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CAPÍTULO 01 - DIREITO CIVIL – PARTE GERAL -

1º SEMESTRE - UNIFUNEC - PROF.: RICARDO GARCIA

PESSOAS NATURAIS:

1) Pessoa Natural:

1.1) Conceito: é o ser humano considerado sujeito de direitos e deveres (art. 1º – CC).
Para ser pessoa, basta existir;

1.2) Significado da palavra PESSOA:

a) pessoa vem do latim persona, que significa ressoar. Sob o prisma do Direito, pessoa é
o ente a que se atribuem direitos e obrigações, ou seja, é sinônimo de sujeito dos
direitos;

1.3) Pessoa:

a) todo ser humano é pessoa, pois não há homem que seja excluído da atividade
jurídica;

b) assim, todas as criaturas humanas são portadoras de direitos;

c) o detalhe é que certas criações sociais também participam da vida jurídica como
sujeitos dos direitos, isto é, como pessoas;

d) por isso existem duas categorias de pessoas: as naturais e as jurídicas;

1.4) A pessoa natural (pessoa física, pessoa individual ou pessoa singular):

a) trata-se do ser humano, o homem;

b) homem este possuidor de capacidade para adquirir direitos e assumir obrigações,


bastando para isso, que tenha nascido com vida;

c) ao nascer com vida existe-se como pessoa;

1.5) Juridicamente, pessoa é a entidade dotada de personalidade à qual o ordenamento


confere direitos e obrigações. (Roberto Senise Lisboa);

1.6) Pessoa Natural (ou física): o ser humano considerado como sujeito de direitos e
deveres;

1.7) Pessoa Jurídica: entidades a que a lei empresta personalidade jurídica, criando vida
própria para agir no mundo jurídico;
1.8) As pessoas (natural e jurídica): são sujeitos de uma relação jurídica. A seu turno,
uma relação jurídica é um vínculo entre duas ou mais pessoas (em pólos distintos)
ligados por um objeto (bem da vida), com poderes, deveres, ônus, uma em relação à
outra.;

1.9) Aquisição da Personalidade Jurídica:

1.9.1) A pessoa natural adquire personalidade do nascimento com vida (CC, 2º); mas a
lei coloca a salvo os direitos do nascituro (CC, 2º);

1.9.2) A pessoa jurídica de direito privado adquire personalidade a partir do registro nos
órgãos competentes (CC, 45). A pessoa jurídica de direito público é criada e adquire
personalidade por força de lei;

2) Capacidade:

2.1) Conceito: é a maior ou menor extensão dos direitos de uma pessoa, sendo é a
aptidão para o exercício de atos e negócios jurídicos. É, portanto, a medida da
personalidade;

2.2) Espécies:

a) de direito ou de gozo, que é a aptidão que todos possuem (art. 1º – CC);

b) de fato ou de exercício, que é a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil;

c) plena (capacidade de ação): capacidade de fato + de direito;

d) limitada: só capacidade de direito;

I) Obs.: Os recém-nascidos e os amentais sob curatela têm somente capacidade de


direito (p. ex.: podem herdar, mas para propor qualquer ação em defesa da herança
precisam ser representados pelos pais e curadores);

2.2.1) Legitimação:

a) é a autorização legal para a prática de ato ou negócio jurídico;

b) a pessoa é capaz para os atos da vida civil, mas, em relação a determinado negócio,
não poderá participar (p.ex.: o tutor não pode comprar bens do tutelado; o pai para
vender ao filho depende da anuência dos demais filhos e cônjuge – art. 496 – CC);

3) Incapacidade:

3.1) Conceito: é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil, imposta pela lei
somente aos que, excepcionalmente, necessitam de proteção, pois a capacidade é a
regra;
3.2) Espécies:

a) absoluta: a que acarreta a proibição total do exercício dos atos da vida civil (art. 3º –
CC). O ato somente poderá ser praticado pelo representante legal do incapaz, sob pena
de nulidade (art. 166, I – CC). É o caso dos menores de 16 anos (art. 3 – CC);

b) relativa: a que permite que o incapaz pratique ato da vida civil, desde que assistido,
sob pena de anulabilidade (art. 171, I – CC). É o caso dos maiores de 16 anos e
menores de 18 anos, dos ébrios habituais e toxicômanos dos que, por causa transitória
ou permanente, não poderem exprimir sua vontade e dos pródigos (art. 4, I a IV – CC).
Certos atos, porém, podem os maiores de 16 anos e menores de 18 anos praticar sem a
assistência de seu representante legal (p. ex.: fazer testamento – art. 1860, parágrafo
único – CC; ser testemunha – art. 228, I – CC; ser eleitor);

INCAPACIDADE ABSOLUTA (art. INCAPACIDADE RELATIVA (art. 4º -


3º - CC) CC)

menor de 16 anos menor de 18 anos e maior de 16 anos

ébrios habituais e viciados em tóxicos;

aqueles que por causa transitória ou


permanente, não podem exprimir sua
vontade;

Pródigo

3.2.1) Curatela de pessoas capazes (deficientes) e incapazes:

a) Procedimento da curatela (arts. 747 e seguintes – CPC e Lei 6015/73):

I) sentença declaratória de uma situação ou estado anterior

II) deve ser registrada em livro especial no Cartório de Registro Civil (art. 92 – LRP),
para assegurar a eficácia erga omnes;

III) STF tem proclamado a nulidade de ato praticado pelo enfermo ou deficiente mental,
mesmo que a incapacidade seja desconhecida da outra parte e só protegido o adquirente
de boa-fé com a retenção do bem até a devolução do preço pago, devidamente corrigido,
e a indenização das benfeitorias (REsp 296.895, 3ª T., rel. Min. Menezes Direito, DJU,
6-5-2004);

b) Tomada de decisão apoiada (art. 1783 A – CC):

I) A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege
pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de
sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil,
fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua
capacidade;

II) Aplica-se aos casos de pessoas que possuem algum tipo de deficiência, mas podem,
todavia, exprimir a sua vontade (p. ex.: pessoa com síndrome de Down);

III) O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada,
com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput do art.
1783 A – CC (art. 1783 A, parágrafo 2º - CC);

3.2.2) A Situação Jurídica dos Índios:

a) o Código Civil de 1916 utilizava a expressão silvícolas (habitantes da selva), e tinha


os índios como relativamente incapazes, sujeitando-os a regime jurídico especial;

b) a Constituição Federal passou a se valer da expressão índio para se referir a esses


habitantes da selva, dedicando-lhes um capítulo especial (artigos 231 a 232 – CF/88);

c) o Código Civil de 2002 seguiu essa nomenclatura, não mais regulando a capacidade
civil dos índios, remetendo inteiramente a matéria à lei especial;

d) a Lei 6.001, de 19.12.1973 regula a situação jurídica dos índios, e é conhecida como
Estatuto do Índio;

3.2.3) A Tutela Estatal dos Índios:

a) FUNAI – criada pela lei 5.371/67, para exercer a tutela dos índios em nome da
União;

b) constitui-se a tutela dos índios em tutela estatal;

c) o que vive nas comunidades não integradas à civilização já nasce sob tutela;

d) são requisitos para a aquisição de capacidade pelo índio:

I) - idade mínima de 21 anos;

II) - conhecimento da língua portuguesa;


III) - habilitação para o exercício de atividade útil à comunidade nacional;

IV) - razoável compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional;

V) - seja liberado por ato judicial, ou por ato da FUNAI homologado pelo juiz;

3.2.4) Os índios são classificados em:

a) isolados;

b) em vias de integração;

c) integrados;

3.2.5) Além da FUNAI, o Ministério Público Federal funcionará nos processos em que
haja interesses dos índios, propondo, inclusive, medidas judiciais necessárias à proteção
de seus direitos (CF, 129, V);

3.3) Cessação da incapacidade: cessa a incapacidade quanto desaparece a sua causa.

3.3.1) Se esta for a menoridade, cessará em dois casos:

a) pela maioridade, aos 18 anos;

b) pela emancipação, que pode ser voluntária, judicial e legal (art. 5º, e parágrafo único
– CC), sempre irrevogável, mas sujeito a anulação e nulidade;

I) voluntária: concedida pelos pais, se o menor tiver 16 anos completos; deve ser
concedia por ambos os pais, ou por um deles na falta do outros, justificando ao juiz, e se
divergirem entre si, caberá ao juiz decidir; quanto a forma, é por instrumento público
(não depende de homologação judicial); deve ser registrada em Cartório de Registro
Civil (não produz efeitos antes do registro – ar. 91, parágrafo único - LRP); não produz
efeito a emancipação voluntária se está for maliciosa (p. ex.: isentar os pais da
obrigação de indenizar as vítimas dos atos ilícitos praticados pelo menor emancipado -
STF);

II) judicial: é a concedida por sentença, ouvido o tutor, em favor do tutelado que já
completou 16 nos; deve ser registrada em Cartório de Registro Civil, devendo o juiz
comunicar de oficio (não produz efeitos antes do registro – ar. 91, parágrafo único -
LRP); se o menor estiver sob a tutela, deverá requerer sua emancipação o juiz, que
concederá por sentença, depois de verificar a conveniência; o tutor não pode emancipar
o menor

III) legal: é a que decorre de determinados fatos previstos em lei (p. ex.: casamento,
emprego público efetivo, colação de grau, economia própria), tendo o menor 16 anos
completos; não depende de registro e produzirá efeitos desde logo; união estável não é
motivo para conceder emancipação (Ap. 70.042.308.163, 7º Câmara, j. 29/6/2011,
TJ/RS);

3.3.2) Se a causa da incapacidade for doença ou enfermidade, cessará a incapacidade


quando desaparecer a sua causa. É NECESSÁRIO PROCESSO DE
LEVANTAMENTO DA INTERDIÇÃO;

4) Começo da personalidade natural:

a) a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida – o que se constata


pela respiração (docimasia hidrostática de Galeno) – art. 53, parágrafo 2º - LRP
(6015/73);

b) antes do nascimento não há personalidade.

c) mas o art. 2º – CC ressalva os direitos do nascituro, desde a concepção.

d) nascendo com vida, ainda que venha a falecer instantes depois, a sua existência, no
tocante aos seus interesses, retroage ao momento de sua concepção.

e) encontrando-se os seus direitos em estado potencial, sob condição suspensiva, o


nascituro pode praticar atos necessários à sua conservação, como titular de direito
eventual (art. 130 – CC);

f) legitimidade para promover ação de alimentos gravídicos (art. 60 Lei 11.804/2008):


tem legitimidade ativa a gestante, para proporcionar um nascimento com dignidade ao
ser concebido, e com o nascimento com vida, os alimentos gravídicos serão convertidos
em pensão alimentícia em favor do recém-nascido, com a mudança automática da
legitimidade ativa;

5) Extinção da pessoa natural:

5.1) De acordo com o CC, artigo 6º, extingue-se a pessoa natural com a morte, podendo
ela ser presumida em alguns casos;

5.2) Espécie de morte:

a) morte real (art. 6º, primeira parte – CC);

b) morte simultânea ou comoriência (art. 8º – CC);

c) morte presumida (art. 6º, segunda parte – CC);

d) morte civil (art. 1816 – CC);

5.3) Morte real:

a) apontada no artigo 6º do CC como responsável pelo término da existência da pessoa


natural;
b) sua prova se faz:

I) pelo atestado de óbito (mediante a apresentação do corpo para exame pelo médico
para confirmar a morte);

II) ou por ação declaratória de morte presumida, sem decretação de ausência (CC, art.
7º);

III) ou ainda por justificação de óbito (LRP – 6.015/73, art. 88);

c) ocorre com o diagnóstico de paralisação da atividade encefálica (Lei 9434/97, 3º);

d) extingue a capacidade e dissolve tudo;

e) é lavrado certidão de óbito, com base no atestado de óbito:

I) A extinção da pessoa não é total, pois em alguns casos a lei o protege mesmo depois
da morte, não obstante tenha perdido a personalidade jurídica (p. ex.: vale seu
testamento, é devido respeito ao cadáver, etc...);

5.4) Morte simultânea ou comoriência (art. 8º -CC):

a) artigo 8º - CC. Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se


podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão
simultaneamente mortos;

b) só interessa saber quem morreu primeiro se uma das pessoas mortas for herdeira ou
beneficiária da outra;

c) principal efeito da comoriência é que, não havendo tempo ou oportunidade para a


transferência de bens entre uma e outra pessoa, uma não é herdeira da outra (p. ex.: os
colaterais da esposa ficarão com seus bens, e colaterais do esposo ficarão com os bens
dele);

d) não precisa ser no mesmo local;

5.5) Morte Civil:

a) existiu na Idade Média, permanecendo até a Idade Moderna;

b) eram os condenados a penas perpétuas, religiosos recolhidos;

c) as pessoas eram consideradas, pela lei, como mortas, embora estivessem vivas (p. ex.:
o herdeiro afastado da herança por indignidade, como se morto fosse antes da abertura
da sucessão, mas somente para afastá-lo da herança, e com isto, transmite a herança
direto aos filhos do herdeiro indigno – art. 1816 – CC);

d) a morte civil foi completamente abolida pelas legislações modernas;

e) no Brasil, segundo Carlos Roberto Gonçalves, há um resquício (art. 1816 - CC);


5.6) Morte presumida:

a) morte presumida ou ficta é a extinção da pessoa física declarada por decisão judicial
decorrente da falta de indício de materialidade do fato, ou seja, pela ausência de
cadáver. (Roberto Senise Lisboa);

b) a morte presumida pode ser com ou sem declaração de ausência;

c) quanto aos ausentes, a presunção da morte ocorrerá nos casos em que a lei autorizar a
abertura da sucessão definitiva (art. 6º, 2ª parte - CC);

6) Morte presumida:

6.1) SEM DECRETAÇÃO DE AUSÊNCIA:

a) por ação declaratória de morte presumida, nas hipóteses do artigo 7º do CC:

I) se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida (p. ex.:
catástrofe: avião que caiu no mar ou explodiu);

II) se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até
dois anos após o término da guerra (p. ex.: viagem ou trabalho em pais em guerra;
integrante de força da paz OTAN ou ONO);

III) a declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois
de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do
falecimento. (art. 7º, § único - CC);

b) por justificação de óbito (LRP – Lei 6015/73, art. 88):

I) procedimento de justificação: destinado a suprir a falta de atestado de óbito em razão


da falta de corpo;

II) pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer


catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível
encontrar-se o cadáver para exame;

III) será também admitida a justificação no caso de desaparecimento em campanha,


provados a impossibilidade de ter sido feito o registro nos termos do artigo 85 da LRP e
os fatos que convençam da ocorrência do óbito. (LRP, art. 88, § único);

6.2) COM DECRETAÇÃO DE AUSÊNCIA:

a) a ausência está regulada nos artigos 22 a 39 do Código Civil;

b) o procedimento a ser utilizado na ação de ausência é o previsto nos artigos 744 a 745
– CPC/15;

6.3) CONCEITO DE AUSENTE:


a) ausente é a pessoa que desaparece de seu domicílio sem deixar paradeiro e sem
deixar um representante ou procurador para administrar os seus bens (CC, 22).

b) p. ex.: não estava em local de risco: saiu para comprar cigarro e não voltou;

c) ausência é um estado de fato.

6.4) O processo de ausência possui 03 (três) fases:

a) 1ª fase: curadoria dos bens (CC, arts. 22/25)

b) 2ª fase: sucessão provisória (CC, arts. 26/36)

c) 3ª fase: sucessão definitiva (CC, arts. 37/39)

6.5) 1ª FASE: CURADORIA DOS BENS DO AUSENTE

a) legitimidade para requerer a ausência (CC, art. 24):

I) qualquer interessado;

II) Ministério Público;

b) será nomeado curador (CC, art; 25 e §§):

I) o cônjuge do ausente, sempre que não separado judicialmente, ou de fato por mais de
02 anos antes da declaração da ausência;

II) aos pais (CC, art. 25, § 2º), na falta do cônjuge;

III) aos descendentes, na falta dos anteriores (nesse caso, os descendentes mais velhos
preferem aos mais novos – CC, art. 25, § 2º);

IV) na falta do cônjuge, de pais e de descendentes, o juiz nomeará um curador (CC, art.
25, § 3º);

V) o juiz, ao nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações (CC, 24);

VI) durante 01 ano da sentença que declara a ausência, serão publicados editais, de 02
em 02 meses, convocando o ausente a comparecer e assumir a posse de seus bens
(CPC/15, art. 745);

c) cessará a curadoria (CPC/15, art. 745, parágrafo 1º):

I) pelo comparecimento do ausente;

II) pela certeza da morte do ausente;

III) pela sucessão provisória;

d) prazo de duração: 01 à 03 anos;


6.6) 2ª FASE: SUCESSÃO PROVISÓRIA

a) decorrido 01 ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante
ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se
declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão;

b) os bens são entregues aos herdeiros, porém, em caráter provisório e condicional, ou


seja, desde que prestem garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas
equivalentes aos quinhões respectivos, em razão da incerteza da morte do ausente;

c) o herdeiro que não prestar a caução, não será imitido na posse dos bens, ficando o seu
quinhão sob a administração do curador ou de outro herdeiro que o juiz designar e que
preste dita garantia (CC, 30, § 1º);

d) o excluído da posse provisória poderá, contudo, justificando falta de meios, requerer


lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria (CC, 34);

e) os ascendentes (pais, avós, bisavós), os descendentes (filhos, netos, bisnetos) e o


cônjuge, provada a qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia,
entrar na posse dos bens do ausente (CC, 30, § 2º);

f) os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou


hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína (CC, art. 31);

g) o ascendente, descendente ou cônjuge, que for sucessor provisório do ausente fará


seus todos os frutos e rendimentos dos bens que couberem a este; os demais sucessores
deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, na forma do disposto no artigo
29 do CC, sob fiscalização do Ministério Público e prestação anual de contas ao juiz
(CC, art. 33);

h) se o ausente aparecer, ficando provado que a ausência foi voluntária e injustificada,


perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos (CC, 33, § único);

i) se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse


provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando,
todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a
seu dono (CC, 36);

j) cessação da sucessão provisória (CPC/15, art. 745, parágrafo 3º; CC, arts. 37/38):

I) pelo comparecimento do ausente;

II) pela certeza da morte do ausente;

III) pela abertura da sucessão definitiva;

l) prazo de duração: aproximadamente 10 anos;

6.7) 3ª FASE: SUCESSÃO DEFINITIVA


a) é com a abertura da sucessão definitiva que a lei reconhece a morte presumida do
ausente;

b) 10 anos depois de passada em julgado a sentença que concedeu a abertura da


sucessão provisória, poderão os interessados requerer a abertura da sucessão definitiva;

c) poderá ser requerida a abertura da sucessão definitiva, antes dos 10 anos do trânsito
em julgado da sentença que concedeu a abertura da sucessão provisória, se o ausente
contar 80 anos de idade, e de 05 anos datam suas últimas notícias (CC, art. 38);

d) aberta a sucessão definitiva, os bens passam em definitivo à posse dos herdeiros e


sucessores, levantando-se as cauções prestadas quando da abertura da sucessão
provisória (CC, art. 37);

e) se o ausente retornar nos 10 anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou


algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele (ausente) ou estes (herdeiros)
haverão só os bens existentes no estado em que se encontrarem, os sub-rogados, em seu
lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens
alienados depois daquele tempo (CC, art. 39);

I) observação: alguns autores chamam essa fase de sucessão quase definitiva,


justamente porque se o ausente retornar depois da abertura da sucessão definitiva, ele
ainda terá direito aos bens, conforme descreve o artigo 39 do CC;

f) se o ausente não retornar nesses 10 anos, e nenhum interessado requerer a abertura da


sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do
Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao
domínio da União, quando situados em território federal (CC, 39, § único).

7) Direitos da personalidade (arts. 11 a 21 – CC):

7.1) Conceitos:

I) são direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja, a sua
integridade física (p. ex.: vida, corpo), intelectual e moral. Carlos Roberto Gonçalves;

II) direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja, a sua
integridade física (vida, alimentos, próprio corpo vivo ou morto, corpo alheio vivo ou
morto, partes separadas do corpo vivo ou morto); a sua integridade intelectual
(liberdade de pensamento, autoria científica, artística e literária); e a sua integridade
moral (honra, recato, segredo profissional e doméstico, identidade pessoal, familiar e
social).” Maria Helena Diniz;

III) direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu
aspecto físico, moral e intelectual.” Francisco Amaral;

7.2) Características: os direitos da personalidade são inalienáveis, irrenunciáveis,


imprescritíveis, absolutos (oponíveis erga omnes), impenhoráveis e vitalícios;
I) intransmissibilidade e irrenunciabilidade (art. 11 - CC):

a) acarretam a indisponibilidade dos direitos da personalidade. Não podem os seus


titulares deles dispor, transmitindo-os a terceiros, renunciando ao seu uso ou
abandonando-os, pois nascem e se extinguem com eles, dos quais são inseparáveis;

b) alguns atributos da personalidade, entretanto, admitem a cessão de seu uso, como a


imagem, que pode ser explorada comercialmente.

c) por isso, a indisponibilidade não é absoluta, mas relativa;

II) absolutismo: é oponível erga omnes (contra todos);

III) não-limitação: é ilimitado o número de direitos da personalidade, visto ser


impossível imaginar-se um numerus clausus nesse campo. Não se limitam eles aos que
foram expressamente mencionados e disciplinados no novo diploma (p. ex.: direito aos
alimentos, planejamento familiar, leite materno, velhice digna, etc).;

IV) imprescritibilidade: não se extinguem pelo uso ou decurso do tempo, nem pela
inércia na pretensão de defendê-los. O direito à reparação civil pelo dano, contudo, está
sujeito aos prazos prescricionais estabelecidos em lei, por ter caráter patrimonial;

V) impenhorabilidade: por serem indisponíveis, não podem ser penhorados; contudo,


por ser a indisponibilidade relativa, podendo alguns direitos ter o seu uso cedido para
fins comerciais, mediante retribuição pecuniária, como o direito autoral e o de imagem,
os reflexos patrimoniais dos referidos direitos podem ser penhorados (p. ex.: o lucro
com a cessão);

VI) não-sujeição a desapropriação: por serem inatos, e se ligarem à pessoa humana de


forma indestacável, não podem ser desapropriados (não podem ser retirados contra a
vontade, nem o seu exercício sofrer limitações – art. 11 - CC), p. ex.: em execução de
dívida, responde o patrimônio do devedor, não podendo ser desapropriados os direitos
da personalidade;

VII) vitaliciedade: nascem e morrem com a pessoa, por isso são vitalícios. Mesmo após
a morte, todavia, alguns direitos da personalidade são resguardados (p. ex.: o respeito ao
morto, à sua honra ou memória e ao seu direito moral; quando alguém ofende o falecido
no velório, a família, por reflexo é a lesada moralmente);

7.3) Disciplina no Código Civil:

I) a CF trata da reparação aos direitos da personalidade no artigo 5º, inciso X, ao


estabelecer: ‘são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação.’

II) o artigo 52 – CC determina que se aplique ‘às pessoas jurídicas, no que couber, a
proteção dos direitos da personalidade.’
III) O Código Civil dedicou um capítulo inteiro aos direitos da personalidade, visando à
salvaguarda deles, disciplinando:

a) os atos de disposição do próprio corpo (art. 13 e 14 – CC);

b) o direito â não submissão a tratamento médico de risco (art. 15 – CC);

c) o direito ao nome e ao pseudônimo (arts. 16 a 19 – CC);

d) a proteção a palavra e a imagem (art. 20 – CC);

e) a proteção a intimidade (art. 21 – CC);

7.4) DA PROTEÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

a) o respeito à dignidade da pessoa humana encontra-se em primeiro plano, entre os


fundamentos constitucionais pelos quais se orienta o ordenamento jurídico brasileiro na
defesa dos direitos da personalidade (CF/88, 1º, III);

b) o art. 12 - CC/02, assim, autoriza que a pessoa que tem um seu direito da
personalidade violado, pode ‘exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da
personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em
lei. E o § único estabelece que “em se tratando de morto, terá legitimação para requerer
a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha
reta, ou colateral até o quarto grau”, p. ex.: ações contra plano de saúde que negou
cirurgia;

I) Os atos de disposição do próprio corpo:

a) CC/02 – artigo 13:

“Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando
importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.

§ único – O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma
estabelecida em lei especial.”

b) CC/02 – artigo 14:

“É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo,


no todo ou em parte, para depois da morte.

§ único – O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.”

c) o direito ao próprio corpo abrange tanto a sua integralidade como as partes dele
destacáveis e sobre as quais exerce o direito de disposição.

d) a lei que regulamente os transplantes é a 9.434, de 04 de fevereiro de 1997, que


dispõe sobre a ‘remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de
transplante e tratamento e dá outras providências’, com alterações determinadas pela lei
10.211, de 23 de março de 2001;

e) a doação de órgãos é gratuita, e deve ter objetivo científico ou altruístico;

f) a comercialização de órgãos do corpo humano é expressamente vedada pela CF, no


artigo 199, § 4º;

g) é permitida a doação de órgãos duplos (rins), ou partes regenerativas (fígado), ou


tecidos, medula, sangue, sêmen;

II) O tratamento médico de risco:

a) CC/02 – artigo 15:

“Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico
ou a intervenção cirúrgica.”

b) a regra obriga os médicos, nos casos mais graves, a não atuarem sem prévia
autorização do paciente, que tem a prerrogativa de se recusar a se submeter a um
tratamento perigoso. A sua finalidade é proteger a inviolabilidade do corpo humano.

c) o tratamento, então, depende de prévio conhecimento, por parte do paciente, de seu


estado de saúde e dos riscos do tratamento, e expressa autorização escrita dele. No caso
de impossibilidade da autorização do paciente, deve-se obter a autorização escrita, para
o tratamento médico ou a intervenção cirúrgica de risco, de qualquer parente maior, de
linha reta ou colateral até 2º grau, ou do cônjuge, por analogia ao disposto no artigo 4º
da Lei 9.434/97;

d) se não houver tempo hábil para obter a autorização, e se tratar de emergência que
exige pronta intervenção médica, como na hipótese de parada cardíaca, p. ex., terá o
profissional a obrigação de realizar o tratamento, independentemente de autorização,
eximindo-se de qualquer responsabilidade por não tê-la obtido (vide artigo 146 do
Código Penal);

III) O direito ao nome:

a) CC/02 – artigo 16:

“Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.”

b) CC/02 – artigo 17:

“O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou


representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção
difamatória.”

c) CC/02 – artigo 18:

“Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.”


d) CC/02 – artigo 19:

“O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.”

e) o direito ao nome é espécie dos direitos da personalidade, pertencente ao gênero do


direito à integridade moral, pois todo indivíduo tem direito à identidade pessoal, de ser
reconhecido em sociedade por denominação própria. Tem ele caráter absoluto e produz
efeito erga omnes.

IV) A proteção à palavra e à imagem:

a) CC/02 – artigo 20:

“Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da


ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a
exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu
requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa
fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.

§ único – Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa
proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.”

b) a transmissão da palavra e a divulgação de escritos já eram protegidas pela lei 9.610,


de 19 de fevereiro de 1998, que hoje disciplina toda a matéria relativa a direitos
autorais.

c) a proteção à transmissão da palavra abrange a tutela da voz, que é a emanação natural


de som da pessoa, também protegida como direito da personalidade, como dispõe o
inciso XXVIII, alínea ‘a’, do artigo 5º, da Constituição Federal, verbis: “são
assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações individuais em obras
coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
desportivas’;

d) o mesmo tratamento é dado à exposição ou à utilização da imagem de uma pessoa,


que o artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal considera um direito inviolável. A
reprodução da imagem é a emanação da própria pessoa e somente ela pode autorizá-la;

V) A proteção à intimidade:

a) CC/02 – artigo 21:

“A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado,


adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta
norma”;

b) a proteção à vida privada visa resguardar o direito das pessoas de intromissões


indevidas em seu lar, em sua família, em sua correspondência, em sua economia, etc. O
direito de estar só, de se isolar, de exercer as suas idiossincrasias se vê hoje, ameaçado
pelo avanço tecnológico, pelas fotografias obtidas com teleobjetivas de longo alcance,
pelas minicâmeras, pelos grampeamentos telefônicos, pelos abusos cometidos na
internet e por outros expedientes que se prestam a esse fim;

c) Desse modo, o artigo 21 do Código Civil, e o artigo 5º, inciso X, da Constituição


Federal, protegem a zona espiritual íntima e reservada das pessoas, assegurando-lhes o
direito ao recato e a prerrogativa de tomar as providências necessárias para impedir ou
fazer cessar o ato lesivo, ou exigir a reparação do dano já consumado;

8) Individualização da pessoa natural:

a) homem não vive isolado, mas em grupos, por uma necessidade natural de
convivência e para alcançar melhores resultados no trabalho e na produção. Desse
convívio nascem relações jurídicas, negociais e familiares principalmente. É essencial
que os sujeitos dessas relações sejam individualizados, perfeitamente identificados,
como titulares de direitos e deveres na ordem civil;

b) os principais elementos individualizadores da pessoa natural são: o nome, designação


que a distingue das demais e a identifica no seio da sociedade; o estado, que indica a sua
posição na família e na sociedade política; o domicílio, que é a sua sede jurídica;

8.1) Pelo nome:

a) conceito: nome é a designação pela qual a pessoa se identifica no seio da família e na


sociedade;

I) Aspectos:

a) aspecto público: decorre do fato de o Estado ter interesse em que as pessoas sejam
perfeita e corretamente identificadas na sociedade pelo nome e, por essa razão,
disciplina o seu uso na Lei dos Registros Públicos (LRP, 6015/73), proibindo a
alteração do prenome, salvo exceções expressamente admitidas (LRP, art. 58) e o
registro de prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores (LRP, 55, §
único);

b) aspecto individual: consiste no direito ao nome, no poder reconhecido ao seu


possuidor de por ele designar-se e de reprimir abusos cometidos por terceiros. Diz o
artigo 16 do CC que ‘toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e
o sobrenome.’ Esse direito abrange o de usá-lo e defendê-lo contra usurpação, como no
caso de direito autoral e contra exposição ao ridículo;

II) As ações relativas ao nome têm dupla finalidade:

a) retificação, para que seja preservado o verdadeiro;

b) a contestação, para que terceiro não use o nome, ou não o exponha ao ridículo. Ler
artigo 17 do CC;

8.2) Elementos do nome:


a) prenome: é o nome próprio de cada pessoa e serve para distinguir membros da
mesma família. Pode ser:

I) simples (Juliano, José, Márcia, Priscila);

II) composto (Pedro Paulo, José Maria, Pedro Henrique);

Obs.: prenome pode ser livremente escolhido pelos pais, desde que não exponha o filho
a ridículo. Ler artigo 55, § único, da LRP. Por esse artigo, o oficial do registro civil
deve se recusar a proceder ao registro, devendo essa regra se estender também ‘as
combinações de todo nome, inclusive aos apelidos populares prenome e sobrenome (art.
16 – CC);

b) sobrenome: é sinal que identifica a procedência da pessoa, indicando a sua filiação ou


estirpe.

I) Enquanto o prenome é a designação do indivíduo, o sobrenome é o característico de


sua família, transmissível por sucessão;

II) É também conhecido como patronímico, sendo ainda chamado de apelido de família
(artigo 56 da LRP);

III) A pessoa já nasce com o sobrenome, que é herdado dos pais, não sendo livremente
escolhido, como o é o prenome (artigo 55 da LRP);

c) agnome: algumas pessoas tem o agnome, que é um sinal que distingue pessoas de
uma mesma família (p. ex.: Júnior; Neto; Sobrinho);

d) axiônimo é a designação que se dá a forma cortês de tratamento (p. ex.: Sr.; Dr.).

c) prenome: pode ser livremente escolhido pelos pais, desde que não exponha o filho ao
ridículo (art. 55, parágrafo único – LRP: Lei dos Registros Públicos).

d) sobrenome: indica a origem familiar da pessoa;

8.2.1) Notas:

a) alcunha é apelido depreciativo que se põe a alguém, geralmente tirado de alguma


particularidade física ou moral;

b) epíteto é palavra que qualifica pessoa ou coisa, em regra usada como sinônimo de
alcunha;

c) hipocorístico é diminutivo do nome, muitas vezes mediante o emprego dos sufixos


‘inho’ e ‘inha’, que denota intimidade familiar. (Zezinho – José; Huguinho - Hugo,
Luizinho - Luiz);

8.2.2) Registro de filhos fora do matrimônio:


a) os arts. 59 e 60 da LRP afirmam que não pode ser lançado o nome do pai sem que
este expressamente autorize.

a1) CNJ, editou o Provimento 16, no dia 17/02/2012, que permite às mães, mesmo sem
a presença do homem, registre seus filhos.

a2) Hoje, a Lei 8560/92 obriga os oficiais do Registro Civil a remeter ao juiz os dados
sobre o suposto pai, que será convocado para reconhecer voluntariamente. Não o
fazendo, os dados serão remetidos ao Ministério Público, que poderá promover a ação
de investigação de paternidade;

b) CNJ, editou o Provimento 16, no dia 17/02/2012, que permite às mães, mesmo sem a
presença do homem, registre seus filhos, e também pessoas maiores de 18 anos, sem o
nome do pai no registro civil, poderão procurar o Cartório Civil e indicar o nome do pai,
e após a indicação, o juiz escutará a mãe e notificará o pai, e não sendo reconhecido
espontaneamente, o MP ou Defensoria Púbica irá promover ação de investigação de
paternidade;

c) o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito nos
moldes do artigo 1069 do CC, que admite inclusive que se faça por escrito particular, a
ser arquivado em cartório, e também por qualquer espécie de testamento;

8.3) Alteração do nome: possível:

a) A regra que se apresenta inicialmente é a da imutabilidade do nome. Existem,


entretanto, algumas hipóteses previstas na lei e apresentadas pela doutrina e pela
jurisprudência de exceção a essa regra:

I) prenome que expõe o portador ao ridículo:

a) caso o oficial do registro não observe a regra prevista no § único do artigo 55 da Lei
6015/73 e faça o registro de um prenome que coloque a pessoa em uma situação
vexatória perante a sociedade, é viável sua alteração posterior.

b) há várias hipóteses mencionadas na doutrina que servem de bons exemplos:


Merdalina, Urinina, Rolando Pela Escada Abaixo, Um Dois Três de Oliveira Quatro,
Jacinto P. Grosso, Armando P. Grosso, Sara P. Grosso, etc.

c) o direito de alterar o nome, nesta hipótese, não está sujeito a qualquer prazo, podendo
ser exercido a qualquer momento. Trata-se de direito indisponível, o de possuir uma
identificação através de um nome sério e que não implique constrangimentos ao seu
portador;

II) evidente erro gráfico

a) outra hipótese de alteração do nome, que era prevista no § único do artigo 58 da LRP,
e que, apesar da revogação do dispositivo legal com a alteração completa do seu teor,
entendemos ainda aplicável, se dá quando ocorre evidente erro gráfico na realização do
registro. É o caso, p.ex., da pessoa cujo nome é “Diogo”, e que é registrado como
“Digo”, ou “Flávio”, que é registrado como “Flavo”;

b) nestas hipóteses pode o titular do nome ou seus representantes, em se tratando de


incapaz, solicitar, a qualquer tempo, seja procedida a retificação;

III) alteração no primeiro ano da maioridade:

a) viável, também, a alteração do nome desde que providenciada no prazo de um ano


após a maioridade civil do titular. Este direito é personalíssimo, ou seja, somente pode
ser solicitado pelo próprio titular, sendo inadmissível o requerimento feito pelo
representante legal, como o curador, p.ex., caso o interessado seja interdito;

b) não se trata de mudança radical do nome, como se pode erradamente concluir ante a
interpretação literal do texto da lei (LRP, 56). Na realidade, a possibilidade de alteração
prevista no art. 56 da Lei de Registro Público limita-se a modificações sutis, como troca
de uma letra “y” por “i”, como a supressão de uma partícula “de”, ou a exclusão do
segundo elemento de um prenome composto;

c) assim, poderia uma pessoa chamada “Sylvio” solicitar alteração para “Silvio”, uma
mulher de nome “Maria de Eduarda” pleitear alteração para “Maria Eduarda” ou um
homem chamado “Antônio Carlos” requerer alteração para “Antônio” simplesmente.

d) absolutamente inviável, contudo, alguém chamado “Marcos” passe a se chamar


“Rogério”.

e) importante salientar também que este direito não se estende aos apelidos de família,
que deverão permanecer inalterados.

f) o interesse tem prazo decadencial de um ano, contado da data em que completar a


maioridade, para requerer a alteração. A emancipação não confere o direito ao pedido,
que deverá ser exercitado quando completar os 18 anos, tendo em vista que a
emancipação apenas antecipa a capacidade de fato.

IV) substituição do prenome por apelidos públicos notórios:

a) A Lei 9.708/98, deu nova redação ao artigo 58 da LRP, permitindo a substituição do


prenome por apelidos públicos notórios. Assim, em casos como de artistas e políticos,
p.ex., que são conhecidos publicamente por apelidos, podem pleitear a substituição do
seu prenome pelo apelido, desde que não viole o artigo 55, § único da LRP;

b) certo é que, a jurisprudência vinha admitindo a inclusão do apelido no meio do nome


da pessoa, como o fizeram Maria da Graça Menegel, que passou a se chamar Maria da
Graça ‘Xuxa’ Menegel, e Luís Inácio da Silva, que passou a se chamar Luís Inácio
‘Lula’ da Silva;

c) agora, com a nova redação do artigo 58, pode ser feita a alteração do prenome pelo
apelido, de forma que Edson Arantes do Nascimento, se quiser, pode pleitear a alteração
do seu nome para Pelé Arantes do Nascimento. Mas, se quiser, poderá também pedir a
inclusão da expressão Pelé no meio do nome: Edson Pelé Arantes do Nascimento;

V) alteração Excepcional e Motivada (LRP, art. 57):

a) Excluídas as hipóteses mencionadas, somente poderá haver a alteração mediante


sentença do juiz, após oitiva do Ministério Público, em casos justificáveis e
excepcionais;

b) estabelece-se, assim, uma regra genérica de alteração do nome, para atender a casos
não previstos especificamente em lei, mas que excepcionalmente são justificáveis,
deixando o legislador a critério do juiz a avaliação da relevância ou não da mudança,
devendo ser respeitado o princípio da imutabilidade do nome;

c) nesse caso, dependerá sempre de pedido judicial;

VI) alteração para fins de proteção de testemunha (LRP, 58, § único):

a) admite-se, ainda, a substituição do nome (prenome e sobrenome), por determinação


do juiz, ouvido o Ministério Público, quando a pessoa está sofrendo ameaça ou coação
decorrente da colaboração com a apuração de crime. Esta regra foi estabelecida pela lei
9.807/99, conhecida como Lei de Proteção à Testemunha;

VII) alteração em decorrência de adoção:

a) o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 47, § 5º, estabelece a


possibilidade de modificação do prenome do adotado, a pedido do adotante. Tal regra
visa assegurar ao adotado a possibilidade de uma nova vida junto aos pais adotivos, sem
vínculos com a vida anterior à adoção. O mesmo estabelece o artigo 1627 do CC/2002;

b) no caso da adoção, poderá haver a substituição tanto do prenome como do


sobrenome.

VIII) alteração dos patronímicos (sobrenome):

a) o patronímico é indicado no momento do registro. Pode-se fazer constar o


patronímico paterno, o materno ou os dois patronímicos, não havendo imposição da
ordem de colocação. É praxe, contudo, que se coloque primeiro o patronímico materno
e posteriormente o paterno, ou tão somente o paterno.

b) há alguns casos de inclusão ou exclusão de patronímicos previstas em lei, a saber:

IX) matrimônio:

a) previa o artigo 240, parágrafo único, do Código Civil de 1916, a possibilidade de a


mulher acrescer aos seus os apelidos de família do marido. O artigo 1565, parágrafo
primeiro, do Código Civil de 2002, seguindo os ditames de igualdade entre o homem e a
mulher estabelecidos na CF/88, prevê a possibilidade de qualquer dos nubentes acrescer
ao seu o sobrenome do outro;
X) união estável:

a) prevê ainda, o artigo 57, § 2º, da Lei 6015/73 (LRP), que a mulher solteira, viúva ou
desquitada (separada judicialmente), poderá, excepcionalmente, e por motivo
justificável, acrescentar aos seus o apelido do convivente.

b) tal possibilidade está de acordo com o preceito do artigo 226, parágrafo 3º, da CF/88
e com o estabelecido nas Leis 8971/94 e 9278/96.

c) interessante observar que esta possibilidade há de ser interpretada em relação a


qualquer dos conviventes, por força da igualdade constitucional e por interpretação
lógica, sistemática e extensiva do artigo 1565, § 1º, do novo Código Civil.

d) devemos considerar, ainda, que o artigo 57, parágrafo 2º, da LRP continua em vigor
com o advento do novo Código Civil, eis que o tema não foi regulamentado de forma
diferente neste diploma legal.

XI) separação judicial:

a) se houver separação judicial consensual, a manutenção ou não do patronímico do


marido pelo cônjuge-mulher será objeto de acordo e homologação pelo juiz;

b) se a separação for litigiosa, ficará o cônjuge declarado culpado obrigado, na forma do


artigo 17 da Lei do Divórcio (6.515/77) e artigo 1578 do novo Código Civil, a excluir o
patronímico do outro cônjuge;

c) não perderá, contudo, o cônjuge declarado culpado, o direito de usar o sobrenome do


outro, se a alteração acarretar prejuízo de identificação e distinção de seu nome de
família e dos filhos (art. 25, § único, da Lei do Divórcio; art. 1578 do CC):

XII) evidente prejuízo para sua identificação:

a) seria, neste caso, a hipótese da mulher que passou a ser conhecida no meio social em
que vive pelo patronímico do marido. A perda desse patronímico lhe causaria um
prejuízo evidente, já que não poderia ser identificada social e profissionalmente da
mesma forma que o é pelo patronímico do marido.

XIII) manifesta distinção entre seu nome de família e o dos filhos havidos da união
dissolvida:

a) é muito comum que seja atribuído aos filhos tão somente o patronímico paterno;

b) ocorrendo o divórcio e perdendo a mulher o direito de manter o patronímico do


marido, desaparecerá todo o vínculo do nome entre a mãe e os filhos;

c) neste caso ela poderá requerer a manutenção do patronímico do marido;

XIV) dano grave reconhecido em decisão judicial:


a) a lei estabelece regra genérica possibilitando a manutenção do patronímico do
marido, se o juiz reconhecer que haverá um grave dano para a mulher com a perda do
apelido de família por ela adotado por ocasião do matrimônio;

b) restará ao cônjuge inocente, na forma do artigo 18 da Lei do Divórcio e artigo 1578


do Código Civil de 2002, a faculdade de, a qualquer tempo, renunciar ao direito de usar
o patronímico do marido;

XV) divórcio

a) em caso de divórcio direto, o cônjuge poderá manter o nome de casado. Na hipótese


de conversão de separação em divórcio, o cônjuge poderá manter o nome de casado, se
a sentença de separação não tiver estabelecido a exclusão do patronímico do outro
(CC/02, 1571, § 1º);

8.4) Pelo Estado:

a) Conceito: estado é a soma das qualificações da pessoa na sociedade, hábeis a


produzir efeitos jurídicos. É o seu modo particular de existir;

b) Aspectos:

I) Individual: diz respeito as características físicas da pessoa (idade, sexo, cor, altura);

II) Familiar: indica a sua situação na família, em relação ao matrimônio e ao parentesco


(casado, solteiro, divorciado, viúvo, cunhado, sogro, genro, pai, irmão, primo, sobrinho,
tio, avô, neto, etc);

III) Político: concerne a posição do indivíduo na sociedade política (brasileiro nato,


naturalizado, estrangeiro);

c) Caracteres:

I) Indivisibilidade: o estado é uno e indivisível e regulamentado por normas de ordem


pública (p. ex.: ser meio casado, ou meio solteiro), exceção: dupla nacionalidade é a
exceção à regra;

II) Indisponibilidade: trata-se de bem fora do comércio, assim a pessoa não pode abrir
mão de seu estado, que é inalienável, intransigível e irrenunciável;

III) Imprescritibilidade: não se perde nem se adquire o estado pela prescrição (decurso
de tempo);

d) Ações de estado:

I) As ações de estado são aquelas que visam reconhecer ou modificar um estado


existente;
II) Assim, temos a ação de divórcio como ação de estado constitutiva, pois modifica um
estado anterior, e a ação de investigação de paternidade, como ação de estado
declaratória, pois visa reconhecer um estado preexistente;

8.5) Pelo Domínio:

a) domicílio: outro elemento importante que se presta à individualização da pessoa


natural é o domicílio. É relevante para o indivíduo, para a sociedade e para o Estado,
que a pessoa, seja física, seja jurídica, tenha um vínculo com determinado lugar, esteja
fixada, de alguma forma, a algum lugar;

b) a importância do domicílio se estende a diversas áreas do direito, embora seu estudo


básico e fundamental fique a cargo do Direito Civil;

c) observamos, p.ex., que as obrigações devem ser cumpridas, a princípio, no domicílio


do devedor (CC/16, art. 950, e CC/02, 327). A ausência da pessoa deve ser declarada
quando a mesma desaparece de seu domicílio (CC/16. art. 463, e CC/02, art. 22). A
sucessão hereditária do sujeito considera-se aberta no local de seu último domicílio
(CC/16, art. 1578, e CC/02, art. 1785). A competência geral, no Direito Processual Civil
é estabelecida em função do domicílio do réu (CPC, art. 94);

d) Conceito: domínio é a sede jurídica da pessoa. É o local onde responde por suas
obrigações;

e) Diferença entre morada, residência e domicílio:

I) morada (estadia - habitação): é o lugar onde a pessoa natural se estabelece


provisoriamente. Confunde-se com a noção de estadia, apresentada por Ruggiero como
sendo “a mais tênue relação de fato entre uma pessoa e um lugar tomada em
consideração pela lei”, advertindo que “a sua importância é, porém, mínima e
subalterna, não produzindo em regra qualquer efeito, senão quando se ignora a
existência de uma sede mais estável para a pessoa”. Assim, o estudante que é premiado
com uma bolsa de estudos na Alemanha, e lá permanece por seis meses, tem, aí, sua
morada ou estadia. Fala-se, também, para caracterizar essa relação transitória de fato,
em habitação;

II) residência: pressupõe maior estabilidade. É o lugar onde a pessoa natural se


estabelece habitualmente. Ruggiero, com propriedade, fala em sede estável da pessoa.
Assim, o sujeito que mora e permanece habitualmente em uma cidade, local onde é
costumeiramente encontrado, tem, aí, a sua residência. A residência é apenas um
elemento componente do conceito de domicílio, que é mais amplo e com ela não se
confunde. Residência é simples estado de fato, sendo o domicílio uma situação jurídica
(ânimo habitual; costuma ser encontrado);

III) domicílio: é mais complexa sua noção, porque abrange a de residência e a de


morada. Assim, domicílio é, segundo Pablo Stolze Gagliano, “o lugar onde a pessoa
estabelece residência com ânimo definitivo, convertendo-o, em regra, em centro
principal de seus negócios jurídicos ou de sua atividade profissional”. Não basta, pois,
para sua configuração, o simples ato material de residir, porém, mais ainda, o propósito
de permanecer, convertendo aquele local em centro de suas atividades (ânimo
definitivo; centro principal de seus negócios jurídicos);

f) Espécies:

A) Necessário ou Legal (art. 78 – CC): é o determinado pela lei;

a) é aquele imposto pela norma jurídica, ou seja, aquele que decorre da lei. Há várias
hipóteses de domicílios necessários:

I) dos incapazes: é o mesmo dos seus representantes legais;

II) dos funcionários públicos: reputam-se domiciliados no local onde exercem suas
funções efetivas. Assim, se o sujeito é funcionário público municipal em Jales - SP e
reside em Urânia - SP com ânimo definitivo, ele tem seu domicílio voluntário em
Urânia, e domicílio necessário em Jales;

III) do militar na ativa: reputa-se domiciliado no local onde estiver servindo, sendo que,
se o militar for da Marinha ou da Aeronáutica, seu domicílio será a sede do comando a
que se encontrar imediatamente subordinado (CC/02, art. 76, § único);

IV) dos oficiais e tripulantes da marinha mercante: no local onde o navio estiver
matriculado;

V) do preso: no lugar onde cumpre a sentença;

B) Voluntário (art. 70 – CC): pode ser geral ou especial. Geral: quando escolhido
livremente pela pessoa.

C) Especial: pode ser o foro do contrato (art. 78 – CC),

D) Eleitoral: é o foro de eleição (art. 62 e 63 do CPC/15);

g) Mudança: muda-se do domicílio, transferindo a residência com a intenção manifesta


de mudar (art. 74 – CC);

h) Unidade, Pluralidade ou Falta de Domicílio:

I) unidade: a pessoa tem apenas uma residência com ânimo definitivo (domicilio
voluntário), e não possui domicílio necessário;

II) pluralidade: dá-se quando o sujeito possui mais de um centro de atividades habituais,
ou quando, além de um domicílio voluntário, possui um domicílio necessário;

a) assim, p.ex., se a pessoa reside permanentemente três ou quatro dias da semana em


uma cidade e três ou quatro dias em outra, mantendo os dois locais como sede e morada
habituais, tem dois domicílios;
b) ademais, o CC/02, no artigo 72, estabelece que cada local onde a pessoa natural
desempenha sua atividade profissional é também considerado seu domicílio;

III) inexistência (teoria do domicílio aparente):

a) é o caso daquele que não possui qualquer lugar como centro de suas atividades;

b) servem como exemplos os nômades, os artistas de circo, os caixeiros-viajantes;

c) O CC/02, em seu artigo 73, ao estabelecer que nesse caso considerar-se-á domicílio o
local onde a pessoa se encontrar, não significa que aquele local seja de fato o domicílio
da pessoa, mas tão somente que, para os fins de direito, deve-se aplicar àquele local o
que se determina quanto ao domicílio das demais pessoas;

d) assim, p.ex., quando uma ação é proposta em face de uma pessoa que não tem
domicílio, a competência, seguindo a regra geral do domicílio do réu, deve ser do local
onde ele se encontra;

e) não significa, contudo, que aquele seja efetivamente o seu domicílio;

f) o CPC, art. 94, § 2º, manda aplicar a mesma regra para fixação da competência,
acrescentando a possibilidade de se demandar no domicílio do autor;

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