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• Res desperdita – coisa perdida, que circunstancialmente não está na esfera de proteção do
proprietário ou possuidor.
• Res commune omnium – coisas de uso geral ou de todos, como a água do mar e dos rios.
Embora não possam ser ocupadas na totalidade, podem ser parcialmente captadas e
aproveitadas exclusivamente por alguém.
Em resumo:
Os Crimes Contra o Patrimônio, previstos no Título II, da Parte Especial do Código Penal, tutelam
a propriedade material e a posse legítima de:
• Bens móveis, incluindo nessa classificação, para fins penais os semoventes;
• Bens imóveis;
• Bens por equiparação legal – ex.: energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico (CP, art. 155, §3º).
Os bens móveis para fins penais, são os semoventes, em especial os domesticáveis de produção,
objetos materiais do §6º, do artigo 155, e do artigo 180-A, ambos do CP e minerais do solo,
porque passíveis de deslocamento espacial.
São ainda bens móveis para o direito penal, independente de classificação dada por legislador civil:
apólices da dívida pública oneradas com a cláusula de inalienabilidade (CC, art. 80); materiais
provisoriamente separados de um prédio, para nele mesmo se reempregarem (CC, art. 81, II);
navios (CC, art. 1.473, inc. VI); aeronaves (CC, art. 1.473, inc. VII).
OBJETIVIDADE JURÍDICA:
Visa a proteção do PATRIMÔNIO MATERIAL, que é passível de apreensão, algo que se pode
ver, que ocupa lugar no espaço.
Exemplos: dinheiro, joia, computador, carro.
O PATRIMÔNIO IMATERIAL está protegido nos artigos 184 e seguintes do Código Penal,
bem como em legislação especial. O patrimônio imaterial, aquele que não é passível de
apreensão, que se materialize.
Exemplos: Direitos autorais, obra literária (a titularidade do autor, não a obra física, o volume do
livro), marcas, patentes, privilégios de invenção etc.
ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO
A coisa ALHEIA E MÓVEL.
• Ausente esse elementar, o fato será atípico podendo ainda constituir crime de exercício
arbitrário das próprias razões (CP, art. 346).
• A res, para ser objeto material do furto, precisa ser alheia, pertencer a outra pessoa, integrar
o patrimônio de outrem.
• Se o agente subtrair o seu livro que está na mochila de um colega, a conduta será atípica.
• Se o agente não soubesse que o livro lhe pertencia, incorrerá em erro de tipo (CP, art. 20),
que afasta o dolo.
Dar um bem em garantia e depois subtraí-lo do credor, não constitui furto, mas exercício arbitrário
das próprias razões (CP, art. 346)
SUJEITO ATIVO:
Qualquer pessoa.
• Crime comum, unissubjetivo, de concurso eventual de pessoas (e não necessário);
• Qualquer pessoa salvo o proprietário ou possuidor, porque não há furto de coisa própria;
• Admite-se a co-execução e a participação.
SUJEITO PASSIVO:
O proprietário ou o legítimo possuidor.
• Pode ser pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.
CASUÍSTICA:
1) O ladrão que furta ladrão pratica o furto, mas contra o proprietário ou legítimo possuidor,
porque o ladrão anterior não tinha a posse lícita da coisa.
O sujeito passivo do segundo fato não é o primeiro ladrão, mas o proprietário ou o legítimo
possuidor da coisa.
2) Se o sujeito ativo já estava na posse lícita ou detenção da coisa, não a subtraiu, portanto o
crime será de apropriação indébita (CP, art. 168).
TIPO OBJETIVO
• O verbo núcleo do tipo é subtrair, que significa tirar, retirar, apossar-se, assenhorar-se,
tomar para si ou para outrem.
• É apreender a coisa, com ânimo definitivo.
• No furto o agente se vale da CLANDETISNIDADE. A posse é ilícita.
• NÃO há, como meio de execução, emprego de violência, própria ou imprópria, grave
ameaça ou fraude.
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
INSTANTÂNEO: o crime se consuma e acaba no mesmo momento.
Em regra, o momento da consumação se destaca da linha do tempo, porque o agente pratica o
ato de execução não tendo mais domínio sob o tempo, apenas aguarda a consumação.
Excepcionalmente é permanente: §3º - furto de energia elétrica ou qualquer outra que tenha
valor econômico.
COMISSIVO:
Em regra, praticado por ação, conduta positiva, um fazer.
Excepcionalmente, a forma comissiva por omissão, quando há o dever legal de agir (CP, art.
13, §2º, a, b, c), quando a omissão é voltada para a produção do resultado.
CRIME DE DANO:
Há um efetivo ataque ao objeto material.
PLURISSUBSISTENTE:
A fase executiva demanda mais de um ato.
MATERIAL:
O resultado é naturalístico. O tipo descreve a conduta e exige a produção do resultado que é
exteriorizado, perceptível aos sentidos.
FORMA LIVRE:
Qualquer conduta ao menos relativamente idônea à subtração, a produção do resultado, é furto.
O DOLO DIRETO.
• Exige-se o elemento subjetivo do tipo dolo específico, consistente na vontade livre e
consciente de subtrair coisa móvel, para si ou para outrem, exigindo o propósito de
assenhoramento definitivo.
• É necessário que a vontade abranja o elemento normativo coisa alheia.
TIPO SUBJETIVO
Desconhecendo que se trata de coisa alheia, supondo-a própria, haverá erro de tipo (CP, art. 20),
que exclui o dolo.
• Para a ocorrência do furto não basta que o agente pretenda usar e gozar da coisa por pouco
tempo, momentaneamente.
• Indispensável o fim de assenhoramento, de integrar a coisa ao seu patrimônio ou ao de
terceiro, com animus definitivo.
• Indispensável o animus rem sibi habendi ou animus furandi, a intenção de
apossamento definitivo da res, para si ou para outrem.
Elemento subjetivo do crime não se confunde com motivação do crime.
• O primeiro é a intenção de ter a coisa para si ou para outrem, enquanto o segundo é o fim
posterior do furtador, como, lucro, vingança, capricho, inveja.
• O motivo do agente para a prática do furto é irrelevante para a tipificação da conduta,
podendo ter reflexos na fixação da pena, em especial nas circunstâncias judiciais do art. 59,
do CP.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONSUMAÇÃO:
Consuma-se com a mera inversão da posse, quando a vítima não pode mais exercer as faculdades
inerentes à posse ou à propriedade, quando não tem mais disponibilidade sobre a coisa.
Jurisprudência:
É firme a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de que, para a consumação do crime de furto,
basta a verificação de que, cessada a clandestinidade, o agente tenha tido a posse do objeto do delito, ainda
que retomado, em seguida, pela perseguição imediata.” - STF - HC: 92922 RS, Relator: Min. MARCO
AURÉLIO.
CASUÍSTICA
NATUREZA JURÍDICA:
Causa de aumento de pena.
Incide na 3ª fase da dosimetria, ex-vi do artigo 68, do Código Penal.
FUNDAMENTOS:
• Reside no fato do crime ser cometido durante a noite, horário em que a vigilância é
menos eficiente e o patrimônio fica mais vulnerável.
• Essa vulnerabilidade integra o dolo do agente como elemento facilitador do resultado. Daí
a maior censurabilidade.
• Violar o sossego noturno de alguém é uma conduta reprovável socialmente. Como a pena
é a medida da culpabilidade, justifica-se a incidência da majorante. Há maior desvalor da
conduta.
ANALOGIA: PERÍODO DO REPOUSO NOTURNO.
• Não é possível fixar um período exato do repouso noturno. Entende-se que é o período
compreendido entre o pôr e o nascer do sol (crepúsculo à alvorada).
• A nova Lei de Abuso de Autoridade – Lei 13.869, de 05/9/2019, republicada em
18/9/2019, em vigor desde 18 de janeiro de 2019, no artigo 22, §1º, inciso III,
expressamente fixou o período noturno (e não o “repouso noturno”) como o
compreendido entre 21 e 5 horas.
Possível aplicar o argumento analógico para fixar esse horário, como do repouso noturno?
CASUÍSTICA:
1. E se a casa estiver vazia?
2. E se for um estabelecimento comercial fechado?
3. E se os moradores não estiverem “repousando”, leia-se, “dormindo”?
JURISPRUDÊNCIA:
Recursos Especiais nºs 1979989/RS e 1979998/RS, processos-paradigmas do Tema n. 1144 –
FURTO - REPOUSO - NOTURNO – CONFIGURAÇÃO.
A Terceira Seção, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial e delimitou as teses jurídicas
para os fins do art. 543-C do CPC, nos seguintes termos: 1. Nos termos do § 1º do art. 155 do Código
Penal, se o crime de furto é praticado durante o repouso noturno, a pena será aumentada de um terço. 2.
O repouso noturno compreende o período em que a população se recolhe para descansar, devendo o
julgador atentar-se às características do caso concreto. 3. A situação de repouso está configurada quando
presente a condição de sossego/tranquilidade do período da noite, caso em que, em razão da diminuição
ou precariedade de vigilância dos bens, ou, ainda, da menor capacidade de resistência da vítima, facilita-se
a concretização do crime. 4. São irrelevantes os fatos das vítimas estarem, ou não, dormindo no momento
do crime, ou o local de sua ocorrência, em estabelecimento comercial, via pública, residência desabitada ou
em veículos, bastando que o furto ocorra, obrigatoriamente, à noite e em situação de repouso.
1) PRIMARIEDADE:
Reincidente é quem comete um novo crime depois de ter contra si uma sentença penal
condenatória transitada em julgado.
NÃO GERAM REINCIDÊNCIA:
CP, art. 64, I: os crimes políticos e os crimes militares próprios, aqueles que não têm simetria
entre o Código Penal Comum (Lei 7.209/1984) e o Código Penal Militar (DL 1001/1969);
CP, art. 64, II: os efeitos da reincidência não são perpétuos. Decorridos 5 anos da extinção
da pena por qualquer motivo; cumprimento integral, cumprimento do período de provas dos sursis
ou do livramento condicional sem revogação, concessão de indulto etc., são depurados.
É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.
Inquéritos ou processo em andamento, mesmo com condenação, mas sem trânsito em julgado,
não gera mau antecedente ou reincidência.
O réu nessa situação, pela doutrina é denominado tecnicamente primário, que para todos os fins
e efeitos é considerado primário.
2) PEQUENO VALOR:
Segundo a doutrina e a jurisprudência, o valor da coisa precisa ser inferior ao do salário mínimo
vigente na data do fato.
Pequeno valor e pequeno prejuízo não se confundem.
• Pequeno valor do objeto material é objetivamente considerado, é quanto vale a coisa.
• Pequeno prejuízo é o desfalque causado ao patrimônio da vítima.
CASUÍSTICA:
APLICA-SE O PRIVILÉGIO?
CASO 1. Furto de 5 objetos que juntos ultrapassavam o valor do salário-mínimo e que
individualmente considerados, são inferiores a esse valor.
CASO 2. Mesma situação, havendo, no entanto, a recuperação de um dos bens, diminuindo-se,
assim, o valor da res subtraída, alcançando o do salário-mínimo.
CASUÍSTICA:
Não se aplica o privilégio em nenhuma das duas situações.
CASO 1. Considera-se o valor dos bens englobadamente.
Não há privilégio porque a somatória dos bens excede o valor do salário-mínimo vigente à época
dos fatos.
CASO 2. Não há privilégio porque a recuperação, a ausência de prejuízo é irrelevante uma vez
que o valor do salário-mínimo, do pequeno valor, é o apurado na data do fato.
FURTO INSIGNIFICANTE
Argumento analógico para aferição do valor insignificante:
• Na aferição do valor insignificante para enfrentamento da tipicidade material do furto,
devem ser adotados critérios objetivos que conferem segurança jurídica às partes.
• Na interpretação do pequeno valor, para fins de reconhecimento do furto privilegiado,
consolidou-se o parâmetro do salário-mínimo.
• Na composição do valor insignificante, válido o critério da legislação Penal Militar
que, no caso do furto (art. 240, §1º do CPM), fixa o montante de 1/10 do salário-mínimo
para o campo de exclusão do caráter ilícito.
FURTO PRIVILEGIADO-QUALIFICADO
CASUÍSTICA:
E se o agente adulterar o marcador de consumo de energia para pagar menos?
• Se a energia for desviada ANTES de passar pelo marcador, será FURTO.
• Se desviada DEPOIS, responderá por ESTELIONATO.
FURTO QUALIFICADO
§4°-A: Se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum
(essa qualificadora passou a ser crime hediondo) Ex: explodir caixa eletrônico pra pegar
dinheiro.
§5°: se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior. Concurso de pessoas: quem concorre para o transporte, coautor
ou participe, responderá pela qualificadora.
• A incidência dessa qualificadora exige laudo de exame de corpo de delito (CPP, art. 158),
ante a necessidade de se provar que houve rompimento ou destruição à coisa, salvo se não
deixar vestígios, quando pode ser suprido por outras provas.
O emprego da violência é anterior ou concomitante à subtração. Se ocorrer
posteriormente, não incidirá a qualificadora (entendimento amplamente majoritário).
Exemplo: Se após subtrair um celular, o agente rompe a porta para evadir-se do local, não
incidirá a qualificadora.
O obstáculo pode existir naturalmente ou ser predisposto pelo homem com a finalidade especifica
de evitar o furto.
Não o qualifica a violência empregada contra obstáculo que existe para o uso normal da coisa, ou
quando é um acessório necessário para uso do objeto material.
Exemplo: subtração de arame farpado de uma cerca, mediante desprendimento dos pregos;
subtração da câmera de segurança.
CASUÍSTICA:
O empregado doméstico que subtrai objetos materiais do local de trabalho comete furto
qualificado pelo abuso de confiança?
No ofício de empregada doméstica, não há presunção de confiança pela só relação de trabalho.
• Dependerá da análise do caso concreto porque a qualificadora exige especial vínculo
de lealdade ou de fidelidade entre o empregado e o empregador, sendo irrelevante,
por si só́, a relação empregatícia.
• Não comprovada a relação de confiança, a empregada doméstica responderá, em regra,
por furto simples com a circunstância agravante genérica das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade (CP, art. 61, II, f, 2ª fig.).
Ele não tem conhecimento que o objeto material está saindo de sua esfera de proteção, de seu
patrimônio e ingressando na de disponibilidade do sujeito ativo.
ATENÇÃO:
❖ Não há um parâmetro em relação à medida do obstáculo, que pode ser para baixo
(subterrâneo) ou para cima.
❖ Desnecessário, em regra, o laudo de exame de corpo de delito porque a escalada não deixa
vestígios.
❖ Quem cava o túnel, não responde pela qualificadora. Apenas quem encontra o
túnel e se serve dele, responderá.
§4º-A: A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo
ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Qualificadora incluída pela Lei 13.654/2018)
Refere-se ao meio de execução, quando para a subtração o agente emprega explosivo ou artefato
análogo, que cause perigo comum.
Exemplo: explodir caixa eletrônico para subtrair o dinheiro.
Essa qualificadora passa a ser crime hediondo, conforme o artigo 1º, inciso IX, da Lei 8.072/90,
com a nova redação dada pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime).
IX – furto qualificado pelo emprego de explosivo ou artefato de efeito análogo que cause perigo
comum (art. 155, §4º-A).
• Ocorre quando o agente usa fraude eletrônica para distrair a vítima ou para desativar ou
romper mecanismo de segurança, possibilitando a subtração da coisa alheia móvel, de um
objeto corpóreo, composto por matéria.
• A fraude eletrônica não é utilizada para transferir valores ou adquirir a transferência de
bens.
Exemplos:
• Invadir determinado sistema informático para:
• abrir um cofre;
• desativar um alarme;
• interromper um videomonitoramento.
Na sequência, apreender fisicamente o objeto alheio então protegido.
Obs.: tecnicamente a situação melhor se amolda à ideia de rompimento de obstáculo à subtração
da coisa que a de furto mediante fraude.
Tipificam estelionato (CP, art. 171, §2º-A) e não furto mediante fraude cometido por meio
de dispositivo eletrônico ou informático:
• usar ou alterar dados (login e senha) de um correntista para, acessando eletronicamente sua
conta, realizar transferência de valores nela creditados para alguma outra;
• invadir diretamente o sistema informático ou a rede da agência bancária para transferir
valores de uma conta para outra;
• fazer compras ou pagamentos via internet por meio de dados de outra pessoa (dados do
cartão de crédito, chave PIX etc.).
Nesses exemplos, não há subtração, retirada, remoção, da coisa alheia móvel, aproveitando-se
da distração da vítima.
Há mera transferência de um crédito ou de um bem pela pessoa física ou jurídica enganada.
Os dados o mundo digital não constitui matéria, não são passíveis de apreensão, de
deslocamento espacial.
Os dados são copiados, alterados ou apagados são combinações digitais binárias.
§5°. A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a
ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (Qualificadora incluída pela Lei 9.426/1996)
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA:
1. Consumação:
O furto, adotada a Teoria Amotio ou Aprehensio, se consumou com a inversão da posse e a
indisponibilidade do bem, ainda que momentânea, pela vítima.
2. TENTATIVA:
Inadmissível.
Se o agente cruzar a fronteira entre os Estados da Federação ou do território nacional, o furto
com essa qualificadora estará consumado.
Se não conseguir, ainda que por circunstâncias alheia à sua vontade, o furto será simples.
CONCURSO DE PESSOAS:
• Quem concorre para o transporte extralimites, coautor ou partícipe, responderá pela
qualificadora, desde que essa circunstância tenha ingressado na sua esfera de conhecimento
(CP, art. 30).
• Quem intervém no fato, psicológica e materialmente, depois de consumada a subtração,
responderá por receptação (CP, art. 180).
• Se o agente foi contratado apenas para transportar o veículo, que sabe ser produto de
crime, para outro Estado ou para o exterior, responderá por receptação (CP, art. 180).
FURTO QUALIFICADO
CP, ART. 155, §6º
ABIGEATO
§6°: A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável
de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração.
(Qualificadora incluída pela Lei 13.330/2016)
§7º: A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias
explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem
ou emprego. (Qualificadora incluída pela Lei 13.654/2018)
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem
legitimamente a detém, a coisa comum:
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que
tem direito o agente.
OBJETO MATERIAL:
É a coisa móvel fungível comum ao agente e a vítima; diferente do objeto material do furto (CP,
art. 155), que é a coisa alheia móvel.
Código Civil, art. 85 - São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade.
VERBO NÚCLEO DO TIPO: Subtrair, que significa apossar-se, tomar para si, assenhorar-se. É
apreender a coisa e levar para outro lugar, implicando em deslocamento espacial.
CLASIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA:
• Crime próprio;
• Material;
• Simples;
• Instantâneo;
• De forma livre;
• Em regra comissivo;
• Unissubjetivo;
• Plurissubsistente;
• De dano.
TIPO SUBJETIVO:
O dolo atrelado ao elemento subjetivo do tipo
-o dolo específico: O animus rem sibi habendi, ou animus furandi. Não é necessária a finalidade
de lucro, o animus lucrandi.
Como no furto, exige-se o especial fim de agir, a intenção de apossamento definitivo para si ou
para outrem.
• Indispensável que o sujeito ativo passe a comportar-se como único dono da coisa.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONSUMAÇÃO: Adota-se a Teoria Amotio ou Aprehensio.
Com a mera inversão da posse, quando a vítima não pode mais exercer as faculdades inerentes à
sua posse ou propriedade, quando já não mais dispõe do objeto material, como ocorre no crime
de furto.
Aplica-se a súmula 582, do Superior Tribunal de Justiça.
Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave
ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa
roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.
• Quando o sujeito ativo não consegue, por circunstâncias alheias á sua vontade, retirar o
objeto material da esfera de proteção e vigilância da vítima, inverter a posse, submetendo-
a á sua própria disponibilidade.
§1º - Somente se procede mediante representação.
Excepcionando a regra geral, transmuda a ação penal, de incondicionada, para pública
condicionada à representação.
• Não se trata de causa de isenção de pena, quando o fato é típico, ilícito e culpável.
• Embora seja crime, o agente não se sujeita à pena.
A norma penal permissiva prevê que “não é punível a subtração”.
Fato impunível em matéria penal é fato lícito.
Tecnicamente esse §2º convola-se em uma causa específica de exclusão da ilicitude, e não causa de
isenção de pena.
O reconhecimento dessa excludente exige dois requisitos cumulativos:
1. Que a coisa comum seja fungível;
2. Que seu valor não exceda a quota a que tem direito o agente.
SUJEITO PASSIVO: Em regra, uma vítima que é a titular da posse ou da propriedade e que
sofre a violência ou a grave ameaça.
Excepcionalmente pode ocorrer dupla sujeição passiva: O titular do direito de propriedade E quem
sofre a violência ou a grave ameaça. É possível que o proprietário ou possuidor experimente o
desfalque patrimonial enquanto outra pessoa suporte a violência ou a grave ameaça.
TIPO OBJETIVO
Pode se dizer, sem apego à técnica, que o roubo é um furto praticado mediante violência ou grave
ameaça à pessoa.
1. VIOLÊNCIA FÍSICA OU REAL: É a vis absoluta, empregada contra a pessoa (diferentemente
do que ocorre no furto qualificado pela destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da
coisa, em que a violência é dirigida à coisa – CP, art. 155, §4º, I).
Pode ser:
A) IMEDIATA: empregada contra o proprietário ou o legítimo possuidor e;
B) MEDIATA: dirigida ao terceiro, detentor.
2. VIOLÊNCIA IMPRÓPRIA: depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade
de resistência.
Interpretação analógica. Exemplos: ministrar droga, álcool, sonífero (“Boa noite Cinderela”),
hipnotizar.
3. GRAVE AMEAÇA: É a moral, a vis relativa.
• É a promessa de mal injusto, iminente e grave.
• Pode ser por palavra, escrito, gesto ou qualquer meio simbólico.
Exemplos: Mostrar que está portando arma de fogo, fingir estar armado, simular arma ou portar
simulacro de arma de fogo.
CASUÍSTICA
Se o agente puxa e arrebenta o colar que a vítima está usando, subtraindo-o, será furto ou roubo?
DEPENDE:
• Se a violência é dirigida contra o objeto material a ser furtado e não contra a vítima, o
arrebatamento de inopino do objeto material, sem violência física contra a vítima,
configurará furto.
• Se a violência é empregada diretamente contra o sujeito passivo para intimidá-lo, ameaça-
lo, haverá roubo.
E A DENOMINADA TROMBADA?
A trombada pode ocorrer tanto no furto quanto no roubo, dependendo do meio de execução.
Um esbarrão ou toque no corpo da vítima, para confundi-la ou desviar sua atenção tipifica
o furto. A violência empregada diretamente contra a vítima, com o intuito de intimar,
ameaçar, é meio de execução do roubo.
SE O AGENTE EMPREGA VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA CONTRA A VÍTIMA,
QUE NÃO ESTÁ PORTANDO BENS, DINHEIRO etc., HAVERÁ CRIME DE ROUBO?
Ausente o objeto material, o roubo impossível (CP, art. 17):
O fato é atípico por inexistência a elementar coisa móvel alheia, podendo SUBSISTIR,
dependendo do resultado, crime contra a incolumidade pessoal (vida, integridade física, saúde ou
liberdade individual).
SE O AGENTE EMPREGA VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA CONTRA A VÍTIMA,
TENTANDO SUBTRAIR A CARTEIRA OU O DINHEIRO DE UM BOLSO DA CALÇA,
QUANDO ESSES BENS ESTÃO EM OUTRO BOLSO?
Diante da impropriedade relativa do objeto material, que circunstancialmente não estava
no local do ataque, mas em outro lugar (outro bolso), subsiste a tentativa de roubo.
Se o agente, prestes a iniciar a subtração da res for surpreendido, frustrada a tirada da coisa,
emprega violência ou grave ameaça contra a vítima, responderá de que modo?
• Por tentativa de furto e crime contra a pessoa, dependendo do resultado da violência
empregada, em concurso material.
Se o agente, após a subtração da res for surpreendido pela polícia e reagir, responderá de que
modo?
• Por furto consumado em concurso com o delito contra a pessoa, também dependendo do
resultado da violência empregada, e não por roubo impróprio.
TIPO SUBJETIVO
O roubo é punível apenas a título de dolo, exigindo-se ainda o elemento subjetivo do tipo, o
animus rem sibi habendi, como no furto, primeira parte do crime de roubo, figura complexa.
• No roubo próprio exige-se o elemento subjetivo do tipo contido na expressão para si ou
para outrem, que demonstra a exigência de intenção de posse definitiva, para si ou para
outrem.
• No roubo impróprio o elemento subjetivo do tipo é revelado pela expressão a fim de
assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
CONSUMAÇÃO
Consumam-se o roubo próprio ou o impróprio, empregado qualquer dos meios de execução, com
a mera inversão da posse, com a indisponibilidade da res pela vítima.
• A inversão da posse se dá nos mesmos moldes do crime de furto, quando o agente retira
a res da esfera de disponibilidade da vítima, que não tem mais disponibilidade sobre o bem,
independentemente de desfrutar da posse mansa e pacífica.
Súmula 582, STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante
emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição
imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica
ou desvigiada
1. ROUBO PRÓPRIO: Como no furto, discute-se as mesmas duas teorias sobre a consumação.
TEORIA AMOTIO OU APREHENSIO: SÚMULA Nº 582, STJ.
• Após empregar a violência, a grave ameaça ou a violência imprópria, o agente retira o bem
da esfera de vigilância da vítima, sendo irrelevante que desfrute da posse mansa e pacífica,
porque a vítima não tem mais a disponibilidade da coisa. É a posição adotada pelo colendo
Supremo Tribunal Federal.
TEORIA ABLATIO:
• Após empregar a violência, a grave ameaça ou a violência imprópria, o agente retira o bem
da esfera de vigilância da vítima, que não tem mais disponibilidade sobre a coisa,
desfrutando mansa e pacificamente de sua posse.
Trata-se de entendimento minoritário, defendido por alguns autores como Rogério Greco.
(posição minoritária)
2. ROUBO IMPRÓPRIO: Retirado o bem, o agente emprega violência ou grave ameaça para
assegurar sua impunidade ou a detenção da coisa alheia móvel para si ou para terceiro.
JURISPRUDÊNCIA: Configura roubo impróprio a conduta do agente que, surpreendido pela
vítima enquanto subtraía o “toca-CDs” no interior do veículo, passa a ameaçá-la com uma chave
de fenda e foge em seguida. (TJSP – Apelação Criminal 1465307/2 – 15ª Câmara Criminal – Rel.
Des. Poças Leitão – j. 16.02.2005).
TENTATIVA
ROUBO PRÓPRIO: Doutrina e jurisprudência amplamente dominantes admitem a tentativa.
a) Entendimento dominante nos colendos Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de
Justiça: Quando empregada a violência, a grave ameaça ou a violência imprópria, o agente não
consegue, por circunstâncias alheias à sua vontade, inverter a posse, não logra retirar o bem da
esfera de proteção e vigilância da vítima.
b) Entendimento minoritário: Quando empregada a violência, a grave ameaça ou a violência
imprópria, o agente retira o bem da esfera de proteção e vigilância da vítima invertendo a posse,
mas NÃO consegue desfrutar dele mansa e pacificamente
ROUBO IMPRÓPRIO: O roubo impróprio não admite tentativa, segundo entendimento
amplamente dominante na doutrina e na jurisprudência.
Se o agente empregar violência contra a pessoa ou grave ameaça, o roubo impróprio estará
consumado. Se não empregar esses meios de execução, o fato material se subsumirá ao crime de
furto, tentado ou consumado.
“ROUBO DE USO”
Diferentemente do que ocorre com o crime de furto, é amplamente dominante na doutrina e na
jurisprudência o entendimento que NÃO EXISTE “ROUBO DE USO”.
• A grave ameaça ou violência exercidas são incompatíveis com a intenção de restituir o bem;
• Os meios de execução, por si só, violam a objetividade jurídica secundária, a incolumidade
pessoal, em razão do que a conduta é típica, se amoldando ao crime de roubo.
“ROUBO INSIGNIFICANTE”
Diferentemente do acontece no crime e furto, é amplamente dominante na doutrina e na
jurisprudência o entendimento que NÃO EXISTE “ROUBO INSIGNIFICANTE”.
“Quanto ao pleito de reconhecido da atipicidade material da conduta imputada ao réu em razão
do pequeno valor da res furtivae, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça afasta a
aplicabilidade do princípio da insignificância em crimes cometidos mediante o uso de violência ou
grave ameaça, como o roubo. Precedentes.” HC 395.469/SP, Min. Rel. Ribeiro Dantas, 5ª Turma,
julgado em 20/06/2017, v.u..
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ROUBO MAJORADO CP, ART. 157, §2°
§2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
I – (revogado pela Lei 13654/2018);
II - Se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância;
IV - Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou
para o exterior;
V - Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade;
VI – Se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego;
VII – Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca (inciso incluído pela
Lei 13.964/2019 – “Pacote Anticrime”)
A disposição prevê a figura do roubo próprio ou impróprio majorada por determinadas
circunstâncias legais especiais ou específicas.
I - revogado pela lei 13.654/2018.
II - Se há o concurso de duas ou mais pessoas: Trata-se do concurso de pessoas. • Vide furto
qualificado: CP, art. 155, §4º, IV.
III - Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
• A finalidade é a maior proteção da vítima que profissionalmente transporta valores, e
portanto está mais exposta, e não o patrimônio.
• Exige-se que a vítima esteja em serviço de transporte de valores de terceiros, E que o
agente tenha conhecimento disso. Faltando um desses requisitos cumulativos, afasta-se a
majorante.
• O termo valor não se refere a qualquer parcela do patrimônio, mas ao transporte de
dinheiro, moedas estrangeiras, ouro, joias, pedras preciosas, selos, título ao portador etc.
IV - Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou
para o exterior; • Vide furto qualificado: CP, art. 155, §5º.
V - Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade:
• Essa causa de aumento de pena passa a ser crime hediondo ou equiparado, conforme artigo
1º, inciso II, letra a, da Lei 8.072/90, com a nova redação dada pela Lei 13.964/2019
(Pacote Anticrime).
APLICA-SE A MAJORANTE:
• Quando a restrição de liberdade ocorrida durante a execução do roubo, por tempo
juridicamente relevante, excessivo para a consumação do crime, autoriza a incidência dessa
causa de aumento de pena.
Ex. agente que subtrai o veículo da vítima e a carrega até um local ermo, onde pode abandona-la
sem correr o risco de ser abordado pela polícia. TJDF – Apel. 2000110376345 – 1ª Turma
Criminal, Rel. Des. Edson Alfredo Smaniotto – j. 30.06.2015.
Duas hipóteses de incidência da majorante citadas pela doutrina:
1. Restrição de liberdade como meio de execução do roubo por tempo juridicamente relevante;
• No momento da abordagem a vítima conduzia seu veículo, quando o recorrente e seus
comparsas a abordaram e determinaram que ela se acomodasse no banco traseiro. Era
perfeitamente possível que a subtração do automóvel e de seus pertences ocorresse, sem
que ela fosse levada pelos agentes e mantida por certo espaço de tempo sob a mira de uma
arma de fogo e sofrendo ameaças dos assaltantes. Desse modo, verifica-se que a ameaça e
a privação de sua liberdade extrapolaram aquela inerente ao roubo.
2. Restrição de liberdade da vítima como garantia do agente contra ação policial.
CASUÍSTICA:
Se mesmo após a consumação do delito de roubo o agente continua privando a vítima de sua
liberdade, exigindo resgate, responderá de que modo?
• Caracteriza também o crime autônomo de extorsão mediante sequestro (CP, art. 159).
• Aplica-se as regras do concurso material, porque além de não haver unidade de ações, não
há continuidade delitiva; a despeito de se tratar de infrações patrimoniais, do mesmo
gênero, não são da mesma espécie, requisito exigido pelo artigo 71, do Código Penal.
TEMPO JURIDICAMENTE RELEVANTE: SIGNIFICADO.
• Somente admite-se a causa de aumento de pena em situações onde o tempo e a finalidade
da privação de liberdade são maiores do que o necessário para a execução do crime.
• Quando a privação de liberdade é estritamente necessária à execução do crime, não há
incidência dessa majorante.
• Para incidir a causa de aumento de pena, é necessário que o agente restrinja a liberdade da
vítima por tempo juridicamente relevante.
Quando a privação da liberdade da vítima ocorrer após a subtração, há duas orientações no sentido
da pluralidade de crimes:
• Haverá concurso material – CP, art. 69 (RT, 676/284);
• Haverá concurso formal – CP, art. 70 (RJTJSP, 78/401).
ARMA BRANCA:
• Pode ser conceituada como o artefato cortante ou perfurante, normalmente constituído
por peça em lâmina, alongada, cuja largura é menor que o cumprimento, e que possui
forma arredondada.
Exemplos: faca, canivete, punhal, sabre, estilete e tesoura.
§2º-A - A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018).
I – Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II – Se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum.
I: Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; Refere-se à arma de fogo de
uso permitido, porque a de uso restrito ou proibido está no
§2º-B. “Arma de fogo de uso permitido é aquela cuja utilização é autorizada a pessoas físicas, bem
coma a pessoas jurídicas, de acordo com as normas do Comando do Exército e nas condições
previstas na Lei 10.826/2003”, conforme o artigo 10, do decreto 5.123/2004.
ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO: A Portaria 1.222, de 12 de agosto de 2019, do
Comandante do Exército: Dispões sobre parâmetros de aferição e listagem de calibres nominais
de armas de fogo e das munições de uso permitido e restrito e dá outras providências.
A razão da majorante reside na maior probabilidade de dano à incolumidade física que o emprego
da arma de fogo resulta à vítima.
EM SUMA: Exige-se que o artefato tenha potencialidade lesiva e eficácia vulnerante.
Suficiente que o agente porte a arma de fogo de uso permitido ostensivamente, perceptível pela
vítima, para que o fato seja agravado.
Se o agente faz menção de estar armado (mímica), SEM exibir o artefato, afasta-se a causa de
aumento de pena.
• Desnecessário que o agente empunhe a arma de fogo em direção à vítima
• Indispensável que a arma de fogo tenha potencialidade ofensiva E eficácia vulnerante.
Afasta-se a causa de aumento de pena:
• Emprego de armas brancas, previstas no §2º, inciso VII;
• Emprego de simulacro (imitação de arma de fogo), porque fere o princípio constitucional
da legalidade;
• Emprego de arma de fogo inapta a disparo, AINDA que municiada;
• Emprego de arma de fogo desmuniciada, AINDA que apta a disparos.
Mantem-se a causa de aumento de pena:
• Indispensável a perícia técnica, SE a arma de fogo for apreendida;
• Desnecessário a apreensão da arma de fogo, cujo emprego pode ser suprido por outros
meios de prova, como as palavras da vítima, a oitiva de testemunhas ou a confissão do réu.
POSIÇÃO DOMINANTE NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: Nos termos da
jurisprudência desta Corte, são prescindíveis a apreensão e a perícia na arma de fogo para a
incidência da majorante do § 2º, I, do art. 157 do CP, quando existirem nos autos outros elementos
de prova que comprovem a sua utilização no roubo, como na hipótese, em que há relato da vítima
sobre o emprego do artefato.
MANTEM-SE A CAUSA DE AUMENTO DE PENA:
• Se a arma não for apreendida e o roubador alegar que se tratava de simulacro, inverte-se o
ônus da prova, incumbindo a ele demonstrar que não se trata de arma de fogo;
• Se a arma não for apreendida e o roubador alegar que se tratava de simulacro, inverte-se o
ônus da prova, incumbindo a ele demonstrar que não se trata de arma de fogo.
• Se o acusado sustentar a ausência de potencial lesivo da arma empregada para intimidar a
vítima, será dele o ônus de produzir prova, nos termos do art. 156 do Código de Processo
Penal. Assim, na espécie, caberia ao paciente demonstrar que a arma era desprovida de
potencial lesivo, o que não ocorreu na situação narrada na inicial
MANTEM-SE A CAUSA DE AUMENTO DE PENA:
• Exibir a arma de fogo, independentemente de impunha-la;
II – Se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum. • Vide furto qualificado – CP, art. 155, §4º-A
Essa causa de aumento de pena passou a ser crime hediondo ou equiparado, conforme artigo 1º,
inciso II, letra b, 1ª parte, da Lei 8.072/90, com a nova redação dada pela Lei 13.964/2019 (Pacote
Anticrime). II – Roubo b – circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, §2°-A, I) (...).
• Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito
ou proibido, aplica-se a em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Parágrafo incluído
pela Lei 13.964/2019 – Pacote Anticrime).
ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO: Armas de uso restrito são aquelas que somente
podem ser usadas pelas Forças Armadas, pela polícia e por pessoas físicas ou jurídicas habilitadas
e autorizadas pelo Exército. São fuzis, metralhadoras e determinadas carabinas e pistolas,
dependendo do calibre das munições dos armamentos. Ex. Cal. 9 mm, Cal. 10 mm, Cal. 40, Cal.
357, Cal. 44 Magnum, Cal. 45 etc.
ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO: São as de numeração raspada, suprimida ou alterada,
ou ainda sem qualquer sinal de identificação. (Código Penal Anotado - Guaracy Moreira Filho).
Essa causa de aumento de pena passou a ser crime equiparado a hediondo, conforme artigo 1º,
inciso II, letra b, in fine, da Lei 8.072/90, com a nova redação dada pela Lei 13.964/2019 (Pacote
Anticrime). II – Roubo b – (...) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art.
157, §2°-B).
• A indica que a fração de aumento deve ser fundamentada na relevância E influência que
as causas de aumento de pena tenham exercido no crime em si, para a produção do
resultado.
• A aplicação da norma depende da minuciosa análise do caso concreto, e não de simples
cálculo proporcional entre a quantidade de causas de aumento e as frações permitidas pelo
legislador.
• O Superior Tribunal de Justiça tem afastado acréscimos superiores ao mínimo quando a
fundamentação se limite ao número de majorantes, aplicando o critério meramente
aritmético. STJ HC 313.902/SP, Relator Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, 5ª Turma, julgado em 20/06/2017, DJe 30/06/2017.
CRIME ÚNICO OU CONCURSO DE CRIMES
TEORIA DO BEM JURÍDICO: prática de mais de um delito patrimonial, porque diversos
patrimônios foram atacados.
TEORIA DA CONDUTA HUMANA: crime único, sob a ótica do roubador não há
individualização de patrimônios, mas maximização da subtração. De fato, o roubo a ônibus, e neste
ponto específico não há divergência com aqueles que sustentam o concurso formal, cuida-se de
uma única conduta humana de relevância penal. Não se trata propriamente de um assalto a diversas
pessoas precisas e anteriormente individualizadas.
Antes de tudo, os roubadores perpetram o assalto em um espaço coletivo, sabendo apenas que a
pluralidade de vítimas, quaisquer que sejam e sem a exata consciência do montante, servirá
somente para potencializar os proveitos da empreitada criminosa. A ideia é assaltar um espaço que,
por sua própria existência, permitirá, com uma única realização, alcançar uma soma significativa
de bens, independentemente da individualidade proprietária. Não parece ser sustentável o
concurso material, ou seja, a pluralidade de ações, nesses casos em que o roubo é
perpetrado em espaços de interação coletiva nos quais a individualidade é meramente
aleatória. A distinção entre o assalto a um automóvel e a um ônibus distingue-se apenas no tocante
à facilidade na obtenção criminosa de um produto de maior vulto. Inegavelmente, tanto em um
quanto em outro caso, a ação é única, ainda que fracionada em inúmeros atos.
O concurso formal – repisa-se – deve também ser afastado por uma questão de coerência, já que
se assim não fosse deveria ser considerado o mesmo concurso no roubo à residência com diversos
familiares ou, então, na vítima única que traz consigo bens que a outros pertencem. Alamiro
Velludo Salvador Netto
PLURALIDADE DE MORTES:
• Na hipótese de mais de uma pessoa morrer durante a prática do crime, há na doutrina e na
jurisprudência dois entendimentos:
Ex.: matar marido e mulher para subtrair o veículo do casal.
a) Trata-se de crime único, e a pluralidade de mortes deverá ser considera no momento da aplicação
da pena-base (Cezar Roberto Bitencourt); esse posicionamento prevalece no Supremo Tribunal
Federal.
b) Concurso de crimes, porque cada morte se traduz numa infração penal autônoma (Rogério
Greco); É a posição atual do Superior Tribunal de Justiça.
LATROCÍNIO: COMPETÊNCIA PARA CONHECER E JULGAR SÚMULA 603, DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:
• A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do
tribunal do júri.
• O latrocínio tutela dois bens jurídicos: o patrimônio e a vida.
A natureza patrimonial do delito, no qual o homicídio, resultado qualificador, é meio para o agente
alcançar sua finalidade (subtração do patrimônio), determina a competência do juiz singular, para
conhecer e julgar, porque o Tribunal do Júri é competente para conhecer e julgar os crimes dolosos
contra a vida, nos termos do artigo 5º, inciso XXXVIII, letra d, da Constituição Federal.
DIFERENCIAÇÃO ENTRE LATROCÍNIO TENTADO E ROUBO QUALIFICADO
PELA LESÃO CORPORAL GRAVE:
Não obtido o resultado morte, o agente responderá por latrocínio tentado ou por roubo
qualificado pela lesão corporal de natureza grave, dependendo do elemento subjetivo:
• Demonstrado o dolo de matar, o animus necandi do agente para roubar, responderá por
latrocínio tentado, ainda que a vítima suporte lesões corporais de natureza grave.
• O agente responderá por roubo qualificado pela lesão corporal de natureza grave quando
elas foram culposas, OU quando ficar demonstrado que a intenção era lesionar a
integridade física, o laedendi animus.
ATENÇÃO: Ocorrendo a morte, o agente responderá por esse resultado qualificador
independente da intenção de causá-la, de ter agido com dolo ou culpa.
Dolo na subtração E Dolo OU Culpa no resultado morte.
CONTINUIDADE DELITIVA ENTRE ROUBO E LATROCÍNIO:
IMPOSSIBILIDADE.
A jurisprudência dominante entende que apesar de se tratar de crimes do mesmo gênero (crimes
contra o patrimônio), diferem quanto à espécie (patrimônio E patrimônio + vida), motivo pelo
qual não se é possível reconhecer a continuidade delitiva entre eles.
O crime continuado (CP, art. 71) pressupõe, dentre os seus requisitos objetivos, a utilização do
mesmo modo de execução, o que não ocorre entre delitos que atentam contra diferentes
objetividades jurídicas, no caso o patrimônio e integridade física (roubo) e patrimônio e vida
(latrocínio).
Essa qualificadora passou a ser crime hediondo ou equiparado, conforme artigo 1º, inciso II, letra
c, in fine, da Lei 8.072/90, com a nova redação dada pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime). II
– Roubo c – (ou) ou morte (art. 157, §3°).