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Sumário
PALAVRA DO PROVINCIAL
4 ESPAÇO DO LEITOR
5 REFLEXÃO
Como modular nossa personalidade
e nossa consagração ao longo da vida
8 ENTREVISTA
O suicídio na vida religiosa: realidade e prevenção
11 HISTÓRIA DA PROVÍNCIA
Província de São Paulo:
da criação da vice-província à reconfiguração
21 PASTORAL
Basílica de São Geraldo
23 RECONFIGURANDO
Administração, Pastoral e Missionários Leigos
32 PARTILHA MISSIONÁRIA
Unidos em Cristo, com Maria, viver e crescer em comunidade
34 CURIOSIDADES
Jubileu dos 50 anos da comunidade redentorista
Alfonsianum I – Ipiranga
37 RESENHA REDENTORISTA
São Geraldo Majela – Redescobrindo um santo
39 ESPAÇO DIÁLOGO
Eucaristia e Igreja: Formamos em Cristo um só corpo
Divulgação
EXPEDIENTE
INFORMATIVO DA PROVÍNCIA
Abril a Novembro de 2023
Superior Provincial
Pe. Marlos Aurélio da Silva, C.Ss.R.
Editores
Pe. Jonas de Pádua, C.Ss.R.
Fr. Fabrício Oliveira, C.Ss.R.
Mário Pereira
Revisão
Ana Lúcia de Castro Leite
Sofia Machado
Design e Diagramação
Mauricio Pereira e Maicon Santos
Foto de capa
Thiago Leon
Email:
secretariasp@cssr.com.br
Tiragem:
700 exemplares
Reprodução
C
hegamos novamente até vocês para, por Ademais, o dinamismo do carisma redentoris-
meio destas páginas, partilhar um pou- ta continua se manifestando nos diversos tipos de
co de nossa vida e missão redentoristas. apostolado que realizamos, seja na Basílica de São
É sempre algo importante e revitalizador, pois Geraldo Majela, em Curvelo (MG); seja na Paróquia
nos faz perceber que estamos vivos e interco- da Glória, em Juiz de Fora (MG); bem como no ár-
nectados! Somente à medida que nos apoiamos duo e importante trabalho das comissões em vista
e nos solidarizamos, tem sentido nos conside- do processo de reconfiguração. Nisso tudo se ma-
rarmos família redentorista, ou seja, pessoas nifesta nossa adesão real ao projeto da Redenção
que compartilham da mesma fé, espiritualidade abundante!
e ideal missionário! Pois, mesmo que cada um Por fim, em sintonia e comunhão com o Ano
esteja em sua lida diária, empenhado para rea- Vocacional da Igreja do Brasil, destacamos as his-
lizar suas tarefas ou vivendo em uma vida mais tórias vocacionais de nossos confrades Ir. Marcos
contemplativa, depois de muito ter trabalhado, Vilanova e do Pe. Jonathan Antônio. São respostas
porém, sentimo-nos muito unidos e igualmente concretas ao Senhor, que continua chamando e
marcados pela vocação redentorista! contando conosco para sua seara evangelizadora.
Neste número de nossa revista, entre tantos Nesse sentido, a celebração de jubileu áureo da
conteúdos interessantes, seremos enriquecidos casa do nosso Alfonsianum I, Casa do Juniorato do
com os testemunhos de confrades que fazem a Ipiranga, é um marco referencial significativo tam-
memória agradecida pela bonita história de nossa bém, pois revela o cuidado e a valorização pelas
querida Província Redentorista de São Paulo. Sem vocações que nossa Província sempre teve, e conti-
dúvida, essa entidade religiosa é muito mais que nua tendo. Não basta querer vocacionados, é pre-
uma instituição eclesiástica; de fato, é o resultado ciso cuidar e formar bem os que chegam para se
de vidas e experiências que teceram, no emaranho somarem a nós, em vista da missão!
existencial, essa forma de encarnar o espírito re- Portanto só nos resta desejar uma frutuosa
dentorista, neste espaço geográfico de São Paulo. leitura a todos(as). E que este Informativo traga e
São incontáveis as bênçãos e alegrias alcançadas confirme a certeza de estarmos continuando, sino-
ao longo deste tempo. Em tudo isso, bendito seja dalmente, os passos do Redentor e sendo missio-
Deus! Daí ser imprescindível conhecer, em grandes nários da Esperança!
traços, essa história, feita de garra e doação, para
que ela continue acontecendo, ainda que, a partir
Foto: Thiago Leon
Reverendíssimos padres, irmãos e toda a família redentorista da Província de São Paulo, que ale-
gria escrever este agradecimento a todos vocês! Sou leigo redentorista da cidade de Tietê (SP) e
sou muito grato por fazer parte desta província, na Igreja do Seminário Santa Teresinha. Nesse
lugar me tornei amigo de muitos missionários, o que me possibilitou participar de profissões
religiosas e ordenações. A Província de São Paulo nos entregou, com suas formações, grandes
Órgão da Província Redentorista de São Paulo • Edição N. 279 • Janeiro, Fevereiro e Março de 2023
missionários. Exímios mestres passaram por Tietê, preparando os jovens para ser irmãos ou
padres. A cidade de Tietê foi berço de muitos redentoristas. Fico feliz em dizer que minhas
orações contribuíram para a edificação das vocações. Deus abençoe o Provincial, Pe. Marlos, e
preparem-se para a nova Província. Forte abraço a todos.
Na vida Religiosa Redentorista, na Província de São Paulo, fui sempre bem acolhido e bem tra-
As origens tado. Tenho um excelente acompanhamento na saúde, já frágil pelos anos. Nos primeiros anos
dos Redentoristas
alemães no Brasil de vida consagrada, as coisas eram diferentes, não tínhamos, como hoje, a formação que se
Entrevista: Bispo destaca Reconfigurando: Confira os trabalhos
desenvolve. Para muitos, naquela época, os irmãos não precisavam estudar, e foi assim que vivi.
Eu escrevi uma cartinha, com cinco linhas, e fui acolhido, há quase 60 anos. Não pude estudar,
o Ano Vocacional da Igreja das comissões de Vida Apostólica
do Brasil, p. 8 e Vocacional, p. 18
segui na profissão que já tinha, de alfaiate, por muitos anos, quase 80. Fui hortelão já mais velho.
Janeiro, fevereiro e março de 2023 07/03/2023 14:03:24
Com 50 anos de vida religiosa, pela primeira vez pude falar para o povo. Nem sabia o que falava,
Edição N. 279 mas falei muitas coisas boas. Agradeço muito a graça de ser Redentorista. Eu começaria tudo de
novo! Mensagem aos irmãos mais novos: Não desanimem! A doença também é graça de Deus.
Recordo, com gratidão, o primeiro Na bondade de Deus, a doença ensina a viver melhor a vida religiosa.
contato que tive com o Secreta-
riado Vocacional Redentorista e, a Ir. Clemente (Waldemar Úrsula de Jesus), C.Ss.R.
partir disso, tantos outros momen-
tos de encontro e fraternidade com Finda-se uma era. A Província de São Paulo alarga seus Em fins de maio de 1956, com 10 anos de ida-
tantos Missionários Redentoristas. limites geográficos, funde-se a outras, em uma nova de, ainda menino de calças curtas, como era
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Pediram-me que escrevesse uma empreitada de fé, no poder de Deus, que sempre opera o costume da época, ingressei no Seminário
memória agradecida à Província de maravilhas. Como oblata redentorista, coube-me a gra- Santo Afonso, em Aparecida. Eu era mais um
São Paulo, mas é certo que, para ta satisfação de dizer-lhe umas palavras pela riqueza “peixinho” alcançado pelas redes dos missio-
além da estrutura, a comunidade que nos foi concedida, por meio da Revista Província, nários em suas andanças, sempre preocupa-
provincial é formada por muitos de seus caminhos, testemunhos eloquentes de reden- dos em mandar para o Seminário crianças e
rostos e diferentes pessoas. E é toristas que nos precederam, ensinamentos em profu- jovens, para continuar o trabalho em favor
por esses valorosos confrades que são da doutrina, incentivo à vivência na fé, sob o impul- da Redenção e do Reino de Deus. O lema da
rezo meu canto de ação de graças e so da esperança e o caminhar, norteados pela caridade Congregação “Copiosa apud Eum redemptio”,
louvor, tantos destes que gastaram fraterna, tudo isso, em uma síntese limitada, foi o que e do Seminário Santo Afonso “Dies impen-
suas vidas pela copiosa redenção, recebemos e expressamos com gratidão.Fazemos hoje dere pro redemptis”, que contemplávamos
tantos daqueles que quando crian- uma retrospectiva no tempo que nos foi dado assim vi- todos os dias no altar-mor da capela, emba-
ça tive a oportunidade de escutar ver. Apresentamos uma memória agradecida em tudo laram minha adolescência e juventude, mar-
pelas ondas da rádio, e tantos ou- e por tudo. Auguramos em crescimento, progresso e cada pela convivência alegre com nossos for-
tros com os quais convivi e conheci. expansão do espírito missionário, de novas inspirações madores, professores e colegas, pela intensa
É extensa a lista daqueles que mar- na evangelização. vida de oração e sério empenho nos estudos,
caram minha história e vocação, aliviados por momentos de esportes, brinca-
que incentivaram e marcaram pre- À nova província trago nome de Aparecida, deiras e passeios, que fazíamos com frequên-
sença nos diversos momentos de É um bom augúrio, Maria nos abraça, cia na majestosa serra da Mantiqueira. Hoje,
minha vida. Pela vida doada desses Esse amplexo maternal nos fortalece e nos irmana. olhando o que ficou para trás, com 57 anos de
valorosos confrades ao anúncio da Vai Redentorista, mais uma vez, profissão religiosa e 48 de ministério sacerdo-
Copiosa redenção, quero fazer che- Alargando fronteiras, empunhando com vigor, tal, faço uma memória agradecida a Deus e à
gar ao Pai minha prece de louvor e A bandeira da Evangelização com o lema: Província de São Paulo por tudo aquilo que
gratidão. “Copiosa redenção”, O Espírito Santo os ilumine. moldou e proporcionou em minha vida.
Fr. Mathias José Pereira, C.Ss.R. Neuza de Pontes Fabri Bussamra Pe. Antonio Carlos Vanin Barreiro, C.Ss.R.
.C.Ss.R.
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NOSSA CONSAGRAÇÃO AO LONGO DA VIDA
H
á uma temática em pauta: a importância de Somos sujeitos e nossas circunstâncias (em casa
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O que pode decretar a existência
de CRISE. Carecemos, então, de
critérios. Eles serão apanhados
onde e como? Esse quadro da
vida pode receber muitos nomes.
É uma realidade compósita.
Algumas atitudes e certos
comportamentos denunciam um
desencaixe da pessoa em relação
a... (completa você, por favor!). Ah,
os traços emocionais, as insatisfa-
ções queixosas, a repetitividade de
desencaixes. Todos apontam para
a dificuldade de bem-viver. Algo se “O chamado vocacional nos potencia”
rompeu. Alguma fratura sobreveio. Vida fragmentada, do: o segredo de quem sou” (Sartre). Não pode ser
raízes não purificadas, talvez porque nunca percebidas. que os outros sejam o inferno. Como me posiciono
Ou sempre recusadas. Cicatrizes não curadas até ago- face aos problemas, reagindo saudavelmente aos de-
ra? Supuram. Pessoa fazendo-se de vítima? Onde está a safios? Eu preciso do olhar do outro para me conhe-
bendita autoestima? Onde a certeza fiducial de “Deus cer, identificar-me. Companheiros são indispensáveis.
me ama”, “sou precioso a seus olhos”? Parece que um Parcerias são a regra da vida. Amigos? Ah, que pre-
véu de tristeza recobre a realidade. Cobre a visão. Vale ciosidade. Qual o valor da fraternidade em uma vida
relembrar: quando o inconsciente (ele existe) perturba em Comunidade?
pelo lado sombrio, chamemos o lado criativo, a cora- Eu e a convivência com meus confrades: em que
gem de ser: levanta-te e anda. É preciso reescutar esta tonalidade está esta canção? Eu e meu entorno social
voz. Nós temos pulsões, tantas. Instintos, não. Que pul- no pastoreio. Não facilita em nada a saúde mental, a
são está no comando? Somos cultura, e a falta de cultiva, predominância do eu-indivíduo com raras teias rela-
cria condições equivocadas. Abertas as comportas para cionais dentro e fora de casa. Meu caminho: minha
as compulsões. Em crise de dificuldades ou desatino, a competência e minha adaptabilidade psicossocial.
sabedoria leva-nos a verificar: o que não cultivei? Cul- Habilidades relacionais, outras tantas faces da Cari-
tivo é obra de persistência, vigilância, paciência. Ah, que dade, amor-ágape: inteligência emocional, autocon-
dificultoso é ser inconsciente de si mesmo e dos desa- trole, empatia e cia.
justes na convivência. Somos ou não vinculados ao ideal Como nos ajudam “figuras de referência”? A
de um carisma e de uma Missão? Inspiradores da alegria vocação não é vínculo de pertença? Falam de resi-
de ser. Existir. Partilhar a redenção da vida. O chamado liência. Os romanos falavam latim: Agredi et sustine.
vocacional nos potencia. O testemunho de que aquele Ousa (enfrenta) e aguenta firme. “Aquele que não me
que segue a Cristo, homem perfeito, torna-se ele mes- mata, me fortalece” (Nietzsche). Concorda? O rosário
mo mais homem. Que bênção! da vida de Jesus. Crises? Crie. Convivência renovada,
longe do isolamento e da indiferença.
Sujeitos de nós mesmos e nossas habilidades Convivência: afetos em turbulência. A repetição
relacionais dos mesmos comportamentos inadequados desa-
Sujeitos somos. Jamais donos do viver. O desafio: grega. Afeta a saudabilidade. Pulsões não elabora-
sair do egocentrismo ao “outro que guarda um segre- das podem reverter-se em compulsões deletérias,
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incontroláveis. Perdas de “saúde mental” sobrevêm Conclusão
em uma cultura de excessos. Qualquer desmedida Esse tom de conversa sobre algumas fontes envene-
coloca em derrapagem o trem da vida. O que há em nadas, que intoxicam pessoas e a vida em Comunidade
nós, algo não identificado e assumido, como é dele- (psicopatias do cotidiano), sugerem ao leitor uma singela
tério, intoxica o ambiente. Por que tanta recusa de revisão. Não há cura quando não há prevenção. Bendita
logo buscar ajuda? As intoxicações avançam rápido. possibilidade nossa, a resiliência. Há, sim, alguns fatores
Atenção ao quarteto de plantão em nossas vidas: de prevenção que são apontados nos livros especializa-
Saúde-Sanidade-Sabedoria-Santificação. dos, frutos da observação clínica e de pesquisas. Eis al-
Faz parte do projeto de vida. Evita, muitíssimas guns: Autoconfiança. Alegria e otimismo aprendidos na
vezes, os adoecimentos. Cultivo! Prevenção. escola da vida. A boa medida em tudo. Temperança ver-
sus destemperos. Flexibilidade mental, sabendo lidar com
“Os traços emocionais apontam
para a dificuldade de bem-viver” as ambiguidades. Capacidade de suportar tensões.
Para nós, a esperança da salvação em comum. O
saber recomeçar. Cito, o que me parece, uma síntese:
– As pessoas mais bonitas que conhecemos são
aquelas que conheceram o sofrimento, conhece-
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Arquivo pessoal
O
número de suicídios no Brasil avança ano
1 – Quarenta pessoas se matam no Brasil por dia deveriam ser um projeto de vida.
e, segundo uma pesquisa, de agosto de 2016 a Um projeto de vida deveria ter uma “pergunta
junho de 2023, 40 padres se mataram no Brasil. secreta”, pois é da ordem da afetividade de cada
Trata-se de uma média de 5 a 6 padres que se sui- pessoa, que nasce do eros em cada um de nós. Essa
cidaram por ano nestes últimos 7 anos. Quais são pergunta é: onde está minha paixão? Ou: para onde
os fatores de risco para o fenômeno do suicídio minha energia vital me impulsiona? Descobrir isso
na Vida Religiosa e Presbiteral? é uma missão imprescindível para qualquer pessoa.
Primeiramente, precisamos nos lembrar Se na experiência ambulatorial a expressão
que o suicídio não tem apenas um fa- “pulso fraco ou pulso ausente” é sinal
tor desencadeante. Ele se ancora de alerta máximo, também na vida
em elementos subjetivos, in- religiosa o é. Isso porque a au-
trapsíquicos e sociais, que se sência de pulso/pulsão leva
articulam na vida de dife- ao adoecimento psíquico.
rentes modos. O aspecto Não ter paixão, ausência
que configura um fator de energia vital pulsando
de risco para todas as em direção a seu objeto
pessoas é aquilo que po- de afeto é a circunstância
demos denominar como em que se deve procurar
“tristeza profunda”. Des- auxílio. Cada caso é um
se primeiro fator de risco, caso, mas a pessoa pre-
é que outras mudanças de cisa dizer desse estado de
comportamento vão se dan- apatia para outra, quer seja
do. Nem todas as pessoas que o superior, um psicólogo, um
experimentam uma “tristeza pro- amigo.
funda” pensam no autoextermínio,
contudo, algumas acabam adquirindo uma Shutterstock 3 – De que forma a espiritualidade e a co-
compreensão que, diante de sua dor e seu sofrimen- munidade religiosa podem contribuir nesse pro-
to, não existe mais sentido para todas as coisas ou cesso de prevenção e cuidado?
não existe solução para um problema que se impõe, Toda a vida religiosa consagrada deve viver na
logo, sente a necessidade de minimizar os efeitos do contemplação, independentemente se é um insti-
desespero. tuto monástico ou de vida apostólica. Hoje, somos
convidados a uma mística de olhos abertos. Logo,
2 – Como tratar o suicídio na Vida Religiosa e olhamos nossos confrades como quem busca os si-
Presbiteral, e quando procurar uma rede de
Mário Pereira /A12
apoio ou ajuda profissional?
Uma das formas de prevenção de suicídio na
Vida Religiosa e Presbiteral começa quando toma-
mos um tema que tem sido muito mal trabalhado
em nossos ambientes, que é o do projeto de vida.
Muitas vezes ele se torna óbvio demais (repetição de
horários e estatutos canônicos), romantizado (uma
ideia de espiritualidade que não passa pela huma-
nidade), inalcançável (a pessoa espera o irrealizável Frei da Ordem dos Frades Menores lembra que “nem todas
as pessoas que experimentam uma tristeza profunda pen-
para si mesma) e outras possibilidades que nunca sam no autoextermínio”
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PasCom Perpétuo Socorro Educandos
olhar de afeto, de companheirismo. Sabemos que
nem sempre alcançamos isso, por isso é que nun-
ca deixamos de perguntar sobre o que existe em
nós para que fiquemos tão irritados quando vemos
o outro. Ou entender que existem situações de au-
sência de caráter que torna uma convivência terrível.
Mas se esquivar da responsabilidade de tornar nos-
sas comunidades ambientes mais humanos, leves,
capazes de deixar os religiosos mais predispostos a
partilhar a vida e seus sentimentos já é um grande
fator de cuidado com a qualidade de vida.
A
história da Província Redentorista de São Criação e consolidação da Vice-Província de São
Paulo é revisitada desde a última edição da Paulo
revista “Informativo da Província”, pelo Pe. Já em 1894 a Missão Redentorista, vinda da Ba-
Victor Hugo Lapenta, C.Ss.R, psicólogo e estudioso viera para o Brasil, instalou comunidades, uma em
da Congregação do Santíssimo Redentor, que viveu Aparecida, no Santuário Diocesano, e outra em
boa parte das transformações da unidade paulista. Campinas de Goiás, sede da Missão, logo transferida
Depois de apresentar as origens dos redentoris- para Aparecida.
tas alemães para o Brasil, Pe. Victor Hugo compar- Contexto ambiente – No Brasil, os bávaros en-
tilha, nesta edição, os passos seguintes da Província contraram uma população católica, devotos, porém
de São Paulo. Os textos passam pela criação e con- ignorantes e pouco sacramentados. Eram os tempos
solidação da então Vice-Província, os primeiros anos de oligarquia agrária da República Velha até a revo-
já como Província, e terminam com as transforma- lução getulista de 1930, e aí se davam a urbanização
ções vividas após o Concílio Vaticano II. e nascente indústria. Em âmbito internacional, duas
Os processos de reestruturação e reconfigura- guerras mundiais (1914-18 e 1939-45) iriam compli-
ção nos confirmam o fim iminente desta rica história car a vida dos religiosos alemães no Brasil.
centenária, relembrada nestas páginas por um Re- Nos começos havia um distanciar-se das auto-
dentorista, que estudou e viveu grande parte dos ridades civis frente à religião. Mas o Cardeal Sebas-
acontecimentos da Unidade paulista. São linhas de tião Leme levou a entendimentos, realizando, em 31
inspiração, que reforçam o compromisso do contí- de maio de 1931, a proclamação de Nossa Senhora
nuo e eterno anúncio da Copiosa Redenção, na vin- Aparecida como Padroeira do Brasil, em solenidade
doura Província Nossa Senhora Aparecida. na Capital Federal, com 1 milhão de fiéis, episcopado,
víncia. A Unidade abrangia São Paulo e Goiás, tinha A moradia servia também de hospedagem para o
futuro nos Estados sulinos e atendia o Sul de Minas clero peregrino. O Seminário Santo Afonso até 1939
Gerais. Ela cedeu o Paraná aos redentoristas do Mato foi parte da comunidade do Santuário, alojado em
um chalé acanhado para uns poucos jovens. Isso le-
Patrimônio Histórico CSSR
pregação de missões.
Moradias – Em Campinas de Goiás, tudo a fazer:
construção de moradia e da matriz, plena produção
agrária para sustento da comunidade, desenvolvi-
mento de pastoral para uma região rural com paró-
quias sem padre, realização de desobrigas e festas
do Santuário de Trindade. Há um bonito paralelo
entre os beneditinos a civilizar a Europa e os reden-
toristas a evangelizar o sul goiano. Colégio Santo Afonso, no início do séc. XX
zeladores e capítulos de
Patrimônio Histórico CSSR
recebia no Seminário e Pe. Valentim Mooser garantia passou por cartas, visitas canônicas, Capítulo Geral
os gastos com as rendas da gráfica a produzir artes da Congregação, visitas de Conselheiro Geral e do
sacras. Tal acordo se contrapunha aos que preten- novo Pe. Geral Leonardo Buys. O tempo e a história
diam transferir o seminário para o Rio Grande do Sul, tudo transformaram em guerra passada e acabada.
alegando as vocações de italianos e alemães, dese- Os germanos desistiram da pérola brasileira, e a Ba-
josos de um lugar para acolher os confrades fugiti- viera criou uma Vice-Província no Japão.
vos do nazismo e de uma Alemanha derrotada na Generosidade e Justiça – Em contraposição às
Segunda Guerra Mundial (1939-45). turbulências, Pe. Pires enviou e levou as comunida-
Desde 1939, a liderança da Vice-Província es- des a enviarem para a Baviera caixas e caixas de ali-
tava em mãos de um brasileiro, o Pe. Geraldo Pires mentos, roupas e tecidos, botões e linhas, calçados,
de Souza. Em complexo e muito sigiloso conjunto remédios, tudo além do dinheiro e espórtulas de
de iniciativas, ele lutou e conseguiu a elevação da missas. No Capítulo Geral de 1947, Pe. Pires foi um
Unidade brasileira à Província autônoma. Para tan- dos homens do dinheiro, doando sem medidas aos
to, serviu-se do apoio do Núncio Apostólico Dom carentes. Pe. Antônio Macedo, em 1948, substituiu
Bento Aloísio Mazzela, de capelães militares das tro- Pe. Pires como Provincial e também como generoso
pas brasileiras em combate na Itália, do Provincial da doador. Ele foi além e pagou velha dívida alegada
Argentina, de gente da Espanha e outros mais. Isso pelos bávaros.
em meio à guerra, que desde 1942 o Brasil, unido Toda a complexidade interna dos eventos iniciais
aos Aliados (americanos, ingleses, russos e outros), de sua Província e as atuações nas paróquias e igrejas
sustentava contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão), a
guerra que impedia qualquer contato vice-provincial
Do Vaticano II à Reconfiguração
A segunda metade do Século XX caracterizou-
-se na Província Redentorista de São Paulo por ro- Seminário São Geraldo,
para a formação de Irmãos, foi fundado em 1956
bustos passos de atualização. Deram-se eles por
inspiração do Concílio Vaticano II. Dentro da figu- veis eclesiásticos mais elevados. Seu sucessor, São
ração do próprio Papa São João XXIII, seu convo- Paulo VI, dele herdou a continuidade conciliar até
cador, foi o Concílio uma abertura das janelas ecle- o final em 1964.
siais para os tempos modernos. A Província Redentorista de São Paulo vinha se
São João XXIII estava inspirado por Deus para remodelando. Ela se repartiu: criou, em 1956, a Vi-
a convocação do Sínodo Universal e para os inícios ce-Província do Rio Grande do Sul, elevada à Pro-
de sua realização, em 1962. Daí sua tranquila co- víncia, em 1964, ano em que Goiás viu nascer sua
ragem de enfrentar oposições nos tradicionais ní- Vice-Província, declarada Província, em 1994. Isso
estabilizou o território da Unidade Paulista – o Es- Humberto Pieroni, olarias para os tijolos e ladrilhos,
tado de São Paulo e mais o Triângulo Mineiro. e o comando das obras até as decorações piedosas
da Capela do Seminário pelo Pe. Isidro de Oliveira.
Eventos e impactos prévios e atuais Inaugurava-se com solenidade o Seminário em 1953.
– O Pe. Antônio Macedo, Superior Provincial, em – Em 1948, a Província enviou para Roma três jo-
1948, conduziu os gloriosos festejos dos 50 anos vens padres para obterem formação especializada
do Seminário Santo Afonso, reunindo em Apareci- para o magistério no Estudantado de Tietê. Pe. Ju-
da os Superiores de todas as Comunidades, os Clé- venal Roriz foi o primeiro doutor em Filosofia da
rigos, noviços, seminaristas e ex-alunos. Estavam Província, Pe. Ariovaldo Amaral obteve o doutorado
presentes Dom João Muniz, ex-aluno do Seminá- em Direito Canônico e Civil, e o Pe. Leone Ceva es-
rio, os Monsenhores do Cabido da Arquidiocese pecializou-se em Teologia Dogmática. O Colégio
de São Paulo, padrinhos de vocações, benfeitores Maior, de Roma, daí por diante foi frequência suces-
e amigos da Congregação. Foi uma densa progra- siva de membros da Província. Depois do Vaticano
mação: pontificais, ordenações sacerdotais, peças II, a Unidade Paulista investiu abundantemente nos
de teatro, concertos musicais, jantares festivos, jo- estudos renovadores. Além da Capital Pontifícia,
gos e fotos. Alemanha, França, Bélgica, Holanda, Espanha, Por-
– Contudo, logo depois, o Cardeal Motta decidiu que tugal, Estados Unidos, Canadá, Colômbia e, quem
os Redentoristas lhe devolvessem o Colegião, que sabe, outros lugares ainda foram países onde os
abrigava o Seminário. A Província, de 1950 a 1953, nossos estudaram.
lançou-se à construção de seu prédio. Fez tudo e de – Superando restrições eclesiásticas e concorrên-
tudo, desde os projetos de Pes. Inocêncio Pereira e cias políticas de aparecidenses, a Província conse-
guiu a concessão de uma minúscula onda de rádio. conjunto episcopal, gerado na Província (12 entre
Em 9 de julho de 1951 nascia a Rádio Aparecida, arcebispos e bispos). E são dois os confrades da
uma dimensão nova a complementar o Santuário Província eleitos Superiores Gerais da Congrega-
Nacional da Padroeira do Brasil – uma ampliação ção Redentorista: Pe. Tarcísio Ariovaldo Amaral e
das forças missionárias da Congregação. A soma o atual, Pe. Rogério Gomes.
de outras ondas foi construindo a maior emissora – Iniciadas no Jardim Paulistano, as construções da
católica das Américas. Lá estava o Pe. Vítor Coe- Igreja paroquial e do convento, muda-se do bairro
lho com Os Ponteiros Apontam para o Infinito, a da Penha para lá a Sede Provincial. Era o ano de
Consagração a Nossa Senhora, programas bíblicos 1953. Pouco depois, o Pe. José Ribolla, Superior
e catequéticos, educação familiar e higiene. Lá tam- Provincial, em gesto que julgava coerente com o
bém estariam Pe. Rubem Galvão com a Marreta na Vaticano II, entrega para a Arquidiocese de São
Bigorna e dezenas de sucessores. Paulo a Paróquia da Penha.
– A Rádio Aparecida somou-se à Editora Santuário, – Mudanças e mais mudanças: em 1956, fundou-
dando início ao complexo dos Meios de Comuni- -se, na fazenda de Potim (SP), o Seminário São
cação Social, integrados da Congregação Reden- Geraldo, para a formação de Irmãos. Em 1957,
torista e do Santuário Nacional. Editoras, Rádio surgiu a comunidade de Garça (SP), para a pa-
Aparecida, TV Aparecida, A12.com, em seus ra- róquia e projeto de pré-seminário. Porém é um
mos complementares, são responsabilidades fun- grupo de seminaristas filósofos, que por um tem-
cionais missionárias redentoristas, que ampliam po lá ficou. Em 1995, ela se mudou para o conjun-
mundialmente a devoção a Nossa Senhora Apare- to paroquial-missionário de Panorama, às beiras
cida, enquanto evangelizam os mais pobres. do Rio Grande, e lá permaneceu até ser extinta.
– Em 1955, Pe. Antônio Macedo é elevado a Bis- 1959 foi o ano dos começos de Pré-Seminário de
po Auxiliar de São Paulo. Foi o primeiro de um Sacramento, no Triângulo Mineiro. Lá, a paró-
E
m Curvelo, portal do sertão e do cerrado mineiro, certo sentimento de encontro ou reencontro com Deus,
encontra-se a Basílica de São Geraldo, reconheci- ou uma mensagem de fé e espiritualidade”.
da internacionalmente por ser a única no mundo A cidade de Curvelo, conhecida como a “terra de
dedicada exclusivamente a São Geraldo, o padroeiro São Geraldo” no Brasil, tornou-se patrimônio cultural e
das mamães e de seus bebês. Sua construção iniciou-se religioso de Minas Gerais. Todos os anos, milhares de
em 22 de março de 1912 e terminou em março de 1918. romeiros dirigem-se para esta terra abençoada, para
É uma Basílica de rara beleza e de inestimável valor ar- visitar seu santo de devoção. O saudoso Pe. Celso, pro-
tístico, com pinturas que evocam fatos da vida de nosso fessor, historiador e poeta, afirmou: “Se Curvelo se apraz
querido São Geraldo, obra dos italianos Victorio Giulio e do apelido de princesa gentil do sertão, mais se orgulha
Gino Gorretti, primos de Santa Maria Goretti. por ter acolhido São Geraldo em seu coração”.
No decorrer desses 105 anos, aos cuidados de ze-
Basílica de São Geraldo
A Basílica de São Geraldo consolidou-se como dividuais de manhã, à tarde e à noite. Os doentes
um espaço privilegiado de evangelização. Procura, de acamados, ou impossibilitados de se locomo-
forma sempre criativa, acolher bem os romeiros e os verem, são visitados em suas residências, para
devotos para que possam fazer uma experiência pro- confissão e comunhão. Várias instituições e mo-
funda de fé, por meio da escuta da Palavra de Deus vimentos são envolvidos na Oitava, como, por
exemplo: as paróquias da cidade, colégios, hos-
proclamada, da celebração dos Sacramentos, em par-
pitais, associações etc. Após a celebração da noi-
ticular da Eucaristia e da Reconciliação. Ao chegar à
te, funcionam as “barraquinhas de São Geraldo”,
Basílica, o fiel sempre encontrará um missionário re-
com comidas típicas e shows com artistas da re-
dentorista disponível para lhe acolher e ajudar. gião. Encerra-se com a missa solene, seguida da
É referência, também, para a cidade de Curve- grande procissão com a Imagem de São Geraldo.
lo e para toda a região. Além da atividade pasto- Muitos devotos se “vestem de São Geraldo”, em
ral e missionária, como, por exemplo, Celebrações agradecimento às graças alcançadas. Calcula-se
Eucarísticas, atendimento das confissões, direção e que aproximadamente 30 mil pessoas participam
formação espiritual, novenas e assistência às famílias desse momento.
mais necessitadas, há duas grandes festas em honra
a São Geraldo, que atraem milhares de romeiros vin- Festa Litúrgica de São Geraldo
dos das diversas partes do Brasil. São elas a Oitava e Em outubro, realizam-se o tríduo e a festa de
a Festa Litúrgica. São Geraldo no domingo mais próximo do dia 16,
dia de São Geraldo Majela. A programação é prati-
Oitava de São Geraldo camente a mesma da Oitava, mudando apenas na
A primeira Oitava de São Geraldo aconteceu em duração dos dias. Conta, também, com a presença
1917, realizada em outubro, por ocasião da festa de de romeiros, porém, desta vez, a participação mais
São Geraldo. A partir de 1953, inicia-se no último sá- expressiva é dos curvelanos e dos devotos das cida-
bado de agosto, encerrando-se no primeiro domin- des vizinhas.
go de setembro. Além desses grandes eventos de fé, os devotos
Cada ano escolhe-se uma temática especial. Du- honram São Geraldo nas pequenas romarias dos do-
rante a Oitava, reza-se o terço, às 6h30, e são cele- mingos ao longo do ano, bem como nas visitas du-
bradas missas na Basílica, às 7h, 12h e 15h. A missa rante a semana. Percebe-se, no dia a dia da Basílica,
solene é sempre na Praça da Basílica. uma dinâmica missionária.
Há celebrações comunitárias do Sacramento
da Penitência e o atendimento de confissões in- Pe. Américo de Oliveira, C.Ss.R.
Alessandro Cardoso
REESTRUTURAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
O
processo de reestruturação e reconfiguração A subcomissão para a administração, composta
da Congregação, iniciado há mais de trin- pelos padres Flávio Leonardo (Província do Rio), que
ta anos, ganha ares de proximidade de nos- após seu falecimento foi substituído pelo Pe. Carlos
sa realidade com os diversos encaminhamentos e, no Viol, Pe. Adam Rapala (Vice-Província da Bahia) e o Pe.
nosso caso, mais recentemente com a realização da Luiz Cláudio A. de Macedo (Província de São Paulo),
grande assembleia em vista da nova província, que iniciou seus trabalhos considerando a realidade admi-
ganhou o nome de “Província Nossa Senhora Apare- nistrativa e financeira de cada unidade.
cida”. Brevemente veremos o novo governo provincial A experiência e o conhecimento de cada con-
assumindo antigos e novos desafios, em vista de uma frade membro da subcomissão, na gestão econô-
missão renovada. mica e financeira de sua província, foram ilumi-
Muitos se envolveram nesse processo, nos mais nados, inicialmente, com assessoria do Dr. Hugo
variados fóruns e nas mais variadas instâncias, pois a Sarubbi Cysneiros de Oliveira e, posteriormente,
colaboração para uma congregação reconfigurada e pela TÁFER, ambos com longo histórico de asses-
reestruturada é obrigação de cada confrade. soria de entidades religiosas. A cada passo dado,
Nas Províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e a trajetória era exposta aos superiores provinciais,
Bahia, foi muito perceptível a contribuição das diver- ouvindo suas ponderações, esclarecendo dúvidas
sas subcomissões, que subsidiaram os governos na e, principalmente, levantando hipóteses do melhor
percepção de direção a seguir, em uma perspectiva caminho, visto que cada unidade redentorista pos-
de comunhão e participação, uma vez que os resul- sui um cenário bem distinto, seja no formato admi-
tados nascem sempre a quatro mãos. nistrativo ou na constituição legal, além de realida-
Arquivo pessoal
Encontro das comissões em vista da reconfiguração das (Vice) Províncias em 2021
Alessandro Cardoso
Pe. Nelson Linhares (à esq.) e Pe. Marlos Aurélio (à dir.), durante a realização da Assembleia da Nova Província em setembro de 2023
Arquivo pessoal
PASTORAL:
PASSOS CONCRETOS
PARA A REVITALIZAÇÃO
DA MISSÃO
S
abendo que a Reestruturação não pode ser pauta- damento da pandemia, encontros foram realizados para
da apenas pela busca da eficácia e que comunida- efetivar nosso trabalho.
des reestruturadas não se formam como em um Encontros, como aquele que aconteceu em abril
passe de mágica; que a Igreja peregrina é chamada por de 2021, na Casa de Retiro São José, em Belo Horizonte
Cristo a uma perene reforma perene, por ser uma insti- (MG), com representantes de todas as comissões, foram
tuição humana e terrena, no dia 2 de outubro de 2019, balizando o andamento dos trabalhos e sempre tínha-
aconteceu em Aparecida, no Seminário Santo Afonso, mos em mente as parcerias que já estavam sendo reali-
a primeira reunião da Comissão de Reconfiguração das zadas entre as três unidades e o contentamento gerado
três unidades (São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia). Nessa a partir dessas iniciativas.
reunião, foram criadas várias subcomissões e, entre elas, A proposta de trabalho da comissão contou com um
a Subcomissão de Pastoral, integrada pelos padres Iná- bom envolvimento dos confrades e das comunidades e,
cio, Stanislau, João Batista e José Cláudio, reforçada de- na grande assembleia realizada em maio deste ano, em
pois com a chegada do Pe. Antonio Niemec. Aparecida, foi apresentado o projeto do Plano Apostólico.
Poucos dias depois, a comissão encontrou-se em Nossa ressalva é de que a Reestruturação é um
São Paulo e, em uma reunião, além de definir as com- processo que deve ir adiante, impelindo-nos, a partir
petências da comissão, definiu-se os passos que seriam da integração das Unidades, a dar passos concretos no
dados em nosso trabalho para envolver confrades, co- fortalecimento da missão, com a nova estruturação mis-
munidades e Frentes Apostólicas, no grande trabalho de sionária. O Plano Apostólico redigido pela comissão se
elaboração de um Projeto de Plano Apostólico. apresenta como um subsídio para que sejamos “Missio-
nários da esperança, continuando os passos do Reden-
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
MISSIONÁRIOS LEIGOS REDENTORISTAS
A
o falar dos Missionários Redentoristas, gos- vivemos, mais do que nunca, precisamos de homens
taria, primeiramente, de demostrar, bem e mulheres que se sintam chamados ao trabalho Mis-
resumidamente, o porquê dos Missionários sionário, conosco, para levar a Boa-Nova da Reden-
Leigos, quem são e sua Missão na Congregação e ção aos mais necessitados de nosso mundo hodierno.
na Igreja Povo de Deus. Por isso, busquei expor aqui Com isso, nossa Congregação, após o Capítulo
parte de nosso Diretório, para que o amigo(a) leitor geral de 1991, em seu Documento final, preocupada
possa conhecer um pouquinho de nossos Missioná- com a realidade vindoura, pediu para as comunida-
rios Leigos Redentoristas. des e Províncias, espalhadas pelo mundo, para in-
Nossa Congregação do Santíssimo Redentor centivarem o trabalho com os Leigos.
está passando por um momento histórico, muito A Congregação viu que a missão compartilhada
significativo, que é nossa Reestruturação. E, dentro com leigos, homens e mulheres, é essencial para a
desse contexto, também está o Missionário Leigo missão e planejamento apostólico de nossa missão,
Redentorista. Quando falamos em Missionários, vêm tornando-se fundamental. Quem são esses leigos?
em nossa mente as palavras de Jesus que dizia: “A São os fiéis que, incorporados à Igreja pelo batis-
Messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” mo, mantendo presença e participação efetivas na
(Lc 10,2b). Leigo, não no sentido pejorativo, são ho- Comunidade Cristã, optam, livre e conscientemente,
mens e mulheres comprometidos com a pregação por viver essa consagração batismal nas condições
do Evangelho, no mundo, na sociedade e em nos- comuns da vida e da sociedade, juntamente com os
sa Igreja. Redentorista é o nome de nossa Congre- Missionários Redentoristas consagrados.
gação, fundada por Santo Afonso Maria de Ligório,
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Celebração na Casa de Retiros São José, em Belo Horizonte, Documento do Capítulo Geral de 1991 se preocupou em
reúne Redentoristas e Missionários Leigos incentivar o trabalho dos Redentoristas com os Leigos
PROVÍNCIA DO RIO
VICE-PROVÍNCIA DA BAHIA
Luiz Oliveira/A12
PE. JONATHAN ANTÔNIO DA SILVA, C.Ss.R.
S
ou Jonathan Antônio da Silva, nascido em For- coração. Aos dezessete anos, já com o desejo de ser pa-
miga (MG), terra das “areias brancas”. Vivi minha dre, aconteceu na Paróquia Sagrado Coração de Jesus,
infância e adolescência, até antes de ingressar minha paróquia de origem, as Santas Missões Redento-
no seminário, no distrito de Pontevila, que fica na Zona ristas. Nesse ínterim, fui convidado para cozinhar para os
Rural, às margens do lago de Furnas. Sou filho de José missionários, que ficariam em minha comunidade. Nesse
Alaor e Marlene. Tenho um irmão, Maike, que é seis vaivém de cozinhar, dez dias para os que, futuramente,
anos mais novo do que eu. Se fosse me descrever, ar- seriam meus confrades, percebi que ser “só padre” era
riscaria dizer que sou, com todas as minhas limitações, pouco para mim. A Vida Religiosa e a missionariedade
um ser bondoso, humano e devoto. Sim, desde minha falavam mais forte em meu interior. Foi então que decidi
infância, na capelinha dedicada a Nossa Senhora Apa- que queria ser um Redentorista.
recida, em Pontevila, aprendi a amar Maria. Ela me faz Meu processo vocacional iniciou-se no ano de 2012.
chegar a Jesus. Em 2013, participei da convivência vocacional e fui apro-
Em minha amada Pontevila, desde pequeno, com o vado. No dia 27 de janeiro, daquele mesmo ano, passei a
incentivo de minha família, fui inserido na vida pastoral da residir no Seminário Propedêutico Santíssimo Redentor,
comunidade eclesial. Meus pais sempre trabalharam nas em Santa Bárbara d’Oeste-SP
pastorais, comissões e nos órgãos representantes dos Enfim, em minha história de vida e vocação, desde a
conselhos da comunidade local. Minha mãe foi minha infância, percebo a presença fiel de Nossa Senhora com
catequista. Já confirmado em meu batismo, fui membro título de Aparecida. A nós, que a veneramos na pequena
da pastoral da criança e catequista. Ajudava na liturgia imagem marcada pela riqueza do encontro das diver-
e participava das novenas nos setores. Enfim, enquanto sas raças e povos, peço-a: “Dá-me a serenidade de amar
comunidade eclesial, se perguntarem pelo “Dioninho”, sempre mais meus irmãos e minhas irmãs. Ajuda-me
lá em Pontevila, muitos na hora saberão dizer quem é. a encher as vidas vazias e reavivar nossas forças como
Meu interesse pela vida religiosa surgiu de uma for- frescor do Evangelho. E obrigado, Mãe, por me fazeres
ma muito simples, e quando eu percebi, roubou-me o ser tão feliz, pertencendo à família Redentorista”.
IR. MARCOS
Luiz Oliveira/A12
VILANOVA, C.Ss.R.
D
esde muito jovem fui inserido por minha naquela comunidade, meu processo de noviciado
família em minha paróquia de origem, na cidade de Tietê (SP). Foi um momento de gran-
São Sebastião, em Cruzília-MG. Junto de de crescimento em minha vida pastoral, espiritual
meus pais, meus avós e meus irmãos, sempre e no convívio com o povo de Deus.
pude presenciar a ação de Deus em nosso lar, e Já no ano de 2015, fui acolhido pela Congre-
ali começou a brotar em meu coração o verda- gação e professei meus primeiros votos de Po-
deiro desejo de servir a Jesus mais de perto. breza, Castidade e Obediência. Foi um momento
Com a ideia mais amadurecida em meu cora- sublime em minha vida.
ção, na fase adulta, ingressei no antigo Seminário Entre 2015 e 2023, tive a oportunidade de
São Geraldo, no Potim (SP). Ali, vivenciando a vida trabalhar como Irmão Redentorista em diversas
religiosa, comunitária e desenvolvendo meus tra- frentes missionárias, como Santas Missões Re-
balhos pastorais no Santuário Nacional, eu pude, dentoristas, Santuário Nacional de Nossa Senho-
cada dia mais, responder ao chamado de Deus, ra Aparecida, Santuário da Imaculada Conceição
que ardia em meu coração. No ano de 2012, o Se- no Recife, Paróquia Santa Cruz em Araraquara e,
minário São Geraldo foi transferido para a cidade desde outubro de 2020, trabalho no Santuário e
de Sorocaba (SP), onde vivi também e tive a opor- Paróquia do Senhor Bom Jesus de Pirapora.
tunidade de trabalhar nas pastorais da Paróquia Após professar meus votos perpétuos na
São Geraldo Majela, tendo uma formação dentro Congregação do Santíssimo Redentor, em abril
do seminário e alimentando cada vez mais a vida de 2023, continuo agradecendo a Deus essa tão
espiritual e vocacional. linda vocação, que é ser Irmão Religioso na Con-
No ano de 2013, fui acolhido como pré-novi- gregação do Santíssimo Redentor, e com muita fé
ço e, no ano de 2014, iniciei, ao lado de vários no- em seu filho, o Bom Jesus, continuo respondendo
viços, de vários estados e confrades que residiam diariamente a esse chamado.
Arquivo pessoal
“UNIDOS EM CRISTO, COM MARIA,
PARA VIVER E CRESCER EM COMUNIDADE”
A
vida missionária movida pelo Espírito de por 7 confrades, que atuam nos desafios de uma das
Deus é dinâmica e fecunda. É feita de mo- mais antigas igrejas da cidade, a tradicional “Igreja
vimentos surpreendentes: em cada estação, da Glória”:
uma nova estrada se abre para novas experiências. A vida paroquial é dinamizada dentro de três di-
Exigentes, mas fortalecedoras. Após 20 anos de ati- mensões: a acolhida (Caridade), a oração (Liturgia)
vidades missionárias, no campo da Formação, da e a missão (Palavra). Todas as atividades pastorais,
Promoção Vocacional e da administração, fui envia- movimentos e ações sociais são regidas por equipes
do para as Minas Gerais, para auxiliar nas atividades coordenadoras, tendo um confrade como diretor
pastorais da primeira Comunidade Redentorista do espiritual. Coube a mim acompanhar o Ambulatório
Brasil, em Juiz de Fora. Era 14 de fevereiro de 2022, Nossa Senhora da Glória, a Pastoral da Música e do
quando aqui cheguei. Canto Litúrgico, Pastoral dos Coroinhas e Acólitos,
Como Vigário Paroquial, tenho degustado das Pastoral da Catequese infantil, a Pastoral da Cate-
riquezas da vida missionária, ao assumir novas fun- quese do Crisma e a Pastoral do Batismo.
ções. Pela primeira vez, minhas forças estão direcio- Mas minhas atividades mais frequentes estão vol-
nadas para o campo das atividades paroquiais. Aqui, tadas para a área da Música e do Canto Litúrgico. Te-
há 31 grupos de pastorais e movimentos que dão mos 4 grupos de canto-coral. Com a marca “Musicare”,
vivacidade à vida comunitária. É uma seara nova e os grupos se preparam para as missas solenes e outras
instigante, espaço fecundo de crescimento pessoal e apresentações. O primeiro a ser criado foi o Coro Misto,
espiritual. Nossa Comunidade religiosa é composta que se reúne semanalmente para o exercício do can-
Arquivo pessoal
Pe. Torres com uma equipe
Paróquia em Juiz de Fora (MG) conta com 31 grupos pastorais de coral da Paróquia
to litúrgico; hoje, conta com 45 integrantes. O segundo Outra dimensão muitíssimo importante para
foi o Coro Infantil, com 14 crianças; frequentemente se vida pastoral de uma paróquia é o Sacramento da
apresentam em momentos especiais das atividades pa- Reconciliação. A Comunidade Redentorista mantém
roquiais. O Coro Masculino São José foi criado em 19 a tradição do atendimento de confissões. Há tam-
de março, quando cantaram a Missa de seu patrono. O bém muitos pedidos para o acompanhamento es-
piritual ou atendimentos extra. A presença nos hos-
desafio lançado aos homens foi aceito por 15 senho-
pitais também faz parte de nosso apostolado, seja
res corajosos, que continuam animados para o serviço a
para a Unção dos Enfermos ou para a Confissão. A
que foram chamados. Formado por jovens da Paróquia,
visita aos enfermos em suas residências e o auxílio
o “Quarteto Musicare” foi o último grupo a ser criado, na celebração de missas, em paróquias das redon-
no intuito de enveredar por outras “paisagens musicais”. dezas, também são frequentes.
Além de colaborar nas celebrações solenes, os
Arquivo pessoal
grupos de canto e música têm realizado ativida-
des extra: Coroação da imagem de Nossa Senhora,
no mês de maio; coroação da imagem do Sagrado
Coração de Jesus, representação do encontro da
imagem de Nossa Senhora Aparecida; concerto na-
talino, envolvendo as forças musicais da paróquia;
Saraus etc. Destaque para a “Cantata da Paixão”, ou Atividades mais frequentes do Pe. Torres estão voltadas
para a área da Música e do Canto
“Dueto entre a Alma e Jesus Cristo”, de Santo Afonso
de Ligório, apresentado pela primeira vez na Igreja A vida pastoral na Paróquia de Nossa Senhora
da Glória, na Quarta-feira Santa deste ano. A Paró- da Glória é muito animada. O povo mineiro, cheio de
quia da Glória conta com 8 grupos de canto, que se gentilezas e vivacidade nas relações, motiva nossa
distribuem nas 18 missas semanais. ação apostólica. É uma realidade muito abençoada
para a vida eclesial. Isso por causa da ação fecunda
dos sábios e destemidos confrades que nos antece-
Arquivo pessoal
Pe. Torres e a equipe do Ambulatório Nossa Senhora da Glória Pe. José de Lima Torres, C.Ss.R.
A
Comunidade Redentorista – Alfonsianum I: diversos confrades oriundos das cinco regiões do
São José alegra-se por celebrar os 50 anos de Brasil e também vindos da América Latina e da África.
história. Pode-se dizer que esta é uma casa Por isso, iniciamos em março a abertura do ano
fundamental e especial para a formação dos Missio- jubilar com a celebração eucarística, presidida pelo
nários Redentoristas. A histórica casa, situada na Rua diretor e formador Pe. Paulo Sérgio Carrara, C.Ss.R.
Oliveira Alves, 230, no bairro do Ipiranga, São Paulo, Ao longo do semestre, a comunidade recebeu as
iniciou-se no ano de 1973, com sua compra ainda no visitas de ex-diretores e superiores da casa, dentre
governo do Padre José Ribolla, C.Ss.R. Nessa época, eles, o Pe. Domingo Sávio, C.Ss.R., que relatou o
começou a abrigar os estudantes de teologia. início de sua caminhada na comunidade: “Antiga-
Anteriormente, o antigo Alfonsianum era locali- Arquivo pessoal
Shutterstock
SÃO GERALDO MAJELA
REDESCOBRINDO UM SANTO
P
oder falar alguma coisa a mais sobre a vida e a de todos aqueles que se esforçam e buscam a san-
missão de um Irmão Redentorista, do quilate tidade. Daí, surgiu a ideia e, com ela, a necessidade
de São Geraldo Majela, seja em que época for, de traduzir o texto do padre McConvery; e assim foi
é sempre muito gratificante. Certa vez, chegou a mi- feito. A obra do padre Brendan McConvery, C.Ss.R,
nhas mãos a belíssima obra literária do padre Bren- edição brasileira, conta com uma apresentação
dan McConvery, C.Ss.R, intitulada São Geraldo Majela feita por mim, o tradutor da obra original para o
– Redescobrindo um Santo. Durante a leitura dessa português. Em seguida, temos uma introdução fei-
obra, eu fui reentrando no mundo do jovem Geraldo ta pelo padre Brendan McConvery, C.Ss.R. Depois,
Majela: “O Irmão Redentorista que fugiu pela janela por meio de nove capítulos, temos a oportunida-
de seu quarto, que tinha sido transformado em um de de aprofundarmo-nos na vida e na missão do
cárcere privado, para tornar-se Santo” (McConvery, Irmão Geraldo Majela: o Missionário Redentorista,
2023, p. 25). que fugiu de casa para se tornar Santo. Cada um
Após a leitura da obra do padre McConvery, desses capítulos é um caminho que nos leva para o
obriguei-me a fazer com que seu conteúdo chegas- interior da vida, da missão e da espiritualidade re-
se não somente ao conhecimento dos devotos de dentoristas, que tanto marcaram os feitos do Irmão
São Geraldo Majela, mas também ao conhecimento Geraldo Majela.
O nome Geraldo Majela é um nome bastante co- não estar familiarizados com esse santo de devoção.
nhecido por nós católicos. Muitos são os que recor- A obra é também um convite para orarmos com ele,
rem a sua intercessão. Principalmente, as mulheres que que nasceu e foi criado em uma família pobre do Sul
estão tentando engravidar ou as mães que estão em da Itália (Muro).
trabalho de parto. Elas invocam o nome de São Ge- São Geraldo Majela foi um Irmão leigo redentoris-
raldo Majela, para que tudo transcorra bem com elas ta. Ele não foi teólogo, escritor ou pregador famoso.
e com seus bebês. Muitas crianças carregam consigo Foi um Irmão redentorista obediente a Deus e apai-
o nome de Geraldo Majela. A obra do padre Brendan xonado pela Congregação do Santíssimo Redentor.
McConvery não é mais um livro sobre a vida e a missão Entrou para a Congregação Redentorista e nela tor-
de São Geraldo Majela. Sua obra é mais um caminho nou-se santo, amando e respeitando sempre os mais
ou uma oportunidade para conhecermos que São Ge- pobres e abandonados. São Geraldo Majela morreu
raldo Majela é muito mais do que tudo o que conse- antes de completar trinta anos de idade. Seu amor
guimos perceber, por meio de suas imagens sagradas, pelas pessoas, de todas as idades, era notável. Esse
que se encontram nos santuários, nas igrejas e capelas. amor, por sua vez, transformou-o em um santo, não
São Geraldo Majela não é um santo de aparência apenas de seu tempo, evidentemente, mas também de
pálida, doentia, sofrida, com os olhos virados para o nosso tempo fluido e fortemente marcado por muitas
alto. Ele é o “redentorista que foi para o céu através feridas. Adquira o livro São Geraldo Majela – Redesco-
da janela de seu quarto”. O amigo dos pobres. Fazer brindo um santo, do padre Brendan McConvery, e seja
a vontade de Deus era seu único querer. E assim ele você também um santo à luz da vida, da missão e da
o fez. Enquanto ele viveu, viveu fazendo a vontade espiritualidade de nosso querido Irmão Redentorista e
de Deus. A obra citada tem exatamente o objetivo Santo: São Geraldo Majela.
de nos reapresentar a vida e a missão de São Geral-
do Majela, principalmente para aqueles que podem Padre Vinícius Ponciano, C.Ss.R.
EUCARISTIA E IGREJA:
FORMAMOS EM CRISTO UM SÓ CORPO
N
este ano, completam-se 20 anos da encícli- Como reforça o Magistério sempre vivo da Igreja,
ca Ecclesia de Eucharistia, que foi escrita pelo a Eucaristia é memorial da morte e da ressurreição
Papa São João Paulo II, em 2003, para expres- do Senhor. Usualmente, a palavra memorial (do gre-
sar a íntima relação entre Eucaristia e Igreja. Com efei- go anámnesis) exprime o ato de recordar-se de algo
to, a Eucaristia é o maior e mais excelso bem da Igreja, que já passou. Contudo, do ponto de vista litúrgico
fonte e ápice da vida cristã e eclesial (cf. LG, n. 11), sa- e teológico, fazer memória não é meramente girar
cramento da unidade (cf. EE, n. 23), vínculo da caridade em torno de um pregresso e que está cada vez mais
(cf. At 2,42-47). Toda a vida sacramental da Igreja se distante, mas é trazer o evento memorado para bem
une à Eucaristia e a ela se ordena, porque neste augus- perto de quem o celebra, atualizando-o e reconhe-
to mistério se encontra o próprio Cristo, nossa Páscoa. cendo que a ação de Deus permanece no presente.
É na Eucaristia e pela Eucaristia que o Senhor se dá a Dizer, portanto, que a Eucaristia é memorial da morte
nós como alimento para a vida eterna (cf. Jo 6,44-51). e da ressurreição do Senhor significa que ela se torna
Santo Afonso a define como “fornalha de amor”, uma presente e atualiza o evento pascal de Cristo morto
vez que neste sacramento admirável experimentamos e ressuscitado. O Espírito Santo, que, durante sécu-
o amor de Deus que a todos quer alcançar. los, ficou no olvido, presentifica e atualiza o memorial
eucarístico. É por isso que, em toda celebração euca- “com Cristo. A celebração eucarística é, e sempre
rística, unida à anamnese está a epiclese. Aquela que será, comunitária, porque a Eucaristia faz-nos des-
recorda o evento salvífico ocorrido no passado, que cobrir que Cristo morto e ressuscitado se manifesta
sempre incluiu esta, ou seja, a invocação do Espírito como nosso contemporâneo no mistério da Igreja,
Santo, para que atualize, no aqui e agora da celebra- seu Corpo. Assim, a celebração eucarística deverá
ção, a salvação trazida por Jesus Cristo. ser compreendida como celebração da Igreja – Ca-
A Sacrosanctum Concilium, primeiro documento beça e membros. Na verdade, quando participamos
votado e aprovado pelos Padres conciliares, trouxe da celebração eucarística, a cruz e a ressurreição de
o termo Mistério pascal para o centro da liturgia Jesus estão presentes.
cristã. Realmente, o Mistério pascal nos conduz ao Destarte, a celebração eucarística é o momento
coração da História da Salvação e, por esse motivo, no qual, por meio do memorial e da invocação do
constituiu o objeto principal da celebração eucarís- Espírito Santo, recorda-se e presentifica o Mistério
tica, posto que este Mistério envolve toda a vida de pascal, centro da liturgia cristã. Os fiéis batizados,
Cristo, assim como a vida de todos os fiéis que o em virtude de sua participação ativa, plena, cons-
celebram com fé. Assim, a Igreja, fiel ao mandato de ciente e frutuosa na ação sagrada, experimentam,
Jesus na Última Ceia – “Fazei isto em memória de concreta e profundamente, o Mistério central da fé
mim” (1Cor 11,24) –, celebra, com súplicas e preces, cristã, saboreando, assim, o “fruto da nossa Reden-
a Eucaristia, memorial da morte pascal do Senhor. O ção” (SC, n. 2). É, realmente, lapidar o ensinamen-
Mistério Pascal é, portanto, o núcleo de toda ação to do Papa São João Paulo II: “A Eucaristia edifica a
litúrgica da Igreja. Todo o agir cristão consiste em Igreja e a Igreja faz a Eucaristia” (EE, n. 26). Somos
realizar na vida o Mistério pascal que se celebra nos chamados, pois, a renovar nossa fé em tão sublime
sacramentos. Desse modo, a celebração litúrgica, de mistério e a fazermos de nossa vida missionária uma
modo especial a Eucaristia, sintetiza a vida cotidiana vida mais eucarística.
do cristão, tornando-a extensão de toda a vida de
Cristo; de sua morte e ressurreição. Fr. Pablo Vinícius Reis Moreira, C.Ss.R.
O Mistério pascal
encontra sua força
Shutterstock
quando vivido e cele-
brado de modo dinâ-
mico e participativo.
O envolvimento dos
fiéis em torno do Mis-
tério, que é o próprio
Cristo, fundamenta
a actuosa partici-
patio (participação
ativa) desejada pelo
Concílio Vaticano II.
O alcance da cons-
ciência em torno do
Mistério celebrado
se revela na ecclesia;
local, por excelência,
do encontro pessoal “Ecclesia de Eucharistia” foi escrita pelo Papa João Paulo II, em 2003
IMPRESSO