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Maio/Junho 2023 • Ano XLIX • Nº 356

EDITORIAL MAIO • JUNHO • 2022 • Nº 356

T
emos novidade para esta edição. Humanidade, por acréscimo da Misericórdia
Trata-se da novíssima coluna da Revista do seu filho Jesus. Também homenageamos o
Presença Espírita, versando sobre a Re- idealizador desta revista, fundador do Centro
vue Spirit, aquela criada e mantida por Allan Espírita Caminho da Redenção e da Mansão
Kardec por 11 anos e 3 meses. A coluna “Co- do Caminho – Divaldo Pereira Franco –, que
nhecendo a Revista Espírita de Kardec” é assi- completa 96 anos em 5 de maio e que, des-
nada por Alessandro Viana de Paula, dedicado de a infância, dedica-se ao bem em nome do
trabalhador espírita de Itapetininga, no estado Cristo de Deus, a quem apendeu a amar em
de São Paulo, e do mundo virtual. Nela o lei- tenra idade.
tor terá contato com o Espiritismo nascente, Entre outras abordagens ainda encontra-
os interesses das pessoas daquela época em mos a coluna “Pensamento de Joanna”, escrita
torno da Doutrina dos Espíritos, as lutas do por Denise Lino, que moureja na seara espírita
codificador e o seu empenho para dirimir dú- de Campina Grande (PB), além da atuação na
vidas, dissuadir os combatentes e dignificar o Web. Para que todos possam “Sentir-se filho
Consolador como os Espíritos superiores trou- de Deus!”, a autora traz novas reflexões em
xeram-na aos encarnados na Terra. torno dos ensinamentos da mentora Joanna
Com isso, a Revista Presença Espírita ratifica de Ângelis, por meio da mediunidade ilumi-
a sua missão de divulgar o Espiritismo em suas nada de Divaldo Franco.
três vertentes – Ciência, Filosofia e Religião –, Assim, entregamos ao leitor novo fruto do
ao mesmo tempo que apresenta o Movimen- trabalho de divulgação do Espiritismo e das
to Espírita originário. memórias da nossa Casa, ao celebrarmos mais
O mês de maio, dedicado à mulher e, um ano de existência física do seu fundador,
em especial, às mães, é lembrado pelo Espí- elaborado com o zelo, a responsabilidade e o
rito Joanna de Ângelis, que é-nos mãe espi- compromisso de sempre.
ritual dedicada e atenta, com uma singela e
surpreendente mensagem em homenagem à
Mãe das mães: Maria, a Mãe Santíssima da A equipe

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 3


SUMÁRIO MAIO • JUNHO • 2022 • Nº 356

6 RELEMBRANDO DEOLINDO AMORIM | Contextos diversos

10 CIÊNCIA ESPÍRITA | Caminhando com Jesus

18 Ide e pregai

22 RELIGIÃO ESPÍRITA | O guia real – Reunião pública de 25/5/59 – Questão nº 6.252

24 FILOSOFIA ESPÍRITA | O caminho da verdade

28 MENSAGEM DO BIMESTRE | Mãe Santíssima

29 O Cristo e o Cristão

31 PRESENÇA DE ALLAN KARDEC | Presença Espírita de Allan Kardec

35 Proposta de Joanna de Ângelis: “Sentir-se filho de Deus!”

38 PRESENÇA DE TIO NILSON | O fenômeno Divaldo Franco

40 Parabéns, Divaldo!

42 REVISTA ESPÍRITA | “Conhecendo a Revista Espírita de Kardec” – artigo inaugural

45 REVISTA ESPÍRITA | A Revista Espírita de Janeiro de 1858

48 REVISTA ESPÍRITA | A Revista Espírita de Fevereiro de 1858

51 Párias em redenção – Cinquenta anos de publicação

52 PARA REFLETIR | Serviço


ESPAÇO EXPEDIENTE

DO LEITOR Revista Presença Espírita


Órgão de divulgação do Centro Espírita
Caminho da Redenção
Rua Jayme Vieira Lima, 104 - Pau da Lima,
41235-000 – Salvador-Bahia-Brasil
(Registro no Cartório do 1º Ofício sob
nº 186140, livro B-1)
Diretor:
Nilson de Souza Pereira (in memoriam)
Diretor-Presidente:
Mário Sérgio Pintos de Almeida

Q
Gerente da Editora Leal:
ueria dizer que o trabalho de vocês da Mansão Maria Piedade Bueno Teixeira

do Caminho é muito bom, acolhedor, mesmo a Jornalista Responsável:


distância. Suas palavras estão na minha mente Marialva Gomes (Reg. 1. 270 DRT-BA)
em reflexão e, com certeza, foi muito gratificante a nossa Conselho Editorial:
Adilton Pugliese • Jucinara Pugliese
conversa (através do Atendimento Fraterno virtual). Muito Lívia Sousa • Solange Seixas • Marialva Gomes
Obrigado! Que Deus continue abençoando a todos. Editoração eletrônica,
Desejo paz e tudo de bom. programação visual e capa:
Ailton Bosco
Revisão:
Florindo Rosa de Lacerda – Cachoeira, BA. Adriano Ferreira e Lívia Maria Sousa

Assistente de Edição:
Zilda M. Cabral (in memoriam)

Serviço de assinante:
Presença Espírita (71) 3409-8310
E-mail:
marialva.revista@cecr.com.br

Distribuição:
Livraria Espírita Alvorada Editora - LEAL
Rua Jayme Vieira Lima, 104 - Pau da Lima,
CEP: 41235-000 • Salvador - BA.
Site:
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E-mail:
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mansaodocaminho

A redação da Revista Presença Espírita


Participe desta seção enviando sua contribuição para permite-se o direito de publicar somente
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Relembrando Deolindo Amorim

Por Deolindo Amorim1

C
onceito é uma formulação abstrata. Pode traduzir uma
opinião ou afirmação. Quando dizemos que a alma é
imortal, por exemplo, estamos exprimindo um conceito
espiritualista; se alguém diz que toda a vida psíquica é função
exclusiva do cére­bro, naturalmente está emitindo um conceito
materialista. Tam­bém se fala em conceito, no sentido usual
de apreciação moral ou social: “F. tem bom conceito entre os
colegas; o engenheiro B. goza de alto conceito profissional”.
São juízos de valor. Não é neste sentido, porém, que estamos
estudando o assunto. Os con­ceitos que um indivíduo esposa
ou defende definem seu modo de pensar, senão sua própria
concepção de vida; na mesma ordem de ideias, os conceitos
centrais de uma doutrina definem o caráter e a filosofia dessa
doutrina. Daí a nossa preocupação com os conceitos espíritas.

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Relembrando Deolindo Amorim

O valor de um conceito depende muito do contexto em


que esteja situado. Uma proposição, com as mesmas palavras
e a mesma ênfase, pode prestar-se a interpretações diferen-
tes, de acor­do com os contextos que estejam em causa. Duas
doutrinas, de concepções filosóficas diferentes, podem apre-
sentar o mesmo conceito, do ponto de vista formal, com sig-
nificação diversa: na forma, sim, o conceito é o mesmo; no
fundo, porém, a ideia que exprime, não. Antes de querermos
compreender a verdadeira acepção de um conceito, devemos
examinar o contexto em que ele se insere. Analisemos, para
ilustração, o seguinte conceito positivista: “Os vivos são sem-
pre, e cada vez mais, governados pelos mortos”.
Sem tirar nem pôr, a afirmação caberia inteiramente nos
contextos espíritas. Apenas diríamos, se fosse o caso, que os
vivos são sempre, e cada vez mais, influenciados pelos chama-
dos mortos, em lugar de governados, pois o domínio ou gover-
no dos mortos excluiria o livre-arbítrio individual. Em tese, po-
rém, a ideia espírita é justamente a de que os “mortos” influem
muito mais em nossa vida do que poderemos imaginar. Se
alguém dis­ser, no entanto, que os positivistas também aceitam
a sobrevivên­cia da alma fora do corpo, pelo fato de afirmarem
que “os vivos são sempre governados pelos mortos”, cometerá
um engano fla­grante, pois eles não admitem a imortalidade
individual, justa­ mente porque partem de outras premissas,
fundamentalmente con­trárias às nossas premissas.
A ideia que o conceito encerra, para o Positivismo, é ape­
nas a de que o exemplo dos mortos continua a influir nos vivos
através da História. É um valor subjetivo, isto é, a lembrança
que fica e perdura de geração a geração, ao passo que nós,
espí­ritas, partindo da premissa imortalista, que é fundamental
no Es­piritismo, entendemos que os mortos exercem influência
no mun­do dos vivos, de um modo direto, através de ações, e
não ape­nas da simples lembrança.
Os positivistas são coerentes com a sua filosofia; se não
aceitam a imortalidade individual e objetiva além do túmulo,
em­bora a sua doutrina tenha em alta conta os valores morais e
o amor entre os homens, não poderiam esposar um princípio
espírita.

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Relembrando Deolindo Amorim

Então, fica bem clara a colocação do problema: dentro do


contexto positivista, a declaração de que “os vivos são sem-
pre, e cada vez mais, governados pelos mortos” tem um senti-
do cor­respondente à filosofia de sua doutrina; dentro do con-
texto espí­rita, a declaração toma um sentido muito diferente,
uma vez que as duas doutrinas têm conceitos discordantes
acerca da vida após a morte. (Outras referências ao Positivis-
mo, a respeito de sua in­fluência no processo republicano do
Brasil, poderão ser anotadas no 11º vol. dos Anais do Instituto,
p. 158-163).
Cada doutrina, religião ou sistema filosófico tem os seus
conceitos, com significados específicos quando empregados
Cada doutrina, religião no lugar adequado. Convém repetir a observação inicial: cada
con­ceito deve ser entendido dentro dos respectivos contex-
ou sistema filosófico tos. Daí se segue que os conceitos de ciência, verdade, carida-
tem os seus conceitos, de, fé, moralidade, como tantos e tantos outros, estão sujeitos
a enten­dimentos desiguais, segundo os contextos a que per-
com significados tençam.
específicos quando A Doutrina Espírita, como se sabe, tem os seus conceitos,
seus valores, sua terminologia. Um ponto diferencial, que se
empregados no lugar nos depara logo no começo, é a noção de alma, que não
adequado. Convém coincide com a noção ensinada em determinados discursos
espiritualistas.
repetir a observação Não seria razoável, nem didática nem doutrinariamente,
inicial: cada con­ceito “enquadrar” conceitos próprios de uma doutrina em qualquer
con­texto, como se tivessem o mesmo sentido, sem levar em
deve ser entendido conside­ração o conjunto de ideias que os envolvem. A Dou-
dentro dos respectivos trina Espíri­ta, por exemplo, tem a sua maneira de considerar
a caridade, a fé, o trabalho e assim por diante. Nos contextos
contextos. espíritas, por­tanto, essas palavras têm uma conotação toda
Deolindo Amorim especial e, por is­so mesmo, não devem ser tomadas na acep-
ção comum.
“Fora da caridade não há salvação” é divisa do Espiritis­mo.
Pois bem, se pusermos essa luminosa divisa dentro do con­
texto vulgar, naturalmente ela se desfigura, porque já não tem
o mesmo valor. Que vem a ser caridade para muita gente?
Esmo­la, e nada mais. Não é este, porém, o conceito espírita
de carida­de. Sabem muito bem os estudiosos da Doutrina
que caridade e salvação significam valores muito nobres e pro-
fundos para o Espiritismo.
O conceito de salvação, segundo o ensino espírita, não é o
conceito comum. Grande parte dos crentes, entretanto, pensa
que poderá salvar a sua alma apenas porque distribui algum

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Relembrando Deolindo Amorim

di­nheiro entre pedintes nas que salvação não é beatitu- liberda­de para dar às coisas os
calçadas. É uma deformação, de, é traba­lho de burilamento nomes que quisermos, con-
não há dúvida. Partindo de constante, um esforço ilumi- tanto que nos entendamos
ideias evidentemente super- nado para a com­preensão de (O Livro dos Espíritos, questão
ficiais, muitas pes­soas devo- Deus, o Criador da Vida. 153). Não precisa­remos ques-
tas, e com a intenção mais Dentro dos contextos es- tionar por causa de nomes de
sincera possível, pensam que píritas – permitam repetir –, nossa preferência; mas não
salvação quer dizer, simples- carida­ de e salvação se ex- podemos transformar concei-
mente, “conquistar o Reino pressam assim; mas o con- tos puramente individuais em
do Céu ou Paraíso”... ceito trivial é bem diferente, conceitos doutrinários, sob
Quando encaramos, po- como diferente é o conceito pena de, inadvertidamente,
rém, os conceitos de caridade de fé. O Espiritismo não pro- lançarmos confusão, principal-
e sal­vação à luz do Espiritismo, mete a salvação a ninguém, mente entre os iniciantes. Te-
sabemos muito bem que não mas ensina a criatura humana mos, pois, de pôr nos lugares
basta distribuir moedas, como a salvar-se pela sua transfor- certos os conceitos que são
não basta fazer penitências mação íntima e pelas ações nossos e refletem apenas o
formais, pois é preciso, senão decorrentes. nosso modo de ver as coisas.
indispensável, dar amor, sentir Não podemos terminar Um ponto de vista, por
realmente o problema do pró- esta parte sem uma observa- mais consistente que seja,
ximo. Salvação, por sua vez, ção, ain­da que sumária, a pro- não for­ma um conceito dou-
não é subir a um reino ange- pósito de conceitos doutriná- trinário. Uma coisa é o que a
lical, como não é, muito me- rios e concei­tos individuais. A Doutrina afir­ma, outra coisa
nos, sair do mundo, purificado Doutrina Espírita, como já é é o que nós afirmamos por
exclusivamente pela fé: salva- notório, constitui­-se de prin- nossa conta, segun­do o nos-
ção é um processo ínti­mo de cípios nucleares, princípios so livre-arbítrio. Nem sempre,
libertação, através do conheci- que, aliás, lhe dão as carac­ porém, se distingue o que
mento e do amor, até que se terísticas inconfundíveis. Em é individual e o que é dou-
possa alijar o ódio, a ambição, concordância com esses trinário; mas é sempre bom
o egoísmo, o orgulho, sem princípios, surgem conceitos distinguir. Muitas opiniões
mortificações exteriores, mas inteiramente adequados às individuais são válidas e auxi-
pelo esforço próprio, no mun- bases de seu pensa­ mento. liam bastante a in­terpretação
do in­ terior de cada criatura Os conceitos da Doutrina, de certos pontos doutrinários.
humana. portanto, não são arbitrários, Todavia, cada tipo de concei-
Aquele que encontra paz mas condizentes com a linha to deve ser situado no lugar
em si mesmo, aquele que fundamental do ensino in- próprio.
se sen­te livre das imposições trínseco. Justamente por isso,
viciosas e das tendências convém distinguir sempre os
comprometedo­ras, aquele conceitos da Doutrina e os
que, enfim, procura o Cristo conceitos particulares.
na pureza de sua consci­ência, De acordo com o nosso
naturalmente se considera sal- modo de ver, podemos criar 1. Artigo publicado na Revista
vo de uma série de injunções até nomes especiais. A própria Internacional do Espiritismo (RIE)
do mundo. Isto quer dizer Doutrina adverte que temos em Julho de 1979.

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Ciência Espírita

Caminhando com Jesus


Por Rejane Planer

R
ecentemente vimos um filme sobre a
vida de Jesus que nos chamou a aten-
ção não somente pela beleza das ima-
gens, mas pela forma não usual que apresenta
o Mestre. É um Jesus jovial, alegre, cheio de
vida, que ri e brinca, planeja com cuidado e
antecipa acontecimentos deixando em cada
canto um pouco de esperança. É premente
trazer esta imagem de Jesus, Aquele que can-
ta a vida e encoraja a viver cada momento,
mesmo aqueles de tristezas e de dores. Claro,
não podemos esquecer os momentos cruciais

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Ciência Espírita

dos desafios, quando foi acusado, chicoteado mo, paciente, mas enérgico. Possui o dom de
e crucificado. Foram momentos desafiadores, educar com a energia amorosa daquele que
nos quais Jesus, consciente da força da fé e compreende a alma humana. Certamente
da necessidade de seguir o Pai, deixou exem- não adquiriu essa sabedoria nesta existência
plos de como enfrentar a maledicência, o so- terrena, mas foi acumulando experiências e
frimento, a dor. O Mestre dos mestres plantou reeducando-se ao longo dos séculos, adqui-
sementes de luz em todos os momentos que rindo controle de si mesmo e exercitando a
esteve na Terra, nos bons e nos ruins, deixan- compreensão com o próximo.
do um legado único para a Humanidade. Divaldo já recebeu mais de 1.000 conde-
Vivemos dias de turbulências, mas também corações, títulos acadêmicos, homenagens no
de alegrias neste paradoxal caminhar pela Brasil e no mundo. É elogiado e também criti-
vida, e ao depararmos com um retrato alegre cado, como é comum àqueles que buscam vi-
da vida de Jesus, lembramos das viagens que ver a moral e a ética cristã e que têm a missão
fizemos com Divaldo Franco acompanhado de contribuir para o progresso da sociedade.
de Tio Nilson, quando percorríamos as cida- Estes são invariavelmente atacados e difama-
des da Europa junto com amigos que íamos dos, sofrem em silêncio a incompreensão da
fazendo ao longo das viagens, ouvindo as sociedade do seu tempo, como Galileu, ou
palestras de Divaldo, tantas vezes pinceladas são sacrificados como Jan Hus ou Gandhi. Lu-
com as estórias daqueles que se enganaram ciano dos Anjos,1 jornalista brasileiro, escreveu
ou que sucederam, para ilustrar os desafios de sobre algumas das lutas e amarguras de Dival-
viver com Jesus. Mesmo em face dos desafios do, registrando, com a tinta daqueles que bus-
que certamente enfrentavam, com malas e cam a verdade, fatos que foram criados para
bagagens carregadas de livros, poucas roupas prejudicar a imagem do médium, mostrando
e muita paciência, eles mantinham a calma e como Divaldo suportou (e suporta) os ataques
a confiança em Jesus em todas as situações. à sua pessoa em silêncio, sem contestar, com
Não estamos comparando Divaldo Franco a a humildade e a fortaleza daqueles que con-
Jesus. Não é nossa intenção, mas é evidente solidaram a fé e seguem Jesus não somente
que o servidor de Jesus aprendeu a viver o nas palavras, mas nos pensamentos, emoções
Cristo no seu dia a dia. e atos de vida.
Caminhar com Jesus é viver a alegria e a Não estamos fazendo apologia, mas regis-
harmonia interior, de modo a contagiar aqueles trando como esse bravo ser humano se cala e
com quem se convive. Era assim a convivência sorri, para mais adiante ajudar aqueles mes-
com Divaldo e Nilson nestes últimos 30 anos, mos que o atacaram. Fomos testemunhas
quando tivemos a honra de poder acompanhá- das palavras maldosas de alguns, que logo
-los em parte de suas peregrinações na Europa. mais retornaram e pediram-lhe alento, ajuda.
É claro que nos considerávamos privilegiados, Divaldo recebe todos com a mesma bonda-
éramos jovens e imaturos, e somente o tempo de e compreensão, esquecido já do que lhe
nos mostrou que o carinho e o amor daqueles haviam feito. Nessas ocasiões entendemos o
que são peregrinos de Jesus estendem-se a to- que Kardec quis dizer quando escreveu que
dos que encontram. o homem de bem “sabe que todas as alter-
Divaldo não é uma pessoa comum. Ho- nativas da vida, todas as dores, todas as de-
mem de inteligência e memória superior, de cepções são provas ou expiações e as aceita
extraordinária mediunidade, Divaldo é cal- sem lamentações”.2

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Ciência Espírita

Como bem demonstra o Espírito Manoel abre os olhos para ver além das aparências
Philomeno de Miranda na obra Mediunida- mundanas.
de: desafios e bênção, através da psicografia Direcionada para servir ao próximo, sua
de Divaldo Franco, “não são poucos os obs- mediunidade é exercida com dedicação e
táculos a serem transpostos por aquele que se disciplina, tornando-se exemplo para todos
candidata ao relevante labor mediúnico. [...] A aqueles que se dispõem a estudá-la ao exer-
luta a ser travada para a superação do desafio cê-la no ministério de Jesus. São numerosos os
ninguém vê, exceto aquele que está empe- fatos que presenciamos ou que foram registra-
nhado no combate em favor da autoliberta- dos sobre a mediunidade de Divaldo. Nesta
ção, impondo-se a necessidade de rigorosas sucinta homenagem ao amigo e orientador de
disciplinas, que possam proporcionar-lhe no- tantos anos, lembramos da água fluidificada
vas condutas saudáveis, capazes de facilitar a que recebemos e que tinha gosto e odores
execução das tarefas espirituais sob a respon- específicos, que duraram meses e até anos
sabilidade e o comando dos mensageiros do sem nenhuma deterioração; as essências e
Senhor”.3 O bom médium luta para superar-se perfumes que sentimos durante os seminários
a cada vivência. É uma batalha constante en- a que assistimos em várias cidades europeias
tre os exércitos daqueles que querem derrotar ou mesmo durante as viagens de carro entre
e dos outros que vêm em nome de Jesus aju- as cidades que percorremos; a presença de
dar. Conviver com um médium extraordinário Espíritos amigos; o receituário espírita através
e um homem de bem, como Divaldo, ensina do Dr. Bezerra de Menezes; a escrita espe-
lições imprescindíveis para todo aquele que cular no Congresso Espírita Mundial em Paris,
em 2004; os recados dos Espíritos familiares
etc. A amiga, escritora e médium Suely Cal-
das Schubert coletou fatos dessa extraordiná-
ria mediunidade na obra Divaldo Franco: uma
vida com os Espíritos. A obra contém o teste-
munho de dezenas de pessoas que presen-
ciaram os fenômenos que ocorreram ao longo
de sua jornada de vida. Sua mediunidade des-
ponta aos quatro anos de idade e continua até
hoje servindo o Cristo.

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Ciência Espírita

Através da psicografia, Divaldo recebeu


mensagens consoladoras, educativas e eluci-
dativas, abordando diversos aspectos da vida
e em várias áreas do conhecimento humano.
São mais de 250 títulos cobrindo várias áreas
do conhecimento espírita, a exemplo da Ciên-
cia e da Psicologia, psicografadas em portu-
guês, alemão, francês, árabe e outras línguas.
Também inclui poesia, conto, romance, dis-
sertação, crônica, temas filosóficos, psiquiátri-
cos, comportamentais e religiosos.
Seus livros analisam diferentes aspectos da
vida moderna, problemas e desafios da vida
na sociedade são apresentados como oportu-
nidades para o crescimento interior e a valo-
rização do ser. A obra psicológica da mentora
espiritual Joanna de Ângelis, psicografada por
Divaldo Franco entre 1989 e 2011, apresen-
ta uma nova visão da Psicologia Transpes-
soal, explicando e expandindo os conceitos
de C.G. Jung e facilitando a compreensão de
aspectos-chave da vida do ponto de vista da
Doutrina Espírita.
Divaldo dedica seus dias à psicografia, à
correspondência, às palestras, ao ministério
no bem. Excelente estudioso e com uma
memória privilegiada, suas palestras são ri-
cas em citações científicas, fatos históricos,
teológicos ou religiosos. Washington Luiz
Fernandes, um de seus biógrafos, analisando
palestras de Divaldo, verificou que ele men-
cionou em uma de suas palestras 1.009 ci-
tações relacionadas a 15 tópicos diferentes,
incluindo 310 citações científicas, 300 fatos
históricos, 105 fatos filosóficos e 30 fatos
teológicos ou religiosos.4 Através de suas pa-
lestras altamente motivacionais ao redor do
mundo, ele plantou sementes de comporta-
mentos éticos e pacíficos, contribuindo assim
para construir um mundo melhor.
Educar e curar almas é a sua missão. Não é
a cura do corpo físico, mas é o resgate da ig-
norância, abrindo horizontes de conhecimen-

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Ciência Espírita

to para que a criatura enxergue a si mesmo, um indivíduo simples, mas também portador
eduque-se e consequentemente possa contri- de mediunidade, materializou5 e presentou
buir para o bem-estar de outros indivíduos e o Divaldo com uma medalha de pedra gravada
desenvolvimento de uma sociedade pacífica. com o símbolo cristão do peixe. Nesse mo-
A obra social e educacional da Mansão do mento, seu Espírito benfeitor, Enzo, falou por
Caminho é o exemplo de ação prática no bem, psicofonia em italiano, reverenciando Divaldo
atuando com eficácia para diminuir as dife- como um avatar,6 aquele que na religião hindu
renças sociais e possibilitar a integração social é considerado a encarnação de um ser supe-
dos habitantes da comunidade através de um rior. Não esquecemos as palavras desse Espí-
itinerário educacional exemplar: creches, jar- rito que poeticamente se dirigindo a Divaldo
dins de infância, escolas de ensino fundamen- disse: “A luz penetrou uma gota de orvalho e
tal e médio, assistência social e sanitária. Sua esta gota andou para o oceano de amor. Isto
proposta é a educação através do amor e do é o que você faz, avatar”.
cuidado baseado na moral e na ética cristã. Divaldo Franco, o avatar da educação, da
Com a inclusão de uma escola de ensino mé- caridade e da paz – três faces do Amor.
dio, abriram-se as portas dos jovens da comu-
nidade à formação universitária e profissional.
A iniciativa é um sucesso! Em 2022, a maioria
dos jovens formados teve ótimo desempenho
nos vestibulares e no Exame Nacional do Ensi-
no Médio (Enem). Divaldo teve a capacidade
de juntar uma equipe capaz de realizar os so-
nhos mais ousados, porque sua mão é firme e
segura, guiada pelo Mestre Jesus, a quem se
apegou sem vacilar.
O Movimento Você e a Paz, por ele ideali- REFERÊNCIAS:
zado e criado, é outro exemplo dessas ações
de levar alegria e pacificar o indivíduo e a co- 1. ANJOS, Luciano dos. A anti-história das mensagens
munidade. Iniciado em Salvador, em 1998, o co-piadas. Rio de Janeiro: Editora Leymarie, 2006.
2. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiri-
movimento é “uma atividade sem caráter re- tismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 112. ed. Brasília:
ligioso ou político, mobilizada pelo ideal de FEB, 1996, cap. XVII, item 3.
uma vivência pacífica entre pessoas, buscan- 3. FRANCO, Divaldo Pereira; MIRANDA, Manoel
do levá-las a uma reflexão profunda quanto à Philomeno de [Espírito]. Mediunidade: desafios e
necessidade de renovação dos sentimentos e bênçãos. 1. ed. Salvador: LEAL, 2017, p. 84.
4. Dados fornecidos por Washington Luiz Fernandes,
mudança de comportamento”. Em 2022 tive- extraídos de nota sobre meticulosa pesquisa cultural
mos a oportunidade de participar do evento do conteúdo de uma palestra do médium Divaldo
em Salvador. Foi um espetáculo de alegria e Franco: Admirável erudição e conteúdo politemático.
de fé, de encorajamento para que cada um 5. O evento está relatado no artigo Um fenômeno
“arregace as mangas” e trabalhe em prol da Inusitado, de nossa autoria, publicado na Revista
Presença Espírita de setembro/outubro de 2018.
paz – como indivíduo ou gerando bem-estar 6. No hinduísmo, avatar é usado para designar a
social na comunidade em que vive. encarnação ou manifestação no plano físico de um ser
Em 2018, em Roma, após o seminário com superior. O termo também é usado para representar a
Divaldo Franco, um dos participantes locais, manifestação da divindade na Terra.

14 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Presença de Divaldo Franco

Por RMMMuzzi

“Isto é o que farás de tua vida:


Serás educador de almas.”

A
o ouvir este vaticí- taram a ti para educar, amar
nio, eras um garoto. e dar dignidade, ao longo de
Tinhas cerca de 20 três décadas, a 685 crianças
anos de idade. Por certo não órfãs ou abandonadas. Com
tiveste ideia da tarefa que te teu esforço contínuo, noites
estava programada. indormidas e perseverança,
Àquele tempo, pleno de transformaste o orfanato em
idealismo e fé, começaste a uma obra social, que foi cres-
adotar crianças desvalidas e cendo até atender, na atuali-
fundaste, com o inesquecível dade, diariamente, nas áreas
Tio Nilson, a Mansão do Ca- da educação, da saúde e da
minho. Com dificuldades de assistência social, de forma
toda ordem, principalmente totalmente gratuita, cerca
carência econômica, enfren- de cinco mil pessoas, entre
taste a intolerância ao Espi- crianças, adultos e idosos, de
ritismo, que adotaste como famílias em situação de vul-
norteador de tuas ações, e nerabilidade social.
persististe. Implantaste, de Somente tu podes di-
forma pioneira, os lares­ mensionar as lutas que ti-
‑famílias, convidando compa- veste que travar para alcan-
nheiros altruístas que se jun- çar esta meta.

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Presença de Divaldo Franco

É uma vitória portentosa! transporte, automóvel, jeep, fazendo-a renascer onde de-
Todavia, algo mais estava caminhão, trem, barco, avião, saparecera após a Segunda
incluído naquela profecia. helicóptero; falaste em diver- Guerra Mundial, ou levando-a
Atendendo a um convi- sos tipos de auditórios, aque- a lugares nos quais dantes não
te despretensioso para que les famosos, outros simples, se ouvira falar em Espiritismo.
descrevesses como se dava salas belamente ornamen- Fundaste, por onde passaste,
o processo mediúnico, ini- tadas, outras desadornadas, Núcleos de Estudos, Centros
ciaste, naquele 27 de março em clubes, estádios, escolas, Espíritas, Cultos do Evange-
de 1947, na União Espírita na praça pública, incansavel- lho no Lar e cuidaste destas
Sergipana, com uma plateia mente, levando o consolo, sementes, regando-as com
de 20 pessoas, em uma sala o esclarecimento, o verbo tua presença e incentivo, ano
modesta, a trajetória de luz pleno de vibração de amor a ano, e que hoje florescem,
que percorres até hoje. Tuas e compaixão, a milhares de apregoando O Consolador.
palavras vibrantes e a emoção pessoas sedentas de paz. Com tua oratória esclare-
transmitida aos ouvintes fize- Percorreste, com deste- cedora, leniste as dores dos
ram com que o evento se re- mor, os cinco continentes, que sentiam saudades dos
petisse, dois dias depois, com visitaste 71 países, mais de seres amados que partiram
a assistência decuplicada. mil cidades, desde as mais para o Mais-além, provando a
E não paraste mais! desenvolvidas metrópoles imortalidade da alma; alevan-
Cantando a beleza do àquelas mais simples, para taste os caídos pelo arrepen-
Evangelho, descrevendo a pai- que tua voz fosse ouvida, dimento, demonstrando que
sagem bucólica da Galileia, ora descrevendo a beleza vi- a reencarnação é oportunida-
teu timbre de voz inconfun- ril e transcendente de Jesus, de de reabilitação; colocaste
dível foi cavando fundo nos ora repetindo e explicando bálsamo nas múltiplas feridas
ouvidos e nos corações das Seus ditos, Seus feitos, Suas de dezenas de milhares de
criaturas que se encantaram. lições de amor, benevolên- padecentes quando tua voz
Viajaste milhares e milha- cia e perdão. se fez ouvir propagando a
res de quilômetros, te uti- Por todos os rincões se- consolação trazida pelos ben-
lizaste de vários meios de measte a Doutrina Espírita, feitores espirituais.

16 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Presença de Divaldo Franco

Sem medir esforços, perseveras por mais de 76 anos.


Nunca cancelaste um compromisso. Com coragem inaudita,
esforçando-te ao máximo para que os amigos próximos não
se preocupassem, já proferiste conferência com febre alta,
dengue, pneumonia e, mais recentemente, com dores cruciais
do nervo ciático e de hérnias de disco. Por respeito aos que
têm necessidade de esclarecimento, esperança e amor.

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Presença de Divaldo Franco

Eis que chegou a Covid-19, teados teleouvintes. E agora, espirituais, com a marca ex-
espalhando medo, desas- com o retorno das palestras traordinária de mais de 20
sossego, incerteza, pânico. presenciais, o grande núme- milhões de exemplares ven-
O perigo do contágio e o ro de assistentes virtuais con- didos, desde o longínquo 5
assustador número de mor- tinua, mas os auditórios que de maio de 1964, quando
tos obrigaram as autoridades contam com a tua presença publicaste o Messe de amor,
sanitárias a determinarem o física estão pequenos para do Espírito Joanna de Ângelis.
isolamento social e o cance- atender àqueles que buscam É impossível estimar o tempo
lamento de viagens. o magnetismo que emana de que empregaste para psico-
Foste inspirado pela vene- ti, através de um sorriso, uma grafar, datilografar/digitar, cor-
randa mentora Joanna de Ân- palavra de bom ânimo, um rigir, conferir a edição (milha-
gelis a instalar a TV Mansão aperto de mão. res de páginas) de todos estes
do Caminho pouco tempo Recentemente lançaste títulos, sem auferir um centa-
antes. Desta forma, a qua- mais um livro de tua lavra vo pelo trabalho, pois doaste
rentena imposta pelo vírus mediúnica (Mundo regene- os direitos autorais e possíveis
destruidor não impediu que rado, do Espírito Joanna de lucros a instituições filantrópi-
tua voz, pelas ondas hert- Ângelis). São mais de 250 cas, especialmente à Mansão
zianas, chegasse aos desnor- títulos, de diversos autores do Caminho.

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Presença de Divaldo Franco

Na página anterior: Divaldo Franco no Estúdio Francesco Beira, nas dependências da Mansão do Caminho.
Nesta página: Divaldo Franco no teatro da Feevale, em Novo Hamburgo – RS.
Movimento Você e a Paz – Praça 2 de Julho, em Salvador – BA.

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Presença de Divaldo Franco

Querido Divaldo Pereira Franco, amado pelo exemplo de amor, tolerância e bondade
Tio Divaldo, respeitável Professor Divaldo, que é a tua vida! Que Jesus, o Mestre a
dileto Embaixador da Paz, honorável Embai- quem tanto amas, te proteja com saúde e
xador da Bondade, comemoras 96 anos de paz, para que continues na nobre missão de
idade em 5 de maio deste ano. educar almas, indo e pregando a centenas
Não podendo dizer tudo que nos vai na de milhares de corações aflitos, com tua
alma, pela pobreza do vocabulário, dizemos cativante presença, teu contagiante sorriso
apenas: parabéns pelo seu aniversário! e tuas sábias palavras, faladas e escritas, de
Parabéns e gratidão pela tua dedicação à apoio e segurança, iluminadas pelo Evangelho
causa do bem! Parabéns e reconhecimento de Jesus à luz da Doutrina Espírita.

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Religião Espírita

O Guia real1
Reunião pública de 25/5/59 – Questão nº 6.252

N
a procura de orientação para a conquista da felicidade su-
prema, com base na alegria santificante, lembra-te de que
não podes encontrar a diretriz integral entre aqueles que
te comungam a experiência terrestre.
Nem na tribuna dos grandes filósofos.
Nem no suor dos pioneiros da evolução.
Nem na retorta dos cientistas eméritos.
Nem no trabalho dos pesquisadores ilustres.
Nem na cátedra dos professores distintos.
Nem na veste dos sacerdotes abnegados.
Nem no bastão dos pastores experientes.
Nem no apelo dos porta-vozes de reivindicações coletivas.
Nem nas orientações dos administradores mais dignos.
Nem nos decretos dos legisladores mais nobres.
Nem no verbo flamejante dos advogados do povo.
Nem na palavra dos juízes corretos.
Nem na pena dos escritores enobrecidos.
Nem na força dos condutores da multidão.
Nem no grito contagioso dos revolucionários sublimes.
Nem nas arcas dos filantropos generosos.
Nem na frase incisiva dos pregadores ardentes.
Nem na mensagem reconfortante dos benfeitores desencarnados.

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Religião Espírita

Em todos, surpreenderás, em maior ou menor porção, defei-


to e virtude, fealdade e beleza, acertos e desacertos, sombras
e luzes.
Cada um deles algo te ensina, beneficiando-te de algum
modo; contudo, igualmente caminham, vencendo com difi-
culdade a si mesmos... Cada um é credor de nossa gratidão e
de nosso respeito pelo amor e pela cultura que espalha, mas
no campo da Humanidade só existe um orientador completo
e irrepreensível.
Tendo nascido na palha, para doar-nos a glória da vida sim-
ples, expirou numa cruz pelo bem de todos, a fim de mostrar-
-nos o trilho da eterna ressurreição.
Sendo anjo, fez-se homem para ajudar e, sem cofres doura-
REFERÊNCIAS:
dos, viveu para os outros, descerrando os tesouros do coração.
É por isso que Allan Kardec, desejando indicar-nos o guia 1. XAVIER, Francisco Cândido;
real da ascensão humana, formulou a pergunta 625, em O EMMANUEL [Espírito]. Religião
Livro dos Espíritos,2 indagando qual o Espírito mais perfeito que dos Espíritos. 10. ed. Brasília: FEB,
Deus concedeu ao mundo para servir de modelo aos homens, 1995, p. 91.
2. KARDEC, Allan. O Livro dos
e os mensageiros divinos responderam, na síntese inolvidável: Espíritos. 93. ed. 8ª imp. (Edição
“Jesus”, como a dizer-nos que só Jesus é bastante grande e Histórica). Tradução de Guillon
bastante puro para ser integralmente seguido na Terra, como o Ribeiro. Brasília: FEB, 2019, Parte
nosso Mestre e Senhor. Terceira – Capítulo I.

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Filosofia Espírita

A caminho da verdade
Por Marcelo Uchôa

T
odo e qualquer movi- O Projeto Genoma é um descoberta, uma série de no-
mento científico sempre clássico exemplo de avan- vas reflexões éticas.
perseguirá, através de ço científico nessa direção. Nicolau Copérnico, por
métodos e técnicas específi- A partir da publicação feita sua vez, também inaugurou
cos, o caminho da verdade. pelos cientistas Francis Crick um novo modelo científi-
Desde os pré-socráticos, que e James Watson à revista Na- co ao ampliar a Cosmologia
analisavam os fenômenos da ture, em 25 de abril de 1953, vigente. Antes dele, a visão
natureza como fontes de com- através do artigo Estrutura de mundo era baseada num
preensão do mundo através do molecular dos ácidos nuclei- modelo geocêntrico, em
Cosmos, que em Grego quer cos, o homem foi capaz de que a Terra era considerada
dizer ordem, a criatura huma- descrever a estrutura em du- o centro do Universo. Aris-
na busca na physis sua fonte de pla hélice do ácido desoxirri- tóteles e Ptolomeu também
inspiração para as explicações bonucleico, conhecido pela pensavam da mesma forma.
dos diversos fenômenos, adap- sigla DNA, desvendando e Mais tarde, entretanto, após
tando a compreensão destes mapeando os códigos genéti- os conceitos da gravitação
em função das transformações cos dos seres vivos e trazendo universal de Isaac Newton,
socioculturais de cada época. ao mundo, além da própria evoluímos para o Heliocen-

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Filosofia Espírita

trismo, no qual o Sol passou Do ponto de vista platônico, entender o que é conheci-
a ser considerado o centro mento significa estudar a maneira como a criatura humana é
de tudo. Séculos mais tar- capaz de compreender algo. Na obra Teeteto, por exemplo,
de, em 1977, o programa de Platão constrói o diálogo entre Sócrates e o filho de Eufrônio,
exploração espacial dos Es- imprimindo para a Filosofia ocidental a noção tripartida de co-
tados Unidos lançou sua pri- nhecimento: o conhecimento crença verdadeira e justificada.
meira sonda espacial, a Vo- Conhecer, para Platão, é apreender a ideia em si. O con-
yager 1, entregando à ciência ceito de ideia aqui se relaciona com tudo o que está acima
astrofísica a complexa noção das coisas materiais e do intelecto humano. Em O mito de Er,
de um modelo acêntrico de Platão diz que a alma tem ideias incorpóreas, conhecimentos
Universo, em que não há pertencentes a outro mundo, chamado por ele de “mundo
mais centro em nada. ideal”. Ao reencarnar, a alma perde o contato direto com o
Desde as novas técnicas mundo ideal, mas é capaz de relembrar. Esta é a Teoria da
de fertilização in vitro, decor- Reminiscência. Conhecer, nesse contexto, é recordar.
rentes da revolução genética, Pirro (318 a 272 a.C.), rei do Épiro e da Macedônia, um dos
até a complexa noção de Cos- mais importantes generais de seu tempo, negava fortemente
mos com aproximadamente a visão de Platão. Para ele, o conhecimento das coisas é ina-
duzentos bilhões de galáxias cessível ao homem. Embora com algumas nuanças conceituais
e de astros luminosos, suge- importantes, essa visão deu origem ao chamado ceticismo
rindo estatisticamente que o acadêmico, que se vincula à noção de falibilidade humana. Se
homem não pode estar só, a para Pirro a verdade é inacessível ao homem, para a Ciência a
Ciência vem entregando res- objeção significa insumo para novas respostas. No limite, o an-
postas e formulando novos e tônimo de verdade em Ciência significa erro, e não falsidade.
importantes axiomas, mode- Há, contudo, diferentes formas de saber, mas nem todas
los e paradigmas sofisticados elas têm alicerce na Ciência convencio-
de visão de mundo. nal, que refuta, por exemplo, o
Do ponto de vista da Fi- conceito de dogmatismo. O dog-
losofia da Ciência, podemos ma pode ser entendido como
nos questionar: qual o ver- uma opinião que se estabelece
dadeiro papel da Ciência em por decreto, devendo ser ensi-
nossa sociedade pós-contem- nada como uma doutrina sem
porânea? O que podemos qualquer contestação. Pensar
considerar como fonte de dogmaticamente, para a Ciência,
crescimento para a criatura presume se afastar da visão de ver-
humana a partir dos avanços dade em científica, que pressupõe
científicos? um constante questiona-
Para mergulhar nessas re-
flexões, garantindo a susten-
tação adequada, vamos nos
servir de um poderoso esca-
fandro: o conceito platônico
de verdade em seus elemen-
tos epistemológicos.

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 25


Filosofia Espírita

mento. A exemplo de René o incomparável Astro-rei da os imponderáveis valores da


Descartes, em sua célebre Humanidade, forneceu res- alma que jazem dormitando
exortação “cogito, ergo sum”, postas para perguntas que fa- em nós.
isto é, “penso, logo existo”, o ríamos séculos mais tarde. Nas significativas anota-
homem deve duvidar da pró- A criatura humana, acos- ções de João, capítulo 14,
pria dúvida, sendo o pensa- tumada a encontrar na força versículos 5 em diante, en-
mento aquilo que nos carac- do poder bélico a fonte de contramos Sua majestosa
teriza como existência. sua grandeza passageira, re- promessa de voltar. Nes-
Todavia, se no ceticismo cebe de Jesus a incompará- te impressionante diálogo,
pirrônico temos a noção de vel lição de verdade, que são Tomé pergunta: “Senhor, nós
que nenhum conhecimento não sabemos para onde vais,
é possível, no ceticismo aca- como podemos conhecer o
dêmico há a percepção clara caminho?”. Ao que Ele, de
de que o conhecimento ad- forma doce e serena, respon-
mite sempre a falibilidade hu- deu, mas não só para Tomé, e
mana; além disso, temos no sim para a Humanidade intei-
dogmatismo ortodoxo a no- ra: “Eu sou o caminho, a ver-
ção de que nenhum erro seria dade e a vida. Ninguém vem
possível, já que a verdade, do ao Pai, senão por mim”.
ponto de vista teológico, vem Tomé pode ser consideran-
sempre de Deus. Como Deus do como símbolo do empi-
não erra, de que modo sair rismo, doutrina filosófica que
deste labirinto de Minotauro? admite ser todo e qualquer
Nossa resposta está conti- conhecimento somente pos-
da no exame do maior em- sível a partir da experiência
preendimento espiritual de material. Precisando tocar nas
que a Humanidade já teve chagas de Jesus para Lhe cons-
conhecimento. Há mais tatar a imponderável gran-
de dois mil anos Ele este- deza, o homem hodierno se
ve entre nós. Dividindo o vincula às coisas do mundo
calendário juliano entre como fontes de sustentação
antes e depois d’Ele, Jesus, de sua verdade.

26 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Filosofia Espírita

Os valores imperecíveis Ele é o caminho, o que sig- que é capaz de realizar, logo,
da alma são os que o ladrão nifica dizer que Seu roteiro sendo as construções mentais
não rouba, porque não são de vida permanece absoluta- o pródromo de qualquer rea-
materiais; que a traça é inca- mente estabelecido; não há o lização, é imperioso meditar
paz de roer, uma vez que são que duvidar. Ele é a verdade, no bem a fim de aprender
indestrutíveis; e não oxidam, pois dialoga com a noção do com Ele.
já que não estão sujeitos às imponderável de verdade es- “Eu sou a Verdade”. Essa
intempéries do mundo. Esses piritual. Ele é a Vida, pois que afirmativa do Mestre encon-
valores ainda dormitam em o Reino de Deus, proclamado tra, na sabedoria da veneran-
esperança latente. por Ele, é a própria vida inte- da Joanna de Ângelis, em sua
Já O escutamos. Ausculta- rior do homem imortal, que obra Vida plena, a seguinte
mos suas sandálias roçando busca incessante Deus como reflexão: “No transcurso de
no terreno árido de nossas fonte de realizações. vinte séculos, nada substituiu
realizações humanas. Ele está A vida na Terra é uma ofi- a Sua ética de amor e de paz”.
perto de nós. Já somos ca- cina de ação, uma escola, e Abstração feita aos tem-
pazes, ainda que mergulha- as primeiras lições desse per- porais desafios do mundo, a
dos em nossas idiossincrasias feito educandário dialogam verdade em Jesus é caminho
mundanas, de ouvir-Lhe o com a imortalidade. Nós não seguro para todo aquele que,
cântico sublime, cujas lições, somos corpos, mas sim Espíri- ouvindo a sua mensagem,
imprimindo ressonância pro- tos imortais. Viver no mundo deseja conhecer o imponde-
funda na acústica de nossas em busca da Verdade, para o rável, os valores espirituais da
almas, convidam-nos à su- cristão sincero, compreende alma, que se revelam na ação
blimidade estoica de nossa viver Seus ensinamentos. O constante do bem em dire-
transformação moral. homem se constrói naquilo ção a Deus.

“A vida na Terra é uma oficina de ação, uma escola, e as primeiras lições


desse perfeito educandário dialogam com a imortalidade.
Nós não somos corpos, mas sim Espíritos imortais.”
Marcelo Uchôa

REFERÊNCIAS:

BARROS, Marco Antonio Loschiavo Leme de. Introdução à Filosofia da Ciência. São Paulo: Editora Sol, 2019.
JUDENSNAIDER, Ivy. Métodos de pesquisa. São Paulo: Editora Sol, 2021.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed. Brasília: FEB Editora, 1944.
MORAES, Renato Bulcão de. Teoria do Conhecimento. São Paulo: Editora Sol, 2020.
MARSICK, V. Factors that affect the epistemology of group learning. Disponível em: http://surl.li/gbypy. Acesso
em: 31 jan. 2023.
THOMPSON, Frank Charles (Tradutor). Bíblia Sagrada. 16. ed. São Paulo: Editora Vida, 1990.

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 27


Mensagem do Bimestre

Mãe
Santíssima
Pelo Espírito Joanna de Ângelis

A
o nascer em Nazaré (Israel), Maria es- Vendo-O naquele momento em estertor,
tava destinada a renovar o mundo na sem um amigo, no tumulto que se estabeleceu
sua condição de pulcritude e amor. no Calvário, buscou superar as angústias e do-
Tornando-se Mãe de Jesus, adornou o sen- res, para perguntar em pungente agonia: – Meu
timento augusto com sacrifícios e abnegação Filho, meu Filho! Que te fizeram os homens!?
incomuns. E Ele, com dificuldade nos instantes extre-
Submetida aos impositivos existentes que mos e finais da existência corporal, respon-
faziam da mulher uma servidora do homem, deu, olhando João, o discípulo amado, que a
de tal maneira manteve-se digna que exaltou acompanhava – Mulher! – não a chamou de
a feminilidade, situando-a no seu devido lugar. mãe. – Eis aí o teu filho. Filho, eis aí tua mãe!
Seu Filho veio trazer luz à escuridão da Hu- A Natureza estava dominada pelo terror
manidade, a fim de que se modificassem os que tomava conta daquelas testemunhas per-
hábitos e costumes para melhor. versas do Mártir.
A Sua vida no trabalho com o Seu Pai re- Ele a oferecia à Humanidade e esta passa-
cebia-lhe o carinho e o devotamento ímpares, ria a ser a sua família.
embora não tivesse qualquer ideia do messia- Foi a partir desse augusto momento que
nato que a Ele competia realizar. todos os homens e mulheres do mundo pas-
Quando começou a sabê-lo, o seu desve- saram a ser seus filhos, e ela, a Mãe Santíssima
lo seguiu-lhe as pegadas luminosas até aquela de todos.
tarde trágica diante da cruz de impiedade e Hoje, quando o teu calvário parecer ex-
da alucinação da massa humana que exigia cruciar-te e o desespero tentar apossar-se dos
Sua vida no madeiro infamante. teus sentimentos, lembra-te de Maria, a Mãe
Santíssima, e prossegue alegre e confiante sob
o seu amparo.

(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco na sessão da noite de 12 de fevereiro de 2023, no
Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)

28 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Pelo Espírito Maria do Rosário

A
ntigamente o cristão ia sacrifícios inimagináveis para somos o verdadeiro templo
ao templo e permane- fingir que nos atendia, mas de Deus e o representamos
cia horas de joelhos, que permanecia vigilante, co- onde estivermos e diante de
rogando as bênçãos de Jesus, brando-nos ceitil por ceitil, quem dividir aquele momen-
de Deus, dos santos sobre a até o último... to conosco.
vida; o cristão tinha medo de O Espiritismo nos libertou, No entanto, temos morri-
ser castigado e fazia novenas, arrancou o véu da ignorân- do em nós mesmos, parece-
trezenas, rezava o terço vá- cia que tirava o horizonte de mos descrer da grandeza de
rias vezes por dia, impunha- nossos olhos e mostrou-nos o Deus e somente apreciamos
-se dolorosas penitências em mais belo caminho a seguir. a nós mesmos como senho-
forma de promessas, cruzava Desenhou a estrada e suas res absolutos do templo que
estradas descalço, cumpria paisagens e, mais do que isso, somos. Ao invés de nos trans-
trajetos de joelhos, carregava provou-nos que podemos es- formarmos em refúgio do Di-
velas do seu tamanho, vestia- colher entre infinitas rotas e vino para que todos tenham
-se de preto para dizer que que cada uma traz os deta- um lugar seguro onde reno-
morria para o mundo e só vi- lhes da paisagem para admi- var a fé e acreditar em Deus,
veria para as coisas de Deus; rarmos ou refletirmos, mas, somos devassidão e fraque-
e, quando a dor realmente acima de tudo, garantiu-nos za, preferimos caminhar no
batia às portas da alma, atira- que, de qualquer maneira, vale das sombras e da morte,
va-se constrito aos pés de um chegaríamos ao destino final e nem sequer pedimos a aju-
sacerdote para que ele orasse e fatal, que é a angelitude. da do Pai, não conseguimos
junto para alívio do sofrimen- Espera que caminhemos enxergar os verdes campos
to... Éramos escravos de uma com ele, admirando cada floridos onde Ele nos convida
fé cega, que nos impunha detalhe; ensinou-nos que a seguir.

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 29


Negamos estar com Ele, pois vimos que nesse exato lugar só Onde estão os que com
existe tempestade e aflição, e não é para ser assim? Ele se ajoelhavam nos mo-
Onde Jesus se encontrava, lá estava a multidão aflita e de- mentos tormentosos, pedin-
sesperada para que fosse curada, aliviada, e com Ele os após- do pelos agressores porque
tolos corajosos, destemidos, sem pensar em si mesmos ou na para si mesmos de nada ne-
família, porque sabiam que, enquanto cuidavam dos pobres cessitavam, já que estavam na
de Jesus, o Mestre estaria cuidando dos seus. companhia do Filho de Deus?
Onde nos perdemos nessa jornada? E os templos vazios, en-
Quando o Consolador Prometido veio em nome do Cristo quanto delegada aos benfei-
banir as aflições do mundo e nos convocou como discípulos e tores espirituais a responsabi-
nós aceitamos, por que o fizemos? A quem pensamos enganar? lidade de desenhar, construir
Agora, ante os testemunhos que já sabíamos que iríamos a nossa própria existência. O
passar, recuamos o passo amedrontados e sem saber o que que estamos fazendo de nós?
fazer! De nossa vida? E pior, o que
Como não conseguimos lembrar que caminhamos com o fizemos de Jesus?
Mestre dos mestres e que Ele é Luz no meio da escuridão, Nossos entes queridos se
Pão da vida em meio à miséria humana e que nada nunca nos tornaram menos importan-
faltará? tes para nós, porque já não
Por que deixamos de ir ao templo seguro, que é a Casa somos os que vão ao templo
Espírita, para a comunhão com Jesus e Seus santos espíritos, ajoelhar-se e pedir por eles;
que sempre estão ali, aguardando por nós? é sacrifício demais, melhor
Por que continuamos dizendo que estamos cansados, opri- é encomendar as preces aos
midos, sofridos e não conseguimos ajudá-lO quando mais pre- outros, pois já não me sinto
cisa de nós? mais filho de Deus, Ele não
Por que não estamos com Ele ante a multidão desesperada ouve minhas preces, tampou-
que vai buscar alívio para suas dores? co gastarei as horas verga-
Por que consideramos que apenas os nossos merecem a do sobre o peso do próprio
Misericórdia e a cura de Suas mãos? corpo em preces porque,
Por que Jesus tem encontrado tanta dificuldade em contar enquanto isso, a hora passa,
conosco nas horas difíceis? o dia passa, a vida passa, o
Já percebemos que a multidão sem consolo se revolta e mundo segue adiante se di-
age contra Ele, multiplicando a criminalidade e a violência vertindo, aproveitando, en-
na Terra, mas não nos preocupamos em responder onde eu quanto eu perdi meu tempo
estava quando Jesus me convocou a amainar a dor e a revolta ficando ali, parado, fincado
de um coração. no solo orando a Jesus.
Onde estão os apóstolos do Cristo? Jesus me espera, e o mun-
Aqueles que Lhe seguiam os passos pelos caminhos desér- do não!
ticos sem queixa, aqueles que se alimentavam de pão e peixe Então é melhor acompa-
e não tinham onde dormir? nhar o mundo...
Onde estão os que Lhe testemunharam a transfiguração e Tem piedade de nós, Jesus,
comprovaram a veracidade da Vida espiritual? ainda uma vez mais.

Mensagem psicografada pela médium Eulália Bueno.

30 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Presença de Allan Kardec

(Continuação da edição anterior)

Comentários selecionados, da lavra do Codificador do


Espiritismo, de O Livro dos Espíritos,1 publicado em 18 de abril
de 1857, com 501 perguntas, e com 1.019 a partir da segunda
edição, publicada em março de 1860.

Por Adilton Pugliese

“[...] A redação dos comentários às respostas dos Espíritos [...]


primam pela concisão e pela clareza com que foram expostos [...]”.2

Parte quarta
Das esperanças e consolações
Capítulo I – Das penas e gozos terrestres

Felicidade e infelicidade relativas

P
ergunta 921 – Aquele que se acha bem compenetrado de
seu destino futuro não vê na vida corporal mais do que uma
estação temporária, uma como parada momentânea em
péssima hospedaria. Facilmente se consola de alguns aborreci-
mentos passageiros de uma viagem que o levará a tanto melhor
posição, quanto melhor tenha cuidado dos preparativos para em-
preendê-la.
Já nesta vida somos punidos pelas infrações que cometemos
das leis que regem a existência corpórea, sofrendo os males conse-
quentes dessas mesmas infrações e dos nossos próprios excessos.
Se, gradativamente, remontarmos à origem do que chamamos as
nossas desgraças terrenas, veremos que, na maioria dos casos, elas
são a consequência de um primeiro afastamento nosso do cami-
nho reto. Desviando-nos deste, enveredamos por outro, mau, e, de
consequência em consequência, caímos na desgraça.

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 31


Presença de Allan Kardec

Pergunta 928 – No afastarem-se os ho- De ordinário, o homem só é infeliz pela


mens da sua esfera intelectual reside indubita- importância que liga às coisas deste mundo.
velmente uma das mais frequentes causas de Fazem-lhe a infelicidade a vaidade, a ambição
decepção. A inaptidão para a carreira abraça- e a cobiça desiludidas. Se se colocar fora do
da constitui fonte inesgotável de reveses. De- círculo acanhado da vida material, se elevar
pois, o amor-próprio, sobrevindo a tudo isso, seus pensamentos para o infinito, que é seu
impede que o que fracassou recorra a uma destino, mesquinhas e pueris lhe parecerão as
profissão mais humilde e lhe mostra o suicí- vicissitudes da Humanidade, como o são as
dio como remédio para escapar ao que se lhe tristezas da criança que se aflige pela perda de
afigura humilhação. Se uma educação moral um brinquedo, que resumia a sua felicidade
o houvesse colocado acima dos tolos precon- suprema.
ceitos do orgulho, jamais se teria deixado apa- Aquele que só vê felicidade na satisfação
nhar desprevenido. do orgulho e dos apetites grosseiros é infeliz,
desde que não os pode satisfazer, ao passo
Pergunta 933 – Muitas expressões pintam que aquele que nada pede ao supérfluo é feliz
energicamente o efeito de certas paixões. Diz- com os que outros consideram calamidades.
-se: ímpar de orgulho, morrer de inveja, secar Referimo-nos ao homem civilizado, por-
de ciúme ou de despeito, não comer nem be- quanto, o selvagem, sendo mais limitadas as
ber de ciúmes etc. Este quadro é sumamente suas necessidades, não tem os mesmos moti-
real. Acontece até não ter o ciúme objeto de- vos de cobiça e de angústias. Diversa é a sua
terminado. Há pessoas ciumentas, por nature- maneira de ver as coisas. Como civilizado, o
za, de tudo o que se eleva, de tudo o que sai homem raciocina sobre a sua infelicidade e a
da craveira vulgar, embora nenhum interesse analisa. Por isso é que esta mais o fere, mas
direto tenham, mas unicamente porque não também lhe é facultado raciocinar sobre os
podem conseguir outro tanto. Ofusca-as tudo meios de obter consolação e de analisá-los.
o que lhes parece estar acima do horizonte e, Essa consolação ele a encontra no sentimen-
se constituíssem maioria na sociedade, traba- to cristão, que lhe dá a esperança de melhor
lhariam para reduzir tudo ao nível em que se futuro, e no Espiritismo, que lhe dá a certeza
acham. É o ciúme aliado à mediocridade. desse futuro.

“De ordinário, o homem só é infeliz pela


importância que liga às coisas deste mundo.
Fazem-lhe a infelicidade a vaidade, a ambição
e a cobiça desiludidas.”

32 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Presença de Allan Kardec

Perda dos entes queridos Pergunta 936 – Estando o vós, se encontra em penosíssi-
Espírito mais feliz no Espaço ma situação. Sua saúde ou seus
Pergunta 935 – A possibi- que na Terra, lamentar que ele interesses exigem que vá para
lidade de nos pormos em co- tenha deixado a vida corpórea outro país, onde estará melhor
municação com os Espíritos é é deplorar que seja feliz. Figure- a todos os respeitos. Deixará
uma dulcíssima consolação, mos dois amigos que se achem temporariamente de se achar
pois que nos proporciona metidos na mesma prisão. Am- ao vosso lado, mas com ele vos
meio de conversarmos com bos alcançarão um dia a liber- correspondereis sempre: a se-
os nossos parentes e amigos, dade, mas um a obtém antes paração será apenas material.
que deixaram antes de nós a do outro. Seria caridoso que Desgostar-vos-ia o seu afasta-
Terra. Pela evocação, aproxi- o que continuou preso se en- mento, embora para bem dele?
mamo-los de nós, eles vêm tristecesse porque o seu amigo Pelas provas patentes, que
colocar-se ao nosso lado, nos foi libertado primeiro? Não ha- ministra, da vida futura, da
ouvem e respondem. Cessa veria, de sua parte, mais egoís- presença, em torno de nós,
assim, por bem dizer, toda mo do que afeição em querer daqueles a quem amamos, da
separação entre eles e nós. que do seu cativeiro e do seu continuidade da afeição e da
Auxiliam-nos com seus con- sofrer partilhasse o outro por solicitude que nos dispensa-
selhos, testemunham-nos o igual tempo? O mesmo se dá vam; pelas relações que nos
afeto que nos guardam e a com dois seres que se amam faculta manter com eles, a
alegria que experimentam na Terra. O que parte primeiro Doutrina Espírita nos oferece
por nos lembrarmos deles. é o que primeiro se liberta e só suprema consolação, por oca-
Para nós, grande satisfação nos cabe felicitá-lo, aguardan- sião de uma das mais legítimas
é sabê-los ditosos, informar- do com paciência o momento dores. Com o Espiritismo, não
-nos, por seu intermédio, dos em que a nosso turno também mais solidão, não mais aban-
pormenores da nova existên- o seremos. dono: o homem, por muito in-
cia a que passaram e adquirir Façamos ainda, a este pro- sulado que esteja, tem sempre
a certeza de que um dia nos pósito, outra comparação. Ten- perto de si amigos com quem
iremos a eles juntar. des um amigo que, junto de pode comunicar-se.

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 33


Presença de Allan Kardec

Impacientemente suportamos as tribulações da vida. Tão


intoleráveis nos parecem, que não compreendemos possamos
sofrê-las. Entretanto, se as tivermos suportado corajosamente,
se soubermos impor silêncio às nossas murmurações, felicitar-
-nos-emos, quando fora desta prisão terrena, como o doente
que sofre se felicita, quando curado, por se haver submetido a
um tratamento doloroso.

Decepções. Ingratidão.
Afeições destruídas

Pergunta 938 – A Natureza deu ao homem a necessidade


de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos que lhe são
concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o seu
simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da felicidade que o
aguarda no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e
benignidade. Desse gozo está excluído o egoísta.

Temor da morte

Pergunta 941 – O homem carnal, mais preso à vida cor-


pórea do que à vida espiritual, tem, na Terra, penas e gozos
materiais. Sua felicidade consiste na satisfação fugaz de to-
dos os seus desejos. Sua alma, constantemente preocupada
e angustiada pelas vicissitudes da vida, se conserva numa
ansiedade e numa tortura perpétuas. A morte o assusta, por-
que ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo
todas as suas afeições e esperanças.
O homem moral, que se colocou acima das necessidades
factícias criadas pelas paixões, já neste mundo experimenta
gozos que o homem material desconhece. A moderação de
seus desejos lhe dá ao Espírito calma e serenidade. Ditoso
pelo bem que faz, não há para ele decepções e as contrarie-
dades lhe deslizam por sobre a alma, sem nenhuma impres-
são dolorosa deixarem.

34 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Proposta de Joanna de Ângelis:
“Sentir-se filho de Deus!”1
Por Denise Lino

D
entre os livros de Joanna de Ângelis, psicografados por
Divaldo Franco, destaco Filho de Deus,2 de 1986, de
cuja primeira edição retiro as citações aqui apresenta-
das. Foi escrito numa circunstância especialíssima de psicogra-
fia mecânica, quando o médium se encontrava acamado, aco-
metido por uma virose, na capital do México, aonde chegou
dias após um terremoto da magnitude de 6.5 graus ter atingido
a cidade.
Ao narrar esse episódio, o médium conta que se lembra de
dois momentos. Primeiro, ao chegar ao quarto do hotel, viu a
mentora informando-o de que precisava ditar-lhe um livro ali,
naquele momento, ao que ele informou não seria possível, em
função de seu quadro de saúde; segundo, o de ter despertado,
algum tempo depois, na escrivaninha, com várias folhas grafa-
das com a sua própria letra, sem que tivesse consciência do
que estava escrito, pondo-se a ler o texto em seguida.

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 35


Um livro diferente de toda Nessa definição, três ca- No capítulo 1 – “Deus em
a obra veio a lume nessa cir- racterísticas de Deus rela- ti” –, o texto amplia essa no-
cunstância. Quanto à com- cionadas às três revelações ção de pertencimento, um
posição, trata-se de um tipo estão presentes. De acordo conceito incomum, qual seja
de prosa poética. A organi- com a primeira, Ele é criador, o de que Deus necessita de
zação do livro foge à regra, veja-se toda a narrativa mito- cada um! Isto pode ser consi-
pois além dos habituais 30 lógica da criação contada no derado neoparadigmático, no
capítulos e apresentação, há livro Gênesis, na Bíblia. De sentido de que a compreen-
um prefácio e um posfácio acordo com a segunda, tal são comum é a de que, sendo
compostos, ambos com ver- como destacado pela men- por Ele criado, d’Ele necessi-
sos livres, metrificados, sobre tora, Jesus apresenta Deus tamos. Porém, a mentora ex-
o tema exposto. Os capítulos como aquele que cuida, aqui plica: “Deus te necessita, a
são de um lirismo poucas ve- apontado com a característi- fim de que, em ti refletido, to-
zes visto na obra da mentora ca essencial de ter sido quem dos O vejam, sintam e amem,
como um todo. gerou a vida. De acordo com esforçando-se cada um para
Esse livro dedica-se a a terceira, Deus é a causa que também O tenha desve-
exemplificar um conceito. fundante, portanto, sem ne- lado em seu cosmo interno,
De acordo com a mentora, nhuma que O anteceda e experimentando a plenitude
dentre os variados conceitos tudo decorre da Sua existên- que um dia dominará todas
sobre Deus: “Somente Jesus cia, que é eterna. as vidas” (p. 16).
logrou fazê-lo com perfeição, Isto posto, a proposta con- No capítulo 5 – “Herdei-
utilizando-se de uma lingua- duz o leitor a reconhecer não ro de Deus” –, Joanna de
gem simples, no entanto, por- somente que Deus está fora, Ângelis submete à apreciação
tadora de alta carga racional em todos e em tudo, mas uma pergunta retórica: “Con-
e emocional, chamando-o de também que Ele está dentro siderando a tua ascendência
Pai” (p. 8). de cada um. Essa trilha de divina, já te deste conta de
A autora conduz o leitor a leitura pode ser conferida no que és herdeiro de Deus?”. A
perceber porque “o designa- prefácio, “Um recanto segu- resposta indica que a esplên-
tivo excelente preenche todas ro”, no qual a mentora ensina dida herança inclui, além das
as lacunas deixadas por ou- que há em cada criatura um obras, as “ideias sublimes”, e
tras definições e referências” recanto seguro, que, ao ser está disponível para ser saca-
(p.8). Prossegue afirmando: penetrado, faculta poder fa- da, mediante a confiança, a
“Deus é o pai criador, o Geni- lar ou escutar Deus. Para au- fé e o esforço.
tor Divino, a Causa Incausada xiliar o leitor a identificar em Esse herdeiro é apresen-
de todos os seres e de todas si esse recanto, o texto expõe tado como ser em evolução,
as coisas” (p. 8). uma lista. por isso, seus altos e baixos e

36 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


sua incapacidade de ver Deus deixar-se conduzir por Ele, definitivo, sem margem de o
em si. Para estimulá-lo, o ca- posto que tudo sabe; assim, perder” (p. 76).
pítulo 12 – “Teu recomeço” quem se entrega a Ele deixa Em resumo, a proposta
– traz a proposição “o reco- à mostra “as pegadas de luz” ensina que sentir-se filho de
meço é síndrome de próxima (p. 64). Depois, a proposta é Deus implica reconhecê-lO
felicidade” (p. 49). em qualquer situação abrir- no íntimo, ouvi-lO a partir
Coroando esse mergulho -se ao Pai, buscando-O e de diversos inputs e deixar
na identificação de Deus em n’Ele confiando, assimilando- que sua sabedoria, seu po-
si mesmo, o leitor é levado -Lhe o pensamento e a von- der e seu querer bem (amor
a sentir, de modo especial, tade, assim logrando a reali- e misericórdia infinitos) con-
a grandeza do Genitor Di- zação íntima (p. 70). Por fim, duzam cada um de nós.
vino em três capítulos: 17, a proposta é reconhecer que Por fim, não basta saber-
19 e 21, respectivamente “Deus quer o melhor para ti, -se herdeiro, importa agir
“Deus sabe”, “Deus pode” e e, porque ainda não sabes como filho, apoiando-se no
“Deus quer”. No primeiro, a elegê-lo, proporciona-te os “Amigo certo, seguro e pa-
proposta para sentir Deus é meios para consegui-lo em ternal que é Deus” (p. 22).

“Considerando a tua ascendência divina, já te deste conta de


que és herdeiro de Deus?”
Divaldo Franco/Joanna de Ângelis

REFERÊNCIAS:

1. Textualização de palestra pro-


ferida pela autora na Sociedade
Espírita Joanna de Ângelis, em 25
de fevereiro de 2023.
2. FRANCO, Divaldo Pereira;
ÂNGELIS, Joanna de [Espírito]. Filho
de Deus. Salvador: LEAL, 1986.

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 37


Presença de Tio Nilson

Por Nilson de Souza Pereira1

Numa época aparentemente


repleta de desesperança, desamor
e desânimo, uma voz amiga e
enérgica se faz ouvir, impelindo-nos a
caminhar, a buscar o Mestre Jesus.

A
cada dia evidencia- sua psicografia, que já publi-
-se a penetração do cou cento e dez livros,2 alguns
conhecimento espíri- dos quais estão traduzidos ao
ta nas diversas camadas da espanhol, francês, inglês, ita-
sociedade. Inúmeros fatores liano, esperanto, tcheco, polo-
contribuem para tal ocorrên- nês, alemão e outros vertidos
cia: problemas psicossociais, ao braille –, tem sido o TRA-
socioeconômicos, espirituais, TOR DE DEUS, conforme a fe-
mediúnicos... Admiráveis tra- liz frase de Francisco Cândido
balhadores da mediunidade, Xavier, abrindo picadas e áreas
que se dedicam com abnega- novas, para outros que lhe vêm
ção à Causa Espírita, são de- no encalço, e a sua oratória
monstrações vivas do poder tem arrebatado multidões.
da mensagem libertadora. Todos os auditórios têm
Sem qualquer demérito sido insuficientes para rece-
para esses companheiros, ber as massas que acorrem,
exemplos de dedicação, de- sedentas e emocionadas, para
sejamos reportar-nos ao fe- ouvi-lo. Nos últimos tempos,
nômeno Divaldo Franco. especialmente, a questão tem
Não fosse toda a sua vida sido relevante e não pode pas-
de dedicação irrestrita à Causa, sar despercebida. Em Goiânia,
exemplificando o que divulga em julho de 92, mais de sete
nas suas conferências – seja no mil pessoas lotaram o Giná-
trabalho educacional da Man- sio de Esportes Rio Vermelho,
são do Caminho e assistencial, fora os que não conseguiram
dirigido aos sofredores, seja a entrar.

38 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Presença de Tio Nilson

No Rio de Janeiro, em agos- arredores da cidade. O mes-


to de 93, proferindo cinco pa- mo fenômeno sucedeu nos
lestras naquela cidade, com dias imediatos, em Corumbá,
todos os auditórios repletos Campo Grande (MS), sur-
mais de uma hora antes, sendo preendendo a todos, mesmo
necessário, em algumas vezes, aqueles que estão acostuma-
antecipar-se a conferência, já dos com o verbo do conheci-
que não podiam entrar mais do baiano.
interessados. Em Volta Redon- No mês de outubro de 93,
da, em um ginásio, mais de seis ao ser homenageado com o
mil pessoas se acotovelavam Título de Cidadão de Porto
em todas as áreas, a ponto de Alegre (por unanimidade de
os administradores manterem votos da Câmara de Vereado-
fechados os portões de entra- res, qual ocorreu com todos
da. Em Petrópolis, voltaram os outros que ele recebeu –
centenas de pessoas, que não cerca de sessenta), o Ginásio
encontraram possibilidades de Tesourinha, da capital gaú-
ficar nos arredores do salão e cha, reuniu mais de seis mil
assim por diante. pessoas para ouvi-lo. Logo a
No mês de setembro de seguir, em Santana do Livra-
93, em Santos, o ginásio mento, em outro ginásio, mais
onde Divaldo se apresen- de cinco mil pessoas foram
tou esteve superlotado, com escutá-lo e se emocionaram
mais de quatro mil pessoas. às lágrimas, como também
No dia seguinte, Divaldo sucedeu em Uruguaiana,
permaneceu por horas segui- com mais de cinco mil pes-
das concedendo autógrafos e soas no ginásio da cidade.
atendendo pessoas, em San- Em todos os lugares Divaldo
to André, culminando a ativi- tem conseguido o máximo de
dade com uma comovedora público, conforme confessam
palestra, em ótima disposi- os administradores dos recin-
ção física e psíquica, quan- tos, sempre aplaudido de pé
do se comunicou o Espírito e interrompido com palmas
Bezerra de Menezes, a todos durante as conferências.
sensibilizando pela beleza da Não deixa de ser um fe-
mensagem. nômeno que merece ser es-
Logo depois, em São José tudado.
do Rio Preto, Votuporanga,
Catanduva, todos os salões
foram insuficientes. Em Rio 1. SCHUBERT, Suely Caldas. Ante
os Tempos Novos. 3. ed. Salvador:
Preto, mais de duas mil e qui- LEAL, 2015.
nhentas pessoas estiveram 2. Números da época. Atualmente
presentes num clube, nos são mais 250 livros publicados.

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 39


Por Edilton Costa

C
ertamente, todos aqueles que o admiram pela oratória Quem o observa chegar
incomparável, pelas palavras escritas – psicografadas ou aos 96 anos de existência hu-
não –, pelos sábios conselhos emanados de sua mente mana dedicando-se integral-
brilhante e de seu coração amoroso de pai social e espiritual de mente à causa do bem nem
tantos, pelo idealismo em relação à Causa Cristã-Espírita, pelo sempre reflexiona sobre as
humanismo reconhecido internacionalmente, por sua missão suas renúncias, lutas reden-
de pacificador e por tantas outras expressões plenas de fé, toras, seu grande esforço e
esperança e caridade, gostariam não apenas de oferecer-lhe sacrifício para levar adiante
o aplauso de gratidão, mas igualmente demonstrar-lhe o que o compromisso assumido an-
você significa para todos que aspiram por um mundo em que tes de reencarnar e que, para
seus habitantes vivam fraternalmente, amando e respeitando mantê-lo na atualidade, a
uns aos outros. “máquina orgânica” reclama

40 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


“Felizes de nós por sermos
contemporâneos de uma pessoa como Divaldo Franco.”
Edilton Costa

mais cuidados, mesmo que a superior transmitir explicações sobre esta etapa da evolução
vivacidade e a lucidez mental terrestre e de como a Doutrina Espírita envia um roteiro de luz
continuem atraindo inúme- para a Humanidade aflita e necessitada de orientação.
ras pessoas para assistirem às Do mesmo benfeitor espiritual, na sequência foram publi-
suas palestras, conferências e cadas as obras Amanhecer de uma nova era, Perturbações espi-
workshops. rituais e No rumo do mundo de regeneração, formando a qua-
Indubitavelmente, a Hu- drilogia de obras orientadoras para todos nós que buscamos
manidade e o mundo atra- sintonizar com o bem, a fim de que mais brevemente o mundo
vessam um período de muito esteja plenamente regenerado.
sofrimento, de muita instabi- Nesse sentido, amparado e inspirado pela veneranda ben-
lidade emocional, em que as feitora Joanna de Ângelis, Divaldo permanece o fiel trabalha-
crises de ansiedade, as síndro- dor da Causa Cristã, divulgando o Evangelho de Jesus à luz
mes depressivas, associadas a do Espiritismo, de uma forma que a todos encanta com a sua
manifestações de violência, nobreza de caráter e sua coerência doutrinária, estimulan-
crimes, tragédias coletivas e do-nos também à perseverança na tarefa em que estejamos
fenômenos mesológicos, têm engajados.
causado enorme estupefação Jesus, o Cristo, ensinou aos seus discípulos que deveriam
em toda parte. ser perfeitos como o Pai Celestial. Sabemos, todavia, que Ele
Desde o ano de 2010 o não se referia à perfeição absoluta, que é só a de Deus.
Espírito Manoel Philomeno Em O Livro dos Espíritos, na questão 625, Allan Kardec in-
de Miranda vem oferecendo terroga aos luminares da Espiritualidade maior quem seria o
obras pela psicografia de nos- modelo e guia para a Humanidade, eles responderam: “Jesus”.
so irmão Divaldo, abordando Na sua missão sublime de conduzir a barca terrestre a
tais ocorrências, sendo o livro níveis mais elevados na escala evolutiva, o Mestre Divino
Transição planetária a primei- tem-nos enviado em todas as épocas homens e mulheres
ra delas. Mais uma vez se especiais, para que nessas adoráveis criaturas possamos nos
constata o equilíbrio e o dis- espelhar.
cernimento de Divaldo Fran- Felizes de nós por sermos contemporâneos de uma pessoa
co como ser humano e como como Divaldo Franco.
instrumento mediúnico, pos- Por tudo o que você é, faz e continuará fazendo...
sibilitando ao Plano espiritual Parabéns, Divaldo!

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 41


Conhecendo a Revista
Espírita de Kardec

EDITORIAL
“CONHECENDO A REVISTA ESPÍRITA DE KARDEC” –

ARTIGO INAUGURAL
Por Alessandro de Paula

A
princípio, registro a minha gratidão à semanal, que pode ser acessado pela minha
Revista Presença Espírita, vinculada ao página pessoal do Facebook Alessandro de
Centro Espírita Caminho da Redenção, Paula/Revista Espírita, ou no YouTube, canal
de Salvador-BA, pela confiança em mim de- USE Itapetininga, playlist Revista Espírita, em
positada e pela oportunidade de termos uma que estudo cronologicamente a Revista Espíri-
coluna fixa destinada à divulgação da Revista ta (cada vídeo aborda um fascículo da revista,
Espírita, de Allan Kardec. que era mensal), de forma que esses vídeos
Considero oportuno mencionar que tive a poderão ser um complemento aos artigos que
felicidade de poder compilar muitas lições da serão divulgados nesta coluna.
Revista Espírita, agrupando-as por afinidade A ideia de me aprofundar no assunto em
temática, nascendo os livros Um tesouro ines- questão se deu em virtude do meu trabalho
timável (volumes I, II e III), fruto da parceria com a divulgação da Doutrina Espírita há mais
entre a Editora Fráter e a Federação Espírita de 25 anos, em que pude constatar que a Revis-
Brasileira (a renda da venda é destinada à en- ta Espírita, mantida por Allan Kardec de janeiro
tidade Remanso Fraterno, de Niterói-RJ), bem de 1858 a abril de 1869, é um tesouro quase
como informo que disponibilizo um vídeo esquecido dentro do Movimento Espírita.

42 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Conhecendo a Revista
Espírita de Kardec

A Revista Espírita foi a tribuna do Espiritis- Na Revista Espírita há ainda aproximada-


mo, na qual o nobre codificador podia chegar mente 350 comunicações espirituais, cujos
aos rincões mais distantes do orbe terrestre, conteúdos são belíssimos e cuidam de rele-
atendendo ao Movimento Espírita inicial, que, vantes temas doutrinários e morais.
certamente, teve muitas dúvidas e questio- Durante 20 meses (de julho de 1859 a fe-
namentos doutrinários, bem como para pre- vereiro de 1861), Kardec publicou os boletins
servar o Espiritismo dos ataques levianos e ir- da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas,
responsáveis que o distorciam, atribuindo-lhe em que sintetizava as principais ocorrências
conceitos e ideias inverídicos. doutrinárias e administrativas, as quais servem
O conteúdo da Revista Espírita é de uma de excelente qualificação para os dirigentes e
riqueza doutrinária que me impressiona, por- tarefeiros espíritas.
que ela serviu de laboratório para que alguns Nela também veremos de forma mais ex-
conceitos espíritas fossem devidamente ava- plícita o lado moral de Allan Kardec, de modo
lizados pelos benfeitores espirituais através que suas virtudes, tais como caridade, paciên-
da conhecida “universalidade dos ensinos” e cia, tolerância, humildade, gratidão, respeito
que seriam, oportunamente, incorporados às etc., estão presentes em muitos textos, servin-
obras fundamentais que compõem o Penta- do de inspiração a todos os espíritas.
teuco de Kardec. Enfim, é impossível expor num único ar-
Todavia, a citada revista não foi apenas um tigo o impressionante e luminoso conteúdo
laboratório de ideias, como alguns supõem, da Revista Espírita, mas alguns números nos
haja vista que nela também encontramos um permitem compreender essa grandeza, ou
amplo estudo sobre temas doutrinários que já seja, foram 136 revistas mensais, que contêm,
estavam consolidados, mas que precisariam aproximadamente, 1.500 artigos espalhados
ser ampliados e aprofundados, a exemplo de por 4.800 páginas.
Deus, imortalidade da alma, reencarnação, Algo que sempre me perguntam: por que a
obsessão, provas e expiações, mediunidade, Revista Espírita é tão desconhecida pelo Movi-
transição planetária. mento Espírita?

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 43


Conhecendo a Revista
Espírita de Kardec

Costumo sintetizar em dois pontos: todos os artigos contidos no mês abordado e


normalmente escolho dois itens para uma re-
1) A primeira tradução da revista para o flexão doutrinária mais detalhada.
português somente se deu no final da Espero despertar no leitor o desejo de ler
década de 1960 (feita por Júlio Abreu e estudar integralmente a Revista Espírita, de
Filho); a segunda tradução foi feita por Allan Kardec, além de colocá-la mais em evi-
Salvador Gentile, na década seguinte; dência no Movimento Espírita, inspirando ora-
mais recentemente, temos a tradução dores, dirigentes de estudo, escritores etc.
ofertada por Evandro Noleto Bezerra Finalizo este artigo com um texto de
(pela FEB). Kardec sobre a Revista Espírita, que corrobora
2) A Revista Espírita é raramente utilizada a sua importância para o Movimento Espírita
nas palestras e nos grupos de estudo, (o texto parcialmente reproduzido abaixo se
bem como dificilmente a encontramos originou de diversos pedidos que os assinan-
nas bibliotecas das casas espíritas, de tal tes fizeram para aumentar a periodicidade da
sorte que, por consequência, continua a revista, mas era impossível para Kardec aten-
ser uma grande desconhecida do Movi- der a esse anseio por causa das inúmeras ati-
mento Espírita. vidades por ele desempenhadas).
“[...] O segundo motivo é a natureza mesma
Registre-se, ademais, que temos visto inú- de nossa Revista, que é menos um jornal do
meras campanhas acerca das denominadas que o complemento e o desenvolvimento de
“obras básicas” do Espiritismo, que é válida e nossas obras doutrinárias. A forma periódica
compreende O Livro dos Espíritos, O Livro dos nos permite introduzir-lhe mais variedade do
Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O que num livro, e de aproveitar as atualidades.
Céu e o Inferno e A Gênese, mas entendo que Ali vêm se agrupar os fatos mais interessantes,
deveremos incluir nessas campanhas a Revista as refutações, as instruções dos Espíritos; ali se
Espírita, que, segundo o próprio codificador, é desenham as diferentes fases do progresso da
o complemento das suas obras fundamentais. ciência espírita; ali, enfim, vêm se tentar, sob
Por essas razões, fico profundamente feliz forma dubitativa, as teorias novas que não po-
por poder compartilhar nesta coluna os tex- dem ser aceitas senão depois de terem rece-
tos que venho escrevendo sobre cada mês da bido a sanção do controle universal”. (Revista
Revista Espírita, nos quais costumo mencionar Espírita de novembro de 1864).

44 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Conhecendo a Revista
Espírita de Kardec

A REVISTA
ESPÍRITA
DE JANEIRO DE 1858 Por Alessandro de Paula

O
jornal inaugural da Revista Espírita ini- ditada por ela própria à senhorita Ermance
cia-se com uma introdução de Allan Dufaux e O Livro dos Espíritos.
Kardec, em que este explica que esse Percebe-se, nessa primeira edição, a preo-
periódico mensal seria a tribuna do Espiritis- cupação de Allan Kardec em esclarecer o
mo, na qual haveria discussão de ideias, mas público acerca das características das mani-
não disputas e contendas, bem como escla- festações espirituais, que ocorriam de forma
rece que a referida revista seria um jornal de intensa àquela época com o escopo de des-
estudos psicológicos, porque estudaria a parte pertar a criatura humana para a sua essência
metafísica do homem. espiritual e para o real propósito da vida, que
O nobre codificador apresentou os seguin- é o nosso progresso intelecto-moral.
tes artigos: diferentes formas de manifestações, Dos artigos que compõem a Revista Espírita
vários modos de comunicação, manifestações de janeiro de 1858, gostaria de destacar dois
físicas, os diabretes, evocações particulares, deles, a saber: “Evocações Particulares” e “O
uma conversão, os médiuns julgados, visões, Livro dos Espíritos”.
reconhecimento da existência dos Espíritos e No artigo “Evocações Particulares”, Allan
de suas manifestações, história de Joana D’Arc Kardec narra que uma mãe havia perdido uma

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 45


Conhecendo a Revista
Espírita de Kardec

filha única de 14 anos após esta vivenciar uma


longa e dolorosa doença, tendo aquela sofrido
intensamente com reflexo na sua saúde. A ge-
nitora soube da possibilidade de se comunicar
com a filha desencarnada e procurou uma se-
nhora do seu conhecimento que era médium.
No momento da evocação estavam presen-
tes a genitora, a médium e Kardec, que estava
prestando uma assistência a pedido delas.
A menina dá uma bela comunicação, iden-
tificando-se com seu apelido familiar, Lili, que
a médium desconhecia, e a psicografia repro-
duzia com fidelidade a letra dela. “Segundo, que não possamos
Lili, cujo nome é Júlia, diz que está feliz e
que é para a mãe parar de sofrer, tendo esta
indagado se a filha estava entre os anjos, já
permitir que o luto acabe com as
que foi tão boa na Terra, mas esta diz que
ainda não é bastante perfeita e que agora, na nossas vidas, porque, com a
Espiritualidade, identificava o que lhe faltava
para atingir essa perfeição. certeza da imortalidade da alma e
A mãe estranha a resposta da filha, dizendo
que não conhecia qualquer defeito desta, e dos reencontros futuros no Mundo
Lili diz que adquirirá as qualidades que lhe fal-
tam em novas existências. Ao ser questionada
espiritual, deveremos manter a
pela genitora, informa que a doença que teve
era uma prova que suportou com paciência,
por isso estava feliz no Mundo espiritual. alegria de viver e cumprir com as
Que bela comunicação que nos traz diver-
sas reflexões! nossas tarefas na atual
Primeiro, que devemos suportar com pa-
ciência e resignação as nossas provas e ex- reencarnação.”
piações, para que possamos retornar felizes à
Pátria espiritual.
Segundo, que não possamos permitir que o
luto acabe com as nossas vidas, porque, com
a certeza da imortalidade da alma e dos reen-
contros futuros no Mundo espiritual, devere-
mos manter a alegria de viver e cumprir com
as nossas tarefas na atual reencarnação.

46 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Conhecendo a Revista
Espírita de Kardec

Terceiro, que não desprezemos o autoco-


nhecimento, a fim de que não regressemos
iludidos para o Mundo espiritual, achando que
tudo estava perfeito, que não tínhamos defeitos
a serem corrigidos, conflitos a serem superados
e virtudes a serem conquistadas. Lili só perce-
beu no Mundo espiritual as suas pendências
morais, embora tenha tido uma provação exito-
sa na Terra, e como o amor de Deus é infinito,
sempre teremos novas oportunidades de seguir
progredindo, mas não desperdicemos as expe-
riências que a atual reencarnação nos propicia.
No artigo “O Livro dos Espíritos”, Allan
Kardec cita um texto publicado no Jornal “O
Courrier”, de Paris, em que o repórter G. Du
Chalard faz elogios a O Livro do Espíritos, di-
zendo que:
“O Senhor é homem de estudo e tem
aquela boa-fé que apenas necessita instruir-
-se? Então leia o LIVRO PRIMEIRO sobre a
doutrina espírita. Estás na classe das criatu-
ras que apenas se ocupam consigo mesmas
e que, como se costuma dizer, faziam os seus
negócios muito tranquilamente e nada en-
xergam além dos próprios interesses? Leia as
Leis Morais. A desgraça o persegue encarni-
çadamente e a dúvida o tortura por vezes no
seu abraço gelado? Estude o terceiro livro: Es-
peranças e Consolações [...]”.
Que extraordinário elogio à grande obra
que é O Livro dos Espíritos.
E Kardec ainda comenta sobre a forma
como foram obtidas as comunicações que
compõem a 1ª edição da referida obra, citan-
do a especial participação das irmãs Boudin
(Caroline e Julie) e Ruth Japhet, que foram
médiuns de grande valor.
Eis a síntese da Revista Espírita de janeiro de
1858.

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 47


Conhecendo a Revista
Espírita de Kardec

A REVISTA
ESPÍRITA
DE FEVEREIRO DE 1858 Por Alessandro de Paula

O
nobre codificador, no jornal de feve- No artigo “Diferentes Ordens de Espíri-
reiro de 1858, apresentou os seguintes tos”, Kardec assevera que a classificação não
artigos: “Diferentes Ordens de Espíri- foi textualmente apresentada pelos benfeito-
tos”, “Escala Espírita”, “O Fantasma da Senho- res espirituais, mas foi elaborada por ele a par-
rita Clairon”, “Isolamento dos Corpos Pesa- tir dos ensinamentos trazidos por estes.
dos”, “A Floresta de Dodona e a Estátua de O codificador dividiu a classificação evolu-
Memnon”, “A avareza — por São Luís”, “Con- tiva dos Espíritos em três grupos, a saber: Es-
versas de Além-Túmulo — Senhorita Clary D.”, píritos imperfeitos (Espíritos impuros, levianos,
“O Sr. Home”, “Manifestações de Espíritos” pseudossábios e neutros), bons Espíritos (Espí-
e “Aos leitores da Revista Espírita” (esclareci- ritos benevolentes, cultos, sábios e superiores)
mentos de Kardec). e Espíritos puros (classe única).
Dos artigos que compõem a Revista Espírita Kardec apresenta duas utilidades para a re-
de fevereiro de 1858, gostaria de destacar três ferida classificação.
deles, a saber: “Diferentes Ordens de Espíri- Primeiro, em razão da influência que rece-
tos”, “Conversas de Além-Túmulo” e “Aos lei- bemos dos Espíritos através da mediunidade,
tores da Revista Espírita”. desde a inspiração até as mais ostensivas, é

48 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Conhecendo a Revista
Espírita de Kardec

“Kardec alerta que os Espíritos não pertencem sempre e


exclusivamente a esta ou aquela classe, haja vista que
seu progresso se realiza gradativamente e,
muitas vezes, poderá apresentar caracteres de
várias categorias.”

importante identificar seus níveis de evolução em foco, e foi inserida na 2ª edição de O Livro
para que possamos estabelecer o grau de con- dos Espíritos (lançada em 1860 e com 1.019
fiança e de estima que merecem. perguntas), nas questões 100 a 113.
Segundo, por conta do nível evolutivo Entretanto, convém ponderar que na 1ª edi-
de cada um de nós, será útil verificarmos o ção de O Livro dos Espíritos (lançada em 1857
que nos falta para chegarmos à perfeição ou e com 501 perguntas), nas questões 54 a 58, os
para darmos um passo adiante no progresso benfeitores espirituais já tinham trazido algumas
espiritual. informações acerca dessa temática e Kardec já
Kardec alerta que os Espíritos não perten- havia inserido algumas anotações pessoais.
cem sempre e exclusivamente a esta ou aque- No artigo “Conversas de Além-Túmulo”,
la classe, haja vista que seu progresso se rea- Kardec traz à baila um diálogo com a Senhori-
liza gradativamente e, muitas vezes, poderá ta Clary, que havia desencarnado com 13 anos
apresentar caracteres de várias categorias. de idade e era o gênio da família por se tratar
Registre-se que a escala espírita, com seu de um Espírito evoluído, tanto que ela diz que
conteúdo mais detalhado e extenso, foi apre- irá reencarnar num mundo mais elevado que
sentada pela primeira vez na Revista Espírita a Terra, onde já se é feliz.

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 49


Conhecendo a Revista
Espírita de Kardec

A Senhorita Clary diz que os Espíritos con- Os Espíritos que ainda não estiverem des-
seguem ver o presente, o passado e um pouco ligados da influência da matéria dizem sentir
do futuro, conforme sua evolução espiritual. calor, frio, sede, fome etc., mas não o sentem
Merece destaque o fato de que somente diretamente pelo corpo espiritual, mas são
os Espíritos mais evoluídos têm acesso ao fu- impressões penosas que relembram de suas
turo, e assim mesmo com alguns limites, de existências corporais transatas.
forma que devemos ter muita cautela com as Interpelado por Kardec, o Espírito ainda diz
comunicações espirituais que revelam eventos que poderia ficar visível desde que houvesse
futuros e/ou que apresentam datas certas para menos pessoas no recinto, que se recolhes-
as suas ocorrências. sem com mais fé e fervor, e que houvesse um
Indico o capítulo XVI da obra A Gênese médium do gênero de Home (Daniel Dunglas
(Teoria da Presciência), em que Kardec traz Home).
diversas orientações acerca dessa temática. A Senhorita Clary traçou algumas condi-
Em relação ao passado, os Espíritos preci- ções mínimas para que pudesse ocorrer a sua
sam ter certo equilíbrio para recordar de suas materialização, e sabemos que o Sr. Home foi
vidas transatas, senão a lembrança pode ser um extraordinário médium de efeitos físicos
mais prejudicial do que benéfica, porque nem (na Revista Espírita em pauta há um artigo so-
todos têm maturidade para lidar com as recor- bre ele), que produzia em abundância o fluido
dações dos erros do passado. magnético animal (ectoplasma), e a partir des-
Assim sendo, é um equívoco pensar que, se fluido os Espíritos podem produzir mate-
após a desencarnação, lembraremos auto- rializações, movimento de objetos, ruídos etc.
maticamente de nossas vidas passadas, ainda Por derradeiro, no artigo “Aos leitores da
que parcialmente, pois somente com o passar Revista Espírita”, Kardec, demonstrando edu-
do tempo e com a aquisição de maturidade é cação e respeito aos leitores, justifica que não
que gradativamente vamos acessando o nosso poderá responder a todas as cartas por conta
passado espiritual. da multiplicidade de suas ocupações, dizen-
Kardec faz uma extraordinária pergunta a do: “Rogamos encarecidamente que não in-
Clary, indagando se seu corpo espiritual sente terpretem mal o nosso silêncio”.
frio e calor, tendo ela respondido da seguinte Que grandeza moral do codificador, reve-
maneira: “Quando me lembro muito de meu lando uma imensa preocupação em se justifi-
corpo sinto uma espécie de impressão, como car com os leitores para que não ficasse qual-
quando se tira um manto e se fica com a sen- quer impressão equivocada por estes, bem
sação de que, por algum tempo, ainda se está como demonstra sua dedicação hercúlea às
com ele”. múltiplas tarefas que realizou, não desistindo
Recomendo ao leitor o estudo das ques- diante do cansaço, dos obstáculos, das enfer-
tões 237 a 257 de O Livro dos Espíritos (per- midades etc.
cepções, sensações e sofrimento dos Espíritos). Eis a síntese da Revista Espírita de fevereiro
Aliás, parece-me que a resposta da Senhorita de 1858.
Clary, em alguma medida, ajudou na resposta
da questão 256 do aludido livro.

50 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


Párias em redenção
Cinquenta anos de publicação
(17 de junho de 1973 – 17 de junho de 2023)
Por Adilton Pugliese

R
esultado da inédita e harmoniosa parceria mediúnica, em conexão perfeita, entre o Es-
pírito Victor Hugo e o médium Divaldo Franco, Párias em redenção completa seu cin-
quentenário de publicação em 17 de junho de 2023. Seus direitos autorais foram cedidos
à Federação Espírita Brasileira (FEB), tendo atingido, em julho de 2020, a 9ª edição, com 569
páginas, em que pode ser lido um resumo da obra:

Devastado pela morte da esposa, tão bela quando santa, o duque Giovanni di Bicci
definha. A saúde, outrora vigorosa, recorda agora o distinto clã em que nascera, nas
italianas terras da Toscana: declina sem volta. Os herdeiros da cobiçada fortuna seriam
os três filhinhos, que, naquele 1745, eram crianças apenas. Girólamo, o sobrinho rebel-
de e libertino que o duque e sua senhora haviam adotado anos antes, está decidido.
Herdará tudo. Somente os séculos de angústia e dor, reparação e renúncia redimiriam
as personagens daquela trama sombria, que tem no Brasil de 1967 o seu desfecho.

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 51


Primeiro romance de Victor Hugo pela mediunidade de
Divaldo Franco, Párias em Redenção nos mostra que a
consequência inevitável do crime e da ambição desgo-
vernada é sempre o amor, aureolando-nos de luz.1

Após a conferência de lançamento, realizada na sede da FEB,


então localizada no antigo Estado da Guanabara, hoje Rio de Ja-
neiro, o Espírito Dr. Bezerra de Menezes encerrou de viva voz o
acontecimento, fazendo belíssima exortação ao público presente.
Para os espíritas, a riquíssima existência de Victor
Hugo (1802-1886) – considerado um dos precursores do Es-
piritismo – apresenta especiais particularidades por ele ter
participado, a partir de 1853, dos fenômenos das “mesas gi-
rantes”, cerca de dois anos antes de Allan Kardec ter tido a
sua iniciação, em maio de 1855, na casa da médium parisien-
se Sra. Plainemaison. Mais tarde, na Revista Espírita de janeiro
de 1869, o codificador faria citação em torno do famoso ro-
mancista e de suas experiências paranormais, declarando ter
Páginas da Revista Reformador sobre
ele “afirmado abertamente, em muitas ocasiões, sua crença o lançamento do livro Párias em
nos princípios fundamentais do Espiritismo”.2 Redenção, em setembro de 1970.
Em 1853, segregado na Ilha de Jersey e, posteriormen-
te, na Ilha de Guernesey (1855), por motivos políticos, esse
exílio o levaria a ter contato com os “mortos”, graças à Senhora
Delphine De Girardin (1804-1855), inspirada poetisa, roman-
cista e teatróloga. Os médiuns eram a esposa do romancista e
seu filho Charles Hugo.

“Viverei mil vidas futuras”, declarou no ocaso da vida.


“Continuarei minha obra, de século em século escala-
rei todas as rochas, todos os perigos, todos os amores,
todas as paixões, todas as angústias e depois de mil
ascensões, livre, transformado, meu Espírito voltará à
sua fonte, unindo-se com a realidade absoluta, como
o raio de luz retorna ao Sol”.3

VICTOR HUGO
Nascimento: 26 de fevereiro de 1802, Besançon, França.
Falecimento: 22 de maio de 1885, Paris, França.

52 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


No início do século XX, cerca de trinta e três anos após a
sua desencarnação, o Espírito Victor Hugo cumpre a sua pro-
messa de que “continuaria a sua obra” e, concentrando-se no
gênero literário que o fizera famoso, planeja o seu retorno ao
mundo fascinante dos romances, agora sob nova expressão e
em outra nação: o Brasil, iniciando os seus ditados mediúnicos
romanceados por meio da médium Zilda Gama (1878-1969).
v
Párias em redenção tem enredo intensa movimentação de
Espíritos encarnados e desencarnados, em sucessivas vivências
no corpo físico, animando diversificadas personalidades, do-
minados por suas emoções e paixões, suas escolhas equivo-
cadas e transtornos, decorrentes do livre-arbítrio, em vibrante
narrativa dos episódios ocorridos entre 1745 e 1967.4 Todo o
livro, portanto, é uma profunda aula-advertência acerca da
Reencarnação e do seu mecanismo restaurador dos desvios
das Leis de Deus: a Lei de Causa e Efeito. A importância dessa
obra de excelente substância doutrinária espírita é declarada
pelo seu autor espiritual no “Prefácio”:

Enquanto o homem não se levantar, emergindo do


animal, similia similibus, livros evocando a história dos
párias, em trilhas de redenção, serão imprescindíveis
para o estudo da alma humana.

Lendo-o, amigo leitor, você jamais esquecerá dos persona-


gens e dos instrutivos comentários doutrinários do autor espi-
ritual, enfocando princípios nucleares da Doutrina Espírita.

REFERÊNCIAS:
1. FRANCO, Divaldo Pereira; HUGO, Victor-Marie [Espírito]. Párias em redenção. 9. ed. Brasília: FEB, 2020,
texto da 4ª capa.
2. KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Janeiro de 1869. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1.
ed. Brasília: FEB, 2005, p. 41.
3. MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Victor Hugo e seus fantasmas. 1. ed. Capivari: EME, p. 112.
4. FRANCO, Divaldo Pereira; HUGO, Victor-Marie [Espírito]. Párias em redenção. 9. ed. Brasília: FEB, 2020,
p. 10 e p. 569.

2023 • Maio/Junho • Revista PRESENÇA ESPÍRITA 53


Para refletir

Serviço
Pelo Espírito Eros

A
Natureza é uma lição viva de serviço à Vida.
Serve o ar, sem o qual nada sobrevive; serve o pão, para
manter a vida; serve o verme, sustentando a vida; serve o
gérmen, renovando a vida; o vento perpassa em doce musicalida-
de e, conduzindo o pólen da flor, fecunda outras espécies vege-
tais, perpetuando vidas; serve o animal nas diferentes expressões
da escala evolutiva em que se demora; serve a água, preservando
a vida em todas as suas manifestações; serve o Sol, mantendo o
equilíbrio geral, e, graças ao seu tropismo, realizam-se os progra-
mas divinos na Terra e no sistema que a sustenta. Tudo é serviço
em toda a parte. O homem deve servir também, porquanto so-
mente servindo atinge a maioridade moral, já que, servido, não
logra passar da infância espiritual. Serve ao animal, às plantas, à
Natureza e ao homem.
Assim, converter-te-ás nas mãos do Divino Servidor pelos ca-
minhos do mundo, que não cessa de servir.

FRANCO, Divaldo; EROS [Espírito].


Heranças de amor. 3. ed. Salvador: LEAL, 2001, cap. 8.

54 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023


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56 Revista PRESENÇA ESPÍRITA • Maio/Junho • 2023

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