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Délcio Carlos Carvalho é gaúcho de Porto Alegre, farmacêutlco- bloqufmlco por formação, é participante ativo no movimento espírita em sua cidade,
tendo por diversas vezes ocupado a presidência da Sociedade Espírita Paulo de Tarso, na zona norte daquela capital, como também na União Distrital Espírita
Passo d'Arela, exercendo, na atualidade, o cargo de secretário do Conselho Regional Espírita da 1a Região, pertencente IFERGS, tendo conhecido Dlvaldo
Franco em sua Juventude, jamais deixou de acompa- nhá-lo nas suas Idas àquele Estado. Posteriormente, em I meados da década de 80, integrou a equipe de
voluntários que assessora Dlvaldo em seus roteiros no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, auxiliando na vendagem de livros em prol da Mansão do
Caminho. Inúmeras vezes esteve com Dlvaldo e Nilson nos roteiros pela Europa, possuindo um vastíssimo acervo de gravações em fita cassete, nacionais e
internacionais, o que lhe permite extrair preciosos textos para os seus trabalhos de compilação, tal como podemos constatar em Dlvaldo Franco e o Jovem,
publicado pela LEAL em 2002 e Já na segunda edição, com os mais belos contos e narrativas de Dlvaldo Franco.
Verso
Vi;
Este livro'reúne em um só volume' os contos que compensam a se nsibilidade e expõem as essencias doutrinári as mais 'apreciâveis,
atendendo ! busca do conheci menfÉ Lfe conduzindo-nos ao discerni mento, à estabilidad e e mocional, àí -se gura nça interior que só
aquele [que édotado de uma fé autêntica é capaz de fruir. Ao final, o querido leitor sentirrs.e -á gratifi cado por ter ferto,
estapíyia ge m ao encontro de J esus, aportando acalentado por sagrados estí mulos para a vida, amando J esus, dilatandq |»a
compreensão sobre o subli me saçrifíl cio do Na zare no Ami go, introj etando-0 defin itiva mente co mo o M odelo e Guia por
excelência.
AUTOR
Ele e um dos mais conhecidos oradores e médiuns da atualidade, fiel mensageiro da palavra de Cristo pelas conso- ladoras e esperançosas lições da
Doutrina Espirita Kardecista.
Com a orientação de Joanna de Ângelis, sua mentora, tem psicografado cerca de 200 obras de vários espíritos, muitas já traduzidas para outros idiomas,
levando a luz do Evangelho a todos os continentes sedentos de paz e de amor.
Divaldo Franco tem sido também o pregador da Paz, em contato com o povo simples e humilde que vai ouvir a sua palavra nas praças públicas,
conclamando todos ao combate à violência, a partir da autopacificação.
Há mais de 50 anos, em parceria com seu fiel amigo Nilson de Souza Pereira, fundou, no bairro de Pau da Lima, a Mansão do Caminho, cuio trabalho de
assistência social a milhares de pessoas carentes da cidade do Salvador, tem conquistado a admiração e o respeito da Bahia, do Brasil e do mundo.
Todos os direitos de reprodução, cópia, comunicação ao público e exploração econômica desta obra estão reservados, única e exclusivamente, para o Centro
Espirita Caminho da Redenção (CECR). É proibida a sua reprodução pardal ou total, através de qualquer forma, meio ou processo: eletrônico, digital, fotocópia,
microfilme, internet, cd-rom, sem a prévia e expressa autorização da Editora, nos termos da lei 9.610/98 que regulamenta os direitos de autor e conexos.
Divaldo Pereira Franco
SUMÁRIO
Apresentação 09 Prefácio 11
01 Análises históricas 13
02 O nascimento de Jesus 25
03 A historiografia de Jesus 29
04 Examinando o dogma da Santíssima Trindade 53
05 Jesus é o salvador? 57
06 O que é necessário para salvar-se 59
07 A questão do dízimo 63
08 A sombra do preconceito 67
09 Julgar é lapidar 81
10 Raça de víboras 89
11 Humildade sublime 91
12 A morte de Jesus - o flagício 95
13 Sublimidade do amor 107
14 O companheiro das dores ocultas 111
15 Os profetas da destruição 115
16 O batismo e a lenda do pecado original 119
17 O dilúvio universal 135
18 O périplo da luz 139
19 O advento do Espiritismo 165
20 A promessa de Jesus 169
21 É o Espiritismo cristão? 175
22 A primeira sessão mediúnica da história 177
23 As perseguições 179
24 A Bíblia condena o Espiritismo? 189
25 Provas científicas da reencarnação 197 O bispo Pike - Introdução 259
26 O bispo Pike 261
Notas complementares 295
APRESENTAÇÃO
“São chegados os tempos em que se hão de desenvolver as ideias, para que se realizem os progressos que estão nos desígnios de Deus. Têm elas de seguir
as mesmas rotas que percorreram as ideias de liberdade, suas precursoras. Não se acredite, porém, que esse desenvolvimento se efetue sem lutas. Não; aquelas
ideias precisam — para atingirem a maturidade — de abalos e discussões, a fim de que atraiam a atenção das massas. Uma vez isso conseguido, a beleza e a
santidade da moral tocarão os espíritos, que então abraçarão uma ciência que lhes dá a chave da vida futura e descerra as portas da felicidade eterna. Moisés
abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. I, n° 9).
Mais outro registro dos trabalhos desenvolvidos pelo querido médium Divaldo Pereira Franco, que nos evidencia a magnitude, a portentosa tarefa de
iluminação de consciências que esse abnegado servidor de Jesus vem realizando há mais de meio século.
Não seria crível que não se procedesse à realização de anotações escritas, materializadoras de ideias, para que gerações porvindouras possam recolher da
sementeira de luzes que esse dedicado companheiro, por amor a Jesus, vem lançando no jardim das consciências que o Senhor vem amanhando no decorrer
dos evos.
Totalmente dedicadas ao Sublime Companheiro, far- nos-ão percebê-iO com mais clareza na condição de Amigo Permanente das nossas vidas,
contribuindo certamente como um novo e poderoso impulso para a já inarredâvel tarefa de libertação da materialidade, que nos vem retendo nos abismos da
incerteza e vulgaridade.
Sentir Jesus, sopesando Seus sacrifícios, Sua epopeia, Seu expressivo investimento de amor, é estímulo para atendê-IO em Sua bimilenar rogativa sobre o
“Amai-vos...”, visto que aí estão os tempos chegados, sob forma de desafios, os mais díspares possíveis, e é inadiável nosso posicionamento moral.
Esta Obra, que transcreve diversas palestras integrais ou trechos vários de temas proferidos por Divaldo Pereira Franco, em diferentes épocas e cidades do
Brasil, mostra- nos, com tintas e cores esplendentes de beleza, o Cristo- Amor, o Mestre Amigo e Incomparável das nossas vidas, como tantas vezes o querido
confrade a Ele assim se refere.
PREFÁCIO
Sempre tivemos o desejo de encontrar uma obra que se destinasse a promover o raciocínio lógico na área da fé.
Por que as questões da religião deveríam ser deglutidas sem serem mastigadas pelo crivo da razão, como até então vem sendo imposto?
Por vezes, chocados pelo horror das tragédias diárias que assolam a Humanidade, em que o homem se tornou seu próprio lobo, ficávamos a
meditar sobre como a isso se chegava, nós, as criaturas dotadas de sentimentos e de raciocínio...
Concluíamos, que sem uma orientação religiosa clara que desperte para a responsabilidade dos atos, ficaríamos quase eternamente na
indefinição da mobilização semeadora e saneadora, que modificasse as estradas do futuro em direção a uma sociedade solidária e benevolente.
Confessamos, que infelizmènte nos magoávamos contra as religiões dominantes, às quais, indevidamente, atribuíamos a falência e o caos
moral que vicejam entre as criaturas, esquecidos desse atavismo instintivo que trazemos, mas que a boa orientação religiosa é capaz de solver.
Também, sempre nos repugnou a contenda de crenças, essa estúpida e infantil competição entre aqueles que se dizem cristãos, e que, amiúde,
hostilizam-se, contundindo-se moralmente, dando à mostra a insipiência, legando muito mais distúrbios no campo da fé do que as bases da
crença que sustém e consola...
Ao assistirmos a Divaldo em suas pregações, sendo- nos colocada a ótica espírita - referta de raciocínios, e condizentes com o que
concebemos seja Deus - fulgores de alegria espocavam-nos no íntimo, como se sublime elixir trouxesse-nos a chama lustral que acendesse
claridades e confortos interiores, nessa busca até então fraudada pela aridez das crenças tradicionais, amortalhadas pelos rituais e dogmas
inconsistentes, vazias de conteúdo explicativo.
Era a nossa sede por Jesus, até então oferecido em ânforas adornadas pelo ouro exterior, mas empobrecido de conteúdo dessedentador...
Ao buscarmos compor esta obra, tivemos em conta apresentar - também pela grafia - aquele Jesus Amigo e Companheiro e a excelência das
propostas espíritas, que encantam e mobilizam, fazendo-nos perceber que a Razão Maior sempre foi atuante e permanente, aguardando-nos o
vero interesse na busca, em primeiro lugar, do Reino dos Céus, como sugeria Jesus, quando então, após “batermos”, abrir-se-nos-iam as
portas do entendimento que nos conduz à libertação das amarras da ignorância milenar.
“Vim lançar o fogo à Terra para expungi-la dos erros e preconceitos” - disse-nos Jesus. Esse, o sentido que fomos buscar em Divaldo, a
quem outra vez mais reverenciamos, pelos incontáveis benefícios auferidos, nestes anos em que o temos assistido e fruído de seus conhecimentos
e abnegação em levar adiante as verdades do Evangelho de Jesus, resgatando-as dos pedrouços que a cupidez humana eivou, instigada por
propósitos subalternos, tentando apagar-Lhe a esplêndida mensagem iluminativa, confor- mando-a aos seus mesquinhos interesses.
Aqui teremos explicações sobre vários trechos evangélicos que não conseguíamos compreender, e que nos são apresentadas dentro do
padrão da lógica, encaminhando- nos pelo gosto na busca das essências doutrinárias de Jesus, favorecendo-nos o discernimento, robustecendo-
nos a fé e a admiração pelo amado Mestre Jesus.
Porto Alegre, primavera de 2005.
Délcio Carlos Carvalho
1 ANÁLISES HISTÓRICAS
O tema mais importante da Humanidade é Jesus, o Ser por excelência. Começaremos por uma análise histórica.
No dia 22 de fevereiro de 1862, no College de France, em Paris, um dos maiores intelectuais da Academia Francesa de Letras, no seu tempo,
levantou-se para proferir um discurso e apresentar uma obra polêmica, que ainda estava escrevendo, e que, desde antes, havia sensibilizado a
opinião pública, graças aos comentários veiculados nos grandes jornais da época, naquela cidade.
O homem: Ernesto Renan.
O livro: A Vida de Jesus.
Ernesto Renan escrevia essa obra em circunstâncias muito especiais.
De formação materialista e acadêmica, a sua ironia a respeito de Jesus e da religião vigente fez com que se tornasse célebre pela
manifestação de desagrado e pela maneira como tratava as questões pertinentes à fé religiosa.
Devemos recordar-nos que o ano de 1862 estava caracterizado por uma Paris, Cidade-Luz, onde as ideias nasciam pela manhã e morriam ao
declinar do dia.
Diante da seleta presença intelectual da Europa, enunciou, naquele College, esta frase de poucas palavras: “Jesus é um Homem
Incomparável.”
Perguntar-se-á: por que a audácia de Renan, já que ele era materialista, fazendo parte da elite francesa, que seguia a tradição do recém-
nascido mecanicismo materialista? É que, nesse ínterim, uma sua irmã, por quem era muito afeiçoado, enfermara gravemente. Vivia-se o período
da peste branca, a tuberculose pulmonar. Ela houvera contraído a doença e, porque o clima da França era-lhe prejudicial, foi- lhe recomendado
pelos médicos que se transferisse para o Líbano, a fim de poder recuperar a saúde.
Lembremo-nos que, no século XIX, o Líbano era possessão francesa e, além do árabe, falava-se também como língua nacional, o francês.
Ela foi morar naquele país, perto de Baobec, à margem do grande deserto. O clima quente, a aridez da terra, o Sol agradável iriam propiciar-lhe a
desejada recuperação.
Ali, teve oportunidade de travar contato com o Cristianismo, porém, o Cristianismo desataviado e simples, o Cristianismo primitivo,
ensejando-se, também, a ensancha de viajar por algumas províncias por onde peregrinara a palavra altissonante e nobre do apóstolo Paulo,
visitando as velhas igrejas, algumas delas, agora, em ruínas.
Estando diante daquelas evocações, deixou-se fascinar por Jesus, e tomando do Evangelho, Iluminou-se, embriagada de esperanças.
Conhecendo o radicalismo com o qual Ernesto Renan combatia Jesus, fez-lhe uma memorável carta-repto, tendo oportunidade de dizer-lhe:
“Tu não conheces Jesus! Tu O combates, mas nunca O leste. Lês aquilo que escrevem os teólogos. O Jesus que te deram, é o Homem crucificado
no dogma. Tu nunca tiveste ocasião de penetrar nas fontes históricas, no entanto, na tua condição de professor de hebraico, na Universidade de la
Sorbonne, poderias lê-IO no original, prolongando-te pelas Cartas Paulinas, tomando conhecimento das narrações em grego e aramaico, sem
qualquer perigo de adulteração ou de interpolação.Tenho certeza de que Ele cativará tua alma por ser uma figura incomparável da História.
Somente terás autoridade para combater o Cristianismo depois de leres Jesus-Cristo, naqueles que O conheceram e, se tiveres coragem,
desvelares para o mundo o Jesus que encontrares."
Renan, que realmente nunca tinha lido o Evangelho, nas suas fontes originais, aceitou o desafio. Resolvendo-se por assim fazer, começou a
procurar as primeiras traduções em hebraico, os primeiros manuscritos em grego e, mais tarde, a Vulgata, a tradução para o Latim vulgar.
Surpre- endeu-se. O Jesus que ele conhecia não era aquele Jesus histórico; era o teológico, aquele que havia sido elaborado pelos continuadores
da Sua Doutrina e que Lhe adulteraram as palavras.
Depois que leu aqueles quatro narradores, sentiu-se tocado por Jesus, e escreveu um Evangelho à sua maneira, na sua óptica de idealista, de
filósofo e de libertário de consciências.
Nesse dia, portanto, 22 de fevereiro de 1862, comentava a sua obra, num dos auditórios mais célebres da França. Começou o seu discurso de
maneira sui generis. Suas primeiras palavras causaram impacto no auditório, recebendo da crítica literária e, posteriormente, da intolerância
religiosa da época, os mais ásperos e ácidos comentários. Dissera Renan: “Jesus é um Homem Incomparável”.
Nessas cinco palavras, ele tentava demolir a velha tradição teológica de um Homem-Deus, de um Deus feito homem, criando, assim, uma
celeuma e um debate que se arrastariam por muito tempo.
Naturalmente, o discurso de Renan prosseguiu, mas o Le Monde, jornal francês de orientação católica, caiu sobre ele com toda a ferocidade
daqueles que não admitem pessoas que pensam livremente e que tenham a coragem de ser independentes, em um mundo de paixões e de
escravidão. Logo depois, Renan publicaria a sua Vida de Jesus em três volumes.
Essa celeuma prossegue até os dias atuais, convidan- do-nos a graves reflexões, isto porque, ao afirmar que Jesus é um Homem
Incomparável, Ernesto Renan, por definitivo, mata a figura mitológica de Jesus. Retirou-0 da galeria mítica, na qual fora colocado pela tradição
religiosa ancestral e era comparado a Zeus, do Olimpo, ou a Krishna, da India, apresentando-nos, dessa forma, um Jesus humanizado, trazendo-0
para perto de nós, e dEle retirando aquela condição arbitrária, quanto indevida, de Deus que se fez homem, estando em contacto conosco de
maneira mais adequada.
No momento da proposta Jesus é um Homem Incomparável, houve um murmúrio no auditório, e essa reação iria tornar a sua obra ainda mais
requisitada, pois que, trinta anos antes houve um movimento revolucionário na cultura religiosa da França, propondo uma visão nova da fé, cuia
bandeira era Deus e liberdade.
A Revolução Francesa de 1789 inscrevera nas páginas da Justiça, os ideais enobrecedores do homem: Liberdade, Igualdade, Fraternidade, e
em 1791, pela primeira vez, o Código dos Direitos Humanos era estabelecido como fundamentai à vida.
Era inevitável, que a França do século XIX, herdeira dos filósofos revolucionários, não desejasse mais subme- ter-se ao jugo arbitrário de
qualquer forma de intolerância, e, a de ordem religiosa, então vigente, escravizava as mentes ao talante das paixões nela vigorantes.
Entre muitos pensadores-teólogos do clero francês, levantaram-se Montalembert, Lamennais1e Lacordaire2, para solicitar ao Papa, por
premente necessidade, a apresentação de um Deus que concedesse, pelo menos, a liberdade de consciência, naqueles dias de lluminismo.
Assim, na ocasião, na Rive Gauche, no bairro de Saint Michel, em Paris, apareceu em 1830 um periódico com o nome L’Avenir, (O Porvir).
Nele estavam as mais lúcidas inteligências da aristocracia teológica da França, que proclamavam a necessidade de Deus e Liberdade; não mais
podendo-se manter uma doutrina escravocrata, nem submeter-se a inteligência às imposições medievais. Por isso,
desejava-se que a Igreja do século XIX permitisse a liberdade de expressão. Claro, mantinha-se a crença em Deus como Centro do Universo,
mas destituído da peia dogmática. Era necessário fazer com que a religião abandonasse o autoritarismo, o pedantismo, a ditadura, e oferecesse
aos seus profitentes um conceito de Deus semelhante ao de liberdade de pensamento.
Lamennais, mais tarde celebrizado pela sua cultura, e Lacordaire igualmente nobre, não havendo conseguido na Terra o seu intento,
reaparecerão nas páginas alcandoradas de O Evangelho Segundo o Espiritismo, com mensagens comovedoras, mantendo os ideais que
abraçaram na Terra.
Um ano antes, em 1831, esses notáveis normandos, graças à sua audácia intelectual, haviam solicitado ao Papa uma entrevista em Roma, que
os recebeu gentilmente, pois Lamennais tinha um irmão que servia na Cúria romana e que se destacara diante do Chefe da Igreja, facilitando-lhes
o encontro.
A Igreja ancestral estava em decadência naquele terceiro decênio do século XIX e, na condição de intelectu- ais-teólogos, eles desejavam que
Jesus passasse à galeria dos seres extraordinários e não mais permanecesse como um mito inalcançável ou Deus em figura humana, mas sim,
como Homem em manifestação divina, deuses que, de alguma forma, somos todos nós.
O Papa Leão XII era um homem de grandes ideais. Desejava alargar os horizontes da Igreja, acabar com as lutas entre o Pontificado e os
Estados italianos, ensejando uma releitura dos Evangelhos.
Com efeito, o Papa escutou-os. Durante uma hora conversou sobre tudo, menos - diz o relato de ambos - sobre a tese essencial, porquanto
estava mais interessado nas questões da governança da Igreja do que na expansão da proposta do Amor, de que se fizera o exímio embaixador da
figura cândida do Sublime Galileu. Nada obstante, prometeu que iria examinar a situação vigente na França, e depois daria a sua opinião, na
condição de Pai e Pastor.
Decepcionados, retornaram a Paris. Por desejarem um Deus libertador e não um Deus dominador, solicitaram uma nova audiência ao Papa,
programada para o ano seguinte.
Logo depois, por ocasião do retorno dos missionários franceses, o Papa teria dito a alguns Cardeais amigos: “É o fogo da juventude... Mas,
saberei como acalmar esse jovem - referia-se a Lamennais - oferecendo-lhe o anel cardinalí- cio e o chapéu de príncipe.”
Ele não conhecia, porém, a grandeza morai desse Lamennais sonhador, que recusou tanto o anel quanto o chapéu cardinalícios. Não desejava
honras. Anelava pela felicidade de servir e de oferecer Jesus à sociedade de sua época, na condição de Exemplo e de Modelo ímpar.
Quando repetiram a viagem Paris-Roma, com as dificuldades daquele século, Lamennais ainda recordava a afabilidade paternal de Leão XII.
Quando, porém, chegaram a Roma, tiveram a notícia do infausto acontecimento: Leão XII havia desencarnado, e estava no trono de São Pedro
um homem portador de uma temeridade incomum: Gregó- rio XVI, que havia apresentado uma Encíclica, através da qual exigia submissão, sem
discussão, de todos os fieis às determinações da Cúria romana. Programada a entrevista, foram-lhes concedidos cinqüenta minutos. Antes,
porém, ficaram por mais de uma hora na antecâmara, até que se adentrassem na sala palaciana, na qual estava reunida a corte pontifícia.
O Papa desfilava como um rei. Aqueles três jovens sonhadores, que anelavam por Deus e liberdade, esforçaram-se por aproveitar a hora de
que dispunham naquela oportunidade, mas foram gastos quarenta e cinco minutos em conversação frívola, sendo-lhes reservados apenas cinco,
para que expusessem a ideia sobre o lema que os arrebatava.
Narra o episódio da época, ter sido bastante insignificante o diálogo, porquanto o Papa estava mais interessado em ouvir uma anedota contra
os franceses - que não acreditavam no Purgatório — havendo sorrido muito, do que dialogar com os mesmos.
Para tranqüilizá-los, o Papa ofereceu-lhes rapé em uma tabaqueira de lápis-lazúli3, a fim de que pudessem aspirar o pó a plenos pulmões,
eliminando qualquer constrangimento, porque, o que interessava a Sua Santidade - até então ainda não considerado infalível, o que somente iria
acontecer em 1870 - era que eles vivessem a vida religiosa integralmente, ponderando ser a questão da liberdade muito romântica e mais
pertinente ao pensamento intelectual dos filósofos, mas nada prática no relacionamento das criaturas humanas...
Retornaram, esses admiráveis pensadores, profundamente frustrados, amargurados e tristes. Não era possível que Jesus estivesse sentado na
denominada sedia gesta- toria, em Roma, que o Papa usava nas procissões, nem podiam compreender que ali estava a representação do apóstolo
Pedro, aquele discípulo afável de Jesus, que no momento da própria crucificação houvera pedido: - “Po- nham-me de cabeça para baixo, pois
que não mereço morrer na mesma posição do Mestre Galileu”...
Embora hajam ficado mais alguns dias em Roma, soou o momento de retornarem a Paris, sendo que Lamennais seguiu a Munique e ali
tomou conhecimento da encíclica Mirari Vos, de Gregório XVI, denunciando tudo quanto acreditava que ameaçasse o seu poder em Roma...
À medida que os acontecimentos tinham lugar, observaram que a Humanidade voltava às trevas medievais, porque o Papa Gregório XVI
logo apoiara a dominação arbitrária dos russos sobre os poloneses, estabelecendo que o Czar tinha as bênçãos de Deus para esmagar o
proletariado da Polônia; que havia firmado um pacto de ajuda com os déspotas da Áustria, da Prússia, da França, repetindo os hediondos
espetáculos da noite de sombras do passado.
1
(1) e (2) LAMENNAIS E LACORDAIRE - Houvemos por bem inserir algumas considerações sobre estes dois brilhantes Pensadores franceses.ao final desta compilação.
2
(1) e (2) LAMENNAIS E LACORDAIRE - Houvemos por bem inserir algumas considerações sobre estes dois brilhantes Pensadores franceses.ao final desta compilação.
3
(3) LÁPIS-LAZULI - Mineral opaco que é um silicato de composição complexa. Sua cor é azul e funde dificilmente. E solúvel nos ácidos. Encontra-se na Pérsia e na China, em filões de
rochas calcáreas cristalinas; é empregado na confecção de objetos de adorno e como matéria prima na extração de um corante.
Quando Lamennais ainda se encontrava em Munique, soube que fora censurado publicamente, assim como o L’Avenir, prenunciando o seu
desaparecimento. Desespe- rou-se, e rumou a Paris, continuando a invectivar contra a conduta arbitrária do alto-clero, bem como sobre a
imoralidade que governava a doutrina, em Roma. Anelava pelo retomo do Cristo, porém, do Homem-Jesus, para atender as necessidades
imensas da criatura humana, cuio rebanho se encontrava perdido.
O L’Avenir foi fechado e proibido de circular, Lamennais encarcerado, Lacordaire e Montalembert foram excluídos dos quadros religiosos.
É compreensível, portanto, que transcorridos trinta anos quase, Ernesto Renan voltasse à mesma tônica, embora com outras palavras. Estava
ansioso para que Jesus fosse considerado um Homem, não um Deus, com a possibilidade, assim, de penetrar os corações humanos de maneira
sutil e profunda, ao mesmo tempo arrebatadora.
Era natural que, ao retomar o barco da experiência renovadora, viesse também a padecer uma insana perseguição, por ter caído no desagrado
da religião dominante. Ele era professor de hebraico, como dissemos, na Universidade de la Sorbonne e havia conseguido essa cátedra graças a
uma proposta do Imperador Luis Napoleão III, por instâncias de uma sua discípula, que convivera com esse mandatário em sua infância,
granjeando-lhe um lugar de destaque e de alta representatividade.
Sob pressão do Clero, essa cátedra foi-lhe retirada, recebendo o opróbrio, a humilhação, mas não perdeu a dignidade de falar a respeito de
Jesus aquilo que pensava, tornando sua obra um marco histórico no pensamento religioso, em que Jesus saía das páginas dos dogmas ultra-
montanos para o quotidiano dos corações humanos.
Foi, nesse ínterim, entre 1832 e 1862, que surgiu a Doutrina Espírita (18-04-1857). Não passaria despercebida a Allan Kardec, o notável
Codificador, a presença do livro do mestre Renan, que leria e interrogaria aos Espíritos, conforme se encontra anotado na Revista Espírita, na
qual comenta, no bojo da obra, a especificidade das conjecturas apresentadas pelo insigne filósofo.
Aquele Lamennais, aquele Lacordaire, que foram abominados pela intolerância religiosa, volveram, porém, em liberdade espiritual e
escreveram do Além a respeito desse Homem Incomparável que é Jesus, e que Ernesto Renan não teve oportunidade de conhecer desvelado
pelos excel- sos Espíritos da Codificação.
A nós, em particular, interessa-nos a questão revolucionária do grande escritor haver arrancado Jesus do dogma da Santíssima Trindade e
trazê-IO para as praias do nosso coração, para que suas redes nos alcancem e nos tirem das águas procelosas do mar das paixões.
Foi Renan quem teve a oportunidade de dizer que Jesus é tão grande que não coube na História. Todas as personalidades viveram, nascerem
na História e morreram dentro dela. Jesus, não! O Seu berço encerrou uma época e abriu outra Era. Por isso mesmo, os fastos passaram a ser
contados antes e depois dEle.
Sempre que falamos sobre Jesus, somos levados a fazer várias excogitações: seria Ele um mito, tal como qualquer um daqueles deuses do
panteão greco-romano, hebraico ou uma realidade?
A personagem mais biografada do mundo até este momento, é Napoleão Bonaparte. Segundo alguns bi- blioteconomistas, já foram escritas
mais de 250.000 biografias, artigos, ensaios a respeito do Corso de Ajácio, também comentários, livros de protestos, considerações favoráveis,
dele fazendo o vulto mais honorável da França guerreira de todos os tempos.
No entanto, Jesus tem a Sua biobibliografia apresentada em uma expressiva soma de aproximadamente 500.000 livros. Claro que, nem todos
favoráveis. Inevitavelmente, porém, a Sua importância é tão singular, que a história pós- cristã não resistiu em escrever sobre esse Homem de
maneira complexa e variada: Jesus, o Anarquista; Jesus, o Libertador; Jesus, o Marxista; Jesus, o Homem de Nazaré ...
Uma das maiores psicanalistas do século XX, a Dr8. Han- na Wolf, alemã, dedicada à investigação sobre a vida de Jesus, referiu-se, certa
vez: “Jesus está na moda”... Eram, então, os anos sessenta do segundo milênio (1960-1970). Logo depois, ela voltaria a dizer: “Ele é alguém que
não sai da moda”; já nos anos noventa, a Dr3. Hanna Wolf, de alguma forma, embora não proposital, retomou os ideais de Renan, agora sob a
óptica da Psicanálise. Passou uma longa temporada na índia, quando estudou profundamente o Hinduísmo e procurou adaptá-lo ao pensamento
de Freud e de Jung. Posteriormente, foi convidada a passar uma expressiva temporada na Bolívia onde, em contato com os índios, acompanhou
muitas experiências de estados alterados de consciência, graças à coca e diversas raízes, que liberam as grandes amarras que a consciência
detém sobre a superconsciência.
Voltando à Alemanha, encontrava-se em condições de informar que Jesus é, sem dúvida, Insuperável, e apresen- ta-se hoje tão atual, ou
mais, do que naqueles dias, quando veio conviver com as criaturas.
A cultura europeia e americana havia ressuscitado Jesus, sim, para que os jovens empreendessem uma grande marcha na decifração desse
Homem Admirável. Ao afirmar que Ele é de grande atualidade, refere-se, por exemplo que, no movimento hippieísta, os jovens que buscavam a
flor e o amor, através do sexo desvairado, viram em Jesus o Modelo, e tentaram transformar seus conflitos e ansiedades numa ópera pop, que
denominaram Jesus Super Star,; tra- zendo-0 ao palco da Humanidade, falando da necessidade de liberdade, a qual, em alguns arraiais era
confundida com libertinagem. Eles próprios, esses jovens aturdidos, não compreenderam a mensagem de Jesus e deformaram-na. Mais tarde,
apareceu a película A Última Tentação de Jesus, de Bertolucci, que se baseou em um autor grego que procura demonstrar que o Incomparável
Homem se teria perturbado pela sedução da pecadora de Magdala, mas, que podería ser, também, a última tentação de Bertolucci, usando a
figura do Cristo...
A Sua personalidade invulgar, parece cada dia crescer, porque Ele é o zênite e o nadir das aspirações humanas. É compreensível, portanto,
que essas 500.000 biografias, ensaios, crônicas, críticas, dEle façam a personalidade mais versátil, mais conhecida e mais debatida da história da
Humanidade.
A verdade é que, periodicamente, Jesus ressuma da História e passa a governar os nossos destinos, apresentando a Sua historiografia e
expressando-se em vibração de paz. Ele é portador de algo que penetra o âmago do coração, por simbolizar o amor na sua plenitude: é a
liberdade legítima e total.
Foi Ele quem teve a coragem de mudar o destino da Terra.
Até Ele, a Lei fora codificada em uma esteia de pedra através do Código de Hamurábi. Mais tarde, a tradição hebraica houve por bem
estabelecer a lei de tal-e-qual, ou Lei de Talião: conforme o delito, a punição.
Moisés tentou suavizar a legislação humana apresentando o Decàlogo; a Lex Romana procurou manter o direito de propriedade da terra onde
se vai sepultado, da família, da liberdade.
Ele proclamou a Lei de Amor,; como aquela que vige em toda parte e que os espíritos confirmaram como a Lei Natural, composta de dez leis
morais outras, que abarcam as necessidades que hoje temos na Terra como impositivo para a evolução.
2 O NASCIMENTO DE JESUS
Celebramos o Seu aniversário em 25 de dezembro. Mas, Ele não nasceu nessa data.
Ele teria nascido entre os dias 2 a 4 de abril, segundo alguns historiadores. A data é muito imprecisa, por motivos compreensíveis, em face
das mudanças de calendário e da falta de registro histórico de confiança.
Todas as tradições asseveram que foi nesse período que ocorrera o Seu nascimento.
E por que o comemoramos em dezembro? Porque a cultura romana, a sua mitologia propriamente dita, havia reservado o dia 25 de dezembro
para a festa pagã do Solis Invictus (o Sol Invencível) logo após o chamado solstício do inverno (22 ou 23), o dia mais curto do ano europeu,
celebração essa de natureza sensual, para o gozo, para a perversão.
Quando os cristãos primitivos resolveram celebrizar Jesus, naturalmente elegeram essa data para o Seu nascimento, a fim de que fosse
substituída aquela comemoração, vulgar e perturbadora, por outra de mais alto significado, de conteúdo profundo, que tivesse representação
muito maior do que a convencional. Então, transferiram a data do nascimento de Jesus, de abril para dezembro...
Dessa maneira, foram empanadas, e mais tarde esquecidas, as evocações aos deuses Baco, Saturno e as grandes entregas à sensualidade.
Por que a razão de tantas confusões? Devemos recordar que o calendário primitivo era lunar, e para adaptá-lo à realidade foram necessárias
muitas concessões. Entre essas, a colocação de um mês dedicado a Júlio César, o grande conquistador (Julho).
A seguir, mais um mês, dedicado a Otaviano, agosto, considerando-o Augusto, conforme fora homenageado.
Como conseqüência, houve o acréscimo de mais dois meses, a fim de coincidir com o périplo que a Terra desenvolve em torno do Sol, além
de um dia a mais, a cada quatro anos, que é o bissexto.
Igualmente, Ele não teria nascido no ano 0 da nossa Era. Isso é ainda mais perturbador, porque se assim o fosse, seria necessária uma grave
alteração em as narrações evangélicas.
Como todos nos recordamos, governava a Palestina, principalmente a Judeia, Herodes, o Grande,4 que morreu aproximadamente no ano 4
antes da nossa Era. Como Herodes teria mandado matar os recém-nascidos até os dois anos de idade, isso deve ter acontecido dois anos antes de
ele ter falecido, o que recuaria a data do nascimento de Jesus para os anos 6 ou 7 antes da convencional vigente em nosso calendário.
Mas será importante que Ele tenha nascido no ano 0 da nossa Era ou antes, no ano 6?
O importante é que Ele nasceu. Temos esta certeza, porque a história de Jesus está no Evangelho, rica de detalhes dos acontecimentos que
Lhe confirmam a existência.
A vida de Jesus é também algo paradoxal.
Se remontarmos aos mais confiáveis historiadores, aqueles que são aceitos pelos líderes religiosos do mundo cristão, veremos que a Sua vida
é tão singular, que a História não define exatamente quando Ele nasceu ou quando morreu.
Então, será que Jesus nasceu? Não seria um mito, como tantas outras figuras originadas em nossos arquétipos, que se tornam realidade por
uma necessidade de afirmação do nosso inconsciente? Conclusivamente, porém, Jesus foi (e é) um Ser real.
Qual seria o aspecto físico e os traços fisionômicos de Jesus? Difícil responder-se. A emissora BBC, procurou fazer uma pesquisa, graças ao
código genético de um homem que existiu no século primeiro, e apresentou um Jesus moreno, de traços algo grosseiros, cabelos crespos,
dizendo que aquele era um tipo do primeiro século e que Jesus possivelmente teria sido assim.
A pesquisa é muito honesta, mas a conclusão, a mim me parece pouco óbvia. Se tomarmos os genes de qualquer um de nós e desenharmos o
homem e a mulher do século 21, claro que não será alcançável o biótipo representativo. Somos uma variedade de raças com vários códigos
genéticos, não se constituindo em um código-modelo, único, que represente a generalidade.
A tradição diz que Jesus, judeu - apesar de os haver de pele negra - era de pele branca e de cabelos claros no tom do mel ou do ouro velho.
Os cabelos eram longos, pois era nazareno, e os que nasciam nesse burgo tinham por princípio jamais cortar os cabelos e a barba, porque, na
tradição de Moisés raspar o rosto era um desrespeito à dignidade. Eis por que os rabinos, os sacerdotes coptas, os da Igreja Ortodoxa Russa e
outros ainda mantêm a barba. O rosto raspado pertence mais à cultura romana. Foram os romanos que lançaram a moda masculina da pele do
rosto sem cabelos.
Em uma carta atribuída a Publius Lentulus, Jesus apresenta-se com olhos muito transparentes, de tonalidade turquesa semelhante ao céu do
entardecer na Galileia. Deveria ter 1,75 m aproximadamente e pesar entre 65 e 70 Kg. Era um Homem magro, sem tórax muito desenvolvido,
embora o Seu trabalho fosse de carpintaria, que exige esforço muscular. Era possuidor de voz calma, porte ereto e altivo. A doçura da face,
porém, não empanava a energia que dEle se exteriorizava.
4
(4) HERODES, O GRANDE (73 aC-44 aC) - Foi nomeado Rei da Judeia pelo Senado de Roma, no ano 37 aC. Foi ele que iniciou a construção do Templo de Jerusalém. Foi o pai de Herodes
Ântipas (21 aC-39), cuja memória está vinculada historicamente à morte de João Batista e de Jesus-Cristo
3 A HISTORIOGRAFIA DE JESUS
Apesar de ser um vulto notável, os dados que dEle temos são muito reduzidos. O mais curioso é que a História c l á s s i c a m u i t o
econômica em referências, mas Sua existência entre nós é realmente incontestável. Desse ponto de vista,pi rgguzidas citações dignas de çrédjto.
Acpritpeira delas aparece por volta do ano 70, e é de FlávioMÊú o grande historiador do povo hebreu, que faz uma breve citação, uma
frase, apenas. Diz ele: “N<ano62 da nossa Era, foi decapitado em Jerusalém, Tiago; o irmão, pde Jesus, chamado Cristo”.
É uma referência credível porque Tiago é um dos pri- BmeirWírhártires, logo depois de Estêvãç e daqueles de menor conhecimènto no
cenário cristão, que deram suas vidas em testemunho à causa do Nazareno.
Como sempre os houve, os opositores de Jesus argumentam: ,:Mas Jesus era um nome popular entre os he- breus -- Jehochua - ò que ainda
hoje temos! Mais adiante surgiram Jehochua Barrabás, Jehochua Bem Sarbás, e outros que também se celebrizaram”...
A segunda referência ,é ainda apresentada por Flávià Josefo na sua obra\ Antiguidades Judaicas. Essa, os críticos mais severos dizem que
não é exatamente de sua autoria, porque o texto parece ter sido trabalhado por algum cristão...
Informa que: “Nesta época viveu Jesus, um homem excepcional, porque realizava coisas prodigiosas. Conquis-
/ tou muitos adeptos entre os judeus e até entre os helenos.
1 Quando, por denúncia dos notáveis, Pilatos o condenou à cruz, os que lhe tinham dado afeição não deixaram de o / amar,
porque ele apareceu-lhes ao terceiro dia, de novo I vivo, como os divinos profetas o haviam declarado. Nos j nossos dias, ainda não acabou a
linhagem dos que, por V causa dele, se chamam cristãos.N
Essas últimas referencias tornam o texto algo suspeito, mas a verdade é que a Ele se reporta por segunda vez.
Aterceira referência é dèá|cito|historiador romano, nos seus Aríais, que foram escritos no flêWlMiïjfl emque entretece consideração aos
seguidores de Jesus ájjjS)i§|o incêndio de Roma em 64 d.C..
Ãquarta referência é de Plínioo Jovem, enfflffia car- ta ao Imperador Trajano, quando faz comentário dqs ritgfo r cristãos: “Reúnem-se numa
data fixa, antes do nascer do Sol, e cantam entre eles um hino ao Cristo como a um deus. Comprometem-se sob juramento a não cometer roubos,
as- ( saltos ou adultério, e a nunca abdicarem da fé.”
Apenas quatro referências...
Se examinarmos a vida de iéBulioesa o Conquistador da África e, portanto, do mundo de então, essa personagem encontra-se narrada e
grafada dentro das páginas da história da humanidade, sendo sua biografia comentada com exaltação e os seus escritos conservados. E ele foi
apepas um conquistador terrestre...
Se nos detivermos a pesquisar a vida de Dom[cio Nero, o Monstro, o hediondo filho de Agripina, a quem teriáassas- sinado pelas costas,
arrancando-lhe o coração através dos pulmões para ver de onde havia nascido um ser como ele, constataremos que a História foi referta de
generosidades para com essa personalidade, situando-a no tempo e mantendo-a viva na memória dos milênios.
A respeito de Jesus, os clássicos pós-cristãos não se detiveram em analisá-IO, porque o grupo daqueles seguidores foi de tal forma
anatematizado durante mais de duzentos anos, a.partir de Domício Nero até 284 mais ou menos, jjr quando foi lançado o édito que proibia as
crueis e odientas perseguições. Isso contribuiu, de certo modo, para empa- nar - ou enobrecer - a figura de Jesus, dando margem aos cépticos
para negar-Lhe a existência real, abrindo espaços para o surgimento do mito, para a superstição, para a fantasia, para o dogma.
...E os Evangelhos apócrifos? São verdadeiros e têm conteúdo semelhante aos canônicos e deuterocanônicos? Obviamente, se são apócrifos,
pressupõe-se que não são reconhecidos como verdadeiros. Não são considerados dentro da ortodoxia porque São Jerônimo, que foi convidado
pelo Papa Dâmaso I para selecionar os Evangelhos legítimos entre as centenas de cópias existentes, elegeu aqueles que passaram a ser
denominados canônicos, isto é, reconhecidos pelo Cânon, uma lei da Igreja, que os considerou autênticos. Tempos mais tarde, surgiram as Cartas
de Paulo, as de Pedro e o Apocalipse, que também foram considerados verdadeiros, após exaustivos estudos, passando a ser chamados
deuterocanônicos, porque aceitos depois do Cânon. Porém, apareceram muitas cópias através dos tempos, algumas grosseiramente adulteradas, e
mais recentemente o Quinto Evangelho, atribuído a Tomé.
A Igreja Católica e a sua Teologia não os consideram verdadeiros. Então, nós, os espíritas, deixamo-los à margem, porque não receberam o
apoio dos Mentores da Codificação, embora alguns possuam mensagens muito elevadas, que em nada conflitam com os canônicos.
Sobre os Evangelhos ditos apócrifos, tivemos já a oportunidade de 1er alguns: o de Pilatos, o de Nicodemos, o de Tomé, e outros que nos
chegaram às mãos, mas em realidade, na textura, não se igualam aos convencionais, aos quatro canônicos que nos servem de base doutrinária,
pejo menos, na rninha forma de os entender.
Como confirmar-se ainda que Ele foi um ser humano autènticg? Quais os fundamentos para asseverar-se que»V Jesus é um vulto da História
e não um ser mitológico?
Jesus é tão singular e esgecial, que tudo, na Sua vida, Um jovem rabinoxSaulo. adotou o nome de Paulo, após vê-IO às portas de Damasco,
saindo a pregar áfêtía mensagem, tendo proposto no Primeiro Concilio de Jerusalém, quando se debatia a necessidade ou não da circuncisão, que
se adotasse a proposta de Jesus, que era expor-se o Evangelho e difundi-lo para todas as gentes, quando a mensagem então se espalhou, saindo
do burgo da Palestina para alcançar o mundo de então.
é específico... Por outro lado, Jesus é biografado por algumas testemunhas da Sua existência e que viveram com Ele, assim como por outras que
conviveram com aqueles que O conheceram. A Sua vida incomparável pode ser hoje perscrutada na pena notável de algumas pessoas que
participaram com Ele do lançamento das bases da Nova Era.
Afirma-se, porém, que Suas biografias apareceram, em média entre 30 e 60 anos depois que Ele morreu, o que, de forma alguma tira-lhes-
averacidade.
Iniciava-se a Era gloriosa, cheia de audácia, em face da divulgação da palavra do Rabi.
Payjp djfundia a notícia apresentando o seu próprio testemunho: MEle a mim me apareceu, às portas da cidade de Damasco, quando eu ia
matar Seu mensageiro Ananias, no que me resultou uma cegueira da qual fui libertado milagrosamente pelo toque daquele a quem ia assassinar.”
É a Paulo que devemos a mensagem haver chegado até nós. Se não fora ele, provavelmente o verbo do Mestre teria permanecido e morrido
naquela região da Palestina, exceto se o próprio Jesus outra providência houvesse tomado. Foi aquele judêu greco-romano que, nascendo.na
cidacilvtar, no futuro, o conhecimento da Mensagem nesse idioma.
Surgiu íà primeira biografia de Jesu$, aproximadamente entre os anos 62 e 65, vinte e nove a trinta e trêsLanos após a morte doJMêstre, feita
por uma testemunha ocular, que morava na cidade de Cafarnaum, que eJMateusyembo- ra antes já houvesse narrativas esparsas.
Cafarnaum, para quem não está a par da geografia de Israel, era uma cidade da Galjleia, uma das quatro regiões antigas, dividida por
Herodes, o Grande, que as ofereceu aos filhos, para governá-las após a sua morte, pensando em evitar que se atacassem reciprocamente, em face
da pusilanimidade de que eram portadores...
Como.Herodes receava morrer e seus filhos matarem- se, uns aos outros, a fim de se apropriarem da governança, dividiu g país em
tetrarquias, ou seja, em quatro regiões: a Galileia,. aJudeia, a Samaria e a Pereia Draconítida.
Merece, aqui, uma digressão poética e lírica.
A Galileia, tecnicamente, era uma região agropastoril, \ H estando situada quase duzentos metros abaixo do nível do \ Mar Mediterrâneo. AH
se cultivavam uvas, tâmaras e muitos cereais. Ali também se pastoreavam ovelhas, procuran- do-se dar vida às terras verdes e generosas. Pela
Galileia \ passaram as forças de Nabucodonosor, de Assurbanipal. í estando próxima à área denominadáArmagedon) onde a tradição informa que
se dará a batalha final entre o Bem e o Mal. Essa, porém, é uma região triste. /
Na mesma região encontra-se o mar denominado da Galileia, que resulta das águas do rio Jordão, que nasce nos montes Antilibano, a oeste
da montanha Hermon e corre em direção sul na parte mais baixa do planeta terrestre, onde suas águas se detêm nessa imensa cratera, formando o
mar Morto, quatrocentos metros abaixo do nível do Medi- terrâneoTl
Ali, a ardência do Sol é muito grande, e a água adquire alta densidade de sal em razão da evaporação. Não se pode nadar, a região é
caracterizada pela aridez, não há vegetação nem animais, ênqua1htQWüetgiãojS|à's: margens do mar da Galileia, a vegetação é luxuriante, com
pássaros e animais, as encostas são cultivadas, ricas de uvas, figos, e, nas suas bordas, algumas árvores vetustas. Era então um dos lugares mais
frescos da Palestina.
Esse mar tão decantado, em verdade não â yrn mar. É, relativamente, uma porção de águas, para os nossos padrões, tendo um volume menor
do que o da Baía da Guanabara. Para a região em que está, porém, é verdadeiramente um grande mar. Por isso, no Evangelho vemo-lo com três
designações diferentes: Mar da.Galileia, Lago de Genesaré e LagcTde Tíbériades, por causa da residência de Tibério César e da cidade do
mesmo nome em sua orla, que fora erguida em homenagem ao Imperador.
Alguns historiadores dizem que, ao tempo de Jesus, havia aproximadamente cinco mil barcos realizando ali a pesca, nas águas espelhadas
que, vez por outra, graças à situação geográfica, eram dominadas por tempestades, quando os vapores quentes desciam das nuvens e as eriça-
vam. À sua volta, as areias têm um tom de telha com pedras miúdas, seixos... Do outro lado, as grandes montanhas que pertenceram à Grécia, e
sobre cuio acume estava a Decá- polis ou as dez cidades gregas então quase abandonadas.
Foi nesse lugar extraordinário, na cidade de Cafarnaum, uma das mais formosas da região, porque ppsMÍa uma sinagoga - honraconcedida
somente a cidades de pito porte - que inicialmente Ele abriu a Sua boca e cantou...
Sendo uma região pastoril e de pescadores, é um lugar de pessoag humildes, analfabetas, mas ricas de coração. Aindajftojje, parte da região é
habitada por palestinos, e a generosidade palestina, que ainda é nômade, nessa localidade muito pobre, guarda o seu melhor carneiro para as
visitas, e à sombra das suas barracas sempre se serve o vinho mais capitoso para os alienígenas. É a região da bondade.
Um pouco além, no Vale do Armagedon, mais acima, a terra é calcinada, com mata rasteira sem árvores, que faz lembrar o nordeste do
Brasil.
Maisadiantehá uma pequena região, denominada Jeri- ç§, considerada a cidade mais velha do mundo, célebre pelos muros que foram
derrubados pelas trombetas de Josué, que é verdejante, rica de águas, fontes, riachos, assim tornando- se uma região amena. Jesus a visitou
muitas vezes.
Um pouco, indo-se para o sul, está a Judeia, monta- nhosa, árida, da qual Jerusalém foi a capital. Em JerusalénrTî estavam o Sinédrio,5 a alta
corte, o templo, as escolas rabí- nicas, o orgulho, a empáfia, a cultura vazia, que indagavam com sarcasmo: “O que pode vir de bom da
Galileia?”(Jo: 1-46). Predominava o desmedido preconceito sociorracial.
Entre a Galileia e a Judeia, está a Samaria, região um pouco mais alta. É necessário conhecer histórica e geograficamente esse povo para
melhor identificar Jesus.
Em formosa manhã de Sol, um Homem de beleza inco- mum, que se irradiava sem palavras, adentrou-se em uma Coletoria, onde outro
homem muito racional e imediatista trabalhava. Olhou-o, e convidou-o: - “Segue-me!” E ele O seguiu.(Mt. 9-9)
O cobrador de impostos, genericamente, era um homem odiado. Os judeus execravam aqueles que lhes extor- quiam os impostos, porque
Roma utilizava-se de um recurso muito especial para esse fim. Quando conquistava um povo, não cobrava os impostos diretamente. Leiloava-os.
E os nacionais disputavam-se a honra de se tornarem algozes dos seus próprios irmãos; cobravam-nos e podiam exigir ao máximo, tornando-se,
por conseqüência, odiada, a figura do Publicano, do cobrador de tributos.
Esse Mateus era um cobrador de impostos. Convidado pelo Homem Incomparável, ele se fascinou com a Sua presença, abandonando tudo,
para acompanhá-IO nas Suas pregações, desde as primeiras realizadas à margem do Mar da Galileia. Tornou-se a primeira grande testemunha de
que Ele realmente existiu, sendo uma personagem digna de crédito, insuspeita, portanto, portadora de respeito histórico.
Perguntamo-nos, desde a infância: - Que Homem era esse? Que força possuía!
- “Vem comigo!” - Chamou, e foi atendido.
Arrebatado, o convidado não Lhe fazia qualquer indagação. Não Lhe apresentava qualquer objeção. Não Lhe pedia qualquer esclarecimento.
Ele parecia preencher o vazio da criatura, que se esquecia de todas as outras objetivi- dades para plenificar-se na Sua paz.
Com a viagem de Pedro e de Paulo para Roma, com as pregações que Paulo realizou pelas ilhas gregas e especialmente pelo sul da Ásia e
pelo Mediterrâneo, aquelas comunidades necessitavam de ter documentos, pois quando ele se afastava o fervor diminuía, naturalmente, por falta
da mensagem grafada.
Aqueles hebreus que se convertiam, não tinham como consultar fontes de referência. Tinham a Tradição, o Penta- teuco de Moisés, ficando
retidos na letra do Antigo Testamento. Foi quando, então, os cristãos que vieram do Judaísmo pediram a Mateus que escrevesse suas memórias a
respeito de Jesus.
E porque era um homem relativamente culto, para os padrões da época, escreveu-as em aramaico, surgindo o seu Evangelho, que é o
primeiro relato digno de confiança a respeito da vida do Mestre.
Esse Evangelho, pelas tradições, narra a vida hebraica de Jesus. Procura tomar a lei antiga, a de Talião, mas também a de Moisés, como
básicas, apresentando a proposta da lei de amor. Portanto, é uma obra dedicada aos hebreus convertidos à palavra de Jesus. Isso deve ter
acontecido por volta dos anos 56 ao 60.
Os adversários do Evangelho afirmam que Jesus, tendo morrido por volta dos anos 32 a 34, ou 28 a 30, como consideraremos mais adiante, e
as memórias sejam mantidas por aproximadamente 25 a 30 anos, elas devem ser muito falhas, dignas de suspeição, sendo que as palavras a Ele
atribuídas, não serem realmente as Suas.
A crítica, do ponto de vista histórico-ético, não se justifica, pois os clássicos gregos, como as obras de Péricles do século V a.C., de Sófocles,
de Ésquilo, de Sócrates, de Platão, de Aristóteles, de Marco Túlio Cícero, assim como de outros, ficaram perdidos por largos séculos, hoje deles
restando apenas fragmentos, e foram reconstituídos centenas de anos após, graças à tradição oral.
A tradição oral é uma técnica pedagógica vigente ainda hoje, no Oriente. Os filhos do Islã aprendem o Corão por memorização. As aulas são
ministradas em ritmo repetitivo.
Na India, tivemos oportunidade de visitar várias escolas e observar que a educação é primeiro religiosa, para depois tornar-se de
conhecimento geral. A primeira experiência na alfabetização é ficar o mestre com uma vara recitando os textos do Bagavad-Gita, dos
Upanixadas, como de outras
- conforme cada país - e os alunos vão repetíndo-as, cantando, pois são todos escritos em versos curtos e rápidos.
Se verificarmos a forma como Jesus pregou, dentro dessa pedagogia mnemônica, constataremos a excelência de uma metodologia muito bem
elaborada: primeiro uma proposta, depois uma conclusão.
Vejamos: Busca primeiro o Reino dos Céus e sua justiça - proposição - e tudo mais vos será acrescentado; batei IS proposta - e abrir-se-vos-
á; buscai, e achareis; pedi, e dar- se-vos-â; eu sou a porta, e as ovelhas passarão por mim; eu sou o pão da Vida, e todos se nutrirão de mim;
bem-aventurados os que choram, porque serão consolados...
É uma técnica que facilita a memorização, pela lógica: sempre um enunciado e uma corroboração.
Era natural que Mateus e aqueles que com Ele viveram - os herdeiros da Boa Nova - memorizassem a Sua informação, e mesmo se a
5
(5) SINÉDRIO - Conselho ou Tribunal superior dos antigos judeus, composto de sacerdotes, dos anciãos e dos escribas.
perdessem na forma, o conteúdo estaria perpetuado. Mateus, pois, é o narrador para os judeus conversos. Toda a sua linguagem é hebraica. A
tradição é bíblica. É ele quem se referirá ao Senhor dos Exércitos, àquele Deus que vai à frente...
Será ele quem falará da antiga e da nova Lei: “É necessário, sobretudo, colocar o amor, que vale mais do que os Profetas.” “Eu não venho
destruir a Lei nem os Profetas; venho dar-lhes cumprimento.”
É o Evangelho todo elaborado para um pensamento que estava adstrito às formulações hebraicas, exarado na severidade da Torá, da letra
ancestral. Ele irá demonstrar que Jesus, de forma alguma agrediu Moisés ou desrespeitou a Lei, e que a Sua Doutrina é a continuação do
Judaísmo, porém, apresentando a revolução do amor...
A escrita tem a finalidade de sacudir as estruturas daqueles que a irão 1er, porque, enquanto a velha Lei traz a proposta de Talião, Ele fala da
exuberância do amor, da generosidade de Deus, na condição de Pai; demonstrando que a felicidade é factível, e que a alegria de viver deve
constituir a base psicológica do comportamento do ser humano.
Não é por outra razão que Renan disse ser Ele um Homem Incomparável. O Evangelho de Mateus Levi fala sobre esse Homem, que
sensibilizava as multidões e mergulhava, de um momento para outro, no abismo da auto-reflexão; que estava, muitas vezes, no torvelinho das
paixões, mas não se fazia apaixonado nem vulgar; que desceu ao vale das humanas misérias, mas não se fez miserável; que conviveu com
pecadores e se manteve incorruptível; que foi estar com pescadores, Pescador de almas que era...
É um Evangelho exarado em uma linguagem especial, e teria sido escrito em aramaico, como já o dissemos, que é um dialeto derivado do
samaritano, e que seria a língua que se falava na Galileia e na Samaria. Seria, mais tarde, adaptado à compreensão hebraica e passou a trazer
notícias a respeito da Nova Era que se instalava na Terra.
Mais tarde, quando Pedro e Paulo estavam em Roma, perceberam que era necessário fosse escrito algo para os romanos, e Pedro pediu a
alguém que um dia havia acompanhado o apóstolo Paulo no seu ministério de pregação. Será esse o segundo relato, considerado o mais conciso
entre os demais.
Um jovem - narra Emmanuel, através das mãos apos- tolares do médium Francisco Cândido Xavier, no mais extraordinário livro biográfico a
respeito de Paulo e Estêvão, com esse mesmo título - foi convidado pelo apóstolo Paulo a acompanhá-lo em suas pregações. Chamava-se João
Marcos e era ainda adolescente.
Aqueles que lemos o Evangelho, recordamo-nos que em determinado momento, na Via Crucis, surgem algumas mulheres, que são
denominadas como piedosas de Jerusalém que O acompanharam.
(As mulheres jamais temeram qualquer suieição. Sempre tiveram a coragem de proclamar os seus ideais, mesmo quando ultrajadas,
perseguidas, malsinadas.)
Naquela circunstância aflitiva, Verônica, uma delas, com um pedaço de linho enxugou-Lhe o suor em sangue.
Os homens a quem Jesus chamara para o ministério, quando Ele saiu do cárcere, carregando a cruz depois do julgamento arbitrário, da
condenação perversa, da coroação humilhante, abandonaram-nO, com exceção do jovem João Boanerges. As mulheres não, aquelas poucas
segui- ram-nO até o momento da Sua morte.
Entre essas mulheres, estava uma viúva rica, Maria Marcos, de Jerusalém. À época, não existiam sobrenomes; eram apodos, uma forma de
identificar: Simão Bar Jonas, ou Simão, filho de Jonas; Natanael Ben Elias, ou Natanael, filho de Elias; Maria, de Betânia, irmã de Lázaro;
Maria, de Magdala; Maria, de Nazaré, a Sua mãe; Maria, de Jerusalém...
Depois que Jesus expirou na cruz, os companheiros ficaram aturdidos, atemorizados. Deveremos lembrar-nos que eram pessoas muito
modestas, incultas - diriamos, com duas ou três exceções - e sem terem para onde ir, foram recolher-se na casa dessa Maria Marcos, de
Jerusalém, onde realizaram as primeiras reuniões para que fossem debatidos os acontecimentos inesperados...
Outra delas, era Joana, a esposa de Cusa, funcionário de destaque junto ao tetrarca da Galileia.
Essas mulheres acompanharam-nO, e quando chegaram próximas da cruz, com João, o jovem discípulo, único homem a estar presente,
arrostaram todas as conseqüên- cias do atrevimento, em razão do preconceito, sofrendo a zombaria e a maldade da malta alucinada que estava no
Gólgota.
Essa Maria de Jerusalém, portanto, era irmã do eminente Barnabé, que acompanhará Paulo na sua grande digressão pela Ásia. Ela era mãe
desse jovem João Marcos, que cresceu bebendo o licor da palavra de Jesus, alimentado pelo verbo de sua genitora que lhe falava sobre Ele,
desde que não O conhecera pessoalmente.
Aos doze anos, mais ou menos, seguiu com o apóstolo Paulo e o seu tio numa grande jornada apostólica. Mas, em determinado momento, a
sua juventude não suportou a aspereza do compromisso. Como a pregação era um desafio e as lutas travadas contra os inimigos ocultos e
declarados, intensas, pesaram-lhe as refregas e ele pediu o retomo ao lar, quando, então, Paulo lhe vaticinou: “Volta! Nunca te esqueças, porém,
que Deus quer que a mensagem de Jesus encontre mais amplos horizontes. Ele, no entanto, não é apressado. Equivale dizer, é necessário
implantar na Terra o Reino do Céu sem violência contra a consciência do semelhante.”
Marcos voltou para Jerusalém. Permaneceu cristão.
Quando Pedro, que era viúvo e não tinha filhos, e que o “amava como se seu filho fosse”, teve necessidade de oferecer material aos romanos
que se convertiam, escreveu a João Marcos, por volta do ano 65, pedindo-lhe que narrasse suas memórias para os cristãos novos do Império, e
em particular para a mentalidade romana.
É muito curioso ver essa diversidade dos Evangelhos.
Muitos dizem: “Eles são diferentes!”
É obvio. São quatro pessoas contando a mesma história, cada um dentro da sua óptica. Narram o mesmo fato sob quatro posturas intelectuais
e emocionais diferentes. Como aquela era a narração de um jovem para os romanos, apresenta o Jesus dos milagres, daquele Jesus que
deslumbrava as multidões, que ressuscitou mortos, que multiplicou os pães, porque estava sendo direcionado para uma mentalidade mítica, que
se adaptara ao conceito do panteão da mitologia rica de colocações fantásticas... Os romanos eram supersticiosos, adoravam os deuses, poli-
teístas que eram. A fim de valorizarem determinadas informações, fazia-se-lhes necessário que viessem embaladas nesse sobrenatural, nesse
fantástico... Ele mostra Jesus maior do que os deuses do Olimpo, que podia deter as ondas e silenciar os ventos.
E como o escreveu Marcos?
Sua mãe contou-lhe páginas da vida de Jesus; Maria de Nazaré, a mãe do Crucificado, narrou-lhe as suas experiências; Maria, a pecadora de
Magdala, falou-lhe sobre a sua conversão; João, que morava então em Éfeso, descreveu as suas experiências ao lado do Mestre.
Marcos compôs então um Evangelho deslumbrante, que é o da fenomenologia, da paranormalidade de Jesus, na condição de Médium de
Deus.
O terceiro Evangelho foi escrito por um jovem médico, Lucas.
Quando o apóstolo Paulo peregrinava pelo mundo oriental, e particularmente pelo mundo mediterrâneo, numa das viagens encontrou um
médico de bordo que se deslumbrou com a sua pregação sobre Aquele que veio trazer a lição nova a respeito da vida. E o acompanhou, tomado
de grandes reflexões, abandonando sua posição de médico numa embarcação mercantil para poder estar ao lado do companheiro arrebatador.
Tomou-se-lhe discípulo, daquele que também era discípulo de Jesus. É a ele que devemos a denominação de cristãos, porquanto era talvez o
mais lúcido, após Paulo, de cultura acadêmica para os padrões contemporâneos. Sendo médico, teria freqüentado sinagogas especiais e
possivelmente herdado da cultura grega as bases da medicina de Hipócrates.
Os seguidores de Jesus eram então denominados como homens do caminho, pelo fato de residirem nas estradas e terem os seus labores nas
rotas de acesso às cidades. Um dia, Lucas, conversando com Paulo, disse-lhe: “Se nós seguimos a Jesus, o Cristo, porque descendentes que dEle
somos, podemos ser chamados cristãos!”
Paulo aceitou o alvitre. A partir desse momento, graças a ele, passamos a ser nomeados cristãos.
Quando Paulo estava em Roma, pediu a Lucas que escrevesse as suas memórias a respeito do Mestre. E, para fazê-lo, ele viajou até o
promontório de Éfeso onde morava João, a fim de entrevistá-lo e à Maria, a mãe do Nazareno. Ali, colheu informações legítimas, ricas de vida.
Lucas também não conheceu Jesus. Quando seguiu Paulo, Jesus já havia desencarnado, mas este contou-lhe a visão que tivera na estrada de
Damasco, narrou-lhe as percepções parafísicas e os contatos psíquicos com o Mestre.
Ele grafou, então, o mais lindo Evangelho, que no dizer de Ernesto Renan, é um dos mais lindos livros que a Humanidade jamais escreveu...
É o Evangelho - ou biografia de Jesus - de um cientista que se detém a examinar aqueles pacientes a quem Ele curava. Fazendo a
psicogênese das enfermidades e avaliando o resultado terapêutico emanado de Jesus quando lhes restaurava a saúde, ele faz a anamnese do
indivíduo enfermo, como as ressurreições, a do homem da mão seca, os obsessos, os leprosos e demonstra o poder curador daquele Homem
Especial, com a sua autoridade de médico.
Que poder incomparável, o de Jesus! Ele exteriorizava as energias que recuperavam os processos degenerativos dos fenômenos cármicos das
criaturas.
O Evangelho de Lucas é um poema não só de beleza literária, como também de análise das terapêuticas de que Ele se utilizava, narrado pela
óptica do médico que não entretece elogios, mas detém-se nos fatos como o mundo nunca tinha visto e dificilmente voltaria a ver.
Jesus era especial. Mateus, Marcos e Lucas narram- nos a história da mulher hemorroíssa, que é fascinante.
Uma mulher vinha rogando que Jesus a curasse, a tal ponto que irritou os companheiros do Mestre, que não a atendeu, até um momento
quando, Ele interrogou:
- Pedro quem me tocou?
O discípulo, algo desagradado, retrucou:
- Como irei saber, nesta multidão, quem Te tocou?
- “Simão, alguém me tocou, porque senti que de mim se desprendeu uma virtude”...
Que paranormalidade! Que Homem!
Pedro, segundo os historiadores, era um homem de estatura regular. Troncudo, bíceps fortes, era pescador acostumado ao manuseio das
redes. Era um homem simples, ignorante, mas não um espírito ignorante. Não alfabetizado, não instruído, ou, talvez, com alguns pruridos de
alfabetização, mas não era culto. Acostumado às lutas, por isso mesmo foi escolhido para ser o guardador do rebanho, aquele que segurava a
barca simbólica da Grande Viagem. Onde estava Jesus, Pedro era, na linguagem moderna, um tipo de guarda-costas, porque Jesus, embora a Sua
aparência grandiosa, dava impressão de fragilidade - Sua ani- ma6- dessa fragilidade que vemos com ternura.
Às vezes, olhamos uma pessoa que é um mastodonte, e dizemos: - Que delicado!
É nossa anima que o está olhando. Jesus inspirava essa ternura, e Pedro estava sempre ao seu lado como a protegê-IO...
Gosto muito de Pedro, do seu lado humano. Como era mais ou menos como nós, paciente, não se irritava nunca, poderemos conceber
jocosamente a resposta, algo irritada, que Lhe deu.
Uma mulher, porém, gritou, no meio da multidão:
- Fui eu Senhor!... era uma mulher sírio-fenícia, uma estrangeira detestada por ser gentia - fui eu! Depois de ter estado com tantos médicos
e ser considerada imunda, ouvindo falar de Vós, venci as longas estradas para tocar-Vos.
Naquelas dificuldades, tocou-Lhe a vestimenta. Deu- se conta que o fluxo hemorrágico havia passado. Emocionada, aditou:
- Senhor, na casa dos ricos a comida é abundante, caindo migalhas que os cães comem. Não desejo sentar-me à mesa. Vim para comer
as migalhas do chão, pelo menos...
Diante desse gesto de nobreza, de humildade real, sem disfarce nem hipocrisia, Jesus, que sabia ter sido ela e perguntara apenas para chamar
a atenção em torno do fenômeno, concluiu:
- Mulher, a tua fé te salvou. Ainda não encontrei em Israel - entre os eleitos - uma fé tão nobre quanto a tua. Vai em paz, minha filha;
estás curada.
Ora, por que a fé a salvou?
Do ponto de vista psicológico, em referência às nossas terapias, no binômio saúde-doença, nem todos os que dizem querer ficar bons,
realmente o querem. A maioria dos que dizem querer curar-se, não o anela realmente, porque ser doente, para muitas pessoas, é muito cômodo,
pois não trabalham, dão trabalho, não têm compromissos, dão preocupações, nem sempre se esforçam, exigem o esforço dos outros, e quando
lhes pedimos o mínimo de cooperação, cada um responde: “não posso!”, o que significa dizer não quero, pois me está cômodo.
Jesus sabia disso.
Observemos esta frase: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã. A cada dia bastem as suas próprias aflições.” O que é isto? Terapia
para os ansiosos.
Viver agora, não se preocupar com o dia de amanhã. Baste este momento. Talvez o amanhã não chegue à pessoa ou, quando chegar, haverá
outras soluções.
Que proposta psicoterapêutica essa de Jesus!
João narrou a maravilhosa ocorrência a respeito de um homem que nasceu cego e que após curado, pôs-se a louvar o Senhor.
Quando os fariseus viram aquele rapaz ficar totalmente recuperado da cegueira, foram, primeiro, aos seus pais e estabeleceram um diálogo:
- É verdade que ele era cego?
- Sim, era cego; é nosso filho!
- E é verdade que agora ele vê?
- Sim, é verdade.
- É verdade que foi curado pelo Messias Nazareno?
- Sim, porque até então era cego!
E como os fariseus eram muito hábeis na intriga e na arte de infelicitar pessoas, questionaram-lhes, ainda, criaturas simplórias que eram:
- Mas não teria sido por obra de Satanás?
Os pais, temerosos, responderam:
- Bem, nosso filho já é adulto. Ele pode falar por si mesmo. Perguntai-lhe!
Eles foram inquirir o jovem:
- É verdade que eras cego?
- Sim.
- De nascença?
-Sim.
- E é verdade que agora vês?
- É verdade. Estou vendo. Estou enxergando.
- E quem te curou?
- Foi o Messias Nazareno.
6
(6) ANIMA/ANIMUS - Ver notas complementares explicativas, ao final desta obra
- Será que Ele não te curou por obra de Satanás?
A resposta que o ex-cego deu é de uma sabedoria comovedora:
- Se foi Satanás, eu não sei. O que eu sei é que era cego e agora vejo. O resto não me interessa.
As pessoas que negam, bem como as mesquinhas, não aceitam a claridade do Sol, e, à semelhança do avestruz, põem a cabeça sob a asa,
afirmando que apagaram o Sol.
É muito comum, em nossos arraiais culturais e em muitos segmentos da sociedade, os comodamente cépticos ou os interessados
economicamente, ou os negadores sistemáticos que, para explicarem tudo quanto não lhes interessa, na sua comodidade ou fanatismo, sempre
apelam para Satanás.
Que importava houvesse sido Satanás? O importante é que, se satanás pode dar a luz, ele é um anjo, um benfeitor. Então, adoremos a
Satanás, porque esse é o Satanás-amor, mais poderoso do que o Deus-Vingador... Poderia? Então, é um paradoxo, a criatura conceber alguém
maior do que o Criador.
O quarto biógrafo viveu com Jesus desde as primeiras horas. Havia nascido em Cafarnaum, à beira-mar, e era pescador, como seu pai.
Ele estava pescando, certo dia, ao lado de seu irmão Tiago, quando aquele Homem passou pela praia e os olhou, convidando-os, sem maiores
delongas, como fizera a Pedro e seu irmão André, que estavam adiante: “Abandonai as redes e vinde comigo pescar almas, no mar da vida!”
Eles largaram tudo e O seguiram. João deve ter chegado em casa entusiasmado, e por certo falou sobre a promessa do Reino que houvera
escutado. Sua mãe - como todas as mães, muito zelosamente - ficou curiosa por saber quem era esse Rei, e passou a ouvi-IO nas pregações da
barca de Pedro, encalhada nas areias marrons entre pedras e seixos, e também fascinou-se por Jesus. Ele prometia um reino de paz, uma Era de
blandícias, uma época de felicidade.
João, muito jovem, ficou arrebatado, apaixonou-se por Jesus, e de tal forma se integrou no espírito do Cristo, com um amor tão profundo,
que a ele o Mestre referiu-se, emocionado: “Este não provará da morte”... É uma linguagem simbólica, querendo significar que ele não provaria
do sacrifício, pois todos os demais teriam morte violenta, seriam assassinados, experimentando o holocausto.
João deve ter morrido idoso, na Ilha de Patmos.
Sholen Ash, judeu não converso, dá-nos melhores ideias daquela região e daqueles dias em seu extraordinário livro Jesus de Nazaré,
narrando que João era um romântico, com o que concorda Plínio Salgado, que compôs no exílio uma excelente biografia de Jesus. Com a alma
torturada de angústia, este autor viajou a Israel e visitou os lugares onde Jesus teria vivido, escrevendo um verdadeiro
poema, rico em descrições, no que ele denomina também como A Vida de Jesus.
João tinha uma mãe ciosa de carinho, chamada Sa- lomé, casada com Zebedeu, imensamente cuidadosa de seus filhos.
Recordemo-nos que, na história de Roma, uma mulher notável, viúva pobre, estava dentre as patrícias, ricas, quando aquelas exibiam seus
colares, suas gemas preciosas, as pérolas do Oriente e, voltando-se para ela, que era destituída de bens, interrogaram com sarcasmo:
- Comélia, quais são as tuas jóias?
Como não as tinha adereçando o corpo, abraçou dois rapazinhos e apôs:
- Eis as minhas únicas jóias: os Gracos, que seriam, logo depois, personalidades muito importantes no Império Romano, e ela, Comélia,
passou à posteridade por ser essa mãe cuias jóias mudaram o rumo da História.
Também Salomé, quando viu seus filhos acompanhando Aquele Revolucionário, ficou curiosa. Numa noite, foi à casa de Simão Bar Jonas,
onde Ele pernoitava e fez-Lhe uma proposta:
- Sei que Tu vais revolucionar a Terra, que és o Filho de Deus, Aquele que esperamos. Sei que o mundo não será mais o mesmo depois de
Ti; sei que és o Messias, que és o Rei. E porque meus filhos estão fascinados por Ti, eu Te rogo, Senhor, quando estiveres na Tua glória, coloca
meus filhos, um à Tua direita e outro à Tua esquerda.
Ela não queria muito. Queria tudo! Era bem o apelo de uma mãe...
Jesus, que conhecia o coração feminino, compreendeu aquele anseio materno. Como Ele era a doçura da Verdade, respondeu:
- Quanto a colocá-los à minha direita e à minha esquerda, não depende de mim; a mim não me cumpre fazê- lo, senão ao Pai que está nos
Céus, mas a mim depende interrogar se eles estão dispostos a beber da minha taça de amarguras até a última gota!
Evidentemente, a glória vem das lágrimas, o ápice vem do primeiro degrau, o acume da montanha resulta das baixadas lodosas em que a
rocha penetra; o auge e a glória são resultados dos espículos que ferem os pés e que nos impulsionam para cima...
E eles beberam, sim, dessa taça da amargura até a última gota. Tiago foi martirizado. João deu a vida total.
Foi João quem escreveu o Evangelho místico, caracterizado pela transcendência, numa linguagem um tanto ca- balística, muito própria da
época: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.”
O caos do começo está dentro da evolução do próprio Sistema. Era o caos das partículas. Esse caos aglutinou- se e, um dia, aquele que é o
Autor desse caos e da sua origem, tomou corpo e veio habitar entre nós. Mas esse é Jesus, não Deus, porque Deus é o Autor do Universo, e Jesus
o responsável pelo nosso Sistema Solar.
O Sistema Solar, quando libera a porção de energia que se vai condensar na Terra, recebe a direção de um Ser Transcendente, que um dia
veio habitar o planeta.
O Evangelho de João é de uma riqueza incomparável pelo seu sentido ético, pela sua estrutura estética, pela sua revelação histórica.
Será João a única testemunha da maior revelação de Jesus, conforme está nos seus apontamentos, no capítulo 3o vv.1 a 12, o diálogo com
Nicodemos. Só ele o narra, porque, certamente, esteve presente ao encontro.
Dialogando, um dia, com uma Entidade veneranda, I que estava escrevendo sobre o tema, perguntei-lhe:
- Não parece singular que o texto comece praticamente com uma resposta? Como é que João pôde participar daquele diálogo? Jesus não
lhe contou! Ele deve tê-lo ouvido...
Essa Entidade assim respondeu-me:
- Nicodemos, como é sabido, era doutor da lei, um príncipe do Sinédrio, a mais alta corte (comparativamente, o Supremo Tribunal em
nosso país). Ali sentavam-se setenta juizes com a dupla função de autoridades responsáveis pelas leis religiosas e civis.
“Nicodemos era um desses homens nobres, da mais alta envergadura. Tendo ouvido falar de Jesus, fascinou-se, mas não teve coragem de ir
ao lugar onde Ele estava, para não ser visto, nem desejou que Jesus o visitasse, com receio da mesma ocorrência, qual ser visto pelos
empregados...”
Muita gente tem vergonha de enfrentar a verdade publicamente.
É muito comum, quando alguém célebre deseja falar com outrem e não quer ir à casa daquele para não lhe ter o nome associado, nem deseja
que aquele vá à sua, para que os servidores não o vejam nem o denunciem, normalmente o encontro dá-se na casa de um amigo, um
intermediário, o que não chamaria a atenção.
Foi, pois, na casa de um intermediário que o diálogo aconteceu. João acompanhou Jesus até lá, ficando à porta, para que os dois, na sala, não
fossem interrompidos. Estava distraído, quando ouviu a pergunta:
- Mestre, eu sei que Tu vens de Deus, porque ninguém faz o que fazes se Deus não estiver com ele. O que é necessário alguém fazer para
entrar no Reino dos Céus?
A resposta foi peremptória:
- Em verdade, em verdade te digo que é necessário nascer de novo, para entrar no reino dos céus.
O Doutor da Lei sobressaltou-se. Compreendeu o sentido da resposta. Tornou, então, a interrogar:
- Como é possível, que um homem sendo velho entre novamente no ventre de uma mulher, para nascer de novo?
Não há sofisma. Jesus observou-lhe:
- Tu és Doutor da Lei e ignoras isso?
Então, Jesus voltou a afirmar:
- Pois eu te digo que, em verdade, é necessário nascer da água e do espírito para entrar no Reino dos Céus.
Aí, Jesus selou com autenticidade a reencarnação.
Este mesmo João, que passaria à posteridade como o discípulo amado, seria motivo de ciúme por parte dos demais amigos.
Quantas vezes, o ciúme é um adversário soez que nos carcome interiormente...
Porque João era jovem, acercava-se do Mestre e abra- çava-O, com a pulcritude daqueles que não têm desequilíbrio, e o Mestre retribuía-lhe
o gesto. Os demais compa- nheiros, enciumados, comentavam: “Ele ama muito mais a João do que a nós.”
Certo dia, por exemplo, em que estavam no ministério, chegaram enrubescidos. E Jesus questionou-lhes:
- Que vínheis discutindo pelo caminho?
Claro que Jesus o sabia. A Sua percepção parafísi- ca identificara-lhes o conflito. Tomados de surpresa - eram crianças psicológicas - ficaram
algo aturdidos. Procuraram despistar. Jesus, porém, foi incisivo:
- Que vínheis a discutir!?
Um deles, talvez o mais ansioso, respondeu:
-Vínhamos debatendo qual entre nós é o maior no Teu conceito.
- O maior entre vós - obtemperou o Mestre - deve ser aquele que se faça o servo de todos. Este será o maior.
João viría a dar-nos, posteriormente, o Apocalipse, a mensagem complexa da trajetória dos acontecimentos futuros, das convulsões sociais,
dos tormentos e belicosidades, das enfermidades degenerativas, e não de um momento final, como alguns pretendem...
Durante a Guerra dos Seis Dias, entre árabes e judeus, quando o petróleo atingiu os preços mais altos, e a partir de cuia época a economia do
mundo mudou, alguém teve a oportunidade de sugerir que o cavaleiro negro, referido no Apocalipse, seria o petróleo, que trouxe e traz
alterações profundas e constantes na economia e na sociedade terrestre.
Mais recentemente, o cavaleiro amarelo, que é o símbolo da peste, vem sendo caracterizado como o vírus HIV, nessa enfermidade
degenerativa e incurável até agora. Seria ele, realmente esse cavaleiro?
João foi testemunha fiel do diálogo sobre a reencamação.
Esse quarto Evangelho confirma-nos ter sido Jesus um Homem que viveu entre nós, que padeceu nossas angústias, que experimentou nossas
aflições e morreu por amor a nós.
A presença dEle foi humana, na Terra. Não foi quimé- rica, nem de natureza mitológica. Ele chorou nossas lágrimas, esteve ao lado das
nossas misérias, mas não foi depressivo, não foi miserável, nem foi amargurado.
Cunhou-se que Jesus estava sempre triste. Não é verdade!
A Sua presença irradiava paz e beleza. Quando Ele nos disse: - “Eis que vos trago boas novas de alegria” - entende- se que ninguém dá boas
notícias mergulhado em tristezas, em sombras, em depressão, com apresentação de um Deus cruel, mas com toda uma orquestração de ternura e
de júbilos. Caso assim não fosse, deixaria de ser uma boa notícia, tornando-se a repetição das velhas doutrinas que ficaram no passado, quando
do estágio de barbárie humana...
As crianças amavam-nO; as mulheres fascinavam-se e os homens seguiam-nO com respeito.
Ele disse: - Eu sou o bom pastor, e nenhuma das minhas ovelhas se perderá - para logo acrescentar - mas nenhuma entrará no Reino dos Céus
sem pagar toda a sua dívida, ceitil por ceitil.
A Dra. Hanna Wolf, a célebre psicanalista a quem já nos referimos, registrou de outra feita: “Para bem entendermos Jesus, será necessário
um mergulho na Psicologia profunda”, que é a de Carl Gustav Jung.7
Sob esse aspecto, a obra de Joanna de Ângelis, intitulada Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, que tivemos a oportunidade de
psicografar, dá-nos uma visão mais ampla sobre esse Homem Incomparável.
Entendendo-O, desta forma, é que dEle vamos aproximando-nos, desse Ser Incomparável, desse Modelo, para abandonarmos a nossa
inferioridade e trabalharmos pela auto-iluminação, que é possível, libertando- nos desse masoquismo dos tímidos, assim expresso: “É necessário
sofrer para entrar no Reino dos Céus..."
De forma nenhuma! isto não está no Evangelho, é fantasia medieval. É necessário, sim, estando na Terra, viver como os seres normais, mas
não ser vulgar como alguns deles; estar com eles, mas não lhes ser igual; diferenciar- mo-nos, pelo homem interior que somos, na conquista da
plenitude que buscamos.
Os quatro narradores são a prova fundamental da vida e da presença desse Homem Incomparável no planeta terrestre. Eles valem mais do
que as notícias de alguns historiadores ancestrais, que não participaram daquela jornada admirável do Homem Galileu.
Quando foram encontrados os pergaminhos no Mar Morto, em Kúmran8 na região dos essênios, ali estavam documentos probantes de muitos
trechos e narrações bíblicos e, por extensão, de parte dos textos do Evangelho de Jesus.
Numa abrangência histórica, podemos concluir que Sócrates veio damos uma visão dialética do mundo, através de Platão, em uma proposta
psicossocial de fundamentos éticos elevados. Buda, o príncipe Sidharta Gautama, apresentou- nos o caminho do meio, para que encontrássemos
a plenitude. Hipocraæs pôde oferecer as bases da futura Medicina.
Jesus é o Pskxterapeuta que penetrou a intimidade das cnafcias humanas e pede soudera: os problemas profundos ca zsoue. sem a necessidade de
interpretação dos sonhos, ca anáíse dscursva. perçue Sua paranormatidaòe permiSa- KJ psmátar na causafefade dos problemas humanos.
Rbt este razão, areámos com Ernesto Renan, que Jesus é tm Homem ícomparável. Um Homem. Não Deus..
5 JESUS É O SALVADOR?
Em nossa união com Jesus, deveremos penetrar-Lhe a vida, procurar senti-10 no dia-a-dia, retirá-10 da cruz, na qual permanece imolado até
hoje pelas nossas paixões, ver nEle o Modelc e não o nosso Salvador ou Aquele que nos salvou com Seu sangue, no que foi um ato de
vandalismo, de crueldade para com Ele, que se crucifica para salvar ociosos, para termos uma vida de dissipações e estarmos liberados por Ele,
que se permitiu matar... Seria um canibalismo estúpido da História.
Não é nosso Salvador, conforme a tradição comodista de algumas religiões. Ele veio sim, para ensinar-nos a salvação. Não para nos salvar ou
tomar a nossa cruz e car- regá-la, deixando-nos ociosos. Se o fora, representaria um tormentoso ato sadomasoquista de Sua parte.
Também não veio morrer por nós. Veio nos ensinar a morrer com dignidade. Veio mostrar-nos que Ele, sem culpa, sem dívidas a pagar,
experimentava o martírio, e o Seu amor superava a dor, os culpados que sejamos, experimentaremos a purificação de forma equivalente ou mais
angustiante.
“E quando eu for erguido, atrairei todos a mim” - é anotado peío evangelista João. Eis o Mestre procurando demonstrar-nos que era
necessário o Seu holocausto, para que O entendéssemos e O amássemos.
A criatura humana tem necessidade de sangue. Todos quase, parece que a temos. Aí estão os espetáculos de Box, de catch, a violência
urbana, as tragédias do quotidiano, as peliculas de super violência e de hediondez, a sexolatria desbragada, as paixões primevas espicaçando-nos
os instintos primários e perturbadores.
Jesus sabia dessa fase primária em que estava a Hu- manidade e. na qual permanecería durante largo período, para então a todos atrair-nos da
única maneira que poderiamos sentir emoção...
Ele, na cruz, comove-nos. Sensibiliza-nos, no Sermão da Montanha, quando reverte o sentido ético da Humanidade ao pregar as bem-
aventuranças, mas é na cruz que nos impacta.
Esse Jesus-Amigo não é um ser mitológico-divino, porque divinos somos todos nós, procedentes da mesma Divindade sem critério especial:
“O que eu faço, vós podereis fazer, e mesmo muito mais se quiserdes, se tiverdes fé”, se vos entregardes à execução deste programa (o Seu
Evangelho).
Esse Homem, na condição de Deus, fica muito longe de nós. Se era Deus em pessoa, que veio estar entre nós, qual era o mérito? Seria o
absoluto no limitado...
Como Filho de Deus - que somos todos nós -, JEje é Especial, por que nunca reencarnou na Terra, chegando-nos já com as características da
Sua perfeição relativa diante de Deus.
Léon Denis o poeta da Doutrina Espírita, tem ocasião de ressaltar que Ele é o Construtor do nosso orbe, é o Go- vernador da Terra. E não
duvidamos.
Emmanuel, Joanna de Ãngelis e outros nobres espíritos, por variados médiuns do planeta, inclusive, não cristãos, asseveram a superioridade
de Jesus, não obstante apresentarem algumas contestações.
9
(9) JESUS É DEUS? - Ver mais algumas considerações em Notas Complementares, ao final desta obra.
quando se instalou a miséria!...)
Que parábola !
Jesus perguntou, então, ao fariseu:
- “Na tua opinião, quem foi o próximo do homem caído na estrada?”
A resposta imediata foi de grande lógica:
- “Aquele que, para com ele, usou de misericórdia.”
- “Então - completou Jesus - vai tu e faze o mesmo.”
Não é necessário crer em Deus, respeitar pai e mãe,
ou ser um conhecedor da Lei; isto faz parte do programa, obviamente, mas é necessário amar ao seu próximo, seja pai, mãe, irmão, amigo,
inimigo... Nessa colocação, o sacerdote, que tinha total condição de ajudar, deixou-o ali; o levita, que era responsável legal, passou de largo e, o
considerado inimigo, nem perguntou o que acontecera, pois pouco isso lhe interessava.
Quantas vezes, alguém pede socorro e fazemos-lhe um inquérito humilhante: por que você está pedindo? de que necessita, afinal? por que
não toma vergonha? por que não vai trabalhar?
Depois de humilhar o necessitado, dá-se-lhe uma migalha, isto quando não o agredimos, chamando-o de mentiroso ou sem-vergonha, ou um
explorador que vive da mendicância, da caridade pública...
Seria ideal, que déssemos antes de a criatura cair abai- xo da linha da miséria, para que não se transforme em uma infeliz, melhor sendo uma
pessoa necessitada de oportunidade... Feliz é aquele que dá, nem sempre quem recebei
7 A QUESTÃO DO DÍZIMO
Jesus estava na praça, em Jerusalém, quando uma mulher era levada ao apedrejamento.
Quando O viram, os fariseus, que O odiavam, porque tivera a audácia de dizer que ali. no templo, já não era a casa de Deus, mas um lugar de
comércio, constituído por dois mil empregados, em que se faziam oferecimentos para limpar-se dos pecados, sentiram-se duramente advertidos,
ficando magoados.
Os sacrifídos de animais eram tantos, que o sangue corria pelos canaletes, a ponto de cobrir parte da pata dos bois. Era a maneira habitual, e
que ainda conservamos, na condição de herança atávica para conquistar Deus...
Hoje, muita gente está tentando comprar Deus exclusivamente através do pagamento do dízimo à igreja a que pertence. Apregoa-se com
arrogância: dê mais, que Deus lhe dará muito mais!
Trata-se de uma herança hebraica pré-cristã, que, de alguma forma, ressurgirá na proposta das indulgências, através das quais todo crime
podia ser absolvido, conforme a tabela proposta pelo Papa, no passado, de lamentáveis conseqüências. /
Foi essa condtífa extravagante que levou o monge au- gustiniano Luteroa protestar, dando lugar ao surgimento de uma nova teologia, que o
consagraria.
Hodiernamente, ainda queremos o Reino dos Céus me- diante o comércio com a moeda terrestre, ou desejamos o triunfo através desse infeliz
expediente: dê mais, que Deus lhe dará muito mais, em um ato que nos parece blasfemo, como se tudo quanto existe no Universo e ele próprio
não Lhe pertencesse...
Dar a Deus, ou à igreja, normalmente é uma forma.de enriquecer as pessoas que se apresentam como seus intermediários.
Essa conduta irá permitir que alguns indivíduos desfrutem do prazer e vivam na ostentação, para que então Deus nos dê alguma coisa.
Estamos ainda no estágio primário da consciência: a consciência de sono, segundo Ouspensky. Permanecemos como seres fisiológicos,
aqueles que vivem as sensações da boca Dara baixo: comemos, dormimos e fazemos sexo.
Os seres psicológicos comem, dormem, fazem sexo, sim, mas, sobretudo, pensam.
Ainda, conforme Ouspensky, esses seriam apenas 5% da sociedade. Os outros 95% 'estariam mais interessados 1 no dê-me, que eu te dou, no
viver hedonisticamente, gozando, fruindo o prazer, como se a existência fosse um passeio na ilha da ilusão.
Muitos há que passam por essa ilha da fantasia. Somente que a ilusão se dilui, é uma névoa que o sol da realidade consegue devorar.
Então, naquele tempo, os holocaustos eram praticados de maneira natural. Para determinados crimes eram sacrificados animais, de acordo
com a gravidade da ofensa a Deus: uma pomba, um carneiro, um toürõC Deus, ironicamente, então, aplacava a Sua ira...
Jesus chegou ao templo e invectivou com energia: “A casa de meu Pai é lugar de oração! Por que a transformaste em um mercado? Por que a
tornaste um lugar de negócios?”
Diante de tai verdade Ele ficou mais odiado. Havia ferido o cerne dos interesses infelizes da criatura humana: a ambição pela conquista do
dinheiro.
Os autores modernos chegam a propor que o assassinato de Jesus foi de natureza econômica, porque Ele ameaçou a estrutura que mantinha o
Sinédrio e a ociosidade dos sacerdotes, dos juizes decadentes.
Èle‘, em verdade, era a revolução da Boa Nova, a ideia do homem integral, do homem sem aparatos, da criatura sem concessões especiais,
demonstrando que todos somos filhos de Deus, e somos iguais.
As nossas diferenças são de caráter intelecto-mora), numa aristocracia espiritual e nunca racial ou socioeconômica.
A Doutrina Espírita nos dá a noção de um Deus que não se vende ante as nossas promessas, que não se dobra diante da nossa hipocrisia, que
não se rende quando Lhe damos o dízimo, porque Ele é o dono do Universo, onde tudo o que existe Lhe pertence. Como se vai exigir que Lhe
demos uma décima parte de nossas quinquilharias? Estamos dando a Deus ou aos religiosos?
Ouvem-se explicações:
- Mas é necessário erguer uma igreja, um templo, algo esplendoroso...
- Para quê? - perguntamos - como também nos permitimos responder: para as vaidades... É só pegarmos o Evangelho. Lá está: “O Filho do
Homem (que era Ele), não tem uma pedra para reclinar a cabeça, embora as aves do céu tenham seus ninhos e as feras, seuscqyis.”
Quando Ele falou com a mulherjsamaritana. naquele diálogo monumental em que ela Lhe retruca: “Mas tu és judeu, e os judeus adoram em
Jerusalém; nós somos sa- maritanos e adoramos no Monte Garizim”, Ele sorri-lhe com boa dose de piedade e responde: “Mulher, dia virá em
que o Pai será adorado, não em Jerusalém nem em Garizim, mas no altar da natureza”; Ele será adorado pelo nosso respeito às leis naturais
A necessidade de uma igreja é para podermos estar juntos, mas a suntuosidade é da vaidade humana, que faz erguer um templo faustoso
enquanto os clientes morrem de fome à sua porta de entrada...
O Deus bíblico é uma visão psicológica e teológica de um Ser de há seis mil anos. Naquela época, a conceituação era apresentada a um povo
pastoril, e tinha-se que mostrar um Deus com características humanas.
Como se poderia entender um Deus metafísico, com características cósmicas, quando nem sequer se sabia da existência desse Cosmo e
acreditava-se que a Terra era o centro do Universo?
Hoje, o conceito de Deus não é o do Criador apenas da Terra; é o do Criador do Universo. O grande telescópjp Hubble quase diariamente
apresenta o surgimento de grandes galáxias, e outras, que são devoradas pelos buracos negros.
O conceito de Deus progrediu, saindo da estrutura deli- mitadora da visão bíblica para o caráter universal, profundo, ético. É o Deus-Amor,
indefinível, porque qualquer tentativa de defini-IO, limitá-IO-ia; qualquer possibilidade de colocá- 10 em nosso entendimento, torná-IO-ia finito.
Aceitamos, portanto, o Deus bíblico transformado no Deus Universal, a quem Jesus chamava Meu Pai, g Amor.
O Espiritismo nos dá, pois, esse Deus de amor, como também de misericórdia. Jesus O definiu: “Se pedires aoj Pai um pão, Ele não vos dará
uma pedra; se pedires um peixe, não vos dará uma serpente.” Então, pedi ao vosso Pai! “Batei e abrir-se-vos-á, buscai e achareis.” É uma
proposta enriquecedora.
Por aue temos que bater? Por significar um ato de humildade.
V, Por que temos que buscar? Porque traduz o esforço pessoal pelo adquirir.
Por que temos que pedir? Porque somos necessitados e devemos submeter-nos às leis que Ele estabeleceu, na condição de Pai Generoso.
8 A SOMBRA DO PRECONCEITO
Os nossos preconceitos são adversários crueis da nossa própria e da estrutura da sociedade. Quanto mais presunçoso jé pjndjyíduo, mais
ignorante, maior é a sua densidade de sombra, e o seu preconceito é muito mais vigoroso.
No meio religioso, encontramos este preconceito, assim exarado: “A minha religião é a única!” E, dentro dessa conduta religiosa, sempre
predomina o comportamento ar- bitrárip do eu.
Ao lermos O Livro dos Espíritos, ou a Bíblia, ou um dos livros clássicos das religiões, aos quais todos têm acesso, ouvimos dizer: “Somente
eu entendi o que ali está exposto. Para mim, é assim!”
- Para você! - deveremos responder com tranqüilida- de. Essa é a sua visão. É o seu lado sombra. Quer vestir toda a sociedade com o
conceito que entendeu. Esse é um indivíduo preconceituoso, encerrado na sua própria ignorância, e incapaz de ver a profundidade de uma
proposta libertadora conforme preconizam os postulados de todas as doutrinas espiritualistas.
Participamos, nos dias 28 a 31 de agosto de 2000, em Nova Iorque, de uma reunião na Organização das Nações Unidas (ONU), com
religiosos de todo o mundo - e estávamos sob a inspiração dos Espíritos Ghandi, Martin Luther King Jr., Albert Schweitzer, esses líderes da paz
entre muitos outros - para que se pudesse encontrar um meio de evitar a guerra, o que não foi possível com a grande hecatombe que se abateu
sobre a Humanidade a partir de 11 de sete10mbro de 2001.
Tratava-se de um summit? que foi proposto por um homem muito especial, o Dr. Ted Turner, que é detentor de imensa fortuna e conhecido
mundialmente por ser o proprietário da Warner e da CNN, canal televisivo internacional de notícias, e que proferiu a conferência de abertura.
Explicou ele que havia nascido em uma doutrina muito estreita do Metodismo americano, e era verdadeiramente fanático em relação ao
“seu” Deus. Depois, seu pai suici- dou-se, restando-lhe uma empresa de televisão, quase falida, em Atlanta.
Tendo que viajar, descobriu que o “seu” Deus era muito mesquinho, porque, visitando os Estados onde ainda existem tribos de índios,
verificou que o Deus dos ancestrais indígenas americanos é possuidor de caráter universal.
Depois, ele resolvera ficar de mal com Deus. Tornara- se materialista.
Tendo que viajar, por necessidade de sua empresa, foi descobrindo que havia sim, um Deus. Não um Deus humanizado, personificado, mas
um Deus que era a Causalidade Absoluta, Aquele que precedeu ao Big-bang, o Deus das forças primárias que um dia iriam explodir - teoria,
hoje, bastante suspeita - na formação do Universo. Com isso, ele adquiriu um sentido espiritualista da vida. Não se vinculou a esta ou àquela
doutrina religiosa.
Através do tempo, consolidou uma grande fortuna e tomou-se um benemérito da ONU. Percebeu que o maior número de guerras, jamais
havido na Humanidade, foi provocado pelos religiosos e pelas religiões. A necessidade de supremacia de uma religião sobre outra sempre
desencadeou essas hecatombes...
Teve uma ideia: pediu à ONU que patrocinasse um encontro de religiosos de todo o mundo. Escolheu um jovem idealista daquela
organização como secretário, para ser o intermediário junto ao Secretário geral, o Dr. Kofi Annan.
Esse jovem, um homem de 40 anos, indiano, vinculado a uma das tradições do Hinduísmo, começou a trabalhar, e o Dr. Ted Turner
prontificou-se a apoiar a ONU nas despesas para esse grande Encontro de Cúpula.
O intermediário viajou durante 1ô meses pelo oriente, porque, religião, para ele, eram aquelas da área por onde deambulava. Convidou as
personalidades mais famosas do Orientalismo na atualidade, inclusive o Dalai Lama, várias santidades do Budismo, do Hinduísmo, do
Bramanismo, do Masdeísmo. Mas descobriu que no ocidente também existem formosas religiões. Então, convidou o Papa João Paulo II,
lembrando-se das ramificações protestantes, que somente nos Estados Unidos somam 2.200 denominações. Com muita emoção incluiu também
o Judaísmo.
De setenta e quatro países acorreram setecentos e cinqüenta e quatro delegados. As quinze maiores religiões do mundo se fizeram presentes,
e nessas, o Cristianismo, congregando a Igreja Católica Apostólica Romana, as Ortodoxas grega, armena, copta, egípcia, russa, e, entre as
denominações protestantes, uma foi convidada para representar todos os demais segmentos.
Para nossa surpresa, recebi o convite para participar do grande evento. Fiquei a imaginar o que seria... Quando nos chegou a invitação,
atribuí que se tratasse de algum blefe, pois o documento vinha em nome das Nações Unidas convidando líderes religiosos. Como reconheço não
ser líder de nada, muito menos de religião, achei que era alguma brincadeira. Mesmo assim, li até o fim o convite e meditei em torno do seu
conteúdo.
Deveria preencher um formulário e enviá-lo ao Hotel Waldorf-Astoria, onde deveriam hospedar-se os convidados, por conta própria (esse
detalhe é muito importante...).
Havia, então, algumas perguntas a serem completadas, tais como:
- Como gostaria de ser chamado? - Santidade, Excelência, Pastor ou Mister?
Optei por Mister, que era o mais popular...
- Qual o veículo que desejava usar entre o hotel e a sede da ONU? - Limusine, limusine blindada, carro particular, ou ônibus?
- ônibus! - Foi a minha opção.
- Deseja assessoramento de polícia especial, da polícia de Nova Iorque, da polícia do hotel, ou nada?
- Nothing. - Foi a minha resposta. Não preciso de nada.
Postei a resposta e fiquei aguardando.
Para minha surpresa o convite era verdadeiro. Estava sendo convidado mesmo.
Simultaneamente, como verifiquei depois, foram encaminhados os convites à Federação Espírita Brasileira e ao Conselho Espírita
Internacional. Lá nos encontramos e nos tomamos a representatividade de uma doutrina que entre as outras não era conhecida como religião. Ao
nos apresentarmos e preenchermos os formulários, lá estava: qual a religião? - E todos colocamos Espiritismo.
Pela primeira vez na História, o Espiritismo passou a ser considerado pela ONU como religião. Portanto, religião com todos os direitos de
liberdade e igualdade de que desfrutam as demais.
Ali estavam as personalidades mais célebres do mundo na área religiosa. Representantes indígenas, o Cardeal designado pelo Papa, o
representante do Dalai Lama - que não pôde ir, pois que a China houvera-o definido como líder político e não religioso, em face da sua
dominação sobre o Tibete -, budistas tibetanos e chineses, cada qual com sua indumentária apropriada, todas muito bonitas em pessoas
venerandas, de ÔO anos várias delas, para durante quatro dias discutirem a paz, do ponto de vista religioso. Igualmente maometanos, judeus,
hinduístas, taoístas, etc... e nós outros, espíritas.
10
(10) SUMMIT - Encontro de líderes, de cúpula.
Será que nos podemos unir em favor da paz?
Será que aqueles que falamos a mesma linguagem:
Deus, imortalidade da alma, amor, poderemos deixar de guerrear-nos, para trabalharmos pela paz?
O summit estava dividido em quatro atividades, para ser feita uma proposta de paz. Cada convidado deveria elaborar uma tese com 1.500
palavras a respeito de como fomentar e viver a paz na Terra. Depois, todas as teses seriam reunidas em um livro, a ser traduzido em seis idiomas
básicos e enviado para todos os governantes do mundo, com as propostas sobre a paz.
A partir dessas teses, deveria ser criado um Conselho Auxiliar de Religiosos, junto à ONU, para que antes de os delegados do mundo
decidirem pela guerra, pudessem ouvir os seus líderes religiosos, que diriam: “Nós, os religiosos, negamo-nos a combater os nossos irmãos,
embora vivam em outro país. Se eu, budista, entregar-me ao combate contra o país X, lá tenho um irmão da minha crença e terei que solidarizar-
me com ele.”
Assim se expressarão o católico, o protestante, o espírita, o maometano, o judeu, todos os demais, considerando que esse líder político que
deseja a guerra poderá ser um psicopata, um ambicioso, não merecendo apoio na sua agressividade. E acrescentaria: “Não posso estimular a
guerra, pois que a minha religião proíbe-me de matar; o outro é meu irmão, que apenas está do outro lado. Eu me recuso, portanto, a matar.”
Dessa forma poderiamos acabar com as guerras. Seria a primeira proposta.
A segunda, é acabar com a miséria socioeconômica da v Terra, e a dificuldade de termos o direito a um lugar ao Sol.
A terceira proposta é o respeito aos direitos da criança / e da mulher, que sempre foram malversados.
A quarta, é o respeito à Natureza.
Ouvimos o discurso de um chefe índio, de 90 anos, ao som de tambores e mantras em seu dialeto, apelando: “Ou nós respeitamos a Natureza,
ou a Natureza nos matará.” Isto, traduzido em seis idiomas. Deveremos respeitar as forças vivas. À época, o Estado de Montana (USA), estava
com uma grande área consumida por um incêndio natural, como também parte da Austrália padecia de grandes queimadas.
“Respeito ao fogo; respeito à água! “- exclamava o venerando orador.
O chefe dizia-nos: “Agora, na Antártida, um grande lago de mais de um quilômetro está em degelo. Se a Antártida degelar-se, o mundo
terreno se acaba, porque o mar tomará conta de tudo. Teremos que respeitar essas forças vivas.”
Falava e chorava, cantando um mantra das antigas tradições do seu povo, de há mais de dois mil anos, versando sobre o amor e o respeito às
forças vivas.
O summit transcorreu muito bem. Foi programado um novo encontro para dentro de dez anos, e a magna proposta é a de que no ano 2021
não haverá mais guerra na Terra.
A mais significativa exposição, do que pude concluir, foi a de serem eliminados os depósitos de armas químicas, biológicas e de mísseis.
Todos esses engenhos mortíferos serão em breve peças de museu. Assim, dessa maneira, será possível a paz.
Quando estávamos no auge das discussões, uma indiana - tida como santidade dentro de sua doutrina religiosa - levantou-se e expôs: “Nós
podemos sim, movimentar-nos e acabarmos com os depósitos de armas; mas, se nós, pessoas, não nos desarmarmos umas em relação às outras,
criaremos outras guerras e outras armas. O homem primitivo defendeu-se do meio hostil com socos, com pedras, taca- pes, e hoje com as armas
super sofisticadas. O importante, no desarmamento mundial, é o desarmamento individual.”
Ela tem razão. Vivemos armados. Se alguém nos olhar demoradamente, logo perguntamos: “Qual é o caso?!...”
O que mais nos comoveu, pela proposta inusitada, foi a provinda do representante do Aiatolah, do Irã, quando ressaltou sobre os direitos da
mulher, em nome de um país que castrou todos esses valores femininos e voltou à Idade Média. “Fazemos parte da ala renovadora; Alá deseja
que nos amemos” - enfatizou.
O rabino judeu, da maior sinagoga dos Estados Unidos, em Manhattan, expôs: “Eu tinha um jardim. O meu jardim era o melhor do mundo.
Cultivava as mais belas flores e achava ser ele o único que havia na Terra.
“Um dia, alonguei a vista e vi alguém cuidando de outro jardim. Claro, não era tão belo quanto o meu, mas era um jardim. Notei que ele
arrancava as ervas daninhas. Fui observar meu jardim. Percebi que também nele medravam ervas daninhas. Tentei arrancar algumas, e suas
raízes, entrelaçadas com as das ervas boas, arrancavam-nas.
“Fui observando, e dei-me conta de que havia tantos jardins, cada qual especialista em determinados tipos de planta. Descobri que não era o
único possuidor de jardim. O Grande Jardineiro havia-me convidado para cuidar daquela gleba de terra, como havia igualmente convidado a
outros tantos. O Dono do jardim estava acima de todos nós.
“Jeová havia determinado que a Terra se transformasse em um grande jardim. Passei a ajudar o outro jardineiro. Passando a ajudar-nos, todos
os jardins ficaram perfeitos..."
Referia-se, aliás, com muita propriedade, às religiões.
Um guru indiano teve a ocasião de sintetizar: “Um ramo de flores alvinitentes é de uma beleza incomum. Mas, um ramo de flores com
variadas cores, é igualmente de incomparável beleza. Nós aqui estamos para colorir o mundo.”
Cada representante religioso teve oportunidade de expor, de discutir, de debater os conceitos de suas doutrinas, sempre convergentes nos
pontos básicos. Todas as religiões que ali estavam representadas, apoiavam-se nos mesmos fundamentos: a crença em Deus, na imortalidade da
alma, na justiça divina, no amor...
Ora bem! Como vamos combater nossa sombra, essa sombra individual de que “o que é meu, é melhor”, de que “a minha religião é melhor”?
A interpretação de cada pessoa é mais compatível com as suas necessidades, e por isso existem-nas múltiplas, para facultar aos diversos
níveis de consciência, conhecimento e entendimento evolutivo, aquilo que é próprio para o nível de evolução de cada uma.
Allan Kardec, porém, inspirado, afirmou que o Espiritismo não será a religião da Humanidade. A Humanidade do futuro não será espírita. O
Espiritismo iluminará todas as religiões, dará fé a quem não a tem, e a aumentará naquela que a tem.
O Espiritismo irá explicar, por exemplo, a determinada doutrina ortodoxa, porque existe o sofrimento, já que, fundamentada na crença de
uma única existência, faltam-lhe lógica e entendimento para compreendê-lo. A Doutrina Espírita irá brindar-lhe a crença na reencamação, que
explicará a metodologia evolutiva e a função da dor. Outra doutrina crê na imortalidade da alma, mas não pode documentá-la. A mediunidade irá
propiciar esse encontro com o fato da indestrutibilidade da vida, através da comunicabilidade dos seres imortais.
Aí estará a iluminação que favorecerá todas as religiões. Não seremos então, um dia, todos seres humanos espíritas, conforme o conceito
proposto pelo Espiritismo. Seremos irmãos. Sempre que pontificarmos em qualquer tipo de “ismo”, estaremos dividindo-nos, separando-nos.
Há uma necessidade momentânea, metodológica, educacional, psicológica, de estarmos vinculados a uma grei, que fale o idioma da nossa
emotividade. Isto não quer dizer que sejamos melhores do que os outros, porque antes que houvesse surgido a nossa tese, o mundo já estava feliz
e a Divindade amava Suas criaturas, a nós pessoalmente, naquelas fases primeiras, e a algumas outras que já não reencamam mais, por não terem
necessidade de novas provas. Elevaram-se. Nós, que nos equivocamos, retornamos agora em uma nova proposta: Jesus-amor, que foi precedida
pelas apresentadas por Krishna, por Buda, este corporificando-se aproximadamente setecentos anos antes dEle, anunciando: “Sede como o
sândalo, que perfuma o machado que o fere”. Não é quase a mesma recomendação de Jesus - “Se alguém te bater num lado, dá-lhe o outro", em
uma linguagem poética?
Buda, Krishna, Confucio, Maomé, são espíritos de escol, Guias da Humanidade. Porém, se analisarmos bem, só Jesus é Modelo, pois Buda
foi um príncipe, na sua vida normal, teve suas companhias, procriou. Um dia, tomado de tristeza, saiu para conhecer o mundo fora das muralhas
do seu palácio, encontrando o sofrimento, a miséria, a velhice, a morte. Entristeceu-se e descobriu que a vida física não tinha sentido por si só.
Foi então meditar sob austeridades intensas, para domar o fogo das paixões.
Depois de 12 anos, a febre estava maior. Abandonou o monastério e foi para a sombra de uma árvore, uma figueira, com quatro ou cinco
companheiros. Ali meditou e Iluminou-se; tornou-se Buda.
Moisés, depois de sua vida no palácio e de haver assassinado um egípcio para salvar um judeu, foi ao Sinai e teve o seu momento de
Iluminação.
Maomé, no ano de 621, teve uma convulsão epiléptica, no Monte Moriá e levado ao Terceiro Céu, encontrou-se com um anjo que lhe ditou o
Corão. Era analfabeto. Esse anjo ofereceu-lhe uma Obra portadora de incomum beleza.
De todos esses, com todo respeito, porém, ninguém como o Homem de Nazaré, o Guia da Humanidade. Aqueles são os Seus emissários que
Lhe prepararam o advento e para darem continuidade, vieram outros tantos, mais recentemente: Abdul Baha’i, Bah’aoulà, que nos legaram o
Bahaísmo; Helena P. Blawatsky, Allan Kardec e muitos mais. Todos foram homens e mulheres notáveis, que nos trouxeram facetas lindas da
verdade, verdade da qual Jesus se fez modelo, e que melhor nos deu ideia de Deus, na Sua Perfectibilidade Absoluta.
Ainda predomina em nós, porém, a sombra individual. Encontramos pessoas religiosas que nos admoestam, por exemplo:
- Divaldo, você é um homem bom; dedica-se ao Bem, doou toda a juventude a trabalhos em favor dos mais pobres, mas que pena que
você vai para o Inferno...
Respondo-lhes, sem enfado:
- Meu filho, não dá para repetir!
- Como “repetir”? - questionam.
- Já vim de lá... Agora, por que é que irei retornar?
- Porque você é espírita.
- Mas o pouco que faço, conforme você reconhece, é porque sou espírita, senão estaria comprometendo-me ainda mais!
- Mas, é uma pena! - concluem.
Convivemos com pessoas amigas que choram, dizem, por que eu vou para o Inferno. Acalmo-as, afirmando: deixem primeiro eu chegar lá;
não chorem de véspera, pois é possível de me encontrarem à porta e me defenderão, ou, entraremos juntos, abraçados, rindo...
Esse conceito é efeito da sombra. A “minha” religião; o “meu" Deus são, sem dúvida, superiores, afirmam, enfáticos...
Essa sombra, nos dias de Jesus, na Terra, era muito mais densa. A sombra individual era perversa (e permanece), por causa do preconceito
de raça, naquele país, considerado como o do povo eleito...
Deus não elege um povo. Ele é o Pai do Universo. Eleger um povo que Lhe é fiel e monoteísta, e detestar os outros seria o mesmo que
amarmos a um universitário e detestarmos a infância por estar ainda na sua ignorância.
A sombra é poderosa, rica de vaidade e presunção, como se constata em o povo eleito, ao que Jesus suavemente vem e nos diz: “Tenho
outras ovelhas que não são deste rebanho” - e conta-nos a parábola do festim de bodas.
Devemos ter um grande respeito pelos irmãos de todas as demais crenças, bem como pelos indivíduos que não na têm nenhuma.
Lamentamos essa guerra injustificada de uns religiosos contra outros, quando os fundamentos de todas as religiões, repetimos, são Deus, Justiça
Divina, imortalidade, ação do Bem. Por que não nos unirmos nesses objetivos e esquecermos as nossas interpretações diferentes, trabalhando em
favor da Humanidade como um todo?
Respeitamos muito a coerência dos irmãos evangélicos em torno da Bíblia; somente lamentamos-lhes a intolerância - de alguns,
naturalmente - e aquele desejo de serem os
únicos portadores da verdade, o que é de lastimar-se, porque a verdade é universal e ninguém a pode aprisionar.
Esse prejuízo preconceituoso estava em Israel, na sombra coletiva contra a mulher, na sombra religiosa contra as outras raças, contra os
irmãos hebreus da Samaria, que foram vítimas de uma circunstância fortuita, ao perderem o direito de hegemonia alguns séculos antes, quando
os assírios vieram conquistar Jerusalém, e a cidade amuralhada resistiu-lhes. A Samaria fazia parte da organização palestina ou hebraica. Quando
os assírios, portanto, desejaram invadir Jerusalém, atravessaram o rio Jordão, e para chegarem à Judeia, teriam que passar pela Samaria, que fica
na parte baixa, próxima à Galileia. Sitiaram Jerusalém, não conseguindo, porém, vencer os judeus. Recuaram, tomaram a Samaria e instalaram
ali o seu poderio. Mataram os homens saudáveis, escravizaram crianças e idosos, coabitaram com as mulheres, que a partir daí foram
consideradas imundas - como se tivessem culpa - tornando-se-lhes amantes, sob a suieição dos conquistadores, não sendo mais considerado
sangue hebreu o daqueles que delas descenderam. Imagi- ne-se quanto aquelas mulheres foram obrigadas a servir ao estrangeiro conquistador e a
humilhação de saberem que os seus filhos já não eram judeus de sangue puro, eram mestiços! Novamente apresenta-se a terrível sombra,
manifesta no infeliz conceito do sangue puro...
Ficaram, então, odiados dentro de sua própria casa... Eles eram tão poucos, e se detestavam muito; divididos em castas, odiando-se
reciprocamente.
Quando passava um samaritano, escarrava-se de lado, enunciando-se uma palavra cruel: racal, isto é: suio, miserável, nojento. Mas, por
quê?! Eles foram a base que evitou Jerusalém de ser capturada! Assim mesmo Israel odiava-os.
É impressionante a Humanidade até hoje. Sempre se odeia a vítima e se bajula o algoz. Odiavam-se aquelas mulheres que foram corrompidas
pelos conquistadores e odiaram-se os seus filhos e os demais descendentes, que passaram a ser impuros, provenientes de uma raça odiada de
assírios com israelitas. A partir dali, foram proibidos de entrar em Jerusalém e de adorar no Templo de Salomão. Por isso, no alto do Monte
Garizim, eles construíram o seu próprio templo e ali passaram a cultuar Deus. Ali ficaram exilados, e nunca mais se falaram... Por vingança,
dizem possuir ainda alguns dos livros escritos por ordem de Moisés.
É a sombra contra a Revelação Divina. Jesus, o Ho- mem-Luz, enfrentou essa sombra, conseguindo diluí-la toda, com amor. Foi o primeiro
feminista da Humanidade, naquela sociedade machista.
A mulher, então, não tinha alma, asseverou-se por alguns séculos. Recuperou-a faz pouco tempo.
Santo Agostinho passou a ter tanto preconceito contra a mulher, que para receber as próprias irmãs estava sempre acompanhado, porque lhes
tinha medo. Não que elas fossem viciadas; ele é que era inseguro de si mesmo, pois tinha tido uma vida licenciosa (o que lhe era um direito
natural, convenhamos). Antes de adotar uma das ramificações cristãs primitivas era, inicialmente, maniqueísta, e nessa condição, permitiu-se
uma vida de prazeres. Mantinha uma concubina com quem teve filho.
Ao transformar sua conduta, passou a ver a mulher como um ser detestável, como se fosse ela quem o perturbasse, considerando-a um
instrumento do diabo. Era ainda a presença da sombra, o preconceito em um Doutor da Igreja, o maior cérebro que o Catolicismo teve em sua
época.
A cultura hebraica é machista, e nela somente os homens dispunham do direito de usar publicamente a palavra. Por isso, Ele optou pela
polaridade masculina, a fim de ter um melhor trânsito no meio daquela sociedade caracterizada pela sombra, na qual teve a coragem de fazer a
apologia daqueles que eram perseguidos, esmagados, odiados, desprezados, e que não tinham direito à vida.
À medida em que Ele cantava a sinfonia das bem-aven- turanças, a humanidade do futuro não seria mais escrava das paixões, por falta de um
código, e, se permanecesse nos seus erros, isto seria por livre opção, pelo prazer de usar a liberdade de ser infeliz. É um direito que a pessoa tem;
é uma opção, até quando se apresenta a dor e reformula com o seu terrível cinzel o comportamento do indivíduo rebelde, pois que ela faz dobrar
a cerviz daquele mais temperamental e, à semelhança do esteta, arranca da pedra bruta a estátua, e do metal informe, a obra de arte...
Ele havia oferecido o código do amor, asseverando:
“Podereis fazer tudo o que faço - e muito mais - se quiserdes
Esse Homem Incomparável deu origem aos laços mais fortes que o amor pode estabelecer, quebrando todos os preconceitos: “Povo de
Deus?” A isso, repetimos, Ele respondeu: “Eu tenho outras ovelhas que não são deste rebanho
Na parábola do festim de bodas, Ele nos faculta a observância da visão do orgulho de uma raça que mata os profetas, enquanto Ele abre as
portas do Reino aos mendigos, àqueles que não têm oportunidades, porque também são filhos de Deus.
Quando o machismo predominava, esmagando as mulheres, ei-IO Amigo delas, Companheiro, Irmão, Pastor, indo recolhê-las nos lugares
mais sórdidos a que foram atiradas, conduzindo-as aos jardins liriais da Sua pureza.
9 JULGAR É LAPIDAR
Como era a anima em Jesus?
Jesus era um homem, na trajetória da polaridade masculina, e as duas expressões arquetípicas apresentavam-se harmônicas, sem qualquer
conflito. Podemos observar, por exemplo, em várias atitudes dEle, a presença de um como de outro arquétipo.
Façamos uma análise rápida de alguns textos do Evangelho.
Jesus estava em Jerusalém. Era um dia de sol, e Ele dirigia-se ao templo quando um grupo de fariseus, com outras pessoas exaltadas,
arrastavam pelos cabelos uma mulher que fora surpreendida em adultério. O adultério praticado pela mulher era, então, passível de pena capital.
A mulher era discriminada, e sendo arrastada para ser levada ao lugar próprio de lapidação, era amarrada ao poste e apedrejada até a morte.
Como já fomos bárbaros, e ainda temos remanescentes desse barbarismo!...
Em muitas doutrinas religiosas, ainda a mulher é apedrejada até a morte, o ladrão tem a mão decepada e, nos regimes arbitrários, é aplicado o
fuzilamento sumário, mostrando a predominância animal que existe nas criaturas, em relação aos valores espirituais.
Os fariseus viram-nO, tranqüilo, e foram tentados a provocá-IO. Era uma excelente oportunidade de preparar-
Lhe uma armadilha para O surpreender em um equívoco qualquer, que O tornasse também passível de punição.
Levaram-na na Sua direção, e em chegando próximos atiraram-na aos Seus pés.
Melífluo, um fariseu atrevido voltou-se para Jesus, e perguntou-Lhe:
- “E então, como ficamos? A Lei de Moisés prescreve que toda mulher adúltera deve ser apedrejada até a morte, e essa que ai está é uma
adúltera. Ela foi surpreendida pelo marido, que aqui está, e que a encontrou com o perturbador que lhe desonrou o leito conjugal. Ele, ultrajado,
apelou para a Justiça, mas tu pregas o perdão. Toda culpa é passível de perdão, e nós estamos embaraçados. Como deveremos agir? Perdoá-la ou
puni-la?"
Como se vê, era uma armadilha, que no dia-a-dia das nossas vidas enfrentamos, e nem sempre temos a claridade de consciência para dar a
resposta hábil, desvencilhando- nos dos pusilânimes com um sentimento airoso em nossa personalidade.
Mas a sabedoria de Jesus era irretocável e, diante da pergunta direta, veio imediata a resposta.
Pergunto-me sempre: o que eu respondería? Então redes- cubro a imensa, colossal diferença que existe entre mim e Ele.
Jesus, que os penetrava intimamente, indo ao âmago dos seus sentimentos, e por conhecer-lhes a natureza primária, deu-lhes uma resposta
perturbadora:
- “Que se cumpra a Lei! Que ela seja apedrejada. No entanto, que a apedrejem somente aqueles que dentre vós estiverem isentos de pecados,
que sejam pessoas impolutas, sem culpas.”
Foi um choque. Entreolharam-se. Queriam fazer justiça contra outrem, sendo passíveis também de punição...
Há uma informação, certamente apócrifa, que diz ter- se Jesus abaixado e começado a escrever na areia, na poeira daquela praça.
Como era natural, nada há que desperte mais curiosidade em nós do que alguém de repente começar a escrever ao nosso lado. Temos uma tal
consciência de culpa, que sempre achamos que devemos ser motivo de censura. Automaticamente olhamos para ver se algo há contra nós...
Quando Ele começou a escrevinhar, alguém olhou. Estava escrito: hipócrita. O homem saiu discretamente... Ele continuou escrevendo. Outro
olhou, e lá estava, ladrão. Mais outro... À medida que cada um olhava, Ele anotava a sua qualidade moral. De repente, a praça ficou vazia.
O Evangelho menciona que começaram a sair desde os mais velhos até os mais jovens.
Notemos quanta sutileza, porquanto os mais velhos por certo têm mais pecados...
A mulher chorava, temendo a punição cruel. Daí a pouco, Jesus constatou que estavam a sós. Voltou-se para ela, e perguntou-lhe:
- “Mulher, onde estão os teus acusadores?”
Ela olhou à volta.Tomada de surpresa, respondeu:
- “Foram-se, Senhor!”
- “Ninguém te condenou?”
- “Não.”
- “Pois eu também não te condeno. Vai e não tornes a pecar.”
Temos aí uma das mais belas lições de ética, de compaixão e de justiça, jamais propostas por alguém. Todos estavam perseguindo a adúltera.
Onde estava o adúltero? A mulher somente delinqüiu porque alguém a puxou para baixo. Ninguém cai a sós; sempre outrem lhe preparou uma
armadilha, na qual tombou o incauto.
Quando Jesus reprochava o adultério, não era apenas o feminino, mas a defecção moral de qualquer pessoa.
Como ninguém se referiu ao adúltero, Jesus solicitou aos que estivessem isentos de culpa, que a apedrejassem.
Essa maravilhosa lição, em um diálogo incomparável de franqueza e amor, tem sido motivo de muitas controvérsias. Os adversários do
Evangelho - que são muitos - dizem que Jesus concordou e cooperou com o adultério, absolvendo a culpada.
Certamente que ele não a absolveu. Apenas não a condenou. Ele simplesmente não tornou mais infeliz aquela mulher que já o era.
Quando Ele disse: Ninguém te condenou e eu também não te condeno, Ele não assentiu que ela tivesse razão.
Não condenar é não estabelecer punição; não é concordar, o que é muito diferente.
O nosso é um mundo paradoxal.
O que devemos ter em mente, pais e educadores, é a necessidade de reconhecermos os erros de nossos edu- candos, sendo o nosso dever
ampará-los, para prevenir o que possa vir ainda de pior; não os condenar, não significa que estamos de acordo com eles. Estamos contra o que
fizeram, mas não contra eles.
Jesus, há quase dois mil anos, fez exatamente isso, ao afirmar que não a condenava, recomendando, porém, que não tornasse a pecar.
A proposta psicoterapêutica é para libertar o doente da doença e não para matar o doente. A nossa proposta social deve ser a de acabar com o
crime, e não a de destruir o criminoso, que é o fruto espúrio da criminalidade e da sociedade injusta, ou vítima de algum transtorno psico-
patológico.
Naquele momento, o Homem vígil, exuberante na Sua polaridade masculina, cedeu lugar à anima, à doçura de uma mãe diante de uma filha
atônita e infeliz, sem perder a masculinidade que O caracterizava. Não teve a visão machista, convencional.
É assim que agem as mães. Quantas vezes elas ocultam do parceiro, do marido, um delito do filho, não para protegê-lo, mas para socorrê-lo,
porque sabem que a reação do pai é bem diferente, por causa da sua estrutura psicológica, podendo complicar algo que elas, com ternura,
conseguem contornar.
Jesus foi mais além. A mulher era, efetivamente, uma adúltera, mas se adulterou, foi com alguém. A sociedade sempre foi muito benigna
para com o homem equivocado. A
mulher era considerada como um animal de suieição. Onde estava o adúltero? Ele a seduziu; não ela, porque a mulher não tinha acesso à via
pública, era proibida de falar com qualquer pessoa desconhecida; caminhava alguns passos atrás do marido, o que ainda ocorre em alguns países
do Oriente.
Onde, pois, àquela hora, estava o adúltero?
E o marido? Será que ele era pulcro? Será também que ele não era adúltero? Onde estava o marido ofendido, quando ela faliu? Ofendido por
quê? “Mas a mulher não tem o direito de agir indevidamente” - afirma-se com preconceito. E, no entanto, ela é muito mais sensível do que o
homem.
Conta o Espírito Amélia Rodrigues11que terminada esta cena, Jesus esteve no templo, e dali foi a Betânia.
Betânia fica a mais ou menos seis quilômetros de Jerusalém, seguindo-se pela chamada estrada real. Porém, através do Monte das Oliveiras,
pelo caminho das cabras, fica a menor distância.
Naquela noite, Ele estava na casa de Lázaro, Maria e Marta, os três irmãos aos quais muito amava. Foi a única residência, depois da de
Pedro, onde Ele dormia mais de uma noite. Tradicionalmente Ele nunca dormia numa mesma casa mais de um dia, para não depender emocional
e economicamente de ninguém, para não parecer ocioso ou explorador. Na casa de Lázaro, no entanto, repousava sempre que ia a Jerusalém.
Ali estava, pois, contemplando a Natureza festiva à sombra agradável de uma pérgula, numa noite de estrelas com o zimbório assinalado de
lâmpadas mágicas e de uma lua de prata, quando a mulher adúltera chegou e pediu-Lhe uma entrevista.
Envergonhada, falou-Lhe, sem rebuço:
- “Senhor, eu não me venho justificar, mas não tenho para onde ir. Depois que me socorreste na praça pública, voltei para casa. Fui expulsa
como um animal irracional. Pedi socorro aos vizinhos. Todos me negaram. Vagueei pelas ruas de Jerusalém, em busca de um recanto, de um
emprego, mas ninguém ajuda quem está na rampa da queda. O poço da queda, Senhor, não tem fundo, sempre se cai mais. Então, não tenho para
onde ir. Lembrei-me de vir aqui onde estavas para, pelo menos, explicar-Te a minha conduta, e pedir-Te que me ajudes nesta situação.
“Reconheço que errei. Errei, e não quero culpar ninguém. No entanto, meu marido fazia meses que não me dava assistência afetiva,
conforme o fazia antigamente, não cumprindo com os deveres do tálamo conjugal. Passou a viver em um bordel, a estar ao lado de mulheres
atenaza- das, piores do que eu. Foi mais terrível, porém, quando ele levou para casa a fera que me perturbou, o ladrão da minha dignidade e da
sua honra. Não sei se o fez de propósito. Só sei que esse visitante passou a perturbar-me, a seduzir- me. Lentamente, insinuou-se de tal forma na
minha vida íntima, que me dizia o que eu queria ouvir, o de que tinha saudades. Não era àquele homem a quem eu ouvia. Era ao meu marido -
que não me dizia palavras gentis - que eu escutava nos refolhos do coração. Quando me entreguei a esse estranho, não foi a ele a quem me dei,
mas ao marido que não me procurava mais. Fui jogada aos lobos sem ter ninguém que me defendesse”...
O amor é uma labareda que necessita de combustível para poder manter-se. O combustível chama-se ternura. O que sustenta o casamento -
escreveu Friedrich Nietzsche - não é o amor, é a amizade.
Poderiamos, por nossa vez, acrescentar: o que sustenta o relacionamento não é o sexo. São a ternura, a convivência, a gentileza, o diálogo...
- “Arrependo-me, Senhor. Agora, o que faço?” - concluiu a adúltera.
Jesus fixou o Seu meigo olhar naquela mulher súplice, e alvitrou:
- “Ama aos teus filhos.
- “Desventurada que sou - queixou-se ela - não tive filhos!
- “Então, ama aos filhos que não têm mães, às mães que não têm filhos, às mulheres sofredoras, quanto sofredora és - acrescentou,
temamente, Jesus - O amor redimi-la-á do equívoco, pois que cobre a multidão dos pecados. E, não voltes a enganar-te.”
Eis a anima do Mestre que estava a falar. É a Mãe, que está reabilitando essa mulher desesperada.
A mulher curvou-se, beijou-Lhe as mãos e desapareceu.
Ela se foi para a cidade de Tiro, na Fenícia, e abriu uma Casa num Caminho, onde falava sobre Jesus e recebia pessoas combalidas,
enfermas, crianças órfãs, idosos abandonados, portadores de dermatoses identificadas como lepra.
Quinze anos depois daquele episódio de Jerusalém, estava uma mulher de beleza rara, madura, atendendo aos necessitados, socorrendo-os,
quando lhe trouxeram um homem judeu, vitimado pelas febres do deserto, marcado pelo desconforto, com a face sulcada pelos conflitos e pelas
dores, em delírio, para que o cuidasse com os seus ajudantes.
Ela recolheu-o em um leito de ternura, deu-lhe assistência, colocou-lhe compressas de panos úmidos para diminuir-lhe a ardência da febre. O
homem delirava.
Abnegada, ficou-lhe ao lado durante a noite e a madrugada. Pela manhã, ele teve um vislumbre de lucidez. Estava em agonia, mas conseguiu
perguntar-lhe:
- “Tu és judia?
- “Sim, por isso falo seu idioma!
- “Por que estou aqui? Por que me recebes? Sou um desgraçado judeu, peregrino dos desertos e das distâncias. Por que me recebes?
- “Porquê aqui é uma Casa de amor - sussurrou ela, suavemente - em homenagem a um Galileu que foi plantado numa cruz, a Quem conheci
em Jerusalém, faz três lustros.”
O homem abriu desmesuradamente os olhos e, esforçando-se para dialogar, indagou-lhe:
- “Tu conheceste Jesus? Também eu! No momento mais grave da minha vida, eu O conheci, mas eu era então por demais perverso e
orgulhoso. Amava. Tinha um lar. Minha mulher traiu-me com outro, porque negligenciei. Permiti que ela fosse levada à corte, onde foi
condenada. Quando a arrastavam ao poste do suplício, levaram-na a esse Homem, Jesus, que a condenou, sim, desde que os apedreja- dores
fossem puros.
“Eu O odiei com todas as veras do meu sentimento - continuava, em embargado tom de voz -, odiei-O! Quando voltei para casa e expulsei-a
ignominiosamente, só então dei-me conta de quanto era infeliz. Só amei na minha vida àquela mulher, a quem havia cerrado as portas.
“Tentei procurar outras mulheres, que me não satisfizeram. A consciência culpada amargurou-me, e, desde então, saí pelo mundo, poucos
meses após, a procurá-la, informando-me, indagando. Não a encontrei. Agora que me dirigia a Sídon, as resistências diminuíram e tombei com
as febres... Somente agora reconheço que Ele não era quem eu pensava; Ele havia sido muito bom para nós dois. Estou às portas da morte, e
queria encontrá-la para pedir-lhe perdão, e somente queria dizer-lhe que a amo, que a partir daquele terrível dia eu lhe tenho sido fiel”...
A antiga adúltera acarinhava-lhe os cabelos encaracolados, a barba espessa, hirsuta, enxugando-lhe a testa banhada por álgido suor.
Enquanto soluçava, interrogava-a:
- “Será que ela me perdoaria?
- “Com certeza! Com certeza ela o perdoou, porque, se esteve com Jesus, Ele, que é o perdão, ensinou-lhe também a perdoar. Morra em
paz. Você reencontrou o caminho, e isto é o que importa.”
Tomada de lágrimas e de gratidão, ela mantinha agora nos braços o marido, que desfaleceu, enquanto a morte o arrebatou.
Ela, agora refeita do seu equívoco, estava em condições de ser a serva da verdade.
10 RAÇA DE VÍBORAS
Jesus, periodicamente deixava que a anima assumisse o comando, o mesmo ocorrendo com o animus, no momento oportuno.
11
(11) PELOS CAMINHOS DE JESUS, cap. 15 - Ed. LEAL - Divaldo P. Franco.
Estava Ele em plena jornada, quando se Lhe acercaram fariseus e herodianos, tentando perturbá-IO, por meio de ciladas.
Penetrando-lhes o íntimo, o Mestre fitou-os e, severamente, interrogou-os: - “Raça de víboras! Sepulcros caiados de branco por fora e, por
dentro, podridão. Hipócritas, até quando vos suportarei?”
Temos aí a manifestação pujante do animus. É o homem vigoroso. É o homem enérgico, porém, sem raiva, sem ressentimento, sem
agressividade, sem grosseria.
Há determinados conceitos que devem ser apresentados com um tom e uma emoção vigorosos. Não se vai chamar alguém que é pusilânime
ou hipócrita, de uma forma reticente ou dúbia. Nessa atitude não se expressa raiva, mas valor moral. É uma definição que retrata o caráter da
pessoa enfocada.
O animus em Jesus está em harmonia com a Sua anima e, por isso mesmo, Ele é um Ser Incomparável, porque nenhum de nós consegue essa
harmonia entre os dois arquétipos. Quando vamos assumir energia, ficamos com raiva do antagonista, do nosso filho, da parceira ou do parceiro.
Quando vamos chamar a atenção com um “não
pode!”, o emocional nos desgoverna e manifestamos uma personalidade vigorosa, não o conteúdo psicológico. Vivemos um conflito que
possivelmente se trata de herança de encarnação passada, experienciando arquétipos que provêm do nosso ontem, predominando na consciência
atual, no comportamento do momento...
Jesus também era um Ser capaz de tanto amor que recebia a infância com imensa doçura, assim expressando: Deixai que venham a mim as
criancinhas; não as perturbeis. O Reino dos Céus é para aqueles que se parecem com elas.
A criança - assevera Allan Kardec - é um espírito adulto, mas a infância é um estágio de pureza, de experiência, de aprendizagem. É
necessário que tenhamos este estado de infância, sem malícia, sem ressentimentos, sem ideias preconcebidas.
11 HUMILDADE SUBLIME
Jesus sabia que Jerusalém O homenagearia pela última vez, quando entrou, triunfalmente.
Os discípulos estavam esfuziantes. Pequenos ramos de oliveira erguiam-se para saudar o Messias.
Ele chegou à porta principal e solicitou que fosse buscado um jumento que ali pastava. Trouxeram-no, e Ele o cavalgou. O jumento é um
animal rebelde. Nele montado, a composição formava algo excêntrico, considerando-se que se tratava de homenageá-IO.
Os que recebem homenagens embelezam-se, colo- cam-se em lugares de destaque para impactarem a massa e chamarem a atenção.
Jesus, no entanto, assumiu uma atitude de absoluta humildade, mas uma humildade que vai quase ao ridículo: um Homem de 1,75m a 1,78m
montado num jumento, tendo os pés quase arrastando-se ao solo...
As pessoas extasiadas atiram seus mantos, tapetes e outros tecidos ao chão para amaciarem o piso. É, no entanto, o jumento que os toca, não
Ele, que não aceitou a homenagem, pois sabia que O aguardavam a coroa de espinhos e o madeiro de infâmia.
Exaltaram-nO. Ele se manteve estóico, másculo, o Seu animus não se deixou empolgar. Adentrou-se pela cidade em plena festa de Páscoa,
prevendo o momento em que seria embalsamado após a morte.
Por fim, na hora da última ceia, quando se encontravam no Cenáculo, Jesus contemplou aqueles doze amigos em profundo silêncio, a
meditar. Eles ainda não tinham dimensão do Reino de Deus, nem de quem era Ele...
Será que nós a temos hoje, mais de dois mil anos transcorridos? Pessoalmente, ainda não a tenho. Escapa-me, sem querer mirificá-IO em
excesso, porque Ele é o Filho de Deus. Não é Deus. Permito-me, por vezes, largas reflexões para entendê-IO, sem o lograr. Vou ao encalço de
raciocínios, para entender-Lhe a grandeza, como na cena que segue. Naquele momento, Ele tomou de um tecido de linho e amarrou-o à cintura,
como faziam os escravos; segurou um vasilhame, uma bilha d’àgua, ajoelhou-se diante de Pedro para lavar-lhe os pés. Pés de galileus, calosos,
rachados, defendidos pobremente por alpargatas, com calcanhar rasgado pela adustez do solo, o pó acumulado por muitos dias, sem banho, sem
higiene e põe-se a lavá-los com ternura.
Os judeus usavam um tipo de alpargatas com um nó, em que introduziam os dedos dos pés, ou daquela convencional grega sem as duas tiras
que subiam pelo músculo da perna.
Pedro, porém, vendo a cena inesperada, tomado de emoção recusa-se:
- “Não me lavarás os pés!”
E o Homem lhe diz, tomado pelo seu animus:
- “Se eu não os lavar, não terás nada comigo.”
É uma decisão. Jesus jamais é dúbio: Sim, sim; não, não!
Pedro deu-se conta da grandiosidade do momento e redargúi:
- “Lava-os. Não apenas os pés, mas a mim todo...”
Era uma alma simples, afetuosa. Por isso mesmo de-
linqüiu ao negá-IO, dedicando depois mais de trinta anos para reabilitar-se das três negativas.
Jesus lavou os pés de todos. Esta é uma lição incomum.
Joanna de Ângelis destaca: “Por que os pés? Porque são a base da estrutura do ser, são os alicerces da vida humana que neles repousa a
postura. Lavá-los, era uma forma de limpar as imperfeições do ser, na sua simbólica base moral, no espírito, que é para poder engrandecer-se na
busca de Deus, da plenitude espiritual. É um grande símbolo esse lava-pés”...
Depois que terminou, sentou-se à mesa, entristecido, e olhou-os. Não tinham eles percepção do que ia acontecer.
- “Um de vós me trairá” - disse com melancolia.
-“Quem?”
- “Aquele que, neste momento, leva o pão à boca” - respondeu.
E ninguém percebeu aquele cuio gesto respondia a pergunta... Era Judas, que havia umedecido o pão e tinha-o à boca. Nem o próprio Judas
deu-se conta.
Quantas vezes a verdade rutila e não a vemos, porque estamos com a consciência de sono. Estamos adormecidos em relação à verdade...
As doutrinas ancestrais castradoras afirmaram, referin- do-se a um trecho bíblico, que tínhamos que odiar a Terra, odiar o mundo,
detestarmo-nos; termos que ser simplórios, não podermos ter alegria e assim seríamos humildes. Passaram a confundir humildade com
imundície...
Ser imundo é ser desleixado. Ser humilde é ser nobre de sentimento.
Para ser humilde, não é necessário que se torne capacho de outrem. Se a pessoa faz-se um capacho, pode ser por medo, covardia.
Para entender a verdadeira humildade, vejamo-la em Jesus.
À arrogância dos sacerdotes hipócritas, Jesus contrapunha: - “Raça de serpentes! Até quando vos suportarei? Sepulcros caiados de branco
por fora e, por dentro, todo podridão.”
Para assim alguém comportar-se necessita possuir autoridade moral, sem servilismo, sem rebaixamento.
O odiar ao mundo não tem o significado do verbo detestar.
Jesus usava o dialeto aramaico, e odiar significava amar menos. Pedia-nos preterir o mundo e preferi-IO. Entre as duas alternativas, Ele ou as
paixões, o servilismo, a degradação; entre a entrega aos prazeres dissolventes, aos vícios da nossa Era - o tabagismo, a sexolatria, a toxicoma-
nia, que nos comprazem as sensações - optando por uma atitude saudável, o equilíbrio moral.
13 SUBLIMIDADE DO AMOR
Jesus nos ensina pelo Seu exemplo. Mais extraordinária na Sua vida, foi a mensagem daquijo que Ele não disse.
Ninguém falou como Ele o fez na Terra. Jamais alguém pronunciou palavras como Ele as enunciou. Porém, o mais importante foi o que Ele
deixou de dizer; foi o Seu silêncio diante da traição de Judas, da negação de Pedro, da ingratidão dos amjçjos...
Apenasumã vez Ele se queixou, quando os dez doen- tes, portadores do Mal de Hansen foram curados e somente um voltou para agradecer.
Ele olhou para esse, que era estrangeiro, e com o coração dorido perguntou: “Mas não fo- ram dez aqueles a quem curei? Por que só este
estrangeiro voltou para agradecer?”
Teve então compaixão da nossa ingratidão.
A criatura humana é muito ingrata. Enquanto recebe favores e carinhos de alguém, esse doador é-lhe muito bom, até o momento em que
nega-lhe qualquer coisa. A partir dali, não serve mais.
Queremos que a vida atenda aos nossos caprichos. É por isto que, por sua vez, a vida é muito severa para com os ingratos, para com os maus.
O que mais Jesus experimentou no Seu silêncio, foi a ingratidão humana. Ingratidão que dura dois mil anos, pois 'que até hoje continuamos
ingratos...
Quantas vezes temos oportunidade de ser bons e não somos?! Por capricho, pela rebeldia, pelo sentimento de inferioridade nossa. Quantas
vezes somos chamados a oerdoar, por estar o outro em situação pior do que a nossa, e não perdoamos?! É que somos ainda inferiores, e aquele é
o momento da nossa vingança, esquecidos dé que mais adiante a vida nos cobrará o que negamos ao nosso próximo. Tudo que fazemos ao
próximo, estamos fazendo-o a Jesus ea Deus, conforme asseverou-nos Ele, com muita sabedoria: E o que fizerdes a qualquer um deles, a mim
vós o fareis.
Precisamos compreender a nossa fragilidade para en- tendermos quanto deveremos lutar, crescer, para amar re- almente, com o amor de
Jesus.
Não há amor que se compare ao dAquele que deu Sua vida, no auge das Suas forças, na plenitude de Sua virilidade, aos trinta e três anos e
meio; ao que a doou em sacrifício de amor.
Ele foi escarnecido, vilipendiado; foi lanhado, coroado de espinhos arrancados dos estercos dos muros fétidos de Jerusalém. Vestiram-nO
com um manto vermelho ridículo com que se cobriam os loucos, em tom de ironia. E era o Excelente Filho de Deus, o Pastor das ovelhas, o
Amigo da Humanidade!..,
Tudo isso sofreu sem uma queixa.
Deram-Lhe um madeiro de infâmia tão pesado, que Ele caiu três vezes, ao peso daquela cruz de vergonha.
Nem assim se queixou. Não reclamou.
Nunca, na Terra, houve um amor tão grande cjuanto o de Jesus. Jamais haverá um amor como esse, que é o de Jesus. Um amor tão
extraordinário que está na intimidade do ar que respiramos, porque dá vida. Um amor tão elo- qüente, que depois de tantos séculos ainda nos
consegue unir.
Sua voz chega-nos, suavemente, e canta em nossos corações: “Amai-vos! Por mim, amai-vos uns aos outros! Se desejais ser meus discípulos,
que vos ameis, e eu vos darei o galardão.”
*
JÈ tão fácil amar! Basta não reagir às agressões do mal nem dos maus.
Quando alguém nos fizer um mal, nunca o retribuir, mantendo-se com paciência. Aquele qué pratica o mal está perturbado, encontra-se com
algum distúrbio de comporl tamento. Quando alguém nos ofender, deveremos sorrir e desculpar. O ofensor é um desequilibrado.
É tão fácil amar! O amor é, na vida, o que o sal representa para o alimento e, se o sal perde o seu sabor, para que serve? Se a vida perde o
toque do amor, para que serve a vida? Quem é tão auto-suficiente que possa dispensar a companhia de um amigo, ou de um cão, ou de uma ave?
Quem não deseja ter alguém? Ouvir uma voz, ter um toque de mão, receber um abraço, constituem dádivas de amor. Pode haver algo melhor do
que um olhar de ternura? A expressão de dois olhos que nos fitam, sabendo-se que aquele olhar é de ternura, é de amor?
Jesus assim faz.
Até hoje Ele nos ama, e nos amará sempre: Eu vos aguardarei até o fim dos séculos... - disse-nos.
Nas horas em que os problemas, as dores se fizerem mais difíceis, lembremo-nos dEle, que nunca nos abando-) na. É o amigo mais fiel.
Em verdade, Ele aí está, olhando o egoísmo das autoridades, a insensatez e a frieza de muitos homens e mulheres, de muitos religiosos, de
muitos cristãos que não O têm no coração.
Ele veio para nós, os que sofremos em silêncio; Ele veio para os que temos ânsia de amar, e para aqueles que perdemos muita coisa, somente
para ganharmos a paz.
Cristo reina, é o nosso Amigo e Benfeitor. É o Companheiro dos tristes e deserdados.
17 O DILÚVIO UNIVERSAL
Depois que foi povoada a Terra, os homens tornaram- se maus.
“E então se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na Terra, e isto lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da
Terra o homem que criei, o animal, os répteis e as aves dos céus, porque me arrependo de os haver feito" (Gen.6, v.6 e 7).
O Deus jnclemente ficou, novamente raivoso e decretou o dilúvio. Conclui-se, então, que Ele não era Perfeito. Não sabia com segurança o
que fazer...
Antes que viesse o dilúvio, Deus constatou que naquele meio infeliz de pessoas devassas, havia um homem que era bom e justo. Deus
apiedou-se dele e chamou-o, ordenando-lhe: “Noé, constrói uma arca, e preserva nela um casal de cada animal, para que a Terra seja novamente
povoada”.
Noé assim o fez. Construiu uma arca, que jamais flutuaria, porque era uma embarcação antináutica. Ele não entendia nada de engenharia
naval. Mas vamos dizer que Deus o ajudou. Nela colocou um casal de cada animal que havia na Terra.
Trata-se ainda da mitologia, pois que é uma história infantil, absurda. Veio a chuva que durou quarenta dias e quarenta noites. A arca
flutuava e as águas cobriram a Terra. Outro absurdo. Jamais houve, geologicamente, uma inundação total. Houve sempre inundações parciais.
Não faz muito, houve uma onda marítima gigantesca de trinta metros de altura, na Indonésia, que acabou com varias aldeias, por causa de um
terremoto marítimo, e a China quase ficou mergulhada nas águas do Yang-Tse-Yang...
Poderemos dizer que houve um dilúvio local, é possível, pois que quarenta dias de chuvas não são suficientes para alagar nem determinadas
regiões quanto mais todo o globo terrestre.
Passado um período, Noé soltou uma pomba que não retornou. Três dias depois soltou outra, que voltou trazendo um ramo verde de oliveira
no bico, confirmando que passara a calamidade e tudo já se encontrava renovado.
Ele estava no monte Ararat, onde, dizem, se encontraram vestígios da velha embarcação, abriu a porta, fez saírem os animais, que foram para
as suas regiões, em absoluta ordem, embora muitos fossem selvagens.
Também desceu da arca com seus três filhos homens, Sem, Cam e Jafé, com suas respectivas esposas e repovoaram a Terra.
Com quem? Apenas com as esposas e a genitora que já era idosa?
Quando ouvimos a história de Roma, com Rôrnulo e Remo, nutridos por uma loba, enfrentamos uma imagem ar- quetípica das mais
fascinantes; quando lemos a mitologia brasileira a respeito da criação do Rio SqHmões, concebida pelos nossos índios, que tem a mesma
formulação da tradição bíblica - sem nenhum contato -, em que Tupã mandou que as terras fossem devastadas pelas águas, poupando Ceci e Péri,
que tiveram a felicidade de ser advertidos, estamos relendo o mesmo dilúvio bíblico, sob outro aspecto.
Aqueles dois amantes eram muito jovens. Tupã teve compaixão deles, recomendando-lhes que montassem no tronco de uma palmácea, a
carnaubeira, porque ali sobreviveríam.
Choveu muito, e a carnaubeira foi arrancada, indo parar mais longe. Eles saltaram. A vida havia-se extinguido, mas eles povoaram as terras
da Amazônia e aquelas águas quando recuaram formaram o Rio Solimões.
Encontramos lendas e mitologias em todos os povos. Fazem parte dos nossos arquétipos ancestrais, conforme a versão de Cari G. Jung.
Trata-se, portanto, de uma herança atávica do processo da evolução do nosso pensamento, de primitivo a lúcido- racional, na atualidade.
0 dlíúvio bíblico remonta a um dos Períodos em que a Terra se resfriava, após ter-se destacado da grande massa nebulosa que estava em
circunvolução e que se deslocou.
Como Moisés poderia explicar esse fenômeno geológico a uma mentalidade qual aquela de há quase cinco mil anos, senão utilizando-se de
uma imagem vigorosa como a do dilúvio?
Os períodos da Terra, hoje provados cientificamente à luz da Geologia, são as Eras. Os seis dias da Criação refe- rem-se aos grandes
períodos anteriores.
18 O PÉRIPLO DA LUZ
Desde sempre, a Divindade está encaminhando à re- encarnação, milhares de espíritos nobres para auxiliarem a rápida transição do planeta
terrestre, que deixará de ser um mundo de provas e expiações para tornar-se mundo de regeneração. No século V, de Péricles, na Grécia, por
exemplo, tivemos Tucídides, Ésquilo, Sófocles - entre os Trágicos, e outros tantos nobres pensadores que alargaram os horizontes culturais da
Humanidade.
Anos mais tarde, conhecemos I elite ímpar, representada por Sócrates, Platão, Aristóteles, espiritualistas, tanto quanto Leucipo e Demócrito.
os notáveis decodificadores da matéria que ofereceram as bases do atomismo.
Porém, antes de Ele chegar, a Humanidade havia conhecido, igualmente, as façanhas trágicas de homens belicosos, que fizeram a Terra
tremer diante da sua pusi- lanimidade. Entre outros, recordamo-nos de Dario, Ciro e Cambises, da Pérsia, Alexandre Magno, da Macedônia,
Aníbal, o cartaginês, que submeteram praticamente o mundo do seu tempo, à dominação arbitrária das suas tropas vândalas.
Outros mais, como Cipião, o africano, e Júlio César, o Divino, igualmente mantiveram o mundo conhecido sob as exigências das suas
legiões.
Xodos foram devorados pela morte, que a ninguém poupa, através das próprias circunstâncias e das arbitrariedades que cultivavam, ou por
meio do fenômeno fortuito da disjunção biológica, na etapa terminal.
Depois dEle, a Humanidade prosseguiu na mesma ganância, assolada pela devastação das conquistas ininterruptas. Constantino, ou Átila, ou
os visigodos comandados por Alarico, (370-410), semearam na Ásia e na Europa o terror inominável.
Mas, apesar de os guerreiros de Alarico haverem desviado as águas do Busanto para inumarem o seu cadáver, cobrindo-o com as mesmas
que voltaram a correr pelo curso antigo, a fim de que ninguém encontrasse vestígios daquele dominador arbitrário, a morte também o ceifou.
Mais tarde, Clóvis (465-511), Carlos Martel (689-741), Carlos Magno (742-814), ou posteriormente Napoleão Bonaparte (1769-1821), ou
Nelson (1758-1805), ou ainda, depois, as tropas de Rommel, dando prosseguimento à dominação arbitrária de outros guerreiros, ou as
extraordinárias conquistas da técnica militar de Montgomery (1887-1976) e Eisenhower (1890-1969), que mudaram a paisagem geográfica e
histórica da Terra, a morte a todos devorou na sua passagem terrível, fazendo que essas personagens, que balaram a História um dia, viessem a
fazer parte das grandes galerias evocativas, em uma página amarelecida dos velhos pergaminhos, ou em uma fotografia minimizada pelas
modernas técnicas de arquivo das bibliotecas contemporâneas.
Mas, Ele não!
Be veio discretamente como a bondade. Apareceu numa noite fria, salpicada de estrelas, em um pequeno burgo apagado na Palestina.
Quando o Seu vagido de criança ressoou na estrebaria em que estavam animais domésticos, seres angélicos entoaram uma balada de amor em
exaltação: “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra aos homens de boa vontadeL"
A mensagem que Ele trazia caracterizava-se pela presença de anjos e querubins, ou escutada por hqmens humildes e apagados do pastoreio
das largas e áridas regiões de Nazaré, da Samaria, ou da paisagem bucólica de Belém, próxima a Jerusalém, onde Ele resolvera começar a Era da
nova Casa de Davi.
A História, até hoje, pelos seus mais eminentes narradores, não sabe explicar aquele fenômeno que aconteceu nas suas páginas, porque até
àquele momento em que Ele chegava, falava-se apenas de guerra e de destruição, de dominação e de poder, enquanto a águia romana sobrevoava
o cadáver das gerações vencidas sobre as suas terras, em cuio domínio o Sol jamais apagava a sua luz...
Repentinamente, as técnicas de governança romana experimentaram a derrocada do Primeiro Tnunvirato. Quando o Segundo também
fracassava, eis que um jovem herdeiro do legado da decadência, Caio Júlio César Otávjo, que a História denominará como Augusto - porque foi
tão extraordinário, que vivendo no século de Jesus, deu-lhe o seu próprio nome, repetindo a façanha de Péricles, no século V, na Grécia -
conseguirá salvar o Império, levando Çleópatra e Antônio ao suicídio covarde...
Aquele jovem soldado simultaneamente transformou- se num administrador extraordinário de que a História guarda as mais saudáveis
recordações. Repentinamente, Roma, que era belicosa, estremeceu nos seus alicerces, e as sandálias que ganhavam as terras, calçando as legiões,
deixaram de levar a marcha cadenciada da vitória, porque Roma iniciava uma época de paz. O santuário da deusa Vitória, em Roma, estava
cerrado, pela segunda vez em 700 anos quase, significando que se estava em paz.
O Imperador, trazendo o corpo marcado por erupções dolorosas, tornara-se um verdadeiro administrador. Esquecera aquele poder de
comando do carro da guerra que tinha nas mãos. Compreendera ue somente se faz um povo fe- liz quando se educa a família, quando se
dignifica a plebe, quando a honradez parte da Casa governamental e palaciana para poder penetrar nos subúrbios e nas favelas, elevando as
criaturas, quevêem, no seu chefe e magistrado, o protótipo da dignidade.
Augusto entendeu que era necessário mudar o comportamento romano e estabeleceu que, .a partir daquela hora, a sociedade manteria o seu
apogeu estribada na paz, no dever e na solidariedade. Desde então, ele próprio cuidou de manter ilibada a corte, exilando para a Ilha da Pan-
datária a filha que se entregava a uma conduta reprochável, herdeira das arbitrariedades dos imperadores transatos.
Posteriormente, aquele homem frágil, que tinha o corpo invariavelmente coberto de ataduras, e que era acometido de constantes resfriados,
mantinha a mão vigorosa para assinar um novo decreto de exílio para sua neta, que também se entregara a dissipações, e, abandonar no tálamo
conjugai a esposa, que se permitia experiências com venenos para libertar-se de adversários políticos, ao mesmo tempo experimentando-os nos
escravos que lhe serviam a casa.
Augusto estimulara o cultivo da poesia, da estética, das artes em geral. Foi, no seu governo, que a Terra adornou-se com a presença de
homens sábios, da talha de Titp Lívio, Mecenas, Salústio, Virgílio, que cantavam as glórias dos deuses diante do Sol maravilhoso, preparando
culturalmente a Humanidade para a vinda de Jesus.
Quantas vezes o próprio Imperador, no Foro, da sua tribuna dourada contemplava Virgílio, a cantar as glórias de Roma e comovia-se:
“0/7/ Sol formoso,
Que diariamente abres e fechas o dia,
Que nunca possas ver nada em teu périplo Que se equipare à grandeza de Roma”
É que, naquele período, fez-se um grane si|êncio para poder-se ouvir a canção incomparável que Jesus cantaria.
A voz da manjedoura se levantaria para entoar hinos de felicidade nas almas, através daquele Menino que transformaria o leito de palha
úmida em uma Via-Láctea de estrelas, porque viera para amar, sendo o próprio Amor não amado, que alcançaria sua qualidade mais excelente,
ao libertar a criatura da masmorra das suas paixões.
De tal forma Ele amou, que se deu a Si mesmo, enquanto o mundo estava acostumado ao espólio dos vencidos, ao legado das coisas
transitórias, que ficam. Ele se imolou por amor, abrindo os braços no madeiro de infâmia, que seria transformado, a partir dali, numa estrada de
regeneração e de felicidade, numa simbologia transcendental, a da haste vertical que busca Deus e a da horizontal que abraça as criãturas.
A "cruz dê Cristo é semelhante a um sabre que se crava na base da Terra, em que o indivíduo rompe a carapaça do sentimento ancestral para
que permita germinar o amor que lhe dorme latente.
Depois que Ele se foi, havendo deixado o Estatuto Legal escrito na paisagem da montanha diante de um pequeno mar de águas tranqüilas que
refletem o luar, ou que se levantam açoitadas pelos ventos repentinos que descem das montanhas, possuímos a carta magna - as bem-aventu-
ranças - que, de quebrada em quebrada, vêm modificando as regulamentações vigentes, chegando aos nossos dias como a mais extraordinária
canção que os ouvidos humanos jamais lograram escutar.
Foi graças à têmpera férrea de Paulo de Tarso que o Cristianjsmo chegou ao Ocidente.
Jesus ressurgiu na estrada de Damasco para aparecer a esse jovem rabino, que se dirigia àquela cidade para assassinar Ananias.
Ao aparecer àquele homem furibundo, detentor dè títulos transitórios, narcisista, por excelência, eis que, dominado pela estranha luz, tomba
da alimária nas areias escaldantes do deserto, deparando-se com o Mestre.
A palavra dúlcida do Desconhecido interroga-o:
- “Saulo, Saulo, por que me persegues?”
- “Quem és tu, Senhor?” - contrapõe ele.
- “Eu sou Jesus, aquele a quem persegues!”
Esse é um dos momentos culminantes da História, porque aquele rabino fanático, odiento e perverso, encontra o seu Senhor, e entrega-se-
Lhe sem qualquer resistência.
Aquele foi um diálogo, no qual o Mestre e o discípulo, o Amo e o servo se defrontaram. Saulo se transformou em um átimo de minuto. Não
perguntou mais nada. Agora, sua pergunta é de submissão, e apenas indaga:
- “Que queres que eu faça?"
- “Vai a Damasco. Ali te será dito o que deverás fazer.”
Graças a esse encontro, Saulo, que viajará com o
nome de Paulo, trará o Cristianjsmo ao Ocidente. Será ele o pré-teólogo, através de Lucas, seu discípulo, que dará sustentação à mensagem.
Somos hoje cristãos porque Paulo teve a coragem de afrontar as perseguições romana e fari- saica do seu povo e, ao lado de Pedro, enfrentar e
arrostar os efeitos do seu atrevimento superior, indo pregar na Dormis Aurea, em Roma, reprochando o caráter de Nero e de Pompeia ante a vida
servil e animalesca a que ambos se entregavam.
A Doutrina de Jesus é um desafio para a criatura humana. Em qualquer fasto da História, em qualquer período, é uma Doutrina de palavras
finais que não dá margem a titubeios nem a posições de natureza ambígua, porque é feita de definições, através das quais o homem e a mulher se
desvelam e se apresentam com as suas potencialidades interiores.
Depois do apostolado grandioso de Paulo, as arenas tiveram, quase todas elas, as marcas da renúncia dos mártires. Todo ideal, já dizia Hegel,
faz-se caracterizar pelas resistências que provocam naqueles que se comprazem no seu modus operandi tradicional.
Mede-se a grandeza de um homemda cabeça para cima, pela força do seu idealismo, pela tenacidade com que o vive, com que o defende e
com que morre por ele.
Os cristãos deram a sua vida a Jesus. Naqueles trezentos anos iniciais de abnegação, a Doutrina Cristã dignificava o ser humano, convocava-
o à revolução difícil: matar o homem velho para dar ensejo ao nascimento do homem novo e à edificação de uma realidade interior capaz de
avançar pelos evos.
Por volta do ano 164 da nossa Era surgiu, na cidade de Alexandria, um movimento que fo| denominado como Escola Neoplatônica, fundado
por um grande pensador grego chamado Amônio Sacas, que, fascinado pela presença de Jesus, pretendia lançar uma ponte entre o Evangelho e o
Platonismo.
Essa escola maravilhosa enriqueceu o Cristianismo primitivo de personalidades superiores na inteligência, que se encarregaram de
demonstrar a excelência do pensamento de Jesus por sobre todas as colocações filosóficas ancestrais.
Amônio Sacas era reencarnacionista e filósofo como Platão e Sócrates, e, por conseqüência, quando criou sua escola, começou a divulgar
também esse ensinamento.
A Escola Neoplatônica é a mais nobre cátedra do pensamento, depois de Jesus. É nela que se irão destacar as personalidades ímpares,
encarregadas de construir a Igreja Cristã primitiva. Esse período será chamado depois como da Patrística, pelo surgimento daqueles que serão
denominados os Pais da Igreja, tais Orígenes, entre outros, que nos ofereceu a sua Doutrina dos Princípios, em que defende a tese dos
renascimentos.
Na mesma época, Tertuliano aparece com a sua Apo- logética; igualmente Porfírio, Proclo, Jâmblico, Eusébio, e toda uma elite de
pensadores, que deixaram pegadas luminosas até hoje, apontando rumos para a plenitude, destacando-se Agostinho de Hipona. que vinculado a
uma doutrina fundamentalista que não correspondia às nobres aspirações do Cristianismo, converter-se-á, escutando a palavra arrebatadora de
Ambrósio, e sendo objeto de um fenômeno mediúnico, ao ouvir uma voz que o orienta a que se volte para Jesus e abandone o Maniqueísmo.
Será Agostinho quem irá fundamentar a teologia do Cristianismo, posteriormente transformado em Romanismo.
Essa doutrina da reencarnação estará demonstrando que a vida é uma sucessão de existências.
Depois, a JHumanidade entraria em decadência. Lamentavelmente, no dia 13 de junho do ano 313, em Milão, a Doutrina do Cristo sofre seu
primeiro colapso, quando jConstantino, o grande adúltero da Sua Verdade, hábil guerreiro, decreta o Edito de M[lãot tornando o Cristianismo
tolerável, fazendo com que ela fosse respeitada em todo o Jmpério através da força do seu poder..
A partir daí, à medida que adquire prestígio social, a mensagem do Cristo começa a perder o brilho e a grandeza. Ele, que se fizera vítima,
agora estava na bandeira dos triunfadores, através da condição de algoz. A doutrina, que multiplicava mártires, passou a ser causadora do
martirológio. O Cristianismo, que encharcava as arenas com o sangue das vítimas passava, a partir desse momento arbitrário, a tentar governar
destinos, encarcerar homens que tinham a audácia de discordar do status quo.
A proposta reencarnacionista prolongou-se, porém, através da História.
Por volta de 552, Justiniano, Imperador do Oriente, convocou o Segundo Concilio Ecumênico de Constantino- pla. Nessa oportunidade, ele
transformou a doutrina da re- encarnação - que era profundamente cristã - em uma crença que deveria ser rechaçada, o que realmente aconteceu,
quando foram condenadas as doutrinas de Orígenes (nas quais se encontra a tese da reencarnação).
Mas, apesar da imposição de Justiniano, a reencarnação prosseguiu florescendo.
A mensagem de Jesus retornou, para restabelecer em plena noite medieval, aquele mesmo sentimento de amor, na figura frágil de Francesco
Bernardone (1182-1226), a quem Ele convocara para tornar a Humanidade novamente feliz.
De tal forma foi Francisco fascinado por Sua ternura que se Lhe entregou em totalidade de dedicação.
A Idade Média perdia-se em sombras. Aquele êmulo de Jesus, no entanto, nasceu para amar ao irmão Sol, à irmã Lua, à irmã Natureza,
deixando na Terra o suave aroma da presença de Deus.
A Igreja, que na época dominava os destinos da Civilização, houvera estabelecido a necessidade da fé cega. Os povos, dominados pelo
temor, aquiesceram em aceitar a tese da imortalidade da alma através de uma imposição teológica, sem entenderem realmente o que estava
destinado ao ser, após a morte, desde que era proibido ao cristão 1er o Novo Testamento.
Passam-se os séculos, amargos e trevosos, da Idade Média. Nesse crepúsculo da cultura é dominante a doutrina arbitrária, que permanece
estruturada em dogmas, mantendo a ditadura do poder espiritual sobre as liberdades do poder temporal.
No ano de 1365 - porque Deus tem pressa - nasce, na República Tcheca (ex-Tchecoeslovaquia), alguém que deverá arrebentar, por primeira
vez, as algemas do dogmatismo ancestral: Jan Huss, que se fará herdeiro da doutrina de Johannes Wyciif (1320-1384), o religioso inglês que
propôs a necessidade de o homem buscar Deus diretamente, sem a necessidade de intermediários.
O pensamento Wyclifiano estabelecia que, através da comunicação direta - criatura e Criador - as bases da verdade alicerçam-se no coração
do homem em toda a puiança da legitimidade de seus propósitos.
O grande Jan Huss, cuio nome tcheco - Huss - significa pato ou ganso, era doutor em Teologia e hábil poliglota, falando grego e latim,
começou a pregar a necessidade de libertar a Bíblia, que era proibida de ser compulsada pelas massas, e mesmo pelos religiosos. Pertencia
apenas aos teólogos. Huss desejava que a Doutrina de Jesus fosse apresentada no idioma nacional e não em latim, para poder ser totalmente
entendida, sendo obrigado a pagar a audácia com a própria vida. E porque era grande demais para o século XIV, adentrou-se a sua luta pelo
século XV.
A intolerância terminou por atraí-lo ao Concilio de Constança, quando seu próprio rei, que lhe prometera um salvo-conduto, negou-se a
assisti-lo, por simples covardia moral, quando ameaçado de excomunhão. Foi julgado e condenado à fogueira em 1415, sendo colocado na pira,
fora dos muros da cidade, a fim de que as labaredas lhe destruíssem o corpo.
É a velha artimanha dos pigmeus contra os gigantes: quando não podem matar as ideias, matam os idealistas, acreditando que, cerceando a
liberdade desses idealistas, destroem as ideias que eles cultivaram. E equivocam-se... Toda ideia, para encontrar campo de projeção na massa,
exige o holocausto do idealista...
Morreu Jan Huss. Um pouco antes, enquanto as labaredas crepitavam, ele, atado ao poste da infâmia, começou a orar a ave-maria, cuio
segundo verso não concluiu, asfixiado pela fumaça e logo após ardendo nas chamas.
Contam as tradições, que naquele momento em que eram colocadas as achas de lenha e se aproximava o criminoso com o archote para fazer
arder a fogueira, ele olhou o céu da sua pátria e proclamou: “Hoje vós assais o pato, mas dia virá em que o cisne de luz voará tão alto que as
vossas labaredas não mais o alcançarão.”
Morreu Jan Huss, deixando um legado, um discípulo, porque a verdade possui um pólen que se demora no ar e vai invariavelmente fecundar-
se em algum coração, como terra generosa, para se transformar numa seara rica. Esse discípulo, Jerônimo de Praga (1339-1416), quase
octogenário, adotou a doutrina de Huss, e foi igualmente queimado, no ano de 1416, seguindo o seu mestre, e também vitimado pelo crime de
proclamar a necessidade do amor acima das hierarquias e da vulgaridade que tomava conta do clero, na época.
Mais tarde, em princípios do século XV em Domrémy, Joana d’Arc (1412-1431), ouviu as vozes de Santa Catarina, Santa Margarida e São
Miguel Arcanjo e saiu a lutar, aos 14 anos, para restaurar a paz e a hegemonia da França. Tomando-a dos ingleses, conseguiu coroar, em Reims,
como Imperador, o seu rei, Carlos VII, que a traiu vergonhosamente, juntamente com o bispo de Beauvais, Pierre Gauchon, sendo também
queimada viva como feiticeira, na praça central de Rouen.
Diz a psicologia que temos um doce paladar pelo mito, que gostamos da fantasia e que se encontra embutida em nós a presença mitológica,
que abandonamos a realidade para vivermos esses arquétipos: satanás, o diabo, feitiçarias e muitos outros com os quais nos comprazemos.
Ainda hoje acredita-se no diabo como um ser real, que tem poder equivalente a Deus, que pode arrebatar as almas, e Deus, onipotente, deixa-
as serem levadas pelo tridente satânico, a fim de serem queimadas no fogo eterno do inferno, longe da Sua misericórdia e compaixão.
Joana d’Arc pagou pelo crime de amar, e foi queimada viva ante a indiferença do monarca a quem ela coroou. Em um de seus diálogos, teve
a oportunidade de dizer: “Deus meu, Deus meu!, as minhas vozes me enganaram; pois que me disseram que dentro de três dias eu estaria livre...”
Quando as labaredas começaram a crepitar e aquele mesmo bispo Gauchon improvisou uma cruz de hipocrisia para ela beijar, arrependida -
não sabemos de quê - a mártir teve a coragem de dizer: “Sobre a vossa consciência coloco o crime da minha morte”.
O pusilânime, envergonhado, saiu da praça, no momento quando ela teve uma iluminação, exclamando: - “As minhas vozes tinham razão!
Em três dias, a liberdade que proclamavam era esta, porque morte é libertação.” E morreu sorrindo.
A noite medieval permaneceu, e no dia 5 de agosto de 1492, uma estranha procissão saiu da igreja de Santa Maria Maior, na direção do
Vaticano, carregando sobre os ombros na sedia gestatoria12 Alexandre Borgia, que se fez eleger por métodos inescrupulosos como o Papa
Alexandre VI.
Imediatamente, ele faz com que seu filho, César, seja nomeado Cardeal aos 13 anos de idade, e brinda-o com uma região da Itália, a Emilia
Romagna, para que possa ali exercer o seu cardinalato. À sua filha Lucrécia, menina de 12 anos aproximadamente, obriga-a a um casamento que
(12) SEDIA GESTATORIA - Trono portátil no qual se carre ga o Papa durante cerimônias públicas.
não se consumará por ser-lhe o marido incapaz, mas que era necessário , para atender a imposição do Estado...
Esse período triste do papado parece encerrado mais tarde quando a mare13a toscana('Z) arrebata a vida de Alexandre VI, subindo ao trono
pontifício, para ocupar o seu lugar - igualmente através de simonia e reuniões arbitrárias - o Papa Júlio II (1443-1513), chamado o Papa
Guerreiro, que viveu mais tempo montado em cavalos nas lutas por conquistas terrenas do que na atribulada cadeira denominada de São Pedro.
Temperamento vigoroso, alma cheia de hostilidades, ele se tornou benfeitor das Artes. Exigiu que Miguel Ângelo ficasse praticamente
encarcerado na Capela Sistina, e morreu pouco tempo depois, vitimado de apoplexia, entre estertores de úlceras que lhe dilaceravam o
organismo.
No fim do século XV, a partir da Escola de Sagres, começou a definitiva mudança. Espíritos de alta estirpe re- encarnaram-se na Ibéria,
abrindo as portas do mundo para as navegações audaciosas, dessa forma ampliando as dimensões da Terra, enquanto que, na Itália,
principalmente, Nicolau Copérnico (1473-1543), libertava a Cultura do Sistema Geocêntrico.
É nesse momento que subiu ao papado Leão X (1477- 1521).
A Europa estava historicamente desorganizada com a Alemanha a lutar contra a força dos operários e camponeses; os príncipes aldeães
armavam-se, a decadência espalhava-se por toda parte, os cofres do Vaticano estavam vazios, com os Estados papais em guerra contra os
Estados italianos.
Nesse ínterim, sumamente grave, o Papa Leão X, para recolher benefícios, proclamou a necessidade das indulgências, o Reino dos Cji-méus
a peso de ouro; todo crime é passível de perdão, desde que se compre a indulgência papal. Os seus emissários vendedores das referidas
indulgências com autorização para tais concessões partem pela Europa, atendendo ao nefando impositivo.
A Alemanha, naquele momento, abrigava uma das personalidades mais notáveis da época: o agostiniano Marti- nho Lutero (1483-1546).
Conta-se que, certo dia, caminhando pela biblioteca do mosteiro, Lutero encontrou um pequeno livro todo em ilumi- nuras(14) e começou a
compulsá-lo. Deslumbrou-se. Trata- va-se de O Evangelho de Jesus, a antítese do que lia nos tratados de Teologia.
Faz-se, então, tomado de irresistível atração pelo Rabi Galileu, ele que já era amante do Mestre. Quando chegou a notícia das indulgências,
rebelou-se, passando a lutar contra a impudência, proclamando a necessidade do livre exame, da propagação da doutrina no idioma nacional,
contestando o poder do Papa... Para ele, o incesto, o adultério, o aborto, o uxoricídio, o genocídio não podiam receber o perdão divino, mesmo
que a espórtula atingisse a mais alta soma, ofertada por quem cometera a arbitrariedade.
Lutero protestou com veemência. Não obstante, foi convidado a apoiar as reivindicações papais. E porque a sua alma rebelde e sonhadora
sentisse necessidade de alargar os horizontes do Cristianismo, na Terra, não aceitou submeter-se, foi ameaçado de excomunhão.
A excomunhão era tão terrível que os imperadores cur- vavam-se ante a sua simples ameaça. Não esqueçamos que a Idade Média, a Grande
Noite, permitia que a ignorância, a superstição, as pandemias tomassem conta da Terra. Mas, naquele momento, em pleno século XVI, depois da
viagem de circunavegação, da descoberta da América e do Brasil, naquela ocasião em que os horizontes do planeta se alargavam, já não seria
possível manter-se a mesma postura cultural.
Em face da sua coragem Martinho Lutero, naquele 1515, assinalou uma Era nova: o Evangelho de Jesus é libertado dos teólogos e qualquer
pessoa poderá lê-lo... Na oportunidade, já se pode contar com a contribuição da Imprensa, ensejando que o instrumento de Gutenberg mude a
estrutura do pensamento vigente. Foi o primeiro grito de liberdade na História um pouco antes do renascimento das Artes. É o momento de
mudança dos destinos históricos.
Ele foi excomungado. Mas porque tinha a fatalidade de libertar o Evangelho, sobreviveu à sanha da Inquisição. A palavra de Jesus começou
12
(14) ILUMINURA - Pintura a cores nos livros da Idade Média; colorido sobre marfim ou pergaminhos.
13
(13) MAREMA TOSCANA - Impaludismo, malária.
a ser publicada em idioma nacional, o alemão e, um pouco mais, espalhar-se-ia por terras europeias, nos respectivos idiomas dos diferentes
países. Lutero apresentou, de início, uma visão nova do Cristo, aquele Cristo libertador, amoroso.
Imediatamente, João Calvino (1509-1564), em Genebra, examinando os postulados luteranos, arrebatou-se com essa doutrina e resolveu
adaptá-los à sua compreensão.
Calvino será, talvez, o primeiro crente a discrepar de Lutero. A doutrina avança pela Suíça de língua alemã. Chegando a Zurique, Ulrich
Zwinglio (1484-1531) procurou fortalecê-la, realizando adaptações próprias ao seu temperamento.
Os anos passaram-se. As perseguições contra Lutero fizeram-se cada vez mais crueis. Ele apoiava os príncipes alemães, e naturalmente,
nesse dealbar de conflitos, concordava também com a perseguição movida pelos príncipes contra o proletariado, os camponeses,
desconsiderando a proposta de Jesus, que viera para aqueles que não têm lar, conforme enunciara: uAs aves dos céus têm os seus ninhos, as feras
os seus covis, mas o Filho do Homem não tem sequer uma pedra para reclinar a cabeça...”
Era natural - entende-se - que em pleno século XVI as paixões violentas dominassem os sentimentos das criaturas e houvesse então uma
forma de derrocada na preservação dos valores aceitos. Entretanto, chegou um momento em que Lutero viu-se tão acossado que perdeu as
resistências morais e reagiu, retribuindo cada agressão sofrida por outra desencadeada.
Segundo os melhores historiadores, ele teria proclamado: “Matem-nos; matem a todos os que estão contra nós”. Jesus, no entanto, ensinara:
“Eu venho para que tenhais vida, e vida em abundância. É necessário que vos ameis uns aos outros para que todos saibam que verdadeiramente
sois meus discípulos, que serão conhecidos por muito se amarem".
Não obstante, o pensamento de Lutero conseguiu cindir a noite medieval.
A Humanidade começou a pensar.
É nesse período que o Renascimento italiano apresenta ao mundo Rafael Sanzio (1483-1520) e Michelangelo (1475- 1564). As Letras são
agora aprimoradas, como se uma revoada de estetas descesse à Terra, em fulguração de estrelas, tomando a forma de homens e de mulheres, a
fim de apagar a noite medieval, apresentando as claridades da beleza, da literatura, das artes ao nascer de um Mundo novo.
Enquanto a sociedade ainda se encontra atormentada pelo divisionismo, Teresa (1515-1582), cheia de reumatis- mos e de febres, em Ávila,
sob o guante de uma monja que lhe tinha inveja, limpando o chão do monastério daquela cidade úmida, conversava com Jesus: “Eu nasci para Te
amar, mas é necessário que Tu vivas e eu morra, para que eu morra e Tu vivas."
Um dia, quando as monjas desceram ao locutório, Teresa d’Âvila flutuava, nimbada de peculiar claridade, que a adornava em beleza ímpar.
Outra vez, enquanto se confessava com São João da Cruz, em um hino de amor e de beleza, as monjas viram-nos flutuar. Uma estranha luz
que descia do Mais Alto, envolvia-os numa claridade diáfana. A Doutora da Igreja, a mulher que reformulou o Carmelo, deixou uma estrada de
peregrino amor àquele Amante não amado, que até hoje esplende como a Luz dos séculos.
É nesse período, quando a Reforma se alastra pela
Europa, que o Cardeal Charles de Guise, (1550-1588) e a Duquesa de Nemour, influenciam a Rainha Catarina de Mé- dicis (1519-1589) para
que reaja contra os calvinistas, aproveitando-se dos dias em que Paris recebe imensa quantidade deles para o casamento de Margarida, sua filha.
A trama é urdida no silêncio dos corredores e no gabinete da rainha, que tutela o filho algo mentecapto, Carlos IX (1550-1574), tímido e
covarde, que não tem a coragem de assumir a responsabilidade, enquanto ela, de caráter viril, exige-lhe uma decisão contra a peconha que
invade a Europa, em especial a França.
Em verdade, Catarina desejava alcançar a Holanda, na guerra de religião, para se vingar de certo modo de poderes arbitrários que lhe foram
negados. Anos antes, ela houvera assinado uma Aliança com o Duque de Alba (Espanha), por volta de 1555, nos Pirineus, já preparando uma
revolução de ordem religiosa, mas da qual estava oculta a realidade política da sua ambição contra a Holanda.
Naquela noite fatídica de 24 de agosto de 1572, depois de um complô no escuro das Tulherias ela saiu vitoriosa, e levou ao filho o
documento de que necessitava:
- Assina-o! - Impõe-lhe com habilidade.
Ele titubeia:
- Mas irão morrer muitos!
- Assina-o, ou te renego! - propõe, arbitrária.
Carlos IX tem uma crise nervosa. Assina o documento
e brada, em desequilíbrio:
- Matai-os! Que se matem a todos!
Ela saiu triunfante. A Duquesa de Nemour, cientificada, toma de um candelabro com uma vela acesa, vai para a parte posterior das Tulherias
e movimenta na treva da noite aquela claridade significativa de tragédia. Na igreja defronte de Saint-Germain lAuxerrois o sacerdote badala o
sino. Foi deflagrada a tragédia da Noite de São Bartolomeu. A matança estende-se além de Paris, pelos arredores, pelo país, e a França adquire o
carma terrível, que irá resgatar mais tarde.
É nessa ocasião de absolutismo do poder temporal, numa aliança terrível com o poder espiritual, que o Cristianismo experimenta um outro
grave e profundo fracasso.
Mas a trajetória da Luz não pára.
Quando raia o século XVII, já se pode pensar em termos de ciência. Fazia pouco que Galileu Galilei(1564-1642), discrepara da Bíblia,
quando tivera a ousadia de dizer que a Terra girava em torno do Sol e não este em volta daquela. A velha teoria de Ptolomeu, apoiada por
personalidades de alto gabarito do Clero, agora estava ameaçada por um pequeno telescópio doméstico, apresentado por Galileu, que
demonstrava o movimento do planeta.
Condenado a desdizer-se, quase octogenário, humilhado em praça pública, ele se contradiz, mas anotaram alguns historiadores que, apesar da
intolerância clerical, ele afirmou que a Terra, por si mesma, se move.
A Humanidade entrou então em definitivo, num período de franca libertação da ignorância, investindo contra os dogmas ultramontanos,
desde quando surgiram René Descartes (1596-1650), que cogitando, interrogou ser o homem matéria ou energia, aprofundando o conceito do
Dualismo; Thomas Hobbes (1588-1679), Pierre Gassendi (1592-1655), John Locke (1632-1704) e muitos outros, que ressuscitaram o
pensamento atomista, surgindo novo antagonismo entre espiritualismo e materialismo.
Já não se podia deter o conhecimento cultural. O século estava iluminado pelas ideias de Sir Isaac Newton (1642- 1727), de Kepler (1571-
1630), que mourejaram em favor da de- cifração de algumas incógnitas do Universo; brilha, também, a alma grandiosa de Biaise Pascal (1623-
1662), estabelecendo os conceitos matemáticos da vida, fazendo-se um místico nos seus pensamentos cristãos, lançando as linhas fundamentais
de uma nova cultura. As leis universais se apresentam fora dos códigos e dos trâmites da natureza teológica. Já não se pode mais viver
amordaçado ao dogma ancestral.
Kepler, depois de haver descoberto as leis básicas do Universo, proclamou: “Elas me deram a dimensão de Deus.” Newton, depois da Lei da
Gravitação Universal, fas- cina-se, cada vez mais, ante a magia da matemática divina, e quando se apresenta o pensamento de Leibnitz (1646-
1716), Thomas Reed propõe uma nova cultura, baseada na pesquisa da Ciência e sustentada na base da religião, mas uma religião racional, que
se fundamente na investigação experimental.
A Humanidade venceu a noite medieval, e apareceu a Ciência que investiga, a Filosofia que informa, ensejando ao século XVIII a Revolução
da França, os direitos do homem, as liberdades democráticas e... a revolta contra Jesus...
“Deus? - interrogou Pedro Gaspar Chaumette, no dia 10 de novembro de 1793, em Notre-Dame - onde está Deus? A fé tem que ceder lugar à
razão. A França dispõe da razão; não mais necessita de Deus.”
Aquele Deus que estava amortalhado no dogma, que perecera na ritualística, que silenciara a voz na liturgia, fora desdenhado por Voltaire
(1694-1778): “Não creio no Deus que os homens fizeram - declarava - mas creio no Deus que fez os homens”, abrindo espaços para Condorcet
(1743- 1794), Montesquieu (1689-1755) e Diderot (1713-1784), estabelecerem uma nova filosofia ética e revolucionária, que desaguaria, mesmo
que não se dessem conta, nos direitos humanos.
Quando o século XVIII estava no auge, o pensamento de Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria (1738-1794), em um pequenino livro Dos
Delitos e das Penas, procurava mudar a trajetória arbitrária das leis. Não é possível conceber-se que as confissões humanas sejam arrancadas
através do uso do chumbo derretido, do azeite fervente, da roda, apresentando, de certo modo, o primeiro código legal mais compatível com a
dignidade humana, levantando-se contra a pena de morte.
E Bonesana explica a grandeza do homem, inspirado em Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que publicara o célebre Do Contrato Social.
Rousseau aceitou a pena de morte, não tendo coragem de investir contra essa indignidade proposta por algumas leis.
Nesse comenos, o assentimento de uma nova filosofia ética foi sendo absorvida pela alma jovem americana que, no ano de 1787 libertou a
Filadélfia, laborando em favor da independência do país, logo seguida no Brasil pelo proto- mártir da Independência, José Joaquim da Silva
Xavier, o Tiradentes.
Logo depois, em um dia de julho, no Café de Paris, em Montmartre, um grupo de audaciosos poetas, literatos, filósofos, jovens - porque
todas as revoluções libertárias foram feitas pelos jovens, de corpo ou de alma - após um discurso que Camille Desmoulins (1760-1794) acabara
de proferir, a massa avançou na direção da Bastilha...
Naquele memorável 14 de julho de 1789, começou a Revolução Francesa. Ao cair a Bastilha, não foi somente uma velha fortaleza medieval
que tombou, o maior depósito de pólvora da Europa, mas toda uma forma de vida - a Casa dos Bourbons, a dominação arbitrária dos reis e o
respectivo direito divino dos reis...
Como é natural e inevitável, toda demolição, às vezes, peca pelo excesso, e toda revolução como decorrência das necessidades de alterações
profundas nas estruturas sociais e políticas.
Foi o que aconteceu. Imediatamente, no ano de 1793.
Terminando o discurso de Chaumette, uma jovem bailarina do Teatro da Ópera de Paris, de nome Candeille, vestida como a deusa Razão, foi
colocada em um andor improvisado, enquanto uma procissão, carregando-a, fez a volta em torno de Notre-Dame, apresentando a nova divindade
da França. Nessa oportunidade, o cidadão Jacques Dupât ergueu-se e proclamou: “Ciência e Razão, eis os meus novos deuses, diante dos quais
não existem outros!”
Retornou a intolerância. Aconteceu o episódio do terrível setembro negro, quando as patas dos cavalos ficaram cobertas do sangue das
vítimas da arma de Joseph Guillotin. Ele próprio, mais tarde, teve também a cabeça decepada...
Tinha-se a impressão de que Deus cerrara Suas pálpebras, nos penetrais do Infinito, ante as arbitrariedades
praticadas em nome da Revolução. A França resgatava, duzentos e poucos anos depois, daquela forma, o crime da Noite de São Bartolomeu.
Quando o país entronizou a Razão e arrebentou os objetos de culto das igrejas, sendo Deus expulso pelo atrevimento de oradores inflamados,
eis que, pouco tempo depois, a ela retornou, agora através do Decreto audacioso de Napoleão Bonaparte, que se tornara o Primeiro Magistrado,
havendo firmado uma concordata com o Papa Pio VII, a segunda na história francesa, a fim de que, no dia 2 de dezembro de 1804,
autoconsagrasse-se Imperador.
Napoleão mandara buscar o Papa, no Vaticano, e na mesma monumental igreja gótica de Notre-Dame, na hora em que o Sumo Pontífice ia
coroá-lo como Imperador, ele quebrou o protocolo, tomou a coroa e autocingiu-se, repetindo o gesto em relação a Josefina, produzindo um
frisson na multidão estarrecida, enquanto um coro de duzentas vozes entoava a peça especialmente preparada para aquele momento, chamada
Pompa e circunstância.
A França voltava a trazer Deus outra vez, para que, no ano de 1815, na cidade de Nimes, às margens do Loire, a intolerância matasse 30.000
protestantes huguenotes, pelo crime de amarem a Deus conforme sua própria forma de crer.
Dealba, logo depois, o século XIX, chamado o Século das Luzes, que estava fadado às grandes revoluções, glorioso em todas as áreas da
ciência e do pensamento. Os laboratórios erguem-se, a Ciência sai dos porões, a Filosofia subleva-se e as religiões dominantes tremem nas suas
bases. Se é verdade que o espiritualismo ortodoxo estava na retaguarda, a Ciência caminhava pelas ruas de Paris, de Londres, de Berlim, graças
aos grandes gênios que a promoviam.
De um lado, eram as descobertas de Pasteur, de Semmelweis, as pesquisas extraordinárias de Koch, de Lister, as indagações notáveis
daqueles homens, que na microbiologia encontraram a vida e seus fatores de preservação. É o momento de encontrarmos Paul Pierre Broca e o
admirável Jean Martin Charcot, nos seus campos de investigação aumentando os conhecimentos humanos.
Do outro, eram o pensamento filosófico de Marx, Engels, Heine, que tinham necessidade da Razão pura para libertar a natureza humana do
caos.
Em 31 de março de 1848, em Londres, Karl Marx apresentou o seu Manifesto Comunista, e entre as várias frases por ele enunciadas, uma há
que chocou a cultura religiosa: UA religião é o ópio das massas”.
Havia analisado Karl Marx que as religiões condenavam o absurdo dos ditadores, e quando esses morriam, absolviam-nos, realizando missas
de corpo presente e/ ou outras cerimônias, e davam-lhes o reino dos céus... Pediam aos camponeses que se submetessem às suas arbitrariedades,
às suas imposições ilegais e imorais, aos crimes que praticavam impunemente, para ganharem o Reino dos Céus, que era dos humildes, dos
submissos, mas também, por outro lado, salvava aqueles que podiam comprar, através das exéquias fúnebres e de todos os rituais que eram
celebrados em sua memória, o mesmo reino...
Apesar de todo o esforço dos cientistas, a fé cega tentava ressurgir, mas é também nesse período que filósofos como Arthur Schopenhauer
(1788-1860), Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Augusto Comte (1798-1857), proclamam: “Deus? Deus morreu! As igrejas e as catedrais -
como dizia o louco do Assim falava Zaratustra - são os mausoléus de Deus”. Comte teria acentuado: “Se existe vida depois da vida, não importa,
mas proponho a religião da humanidade, que é feita de dignidade, do bem-proceder e, se não a houver, viveu-se, por antecipado, a compensação
natural.”
Schopenhauer sugeria o suicídio como solução para os problemas da vida. É necessário morrer, porque a vida só tem amarguras, só
desencantos e com a morte tudo se acaba.
Conta-se, sem qualquer documentação do fato que, em uma das suas aulas, um jovem aluno interrogando seu mestre, teria mantido o
seguinte diálogo:
- É verdade que o suicídio é a solução?
- Sim, sem dúvida!
- Mas o mestre já viveu uma larga existência...
- Sim, sim.
- Deve ter tido muitas vicissitudes...
- É natural!
- E por que não se suicidou?
Ele teria respondido, filosoficamente:
- Se me suicidasse, quem iria ensinar-lhes a suicidar-se?
Era, indubitavelmente, um filósofo...
No ano de 1870 foi decretada a morte do Cristianismo, graças ao dogma da infalibilidade papal.
O bispo Strossmeyer levantou-se, no Concilio malfadado , e com sua palavra empolgante, rebelou-se contra o absurdo...
Foi, nesse momento grave da cultura e da civilização, que surgiu a Ciência Espírita, originada na observação e no estudo de fenômenos que
sempre pertenceram à História. Em qualquer das suas páginas, eles estão presentes. A Paleontologia, por exemplo informa-nos que, no período
paleolítico, o homem primitivo colocava a cabeça dos seus cadáveres à entrada da furna, para espantar as almas que retomavam a fim de
perturbá-lo. Ainda no paleolítico, acre- ditava-se que as pedras-rituais, os seixos colocados em volta das fogueiras, tinham por finalidade
recordar as personalidades que haviam morrido no clã e ali estavam sendo reverenciadas.
Através da História, seja do Oriente ou do Ocidente, e por meio das personalidades mais notáveis, a imortalidade da alma sempre fez parte de
todas as nações, de todas as filosofias.
Heródoto de Halicamasso, historiador grego, narra que, no século VI antes de Cristo, Creso, Rei da Lídia, o homem considerado mais rico do
mundo de seu tempo, mandou concis) CONCILIO VATICANO I (1869-1870) sultar no santuário de Delfos o deus Apoio para que o aconselhasse a
respeito da batalha que deveria travar contra Ciro, Rei da Pérsia, sendo orientado para que tivesse cuidado, evitando ser derrotado, conforme
aconteceu depois....
Outros historiadores insuspeitos referem-se, por exemplo que, no século V, na Grécia, Pausânias, general espartano, condenado a morrer à
fome no templo de Minerva, ali foi visto várias vezes pelos que freqüentavam aquele santuário, e que Periandro, de Corinto, um dos sete sábios
da Grécia, depois de haver assassinado a esposa Melissa, evocava-lhe o espírito através de uma sensitiva da Desdêmona.
Se recorrermos também à Bíblia, ela se nos apresenta como o livro das comunicações espirituais. Todos os profetas mantiveram contato com
o mundo transpessoal.
Se examinarmos, em particular, Samuel, o último dos juizes, encontraremos o relato a respeito do encontro do rei Saul com a pitonisa, ou
feiticeira de En-Dor, quando Saul resolveu consultar Samuel, homem sábio e justo. (I Samuel, 28, vv I a 25). Ao fazê-lo, a pitonisa reconheceu
que não podería realizar tal consulta, pois havia sido proibido evocar os mortos através de um decreto do rei Saul.
Ele estava disfarçado. Olhando-o, porém, com cuidado, ela identificou com sua clarividência que o visitante era o próprio rei. Ele então lhe
propôs: “Pede para descer Samuel, pois se fui eu quem proibiu a evocação, eu te libero para fazê-lo.”
Apareceu Samuel, em espírito, e dialogou com Saul, pedindo-lhe que cessasse a guerra, pois que, do contrário, se perseverasse, ele e a
família real, logo mais, pagariam com a própria vida a audácia de continuar os combates.
Se recorrermos a Moisés, (Nm.11, 26 a 29), recordar- nos-emos de Medade e Eldade, os dois jovens que profetizavam. Quando o grande
legislador foi notificado por alguém que pedia providências para aquele “absurdo”, ele respondeu com certa melancolia: “Que felicidade seria se
todo o povo pudesse profetizar e que o Senhor lhe desse o Seu Espírito”.
A Bíblia está repleta de anjos, de espíritos, de seres desencarnados que retornam para demonstrar que este é um mundo transitório e, aquele,
é um mundo real.
E a vida de Jesus, anunciada pelos anjos? Precedido pelo Batista, Ele se tornará o Senhor dos Espíritos, dialogará com as entidades
sofredoras, aqueles espíritos perversos e impuros, na palavra bíblica, os espíritos imundos, tendo autoridade sobre eles, expulsando-os.
Mas, Ele próprio, depois de Sua morte retorna várias vezes para demonstrar que a morte não é o fim da vida, sendo apenas uma porta que se
abre de uma dimensão para outra. Ele fala para Maria de Magdala; aparece no Cenáculo; apresenta-se a dois viandantes na estrada de Emaús;
reaparece na Betânia, no dia da ascensão, diante de praticamente quinhentas testemunhas, e volta à estrada de Damasco para falar ao jovem
rabino de Tarso, Saulo.
A doutrina de Jesus é toda apresentada através de comunicações espirituais. Também, através da História, constataremos que Francesco
Bernardone, preparando-se para a guerra e tendo um sonho no qual lhe aparece Jesus, como também mais tarde, nas águas do Spoleto, outra vez,
e, posteriormente, em diversas oportunidades, sempre reerguendo a Igreja, que estava combalida no século XII.
O mundo espiritual sempre trouxe à Terra a revelação de que a vida continua, qual ocorrería no século XIX, quando fenômenos inusitados -
que foram, portanto, de todas as épocas, repetimos - começam a movimentar as mesas, a chamar a atenção. Surge um novo divertimento: as
mesas falam, agitam-se; mesas pé-de-galo, ou tripóides: um tampo arredondado, uma haste central, três patas... Pode-se perguntar-lhes que
respondem, através de raps, de ruídos, de sinais.
Esses fenômenos ficaram mais evidentes na noite de 31 de março de 1848, na América do Norte, no mesmo dia em que nasceu o
materialismo dialético marxista, em Londres. Surge, então o Espiritualismo, mostrando que a morte não é a destruição da vida, sendo apenas
uma ponte entre o corpo e a realidade do ser espiritual.
Logo após, evidencia-se Alfred Russel Wallace (1823- 1913), o companheiro de Charles Darwin, que renunciara à honra de ser o pai da
Teoria Evolucionista, para ceder ao seu colaborador a oportunidade de apresentá-la à sociedade dialética de Londres, em 1859.
Igualmente surgiríam Ludwig Lazarus Zamenhof (1859- 1917), o criador do Espéranto, a Língua Internacional; Samuel Hahnemann, o pai
da Homeopatia, e outros tantos, que tornaram a vida na Terra portadora de melhor qualidade e o ser humano mais dignificado, sob o apoio de
uma pleiade de apóstolos incomparáveis, do Pensamento, da Ciência e do Bem.
O século XX tem pertencido à tecnologia, à cibernética, à biônica, à computação, à engenharia genética. A Humanidade, porém, está
saturada de tantos descobrimentos e conquistas. Agora tem necessidade de beleza, de arte, de religião, de amor, de novas formulações que os
apóstolos espirituais virão trazer. Tudo demonstra que, em poucas gerações, aqueles que desencarnaram na perversidade, na ação do mal, não
mais reencarnarão no Orbe terrestre, sendo substituídos pelos bons, e esses promoverão o progresso da Terra e a transformação moral do planeta
estará sendo realizada sem que transcorram muitos séculos, já que o progresso multiplica-se por si mesmo.
Desaparecerão, então, a violência, as grandes epidemias, pois a criatura humana já não necessitará dos sofrimentos físicos mais grosseiros,
em face do progresso espiritual, que lhe considerará méritos para superar as enfermidades degenerativas, aquelas que desgastam o corpo de
forma cruel, os transtornos psicológicos, os desvios de conduta, abrindo espaços para outras expressões evolutivas. Nossas dores passarão a ser
aquelas de natureza moral, as emocionais, como a solidão, as frustrações, as ansiedades, pertencentes aos conflitos psicológicos, caso não
resolvamos a nossa realidade interna e as necessidades que dizem respeito ao ser profundo que somos.
Nessa Nova Era que está próxima, já não nos reencarnaremos com esses dramas que afligem a atualidade, porque traremos no íntimo
perfeitamente lúcida e detectada, a presença divina que, por enquanto, mantemos adormecida. A sós ou acompanhados, estaremos plenos de paz
e ricos de espiritualidade. Nos dias porvindouros, quando o crime, a fome e a miséria estarão em museus, a posteridade, examinando a realidade
humana de que hoje somos instrumentos, poderá interrogar como nos foi possível passar por períodos tão calamitosos!...
19 O ADVENTO DO ESPIRITISMO
O ano de 1804 foi de uma glória estelar. Na cidade de Lyon, no dia 03 de outubro, havia-se reencarnado Jan Huss, na personalidade de
Hyppolyte Leon Denyzard Ri- vail, sendo este o pato que fora queimado, e que agora será transformado no Cisne de luz que as labaredas
inquisitórias não mais alcançarão. Nasceu em um lar católico, foi educado em Yverdun, na Suíça, junto ao eminente Pestalozzi, protestante,
considerado pai da Pedagogia Moderna.
Compulsando a Bíblia, desde a infância, preparou-se para os grandes vôos. Tornou-se mestre. Veio para Paris e criou o Liceu Polimático.
Casou-se com a extraordinária poetisa Amelie Gabrielle Boudet, mais velha do que ele nove anos, numa atitude de sabedoria, para poder contar
com a grandeza dessa mulher que será o suporte emocional e afetivo da sua vida. Ao lado de cada homem triunfador há, invariavelmente, uma
mulher grandiosa dando-lhe a mão, transformada em círio votivo, sempre aceso, para que tenha claridade pelo seu caminho...
O Professor Rivail apresentou para a Sorbonne várias obras, opúsculos, programas; escreveu uma gramática sobre a conjugação dos verbos
irregulares franceses, recebendo uma comenda oferecida pela Universidade de Arrás... No ano de 1854 ouviu falar pela primeira vez a respeito
dos insólitos fenômenos das mesas falantes e girantes. Homem racional, e profundamente estudioso dos problemas huma- nos, meneou a cabeça,
céptico, esclarecendo: “Não posso crer que uma mesa, destituída de cérebro e nervos, possa pensar”... E porque era muito lógico, concluiu até
aue me provem o contrário!”.
Esse contrário, ele terá ocasião de constatar na última terça-feira de maio de 1855 quando foi à residência da Sr.a Plainemaison, em Paris,
para assistir a uma dessas curiosas experiências.
Ali encontrou uma grande sensitiva que era dotada de dupla vista e de sonambulismo, bem como pessoas versadas em diversos ramos do
conhecimento.! Quando se fez o círculo, a pequenina mesa começou a saltar sem contacto humano, respondendo às questões que lhe eram
formuladas através de sinais adrede convencionados: para sim, um rap; para não, dois raps, para talvez, três. Alguém ia dizendo o alfabeto e, na
letra que lhe comprazia, a mesa emitia um ruído, formando palavras e frases.
Ele ficou intrigado. Pela primeira vez viu a mesa ani- mar-se de um estranho e curioso fluido, a dar-lhe respostas racionais.
Começou a investigar. Em determinada ocasião, indagou:
- Como pode você responder de forma inteligente, se não pensa?
Ele havia apresentado problemas de ética e matemática, formulara perguntas mentais nos idiomas não falados pelos presentes - pois que era
poliglota - e a mesa lhe contestara com absoluta segurança e perfeição, na língua em que fora formulada a questão. Deu-se conta de que era algo
muito mais sério do que pensava. Não era um divertimento infantil.
- Não é a mesa que pensa - veio a resposta - Somos nós, as almas dos homens que viveram na Terra que falamos...
Abriu-se um painel novo; começando o enfrentamento, agora uma nova saga.
O professor Rivail foi estudar os fenômenos, pesquisar essa magna questão. Recebeu de um velho amigo, o Sr. Baudin, cinqüenta e oito
cadernos com anotações, realizou sessões compas filhas desse nobre companheiro, e depois de um trabalho exaustivo e profícuo, no dia 18 de
abril de 1857 apresentou, em Paris, o resultado de suas observações em uma obra, à qual deu o nome de O Livro dos Es- pírMs.
É aquele o momento de nascimento da Ciência Espírita.
O incêndio da imortalidade da alma começou a lavrar em terras parisienses, alargando-se pela França, Bélgica e demais países francófonos,
para depois tomar conta do mundo.
Quando Kardec publicou a Revista Espírita, em janei- ro de 1858, sua correspondência se estendia ao norte da África, à Inglaterra e a outros
países, recebendo notícias de que uma Nova Era estava dominando a Terra.
O mestre Rivail se utilizou do pseudônimo de Allan Kardec, abrindo um leque em torno da Filosofia, da Ciência, da Religião, estribadas na
mais alta moral, para oferecer ao ser humano os equipamentos indispensáveis a uma vida feliz. A adoção desse pseudônimo deu-se para que suas
obras fossem examinadas não pelo autor, ou pelo fato de ser ele um homem famoso, mas pelo seu conteúdo literário e científico.
Nasceu, pois, a Doutrina Espírita, que tem como tarefa precípua a restauração do Cristianismo e sua libertação das interpretações
perturbadoras, vinte e três anos antes de seu homicídio ocorrido em 1870, por ocasião da decretação da infalibilidade papal, tornando-se Kardec
o Missionário da Fé Raciocinada.
20 A PROMESSA DE JESUS
Os ensinamentos de Jesus transcenderam Sua época. “Tenho muita coisa para dizer-vos, mas não podeisenteix- der-me. Mandarei alguém
para poder repetir minhas lições - que seriam esquecidas - e dizer-vos coisas novas, que ainda não podeis suportar.”
Aquelas que podíamos suportar, não foram entendidas...
“Se me amais, guardai os meus mandamentos. Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco - o
Espírito da Verdade, a quem o Mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; vós o conheceis, porque ele ficará convosco para
sempre. Mas, o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem meu Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará
recordar de tudo o que vos tenho dito.” (João, XIV, v 15 a 17 e 26).
Esta Doutrina, que hoje está na Terra reunindo os homens para uma mudança comportamental; esta Doutrina que é a Ciência que afirma - e
prova -, que é a Filosofia, que explica - e consola -, que é a Reljgião que religa - e propõe a salvação, mediante a transformação moral do §e r
humano-, é Jesus pedindo espaço, na manjedoura úmida das nossas paixões, para nascer e renascer, e aqui pontificar num império de luz onde
possamos dar-nos as mãos e repetirmos a canção de Frei Bonnaventura, de solidariedade à irmã natureza, ora agredida e malsinada.
A galeria dos sábios que se ergueram para afirmar a excelência da Doutrina Espírita, é expressiva. Eminentes investigadores como Gabriel
Delanne, Ernesto Bozzano, .Ermacora. o Juiz Edmond, de Nova Iorque, Conan Doyle e William Crookes. Lombroso e Aksakof e tantos outros,
confirmaram os fatos em torno da imortalidade do espírito, assim como sua bela filosofia.
A doutrina chegou, repetindo a necessidade de viven- ciar-se o amor, conforme o fizera São Francisco, que repetiu Jesus, invitando-nos para
a felicidade. Não ao amor passional, mas ao sentimento de ternura e de compaixão, - que faz tanta falta à Terra, tais um gesto de carinho, umafc
palavra de bondade, um sorriso gentil, um aperto de mão.
Quem é tão desvalido, que não tenha algo para dar? E que mesmo não tendo algo para dar, não se possa dar?
Esse é o momento em que devemos abandonar as ambições intelectivas, os debates na justa inglória das vaida- des transitórias para vivermos
o Cristo, através da diretriz espírita; estudar Kardec para melhor conhecer Jesus, penetrar no espírito da Codificação para viver o Evangelho,
porque Espiritismo sem Cristianismo é metapsíquica brilhante. porém, corpo sem alma.
Tentar dissociar-se o Espiritismo da sua feição religiosa - não obstante, sem dogmas, sem ritualismo, sem sacerdócio organizado - é
enfraquecer-lhe a alma, debilitar-lhe o conteúdo iluminativo.
Espiritismo hoie é ação. É o amor em movimento, sem o que, a estagnação cultural, o mercantilismo intelectivo, as vaidades personalistas
que sempre mataram na base, os ideais humanos, se instalarão, em nome de rotulagens novas e em detrimento do essencial, que é a
transformação moral do homem.
“Que vos ameis uns aos outros, como vos tenho ama- do”~ é o impositivo dos dias atuais.
Neste momento de perspectivas dolorosas, de sombras na claridade da luz cultural, de solidão e de soledade, nesses dias tumultuosos,
façamos silêncio interior, sintonizando com Jesus, para dizer-lhe:
Senhor, enquanto os homens belicosos Te pedem espaço para matar; enquanto os ambiciosos Te querem ver para possuir, e os desesperados
Te pedem oportunidade para dominar, nós - que Te amamos - queremos expressar- Te a nossa alegria, a nossa ventura, a nossa ufania por Te
conhecermos.
O Evangelho de Jesus é um poema de aiearia.
Todas as páginas que examinarmos, refletem claridade, amor e alegria. Evangelho foi perseguido, e até hoje continua sendo, pelos cômodos,
pelos que exploram, pelos indiferentes, por aqueles que não têm amor no coração... Nada obstante, Ele brilha, porque ninguém pode deter a luz
do Sol. Por mais terrível que seja a noite, a madrugada chega. Por pior que seja a tempestade, além das nuvens negras há estrelas que fulgem
como diamantes engastados no veludo da noite.
Assim, Jesus é para nós a representação máxima do amor de Deus, Aquele que veio tomar sobre os Seus ombros, dores que não merecia,
para que aprendéssemos a carregar as nossas dores, merecidas; que provou da traição - Ele que sempre é fiel - para que tivéssemos coragem de
suportar o abandono que merecemos.
Mesmo do alto da cruz, procurando os amigos ausentes, porque haviam fugido, teve nos lábios uma expressão de misericórdia: “Oh! Meu
Pai, perdoa-os; eles não sabem o que fazem!”
É a lição maior do perdão, esta, a de compreender que o outro não sabe o que faz, e desculpar, apagar a mágoa, não manter qualquer
ressentimento.
No dia em que esta mensagem penetrar o coração do homem, em qualquer um de nós, já não mais nos sentiremos em soledade, em
abandono.
É neste momento que Ele chegará de mansinho, am- parando-nos.
Há uma linda história de Eça de Queiroz, em que uma çriança morria de febre, a dizer;
- Mamãe, vá buscar Jesus! Sei que Ele me pode curar, mamãe!
A mãe, que era viúva, respondia ao filho, entre lágrimas:
- Meu filho, meu filho!, quem sou eu para procurar Jesus? As estradas da Síria são longas e a piedade dos homens é curta. Os cães viríam
ladrar à porta das casas se me vissem tão abandonada, tão a sós, tão maltrapilha e tão necessitada. Jesus está longe; a nossa dor está conosco, e
Ele está muito distante da nossa necessidade. Não te posso deixar, meu filho, a sós, com febre, neste dia terrível para procurar um Homem, que
ninguém encontra em lugar algum.
A criança, com a espontaneidade e a pureza da sua vida infantil, insistiu:
- Ah, mamãe!, tenho certeza de que se Jesus viesse até aqui, eu ficaria bom. Ouvi falar a respeito dEle, ali na fonte, e que Ele tocou a cabeça
de um doente que suplicava: “Eu quero ficar bom!” E o doente sarou. Ah!, mamãe, vá procurar Jesus!
A mãe abriu a janela. O dia estuava.
Ela respondeu-lhe:
- Como poderei, meu filho?! Vi passar aqui os exércitos de Amós, procurando Jesus de porta em porta, para atender ao seu filho, e ninguém
sabia onde Ele estava; Oreb é rico e tem escravos, e mandou procurar Jesus em toda parte e ninguém O encontra. Por que queres que te deixe a
sós, neste dia terrível, para procurar um mito, que não irei encontrar?
O menino cerrou os olhos tremendo de frio, na febre, e ainda pôde balbuciar baixinho:
- Mamãe, eu queria tanto ver Jesus!
Ela ajoelhou-se ao lado da cama, tocou a cabeça em- papada de suor do filhinho. Não disse mais nada.
Foi nesse momento que a porta se abriu, vagarosamente. Uma voz abençoada como um canto encheu a sala. Uma claridade luminosa apagou
toda a sombra. Aquela voz cantora desvelou-se:
- Eu estou aqui.
Era Jesus.
Na vida de todos nós há um momento que só a presença de Jesus serve. Todos nós, os doentes da alma, em que a saúde é uma ilusão, não
existe. Existe, sim, uma aparência. Quando a doença se apresenta, já estávamos com ela faz muito tempo.
Mais importante do que a aparência da saúde, é a paz do coração, a saúde da alma, pela qual devemos lutar. Ela só é possível quando
tomamos determinados remédios, que se chamam amor, compaixão, caridade, paciência para com os outros, e misericórdia.
Só aí é que a saúde da alma se expande e sentimos verdadeiramente que pouco importa se estamos aqui ou se estamos lá, mais além...
A vida é tão insegura no corpo! Seja o que for, o importante é entendermos que já vivíamos antes de nascer, e viveremos depois de morrer.
“Eu sou a ressurreição e a vida eterna — disse Jesus — aquele que crê em mim já passou da morte para a vida. Vinde a mim e eu vos
aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo; recebei o meu fardo e aprendei comigo, que sou manso e humilde de coração; leve é meu fardo, suave é
meu jugo."
Não nos esqueçamos.
Coloquemos Jesus no coracão. Haia o que houver, como a criança doente, digamos à nossa Mãezinha dos Céus, à Maria Santíssima;
- Mamãe, eu queria ver Jesus!
E ela, a Mãe Santíssima da Humanidade, nos dirá baixinho:
- Um momento, meu filho! O meu Filho está a caminho.
21 É O ESPIRITISMO CRISTÃO?
Há os que chegam a dizer que o Espiritismo não precisa de Jesus, como se ele fosse apenas um tratado de me- tapsíquica ou de
parapsicologia com ética. Mas, nas palavras de Allan Kardec, o Espiritismo é eminente cristão. Todo O Livro dos Espíritos é portador da ética e
da moral. cristã, que Kardec concluiu por ser a mais perfeita entre todas as demais conhecidas.
Algumas pessoas asseveram que se o Espiritismo for cristão, os budistas, os hinduístas não poderíam aderir aos seus conhecimentos.
Não se trata de uma questão de poder; mas somente de querer aderir, porquanto Jesus houvera afirmado: uEu tenho outras ovelhas que não
são deste rebanhoNão é importante saber se Buda é maior do que Krishna, se este é maior do que Jesus. Esse debate é de somenos importância.
Porém, se examinarmos as vidas de Buda, de Krishna. de Maomé, de Abdul Bah’ai, de madame Blavatsky, de Steiner, ou qualquer outro entre os
grandes construtores de filosofias espiritualistas e religiosas, verificaremos que §Q- mente Ele foi em toda a Sua existência incorruptível. Nunca
se apresentou de maneira dúbia, jamais tomou uma decisão que merecesse menoscabo da lógica ou menos respeito da austeridade.
O Espiritismo, sendo a Revelação que Ele prometeu,
é realmente cristão, porque tem por base a caridade e, por conseqüência, o trabalho, a solidariedade, a tolerância, que Allan Kardec se inspirou
nas palavras de Pestalozzi, que na sua metodologia de educação nova, havia estabelecido como essenciais para o êxito: trabalho, solidariedade e
perseverança. Ao apresentar a Doutrina Espírita, por se tratar de uma proposta ético-moral-religiosa, Kardec se utilizou da trilogia pestaloziana,
substituindo a palavra perseverança por tolerância, sem a qual a prosperidade, a honradez e o trabalho não encontram o campo fértil para vicejar.
A conduta do Codificador é eminentemente cristã, ra- \ zão pela qual as suas iniciativas e atividades sempre come- [çam por uma oração.
O Espiritismo fundamenta seus postulados na crença em Deus, pa imortalidade da alma, na justiça divina, na ação da caridade, na oração,
entre outros fundamentos, todos esses hauridos no Evangelho de Jesus, razão por que, do “ponto de vista filosófico é religião”...
23 AS PERSEGUIÇÕES
Alfred RusseH Wallace declarou, certa vez: “Eu era um materialistátãd convicto e tão completo, que na minha ima- ginação não havia lugar
para uma existência espiritual. Mas os fatos venceram-me. Diante de fatos não existem contra- argumentações.”
”“'Ãcômpánhando-lhe a declaração notável, César Lombroso, pai da antiga Antropologia Criminalística, declarou: “Quando me recordo do
ridículo que os espíritas sofrem, coro de vergonha, por mim e pelos meus colegas cientistas, porque também eu sou espírita.”
Cromwel Varjey, que distendeu as linhas da telefonia internacional e .dos cabos transoceânicos, teve ocasião de afirmar: “O ridículo que os
espíritas sofrem, somente parte daqueles que não se deram ao trabalho de estudar o Espiritismo. Não conheço um só exemplo de alguém que o
havendo estudado com isenção de ânimo, não se lhe haja rendidoà evidência?:
Muitos amigos no Brasil e em outros países indagam-me:
- Por que vocêusaa palavra Espiritismo, que é desconsiderada?
- Para que a tenham em devida conta e para que a conheçam - respondo. Somente porque foi caluniada, deixa de ser um nome respeitável? O
Espiritismo é uma ciência, e temos que mostrar àqueles que dele têm impressão negativa, que estão equivocados.
A maioria daqueles que nos fazem tal proposta, depois que nos ouvem um pouco, concluem:
- Mas eu não sabia que o Espiritismo é isso!
- Exatamente - ressaltamos - você conhece tudo quanto o Espiritismo não é. A nossa tarefa é expor o que ele representa, que
significa, e você ainda não o conhece...
Assim ocorre em vários lugares.
Trabalhei numa repartição de pessoas vinculadas a determinada religião. Certa feita, tivemos uma entrevista com o presidente da autarquia
(IPASE). Haviamos sido convidados para ir à Europa pregar em Portugal. Necessitava de tempo para o mister, e fui solicitar uma licença não
remunerada, o que ali me era permitido. Ele me perguntou:
- Para que é a licença?
Respondi:
- Porque desejamos fazer uma viagem à Europa.
- Mas o senhor, um funcionário público, vai à Europa?
- A questão é particular, não vejo por que dizer-lhe. Como funcionário, venho solicitar-lhe a licença, mas o motivo da viagem,
peço licença não informar.
- E se eu desejasse saber por curiosidade?
- Vai ficar sem resposta, porque não lhe direi.
- E se eu negar?
- Da mesma forma seguirei, pois que estou disposto a ir.
- Eu soube que o senhor é espirita!
- Sou, sim, pelo que muito me felicito.
E relanceando o olhar pelo conjunto de papeis que detinha sobre a mesa, insistiu:
- Senhor Divaldo, aqui está, no processo que elaborou, que o senhor vai à Europa para proferir conferências. De quê?
- De Espiritismo.
- E existe isso?!
- A pergunta não se justifica. Se vou proferir conferência sobre Espiritismo é porque ele existe, senão seria paradoxal.
- Então, o senhor deve ser um conferencista muito importante!
- Alguns acham que sim... Desculpe-me a falta de modéstia.
- E se eu não deixar?
- Isso não altera nada. A sua opinião para mim não é tão importante, embora eu a respeite. O que lhe peço é uma autorização legal. Quanto
ao seu pensamento, é outra questão.
- O senhor podería me explicar o que é o Espiritismo?
- Com muito prazer.
- Então, faça aqui, no meu gabinete, uma das conferências que o senhor vai proferir no Exterior. - Falou com certa dose de ironia, que não
me perturbou.
Retorqui-lhe:
- É a primeira vez que tenho um público tão expressivo (éramos ele, sua secretária, que era advogada, e eu), mas se o senhor mandar fechar a
porta, eu a pronunciarei, sim. O que gostaria de ouvir? Reencamação, Deus, imortalidade da alma, comunicabilidade espiritual, problemas
psiquiátricos?
- Deus, já que nEle não acredito.
Voltei-me para a secretária e propus:
- Tranque a porta, por favor, e tire a chave, porque irei falar por uma hora sem interrupção, pois tenho uma ordem própria de raciocinios.
Depois que acabar, o senhor pergunta-me o que quiser.
- Pois bem! - concordou - dou-lhe uma hora.
Pensei: meu Jesus, o Senhor me colocou nesta situação,
lá vou eu. Se houver algum desastre, o problema é Seu...
Falei por uma hora e dez minutos. Quando terminei, ele asseverou:
- Vou conceder-lhe a licença, porém, com remuneração; e para que não seja injusta, lhe pedirei uma tarefa oficial da repartição, para
facultar-lhe ganhar, e para que leve sua mensagem aos portugueses.
Proporcionou-me quase dois meses. Foi em agosto- setembro de 1967, quando fui à Europa pela primeira vez. Antes de sair de seu gabinete,
esclarecí:
- Agora que o senhor já me concedeu a licença, gostaria de dizer-lhe que a viagem me foi oferecida por um casal amigo, que me perguntou:
- Por que você nunca foi pregar em Portugal?
- Porque nunca me convidaram!
- E se o convidarem, você irá?
- Se me derem a passagem... O que ganho é somente para manter a dignidade. Não vivo do Espiritismo. Quem desejar ouvir-me fora de
Salvador, onde resido, deverá proporcionar-me os meios de chegar até lá.
- Pois nós lhe daremos a passagem.
- E o hotel? Não vou poder ficar na rua!
- Não, não! Vai ficar conosco.
E me deram uma lição de beleza comovedora, afirmando:
- Nós somos portugueses, minha mulher e eu, e viemos para o Brasil com muitos problemas econômicos. Aqui consolidamos uma fortuna.
Estamos voltando a Portugal trinta anos depois.
“Estamos levando presentes para os nossos familiares, mas o maior presente que levaremos é você, Divaldo, porque aqui conhecemos o
Espiritismo. É o maior tesouro que este país nos deu, e gostaríamos que o nosso povo o conhecesse. Nós temos dinheiro, mas não sabemos
divulgá-lo. Você sabe falar, mas não tem dinheiro. Então, fazemos um casamento espiritual: você fala e nós proporcionamos os meios."
Era o período do governo Salazar, da sua ditadura imposta ao país. Eram proibidos, sob pena de cadeia, Espiritismo, Comunismo e
Maconaria, porque o Estado era Católico. Fomos e pregamos em subterrâneos, em porões, ao ar livre, escondido. Hoje. Portugal é o segundo
país mais espírita do mundo,
Até então, nunca haviam convidado um espírita para ir à televisão portuguesa.
Há 12 ou 13 anos, estávamos realizando uma jornada naquele país, os jornais estavam dando-nos cobertura.
Havia um programa de muita audiência na televisão e o entrevistador era muito famoso. Fui convidado para uma entrevista, que seria a
primeira no gênero, após a queda da ditadura salazarista. Quando cheguei ao estúdio e sentei-me, lá estavam um padre, um parapsicólogo, uma
psicanalista e, a vítima, que seria eu...
Pensei: sobre Espiritismo tenho a obrigação de conhecer, e eles não; podem não crer, mas não o conhecem mais do que eu.
Quando o entrevistador começou a falar, passou a dizer que o Espiritismo era isso e aquilo...
Ao transferir-me a palavra, retruquei-lhe:
- O senhor veio entrevistar-me ou dar a sua opinião errada? O senhor não tem autoridade para falar sobre o que não conhece. Além do mais,
convidou-me para eu ser entrevistado. Sou uma pessoa inculta, e sei que os portugueses são muito doutos, mas tenho o hábito de consultar o
dicionário. Entrevista, no dicionário da Língua Portuguesa, é um diálogo mediante perguntas que se fazem para que outra pessoa as responda, o
que não está ocorrendo.
Depois das primeiras questões debatidas, o sacerdote católico que lá estava, tocou-se tanto, que declarou de público ser um grande admirador
do Espiritismo.
Perguntou-me onde eu iria falar no dia seguinte (que seria em Chaves, uma cidade ao norte do país).
Pois ele foi assistir à conferência, havendo sido punido pelo senhor bispo, em face daquele atrevimento...
A psicanalista declarou:
- Esses fenômenos são resultados da histeria! Todos aqueles que os produzem são histéricos.
Expliquei-lhe com toda a paciência como ocorriam os fenômenos, eliminando essa hipótese e outras tantas...
Seriam dez minutos de entrevista, mas estendeu-se por mais de uma hora. A partir daí, surgiu um programa na televisão portuguesa sobre
fenômenos paranormais com uma grande audiência no país.
Também, no ano de 1969, quando a Parapsicologia estava na moda, numa viagem pelo continente centro-sul- americano, fui ao Peru, pela
terceira vez. Chegando a Lima, os amigos receberam-me efusivamente e foram logo anun- ciando-me:
- Divaldo, vamos sair do aeroporto e rumarmos na direção de uma emissora de televisão.
Naquela época, havia na televisão do Pacífico, um programa chamado “Sábados à Tarde...” com entrevistas ligeiras, público no auditório,
perguntas por telefone.
Concordei com júbilo.
- Ouça, Divaldo, aquele homem, o entrevistador, é terrível! - observaram eles -, já criou aqui vários problemas.
Refleti comigo mesmo, quanto alguns irmãos espíritas são “amorosos”: primeiro jogam-nos na cilada e, depois, choram conosco...
Inquirí-os:
- E por que me convidaram?
- Ah!, é porque pretendemos ter um debate com ele, através de você.
- Mas eu não sou de debater. Sou uma pessoa da linha evangélica, não me interessando em impor-me a ninguém, pois que ainda estou
tentando me converter (permiti-me esse gracejo...)
- Ah!, mas agora é tarde. Você tem que ir - sentenci- aram-me.
- Muito bem! Somente agradecería que, da próxima vez, pelo menos tenham a gentileza de consultar-me.
Um tanto enigmáticos, concluíram:
- Da outra vez (que não vai ter...), vai depender de como você irá sair-se.
Meditei: “mas que irmãos gentis! Programam a minha ‘morte’ e já cancelam minha ressurreição...”
Colocamo-nos a caminho. Eles foram dizendo-me:
- Ele já desmascarou aqui, desmascarou acolá,...
Em determinado momento, intervim:
- Se querem me assustar, podem parar! Já estou assustado. Não precisam assustar-me mais.
Chegamos. Sentamo-nos à sala, aguardando a entrada do programa no ar. Era o tempo do estrelismo, em que o entrevistador de televisão era
uma coisa algo rara como um “ET”. Vi um homem - o entrevistador - passear daqui para lá, de lá para cá, nervoso. Pensei comigo: é ótimo!,
porque é nevropata; é só ficar bem calmo que ele se desequilibra... Até aqui já ganhei meio ponto. De repente, ele parou e perguntou-me:
- O senhor é quem?
Objetei-lhe:
- E o senhor? Quem é?
A melhor maneira de embaraçar uma pessoa que nos faz determinado tipo de pergunta, é devolver-lhe a mesma, nunca responder-lhe antes.
- Por que o senhor quer saber? - tornou ele.
- Pelo mesmo motivo que o senhor também o quer.
- Ah!, o senhor é o brasileiro?
- Não senhor. Sou um brasileiro.
- Mas não é o brasileiro que vou entrevistar?
- Não sei, pois não sei quem é o senhor.
- Não sabe?!
- Não! Não pode ser tão importante assim. Eu mesmo não sei!
Foi um “tiro”. O homem ficou lívido.
- Eu sou Fulano, o entrevistador!!! - (num tom enfático, obviamente...)
- Ah!, muito prazer, senhor Fulano. Pois é, sou brasileiro.
- O senhor não tem medo?!
- Não! Espero estar diante de uma pessoa, e não de uma fera. Por que devo ter medo?
- Mas não tem medo que o desmascare?
- Francamente, não; a “cara” é feia, mas não tem máscara nenhuma. Só se desmascara quem usa máscara. Eu não a uso.
Ele advertiu-me:
- Vamos ver...
- Sim, vamos ver!
Percebi que ele ficou nervoso. Concluí comigo: ótimo!, já estou com 30% de vantagem; o que me perguntasse e eu não soubesse, diria
simplesmente “não sei!”; não tenho a obrigação de saber.
Havia um bom público, os funcionários, os câmeras e, claro, aquele auditório preparado para vaiar...
À hora em que sentei-me diante das câmeras, percebi que ele não era muito querido, nem pelos técnicos nem pelo iluminador, pois olhei para
um deles e sorri, com o que ele me retribuiu com um rápido aceno de mão. Conclui: esse está do meu lado (precisamos de uma bengala
psicológica em tais situações para servir-nos de apoio...). Olhei para o iluminador, meneei a cabeça. Ele fez alguma reverência, ao que respondí,
com acento de humor:
- Não me ilumine de cima para baixo, porque fico mais feio, pior do que sou!... - disse-lhe, sorrindo.
Curioso, ele perguntou:
- Como é que o senhor sabe disso?
- É porque projeta o supercílio produzindo sombra - aduzi - e eu tenho-o muito alto. Um técnico disse-me que fosse iluminado de baixo para
cima, pois isso rejuvenesce.
Ele sorriu. Ainda pedi-lhe que “não desse dose, por amor de Deus", que me colocasse bem, numa “janela"... Fui usando a linguagem dos
procedimentos técnicos.
Agora, um tanto intrigado, perguntou-me novamente:
- Mas o senhor entende disso?!
- Mais ou menos... Sou objeto de muitas entrevistas.
Ele descerrou-se em novo sorriso e arrematou:
- Gostei do brasileiro!
- E eu gostei do peruano - aduzi.
Na contagem das simpatias contabilizava, agora, "dois a zero”...
Começou o programa. O entrevistador “atacou”:
- Senhor Divaldo, vamos fazer uma experiência de telepatia.
Gelei. O médium não é telepata de encarnados e, sim, de desencarnados. Nunca havia feito uma experiência dessa natureza.
O homem tomou de um baralho com cartas Zenner, começou a misturá-las e olhou-me com aquela expressão de vitória. Morrendo de medo,
embora não deixasse transparecer os meus receios, encarei-o com sorriso, com ares também de vitória. Eram duas “vitórias” a confrontarem-se...
Clamava interiormente: meu Deus, como é que o Senhor faz isso comigo?! Deveria ter-me avisado, pois acharia uma desculpa qualquer, uma
dor de cabeça, uma indisposição, e não teria vindo!
Mas, já estava ali, sentadinho, “rindo”... Aí, apelei para os espíritos. Tenho um espírito muito amigo, um jovem que desencarnou no Rio de
Janeiro, aos 26 anos, e que era arquiteto. Aparecia-me muito, à época.
Supliquei-lhe: - Marcelo, ajude-me, pelo amor de Deus!
Daí a pouco, ele apareceu-me. Respirei aliviado, pois que agora estava amparado. Achegou-se-me, colocou a mão sobre o meu ombro e
falou-me:
- Baiano, agüente firme que vamos “acabar" com ele! (Sorriu com jovialidade).
A entrevista transcorreu muito bem e ficamos simpáticos um ao outro.
Antes de terminá-la, ele disse:
- Senhor Franco, peço-lhe desculpas.
E o fez com o programa no ar.
- Não há por que! Agradeço sua sinceridade, mas quero mostrar-lhe que o “Espiritismo (ele não havia perguntado, mas aproveitei...), é uma
ciência que estuda a origem, a natureza, o destino dos espíritos e as relações que existem entre o mundo corporal e o mundo espiritual” conforme
o definiu o mestre Allan Kardec, e acrescento que hoje mesmo estarei falando na Câmara Municipal de Miraflores (eles não deixavam anunciar),
a partir das 20h, com entrada franca, onde terei prazer de receber o público...
O resultado da entrevista foi excelente para a sua difusão na cidade, no país e nos demais países onde foi apresentada posteriormente.
24 A BÍBLIA CONDENA O ESPIRITISMO?
Muitas vezes temos ouvido dizer: “A Bíblia condena o Espiritismo.” Achamos a questão de natureza tão ingênua, tão infantil e tão destituída
de lógica por desconhecimento das histórias da Bíblia e do Espiritismo, que nos detemos apenas a sorrir, por que a Bíblia não poderia condenar
algo que, à época, não existia.
A palavra Espiritismo foi cunhada no ano de 1857 por Allan Kardec. Ele disse, ipsis verbis: “Para ideias novas, palavras novas. Proponho a
palavra Espiritismo, e define-o, conforme já citado.
É umajpiência, por fundamentar-se na experiência do fato. Não é uma ciência convencional. É uma ciência de observação cuios fatos devem
repetir-se ao paladar do investigador até construir parâmetros, estabelecer princípios basilares como todas as demais ciências.
É uma doutrina de razão e lógica, uma ciência de investigação, uma filosofia de comportamento e uma ética religiosa, trazendo a criatura de
volta ao Criador através da prática da caridade, sem a qual não há salvação.
Para os espíritas Jesus é o Ser mais perfeito que Deus nos ofereceu para servir-nos de modelo e guia.
Apesar disso, não faltam ingênuos e caluniadores, afirmando que não somos cristãos, que não acreditamos em Jesus, se toda a nossa proposta
filosófica é centrada no Seu Evangelho!... Não na letra, que mata, mas no espírito, que vivifies, conforme Ele próprio enunciou.
Qual é a nossa base ético-moral?
É o Evangelho.
E por que o Evangelho? Por que não o Alcorão? Por que não o Vedanta? Ou, o Zendavesta? Ou, O Livro dos Mortos dos egípcios? Por que
não o Decálogo?
Porque Jesus centralizou a Lei e os Profetas no amor, enunciando: Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Aí
estão a Lei e os Profetas.
Recordamo-nos de uma tradição bíblica ancestral. Cem anos antes de Jesus, em Jerusalém,jjm grande rabino, Shamai, era a personalidade
mais conhecedora da tradição. Certo dia, um jovem acercou-se-lhe e solicitou:
- Mestre, desejava que me ensinasses toda a Bíblia durante o tempo em que eu permanecesse de pé, num só pé.
Shamai foi decisivo:
- Impossível! A Bíblia são muitos e complexos livros.
O jovem redargüiu:
- Então, não me interessa.
Saiu dali, e foi a outro profeta-rabino de nome Hilel. Fez-lhe a mesma proposta:
- Gostaria que me ensinasses toda a Bíblia, durante o tempo em que pudesse parar de pé, num só pé.
Hilel foi sintético:
- Ama!.
Calou-se. O jovem, intrigado, questionou:
- Só isso?!
-Só.
- Mas só isso basta?
- Sim, só isso basta.
- E o demais da Bíblia? - insistiu o jovem.
- Bem - arrematou Hilel - toda a Bíblia é para explicar isto. Para quem já ama, não são necessárias as demais explicações...
- Mas, e para aquele que não ama e necessita de todas as explicações a fim de que se torne um homem de bem? - retornou o jovem.
- Quem já o é, não necessita de teoria; quem não o é, necessita de muitas vertentes teóricas para poder conven- cer-se e tornar-se melhor -
concluiu Hilel.
A Doutrina Espírita fundamenta-se, portanto, no Evangelho de Jesus, por ser a Obra mais excelente de que a Humanidade tem notícja. Nada
que se equipare ao Sermão da Montanha, às Bem-Aventuranças, que reverteram a proposta sociopsicológica da Humanidade...
Quando Jesus enunciou: Bem-aventurados os pobres de espírito, os cépticos riram, zombaram disto, porque são de espírito pobre. Os pobres
de espírito não são aqueles que apresentam demência, transtorno mental; são, sim, os pobres do espírito de aviltamento, de orgulho, de sensua-
lidadeLde avareza, de ódio, de rancor, de ressentimento, mas ricos de fraternidade, de ternura, de amor.
O Evangelho de Jesus é a pedra angular de uma nova ciência filosófica, porque explica quem é o homem, de onde veio, para onde vai por
que sofre.
Quem não se há interrogado alguma vez por que tantas misérias moral, fisiológica e mental? Por que Deus criaria uma criança anencéfala,
que jamais poderá ter um desenvolvimento harmônico e a faculdade de pensar? Para quê?
Deus não castiga. Deus é amor. Aquele Deus-terror, ficou no deserto do Saara. Fora entronizado por Moisés para inspirar respeito. João
Evangelista no-IO apresenta em termos elevados: Deus é amor. )
O amor não pune. O amor não castiga, não apavora; o Amor educa e reeduca; o amor ajuda. O amor ama. A figura bárbara, selvagem,
daquele povo nômade que estava sempre em guerras - e até hoje -, que foi escravo de egípcios, de babilônios, necessitava desse Deus na sua
formação antropológica.
Hoje, quando a psicologia filosófica nos ensina a auto- estima, que o amor é uma questão de saúde, o amor deixa de ser uma virtude e torna-
se uma proposta psicoterapêutica.
Dizem os modernos psicoterapeutas que, quem ama não adoece. Hão quer dizer que viva com ausência de doenças. Não será, porém, aquele
que é doente, porque apesar de doenças, o seu amor faz com que administre a deficiência orgânica, psicológica e até mesmo mental.
Já asseverava Cari Gustav Jung que as pessoas introvertidas, de temperamento forte, enfermant muito mais do que as pessoas extrovertidas,
que sorriem e amam.
O Espiritismo, pois, centraliza todos os seus postulados na ação da caridade, que, segundo Pauio* nas traduções legítimas, tem ocasião de
dizer: Mesmo que eu falasse a língua dos anjos e dos santos, e não tivesse caridade, seria como um sino que tange ou um metal que tine.
As modernas traduções, depois do Espiritismo, vêm substituindo a palavra caridade, por amor. Mas não afeta o seu conteúdo. Só há caridade
quando há amor... Que é caridade? É o amor na sua expressão mais elevada. Paulo era o pioneiro da caridade. A fé, a esperança e a caridade,
como a mãe das demais, ensinaria ee.
A Doutrina Espírita vem ressuscitar o Evangelho de Jesus e confirmar-nos a imortalidade da alma; dizer que a morte é apenas o veículo que
nos conduz de uma para outra vibração. Nele retorna Jesus, descrucificado; não mais o Ser patético da cruz, nem o Trágico do Monte da Caveira.
Existem resquícios, seqüelas medievais - ainda as há, na contemporaneidade - de visões de criaturas que se comprazem em perseguir, em
difamar, em nome de Jesus. Não vamos longe: há bem pouco tempo, em Lqndonderry, na Irlanda do Norte, católicos e protestantes matando-se;
na Iugoslávia, macedônios e outros, matando-se; em Israel - povos religiosos -, matando-se. Peculiaridade infeliz essa da criatura humana...
Quem encontrou Jesus, de maneira alguma pode permanecer nessas acusações injustificáveis, dividindo as criaturas, atormentando-as,
asseverando que não são os espíritos que vêm falar conosco, mas sim, satanases...
Hoje, uma ciência nova prova em laboratório que ninguém morre. Os espíritos voltam, identificam-se e vêm pregar o amor, a renúncia, a
caridade, a transformação moral. É a psicologia transpessoal.
Será que o mal pode fazer o bem? Ou que a treva projeta claridade? Não será paradoxal demais acreditar-se que Satanás está ensinando as
pessoas a abandonarem os vícios?
É de uma ingenuidade infantil uma acusação desse quilate...
Pessoalmente, a Doutrina Espírita deu-me dignidade à vida. Respeito todas as religiões e as não-religiões. É mais importante não ter crença
religiosa e possuir dignidade, do que ter religião e não proceder bem. Encontrei, no Espiritismo, não o adversário de coisa alguma, mas o
lluminador de consciências.
Aos quatro anps de idade, em minha casa, brincando, tive oportunidade de manter contato com os espíritos. Tornei-me uma criança especial.
A partir daí via os chamados mortos. Eles se comunicavam comigo, sendo-me tão natural que as pessoas perguntavam-me e as respondia.
Meus pais me proibiam, ameaçavam-me, batiam-me, especialmente meu genitor. Eu apanhava e continuava contando... Meu sacerdote - um
homem extraordinário, dizia-me que aquilo eram forças demoníacas para levarem-me às geenas infernais.
Aos oito anos de idade, tive crise de fé, porque me voltei para Deus e perguntei-Lhe se Ele seria um monstro, em permitir que o demônio me
vencesse! Não podendo Ele pessoalmente com o diabo, como achava que eu podería? Eu orava, ajoelhava-me até criar calos diante do altar,
diante do Santíssimo Sacramento, preservando a chama acesa, na lamparina, pedindo a Deus que me amparasse, e Ele, insensível, indiferente,
deixava-me ao abandono... Fiquei acreditando que, ao invés de ir para o Céu, que tanto queria, iria para o Inferno, porque Satanás, no meio de
tanta gente, gostou de mim...
Assim foi até quando morreu um irmão meu, em 1944. Tive um choque psicológico. Fiquei doente. Dois médicos clínicos que havia em
minha cidade não conseguiram debelar a doença. Por fim, um deles disse: “Foi um choque; se ele tomar outro, ficará bom.”
Éramos treze. Meus irmãos, “muito inteligentes”, levaram a palavra “choque” ao pé da letra, e quase me mataram: gritavam, estouravam
sacos de papel e, um deles, que era ainda “mais gentir, me aplicou um choque elétrico nas pernas...
Continuei o mesmo, até que, um dia, uma prima levou- me à casa de uma senhora que era médium espírita, porque há espírita que não é
médium e há médium que não é espírita.
A senhora olhou-me, e concluiu:
- É esse o rapazinho doente? Mas, ele não tem nada!
Pensei comigo: mas o que esta senhora está querendo
dizer? Estou aqui na cama desde junho - era, então, o dia cinco de dezembro r* e ela vem dizer que não tenho nada! Quando sair daqui vou levar
a maior surra da existência, por estar fingindo...
- Ele não tem nada - repetiu a dama.
- Tenho, sim senhora! - retruquei - Eu não posso caminhar direito.
- Meu filho, você não é doente...
- Sou, sim senhora! - atalhei prontamente.
- ...Você é obsidiado.
Pelo som da palavra, não sabia o que era, mas me pareceu muito perturbadora. Perguntei-lhe, então:
- O que é obsidiado?
- Você está sendo vítima de um espírito doente.
Tornei a inquirir:
- E o que faz ele aqui comigo?
- É seu irmão.
E descreveu-o como se o houvesse conhecido. Na minha ignorância, vaticinei:
- Foi Clarisse, minha prima, quem lhe falou?
Ela sorriu generosa, e acrescentou:
- Não, meu filho, estou vendo-o.
- E a senhora vê os mortos? - indaguei, surpreso.
- Vejo!
Graças a Deus - pensei; mais uma louca. Somos dois...
Fiquei contente, porque até então eu era um louco solitário.
Agora eu tinha uma louca, já velhota, o que era muito bom...
- Eu também vejo os mortos - aditei. Todos dizem que são demônios e alucinações!
Ela, compreensiva, observou com um doce encanto:
- Falaremos depois. O importante é você ficar bom agora. Você sabe orar?
-Sim.
- Então vamos orar. Vou lhe aplicar aquela terapia de Jesuso toque curador, que nós, os espíritas, chamamos de passe. Ore. Feche os olhos.
Mas não os fechei, é claro; isto é, mais ou menos... Queria ver o que iria passar. Cerrei as pálpebras, comecei a orar o Pai Nosso, e ela
atendeu-me através de movimentos rítmicos em torno da minha cabeça e, depois, ao longo do corpo. Aqueles movimentos suaves tiraram como
que uma teia de aranha de sobre mim. Depois de uns três minutos, no máximo, recuou, e disse-me:
- Está bem. Ele já se afastou. Pode levantar-se. Ele estava fazendo com você o que um espírito havia feito na Sinagoga com uma mulher que
era corcunda, e Jesus curou-a. Já está bem, meu filho? Levante-se.
- Não senhora - respondi-lhe; se me levantar eu caio!
- Levante-se - insistiu ela, novamente.
- Não senhora. Toda vez que levanto, caio.
Minha mãe, que era baixinha - as mães, via de regra, logo trovejam - olhou-me. Aquele olhar clássico, de antigamente..., dando-me um
ultimatum:
- Levante-se!
- Mas, se levantar...
- Levante-se e caia! Mostre que você é educado.
Naquele tempo os pais eram atendidos pelos filhos.
Hoje, os filhos dominam os pais, que têm medo dos filhos...
Empurrei os quadris, e quando os pés bateram no chão, tive aquela agradável sensação pós câimbra, dos vasos periféricos sendo irrigados.
Levantei-me.
Era o dia 5 de dezembro de 1945. Até hoje, nunca mais tive qualquer episódio nos movimentos.
A senhora recomendou: “Ele necessita de ir a uma sessão espírita."
Eu fui. E aprendí a amar, a respeitar o meu próximo, a não me permitir vícios, nem o tabaco, nem o álçpol, nem a concupiscência, nem os
chamados vícios outros sociais.
Isto não é uma autobiografia. É uma análise.
Então, se isto é o Satanás, como considerar aqueles que estão sob a proteção de Deus, na depravação, no crime, na sensualidade, na
perversão dos costumes?
Os espíritas não vivemos da religião.
Nenhum de nós recebe algo. Nada. Terminados os deveres normais da atividade do ganha-pão, por meio do qual, com o suor do rosto,
sobrevivemos, e, nas horas de folga, nos períodos de férias, nos feriados, nos dias reservados ao lazer, entregamo-nos à tarefa de servir à
mensagem do amor.
A Doutrina Espírita veio esclarecer-nos que a morte não é o fim da vida. Nós viveremos. Cada qual viverá conforme sua experiência terrena.
A Terra não é um vale de lágrimas, não é um purgatório, não é um lugar maí-aventurado. É uma escola. Toda escola tem deveres. Pode ser urn
paraíso, ou pode ser um inferno, a depender da conduta do aluno...
Vivemos hoje um contexto histórico e sociológico dos mais terríveis. Podemos dizer que os cristãos ultrapassam um bilhão e cem milhões de
pessoas. E a paz? Onde a paz que os cristãos espalharam? Se olharmos os países ditos cristãos, conflagrados pelo crime, pela violência, seria de
perguntar-se o que é que temos feito de Jesus e Sua Doutrina?
NOTAS COMPLEMENTARES
Para facilitarmos uma melhor compreensão de alguns trechos desta Obra, houvemos por bem inserir alguns comentários que, pensamos,
poderão contribuir para uma melhor ideia da nossa proposta, começando por uma dissertação de Divaldo sobre a questão anima/animus,
termos usados em Psicologia:
Joanna de Ângelis, nos últimos dezesseis anos, escreveu doze livros para codificar a psicologia espírita diante da proposta de Carl
Gustafr.innfl e ao encerrar sua série psicológica, faz uma abordagem de Freud, de Milton Erickson, ao mesmo tempo com as propostas dos
grandes sensualistas, demonstrando a ex- celência da psicologia espírita.
Ciungpara poder entender a criatura humana, não tendo uma definição religiosa, embora descendendo de um Pastor Luterano e havendo
vivido em um clima familiar místico, embora muito conflituoso, resolveu adotar por algum tempo essa religião, pró-forma. Recomendava ser, a
religião, fundamental para a saúde mental, salientando que ela, seja qual for, auxilia o indivíduo a manter o equilíbrio da saúde, recuperando-se
mais facilmente dos transtornos neuróticos, diferindo do que ocorre com os não religiosos ou aqueles que desprezam a religião, por
desconsiderarem essa bengala psicológica que lhes serviria de apoio.
Desta forma, Jung começou a pensar çomp teria sido a origem do Universo e a da criatura humana, para não ficar preso aos cânones da
Bíblia, buscando a razão pela qual temos tantos conflitos.,
Nós outros, consideremos que nosso psiquismo (mais tarde espiritordp pontõ de vista espírita, transitou pelãsHíferentes fai-
JOng procurou uma palavra para enfeixar a ideia de que somos herdeiros dessas gerações passadas. Encontrou-a nas tradições do
Cristianismo - arquétipo -, e que estava também presente na cultura grega, proveniente de archaios (antigo) e ty- pos (forma, marca), marcas
antigas.
xas da evolução: mineral, vegetal, animal... Trazemos toda uma carga ancestral, que era típica das nossas necessidades naquelas faixas. Também,
do ponto de vista materialista, somos herdeiros dessa evolução antropológica, já que o feto repete, nos vários períodos do seu desenvolvimento,
as diferentes formas por onde .transitou a vida humana. Desde o zigoto até o nascimento, o ser volta a representar todas as manifestações
primáfjas da’âyolu- ção, ficando-nos como-heranca desses períodoftrês instintos.. que são chamadoj jásicospor preservarem a vida: alimenta;
ção, procriação e repouso.
TambémJung-demonstrou que somos portadoxes-deois in- conscientes\o individual, fcjüe é~herança familiar eto coletivoí que é a herança
universal. Esta última está embutida em nós, e somos inevitavelmente conhecedores inconscientes de coisas que aconteceram nas gerações
passadas. Portanto, Jung fez uma adaptação do termo arquétipo, que já fora usado por Santo Irineu e pelos gregos antigos, atualizando-oJO
arguétipolpassou então a ser uma herança ancestral, que está presente em nosso inconsciente e que nos leva a determinadas posturas sem que
nos demos conta.
Jung começou a ampliar este seu conceito de arquétipo. Há, um deles, primordial, onde estão todos os mitos.
Sua psicologia é muito belajja qual também ressalta nossa existência ser fruto de muitos(mitos) Qual é a cidade ou país que não tem o seu
mito? O mito do Negrinho do Pastoreio, do Boitatá, do Saci-pererê e muitos outros, todos estão fixados no nosso inconsciente.
O arquétipo é o símbolo de onde tudo provém. Jung estabeleceu un/arqueiipo prímordiaQrepito, como sendo aquele que é básico, que
chamaríamos Deus, Causa, Natureza; a nomenclatura é secundária diante da estrutura essencial do fato.
O arquétipo primordial daria origem a três outrosforquétiposj Jundamentii$) que nos acompanham durante a existência. O primeiro deles é
oSelÿst, que foi traduzido-parsuo inglês e tomou cidadania com<xSe/£jQ si mesmo.vo,Eu profundoefirmando-nos que temos uma personalidade
que exteriorizamos,(ò ego), Não Destacada esta temática, fomos buscar err\Obras PóstLh) mas,j)âQÍna 127 da 17a edição da FEB, alguns
subsídios a mais, consubstanciando a proposição maior deste livro, na tentativa de tornar sintético e de maior rapidez àqueles estudiosos que
queiram especificamente reportar-se às questões enfocadas, atraídos pelas belas dissertações abordadas pelo autor.
Kardec afirma que “tudo, pois, nas palavras de Jesus, quer" as que Ele disse em vida, quer as de depois de Sua morte, acusa uma dualidade
de entidades perfeitamente distintas, assim como o profundo sentimento da sua inferioridade e da sua subordinação com relação ao Ser
supremo. Com a finalidade de deixar-se bem claro que Jesus sempre se referia a Deus como Pai. Kardec ali faz um estudo sobre a natureza do
Cristo e cita uma extensa coletânea de narrativas evangélicas, corroborando esta asserção, das quais algumas pinçamos:
1) - Preparando a sua partida da Terra: “Estou ainda con- vosco por um pouco de tempo, e em seguida vou para Aquele que me enviou" (Jo
8,33); “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, credes em mim também” (Jo 14,1); “Ouviste o que vos disse: eu me vou, e volto a vós. Se
me amais, vos alegreis, pois que vou para meu Pai, “porque MEU PAI É MAIOR DO QUE EU” (Jo 14: 28);
2) - Antes da desencamação: “Exclamando com voz alta disse Jesus: Pai, em tuas mãos entrego o meu Espirito” (Lc 23:46);
3) - Quando da crucificação: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.” Lc 23: 34;
4) - Na aparição a Maria Madalena: “Não me retenhas, porque ainda não subi para o meu Pai; mas ide procurar os meus irmãos e lhes
dizei, de minha parte: eu subi para o meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus” (Jo 20:17);
5) - Considerando-se inferior a Deus: “Desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade DAQUELE QUE ME
ENVIOU.” (Jo 6:38).
Deus é o Pait é o Criador; a Causa primária de todas as coisas. Jesus é um dos seus filhos, um entre os Espíritos superiores do Universo que
cuidam dos mundos. Não foi Deus que veio à Terra, submeter-se a uma experiência humana, mas Jesus, um dos Seus importantes auxiliares
divinos. Ao perceber Jesus como filho de Deus e não o próprio Deus, não estamos a d iminuir-Lhe a grandeza. Jesus, tendo conquistado todos os
degraus na escalada da evolução, em outros mundos e antes da formação do nosso planeta, atingiu a condição de Espírito Puro e embora não
sendo o Criador, está muito próximo d Ele.
Jesus não é, como muitos imaginam, criador de determinada religião. Ele é a Luz do Mundo, assim como o Sol não ilumina só um
hemisfério, mas distribui à Terra toda seus benefícios, do mesmo modo o Pastor divino apascenta com igual carinho todas as ovelhas do Seu
rebanho, sem jamais constranger alouém a crer deste ou daquele modo. procura, sim, despertar o que há de bom em cada criatura e mostra o
roteiro: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga os meus passos”, (Lc 9,23-25).
En\ 1947 jim jovem pastor, de cabras atira uma pedra numa caverna riãTegião de Kumran (junto ao Mar Morto), escuta um barulho de algo
quebrando e, assustado, corre apressadamente para chamar as autoridades. Dá-se, então, aquela que foi a maior descoberta arqueológica da Era
Moderna e uma das maiores de todos os tempos - os manuscritos do Mar Morto. Foram eles guardados cuidadosamente, por centenas de anos,
pelos Essênios, uma comunidade judaica zelosa pela santidade e que vivia isoladamente dos demais. Acredita-se que os documentos datam de
antes da Era Cristã. Os manuscritos contêm muitas informações a respeito do modo de vida dos Essênios, grande parte de fragmentos dos
principais livros do Antigo Testamento, como Salmos, Ester, Provérbios, entre outros. Porém, o mais impressionante era um Livro que estava
praticamente intacto. Aquele livro foi conservado por inteiro e sem diferença alguma do livro que temos hoje: o livro do profeta Isaías. que
assinala a vinda do Messias.
LACORDAIRE - Jean-Baptiste-Henri Lacordaire nasceu em 12 de maio de 1812, numa cidade francesa perto de Dijon. A despeito de seus
pais serem religiosos fervorosos, o jovem Lacordaire permaneceu ateu até que uma profunda experiência religiosa o levou a abraçar a carreira de
advogado, na Teologia. Vigário da famosa Catedral de Notre-Dame, em Paris, a força da sua oratória atraía milhares de leigos para o culto.
Discípulo de Lamennais, preocupou-se em afirmar que a união da liberdade e do Cristianismo seria a única possibilidade de salvação do futuro.
Foi Membro da Academia Francesa de Letras. Allan Kardec inseriu artigo a seu respeito na Revista Espírita de fevereiro de 1867, seis anos após
a sua desencamação, que se deu em 21 de novembro de 1861. Nele, reproduz extrato da correspondência que inicia o presente artigo,
comentando: “Sua opinião sobre a existência e a manifestação dos espíritos é categórica. Ora, como ele é tido, geralmente, por todo o mundo,
como uma das altas inteligências do século, parece difícil colocá-lo entre os loucos, depois de o haver aplaudido como homem de grande senso
e progresso. Pode, pois, ter-se senso comum e cremos Espíritos."
Em sessão realizada na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em 18 de janeiro daquele ano, o médium escrevente Morin descreveu a
presença do Espírito padre Lacordaire como “um Espírito de grande reputação terrena, elevado na escala intelectual dos mundos (...) Espírita
antes do Espiritismo (...) e concluiu: “Ele pede uma coisa, não por orgulho, por um interesse pessoal qualquer, mas no interesse de todos e para
o bem da Doutrina: a inserção na Revista do que escreveu há treze anos. Diz, que se pede tal inserção, é por dois motivos: o primeiro ‘porque
mostrareis ao mundo, como dizeis, que se pode não ser tolo e cremos Espíritos’.
O segundo é que a publicação dessa primeira citação fará descobrir em seus escritos outras passagens que serão assinaladas como concordes
com os princípios do Espiritismo .”
Mas, ele mesmo, Lacordaire, retomou do Além-Túmulo, para emprestar à obra da Codificação a sua inestimável e talentosa contribuição.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos três mensagens, ditadas no Havre e Constantina, todas datadas do ç ano de 1863,
discorrendo sobre “O bem e o mal sofrer" - capl/í*v V, item 18; “O orgulho e a humildade" - cap. VII, item 11 e, “Des-j
prendimento dos bens terrenos” - cap. XVI, item 14.
*
LAMENNAIS - Nascido em uma família burguesa, em 19 de junho de 1782, em Saint-Malo, na França, Félicité Robert de Lamennais foi
brilhante escritor, tornando-se uma figura influente e controversa na história da Igreja francesa.
Depois da revolução de julho, em 1830, Lamennais, junto com Jean-Baptiste-Henri Lacordaire e Charles de Montalembert, além de um
grupo entusiástico de escritores do Catolicismo Romano Liberal, fundou o jornal LAvenir. Nesse jornal diário, defendia Lamennais os princípios
democráticos, a separação da Igreja do Estado, criando embaraços para si tanto com a hierarquia eclesiástica francesa quanto com o governo do
rei Luis Felipe.
O Papa Gregórío XVI desautorizou as opiniões de Lamennais na Encíclica Mirari Vos, em agosto de 1831. A partir de então, Lamennais
passa a atacar o Papado e as monarquias europeias, escrevendo o famoso poema Palavras de um Crente, condenado na Encíclica Papal Singulari
Vos, em julho de 1834. O resultado foi a exclusão de Lamennais da Igreja.
Por ocasião de sua morte, em Paris, em 27 de fevereiro de 1854, não desejando se reconciliar com a Igreja, foi sepultado em uma cova de
indigentes.
No Mundo Espiritual, não permaneceu ocioso, eis que em O Livro dos Espíritos, na pergunta de número 1009. encontra-se uma mensagem
de sua lavra, ilustrando a resposta. Nela, revela os traços da sua fé, concitando as criaturas a aproximar-se do Bom Pastor e do Pai Criador,
combatendo com vigor a crença das penas eternas.
Na mensagem que assina em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI, item 15, ele se revela o ser compassivo, que conclama as
criaturas a obedecer à voz do coracâo. oferecendo. se for necessário, a própria pela vida de um malfeitor.
Henrique VIII, (1491-1547), rei da Inglaterra entre 1509 e 1547 e o cisma com a Igreja Católica - (página 141) -Tendo-se apaixonado, em
1527, pela escocesa Ana Bolena, tentou romper seu casamento com Catarina de Aragão, com a qual tinha uma filha, Maria Tudor. O Papa
Clemente VII negou-lhe, manifestando uma hostilidade que não foi vencida nem pelos pedidos do embaixador francês. Thomas Cromwell,
nomeado Conselheiro do Rei, e um Teólogo católico, Thomas Cranmer, a quem o cisma com a Igreja Romana não amedrontava, promoveram
reformas administrativas, subordinando a Igreja ao rei, então proclaman- do-o seu protetor (1531). Nascia a Igreja Anglicana. Nomeado
Arcebispo da Cantuária, Cranmer anulou, em 23 de maio de 1533, o casamento do rei, e em 01 de julho deste mesmo ano, Ana Bolena recebeu a
coroa. A 11 de julho o Papa Clemente VII excomungou Henrique VIII. Posteriormente, Ana Bolena, caída em desgraça, foi condenada como
adúltera e incestuosa, e executa- da em 1536. Henrique casou-se então com Jane Seymour, que morreu ao ter um filho; em seguida com a alemã
Ana de Clèves. logo depois repudiada; com a católica Catarina Howard, executada por sua má conduta (1542); e, finalmente, com Catarina Parr,
viúva protestante. Morreu a 28 de janeiro de 1547.
Neo - prefixo grego que significa novo.
Platônico - relativo à filosofia de Platão.
Neoplatonismo - nome genérico de doutrinas filosóficas que retomam os aspectos fundamentais do Platonismo. No sentido estrito, o
neoplatonismo é a corrente filosófica fundada na Antiguidade por Amônio Sacas, e que teve como principal representante Plotino. A Escola de
Alexandria veio a ser um conjunto de doutrinas inspiradas em concepções platônicas e combinadas com outras ideias da filosofia grega. Essa
corrente influenciou profundamente os pensamentos medieval e moderno e, através desses, o pensamento contemporâneo.
Cari Gustav Jung (1875-1961), Neurologista, psiquiatra e psicanalista suíço cognominado “Pai da Psicanálise Analítica”, que é a corrente de
pensamento em que se baseia seu método de psicoterapia, e pelo qual legou sua contribuição a este ramo da ciência. Foi dissidente das teorias de
Freud, concebendo um Consciente totalmente diverso de Freud: o que este considerava como causa, para Jung era efeito, daí evoluindo o
conceito de Consciência; pretendia significar que a psique não tinha nenhum substrato biológico. A Psicanálise determinou novos rumos para as
ciências humanas - Sociologia, Antropologia e demais disciplinas -, para a Arte e para a religião; influenciou sobretudo no próprio estilo de vida
e costumes do homem do século XX.
Fontes de consulta em áudio e vídeo:
Fomos buscar os textos aqui abordados em gravações de áudio e vídeo de trabalhos desenvolvidos por Divaldo P. Franco através de
conferências, seminários de estudos, Congressos Espíritas e no acervo pessoal de gravações de que somos detentores, cuias fontes, pois, abaixo
relacionamos:
- Seminário de Estudos em Goiânia (GO) - 27/02/2001- Um Encontro com Jesus;
- Mini-Seminário de Estudos em Araguari (MG) -15/02/2002
- Jesus e o Evangelho;
- Seminário de Estudos - Porto Alegre (RS) - 07/04/2001
- Jesus e o Evangelho;
- Seminário de Estudos - Santa Maria (RS) - 28/07/2002
- Jesus e o Evangelho;
- 4o Movimento Você e a Paz - Salvador (BA) - Conceitos;
- Conferências públicas:
- Criciúma (SC) - O Bispo Pike - 03/03/1999;
- Caçapava do Sul (RS) - O Bispo Pike - 26/10/1998;
- Ouro Preto (MG) - O Bispo Pike - 05/03/2001;
- Rio Negro (PR) - Reencarnação - 28/10/2001;
- Pato Branco (PR) - O Que é o Espiritismo -26/06/2001;
- Novo Hamburgo (RS) -12/09/1988;
- Amparo (SP)-28/08/2003;
- Salvador (BA) - João Batista -1990;
- 46a Semana Espírita de Vitória da Conquista (BA)-
- Provas Científicas da Reencarnação -11/09/1999;
- Rio de Janeiro - Reencarnação e a Bíblia -19/8/1998;
- Salvador (BA) - Jesus Histórico -1987;
- Salvador (BA) - O Fascínio por Jesus -1974;
- Salvador (BA) - O Flagicio de Jesus -
- Salvador (BA) - Jesus Sempre -1989;
- Salvador (BA) - Jesus e Lázaro -1990;
- Salvador (BA) - FEEB - O Cristo Cósmico -1989;
- Novo Hamburgo (RS) - Reencarnação -12/09/1988.
Bibliografia
1 - Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. 35a ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.
2 - _______ . O Evangelho Segundo o Espiritismo. 67a
ed. Rio de Janeiro: FEB, 1976.
3 - _______ . Obras Póstumas. 17a ed. Rio de Janeiro;
FEB, 1978.
4 - Federação Espírita do Paraná - Expoentes da Codificação Espírita. 1a ed.; 2002.
Consulta Geral
Dicionário Enciclopédico Brasileiro Ilustrado - Ed. Globo, RS -1957.
Enciclopédia Brasileira Globo - Ed. Globo, RS,1969.
Enciclopédia Delta Larousse - vol III - 2a ed. - Ed. Delta S.A., 1964-RJ.