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AO JUÍZO DA __VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE BETA-...

JOANA, brasileira, estado civil ..., profissão..., portadora do CPF nº..., portadora do título
de eleitor nº ....,residente e domiciliada na Rua..., Bairro..., nº..., Beta, Estado..., CEP..., endereço
eletrônico..., vem a presença de Vossa Excelência, por meio de seu advogado, incluso instrumento
de procuração, com escritório profissional na Rua..., onde recebe intimações, propor AÇÃO
POPULAR, em face de MUNICÍPIO DE BETA, pessoa jurídica de direito público, que deverá
ser representada por seu prefeito, JOÃO com endereço na Rua..., Bairro..., Beta, Estado..., e
SOCIEDADE EMPRESÁRIA WW, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº...,
com endereço na Rua... Bairro..., nº..., na Cidade de ..., com endereço eletrônico..., que faz com
os fundamentos nos artigos 1 e 6 da Lei 4.717/1965, pelos motivos adiantes expostos:

I- DOS FATOS

Como parte das iniciativas de modernização que vem sendo adotadas no plano urbanístico
do município Beta, bem sintetizadas no Slogan “Beta rumo ao século XXII”, a parte ré,
representada pelo prefeito do município, determinou que sua assessoria realizasse estudos.

Estes estudos, com a finalidade de promoção de uma ampla reforma dos prédios em que
estão instaladas as repartições públicas municipais, localizados na região central do município,
formando um belo conjunto arquitetônico do século XXII.

Tendo sua importância no processo evolutivo da humanidade reconhecida por diversas


organizações nacionais e internacionais, tanto que tombados, para a representação da
modernidade do município.

A partir desses estudos, foi escolhido o projeto apresentado por um renomado arquiteto
modernista, que substituiria as fachadas originais de todos os prédios, as quais passariam a ser
compostas por estruturas mesclando vidro e alumínio.

Concluída a licitação, a parte ré, representada pelo prefeito municipal, celebrou contrato
administrativo com a outra parte que consta no polo passivo desta ação, que seria responsável
pela realização das obras de reforma, o que foi divulgado em concorrida cerimonia.

No dia seguinte à referida divulgação, a autora, atuante líder comunitária e com seus
direitos públicos em dia, formulou requerimento administrativo solicitando a anulação do
contrato, o qual foi indeferido pela parte ré.
Ocorrendo, no mesmo dia em que foi apresentado, sob o argumento de que a
modernização dos prédios indicados fora expressamente prevista na Lei municipal nºxxx/2019,
que determinara o rompimento com uma tradição do referido município.

Muito preocupada com o inicio das obras, já que a primeira fase consistiria na demolição
parcial das fachadas, de modo que pudessem receber novos revestimentos, a autora resolveu
buscar os devidos direitos para a preservação do local.

II- DO DIREITO

A ação popular tem como objetivo a defesa de interesses difusos, pertencentes à


sociedade, por meio da invalidação de atos de natureza lesiva ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural. Trata-se de uma das formas de manifestação de soberania popular,
que permite ao cidadão exercer, de forma direta, uma função fiscalizadora.

O artigo 1º da Lei 4.717/65, assegura a qualquer cidadão o manejo da ação popular para
pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público, e traz em
seu parágrafo 1º o que considera como patrimônio público:

§ 1º - Consideram-se patrimônio público para os


fins referidos neste artigo, os bens e direitos
de valor econômico, artístico, estético,
histórico ou turístico.

A Constituição Federal ampliou as hipóteses de cabimento da ação popular, incluindo


moralidade administrativa como fundamento para anulação ou declaração de nulidade de atos que
ofendem. Veja-se:

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para


propor ação popular que vise a anular ato lesivo
ao patrimônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa,
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-
fé, isento de custas judiciais e do ônus de
sucumbência;

Levando em consideração as hipóteses de cabimento definidas pela Lei de Ação Popular,


a presente demanda encontra-se em condições de receber o provimento jurisdicional que requer,
por ser proposta por cidadã em pleno gozo de seus direitos políticos e por estarem demonstradas
a ilegalidade e a lesividade dos atos administrativos impugnados.
II.I- DA LEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA

O inciso LXXIII do art. 5º, da CRFB/88, determina que qualquer cidadão é parte legítima
para propor ação popular. Além disso, a Lei 4.717/65 (art. 1º, § 3º) reforça a legitimidade ativa de
qualquer cidadão para pleitear anulação de atos lesivos ao patrimônio público, sendo nesta
perspectiva incluída a proteção aos bens e direitos de valor econômico.

A Autora é cidadã em pleno gozo de seus direitos políticos, sendo o que basta para ser
legitimada pela Lei nº 4.717/65 a ingressar com ação popular. Portanto, presente a legitimidade e
o interesse para promover a presente ação.

O art. 6º da Lei 4.717/65 dispõe que a ação popular será proposta contra as pessoas
públicas ou privadas, autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado,
aprovado, ratificado ou praticado ato ilegal lesivo ao patrimônio público.

Portanto, como todos os sujeitos acima tratados praticaram atos lesivos ao patrimônio
público ou se beneficiaram deles, há que se considerá-los como sujeitos passivos da presente ação
popular para que possam, inclusive serem responsabilizados nos termos do art. 11 da Lei 4.717/65.

II.II- DA TUTELA DE URGÊNCIA

A tutela de urgência é instituto previsto no artigo 300, §2º, do Código de Processo Civil
e tem por objetivo resguardar, logo no início do processo, direitos que estão sob ameaça ou lesão.
No âmbito das ações populares, não há qualquer óbice à aplicação do referido dispositivo do
Código de Processo Civil.

Na medida em que a própria Lei 4.717 de 1965 prevê expressamente a possibilidade de


concessão de tutela antecipada em seu artigo 5º, §4º, nos seguintes termos: “Na defesa do
patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo impugnado”.

Sendo assim, o dever de ser concedido o pedido de tutela de urgência, pelos fatos
expostos, para não ocorrer a demolição e degradação de construções históricas do município,
conforme estabelece a Lei vigente.

II.III- DA INCONSTITUCIONALIDADE
Verificamos que, a Lei Municipal nº xx/2019, é materialmente inconstitucional por
afrontar o dever do município de proteger os bens de valor histórico, que representem a evolução
e conservação do próprio município.

Conforme estabelece o artigo 23, inciso III, da Constituição Federal, onde será
competência comum da União, dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios, proteger os
documentos, as obras e outros bens de valor histórico.

Sendo que, o mesmo artigo em seu inciso IV, nos descreve sobre impedir a
descaracterização de bens históricos, o qual, não poderá ocorrer no município onde se passa esta
demanda no poder judiciário.

Verifica-se que o conjunto urbano de valor histórico, alcançado pelo contrato


administrativo, integra o patrimônio cultural brasileiro, conforme estabelece o artigo 216 da
Constituição Federal.

Onde, a inconstitucionalidade da lei Municipal xx/2019, deve ser reconhecida


incidentalmente. Em consequência, o contrato administrativo celebrado é nulo, em razão da
inobservância das normas constitucionais vigentes, dispostas na Lei 4.717/65.

Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio


das entidades mencionadas no artigo anterior,
nos casos de:
c) ilegalidade do objeto;
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos
de nulidade observar-se-ão as seguintes normas:
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o
resultado do ato importa em violação de lei,
regulamento ou outro ato normativo;
Portanto, requer-se a nulidade do contrato celebrado, visando a ilegalidade do objeto,
presente nesta ação.

IV- DOS PEDIDOS

Diante do exposto requer:

a) Diante do exposto, requerer que seja recebida a petição inicial, deferindo-se a liminar
em antecipação de tutela, para condenar os réus a obrigação de fazer e não fazer,
consistente em determinar que o contrato das modificações nas faixadas fosse
totalmente nulo, para que não acontecessem as modificações destruindo patrimônio
histórico do município de Beta. E declarar a inconstitucionalidade da Lei Municipal
xx/2019, por afrontar o dever do município de proteger os bens de valor histórico.
b) Ao final ser julgado procedente o pedido para extinguir o contrato firmado entre as
partes rés deste processo, para não ocorrer as modificações nas faixadas de
monumentos históricos.
c) Requer a condenação dos requeridos ao pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios.
d) Requerer a intimação do Ministério Público, na forma do parágrafo 4º do artigo 6º da
Lei 4.717/65;
e) Requer por fim, provar o alegado por meio de prova documental e oral, consistente
no depoimento pessoal do representante legal dos requeridos e oitiva de testemunhas,
serão arroladas oportunamente.

Dá-se a causa o valor de R$ 10.000,00

Pede deferimento.

Beta..,...

ADVOGADO ...

OAB...

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