segredos da
família deverão ser revelados na luta contra os invasores.

El mate – 2016
Sinopse: Russo foi sequestrado e está amarrado na
casa do assassino de aluguel Armando. Este, por sua vez,
aguarda os mandantes do sequestro. Nessa espera quem
bate na porta é um evangélico, pronto para levar a palavra
de Deus para quem está na casa, despertando estranhos
conflitos.

capítulo 3 • 103
Rapt – o sequestro de um herói – 2011
Sinopse: o rico e poderoso industrial, Stanislas Graff
(Yvan Attal), é sequestrado numa manhã em frente a sua
mansão. Começa então um calvário que vai durar algumas
semanas. Amputado, humilhado, em condições sub-hu-
manas, ele resiste sem reagir a seus sequestradores. Ele
responde a barbárie com dignidade, enquanto sua vida é
completamente devassada por investigações policiais e
pela imprensa. A intimidade que Graff preservava é reve-
lada: muitas amantes e quantias escandalosas perdidas na
mesa de jogo estão diariamente nas páginas dos jornais
e revistas.
No cativeiro, sem contato com o mundo externo, ele
não recebe nenhuma informação da boca dos seus algo-
zes. Graff não compreende porque ninguém paga o resga-
te exigido. Cada um descobre um homem que está longe
de parecer o que todos imaginavam.

Fragmentado – 2017
Sinopse: o psicopata Kevin (James McAvoy) tem nada
menos que 23 personalidades. Um dia, ele sequestra três
garotas. No cativeiro, Kevin começa a atormentá-las com
seu comportamento instável. Para o terror das jovens, a
pior dessas personalidades, conhecida como The Beast,
ganha vida.

capítulo 3 • 104
4
Crime apropriação
indébita
Crime apropriação indébita
Introdução

Procura-se destacar neste capítulo o crime de apropriação indébita, que se


encontra inserido no rol dos crimes contra o patrimônio. É o crime previsto no
artigo 168 do Código Penal Brasileiro que consiste no apoderamento de coisa
alheia móvel, sem o consentimento do proprietário.
No Código Criminal do Império, o crime de apropriação indébita era tipifica-
do como furto impróprio, estando dentro dos crimes de furto.
Coube à doutrina considerá-lo como um tipo autônomo, porque já se encon-
travam bem definidos os elementos objetivos e subjetivos até a promulgação do
Código Penal em 1940.
No desenvolvimento deste capítulo, objetiva-se trazer as diferenças entre o
crime de apropriação indébita e suas outras formas.
A intenção não é esgotar a discussão acerca do tema, mas sim apresentar,
de forma geral, alguns aspectos importantes referentes ao crime de apropria-
ção indébita.

OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é estudar o crime de apropriação indébita, contido no Art. 168
do Código Penal, bem como, as diversas condutas que se amoldam a mais de um tipo penal,
criando uma imensa discussão doutrinária e jurisprudencial acerca de qual dos tipos penais
se aplicará àquela conduta.
Isso ocorre devido à semelhança entre os tipos penais, que abrangem ou deixam de
abranger condutas distintas por ocasião de sua redação. No campo dos crimes patrimoniais,
talvez os tipos penais mais similares e que causam essa confusão são o roubo e a extorsão.
No capítulo da Apropriação Indébita estão previstos ou crimes de apropriação indébita
previdenciária, apropriação indébita de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natu-
reza, apropriação de tesouro e apropriação de coisa achada.

capítulo 4 • 106
O crime de apropriação indébita está tipificado no artigo 168 do Código Penal.
O tipo penal trata da conduta daquele que tem a posse ou detenção lícita, ou
seja, posse precária da coisa e, que em determinado momento, inverte o sentido
dessa posse ou detenção, passando a agir como se proprietário fosse da coisa ou
bem que detém.
No caso da detenção que é a posse precária, esta não deverá ser fiscalizada,
pois ao contrário, havendo a disposição da coisa ou bem vigiada, ocorrerá o furto.
Em se tratando de funcionário público como autor da apropriação indébita, e
esta se der em razão do cargo, haverá o crime de Peculato.
No caso do dolo ab initio na disposição de coisa alheia que recebeu configura
o Estelionato e não o crime de Apropriação Indébita.
A coisa fungível recebida em mútuo, ou seja, empréstimo de dinheiro ou de-
pósito, não pode ser objeto de Apropriação Indébita, pois nesses casos há a trans-
ferência da propriedade e o estabelecimento do direito de crédito em relação ao
anterior proprietário da coisa.
O trabalho da investigação será tão somente o de colheita de provas, pois que
a autoria é indicada pela vítima, seu representante ou qualquer pessoa que tenha
conhecimento do fato.

Objeto jurídico

O Art. 168 do Código Penal tutela o patrimônio e de forma eventual, a posse.


Observa-se pelo tipo penal, que o possuidor ou detentor atual é o autor do crime.
Não obstante, é possível que o bem estivesse na legítima posse de outra pessoa,
antes de ser entregue ao agente, hipótese em que esta também será vítima.
Geralmente, a apropriação indébita é um crime caracterizado pela quebra de
confiança, haja vista que de forma espontânea a vítima entrega um bem ao agente
e permite que ele deixe o local em seu poder, e este, após estar na posse ou deten-
ção, inverte seu ânimo em relação ao objeto, passando a proceder como se dono
fosse. Resumindo, a vítima, de forma transitória, entrega uma posse ou detenção
ao agente, e ele não devolve mais o bem.
A distinção entre possuidor e detentor está no Código Civil que, segundo o
Art. 1196, é possuidor quem tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes á propriedade; e, no Art. 1198, considera detentor aquele que,

capítulo 4 • 107
achando-se em relação de dependência para com o outro, conserva a posse em
nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
No âmbito penal, a diferenciação não se mostra tão relevante, haja vista que
esse crime se encontra presente em qualquer das duas hipóteses.

Requisitos para configuração do crime de apropriação indébita

Podemos enumerar quatro requisitos para a configuração do crime de apro-


priação indébita:
a) Que a entrega do bem pela vítima ao agente seja voluntaria e consciente, ou
seja, não exista fraude, violência, ou grave ameaça.
Na apropriação indébita, a entrega deve se dar de forma livre, espontânea
e consciente.
A entrega é livre e espontânea porque a vítima pode ter sido coagida, haja
vista, se o fosse, o crime seria o de roubo ou extorsão.
Ainda, deve ser consciente porque a vítima pode estar em erro, assim, se ocor-
rer, o crime será o de estelionato ou de apropriação de coisa havida por erro.
b) Que a posse ou detenção recebida não seja vigiada; ou seja, não existe fiscali-
zação ou controle, a posse do bem não é fiscalizada.
É de se relevar que, para se considerar a posse não vigiada, é suficiente que a
vítima entregue o bem ao agente e consinta que ele deixe o local em seu poder.
c) Que o agente no momento do recebimento esteja de boa-fé; pois, se o agente
já estiver de má-fé neste momento, comete-se o crime de estelionato, não apro-
priação indébita.
É unânime a doutrina em afirmar que, se o agente já recebe o bem de má-
fé, ou seja, com a intenção de dele se locupletar, o crime é o de estelionato, bem
mais grave. Assim, se conclui que, no crime de apropriação indébita, o agente
recebe o bem de boa-fé, significando a intenção de devolvê-lo á vítima ou dar-lhe
o destino correto conforme a orientação recebida e, só depois, é que resolve se
locupletar dele.
A principal diferença entre esses crimes é que na apropriação indébita o dolo
é posterior ao recebimento do bem, ao passo que no estelionato esse dolo é neces-
sariamente anterior, conforme o agente precise empregar a fraude para induzir ou
manter a vítima em erro para que se concretize a entrega.

capítulo 4 • 108
Assim, havendo dúvidas em caso concreto em torno da boa ou má-fé do agen-
te no momento do recebimento do bem, ele deverá ser condenado por apropria-
ção indébita. Isto porque a boa-fé é presumida, enquanto que a má-fé deve ser
provada e também porque a apropriação indébita tem pena menor.
d) que o agente inverta o ânimo em relação ao objeto que está em seu poder, ou
seja, depois que recebe o bem de boa fé, o agente modifica seu comportamento,
agindo de má fé, querendo apropriar-se da coisa e não apenas ter detenção.

Na realidade, este é o momento em que se configura a apropriação indébita,


haja vista que desaparece a boa-fé por parte do agente e surge a má-fé, o dolo de se
tornar dono daquilo que ele era mero possuidor ou detentor.
Existem duas formas de demonstrar a modificação do ânimo do agente:
1. Apropriação indébita própria ou propriamente dita: praticar um ato de
disposição da coisa, ou seja, vender, alugar uma coisa que nunca foi do agente.
Quando o agente vende a coisa alheia que está em seu poder dando prévia
ciência ao comprador a respeito disso, incorre em crime de receptação, este último.
Não obstante, quando o possuidor mente ao comprador, alegando que o obje-
to lhe pertence, o crime de apropriação indébita se assemelha em muito ao crime
de disposição de coisa alheia como própria, disposto no Art. 171, § 2o, do Código
Penal, em que o agente “vende, permuta, dá em locação ou garantia coisa alheia
como própria”.
A diferença é possível eis que
a) na apropriação indébita a coisa é precisamente móvel, enquanto no outro
crime ela pode ser móvel ou imóvel.
b) quando o objeto material for bem móvel, estará configurada a apropriação
indébita se o agente tinha prévia posse ou detenção do bem, e se não as tinha, será
o delito de disposição de coisa alheia como própria.

2. Apropriação indébita por negativa de restituição: é a recusa na restituição, ou


seja, a pessoa não devolve a coisa e não tem nenhum interesse em restituir a coisa.
Nessa forma de crime, às vezes o agente declara expressamente que irá devol-
ver o bem, entretanto, tal não é imprescindível, vista que é comum que o pos-
suidor ou detentor suma com ele e não seja mais localizado, caso em que o dolo
de se apropriar resta evidente por seu comportamento e também pelo período
decorrido.

capítulo 4 • 109
Portanto, existem duas formas do crime de apropriação indébita: a propria-
mente dita e a negativa de restituição. A distinção se fundamenta no fato de o
agente ter se desfeito do bem no momento do crime ou ter ficado com ele.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, menos o proprietário da coisa e o
sujeito passivo é a pessoa física, pessoa jurídica que suporte e tenha prejuízos.

CONCEITO
Apropriação Indébita:
Tomar algo de alguém sem o seu consentimento. Ex.: venda em consignação onde a loja
não repassa o dinheiro ao dono.

Consumação e tentativa

Consuma-se a apropriação indébita própria, no momento em que o agente


inverte seu ânimo, abandonando a posse de detentor e possuidor e passando a agir
como proprietário, dispondo da coisa.
É possível à tentativa na apropriação indébita própria, pois o agente pode
tentar vender, doar, alugar e dispor da coisa, e não conseguir por circunstâncias
alheias à sua vontade. Não obstante, na apropriação indébita por negativa de res-
tituição não é possível a tentativa.

Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da


natureza

Art. 169, caput, CP. Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda a seu poder por
erro, caso fortuito ou força da natureza:
Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.
O Art. 169, caput, do Código Penal tutela a propriedade. Existem duas figuras
criminais distintas no citado artigo, que serão estudadas separadamente:
1. Apropriação de coisa havida por erro.
Assim como sucede na apropriação indébita, no crime de apropriação de coisa ha-
vida por erro também é a vítima quem de forma espontânea entrega o bem ao agente.

capítulo 4 • 110
A diferença entre os dois crimes está no fato de que, na apropriação indébita,
a vítima entrega o bem sem estar em erro, ao passo que o delito de apropriação
de coisa havida por erro é preciso que a vítima, por qualquer motivo, esteja em
situação de erro, quer dizer, com uma percepção incorreta da realidade que, no
caso concreto é a causa determinante da entrega.
O erro da vítima pode se relacionar
a) à pessoa destinatária do bem, significando, que o objeto deveria ser entregue a
uma pessoa, e a vítima, por equívoco, entrega a outra.
b) à coisa entregue, se verifica quando uma pessoa compra um bem de valor me-
nor e, por erro, os funcionários da loja põem na embalagem objeto bem mais caro
e o agente, em casa ao abrir o pacote, decide não devolver.
c) à existência da obrigação ou parte dela. Acontece quando a pessoa se engana,
julgando que deve entregar um bem ou valor a terceiro, quando tal não é preci-
so. Por exemplo, é o caso do homem que já pagou os valores que devia, por ter
adquirido fiado em uma peixaria durante um mês, e o funcionário que recebeu o
dinheiro deu a entrada no caixa, entretanto não comunicou ao patrão. A esposa,
depois, sem saber que a dívida já havia sido quitada, efetua novamente o paga-
mento, agora ao dono do estabelecimento. Depois de receber o dinheiro, o dono,
quando vai dar entrada no caixa, verifica a anotação feita pelo funcionário de que
a dívida havia sido quitada, mas resolve ficar com o dinheiro.
É de se relevar por ser muito importante que o crime de apropriação de coisa
havida por erro tem como requisito fundamental que o agente receba o bem de
boa-fé, quer dizer, que apenas perceba o equívoco da vítima quando já está na
posse ou detenção do bem e que, nesse instante somente, resolva apoderar-se
dele, não o devolvendo a quem de direito. É inevitável essa conclusão, na me-
dida em que, se o agente, antes de receber o bem, percebe que está havendo um
engano e que a vítima está prestes a lhe entregar algo por erro, não obstante, de
forma maliciosa, mantém-se em silencio para que a entrega se viabilize, o crime
é o de estelionato.
Pelo exposto, podem ser enumerados os seguintes requisitos no crime de apro-
priação havida por erro:
a) que a vítima esteja em erro não provocado pelo agente.
b) que a vítima de forma espontânea entregue o bem ao agente.

capítulo 4 • 111
c) que o agente ao receber o bem, esteja de boa-fé, ou seja, não perceba o erro da
vítima, posto que, em caso contrário, o crime seria o de estelionato.
d) que, estando na posse do bem, perceba que o recebeu por erro e resolva dele
se apropriar.
O crime não existe quando o agente pensa haver recebido uma doação ou prê-
mio, haja vista que, nesses casos, não há dolo de locupletamento ilícito. Inexiste
também crime se o agente, ao perceber o erro, não tem como devolver o bem ou
valores ao dono, em virtude de desconhecer quem seja e não possuir meios para
identificá-lo. Ao contrário do que acontece com o delito de apropriação de coisa
achada, no crime de apropriação de coisa havida por erro, não existe a obrigação
de contatar autoridades públicas para a elas efetuar a devolução, mesmo porque
quem incidiu em erro é que tem condições de procurar a pessoa a quem entregou
o objeto. Então, se esta recusar a devolução, haverá crime.

2. Apropriação de coisa havida por caso fortuito ou força da natureza.


Estas figuras estão descritas na segunda parte do Artigo 169, caput, do Código
Penal, sendo certo que caso fortuito é um evento provocado pela ação humana e
se consideram força da natureza o vento, a chuva, a neblina etc., sendo que ambas
as expressões têm o mesmo significado praticamente, pressupondo um aconteci-
mento acidental e inevitável.
No caso fortuito, existe no evento certa participação humana. Podemos citar
o caso de gado que ingressa em propriedade alheia porque alguém esqueceu a
porteira aberta.
No caso de força da natureza, não existe esta inicial participação humana que
contribua para o acontecimento. Como exemplo, o vento forte que leva objetos
para a casa do vizinho ou aumento do volume de águas de um rio que levam um
barco até propriedade alheia.
Nos citados exemplos, o delito só se concretizará se o agente, ao perceber o
ocorrido, se negar a restituir os bens. O crime só será configurado se o agente
souber que o objeto é alheio e que veio às suas terras em razão de caso fortuito ou
força da natureza.

capítulo 4 • 112
Figura 4.1  –  Disponível em: <www.entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.

Apropriação indébita previdenciária

Relativamente novo o tema, mas cada vez mais vem se ampliando, haja vista
que foi introduzido, no ordenamento jurídico, por intermédio da promulgação
da lei no 9.983/2000.
O crime de apropriação indébita previdenciária está previsto no Art. 168-A do
Código Penal, acrescentado pela referida lei, que dispõe:

capítulo 4 • 113
Art. 168-A, CP: Deixar de repassar à Previdência Social as contribuições reco-
lhidas dos contribuintes, no prazo e na forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de
I. recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à
Previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados,
a terceiros ou arrecadada do público.
II. recolher contribuições devidas à Previdência Social que tenham integrado des-
pesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços.
III. pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já
tiverem sido reembolsados à empresa pela Previdência Social.
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa
e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta informa-
ções devidas à Previdência Social, na forma definida em lei ou regulamento, antes
do inicio da ação fiscal.
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa
se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
I. tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia,
o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios.
II. o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior
àquele estabelecido pela Previdência Social, administrativamente, como sendo o
mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
O citado dispositivo tem por finalidade tutelar as fontes de custeio da pre-
vidência social e, por consequência, os benefícios a que têm direito os cidadãos
garantidos pelo sistema de seguridade social.
O crime de apropriação indébita previdenciária consiste em deixar de repassar,
à Previdência Social, as contribuições, valores a recolher dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional. É relevante destacar que o agente público só
pratica o citado crime se tal recolhimento for de sua responsabilidade, haja vista
que, se a contribuição não for retida do empregado, não existirá crime.
O objeto material do crime é a contribuição social que já foi recolhido, mas
não foi repassada ao sistema previdenciário dentro do prazo legal ou convencional.
O sujeito ativo é a pessoa responsável por repassar a contribuição recolhida ao
sistema previdenciário e o sujeito passivo é o Estado, representado pelo Instituto
do Seguro Social – INSS.

capítulo 4 • 114
A consumação do delito se verifica com o decurso do prazo para o repasse,
haja vista ser tratar de crime doloso e para sua configuração basta o dolo genérico,
sendo desnecessária a intenção específica da locupletação.
Não se admite tentativa do crime de apropriação indébita previdenciária, eis
que é um crime próprio omissivo.
Os tribunais superiores firmaram entendimento de que, em relação aos cri-
mes de natureza fiscal ou equiparados, a ação penal somente pode ser ajuizada
após haver se esgotado os trâmites administrativos, ou seja, após o lançamento
definitivo é que a denúncia pode ser oferecida. Antes disso, não tem início o lap-
so prescricional.
Assim, a consumação do crime ocorre na data do término do prazo conven-
cional ou legal do repasse ou recolhimento das contribuições devidas ou do pa-
gamento do benefício devido a reembolsado ou segurado ao estabelecimento pela
Previdência Social.
É relevante assinalar que, não há de se falar em prisão por dívida quando
configurado o crime de apropriação indébita previdenciária, e sim na prisão cri-
minal em regime de reclusão. A competência para processar e julgar, é da Justiça
Federal. A ação é pública incondicionada, com representação do Ministério
Público Federal.

Figuras equiparadas

Estabelece o Art. 168-A, em seu parágrafo primeiro do Código Penal, três


figuras equiparadas, dispondo que:
Art. 168-A, § 1o, CP: Nas mesmas penas incorre quem deixar de
I. recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à
Previdência Social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados,
a terceiros ou arrecadada do público.
II. recolher contribuições devidas à Previdência Social que tenham integrado des-
pesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços.
III. pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já
tiverem sido reembolsados à empresa pela Previdência Social.
Na figura do inciso I, o sujeito desconta de segurado, seja ele empregado,
empregado doméstico, empresário ou trabalhador autônomo, qualquer valor

capítulo 4 • 115
destinado à previdência e não o recolhe. No caso dos crimes desse inciso, o sujeito
ativo é o empresário individual, o administrador da empresa, o empregador etc.
O inciso II tem incidência quando no preço final do produto ou serviço está
inserido o valor das contribuições devidas e estas após contabilizadas, não são
recolhidas para o INSS.
Na hipótese do inciso III, a empresa deve ter sido reembolsada pela Previdência
Social e não ter pagado no prazo, o benefício ao segurado. Citando como exemplo,
o que ocorre com o salário-família reembolsado à empresa pela Previdência Social.

Extinção da punibilidade

As hipóteses previstas em lei que geram a extinção da punibilidade do agen-


te são:
a) Se ele, de forma espontânea, declara e confessa as contribuições, importâncias
ou valores e presta informações devidas à Previdência Social, na forma definida em
lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. A respeito de sua instauração,
inicia-se a ação fiscal com a notificação pessoal do contribuinte.
Art. 168-A, § 2o, CP: É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente,
declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores
e presta informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou
regulamento, antes do inicio da ação fiscal.
b) Se a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral
dos débitos, inclusive acessórios, em qualquer momento da persecução penal.
Ressalte-se, que o Art. 9o, da lei 10.684/2003 e seu parágrafo 1o estabelecem
a suspensão da pretensão punitiva estatal e da prescrição, se a empresa obtiver o
parcelamento dos valores devidos, desde que tenha sido formalizado o pedido
de parcelamento antes do recebimento da denúncia criminal, conforme Art. 83,
§ 2o, da lei no 9.430/96, com a redação dada pela lei no 12.382/2011.
Os tribunais reconhecem a possibilidade de suspensão da pretensão punitiva
estatal, para fatos ocorridos antes da lei no 12.382/2011, se o parcelamento tiver
sido obtido antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.
Não gera extinção da punibilidade o pagamento dos valores devidos após a
condenação definitiva, uma vez que o citado artigo 9o dispõe expressamente a
pretensão punitiva, e não a extinção da pretensão executória.

capítulo 4 • 116
Perdão judicial e privilégio

O parágrafo terceiro, do Art. 168-A, do Código Penal estabelece que o juiz


pode deixar de aplicar a pena ou aplicar apenas a de multa se o agente for primário
e de bons antecedentes, desde que:
Art. 168-A, § 3o, CP: É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar
somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
I. tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia,
o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios.
II. o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior
àquele estabelecido pela Previdência Social, administrativamente, como sendo o
mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
A norma do inciso I deixou de ter sentido em face de que, o pagamento dos
valores devidos em qualquer fase da persecução gera a extinção da punibilidade nos
termos do Art. 9o, § 2o, da lei no 10.684/2003 e do Art. 69 da lei no 11.941/2009.
Não obstante com relação ao inciso II, existe uma corrente que entende que
continua a ser aplicável por haver incompatibilidade entre o princípio da insig-
nificância e o bem jurídico tutelado, no delito de apropriação indébita previden-
ciária. Assim, para esta corrente, se os valores forem inferiores ao mínimo fixado
administrativamente para o ajuizamento das execuções fiscal, o juiz apenas poderá
conceder o perdão judicial ou aplicar exclusiva pena de multa.
Existem vários julgados no Supremo Tribunal Federal negando a possibilidade
de aplicação do princípio da insignificância ao delito em questão.
O Superior Tribunal de Justiça, em sentido oposto, proferiu inúmeras decisões
aplicando o princípio da insignificância, o que torna sem efeito a regra do Art.
168-A, § 3o, II, do Código Penal.

Figura 4.2  –  Disponível em: <http://www.mapasequestoes.com.br>. Acesso em: dez. 2017.

capítulo 4 • 117
ATIVIDADES
01. Na apropriação indébita previdenciária, se o valor das contribuições devidas, inclusive
acessórios, for igual ou inferior àquele estabelecido pela Previdência Social, administrativa-
mente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais, é facultado ao
juiz, na hipótese de o agente ser primário e de bons antecedentes
a) substituir a pena de reclusão pela de detenção.
b) reduzir de metade o valor do dia-multa.
c) reduzir a pena privativa de liberdade de 1/3 a 2/3.
d) aplicar somente a pena de multa.
e) considerar o fato como circunstância atenuante e fixar a pena abaixo do mínimo legal.

02. Leonardo encontra uma cédula de R$ 50,00 sob a poltrona da sala da casa de seu ami-
go Fausto, lugar que habitualmente frequenta e, sem que o dono da casa perceba, dela se
apodera. Diante do caso hipotético apresentado, Leonardo pratica o crime de
a) apropriação de coisa achada. d) furto simples.
b) furto qualificado. e) apropriação indébita.
c) estelionato.

03. Vitor, sócio-administrador da Sociedade X, em razão da grande quantidade de serviço


que desempenha, deixa de repassar no prazo devido, de maneira negligente, à previdên-
cia social contribuições previdenciárias recolhidas dos empregados contribuintes. Um dos
empregados, porém, descobre o ocorrido e narra para autoridade policial. Considerando as
informações narradas, é correto afirmar que a conduta de Vitor configura
a) indiferente penal.
b) apropriação indébita comum majorada.
c) apropriação indébita previdenciária.
d) apropriação indébita de coisa havida por erro.
e) furto qualificado.

04. Alcides, administrador de um cemitério, percebendo que, depois de uma chuva torren-
cial, ossos anteriormente sepultados em uma cova rasa ficaram expostos, decide levar para
sua casa o crânio que compunha aquele esqueleto. Assinale a alternativa que corretamente
indica a subsunção de seu comportamento à norma penal.
a) Conduta atípica c) Apropriação indébita e) Vilipêndio a cadáver
b) Subtração de cadáver d) Furto

capítulo 4 • 118
05. Após a leitura das alternativas a seguir, que contém alguns dos crimes contra o patrimô-
nio previstos no Código Penal Brasileiro, identifique a(s) afirmações correta(s).
I. Extorsão: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de
obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou
deixar de fazer alguma coisa.
II. Extorsão indireta: solicitar, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém,
documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro.
III. Extorsão mediante sequestro: sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate.
IV. Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza: apropriar-se
alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por descuido, ou em força da natureza.
Assinale a alternativa correta.
a) As assertivas I e IV estão corretas.
b) As assertivas I, II e III estão corretas.
c) Apenas a assertiva III está correta.
d) Apenas as assertivas I e III estão corretas.

06. Lucas é empregador dos trabalhadores Manuel, Francisco e Pedro em sua fazenda na
zona rural.
Analise as três situações apresentadas.
I. Lucas retém a carteira de identidade de Manuel, único documento deste, impedindo que
deixe o local de trabalho.
II. Lucas autoriza que Francisco gaste apenas 15 minutos todo dia para horário de almoço,
de modo que Francisco somente pode comprar uma refeição na pequena cantina de Lucas
que funciona dentro da fazenda. Em razão dos altos preços dos produtos, Francisco contrai
dívida alta e é impedido de deixar a fazenda antes do pagamento dos valores devidos.
III. Lucas instala diversas câmeras e outros mecanismos de vigilância ostensiva na fazenda
com o fim de reter Pedro em seu local de trabalho.
Considerando as situações apresentadas, o comportamento de Lucas em relação a Ma-
nuel, Francisco e Pedro configura, respectivamente, o(s) crime(s) de
a) redução à condição análoga à de escravo, nas três situações.
b) redução à condição análoga à de escravo, exercício arbitrário das próprias razões e
redução à condição análoga à de escravo.
c) apropriação indébita, redução à condição análoga à de escravo e redução à condição
análoga à de escravo.

capítulo 4 • 119
d) cárcere privado, exercício arbitrário das próprias razões e redução à condição análoga
à de escravo.
e) redução à condição análoga à de escravo, redução à condição análoga à de escravo e
constrangimento ilegal.

07. Sobre os crimes contra o patrimônio, assinale a alternativa correta.


a) O crime de apropriação indébita pressupõe a posse ou detenção lícita, mas vigiada,
do agente sobre coisa móvel alheia, com subsequente inversão do título da posse
ou detenção,
b) Só se configura crime de estelionato quanto há prejuízo patrimonial a outrem, consisten-
te em perder o que já se possui ou em deixar de ganhar o que é devido, não bastando a
mera obtenção de uma vantagem indevida pelo agente.
c) Ocorre alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria quando o agente vende coi-
sa de sua propriedade, todavia inalienável, crime do qual participa o adquirente que,
cientificado de todas as circunstâncias que envolvem o negócio, opta por efetivá-lo.
d) Constitui crime de esbulho possessório o ingresso clandestino de duas pessoas em
edifício alheio, com a finalidade de usurpá-lo.
e) Pratica crime de apropriação de coisa achada aquele que se apossa de uma carteira es-
quecida por colega sobre a mesa por este usada no escritório em que ambos trabalham.

08. A fim de subtrair pertences de Bartolomeu, Marinalda coloca barbitúricos em sua bebida,
fazendo-o desfalecer. Em seguida, a mulher efetiva a subtração e deixa o local, sendo certo
que o lesado somente vem acordar algumas horas depois. Nesse contexto, é correto afirmar
que Marinalda praticou crime de
a) estelionato. c) roubo. e) furto qualificado.
b) extorsão. d) apropriação indébita.

09. Lucius, funcionário público, escrevente de cartório de secretaria de Vara Criminal, apro-
priou-se de um relógio valioso que foi remetido ao Fórum juntamente com os autos do inqué-
rito policial no qual foi objeto de apreensão. Lucius cometeu crime de
a) apropriação de coisa achada.
b) apropriação indébita simples.
c) apropriação indébita qualificada pelo recebimento da coisa em razão de ofício, emprego
ou profissão.
d) apropriação de coisa havida por erro.
e) peculato.

capítulo 4 • 120
10. Placídio achou na rua um cartão de crédito e o utilizou para efetuar compras de roupas
finas em um estabelecimento comercial. Essa conduta caracterizou o crime de
a) apropriação de coisa achada. d) extorsão simples.
b) furto qualificado pela fraude. e) receptação.
c) estelionato.

11. Brutus, no interior de uma loja, a pretexto de adquirir roupas, solicitou ao vendedor vários
modelos para experimentar, mas, no interior do provador, escondeu uma das peças dentro de
suas vestes, devolveu as demais e deixou o local. Brutus cometeu crime de
a) apropriação de coisa achada. d) extorsão simples.
b) furto qualificado pela fraude. e) receptação.
c) estelionato.

12. Penélope, funcionária pública, recebeu doações de roupas feitas para a Secretaria de
Assistência Social, local em que exercia as suas funções, destinadas a campanha de solida-
riedade, para serem distribuídas a pessoas pobres. De posse dessas mercadorias, apropriou-
se de várias peças. Nesse caso, Penélope
a) cometeu crime de apropriação indébita simples.
b) cometeu crime de peculato doloso.
c) cometeu crime de apropriação indébita qualificada pelo recebimento da coisa em razão
de ofício, emprego ou profissão.
d) cometeu crime de peculato culposo.
e) não cometeu delito por tratar-se de bens recebidos em doação.

13. Apoderar-se de coisa cuja posse lhe pertença configura


a) apropriação indébita. c) estelionato.
b) furto. d) roubo.

14. Pretendendo subtrair bens do escritório onde exerce a função de secretária particular
do diretor, Júlia ingressa no respectivo imóvel arrombando a janela. Júlia é auxiliada por seu
irmão Luiz, a quem coube a função de permanecer de vigília na porta. Ao escutar um barulho
que a faz acreditar existir alguém no escritório, Júlia foge, deixando no local seu comparsa,
que vem a ser preso por policiais. Aponte o(s) delito(s) perpetrado(s) por Júlia e Luiz.
a) Ela responderá por tentativa de furto qualificado e ele, pelo delito consumado.
b) Trata-se de desistência voluntária, não havendo qualquer delito a ser imputado.
c) Ambos respondem por violação de domicílio.
d) Júlia responde por invasão de domicílio e Luiz por tentativa de furto.

capítulo 4 • 121
15. Um funcionário de uma empresa particular utiliza, para o desempenho das atribuições do
seu cargo, um bem pertencente ao acervo patrimonial de sua instituição. Após a jornada de
trabalho, ele se apodera do bem em questão. Essa situação caracteriza um crime de
a) peculato.
b) estelionato.
c) furto qualificado
d) apropriação indébita com a pena acrescida de 1/3, por ter o agente recebido a coisa em
razão de ofício, emprego ou profissão.

16. Tício, fazendeiro, encontra em sua propriedade animais que sabe serem do vizinho e, ao
invés de devolvê-los, vende-os como seus, comete o delito de
a) receptação. c) apropriação indébita.
b) furto. d) apropriação de coisa havida por erro.

JURISPRUDÊNCIA
TJ-DF – APELAÇÃO CRIMINAL APR 20140410068873 (TJ-DF)
RELATOR: SANDOVAL PEREIRA
Data do Julgamento: 25/2/2016
Data de publicação: 29/2/2016

EMENTA: PENAL. PROCESSO PENAL. ROUBO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA


TENTATIVA. INVIABILIDADE. CRIME CONSUMADO. INVERSÃO DA POSSE DOS BENS.
1. Conforme o entendimento jurisprudencial majoritário, aplica-se a teoria da amotio ou
aprehensio, pela qual entende-se que a consumação do delito de roubo ocorre no momento
em que o agente se torna possuidor do bem subtraído, sendo prescindível que a res saia da
esfera de vigilância da vítima ou que se dê a posse mansa e pacífica sobre ela.
2. Demonstrado no conjunto probatório que o acusado percorreu todo o iter criminis, des-
cabida a tese de desclassificação do crime de roubo consumado para tentado.
3. Recurso conhecido e desprovido.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA STJ – HC 277098 RN 2013/0305728-2


RELATOR: Ministro NEFI CORDEIRO
Data do Julgamento: 16/4/2015
Data de Publicação: DJe 27/4/2015.

capítulo 4 • 122
EMENTA: HABEAS CORPUS. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA. SEMILIBERDADE. SUBS-
TITUIÇÃO. LIBERDADE ASSISTIDA. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO CRIME DE
ROUBO. VEDAÇÃO. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA.
1. Não se revela adequada a substituição da medida socioeducativa de semiliberdade pela
liberdade a reeducando que praticou ato infracional equiparado ao crime de roubo, apresenta
personalidade agressiva e faz uso constante de drogas.
2. Ordem denegada.

HABEAS CORPUS No 70061165338, QUINTA CÂMARA CRIMINAL, TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL
RELATOR: CRISTINA PEREIRA GONZALES
Data do Julgamento: em 3/9/2014.

EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIMES DE EXTORSÃO. ART. 158, CAPUT, DO CP


(TRÊS VEZES). ALEGAÇÕES DE AUSÊNCIA DE REQUISITOS PARA A PRISÃO PREVEN-
TIVA E EXCESSO DE PRAZO À FORMAÇÃO DA CULPA.
1. O modus operandi do réu, que teria extorquido a vítima em três oportunidades, mediante
grave ameaça, revela a sua periculosidade a justificar o decreto da prisão preventiva como
forma de garantia da ordem pública.
2. Decisão atacada que visa proteger a comunidade ordeira da reiteração criminosa, não
implicando violação ao princípio da presunção de inocência porque devidamente fundamen-
tada e ainda porque a prisão tem natureza cautelar.
3. Embora certo que a Constituição Federal, em seu artigo 5o, inciso LXXVII, assegure a
todos, no âmbito judicial e administrativo, a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação, não menos certo é que, na espécie, não se vislum-
bra retardamento injustificado do feito por parte do juízo ou ato procrastinatório imputável
à acusação, que pudessem ensejar a ilegalidade apontada, tramitando o feito no seu curso
normal, tanto que já designada audiência de instrução para os próximos dias.
4. Hipótese em que não verificada a ocorrência do alegado constrangimento ilegal, seja
porque presentes os requisitos da prisão cautelar, seja porque não caracterizado o excesso
de prazo para a formação da culpa. ORDEM DENEGADA.

STJ – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL AgRg no AREsp


521133 BA 2014/0124543-7 (STJ)
Data de Publicação: 14/8/2014

capítulo 4 • 123
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIMES
CONTRA O PATRIMÔNIO. ROUBO CONSUMADO. ART. 157, DO CP. DESCLASSIFICAÇÃO
PARA O DELITO DE FURTO. INVIABILIDADE. REEXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBA-
TÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA 7/STJ. MOMENTO DA CONSUMA-
ÇÃO. SIMPLES POSSE. TENTATIVA. NÃO CABIMENTO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRI-
VATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. NÃO PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS LEGAIS. ART. 44, DO CP . AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A alteração das conclusões do acórdão recorrido exige reapreciação do acervo fático
-probatório da demanda, o que faz incidir o óbice da Súmula 7, STJ.
2. Prevalece nesta Corte a orientação de que o delito de roubo, assim como o de furto, fica
consumado com a simples posse, ainda que breve, da coisa alheia, mesmo que haja imediata
perseguição do agente, não sendo necessário que o objeto do crime saia da esfera de vigi-
lância da vítima. Precedentes.
3. Inviável a concessão de substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de
direitos, considerando o não preenchimento dos requisitos previstos no Art. 44, do CP.
4. Agravo regimental não provido.

TJ-PE – APELAÇÃO APL 3205007 PE (TJ-PE)


RELATOR: LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO
Data do Julgamento: 7/3/2014
Data de publicação: 14/3/2014

EMENTA: PENAL – PROCESSUAL PENAL – APELAÇÃO CRIMINAL CRIME DE EX-


TORSÃO CONSUMADO (ARTIGO 158, § 1o DO CÓDIGO PENAL) – CRIME DE ESTUPRO
TENTADO (ARTIGO 213, CAPUT, C/C ARTIGO 14, II DO CÓDIGO PENAL) – CRIMES SA-
TISFATORIAMENTE PROVADOS – CONJUNTO PROBATÓRIO FIRME E SEGURO – IM-
POSSIBILIDADE DE ABSOLVIÇÃO – DOSIMETRIA DA PENA – APLICAÇÃO CORRETA
– RECURSO NÃO PROVIDO.

TJ-RJ – APELACAO APL 03171153620128190001 RJ 0317115-36.2012.8.19.0001


(TJ-RJ)
RELATOR: DES. ANTONIO CARLOS NASCIMENTO AMADO
Data do Julgamento: 14/1/2014
Data de Publicação: 20/3/2014

capítulo 4 • 124
EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. CONDENAÇÃO. Art. 158, § 1o, do CP. O Réu, no
interior de um táxi, no intuito de não pagar pelo serviço e na posse de arma branca “prego”
– ameaçou o taxista aproximando o instrumento ao seu pescoço, logrando ferir o braço da
vítima. Laudo pericial comprovando a lesão. Provas consistentes para se manter a condena-
ção. Vítima descreve com detalhes a dinâmica do evento e reconhece o apelante. Palavra da
vítima apta a ensejar o edito repressivo. Crime de extorsão consumado, eis que sendo crime
formal caracteriza-se com o constrangimento efetuado. O réu deixou de pagar a corrida, ob-
tendo vantagem econômica indevida. Descabimento do afastamento da causa de aumento
referente ao emprego de arma, eis que qualquer instrumento vulnerante que sirva para au-
mentar o poder de ataque do agente, mesmo que sendo arma imprópria, é considerado para
aumento da pena por força do § 1o, do Art. 158, do CP. Dosimetria reduzida para adequar aos
parâmetros da proporcionalidade, entre eles, a minoração do percentual aplicado pela rein-
cidência. Não há que se falar em bis in idem, na medida em que os acréscimos procedidos
foram feitos com base em condenações distintas. Provimento em parte do recurso defensivo.
Unânime.

STJ – HABEAS CORPUS HC 159349 RJ 2010/0005459-5 (STJ)


RELATOR: MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Data do Julgamento: 4/4/2013
Data de Publicação: 16/4/2013

EMENTA: HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE RECURSO ESPE-


CIAL. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. ROUBO E EXTORSÃO. CONDENAÇÃO. CON-
CURSO MATERIAL. ALEGAÇÃO DE CRIME ÚNICO. EXAME DAS PROVAS. VEDAÇÃO.
CONTINUIDADE DELITIVA. IMPOSSIBILIDADE. CRIMES DE ESPÉCIES DIVERSAS. DELI-
TOS CONSUMADO. POSSE MANSA E PACÍFICA. DESNECESSIDADE. EXTORSÃO. CRI-
ME FORMAL. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE PATENTE. NÃO CONHECIMENTO.
1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do habeas corpus, em prestí-
gio ao âmbito de cognição da garantia constitucional, e, em louvor à lógica do sistema recur-
sal. In casu, foi impetrada indevidamente a ordem como substitutiva de recurso especial.
2. O reconhecimento de crime único entre os delitos de roubo e extorsão, afastando-se o
concurso material, assim como a incidência da continuidade delitiva, demandaria revolvimen-
to fático-probatório, não condizente com a via do writ.
3. Se o magistrado de primeiro grau concluiu pela existência de "desígnios autônomos
direcionados à violação de duas normas penais", asseverando que a extorsão "foi cometida
em momento temporal diverso", inviável a inversão do decidido nesta sede.

capítulo 4 • 125
4. Conforme entendimento desta Corte, não há continuidade delitiva entre os delitos de
roubo e extorsão, porque de espécies diferentes.
5. Hipótese em que o Juiz a quo reconheceu a consumação do crime, assentando "a reti-
rada da res furtiva e da esfera de disponibilidade de seu titular", sendo inviável alterar tal con-
clusão nesta via estreita. E esta Corte entende que, para a consumação do crime de roubo, é
prescindível a posse mansa e pacífica dos bens. Quanto ao crime de extorsão, foi ressaltada
sua natureza formal, tese não impugnada pela Defesa.
6. Writ não conhecido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código penal em exemplos práticos. 5. ed. Florianópolis:
OAB/SC, 2006.
BATISTA, Weber Martins. O furto e o roubo no direito e no processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1995.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. v. 3, 7. ed. São Paulo: Saraiva 2011.
DUTRA, Mário Hoeppner. O furto e o roubo. São Paulo: Max Limonad, 1955.
FRANCO, Alberto Silva. Dos crimes contra o patrimônio. In: Código penal e sua interpretação
jurisprudencial. 7. ed. Coordenadores: Alberto Silva Franco e Rui Stoco. São Paulo: RT, 2001.
GRACIA MARTIN, Luis. O horizonte do finalismo e o direito penal do inimigo. Tradução: Luiz
Regis Prado e Érika Mendes de Carvalho. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 14. ed. rev. atual e ampl. Rio de Janeiro:
Forense, 2014.
MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis; SAAD, Marta. Dos crimes contra o patrimônio. In: Código
penal e sua interpretação – doutrina e jurisprudência, 8. ed., coordenação de Alberto Silva Franco e
Rui Stoco. São Paulo: RT, 2007.
SANTOS, Marisa Ferreira. Direito Previdenciário esquematizado. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. La expansión del derecho penal: Aspectos de la política criminal en
las sociedades postindustriales. Madrid: Cuadernos Civitas, 1999.
VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Previdência Social: Custeio e benefícios. 2. ed. São Paulo: LTr, 2008.

capítulo 4 • 126
CINE CONHECIMENTO
Wall Street: poder e cobiça – 1987
Sinopse: Nova York, 1985. Bud Fox (Charlie Sheen)
é um jovem e ambicioso corretor que trabalha no mercado
de ações. Após várias tentativas ele consegue falar com
Gordon Gekko (Michael Douglas), um inescrupuloso bilio-
nário. Durante a conversa, Bud sente que precisa dar al-
guma dica muito quente para ter a atenção de Gekko e
então lhe fala o que seu pai, Carl Fox (Martin Sheen), um
líder sindical, tinha lhe dito, que a Bluestar, a companhia aé-
rea para a qual trabalha, ganhou um importante processo.
Esta informação não foi ainda divulgada oficialmente, mas
quando isto acontecer as ações terão uma significativa
alta. Gekko o adota como discípulo e logo Bud trabalha se-
cretamente para Gekko, abandonando qualquer escrúpulo,
ética e meios lícitos, pois só quer enriquecer. Bud obtém
sucesso, o que faz seu padrão de vida mudar. Além disso se
envolve Darien Taylor (Daryl Hannah), uma decoradora em
ascensão, mas se os ganhos são bem maiores, os riscos
também são.

Fuga à meia-noite – 1988


Sinopse: o caçador de recompensas Jack Walsh é
enviado para trazer um antigo contador da Máfia de volta
para a cadeia. No entanto, Jack não é o único procurando o
homem: o FBI, que não teve sucesso na captura, pretende
reparar todos os erros e, evidentemente, a Máfia não dará
descanso para os dois homens, que precisarão fazer uma
viagem pelo país para salvar suas peles.

capítulo 4 • 127
Margin Call – O dia antes do fim – 2011
Sinopse: Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Breg-
man (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) traba-
lham no setor de riscos em uma corretora, que está rea-
lizando uma série de demissões. Cerca de 80% do setor
em que trabalham foi demitido, entre eles o chefe do trio,
Eric Dale (Stanley Tucci). Ao pegar o elevador Eric entrega
a Peter um pen drive, que contém algo em que estava tra-
balhando no momento. O alerta para que tomasse cuidado
com o conteúdo chama a atenção de Peter, que fica após
o horário de trabalho para dar uma olhada no arquivo. Logo
ele descobre que se trata de uma análise da volatilidade da
empresa, que indica que há duas semanas ela ultrapassou
e muito o limite de risco o qual pode correr. Desta forma a
empresa está prestes a falir, o que provoca uma reunião de
emergência com diversos setores da empresa, entre eles
seu dono, o acionista John Tuld (Jeremy Irons).

ANEXOS
LEGISLAÇÃO

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI No 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990.


Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do Art. 5o, inciso XLIII, da Constituição
Federal, e determina outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu


sanciono a seguinte lei:
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto
-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados ou tentados: (Reda-
ção dada pela lei no 8.930, de 1994) (Vide Lei no 7.210, de 1984)

capítulo 4 • 128
I. homicídio (Art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda
que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (Art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, VI
e VII); (Redação dada pela lei no 13.142, de 2015) .
I. A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (Art. 129, § 2o) e lesão corporal se-
guida de morte (Art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos
Arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Na-
cional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição;
(Incluído pela lei no 13.142, de 2015)
II. latrocínio (Art. 157, § 3o, in fine); (Inciso incluído pela lei no 8.930, de 1994)
III. extorsão qualificada pela morte (Art. 158, § 2o); (Inciso incluído pela lei no 8.930,
de 1994)
IV. extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (Art. 159, caput, e §§ 1o, 2o e 3o);
(Inciso incluído pela lei no 8.930, de 1994).
V. estupro (Art. 213, caput e §§ 1o e 2o); (Redação dada pela lei no 12.015, de 2009)
VI. estupro de vulnerável (Art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); (Redação dada pela lei no
12.015, de 2009)
VII. epidemia com resultado morte (Art. 267, § 1o). (Inciso incluído pela lei no 8.930, de 1994)
VII. A – (VETADO) (Inciso incluído pela lei no 9.695, de 1998)
VII. B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins tera-
pêuticos ou medicinais (Art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela lei
no 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela lei no 9.695, de 1998)
VIII. favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou
adolescente ou de vulnerável (Art. 218-B, caput, e §§ 1o e 2o). (Incluído pela lei no 12.978,
de 2014)
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos o crime de genocídio previsto nos
Arts. 1o, 2o e 3o da lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, e o de posse ou porte ilegal de
arma de fogo de uso restrito, previsto no Art. 16 da lei no 10.826, de 22 de dezembro de
2003, todos tentados ou consumados. (Redação dada pela lei no 13.497, de 2017)
Art. 2o Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
gas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I. anistia, graça e indulto;
II. fiança. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fecha-
do. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)

capítulo 4 • 129
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo,
dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de
3/5 (três quintos), se reincidente. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu
poderá apelar em liberdade. (Redação dada pela lei no 11.464, de 2007)
§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989,
nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual perío-
do em caso de extrema e comprovada necessidade. (Incluído pela lei no 11.464, de 2007)
Art. 3o A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao
cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em
presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública.
Art. 4o (Vetado).
Art. 5o Ao Art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte inciso:
Art. 83. ..............................................................
........................................................................
V. cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo,
prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado
não for reincidente específico em crimes dessa natureza
Art. 6o Os Arts. 157, § 3o; 159, caput e seus §§ 1o, 2o e 3o; 213; 214; 223, caput e seu
parágrafo único; 267, caput e 270; caput, todos do Código Penal, passam a vigorar com a
seguinte redação:
Art. 157. .............................................................
§ 3o Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de cinco a quin-
ze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo
da multa.
........................................................................
Art. 159. ...............................................................
Pena – reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1o .................................................................
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2o .................................................................
Pena – reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3o .................................................................
Pena – reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
........................................................................

capítulo 4 • 130
Art. 213. ...............................................................
Pena – reclusão, de seis a dez anos.
Art. 214. ...............................................................
Pena – reclusão, de seis a dez anos.
........................................................................
Art. 223. ...............................................................
Pena – reclusão, de oito a doze anos.
Parágrafo único. ........................................................
Pena – reclusão, de doze a vinte e cinco anos.
........................................................................
Art. 267. ...............................................................
Pena – reclusão, de dez a quinze anos.
........................................................................
Art. 270. ...............................................................
Pena – reclusão, de dez a quinze anos.
.......................................................................
Art. 7o ao Art. 159 do Código Penal fica acrescido o seguinte parágrafo:
Art. 159. ..............................................................
........................................................................
§ 4o Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o coautor que denunciá-lo à auto-
ridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.
Art. 8oo Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no Art. 288 do Código Penal,
quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou
quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.
Art. o As penas fixadas no Art. 6o para os crimes capitulados nos Arts. 157, § 3o, 158, § 2o,
159, caput e seus §§ 1o, 2o e 3o, 213, caput e sua combinação com o Art. 223, caput e pará-
grafo único, 214 e sua combinação com o Art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código
Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão,
estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no Art. 224 também do Código Penal.
Art. 10. O Art. 35 da lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, passa a vigorar acrescido
de parágrafo único, com a seguinte redação:

capítulo 4 • 131
Art. 35. ................................................................
Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste capítulo serão contados em dobro
quando se tratar dos crimes previstos nos Arts. 12, 13 e 14
Art. 11. (Vetado).
Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 25 de julho de 1990; 169o da Independência e 102o da República.

FERNANDO COLLOR
Bernardo Cabral

capítulo 4 • 132
5
Crimes de
estelionato e
receptação -
Disposições gerais
Crimes de estelionato e receptação -
Disposições gerais

Introdução

Neste capítulo procura-se evidenciar de forma objetiva o crime de estelionato,


disposto no Art. 171, caput, do Código Penal e de suas subespécies, contidas no
parágrafo 2o, do Art. 171, do Código Penal, que se encontra inserido no rol dos
crimes contra o patrimônio. O termo estelionato vem de stellio, ou seja, camaleão,
que muda de cor para enganar a presa. O stelionatus, na origem de sua tipificação,
era considerado um delito excepcional e envolvia todos os casos em que houvesse
fraude, porém, que não se amoldasse dentre os crimes patrimoniais. Destarte,
tratava-sede uma espécie de delito subsidiário, de definição geral.
No decorrer deste capítulo, será analisado o estelionato, que tem como princi-
pal característica a fraude, utilizada para induzir ou manter alguém em erro, com
o objetivo de obter vantagem patrimonial ilícita.
São quatro os requisitos para que o crime de estelionato seja caracterizado:
a) Obtenção de vantagem; c) Utilizando um esquema;
b) Prejuízo a outra pessoa; d) Instigando alguém ao erro.

Como se verá adiante, há outras condutas punitivas como se fossem crime de


estelionato, quais sejam: dispor de coisa alheia como se fosse própria; alienação ou
oneração fraudulenta de coisa própria; defraudação de penhor; fraude na entrega
de coisa; fraude para o recebimento de indenização ou seguro e fraude no paga-
mento por meio de cheque.
No que se refere à receptação, outrora não havia um termo técnico para deno-
miná-la já que era considerada juridicamente como furto; a receptação consistia
no favorecimento ao delinquente, em relação ao produto do crime. Atualmente, a
receptação é um crime autônomo, eis que classificada em capítulo à parte e punida
com pena própria. Não obstante, é considerada pelos juristas como um delito sui
generis, um crime acessório, haja vista que, embora considerada crime autônomo,
essencialmente pressupõe a existência de outro crime, ou seja, há uma verdadeira
conexão da receptação com o delito anterior.
Geralmente, o crime de receptação predomina nos furtos ou roubos de veí-
culos, com o fim específico de venda de peças usadas, ou desmanche de veículos
roubados, abastecendo assim este tipo de prática no país.

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O crime de receptação, disposto no artigo. Art. 180 do Código Penal, consiste
em receber a coisa, em proveito próprio ou alheio, tendo a ciência de sua origem
ilícita. Isso é o que a doutrina diz ser um desdobramento ou consequência de um
crime anterior, ou seja, pelo bem próprio ou alheio, caracterizando a receptação.

OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é estudar o crime de estelionato e suas subespécies, anali-
sando as diversas condutas que se amoldam a mais de um tipo penal, criando uma imensa
discussão doutrinária e jurisprudencial acerca de qual dos tipos penais se aplicará àquela
conduta. Isso ocorre devido à semelhança entre os tipos penais, que abrangem ou deixam de
abranger condutas distintas por ocasião de sua redação.
O artigo 171 do Código Penal tutela o patrimônio.
O crime de estelionato é caracterizado pelo emprego de fraude, haja vista que o agente
consegue ludibriar a vítima, utilizando-se de algum artifício e convencendo-a a entregar-lhe
algum bem para, no ato seguinte, locupletar-se de forma ilícita com tal bem.
O golpista emprega artifício, ardil ou qualquer outra fraude, ao inicia a execução
do estelionato.
O artifício se constata quando, para ludibriar a vítima, o agente utiliza algum objeto para
facilitá-lo a enganar. Por exemplo, no caso do conto do bilhete premiado, o agente engana a
vítima com um falso bilhete. O meio engenhoso também pode consistir em efeitos especiais
e disfarces.
O agente ludibria a vítima com mentiras verbais, sendo o ardil, a conversa enganosa,
como por exemplo, sabendo que um computador deve ser retirado em determinado local por
alguém denominado Francisco, o agente aparece antes por alguns minutos, ilude chamar-se
Francisco, pega o computador e se retira com ele.
No que se refere à expressão outro meio fraudulento é uma fórmula genérica, que se
acha inserida no tipo penal para incluir qualquer outro meio capaz de ludibriar o sujeito pas-
sivo, podendo citar como exemplo, o silêncio.
Ressalva o Artigo 61, da Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal, que,
quando malicioso ou intencional, acerca do preexistente erro da vítima, o próprio silêncio,
constitui meio fraudulento característico do estelionato. Destarte, se de forma espontânea a
vítima incide em erro e, por tal, está propícia a entregar um bem ou valor ao agente, e este,
antes de recebê-lo, nota o engano e silencia, para que a entrega se viabilize e ele obtenha
vantagem, responde por estelionato. Neste caso, o agente manteve a vítima em erro por meio
de fraude, ou seja, do silêncio. Assim, percebe-se que a fraude determinante do estelionato
pode resumir em uma omissão.

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É preciso, de conformidade com o tipo penal do estelionato, que o agente ao empregar o
artifício, ardil ou outra fraude, tenha por escopo induzir ou manter o sujeito passivo em erro.
No primeiro caso, é o agente quem toma a iniciativa de procurar a vítima para enganá-la. Ao
passo que, no segundo caso, ela de maneira espontânea incorre em erro com referência a
determinada situação, e o agente, ao notar tal engano, a mantém nesse estado.

Consumação e tentativa

O estelionato é crime material, haja vista a forma como o Art. 171 do Código
Penal está redigido, não permitindo conclusão diversa, haja vista que o crime só
se consuma quando o agente efetivamente obtém a vantagem ilícita desejada.
Ressalte-se que o estelionato pressupõe resultado duplo, quais sejam o prejuízo da
vítima e a vantagem do agente.
É possível a tentativa de estelionato em várias fases do crime, desde que o
agente já tenha iniciado a execução do delito e ainda não tenha obtido a vantagem
almejada.
a) O agente utiliza a fraude, mas não consegue ludibriar a vítima. É necessário,
nesse caso, que o meio fraudulento não seja ineficaz.
b) O agente emprega a fraude, ilude a vítima, porém ela acaba não entregando
os bens ou valores a ele. Pode-se citar como exemplo, no instante em que a vítima
enganada iria efetuar a entrega, surge outra pessoa e a alerta sobre o golpe, evitan-
do que se realize a entrega.
c) O agente usa a fraude, engana a vítima, ela entrega os bens ou valores, não
obstante estes não chegam ao agente, que, assim, não obtém a vantagem preten-
dida. O exemplo é o caso da vítima iludida e convencida a enviar algum bem ao
agente, pelo correio ou por transportadora, e no trajeto o bem desaparece.

Sujeitos do crime de estelionato

O sujeito ativo do crime de estelionato tanto pode ser aquele que emprega a
fraude como o que dolosamente recebe a vantagem indevida.
Para a existência do crime, é preciso que o agente tenha como escopo o pro-
veito próprio ou alheio.
O sujeito passivo do crime de estelionato é aquele que sofre o prejuízo patri-
monial, bem como todos os que forem enganados pela fraude cometida, mesmo

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que não sejam prejudicados economicamente. Portanto, é possível que o agente
iluda uma pessoa e esta entregue bem pertencente à outra, caso em que ambas são
vítimas de um único estelionato. As pessoas jurídicas podem também ser sujeito
passivo do crime de estelionato na condição de economicamente prejudicadas
pelo golpe.

CONCEITO
Estelionato:
Receber vantagem ilegal, enganando outra pessoa e lhe causando prejuízo. Ex.: empresa
que cobra pelo serviço sabendo que não vai prestá-lo.

Diferenciação do estelionato com outros crimes em relação ao sujeito passivo

•  Estelionato e crimes contra a economia popular – o tipo penal do estelio-


nato exige que a vantagem obtida seja em prejuízo alheio, portanto, necessária a
identificação da vítima que sofreu a lesão patrimonial. Não obstante, nos crimes
contra a economia popular, o golpe objetiva pessoas indeterminadas, conforme
acontece quando alguém adultera as balanças de mercearias ou açougues, a bomba
do posto de gasolina, o taxímetro etc. Nesses casos, o crime configurado é o dis-
posto no Art. 2o, XI, da lei no 1521/51, sendo suficiente, que fiscais constatem a
adulteração, não dependendo, no caso concreto, da identificação de vítimas.
•  Estelionato e abuso de incapaz – não tendo a vítima discernimento, por ser
menor de idade, alienada ou débil mental, o crime é o de abuso de incapaz, previs-
to no Art. 173 do Código Penal, o qual é crime formal e tem pena maior. O crime
de abuso de incapaz se consuma ainda que a vítima não sofra qualquer prejuízo.
•  Estelionato e Jogo De Azar – incide nas penas do Art. 50 da lei de
Contravenções Penais, quem banca jogo de azar. Acontece que, para que existir
de forma efetiva o jogo de azar, é necessário que o apostador possa vencer, de-
pendendo da sorte. Destarte, se o responsável pelo jogo houver utilizado alguma
fraude para tornar inviável a possibilidade de ganho do apostador, o crime será o
de estelionato.
•  Estelionato e Curandeirismo – o crime é de curandeirismo se o agente cobra
por consultas somente, porém se promete curas impossíveis e cobra pelo tratamento
quantias consideráveis, o crime é o de estelionato. Deve ser analisado o caso concreto.

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a) Estelionato e Furto de Energia – segundo a conduta, a doutrina tem feito a
seguinte distinção. O crime praticado é o de furto, se o agente obtém de forma
clandestina a energia da rede pública ou do vizinho, tenha havido desvio total ou
fraude no aparelho, para que o consumo seja registrado a menor, enquanto ocorre
o consumo.
b) O crime é o de estelionato, se o consumo ocorre de forma normal e é regis-
trado no medidor regularmente e, depois, o agente adultera o medidor para que o
valor da conta diminua.
•  Estelionato, Tráfico de Influência e Exploração de Prestígio – segundo o
Art. 332, do Código Penal, no tráfico de influência a fraude consiste em o agente
contar à vítima que tem influência sobre certo funcionário público e pedir-lhe
dinheiro sob o pretexto de influenciar o mencionado funcionário no desempenho
de suas funções, para fins de ajudar a vítima.
•  No crime de exploração de prestígio, disposto no Art. 357 do Código Penal,
a conduta é semelhante, porém o agente indica com precisão que sua influência
será exercida sobre o juiz, jurado, órgão do Ministério Público, perito, tradutor,
intérprete ou testemunha.
Estelionato e falsificação de documento – está tipificada como crime disposto
nos Artigos 297 a 299 do Código Penal, a falsificação de documento, público ou
particular. Não obstante, é bastante comum, que a falsificação do documento
tenha por finalidade enganar a vítima para possibilitar um golpe, conforme se ve-
rifica com a falsificação de cheque alheio. Há casos em que os golpistas falsificam
as próprias folhas do cheque, em gráficas. Outros alteram para mais o valor de
cheques recebidos, já preenchidos e assinados pelo titular da conta e, depois, de-
positam ou sacam o valor do cheque ou fazem uso dele para compras, ocasionando
ao emitente prejuízo. Atualmente, em razão da Súmula 17 do Superior Tribunal
de Justiça, o entendimento adotado é de que o agente responde apenas por este-
lionato, haja vista que o crime de falsificação de documento fica absorvido por ser
crime-meio, segundo o princípio da consunção.
Súmula 17, STJ – “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais poten-
cialidade lesiva, é por este absorvido”.
De conformidade com a súmula, quando o agente adultera um cheque alheio
e ludibria o vendedor de uma loja, fazendo-se passar pelo correntista, só responde
pelo estelionato em virtude de que, o cheque foi entregue ao vendedor, e o golpista
não pode mais usá-lo. Não obstante, se o agente também tivesse falsificado um

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documento de identidade para apresentá-lo ao vendedor por ocasião da compra
com o cheque falso, ele responderia por dois crimes, quais sejam o de estelionato
e o de falsificação de documento de identidade. Isso porque o documento per-
manece com o agente após a prática do estelionato, subsistindo, desta forma, a
potencialidade lesiva mencionada na súmula.

Forma privilegiada de estelionato

Art. 171, § 1o, CP – Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuí-


zo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no Art. 155, § 2o
Aplica-se ao estelionato comum, descrito no caput, do Art. 171 e também
às figuras assemelhadas, descritas em seu § 2o, do Código Penal, essa forma
de privilégio.
É preciso que o juiz reconheça na sentença, que o réu não é reincidente e que
o prejuízo por ele causado à vítima não ultrapassou o montante de um salário mí-
nimo na data dos fatos. Ressalte-se que, o prejuízo a ser levado em conta, é aquele
ocorrido no momento da consumação do crime. Eventual reparação posterior
do dano não autoriza a concessão do benefício, mas torna possível a aplicação do
instituto do arrependimento posterior, contido no Art. 16 do código Penal, desde
que a reparação venha a ocorrer antes do recebimento da denúncia.
O que se leva em conta na tentativa de estelionato, é o montante do prejuízo
que o agente causaria se o crime fosse consumado.

Consequências do privilégio

As consequências do privilégio são as mesmas do furto:


a) Substituição da pena de reclusão por detenção
b) Redução da pena privativa de liberdade de um a dois terços
c) Aplicação só da pena de multa

Estelionato e as figuras assemelhadas

O parágrafo segundo, do Art. 171 do Código Penal descreve uma série de sub-
tipos de estelionato que possuem a mesma pena da figura fundamental do caput
do mencionado artigo.

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Art. 171, § 2o, CP – Nas mesmas penas incorre quem:
I vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia
como própria.
A diferenciação principal é que, por ser genérica, a figura fundamental é sub-
sidiária em relação ás demais.

Disposição de coisa alheia como própria

Nesse crime, o agente se passa por dono de certo bem, seja móvel ou imóvel,
e o negocia com terceiro de boa-fé sem que, para tanto, tenha autorização do pro-
prietário, acarretando desta forma prejuízo ao comprador.
O crime se consuma no momento em que o agente recebe o preço. Em se tra-
tando de locação, a consumação se verifica com o recebimento do valor do aluguel.
É possível a tentativa.
Trata-se de crime comum.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o sujeito passivo é quem adquire,
aluga ou recebe o bem em garantia desconhecendo que não pertence ao agente.
No caso concreto, se este entregar o bem que vendeu ou alugou sem que seja o seu
dono, será também sujeito passivo o dono da coisa. Podemos citar como exemplo,
o caso de um caseiro de imóvel de campo, que, sabendo que os donos ficarão um
período sem ir ao local, identifica-se como dono e vende o imóvel a terceiro, entre-
gando-lhe as chaves e, em seguida, toma rumo ignorado. Os compradores durante
um tempo usam o imóvel até que os donos verdadeiros aparecem e descobrem
o sucedido, ingressando com ação para reaver a posse do imóvel. Assim, tanto o
comprador como o dono foram vítimas do crime.
Trata-se de crime de ação vinculada, haja vista que o tipo penal, de forma taxa-
tiva, relaciona os modos de execução, quais sejam, venda, permuta, locação, dação
em pagamento ou em garantia, inadmitindo ampliação por analogia.

Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria

Art. 171, § 2o, CP – Nas mesmas penas incorre quem:


II. vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável,
gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante
pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias.

capítulo 5 • 140
No crime em análise, o objeto pertence ao agente, não obstante está gravado
de cláusula de inalienabilidade ou de ônus, ou cuida-se de coisa litigiosa ou de
imóvel que o agente prometeu vender de forma parcelada a outrem. O objeto ma-
terial, somente na última figura, deve ser necessariamente coisa imóvel, tendo em
vista a expressa disposição legal. Nas outras, pode ser móvel ou imóvel.
Não haverá crime se o agente realizar o negócio depois de dar ciência à outra
parte acerca das circunstâncias que envolvem o bem, haja vista que o tipo penal
esclarece que, a exclusão só se verifica quando a parte informa a outra a esse res-
peito, de forma expressa.
Coisa inalienável é aquela que não pode ser vendida em razão de determina-
ção legal, convenção ou disposição testamentária e coisa gravada de ônus é aquela
sobre a qual pesa um direito real em virtude de cláusula contratual ou disposição
legal. Por exemplo, é o caso da hipoteca e da anticrese.
Considera-se bem litigioso aquele objeto de discussão judicial, ou seja, usuca-
pião contestado, reivindicação etc.

Defraudação do penhor

Art. 171, § 2o, CP – Nas mesmas penas incorre quem:


III. defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou outro modo, a
garantia pignoratícia, quando tem a posse do bem empenhado.
O penhor é um direito real em que a coisa móvel dada em garantia fica sujei-
ta ao cumprimento da obrigação. Por exemplo, uma pessoa empresta dinheiro a
outra, e o devedor, como garantia da dívida, entrega ao credor joias da família. O
devedor permanece dono dos bens, mas eles ficam na posse do credor, pois não
havendo a quitação da dívida, as joias poderão ser usadas para tal finalidade, ou
seja, vendidas pelo credor. A regra é que, com a constituição do penhor, o bem
móvel passe às mãos do credor. Aliás, isto é o que dispõe o Art. 1431 do Código
Civil, ou seja, que o penhor se constitui pela transferência efetiva da posse que, em
garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por
ele, de uma coisa móvel, suscetível de alienação.
Não obstante, o legislador estabeleceu alguns casos em que o bem empenhado
pode ficar nas mãos do devedor, tais como, no penhor rural, industrial, mercantil
e de veículos, que as coisas empenhadas continuam em poder do devedor que as
deve guardar e conservar, conforme disposto no parágrafo único do Art. 1431 do
Código Civil.

capítulo 5 • 141
É precisamente nessas hipóteses que pode ocorrer o crime de defraudação do
penhor, ou seja, quando o devedor está em poder do bem empenhado e o vende,
permuta, doa, ou de alguma outra forma inviabiliza como garantia de dívida, quer
destruindo-o, ocultando-o, inutilizando-o, consumindo-o etc.
O sujeito ativo é apenas o devedor que tem a posse do bem empenhado. Trata-
se de crime próprio e o sujeito passivo é o credor que, com a defraudação, fica sem
a garantia de sua dívida.
O crime se consuma no momento da defraudação, mesmo que depois, o agen-
te seja obrigado mediante ação judicial ao pagamento. É possível a tentativa.

Fraude na entrega da coisa

Art. 171, § 2o, CP – Nas mesmas penas incorre quem:


IV. defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar
a alguém.
O crime defraude na entrega da coisa pressupõe uma situação jurídica envol-
vendo duas pessoas, em que uma tem o dever de entregar objeto, móvel ou imóvel
a outra, mas de alguma forma, fraudulentamente o modifica, de maneira que
venha a prejudicar a outra parte.
Tal modificação pode reincidir sobre a substância, ou seja, a natureza da coisa
a ser entregue, como por exemplo, entregar no lugar de cristal objeto de vidro;
pode recair sobre a qualidade, como entregar mercadoria de qualidade inferior no
lugar de mercadoria da mesma espécie, ou, um objeto usado como se fosse novo,
ou pode ainda recair sobre a quantidade, ou seja, dimensão ou peso menores etc.
Para fim de consumação do crime de fraude na entrega da coisa, exige-se a
efetiva entrega do bem à vítima, é o que se entende pela forma como está redigi-
do o dispositivo penal citado anteriormente. Destarte, o ato de defraudar o bem
antes da efetiva entrega da coisa é considerado ato preparatório, haja vista que o
agente ainda pode vir a se arrepender e efetuar a entrega dentro dos parâmetros
convencionados. Assim sendo, é possível a tentativa quando o agente tenta, porém
não consegue entregar o bem. É o caso de a vítima perceber a fraude e se recusar
a receber o objeto.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que, por algum motivo, esteja com-
pelida a entregar alguma coisa a outrem e o sujeito passivo é qualquer pessoa que
tenha o direito de receber a coisa da outra parte.

capítulo 5 • 142
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro

Art. 171, § 2o, CP – Nas mesmas penas incorre quem:


V. destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio
corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito
de haver indenização ou valor de seguro.
A proposição deste crime é a prévia existência de um contrato de seguro em
vigor, sem o qual haveria crime impossível.
O texto legal enumera três hipóteses:
a) Destruir ou ocultar, no todo ou em parte, coisa própria.
A coisa pode ser móvel, como por exemplo, um veículo, ou imóvel. Assim,
comete o crime quem, por exemplo, não querendo mais um veículo ou precisando
de dinheiro, o esconde ou ateia fogo nele. Ainda, tem-se, reconhecido o crime de
fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro, quando alguém leva
seu carro para outro país ou estado e lá o vende e, em seguida, solicita o valor do
seguro alegando ter sido furtado.
b) Lesionar o próprio corpo ou saúde.
O agente, nessa modalidade, se autolesiona, porém, à seguradora, faz parecer
que foi vítima de agressão ou de acidente.
c) Agravar as consequências da lesão ou doença.
Podemos citar como exemplo, provocar infecção em um ferimento para que
ocorra gangrena na perna e a necessidade de amputação.
É formal o crime de fraude contra seguradora, ou seja, consuma-se no mo-
mento em que o agente realiza a conduta típica, qual seja, destruir, ocultar, auto-
lesionar etc., mesmo que o agente não consiga receber aquilo que pretendia por
haver a seguradora descoberto o golpe. Aprova da má-fé do agente usualmente
se faz mediante o documento em que ele solicita a indenização ou o pagamento
do seguro, com falsas alegações. Não obstante, o efetivo recebimento do valor do
seguro é simples exaurimento do delito.
É possível a tentativa, como no caso de quem tenta empurrar seu carro ladeira
abaixo e é impedido por terceiros. Entretanto, deve haver prova de que o agente o
fazia com a finalidade de aplicar golpe na seguradora.
O sujeito ativo do crime em apreço é o segurado e o sujeito passivo é a segu-
radora. O crime é próprio e o bem jurídico protegido é o patrimônio da empresa
seguradora, sendo simples instrumento do delito a coisa ou o corpo do agente.

capítulo 5 • 143
Fraude no pagamento por meio de cheque

Art. 171, § 2o, CP – Na mesma pena incorre quem:


VI. emite cheque sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe
frustra o pagamento.
São duas as condutas típicas previstas neste dispositivo:
•  Emitir cheque sem fundos: nesse caso, já não existe a quantia respectiva em
conta bancária do agente, no momento em que ele preenche o cheque e o entrega
a terceiro. É a mais comum das hipóteses, em que a vítima acreditando na boa-fé
do agente, entrega-lhe uma mercadoria em troca de um cheque que, não é honra-
do pelo banco por insuficiência de fundos, caracterizando desta forma o prejuízo.
•  Frustrar o pagamento do cheque: nessa modalidade, o dinheiro respectivo
existe na conta bancária por ocasião da emissão do cheque, não obstante o emi-
tente, antes de a vítima conseguir descontar o valor na agência, saca a quantia que
ali existia ou emite ordem de sustação.
É necessário para a configuração desses crimes que o sujeito tenha procedido
de má-fé, quer dizer, com dolo de obter a vantagem ilícita devido à emissão do
cheque ou em face de frustração de seu pagamento.
Não se configura o crime de fraude no pagamento por meio de cheque quan-
do o cheque é emitido para pagamento de dívida anterior ou de obrigação já
vencida e não paga, haja vista que, nesse caso, o prejuízo da vítima é anterior à
emissão do cheque.
Igualmente, não há crime na emissão de cheque sem fundos para substituição
de título de crédito emitido anteriormente e não pago. Caracteriza-se também a
hipótese de prejuízo anterior.
O crime de fraude no pagamento por meio de cheque não se confunde com
uma série de outros golpes que podem ser cometidos com cheque alheio ou com o
próprio talão, haja vista que só pode ser praticado pelo titular da conta e nas duas
formas já citada, porém, em circunstâncias diversas das previstas no Art. 171, § 2o,
inciso VI, do Código Penal, e que caracterizam o estelionato do caput, conforme
nos casos seguintes:
a) Falsificação de cheque alheio.
b) Abertura de conta corrente com documentos falsos e por consequência a ob-
tenção de cheques verdadeiros fornecidos pelo banco – normalmente, o banco não
paga os cheques mencionando falta de fundos, até que passa a ter ciência do real
golpe, ou seja, o uso de documentos falsos para a abertura da conta.

capítulo 5 • 144
c) Sustação do cheque antes de sua emissão – a fraude é anterior à própria emis-
são do cheque.
d) Emissão de cheques que estavam ainda em poder do agente, porém pertinen-
tes a conta corrente já encerrada.
O sujeito ativo é o titular da conta corrente do cheque emitido e o sujeito
passivo é aquele que sofre o prejuízo em virtude da recusa de pagamento por parte
do banco sacado.

Consumação e tentativa do crime de fraude no pagamento por meio


de cheque

O crime em análise não se consuma no instante em que o cheque entra em


circulação, porém tão somente no instante em que o banco sacado, de forma efe-
tiva, recusa o pagamento. Este é o entendimento pacífico. Não obstante, para a
consumação, será suficiente uma única recusa.
A tentativa é viável nas duas modalidades do crime, quais sejam:
a) Se de má-fé, o agente emite um cheque sem fundos, e uma pessoa amiga ou
parente, antes da apresentação do cheque, deposita o valor no banco, sem que o
sujeito tenha feito algum pedido nesse sentido.
b) Depois da emissão dolosa de um cheque, o agente solicita ao gerente a sua
sustação e este se esquece de realizá-la, vindo o cheque a ser quitado.

Causas de aumento de pena

Art. 171, § 3o, CP – A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido


em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popu-
lar, assistência social ou beneficência.
São entidades de direito público as autarquias e as entidades paraestatais, além
da União, estados, Distrito Federal e municípios.
O dispositivo legal supramencionado contém, tecnicamente, causa de aumen-
to de pena, e não qualificadoras propriamente ditas.
A pena também será majorada se o crime for cometido contra instituto de
economia popular, assistência social ou beneficência, fundamentando-se o au-
mento em virtude de que o prejuízo reflete em seus beneficiários, que são indiví-
duos carentes.

capítulo 5 • 145
Art. 171, § 4o, CP – Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido con-
tra idoso.
A lei no 13.228/2015 acrescentou uma causa de aumento de pena no Art. 171,
§ 4 do Código Penal, tendo recebido a denominação “estelionato contra idoso”.
o

O mencionado dispositivo estabelece que a pena do estelionato Serpa aplicada


em dobro quando a vítima do delito for pessoa idosa, isto é, com idade igual ou
superior a 60 anos. Não obstante, existem vários casos em que o agente não tem
ciência de ser a vítima idosa e, nesses casos, não poderá incidir a majorante, como,
nos golpes aplicados pela internet nos quais inexiste qualquer contato entre a ví-
tima e o autor do crime.

Súmulas relativas ao estelionato

•  STJ Súmula no 17 – quando o falso se exaure no estelionato, sem mais


potencialidade lesiva, é por este absorvido.
•  STJ Súmula no 24 – aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como
vítima entidade autárquica da Previdência Social, a qualificadora do § 3o do Art.
171 do Código Penal.
•  STJ Súmula no 48 – compete ao juízo do local da obtenção da vantagem
ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de
cheque.
•  STJ Súmula no 73 – a utilização de papel moeda grosseiramente falsificado
configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.
•  STJ Súmula no 107 – compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar
crime de estelionato praticado mediante falsificação das guias de recolhimento
das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão à autarquia federal.
•  STJ Súmula no 244 – compete ao foro do local da recusa processar e julgar
o crime de estelionato mediante cheque sem provisão de fundos.
•  STF Súmula no 246 – comprovado não ter havido fraude, não se configura
o crime de emissão de cheque sem fundos.
•  STF Súmula no 521 – o foro competente para o processo e julgamento dos
crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão
de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
•  STF Súmula no 554 – o pagamento de cheque emitido sem provisão de fun-
dos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

capítulo 5 • 146
Figura 5.1  –  Disponível em: <www.entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.

Receptação

A receptação está tratada no Art. 180 do Código Penal, sendo do Título dos
Crimes contra o Patrimônio, delito dos mais importantes, tendo como modalida-
des a dolosa e a culposa.

capítulo 5 • 147
Art. 180, caput, 1a parte, CP – Adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou
influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: Pena - reclusão, de
um a quatro anos, e multa.
A receptação dolosa tem as seguintes formas:
a) Simples – pode ser própria: se incrimina a conduta do receptador.
O agente que adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar coisa que sabe
ser produto de crime; ou imprópria: incrimina-se a conduta do intermediário.
O agente que influir para que terceiro de boa fé adquira, receba ou oculte
coisa que sabe ser produto de crime. O terceiro deve agir de boa-fé, do contrário,
responderá por receptação, assim também o intermediário.
b) Qualificada.
c) Agravada.
d) Privilegiada.

Receptação própria

Art. 180, caput, 1a parte, CP – Adquirir, receber, transportar, conduzir ou


ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
A objetividade jurídica da receptação própria é o Patrimônio.
No crime de receptação própria, existem cinco condutas separadas pela con-
junção alternativa “ou”, significando que a realização de uma única conduta já é o
bastante para caracterizar o crime. Entretanto, a prática de mais de uma delas em
relação ao mesmo objeto material constitui crime único. Assim, quem adquire e
após dirige um veículo roubado, pratica apenas um crime. Destarte, enquadra-se
na definição de crime de ação múltipla, denominado também de crime de conteú-
do variado ou com tipo misto alternativo.
São condutas incriminadas:
a) Adquirir – obter a propriedade, a título oneroso, tal como, compra e venda
ou permuta, ou, gratuito, como a doação.
b) Receber – obter a posse, mesmo que de forma transitória. Por exemplo, rece-
ber um veículo para guardar na garagem de sua casa, sabendo que ele é produto
de furto.

capítulo 5 • 148
Não constitui receptação o fato de pegar carona em carro que se tem ciência
de ser roubado, haja vista que a conduta do caronista não se amolda em qualquer
das figuras enumeradas no Art. 180 do Código Penal.
c) Transportar – carregar um objeto de um lugar para outro. Por exemplo, o
caso do motorista que transporta carga roubada.
d) Conduzir – dirigir veículo de origem ilícita.
e) Ocultar – encobrir, dispor o objeto em lugar que não seja percebido pe-
las pessoas.

Tipo subjetivo

Nas condutas incriminadas no caput do Art. 180 do Código Penal deve haver
dolo direto, haja vista que o legislador exigiu que o agente tivesse conhecimento
da origem espúria da coisa.
O entendimento da maioria dos doutrinadores é de que existe apenas recep-
tação quando o agente tem o conhecimento da origem ilícita do bem no instante
em que pratica a conduta típica. Assim, se uma pessoa adquire um objeto desco-
nhecendo a sua origem e, depois de estar na posse, vem a conhecer a procedência
criminosa e o mantém em seu poder, não responde por receptação.
Na realidade esse entendimento é decorrente da própria redação do Art. 180,
caput, do Código Penal, eis que, o fato é atípico, se o agente após tomar ciência
da origem, não adquiriu, recebeu, ocultou, conduziu ou transportou o bem. Não
obstante, estará caracterizada a receptação, se, após a ciência, o agente praticar
nova conduta típica.

Objeto material

É aquele que é obtido em decorrência da ação delituosa, mesmo que tenha


passado por alguma transformação após o delito. Assim, podem ser produtos de
crime o carro furtado, a bicicleta produto de apropriação indébita, bem como as
barras de ouro oriundas do derretimento de joias roubadas.
O instrumento do crime não é conseguido com a ação criminosa. Ele já es-
tava em poder do autor do crime antecedente que dele fez uso para a prática da
infração penal. Não são produtos, mas, sim, instrumentos de crime, por exemplo,
a arma de fogo usada em um roubo ou a chave falsa utilizada em um furto, e,
por tal, não podem ser objeto de receptação, com exceção, óbvio, se forem de
origem criminosa.

capítulo 5 • 149
O preço do crime igualmente não pode ser objeto material de receptação.
Podemos citar como exemplo, o veículo adquirido de forma regular por alguém e
entregue a um criminoso como pagamento pelo assassinato combinado entre eles.
O veículo recebido é o preço, e não o produto do homicídio.

Sujeitos do crime de receptação

O sujeito ativo do crime de receptação pode ser qualquer pessoa. O crime


é comum.
Entretanto, é evidente que o autor, coautor ou partícipe do crime antecedente
apenas responde por tal delito e jamais pela receptação.
A vítima do crime de receptação é a mesma do crime antecedente.

Consumação e tentativa do crime de receptação

A receptação própria é crime material, consumando-se no momento em que


a coisa é incluída na esfera de disponibilidade do agente.
No momento exato em que o agente adquire, recebe, oculta, conduz ou trans-
porta o bem, o crime se consuma.
Nas três ultimas figuras, a receptação é considerada crime permanente, ou
seja, sua consumação se prolonga durante o tempo todo em que o agente estiver
conduzindo, transportando ou escondendo o objeto de origem criminosa.
A receptação é crime instantâneo, nas modalidades consistentes em adquirir
e receber, de modo que só é possível a prisão em flagrante quando o agente está
comprando ou recebendo o bem.
A receptação própria é crime material e é compatível com a figura da tentativa.
Pode-se citar como exemplo, o caso do sujeito que está negociando a compra de
um veículo roubado, porém a transação não se concretiza.

Receptação e lavagem de dinheiro

O Art. 1o da lei no 9613/98, que trata dos crimes de lavagem de dinheiro, foi
alterado pela Lei no 12.683/2012, e passou a punir com pena de reclusão, de três a
dez anos, e multa, quem ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, dis-
posição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
direta ou indiretamente, de infração penal. Entretanto, neste crime, presume-se a
intenção específica de dissimular a origem dos bens ou valores e lhes dar, de forma

capítulo 5 • 150
fraudulenta, o aspecto lícito, com a finalidade de serem novamente introduzidos
na economia formal, condições que não existentes na receptação.

Figura 5.2  –  Disponível em: <www.entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.

capítulo 5 • 151
Receptação de semovente domesticável de produção

Art.180-A Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou


vender, com a finalidade de produção ou de comercialização, semovente domes-
ticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser
produto de crime:
Pena – reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
O Art. 180 – A foi introduzido no Código Penal pela lei no 13.330/2016 e a
figura qualificada possui dois elemento especializantes:
a) O objeto material deve ser semovente domesticável de produção, ou seja, boi,
porco, galinha, cabra etc.
b) A conduta do receptador deve ser realizada com o objetivo específico de futura
produção ou comercialização do animal. Não é suficiente para que esteja presente o
crime qualificado, que o agente adquira um semovente domesticável de produção.
Necessário que o faça com a finalidade específica de produção ou comercialização.

Receptação privilegiada

Art. 180, § 5o, 2a parte – Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2o do


Art. 155.
Só é aplicável o privilégio á receptação dolosa, seja própria ou imprópria, não
sendo cabível na receptação culposa.
Mesmo não havendo restrição expressa no texto legal, o benefício é incabível
em relação às figuras qualificadas do parágrafo primeiro, levando em conta que as
consequências por demais brandas do privilégio não são compatíveis com a gravi-
dade da receptação qualificada, tendo em vista que permitem ao juiz a aplicação
de pena de multa.
Não obstante, os tribunais superiores passaram a admitir a aplicação do
privilégio no furto qualificado, inclusive, nesse sentido, o Superior Tribunal de
Justiça aprovou a Súmula no 511. Assim, em relação à receptação será adotada
esta interpretação.
Os requisitos do privilégio são idênticos aos do furto, ou seja: primariedade e
pequeno valor do produto do crime e como consequências, a substituição da pena
de reclusão por detenção, a redução da pena privativa de liberdade de um a dois
terços, e a exclusiva aplicação da pena de multa.

capítulo 5 • 152
Disposições gerais

Neste capítulo do Título dos crimes contra o patrimônio, são regulamentadas


as imunidades absolutas e relativas, assim como enumerados os casos em que não
cabem tais benefícios.
O legislador concedeu uma espécie de imunidade aos autores de crimes contra o
patrimônio, desde que não haja violência ou grave ameaça em sua conduta, quando
a vítima for uma das pessoas descrita nos artigos 181 e 182 do Código Penal.

Escusas absolutórias ou imunidades absolutas

Art. 181 – É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste
título, em prejuízo:
I. do cônjuge, na constância da sociedade conjugal.
II. de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja
civil ou natural.
O legislador, visando manter a unidade da família, tornou o fato impunível,
entretanto, não deixa de ser crime,só não se aplicará qualquer pena.
Se o crime ocorrer antes da união ou após o seu término, não há isenção de
pena. Não existe grau de limitação para os parentes em linha reta.
É irrelevante o regime de bens do casamento. A imunidade objetiva evitar
constrangimentos às pessoas casadas e à situação patrimonial decorrente do casa-
mento não tem qualquer relação.
Ressalte-se que, a separação de fato não exclui a imunidade, haja vista que
subsiste a sociedade conjugal.
É inconteste que, apesar de ser taxativa a enumeração legal, a escusa absolu-
tória também alcança os companheiros por fatos ocorridos durante a convivência
comum, face o reconhecimento da união estável como entidade familiar, prevista
no Art. 226, § 3o da Constituição Federal. Nesses casos haverá aplicação de ana-
logia in bonam partem.
A imunidade não se aplica ao parentesco por afinidade, ou seja, sogro ou so-
gra, genro ou nora etc.
As imunidades absolutas têm como resultado a total isenção de pena para o
autor da infração penal. As hipóteses analisadas são excludentes de punibilidade e,
portanto, não são extintivas da punibilidade. As imunidades só têm valor para os
crimes contra o patrimônio.

capítulo 5 • 153
Imunidades relativas

Art. 182 – Somente se procede mediante representação, se o crime previsto


neste título é cometido em prejuízo:
I. do cônjuge desquitado ou judicialmente separado.
II. de irmão, legítimo ou ilegítimo.
III. de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

As imunidades relativas ou processuais têm como resultado a necessidade de


representação da vítima em crimes contra o patrimônio que, geralmente, seriam
examinados em detalhe por meio de ação pública incondicionada.
Assim, a imunidade relativa, uma vez que o fato continua sendo punível, alte-
ra apenas a natureza da ação penal, que deixa de ser pública incondicionada para
ser pública condicionada à representação da vítima.
No caso de o cônjuge separado judicialmente, trata-se de figura tendente ao
desaparecimento, uma vez que a Constituição Federal admite o divórcio direto.
Contudo, por ora, aplica-se apenas ao cônjuge separado judicialmente, mas ainda
não divorciado. Após o divórcio, não haverá qualquer tipo de imunidade.
No que se refere a crime praticado por irmão, a imunidade prevalece, quer se-
jam irmãos germanos, ou seja, do mesmo pai e mãe, quer sejam irmãos unilaterais,
isto é, tenham somente um deles em comum.
Por sua vez, a imunidade relativa constante no inciso III, só tem aplicação
quando o tio e sobrinho moram na mesma residência, de forma permanente.
Nesse caso, presume-se que a existência da ação penal poderá ocasionar problemas
na convivência, sendo necessária a representação. Por outro lado, não é relevante
que o crime tenha sido praticado no lugar onde as partes moram ou em qualquer
outro local.

Exceções

As imunidades não são aplicáveis a todos os crimes contra o patrimônio. O


Art. 183 do Código Penal afasta a aplicação dos institutos a todas as formas de
roubo e extorsão, assim como para os outros delitos contra o patrimônio que

capítulo 5 • 154
impliquem violência contra pessoa ou grave ameaça, como o caso de dano qua-
lificado, disposto no Art. 163, parágrafo único, III, do Código Penal e o esbulho
possessório, contido no Art. 161, § 1o, II, do Código Penal.
Art. 183 – Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I. se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando há emprego de
grave ameaça ou violência à pessoa.
II. ao estranho que participa do crime.
III. se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessen-
ta) anos.
Nos termos do Art. 183, inciso I, do Código Penal, as imunidades só devem
ser excluídas se o crime envolver violência contra a pessoa ou grave ameaça.
As imunidades são cabíveis no furto, na apropriação indébita e no estelionato
porque não há emprego de violência física contra a pessoa.
A ei no 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha, no Art. 7o, conceitua
violência doméstica ou familiar contra a mulher, incluindo, nos incisos I, II, III,
IV e V, para os fins de aplicação de mencionada lei, respectivamente, a violência
física, a psicológica, a sexual, a patrimonial e a moral.
Em virtude do inciso IV, do Art. 7o, da lei no 11.340/2006, fazer menção ao
patrimônio, alguns autores, de forma equivocada, interpretaram que todo crime
patrimonial cometido contra a esposa, a companheira, a filha etc., estaria excluí-
do das imunidades, mesmo que se tratasse de crimes como furto e apropriação
indébita.
Acontece que nem mesmo no texto da lei no 11.340/2006, a violência patri-
monial e violência física se confundem, pois estão diferenciados nos incisos I e IV,
da citada lei.
A Lei Maria da Penha ao dispor que existe violência patrimonial em crimes
como o furto, estabeleceu apenas que tal delito, por originar lesão patrimonial,
permite a incidência das normas de proteção à mulher, não havendo, entretanto,
extensão a dispositivos do Código Penal que não foram atingidos por ela.

capítulo 5 • 155
Figura 5.3  –  Disponível em: <www.entendeudireito.com.br>. Acesso em: dez. 2017.

ATIVIDADES
01. O item a seguir, a respeito de crimes contra o patrimônio, apresenta uma situação hipoté-
tica seguida de uma assertiva a ser julgada à luz da doutrina e da jurisprudência pertinentes.
Maria não informou ao INSS o óbito de sua genitora e continuou a utilizar o cartão de be-
nefício de titularidade da falecida pelo período de dez meses. Nessa situação, Maria praticou
estelionato de natureza previdenciária, classificado, em decorrência de sua conduta, como
crime permanente, de acordo com o entendimento do STJ.
a) Certo
b) Errado

capítulo 5 • 156
02. Leonardo encontra uma cédula de R$ 50,00 sob a poltrona da sala da casa de seu ami-
go Fausto, lugar que habitualmente frequenta e, sem que o dono da casa perceba, dela se
apodera. Diante do caso hipotético apresentado, Leonardo pratica o crime de
a) apropriação de coisa achada. d) furto simples.
b) furto qualificado. e) apropriação indébita.
c) estelionato.

03. Acerca do crime de estelionato, julgue os seguintes itens.


I. Em se tratando de crime de estelionato cometido contra a administração pública, não se
aplica o princípio da insignificância, pois a conduta que ofende o patrimônio público, a moral
administrativa e a fé pública tem elevado grau de reprovabilidade.
II. Aplica-se a regra do concurso material de delitos a crime de estelionato previdenciário
cometido por um só agente após o óbito do segurado, tendo esse agente efetuado saques
mensais de prestações previdenciárias por meio de cartão magnético.
III. Extingue-se a punibilidade do delito de estelionato previdenciário se o agente devolver
a vantagem ilícita recebida à Previdência Social antes do recebimento da denúncia.
Com base no entendimento do Superior Tribunal de Justiça, assinale a opção correta.
a) Apenas o item I está certo. d) Apenas os itens II e III estão certos.
b) Apenas o item II está certo. e) Todos os itens estão certos.
c) Apenas os itens I e III estão certos.

04. Depois de ter praticado a subtração de certo bem, Fulano obteve ajuda eficaz de Sicrano
para que o produto da subtração fosse escondido em lugar seguro para futura comercializa-
ção a cargo de Fulano. A conduta de Sicrano, nesse caso, em tese, configura
a) receptação dolosa. c) coautoria.
b) favorecimento pessoal. d) favorecimento real.

05. Um servidor que, durante seu expediente, receba equivocadamente de uma transporta-
dora uma encomenda que contenha um aparelho eletrônico destinado a outra pessoa que
não trabalha naquela empresa, e se aproprie desse aparelho, mesmo ciente de que tal bem
é proveniente de transação comercial legítima e não lhe pertence, responderá por crime de
receptação.
a) Certo
b) Errado

capítulo 5 • 157
06. Caio furta um carro e o esconde na praia da Polar. Mévio, com pleno conhecimento da
origem do carro, apodera-se dele. Mévio cometeu o crime de
a) furto, assim como Caio; d) furto qualificado;
b) apropriação indébita; e) receptação culposa.
c) receptação dolosa;

07. Sobre o crime de receptação previsto no Código Penal, assinale a alternativa incorreta.
a) Incide na receptação qualificada o sujeito que põe à venda coisa que deve saber ser
produto de crime.
b) A pena é aplicada em dobro quando se trata de bens e instalações do patrimônio da
União, estado, município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de
economia mista.
c) A receptação não é punível quando desconhecido ou isento de pena o autor do crime
de que proveio a coisa.
d) Incide no tipo quem influir para que terceiro, de boa-fé, adquira a coisa, produto de crime.
e) Incide no tipo quem influir para que terceiro, de boa-fé, oculte a coisa, produto do crime.

08. Cícero desviou energia elétrica para seu consumo, ligando os fios de entrada de sua
residência na rede elétrica da rua antes do relógio medidor do consumo. Nesse caso, ficou
caracterizado o delito de
a) furto; d) roubo;
b) estelionato; e) apropriação indébita.
c) receptação;

09. De acordo com os tipos penais previstos no Código Penal, é incorreto afirmar que
a) visando conferir maior proteção em razão da vulnerabilidade apresentada, o Código Pe-
nal determina que a pena deva ser dobrada, caso o crime de estelionato seja cometido
contra idoso.
b) exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento
que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro caracte-
riza a prática do crime denominado extorsão indireta.
c) destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia por motivo egoístico ou com prejuízo consi-
derável para a vítima constitui crime processado mediante ação penal privada.
d) Repetindo previsão específica contida no crime de furto, o legislador pátrio fez incidir no
delito de roubo uma qualificadora, caso haja subtração de veículo automotor que venha
a ser transportado para outro estado ou para o exterior.

capítulo 5 • 158
10. Assinale a opção correta acerca dos delitos de estelionato e receptação.
a) Folhas de cheque e cartões bancários não podem ser objeto material do crime de recep-
tação, uma vez que são desprovidos de valor econômico.
b) O preceito secundário do delito de receptação qualificada foi declarado inconstitucional
pelo STF, por violação aos princípios constitucionais da proporcionalidade e da indivi-
dualização da pena.
c) Para o reconhecimento do estelionato privilegiado, considera-se apenas o pequeno valor
da coisa, e não o prejuízo sofrido pela vítima.
d) O delito de estelionato previdenciário, segundo a pacífica jurisprudência do STJ, tem
natureza de crime permanente, cujos efeitos se prolongam.
e) Aplica-se o princípio da insignificância ao crime de estelionato, ainda que cometido em
detrimento de entidade de direito público.

11. Suponha que um determinado indivíduo vá até uma padaria e, utilizando uma cópia gros-
seira de uma nota de R$ 10,00 (dez reais), consiga comprar pães, causando prejuízo ao
referido estabelecimento. Este indivíduo praticou
a) crime de petrechos para falsificação de moeda e será julgado pela Justiça Federal.
b) crime de moeda falsa e será julgado pela Justiça Federal.
c) crime de estelionato e será julgado pela Justiça Estadual.
d) crime de falsificação de papéis públicos e será julgado pela Justiça Estadual.
e) crime contra o Sistema Financeiro Nacional e será julgado pela Justiça Federal.

12. No que tange ao Direito Penal, cada um dos itens apresenta uma situação hipotética,
seguida de uma assertiva a ser julgada.
Saulo, utilizando-se da fraude conhecida como conto do bilhete premiado, ofereceu o
falso bilhete a Salete para que esta resgatasse o prêmio. Encantada com a oferta e desco-
nhecendo a falsidade do bilhete, Salete entregou a Saulo vultosa quantia, sob a crença de
que o bilhete representasse maior valor. Após dirigir-se à casa lotérica, Salete descobriu o
engodo e procurou uma delegacia de polícia para registrar o fato. Nessa situação, não cabe
qualquer providência na esfera policial, porquanto a vítima também agiu de má-fé (torpeza
bilateral), ficando excluído o crime de estelionato.
a) Certo
b) Errado

capítulo 5 • 159
13. Marcelo é aprovado em concurso público para o cargo de Delegado de Polícia. Sabe
que seu vizinho tem expedido em seu desfavor mandado de prisão. Mesmo antes de assumir
o cargo, Marcelo procura seu vizinho, que é proprietário de automóvel de luxo, e solicita-lhe
comprar o veículo por 1/3 do preço de mercado, insinuando de modo implícito que caso a
proposta não seja aceita efetuará sua prisão tão logo assuma o cargo público. O vizinho não
cede e Marcelo, mesmo após assumir o cargo, não toma qualquer atitude em desfavor de seu
vizinho. Marcelo praticou
a) corrupção passiva;
b) estelionato, na modalidade tentada;
c) meros atos preparatórios;
d) corrupção passiva, na modalidade tentada;
e) concussão.

14. No crime de apropriação indébita exige-se uma quebra de confiança por parte do agen-
te, eis que a vítima voluntariamente entrega bem móvel de sua propriedade ou posse, per-
petuando-se o crime no momento que autor do delito se nega em devolver o objeto ao seu
legítimo dono. Entretanto, se o agente, de forma premeditada, pega o bem já consciente que
não irá devolvê-lo, cometerá a conduta de estelionato, e não a acima mencionada.
a) Certo
b) Errado

15. Everton Frühauf, ao adquirir mercadorias no Supermercado Preço Bom, pagou as com-
pras com um cheque subtraído de seu colega de trabalho, Renato Klein. No caixa, apre-
sentou-se como titular da conta-corrente. Preencheu a cártula e falsificou a assinatura de
Renato. O atendente, seguindo o procedimento de rotina, chamou o supervisor para liberar
a cártula, quando foram surpreendidos com a conduta de Everton, que deixou o estabele-
cimento em desabalada corrida, sem levar as mercadorias, por presumir que sua ação te-
ria sido descoberta. No estacionamento, o segurança do estabelecimento deteve Everton e
conduziu-o à autoridade policial. Esse caso configura
a) tentativa de furto qualificado pela fraude.
b) tentativa de estelionato.
c) desistência voluntária.
d) arrependimento posterior.
e) arrependimento eficaz.

capítulo 5 • 160
16. Helen, escriturária da sociedade empresária Ipilinha S/A., ao elaborar a folha de pa-
gamento dos funcionários, atribuiu, por equívoco, a Sérgio, chefe do departamento pessoal,
o salário líquido de R$ 6.000,00 (seis mil reais), quando a importância correta seria de R$
2.000,00 (dois mil reais). Percebendo o erro que em muito o favorecia, Sérgio encaminhou
a aludida folha de pagamento, após aprová-la, ao Banco Ching Ching S/A., agência Castelo.
No dia seguinte, já efetuado o crédito em sua conta corrente, Sérgio sacou do Banco a quan-
tia de R$ 6.000,00 (seis mil reais) em espécie. Diante da situação hipotética apresentada, é
correto afirmar que
a) Helen cometeu apropriação indébita culposa e Sérgio praticou apropriação indébita de
coisa havida por erro.
b) Sérgio praticou estelionato e Helen cometeu apropriação indébita culposa.
c) Sérgio praticou furto qualificado pela fraude e Helen não cometeu crime (fato atípico).
d) Helen não cometeu crime e Sérgio cometeu apropriação indébita de coisa havida por
erro.
e) Sérgio cometeu estelionato e Helen não cometeu crime.

17. Tício ingressa em uma joalheria com o braço direito imobilizado. Escolhe um colar e não
consegue preencher o cheque. Pede ao proprietário que de próprio punho escreva um bilhete
num cartão da loja com os seguintes dizeres: “Querida, por favor entregue ao portador a im-
portância de R$ 2.000,00 em dinheiro”. Com esse cartão escrito pelo joalheiro, Tício pede ao
seu motorista que vá ao endereço (da esposa do joalheiro) e volte com o dinheiro. A esposa
do joalheiro recebe um cartão da joalheria, com a caligrafia de seu marido e entrega ao mo-
torista de Tício a importância solicitada. Esse retorna à joalheria, o entrega a Tício que compra
a joia com o dinheiro do próprio joalheiro. A tipicidade desse crime corresponde
a) roubo;
b) estelionato;
c) furto qualificado pela fraude;
d) furto simples;
e) apropriação indébita.

18. João teve apreendido seu veículo pela financeira por falta de pagamento. Não podendo
ficar sem o carro para o cumprimento de suas atividades diárias, resolve certa noite se dirigir
a um restaurante conhecido da cidade e, fingindo ser manobrista, recebe do proprietário a
respectiva chave e, em seguida, desaparece com o carro sendo o fato registrado pelo lesado
na delegacia da área.

capítulo 5 • 161
Dias depois, o fato é descoberto e o carro recuperado, não sofrendo o lesado qualquer
prejuízo patrimonial.
A conduta de João tipifica o crime de
a) furto mediante fraude;
b) estelionato;
c) apropriação indébita;
d) furto tentado;
e) estelionato tentado.

19. João falsificou cédulas de R$ 100,00, para o fim de utilizá-las na aquisição de compu-
tador pertencente a Fritz, alemão que passava férias no Brasil. Após vender o bem, Fritz foi
preso em flagrante quando, sem perceber o engodo de que fora vítima, tentou pagar conta
de restaurante com uma das cédulas recebidas. A falsificação era grosseira (fato depois
atestado por laudo pericial) e foi facilmente detectada. Assinale a opção correta.
a) João deve responder pelo crime de falsificação de moeda (Artigo 289 do Código Penal),
já que logrou êxito em ludibriar a vítima, ofendendo o bem jurídico tutelado na norma
penal.
b) João responde por dois crimes (artigo 289, caput e Artigo 289, parágrafo 1o do Código
Penal), por ter fabricado a moeda falsa e por tê-la introduzido em circulação.
c) Fritz deve responder pelo delito culposo de usar moeda falsa, já que era fácil aferir a
falsidade, e João por um crime de moeda falsa, já que a introdução em circulação da
moeda, por quem a fabricou, constitui mero exaurimento do delito.
d) João somente responde pelo crime de introduzir moeda falsa em circulação, uma vez
que sua conduta era e foi eficiente a tanto.
e) João deve responder pelo delito de estelionato.

20. O órgão público “X” adquiriu aos veículos de sua frota interna sistemas de recepção e
produção de áudio de última geração e, após a instalação, Ronaldo, motorista oficial do ór-
gão, de posse do veículo, removeu o dispositivo recém-instalado, apropriando-se do bem. De
acordo com o Código Penal, a conduta de Ronaldo é tipificada ao crime de
a) roubo;
b) furto;
c) peculato;
d) estelionato.

capítulo 5 • 162
JURISPRUDÊNCIA
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA STJ – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ES-
PECIAL : AGRG NO RESP 1172092 RS 2009/0241368-3

Data de Publicação: 10/6/2013

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. CONDENAÇÃO PELO


CRIME DE RECEPTAÇÃO QUALIFICADA. PRETENDIDA APLICAÇÃO DA PENA DO CRI-
ME DE RECEPTAÇÃO SIMPLES. IMPOSSIBILIDADE. MAIOR GRAU DE REPROVABILIDA-
DE DA CONDUTA DO AGENTE QUE ATUA NO EX ERCÍCIO DA ATIVIDADE COMERCIAL.
1. Por ocasião do julgamento do ERESP no 772.086/RS, a Terceira Seção deste Superior
Tribunal firmou o entendimento de que a aplicação da pena cominada ao crime de recepta-
ção qualificada não ofende o princípio da proporcionalidade, porquanto o legislador buscou
punir de forma mais rigorosa a conduta do agente que atua no exercício de atividade comer-
cial ou industrial. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL STF – HABEAS CORPUS: HC 113316 RS


Data de Publicação: 26/2/2013

EMENTA: HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL MILITAR. CRIME DE RECEPTAÇÃO.


PENA. DOSIMETRIA. FIXAÇÃO ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
ORDEM DENEGADA.
I. A sentença condenatória não merece nenhum reparo, pois considerou desfavorável ao
agente, para fixar a pena-base em 4 anos, a circunstância atinente ao alto grau de letalidade
dos armamentos, além de destacar o “alto poder de intimidação” bem como a “possibilida-
de de uso de alguns componentes em outras armas”. II – A pena definitivamente fixada
em 4 anos de reclusão não desbordou os lindes da proporcionalidade e da razoabilidade,
não havendo, a meu ver, flagrante ilegalidade ou teratologia que justifiquem a concessão
da ordem, sendo certo que não se pode utilizar o habeas corpus para realizar novo juízo de
reprovabilidade e aferir qual pena seria adequada ao caso concreto. III – Ordem denegada.
Liminar cassada.

capítulo 5 • 163
STJ – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 1192010 RS 2010/0079019-
2 (STJ)

Data de Publicação: 6/12/2013

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE INDICA-


ÇÃO. SÚMULA No 284/STF. DISSÍDIO NÃO CONFIGURADO. CONDENAÇÃO DO RÉU
PELO CRIME DE RECEPTAÇÃO QUALIFICADA. PEDIDO DE APLICAÇÃO DA PENA DA
RECEPTAÇÃO SIMPLES. IMPOSSIBILIDADE. – A ausência de indicação de qual norma teria
sido violada pelo acórdão recorrido, impossibilita a adequada compreensão da controvérsia,
atraindo o óbice da Súmula no 284/STF. – Mesmo que ultrapassado o óbice processual
(Súmula no 284/STF), a 3a Seção deste Superior Tribunal de Justiça já decidiu que "não se
mostra prudente a imposição da pena prevista para a receptação simples em condenação
pela prática de receptação qualificada, pois a distinção feita pelo próprio legislador atende
aos reclamos da sociedade que representa, no seio da qual é mais reprovável a conduta pra-
ticada no exercício de atividade comercial". – Agravo regimental desprovido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. v. 2.
DUTRA, Mário Hoeppner. O furto e o roubo. São Paulo: Max Limonad, 1955.
FRANCO, Alberto Silva. Dos crimes contra o patrimônio. In: Código penal e sua interpretação
jurisprudencial. 7. ed. Coordenadores: Alberto Silva Franco e Rui Stoco. São Paulo: RT, 2001.
GRACIA MARTIN, Luis. O horizonte do finalismo e o direito penal do inimigo. Tradução: Luiz
Regis Prado e Érika Mendes de Carvalho. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 1999.
MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis; SAAD, Marta. Dos crimes contra o patrimônio. In: Código
penal e sua interpretação – doutrina e jurisprudência, 8. ed., coordenação de Alberto Silva Franco e
Rui Stoco. São Paulo: RT, 2007.

capítulo 5 • 164
CINE CONHECIMENTO
Golpe duplo – 2015
Sinopse: Nicky (Will Smith) é um golpista que se en-
volve com Jess (Margot Robbie), uma vigarista novata. Ele
resolve se afastar quando a mulher se aproxima demais.
Três anos mais tarde, Nicky fica balançado quando a reen-
contra em Buenos Aires. Ambos estão na cidade para pre-
parar o seu próprio – mas igualmente elaborado – golpe,
ambos visando o mesmo bilionário (Rodrigo Santoro), que
é proprietário de uma equipe de corrida.

No fim do túnel – 2016


Sinopse: o esperto e narcisista Clifford Irving (Richard
Gere) forja um documento no qual o bilionário Howard
Hughes (Milton Buras) o autoriza a escrever sua biografia.
Hughes vive recluso e há quinze anos não fala com a im-
prensa. Acompanhado de seu assistente Dick Suskind (Al-
fred Molina), Irving dá início ao projeto e vende a biografia
que escreveu a uma editora recém-aberta nos anos 1970,
causando um verdadeiro frenesi.

GABARITO
Capítulo 1

01. A 07. B
02. D 08. D
03. C 09. A
04. C 10. E
05. C
06. B

capítulo 5 • 165
Capítulo 2

01. C 06. B 11. A


02. E 07. A 12. A
03. C 08. A 13. D
04. B 09. D 14. C
05. E 10. D 15. A

Capítulo 3

01. B 05. B 09. C


02. D 06. C 10. C
03. B 07. D
04. E 08. A

Capítulo 4

01. D 07. B 13. A


02. D 08. C 14. A
03. A 09. E 15. D
04. A 10. C 16. D
05. D 11. A
06. A 12. B

Capítulo 5

01. B 08. A 15. B


02. B 09. D 16. E
03. A 10. A 17. B
04. D 11. C 18. B
05. B 12. B 19. E
06. A 13. A 20. C
07. C 14. A

capítulo 5 • 166
ANOTAÇÕES

capítulo 5 • 167
ANOTAÇÕES

capítulo 5 • 168

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