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Délcio Carlos Carvalho é gaúcho de Porto Alegre, farmacêutlco- bloqufmlco por formação, é participante ativo no movimento espírita em sua cidade,
tendo por diversas vezes ocupado a presidência da Sociedade Espírita Paulo de Tarso, na zona norte daquela capital, como também na União Distrital Espírita
Passo d'Arela, exercendo, na atualidade, o cargo de secretário do Conselho Regional Espírita da 1a Região, pertencente IFERGS, tendo conhecido Dlvaldo
Franco em sua Juventude, jamais deixou de acompa- nhá-lo nas suas Idas àquele Estado. Posteriormente, em I meados da década de 80, integrou a equipe de
voluntários que assessora Dlvaldo em seus roteiros no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, auxiliando na vendagem de livros em prol da Mansão do
Caminho. Inúmeras vezes esteve com Dlvaldo e Nilson nos roteiros pela Europa, possuindo um vastíssimo acervo de gravações em fita cassete, nacionais e
internacionais, o que lhe permite extrair preciosos textos para os seus trabalhos de compilação, tal como podemos constatar em Dlvaldo Franco e o Jovem,
publicado pela LEAL em 2002 e Já na segunda edição, com os mais belos contos e narrativas de Dlvaldo Franco.

Verso
Vi;
Este livro'reúne em um só volume' os contos que compensam a se nsibilidade e expõem as essencias doutrinári as mais 'apreciâveis,
atendendo ! busca do conheci menfÉ Lfe conduzindo-nos ao discerni mento, à estabilidad e e mocional, àí -se gura nça interior que só
aquele [que édotado de uma fé autêntica é capaz de fruir. Ao final, o querido leitor sentirrs.e -á gratifi cado por ter ferto,
estapíyia ge m ao encontro de J esus, aportando acalentado por sagrados estí mulos para a vida, amando J esus, dilatandq |»a
compreensão sobre o subli me saçrifíl cio do Na zare no Ami go, introj etando-0 defin itiva mente co mo o M odelo e Guia por
excelência.

AUTOR
Ele e um dos mais conhecidos oradores e médiuns da atualidade, fiel mensageiro da palavra de Cristo pelas conso- ladoras e esperançosas lições da
Doutrina Espirita Kardecista.
Com a orientação de Joanna de Ângelis, sua mentora, tem psicografado cerca de 200 obras de vários espíritos, muitas já traduzidas para outros idiomas,
levando a luz do Evangelho a todos os continentes sedentos de paz e de amor.
Divaldo Franco tem sido também o pregador da Paz, em contato com o povo simples e humilde que vai ouvir a sua palavra nas praças públicas,
conclamando todos ao combate à violência, a partir da autopacificação.
Há mais de 50 anos, em parceria com seu fiel amigo Nilson de Souza Pereira, fundou, no bairro de Pau da Lima, a Mansão do Caminho, cuio trabalho de
assistência social a milhares de pessoas carentes da cidade do Salvador, tem conquistado a admiração e o respeito da Bahia, do Brasil e do mundo.
Todos os direitos de reprodução, cópia, comunicação ao público e exploração econômica desta obra estão reservados, única e exclusivamente, para o Centro
Espirita Caminho da Redenção (CECR). É proibida a sua reprodução pardal ou total, através de qualquer forma, meio ou processo: eletrônico, digital, fotocópia,
microfilme, internet, cd-rom, sem a prévia e expressa autorização da Editora, nos termos da lei 9.610/98 que regulamenta os direitos de autor e conexos.
Divaldo Pereira Franco

Um encontro com Jesus


Compilação de Délcio Carlos Carvalho
10.000 exemplares
©Copyright 2007 by Centro Espírita Caminho da Redenção Rua Jayme Vieira Lima, 104 - Pau da Lima 41235-000 Salvador-Bahia-Brasil
Revisão: Prof. Luciano de Castilho Urpia e Zilda Maciel Cabral Editoração eletrônica: Nilsa Maria Pinto de Vasconcellos Capa: Thamara Fraga
Impresso no Brasil Presita en Brazilo
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Franco, Divaldo Pereira
Um encontro com Jesus / Divaldo Pereira Franco : compilação de Déldo Carlos CarvalhoSalvador, BA: Livr. Espirita Alvorada, 2007
Bibliografia
1. Espiritismo 2. Espiritismo - Discursos, ensaios, conferências 3-. Mediuni- dade 4. Jesus Cristo - Interpretações espíritas I. Carvalho, Délcio Carlos, li. Titulo
07-4714 CDD-133.9
índices para catálogo sistemático: 1. Espiritismo : Palestras 133.9
LIVRARIA ESPÍRITA ALVORADA EDITORA CNPJ 15.176.233/0001-17 - I.E. 01.917.200 Rua Jayme Vieira Uma, n.° 104 - Pau da Uma - CEP41235-000 Salvador-Bahia-Brasil
Teiefax: (71) 3409 8310/11 • e-mail: leal@mansaodocaminho.com.br www.mansaodocaminho.com.br 2007
Todo o produto desta edição é destinado à manutenção da Mansão do Caminho, Obra Social do Centro Espirita Caminho da Redenção (Salvador-Bahia-Brasil)

SUMÁRIO
Apresentação 09 Prefácio 11
01 Análises históricas 13
02 O nascimento de Jesus 25
03 A historiografia de Jesus 29
04 Examinando o dogma da Santíssima Trindade 53
05 Jesus é o salvador? 57
06 O que é necessário para salvar-se 59
07 A questão do dízimo 63
08 A sombra do preconceito 67
09 Julgar é lapidar 81
10 Raça de víboras 89
11 Humildade sublime 91
12 A morte de Jesus - o flagício 95
13 Sublimidade do amor 107
14 O companheiro das dores ocultas 111
15 Os profetas da destruição 115
16 O batismo e a lenda do pecado original 119
17 O dilúvio universal 135
18 O périplo da luz 139
19 O advento do Espiritismo 165
20 A promessa de Jesus 169
21 É o Espiritismo cristão? 175
22 A primeira sessão mediúnica da história 177
23 As perseguições 179
24 A Bíblia condena o Espiritismo? 189
25 Provas científicas da reencarnação 197 O bispo Pike - Introdução 259
26 O bispo Pike 261
Notas complementares 295

APRESENTAÇÃO
“São chegados os tempos em que se hão de desenvolver as ideias, para que se realizem os progressos que estão nos desígnios de Deus. Têm elas de seguir
as mesmas rotas que percorreram as ideias de liberdade, suas precursoras. Não se acredite, porém, que esse desenvolvimento se efetue sem lutas. Não; aquelas
ideias precisam — para atingirem a maturidade — de abalos e discussões, a fim de que atraiam a atenção das massas. Uma vez isso conseguido, a beleza e a
santidade da moral tocarão os espíritos, que então abraçarão uma ciência que lhes dá a chave da vida futura e descerra as portas da felicidade eterna. Moisés
abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. I, n° 9).
Mais outro registro dos trabalhos desenvolvidos pelo querido médium Divaldo Pereira Franco, que nos evidencia a magnitude, a portentosa tarefa de
iluminação de consciências que esse abnegado servidor de Jesus vem realizando há mais de meio século.
Não seria crível que não se procedesse à realização de anotações escritas, materializadoras de ideias, para que gerações porvindouras possam recolher da
sementeira de luzes que esse dedicado companheiro, por amor a Jesus, vem lançando no jardim das consciências que o Senhor vem amanhando no decorrer
dos evos.
Totalmente dedicadas ao Sublime Companheiro, far- nos-ão percebê-iO com mais clareza na condição de Amigo Permanente das nossas vidas,
contribuindo certamente como um novo e poderoso impulso para a já inarredâvel tarefa de libertação da materialidade, que nos vem retendo nos abismos da
incerteza e vulgaridade.
Sentir Jesus, sopesando Seus sacrifícios, Sua epopeia, Seu expressivo investimento de amor, é estímulo para atendê-IO em Sua bimilenar rogativa sobre o
“Amai-vos...”, visto que aí estão os tempos chegados, sob forma de desafios, os mais díspares possíveis, e é inadiável nosso posicionamento moral.
Esta Obra, que transcreve diversas palestras integrais ou trechos vários de temas proferidos por Divaldo Pereira Franco, em diferentes épocas e cidades do
Brasil, mostra- nos, com tintas e cores esplendentes de beleza, o Cristo- Amor, o Mestre Amigo e Incomparável das nossas vidas, como tantas vezes o querido
confrade a Ele assim se refere.
PREFÁCIO
Sempre tivemos o desejo de encontrar uma obra que se destinasse a promover o raciocínio lógico na área da fé.
Por que as questões da religião deveríam ser deglutidas sem serem mastigadas pelo crivo da razão, como até então vem sendo imposto?
Por vezes, chocados pelo horror das tragédias diárias que assolam a Humanidade, em que o homem se tornou seu próprio lobo, ficávamos a
meditar sobre como a isso se chegava, nós, as criaturas dotadas de sentimentos e de raciocínio...
Concluíamos, que sem uma orientação religiosa clara que desperte para a responsabilidade dos atos, ficaríamos quase eternamente na
indefinição da mobilização semeadora e saneadora, que modificasse as estradas do futuro em direção a uma sociedade solidária e benevolente.
Confessamos, que infelizmènte nos magoávamos contra as religiões dominantes, às quais, indevidamente, atribuíamos a falência e o caos
moral que vicejam entre as criaturas, esquecidos desse atavismo instintivo que trazemos, mas que a boa orientação religiosa é capaz de solver.
Também, sempre nos repugnou a contenda de crenças, essa estúpida e infantil competição entre aqueles que se dizem cristãos, e que, amiúde,
hostilizam-se, contundindo-se moralmente, dando à mostra a insipiência, legando muito mais distúrbios no campo da fé do que as bases da
crença que sustém e consola...
Ao assistirmos a Divaldo em suas pregações, sendo- nos colocada a ótica espírita - referta de raciocínios, e condizentes com o que
concebemos seja Deus - fulgores de alegria espocavam-nos no íntimo, como se sublime elixir trouxesse-nos a chama lustral que acendesse
claridades e confortos interiores, nessa busca até então fraudada pela aridez das crenças tradicionais, amortalhadas pelos rituais e dogmas
inconsistentes, vazias de conteúdo explicativo.
Era a nossa sede por Jesus, até então oferecido em ânforas adornadas pelo ouro exterior, mas empobrecido de conteúdo dessedentador...
Ao buscarmos compor esta obra, tivemos em conta apresentar - também pela grafia - aquele Jesus Amigo e Companheiro e a excelência das
propostas espíritas, que encantam e mobilizam, fazendo-nos perceber que a Razão Maior sempre foi atuante e permanente, aguardando-nos o
vero interesse na busca, em primeiro lugar, do Reino dos Céus, como sugeria Jesus, quando então, após “batermos”, abrir-se-nos-iam as
portas do entendimento que nos conduz à libertação das amarras da ignorância milenar.
“Vim lançar o fogo à Terra para expungi-la dos erros e preconceitos” - disse-nos Jesus. Esse, o sentido que fomos buscar em Divaldo, a
quem outra vez mais reverenciamos, pelos incontáveis benefícios auferidos, nestes anos em que o temos assistido e fruído de seus conhecimentos
e abnegação em levar adiante as verdades do Evangelho de Jesus, resgatando-as dos pedrouços que a cupidez humana eivou, instigada por
propósitos subalternos, tentando apagar-Lhe a esplêndida mensagem iluminativa, confor- mando-a aos seus mesquinhos interesses.
Aqui teremos explicações sobre vários trechos evangélicos que não conseguíamos compreender, e que nos são apresentadas dentro do
padrão da lógica, encaminhando- nos pelo gosto na busca das essências doutrinárias de Jesus, favorecendo-nos o discernimento, robustecendo-
nos a fé e a admiração pelo amado Mestre Jesus.
Porto Alegre, primavera de 2005.
Délcio Carlos Carvalho

1 ANÁLISES HISTÓRICAS
O tema mais importante da Humanidade é Jesus, o Ser por excelência. Começaremos por uma análise histórica.
No dia 22 de fevereiro de 1862, no College de France, em Paris, um dos maiores intelectuais da Academia Francesa de Letras, no seu tempo,
levantou-se para proferir um discurso e apresentar uma obra polêmica, que ainda estava escrevendo, e que, desde antes, havia sensibilizado a
opinião pública, graças aos comentários veiculados nos grandes jornais da época, naquela cidade.
O homem: Ernesto Renan.
O livro: A Vida de Jesus.
Ernesto Renan escrevia essa obra em circunstâncias muito especiais.
De formação materialista e acadêmica, a sua ironia a respeito de Jesus e da religião vigente fez com que se tornasse célebre pela
manifestação de desagrado e pela maneira como tratava as questões pertinentes à fé religiosa.
Devemos recordar-nos que o ano de 1862 estava caracterizado por uma Paris, Cidade-Luz, onde as ideias nasciam pela manhã e morriam ao
declinar do dia.
Diante da seleta presença intelectual da Europa, enunciou, naquele College, esta frase de poucas palavras: “Jesus é um Homem
Incomparável.”
Perguntar-se-á: por que a audácia de Renan, já que ele era materialista, fazendo parte da elite francesa, que seguia a tradição do recém-
nascido mecanicismo materialista? É que, nesse ínterim, uma sua irmã, por quem era muito afeiçoado, enfermara gravemente. Vivia-se o período
da peste branca, a tuberculose pulmonar. Ela houvera contraído a doença e, porque o clima da França era-lhe prejudicial, foi- lhe recomendado
pelos médicos que se transferisse para o Líbano, a fim de poder recuperar a saúde.
Lembremo-nos que, no século XIX, o Líbano era possessão francesa e, além do árabe, falava-se também como língua nacional, o francês.
Ela foi morar naquele país, perto de Baobec, à margem do grande deserto. O clima quente, a aridez da terra, o Sol agradável iriam propiciar-lhe a
desejada recuperação.
Ali, teve oportunidade de travar contato com o Cristianismo, porém, o Cristianismo desataviado e simples, o Cristianismo primitivo,
ensejando-se, também, a ensancha de viajar por algumas províncias por onde peregrinara a palavra altissonante e nobre do apóstolo Paulo,
visitando as velhas igrejas, algumas delas, agora, em ruínas.
Estando diante daquelas evocações, deixou-se fascinar por Jesus, e tomando do Evangelho, Iluminou-se, embriagada de esperanças.
Conhecendo o radicalismo com o qual Ernesto Renan combatia Jesus, fez-lhe uma memorável carta-repto, tendo oportunidade de dizer-lhe:
“Tu não conheces Jesus! Tu O combates, mas nunca O leste. Lês aquilo que escrevem os teólogos. O Jesus que te deram, é o Homem crucificado
no dogma. Tu nunca tiveste ocasião de penetrar nas fontes históricas, no entanto, na tua condição de professor de hebraico, na Universidade de la
Sorbonne, poderias lê-IO no original, prolongando-te pelas Cartas Paulinas, tomando conhecimento das narrações em grego e aramaico, sem
qualquer perigo de adulteração ou de interpolação.Tenho certeza de que Ele cativará tua alma por ser uma figura incomparável da História.
Somente terás autoridade para combater o Cristianismo depois de leres Jesus-Cristo, naqueles que O conheceram e, se tiveres coragem,
desvelares para o mundo o Jesus que encontrares."
Renan, que realmente nunca tinha lido o Evangelho, nas suas fontes originais, aceitou o desafio. Resolvendo-se por assim fazer, começou a
procurar as primeiras traduções em hebraico, os primeiros manuscritos em grego e, mais tarde, a Vulgata, a tradução para o Latim vulgar.
Surpre- endeu-se. O Jesus que ele conhecia não era aquele Jesus histórico; era o teológico, aquele que havia sido elaborado pelos continuadores
da Sua Doutrina e que Lhe adulteraram as palavras.
Depois que leu aqueles quatro narradores, sentiu-se tocado por Jesus, e escreveu um Evangelho à sua maneira, na sua óptica de idealista, de
filósofo e de libertário de consciências.
Nesse dia, portanto, 22 de fevereiro de 1862, comentava a sua obra, num dos auditórios mais célebres da França. Começou o seu discurso de
maneira sui generis. Suas primeiras palavras causaram impacto no auditório, recebendo da crítica literária e, posteriormente, da intolerância
religiosa da época, os mais ásperos e ácidos comentários. Dissera Renan: “Jesus é um Homem Incomparável”.
Nessas cinco palavras, ele tentava demolir a velha tradição teológica de um Homem-Deus, de um Deus feito homem, criando, assim, uma
celeuma e um debate que se arrastariam por muito tempo.
Naturalmente, o discurso de Renan prosseguiu, mas o Le Monde, jornal francês de orientação católica, caiu sobre ele com toda a ferocidade
daqueles que não admitem pessoas que pensam livremente e que tenham a coragem de ser independentes, em um mundo de paixões e de
escravidão. Logo depois, Renan publicaria a sua Vida de Jesus em três volumes.
Essa celeuma prossegue até os dias atuais, convidan- do-nos a graves reflexões, isto porque, ao afirmar que Jesus é um Homem
Incomparável, Ernesto Renan, por definitivo, mata a figura mitológica de Jesus. Retirou-0 da galeria mítica, na qual fora colocado pela tradição
religiosa ancestral e era comparado a Zeus, do Olimpo, ou a Krishna, da India, apresentando-nos, dessa forma, um Jesus humanizado, trazendo-0
para perto de nós, e dEle retirando aquela condição arbitrária, quanto indevida, de Deus que se fez homem, estando em contacto conosco de
maneira mais adequada.
No momento da proposta Jesus é um Homem Incomparável, houve um murmúrio no auditório, e essa reação iria tornar a sua obra ainda mais
requisitada, pois que, trinta anos antes houve um movimento revolucionário na cultura religiosa da França, propondo uma visão nova da fé, cuia
bandeira era Deus e liberdade.
A Revolução Francesa de 1789 inscrevera nas páginas da Justiça, os ideais enobrecedores do homem: Liberdade, Igualdade, Fraternidade, e
em 1791, pela primeira vez, o Código dos Direitos Humanos era estabelecido como fundamentai à vida.
Era inevitável, que a França do século XIX, herdeira dos filósofos revolucionários, não desejasse mais subme- ter-se ao jugo arbitrário de
qualquer forma de intolerância, e, a de ordem religiosa, então vigente, escravizava as mentes ao talante das paixões nela vigorantes.
Entre muitos pensadores-teólogos do clero francês, levantaram-se Montalembert, Lamennais1e Lacordaire2, para solicitar ao Papa, por
premente necessidade, a apresentação de um Deus que concedesse, pelo menos, a liberdade de consciência, naqueles dias de lluminismo.
Assim, na ocasião, na Rive Gauche, no bairro de Saint Michel, em Paris, apareceu em 1830 um periódico com o nome L’Avenir, (O Porvir).
Nele estavam as mais lúcidas inteligências da aristocracia teológica da França, que proclamavam a necessidade de Deus e Liberdade; não mais
podendo-se manter uma doutrina escravocrata, nem submeter-se a inteligência às imposições medievais. Por isso,
desejava-se que a Igreja do século XIX permitisse a liberdade de expressão. Claro, mantinha-se a crença em Deus como Centro do Universo,
mas destituído da peia dogmática. Era necessário fazer com que a religião abandonasse o autoritarismo, o pedantismo, a ditadura, e oferecesse
aos seus profitentes um conceito de Deus semelhante ao de liberdade de pensamento.
Lamennais, mais tarde celebrizado pela sua cultura, e Lacordaire igualmente nobre, não havendo conseguido na Terra o seu intento,
reaparecerão nas páginas alcandoradas de O Evangelho Segundo o Espiritismo, com mensagens comovedoras, mantendo os ideais que
abraçaram na Terra.
Um ano antes, em 1831, esses notáveis normandos, graças à sua audácia intelectual, haviam solicitado ao Papa uma entrevista em Roma, que
os recebeu gentilmente, pois Lamennais tinha um irmão que servia na Cúria romana e que se destacara diante do Chefe da Igreja, facilitando-lhes
o encontro.
A Igreja ancestral estava em decadência naquele terceiro decênio do século XIX e, na condição de intelectu- ais-teólogos, eles desejavam que
Jesus passasse à galeria dos seres extraordinários e não mais permanecesse como um mito inalcançável ou Deus em figura humana, mas sim,
como Homem em manifestação divina, deuses que, de alguma forma, somos todos nós.
O Papa Leão XII era um homem de grandes ideais. Desejava alargar os horizontes da Igreja, acabar com as lutas entre o Pontificado e os
Estados italianos, ensejando uma releitura dos Evangelhos.
Com efeito, o Papa escutou-os. Durante uma hora conversou sobre tudo, menos - diz o relato de ambos - sobre a tese essencial, porquanto
estava mais interessado nas questões da governança da Igreja do que na expansão da proposta do Amor, de que se fizera o exímio embaixador da
figura cândida do Sublime Galileu. Nada obstante, prometeu que iria examinar a situação vigente na França, e depois daria a sua opinião, na
condição de Pai e Pastor.
Decepcionados, retornaram a Paris. Por desejarem um Deus libertador e não um Deus dominador, solicitaram uma nova audiência ao Papa,
programada para o ano seguinte.
Logo depois, por ocasião do retorno dos missionários franceses, o Papa teria dito a alguns Cardeais amigos: “É o fogo da juventude... Mas,
saberei como acalmar esse jovem - referia-se a Lamennais - oferecendo-lhe o anel cardinalí- cio e o chapéu de príncipe.”
Ele não conhecia, porém, a grandeza morai desse Lamennais sonhador, que recusou tanto o anel quanto o chapéu cardinalícios. Não desejava
honras. Anelava pela felicidade de servir e de oferecer Jesus à sociedade de sua época, na condição de Exemplo e de Modelo ímpar.
Quando repetiram a viagem Paris-Roma, com as dificuldades daquele século, Lamennais ainda recordava a afabilidade paternal de Leão XII.
Quando, porém, chegaram a Roma, tiveram a notícia do infausto acontecimento: Leão XII havia desencarnado, e estava no trono de São Pedro
um homem portador de uma temeridade incomum: Gregó- rio XVI, que havia apresentado uma Encíclica, através da qual exigia submissão, sem
discussão, de todos os fieis às determinações da Cúria romana. Programada a entrevista, foram-lhes concedidos cinqüenta minutos. Antes,
porém, ficaram por mais de uma hora na antecâmara, até que se adentrassem na sala palaciana, na qual estava reunida a corte pontifícia.
O Papa desfilava como um rei. Aqueles três jovens sonhadores, que anelavam por Deus e liberdade, esforçaram-se por aproveitar a hora de
que dispunham naquela oportunidade, mas foram gastos quarenta e cinco minutos em conversação frívola, sendo-lhes reservados apenas cinco,
para que expusessem a ideia sobre o lema que os arrebatava.
Narra o episódio da época, ter sido bastante insignificante o diálogo, porquanto o Papa estava mais interessado em ouvir uma anedota contra
os franceses - que não acreditavam no Purgatório — havendo sorrido muito, do que dialogar com os mesmos.
Para tranqüilizá-los, o Papa ofereceu-lhes rapé em uma tabaqueira de lápis-lazúli3, a fim de que pudessem aspirar o pó a plenos pulmões,
eliminando qualquer constrangimento, porque, o que interessava a Sua Santidade - até então ainda não considerado infalível, o que somente iria
acontecer em 1870 - era que eles vivessem a vida religiosa integralmente, ponderando ser a questão da liberdade muito romântica e mais
pertinente ao pensamento intelectual dos filósofos, mas nada prática no relacionamento das criaturas humanas...
Retornaram, esses admiráveis pensadores, profundamente frustrados, amargurados e tristes. Não era possível que Jesus estivesse sentado na
denominada sedia gesta- toria, em Roma, que o Papa usava nas procissões, nem podiam compreender que ali estava a representação do apóstolo
Pedro, aquele discípulo afável de Jesus, que no momento da própria crucificação houvera pedido: - “Po- nham-me de cabeça para baixo, pois
que não mereço morrer na mesma posição do Mestre Galileu”...
Embora hajam ficado mais alguns dias em Roma, soou o momento de retornarem a Paris, sendo que Lamennais seguiu a Munique e ali
tomou conhecimento da encíclica Mirari Vos, de Gregório XVI, denunciando tudo quanto acreditava que ameaçasse o seu poder em Roma...
À medida que os acontecimentos tinham lugar, observaram que a Humanidade voltava às trevas medievais, porque o Papa Gregório XVI
logo apoiara a dominação arbitrária dos russos sobre os poloneses, estabelecendo que o Czar tinha as bênçãos de Deus para esmagar o
proletariado da Polônia; que havia firmado um pacto de ajuda com os déspotas da Áustria, da Prússia, da França, repetindo os hediondos
espetáculos da noite de sombras do passado.

1
(1) e (2) LAMENNAIS E LACORDAIRE - Houvemos por bem inserir algumas considerações sobre estes dois brilhantes Pensadores franceses.ao final desta compilação.
2
(1) e (2) LAMENNAIS E LACORDAIRE - Houvemos por bem inserir algumas considerações sobre estes dois brilhantes Pensadores franceses.ao final desta compilação.
3
(3) LÁPIS-LAZULI - Mineral opaco que é um silicato de composição complexa. Sua cor é azul e funde dificilmente. E solúvel nos ácidos. Encontra-se na Pérsia e na China, em filões de
rochas calcáreas cristalinas; é empregado na confecção de objetos de adorno e como matéria prima na extração de um corante.
Quando Lamennais ainda se encontrava em Munique, soube que fora censurado publicamente, assim como o L’Avenir, prenunciando o seu
desaparecimento. Desespe- rou-se, e rumou a Paris, continuando a invectivar contra a conduta arbitrária do alto-clero, bem como sobre a
imoralidade que governava a doutrina, em Roma. Anelava pelo retomo do Cristo, porém, do Homem-Jesus, para atender as necessidades
imensas da criatura humana, cuio rebanho se encontrava perdido.
O L’Avenir foi fechado e proibido de circular, Lamennais encarcerado, Lacordaire e Montalembert foram excluídos dos quadros religiosos.
É compreensível, portanto, que transcorridos trinta anos quase, Ernesto Renan voltasse à mesma tônica, embora com outras palavras. Estava
ansioso para que Jesus fosse considerado um Homem, não um Deus, com a possibilidade, assim, de penetrar os corações humanos de maneira
sutil e profunda, ao mesmo tempo arrebatadora.
Era natural que, ao retomar o barco da experiência renovadora, viesse também a padecer uma insana perseguição, por ter caído no desagrado
da religião dominante. Ele era professor de hebraico, como dissemos, na Universidade de la Sorbonne e havia conseguido essa cátedra graças a
uma proposta do Imperador Luis Napoleão III, por instâncias de uma sua discípula, que convivera com esse mandatário em sua infância,
granjeando-lhe um lugar de destaque e de alta representatividade.
Sob pressão do Clero, essa cátedra foi-lhe retirada, recebendo o opróbrio, a humilhação, mas não perdeu a dignidade de falar a respeito de
Jesus aquilo que pensava, tornando sua obra um marco histórico no pensamento religioso, em que Jesus saía das páginas dos dogmas ultra-
montanos para o quotidiano dos corações humanos.
Foi, nesse ínterim, entre 1832 e 1862, que surgiu a Doutrina Espírita (18-04-1857). Não passaria despercebida a Allan Kardec, o notável
Codificador, a presença do livro do mestre Renan, que leria e interrogaria aos Espíritos, conforme se encontra anotado na Revista Espírita, na
qual comenta, no bojo da obra, a especificidade das conjecturas apresentadas pelo insigne filósofo.
Aquele Lamennais, aquele Lacordaire, que foram abominados pela intolerância religiosa, volveram, porém, em liberdade espiritual e
escreveram do Além a respeito desse Homem Incomparável que é Jesus, e que Ernesto Renan não teve oportunidade de conhecer desvelado
pelos excel- sos Espíritos da Codificação.
A nós, em particular, interessa-nos a questão revolucionária do grande escritor haver arrancado Jesus do dogma da Santíssima Trindade e
trazê-IO para as praias do nosso coração, para que suas redes nos alcancem e nos tirem das águas procelosas do mar das paixões.
Foi Renan quem teve a oportunidade de dizer que Jesus é tão grande que não coube na História. Todas as personalidades viveram, nascerem
na História e morreram dentro dela. Jesus, não! O Seu berço encerrou uma época e abriu outra Era. Por isso mesmo, os fastos passaram a ser
contados antes e depois dEle.
Sempre que falamos sobre Jesus, somos levados a fazer várias excogitações: seria Ele um mito, tal como qualquer um daqueles deuses do
panteão greco-romano, hebraico ou uma realidade?
A personagem mais biografada do mundo até este momento, é Napoleão Bonaparte. Segundo alguns bi- blioteconomistas, já foram escritas
mais de 250.000 biografias, artigos, ensaios a respeito do Corso de Ajácio, também comentários, livros de protestos, considerações favoráveis,
dele fazendo o vulto mais honorável da França guerreira de todos os tempos.
No entanto, Jesus tem a Sua biobibliografia apresentada em uma expressiva soma de aproximadamente 500.000 livros. Claro que, nem todos
favoráveis. Inevitavelmente, porém, a Sua importância é tão singular, que a história pós- cristã não resistiu em escrever sobre esse Homem de
maneira complexa e variada: Jesus, o Anarquista; Jesus, o Libertador; Jesus, o Marxista; Jesus, o Homem de Nazaré ...
Uma das maiores psicanalistas do século XX, a Dr8. Han- na Wolf, alemã, dedicada à investigação sobre a vida de Jesus, referiu-se, certa
vez: “Jesus está na moda”... Eram, então, os anos sessenta do segundo milênio (1960-1970). Logo depois, ela voltaria a dizer: “Ele é alguém que
não sai da moda”; já nos anos noventa, a Dr3. Hanna Wolf, de alguma forma, embora não proposital, retomou os ideais de Renan, agora sob a
óptica da Psicanálise. Passou uma longa temporada na índia, quando estudou profundamente o Hinduísmo e procurou adaptá-lo ao pensamento
de Freud e de Jung. Posteriormente, foi convidada a passar uma expressiva temporada na Bolívia onde, em contato com os índios, acompanhou
muitas experiências de estados alterados de consciência, graças à coca e diversas raízes, que liberam as grandes amarras que a consciência
detém sobre a superconsciência.
Voltando à Alemanha, encontrava-se em condições de informar que Jesus é, sem dúvida, Insuperável, e apresen- ta-se hoje tão atual, ou
mais, do que naqueles dias, quando veio conviver com as criaturas.
A cultura europeia e americana havia ressuscitado Jesus, sim, para que os jovens empreendessem uma grande marcha na decifração desse
Homem Admirável. Ao afirmar que Ele é de grande atualidade, refere-se, por exemplo que, no movimento hippieísta, os jovens que buscavam a
flor e o amor, através do sexo desvairado, viram em Jesus o Modelo, e tentaram transformar seus conflitos e ansiedades numa ópera pop, que
denominaram Jesus Super Star,; tra- zendo-0 ao palco da Humanidade, falando da necessidade de liberdade, a qual, em alguns arraiais era
confundida com libertinagem. Eles próprios, esses jovens aturdidos, não compreenderam a mensagem de Jesus e deformaram-na. Mais tarde,
apareceu a película A Última Tentação de Jesus, de Bertolucci, que se baseou em um autor grego que procura demonstrar que o Incomparável
Homem se teria perturbado pela sedução da pecadora de Magdala, mas, que podería ser, também, a última tentação de Bertolucci, usando a
figura do Cristo...
A Sua personalidade invulgar, parece cada dia crescer, porque Ele é o zênite e o nadir das aspirações humanas. É compreensível, portanto,
que essas 500.000 biografias, ensaios, crônicas, críticas, dEle façam a personalidade mais versátil, mais conhecida e mais debatida da história da
Humanidade.
A verdade é que, periodicamente, Jesus ressuma da História e passa a governar os nossos destinos, apresentando a Sua historiografia e
expressando-se em vibração de paz. Ele é portador de algo que penetra o âmago do coração, por simbolizar o amor na sua plenitude: é a
liberdade legítima e total.
Foi Ele quem teve a coragem de mudar o destino da Terra.
Até Ele, a Lei fora codificada em uma esteia de pedra através do Código de Hamurábi. Mais tarde, a tradição hebraica houve por bem
estabelecer a lei de tal-e-qual, ou Lei de Talião: conforme o delito, a punição.
Moisés tentou suavizar a legislação humana apresentando o Decàlogo; a Lex Romana procurou manter o direito de propriedade da terra onde
se vai sepultado, da família, da liberdade.
Ele proclamou a Lei de Amor,; como aquela que vige em toda parte e que os espíritos confirmaram como a Lei Natural, composta de dez leis
morais outras, que abarcam as necessidades que hoje temos na Terra como impositivo para a evolução.
2 O NASCIMENTO DE JESUS
Celebramos o Seu aniversário em 25 de dezembro. Mas, Ele não nasceu nessa data.
Ele teria nascido entre os dias 2 a 4 de abril, segundo alguns historiadores. A data é muito imprecisa, por motivos compreensíveis, em face
das mudanças de calendário e da falta de registro histórico de confiança.
Todas as tradições asseveram que foi nesse período que ocorrera o Seu nascimento.
E por que o comemoramos em dezembro? Porque a cultura romana, a sua mitologia propriamente dita, havia reservado o dia 25 de dezembro
para a festa pagã do Solis Invictus (o Sol Invencível) logo após o chamado solstício do inverno (22 ou 23), o dia mais curto do ano europeu,
celebração essa de natureza sensual, para o gozo, para a perversão.
Quando os cristãos primitivos resolveram celebrizar Jesus, naturalmente elegeram essa data para o Seu nascimento, a fim de que fosse
substituída aquela comemoração, vulgar e perturbadora, por outra de mais alto significado, de conteúdo profundo, que tivesse representação
muito maior do que a convencional. Então, transferiram a data do nascimento de Jesus, de abril para dezembro...
Dessa maneira, foram empanadas, e mais tarde esquecidas, as evocações aos deuses Baco, Saturno e as grandes entregas à sensualidade.
Por que a razão de tantas confusões? Devemos recordar que o calendário primitivo era lunar, e para adaptá-lo à realidade foram necessárias
muitas concessões. Entre essas, a colocação de um mês dedicado a Júlio César, o grande conquistador (Julho).
A seguir, mais um mês, dedicado a Otaviano, agosto, considerando-o Augusto, conforme fora homenageado.
Como conseqüência, houve o acréscimo de mais dois meses, a fim de coincidir com o périplo que a Terra desenvolve em torno do Sol, além
de um dia a mais, a cada quatro anos, que é o bissexto.
Igualmente, Ele não teria nascido no ano 0 da nossa Era. Isso é ainda mais perturbador, porque se assim o fosse, seria necessária uma grave
alteração em as narrações evangélicas.
Como todos nos recordamos, governava a Palestina, principalmente a Judeia, Herodes, o Grande,4 que morreu aproximadamente no ano 4
antes da nossa Era. Como Herodes teria mandado matar os recém-nascidos até os dois anos de idade, isso deve ter acontecido dois anos antes de
ele ter falecido, o que recuaria a data do nascimento de Jesus para os anos 6 ou 7 antes da convencional vigente em nosso calendário.
Mas será importante que Ele tenha nascido no ano 0 da nossa Era ou antes, no ano 6?
O importante é que Ele nasceu. Temos esta certeza, porque a história de Jesus está no Evangelho, rica de detalhes dos acontecimentos que
Lhe confirmam a existência.
A vida de Jesus é também algo paradoxal.
Se remontarmos aos mais confiáveis historiadores, aqueles que são aceitos pelos líderes religiosos do mundo cristão, veremos que a Sua vida
é tão singular, que a História não define exatamente quando Ele nasceu ou quando morreu.
Então, será que Jesus nasceu? Não seria um mito, como tantas outras figuras originadas em nossos arquétipos, que se tornam realidade por
uma necessidade de afirmação do nosso inconsciente? Conclusivamente, porém, Jesus foi (e é) um Ser real.
Qual seria o aspecto físico e os traços fisionômicos de Jesus? Difícil responder-se. A emissora BBC, procurou fazer uma pesquisa, graças ao
código genético de um homem que existiu no século primeiro, e apresentou um Jesus moreno, de traços algo grosseiros, cabelos crespos,
dizendo que aquele era um tipo do primeiro século e que Jesus possivelmente teria sido assim.
A pesquisa é muito honesta, mas a conclusão, a mim me parece pouco óbvia. Se tomarmos os genes de qualquer um de nós e desenharmos o
homem e a mulher do século 21, claro que não será alcançável o biótipo representativo. Somos uma variedade de raças com vários códigos
genéticos, não se constituindo em um código-modelo, único, que represente a generalidade.
A tradição diz que Jesus, judeu - apesar de os haver de pele negra - era de pele branca e de cabelos claros no tom do mel ou do ouro velho.
Os cabelos eram longos, pois era nazareno, e os que nasciam nesse burgo tinham por princípio jamais cortar os cabelos e a barba, porque, na
tradição de Moisés raspar o rosto era um desrespeito à dignidade. Eis por que os rabinos, os sacerdotes coptas, os da Igreja Ortodoxa Russa e
outros ainda mantêm a barba. O rosto raspado pertence mais à cultura romana. Foram os romanos que lançaram a moda masculina da pele do
rosto sem cabelos.
Em uma carta atribuída a Publius Lentulus, Jesus apresenta-se com olhos muito transparentes, de tonalidade turquesa semelhante ao céu do
entardecer na Galileia. Deveria ter 1,75 m aproximadamente e pesar entre 65 e 70 Kg. Era um Homem magro, sem tórax muito desenvolvido,
embora o Seu trabalho fosse de carpintaria, que exige esforço muscular. Era possuidor de voz calma, porte ereto e altivo. A doçura da face,
porém, não empanava a energia que dEle se exteriorizava.

4
(4) HERODES, O GRANDE (73 aC-44 aC) - Foi nomeado Rei da Judeia pelo Senado de Roma, no ano 37 aC. Foi ele que iniciou a construção do Templo de Jerusalém. Foi o pai de Herodes
Ântipas (21 aC-39), cuja memória está vinculada historicamente à morte de João Batista e de Jesus-Cristo
3 A HISTORIOGRAFIA DE JESUS
Apesar de ser um vulto notável, os dados que dEle temos são muito reduzidos. O mais curioso é que a História c l á s s i c a m u i t o
econômica em referências, mas Sua existência entre nós é realmente incontestável. Desse ponto de vista,pi rgguzidas citações dignas de çrédjto.
Acpritpeira delas aparece por volta do ano 70, e é de FlávioMÊú o grande historiador do povo hebreu, que faz uma breve citação, uma
frase, apenas. Diz ele: “N<ano62 da nossa Era, foi decapitado em Jerusalém, Tiago; o irmão, pde Jesus, chamado Cristo”.
É uma referência credível porque Tiago é um dos pri- BmeirWírhártires, logo depois de Estêvãç e daqueles de menor conhecimènto no
cenário cristão, que deram suas vidas em testemunho à causa do Nazareno.
Como sempre os houve, os opositores de Jesus argumentam: ,:Mas Jesus era um nome popular entre os he- breus -- Jehochua - ò que ainda
hoje temos! Mais adiante surgiram Jehochua Barrabás, Jehochua Bem Sarbás, e outros que também se celebrizaram”...
A segunda referência ,é ainda apresentada por Flávià Josefo na sua obra\ Antiguidades Judaicas. Essa, os críticos mais severos dizem que
não é exatamente de sua autoria, porque o texto parece ter sido trabalhado por algum cristão...
Informa que: “Nesta época viveu Jesus, um homem excepcional, porque realizava coisas prodigiosas. Conquis-
/ tou muitos adeptos entre os judeus e até entre os helenos.
1 Quando, por denúncia dos notáveis, Pilatos o condenou à cruz, os que lhe tinham dado afeição não deixaram de o / amar,
porque ele apareceu-lhes ao terceiro dia, de novo I vivo, como os divinos profetas o haviam declarado. Nos j nossos dias, ainda não acabou a
linhagem dos que, por V causa dele, se chamam cristãos.N
Essas últimas referencias tornam o texto algo suspeito, mas a verdade é que a Ele se reporta por segunda vez.
Aterceira referência é dèá|cito|historiador romano, nos seus Aríais, que foram escritos no flêWlMiïjfl emque entretece consideração aos
seguidores de Jesus ájjjS)i§|o incêndio de Roma em 64 d.C..
Ãquarta referência é de Plínioo Jovem, enfflffia car- ta ao Imperador Trajano, quando faz comentário dqs ritgfo r cristãos: “Reúnem-se numa
data fixa, antes do nascer do Sol, e cantam entre eles um hino ao Cristo como a um deus. Comprometem-se sob juramento a não cometer roubos,
as- ( saltos ou adultério, e a nunca abdicarem da fé.”
Apenas quatro referências...
Se examinarmos a vida de iéBulioesa o Conquistador da África e, portanto, do mundo de então, essa personagem encontra-se narrada e
grafada dentro das páginas da história da humanidade, sendo sua biografia comentada com exaltação e os seus escritos conservados. E ele foi
apepas um conquistador terrestre...
Se nos detivermos a pesquisar a vida de Dom[cio Nero, o Monstro, o hediondo filho de Agripina, a quem teriáassas- sinado pelas costas,
arrancando-lhe o coração através dos pulmões para ver de onde havia nascido um ser como ele, constataremos que a História foi referta de
generosidades para com essa personalidade, situando-a no tempo e mantendo-a viva na memória dos milênios.
A respeito de Jesus, os clássicos pós-cristãos não se detiveram em analisá-IO, porque o grupo daqueles seguidores foi de tal forma
anatematizado durante mais de duzentos anos, a.partir de Domício Nero até 284 mais ou menos, jjr quando foi lançado o édito que proibia as
crueis e odientas perseguições. Isso contribuiu, de certo modo, para empa- nar - ou enobrecer - a figura de Jesus, dando margem aos cépticos
para negar-Lhe a existência real, abrindo espaços para o surgimento do mito, para a superstição, para a fantasia, para o dogma.
...E os Evangelhos apócrifos? São verdadeiros e têm conteúdo semelhante aos canônicos e deuterocanônicos? Obviamente, se são apócrifos,
pressupõe-se que não são reconhecidos como verdadeiros. Não são considerados dentro da ortodoxia porque São Jerônimo, que foi convidado
pelo Papa Dâmaso I para selecionar os Evangelhos legítimos entre as centenas de cópias existentes, elegeu aqueles que passaram a ser
denominados canônicos, isto é, reconhecidos pelo Cânon, uma lei da Igreja, que os considerou autênticos. Tempos mais tarde, surgiram as Cartas
de Paulo, as de Pedro e o Apocalipse, que também foram considerados verdadeiros, após exaustivos estudos, passando a ser chamados
deuterocanônicos, porque aceitos depois do Cânon. Porém, apareceram muitas cópias através dos tempos, algumas grosseiramente adulteradas, e
mais recentemente o Quinto Evangelho, atribuído a Tomé.
A Igreja Católica e a sua Teologia não os consideram verdadeiros. Então, nós, os espíritas, deixamo-los à margem, porque não receberam o
apoio dos Mentores da Codificação, embora alguns possuam mensagens muito elevadas, que em nada conflitam com os canônicos.
Sobre os Evangelhos ditos apócrifos, tivemos já a oportunidade de 1er alguns: o de Pilatos, o de Nicodemos, o de Tomé, e outros que nos
chegaram às mãos, mas em realidade, na textura, não se igualam aos convencionais, aos quatro canônicos que nos servem de base doutrinária,
pejo menos, na rninha forma de os entender.
Como confirmar-se ainda que Ele foi um ser humano autènticg? Quais os fundamentos para asseverar-se que»V Jesus é um vulto da História
e não um ser mitológico?
Jesus é tão singular e esgecial, que tudo, na Sua vida, Um jovem rabinoxSaulo. adotou o nome de Paulo, após vê-IO às portas de Damasco,
saindo a pregar áfêtía mensagem, tendo proposto no Primeiro Concilio de Jerusalém, quando se debatia a necessidade ou não da circuncisão, que
se adotasse a proposta de Jesus, que era expor-se o Evangelho e difundi-lo para todas as gentes, quando a mensagem então se espalhou, saindo
do burgo da Palestina para alcançar o mundo de então.
é específico... Por outro lado, Jesus é biografado por algumas testemunhas da Sua existência e que viveram com Ele, assim como por outras que
conviveram com aqueles que O conheceram. A Sua vida incomparável pode ser hoje perscrutada na pena notável de algumas pessoas que
participaram com Ele do lançamento das bases da Nova Era.
Afirma-se, porém, que Suas biografias apareceram, em média entre 30 e 60 anos depois que Ele morreu, o que, de forma alguma tira-lhes-
averacidade.
Iniciava-se a Era gloriosa, cheia de audácia, em face da divulgação da palavra do Rabi.
Payjp djfundia a notícia apresentando o seu próprio testemunho: MEle a mim me apareceu, às portas da cidade de Damasco, quando eu ia
matar Seu mensageiro Ananias, no que me resultou uma cegueira da qual fui libertado milagrosamente pelo toque daquele a quem ia assassinar.”
É a Paulo que devemos a mensagem haver chegado até nós. Se não fora ele, provavelmente o verbo do Mestre teria permanecido e morrido
naquela região da Palestina, exceto se o próprio Jesus outra providência houvesse tomado. Foi aquele judêu greco-romano que, nascendo.na
cidacilvtar, no futuro, o conhecimento da Mensagem nesse idioma.
Surgiu íà primeira biografia de Jesu$, aproximadamente entre os anos 62 e 65, vinte e nove a trinta e trêsLanos após a morte doJMêstre, feita
por uma testemunha ocular, que morava na cidade de Cafarnaum, que eJMateusyembo- ra antes já houvesse narrativas esparsas.
Cafarnaum, para quem não está a par da geografia de Israel, era uma cidade da Galjleia, uma das quatro regiões antigas, dividida por
Herodes, o Grande, que as ofereceu aos filhos, para governá-las após a sua morte, pensando em evitar que se atacassem reciprocamente, em face
da pusilanimidade de que eram portadores...
Como.Herodes receava morrer e seus filhos matarem- se, uns aos outros, a fim de se apropriarem da governança, dividiu g país em
tetrarquias, ou seja, em quatro regiões: a Galileia,. aJudeia, a Samaria e a Pereia Draconítida.
Merece, aqui, uma digressão poética e lírica.
A Galileia, tecnicamente, era uma região agropastoril, \ H estando situada quase duzentos metros abaixo do nível do \ Mar Mediterrâneo. AH
se cultivavam uvas, tâmaras e muitos cereais. Ali também se pastoreavam ovelhas, procuran- do-se dar vida às terras verdes e generosas. Pela
Galileia \ passaram as forças de Nabucodonosor, de Assurbanipal. í estando próxima à área denominadáArmagedon) onde a tradição informa que
se dará a batalha final entre o Bem e o Mal. Essa, porém, é uma região triste. /
Na mesma região encontra-se o mar denominado da Galileia, que resulta das águas do rio Jordão, que nasce nos montes Antilibano, a oeste
da montanha Hermon e corre em direção sul na parte mais baixa do planeta terrestre, onde suas águas se detêm nessa imensa cratera, formando o
mar Morto, quatrocentos metros abaixo do nível do Medi- terrâneoTl
Ali, a ardência do Sol é muito grande, e a água adquire alta densidade de sal em razão da evaporação. Não se pode nadar, a região é
caracterizada pela aridez, não há vegetação nem animais, ênqua1htQWüetgiãojS|à's: margens do mar da Galileia, a vegetação é luxuriante, com
pássaros e animais, as encostas são cultivadas, ricas de uvas, figos, e, nas suas bordas, algumas árvores vetustas. Era então um dos lugares mais
frescos da Palestina.
Esse mar tão decantado, em verdade não â yrn mar. É, relativamente, uma porção de águas, para os nossos padrões, tendo um volume menor
do que o da Baía da Guanabara. Para a região em que está, porém, é verdadeiramente um grande mar. Por isso, no Evangelho vemo-lo com três
designações diferentes: Mar da.Galileia, Lago de Genesaré e LagcTde Tíbériades, por causa da residência de Tibério César e da cidade do
mesmo nome em sua orla, que fora erguida em homenagem ao Imperador.
Alguns historiadores dizem que, ao tempo de Jesus, havia aproximadamente cinco mil barcos realizando ali a pesca, nas águas espelhadas
que, vez por outra, graças à situação geográfica, eram dominadas por tempestades, quando os vapores quentes desciam das nuvens e as eriça-
vam. À sua volta, as areias têm um tom de telha com pedras miúdas, seixos... Do outro lado, as grandes montanhas que pertenceram à Grécia, e
sobre cuio acume estava a Decá- polis ou as dez cidades gregas então quase abandonadas.
Foi nesse lugar extraordinário, na cidade de Cafarnaum, uma das mais formosas da região, porque ppsMÍa uma sinagoga - honraconcedida
somente a cidades de pito porte - que inicialmente Ele abriu a Sua boca e cantou...
Sendo uma região pastoril e de pescadores, é um lugar de pessoag humildes, analfabetas, mas ricas de coração. Aindajftojje, parte da região é
habitada por palestinos, e a generosidade palestina, que ainda é nômade, nessa localidade muito pobre, guarda o seu melhor carneiro para as
visitas, e à sombra das suas barracas sempre se serve o vinho mais capitoso para os alienígenas. É a região da bondade.
Um pouco além, no Vale do Armagedon, mais acima, a terra é calcinada, com mata rasteira sem árvores, que faz lembrar o nordeste do
Brasil.
Maisadiantehá uma pequena região, denominada Jeri- ç§, considerada a cidade mais velha do mundo, célebre pelos muros que foram
derrubados pelas trombetas de Josué, que é verdejante, rica de águas, fontes, riachos, assim tornando- se uma região amena. Jesus a visitou
muitas vezes.
Um pouco, indo-se para o sul, está a Judeia, monta- nhosa, árida, da qual Jerusalém foi a capital. Em JerusalénrTî estavam o Sinédrio,5 a alta
corte, o templo, as escolas rabí- nicas, o orgulho, a empáfia, a cultura vazia, que indagavam com sarcasmo: “O que pode vir de bom da
Galileia?”(Jo: 1-46). Predominava o desmedido preconceito sociorracial.
Entre a Galileia e a Judeia, está a Samaria, região um pouco mais alta. É necessário conhecer histórica e geograficamente esse povo para
melhor identificar Jesus.
Em formosa manhã de Sol, um Homem de beleza inco- mum, que se irradiava sem palavras, adentrou-se em uma Coletoria, onde outro
homem muito racional e imediatista trabalhava. Olhou-o, e convidou-o: - “Segue-me!” E ele O seguiu.(Mt. 9-9)
O cobrador de impostos, genericamente, era um homem odiado. Os judeus execravam aqueles que lhes extor- quiam os impostos, porque
Roma utilizava-se de um recurso muito especial para esse fim. Quando conquistava um povo, não cobrava os impostos diretamente. Leiloava-os.
E os nacionais disputavam-se a honra de se tornarem algozes dos seus próprios irmãos; cobravam-nos e podiam exigir ao máximo, tornando-se,
por conseqüência, odiada, a figura do Publicano, do cobrador de tributos.
Esse Mateus era um cobrador de impostos. Convidado pelo Homem Incomparável, ele se fascinou com a Sua presença, abandonando tudo,
para acompanhá-IO nas Suas pregações, desde as primeiras realizadas à margem do Mar da Galileia. Tornou-se a primeira grande testemunha de
que Ele realmente existiu, sendo uma personagem digna de crédito, insuspeita, portanto, portadora de respeito histórico.
Perguntamo-nos, desde a infância: - Que Homem era esse? Que força possuía!
- “Vem comigo!” - Chamou, e foi atendido.
Arrebatado, o convidado não Lhe fazia qualquer indagação. Não Lhe apresentava qualquer objeção. Não Lhe pedia qualquer esclarecimento.
Ele parecia preencher o vazio da criatura, que se esquecia de todas as outras objetivi- dades para plenificar-se na Sua paz.
Com a viagem de Pedro e de Paulo para Roma, com as pregações que Paulo realizou pelas ilhas gregas e especialmente pelo sul da Ásia e
pelo Mediterrâneo, aquelas comunidades necessitavam de ter documentos, pois quando ele se afastava o fervor diminuía, naturalmente, por falta
da mensagem grafada.
Aqueles hebreus que se convertiam, não tinham como consultar fontes de referência. Tinham a Tradição, o Penta- teuco de Moisés, ficando
retidos na letra do Antigo Testamento. Foi quando, então, os cristãos que vieram do Judaísmo pediram a Mateus que escrevesse suas memórias a
respeito de Jesus.
E porque era um homem relativamente culto, para os padrões da época, escreveu-as em aramaico, surgindo o seu Evangelho, que é o
primeiro relato digno de confiança a respeito da vida do Mestre.
Esse Evangelho, pelas tradições, narra a vida hebraica de Jesus. Procura tomar a lei antiga, a de Talião, mas também a de Moisés, como
básicas, apresentando a proposta da lei de amor. Portanto, é uma obra dedicada aos hebreus convertidos à palavra de Jesus. Isso deve ter
acontecido por volta dos anos 56 ao 60.
Os adversários do Evangelho afirmam que Jesus, tendo morrido por volta dos anos 32 a 34, ou 28 a 30, como consideraremos mais adiante, e
as memórias sejam mantidas por aproximadamente 25 a 30 anos, elas devem ser muito falhas, dignas de suspeição, sendo que as palavras a Ele
atribuídas, não serem realmente as Suas.
A crítica, do ponto de vista histórico-ético, não se justifica, pois os clássicos gregos, como as obras de Péricles do século V a.C., de Sófocles,
de Ésquilo, de Sócrates, de Platão, de Aristóteles, de Marco Túlio Cícero, assim como de outros, ficaram perdidos por largos séculos, hoje deles
restando apenas fragmentos, e foram reconstituídos centenas de anos após, graças à tradição oral.
A tradição oral é uma técnica pedagógica vigente ainda hoje, no Oriente. Os filhos do Islã aprendem o Corão por memorização. As aulas são
ministradas em ritmo repetitivo.
Na India, tivemos oportunidade de visitar várias escolas e observar que a educação é primeiro religiosa, para depois tornar-se de
conhecimento geral. A primeira experiência na alfabetização é ficar o mestre com uma vara recitando os textos do Bagavad-Gita, dos
Upanixadas, como de outras
- conforme cada país - e os alunos vão repetíndo-as, cantando, pois são todos escritos em versos curtos e rápidos.
Se verificarmos a forma como Jesus pregou, dentro dessa pedagogia mnemônica, constataremos a excelência de uma metodologia muito bem
elaborada: primeiro uma proposta, depois uma conclusão.
Vejamos: Busca primeiro o Reino dos Céus e sua justiça - proposição - e tudo mais vos será acrescentado; batei IS proposta - e abrir-se-vos-
á; buscai, e achareis; pedi, e dar- se-vos-â; eu sou a porta, e as ovelhas passarão por mim; eu sou o pão da Vida, e todos se nutrirão de mim;
bem-aventurados os que choram, porque serão consolados...
É uma técnica que facilita a memorização, pela lógica: sempre um enunciado e uma corroboração.
Era natural que Mateus e aqueles que com Ele viveram - os herdeiros da Boa Nova - memorizassem a Sua informação, e mesmo se a

5
(5) SINÉDRIO - Conselho ou Tribunal superior dos antigos judeus, composto de sacerdotes, dos anciãos e dos escribas.
perdessem na forma, o conteúdo estaria perpetuado. Mateus, pois, é o narrador para os judeus conversos. Toda a sua linguagem é hebraica. A
tradição é bíblica. É ele quem se referirá ao Senhor dos Exércitos, àquele Deus que vai à frente...
Será ele quem falará da antiga e da nova Lei: “É necessário, sobretudo, colocar o amor, que vale mais do que os Profetas.” “Eu não venho
destruir a Lei nem os Profetas; venho dar-lhes cumprimento.”
É o Evangelho todo elaborado para um pensamento que estava adstrito às formulações hebraicas, exarado na severidade da Torá, da letra
ancestral. Ele irá demonstrar que Jesus, de forma alguma agrediu Moisés ou desrespeitou a Lei, e que a Sua Doutrina é a continuação do
Judaísmo, porém, apresentando a revolução do amor...
A escrita tem a finalidade de sacudir as estruturas daqueles que a irão 1er, porque, enquanto a velha Lei traz a proposta de Talião, Ele fala da
exuberância do amor, da generosidade de Deus, na condição de Pai; demonstrando que a felicidade é factível, e que a alegria de viver deve
constituir a base psicológica do comportamento do ser humano.
Não é por outra razão que Renan disse ser Ele um Homem Incomparável. O Evangelho de Mateus Levi fala sobre esse Homem, que
sensibilizava as multidões e mergulhava, de um momento para outro, no abismo da auto-reflexão; que estava, muitas vezes, no torvelinho das
paixões, mas não se fazia apaixonado nem vulgar; que desceu ao vale das humanas misérias, mas não se fez miserável; que conviveu com
pecadores e se manteve incorruptível; que foi estar com pescadores, Pescador de almas que era...
É um Evangelho exarado em uma linguagem especial, e teria sido escrito em aramaico, como já o dissemos, que é um dialeto derivado do
samaritano, e que seria a língua que se falava na Galileia e na Samaria. Seria, mais tarde, adaptado à compreensão hebraica e passou a trazer
notícias a respeito da Nova Era que se instalava na Terra.
Mais tarde, quando Pedro e Paulo estavam em Roma, perceberam que era necessário fosse escrito algo para os romanos, e Pedro pediu a
alguém que um dia havia acompanhado o apóstolo Paulo no seu ministério de pregação. Será esse o segundo relato, considerado o mais conciso
entre os demais.
Um jovem - narra Emmanuel, através das mãos apos- tolares do médium Francisco Cândido Xavier, no mais extraordinário livro biográfico a
respeito de Paulo e Estêvão, com esse mesmo título - foi convidado pelo apóstolo Paulo a acompanhá-lo em suas pregações. Chamava-se João
Marcos e era ainda adolescente.
Aqueles que lemos o Evangelho, recordamo-nos que em determinado momento, na Via Crucis, surgem algumas mulheres, que são
denominadas como piedosas de Jerusalém que O acompanharam.
(As mulheres jamais temeram qualquer suieição. Sempre tiveram a coragem de proclamar os seus ideais, mesmo quando ultrajadas,
perseguidas, malsinadas.)
Naquela circunstância aflitiva, Verônica, uma delas, com um pedaço de linho enxugou-Lhe o suor em sangue.
Os homens a quem Jesus chamara para o ministério, quando Ele saiu do cárcere, carregando a cruz depois do julgamento arbitrário, da
condenação perversa, da coroação humilhante, abandonaram-nO, com exceção do jovem João Boanerges. As mulheres não, aquelas poucas
segui- ram-nO até o momento da Sua morte.
Entre essas mulheres, estava uma viúva rica, Maria Marcos, de Jerusalém. À época, não existiam sobrenomes; eram apodos, uma forma de
identificar: Simão Bar Jonas, ou Simão, filho de Jonas; Natanael Ben Elias, ou Natanael, filho de Elias; Maria, de Betânia, irmã de Lázaro;
Maria, de Magdala; Maria, de Nazaré, a Sua mãe; Maria, de Jerusalém...
Depois que Jesus expirou na cruz, os companheiros ficaram aturdidos, atemorizados. Deveremos lembrar-nos que eram pessoas muito
modestas, incultas - diriamos, com duas ou três exceções - e sem terem para onde ir, foram recolher-se na casa dessa Maria Marcos, de
Jerusalém, onde realizaram as primeiras reuniões para que fossem debatidos os acontecimentos inesperados...
Outra delas, era Joana, a esposa de Cusa, funcionário de destaque junto ao tetrarca da Galileia.
Essas mulheres acompanharam-nO, e quando chegaram próximas da cruz, com João, o jovem discípulo, único homem a estar presente,
arrostaram todas as conseqüên- cias do atrevimento, em razão do preconceito, sofrendo a zombaria e a maldade da malta alucinada que estava no
Gólgota.
Essa Maria de Jerusalém, portanto, era irmã do eminente Barnabé, que acompanhará Paulo na sua grande digressão pela Ásia. Ela era mãe
desse jovem João Marcos, que cresceu bebendo o licor da palavra de Jesus, alimentado pelo verbo de sua genitora que lhe falava sobre Ele,
desde que não O conhecera pessoalmente.
Aos doze anos, mais ou menos, seguiu com o apóstolo Paulo e o seu tio numa grande jornada apostólica. Mas, em determinado momento, a
sua juventude não suportou a aspereza do compromisso. Como a pregação era um desafio e as lutas travadas contra os inimigos ocultos e
declarados, intensas, pesaram-lhe as refregas e ele pediu o retomo ao lar, quando, então, Paulo lhe vaticinou: “Volta! Nunca te esqueças, porém,
que Deus quer que a mensagem de Jesus encontre mais amplos horizontes. Ele, no entanto, não é apressado. Equivale dizer, é necessário
implantar na Terra o Reino do Céu sem violência contra a consciência do semelhante.”
Marcos voltou para Jerusalém. Permaneceu cristão.
Quando Pedro, que era viúvo e não tinha filhos, e que o “amava como se seu filho fosse”, teve necessidade de oferecer material aos romanos
que se convertiam, escreveu a João Marcos, por volta do ano 65, pedindo-lhe que narrasse suas memórias para os cristãos novos do Império, e
em particular para a mentalidade romana.
É muito curioso ver essa diversidade dos Evangelhos.
Muitos dizem: “Eles são diferentes!”
É obvio. São quatro pessoas contando a mesma história, cada um dentro da sua óptica. Narram o mesmo fato sob quatro posturas intelectuais
e emocionais diferentes. Como aquela era a narração de um jovem para os romanos, apresenta o Jesus dos milagres, daquele Jesus que
deslumbrava as multidões, que ressuscitou mortos, que multiplicou os pães, porque estava sendo direcionado para uma mentalidade mítica, que
se adaptara ao conceito do panteão da mitologia rica de colocações fantásticas... Os romanos eram supersticiosos, adoravam os deuses, poli-
teístas que eram. A fim de valorizarem determinadas informações, fazia-se-lhes necessário que viessem embaladas nesse sobrenatural, nesse
fantástico... Ele mostra Jesus maior do que os deuses do Olimpo, que podia deter as ondas e silenciar os ventos.
E como o escreveu Marcos?
Sua mãe contou-lhe páginas da vida de Jesus; Maria de Nazaré, a mãe do Crucificado, narrou-lhe as suas experiências; Maria, a pecadora de
Magdala, falou-lhe sobre a sua conversão; João, que morava então em Éfeso, descreveu as suas experiências ao lado do Mestre.
Marcos compôs então um Evangelho deslumbrante, que é o da fenomenologia, da paranormalidade de Jesus, na condição de Médium de
Deus.
O terceiro Evangelho foi escrito por um jovem médico, Lucas.
Quando o apóstolo Paulo peregrinava pelo mundo oriental, e particularmente pelo mundo mediterrâneo, numa das viagens encontrou um
médico de bordo que se deslumbrou com a sua pregação sobre Aquele que veio trazer a lição nova a respeito da vida. E o acompanhou, tomado
de grandes reflexões, abandonando sua posição de médico numa embarcação mercantil para poder estar ao lado do companheiro arrebatador.
Tomou-se-lhe discípulo, daquele que também era discípulo de Jesus. É a ele que devemos a denominação de cristãos, porquanto era talvez o
mais lúcido, após Paulo, de cultura acadêmica para os padrões contemporâneos. Sendo médico, teria freqüentado sinagogas especiais e
possivelmente herdado da cultura grega as bases da medicina de Hipócrates.
Os seguidores de Jesus eram então denominados como homens do caminho, pelo fato de residirem nas estradas e terem os seus labores nas
rotas de acesso às cidades. Um dia, Lucas, conversando com Paulo, disse-lhe: “Se nós seguimos a Jesus, o Cristo, porque descendentes que dEle
somos, podemos ser chamados cristãos!”
Paulo aceitou o alvitre. A partir desse momento, graças a ele, passamos a ser nomeados cristãos.
Quando Paulo estava em Roma, pediu a Lucas que escrevesse as suas memórias a respeito do Mestre. E, para fazê-lo, ele viajou até o
promontório de Éfeso onde morava João, a fim de entrevistá-lo e à Maria, a mãe do Nazareno. Ali, colheu informações legítimas, ricas de vida.
Lucas também não conheceu Jesus. Quando seguiu Paulo, Jesus já havia desencarnado, mas este contou-lhe a visão que tivera na estrada de
Damasco, narrou-lhe as percepções parafísicas e os contatos psíquicos com o Mestre.
Ele grafou, então, o mais lindo Evangelho, que no dizer de Ernesto Renan, é um dos mais lindos livros que a Humanidade jamais escreveu...
É o Evangelho - ou biografia de Jesus - de um cientista que se detém a examinar aqueles pacientes a quem Ele curava. Fazendo a
psicogênese das enfermidades e avaliando o resultado terapêutico emanado de Jesus quando lhes restaurava a saúde, ele faz a anamnese do
indivíduo enfermo, como as ressurreições, a do homem da mão seca, os obsessos, os leprosos e demonstra o poder curador daquele Homem
Especial, com a sua autoridade de médico.
Que poder incomparável, o de Jesus! Ele exteriorizava as energias que recuperavam os processos degenerativos dos fenômenos cármicos das
criaturas.
O Evangelho de Lucas é um poema não só de beleza literária, como também de análise das terapêuticas de que Ele se utilizava, narrado pela
óptica do médico que não entretece elogios, mas detém-se nos fatos como o mundo nunca tinha visto e dificilmente voltaria a ver.
Jesus era especial. Mateus, Marcos e Lucas narram- nos a história da mulher hemorroíssa, que é fascinante.
Uma mulher vinha rogando que Jesus a curasse, a tal ponto que irritou os companheiros do Mestre, que não a atendeu, até um momento
quando, Ele interrogou:
- Pedro quem me tocou?
O discípulo, algo desagradado, retrucou:
- Como irei saber, nesta multidão, quem Te tocou?
- “Simão, alguém me tocou, porque senti que de mim se desprendeu uma virtude”...
Que paranormalidade! Que Homem!
Pedro, segundo os historiadores, era um homem de estatura regular. Troncudo, bíceps fortes, era pescador acostumado ao manuseio das
redes. Era um homem simples, ignorante, mas não um espírito ignorante. Não alfabetizado, não instruído, ou, talvez, com alguns pruridos de
alfabetização, mas não era culto. Acostumado às lutas, por isso mesmo foi escolhido para ser o guardador do rebanho, aquele que segurava a
barca simbólica da Grande Viagem. Onde estava Jesus, Pedro era, na linguagem moderna, um tipo de guarda-costas, porque Jesus, embora a Sua
aparência grandiosa, dava impressão de fragilidade - Sua ani- ma6- dessa fragilidade que vemos com ternura.
Às vezes, olhamos uma pessoa que é um mastodonte, e dizemos: - Que delicado!
É nossa anima que o está olhando. Jesus inspirava essa ternura, e Pedro estava sempre ao seu lado como a protegê-IO...
Gosto muito de Pedro, do seu lado humano. Como era mais ou menos como nós, paciente, não se irritava nunca, poderemos conceber
jocosamente a resposta, algo irritada, que Lhe deu.
Uma mulher, porém, gritou, no meio da multidão:
- Fui eu Senhor!... era uma mulher sírio-fenícia, uma estrangeira detestada por ser gentia - fui eu! Depois de ter estado com tantos médicos
e ser considerada imunda, ouvindo falar de Vós, venci as longas estradas para tocar-Vos.
Naquelas dificuldades, tocou-Lhe a vestimenta. Deu- se conta que o fluxo hemorrágico havia passado. Emocionada, aditou:
- Senhor, na casa dos ricos a comida é abundante, caindo migalhas que os cães comem. Não desejo sentar-me à mesa. Vim para comer
as migalhas do chão, pelo menos...
Diante desse gesto de nobreza, de humildade real, sem disfarce nem hipocrisia, Jesus, que sabia ter sido ela e perguntara apenas para chamar
a atenção em torno do fenômeno, concluiu:
- Mulher, a tua fé te salvou. Ainda não encontrei em Israel - entre os eleitos - uma fé tão nobre quanto a tua. Vai em paz, minha filha;
estás curada.
Ora, por que a fé a salvou?
Do ponto de vista psicológico, em referência às nossas terapias, no binômio saúde-doença, nem todos os que dizem querer ficar bons,
realmente o querem. A maioria dos que dizem querer curar-se, não o anela realmente, porque ser doente, para muitas pessoas, é muito cômodo,
pois não trabalham, dão trabalho, não têm compromissos, dão preocupações, nem sempre se esforçam, exigem o esforço dos outros, e quando
lhes pedimos o mínimo de cooperação, cada um responde: “não posso!”, o que significa dizer não quero, pois me está cômodo.
Jesus sabia disso.
Observemos esta frase: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã. A cada dia bastem as suas próprias aflições.” O que é isto? Terapia
para os ansiosos.
Viver agora, não se preocupar com o dia de amanhã. Baste este momento. Talvez o amanhã não chegue à pessoa ou, quando chegar, haverá
outras soluções.
Que proposta psicoterapêutica essa de Jesus!
João narrou a maravilhosa ocorrência a respeito de um homem que nasceu cego e que após curado, pôs-se a louvar o Senhor.
Quando os fariseus viram aquele rapaz ficar totalmente recuperado da cegueira, foram, primeiro, aos seus pais e estabeleceram um diálogo:
- É verdade que ele era cego?
- Sim, era cego; é nosso filho!
- E é verdade que agora ele vê?
- Sim, é verdade.
- É verdade que foi curado pelo Messias Nazareno?
- Sim, porque até então era cego!
E como os fariseus eram muito hábeis na intriga e na arte de infelicitar pessoas, questionaram-lhes, ainda, criaturas simplórias que eram:
- Mas não teria sido por obra de Satanás?
Os pais, temerosos, responderam:
- Bem, nosso filho já é adulto. Ele pode falar por si mesmo. Perguntai-lhe!
Eles foram inquirir o jovem:
- É verdade que eras cego?
- Sim.
- De nascença?
-Sim.
- E é verdade que agora vês?
- É verdade. Estou vendo. Estou enxergando.
- E quem te curou?
- Foi o Messias Nazareno.

6
(6) ANIMA/ANIMUS - Ver notas complementares explicativas, ao final desta obra
- Será que Ele não te curou por obra de Satanás?
A resposta que o ex-cego deu é de uma sabedoria comovedora:
- Se foi Satanás, eu não sei. O que eu sei é que era cego e agora vejo. O resto não me interessa.
As pessoas que negam, bem como as mesquinhas, não aceitam a claridade do Sol, e, à semelhança do avestruz, põem a cabeça sob a asa,
afirmando que apagaram o Sol.
É muito comum, em nossos arraiais culturais e em muitos segmentos da sociedade, os comodamente cépticos ou os interessados
economicamente, ou os negadores sistemáticos que, para explicarem tudo quanto não lhes interessa, na sua comodidade ou fanatismo, sempre
apelam para Satanás.
Que importava houvesse sido Satanás? O importante é que, se satanás pode dar a luz, ele é um anjo, um benfeitor. Então, adoremos a
Satanás, porque esse é o Satanás-amor, mais poderoso do que o Deus-Vingador... Poderia? Então, é um paradoxo, a criatura conceber alguém
maior do que o Criador.
O quarto biógrafo viveu com Jesus desde as primeiras horas. Havia nascido em Cafarnaum, à beira-mar, e era pescador, como seu pai.
Ele estava pescando, certo dia, ao lado de seu irmão Tiago, quando aquele Homem passou pela praia e os olhou, convidando-os, sem maiores
delongas, como fizera a Pedro e seu irmão André, que estavam adiante: “Abandonai as redes e vinde comigo pescar almas, no mar da vida!”
Eles largaram tudo e O seguiram. João deve ter chegado em casa entusiasmado, e por certo falou sobre a promessa do Reino que houvera
escutado. Sua mãe - como todas as mães, muito zelosamente - ficou curiosa por saber quem era esse Rei, e passou a ouvi-IO nas pregações da
barca de Pedro, encalhada nas areias marrons entre pedras e seixos, e também fascinou-se por Jesus. Ele prometia um reino de paz, uma Era de
blandícias, uma época de felicidade.
João, muito jovem, ficou arrebatado, apaixonou-se por Jesus, e de tal forma se integrou no espírito do Cristo, com um amor tão profundo,
que a ele o Mestre referiu-se, emocionado: “Este não provará da morte”... É uma linguagem simbólica, querendo significar que ele não provaria
do sacrifício, pois todos os demais teriam morte violenta, seriam assassinados, experimentando o holocausto.
João deve ter morrido idoso, na Ilha de Patmos.
Sholen Ash, judeu não converso, dá-nos melhores ideias daquela região e daqueles dias em seu extraordinário livro Jesus de Nazaré,
narrando que João era um romântico, com o que concorda Plínio Salgado, que compôs no exílio uma excelente biografia de Jesus. Com a alma
torturada de angústia, este autor viajou a Israel e visitou os lugares onde Jesus teria vivido, escrevendo um verdadeiro
poema, rico em descrições, no que ele denomina também como A Vida de Jesus.
João tinha uma mãe ciosa de carinho, chamada Sa- lomé, casada com Zebedeu, imensamente cuidadosa de seus filhos.
Recordemo-nos que, na história de Roma, uma mulher notável, viúva pobre, estava dentre as patrícias, ricas, quando aquelas exibiam seus
colares, suas gemas preciosas, as pérolas do Oriente e, voltando-se para ela, que era destituída de bens, interrogaram com sarcasmo:
- Comélia, quais são as tuas jóias?
Como não as tinha adereçando o corpo, abraçou dois rapazinhos e apôs:
- Eis as minhas únicas jóias: os Gracos, que seriam, logo depois, personalidades muito importantes no Império Romano, e ela, Comélia,
passou à posteridade por ser essa mãe cuias jóias mudaram o rumo da História.
Também Salomé, quando viu seus filhos acompanhando Aquele Revolucionário, ficou curiosa. Numa noite, foi à casa de Simão Bar Jonas,
onde Ele pernoitava e fez-Lhe uma proposta:
- Sei que Tu vais revolucionar a Terra, que és o Filho de Deus, Aquele que esperamos. Sei que o mundo não será mais o mesmo depois de
Ti; sei que és o Messias, que és o Rei. E porque meus filhos estão fascinados por Ti, eu Te rogo, Senhor, quando estiveres na Tua glória, coloca
meus filhos, um à Tua direita e outro à Tua esquerda.
Ela não queria muito. Queria tudo! Era bem o apelo de uma mãe...
Jesus, que conhecia o coração feminino, compreendeu aquele anseio materno. Como Ele era a doçura da Verdade, respondeu:
- Quanto a colocá-los à minha direita e à minha esquerda, não depende de mim; a mim não me cumpre fazê- lo, senão ao Pai que está nos
Céus, mas a mim depende interrogar se eles estão dispostos a beber da minha taça de amarguras até a última gota!
Evidentemente, a glória vem das lágrimas, o ápice vem do primeiro degrau, o acume da montanha resulta das baixadas lodosas em que a
rocha penetra; o auge e a glória são resultados dos espículos que ferem os pés e que nos impulsionam para cima...
E eles beberam, sim, dessa taça da amargura até a última gota. Tiago foi martirizado. João deu a vida total.
Foi João quem escreveu o Evangelho místico, caracterizado pela transcendência, numa linguagem um tanto ca- balística, muito própria da
época: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.”
O caos do começo está dentro da evolução do próprio Sistema. Era o caos das partículas. Esse caos aglutinou- se e, um dia, aquele que é o
Autor desse caos e da sua origem, tomou corpo e veio habitar entre nós. Mas esse é Jesus, não Deus, porque Deus é o Autor do Universo, e Jesus
o responsável pelo nosso Sistema Solar.
O Sistema Solar, quando libera a porção de energia que se vai condensar na Terra, recebe a direção de um Ser Transcendente, que um dia
veio habitar o planeta.
O Evangelho de João é de uma riqueza incomparável pelo seu sentido ético, pela sua estrutura estética, pela sua revelação histórica.
Será João a única testemunha da maior revelação de Jesus, conforme está nos seus apontamentos, no capítulo 3o vv.1 a 12, o diálogo com
Nicodemos. Só ele o narra, porque, certamente, esteve presente ao encontro.
Dialogando, um dia, com uma Entidade veneranda, I que estava escrevendo sobre o tema, perguntei-lhe:
- Não parece singular que o texto comece praticamente com uma resposta? Como é que João pôde participar daquele diálogo? Jesus não
lhe contou! Ele deve tê-lo ouvido...
Essa Entidade assim respondeu-me:
- Nicodemos, como é sabido, era doutor da lei, um príncipe do Sinédrio, a mais alta corte (comparativamente, o Supremo Tribunal em
nosso país). Ali sentavam-se setenta juizes com a dupla função de autoridades responsáveis pelas leis religiosas e civis.
“Nicodemos era um desses homens nobres, da mais alta envergadura. Tendo ouvido falar de Jesus, fascinou-se, mas não teve coragem de ir
ao lugar onde Ele estava, para não ser visto, nem desejou que Jesus o visitasse, com receio da mesma ocorrência, qual ser visto pelos
empregados...”
Muita gente tem vergonha de enfrentar a verdade publicamente.
É muito comum, quando alguém célebre deseja falar com outrem e não quer ir à casa daquele para não lhe ter o nome associado, nem deseja
que aquele vá à sua, para que os servidores não o vejam nem o denunciem, normalmente o encontro dá-se na casa de um amigo, um
intermediário, o que não chamaria a atenção.
Foi, pois, na casa de um intermediário que o diálogo aconteceu. João acompanhou Jesus até lá, ficando à porta, para que os dois, na sala, não
fossem interrompidos. Estava distraído, quando ouviu a pergunta:
- Mestre, eu sei que Tu vens de Deus, porque ninguém faz o que fazes se Deus não estiver com ele. O que é necessário alguém fazer para
entrar no Reino dos Céus?
A resposta foi peremptória:
- Em verdade, em verdade te digo que é necessário nascer de novo, para entrar no reino dos céus.
O Doutor da Lei sobressaltou-se. Compreendeu o sentido da resposta. Tornou, então, a interrogar:
- Como é possível, que um homem sendo velho entre novamente no ventre de uma mulher, para nascer de novo?
Não há sofisma. Jesus observou-lhe:
- Tu és Doutor da Lei e ignoras isso?
Então, Jesus voltou a afirmar:
- Pois eu te digo que, em verdade, é necessário nascer da água e do espírito para entrar no Reino dos Céus.
Aí, Jesus selou com autenticidade a reencarnação.
Este mesmo João, que passaria à posteridade como o discípulo amado, seria motivo de ciúme por parte dos demais amigos.
Quantas vezes, o ciúme é um adversário soez que nos carcome interiormente...
Porque João era jovem, acercava-se do Mestre e abra- çava-O, com a pulcritude daqueles que não têm desequilíbrio, e o Mestre retribuía-lhe
o gesto. Os demais compa- nheiros, enciumados, comentavam: “Ele ama muito mais a João do que a nós.”
Certo dia, por exemplo, em que estavam no ministério, chegaram enrubescidos. E Jesus questionou-lhes:
- Que vínheis discutindo pelo caminho?
Claro que Jesus o sabia. A Sua percepção parafísi- ca identificara-lhes o conflito. Tomados de surpresa - eram crianças psicológicas - ficaram
algo aturdidos. Procuraram despistar. Jesus, porém, foi incisivo:
- Que vínheis a discutir!?
Um deles, talvez o mais ansioso, respondeu:
-Vínhamos debatendo qual entre nós é o maior no Teu conceito.
- O maior entre vós - obtemperou o Mestre - deve ser aquele que se faça o servo de todos. Este será o maior.
João viría a dar-nos, posteriormente, o Apocalipse, a mensagem complexa da trajetória dos acontecimentos futuros, das convulsões sociais,
dos tormentos e belicosidades, das enfermidades degenerativas, e não de um momento final, como alguns pretendem...
Durante a Guerra dos Seis Dias, entre árabes e judeus, quando o petróleo atingiu os preços mais altos, e a partir de cuia época a economia do
mundo mudou, alguém teve a oportunidade de sugerir que o cavaleiro negro, referido no Apocalipse, seria o petróleo, que trouxe e traz
alterações profundas e constantes na economia e na sociedade terrestre.
Mais recentemente, o cavaleiro amarelo, que é o símbolo da peste, vem sendo caracterizado como o vírus HIV, nessa enfermidade
degenerativa e incurável até agora. Seria ele, realmente esse cavaleiro?
João foi testemunha fiel do diálogo sobre a reencamação.
Esse quarto Evangelho confirma-nos ter sido Jesus um Homem que viveu entre nós, que padeceu nossas angústias, que experimentou nossas
aflições e morreu por amor a nós.
A presença dEle foi humana, na Terra. Não foi quimé- rica, nem de natureza mitológica. Ele chorou nossas lágrimas, esteve ao lado das
nossas misérias, mas não foi depressivo, não foi miserável, nem foi amargurado.
Cunhou-se que Jesus estava sempre triste. Não é verdade!
A Sua presença irradiava paz e beleza. Quando Ele nos disse: - “Eis que vos trago boas novas de alegria” - entende- se que ninguém dá boas
notícias mergulhado em tristezas, em sombras, em depressão, com apresentação de um Deus cruel, mas com toda uma orquestração de ternura e
de júbilos. Caso assim não fosse, deixaria de ser uma boa notícia, tornando-se a repetição das velhas doutrinas que ficaram no passado, quando
do estágio de barbárie humana...
As crianças amavam-nO; as mulheres fascinavam-se e os homens seguiam-nO com respeito.
Ele disse: - Eu sou o bom pastor, e nenhuma das minhas ovelhas se perderá - para logo acrescentar - mas nenhuma entrará no Reino dos Céus
sem pagar toda a sua dívida, ceitil por ceitil.
A Dra. Hanna Wolf, a célebre psicanalista a quem já nos referimos, registrou de outra feita: “Para bem entendermos Jesus, será necessário
um mergulho na Psicologia profunda”, que é a de Carl Gustav Jung.7
Sob esse aspecto, a obra de Joanna de Ângelis, intitulada Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, que tivemos a oportunidade de
psicografar, dá-nos uma visão mais ampla sobre esse Homem Incomparável.
Entendendo-O, desta forma, é que dEle vamos aproximando-nos, desse Ser Incomparável, desse Modelo, para abandonarmos a nossa
inferioridade e trabalharmos pela auto-iluminação, que é possível, libertando- nos desse masoquismo dos tímidos, assim expresso: “É necessário
sofrer para entrar no Reino dos Céus..."
De forma nenhuma! isto não está no Evangelho, é fantasia medieval. É necessário, sim, estando na Terra, viver como os seres normais, mas
não ser vulgar como alguns deles; estar com eles, mas não lhes ser igual; diferenciar- mo-nos, pelo homem interior que somos, na conquista da
plenitude que buscamos.
Os quatro narradores são a prova fundamental da vida e da presença desse Homem Incomparável no planeta terrestre. Eles valem mais do
que as notícias de alguns historiadores ancestrais, que não participaram daquela jornada admirável do Homem Galileu.
Quando foram encontrados os pergaminhos no Mar Morto, em Kúmran8 na região dos essênios, ali estavam documentos probantes de muitos
trechos e narrações bíblicos e, por extensão, de parte dos textos do Evangelho de Jesus.
Numa abrangência histórica, podemos concluir que Sócrates veio damos uma visão dialética do mundo, através de Platão, em uma proposta
psicossocial de fundamentos éticos elevados. Buda, o príncipe Sidharta Gautama, apresentou- nos o caminho do meio, para que encontrássemos
a plenitude. Hipocraæs pôde oferecer as bases da futura Medicina.
Jesus é o Pskxterapeuta que penetrou a intimidade das cnafcias humanas e pede soudera: os problemas profundos ca zsoue. sem a necessidade de
interpretação dos sonhos, ca anáíse dscursva. perçue Sua paranormatidaòe permiSa- KJ psmátar na causafefade dos problemas humanos.
Rbt este razão, areámos com Ernesto Renan, que Jesus é tm Homem ícomparável. Um Homem. Não Deus..

4 EXAMINANDO O DOGMA DA SANTÍSSIMA TRINDADE


O conceito sobre Jesus-Deus foi apresentado por ocasião do primeiro Concilio de Niceiá, quando os cristãos da época estabeleceram que
Jesus era igual a Deus.
O debate iniciara-se por volta do século II, quando, inclusive, Santo Antão fora convidado a dirimir as dúvidas, confirmando que Jesus era
Deus.
Mais tarde, no ano de 380, Teodósio I proclamou o Cristianismo como a religião oficia[ do Império Romano, proibindo o culto pagão e
combatendo o arianismo.
Logo depois (381), foi convocado o segundo Concilio Ecumênico de Constantinopla, no qual se confirmou a formulação definitiva do dogma
da Santíssima Trindade, herança de velhas crenças dos sumérios, dos chineses, dos babilônios, dos indianos e de outros povos...
Os indianos conceituam Deus em três Entidades: Brama, Shiva e Vixnu, e os cristãos (católicos) em Deus-Pai, e Deus-Espírito Santo.
Nada obstante, o Mestre sempre informara que não era Deus: ‘Eu sou o filho do Homem’; ‘Eu venho em nome dAquele que me erivkxi’; ‘Eu
vou para o meu PaT; "Eu sou o caminho da verdade e da vida’ Embora as traduções da Vulgata Latina asseverem ‘Eu sou o caminho, a verdade
e a vida”, a tradução é proposital, a fim de confirmar o dogma da Trindade.
Quando Plates Lhe perguntou a respeito da verdade.
Ele silenciou e olhou para o Alto, como a dizer que a verdade é Deus. Aquele político não tinha condições de entendê- la, pois era um homem
pusilânime, que estava acostumado à bajulação de uma corte depravada e a uma existência vulgar. Como iria entender esta proposta psicológica
profunda que é a verdade embutida no coração da criatura? Não teria como consegui-lo...
Jesus, então, silenciou. Para nós, é um dos momentos grandiloquentes do Evangelho.
Antes, porque respondesse ao sumo-acerdote a respeito da Sua pregação pública, um soldado que estava ao Seu lado, bajulador e infeliz,
considerando desrespeitosa a Sua atitude, deu-Lhe uma bofetada na face.
Os covardes sempre agem assim...
Jesus estava com as mãos amarradas, e o bajulador, aproveitando-se da Sua “fragilidade”, bateu-Lhe no rosto, violento, certo da não-reação
da vítima, porque os brutos são serventuários da força.
Imperturbável, no entanto, Ele olhou para o soldado e perguntou-lhe: “Por que me bateste? Se eu disse a verdade, por que me bateste,
soldado?"
Não pode haver maior demonstração de grandeza moral do que a ação, ao invés da reação.
A reação é remanescente animal, que predomina em a natureza humana. Pisa-se na pata de um cão e ele morde. A ação é o resultado do
equilíbrio, do discernimento, da consciência e da razão, que elucida e nunca revida com a mesma arma.
Esse soldado - pensamos - nunca mais esquecería aquele Homem, frágil e forte que, ao invés de revidar-lhe, perguntou-lhe: “Por quê?!”,
desde que Ele não havia dito mais do que a verdade. Podemos imaginar o seu conflito, o drama de consciência, o que nos faz evocar, também, a
figura vulgar e atormentada de Pilatos, que , procurando atender aos dois poderes - César e Deus - resolveu-se pelo primeiro, condenando Jesus e
lavando as mãos a respeito do Seu destino.
Narram alguns dos seus biógrafos, que, a partir daquele momento;''Pilatos'.tinha sempre a fixação mental de que suas mãos estavam tintas de
sangue e lavava-as continuamente.
Quando veio a decadência de Tibério César, ele foi convocado a retornar a Roma. Era um infeliz, vitimado pelo transtorno obsessivo-
compulsivo de lavar as mãos, sendo afastado da vida pública. Mandado para a Suíça, em aposentadoria compulsória, terminou por procurar o
silêncio de um vulcão extinto, suicidando-se, no clímax do seu transtorno melancólico, que culminou na tragédia de uma vida infame.
7
(7) CARL G. JUNG (1875-1961) - Psicanalista suiço denominado “Pai da Psicanálise Analítica", dissidente das teorias de Freud, pois o que este considerava como causa, para Jung era efeito,
dai evoluindo o conceito de Consciência; pretendia significar que a psique não tinha nenhum substrato biológico.
KUMRAN – Veja considerações em notas complementares.
8
“Eu e o Pai somos um”, enunciou, também, uma única vez, nãosignificando que sejam o mesmo, mas equivalendo a Sua identificação com
Deus, de tal forma que os Seus atos eram confirmados pelo Genitor Divino. Raciocinemos, a respeito da frase Eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida. Ora, bem, se a verdadejé Deus, logo Ele também seria Deus! Por isso, a tradução foi adaptada ao interesse do dogma, para confirmar a
Santíssima Trindade.
O Professor Carlos Juliano Torres Pastorino, que traduziu o texto diretamente do aramaico, passando pelo hebraico, pelo grego e pelo latim,
asseverou com propriedade, que o correto é: “Eu sou o Caminho da Verdade e da Vida, e ninguém chegará ao Pai senão por mim.”
Portanto, Ele e o Pai não são a mesma Entidade.9 Reconfirmá-lo-á, quando, ressurrecto, Maria de Magdala vai cingi-IO em um abraço Ele
diz-lha: “Não me toques, mulher, porque ainda não estive com o meu Pai/
Àllan Kardec, na questão de ri° 625, de O Livro dos Espíritos, interrogou: “Qual o ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para
servir-lhe de modelo e guia?"
E os Espíritos responderam, em grande síntese: “Jesus.” É realmente Incomparável, esse Homem de Nazaré!

5 JESUS É O SALVADOR?
Em nossa união com Jesus, deveremos penetrar-Lhe a vida, procurar senti-10 no dia-a-dia, retirá-10 da cruz, na qual permanece imolado até
hoje pelas nossas paixões, ver nEle o Modelc e não o nosso Salvador ou Aquele que nos salvou com Seu sangue, no que foi um ato de
vandalismo, de crueldade para com Ele, que se crucifica para salvar ociosos, para termos uma vida de dissipações e estarmos liberados por Ele,
que se permitiu matar... Seria um canibalismo estúpido da História.
Não é nosso Salvador, conforme a tradição comodista de algumas religiões. Ele veio sim, para ensinar-nos a salvação. Não para nos salvar ou
tomar a nossa cruz e car- regá-la, deixando-nos ociosos. Se o fora, representaria um tormentoso ato sadomasoquista de Sua parte.
Também não veio morrer por nós. Veio nos ensinar a morrer com dignidade. Veio mostrar-nos que Ele, sem culpa, sem dívidas a pagar,
experimentava o martírio, e o Seu amor superava a dor, os culpados que sejamos, experimentaremos a purificação de forma equivalente ou mais
angustiante.
“E quando eu for erguido, atrairei todos a mim” - é anotado peío evangelista João. Eis o Mestre procurando demonstrar-nos que era
necessário o Seu holocausto, para que O entendéssemos e O amássemos.
A criatura humana tem necessidade de sangue. Todos quase, parece que a temos. Aí estão os espetáculos de Box, de catch, a violência
urbana, as tragédias do quotidiano, as peliculas de super violência e de hediondez, a sexolatria desbragada, as paixões primevas espicaçando-nos
os instintos primários e perturbadores.
Jesus sabia dessa fase primária em que estava a Hu- manidade e. na qual permanecería durante largo período, para então a todos atrair-nos da
única maneira que poderiamos sentir emoção...
Ele, na cruz, comove-nos. Sensibiliza-nos, no Sermão da Montanha, quando reverte o sentido ético da Humanidade ao pregar as bem-
aventuranças, mas é na cruz que nos impacta.
Esse Jesus-Amigo não é um ser mitológico-divino, porque divinos somos todos nós, procedentes da mesma Divindade sem critério especial:
“O que eu faço, vós podereis fazer, e mesmo muito mais se quiserdes, se tiverdes fé”, se vos entregardes à execução deste programa (o Seu
Evangelho).
Esse Homem, na condição de Deus, fica muito longe de nós. Se era Deus em pessoa, que veio estar entre nós, qual era o mérito? Seria o
absoluto no limitado...
Como Filho de Deus - que somos todos nós -, JEje é Especial, por que nunca reencarnou na Terra, chegando-nos já com as características da
Sua perfeição relativa diante de Deus.
Léon Denis o poeta da Doutrina Espírita, tem ocasião de ressaltar que Ele é o Construtor do nosso orbe, é o Go- vernador da Terra. E não
duvidamos.
Emmanuel, Joanna de Ãngelis e outros nobres espíritos, por variados médiuns do planeta, inclusive, não cristãos, asseveram a superioridade
de Jesus, não obstante apresentarem algumas contestações.

6 O QUE É NECESSÁRIO PARA SALVAR-SE


Jesus, certa feita, estava de cidada ëm cidade, em Suas pregações, como Lhe era habitual.xOs fariseusAComo sempre, preparavam-Lhe
armadilhas para surpreenderem- nO em algum delito e O entregarem ao Sinédrio para que fosse punido, quando subitamente um deles, acercou-
se- Lhe e perguntou:
- “Senhor, o que é necessário fazer para entrar no Reino dos Céus?"
Era um rabino, portanto, deveria sabê-lo.
Jesus devolveu-lhe a inquirição:
- "O que está escrito na Lei?*
- “Fazes bem! - observou Jesus. Porém, uma coisa te falta: amar ao teu próximo como a ti mesmo.”
Jesus sabia que ele era hipócrita. Para desembaraçar- se da situação, o rabino astuto volta a perguntar:
- 1*E auem é o meu próximo?"
Jesus contou-lhe a mais notável parábola da Humanidade, queé modelo para o serviço social: “Uirhomemi judeu/descia de Jerusalém a
Jericó) quando foi assaltado por bandidos, que o espoliaram e maltrataram, deixando-o
- “Está escrito que é necessário amar a Deus sobre taA das as coisas, não furtar, não roubar, não mentir, não cobi-V çar a mulher do
próximo, não caluniar... Tudo isso eu faço praticamente morto à margem do caminho.
“Pela mesma estrada passou um sacerdote como tu, que o vendo, foi-se, de largo, para não se envolver... Logo depois, veio unaJgyita,
urnTiõrhem d¥Rpque o vendo, omitiu-se.
“Vinha também, pelo mesmo caminho, um samaritano, odiado, considerado um ser inferior, que vendo aquele homem sangrando, foi tomado
de compaixão...”
A parábola é muito linda. É psicológica. Na palavra textual: “E vem pela mesma estrada um samaritano, que o vendo caído, toma-se de
compaixão."
A primeira atitude junto a alguém que sofre é a da compaixão. jDs kidistas usam muito essa palavra, principalmente oDalai LarftapA
compaixão não é piedade apenas. É um sentimento mais profundo, de ternura. Não é ter somente dó da pessoa. É ter interesseftor ela.
Ao tomar-se de um sentimento de compaixão, o sa- maritano limpa as feridas daquele tombado, coloca óleo, dá-lhe vinho reconfortante, põe-
no sobre seu animal, leva-o a uma estalagem e diz ao hospedeiro: “Cuida dele. Pago-te por antecipado. Estou de viagem, e dentro de alguns dias
retornarei. Se ele gastar além daquilo que te pago, não te preocupes, pois que em minha volta, reem- bolsar-te-ei.”
Note-se: não lhe perguntou nada. (Vemos pessoas a exercitara caridade, com um inquérito tão grande...; têm até ficha para anotações de

9
(9) JESUS É DEUS? - Ver mais algumas considerações em Notas Complementares, ao final desta obra.
quando se instalou a miséria!...)
Que parábola !
Jesus perguntou, então, ao fariseu:
- “Na tua opinião, quem foi o próximo do homem caído na estrada?”
A resposta imediata foi de grande lógica:
- “Aquele que, para com ele, usou de misericórdia.”
- “Então - completou Jesus - vai tu e faze o mesmo.”
Não é necessário crer em Deus, respeitar pai e mãe,
ou ser um conhecedor da Lei; isto faz parte do programa, obviamente, mas é necessário amar ao seu próximo, seja pai, mãe, irmão, amigo,
inimigo... Nessa colocação, o sacerdote, que tinha total condição de ajudar, deixou-o ali; o levita, que era responsável legal, passou de largo e, o
considerado inimigo, nem perguntou o que acontecera, pois pouco isso lhe interessava.
Quantas vezes, alguém pede socorro e fazemos-lhe um inquérito humilhante: por que você está pedindo? de que necessita, afinal? por que
não toma vergonha? por que não vai trabalhar?
Depois de humilhar o necessitado, dá-se-lhe uma migalha, isto quando não o agredimos, chamando-o de mentiroso ou sem-vergonha, ou um
explorador que vive da mendicância, da caridade pública...
Seria ideal, que déssemos antes de a criatura cair abai- xo da linha da miséria, para que não se transforme em uma infeliz, melhor sendo uma
pessoa necessitada de oportunidade... Feliz é aquele que dá, nem sempre quem recebei

7 A QUESTÃO DO DÍZIMO
Jesus estava na praça, em Jerusalém, quando uma mulher era levada ao apedrejamento.
Quando O viram, os fariseus, que O odiavam, porque tivera a audácia de dizer que ali. no templo, já não era a casa de Deus, mas um lugar de
comércio, constituído por dois mil empregados, em que se faziam oferecimentos para limpar-se dos pecados, sentiram-se duramente advertidos,
ficando magoados.
Os sacrifídos de animais eram tantos, que o sangue corria pelos canaletes, a ponto de cobrir parte da pata dos bois. Era a maneira habitual, e
que ainda conservamos, na condição de herança atávica para conquistar Deus...
Hoje, muita gente está tentando comprar Deus exclusivamente através do pagamento do dízimo à igreja a que pertence. Apregoa-se com
arrogância: dê mais, que Deus lhe dará muito mais!
Trata-se de uma herança hebraica pré-cristã, que, de alguma forma, ressurgirá na proposta das indulgências, através das quais todo crime
podia ser absolvido, conforme a tabela proposta pelo Papa, no passado, de lamentáveis conseqüências. /
Foi essa condtífa extravagante que levou o monge au- gustiniano Luteroa protestar, dando lugar ao surgimento de uma nova teologia, que o
consagraria.
Hodiernamente, ainda queremos o Reino dos Céus me- diante o comércio com a moeda terrestre, ou desejamos o triunfo através desse infeliz
expediente: dê mais, que Deus lhe dará muito mais, em um ato que nos parece blasfemo, como se tudo quanto existe no Universo e ele próprio
não Lhe pertencesse...
Dar a Deus, ou à igreja, normalmente é uma forma.de enriquecer as pessoas que se apresentam como seus intermediários.
Essa conduta irá permitir que alguns indivíduos desfrutem do prazer e vivam na ostentação, para que então Deus nos dê alguma coisa.
Estamos ainda no estágio primário da consciência: a consciência de sono, segundo Ouspensky. Permanecemos como seres fisiológicos,
aqueles que vivem as sensações da boca Dara baixo: comemos, dormimos e fazemos sexo.
Os seres psicológicos comem, dormem, fazem sexo, sim, mas, sobretudo, pensam.
Ainda, conforme Ouspensky, esses seriam apenas 5% da sociedade. Os outros 95% 'estariam mais interessados 1 no dê-me, que eu te dou, no
viver hedonisticamente, gozando, fruindo o prazer, como se a existência fosse um passeio na ilha da ilusão.
Muitos há que passam por essa ilha da fantasia. Somente que a ilusão se dilui, é uma névoa que o sol da realidade consegue devorar.
Então, naquele tempo, os holocaustos eram praticados de maneira natural. Para determinados crimes eram sacrificados animais, de acordo
com a gravidade da ofensa a Deus: uma pomba, um carneiro, um toürõC Deus, ironicamente, então, aplacava a Sua ira...
Jesus chegou ao templo e invectivou com energia: “A casa de meu Pai é lugar de oração! Por que a transformaste em um mercado? Por que a
tornaste um lugar de negócios?”
Diante de tai verdade Ele ficou mais odiado. Havia ferido o cerne dos interesses infelizes da criatura humana: a ambição pela conquista do
dinheiro.
Os autores modernos chegam a propor que o assassinato de Jesus foi de natureza econômica, porque Ele ameaçou a estrutura que mantinha o
Sinédrio e a ociosidade dos sacerdotes, dos juizes decadentes.
Èle‘, em verdade, era a revolução da Boa Nova, a ideia do homem integral, do homem sem aparatos, da criatura sem concessões especiais,
demonstrando que todos somos filhos de Deus, e somos iguais.
As nossas diferenças são de caráter intelecto-mora), numa aristocracia espiritual e nunca racial ou socioeconômica.
A Doutrina Espírita nos dá a noção de um Deus que não se vende ante as nossas promessas, que não se dobra diante da nossa hipocrisia, que
não se rende quando Lhe damos o dízimo, porque Ele é o dono do Universo, onde tudo o que existe Lhe pertence. Como se vai exigir que Lhe
demos uma décima parte de nossas quinquilharias? Estamos dando a Deus ou aos religiosos?
Ouvem-se explicações:
- Mas é necessário erguer uma igreja, um templo, algo esplendoroso...
- Para quê? - perguntamos - como também nos permitimos responder: para as vaidades... É só pegarmos o Evangelho. Lá está: “O Filho do
Homem (que era Ele), não tem uma pedra para reclinar a cabeça, embora as aves do céu tenham seus ninhos e as feras, seuscqyis.”
Quando Ele falou com a mulherjsamaritana. naquele diálogo monumental em que ela Lhe retruca: “Mas tu és judeu, e os judeus adoram em
Jerusalém; nós somos sa- maritanos e adoramos no Monte Garizim”, Ele sorri-lhe com boa dose de piedade e responde: “Mulher, dia virá em
que o Pai será adorado, não em Jerusalém nem em Garizim, mas no altar da natureza”; Ele será adorado pelo nosso respeito às leis naturais
A necessidade de uma igreja é para podermos estar juntos, mas a suntuosidade é da vaidade humana, que faz erguer um templo faustoso
enquanto os clientes morrem de fome à sua porta de entrada...
O Deus bíblico é uma visão psicológica e teológica de um Ser de há seis mil anos. Naquela época, a conceituação era apresentada a um povo
pastoril, e tinha-se que mostrar um Deus com características humanas.
Como se poderia entender um Deus metafísico, com características cósmicas, quando nem sequer se sabia da existência desse Cosmo e
acreditava-se que a Terra era o centro do Universo?
Hoje, o conceito de Deus não é o do Criador apenas da Terra; é o do Criador do Universo. O grande telescópjp Hubble quase diariamente
apresenta o surgimento de grandes galáxias, e outras, que são devoradas pelos buracos negros.
O conceito de Deus progrediu, saindo da estrutura deli- mitadora da visão bíblica para o caráter universal, profundo, ético. É o Deus-Amor,
indefinível, porque qualquer tentativa de defini-IO, limitá-IO-ia; qualquer possibilidade de colocá- 10 em nosso entendimento, torná-IO-ia finito.
Aceitamos, portanto, o Deus bíblico transformado no Deus Universal, a quem Jesus chamava Meu Pai, g Amor.
O Espiritismo nos dá, pois, esse Deus de amor, como também de misericórdia. Jesus O definiu: “Se pedires aoj Pai um pão, Ele não vos dará
uma pedra; se pedires um peixe, não vos dará uma serpente.” Então, pedi ao vosso Pai! “Batei e abrir-se-vos-á, buscai e achareis.” É uma
proposta enriquecedora.
Por aue temos que bater? Por significar um ato de humildade.
V, Por que temos que buscar? Porque traduz o esforço pessoal pelo adquirir.
Por que temos que pedir? Porque somos necessitados e devemos submeter-nos às leis que Ele estabeleceu, na condição de Pai Generoso.

8 A SOMBRA DO PRECONCEITO
Os nossos preconceitos são adversários crueis da nossa própria e da estrutura da sociedade. Quanto mais presunçoso jé pjndjyíduo, mais
ignorante, maior é a sua densidade de sombra, e o seu preconceito é muito mais vigoroso.
No meio religioso, encontramos este preconceito, assim exarado: “A minha religião é a única!” E, dentro dessa conduta religiosa, sempre
predomina o comportamento ar- bitrárip do eu.
Ao lermos O Livro dos Espíritos, ou a Bíblia, ou um dos livros clássicos das religiões, aos quais todos têm acesso, ouvimos dizer: “Somente
eu entendi o que ali está exposto. Para mim, é assim!”
- Para você! - deveremos responder com tranqüilida- de. Essa é a sua visão. É o seu lado sombra. Quer vestir toda a sociedade com o
conceito que entendeu. Esse é um indivíduo preconceituoso, encerrado na sua própria ignorância, e incapaz de ver a profundidade de uma
proposta libertadora conforme preconizam os postulados de todas as doutrinas espiritualistas.
Participamos, nos dias 28 a 31 de agosto de 2000, em Nova Iorque, de uma reunião na Organização das Nações Unidas (ONU), com
religiosos de todo o mundo - e estávamos sob a inspiração dos Espíritos Ghandi, Martin Luther King Jr., Albert Schweitzer, esses líderes da paz
entre muitos outros - para que se pudesse encontrar um meio de evitar a guerra, o que não foi possível com a grande hecatombe que se abateu
sobre a Humanidade a partir de 11 de sete10mbro de 2001.
Tratava-se de um summit? que foi proposto por um homem muito especial, o Dr. Ted Turner, que é detentor de imensa fortuna e conhecido
mundialmente por ser o proprietário da Warner e da CNN, canal televisivo internacional de notícias, e que proferiu a conferência de abertura.
Explicou ele que havia nascido em uma doutrina muito estreita do Metodismo americano, e era verdadeiramente fanático em relação ao
“seu” Deus. Depois, seu pai suici- dou-se, restando-lhe uma empresa de televisão, quase falida, em Atlanta.
Tendo que viajar, descobriu que o “seu” Deus era muito mesquinho, porque, visitando os Estados onde ainda existem tribos de índios,
verificou que o Deus dos ancestrais indígenas americanos é possuidor de caráter universal.
Depois, ele resolvera ficar de mal com Deus. Tornara- se materialista.
Tendo que viajar, por necessidade de sua empresa, foi descobrindo que havia sim, um Deus. Não um Deus humanizado, personificado, mas
um Deus que era a Causalidade Absoluta, Aquele que precedeu ao Big-bang, o Deus das forças primárias que um dia iriam explodir - teoria,
hoje, bastante suspeita - na formação do Universo. Com isso, ele adquiriu um sentido espiritualista da vida. Não se vinculou a esta ou àquela
doutrina religiosa.
Através do tempo, consolidou uma grande fortuna e tomou-se um benemérito da ONU. Percebeu que o maior número de guerras, jamais
havido na Humanidade, foi provocado pelos religiosos e pelas religiões. A necessidade de supremacia de uma religião sobre outra sempre
desencadeou essas hecatombes...
Teve uma ideia: pediu à ONU que patrocinasse um encontro de religiosos de todo o mundo. Escolheu um jovem idealista daquela
organização como secretário, para ser o intermediário junto ao Secretário geral, o Dr. Kofi Annan.
Esse jovem, um homem de 40 anos, indiano, vinculado a uma das tradições do Hinduísmo, começou a trabalhar, e o Dr. Ted Turner
prontificou-se a apoiar a ONU nas despesas para esse grande Encontro de Cúpula.
O intermediário viajou durante 1ô meses pelo oriente, porque, religião, para ele, eram aquelas da área por onde deambulava. Convidou as
personalidades mais famosas do Orientalismo na atualidade, inclusive o Dalai Lama, várias santidades do Budismo, do Hinduísmo, do
Bramanismo, do Masdeísmo. Mas descobriu que no ocidente também existem formosas religiões. Então, convidou o Papa João Paulo II,
lembrando-se das ramificações protestantes, que somente nos Estados Unidos somam 2.200 denominações. Com muita emoção incluiu também
o Judaísmo.
De setenta e quatro países acorreram setecentos e cinqüenta e quatro delegados. As quinze maiores religiões do mundo se fizeram presentes,
e nessas, o Cristianismo, congregando a Igreja Católica Apostólica Romana, as Ortodoxas grega, armena, copta, egípcia, russa, e, entre as
denominações protestantes, uma foi convidada para representar todos os demais segmentos.
Para nossa surpresa, recebi o convite para participar do grande evento. Fiquei a imaginar o que seria... Quando nos chegou a invitação,
atribuí que se tratasse de algum blefe, pois o documento vinha em nome das Nações Unidas convidando líderes religiosos. Como reconheço não
ser líder de nada, muito menos de religião, achei que era alguma brincadeira. Mesmo assim, li até o fim o convite e meditei em torno do seu
conteúdo.
Deveria preencher um formulário e enviá-lo ao Hotel Waldorf-Astoria, onde deveriam hospedar-se os convidados, por conta própria (esse
detalhe é muito importante...).
Havia, então, algumas perguntas a serem completadas, tais como:
- Como gostaria de ser chamado? - Santidade, Excelência, Pastor ou Mister?
Optei por Mister, que era o mais popular...
- Qual o veículo que desejava usar entre o hotel e a sede da ONU? - Limusine, limusine blindada, carro particular, ou ônibus?
- ônibus! - Foi a minha opção.
- Deseja assessoramento de polícia especial, da polícia de Nova Iorque, da polícia do hotel, ou nada?
- Nothing. - Foi a minha resposta. Não preciso de nada.
Postei a resposta e fiquei aguardando.
Para minha surpresa o convite era verdadeiro. Estava sendo convidado mesmo.
Simultaneamente, como verifiquei depois, foram encaminhados os convites à Federação Espírita Brasileira e ao Conselho Espírita
Internacional. Lá nos encontramos e nos tomamos a representatividade de uma doutrina que entre as outras não era conhecida como religião. Ao
nos apresentarmos e preenchermos os formulários, lá estava: qual a religião? - E todos colocamos Espiritismo.
Pela primeira vez na História, o Espiritismo passou a ser considerado pela ONU como religião. Portanto, religião com todos os direitos de
liberdade e igualdade de que desfrutam as demais.
Ali estavam as personalidades mais célebres do mundo na área religiosa. Representantes indígenas, o Cardeal designado pelo Papa, o
representante do Dalai Lama - que não pôde ir, pois que a China houvera-o definido como líder político e não religioso, em face da sua
dominação sobre o Tibete -, budistas tibetanos e chineses, cada qual com sua indumentária apropriada, todas muito bonitas em pessoas
venerandas, de ÔO anos várias delas, para durante quatro dias discutirem a paz, do ponto de vista religioso. Igualmente maometanos, judeus,
hinduístas, taoístas, etc... e nós outros, espíritas.

10
(10) SUMMIT - Encontro de líderes, de cúpula.
Será que nos podemos unir em favor da paz?
Será que aqueles que falamos a mesma linguagem:
Deus, imortalidade da alma, amor, poderemos deixar de guerrear-nos, para trabalharmos pela paz?
O summit estava dividido em quatro atividades, para ser feita uma proposta de paz. Cada convidado deveria elaborar uma tese com 1.500
palavras a respeito de como fomentar e viver a paz na Terra. Depois, todas as teses seriam reunidas em um livro, a ser traduzido em seis idiomas
básicos e enviado para todos os governantes do mundo, com as propostas sobre a paz.
A partir dessas teses, deveria ser criado um Conselho Auxiliar de Religiosos, junto à ONU, para que antes de os delegados do mundo
decidirem pela guerra, pudessem ouvir os seus líderes religiosos, que diriam: “Nós, os religiosos, negamo-nos a combater os nossos irmãos,
embora vivam em outro país. Se eu, budista, entregar-me ao combate contra o país X, lá tenho um irmão da minha crença e terei que solidarizar-
me com ele.”
Assim se expressarão o católico, o protestante, o espírita, o maometano, o judeu, todos os demais, considerando que esse líder político que
deseja a guerra poderá ser um psicopata, um ambicioso, não merecendo apoio na sua agressividade. E acrescentaria: “Não posso estimular a
guerra, pois que a minha religião proíbe-me de matar; o outro é meu irmão, que apenas está do outro lado. Eu me recuso, portanto, a matar.”
Dessa forma poderiamos acabar com as guerras. Seria a primeira proposta.
A segunda, é acabar com a miséria socioeconômica da v Terra, e a dificuldade de termos o direito a um lugar ao Sol.
A terceira proposta é o respeito aos direitos da criança / e da mulher, que sempre foram malversados.
A quarta, é o respeito à Natureza.
Ouvimos o discurso de um chefe índio, de 90 anos, ao som de tambores e mantras em seu dialeto, apelando: “Ou nós respeitamos a Natureza,
ou a Natureza nos matará.” Isto, traduzido em seis idiomas. Deveremos respeitar as forças vivas. À época, o Estado de Montana (USA), estava
com uma grande área consumida por um incêndio natural, como também parte da Austrália padecia de grandes queimadas.
“Respeito ao fogo; respeito à água! “- exclamava o venerando orador.
O chefe dizia-nos: “Agora, na Antártida, um grande lago de mais de um quilômetro está em degelo. Se a Antártida degelar-se, o mundo
terreno se acaba, porque o mar tomará conta de tudo. Teremos que respeitar essas forças vivas.”
Falava e chorava, cantando um mantra das antigas tradições do seu povo, de há mais de dois mil anos, versando sobre o amor e o respeito às
forças vivas.
O summit transcorreu muito bem. Foi programado um novo encontro para dentro de dez anos, e a magna proposta é a de que no ano 2021
não haverá mais guerra na Terra.
A mais significativa exposição, do que pude concluir, foi a de serem eliminados os depósitos de armas químicas, biológicas e de mísseis.
Todos esses engenhos mortíferos serão em breve peças de museu. Assim, dessa maneira, será possível a paz.
Quando estávamos no auge das discussões, uma indiana - tida como santidade dentro de sua doutrina religiosa - levantou-se e expôs: “Nós
podemos sim, movimentar-nos e acabarmos com os depósitos de armas; mas, se nós, pessoas, não nos desarmarmos umas em relação às outras,
criaremos outras guerras e outras armas. O homem primitivo defendeu-se do meio hostil com socos, com pedras, taca- pes, e hoje com as armas
super sofisticadas. O importante, no desarmamento mundial, é o desarmamento individual.”
Ela tem razão. Vivemos armados. Se alguém nos olhar demoradamente, logo perguntamos: “Qual é o caso?!...”
O que mais nos comoveu, pela proposta inusitada, foi a provinda do representante do Aiatolah, do Irã, quando ressaltou sobre os direitos da
mulher, em nome de um país que castrou todos esses valores femininos e voltou à Idade Média. “Fazemos parte da ala renovadora; Alá deseja
que nos amemos” - enfatizou.
O rabino judeu, da maior sinagoga dos Estados Unidos, em Manhattan, expôs: “Eu tinha um jardim. O meu jardim era o melhor do mundo.
Cultivava as mais belas flores e achava ser ele o único que havia na Terra.
“Um dia, alonguei a vista e vi alguém cuidando de outro jardim. Claro, não era tão belo quanto o meu, mas era um jardim. Notei que ele
arrancava as ervas daninhas. Fui observar meu jardim. Percebi que também nele medravam ervas daninhas. Tentei arrancar algumas, e suas
raízes, entrelaçadas com as das ervas boas, arrancavam-nas.
“Fui observando, e dei-me conta de que havia tantos jardins, cada qual especialista em determinados tipos de planta. Descobri que não era o
único possuidor de jardim. O Grande Jardineiro havia-me convidado para cuidar daquela gleba de terra, como havia igualmente convidado a
outros tantos. O Dono do jardim estava acima de todos nós.
“Jeová havia determinado que a Terra se transformasse em um grande jardim. Passei a ajudar o outro jardineiro. Passando a ajudar-nos, todos
os jardins ficaram perfeitos..."
Referia-se, aliás, com muita propriedade, às religiões.
Um guru indiano teve a ocasião de sintetizar: “Um ramo de flores alvinitentes é de uma beleza incomum. Mas, um ramo de flores com
variadas cores, é igualmente de incomparável beleza. Nós aqui estamos para colorir o mundo.”
Cada representante religioso teve oportunidade de expor, de discutir, de debater os conceitos de suas doutrinas, sempre convergentes nos
pontos básicos. Todas as religiões que ali estavam representadas, apoiavam-se nos mesmos fundamentos: a crença em Deus, na imortalidade da
alma, na justiça divina, no amor...
Ora bem! Como vamos combater nossa sombra, essa sombra individual de que “o que é meu, é melhor”, de que “a minha religião é melhor”?
A interpretação de cada pessoa é mais compatível com as suas necessidades, e por isso existem-nas múltiplas, para facultar aos diversos
níveis de consciência, conhecimento e entendimento evolutivo, aquilo que é próprio para o nível de evolução de cada uma.
Allan Kardec, porém, inspirado, afirmou que o Espiritismo não será a religião da Humanidade. A Humanidade do futuro não será espírita. O
Espiritismo iluminará todas as religiões, dará fé a quem não a tem, e a aumentará naquela que a tem.
O Espiritismo irá explicar, por exemplo, a determinada doutrina ortodoxa, porque existe o sofrimento, já que, fundamentada na crença de
uma única existência, faltam-lhe lógica e entendimento para compreendê-lo. A Doutrina Espírita irá brindar-lhe a crença na reencamação, que
explicará a metodologia evolutiva e a função da dor. Outra doutrina crê na imortalidade da alma, mas não pode documentá-la. A mediunidade irá
propiciar esse encontro com o fato da indestrutibilidade da vida, através da comunicabilidade dos seres imortais.
Aí estará a iluminação que favorecerá todas as religiões. Não seremos então, um dia, todos seres humanos espíritas, conforme o conceito
proposto pelo Espiritismo. Seremos irmãos. Sempre que pontificarmos em qualquer tipo de “ismo”, estaremos dividindo-nos, separando-nos.
Há uma necessidade momentânea, metodológica, educacional, psicológica, de estarmos vinculados a uma grei, que fale o idioma da nossa
emotividade. Isto não quer dizer que sejamos melhores do que os outros, porque antes que houvesse surgido a nossa tese, o mundo já estava feliz
e a Divindade amava Suas criaturas, a nós pessoalmente, naquelas fases primeiras, e a algumas outras que já não reencamam mais, por não terem
necessidade de novas provas. Elevaram-se. Nós, que nos equivocamos, retornamos agora em uma nova proposta: Jesus-amor, que foi precedida
pelas apresentadas por Krishna, por Buda, este corporificando-se aproximadamente setecentos anos antes dEle, anunciando: “Sede como o
sândalo, que perfuma o machado que o fere”. Não é quase a mesma recomendação de Jesus - “Se alguém te bater num lado, dá-lhe o outro", em
uma linguagem poética?
Buda, Krishna, Confucio, Maomé, são espíritos de escol, Guias da Humanidade. Porém, se analisarmos bem, só Jesus é Modelo, pois Buda
foi um príncipe, na sua vida normal, teve suas companhias, procriou. Um dia, tomado de tristeza, saiu para conhecer o mundo fora das muralhas
do seu palácio, encontrando o sofrimento, a miséria, a velhice, a morte. Entristeceu-se e descobriu que a vida física não tinha sentido por si só.
Foi então meditar sob austeridades intensas, para domar o fogo das paixões.
Depois de 12 anos, a febre estava maior. Abandonou o monastério e foi para a sombra de uma árvore, uma figueira, com quatro ou cinco
companheiros. Ali meditou e Iluminou-se; tornou-se Buda.
Moisés, depois de sua vida no palácio e de haver assassinado um egípcio para salvar um judeu, foi ao Sinai e teve o seu momento de
Iluminação.
Maomé, no ano de 621, teve uma convulsão epiléptica, no Monte Moriá e levado ao Terceiro Céu, encontrou-se com um anjo que lhe ditou o
Corão. Era analfabeto. Esse anjo ofereceu-lhe uma Obra portadora de incomum beleza.
De todos esses, com todo respeito, porém, ninguém como o Homem de Nazaré, o Guia da Humanidade. Aqueles são os Seus emissários que
Lhe prepararam o advento e para darem continuidade, vieram outros tantos, mais recentemente: Abdul Baha’i, Bah’aoulà, que nos legaram o
Bahaísmo; Helena P. Blawatsky, Allan Kardec e muitos mais. Todos foram homens e mulheres notáveis, que nos trouxeram facetas lindas da
verdade, verdade da qual Jesus se fez modelo, e que melhor nos deu ideia de Deus, na Sua Perfectibilidade Absoluta.
Ainda predomina em nós, porém, a sombra individual. Encontramos pessoas religiosas que nos admoestam, por exemplo:
- Divaldo, você é um homem bom; dedica-se ao Bem, doou toda a juventude a trabalhos em favor dos mais pobres, mas que pena que
você vai para o Inferno...
Respondo-lhes, sem enfado:
- Meu filho, não dá para repetir!
- Como “repetir”? - questionam.
- Já vim de lá... Agora, por que é que irei retornar?
- Porque você é espírita.
- Mas o pouco que faço, conforme você reconhece, é porque sou espírita, senão estaria comprometendo-me ainda mais!
- Mas, é uma pena! - concluem.
Convivemos com pessoas amigas que choram, dizem, por que eu vou para o Inferno. Acalmo-as, afirmando: deixem primeiro eu chegar lá;
não chorem de véspera, pois é possível de me encontrarem à porta e me defenderão, ou, entraremos juntos, abraçados, rindo...
Esse conceito é efeito da sombra. A “minha” religião; o “meu" Deus são, sem dúvida, superiores, afirmam, enfáticos...
Essa sombra, nos dias de Jesus, na Terra, era muito mais densa. A sombra individual era perversa (e permanece), por causa do preconceito
de raça, naquele país, considerado como o do povo eleito...
Deus não elege um povo. Ele é o Pai do Universo. Eleger um povo que Lhe é fiel e monoteísta, e detestar os outros seria o mesmo que
amarmos a um universitário e detestarmos a infância por estar ainda na sua ignorância.
A sombra é poderosa, rica de vaidade e presunção, como se constata em o povo eleito, ao que Jesus suavemente vem e nos diz: “Tenho
outras ovelhas que não são deste rebanho” - e conta-nos a parábola do festim de bodas.
Devemos ter um grande respeito pelos irmãos de todas as demais crenças, bem como pelos indivíduos que não na têm nenhuma.
Lamentamos essa guerra injustificada de uns religiosos contra outros, quando os fundamentos de todas as religiões, repetimos, são Deus, Justiça
Divina, imortalidade, ação do Bem. Por que não nos unirmos nesses objetivos e esquecermos as nossas interpretações diferentes, trabalhando em
favor da Humanidade como um todo?
Respeitamos muito a coerência dos irmãos evangélicos em torno da Bíblia; somente lamentamos-lhes a intolerância - de alguns,
naturalmente - e aquele desejo de serem os
únicos portadores da verdade, o que é de lastimar-se, porque a verdade é universal e ninguém a pode aprisionar.
Esse prejuízo preconceituoso estava em Israel, na sombra coletiva contra a mulher, na sombra religiosa contra as outras raças, contra os
irmãos hebreus da Samaria, que foram vítimas de uma circunstância fortuita, ao perderem o direito de hegemonia alguns séculos antes, quando
os assírios vieram conquistar Jerusalém, e a cidade amuralhada resistiu-lhes. A Samaria fazia parte da organização palestina ou hebraica. Quando
os assírios, portanto, desejaram invadir Jerusalém, atravessaram o rio Jordão, e para chegarem à Judeia, teriam que passar pela Samaria, que fica
na parte baixa, próxima à Galileia. Sitiaram Jerusalém, não conseguindo, porém, vencer os judeus. Recuaram, tomaram a Samaria e instalaram
ali o seu poderio. Mataram os homens saudáveis, escravizaram crianças e idosos, coabitaram com as mulheres, que a partir daí foram
consideradas imundas - como se tivessem culpa - tornando-se-lhes amantes, sob a suieição dos conquistadores, não sendo mais considerado
sangue hebreu o daqueles que delas descenderam. Imagi- ne-se quanto aquelas mulheres foram obrigadas a servir ao estrangeiro conquistador e a
humilhação de saberem que os seus filhos já não eram judeus de sangue puro, eram mestiços! Novamente apresenta-se a terrível sombra,
manifesta no infeliz conceito do sangue puro...
Ficaram, então, odiados dentro de sua própria casa... Eles eram tão poucos, e se detestavam muito; divididos em castas, odiando-se
reciprocamente.
Quando passava um samaritano, escarrava-se de lado, enunciando-se uma palavra cruel: racal, isto é: suio, miserável, nojento. Mas, por
quê?! Eles foram a base que evitou Jerusalém de ser capturada! Assim mesmo Israel odiava-os.
É impressionante a Humanidade até hoje. Sempre se odeia a vítima e se bajula o algoz. Odiavam-se aquelas mulheres que foram corrompidas
pelos conquistadores e odiaram-se os seus filhos e os demais descendentes, que passaram a ser impuros, provenientes de uma raça odiada de
assírios com israelitas. A partir dali, foram proibidos de entrar em Jerusalém e de adorar no Templo de Salomão. Por isso, no alto do Monte
Garizim, eles construíram o seu próprio templo e ali passaram a cultuar Deus. Ali ficaram exilados, e nunca mais se falaram... Por vingança,
dizem possuir ainda alguns dos livros escritos por ordem de Moisés.
É a sombra contra a Revelação Divina. Jesus, o Ho- mem-Luz, enfrentou essa sombra, conseguindo diluí-la toda, com amor. Foi o primeiro
feminista da Humanidade, naquela sociedade machista.
A mulher, então, não tinha alma, asseverou-se por alguns séculos. Recuperou-a faz pouco tempo.
Santo Agostinho passou a ter tanto preconceito contra a mulher, que para receber as próprias irmãs estava sempre acompanhado, porque lhes
tinha medo. Não que elas fossem viciadas; ele é que era inseguro de si mesmo, pois tinha tido uma vida licenciosa (o que lhe era um direito
natural, convenhamos). Antes de adotar uma das ramificações cristãs primitivas era, inicialmente, maniqueísta, e nessa condição, permitiu-se
uma vida de prazeres. Mantinha uma concubina com quem teve filho.
Ao transformar sua conduta, passou a ver a mulher como um ser detestável, como se fosse ela quem o perturbasse, considerando-a um
instrumento do diabo. Era ainda a presença da sombra, o preconceito em um Doutor da Igreja, o maior cérebro que o Catolicismo teve em sua
época.
A cultura hebraica é machista, e nela somente os homens dispunham do direito de usar publicamente a palavra. Por isso, Ele optou pela
polaridade masculina, a fim de ter um melhor trânsito no meio daquela sociedade caracterizada pela sombra, na qual teve a coragem de fazer a
apologia daqueles que eram perseguidos, esmagados, odiados, desprezados, e que não tinham direito à vida.
À medida em que Ele cantava a sinfonia das bem-aven- turanças, a humanidade do futuro não seria mais escrava das paixões, por falta de um
código, e, se permanecesse nos seus erros, isto seria por livre opção, pelo prazer de usar a liberdade de ser infeliz. É um direito que a pessoa tem;
é uma opção, até quando se apresenta a dor e reformula com o seu terrível cinzel o comportamento do indivíduo rebelde, pois que ela faz dobrar
a cerviz daquele mais temperamental e, à semelhança do esteta, arranca da pedra bruta a estátua, e do metal informe, a obra de arte...
Ele havia oferecido o código do amor, asseverando:
“Podereis fazer tudo o que faço - e muito mais - se quiserdes
Esse Homem Incomparável deu origem aos laços mais fortes que o amor pode estabelecer, quebrando todos os preconceitos: “Povo de
Deus?” A isso, repetimos, Ele respondeu: “Eu tenho outras ovelhas que não são deste rebanho
Na parábola do festim de bodas, Ele nos faculta a observância da visão do orgulho de uma raça que mata os profetas, enquanto Ele abre as
portas do Reino aos mendigos, àqueles que não têm oportunidades, porque também são filhos de Deus.
Quando o machismo predominava, esmagando as mulheres, ei-IO Amigo delas, Companheiro, Irmão, Pastor, indo recolhê-las nos lugares
mais sórdidos a que foram atiradas, conduzindo-as aos jardins liriais da Sua pureza.

9 JULGAR É LAPIDAR
Como era a anima em Jesus?
Jesus era um homem, na trajetória da polaridade masculina, e as duas expressões arquetípicas apresentavam-se harmônicas, sem qualquer
conflito. Podemos observar, por exemplo, em várias atitudes dEle, a presença de um como de outro arquétipo.
Façamos uma análise rápida de alguns textos do Evangelho.
Jesus estava em Jerusalém. Era um dia de sol, e Ele dirigia-se ao templo quando um grupo de fariseus, com outras pessoas exaltadas,
arrastavam pelos cabelos uma mulher que fora surpreendida em adultério. O adultério praticado pela mulher era, então, passível de pena capital.
A mulher era discriminada, e sendo arrastada para ser levada ao lugar próprio de lapidação, era amarrada ao poste e apedrejada até a morte.
Como já fomos bárbaros, e ainda temos remanescentes desse barbarismo!...
Em muitas doutrinas religiosas, ainda a mulher é apedrejada até a morte, o ladrão tem a mão decepada e, nos regimes arbitrários, é aplicado o
fuzilamento sumário, mostrando a predominância animal que existe nas criaturas, em relação aos valores espirituais.
Os fariseus viram-nO, tranqüilo, e foram tentados a provocá-IO. Era uma excelente oportunidade de preparar-
Lhe uma armadilha para O surpreender em um equívoco qualquer, que O tornasse também passível de punição.
Levaram-na na Sua direção, e em chegando próximos atiraram-na aos Seus pés.
Melífluo, um fariseu atrevido voltou-se para Jesus, e perguntou-Lhe:
- “E então, como ficamos? A Lei de Moisés prescreve que toda mulher adúltera deve ser apedrejada até a morte, e essa que ai está é uma
adúltera. Ela foi surpreendida pelo marido, que aqui está, e que a encontrou com o perturbador que lhe desonrou o leito conjugal. Ele, ultrajado,
apelou para a Justiça, mas tu pregas o perdão. Toda culpa é passível de perdão, e nós estamos embaraçados. Como deveremos agir? Perdoá-la ou
puni-la?"
Como se vê, era uma armadilha, que no dia-a-dia das nossas vidas enfrentamos, e nem sempre temos a claridade de consciência para dar a
resposta hábil, desvencilhando- nos dos pusilânimes com um sentimento airoso em nossa personalidade.
Mas a sabedoria de Jesus era irretocável e, diante da pergunta direta, veio imediata a resposta.
Pergunto-me sempre: o que eu respondería? Então redes- cubro a imensa, colossal diferença que existe entre mim e Ele.
Jesus, que os penetrava intimamente, indo ao âmago dos seus sentimentos, e por conhecer-lhes a natureza primária, deu-lhes uma resposta
perturbadora:
- “Que se cumpra a Lei! Que ela seja apedrejada. No entanto, que a apedrejem somente aqueles que dentre vós estiverem isentos de pecados,
que sejam pessoas impolutas, sem culpas.”
Foi um choque. Entreolharam-se. Queriam fazer justiça contra outrem, sendo passíveis também de punição...
Há uma informação, certamente apócrifa, que diz ter- se Jesus abaixado e começado a escrever na areia, na poeira daquela praça.
Como era natural, nada há que desperte mais curiosidade em nós do que alguém de repente começar a escrever ao nosso lado. Temos uma tal
consciência de culpa, que sempre achamos que devemos ser motivo de censura. Automaticamente olhamos para ver se algo há contra nós...
Quando Ele começou a escrevinhar, alguém olhou. Estava escrito: hipócrita. O homem saiu discretamente... Ele continuou escrevendo. Outro
olhou, e lá estava, ladrão. Mais outro... À medida que cada um olhava, Ele anotava a sua qualidade moral. De repente, a praça ficou vazia.
O Evangelho menciona que começaram a sair desde os mais velhos até os mais jovens.
Notemos quanta sutileza, porquanto os mais velhos por certo têm mais pecados...
A mulher chorava, temendo a punição cruel. Daí a pouco, Jesus constatou que estavam a sós. Voltou-se para ela, e perguntou-lhe:
- “Mulher, onde estão os teus acusadores?”
Ela olhou à volta.Tomada de surpresa, respondeu:
- “Foram-se, Senhor!”
- “Ninguém te condenou?”
- “Não.”
- “Pois eu também não te condeno. Vai e não tornes a pecar.”
Temos aí uma das mais belas lições de ética, de compaixão e de justiça, jamais propostas por alguém. Todos estavam perseguindo a adúltera.
Onde estava o adúltero? A mulher somente delinqüiu porque alguém a puxou para baixo. Ninguém cai a sós; sempre outrem lhe preparou uma
armadilha, na qual tombou o incauto.
Quando Jesus reprochava o adultério, não era apenas o feminino, mas a defecção moral de qualquer pessoa.
Como ninguém se referiu ao adúltero, Jesus solicitou aos que estivessem isentos de culpa, que a apedrejassem.
Essa maravilhosa lição, em um diálogo incomparável de franqueza e amor, tem sido motivo de muitas controvérsias. Os adversários do
Evangelho - que são muitos - dizem que Jesus concordou e cooperou com o adultério, absolvendo a culpada.
Certamente que ele não a absolveu. Apenas não a condenou. Ele simplesmente não tornou mais infeliz aquela mulher que já o era.
Quando Ele disse: Ninguém te condenou e eu também não te condeno, Ele não assentiu que ela tivesse razão.
Não condenar é não estabelecer punição; não é concordar, o que é muito diferente.
O nosso é um mundo paradoxal.
O que devemos ter em mente, pais e educadores, é a necessidade de reconhecermos os erros de nossos edu- candos, sendo o nosso dever
ampará-los, para prevenir o que possa vir ainda de pior; não os condenar, não significa que estamos de acordo com eles. Estamos contra o que
fizeram, mas não contra eles.
Jesus, há quase dois mil anos, fez exatamente isso, ao afirmar que não a condenava, recomendando, porém, que não tornasse a pecar.
A proposta psicoterapêutica é para libertar o doente da doença e não para matar o doente. A nossa proposta social deve ser a de acabar com o
crime, e não a de destruir o criminoso, que é o fruto espúrio da criminalidade e da sociedade injusta, ou vítima de algum transtorno psico-
patológico.
Naquele momento, o Homem vígil, exuberante na Sua polaridade masculina, cedeu lugar à anima, à doçura de uma mãe diante de uma filha
atônita e infeliz, sem perder a masculinidade que O caracterizava. Não teve a visão machista, convencional.
É assim que agem as mães. Quantas vezes elas ocultam do parceiro, do marido, um delito do filho, não para protegê-lo, mas para socorrê-lo,
porque sabem que a reação do pai é bem diferente, por causa da sua estrutura psicológica, podendo complicar algo que elas, com ternura,
conseguem contornar.
Jesus foi mais além. A mulher era, efetivamente, uma adúltera, mas se adulterou, foi com alguém. A sociedade sempre foi muito benigna
para com o homem equivocado. A
mulher era considerada como um animal de suieição. Onde estava o adúltero? Ele a seduziu; não ela, porque a mulher não tinha acesso à via
pública, era proibida de falar com qualquer pessoa desconhecida; caminhava alguns passos atrás do marido, o que ainda ocorre em alguns países
do Oriente.
Onde, pois, àquela hora, estava o adúltero?
E o marido? Será que ele era pulcro? Será também que ele não era adúltero? Onde estava o marido ofendido, quando ela faliu? Ofendido por
quê? “Mas a mulher não tem o direito de agir indevidamente” - afirma-se com preconceito. E, no entanto, ela é muito mais sensível do que o
homem.
Conta o Espírito Amélia Rodrigues11que terminada esta cena, Jesus esteve no templo, e dali foi a Betânia.
Betânia fica a mais ou menos seis quilômetros de Jerusalém, seguindo-se pela chamada estrada real. Porém, através do Monte das Oliveiras,
pelo caminho das cabras, fica a menor distância.
Naquela noite, Ele estava na casa de Lázaro, Maria e Marta, os três irmãos aos quais muito amava. Foi a única residência, depois da de
Pedro, onde Ele dormia mais de uma noite. Tradicionalmente Ele nunca dormia numa mesma casa mais de um dia, para não depender emocional
e economicamente de ninguém, para não parecer ocioso ou explorador. Na casa de Lázaro, no entanto, repousava sempre que ia a Jerusalém.
Ali estava, pois, contemplando a Natureza festiva à sombra agradável de uma pérgula, numa noite de estrelas com o zimbório assinalado de
lâmpadas mágicas e de uma lua de prata, quando a mulher adúltera chegou e pediu-Lhe uma entrevista.
Envergonhada, falou-Lhe, sem rebuço:
- “Senhor, eu não me venho justificar, mas não tenho para onde ir. Depois que me socorreste na praça pública, voltei para casa. Fui expulsa
como um animal irracional. Pedi socorro aos vizinhos. Todos me negaram. Vagueei pelas ruas de Jerusalém, em busca de um recanto, de um
emprego, mas ninguém ajuda quem está na rampa da queda. O poço da queda, Senhor, não tem fundo, sempre se cai mais. Então, não tenho para
onde ir. Lembrei-me de vir aqui onde estavas para, pelo menos, explicar-Te a minha conduta, e pedir-Te que me ajudes nesta situação.
“Reconheço que errei. Errei, e não quero culpar ninguém. No entanto, meu marido fazia meses que não me dava assistência afetiva,
conforme o fazia antigamente, não cumprindo com os deveres do tálamo conjugal. Passou a viver em um bordel, a estar ao lado de mulheres
atenaza- das, piores do que eu. Foi mais terrível, porém, quando ele levou para casa a fera que me perturbou, o ladrão da minha dignidade e da
sua honra. Não sei se o fez de propósito. Só sei que esse visitante passou a perturbar-me, a seduzir- me. Lentamente, insinuou-se de tal forma na
minha vida íntima, que me dizia o que eu queria ouvir, o de que tinha saudades. Não era àquele homem a quem eu ouvia. Era ao meu marido -
que não me dizia palavras gentis - que eu escutava nos refolhos do coração. Quando me entreguei a esse estranho, não foi a ele a quem me dei,
mas ao marido que não me procurava mais. Fui jogada aos lobos sem ter ninguém que me defendesse”...
O amor é uma labareda que necessita de combustível para poder manter-se. O combustível chama-se ternura. O que sustenta o casamento -
escreveu Friedrich Nietzsche - não é o amor, é a amizade.
Poderiamos, por nossa vez, acrescentar: o que sustenta o relacionamento não é o sexo. São a ternura, a convivência, a gentileza, o diálogo...
- “Arrependo-me, Senhor. Agora, o que faço?” - concluiu a adúltera.
Jesus fixou o Seu meigo olhar naquela mulher súplice, e alvitrou:
- “Ama aos teus filhos.
- “Desventurada que sou - queixou-se ela - não tive filhos!
- “Então, ama aos filhos que não têm mães, às mães que não têm filhos, às mulheres sofredoras, quanto sofredora és - acrescentou,
temamente, Jesus - O amor redimi-la-á do equívoco, pois que cobre a multidão dos pecados. E, não voltes a enganar-te.”
Eis a anima do Mestre que estava a falar. É a Mãe, que está reabilitando essa mulher desesperada.
A mulher curvou-se, beijou-Lhe as mãos e desapareceu.
Ela se foi para a cidade de Tiro, na Fenícia, e abriu uma Casa num Caminho, onde falava sobre Jesus e recebia pessoas combalidas,
enfermas, crianças órfãs, idosos abandonados, portadores de dermatoses identificadas como lepra.
Quinze anos depois daquele episódio de Jerusalém, estava uma mulher de beleza rara, madura, atendendo aos necessitados, socorrendo-os,
quando lhe trouxeram um homem judeu, vitimado pelas febres do deserto, marcado pelo desconforto, com a face sulcada pelos conflitos e pelas
dores, em delírio, para que o cuidasse com os seus ajudantes.
Ela recolheu-o em um leito de ternura, deu-lhe assistência, colocou-lhe compressas de panos úmidos para diminuir-lhe a ardência da febre. O
homem delirava.
Abnegada, ficou-lhe ao lado durante a noite e a madrugada. Pela manhã, ele teve um vislumbre de lucidez. Estava em agonia, mas conseguiu
perguntar-lhe:
- “Tu és judia?
- “Sim, por isso falo seu idioma!
- “Por que estou aqui? Por que me recebes? Sou um desgraçado judeu, peregrino dos desertos e das distâncias. Por que me recebes?
- “Porquê aqui é uma Casa de amor - sussurrou ela, suavemente - em homenagem a um Galileu que foi plantado numa cruz, a Quem conheci
em Jerusalém, faz três lustros.”
O homem abriu desmesuradamente os olhos e, esforçando-se para dialogar, indagou-lhe:
- “Tu conheceste Jesus? Também eu! No momento mais grave da minha vida, eu O conheci, mas eu era então por demais perverso e
orgulhoso. Amava. Tinha um lar. Minha mulher traiu-me com outro, porque negligenciei. Permiti que ela fosse levada à corte, onde foi
condenada. Quando a arrastavam ao poste do suplício, levaram-na a esse Homem, Jesus, que a condenou, sim, desde que os apedreja- dores
fossem puros.
“Eu O odiei com todas as veras do meu sentimento - continuava, em embargado tom de voz -, odiei-O! Quando voltei para casa e expulsei-a
ignominiosamente, só então dei-me conta de quanto era infeliz. Só amei na minha vida àquela mulher, a quem havia cerrado as portas.
“Tentei procurar outras mulheres, que me não satisfizeram. A consciência culpada amargurou-me, e, desde então, saí pelo mundo, poucos
meses após, a procurá-la, informando-me, indagando. Não a encontrei. Agora que me dirigia a Sídon, as resistências diminuíram e tombei com
as febres... Somente agora reconheço que Ele não era quem eu pensava; Ele havia sido muito bom para nós dois. Estou às portas da morte, e
queria encontrá-la para pedir-lhe perdão, e somente queria dizer-lhe que a amo, que a partir daquele terrível dia eu lhe tenho sido fiel”...
A antiga adúltera acarinhava-lhe os cabelos encaracolados, a barba espessa, hirsuta, enxugando-lhe a testa banhada por álgido suor.
Enquanto soluçava, interrogava-a:
- “Será que ela me perdoaria?
- “Com certeza! Com certeza ela o perdoou, porque, se esteve com Jesus, Ele, que é o perdão, ensinou-lhe também a perdoar. Morra em
paz. Você reencontrou o caminho, e isto é o que importa.”
Tomada de lágrimas e de gratidão, ela mantinha agora nos braços o marido, que desfaleceu, enquanto a morte o arrebatou.
Ela, agora refeita do seu equívoco, estava em condições de ser a serva da verdade.

10 RAÇA DE VÍBORAS
Jesus, periodicamente deixava que a anima assumisse o comando, o mesmo ocorrendo com o animus, no momento oportuno.

11
(11) PELOS CAMINHOS DE JESUS, cap. 15 - Ed. LEAL - Divaldo P. Franco.
Estava Ele em plena jornada, quando se Lhe acercaram fariseus e herodianos, tentando perturbá-IO, por meio de ciladas.
Penetrando-lhes o íntimo, o Mestre fitou-os e, severamente, interrogou-os: - “Raça de víboras! Sepulcros caiados de branco por fora e, por
dentro, podridão. Hipócritas, até quando vos suportarei?”
Temos aí a manifestação pujante do animus. É o homem vigoroso. É o homem enérgico, porém, sem raiva, sem ressentimento, sem
agressividade, sem grosseria.
Há determinados conceitos que devem ser apresentados com um tom e uma emoção vigorosos. Não se vai chamar alguém que é pusilânime
ou hipócrita, de uma forma reticente ou dúbia. Nessa atitude não se expressa raiva, mas valor moral. É uma definição que retrata o caráter da
pessoa enfocada.
O animus em Jesus está em harmonia com a Sua anima e, por isso mesmo, Ele é um Ser Incomparável, porque nenhum de nós consegue essa
harmonia entre os dois arquétipos. Quando vamos assumir energia, ficamos com raiva do antagonista, do nosso filho, da parceira ou do parceiro.
Quando vamos chamar a atenção com um “não
pode!”, o emocional nos desgoverna e manifestamos uma personalidade vigorosa, não o conteúdo psicológico. Vivemos um conflito que
possivelmente se trata de herança de encarnação passada, experienciando arquétipos que provêm do nosso ontem, predominando na consciência
atual, no comportamento do momento...
Jesus também era um Ser capaz de tanto amor que recebia a infância com imensa doçura, assim expressando: Deixai que venham a mim as
criancinhas; não as perturbeis. O Reino dos Céus é para aqueles que se parecem com elas.
A criança - assevera Allan Kardec - é um espírito adulto, mas a infância é um estágio de pureza, de experiência, de aprendizagem. É
necessário que tenhamos este estado de infância, sem malícia, sem ressentimentos, sem ideias preconcebidas.
11 HUMILDADE SUBLIME
Jesus sabia que Jerusalém O homenagearia pela última vez, quando entrou, triunfalmente.
Os discípulos estavam esfuziantes. Pequenos ramos de oliveira erguiam-se para saudar o Messias.
Ele chegou à porta principal e solicitou que fosse buscado um jumento que ali pastava. Trouxeram-no, e Ele o cavalgou. O jumento é um
animal rebelde. Nele montado, a composição formava algo excêntrico, considerando-se que se tratava de homenageá-IO.
Os que recebem homenagens embelezam-se, colo- cam-se em lugares de destaque para impactarem a massa e chamarem a atenção.
Jesus, no entanto, assumiu uma atitude de absoluta humildade, mas uma humildade que vai quase ao ridículo: um Homem de 1,75m a 1,78m
montado num jumento, tendo os pés quase arrastando-se ao solo...
As pessoas extasiadas atiram seus mantos, tapetes e outros tecidos ao chão para amaciarem o piso. É, no entanto, o jumento que os toca, não
Ele, que não aceitou a homenagem, pois sabia que O aguardavam a coroa de espinhos e o madeiro de infâmia.
Exaltaram-nO. Ele se manteve estóico, másculo, o Seu animus não se deixou empolgar. Adentrou-se pela cidade em plena festa de Páscoa,
prevendo o momento em que seria embalsamado após a morte.
Por fim, na hora da última ceia, quando se encontravam no Cenáculo, Jesus contemplou aqueles doze amigos em profundo silêncio, a
meditar. Eles ainda não tinham dimensão do Reino de Deus, nem de quem era Ele...
Será que nós a temos hoje, mais de dois mil anos transcorridos? Pessoalmente, ainda não a tenho. Escapa-me, sem querer mirificá-IO em
excesso, porque Ele é o Filho de Deus. Não é Deus. Permito-me, por vezes, largas reflexões para entendê-IO, sem o lograr. Vou ao encalço de
raciocínios, para entender-Lhe a grandeza, como na cena que segue. Naquele momento, Ele tomou de um tecido de linho e amarrou-o à cintura,
como faziam os escravos; segurou um vasilhame, uma bilha d’àgua, ajoelhou-se diante de Pedro para lavar-lhe os pés. Pés de galileus, calosos,
rachados, defendidos pobremente por alpargatas, com calcanhar rasgado pela adustez do solo, o pó acumulado por muitos dias, sem banho, sem
higiene e põe-se a lavá-los com ternura.
Os judeus usavam um tipo de alpargatas com um nó, em que introduziam os dedos dos pés, ou daquela convencional grega sem as duas tiras
que subiam pelo músculo da perna.
Pedro, porém, vendo a cena inesperada, tomado de emoção recusa-se:
- “Não me lavarás os pés!”
E o Homem lhe diz, tomado pelo seu animus:
- “Se eu não os lavar, não terás nada comigo.”
É uma decisão. Jesus jamais é dúbio: Sim, sim; não, não!
Pedro deu-se conta da grandiosidade do momento e redargúi:
- “Lava-os. Não apenas os pés, mas a mim todo...”
Era uma alma simples, afetuosa. Por isso mesmo de-
linqüiu ao negá-IO, dedicando depois mais de trinta anos para reabilitar-se das três negativas.
Jesus lavou os pés de todos. Esta é uma lição incomum.
Joanna de Ângelis destaca: “Por que os pés? Porque são a base da estrutura do ser, são os alicerces da vida humana que neles repousa a
postura. Lavá-los, era uma forma de limpar as imperfeições do ser, na sua simbólica base moral, no espírito, que é para poder engrandecer-se na
busca de Deus, da plenitude espiritual. É um grande símbolo esse lava-pés”...
Depois que terminou, sentou-se à mesa, entristecido, e olhou-os. Não tinham eles percepção do que ia acontecer.
- “Um de vós me trairá” - disse com melancolia.
-“Quem?”
- “Aquele que, neste momento, leva o pão à boca” - respondeu.
E ninguém percebeu aquele cuio gesto respondia a pergunta... Era Judas, que havia umedecido o pão e tinha-o à boca. Nem o próprio Judas
deu-se conta.
Quantas vezes a verdade rutila e não a vemos, porque estamos com a consciência de sono. Estamos adormecidos em relação à verdade...
As doutrinas ancestrais castradoras afirmaram, referin- do-se a um trecho bíblico, que tínhamos que odiar a Terra, odiar o mundo,
detestarmo-nos; termos que ser simplórios, não podermos ter alegria e assim seríamos humildes. Passaram a confundir humildade com
imundície...
Ser imundo é ser desleixado. Ser humilde é ser nobre de sentimento.
Para ser humilde, não é necessário que se torne capacho de outrem. Se a pessoa faz-se um capacho, pode ser por medo, covardia.
Para entender a verdadeira humildade, vejamo-la em Jesus.
À arrogância dos sacerdotes hipócritas, Jesus contrapunha: - “Raça de serpentes! Até quando vos suportarei? Sepulcros caiados de branco
por fora e, por dentro, todo podridão.”
Para assim alguém comportar-se necessita possuir autoridade moral, sem servilismo, sem rebaixamento.
O odiar ao mundo não tem o significado do verbo detestar.
Jesus usava o dialeto aramaico, e odiar significava amar menos. Pedia-nos preterir o mundo e preferi-IO. Entre as duas alternativas, Ele ou as
paixões, o servilismo, a degradação; entre a entrega aos prazeres dissolventes, aos vícios da nossa Era - o tabagismo, a sexolatria, a toxicoma-
nia, que nos comprazem as sensações - optando por uma atitude saudável, o equilíbrio moral.

12 A MORTE DE JESUS - O FLAGÍCIO


Outro terrível equívoco é sobre Sua morte.
Sendo o calendário lunar, foi celebrizado que Ele teria morrido em determinado período, sempre variável de acordo com o nosso, que é solar.
A realidade histórica é que Ele morreu possivelmente no mês de abril, entre 8 e 10, segundo as melhores fontes de investigação. Não se tem
certeza em razão da problemática dos referidos calendários.
Certa feita, chegou-nos às mãos um jornal de caráter científico, procedente dos Estados Unidos e de uma sociedade de Medicina, que tinha
como finalidade precípua estudar e diagnosticar a causa mortis do Homem de Nazaré.
O trabalho foi feito tecnicamente e se apóia nas testemunhas da Sua morte, que são dois dos quatro evangelistas.
Depois de elaborada uma análise muito circunstanciada dos dados históricos, com referências à data do Seu nascimento, nos moldes que
acabamos de referir, apelaram para o Sudário de Turim, que afirmam ser uma peça autêntica.
Submetidos aos exames mais rigorosos da parafernália tecnológica contemporânea, o Sudário de Turim é, sem dúvida, um véu mortuário, no
qual esteve um homem de 33 a 34 anos de idade, com 1,75 m de altura, pesando entre 68 e 70 Kg, e no qual estão impressas, de maneira
inconfundível, as marcas da morte que lhe foi infligida, desde os cardos da coroação até aos pregos que lhe foram cravados nos pulsos, nos pés, e
a grande lancetada que lhe foi aplicada através de um objeto perfurocortante, entre a terceira e a quarta vértebra do lado direito.
A análise é muito bem feita, como se o analista estivesse diante do Seu cadáver e fizesse uma necropsia cuidadosa.
O estudo está exarado em uma linguagem técnica das mais elevadas, no entanto, deixou-nos algo de que nunca nos houvêramos dado conta.
Não nos impressionou a morte, pois já tínhamos dos espíritos a informação da possível causa mortis, das convulsões tetânicas que Ele
experimentou, graças à suieira da coroa de espinhos cravada na testa e na cabeça.
O que nos impressionou foi o estudo da flagelação a que Ele foi submetido no Pretório, como invariavelmente eram submetidos todos
aqueles que caíam na desgraça da governança romana e que eram condenados à morte pelos delitos que estavam previstos na Lei.
Jesus foi submetido a três julgamentos. Todos três arbitrários. Todos três ditatoriais. Todos três ilegais: o de Pôncio Pilatos, que representava
César; o de Anás e Caifás, que representavam o poder temporal de Israel, e o do Templo, que era o poder religioso.
O laudo técnico faz uma análise mostrando que Jesus esteve sob um flagício insuportável, tendo que, inicialmente, caminhar mais de quatro
milhas e meia suportando a injunção cruel entre a Torre Antônia, o Pretório, o Templo, o palácio de Anás, de Caifás e de Pôncio Pilatos.
Depois, a cruz, que pode ter sido de duas naturezas: a chamada Cruz de Tal (que faz lembrar a letra “T”), e a denominada Cruz Latina, que é
a vulgarmente aceita, e cuias traves (duas) deveríam pesar mais de 30 quilos.
A referida matéria jornalística prossegue abordando aqueles momentos que precedem a traição, considerando a estada de Jesus no
Getsêmani, quando irrompeu a sudo- rese de sangue, muito bem narrada por Lucas, em que Ele transpirava, não apenas o suor, mas também
sangue. Durante muito tempo, esse fenômeno foi considerado absurdo. À luz da Ciência contemporânea, porém, é perfeitamente natural. Um
grande estresse, um impacto emocional, faz que os vasos sanguíneos se dilatem e rompam-se dentro dos condutos sudoríparos, produzindo o
fenômeno relatado no Evangelho.
Essa ocorrência também encarregou-se de enfraquecer Jesus. Ele esteve na cruz por um período de três a quatro horas, o que não seria
suficiente para matar um homem com a Sua grande energia. Sadio, acostumado a largas fadigas, caminhando por todo lado, adaptado às rudes
disciplinas, a uma vida asceta, as Suas eram forças consideráveis.
Os flagícios debilitaram-nO de tal forma, que a estada na cruz não necessitou ser apressada com o arrebentar das pernas, como era habitual e
ocorreu com os ladrões.
Impressiona-nos, pois, a flagelação, constituída pelo flagicium, pela coroação de espinhos e a colocação de um manto vermelho sobre Ele,
que se caracterizava como motivo de zombaria, tentando ridicularizá-IO.
A triste caravana que segue a via crucis, tem alguém, indo à frente, portando uma inscrição em três idiomas: hebraico, latim e grego,
referindo-se-Lhe como Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus, até à crucificação no Monte da Caveira, ou Gólgota, que ficava a uma distância de
aproximadamente seiscentos, metros além dos muros da cidade.
A flagelação descrita cientificamente, apoiada em documentos históricos, é algo estonteante, capaz de produzir- nos mal-estar, e que ainda
não me houvera dado ideia do que seria esse suplício.
O flagelo era um tipo de chicote de couro cru trançado, com cabo de madeira, que terminava normalmente em cinco ou seis pontas desse
couro, retorcido em tamanhos diferentes.
Essas tiras de couro eram entremeadas de pedaços de ossos de carneiro, que eram ali muito bem costurados, deixando pontas que eram
verdadeiras lâminas, para retalhar as carnes, não somente do derma, como também as mais profundas. Nas pontas, havia bolinhas de chumbo.
Para a aplicação do flagicium, designavam-se pessoas verdadeiramente técnicas, normaimente dois legionários treinados para rasgar as
carnes de alto a baixo, dos ombros para o dorso espinhal, e das pernas, para que houvesse abundante hemorragia, atingindo os vasos mais
profundos, produzindo grande debilidade na vítima através da perda de sangue.
O réu era despido, amarrado ao poste de maneira que ficasse com as mãos muito altas e o corpo derreasse, sem que os pés tocassem o solo.
Não tinha, portanto, o condenado, o direito de ter apoio no solo, considerado sagrado. Ali, desnudo e de costas, sofria esse flagelo, sendo
lanhado continuamente.
A história do flagicium deve-se a Alexandre Magno, da Macedônia, que o introduziu em Roma, por ter presenciado esse método entre os
antigos persas e macedônios, e que o houvera levado para aquele Império, sendo, mais tarde, adotado como medida punitiva.
Os judeus, por sua vez, haviam estabelecido na Lei, que, de acordo com o delito, o infrator devia receber determinado número de chicotadas.
As penas mais altas chegavam a 39 flagelações ou dilacerações.
Nossa mente não tem como avaliar o que sejam 39 chicotadas comuns, quanto mais 39 flagelações.
Jesus recebeu-as todas que eram impostas pela Lei...
Eles movimentavam aquelas cinco ou seis pontas com imensa habilidade manual, e quando batiam nos ombros e penetravam nas carnes,
eram puxadas violentamente para rasgarem-nas, produzindo cortes por onde o sangue escorria entre as dilacerações expostas.
O autor, descrevendo aquela ação de cortar, elucida que dois soldados ficavam ao lado um do outro e, automaticamente, enquanto um
chibatava num sentido, o outro fazia-o em sentido diverso com o propósito de retalhar o corpo.
Uma surra, um chibatar, sempre são brutais e selvagens. Podemos imaginar o prazer com que aqueles homens agiam, gargalhando. Deveríam
ser, provavelmente, esquizofrênicos, para fazê-lo, vendo aquele Homem frágil e entregue, sem reclamar.
Enquanto eu lia a descrição, fechava os olhos e via- me gritando, mas de uma forma animal e brutal, ideando o surgimento dos lanhos,
aumentados de imediato pelas sucessivas chibatadas, produzindo novas feridas, nas pernas, nas nádegas, nas coxas, deixando-as em carnes vivas
para enfraquecer e debilitar...
Depois desse processo, a vítima era jogada de costas no chão, atirando-se-lhe uma toalha nas partes pudentes, de acordo com o costume do
povo, como aconteceu a Jesus, tomando-se a contaminação com todo tipo de bactéria, príncipalmente com aquelas que estão nos dejetos, no
lodo, e responsáveis pelo tétano.
Então, era amarrado ou grampeado ao madeiro, chamado patíbulum, que era a trave, no sentido horizontal.
No caso dEle, foi utilizada a cruz latina, e arrastado por dois homens, jogado em cima com as costas abertas em cortes profundos. A madeira
era grosseira, cheia de lascas, pois era um lenho qualquer, cortado quase em forma qua- drangular com fragmentos cortantes e dilaceradores.
Entre o cúbito e o rádio, aproximadamente, cravaram um prego que media várias polegadas, com um centímetro de diâmetro, para atravessar
cada braço e cravá-lo na madeira.
Em ritmo de marteladas, era esse prego aplicado sem arrebentar os ossos, numa técnica apropriada, que lhe permitisse passar cortando os
nervos, o que produzia dor sobre-humana.
Os pés eram colocados juntos, um sobre o outro. Um prego de aproximadamente vinte e cinco centímetros era- lhes então introduzido na
parte superior, na junta, para atravessá-los a ambos, retendo-os na madeira.
Através da utilização de duas forquilhas o patíbulum era suspenso até cravar a cruz, a haste central, em um buraco adredemente aberto,
fixado com pedras para sua sustentação.
Quando a cruz era levantada de vez, o corpo derreava, ocorrendo o despedaçamento dos músculos dos braços e a queda do tórax. Como os
pés estavam presos, não permitiam que o corpo todo descesse, ocorrendo o curvamento das pernas. Para que esse apoio nas pernas não fizesse
demorar a morte, eram elas arrebentadas. O peso de um homem de setenta quilos sustentado com apenas dois cravos, produzia a asfixia.
A inspiração, que é um processo natural, produzia dores dilacerantes, porque o crucificado tinha que erguer o tórax, quando todo corpo
puxava para baixo.
Isto constituía um suplício insuportável.
O crucificado tinha que se apoiar nos pés, cravados na cruz, e curvar-se, para poder injetar o ar nos pulmões. Depois, a expiração era a queda
natural do organismo, produzindo uma curvatura, que faz lembrar o processo do tétano, que mata.
Lembramos esses detalhes para depois chegarmos à causa mortis - que eles estabeleceram muito bem - devida a uma parada cardíaca pela
falta de irrigação e à transfi- xação do tórax comprimindo os pulmões, arrebentando a pleura e as vértebras, que penetraram no corpo como
verdadeiras hastes cortantes.
Isto nos proporcionou um impacto nunca dantes produzido. Particularmente, sempre amei Jesus, mas nesses dias de reflexão sobre o
sofrimento d Ele, desencadeou-me um amor de angústia, um amor de dor, porquanto nunca me havia detido no significado real daquela
flagelação. Meditei profundamente sobre esse Homem, a grandeza do Seu amor por uma causa especial, que é o ser humano, e sem uma queixa
sequer...
Não vamos estudar as causas que levaram um Seu amigo â traição, mas examinar a posição desse amigo que O beijou, que conviveu com Ele
e recebeu das Suas mãos o pão da amizade; o amigo que Lhe prometeu fidelidade, que disse amá-IO, e que, por esta ou aquela razão, por
loucura, obsessão, ganância, ou por fatalidade histórica, foi apre- sentá-IO aos Seus adversários, que eram os adversários de toda a Humanidade,
ainda hoje representados no poder absoluto e selvagem dos dominadores transitórios.
Ele não se queixou. Não teve uma palavra de reprimenda. Pelo contrário, compreendeu-o e dele se apiedou...
E o outro companheiro, a quem um dia perguntou:
- “Simão, tu me amas?”
- “Sim, eu Te amo foi a resposta.
- “Então, Simão, se tu me amas, apascenta as minhas ovelhas.”
Ele sabia que ia ser assassinado...
Normalmente diriamos que Ele iria morrer. Não, está errado! Ele ia ser assassinado. Foi um homicídio programado.
- “Simão, tu me amas?” - indagou por segunda vez.
- “Sim, eu Te amo.”
- “Então, Simão, apascenta as minhas ovelhas.”
E, após breve pausa:
- “Simão, tu me amas?
- “Oh! Mestre, já disse que Te amo!”
- “Então, apascenta as minhas ovelhas..."
Mais tarde, quando Simão Lhe disse:
- “Não deixaremos que vás à Jerusalém para sofrer! “
O Mestre contestou-o:
- “Deixa-me! Antes que o galo cante, três vezes me terás negado.”
E O negou três vezes.
Como somos frágeis, em nossa condição de criaturas humanas! Como o nosso amor é carente de sustentação!...
Ele não teve uma censura ou reclamação em face da defecção de Simão. Ele conhecia-lhe a fragilidade. Nós, os passadistas e cômodos,
costumamos dizer: “Mas Ele era Jesus!”
E daí? Nós também somos o que somos! Não há nenhuma diferença. Ele chegou àquele estado porque evoluiu, e aqui estamos porque nos
encontramos evoluindo.
Começamos, então, a meditar em profundidade: o suor de sangue, a densidade da agonia, de tal forma a angústia que os vasos sanguíneos
arrebentaram em decorrência da tensão, a circulação se fez tão forte que os capilares partiram, e ao lado da sudorese, o sangue...
Lembro-me de uma antiga narrativa que se reporta a Maria Antonieta, que foi julgada arbitrariamente pelo tribunal do povo, em Paris, o qual
obrigou seu filho, o Delfim, de seis anos, a dizer-lhes que ela era uma depravada. Por isso, mereceria morrer, pois praticava cenas de libidinagem
com seu próprio filho, de seis anos.
O juiz - que era um crápula - representando o povo e os cidadãos de Paris, perguntou ao menino:
- “Não é verdade que ela pratica cenas de libidinagem com você?"
A criança nem sabia o de que se tratava. Haviam-lhe prometido pão para que confirmasse o que o juiz lhe indagava. E disseram-lhe mais:
- “Se você disser que ela o faz, nós lhe daremos pão e libertaremos você e sua mãe..."
Então, ele confirmou.
Ela baixou a cabeça - segundo um historiador anônimo - e quando a levantou, estava totalmente alva. Assim narra uma velha lenda do
romantismo sobre a Revolução Francesa.
Outros autores, mais respeitáveis, dizem que, em verdade, ela envelheceu muitos anos no período em que ficou no cárcere, por uma razão: a
da angústia.
De tal forma se decompôs que, quando foi levada para ser decapitada, colocada vilmente sobre uma carroça, a plebe ignara protestava: -
“Essa, não é ela!”
Viam ali uma mulher alquebrada, e não aquela linda filha de Maria Teresa da Áustria. Quando veio para Paris era uma menina que brincara
com várias irmãs que também se tornaram rainhas, e que fora negociada com um príncipe incapaz para o matrimônio, como era Luis XVI. Sem
saber o que era casamento, fora arrancada das bonecas, aos 14 anos, para viver numa corte devassa, herdeira do Rei Sol, permanecendo virgem
por largo período, pela impossibilidade de o marido ter condições de completar o matrimônio. Era, então, uma menina inocente, que só depois se
tornaria mãe, após o marido ser submetido a uma cirurgia, hoje muito singela, mas que, à época, era um desafio técnico da Medicina.
Foi ela, então, corrompida numa época de licenças morais. Amava a França. Era muito bela e, portanto, odiada por causa dessa beleza, por
parte daquelas que não a tinham, nem física, nem emocional.
Quando estava sendo transportada pela carroça, em direção ao patíbulo, espocaram as indignações e as contestações, expressando a dúvida
de que teria sido trocada por outrem.
Sofria intensamente a dor moral, ao constatar a miséria humana, quando obrigaram seu filho a declarar a prática de cenas imorais com ela,
que era mãe dedicada, que subornava a guarda com as últimas jóias que possuía para que lhe permitisse ver da torre da Conciergerie, a prisão
infame, o filho brincando enquanto tomava Sol em uma manhã primaveril.
Ela rogou de joelhos essa permissão ao soldado, um cidadão, modesto operário, a quem a Revolução dera poder. Deu-lhe a derradeira jóia,
para conseguir ver pela se- teira, lá de cima, e por despedida, seu filho, que não sabia que, logo mais, ela seria levada à guilhotina.
O menino teve uma visão psíquica, quando no leito de morte. Viu a mãe aparecer-lhe, cantando, na hora em que delirava de febre.
Lembro-me da dor sofrida por Maria Antonieta e da dor de Jesus, suando sangue. Vem-me à mente a dimensão do amor do Cristo para
conosco e a constatação da nossa infinita ingratidão, da nossa falta de estrutura moral, que, por qualquer coisa blasfemamos, desafiamos Céus e
Terra, xingamos, em nossa arrogância de absoluta estupidez infantil.
Ele, sereno, e apesar de tudo, continua acompa- nhando-nos...
Meditemos, na grande eloqüência daquela doação. Isto, sim, que é amor, que no dizer de Joanna de Ângelis é um amor tão grande que O fez
doar a própria vida em holocausto, como um cordeiro manso que marchou para o matadouro sem balir...
Nós, cristãos, precisamos parar, periodicamente, para pensar em Jesus; os espíritas, em particular, para avaliarmos o que representa o
Espiritismo em nossas vidas, para que não seja uma religião a mais, para que não nos encantemos com a frivolidade de nele encontrar soluções
para os problemas superficiais.
Ele, que é o Construtor da Terra, o ser mais perfeito que Deus nos deu para servir-nos de Modelo e Guia, sofreu aquilo... O que nos estará
reservado? Ele o disse, com beleza mágica: Se ao ramo verde fazem isso| que não farão ao ramo seco? Ou seja: se a árvore frondosa, rica em
flores e frutos é queimada, o que não farão com os gravetos, que somente servem para arder e produzir calor? Nós somos os gravetos.
Portanto, consideremos não apenas a vida terrestre. Em nossas dores, as mais acerbas, em nosso flagelarum, no mais doloroso, pensemos em
termos de vida espiritual; projetemos-nos para o Além; por momentos que sejam, esqueçamos um tanto dos jogos materiais, do emprego, do
afeto, do interesse, do gozo que são muito interessantes, mas não essenciais. Pensemos nisso como meio, mas, re- flexionemos na fé que nos vai
projetar além, porque tudo isso vai ficar e demorar-se aqui na Terra. Nós iremos com a realidade que somos, a fim de vivermos muito mais.
Indagamos, por vezes, por que nós, que amamos ao Bem, estamos tão mal, freqüentemente de mau humor, irritados, deseducados, grosseiros,
mesmo quando realizando um ato de caridade?... Se o pobre insiste um pouco mais, já reagimos; se é a criança órfã que depende de nós, tratamo-
la mal, com desprezo, com indiferença, e alguns damos-lhe o que é de menos bom...
Não estou a criticar ninguém. É apenas uma auto-análise: em qual estágio ainda estamos estacionados? Não justifiquemos os próprios erros.
Sabemos que para alguns deles não há justificativas. Quem encontrou Jesus, nunca mais deve ser o mesmo.Temos que ser a cordura. Que os
outros sejam ríspidos, grosseiros conosco. Abafemos esta natureza humana, herança do primitivismo animal, de ficarmos armados contra o
próximo, assumindo a postura de amorosos.
Há os que têm prazer em fazer fofoca, que adoram contar os fatos negativos do semelhante, e os que nos armam contra o próximo. Se alguém
é hipócrita, em relação a nós, o problema é dele. Deixemo-lo para lá.
Temos visto pessoas que fazem julgamentos precipitados, terríveis. Certa vez, o Espírito Joanna de Ângelis me observou: Se algum dia vires
duas pessoas despidas, em atitude íntima, não as julgues pelo exterior; considera que estão trocando hormônios para a sustentação da vida. É
ver somente o lado melhor de quaisquer acontecimentos ou circunstâncias...
Outros existem que têm o prazer de envenenar-nos a mente e o coração, pois que nunca nos dão uma boa notícia. Adoram repassar as más.
Enquanto isso, Ele propôs: Que vos ameis! Os meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem.
Não nos deixam amar-nos reciprocamente. Quando estamos começando a querer bem a alguém, a maledicência grassa, terrível, rende, cria os
maiores problemas. Um olhar de ternura, um gesto de carinho, e o observador põe o que há de pior, porque é o que tem. Ouve a mensagem do
amor e joga-a fora...
Será que na hora da desencarnação vamos estar assim? A Benfeitora sempre me diz: Ore muito, meu filho, para não desencarnar na hora
errada.
Um dia perguntei-lhe:
- “E qual é a hora errada, minha irmã?”
- “É aquela em que se está com a mágoa no coração, ou envenenado pela maledicência, ou, com ira. Peça a Je- sus para desencarnar na
hora boa: depois de uma palestra, ou após a ação da caridade de qualquer espécie, ou no momento em que estiver orando.
a
Esta é a hora boa, pois que viajarás com a emoção vivenciada. Despertarás com a última emoção vivenciada no mundo. Se lá despertares
com o ódio de uma traição ou de uma vingança, ficarás perturbado. Em razão disso, às vezes ocorre que uma vida inteira de abnegação faculta
um despertar de amargura.”
Nos dias que passam, vamos acordar com o sentimento da doçura, intentando perdoar mais. Se alguém malver- sar-nos, vamos sorrir-lhe,
porque ele está doente. Se alguém, em nossa casa, não nos corresponde, ou trai-nos, tenhamos comiseração. Esse ser é tão infeliz que merece
compaixão e misericórdia. Foi o que Jesus fez com os infelizes. É o que Ele faz conosco.
É necessário que tenhamos misericórdia desses irmãos desditosos, para que Ele, por sua vez, tenha misericórdia de nós, os outros infelizes.
Seja esta, a nossa flagelação. Já que, pelo menos, ninguém mais flagela os cristãos de hoje, que a nossa flagelação seja dominarmos os ímpetos
negativos, lanharmos a alma quando alguém vier infelicitar-nos com notícias desditosas, nos instigar ao mal, nos envenenar...
Que nos lanhemos, e digamos: “Eu vou continuar cordial, gentil, meigo.”
Somos gentis ou grosseiros por hábito, e podemos nos habituar à gentileza ou à grosseria. É tão-somente uma questão de condicionamento.
Habituando, formamos uma segunda natureza, e passamos a viver naquele padrão.
Flagelarmo-nos para sublimar-nos! Seja este o nosso compromisso. Qualquer injustiça, aceitemo-la. É a nossa flagelação.
Façamo-lo sem qualquer mecanismo masoquista.
Jesus, até hoje, está sendo flagelado pela nossa ingratidão...

13 SUBLIMIDADE DO AMOR
Jesus nos ensina pelo Seu exemplo. Mais extraordinária na Sua vida, foi a mensagem daquijo que Ele não disse.
Ninguém falou como Ele o fez na Terra. Jamais alguém pronunciou palavras como Ele as enunciou. Porém, o mais importante foi o que Ele
deixou de dizer; foi o Seu silêncio diante da traição de Judas, da negação de Pedro, da ingratidão dos amjçjos...
Apenasumã vez Ele se queixou, quando os dez doen- tes, portadores do Mal de Hansen foram curados e somente um voltou para agradecer.
Ele olhou para esse, que era estrangeiro, e com o coração dorido perguntou: “Mas não fo- ram dez aqueles a quem curei? Por que só este
estrangeiro voltou para agradecer?”
Teve então compaixão da nossa ingratidão.
A criatura humana é muito ingrata. Enquanto recebe favores e carinhos de alguém, esse doador é-lhe muito bom, até o momento em que
nega-lhe qualquer coisa. A partir dali, não serve mais.
Queremos que a vida atenda aos nossos caprichos. É por isto que, por sua vez, a vida é muito severa para com os ingratos, para com os maus.
O que mais Jesus experimentou no Seu silêncio, foi a ingratidão humana. Ingratidão que dura dois mil anos, pois 'que até hoje continuamos
ingratos...
Quantas vezes temos oportunidade de ser bons e não somos?! Por capricho, pela rebeldia, pelo sentimento de inferioridade nossa. Quantas
vezes somos chamados a oerdoar, por estar o outro em situação pior do que a nossa, e não perdoamos?! É que somos ainda inferiores, e aquele é
o momento da nossa vingança, esquecidos dé que mais adiante a vida nos cobrará o que negamos ao nosso próximo. Tudo que fazemos ao
próximo, estamos fazendo-o a Jesus ea Deus, conforme asseverou-nos Ele, com muita sabedoria: E o que fizerdes a qualquer um deles, a mim
vós o fareis.
Precisamos compreender a nossa fragilidade para en- tendermos quanto deveremos lutar, crescer, para amar re- almente, com o amor de
Jesus.
Não há amor que se compare ao dAquele que deu Sua vida, no auge das Suas forças, na plenitude de Sua virilidade, aos trinta e três anos e
meio; ao que a doou em sacrifício de amor.
Ele foi escarnecido, vilipendiado; foi lanhado, coroado de espinhos arrancados dos estercos dos muros fétidos de Jerusalém. Vestiram-nO
com um manto vermelho ridículo com que se cobriam os loucos, em tom de ironia. E era o Excelente Filho de Deus, o Pastor das ovelhas, o
Amigo da Humanidade!..,
Tudo isso sofreu sem uma queixa.
Deram-Lhe um madeiro de infâmia tão pesado, que Ele caiu três vezes, ao peso daquela cruz de vergonha.
Nem assim se queixou. Não reclamou.
Nunca, na Terra, houve um amor tão grande cjuanto o de Jesus. Jamais haverá um amor como esse, que é o de Jesus. Um amor tão
extraordinário que está na intimidade do ar que respiramos, porque dá vida. Um amor tão elo- qüente, que depois de tantos séculos ainda nos
consegue unir.
Sua voz chega-nos, suavemente, e canta em nossos corações: “Amai-vos! Por mim, amai-vos uns aos outros! Se desejais ser meus discípulos,
que vos ameis, e eu vos darei o galardão.”
*
JÈ tão fácil amar! Basta não reagir às agressões do mal nem dos maus.
Quando alguém nos fizer um mal, nunca o retribuir, mantendo-se com paciência. Aquele qué pratica o mal está perturbado, encontra-se com
algum distúrbio de comporl tamento. Quando alguém nos ofender, deveremos sorrir e desculpar. O ofensor é um desequilibrado.
É tão fácil amar! O amor é, na vida, o que o sal representa para o alimento e, se o sal perde o seu sabor, para que serve? Se a vida perde o
toque do amor, para que serve a vida? Quem é tão auto-suficiente que possa dispensar a companhia de um amigo, ou de um cão, ou de uma ave?
Quem não deseja ter alguém? Ouvir uma voz, ter um toque de mão, receber um abraço, constituem dádivas de amor. Pode haver algo melhor do
que um olhar de ternura? A expressão de dois olhos que nos fitam, sabendo-se que aquele olhar é de ternura, é de amor?
Jesus assim faz.
Até hoje Ele nos ama, e nos amará sempre: Eu vos aguardarei até o fim dos séculos... - disse-nos.
Nas horas em que os problemas, as dores se fizerem mais difíceis, lembremo-nos dEle, que nunca nos abando-) na. É o amigo mais fiel.
Em verdade, Ele aí está, olhando o egoísmo das autoridades, a insensatez e a frieza de muitos homens e mulheres, de muitos religiosos, de
muitos cristãos que não O têm no coração.
Ele veio para nós, os que sofremos em silêncio; Ele veio para os que temos ânsia de amar, e para aqueles que perdemos muita coisa, somente
para ganharmos a paz.
Cristo reina, é o nosso Amigo e Benfeitor. É o Companheiro dos tristes e deserdados.

14 O COMPANHEIRO DAS DORES OCULTAS


Um dia, esse Homem Incomparável adentrou-se pela Samaria, passagem obrigatória entre a Galileia e a Judeia. Foi à periferia de uma aldeia,
na qual Seus discípulos iriam comprar víveres. Ele preferiu ficar nos arredores onde se encontra o célebre poço mandado perfurar pelo Pai Jacò,
que ainda hoje existe.
Ali estava uma mulher de beleza surpreendente, por causa da mistura racial: morena, olhos escuros, cabelos encaracolados, que retirava o
balde com o qual recolhia água.
Hoje, conforme já nos referimos no capítulo A Sombra do Preconceito, os samaritanos estão guase extintos, porque vivendo e coabitando
somente entre eles, degenerou a raça. Em 1981 .quando estivemos em lsrae[Leram apenas 660, pois foram vítimas de graves problemas raciais.
Trezentos ali residiam. Os demais encontravam-se espalhados pelo mundo.
Naqueles dias, as mulheres da região ainda eram muito belas.
Narra o evangelista, que Jesus acercou-se-lhe e dirigiu-lhe a palavra, solicitando:
*-rr “Mulher, dá-me de beber."
Ela foi tomada de espanto e respondeu-Lhe:
- “Como podes Tu, judeu, a mim pedires, que sou sa- maritana, para darTe de beber? Não sabes que judeus não falam com samaritanos?"
Esse diálogo é de uma beleza lirial. Claro, que Jesus sabia! Sorriu, e respondeu:
- “Se soubesses quem te pede água, tu sim, seria quem a Ele pedirías.
- “Ora - zomba a mulher - como podes dar-me a água se o poço é profundo e não tens com que tirá-la?”
Estamos acompanhando um diálogo em campo de lógica.
Ele volta-se para a mulher, e responde:
Nfc - “A água que te darei matar-te-á a sede para sempre. Essa que buscas fará que voltes outras vezes, para retirá- la, mas não a minha.“
Ela retrucou a sorrir:
- “Então, dá-me essa água que mata a sede para sempre...”
- “Vai buscar o teu marido “- sugeriu Jesus.
A mulher entristeceu-se. Coerentemente, notificou ao Mestre:
- “Não tenho marido.”
- “Disseste bem, porque cinco já tiveste. Este que tens não é teu marido.”
Ela se surpreendeu e aduziu:
- “Eu sei que virá o Messias, mas uns dizem que virá em Israel, no templo onde se deve adorar a Deus. Outros
- “Acabo de ver um Profeta! Ele me disse que já tive cinco homens.”
Pela primeira vez, ela assume o seu conflito:
- “Este que tenho não é meu marido - disse-me - Vinde vê-IO!”
E levou até Ele uma multidão.
Vemos aí o Homem-Luz, desbancando a sombra, quebrando o preconceito de falar em público com uma mu- £lher, o que não era permitido
fazer, ainda mais partindo a iniciativa de um estranho. Ademais, quebrou o preconceito de estar com um samaritano, Ele, judeu.-.
Mais tarde, Ele se utilizará do samaritano como protótipo da generosidade, na mais extraordinária parábola que serve de base à moderna
Ciência Social, que é envolver-se com o trabalho do Bem, para bem executá-lo.
Vemos aí Jesus dissipando todas as sombras. “E ali - historia o evangelista - Ele operou vários milagres”, em que, um dos maiores, foi a
mudança de comportamento daquela mulher samaritana: - uEu sei que um dia virá o Messias...”
- u
Sim, mulher, sou eu; eu, que te falo..."
A sombra adensava-se para poder matar o Homem- Luz. Iremos encontrá-la seguindo nos contínuos passos do Mestre toda vez em que Ele
enfrentava o preconceito fari- saico, o preconceito herodiano, o preconceito dos saduceus e da ignorância social, que compõem a sombra,
daquelas pessoas não esclarecidas.
Esse Homem-Luz é aquele que nos ajuda a quebrar os preconceitos: não há raça inferior; não há raça indigna; não há pessoas que devamos
vê-las como desgraçadas, como perversas. Com as luzes da Psiquiatria e da Psicologia modernas, sabemos que o psicopata, na sua manifestação
pervertida, é mais um doente dogue um ser mau.
Desde as primeiras propostas de César Lombroso, com sua tese do crânio típico do criminoso nato -- hoje totalmente superada - até à
moderna Sociologia psiquiátrica, poderemos constatar que aquele que toma a atitude perversa é um doentq, é um atormentado que perdeu o
senso de direção, e que então investe contra os outros, lutando inconscientemente contra si mesmo.
Os criminosos seriais, tão em moda nos Estados Unidos e em quase todo o mundo - como na Escócia de há pouco tempo, quando num jardim
de infância, um deles fez quase 100 vítimas na sua totalidade - são indivíduos psi- copatas, esquizofrênicos, destituídos de qualquer
sensibilidade. A capacidade da consciência de discernir não existe neles. A degenerescência neuronial foi tão grande que perderam o senso do
discernimento e não têm a menor ideia, na sua desdita, dos atos que estão praticando.
A sombra foi vencida pelo Mestre, mas os seus cultivadores não se iluminaram com Ele.
Jesus é o Companheiro das nossas dores ocultas. É o Amigo ativo nas nossas necessidades. O Espiritismo des- crucificou-O. Kardec assim o
fez. Trouxe-0 para o meio da rua, para as ocorrências do cotidiano... Ele não está retido apenas nos templos e santuários, mas também visitando
os bordeis, os bairros periféricos onde ocorrem os crimes hediondos, tentando falar com alguém cuia acústica se abra por algum momento para O
escutar. Convida-nos para que sejamos a Sua voz, os Seus braços, nessa auto-estima terapêutica que deveremos ter, para melhor aos outros
ajudar. Ao invés de apenas darmos entre nós, saiamos para cuidar dos nossos irmãos confundidos na grande família espiritual.
Essa auto-estima projeta-nos como um perfume que aromatiza as vidas, tornando nossas existências úteis, oró- djgase abençoadas.
15 OS PROFETAS DA DESTRUIÇÃO
Em Mateus 24 e Marcos 13, Jesus está proferindo o sermão profético, falando sobre o fim do mundo, que o povo atual muito aprecia,
parecendo adorar que o mesmo se acabe. Para quê? A vida vai continuar, nem que ele se desintegre... Em realidade, há aqueles que são profetas
de emergência: O mundo vai se acabarem fogo, em terremoto, em maremoto...
O importante não é como isso se dê e. sim, como iremos desencarnar, seja de terremoto, seja de gripe, indigestão ou degenerescência celular,
o fenômeno da morte é inevitável, quer se acabe ou não o mundo físico. Esses profetas da destruição baseiam-se nesse sermão proféticç de Jesus
e no Apocalipse de João.
Surpreende-nos a capacidade que tem a mente humana de torcer palavras, adaptando-as aos seus interesses. Esse sermão, Jesus o fez ao sair
do Templo de Salomão, quando os discípulos, que eramhomens muito humildes, alguns analfabetos - pois oéfgaiüeusjnão tinham cultura. viviam
às margens do lago de Genesaré - simples, agricultores, pescadores, diante da imponência daquele templo, entusiasmados, comentaram-Lhe:
— “Senhor, vede que templo! Vede que pedras..."
Eram pedras colossais, cada qual pesando várias toneladas.
Ante essa grandiosidade, Jesus respondeu-lhes:
- “Em verdade, em verdade vos digo, que não fica- rá pedra sobre pedra que não seja derrubada." (Mt 24, v.2 - Mc 13, v 2).»
Os discípulos ficaram impressionados e perguntaram-Lhe:
- “Senhor, quando será isto?”
Caminhando para o Jardim das Oliveiras, que se encontra defronte das bases daquele templo famoso, Jesus começou a apresentar os sinais
dos fins dos tempos he- breus, e os sinais do fim material daquele suntuoso templo.
Realmente, depois dEle, Vespasiano cercou Jerusalém para destruí-la, quando foi convidado para reger o Império Romano, ali ficando Tito,
seu filho, que a destruiu, não deixando pedra sobre pedra. Até hoje, permanece apenas parte da grande muralha que a cercava, chamada Muro
das Lamentações.
Jesus não se referia à história da Humanidade futura, mas à história do povo hebreu.,
- “Não vos enganeis - e começou a apresentar determinadas características para os tempos futuros - nesse dia terrível, vereis o filho do
Senhor na sua glória.”
Jesus deu-lhes os vários sinais, inclusive, os da futura guerra atômica, quando disse: “Quem estiver no telhado, não desça; quem se encontrar
no campo, não venha para1 casa porque não haverá tempo. Naqueles dias o Sol perderá a sua luz, as estrelas cairão sobre a Terra e a Lua se
cobrirá de sangue.” (Mt 24 vv 15 a 21).
É uma imagem portentosa...
Quando foram lançadas as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, no momento da explosão, quando o vcogumelo subiu, o Sol teve
sua luz interditada.
Narra um livro notável, intitulado A Tragédia do Átomo, que nunca se viu escuridão igual àquela noite da destruição atômica. Aqueles que
estavam no campo, a claridade cegou em um décimo de milésimo de segundo - cerca de cem mil pessoas - quando veio a explosão atingindo
cento e oitenta mil pessoas que tiveram os tímpanos arrebentados. O calor foi de tal natureza que, os que corriam, derretiam-se, caindo o
esqueleto sem qualquer cobertura orgânica. Naquele momento de calamidade apocalíptica, a Humanidade tinha a impressão de que a Lua estava
coberta de sangue, porque, ao aparecer, a vermelhidão da fuligem de toda uma cidade destruída, parecia tê-la maculado de sangue.
Hoje, quando as grandes potências estão tentando fazer da Lua um lugar para colocarem mísseis teleguiados para uma guerra, eis aí o
símbolo da Lua coberta de sangue.
E as estrelas que cairíam sobre a Terra? São os seres espirituais, as Estrelas do Empíreo que vêm visitar os homens e as mulheres e iluminar
a grande noite.
Então, Jesus ampliou os conceitos: uNão passará esta geração sem que tudo aquilo que eu digo se cumpra até a última iota."
A iota é a nona letra do alfabeto grego, detentora de singular e significativa proposta do pensamento: a de ser quase insignificante.
Imaginemos que Ele se referisse à destruição do planeta terrestre, ao desaparecimento da vida na face da Terra. Quando foi mencionado que
não passará esta geração sem que tudo aquilo que afirmei se cumpra,(Mt 24 v34), a qual geração Ele se referia? À geração carnal? Claro que
não, porquanto, se dermos a cada geração a idade mediai de 50 anos (naquela época era de 30), já se passaram quarenta gerações e não se
cumpriram Suas profecias. Ou Ele se equivocou, ou nós interpretamos erroneamente essa frase. Então, a qual geração Ele se referia? À geração
espiritual, sem qualquer dúvida! Muitos daqueles a quem Ele se reportava, talvez sejamos alguns de nós daquela geração, que continuamos a
reencamar-nos, ainda permanecendo na Terra em processo de depuração. Não passou aquela geração...

16 O BATISMO E A LENDA DO PECADO ORIGINAL


Depois de transcorrido expressivo tempo após a morte de Jesus, as doutrinaiSLueseonginaram do Cristianismo estabeleceram quenascêr da
agua é receber o batismo, para libertar-se do pecado original, com base em Mateus 3, v.11 a 15 e Marcos 1, v.7 a 9 isto seria o sinal que identifi-
cária o cristão, e graças ao qual ficaria ele livre da herança macabra daquela mulher leviana que foi responsável pela desgraça da Humanidade
toda, assim ficando depurado.
Que pecado original seria esse? Seria o decorrente da lenda do pecado de Eva,’ na tradição bíblica do mito da Criação, quando ela se havia
deixado seduzir por Satanás, em forma de uma serpente, que a induziu a comer o fruto proibido, tornando-se a tentadora de Adão? Por isso, até
hoje, nos países orientais, a mulher é desprezada, porque é sinônimo de pecado. Algo absurdo, que vem durando desde há quase cinco mil anos,
essa lenda em torno de algo que realmente não houve.
Quando o Messias salientou ser necessário nascer da água e do Espírito para entrar no Reino dos Céus, será que se referia à aspersão ou à
submersão do ser, para banhar- se em águas correntes ou paradas?
Não há, nem nunca houve pecado original.
O mito de Adão e Eva está totalmente ultrapassado. É claro que não acreditamos em Adão e Eva, e nenhuma pessoa que pense pode admitir,
no início deste milênio, que somos resultado de um exclusivo casal.
Essa crenca aoride a lóaica. a genética, a embrioge- nia. a embriologia, e confiamos que ninguém, em sã consciência, acredite, em face da
nova visão da Antropologia, da Paleontologia, depois das pesquisas do Projeto Genoma Humano demonstrando que nossa vida começou na
África e não na Ásia, que o primeiro biótipo humano foi uma mulher negra, e que da África o indivíduo espraiou-se na direção de outras regiões
do planeta.
Não é possível acreditar-se literalmente na proposta mitológica, apresentada pela Bíblia, sobre Adão e Eva - sem nenhum demérito para a
Bíblia, que é uma obra de símbolos, apresentando-nos histórias de acordo com a época em que os seus livros foram escritos -. Como se poderia
falar em Antropologia, de transformações do nosso processo psicológico, para um povo nômade, pastoril, que vivia pelo deserto procurando um
lugar para assentar suas bases?
Está provado, simultaneamente, que pessoas do mesmo clã, dos mesmos genes, quando coabitam, os seus descendentes quase sempre
nascem com problemas de degeneracão. Um dos exemplos mais chocantes é o de primos de primeiro grau, que produzem descendentes com
Síndrome de Down, pelo processo natural da intercorrência de cromossomos e genes semelhantes.
Dizem, porém, alguns religiosos, que houve um primeiro casal criado por Deus. É claro que aceitamos, do ponto de vista mitológico.
Moisés foi de uma sabedoria incomparável, na construitção do Pentateuco. Ele, como era natural, há quase cinco mil anos, tomando de um
povo que esteve escravo no Egito por quatrocentos anos, que se perdeu, que se corrompeu, que vivia apenas para comer, procriar e trabalhar a
palha e a lama para fabricar tijolos para as construções faraônicas, havendo perdido os seus ideais, a sua identidade, ao levá- los pelo deserto, na
busca da terra prometida e cuia travessia poderia ter feito em alguns meses, demorou quarenta anos, objetivando reeducar aquelas mentes e
preparar a juventude para novas percepções, novos entendimentos sobre a vida...
Assim fazem todos os grandes pensadores, que educam a juventude do presente a fim de ter o cidadão equilibrado do futuro.
É necessário educar, preparar as mentes novas, para termos uma sociedade saudável. A tese é de 300 anos a.C., quando se enunciou: cuidar
da criança para não punir o bandido. Mas, hodiernamente, ainda disto não nos conscientizamos...
Moisés apresentou no Gênesis, uma bela história, em que Deus tudo havia criado em seis dias. Tería que fazê-lo simbolicamente. Como o
narraríamos a uma criança que ainda não tem preparação cultural alguma? Teremos que usar símbolos! Assim ele o fez: “No princípio era o
Verbo. E o Verbo pairava sobre as águas.” Era Deus vagando sobre as águas. O conceito não abrangería, portanto, o Universo...
Ele teve uma intuição perfeita, porque a vida orgânica começou realmente na intimidade das águas salgadas e profundas dos oceanos, quando
as primeiras moléculas pòste- riormente formaram as colônias de polipeiros, de infusórios, e outras, das quais nasceram todas as formas vivas
vegetais e animais, intermediárias, hominais, até atingir este Homo tecnologicus, no qual cada um de nós pretende situar-se.
A Bíblia, repetimos, com todo respejlÇjéum livro de contradições, a começar pela chamada* Criação? guando Deus disse, no primeiro dia:
“Faça-se a luz! E a luz se fez”. Deus separou das águas as terras, criou a relva... Ele criou os astros (luminar maior e luminar menor). Aí está um
erro básico, de ordem cronológica. Como poderia haver luz se não havia astros para produzi-la? Como poderia haver claridade, se não havia Sol?
Como poderia haver claridade no caos, se não havia estrelas? Deus deveria ter criado primeiro as estrelas, para depois a luz fazer-se.
Não há nada que prejudique a narrativa, mas a ordem não está correta.
A Ciência demonstra o contrário dessa tradição, asseverando que, há quinze bilhões de anos, duas partículas agitavam-se no caos, como se
uma fosse clonada da outra, absolutamente portadoras da mesma carga nuclear, até que uma partícula adicional surgiu e provocou o Big-Bang. A
partir dali surgiu o Universo, como o conhecemos, como resultado dessas partículas que continuam em movimento de expansão...
Se verificarmos a Bíblia, veremos que a Criação refere-se apenas à Terra, que é um planeta insignificante, destituído quase de qualquer valor
astronômico.
-Q extraordinário físico inglês Sir James Jeans, para dar-nos uma ideia, aos que não somos versados em Astronomia, diz, por exemplo, para
que tenhamos uma noção desse infinito, no qual estamos: “Se considerarmos nossa Via Láctea, apenas a nossa galáxia, com a dimensão que vem
do extremo norte da América do Norte, para o extremo sul da América do Sul, o Sistema Solar teria o tamanho de uma moeda de dez centavos
de dólar, e a Terra teria a dimensão da ponta de um alfinete; o Sol e o Sistema teriam o tamanho da cabeça desse alfinete. Então, poderemos
imaginar o nada significativo que representa a Terra. Se considerarmos que a nossa galáxia é pobre - é constituída apenas por 200 bilhões de sóis
- compará-la-emos com outras, aproximadamente 100 milhões delas, algumas infinitamente maiores do que a nossa.
Tomemos, porém, a Bíblia ao pé-da-letra. No sétimo dia, Deus sai a contemplar a Sua Obra e notou-a maravilhosa.
Mas, faltava alguma coisa...
Sentou-se, à margem de um riacho (vemos aí que Deus era humano...), tomou de um pouco de barro e começou a trabalhá-lo, modelando
umjser-Deus sopcpu-lhe a vida e nasceiAoãivfciue significásura/ao do barra. jE ficou feliz.
Depois de meditar, Deus percebeu que - palavras literais - “não é bom que o homem esteja só”(Gen 2, v.18). Adormeceu-o, tirou-lhe uma
costela e modelou Eva..
Será que Ele não poderia formá-la por outro modelo de barro, soprando-lhe a vida, conforme feito ao homem? Parece até que teve um pouco
de malícia...
Ora, se fez Adão do barro, por que fez a mulher da costela dele? Se pegasse outro barro, de maneira idêntica 4/ far-lhe-ia a companheira!
Analisando, cremos que, mesmo para Deus, isto é impossível, porque violentaria as Leis Universais. Como é que um bolo de barro pode
transformar-se em cem bilhões de neurônios, apenas em nosso cérebro? Tirado do barro, é muito grosseiro. É colocar Deus numa postura muito
pequena.
Outro absurdo, a retirada de uma costela, sendo que as restantes são pares. E por que teria que ser uma costela? Para que a mulher fosse
perpetuamente dependente do homem. Assim é que tem sido até hoje, principalmente em determinadas doutrinas orientais, e até há pouco, em
nossa chamada cultura ocidental.
É a visão machista da doutrina judaica: . Deus é homem, o primeiro ser foi homem; a mulher é um pedaço dele, a quem lhe deve prestar
obediência.
. Um amigo psiquiatra muito gentil, mas de uma ironia refinada, contou-me a seguinte anedota, que aqui tem cabimento: “Quando Deus
percebeu que ficariam costelas ímpares, tirou, sim, aquela ímpar, e jogou-a fora. Porém, uma semana depois Ele se arrependeu. Voltou. Pegou-a
de volta. Estava mofada, um tanto em decomposição, e, só para não perder, Ele fez... a sogra!”. As sogras, no entanto, afirmam que foi a nora
que Ele fez...
Verificaremos que é um Deus de improvisos... E disse àqueles dois: “Aqui é o paraíso, o Éden (que estaria numa região próxima da
Mesopotâmia); tendes de tudo, mas ali está a árvore da sabedoria do Bem e do Mal. Não podeis comer daquele fruto”.
A luz da Psicologia, teria sido um erro crasso de Deus, porque tudo que é proibido é desejado. É um fenômeno psicológico. Como Deus é
presciente, deveria saber o que iria acontecer depois, ou, do contrário, Ele não o seria. É um dos Seus atributos, saber antes. A partir daquele
momen-
to, o paraíso passou a ser, para as duas criaturas, apenas aquela árvore. Se Ele não houvesse dito nada, é provável que os habitantes jamais
chegariam até ela, considerando a variedade infinita de árvores, desde que se tratava de um paraíso colossal. Era o mesmo que dizer: “Vocês
agora serão infelizes, porque se não comerem daquele fruto, a vida não terá sentido".
Parece-nos que esse Deus antropomórfico não era um bom psicólogo.
Alguns argumentam que Deus assim o fez para testar a resistência do casal!
Questionamos então, a respeito da resistência desses jovens viventes. Eles eram recém-criados, tratava-se de crianças emocionais, eram
ingênuos! ——N
Estavam ambos ali, onde já havia SatanáspO demônio não gostava de Deus.
Aqui deparamo-nos com um outro absurdo, qual seja, o de Deus haver criado um inimigo para com Ele lutar eternamente, e, quase sempre
perder! Nesse episódio da maçã, pelo menos, Ele perdeu!
O diabo, que se sentia forte, tomou a forma de uma serpente e foi seduzir a mulher, que segundo a Bíblia era fraca.
Por que a mulher seria fraca?
Aí está a primeira proposta do machismo hebreu. Moisés fez a mulher derivada do homem para que não tivesse identidade, sendo-lhe uma
parte e nascendo para servi-lo, para submeter-se, para atender-lhe os apetites, repito, porquanto era-lhe dependente...
A serpente, pois, sabendo que Eva era fraca, seduziu-a, propondo: “Prova deste fruto!"
Fascinada, ela o provou e, de imediato, seduziu Adão, que era forte, mas também o aceitou, desobedecendo ambos a Deus...
Está demonstrado pela lógica que isso é um mito, uma lenda, que merece o carinho semelhante a outra narração da mesma natureza...
Nesse momento, depois da desobediência, deram-se conta de que estavam nus.
A Psicanálise dá-nos uma bela e oportuna interpretação desse mito, explicando que a serpente é a libido; a nudez representa a infância do ser,
a sua ingenuidade; a árvore do bem e do mal é o nosso desenvolvimento sexual. Na adolescência, quando os caracteres secundários formam-se,
facul- tando-nos a observação das novas formas, surgem a malícia e o apetite sexual; o fruto proibido são as funções eróticas do indivíduo; o
paraíso é a inocência, quando a criatura não tem tendência para uma coisa nem outra.
De repente, esse anjinho começa a sorrir, desconfiado, a fazer-nos perguntas embaraçosas... É satanás, que pede para comer do fruto
proibido...
Psicologicamente, pois, Adão e Eva descobriram a sexualidade. experimentando o despertar da libido, porque, estando nus, cobriram as
partes pudicas. Na infância, não notamos a nudez, mas quando os hormônios começam a funcionar em nosso organismo, somos estimulados a
atender aos desejos sensuais.
No prosseguimento da narração mitológica, após se darem conta do erro, Deus apareceu-lhes irado.
Será que o Criador do Universo podería ficar com raiva daquelas duas crianças que acabara de criar? É paradoxal. Não pode ser esse o Deus
criador do Universo. Seria o mesmo que dar uma sova numa criança por ela ter feito algo que ignorava, como por exemplo, ter posto o dedo em
uma tomada elétrica e levado um choque... Seria Ele como nós, quando nos encolerizamos com nossos filhos, somente porque são portadores da
ignorância, e ao invés de orientá- los, reclamamos, punimos, e tornamo-los recalcados?
Deus, então, profundamente desgostoso, expulsou-os do paraíso. Castigou-os, dizendo-lhes: - UA partir de agora comereis o pão com o suor
do vosso rosto.”
Outro erro técnico esse, porque assim Deus tornou o trabalho uma desgraça, fazendo dele uma punição, quando Jesus nos confortou,
dizendo: - "O Pai até hoje trabalha, e eu também trabalho.” Dessa forma, somos levados a concluir que Deus amaldiçoou o trabalho!
Deus castigou-os, mandando que saíssem do paraíso como igualmente à serpente, obrigando-a a rastejar.
É outro absurdo. A serpente andava na ponta da cau- - da. por acaso? -
-Por essa razão! o Espiritismo não aceita o dogma der batismajlsto, porque não aceita o pecado original, não considerando a necessidade de
superá-lo. Alguns estudiosos da Bíblia, porém, contra-argumentam:
- Mas Jesus batizava!
- Não! - afirmamos - Ele nunca batizou.
- Talvez, mas Ele deixou-se batizar!
É outra coisa. Foi batizado, porque as profecias pre- viam que antes de chegar o Messias, retornaria o Elias e, como João Batista era Elias
reencamado, que deveria identificar o Enviado, o Mestre foi até ele.
Quando Jesus pediu-lhe para que O batizasse, João, comovido, respondeu-Lhe:
- “Eu é que devia ser batizado por ti, e entretanto és tu quem vens a mim\”
Jesus lhe redargúi:
- “Consente, por agora, porque assim nos convém cumprir toda a Justiça.” (Mt 3 v 15).
Se Ele não tivesse estado com Elias, não seria considerado o Messias. Então, deixou-se batizar, mas nunca o fez.
Eis a razão de não aceitarmos o batismo ou qualquer outro ritual, porquanto, a tentação da árvore do bem e do mal é uma figura, conforme já
o dissemos, de natureza mitológica.
Deus é amor, Deus é sabedoria. Ele é presciente, isto é, sabe antes o que vai acontecer. Se sabia que Eva não iria suportar a tentação, e
provocou-a, é claro que a culpa não era dela...
O batismo, é pois, um ritual que, na verdade, não purifica a ninguém, porque se o fato de batizar conseguisse-o, tería- mos um mecanismo de
astúcia, que nos permitiría manter uma vida dissoluta e, à hora da morte, pediriamos para ser batizados, ganhando o Reino dos Céus, ou, arrepen-
damo-nos dos gravâmes, sendo perdoados e desfrutando da felicidade eterna. Quem não se arrepende no momento da morte para ganhar o céu
eternamente?! Quem não se arrependerá do que fez e até do que não fez, para ganhar o Reino dos Céus?!
Analisemos, perguntando se é necessário batizar para conseguir-se essa bênção, como ficam aqueles que mor- J rem sem a mínima
possibilidade de receber o batismo? Esquimós, pessoas primitivas da Nova Guiné, criaturas perdidas nas florestas, crianças, cuios pais renegaram
o batismo e não lhes concedem a purificação, para onde vão? Para o Limbo! — objetam —, um lugar de eterna indiferença. Mas, será justo
punir uma pessoa que não tem nenhuma responsabilidade por não haver sido batizada?
E aqueles que nasceram antes de Jesus? Eram também herdeiros do pecado. A Humanidade já tinha, então, quase quatro mil anos de cultura
e civilização...
-uBem, a esses Jesus redimiu com o Seu sangue!”, contra-argumentam os defensores do batismo, o que não deixa de ser muito confortável.
Cambises, Rei dos persas, Júlio César, Nabucodono- sor, Ciro, portadores de uma crueldade inimaginável, que foram perversos, que
destruíram civilizações, que arruinaram cidades salvaram-se, por que o sangue de Jesus os redimiu... E nós outros, somente porque nascemos
depois, temos que nos esforçar pela própria redenção...
Então, teria sido ideal que Jesus tivesse vindo primeiro e ensinado o caminho iluminativo a todos, e então os desobedientes, a partir dali,
sofressem.
Não é justo dividir-se a sociedade em antes dEle — esses estão salvos pelo Seu sangue - e depois, os desafortunados que se têm de purificar.
Inevitavelmente, isso nos levaria a realizar em torno da Doutrina do Cristo um balanço de absurdos...
Numa hora histórica difícil para Israel, em uma passagem do rio Jordão, um homem apareceu, de aspecto vigoroso, barba hirsuta, cabeleira
desgrenhada, olhar de lince, o corpo nu guardado numa pele de animal, uma corda grosseira atada à altura dos rins e, um cajado. Detém-se num
certo lugar chamado Bethabara - a casa da passagem - Era ali por onde as caravanas atravessavam o rio, na sua jornada em busca das terras
distantes da Mesopotâmia e outras..
Em Bethabara apareceu essa estranha personagem, que a tradição dizia alimentar-se de gafanhotos e mel silvestre. Aspecto de certo modo
feroz, a tez bronzeada pelo Sol pertinaz do deserto.
Havia nele, no entanto, uma certa magia, que se exte- riorizava nos olhos fogosos e brilhantes. A voz tonitruante e o porte audaz, começou a
falar às caravanas: - “Tremei pecadores!, estão chegados os terríveis dias do Senhor...”
Ele sabia que era o pioneiro de uma Nova Era, a ponto de dizer: - “Eu sou o preparador dos caminhos. Aquele que virá após mim, de quem
não sou digno sequer de amarrar os cordões das Suas alpercatas, já se encontra entre nós. Arrependei-vos. Chegou a hora da grande mu-
dançai”
E porque a tradição do profeta Isaías ensinasse que era necessário fazer-se acompanhar a renovação do homem pelo seu arrependimento, às
margens do rio Jordão - simbolicamente - ele lavava as pessoas das suas culpas, dava-lhes um nome novo, fazendo com que renascessem. Para
poder ter essa renovação, a pessoa deveria confessar- se. Diante da multidão dizia: - “Eu sou um réprobo! ofendi a Fulano, caluniei a Beltrano,
desencaminhei a Sicrano, e arrependo-me! Então, quero ser um homem novo, quero renascer das cinzas, para ter direito ao Reino dos Céus.”
João derramava-lhe a água sobre a cabeça, num gesto simbólico de purificação.
Mas o próprio João dizia: uEu batizo com água, mas Aquele que virá após mim, batizará com o fogo do Espírito Santo.”
O batismo, portanto, seria secundário...
As doutrinas teológicas, que se fundamentaram no batismo, passaram a asseverar que ele tinha como finalidade liberar a pessoa do pecado
original, da desobediência de Adão e Eva às determinações divinas.
As notícias viajavam com as caravanas que por ali passavam. Pessoas atormentadas vinham de várias partes para ouvirem-no falar. A
personalidade de Yochanaan, - João - é altiva e o seu verbo flamívomo é uma chibata que se ergue para lapidar as imperfeições humanas.
A notícia chegou também a Jerusalém, e foram mandados rabinos e sacerdotes para que soubessem o de que se tratava. Mas a voz impetuosa
e violenta da estranha personagem exortou-os à dignidade e à compostura, a uma mudança de atitude para com a vida e à libertação da
hipocrisia.
Estamos no ano 15 do imperador Tibério César. Nesse período, o grande conquistador de Roma saiu da cidade para Anacapri.
As legiões davam sinais de decadência. O Senado governava o mundo romano de forma discricionária. Tibério agora dedicava-se à evocação
dos mortos, e, no seu palácio de Anacapri, deliciava-se com a beleza da Gruta Azul, de Capri, mantendo, no entanto, a mão de ferro com a qual
dominava o mundo.
Naquele burgo longínquo de Roma, em Israel, a paisa- gem de abril, mês de nisan, está coberta de flores miúdas e X de rosas de Sharon que
recendem aromas em toda parte, enquanto as laranjeiras em flor esplendem, preparando-se para a frutescência.
Bethabara, amanhece, naquele mês de abril. Enquanto Yochanaan batiza, subitamente levanta a cabeça leonina e detém os olhos na margem
oposta donde um pequeno grupo desce, na direção das águas. Ele estremece. Aquele é um conhecido seu. Faz anos que ambos não se vêem.
Moravam em regiões diferentes; adotavam comportamento singular.
O Homem desce. A sua túnica tecida na roca doméstica alarga-se até os pés, a barba de jovem, a cabeleira sobre os ombros, conforme o
costume dos nazareus, os dois olhos profundos e transparentes; aproxima-se dele, e, nesse justo momento, impõe-lhe:
- Batiza-me, para que se cumpram as tradições e o que está escrito nas Leis.
João O reconhece. É Yeshua, o seu primo. Sente uma musicalidade na alma. Curva-se. Sabe que está diante do Senhor. Defrontam-se o Amo
e o servo.
- Tu, sim, é quem me deve batizar - protestou.
Jesus contrapõe-lhe à solicitação:
- Batiza-me tu, para que se cumpra o que foi dito pelo Profeta: “Ele descerá às águas do rio Jordão e nelas se banhará.”
João tem um choque. Será Ele o Messias? Aquele aguardado Libertador? Israel esperava o Messias, mas um messias violento, que lhe desse
o cetro da dominação político-social, que governasse e esmagasse aqueles que haviam humilhado o povo do Senhor.
Esse, no entanto, parecia um Messias pacato e dócil.
No entanto, Yochanaan reconhece nEle a autoridade, dobra-se, e com as mãos em concha retira a água do rio, coleante e tranqüilo. Ao
derramá-la sobre a cabeça do Homem curvado, uma estranha voz - que somente ele escuta - fala-lhe na intimidade dos sentimentos: “Este é o
meu Filho bem-amado, sobre quem deposito todas as minhas esperanças."
Havia-se cumprido a promessa de Isaías. Realizava-se a profecia da tradição.
Eles se apartam. Nunca mais se verão.
Yochanaan marcha para Jerusalém e proclama: -“Chegaram os dias terríveis do Senhor! Arrependei-vos! Fazei penitência!".
Adão e Eva, após a expulsão do paraíso, tiveram que trabalhar. Coabitaram e tiveram seu primeiro filho, a quem deram o nome de Caim.
Homem. Tiveram seu segundo fi- Iho, Abel. Homem.
XCairrí\é mau, perverso, invejosqAbel) é bom, nobre e gentil.
Deus já era apaixonado, porquanto, os fez, um mau e outro bom, sendo desequilibrado e injusto, pois se Caim já era mau, seria por culpa de
quem? Ele não tinha culpa de ser mau. Saíra das mãos do Criador.
Repetimos que se trata de uma proposta mitológica, que a psicanálise interpreta muito bem, informando que um é o lado escuro e o outro o
lado luz da criatura; a dualidade do bem e do mal, que existe em todas as doutrinas espiritualistas. Não são duas pessoas, como pretendem
impingir- nos. Essa dualidade faz parte da nossa natureza, e lá está como símbolo no Tao.
Tudo o que Abel fazia, Deus gostava; tudo o que Caim fazia, Deus não gostava, o que O torna um Pai negativo. Deveria gostar mais do mau,
porque quem merece amor é o doente e não o saudável. Esse Deus tinha preferências. Isto depõe contra Sua Infinita Justiça, o que, aliás, até hoje
permanece em algumas doutrinas religiosas, que estabelecem existirem aqueles que são filhos da graça e os outros, que são do pecado. Os
primeiros podem fazer o que quiserem e estarão salvos; nós outros, no entanto, teremos que fazer muito para salvar-nos...
Um dia, não suportando a discriminação, Caim matou Abelf Ser desprezado por Deus, fazendo tudo para agradá- 10, e Ele prestigiando o
irmão, que já era querido, tornou- se-lhe insuportável...
Após o ato criminoso Deus apareceu furioso a Caim e perguntou-lhe:
- “Que fizeste do teu irmão?”
Caim despertou tardiamente. Deus, com raiva, vingativo, condenou-o, amaldiçoou-o.
Qual é o pai que faz isso? Quando o filho comete um delito, nenhum genitor concorda com esse erro, mas vai ajudar, porque esse é o dever
dos pais.
“E então, vou colocar-te um sinal - disse Deus a Caim - para que ninguém te mate”.
Ora bem! Não havia ninguém, exceto o seu pai e a sua mãe...
Recebeu o sinal, e foi expulso, indo habitar as terras de Node, onde se casou e teve muitos filhos.
Com quem, desde que, repito, não havia ninguém?!
Quem eram esses chamados filhos dos homens, porque descendentes de Caim?
Eva permaneceu muito triste, ante a morte de Abel e a expulsão de Caim, pondo-se a chorar com freqüência. Compadecido, DeusJhedeyjjmj
que se chamavaSetJ
e que era bom como Abel. E com ele povoaram a Terra.
Perguntamos, novamente, mas com quem mais? Só havia uma mulher, que era a própria mãe.
Mas, nossos irmãos das religiões eletrônicas, hoje dizem: "Bem, mas Adão e Eva tiveram muitos filhos e filhas..." Se assim foi, Deus era um
tanto promíscuo, porque permitiu que coabitassem irmãos entre si, filhos e pais...
Essa história, a da Criação, científicamente teve início há aproximadamente quinze bilhões de anos com o Big- Bang. Não somos
descendentes de humanos. Somos resultado de uma evolução lenta e programada, de todo um processo antropológico. Aí estão os fósseis
confirmando- nos os antecedentes.
Se formos ao museu de Antropologia de Nova York, de Londres, de Berlim, ou mesmo verificarmos o Homem da Lagoa Santa, em Minas
Gerais, iremos encontrar os nossos antepassados, até o momento dos antropóides, quando eles se bifurcam, surgindo o ramo do qual
procedemos, enquanto os outros permaneceram símios.
Então, o pecado que o batismo tira, é o da desobediên- cia de Eva, constatando-se não ter havido qualquer crime, porque a posterior união
sexual não é pecaminosa, mas sim função biológica para a reprodução do ser. O desequilíbrio não está no sexo, porém na mente de quem o usa.
A perver- §ão é, portanto, mental. O sexo é semelhante ao estômago, com finalidade específica, como o fígado, que secreta a bílis, enquanto, ele,
secreta determinados hormônios, que em produzindo a fecundação, dão lugarLàidabiológica
Trata-se, esse conceito, dotavismo autocastrador do desequilíbrio do indivíduo, que pretende autopunir-se, fixando-se no conceito de
pecado. Avançamos, atualmente, para os elevados conceitos das doutrinas de libertação psicológica, da saúde integral, nas quais não há lugar
para pecado e sim para experiências positivas e negativas...
Nós somos realmente Adãos, porque a vida surgiu na intimidade das águas dos oceanos. Das primeiras formações em cadeias de açúcar,
efeito do incessante golpear das ondas salgadas nas paredes das colinas, originaram- se as primeiras colônias celulares que viríam a constituir os
seres que somos, e que ainda não representa o tipo mais perfeito.
Se notarmos o Homo sapiens, o Sapiens sapiens, já demos um passo adiante, que é o Homo tecnoloaicus. Já somos o homem da razão, ainda
vinculados ao instinto. No futuro seremos o homem-intuição, remanescente da razão.
Dessa forma, quando Jesus diz ser necessário nascer da água, a água é a fecundação.
A evolução das ciências genéticas prova-nos como Jesus tinha razão. Se examinarmos a Embriogenia, verificaremos que a vida animal,
particularmente a humana, é resultado da fecundação do espermatozóide com o óvulo. Q espermatozóide é uma gotícula d’àgua assim como o
óvulo em forma gelatinosa, com ligeiro revestimento. A fecundação animal, especificamente a do ser humano, é aquosa. Quando o
espermatozóide adentra-se, no processo da fecundação, o óvulo nidado transforma-se na célula-ovo, que é uma gota de água. Essa gota sobe e
acopla-se ao útero, e, a partir dos próximos minutos, através da mitose celular, ela se toma duas, quatro, dezesseis..., e vai nutrir-se de líquido
amniótico, igualmente água.
Quando nasce o indivíduo, ele é constituído por 68% de água, e o restante, sais minerais, ferro e outras substâncias.
Daí, é necessário nascer da água, ou, compor um novo corpo fisiológico, para entrar no Reino dos Céus.
Por isso Jesus diz: "Ê necessário nascer de novo... da água e do Espírito.."
Aí está evidenciada a reencarnacão. Não podemos estar pagando o erro que decorrería da invigilância de Eva, mesmo porque nunca houve
essa Eva, conforme a tradição literal da Bíblia.

17 O DILÚVIO UNIVERSAL
Depois que foi povoada a Terra, os homens tornaram- se maus.
“E então se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na Terra, e isto lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da
Terra o homem que criei, o animal, os répteis e as aves dos céus, porque me arrependo de os haver feito" (Gen.6, v.6 e 7).
O Deus jnclemente ficou, novamente raivoso e decretou o dilúvio. Conclui-se, então, que Ele não era Perfeito. Não sabia com segurança o
que fazer...
Antes que viesse o dilúvio, Deus constatou que naquele meio infeliz de pessoas devassas, havia um homem que era bom e justo. Deus
apiedou-se dele e chamou-o, ordenando-lhe: “Noé, constrói uma arca, e preserva nela um casal de cada animal, para que a Terra seja novamente
povoada”.
Noé assim o fez. Construiu uma arca, que jamais flutuaria, porque era uma embarcação antináutica. Ele não entendia nada de engenharia
naval. Mas vamos dizer que Deus o ajudou. Nela colocou um casal de cada animal que havia na Terra.
Trata-se ainda da mitologia, pois que é uma história infantil, absurda. Veio a chuva que durou quarenta dias e quarenta noites. A arca
flutuava e as águas cobriram a Terra. Outro absurdo. Jamais houve, geologicamente, uma inundação total. Houve sempre inundações parciais.
Não faz muito, houve uma onda marítima gigantesca de trinta metros de altura, na Indonésia, que acabou com varias aldeias, por causa de um
terremoto marítimo, e a China quase ficou mergulhada nas águas do Yang-Tse-Yang...
Poderemos dizer que houve um dilúvio local, é possível, pois que quarenta dias de chuvas não são suficientes para alagar nem determinadas
regiões quanto mais todo o globo terrestre.
Passado um período, Noé soltou uma pomba que não retornou. Três dias depois soltou outra, que voltou trazendo um ramo verde de oliveira
no bico, confirmando que passara a calamidade e tudo já se encontrava renovado.
Ele estava no monte Ararat, onde, dizem, se encontraram vestígios da velha embarcação, abriu a porta, fez saírem os animais, que foram para
as suas regiões, em absoluta ordem, embora muitos fossem selvagens.
Também desceu da arca com seus três filhos homens, Sem, Cam e Jafé, com suas respectivas esposas e repovoaram a Terra.
Com quem? Apenas com as esposas e a genitora que já era idosa?
Quando ouvimos a história de Roma, com Rôrnulo e Remo, nutridos por uma loba, enfrentamos uma imagem ar- quetípica das mais
fascinantes; quando lemos a mitologia brasileira a respeito da criação do Rio SqHmões, concebida pelos nossos índios, que tem a mesma
formulação da tradição bíblica - sem nenhum contato -, em que Tupã mandou que as terras fossem devastadas pelas águas, poupando Ceci e Péri,
que tiveram a felicidade de ser advertidos, estamos relendo o mesmo dilúvio bíblico, sob outro aspecto.
Aqueles dois amantes eram muito jovens. Tupã teve compaixão deles, recomendando-lhes que montassem no tronco de uma palmácea, a
carnaubeira, porque ali sobreviveríam.
Choveu muito, e a carnaubeira foi arrancada, indo parar mais longe. Eles saltaram. A vida havia-se extinguido, mas eles povoaram as terras
da Amazônia e aquelas águas quando recuaram formaram o Rio Solimões.
Encontramos lendas e mitologias em todos os povos. Fazem parte dos nossos arquétipos ancestrais, conforme a versão de Cari G. Jung.
Trata-se, portanto, de uma herança atávica do processo da evolução do nosso pensamento, de primitivo a lúcido- racional, na atualidade.
0 dlíúvio bíblico remonta a um dos Períodos em que a Terra se resfriava, após ter-se destacado da grande massa nebulosa que estava em
circunvolução e que se deslocou.
Como Moisés poderia explicar esse fenômeno geológico a uma mentalidade qual aquela de há quase cinco mil anos, senão utilizando-se de
uma imagem vigorosa como a do dilúvio?
Os períodos da Terra, hoje provados cientificamente à luz da Geologia, são as Eras. Os seis dias da Criação refe- rem-se aos grandes
períodos anteriores.
18 O PÉRIPLO DA LUZ
Desde sempre, a Divindade está encaminhando à re- encarnação, milhares de espíritos nobres para auxiliarem a rápida transição do planeta
terrestre, que deixará de ser um mundo de provas e expiações para tornar-se mundo de regeneração. No século V, de Péricles, na Grécia, por
exemplo, tivemos Tucídides, Ésquilo, Sófocles - entre os Trágicos, e outros tantos nobres pensadores que alargaram os horizontes culturais da
Humanidade.
Anos mais tarde, conhecemos I elite ímpar, representada por Sócrates, Platão, Aristóteles, espiritualistas, tanto quanto Leucipo e Demócrito.
os notáveis decodificadores da matéria que ofereceram as bases do atomismo.
Porém, antes de Ele chegar, a Humanidade havia conhecido, igualmente, as façanhas trágicas de homens belicosos, que fizeram a Terra
tremer diante da sua pusi- lanimidade. Entre outros, recordamo-nos de Dario, Ciro e Cambises, da Pérsia, Alexandre Magno, da Macedônia,
Aníbal, o cartaginês, que submeteram praticamente o mundo do seu tempo, à dominação arbitrária das suas tropas vândalas.
Outros mais, como Cipião, o africano, e Júlio César, o Divino, igualmente mantiveram o mundo conhecido sob as exigências das suas
legiões.
Xodos foram devorados pela morte, que a ninguém poupa, através das próprias circunstâncias e das arbitrariedades que cultivavam, ou por
meio do fenômeno fortuito da disjunção biológica, na etapa terminal.
Depois dEle, a Humanidade prosseguiu na mesma ganância, assolada pela devastação das conquistas ininterruptas. Constantino, ou Átila, ou
os visigodos comandados por Alarico, (370-410), semearam na Ásia e na Europa o terror inominável.
Mas, apesar de os guerreiros de Alarico haverem desviado as águas do Busanto para inumarem o seu cadáver, cobrindo-o com as mesmas
que voltaram a correr pelo curso antigo, a fim de que ninguém encontrasse vestígios daquele dominador arbitrário, a morte também o ceifou.
Mais tarde, Clóvis (465-511), Carlos Martel (689-741), Carlos Magno (742-814), ou posteriormente Napoleão Bonaparte (1769-1821), ou
Nelson (1758-1805), ou ainda, depois, as tropas de Rommel, dando prosseguimento à dominação arbitrária de outros guerreiros, ou as
extraordinárias conquistas da técnica militar de Montgomery (1887-1976) e Eisenhower (1890-1969), que mudaram a paisagem geográfica e
histórica da Terra, a morte a todos devorou na sua passagem terrível, fazendo que essas personagens, que balaram a História um dia, viessem a
fazer parte das grandes galerias evocativas, em uma página amarelecida dos velhos pergaminhos, ou em uma fotografia minimizada pelas
modernas técnicas de arquivo das bibliotecas contemporâneas.
Mas, Ele não!
Be veio discretamente como a bondade. Apareceu numa noite fria, salpicada de estrelas, em um pequeno burgo apagado na Palestina.
Quando o Seu vagido de criança ressoou na estrebaria em que estavam animais domésticos, seres angélicos entoaram uma balada de amor em
exaltação: “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra aos homens de boa vontadeL"
A mensagem que Ele trazia caracterizava-se pela presença de anjos e querubins, ou escutada por hqmens humildes e apagados do pastoreio
das largas e áridas regiões de Nazaré, da Samaria, ou da paisagem bucólica de Belém, próxima a Jerusalém, onde Ele resolvera começar a Era da
nova Casa de Davi.
A História, até hoje, pelos seus mais eminentes narradores, não sabe explicar aquele fenômeno que aconteceu nas suas páginas, porque até
àquele momento em que Ele chegava, falava-se apenas de guerra e de destruição, de dominação e de poder, enquanto a águia romana sobrevoava
o cadáver das gerações vencidas sobre as suas terras, em cuio domínio o Sol jamais apagava a sua luz...
Repentinamente, as técnicas de governança romana experimentaram a derrocada do Primeiro Tnunvirato. Quando o Segundo também
fracassava, eis que um jovem herdeiro do legado da decadência, Caio Júlio César Otávjo, que a História denominará como Augusto - porque foi
tão extraordinário, que vivendo no século de Jesus, deu-lhe o seu próprio nome, repetindo a façanha de Péricles, no século V, na Grécia -
conseguirá salvar o Império, levando Çleópatra e Antônio ao suicídio covarde...
Aquele jovem soldado simultaneamente transformou- se num administrador extraordinário de que a História guarda as mais saudáveis
recordações. Repentinamente, Roma, que era belicosa, estremeceu nos seus alicerces, e as sandálias que ganhavam as terras, calçando as legiões,
deixaram de levar a marcha cadenciada da vitória, porque Roma iniciava uma época de paz. O santuário da deusa Vitória, em Roma, estava
cerrado, pela segunda vez em 700 anos quase, significando que se estava em paz.
O Imperador, trazendo o corpo marcado por erupções dolorosas, tornara-se um verdadeiro administrador. Esquecera aquele poder de
comando do carro da guerra que tinha nas mãos. Compreendera ue somente se faz um povo fe- liz quando se educa a família, quando se
dignifica a plebe, quando a honradez parte da Casa governamental e palaciana para poder penetrar nos subúrbios e nas favelas, elevando as
criaturas, quevêem, no seu chefe e magistrado, o protótipo da dignidade.
Augusto entendeu que era necessário mudar o comportamento romano e estabeleceu que, .a partir daquela hora, a sociedade manteria o seu
apogeu estribada na paz, no dever e na solidariedade. Desde então, ele próprio cuidou de manter ilibada a corte, exilando para a Ilha da Pan-
datária a filha que se entregava a uma conduta reprochável, herdeira das arbitrariedades dos imperadores transatos.
Posteriormente, aquele homem frágil, que tinha o corpo invariavelmente coberto de ataduras, e que era acometido de constantes resfriados,
mantinha a mão vigorosa para assinar um novo decreto de exílio para sua neta, que também se entregara a dissipações, e, abandonar no tálamo
conjugai a esposa, que se permitia experiências com venenos para libertar-se de adversários políticos, ao mesmo tempo experimentando-os nos
escravos que lhe serviam a casa.
Augusto estimulara o cultivo da poesia, da estética, das artes em geral. Foi, no seu governo, que a Terra adornou-se com a presença de
homens sábios, da talha de Titp Lívio, Mecenas, Salústio, Virgílio, que cantavam as glórias dos deuses diante do Sol maravilhoso, preparando
culturalmente a Humanidade para a vinda de Jesus.
Quantas vezes o próprio Imperador, no Foro, da sua tribuna dourada contemplava Virgílio, a cantar as glórias de Roma e comovia-se:
“0/7/ Sol formoso,
Que diariamente abres e fechas o dia,
Que nunca possas ver nada em teu périplo Que se equipare à grandeza de Roma”
É que, naquele período, fez-se um grane si|êncio para poder-se ouvir a canção incomparável que Jesus cantaria.
A voz da manjedoura se levantaria para entoar hinos de felicidade nas almas, através daquele Menino que transformaria o leito de palha
úmida em uma Via-Láctea de estrelas, porque viera para amar, sendo o próprio Amor não amado, que alcançaria sua qualidade mais excelente,
ao libertar a criatura da masmorra das suas paixões.
De tal forma Ele amou, que se deu a Si mesmo, enquanto o mundo estava acostumado ao espólio dos vencidos, ao legado das coisas
transitórias, que ficam. Ele se imolou por amor, abrindo os braços no madeiro de infâmia, que seria transformado, a partir dali, numa estrada de
regeneração e de felicidade, numa simbologia transcendental, a da haste vertical que busca Deus e a da horizontal que abraça as criãturas.
A "cruz dê Cristo é semelhante a um sabre que se crava na base da Terra, em que o indivíduo rompe a carapaça do sentimento ancestral para
que permita germinar o amor que lhe dorme latente.
Depois que Ele se foi, havendo deixado o Estatuto Legal escrito na paisagem da montanha diante de um pequeno mar de águas tranqüilas que
refletem o luar, ou que se levantam açoitadas pelos ventos repentinos que descem das montanhas, possuímos a carta magna - as bem-aventu-
ranças - que, de quebrada em quebrada, vêm modificando as regulamentações vigentes, chegando aos nossos dias como a mais extraordinária
canção que os ouvidos humanos jamais lograram escutar.
Foi graças à têmpera férrea de Paulo de Tarso que o Cristianjsmo chegou ao Ocidente.
Jesus ressurgiu na estrada de Damasco para aparecer a esse jovem rabino, que se dirigia àquela cidade para assassinar Ananias.
Ao aparecer àquele homem furibundo, detentor dè títulos transitórios, narcisista, por excelência, eis que, dominado pela estranha luz, tomba
da alimária nas areias escaldantes do deserto, deparando-se com o Mestre.
A palavra dúlcida do Desconhecido interroga-o:
- “Saulo, Saulo, por que me persegues?”
- “Quem és tu, Senhor?” - contrapõe ele.
- “Eu sou Jesus, aquele a quem persegues!”
Esse é um dos momentos culminantes da História, porque aquele rabino fanático, odiento e perverso, encontra o seu Senhor, e entrega-se-
Lhe sem qualquer resistência.
Aquele foi um diálogo, no qual o Mestre e o discípulo, o Amo e o servo se defrontaram. Saulo se transformou em um átimo de minuto. Não
perguntou mais nada. Agora, sua pergunta é de submissão, e apenas indaga:
- “Que queres que eu faça?"
- “Vai a Damasco. Ali te será dito o que deverás fazer.”
Graças a esse encontro, Saulo, que viajará com o
nome de Paulo, trará o Cristianjsmo ao Ocidente. Será ele o pré-teólogo, através de Lucas, seu discípulo, que dará sustentação à mensagem.
Somos hoje cristãos porque Paulo teve a coragem de afrontar as perseguições romana e fari- saica do seu povo e, ao lado de Pedro, enfrentar e
arrostar os efeitos do seu atrevimento superior, indo pregar na Dormis Aurea, em Roma, reprochando o caráter de Nero e de Pompeia ante a vida
servil e animalesca a que ambos se entregavam.
A Doutrina de Jesus é um desafio para a criatura humana. Em qualquer fasto da História, em qualquer período, é uma Doutrina de palavras
finais que não dá margem a titubeios nem a posições de natureza ambígua, porque é feita de definições, através das quais o homem e a mulher se
desvelam e se apresentam com as suas potencialidades interiores.
Depois do apostolado grandioso de Paulo, as arenas tiveram, quase todas elas, as marcas da renúncia dos mártires. Todo ideal, já dizia Hegel,
faz-se caracterizar pelas resistências que provocam naqueles que se comprazem no seu modus operandi tradicional.
Mede-se a grandeza de um homemda cabeça para cima, pela força do seu idealismo, pela tenacidade com que o vive, com que o defende e
com que morre por ele.
Os cristãos deram a sua vida a Jesus. Naqueles trezentos anos iniciais de abnegação, a Doutrina Cristã dignificava o ser humano, convocava-
o à revolução difícil: matar o homem velho para dar ensejo ao nascimento do homem novo e à edificação de uma realidade interior capaz de
avançar pelos evos.
Por volta do ano 164 da nossa Era surgiu, na cidade de Alexandria, um movimento que fo| denominado como Escola Neoplatônica, fundado
por um grande pensador grego chamado Amônio Sacas, que, fascinado pela presença de Jesus, pretendia lançar uma ponte entre o Evangelho e o
Platonismo.
Essa escola maravilhosa enriqueceu o Cristianismo primitivo de personalidades superiores na inteligência, que se encarregaram de
demonstrar a excelência do pensamento de Jesus por sobre todas as colocações filosóficas ancestrais.
Amônio Sacas era reencarnacionista e filósofo como Platão e Sócrates, e, por conseqüência, quando criou sua escola, começou a divulgar
também esse ensinamento.
A Escola Neoplatônica é a mais nobre cátedra do pensamento, depois de Jesus. É nela que se irão destacar as personalidades ímpares,
encarregadas de construir a Igreja Cristã primitiva. Esse período será chamado depois como da Patrística, pelo surgimento daqueles que serão
denominados os Pais da Igreja, tais Orígenes, entre outros, que nos ofereceu a sua Doutrina dos Princípios, em que defende a tese dos
renascimentos.
Na mesma época, Tertuliano aparece com a sua Apo- logética; igualmente Porfírio, Proclo, Jâmblico, Eusébio, e toda uma elite de
pensadores, que deixaram pegadas luminosas até hoje, apontando rumos para a plenitude, destacando-se Agostinho de Hipona. que vinculado a
uma doutrina fundamentalista que não correspondia às nobres aspirações do Cristianismo, converter-se-á, escutando a palavra arrebatadora de
Ambrósio, e sendo objeto de um fenômeno mediúnico, ao ouvir uma voz que o orienta a que se volte para Jesus e abandone o Maniqueísmo.
Será Agostinho quem irá fundamentar a teologia do Cristianismo, posteriormente transformado em Romanismo.
Essa doutrina da reencarnação estará demonstrando que a vida é uma sucessão de existências.
Depois, a JHumanidade entraria em decadência. Lamentavelmente, no dia 13 de junho do ano 313, em Milão, a Doutrina do Cristo sofre seu
primeiro colapso, quando jConstantino, o grande adúltero da Sua Verdade, hábil guerreiro, decreta o Edito de M[lãot tornando o Cristianismo
tolerável, fazendo com que ela fosse respeitada em todo o Jmpério através da força do seu poder..
A partir daí, à medida que adquire prestígio social, a mensagem do Cristo começa a perder o brilho e a grandeza. Ele, que se fizera vítima,
agora estava na bandeira dos triunfadores, através da condição de algoz. A doutrina, que multiplicava mártires, passou a ser causadora do
martirológio. O Cristianismo, que encharcava as arenas com o sangue das vítimas passava, a partir desse momento arbitrário, a tentar governar
destinos, encarcerar homens que tinham a audácia de discordar do status quo.
A proposta reencarnacionista prolongou-se, porém, através da História.
Por volta de 552, Justiniano, Imperador do Oriente, convocou o Segundo Concilio Ecumênico de Constantino- pla. Nessa oportunidade, ele
transformou a doutrina da re- encarnação - que era profundamente cristã - em uma crença que deveria ser rechaçada, o que realmente aconteceu,
quando foram condenadas as doutrinas de Orígenes (nas quais se encontra a tese da reencarnação).
Mas, apesar da imposição de Justiniano, a reencarnação prosseguiu florescendo.
A mensagem de Jesus retornou, para restabelecer em plena noite medieval, aquele mesmo sentimento de amor, na figura frágil de Francesco
Bernardone (1182-1226), a quem Ele convocara para tornar a Humanidade novamente feliz.
De tal forma foi Francisco fascinado por Sua ternura que se Lhe entregou em totalidade de dedicação.
A Idade Média perdia-se em sombras. Aquele êmulo de Jesus, no entanto, nasceu para amar ao irmão Sol, à irmã Lua, à irmã Natureza,
deixando na Terra o suave aroma da presença de Deus.
A Igreja, que na época dominava os destinos da Civilização, houvera estabelecido a necessidade da fé cega. Os povos, dominados pelo
temor, aquiesceram em aceitar a tese da imortalidade da alma através de uma imposição teológica, sem entenderem realmente o que estava
destinado ao ser, após a morte, desde que era proibido ao cristão 1er o Novo Testamento.
Passam-se os séculos, amargos e trevosos, da Idade Média. Nesse crepúsculo da cultura é dominante a doutrina arbitrária, que permanece
estruturada em dogmas, mantendo a ditadura do poder espiritual sobre as liberdades do poder temporal.
No ano de 1365 - porque Deus tem pressa - nasce, na República Tcheca (ex-Tchecoeslovaquia), alguém que deverá arrebentar, por primeira
vez, as algemas do dogmatismo ancestral: Jan Huss, que se fará herdeiro da doutrina de Johannes Wyciif (1320-1384), o religioso inglês que
propôs a necessidade de o homem buscar Deus diretamente, sem a necessidade de intermediários.
O pensamento Wyclifiano estabelecia que, através da comunicação direta - criatura e Criador - as bases da verdade alicerçam-se no coração
do homem em toda a puiança da legitimidade de seus propósitos.
O grande Jan Huss, cuio nome tcheco - Huss - significa pato ou ganso, era doutor em Teologia e hábil poliglota, falando grego e latim,
começou a pregar a necessidade de libertar a Bíblia, que era proibida de ser compulsada pelas massas, e mesmo pelos religiosos. Pertencia
apenas aos teólogos. Huss desejava que a Doutrina de Jesus fosse apresentada no idioma nacional e não em latim, para poder ser totalmente
entendida, sendo obrigado a pagar a audácia com a própria vida. E porque era grande demais para o século XIV, adentrou-se a sua luta pelo
século XV.
A intolerância terminou por atraí-lo ao Concilio de Constança, quando seu próprio rei, que lhe prometera um salvo-conduto, negou-se a
assisti-lo, por simples covardia moral, quando ameaçado de excomunhão. Foi julgado e condenado à fogueira em 1415, sendo colocado na pira,
fora dos muros da cidade, a fim de que as labaredas lhe destruíssem o corpo.
É a velha artimanha dos pigmeus contra os gigantes: quando não podem matar as ideias, matam os idealistas, acreditando que, cerceando a
liberdade desses idealistas, destroem as ideias que eles cultivaram. E equivocam-se... Toda ideia, para encontrar campo de projeção na massa,
exige o holocausto do idealista...
Morreu Jan Huss. Um pouco antes, enquanto as labaredas crepitavam, ele, atado ao poste da infâmia, começou a orar a ave-maria, cuio
segundo verso não concluiu, asfixiado pela fumaça e logo após ardendo nas chamas.
Contam as tradições, que naquele momento em que eram colocadas as achas de lenha e se aproximava o criminoso com o archote para fazer
arder a fogueira, ele olhou o céu da sua pátria e proclamou: “Hoje vós assais o pato, mas dia virá em que o cisne de luz voará tão alto que as
vossas labaredas não mais o alcançarão.”
Morreu Jan Huss, deixando um legado, um discípulo, porque a verdade possui um pólen que se demora no ar e vai invariavelmente fecundar-
se em algum coração, como terra generosa, para se transformar numa seara rica. Esse discípulo, Jerônimo de Praga (1339-1416), quase
octogenário, adotou a doutrina de Huss, e foi igualmente queimado, no ano de 1416, seguindo o seu mestre, e também vitimado pelo crime de
proclamar a necessidade do amor acima das hierarquias e da vulgaridade que tomava conta do clero, na época.
Mais tarde, em princípios do século XV em Domrémy, Joana d’Arc (1412-1431), ouviu as vozes de Santa Catarina, Santa Margarida e São
Miguel Arcanjo e saiu a lutar, aos 14 anos, para restaurar a paz e a hegemonia da França. Tomando-a dos ingleses, conseguiu coroar, em Reims,
como Imperador, o seu rei, Carlos VII, que a traiu vergonhosamente, juntamente com o bispo de Beauvais, Pierre Gauchon, sendo também
queimada viva como feiticeira, na praça central de Rouen.
Diz a psicologia que temos um doce paladar pelo mito, que gostamos da fantasia e que se encontra embutida em nós a presença mitológica,
que abandonamos a realidade para vivermos esses arquétipos: satanás, o diabo, feitiçarias e muitos outros com os quais nos comprazemos.
Ainda hoje acredita-se no diabo como um ser real, que tem poder equivalente a Deus, que pode arrebatar as almas, e Deus, onipotente, deixa-
as serem levadas pelo tridente satânico, a fim de serem queimadas no fogo eterno do inferno, longe da Sua misericórdia e compaixão.
Joana d’Arc pagou pelo crime de amar, e foi queimada viva ante a indiferença do monarca a quem ela coroou. Em um de seus diálogos, teve
a oportunidade de dizer: “Deus meu, Deus meu!, as minhas vozes me enganaram; pois que me disseram que dentro de três dias eu estaria livre...”
Quando as labaredas começaram a crepitar e aquele mesmo bispo Gauchon improvisou uma cruz de hipocrisia para ela beijar, arrependida -
não sabemos de quê - a mártir teve a coragem de dizer: “Sobre a vossa consciência coloco o crime da minha morte”.
O pusilânime, envergonhado, saiu da praça, no momento quando ela teve uma iluminação, exclamando: - “As minhas vozes tinham razão!
Em três dias, a liberdade que proclamavam era esta, porque morte é libertação.” E morreu sorrindo.
A noite medieval permaneceu, e no dia 5 de agosto de 1492, uma estranha procissão saiu da igreja de Santa Maria Maior, na direção do
Vaticano, carregando sobre os ombros na sedia gestatoria12 Alexandre Borgia, que se fez eleger por métodos inescrupulosos como o Papa
Alexandre VI.
Imediatamente, ele faz com que seu filho, César, seja nomeado Cardeal aos 13 anos de idade, e brinda-o com uma região da Itália, a Emilia
Romagna, para que possa ali exercer o seu cardinalato. À sua filha Lucrécia, menina de 12 anos aproximadamente, obriga-a a um casamento que
(12) SEDIA GESTATORIA - Trono portátil no qual se carre ga o Papa durante cerimônias públicas.
não se consumará por ser-lhe o marido incapaz, mas que era necessário , para atender a imposição do Estado...
Esse período triste do papado parece encerrado mais tarde quando a mare13a toscana('Z) arrebata a vida de Alexandre VI, subindo ao trono
pontifício, para ocupar o seu lugar - igualmente através de simonia e reuniões arbitrárias - o Papa Júlio II (1443-1513), chamado o Papa
Guerreiro, que viveu mais tempo montado em cavalos nas lutas por conquistas terrenas do que na atribulada cadeira denominada de São Pedro.
Temperamento vigoroso, alma cheia de hostilidades, ele se tornou benfeitor das Artes. Exigiu que Miguel Ângelo ficasse praticamente
encarcerado na Capela Sistina, e morreu pouco tempo depois, vitimado de apoplexia, entre estertores de úlceras que lhe dilaceravam o
organismo.
No fim do século XV, a partir da Escola de Sagres, começou a definitiva mudança. Espíritos de alta estirpe re- encarnaram-se na Ibéria,
abrindo as portas do mundo para as navegações audaciosas, dessa forma ampliando as dimensões da Terra, enquanto que, na Itália,
principalmente, Nicolau Copérnico (1473-1543), libertava a Cultura do Sistema Geocêntrico.
É nesse momento que subiu ao papado Leão X (1477- 1521).
A Europa estava historicamente desorganizada com a Alemanha a lutar contra a força dos operários e camponeses; os príncipes aldeães
armavam-se, a decadência espalhava-se por toda parte, os cofres do Vaticano estavam vazios, com os Estados papais em guerra contra os
Estados italianos.
Nesse ínterim, sumamente grave, o Papa Leão X, para recolher benefícios, proclamou a necessidade das indulgências, o Reino dos Cji-méus
a peso de ouro; todo crime é passível de perdão, desde que se compre a indulgência papal. Os seus emissários vendedores das referidas
indulgências com autorização para tais concessões partem pela Europa, atendendo ao nefando impositivo.
A Alemanha, naquele momento, abrigava uma das personalidades mais notáveis da época: o agostiniano Marti- nho Lutero (1483-1546).
Conta-se que, certo dia, caminhando pela biblioteca do mosteiro, Lutero encontrou um pequeno livro todo em ilumi- nuras(14) e começou a
compulsá-lo. Deslumbrou-se. Trata- va-se de O Evangelho de Jesus, a antítese do que lia nos tratados de Teologia.
Faz-se, então, tomado de irresistível atração pelo Rabi Galileu, ele que já era amante do Mestre. Quando chegou a notícia das indulgências,
rebelou-se, passando a lutar contra a impudência, proclamando a necessidade do livre exame, da propagação da doutrina no idioma nacional,
contestando o poder do Papa... Para ele, o incesto, o adultério, o aborto, o uxoricídio, o genocídio não podiam receber o perdão divino, mesmo
que a espórtula atingisse a mais alta soma, ofertada por quem cometera a arbitrariedade.
Lutero protestou com veemência. Não obstante, foi convidado a apoiar as reivindicações papais. E porque a sua alma rebelde e sonhadora
sentisse necessidade de alargar os horizontes do Cristianismo, na Terra, não aceitou submeter-se, foi ameaçado de excomunhão.
A excomunhão era tão terrível que os imperadores cur- vavam-se ante a sua simples ameaça. Não esqueçamos que a Idade Média, a Grande
Noite, permitia que a ignorância, a superstição, as pandemias tomassem conta da Terra. Mas, naquele momento, em pleno século XVI, depois da
viagem de circunavegação, da descoberta da América e do Brasil, naquela ocasião em que os horizontes do planeta se alargavam, já não seria
possível manter-se a mesma postura cultural.
Em face da sua coragem Martinho Lutero, naquele 1515, assinalou uma Era nova: o Evangelho de Jesus é libertado dos teólogos e qualquer
pessoa poderá lê-lo... Na oportunidade, já se pode contar com a contribuição da Imprensa, ensejando que o instrumento de Gutenberg mude a
estrutura do pensamento vigente. Foi o primeiro grito de liberdade na História um pouco antes do renascimento das Artes. É o momento de
mudança dos destinos históricos.
Ele foi excomungado. Mas porque tinha a fatalidade de libertar o Evangelho, sobreviveu à sanha da Inquisição. A palavra de Jesus começou

12
(14) ILUMINURA - Pintura a cores nos livros da Idade Média; colorido sobre marfim ou pergaminhos.
13
(13) MAREMA TOSCANA - Impaludismo, malária.
a ser publicada em idioma nacional, o alemão e, um pouco mais, espalhar-se-ia por terras europeias, nos respectivos idiomas dos diferentes
países. Lutero apresentou, de início, uma visão nova do Cristo, aquele Cristo libertador, amoroso.
Imediatamente, João Calvino (1509-1564), em Genebra, examinando os postulados luteranos, arrebatou-se com essa doutrina e resolveu
adaptá-los à sua compreensão.
Calvino será, talvez, o primeiro crente a discrepar de Lutero. A doutrina avança pela Suíça de língua alemã. Chegando a Zurique, Ulrich
Zwinglio (1484-1531) procurou fortalecê-la, realizando adaptações próprias ao seu temperamento.
Os anos passaram-se. As perseguições contra Lutero fizeram-se cada vez mais crueis. Ele apoiava os príncipes alemães, e naturalmente,
nesse dealbar de conflitos, concordava também com a perseguição movida pelos príncipes contra o proletariado, os camponeses,
desconsiderando a proposta de Jesus, que viera para aqueles que não têm lar, conforme enunciara: uAs aves dos céus têm os seus ninhos, as feras
os seus covis, mas o Filho do Homem não tem sequer uma pedra para reclinar a cabeça...”
Era natural - entende-se - que em pleno século XVI as paixões violentas dominassem os sentimentos das criaturas e houvesse então uma
forma de derrocada na preservação dos valores aceitos. Entretanto, chegou um momento em que Lutero viu-se tão acossado que perdeu as
resistências morais e reagiu, retribuindo cada agressão sofrida por outra desencadeada.
Segundo os melhores historiadores, ele teria proclamado: “Matem-nos; matem a todos os que estão contra nós”. Jesus, no entanto, ensinara:
“Eu venho para que tenhais vida, e vida em abundância. É necessário que vos ameis uns aos outros para que todos saibam que verdadeiramente
sois meus discípulos, que serão conhecidos por muito se amarem".
Não obstante, o pensamento de Lutero conseguiu cindir a noite medieval.
A Humanidade começou a pensar.
É nesse período que o Renascimento italiano apresenta ao mundo Rafael Sanzio (1483-1520) e Michelangelo (1475- 1564). As Letras são
agora aprimoradas, como se uma revoada de estetas descesse à Terra, em fulguração de estrelas, tomando a forma de homens e de mulheres, a
fim de apagar a noite medieval, apresentando as claridades da beleza, da literatura, das artes ao nascer de um Mundo novo.
Enquanto a sociedade ainda se encontra atormentada pelo divisionismo, Teresa (1515-1582), cheia de reumatis- mos e de febres, em Ávila,
sob o guante de uma monja que lhe tinha inveja, limpando o chão do monastério daquela cidade úmida, conversava com Jesus: “Eu nasci para Te
amar, mas é necessário que Tu vivas e eu morra, para que eu morra e Tu vivas."
Um dia, quando as monjas desceram ao locutório, Teresa d’Âvila flutuava, nimbada de peculiar claridade, que a adornava em beleza ímpar.
Outra vez, enquanto se confessava com São João da Cruz, em um hino de amor e de beleza, as monjas viram-nos flutuar. Uma estranha luz
que descia do Mais Alto, envolvia-os numa claridade diáfana. A Doutora da Igreja, a mulher que reformulou o Carmelo, deixou uma estrada de
peregrino amor àquele Amante não amado, que até hoje esplende como a Luz dos séculos.
É nesse período, quando a Reforma se alastra pela
Europa, que o Cardeal Charles de Guise, (1550-1588) e a Duquesa de Nemour, influenciam a Rainha Catarina de Mé- dicis (1519-1589) para
que reaja contra os calvinistas, aproveitando-se dos dias em que Paris recebe imensa quantidade deles para o casamento de Margarida, sua filha.
A trama é urdida no silêncio dos corredores e no gabinete da rainha, que tutela o filho algo mentecapto, Carlos IX (1550-1574), tímido e
covarde, que não tem a coragem de assumir a responsabilidade, enquanto ela, de caráter viril, exige-lhe uma decisão contra a peconha que
invade a Europa, em especial a França.
Em verdade, Catarina desejava alcançar a Holanda, na guerra de religião, para se vingar de certo modo de poderes arbitrários que lhe foram
negados. Anos antes, ela houvera assinado uma Aliança com o Duque de Alba (Espanha), por volta de 1555, nos Pirineus, já preparando uma
revolução de ordem religiosa, mas da qual estava oculta a realidade política da sua ambição contra a Holanda.
Naquela noite fatídica de 24 de agosto de 1572, depois de um complô no escuro das Tulherias ela saiu vitoriosa, e levou ao filho o
documento de que necessitava:
- Assina-o! - Impõe-lhe com habilidade.
Ele titubeia:
- Mas irão morrer muitos!
- Assina-o, ou te renego! - propõe, arbitrária.
Carlos IX tem uma crise nervosa. Assina o documento
e brada, em desequilíbrio:
- Matai-os! Que se matem a todos!
Ela saiu triunfante. A Duquesa de Nemour, cientificada, toma de um candelabro com uma vela acesa, vai para a parte posterior das Tulherias
e movimenta na treva da noite aquela claridade significativa de tragédia. Na igreja defronte de Saint-Germain lAuxerrois o sacerdote badala o
sino. Foi deflagrada a tragédia da Noite de São Bartolomeu. A matança estende-se além de Paris, pelos arredores, pelo país, e a França adquire o
carma terrível, que irá resgatar mais tarde.
É nessa ocasião de absolutismo do poder temporal, numa aliança terrível com o poder espiritual, que o Cristianismo experimenta um outro
grave e profundo fracasso.
Mas a trajetória da Luz não pára.
Quando raia o século XVII, já se pode pensar em termos de ciência. Fazia pouco que Galileu Galilei(1564-1642), discrepara da Bíblia,
quando tivera a ousadia de dizer que a Terra girava em torno do Sol e não este em volta daquela. A velha teoria de Ptolomeu, apoiada por
personalidades de alto gabarito do Clero, agora estava ameaçada por um pequeno telescópio doméstico, apresentado por Galileu, que
demonstrava o movimento do planeta.
Condenado a desdizer-se, quase octogenário, humilhado em praça pública, ele se contradiz, mas anotaram alguns historiadores que, apesar da
intolerância clerical, ele afirmou que a Terra, por si mesma, se move.
A Humanidade entrou então em definitivo, num período de franca libertação da ignorância, investindo contra os dogmas ultramontanos,
desde quando surgiram René Descartes (1596-1650), que cogitando, interrogou ser o homem matéria ou energia, aprofundando o conceito do
Dualismo; Thomas Hobbes (1588-1679), Pierre Gassendi (1592-1655), John Locke (1632-1704) e muitos outros, que ressuscitaram o
pensamento atomista, surgindo novo antagonismo entre espiritualismo e materialismo.
Já não se podia deter o conhecimento cultural. O século estava iluminado pelas ideias de Sir Isaac Newton (1642- 1727), de Kepler (1571-
1630), que mourejaram em favor da de- cifração de algumas incógnitas do Universo; brilha, também, a alma grandiosa de Biaise Pascal (1623-
1662), estabelecendo os conceitos matemáticos da vida, fazendo-se um místico nos seus pensamentos cristãos, lançando as linhas fundamentais
de uma nova cultura. As leis universais se apresentam fora dos códigos e dos trâmites da natureza teológica. Já não se pode mais viver
amordaçado ao dogma ancestral.
Kepler, depois de haver descoberto as leis básicas do Universo, proclamou: “Elas me deram a dimensão de Deus.” Newton, depois da Lei da
Gravitação Universal, fas- cina-se, cada vez mais, ante a magia da matemática divina, e quando se apresenta o pensamento de Leibnitz (1646-
1716), Thomas Reed propõe uma nova cultura, baseada na pesquisa da Ciência e sustentada na base da religião, mas uma religião racional, que
se fundamente na investigação experimental.
A Humanidade venceu a noite medieval, e apareceu a Ciência que investiga, a Filosofia que informa, ensejando ao século XVIII a Revolução
da França, os direitos do homem, as liberdades democráticas e... a revolta contra Jesus...
“Deus? - interrogou Pedro Gaspar Chaumette, no dia 10 de novembro de 1793, em Notre-Dame - onde está Deus? A fé tem que ceder lugar à
razão. A França dispõe da razão; não mais necessita de Deus.”
Aquele Deus que estava amortalhado no dogma, que perecera na ritualística, que silenciara a voz na liturgia, fora desdenhado por Voltaire
(1694-1778): “Não creio no Deus que os homens fizeram - declarava - mas creio no Deus que fez os homens”, abrindo espaços para Condorcet
(1743- 1794), Montesquieu (1689-1755) e Diderot (1713-1784), estabelecerem uma nova filosofia ética e revolucionária, que desaguaria, mesmo
que não se dessem conta, nos direitos humanos.
Quando o século XVIII estava no auge, o pensamento de Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria (1738-1794), em um pequenino livro Dos
Delitos e das Penas, procurava mudar a trajetória arbitrária das leis. Não é possível conceber-se que as confissões humanas sejam arrancadas
através do uso do chumbo derretido, do azeite fervente, da roda, apresentando, de certo modo, o primeiro código legal mais compatível com a
dignidade humana, levantando-se contra a pena de morte.
E Bonesana explica a grandeza do homem, inspirado em Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que publicara o célebre Do Contrato Social.
Rousseau aceitou a pena de morte, não tendo coragem de investir contra essa indignidade proposta por algumas leis.
Nesse comenos, o assentimento de uma nova filosofia ética foi sendo absorvida pela alma jovem americana que, no ano de 1787 libertou a
Filadélfia, laborando em favor da independência do país, logo seguida no Brasil pelo proto- mártir da Independência, José Joaquim da Silva
Xavier, o Tiradentes.
Logo depois, em um dia de julho, no Café de Paris, em Montmartre, um grupo de audaciosos poetas, literatos, filósofos, jovens - porque
todas as revoluções libertárias foram feitas pelos jovens, de corpo ou de alma - após um discurso que Camille Desmoulins (1760-1794) acabara
de proferir, a massa avançou na direção da Bastilha...
Naquele memorável 14 de julho de 1789, começou a Revolução Francesa. Ao cair a Bastilha, não foi somente uma velha fortaleza medieval
que tombou, o maior depósito de pólvora da Europa, mas toda uma forma de vida - a Casa dos Bourbons, a dominação arbitrária dos reis e o
respectivo direito divino dos reis...
Como é natural e inevitável, toda demolição, às vezes, peca pelo excesso, e toda revolução como decorrência das necessidades de alterações
profundas nas estruturas sociais e políticas.
Foi o que aconteceu. Imediatamente, no ano de 1793.
Terminando o discurso de Chaumette, uma jovem bailarina do Teatro da Ópera de Paris, de nome Candeille, vestida como a deusa Razão, foi
colocada em um andor improvisado, enquanto uma procissão, carregando-a, fez a volta em torno de Notre-Dame, apresentando a nova divindade
da França. Nessa oportunidade, o cidadão Jacques Dupât ergueu-se e proclamou: “Ciência e Razão, eis os meus novos deuses, diante dos quais
não existem outros!”
Retornou a intolerância. Aconteceu o episódio do terrível setembro negro, quando as patas dos cavalos ficaram cobertas do sangue das
vítimas da arma de Joseph Guillotin. Ele próprio, mais tarde, teve também a cabeça decepada...
Tinha-se a impressão de que Deus cerrara Suas pálpebras, nos penetrais do Infinito, ante as arbitrariedades
praticadas em nome da Revolução. A França resgatava, duzentos e poucos anos depois, daquela forma, o crime da Noite de São Bartolomeu.
Quando o país entronizou a Razão e arrebentou os objetos de culto das igrejas, sendo Deus expulso pelo atrevimento de oradores inflamados,
eis que, pouco tempo depois, a ela retornou, agora através do Decreto audacioso de Napoleão Bonaparte, que se tornara o Primeiro Magistrado,
havendo firmado uma concordata com o Papa Pio VII, a segunda na história francesa, a fim de que, no dia 2 de dezembro de 1804,
autoconsagrasse-se Imperador.
Napoleão mandara buscar o Papa, no Vaticano, e na mesma monumental igreja gótica de Notre-Dame, na hora em que o Sumo Pontífice ia
coroá-lo como Imperador, ele quebrou o protocolo, tomou a coroa e autocingiu-se, repetindo o gesto em relação a Josefina, produzindo um
frisson na multidão estarrecida, enquanto um coro de duzentas vozes entoava a peça especialmente preparada para aquele momento, chamada
Pompa e circunstância.
A França voltava a trazer Deus outra vez, para que, no ano de 1815, na cidade de Nimes, às margens do Loire, a intolerância matasse 30.000
protestantes huguenotes, pelo crime de amarem a Deus conforme sua própria forma de crer.
Dealba, logo depois, o século XIX, chamado o Século das Luzes, que estava fadado às grandes revoluções, glorioso em todas as áreas da
ciência e do pensamento. Os laboratórios erguem-se, a Ciência sai dos porões, a Filosofia subleva-se e as religiões dominantes tremem nas suas
bases. Se é verdade que o espiritualismo ortodoxo estava na retaguarda, a Ciência caminhava pelas ruas de Paris, de Londres, de Berlim, graças
aos grandes gênios que a promoviam.
De um lado, eram as descobertas de Pasteur, de Semmelweis, as pesquisas extraordinárias de Koch, de Lister, as indagações notáveis
daqueles homens, que na microbiologia encontraram a vida e seus fatores de preservação. É o momento de encontrarmos Paul Pierre Broca e o
admirável Jean Martin Charcot, nos seus campos de investigação aumentando os conhecimentos humanos.
Do outro, eram o pensamento filosófico de Marx, Engels, Heine, que tinham necessidade da Razão pura para libertar a natureza humana do
caos.
Em 31 de março de 1848, em Londres, Karl Marx apresentou o seu Manifesto Comunista, e entre as várias frases por ele enunciadas, uma há
que chocou a cultura religiosa: UA religião é o ópio das massas”.
Havia analisado Karl Marx que as religiões condenavam o absurdo dos ditadores, e quando esses morriam, absolviam-nos, realizando missas
de corpo presente e/ ou outras cerimônias, e davam-lhes o reino dos céus... Pediam aos camponeses que se submetessem às suas arbitrariedades,
às suas imposições ilegais e imorais, aos crimes que praticavam impunemente, para ganharem o Reino dos Céus, que era dos humildes, dos
submissos, mas também, por outro lado, salvava aqueles que podiam comprar, através das exéquias fúnebres e de todos os rituais que eram
celebrados em sua memória, o mesmo reino...
Apesar de todo o esforço dos cientistas, a fé cega tentava ressurgir, mas é também nesse período que filósofos como Arthur Schopenhauer
(1788-1860), Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Augusto Comte (1798-1857), proclamam: “Deus? Deus morreu! As igrejas e as catedrais -
como dizia o louco do Assim falava Zaratustra - são os mausoléus de Deus”. Comte teria acentuado: “Se existe vida depois da vida, não importa,
mas proponho a religião da humanidade, que é feita de dignidade, do bem-proceder e, se não a houver, viveu-se, por antecipado, a compensação
natural.”
Schopenhauer sugeria o suicídio como solução para os problemas da vida. É necessário morrer, porque a vida só tem amarguras, só
desencantos e com a morte tudo se acaba.
Conta-se, sem qualquer documentação do fato que, em uma das suas aulas, um jovem aluno interrogando seu mestre, teria mantido o
seguinte diálogo:
- É verdade que o suicídio é a solução?
- Sim, sem dúvida!
- Mas o mestre já viveu uma larga existência...
- Sim, sim.
- Deve ter tido muitas vicissitudes...
- É natural!
- E por que não se suicidou?
Ele teria respondido, filosoficamente:
- Se me suicidasse, quem iria ensinar-lhes a suicidar-se?
Era, indubitavelmente, um filósofo...
No ano de 1870 foi decretada a morte do Cristianismo, graças ao dogma da infalibilidade papal.
O bispo Strossmeyer levantou-se, no Concilio malfadado , e com sua palavra empolgante, rebelou-se contra o absurdo...
Foi, nesse momento grave da cultura e da civilização, que surgiu a Ciência Espírita, originada na observação e no estudo de fenômenos que
sempre pertenceram à História. Em qualquer das suas páginas, eles estão presentes. A Paleontologia, por exemplo informa-nos que, no período
paleolítico, o homem primitivo colocava a cabeça dos seus cadáveres à entrada da furna, para espantar as almas que retomavam a fim de
perturbá-lo. Ainda no paleolítico, acre- ditava-se que as pedras-rituais, os seixos colocados em volta das fogueiras, tinham por finalidade
recordar as personalidades que haviam morrido no clã e ali estavam sendo reverenciadas.
Através da História, seja do Oriente ou do Ocidente, e por meio das personalidades mais notáveis, a imortalidade da alma sempre fez parte de
todas as nações, de todas as filosofias.
Heródoto de Halicamasso, historiador grego, narra que, no século VI antes de Cristo, Creso, Rei da Lídia, o homem considerado mais rico do
mundo de seu tempo, mandou concis) CONCILIO VATICANO I (1869-1870) sultar no santuário de Delfos o deus Apoio para que o aconselhasse a
respeito da batalha que deveria travar contra Ciro, Rei da Pérsia, sendo orientado para que tivesse cuidado, evitando ser derrotado, conforme
aconteceu depois....
Outros historiadores insuspeitos referem-se, por exemplo que, no século V, na Grécia, Pausânias, general espartano, condenado a morrer à
fome no templo de Minerva, ali foi visto várias vezes pelos que freqüentavam aquele santuário, e que Periandro, de Corinto, um dos sete sábios
da Grécia, depois de haver assassinado a esposa Melissa, evocava-lhe o espírito através de uma sensitiva da Desdêmona.
Se recorrermos também à Bíblia, ela se nos apresenta como o livro das comunicações espirituais. Todos os profetas mantiveram contato com
o mundo transpessoal.
Se examinarmos, em particular, Samuel, o último dos juizes, encontraremos o relato a respeito do encontro do rei Saul com a pitonisa, ou
feiticeira de En-Dor, quando Saul resolveu consultar Samuel, homem sábio e justo. (I Samuel, 28, vv I a 25). Ao fazê-lo, a pitonisa reconheceu
que não podería realizar tal consulta, pois havia sido proibido evocar os mortos através de um decreto do rei Saul.
Ele estava disfarçado. Olhando-o, porém, com cuidado, ela identificou com sua clarividência que o visitante era o próprio rei. Ele então lhe
propôs: “Pede para descer Samuel, pois se fui eu quem proibiu a evocação, eu te libero para fazê-lo.”
Apareceu Samuel, em espírito, e dialogou com Saul, pedindo-lhe que cessasse a guerra, pois que, do contrário, se perseverasse, ele e a
família real, logo mais, pagariam com a própria vida a audácia de continuar os combates.
Se recorrermos a Moisés, (Nm.11, 26 a 29), recordar- nos-emos de Medade e Eldade, os dois jovens que profetizavam. Quando o grande
legislador foi notificado por alguém que pedia providências para aquele “absurdo”, ele respondeu com certa melancolia: “Que felicidade seria se
todo o povo pudesse profetizar e que o Senhor lhe desse o Seu Espírito”.
A Bíblia está repleta de anjos, de espíritos, de seres desencarnados que retornam para demonstrar que este é um mundo transitório e, aquele,
é um mundo real.
E a vida de Jesus, anunciada pelos anjos? Precedido pelo Batista, Ele se tornará o Senhor dos Espíritos, dialogará com as entidades
sofredoras, aqueles espíritos perversos e impuros, na palavra bíblica, os espíritos imundos, tendo autoridade sobre eles, expulsando-os.
Mas, Ele próprio, depois de Sua morte retorna várias vezes para demonstrar que a morte não é o fim da vida, sendo apenas uma porta que se
abre de uma dimensão para outra. Ele fala para Maria de Magdala; aparece no Cenáculo; apresenta-se a dois viandantes na estrada de Emaús;
reaparece na Betânia, no dia da ascensão, diante de praticamente quinhentas testemunhas, e volta à estrada de Damasco para falar ao jovem
rabino de Tarso, Saulo.
A doutrina de Jesus é toda apresentada através de comunicações espirituais. Também, através da História, constataremos que Francesco
Bernardone, preparando-se para a guerra e tendo um sonho no qual lhe aparece Jesus, como também mais tarde, nas águas do Spoleto, outra vez,
e, posteriormente, em diversas oportunidades, sempre reerguendo a Igreja, que estava combalida no século XII.
O mundo espiritual sempre trouxe à Terra a revelação de que a vida continua, qual ocorrería no século XIX, quando fenômenos inusitados -
que foram, portanto, de todas as épocas, repetimos - começam a movimentar as mesas, a chamar a atenção. Surge um novo divertimento: as
mesas falam, agitam-se; mesas pé-de-galo, ou tripóides: um tampo arredondado, uma haste central, três patas... Pode-se perguntar-lhes que
respondem, através de raps, de ruídos, de sinais.
Esses fenômenos ficaram mais evidentes na noite de 31 de março de 1848, na América do Norte, no mesmo dia em que nasceu o
materialismo dialético marxista, em Londres. Surge, então o Espiritualismo, mostrando que a morte não é a destruição da vida, sendo apenas
uma ponte entre o corpo e a realidade do ser espiritual.
Logo após, evidencia-se Alfred Russel Wallace (1823- 1913), o companheiro de Charles Darwin, que renunciara à honra de ser o pai da
Teoria Evolucionista, para ceder ao seu colaborador a oportunidade de apresentá-la à sociedade dialética de Londres, em 1859.
Igualmente surgiríam Ludwig Lazarus Zamenhof (1859- 1917), o criador do Espéranto, a Língua Internacional; Samuel Hahnemann, o pai
da Homeopatia, e outros tantos, que tornaram a vida na Terra portadora de melhor qualidade e o ser humano mais dignificado, sob o apoio de
uma pleiade de apóstolos incomparáveis, do Pensamento, da Ciência e do Bem.
O século XX tem pertencido à tecnologia, à cibernética, à biônica, à computação, à engenharia genética. A Humanidade, porém, está
saturada de tantos descobrimentos e conquistas. Agora tem necessidade de beleza, de arte, de religião, de amor, de novas formulações que os
apóstolos espirituais virão trazer. Tudo demonstra que, em poucas gerações, aqueles que desencarnaram na perversidade, na ação do mal, não
mais reencarnarão no Orbe terrestre, sendo substituídos pelos bons, e esses promoverão o progresso da Terra e a transformação moral do planeta
estará sendo realizada sem que transcorram muitos séculos, já que o progresso multiplica-se por si mesmo.
Desaparecerão, então, a violência, as grandes epidemias, pois a criatura humana já não necessitará dos sofrimentos físicos mais grosseiros,
em face do progresso espiritual, que lhe considerará méritos para superar as enfermidades degenerativas, aquelas que desgastam o corpo de
forma cruel, os transtornos psicológicos, os desvios de conduta, abrindo espaços para outras expressões evolutivas. Nossas dores passarão a ser
aquelas de natureza moral, as emocionais, como a solidão, as frustrações, as ansiedades, pertencentes aos conflitos psicológicos, caso não
resolvamos a nossa realidade interna e as necessidades que dizem respeito ao ser profundo que somos.
Nessa Nova Era que está próxima, já não nos reencarnaremos com esses dramas que afligem a atualidade, porque traremos no íntimo
perfeitamente lúcida e detectada, a presença divina que, por enquanto, mantemos adormecida. A sós ou acompanhados, estaremos plenos de paz
e ricos de espiritualidade. Nos dias porvindouros, quando o crime, a fome e a miséria estarão em museus, a posteridade, examinando a realidade
humana de que hoje somos instrumentos, poderá interrogar como nos foi possível passar por períodos tão calamitosos!...

19 O ADVENTO DO ESPIRITISMO
O ano de 1804 foi de uma glória estelar. Na cidade de Lyon, no dia 03 de outubro, havia-se reencarnado Jan Huss, na personalidade de
Hyppolyte Leon Denyzard Ri- vail, sendo este o pato que fora queimado, e que agora será transformado no Cisne de luz que as labaredas
inquisitórias não mais alcançarão. Nasceu em um lar católico, foi educado em Yverdun, na Suíça, junto ao eminente Pestalozzi, protestante,
considerado pai da Pedagogia Moderna.
Compulsando a Bíblia, desde a infância, preparou-se para os grandes vôos. Tornou-se mestre. Veio para Paris e criou o Liceu Polimático.
Casou-se com a extraordinária poetisa Amelie Gabrielle Boudet, mais velha do que ele nove anos, numa atitude de sabedoria, para poder contar
com a grandeza dessa mulher que será o suporte emocional e afetivo da sua vida. Ao lado de cada homem triunfador há, invariavelmente, uma
mulher grandiosa dando-lhe a mão, transformada em círio votivo, sempre aceso, para que tenha claridade pelo seu caminho...
O Professor Rivail apresentou para a Sorbonne várias obras, opúsculos, programas; escreveu uma gramática sobre a conjugação dos verbos
irregulares franceses, recebendo uma comenda oferecida pela Universidade de Arrás... No ano de 1854 ouviu falar pela primeira vez a respeito
dos insólitos fenômenos das mesas falantes e girantes. Homem racional, e profundamente estudioso dos problemas huma- nos, meneou a cabeça,
céptico, esclarecendo: “Não posso crer que uma mesa, destituída de cérebro e nervos, possa pensar”... E porque era muito lógico, concluiu até
aue me provem o contrário!”.
Esse contrário, ele terá ocasião de constatar na última terça-feira de maio de 1855 quando foi à residência da Sr.a Plainemaison, em Paris,
para assistir a uma dessas curiosas experiências.
Ali encontrou uma grande sensitiva que era dotada de dupla vista e de sonambulismo, bem como pessoas versadas em diversos ramos do
conhecimento.! Quando se fez o círculo, a pequenina mesa começou a saltar sem contacto humano, respondendo às questões que lhe eram
formuladas através de sinais adrede convencionados: para sim, um rap; para não, dois raps, para talvez, três. Alguém ia dizendo o alfabeto e, na
letra que lhe comprazia, a mesa emitia um ruído, formando palavras e frases.
Ele ficou intrigado. Pela primeira vez viu a mesa ani- mar-se de um estranho e curioso fluido, a dar-lhe respostas racionais.
Começou a investigar. Em determinada ocasião, indagou:
- Como pode você responder de forma inteligente, se não pensa?
Ele havia apresentado problemas de ética e matemática, formulara perguntas mentais nos idiomas não falados pelos presentes - pois que era
poliglota - e a mesa lhe contestara com absoluta segurança e perfeição, na língua em que fora formulada a questão. Deu-se conta de que era algo
muito mais sério do que pensava. Não era um divertimento infantil.
- Não é a mesa que pensa - veio a resposta - Somos nós, as almas dos homens que viveram na Terra que falamos...
Abriu-se um painel novo; começando o enfrentamento, agora uma nova saga.
O professor Rivail foi estudar os fenômenos, pesquisar essa magna questão. Recebeu de um velho amigo, o Sr. Baudin, cinqüenta e oito
cadernos com anotações, realizou sessões compas filhas desse nobre companheiro, e depois de um trabalho exaustivo e profícuo, no dia 18 de
abril de 1857 apresentou, em Paris, o resultado de suas observações em uma obra, à qual deu o nome de O Livro dos Es- pírMs.
É aquele o momento de nascimento da Ciência Espírita.
O incêndio da imortalidade da alma começou a lavrar em terras parisienses, alargando-se pela França, Bélgica e demais países francófonos,
para depois tomar conta do mundo.
Quando Kardec publicou a Revista Espírita, em janei- ro de 1858, sua correspondência se estendia ao norte da África, à Inglaterra e a outros
países, recebendo notícias de que uma Nova Era estava dominando a Terra.
O mestre Rivail se utilizou do pseudônimo de Allan Kardec, abrindo um leque em torno da Filosofia, da Ciência, da Religião, estribadas na
mais alta moral, para oferecer ao ser humano os equipamentos indispensáveis a uma vida feliz. A adoção desse pseudônimo deu-se para que suas
obras fossem examinadas não pelo autor, ou pelo fato de ser ele um homem famoso, mas pelo seu conteúdo literário e científico.
Nasceu, pois, a Doutrina Espírita, que tem como tarefa precípua a restauração do Cristianismo e sua libertação das interpretações
perturbadoras, vinte e três anos antes de seu homicídio ocorrido em 1870, por ocasião da decretação da infalibilidade papal, tornando-se Kardec
o Missionário da Fé Raciocinada.

20 A PROMESSA DE JESUS
Os ensinamentos de Jesus transcenderam Sua época. “Tenho muita coisa para dizer-vos, mas não podeisenteix- der-me. Mandarei alguém
para poder repetir minhas lições - que seriam esquecidas - e dizer-vos coisas novas, que ainda não podeis suportar.”
Aquelas que podíamos suportar, não foram entendidas...
“Se me amais, guardai os meus mandamentos. Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco - o
Espírito da Verdade, a quem o Mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; vós o conheceis, porque ele ficará convosco para
sempre. Mas, o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem meu Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará
recordar de tudo o que vos tenho dito.” (João, XIV, v 15 a 17 e 26).
Esta Doutrina, que hoje está na Terra reunindo os homens para uma mudança comportamental; esta Doutrina que é a Ciência que afirma - e
prova -, que é a Filosofia, que explica - e consola -, que é a Reljgião que religa - e propõe a salvação, mediante a transformação moral do §e r
humano-, é Jesus pedindo espaço, na manjedoura úmida das nossas paixões, para nascer e renascer, e aqui pontificar num império de luz onde
possamos dar-nos as mãos e repetirmos a canção de Frei Bonnaventura, de solidariedade à irmã natureza, ora agredida e malsinada.
A galeria dos sábios que se ergueram para afirmar a excelência da Doutrina Espírita, é expressiva. Eminentes investigadores como Gabriel
Delanne, Ernesto Bozzano, .Ermacora. o Juiz Edmond, de Nova Iorque, Conan Doyle e William Crookes. Lombroso e Aksakof e tantos outros,
confirmaram os fatos em torno da imortalidade do espírito, assim como sua bela filosofia.
A doutrina chegou, repetindo a necessidade de viven- ciar-se o amor, conforme o fizera São Francisco, que repetiu Jesus, invitando-nos para
a felicidade. Não ao amor passional, mas ao sentimento de ternura e de compaixão, - que faz tanta falta à Terra, tais um gesto de carinho, umafc
palavra de bondade, um sorriso gentil, um aperto de mão.
Quem é tão desvalido, que não tenha algo para dar? E que mesmo não tendo algo para dar, não se possa dar?
Esse é o momento em que devemos abandonar as ambições intelectivas, os debates na justa inglória das vaida- des transitórias para vivermos
o Cristo, através da diretriz espírita; estudar Kardec para melhor conhecer Jesus, penetrar no espírito da Codificação para viver o Evangelho,
porque Espiritismo sem Cristianismo é metapsíquica brilhante. porém, corpo sem alma.
Tentar dissociar-se o Espiritismo da sua feição religiosa - não obstante, sem dogmas, sem ritualismo, sem sacerdócio organizado - é
enfraquecer-lhe a alma, debilitar-lhe o conteúdo iluminativo.
Espiritismo hoie é ação. É o amor em movimento, sem o que, a estagnação cultural, o mercantilismo intelectivo, as vaidades personalistas
que sempre mataram na base, os ideais humanos, se instalarão, em nome de rotulagens novas e em detrimento do essencial, que é a
transformação moral do homem.
“Que vos ameis uns aos outros, como vos tenho ama- do”~ é o impositivo dos dias atuais.
Neste momento de perspectivas dolorosas, de sombras na claridade da luz cultural, de solidão e de soledade, nesses dias tumultuosos,
façamos silêncio interior, sintonizando com Jesus, para dizer-lhe:
Senhor, enquanto os homens belicosos Te pedem espaço para matar; enquanto os ambiciosos Te querem ver para possuir, e os desesperados
Te pedem oportunidade para dominar, nós - que Te amamos - queremos expressar- Te a nossa alegria, a nossa ventura, a nossa ufania por Te
conhecermos.
O Evangelho de Jesus é um poema de aiearia.
Todas as páginas que examinarmos, refletem claridade, amor e alegria. Evangelho foi perseguido, e até hoje continua sendo, pelos cômodos,
pelos que exploram, pelos indiferentes, por aqueles que não têm amor no coração... Nada obstante, Ele brilha, porque ninguém pode deter a luz
do Sol. Por mais terrível que seja a noite, a madrugada chega. Por pior que seja a tempestade, além das nuvens negras há estrelas que fulgem
como diamantes engastados no veludo da noite.
Assim, Jesus é para nós a representação máxima do amor de Deus, Aquele que veio tomar sobre os Seus ombros, dores que não merecia,
para que aprendéssemos a carregar as nossas dores, merecidas; que provou da traição - Ele que sempre é fiel - para que tivéssemos coragem de
suportar o abandono que merecemos.
Mesmo do alto da cruz, procurando os amigos ausentes, porque haviam fugido, teve nos lábios uma expressão de misericórdia: “Oh! Meu
Pai, perdoa-os; eles não sabem o que fazem!”
É a lição maior do perdão, esta, a de compreender que o outro não sabe o que faz, e desculpar, apagar a mágoa, não manter qualquer
ressentimento.
No dia em que esta mensagem penetrar o coração do homem, em qualquer um de nós, já não mais nos sentiremos em soledade, em
abandono.
É neste momento que Ele chegará de mansinho, am- parando-nos.
Há uma linda história de Eça de Queiroz, em que uma çriança morria de febre, a dizer;
- Mamãe, vá buscar Jesus! Sei que Ele me pode curar, mamãe!
A mãe, que era viúva, respondia ao filho, entre lágrimas:
- Meu filho, meu filho!, quem sou eu para procurar Jesus? As estradas da Síria são longas e a piedade dos homens é curta. Os cães viríam
ladrar à porta das casas se me vissem tão abandonada, tão a sós, tão maltrapilha e tão necessitada. Jesus está longe; a nossa dor está conosco, e
Ele está muito distante da nossa necessidade. Não te posso deixar, meu filho, a sós, com febre, neste dia terrível para procurar um Homem, que
ninguém encontra em lugar algum.
A criança, com a espontaneidade e a pureza da sua vida infantil, insistiu:
- Ah, mamãe!, tenho certeza de que se Jesus viesse até aqui, eu ficaria bom. Ouvi falar a respeito dEle, ali na fonte, e que Ele tocou a cabeça
de um doente que suplicava: “Eu quero ficar bom!” E o doente sarou. Ah!, mamãe, vá procurar Jesus!
A mãe abriu a janela. O dia estuava.
Ela respondeu-lhe:
- Como poderei, meu filho?! Vi passar aqui os exércitos de Amós, procurando Jesus de porta em porta, para atender ao seu filho, e ninguém
sabia onde Ele estava; Oreb é rico e tem escravos, e mandou procurar Jesus em toda parte e ninguém O encontra. Por que queres que te deixe a
sós, neste dia terrível, para procurar um mito, que não irei encontrar?
O menino cerrou os olhos tremendo de frio, na febre, e ainda pôde balbuciar baixinho:
- Mamãe, eu queria tanto ver Jesus!
Ela ajoelhou-se ao lado da cama, tocou a cabeça em- papada de suor do filhinho. Não disse mais nada.
Foi nesse momento que a porta se abriu, vagarosamente. Uma voz abençoada como um canto encheu a sala. Uma claridade luminosa apagou
toda a sombra. Aquela voz cantora desvelou-se:
- Eu estou aqui.
Era Jesus.
Na vida de todos nós há um momento que só a presença de Jesus serve. Todos nós, os doentes da alma, em que a saúde é uma ilusão, não
existe. Existe, sim, uma aparência. Quando a doença se apresenta, já estávamos com ela faz muito tempo.
Mais importante do que a aparência da saúde, é a paz do coração, a saúde da alma, pela qual devemos lutar. Ela só é possível quando
tomamos determinados remédios, que se chamam amor, compaixão, caridade, paciência para com os outros, e misericórdia.
Só aí é que a saúde da alma se expande e sentimos verdadeiramente que pouco importa se estamos aqui ou se estamos lá, mais além...
A vida é tão insegura no corpo! Seja o que for, o importante é entendermos que já vivíamos antes de nascer, e viveremos depois de morrer.
“Eu sou a ressurreição e a vida eterna — disse Jesus — aquele que crê em mim já passou da morte para a vida. Vinde a mim e eu vos
aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo; recebei o meu fardo e aprendei comigo, que sou manso e humilde de coração; leve é meu fardo, suave é
meu jugo."
Não nos esqueçamos.
Coloquemos Jesus no coracão. Haia o que houver, como a criança doente, digamos à nossa Mãezinha dos Céus, à Maria Santíssima;
- Mamãe, eu queria ver Jesus!
E ela, a Mãe Santíssima da Humanidade, nos dirá baixinho:
- Um momento, meu filho! O meu Filho está a caminho.
21 É O ESPIRITISMO CRISTÃO?
Há os que chegam a dizer que o Espiritismo não precisa de Jesus, como se ele fosse apenas um tratado de me- tapsíquica ou de
parapsicologia com ética. Mas, nas palavras de Allan Kardec, o Espiritismo é eminente cristão. Todo O Livro dos Espíritos é portador da ética e
da moral. cristã, que Kardec concluiu por ser a mais perfeita entre todas as demais conhecidas.
Algumas pessoas asseveram que se o Espiritismo for cristão, os budistas, os hinduístas não poderíam aderir aos seus conhecimentos.
Não se trata de uma questão de poder; mas somente de querer aderir, porquanto Jesus houvera afirmado: uEu tenho outras ovelhas que não
são deste rebanhoNão é importante saber se Buda é maior do que Krishna, se este é maior do que Jesus. Esse debate é de somenos importância.
Porém, se examinarmos as vidas de Buda, de Krishna. de Maomé, de Abdul Bah’ai, de madame Blavatsky, de Steiner, ou qualquer outro entre os
grandes construtores de filosofias espiritualistas e religiosas, verificaremos que §Q- mente Ele foi em toda a Sua existência incorruptível. Nunca
se apresentou de maneira dúbia, jamais tomou uma decisão que merecesse menoscabo da lógica ou menos respeito da austeridade.
O Espiritismo, sendo a Revelação que Ele prometeu,
é realmente cristão, porque tem por base a caridade e, por conseqüência, o trabalho, a solidariedade, a tolerância, que Allan Kardec se inspirou
nas palavras de Pestalozzi, que na sua metodologia de educação nova, havia estabelecido como essenciais para o êxito: trabalho, solidariedade e
perseverança. Ao apresentar a Doutrina Espírita, por se tratar de uma proposta ético-moral-religiosa, Kardec se utilizou da trilogia pestaloziana,
substituindo a palavra perseverança por tolerância, sem a qual a prosperidade, a honradez e o trabalho não encontram o campo fértil para vicejar.
A conduta do Codificador é eminentemente cristã, ra- \ zão pela qual as suas iniciativas e atividades sempre come- [çam por uma oração.
O Espiritismo fundamenta seus postulados na crença em Deus, pa imortalidade da alma, na justiça divina, na ação da caridade, na oração,
entre outros fundamentos, todos esses hauridos no Evangelho de Jesus, razão por que, do “ponto de vista filosófico é religião”...

22 A PRIMEIRA SESSÃO MEDIÚNICA DA HISTÓRIA


Jesus era rico de doçura, mas também de austeridade. O seu arquétipo animus era tão predominante em a Sua natureza que Ele preferiu
morrer, a ceder covardemente.
Bastava-Lhe ceder e teria sido evitado o crime de que foi vítima! Mas Ele preferiu o holocausto a uma atitude subalterna.
Era um Espírito de tal puiança, que no momento do Tabor, nimbado de luz, com todo o esplendor interno transcendendo a matéria,
transfigurou-se diante de duas personalidades espirituais: Moisés, o grande legislador, e Elias, o admirável profeta, que já eram mortos, e que
dialogam com Ele, que era o Senhor dos Espíritos.
Moisés morrera há muitos séculos, enquanto, Elias, há me- nostempq.sendo que estivera reencamado como João Batista, voltando do Além
para testificar que Ele era o Messias.
Esse evento incomum, sem qualquer dúvida, tornou-se a primeira sessão mediúnica da história da Humanidade, clarõTcom outro nome,
diante de três testemunhas: Pedro, Tiago e João, que ofereceram o ectoplasma para torná-la possível. E Jesus, superior a Moisés e a Elias,
resplandeceu ante aqueles que O adoraram.
Fosse verdade que Moisés houvera proibido a evocação dos chamados mortos, naquele momento, mediante o seu retorno, revogou a
determinação, mesmo porque, estando ele morto, volveu exuberante e vivo, comunicando-se com aqueles que ainda se encontravam na Terra.

23 AS PERSEGUIÇÕES
Alfred RusseH Wallace declarou, certa vez: “Eu era um materialistátãd convicto e tão completo, que na minha ima- ginação não havia lugar
para uma existência espiritual. Mas os fatos venceram-me. Diante de fatos não existem contra- argumentações.”
”“'Ãcômpánhando-lhe a declaração notável, César Lombroso, pai da antiga Antropologia Criminalística, declarou: “Quando me recordo do
ridículo que os espíritas sofrem, coro de vergonha, por mim e pelos meus colegas cientistas, porque também eu sou espírita.”
Cromwel Varjey, que distendeu as linhas da telefonia internacional e .dos cabos transoceânicos, teve ocasião de afirmar: “O ridículo que os
espíritas sofrem, somente parte daqueles que não se deram ao trabalho de estudar o Espiritismo. Não conheço um só exemplo de alguém que o
havendo estudado com isenção de ânimo, não se lhe haja rendidoà evidência?:
Muitos amigos no Brasil e em outros países indagam-me:
- Por que vocêusaa palavra Espiritismo, que é desconsiderada?
- Para que a tenham em devida conta e para que a conheçam - respondo. Somente porque foi caluniada, deixa de ser um nome respeitável? O
Espiritismo é uma ciência, e temos que mostrar àqueles que dele têm impressão negativa, que estão equivocados.
A maioria daqueles que nos fazem tal proposta, depois que nos ouvem um pouco, concluem:
- Mas eu não sabia que o Espiritismo é isso!
- Exatamente - ressaltamos - você conhece tudo quanto o Espiritismo não é. A nossa tarefa é expor o que ele representa, que
significa, e você ainda não o conhece...
Assim ocorre em vários lugares.
Trabalhei numa repartição de pessoas vinculadas a determinada religião. Certa feita, tivemos uma entrevista com o presidente da autarquia
(IPASE). Haviamos sido convidados para ir à Europa pregar em Portugal. Necessitava de tempo para o mister, e fui solicitar uma licença não
remunerada, o que ali me era permitido. Ele me perguntou:
- Para que é a licença?
Respondi:
- Porque desejamos fazer uma viagem à Europa.
- Mas o senhor, um funcionário público, vai à Europa?
- A questão é particular, não vejo por que dizer-lhe. Como funcionário, venho solicitar-lhe a licença, mas o motivo da viagem,
peço licença não informar.
- E se eu desejasse saber por curiosidade?
- Vai ficar sem resposta, porque não lhe direi.
- E se eu negar?
- Da mesma forma seguirei, pois que estou disposto a ir.
- Eu soube que o senhor é espirita!
- Sou, sim, pelo que muito me felicito.
E relanceando o olhar pelo conjunto de papeis que detinha sobre a mesa, insistiu:
- Senhor Divaldo, aqui está, no processo que elaborou, que o senhor vai à Europa para proferir conferências. De quê?
- De Espiritismo.
- E existe isso?!
- A pergunta não se justifica. Se vou proferir conferência sobre Espiritismo é porque ele existe, senão seria paradoxal.
- Então, o senhor deve ser um conferencista muito importante!
- Alguns acham que sim... Desculpe-me a falta de modéstia.
- E se eu não deixar?
- Isso não altera nada. A sua opinião para mim não é tão importante, embora eu a respeite. O que lhe peço é uma autorização legal. Quanto
ao seu pensamento, é outra questão.
- O senhor podería me explicar o que é o Espiritismo?
- Com muito prazer.
- Então, faça aqui, no meu gabinete, uma das conferências que o senhor vai proferir no Exterior. - Falou com certa dose de ironia, que não
me perturbou.
Retorqui-lhe:
- É a primeira vez que tenho um público tão expressivo (éramos ele, sua secretária, que era advogada, e eu), mas se o senhor mandar fechar a
porta, eu a pronunciarei, sim. O que gostaria de ouvir? Reencamação, Deus, imortalidade da alma, comunicabilidade espiritual, problemas
psiquiátricos?
- Deus, já que nEle não acredito.
Voltei-me para a secretária e propus:
- Tranque a porta, por favor, e tire a chave, porque irei falar por uma hora sem interrupção, pois tenho uma ordem própria de raciocinios.
Depois que acabar, o senhor pergunta-me o que quiser.
- Pois bem! - concordou - dou-lhe uma hora.
Pensei: meu Jesus, o Senhor me colocou nesta situação,
lá vou eu. Se houver algum desastre, o problema é Seu...
Falei por uma hora e dez minutos. Quando terminei, ele asseverou:
- Vou conceder-lhe a licença, porém, com remuneração; e para que não seja injusta, lhe pedirei uma tarefa oficial da repartição, para
facultar-lhe ganhar, e para que leve sua mensagem aos portugueses.
Proporcionou-me quase dois meses. Foi em agosto- setembro de 1967, quando fui à Europa pela primeira vez. Antes de sair de seu gabinete,
esclarecí:
- Agora que o senhor já me concedeu a licença, gostaria de dizer-lhe que a viagem me foi oferecida por um casal amigo, que me perguntou:
- Por que você nunca foi pregar em Portugal?
- Porque nunca me convidaram!
- E se o convidarem, você irá?
- Se me derem a passagem... O que ganho é somente para manter a dignidade. Não vivo do Espiritismo. Quem desejar ouvir-me fora de
Salvador, onde resido, deverá proporcionar-me os meios de chegar até lá.
- Pois nós lhe daremos a passagem.
- E o hotel? Não vou poder ficar na rua!
- Não, não! Vai ficar conosco.
E me deram uma lição de beleza comovedora, afirmando:
- Nós somos portugueses, minha mulher e eu, e viemos para o Brasil com muitos problemas econômicos. Aqui consolidamos uma fortuna.
Estamos voltando a Portugal trinta anos depois.
“Estamos levando presentes para os nossos familiares, mas o maior presente que levaremos é você, Divaldo, porque aqui conhecemos o
Espiritismo. É o maior tesouro que este país nos deu, e gostaríamos que o nosso povo o conhecesse. Nós temos dinheiro, mas não sabemos
divulgá-lo. Você sabe falar, mas não tem dinheiro. Então, fazemos um casamento espiritual: você fala e nós proporcionamos os meios."
Era o período do governo Salazar, da sua ditadura imposta ao país. Eram proibidos, sob pena de cadeia, Espiritismo, Comunismo e
Maconaria, porque o Estado era Católico. Fomos e pregamos em subterrâneos, em porões, ao ar livre, escondido. Hoje. Portugal é o segundo
país mais espírita do mundo,
Até então, nunca haviam convidado um espírita para ir à televisão portuguesa.
Há 12 ou 13 anos, estávamos realizando uma jornada naquele país, os jornais estavam dando-nos cobertura.
Havia um programa de muita audiência na televisão e o entrevistador era muito famoso. Fui convidado para uma entrevista, que seria a
primeira no gênero, após a queda da ditadura salazarista. Quando cheguei ao estúdio e sentei-me, lá estavam um padre, um parapsicólogo, uma
psicanalista e, a vítima, que seria eu...
Pensei: sobre Espiritismo tenho a obrigação de conhecer, e eles não; podem não crer, mas não o conhecem mais do que eu.
Quando o entrevistador começou a falar, passou a dizer que o Espiritismo era isso e aquilo...
Ao transferir-me a palavra, retruquei-lhe:
- O senhor veio entrevistar-me ou dar a sua opinião errada? O senhor não tem autoridade para falar sobre o que não conhece. Além do mais,
convidou-me para eu ser entrevistado. Sou uma pessoa inculta, e sei que os portugueses são muito doutos, mas tenho o hábito de consultar o
dicionário. Entrevista, no dicionário da Língua Portuguesa, é um diálogo mediante perguntas que se fazem para que outra pessoa as responda, o
que não está ocorrendo.
Depois das primeiras questões debatidas, o sacerdote católico que lá estava, tocou-se tanto, que declarou de público ser um grande admirador
do Espiritismo.
Perguntou-me onde eu iria falar no dia seguinte (que seria em Chaves, uma cidade ao norte do país).
Pois ele foi assistir à conferência, havendo sido punido pelo senhor bispo, em face daquele atrevimento...
A psicanalista declarou:
- Esses fenômenos são resultados da histeria! Todos aqueles que os produzem são histéricos.
Expliquei-lhe com toda a paciência como ocorriam os fenômenos, eliminando essa hipótese e outras tantas...
Seriam dez minutos de entrevista, mas estendeu-se por mais de uma hora. A partir daí, surgiu um programa na televisão portuguesa sobre
fenômenos paranormais com uma grande audiência no país.
Também, no ano de 1969, quando a Parapsicologia estava na moda, numa viagem pelo continente centro-sul- americano, fui ao Peru, pela
terceira vez. Chegando a Lima, os amigos receberam-me efusivamente e foram logo anun- ciando-me:
- Divaldo, vamos sair do aeroporto e rumarmos na direção de uma emissora de televisão.
Naquela época, havia na televisão do Pacífico, um programa chamado “Sábados à Tarde...” com entrevistas ligeiras, público no auditório,
perguntas por telefone.
Concordei com júbilo.
- Ouça, Divaldo, aquele homem, o entrevistador, é terrível! - observaram eles -, já criou aqui vários problemas.
Refleti comigo mesmo, quanto alguns irmãos espíritas são “amorosos”: primeiro jogam-nos na cilada e, depois, choram conosco...
Inquirí-os:
- E por que me convidaram?
- Ah!, é porque pretendemos ter um debate com ele, através de você.
- Mas eu não sou de debater. Sou uma pessoa da linha evangélica, não me interessando em impor-me a ninguém, pois que ainda estou
tentando me converter (permiti-me esse gracejo...)
- Ah!, mas agora é tarde. Você tem que ir - sentenci- aram-me.
- Muito bem! Somente agradecería que, da próxima vez, pelo menos tenham a gentileza de consultar-me.
Um tanto enigmáticos, concluíram:
- Da outra vez (que não vai ter...), vai depender de como você irá sair-se.
Meditei: “mas que irmãos gentis! Programam a minha ‘morte’ e já cancelam minha ressurreição...”
Colocamo-nos a caminho. Eles foram dizendo-me:
- Ele já desmascarou aqui, desmascarou acolá,...
Em determinado momento, intervim:
- Se querem me assustar, podem parar! Já estou assustado. Não precisam assustar-me mais.
Chegamos. Sentamo-nos à sala, aguardando a entrada do programa no ar. Era o tempo do estrelismo, em que o entrevistador de televisão era
uma coisa algo rara como um “ET”. Vi um homem - o entrevistador - passear daqui para lá, de lá para cá, nervoso. Pensei comigo: é ótimo!,
porque é nevropata; é só ficar bem calmo que ele se desequilibra... Até aqui já ganhei meio ponto. De repente, ele parou e perguntou-me:
- O senhor é quem?
Objetei-lhe:
- E o senhor? Quem é?
A melhor maneira de embaraçar uma pessoa que nos faz determinado tipo de pergunta, é devolver-lhe a mesma, nunca responder-lhe antes.
- Por que o senhor quer saber? - tornou ele.
- Pelo mesmo motivo que o senhor também o quer.
- Ah!, o senhor é o brasileiro?
- Não senhor. Sou um brasileiro.
- Mas não é o brasileiro que vou entrevistar?
- Não sei, pois não sei quem é o senhor.
- Não sabe?!
- Não! Não pode ser tão importante assim. Eu mesmo não sei!
Foi um “tiro”. O homem ficou lívido.
- Eu sou Fulano, o entrevistador!!! - (num tom enfático, obviamente...)
- Ah!, muito prazer, senhor Fulano. Pois é, sou brasileiro.
- O senhor não tem medo?!
- Não! Espero estar diante de uma pessoa, e não de uma fera. Por que devo ter medo?
- Mas não tem medo que o desmascare?
- Francamente, não; a “cara” é feia, mas não tem máscara nenhuma. Só se desmascara quem usa máscara. Eu não a uso.
Ele advertiu-me:
- Vamos ver...
- Sim, vamos ver!
Percebi que ele ficou nervoso. Concluí comigo: ótimo!, já estou com 30% de vantagem; o que me perguntasse e eu não soubesse, diria
simplesmente “não sei!”; não tenho a obrigação de saber.
Havia um bom público, os funcionários, os câmeras e, claro, aquele auditório preparado para vaiar...
À hora em que sentei-me diante das câmeras, percebi que ele não era muito querido, nem pelos técnicos nem pelo iluminador, pois olhei para
um deles e sorri, com o que ele me retribuiu com um rápido aceno de mão. Conclui: esse está do meu lado (precisamos de uma bengala
psicológica em tais situações para servir-nos de apoio...). Olhei para o iluminador, meneei a cabeça. Ele fez alguma reverência, ao que respondí,
com acento de humor:
- Não me ilumine de cima para baixo, porque fico mais feio, pior do que sou!... - disse-lhe, sorrindo.
Curioso, ele perguntou:
- Como é que o senhor sabe disso?
- É porque projeta o supercílio produzindo sombra - aduzi - e eu tenho-o muito alto. Um técnico disse-me que fosse iluminado de baixo para
cima, pois isso rejuvenesce.
Ele sorriu. Ainda pedi-lhe que “não desse dose, por amor de Deus", que me colocasse bem, numa “janela"... Fui usando a linguagem dos
procedimentos técnicos.
Agora, um tanto intrigado, perguntou-me novamente:
- Mas o senhor entende disso?!
- Mais ou menos... Sou objeto de muitas entrevistas.
Ele descerrou-se em novo sorriso e arrematou:
- Gostei do brasileiro!
- E eu gostei do peruano - aduzi.
Na contagem das simpatias contabilizava, agora, "dois a zero”...
Começou o programa. O entrevistador “atacou”:
- Senhor Divaldo, vamos fazer uma experiência de telepatia.
Gelei. O médium não é telepata de encarnados e, sim, de desencarnados. Nunca havia feito uma experiência dessa natureza.
O homem tomou de um baralho com cartas Zenner, começou a misturá-las e olhou-me com aquela expressão de vitória. Morrendo de medo,
embora não deixasse transparecer os meus receios, encarei-o com sorriso, com ares também de vitória. Eram duas “vitórias” a confrontarem-se...
Clamava interiormente: meu Deus, como é que o Senhor faz isso comigo?! Deveria ter-me avisado, pois acharia uma desculpa qualquer, uma
dor de cabeça, uma indisposição, e não teria vindo!
Mas, já estava ali, sentadinho, “rindo”... Aí, apelei para os espíritos. Tenho um espírito muito amigo, um jovem que desencarnou no Rio de
Janeiro, aos 26 anos, e que era arquiteto. Aparecia-me muito, à época.
Supliquei-lhe: - Marcelo, ajude-me, pelo amor de Deus!
Daí a pouco, ele apareceu-me. Respirei aliviado, pois que agora estava amparado. Achegou-se-me, colocou a mão sobre o meu ombro e
falou-me:
- Baiano, agüente firme que vamos “acabar" com ele! (Sorriu com jovialidade).
A entrevista transcorreu muito bem e ficamos simpáticos um ao outro.
Antes de terminá-la, ele disse:
- Senhor Franco, peço-lhe desculpas.
E o fez com o programa no ar.
- Não há por que! Agradeço sua sinceridade, mas quero mostrar-lhe que o “Espiritismo (ele não havia perguntado, mas aproveitei...), é uma
ciência que estuda a origem, a natureza, o destino dos espíritos e as relações que existem entre o mundo corporal e o mundo espiritual” conforme
o definiu o mestre Allan Kardec, e acrescento que hoje mesmo estarei falando na Câmara Municipal de Miraflores (eles não deixavam anunciar),
a partir das 20h, com entrada franca, onde terei prazer de receber o público...
O resultado da entrevista foi excelente para a sua difusão na cidade, no país e nos demais países onde foi apresentada posteriormente.
24 A BÍBLIA CONDENA O ESPIRITISMO?
Muitas vezes temos ouvido dizer: “A Bíblia condena o Espiritismo.” Achamos a questão de natureza tão ingênua, tão infantil e tão destituída
de lógica por desconhecimento das histórias da Bíblia e do Espiritismo, que nos detemos apenas a sorrir, por que a Bíblia não poderia condenar
algo que, à época, não existia.
A palavra Espiritismo foi cunhada no ano de 1857 por Allan Kardec. Ele disse, ipsis verbis: “Para ideias novas, palavras novas. Proponho a
palavra Espiritismo, e define-o, conforme já citado.
É umajpiência, por fundamentar-se na experiência do fato. Não é uma ciência convencional. É uma ciência de observação cuios fatos devem
repetir-se ao paladar do investigador até construir parâmetros, estabelecer princípios basilares como todas as demais ciências.
É uma doutrina de razão e lógica, uma ciência de investigação, uma filosofia de comportamento e uma ética religiosa, trazendo a criatura de
volta ao Criador através da prática da caridade, sem a qual não há salvação.
Para os espíritas Jesus é o Ser mais perfeito que Deus nos ofereceu para servir-nos de modelo e guia.
Apesar disso, não faltam ingênuos e caluniadores, afirmando que não somos cristãos, que não acreditamos em Jesus, se toda a nossa proposta
filosófica é centrada no Seu Evangelho!... Não na letra, que mata, mas no espírito, que vivifies, conforme Ele próprio enunciou.
Qual é a nossa base ético-moral?
É o Evangelho.
E por que o Evangelho? Por que não o Alcorão? Por que não o Vedanta? Ou, o Zendavesta? Ou, O Livro dos Mortos dos egípcios? Por que
não o Decálogo?
Porque Jesus centralizou a Lei e os Profetas no amor, enunciando: Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Aí
estão a Lei e os Profetas.
Recordamo-nos de uma tradição bíblica ancestral. Cem anos antes de Jesus, em Jerusalém,jjm grande rabino, Shamai, era a personalidade
mais conhecedora da tradição. Certo dia, um jovem acercou-se-lhe e solicitou:
- Mestre, desejava que me ensinasses toda a Bíblia durante o tempo em que eu permanecesse de pé, num só pé.
Shamai foi decisivo:
- Impossível! A Bíblia são muitos e complexos livros.
O jovem redargüiu:
- Então, não me interessa.
Saiu dali, e foi a outro profeta-rabino de nome Hilel. Fez-lhe a mesma proposta:
- Gostaria que me ensinasses toda a Bíblia, durante o tempo em que pudesse parar de pé, num só pé.
Hilel foi sintético:
- Ama!.
Calou-se. O jovem, intrigado, questionou:
- Só isso?!
-Só.
- Mas só isso basta?
- Sim, só isso basta.
- E o demais da Bíblia? - insistiu o jovem.
- Bem - arrematou Hilel - toda a Bíblia é para explicar isto. Para quem já ama, não são necessárias as demais explicações...
- Mas, e para aquele que não ama e necessita de todas as explicações a fim de que se torne um homem de bem? - retornou o jovem.
- Quem já o é, não necessita de teoria; quem não o é, necessita de muitas vertentes teóricas para poder conven- cer-se e tornar-se melhor -
concluiu Hilel.
A Doutrina Espírita fundamenta-se, portanto, no Evangelho de Jesus, por ser a Obra mais excelente de que a Humanidade tem notícja. Nada
que se equipare ao Sermão da Montanha, às Bem-Aventuranças, que reverteram a proposta sociopsicológica da Humanidade...
Quando Jesus enunciou: Bem-aventurados os pobres de espírito, os cépticos riram, zombaram disto, porque são de espírito pobre. Os pobres
de espírito não são aqueles que apresentam demência, transtorno mental; são, sim, os pobres do espírito de aviltamento, de orgulho, de sensua-
lidadeLde avareza, de ódio, de rancor, de ressentimento, mas ricos de fraternidade, de ternura, de amor.
O Evangelho de Jesus é a pedra angular de uma nova ciência filosófica, porque explica quem é o homem, de onde veio, para onde vai por
que sofre.
Quem não se há interrogado alguma vez por que tantas misérias moral, fisiológica e mental? Por que Deus criaria uma criança anencéfala,
que jamais poderá ter um desenvolvimento harmônico e a faculdade de pensar? Para quê?
Deus não castiga. Deus é amor. Aquele Deus-terror, ficou no deserto do Saara. Fora entronizado por Moisés para inspirar respeito. João
Evangelista no-IO apresenta em termos elevados: Deus é amor. )
O amor não pune. O amor não castiga, não apavora; o Amor educa e reeduca; o amor ajuda. O amor ama. A figura bárbara, selvagem,
daquele povo nômade que estava sempre em guerras - e até hoje -, que foi escravo de egípcios, de babilônios, necessitava desse Deus na sua
formação antropológica.
Hoje, quando a psicologia filosófica nos ensina a auto- estima, que o amor é uma questão de saúde, o amor deixa de ser uma virtude e torna-
se uma proposta psicoterapêutica.
Dizem os modernos psicoterapeutas que, quem ama não adoece. Hão quer dizer que viva com ausência de doenças. Não será, porém, aquele
que é doente, porque apesar de doenças, o seu amor faz com que administre a deficiência orgânica, psicológica e até mesmo mental.
Já asseverava Cari Gustav Jung que as pessoas introvertidas, de temperamento forte, enfermant muito mais do que as pessoas extrovertidas,
que sorriem e amam.
O Espiritismo, pois, centraliza todos os seus postulados na ação da caridade, que, segundo Pauio* nas traduções legítimas, tem ocasião de
dizer: Mesmo que eu falasse a língua dos anjos e dos santos, e não tivesse caridade, seria como um sino que tange ou um metal que tine.
As modernas traduções, depois do Espiritismo, vêm substituindo a palavra caridade, por amor. Mas não afeta o seu conteúdo. Só há caridade
quando há amor... Que é caridade? É o amor na sua expressão mais elevada. Paulo era o pioneiro da caridade. A fé, a esperança e a caridade,
como a mãe das demais, ensinaria ee.
A Doutrina Espírita vem ressuscitar o Evangelho de Jesus e confirmar-nos a imortalidade da alma; dizer que a morte é apenas o veículo que
nos conduz de uma para outra vibração. Nele retorna Jesus, descrucificado; não mais o Ser patético da cruz, nem o Trágico do Monte da Caveira.
Existem resquícios, seqüelas medievais - ainda as há, na contemporaneidade - de visões de criaturas que se comprazem em perseguir, em
difamar, em nome de Jesus. Não vamos longe: há bem pouco tempo, em Lqndonderry, na Irlanda do Norte, católicos e protestantes matando-se;
na Iugoslávia, macedônios e outros, matando-se; em Israel - povos religiosos -, matando-se. Peculiaridade infeliz essa da criatura humana...
Quem encontrou Jesus, de maneira alguma pode permanecer nessas acusações injustificáveis, dividindo as criaturas, atormentando-as,
asseverando que não são os espíritos que vêm falar conosco, mas sim, satanases...
Hoje, uma ciência nova prova em laboratório que ninguém morre. Os espíritos voltam, identificam-se e vêm pregar o amor, a renúncia, a
caridade, a transformação moral. É a psicologia transpessoal.
Será que o mal pode fazer o bem? Ou que a treva projeta claridade? Não será paradoxal demais acreditar-se que Satanás está ensinando as
pessoas a abandonarem os vícios?
É de uma ingenuidade infantil uma acusação desse quilate...
Pessoalmente, a Doutrina Espírita deu-me dignidade à vida. Respeito todas as religiões e as não-religiões. É mais importante não ter crença
religiosa e possuir dignidade, do que ter religião e não proceder bem. Encontrei, no Espiritismo, não o adversário de coisa alguma, mas o
lluminador de consciências.
Aos quatro anps de idade, em minha casa, brincando, tive oportunidade de manter contato com os espíritos. Tornei-me uma criança especial.
A partir daí via os chamados mortos. Eles se comunicavam comigo, sendo-me tão natural que as pessoas perguntavam-me e as respondia.
Meus pais me proibiam, ameaçavam-me, batiam-me, especialmente meu genitor. Eu apanhava e continuava contando... Meu sacerdote - um
homem extraordinário, dizia-me que aquilo eram forças demoníacas para levarem-me às geenas infernais.
Aos oito anos de idade, tive crise de fé, porque me voltei para Deus e perguntei-Lhe se Ele seria um monstro, em permitir que o demônio me
vencesse! Não podendo Ele pessoalmente com o diabo, como achava que eu podería? Eu orava, ajoelhava-me até criar calos diante do altar,
diante do Santíssimo Sacramento, preservando a chama acesa, na lamparina, pedindo a Deus que me amparasse, e Ele, insensível, indiferente,
deixava-me ao abandono... Fiquei acreditando que, ao invés de ir para o Céu, que tanto queria, iria para o Inferno, porque Satanás, no meio de
tanta gente, gostou de mim...
Assim foi até quando morreu um irmão meu, em 1944. Tive um choque psicológico. Fiquei doente. Dois médicos clínicos que havia em
minha cidade não conseguiram debelar a doença. Por fim, um deles disse: “Foi um choque; se ele tomar outro, ficará bom.”
Éramos treze. Meus irmãos, “muito inteligentes”, levaram a palavra “choque” ao pé da letra, e quase me mataram: gritavam, estouravam
sacos de papel e, um deles, que era ainda “mais gentir, me aplicou um choque elétrico nas pernas...
Continuei o mesmo, até que, um dia, uma prima levou- me à casa de uma senhora que era médium espírita, porque há espírita que não é
médium e há médium que não é espírita.
A senhora olhou-me, e concluiu:
- É esse o rapazinho doente? Mas, ele não tem nada!
Pensei comigo: mas o que esta senhora está querendo
dizer? Estou aqui na cama desde junho - era, então, o dia cinco de dezembro r* e ela vem dizer que não tenho nada! Quando sair daqui vou levar
a maior surra da existência, por estar fingindo...
- Ele não tem nada - repetiu a dama.
- Tenho, sim senhora! - retruquei - Eu não posso caminhar direito.
- Meu filho, você não é doente...
- Sou, sim senhora! - atalhei prontamente.
- ...Você é obsidiado.
Pelo som da palavra, não sabia o que era, mas me pareceu muito perturbadora. Perguntei-lhe, então:
- O que é obsidiado?
- Você está sendo vítima de um espírito doente.
Tornei a inquirir:
- E o que faz ele aqui comigo?
- É seu irmão.
E descreveu-o como se o houvesse conhecido. Na minha ignorância, vaticinei:
- Foi Clarisse, minha prima, quem lhe falou?
Ela sorriu generosa, e acrescentou:
- Não, meu filho, estou vendo-o.
- E a senhora vê os mortos? - indaguei, surpreso.
- Vejo!
Graças a Deus - pensei; mais uma louca. Somos dois...
Fiquei contente, porque até então eu era um louco solitário.
Agora eu tinha uma louca, já velhota, o que era muito bom...
- Eu também vejo os mortos - aditei. Todos dizem que são demônios e alucinações!
Ela, compreensiva, observou com um doce encanto:
- Falaremos depois. O importante é você ficar bom agora. Você sabe orar?
-Sim.
- Então vamos orar. Vou lhe aplicar aquela terapia de Jesuso toque curador, que nós, os espíritas, chamamos de passe. Ore. Feche os olhos.
Mas não os fechei, é claro; isto é, mais ou menos... Queria ver o que iria passar. Cerrei as pálpebras, comecei a orar o Pai Nosso, e ela
atendeu-me através de movimentos rítmicos em torno da minha cabeça e, depois, ao longo do corpo. Aqueles movimentos suaves tiraram como
que uma teia de aranha de sobre mim. Depois de uns três minutos, no máximo, recuou, e disse-me:
- Está bem. Ele já se afastou. Pode levantar-se. Ele estava fazendo com você o que um espírito havia feito na Sinagoga com uma mulher que
era corcunda, e Jesus curou-a. Já está bem, meu filho? Levante-se.
- Não senhora - respondi-lhe; se me levantar eu caio!
- Levante-se - insistiu ela, novamente.
- Não senhora. Toda vez que levanto, caio.
Minha mãe, que era baixinha - as mães, via de regra, logo trovejam - olhou-me. Aquele olhar clássico, de antigamente..., dando-me um
ultimatum:
- Levante-se!
- Mas, se levantar...
- Levante-se e caia! Mostre que você é educado.
Naquele tempo os pais eram atendidos pelos filhos.
Hoje, os filhos dominam os pais, que têm medo dos filhos...
Empurrei os quadris, e quando os pés bateram no chão, tive aquela agradável sensação pós câimbra, dos vasos periféricos sendo irrigados.
Levantei-me.
Era o dia 5 de dezembro de 1945. Até hoje, nunca mais tive qualquer episódio nos movimentos.
A senhora recomendou: “Ele necessita de ir a uma sessão espírita."
Eu fui. E aprendí a amar, a respeitar o meu próximo, a não me permitir vícios, nem o tabaco, nem o álçpol, nem a concupiscência, nem os
chamados vícios outros sociais.
Isto não é uma autobiografia. É uma análise.
Então, se isto é o Satanás, como considerar aqueles que estão sob a proteção de Deus, na depravação, no crime, na sensualidade, na
perversão dos costumes?
Os espíritas não vivemos da religião.
Nenhum de nós recebe algo. Nada. Terminados os deveres normais da atividade do ganha-pão, por meio do qual, com o suor do rosto,
sobrevivemos, e, nas horas de folga, nos períodos de férias, nos feriados, nos dias reservados ao lazer, entregamo-nos à tarefa de servir à
mensagem do amor.
A Doutrina Espírita veio esclarecer-nos que a morte não é o fim da vida. Nós viveremos. Cada qual viverá conforme sua experiência terrena.
A Terra não é um vale de lágrimas, não é um purgatório, não é um lugar maí-aventurado. É uma escola. Toda escola tem deveres. Pode ser urn
paraíso, ou pode ser um inferno, a depender da conduta do aluno...
Vivemos hoje um contexto histórico e sociológico dos mais terríveis. Podemos dizer que os cristãos ultrapassam um bilhão e cem milhões de
pessoas. E a paz? Onde a paz que os cristãos espalharam? Se olharmos os países ditos cristãos, conflagrados pelo crime, pela violência, seria de
perguntar-se o que é que temos feito de Jesus e Sua Doutrina?

25 PROVAS CIENTÍFICAS DA REENCARNAÇÃO


Ao apresentar o seu Tratado de Metapsípuica, 0 eminente professor Charles Richet, mais tarde (1.913) Premjo, Nobel de Fisiologiafêjum dos
pais da Metapsíauica Huma- na, teve oportunidade de escrever um conceito audacioso. Tudo aquilo Que numa época é inverossímil, em
outr a éj)er- feitamente verossímil.
O professor Charles Richet referia-se aos fenômenos, metapsíquicos.
A mentalidade contemporânea do academicismo, no século XIX, recusava-se a aceitar qualquer possibilidade de uma realidade transpessoal.
AJsiologia e a Psicologia, advogavam, então, que a morte era 0 fim da vida. No momento em que se dava a anóxia cerebral, a desoxigenação dos
neurônios, a criatura deixava de existir. Naturalmente, a alma - que era uma sudorese cerebral - deixava de ter legitimidade.
O conceito de Richet chamava a atenção para as ideias novas, os estudos metapsíquicos, pois que os mesmos são sempre combatidos com
impiedade.
Utilizando-nos de seu pensamento, referimos que a reencarnação. apesar de ser conhecida desde aproximadamente seis mil anos, conforme
se encontra exarada no Yçdçntet a coletânea de Obras sagradas da Índia, até hoje encontra sistemáticos opositores, pessoas acadêmicas ou não,
que de maneira alguma entendem ou procuram entendê-la, tendo como ponto de partida uma ideia estabelecida oposta a uma doutrina que
possivelmente nem sequer deram-se ao trabalho de examinar.
Na mesma época, o-notável filósofo pessimista alemão Nietzsche, afirmou que toda ideia nova é. no começo, tenazmente combatida; depois,
ridicularizada, e por fim, é tornada uma realidade perfeitamente aceita.
Tem sido assim, através da História, com as ideias revolucionárias. À medida que os fatos se repetem, oferecendo paradigmas de realidade,
eis que se tornam perfeitamente normais, e posteriormente fazem parte do arcabouço da Ciência. O conceito apresentado por Richet tem cabida
na proposta que iremos examinar nesta seqüência.
Toda vez que se fala a respeito da reencarnação, as pessoas que não estão informadas a esse respeito, apre- sentam-se tomadas por uma
grande surpresa, e dizem que ela não tem a menor lógica, e não se encontra respaldada por nada que a torne credível.
É provável que o grande fisiologista haja reflexionado a respeito do conceito filosófico de Hegel, quando este extraordinário pensador,
fazendo uma análise das doutrinas novas do pensamento, por sua vez, também afirmou: “Tqda. doutrina.nova experimenta os preconceitos
ancestrais em três fases específicas.
“A primeira delas é a negação, a objeção sistemática. E porque perseveram na sua propositura, passa-se ao segundo estágio, o da crítica
contumaz, da zombaria, para que, depois, em face das suas estruturas de segurança, seia aceita por todos.”
É, pois, exatamente isso o que ocorre com a doutrina da reencarnação. Considerada, na área da Filosofia, uma das mais recuadas propostas
da arte de pensar, a reencarnação foi a alma grandiosa do Espiritualismo, no passado, atravessando os diversos períodos do pensamento
histórico. Recebeu, de um lado, o apoio das religiões, e, do outro, o cepticismo das próprias religiões quando a desconsideraram, depois do
Concilio Ecumênico de Constantinopla, a partir do ano de 552, dando-lhe o apodo de doutrina herética. por lhe faltarem bases de natureza
filosófica e cristã.
Não obstante a alegação de ordem religiosa, a reencarnação permaneceu no boio das doutrinas orientais. Mesmo no Ocidente, insignes
pensadores, através dos tempos, mantiveram as teses reencarnacionistas como as únicas portadoras de recursos para darem dignidade ao ser
transcendental, e de explicar, de maneira lógica e insofismável, a Causalidade Absoluta e a legitimidade da Sua Criação.
Foi, no entanto, a partir do advento das doutrinas psíquicas do século XIX, que a reencarnação começou a receber maior contribuição de
natureza científica. Homens e mulheres eminentes, estudiosos e investigadores criteriosos aprofundaram as sondas das suas reflexões no
organismo desse conceito filosófico, procurando encontrar respostas compatíveis com o desenvolvimento da Neurofisiologia, da Psiquiatria e,
mais tarde, da Psicologia e da Psicanálise, e ainda, mais recentemente, das pesquisas experimentais da Parapsicoloqia. da Psicobiofísica g da
PifeotroMia, ftm au- daciosa busca de dados que confirmem a sua realidade.
Marco Túlio Cícero, filósofo latino, orador, esteta, teve ocasião de definir a História como a pedra-de-toque que desgasta o erro e faz brilhar
a verdade. Ao escrever sua obra monumental De Senectute, Cícero asseverou que o grande desafio da vida é o fenômeno biológico da morte.
Apesar desse desafio quase aniquilador, a experiência filosófica de Plutarco, de Suetônio, e de diversos pensadores greco-romanos, sempre
terminava asseverando a jndestrutibilidade da vida e, conseqüentemente, a realidade do ser imperecível.
Aproximadamente quatrocentos anos antesrPitágorasJ o eminente filósofo de Crotona, cuio nome é derivado de Pythios (anunciador) e Guru
(mestre), havia mandado insculpir na entrada de seu santuário, na pedra virgem: UA alma. á uma chama velada. Quando lhe colocamos os santos
óle- r os do amor ela esplendêexuberante; quando descuidamos. empalidece e morre.”
Em Crotona, Pitágoras havia estabelecido a necessidade da iniciação, para que os indivíduos desenvolvessem as potencialidades íntimas,
através da metodologia esotérica em três períodos de sete anos, após o que seria possível comunicar-se com a Sombra dos antepassados,
dialogar com os deuses e evocar as experiências transatas.
Esse mesmo Pitágoras, que acreditava ter sido Eu- phorbus e Hermotimus, através de reminiscências da sua memória profunda, desde as
experiências mais recuadas da Grécia até esse período místico, tornou-se um dos pais da matemática, do pentagrama e das sete notas musicais,
abrindo espaços fantásticos para a investigação científica.
No ano de 1956, no mês de setembro, em Paris, quatro sombras movimentavam-se pelo silêncio da noite, no cemitério de Montmartre.
Tratava-se de uma investigação peculiar. Seria crível admitir-se e constatar-se a preexistência do ser espiritual? Graças a essa interrogação, o
Sr. Dupil, hipnólogo francês, havia convidado três personagens para participarem do experimento: uma jovem de 27 anos, uma senhora de
destaque na sociedade, que era esposa de um deputado da cidade de Meuse, e o repórter Paul Neville.
A iovem. visivelmente hipnotizada, caminhava pelas alamedas do tradicional cemitério parisiense. Chamava-se Denise Crétèil. Era casada,
mãe de três filhos.
Antes daquelas experiências, Denise Crétèil que é de cultura comum, normal, havia sido submetida a testes intelectuais como também a
vários exames para que se pudesse detectar qualquer anormalidade no seu comportamento.
Por sua vez, não havia sido descartada a hipótese de transtorno histeropata ou de natureza esquizóide. Também seus pais haviam sido
submetidos a vários testes psicológicos e psiquiátricos. O resultado foi alentador para o Sr. Dupil: tratava-se de uma jovem saudável da
comunidade francesa de classe média, que não era portadora de arroubos emocionais nem apresentava transtorno de comportamento psicológico.
O Sr. Dupil hipnotizara-a sessenta vezes, e em todas fizera-a recuar à concepção fetal e à vida precedente. Em sessenta vezes, Denise Crétèil
narrara uma peculiar história que deveria ter acontecido por volta de 1802, ali mesmo, em Paris.
Nessa oportunidade, o Sr. Dupil realizava uma investigação científica para poder constatar a legitimidade das informações que a jovem
Denise lhe proporcionara. Naquele estado de transe provocado, ela afirmava ser a reencarna- ção da jovem Marie Lise, que teria sido sobrinha
paralela do Imperador Bonaparte.
Ela contara que sua genitora Pauline Bonaparte, mantendo um romance com o Marechal Lefèbvre, conseguira conceber. Para manter a
situação em reservado, saíra da corte napoleônica. Depois de a criança nascer, mandara-a para uma província da Normandia, onde havia sido
cuidada por um casal de lenhadores.
Mais tarde, quando Pauline Bonaparte se transferira para Roma por imposição do seu irmão, o Imperador, mandou que fosse buscada a sua
filha na província e ficasse numa pequena cidade nos arredores de Paris, chamada Epernet, a trinta quilômetros do Arco do Triunfo. Ali, ela foi
residir na casa da nobre Madame Sévigné, em um castelo medieval, onde experimentara as vicissitudes compatíveis com sua situação de
nascimento.
Recordava-se, por exemplo, que nos meses de agosto e setembro, quando o verão é inclemente em Paris, Madame Sévigné transferia-se de
Paris, para a sua residência em Epernet, onde realizava grandes saraus, nos quais ela tivera oportunidade de conhecer e de privar da amizade de
Honoré de Balzac e de Baudelaire, que havia publicado recentemente a Obra “As Flores do Mal”.
Logo depois, quando chegava o outono e a quadra hibernai, Epernet ficava praticamente abandonada, e ela, cuidada por criados.
Ao atingir 14 para 15 anos, a adolescente descendente dos Bonapartes apaixonou-se por um general também do exército de Napoleão, e que
era considerado verdadeiro Don Juan. Ela se lhe ofereceu em uma atitude afetiva, porém ele, temendo conseqüências imprevisíveis, recusou-a.
Tomada de uma grande aflição, ela se deixou deprimir e veio a desencarnar tuberculosa.
Essa história, mais ou menos estranha, havia sido repetida com maior ou menor quantidade de detalhes por Denise Crétèil, quando assumia a
personificação de Marie Lise, e em momentos outros voltava à sua personalidade habitual.
O Senhor Dupil, naquela oportunidade, fazia uma averiguação. Sabia que a família Bonaparte havia sido sepultada em grande parte no
Cemitério de Montmartre e, se era verdade que ela havia pertencido a uma paralela, a que não era conhecida oficialmente, seria necessário que
dissesse onde estava sepultado o seu cadáver.
Por essa razão, naquela noite, entre os ciprestes que se movimentavam à brisa leve dos ventos de Paris, as quatro personagens caminhavam
silenciosamente pelas alamedas.
Inesperadamente, na parte dos fundos do cemitério, Denise Crétèil/Marie Lise deu um grito e asseverou: “Meu corpo está ali; fui sepultada
além daquela grade.”
Entrou em um estado de aflição inabitual e desmaiou.
O seu hipnotizador, assessorado por seus acompa- nhantes-testemunhas despertaram-na e levaram-na ao apartamento, residência do Sr.
Dupil, para que, por primeira vez, ela tivesse a oportunidade de ouvir as gravações.
A jovem desconhecia, na sua lucidez de consciência, aquelas informações estranhas. Para ela, tratava-se de uma burla qualquer, não fossem
as características da sua voz, tomando conhecimento de que através do seu estado hipnológico ela se identificava como sendo filha de Paulinne
Bonaparte.
Foi programado para o dia seguinte, o desdobramento da investigação. Às dez horas da manhã do dia 16 de setembro, a Comissão
acompanhada pela jovem,
esteve no cemitério diante dos diretores e funcionários.
O Sr. Dupil pretendia desmascarar a farsa, caso o fosse. Reunindo os diretores, os encarregados e os coveiros, apresentou Denise Crétèil,
perguntando se, por acaso, alguma vez, aquela jovem havia sido vista realizando qualquer investigação entre as tumbas; se por acaso ela estivera
na parte dos arquivos tentando encontrar qualquer documento que pudesse contribuir para a identificação dessa personagem fictícia, que estaria
dormindo no seu Inconsciente.
Ante a negativa geral, já que ela nunca fora vista no cemitério por funcionários, coveiros ou pelos encarregados da guarda dos arquivos, o Sr.
Dupil indagou, então, ao Diretor: “Em qual área daquela necrópole estavam sepultados os familiares de Bonaparte, que não eram reconhecidos
legalmente?”
O Diretor afirmou desconhecer esta peculiaridade, mas a investigação foi realizada.
Pôde-se constatar que, na parte esquerda da área final do cemitério, havia um quadrângulo, agora separado por uma grade enferruiada que
tinha acesso por um portão trancado, que desde há mais de 100 anos, naquela época, nunca houvera sido aberta.
Constatada a probabilidade que Denise Crétèil havia logrado identificar o local onde havia sido sepultado o seu corpo, restavam várias
dúvidas.
Seria, por acaso, um fenômeno de hiperestesia indireta do Inconsciente, a captação telepática inconsciente de registros que permanecessem
através de gerações das pessoas que participaram do evento? Como saber se era verdade que o seu corpo ali estava inumado?
Aberto o portão enferruiado, pôde-se perceber que havia breves inscrições sem maiores detalhes.
Os fatos, no entanto, para os investigadores, eram muito inconsistentes.
Depois de uma semana, o Sr. Dupil e os investigadores resolveram, realizar uma experiência mais audaciosa. Com a permissão das
autoridades, resolveram levar Marie Lise - Denise Crétèil - à cidade de Epernet.
Quando chegaram à periferia urbana, ela foi hipnotizada pelo seu magnetizador. Assumindo a personalidade de Marie Lise, este pediu-lhe
que os levasse ao castelo de Mme. Sévigné, e que mostrasse as acomodações onde te- ria vivido.
A jovem, mudando de personalidade e de prosódia da língua francesa, já que a corte napoleônica dava preferência ao francês, conduziu-os
até a casa maravilhosa de Mme. Sévigné.
O Sr. Dupil acreditou que ela possuísse uma faculdade parapsicológica, a de detectar a pregnância, através de cuia possibilidade é possível
realizar-se fenômenos de psi- cometria...
Ela subiu a escadaria bifurcada de mármore, acompanhada agora pelo mordomo e pelas testemunhas e começou a descrever a velha casa
palaciana: “Este era o quarto de dormir de Madame; era neste lugar que ela atendia a correspondência, e aqui era o seu escritório e o seu quarto
de vestir." Descendo, mostrou onde eram recebidas as pessoas para os saraus, mas também onde fazia suas refeições pessoais quando estava de
mau humor.
Depois de haver identificado o palácio, com características de grande singularidade, desceu ao porão em direção à adega. Detendo-se diante
de uma parede, entrou no estado convulsivo. Começou a gritar: “Eu morri aqui! Foi aqui que eu morri!" - e apontava para uma parede.
A surpresa dos investigadores não podia ser maior, porque aquela parede naturalmente não possuía uma passagem secreta.
Esse dado era extraordinário, pela singularidade.
Constatando-se que havia, sim, uma passagem secreta, confirmou-se a informação da jovem hipnotizada.
Feita a constatação com todo o rigor da pesquisa científica o Sr.Dupil apresentou uma série de interrogações:
- “Estaremos diante de um fenômeno de telepatia inconsciente? Basta que recordemos que todas as personagens
envolvidas na história já morreram faz mais de cem anos...
“Seria, então, um fenômeno de hiperestesia indireta do Inconsciente?
“Teria Denise Crétèil, em um estado hiperestésico captado essas informações, que estariam recolhidas em um outro indivíduo, de estado
igualmente alterado, face à hereditariedade de algum ancestral?
“Seria uma farsa, uma hipótese de natureza mágica?”
Por fim, ele próprio anotou: “Depois de vários anos de investigações, resolvo optar pela hipótese da reencarna- ção. Na minha forma de
examinar Denise Crétèil, não tenho qualquer dúvida que ela é a reencarnação de Marie Lise.”
É provável que esta haja sido uma das mais sérias investigações da segunda metade do século XX que abriu espaço para aquelas que haviam
sido interrompidas no começo dos anos 20, ou um pouco antes, durante a 1a Guerra Mundial.
Foi, um pouco antes da década 1880/90, que o hipnotismo adquiriu cidadania, quando Paul Pierre Broca, autor do centro da fala, aceitou a
tese da possibilidade de se retirar do Inconsciente do indivíduo, registros adormecidos, à época, na área denominada como subconsciente. Ele
havia apoiado a tese de que é possível, através de uma indução, levar o indivíduo a um estado de sono e, nesse nível, fazê-lo liberar os conflitos e
traumas, resultados de problemas, de situações embaraçosas que haviam sido bloqueadas pelo Eu consciente.
O notável Jean Martin Charcot, ali mesmo na Salpêtrière, nesse decênio, realizava experiências hipnológicas para, compreender a
problemática das histerias, que seriam fáceis de indução, em razão do distúrbio de que eram portadoras.
Enquanto ele permanecia estudando essas enfermas em Paris, na cidade de Nancv. ao norte da França, a Universidade destacava-se pela
presença de dois homens extraordinários,.os doutores, Bernheim e Liébeau, que acreditavam ser a hipótese da hipnose factível igualmente entre
pessoas saudáveis. Para o' Dr. Charcot, somente os psico- patas, os histeropatas, e as mulheres especialmente, eram passíveis de transe hipnótico.
Para os mestres de Nancy, qualquer Indivíduo, no uso das suas funções podia ser levado ao estado de transe so- nambúlico através de uma
indução hipnológica.
As duas Escolas digladiavam-se, quando o eminente Sigmund Freud abandonou Viena e foi estudar em Paris, havendo travado relações de
amizade com o extraordinário professor Charles Richet, que era colaborador adjunto do grande professor Martin Charcot.
Freud desejava descobrir a vigência, se possível, de enfermidades fisiológicas por causas de natureza psicológica; se seria possível uma
terapia psicológica para liberar a pessoa de conflitos fisiológicos.
E por que a hipnose era uma doutrina nova, saiu de Viena e foi realizar experiências, no que investiu alguns anos, ao lado do insigne
pesquisador.
Mas foi ali mesmo, naquela oportunidade, que o professor Richet escreveu o seu Tratado de Metapsíquica, e ofereceu-lhe um exemplar, que
por preconceito acadêmico nunca o leu. Somente quarenta anos mais tarde, no ano de 1925 é que o pai da Psicanálise leria a obra, lamentando
não se haver dedicado a penetrar na paranormalidade humana em a oportunidade própria.
A hipnose, que então adquiria cidadania, espraiou-se por toda a Europa, facultando a regressão de memória, inclusive, nas experiências de
Charcot, quando a sensitiva Alcina, assumiu a personificação de Galeno, falando e escrevendo em grego antigo....
Foi na cidade de Barcelona, na Espanha, que o eminenteJosé Maria Colavida, espírita militante, considerado o Allan Kardec espanhol,
dedicando-se a investigar a imortalidade da alma, levou ao estado de transe sonambúlico vários pacientes.
Esse Colavida, constatou que existe uma memória além daquela de natureza genética. Essa memória guarda registros de experiências que
precedem à fecundação e que sobrevivem ao túmulo.
As experiências de Colavida abriram espaços para uma grande investigação, assinalada por notáveis nomes como Bouvier, Tartaruga, na
condição de pioneiros da pesquisa científica em torno da reencamação.
Porém, no ano de 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, o Conde Albert d'Aiglum de Rochas publicou a primeira obra específica sobre a
investigação científica das vidas sucessivas: a reencamação. Apresentou a historiografia de vários pacientes que conseguiram recordar-se de
existências transatas, levados até a cinco ou mais reencar- nações anteriores.
Com a Segunda Guerra Mundial e as seqüelas que dela se derivaram, a doutrina da reencamação pareceu dormir nos laboratórios de
pesquisas.
Foi o trabalho notável do psicólogo italiano Assagioli, ao apresentar a sua Psicossíntese, que abriría por volta da década de 1940/50, a
hipótese da ressurreição da doutrina aceita por Gurdjieff, quando, na Universidade de Londres, Pedro Ouspensky apresentou uma série de
Conferências abordando a realidade das vidas sucessivas como fator de- sencadeante para explicar diversos transtornos de natureza emocional e
mental.
As cinco conferências de Ouspensky chamaram a atenção daquela Universidadbmde-espaç«para que um eminente cerebrologista, & Dr.
Robert de Ropftftoje considerado o maior oncologistaBêTíeurônios cerebrais, viesse a declarar, de público, que somente a reencamação pode
explicar os cinco períodos de desenvolvimento da consciência humana.
Discípulo de Ouspensky, por sua vez de Gurdjieff, Robert de Ropp afirma que a reencamação é a chave para explicar algumas das
psicopatologias que aturdem a criatura humana, e, ao mesmo tempo, é a única forma plausível para que se possa entender a diferença de níveis
de consciência. A teoria genética defendida pelas doutrinas vigentes, a eugenia, a embriologia, a embriogenia não são suficientes para isso.
Logo depois, à medida que a Psicologia abandonou o cerebrocentrismo e se tornou-de-natureza transpessoal, le-
vantam-se estudiosos de várias áreas para reavaliar a tese sobre a reencarnação.
No começo do. século XX. um médico americano da cidade de Boston, o Dr. Karl Wickland, examinando seus psicopatas, viu-se
constrafigido a acreditar que, na psico- gênese das enfermidades mentais, há interferência de seres de outra dimensão.
Constatava a obsessão.
Através de uma terapia espiritual, logrou libertar um sem-número de pacientes que lhe chegaram. Escreveu, possivelmente na área fora da
Doutrina Espírita, a primeira obra clássica sobre obsessão e terapia desobsessiva, um livro que se intitula Trinta Anos entre os Mortos.
Anos antes, no Brasil, o eminente Pr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti havia publicado no Rio de Janeiro, a memorável obra A
Loucura sob Novo Prisma, demonstrando que nos processos degenerativos do comportamento psicológico e mental existem fatores aliénantes de
natureza externa, os espíritos desencarnados, como um dos fatores exógenos, embora a presença de fatores endógenos que fazem parte da vida
dos próprios pacientes, a Lei de Causa e Efeito, portanto, a reencarnação.
Mais tarde, na cidade de Uberaba, o Pr. Inácio Ferreira, psiquiatra, graças à mediunidade extraordinária da Sr* Maria Modesto Cravo,
resolveu erguer o Sanatório Espírita de Uberaba. Com critério científico, analisou as enfermidades mentais sob o ponto de vista acadêmico, e
através das informações da Doutrina Espírita, constatando que existem ■psicopatologias de natureza mediúnica, mas também existem aquelas de
natureza reencarnacionista. Em ambos os casos, a matriz que desencadeia a problemática encontra- se no comportamento do paciente em vida
anterior.
"ÀTestá a Terapia de Vidãs~Passadas, à qual ainda nos referiremos mais adiante, documentando, através de regressão semilúcida de
memória, as existências pretéritas, nas quais estão as fixações da nossa agressividade, os conflitos de comportamento, os complexos que nos
aturdem, reconhecidas por personalidades como os drs. Brian Weiss, Pierrakos, Gina Cerminara, entre muitos outros, quais o Dr. Stanislaw
Groff - considerado um dos pais da psicologia transpessoal -, Dr. Abraham Maslow, e uma verdadeira elite de psiquiatras, psicólogos,
psicanalistas, que eram, antes, materialistas, e aceitaram a reencarnação, não xs como filosofia de religião, mas como um fato de laboratório, ” J
constatando a vida antes do corpo e depois dele.
A concepção física não é o momento da criação. A cri- atura não é criadora; é co-críadora, contribuindo para a existência corporal e tendo,
antes dcrberçoahÿkespirftual.
Na década de 1970/80, o Dr. Wilde Pennfield, neuroci- rurgião de Montreal, realizando uma microcirurgia numa pa- ciente anestesiada,
tocou com o bisturi numa área cerebral.
A mulher, que se encontrava adormecida, começou a cantar. Ele percebeu que havia atingido uma área da memória.
Novamente volveu à experiência. Ela tornou a cantar.
O Dr. Wilde Pennfield chegou a uma conclusão surpreendente. Até então ele acreditava que a memória, como as sinapses cerebrais, eram
resultantes somente de impulsos eletroquímicos do cérebro. Se eram resultados desses impulsos e o cérebro estava anestesiado, também estariam
com uma temperatura abaixo do normal, configurando que as comunicações elétricas não se davam, e as comunicações do quimismo cerebral
estavam possivelmente interrompidas.
Como era possível que aquela paciente pudesse cantar?
Naquele momento, deu-se conta de que não é o cérebro o detentor da memória.
O Dr. Pennfield admitiu, então, a hipótese de que o cérebro não guarda a memória total; ele acumula nos seus depósitos as impressões da
memória atual como também parte das passadas.
No ano de 1948. o psicólogo indiano Hamendra Nath Banerjee, havia investigado em seu país 116 crianças que diziam recordar-se de haver
vivido antes. Após pesquisar ãlgumas, escreveu o seuprimeiro trabalho sgbre-reençac- nação como parapsicólogo. Não tinha nenhuma formação
religiosa. Continuou estudando a probabilidade de haver vida antes da vida, e por volta dos anos 60, trasladou-se para os Estados Unidos. Já
havia pesquisado centenas de crianças que se recordavam de existências anteriores.
Graças à colaboração do acadêmico da Universidade de Virginia, o Dr. lan Stevenson, neuropsiquiatra, sessenta casos de crianças foram
investigados com critérios científicos, sendo publicado então um livro, hoje clássico, denomi-
Hamendra Nath Banerjee tem uma documentação tão extraordináriaJ gue assevera:[“A criatura humana é portado- /radeliuiismemónas, a
genética, que é a da concepção e das experiências atuais, a memória cerebral, e a extrace- I L rebral, que não é genética, mas a memória espiritual
das \experiências de outras existências.”
'A-merTTcrrla cerebral é acraels-gue vem no código do DNA e que acompanha o desenvolvimento intelectual do ser através dos vários
períodos da sua formação orgânica. Banetjee havia encontrado crianças que eram capazes de dar informações que não haviam adquirido na atual
existência e, por isso, criou o conceito psicológico de memória I extracerebral.
Apresentada a tese, na condição de parapsicólogo, ele demonstra, à luz da Psicologia, que tudo aquilo que sabemos, aprendemos, direta ou
indiretamente, e essa aprendizagem decorre de quatro tipos de experiências, quais sejam: a coanocitiva. aquela gue tem a contribuição da lóoica,
da consciência, da razão, a gue é resultado das nossas elu- cubracões: a do acerto e do erro, que é repetitiva: tanto repetimos
automática~é7nêfõtlologicamente, que terminamos ~ por aprender; erramos, repetimos, acertamos; erramos, re- petimos e fixamos...
A terceira hipótese, ele denominou como aprendizado através de insight. que é o resultado de uma pesguisade dois psicólogos e educadores
alemãeaufmaTTrelSWeo que realizaram experiências monumenfãis com iTm-aérhefn semelhante ao homemljjrn chimpanzé.
Situaram esse animal numa gaiola e colocaram um cacho de bananas preso a um cordel com roldana a uma distância que não era alcançada
por seus braços. O animal saltava e tentava segurar o que tanto lhe apetece. É claro que não lograva.
Depois de condicionar o chimpanzé, os investigadores tomaram de duas hastes metálicas que se podiam acoplar, sendo que uma delas
terminava por uma ponta curva para poder alcançar o cacho de bananas e foram colocadas dentro da jaula.
O animal saltava inquieto. Demorou observando os instrumentos estranhos. De repente, acompanhado por um espelho de fundo falso, esse
simile do homem tomou de uma das hastes e tentou alcançar as bananas. Quando percebeu que era inútil, atirou-a ao chão, agitando-se mais e,
logo depois, teve um insight, uma iluminação. Pegou as duas hastes e acoplou-as uma na outra. Então, alcançou o cacho de bananas e atendeu às
suas necessidades.
Não se tratava de raciocínio, porque a função cerebral do chimpanzé ainda não lhe permite a manifestação da razão. Era um insight, uma
percepção.
Logo depois, a quarta, que é a experiência de repetir até automatizar. Tudo aquilo que sabemos passou por uma dessas quatro fases.
Como é possível alguém saber uma coisa que nunca aprendeu? Como é possível a pessoa ser portadora de um conhecimento para o qual não
teve nenhuma informação? Hereditariedade? Inconsciente coletivo, de Cari Gustav Jung? Vejamos:
Esteve internado no sanatório de Armentière, na França, um menino de quatro anos, chamado Jean Fleury. Era psicopata infantil e um grande
matemático!... Era capaz de solucionar qualquer equação do 1° grau em poucos segundos; de 2° grau com seis algarismos em outros rápidos
segundos.
É fascinante nos recordarmos também do admirável poeta Goethe, o extraordinário autor de Das Werter. Nascido na Alemanha, em 1749,
aos dois anos de idade, além de falar a língua pátria, sem nunca haver estudado, falava também o inglês e o francês. É óbvio que não se tratava
de uma memória genética, porque seus pais descendiam de alemães.
Mas, se é fascinante o caso de Goethe, mais notável é o de Biaise Pascal, o extraordinário gênio do século XVII, nascido em Clermont, em
1623, e que nos deu os seus Pensamentos, nos quais faz a apologia da religião cristã. Pascal foi tão brilhante, que Chateaubriand, o grande
pensador francês dele escreveu: “É o maior gênio da história da França.” Aos quatro anos de idade, sem livros nem mestres, interpretava até à
32a Proposição de Euclides, revelando- se portador de um conhecimento matemático e místico dos mais extraordinários.
Na mesma ordem de raciocínio, a Espanha deu ao •mundo Lope de Vega, que foi considerado o Fênix do teatro espanhol. Mozart, aos sete
anos, no Palácio de Schõn- brunn, em Viena, tocou composições de sua autoria, para a rainha Maria Teresa, da Áustria.
A lista dos gênios é longa, daqueles que têm uma memória extracorpórea. A psicologia, hoje, através da regressão a existências passadas,
leva-nos aos vários períodos de ações transatas, para libertar-nos da depressão, da esquizofrenia, da impotência sexual, dos conflitos de timidez,
cuias causas estão em existências passadas.
Claro é, que não se trata de uma caixa de milagres, resolvendo todos os problemas, como é compreensível...
As investigações científicas atingem o seu momento glorioso através do Dr. Bernie Siegel, o grande oncologista americano, que tem a
coragem de dizer, por ocasião de suas cirurgias: uQuando abro um corpo humano para uma laparotomia exploratória, vejo Deus nas suas
vísceras; constato o organismo como esta máquina extraordinária e não me posso furtar à realidade da Divindade, que trabalhou equipamentos
tão complexos e tão harmônicos.”
Quando lhe chegam pacientes portadores de câncer
nos estágios mais avançados, o Dr. Siegel pergunta-lhes se desejam a cirurgia amputadora, a quimioterapia ou a radioterapia, ou se desejam
apenas a psicológica. Graças à resposta dos pacientes, ele calcula o seu tempo de sobrevida.
Se o paciente resolve-se pela terapia psicológica, é porque crê na vida, ele viverá mais. Se pede a amputação, terá uma sobrevida mais breve,
pois não ama, não confia nas próprias resistências. Se solicitar uma quimioterapia, uma radioterapia, terá uma probabilidade existencial relativa,
dependendo das suas experiências emocionais.
Acredita o Dr. Bernie Siegel, como também o Dr. Deepak Chopra, que na matriz dos problemas cancerígenos está um desencadeamento de
questões de natureza reen- carnacionista.
É óbvio que um grande número de cânceres já se encontra em nosso mapa genético, para que, em determinado momento, apareça, ü câncer
de útero, o de próstata, determinadas afecções profundas, estão delineadas na organM zação genésica, da mesma forma que o número de óvulos
da mulher já se encontra ali estabelecido. Por que motivo?
Respondem esses tradicionais investigadores da re- encarnação: “Porque o espírito, quando vai reencarnar-se plasma na sua futura
organização material aquilo de que tem necessidade para evoluir, e através dos seus atos - livre arbítrio, conforme o conceito kardequiano - pode
mudar a estrutura do seu carma e até mesmo liberar-se de qualquer probabilidade degenerativa.
Entre os extraordinários casos do Dr. Bernie Siegel, impressiona-me o histórico de uma mulher que estava morrendo de câncer. Ela morava a
mais de mil quilômetros distante da clínica desse médico. Ouvindo falar desse admirável oncologista, disse ao seu médico, na cidade onde vivia:
- “Desejo uma consulta com o Dr. Siegel.”
Ele não foi nada otimista:
- “Para quê? Você está morrendo! Sua probabilidade de vida não ultrapassa poucas semanas”.
- “Apesar disso - contrapôs - desejo uma entrevista com ele.”
Ato contínuo, pediu ao marido que marcasse um encontro com o insigne médico. Com muita dificuldade, fez a longa viagem.
Foi, por ele, gentilmente recebida, constatando que estava chegando tarde demais.
Ao proceder à análise do histórico clínico, ele confirmou que o câncer estava com metástase generalizada. Ela fez a sondagem, ansiosa:
- “Qual é a sua opinião, doutor?”
Leal e realista, ele foi objetivo:
- “Infelizmente, somos médicos, não podemos substituir órgãos vitais. Nem cirurgia, nem quimioterapia... A morte é um fenômeno
inevitável, é uma etapa final de natureza biológica de um ciclo que cessa”...
- “Doutor, e eu terei uma possibilidade em dez?”
- “Não senhora.”
- “Tê-la-ei em cem?”
- “Tampouco.”
- “Doutor, não terei uma possibilidade entre mil pacientes?"
- “Não senhora.”
- “Em um milhão de pacientes?”
- “Bem, em um milhão de pacientes, é provável”...
- “Então, cuide de mim, porque eu sou essa paciente no meio do milhão!”
Diante desse desejo, ele tratou-a, e ela curou-se.
Nesse comenos, ele percebeu que o câncer começara quando ela entrou em processo litigioso de divórcio, e naturalmente desejou morrer
para vingar-se do marido. Ela gerou o câncer.
Descoberta a causa psicológica, começou a trabalhá- la para que vivesse:
- “A senhora irá morrer por causa de um homem? Por favor!!! O que não falta na Terra são homens maravilhosos... Com um conserto aqui,
uma plástica acolá, uma melhorada além, a senhora vai encontrá-los, e muito melhores.
E motivou-a, fez-lhe terapia psicológica de otimismo, aplicou-lhe quimioterapia, estimulou-a. Ela sarou, e concedeu o divórcio ao marido.
Depois de recuperada, quando o marido comparou a “quase morta" com a "quase viva", quis voltar, mas ela agora estava comprometida com
um novo marido, mais jovem, o que nos convida a observar que sair de um “bom câncer” está programado para um bom casamento...(risos!).
Por sua vez, o parapsicólogo indiano Dr. Hamendra Nat Banerjee, acima referido, estudou a problemática na india e em outros países,
conseguindo examinar 1016 crianças que se recordavam de haver vivido antes. Quando esteve nos Estados Unidos, na Universidade de Virgínia,
ao lado do neuropsiquiatra Dr. lan Stevenson, Banerjee igualmente asseverou que, quando ouvimos falar pela primeira vez em reencarnação, as
pessoas que não estão informadas, ou que têm um conhecimento superficial dessa doutrina, apresen-. tam suas conclusões normalmente
apressadas, e natural- mente assumem um dos quatro seguintes comportamentos: »
O primeiro deles, é a negativa. Uma negativa pura e simples. Diz-se: “Eu não creio na reencarnação!".
A seaunda postura é a religiosa. As pessoas afirmam: “A religião que professo nega a reencarnação. Por este motivo, também não creio.”
A terceira propositura é a dos que dizem: “Creio na re- encamacão.”
A quarta colocação é de natureza científica. É a daqueles indivíduos que nem acreditam nem deixam de acreditar na reencarnação. Afirmam:
“Terei, em primeiro lugar, que estudar os fatos para ver se podem resistir a uma negativa, se têm resistência. Ficarei, então, na postura de quem
observa...” São os que estão abertos a uma análise. Embora todos sejam respeitáveis, este grupo merece maior consideração, por ser constituído
de pessoas que pensam, que não estão adrede contrárias a quaisquer ideias, que preferem antes examinar à luz da Ciência, da lógica e da razão,
para depois apresentarem suas próprias conclusões.
Vamos examinar estas quatro colocações, nas quais estamos todas as criaturas da Terra!
A primeira delas é a mais comum. Quando falamos a respeito deste tema com uma pessoa que não está necessariamente equipada de
conhecimentos, eia tem a oportunidade de dizer que não acredita em tal hipótese. Trata- se de quem não se deu ao trabalho de raciocinar; que
não se dedicou ao estudo ou à uma análise a respeito da vida, nem meditou em torno da justiça de Deus e dos fatores que constituem a realidade
da criatura humana. Isso é compreensível, pela razão de que a pessoa acha que aquilo em que não acredita, em realidade não tem fundamento,
não é válido. É-lhe muito mais fácil negar do que esforçar-se para penetrar no conteúdo de quanto lhe é apresentado, chegando a uma conclusão
compatível com suas próprias experiências.
A presunção, muitas vezes, daqueles que negam, é muito grande. Não têm esses a maior nem a menor preocupação de analisar se é ou não
verdade o que pensam. É uma postura cômoda; não é filosófica, porque não se está interessado em aprender. Nega-se tudo aquilo que é
desconhecido e fica-se feliz na maravilhosa ignorância... Culturalmente, estão contra tudo o que seja novo.
São, portanto, indivíduos que não se encontram informados, e dentro de sua jactância — senão ingenuidade - afirmam não crer, pressupondo
não existir, como aconteceu na Idade Média com a imensa ignorância que demorava dominando os paineis da mentalidade de então, quando
simplesmente acreditava-se que era o Sol que girava em torno da Terra. Tabula rasa, essa era a realidade, até que Nicolau Copérnico, Galileu
Gafilei, Tycho Brahe, demonstraram que estávamos laborando em equívoco.
Como resposta, foram dolorosamente perseguidos e execrados. Alguns deles não foram levados â pira da fogueira porque receberam apoio
de alguns príncipes europeus, que desejavam encontrar uma resposta científica para suas incertezas. Acreditamos que hoje ninguém mais tenha
dúvidas a esse respeito, quando pode acompanhar a trajetória cíclica dos satélites artificiais.
Da mesma forma, no passado, o átomo era uma partícuia indivisível, sobre a qual a ciência acadêmica havia colocado as bases da Física
linear de Newton. A partir de 1872, com William Crookes, e logo depois, essa dita partícula indivisível foi penetrada, e encontramos no átomo
um verdadeiro universo miniaturizado. Ainda hoje, os quarks e as micro- partículas que vão chegar à energia, deslumbram os físicos quânticos,
que chegam a dizer que não existe matéria.
Na opinião de Albert Einstein, matéria é energia condensada ou coagulada, e energia é matéria desagregada. Estamos, então, em um mundo
de ondas, mentes, ideias, energias, ainda segundo Einstein, que se apresenta sob variados aspectos em aglutinação molecular.
Da mesma forma, há menos de cento e cinqüenta anos, ninguém acreditava na higiene, na assepsia. As cirurgias médicas eram feitas pelos
médicos com as mãos suias, e os melhores cirurgiões da Europa eram aqueles que tinham os aventais mais manchados de sangue e de pus,
porque isso significava que eles realizavam várias cirurgias.
Quando Inácio Semmelweis propôs em Viena que os médicos lavassem as mãos, foi expulso da Universidade pelo atrevimento de
desrespeitar a classe médica. Por que teriam que lavar as mãos? Afinal de contas, qual era o problema?
Semmelweis havia observado que, na clínica de parto, dirigida pelos médicos, o índice de óbitos era muito elevado, em razão da infecção
puerpéral, e, na clínica que os estudantes atendiam, o índice de óbitos era bem menor. Como era possível que os estudantes, inábeis, salvassem
mais vidas do que os doutores, os magister dixit? Deveria existir, nas mãos dos médicos, alguma coisa que desenvolvia a infecção puerpéral. Ele
pediu que lavassem as mãos. Solicitou, depois, que as lavassem com sabão e passassem uma escova nas unhas. Merece lembrar que ainda não se
havia descoberto os micróbios, o que Pasteur realizaria, logo depois de ser desconsiderado pela Universidade da Sorbonne, como o velhinho que
acompanhava bichinhos voadores através de uma lente.
Expulso de Viena, Semmelweis foi viver em Bruxelas, onde morreu de infecção puerpéral. Mas como podería um homem morrer de infecção
puerpéral se não tinha útero?
No momento em que lhe fizeram a necrópsia, observaram que ele estava com uma ferida no dedo mínimo e, ao dissecar o cadáver de uma
mulher que havia morrido com infecção puerpéral, ele se contaminou.
A partir daí, nasceu a assepsia.
Hoje, quando entramos em qualquer hospital para uma terapia cirúrgica, a assepsia nos dá alta percentagem de êxito nesse tratamento
especial.
O mesmo aconteceu com a anestesia, já que as cirurgias eram feitas com um golpe sobre a cabeça ou altas doses de whisky, para o indivíduo
não sentir a dor. Quando apareceu a anestesia, ela foi tão perseguida que a rainha Vitória, no seu terceiro parto, resolveu tomar uma boa dose de
éter, para não sentir a dor, o que levou a população feminina de Londres a acompanhá-la, por ser elegante fazer o que a rainha realizara.
Hoje, ninguém desconsidera a anestesia.
Então, as pessoas cômodas levantam a cabeça com empáfia, a dizerem: eu não creio na reencamação, como se o fato de elas crerem ou
deixarem de crer, alterasse qualquer coisa. Essas, portanto, não nos merecem qualquer consideração cultural, embora sejam credoras de respeito
pessoal.
Dessa forma, aqueles que negam pelo prazer de negar, ou por que ignoram, não merecem a nossa preocupação cultural. São intelectualmente
cômodos.
A segunda postura é daqueles que afirmam: “Não creio na reencamação porque sou cristão, e na minha religião não se fala 01880.”
É verdade. Não falam. Nessas doutrinas não falam, mas no Cristianismo, sim. Jesus era reencarnacionista. Isto provoca um certo choque
naqueles que estão acostumados com a doutrina de uma existência única. Ora, a vida é única, não há nenhuma dúvida; variadas são as
existências corporais, como já destacamos.
O corpo nosso é um só, mas mudamos de roupa con- forme as possibilidades econômicas e as ocasiões, continuando nós mesmos. O espirito
peregrina no processo da evolução, através de várias existências corporais, até atingir o estado de plenitude. Para o Espiritismo, Deus a todos nos
criou iguais, simples e ignorantes, o que equivale dizer, destituídos de conhecimentos e de complexidades. Vamos adquirindo, através do
processo das reencamações, as experiências, o conhecimento, desenvolvendo os sentimentos até atingirmos a sabedoria, qual ocorre numa
escola, onde a criança avança do maternal ao ensino superior, e em que a mesma pessoa passa por várias etapas de aprendizagem.
Quando, os que dizem: “Meu pastor, ou, o meu sacerdote afirma que a reencamação não existe", ou, “minha doutrina cristã (Católica,
Protestante, Ortodoxa...) nega a re- encarnação, porque não está no registro da vida de Jesus, então, não acredito", ou, “compulsando os
Evangelhos, não encontramos nenhuma vez a palavra reencamação", dão provas de que não conhecem a sua religião ou supõem que a doutrina
dos renascimentos seja uma crença hodierna.
Esse posicionamento faz jus a uma discussão filosófica, porque esses se dizem cristãos e negam a reencar- nação sem jamais terem estudado
a história do Cristianismo, ou leram o Novo Testamento somente em superficie. Não se deram oportunidade em aprofundar o conhecimento para
verificar se o Evangelho fala ou não a respeito da re- encarnação.
Com todo o respeito que nos merecem as pessoas que tâm crença e também aquelas que não na têm, gostaria de deter-me um pouco nesse
grupo, o dos que são religiosos e que a negam.
Vamos examinar por etapas.
A reencamação, na área da filosofia, é uma das doutrinas mais antigas do pensamento filosófico na Terra. Encontramo-la no Vedanta, que é a
coletânea dos livros mais antigos da Humanidade, com origem na fndia e que no seu bojo alberga entre outros o Bagavad-Gita, os Upanixades,
nos quais a reencamação é a base essencial da sua proposta filosófic Krishnam uma oportunidade, dialogando com seu discípuToArajuna
propõe-lhe que deve lutar contra uma classe terrível de adversários. É um dos mais belos diálogos da literatura indiana. Segundo Krishna, o
sábio, o grande guru, a criatura está na Terra para travar uma imensa batalha. Seu discípulo pertencia a uma classe nobre, a classe dos pândavas e
ele deveria lutar com tenacidade contra os kúrus, aqueles que eram portadores das mais terríveis expressões de comportamento.
E Ardjuna ante o desafio da proposta do mestre, pergunta-lhe:
— Mas como eu saberei quem são os kúrus?
Seu mestre esclarece:
— Os kúrus são teus parentes; eles pertencem ao teu clã, à tua família, e são imensamente numerosos. Tu és um príncipe pândava e
naturalmente tens dentro de ti aqueles que fazem parte da tua família, mas são poucos. O jovem, sem entender a elucidação, volta a indagar:
— Mas como terei coragem de combater os meus familiares? Meus tios, meus primos, meus parentes?
Krishna redargúi:
— É necessário travar uma batalha cruenta. Aqueles que são teus adversários, os kúrus, são as tuas imperfeições, são os vícios. E os vícios
são numerosos na criatura humana, e tu deverás lutar contra eles, com teus irmãos, que são as virtudes. Os pândavas são as virtudes.
E o jovem, inquieto, volve à indagação:
— Onde travarei esta batalha?
E o grande mestre lhe responde:
— No campo da consciência. Etapa a etapa, reencarna- ção a reencarnação. Através de vários avatares, de idas e voltas pela roda de
samsara, a roda dos destinos, tu travarás esta grande luta e te sentirás triunfador.
Se recorrermos ao Livro Tibetano dos Mortos, ali está exarada a reencarnação, para explicar a justiça de Deus, para demonstrar que Deus a
todos ama. Não obstante, como filhos de Deus, somos pessoas tão diferenciadas!
Desta forma se explica os que são felizes e os que são des- venturados, os graves transtornos psicológicos, neuróticos, as manifestações
psiquiátricas da esquizofrenia, da catato- nia, as degenerescências de natureza orgânica, a AIDS, o câncer, e todas essas enfermidades que
afligem e atormentam a criatura, â medida que vão devorando o organismo. Esse livro explica que cada um de nós vai realizando o seu progresso
evolutivo, que Deus a todos nos criou simples, ignorantes, e nos deu oportunidade na abençoada escola da vida, para que, etapa a etapa, como
num currículo, cada um armazene bênçãos ou desafios, alegrias ou tristezas; e a Sua misericórdia, que não pune, que não perdoa - porque ama -
nos dá o ensejo para lapidarmos as imperfeições e crescermos na razão direta das nossas próprias aquisições.
No Livro dos Mortos dos egípcios, a mensagem da reencarnação vem através dos hierofantes, dos sacerdotes.
Todas essas doutrinas haviam dividido a sociedade em dois grandes grupos: os esotéricos, também chamados Iniciados, e os exotéricos, os
profanos. Mais tarde, veremos isso em Jesus, quando os discípulos perguntam-Lhe: “Por que a eles Tu falas por parábolas?”, ao que o Mestre
respondeu-lhes: “Porque eles não têm capacidade de enten- der-me. A vós vos falo diretamente” - porque eram iniciados e conheciam a verdade,
mas o poviléu estava distante daquelas informações, e era necessário receber a mensagem através do mito, da parábola, da lenda.
A reencarnação transfere-se do norte da África e da Ásia, e vai habitar a escola socrática, em razão do insigne mestre preconizar a
reencarnação. Platão, seu discípulo eminente, nas obras Deus e a Natureza e Diálogos Socrâ- ticos, fala da necessidade de voltar de novo e
afirma que viver é recordar.
A reencarnação, no entanto, está no Evangelho de Jesus, sendo Ele um grande reencamacionista. Façamos primeiro uma análise do idioma
que Jesus falava, o samareu, que era muito reduzido de expressões. Não era um idioma e sim um dialeto. Os dialetos são muito pobres, não têm
gramática e, muitas vezes, a mesma palavra pode ter uma abrangência muito grande de significados, de acordo com a entonação vocal. Aliás,
nós mesmos encontramos esse fenômeno nas línguas organizadas.
Se recordarmos, por exemplo, a língua portuguesa, poderemos ver quanto isto é verdadeiro.
Se registro aqui o substantivo manga, quem o lê pura e simplesmente não terá condições de entender o que desejo expressar. Pode vir ao
pensamento que se trata de fruta, mas posso estar referindo-me à manga de uma roupa qualquer, ou à manga do candeeiro, ou à manga do verbo
mangar (zombar), ou manga de um pasto de capim. A mesma palavra com vários sentidos.
Para que a pessoa entenda o que queremos dizer com a palavra, necessitaríamos formar uma frase: não venha cá para mangar de mim; a
manga do candeeiro está quebrada; a manga do meu paletó rasgou; a manga é saborosa...
Então, depois de compilada a frase, iremos entendê-la na sua formulação verbal. Por essa razão, muitas vezes, quando estamos lendo o
Evangelho, encontramos palavras contraditórias que nos chocam.
Vejamos: “Aquele que não odiar a seu pai ou sua mãe por mim, não será digno de mim.” Logo depois, Jesus diz: “ É necessário amar pai e
mãe como se ama a Deus”.
Ora bem! Estamos diante de um paradoxo de lógica. Odiar ou amar? Ou Ele estaria errado na primeira colocação, ou estaria errado na
segunda!
Será que o verbo odiar tem o sentido detestar, ter amargura diante de alguém, conforme entendemos nós, os neo- latinos? A grande verdade é
que o verbo odiar, no arameu, tinha um sentido bem diferenciado. Tanto podia ser amar menos, quanto preterir. Assim, “aquele que não preterir
seu pai ou sua mãe por mim, não será digno de mim”; “aquele que não amar menos a seu pai ou sua mãe, não será digno de mim”. Ou seja: entre
seu pai, sua mãe e Deus, tem-se que preterir os pais e amar a Deus, o que muda profundamente o significado.
Em outras passagens evangélicas, vamos perceber que os tradutores foram muito fieis ao texto, mas não tiveram a preocupação de observar o
significado naquela língua em que foi expresso.
Gostaríamos de narrar um incidente de que fomos objeto. No ano de 1969, participamos de um Congresso Internacional de Espiritismo na
cidade do México. Não falávamos muito bem o espanhol, como até hoje ocorre. Tínhamos que proferir uma conferência naquela língua, o que se
deu relativamente bem.
Porém, chegou-me um momento em que desejava utilizar-me de uma palavra que pretendia fosse de impacto. Queria dizer que, naquela
ocasião, estivera angustiado, muito aturdido e não nos chegava à mente o verbete correspondente em castelhano. Meditando rapidamente,
recordei- me que teria a palavra embaraçado também em espanhol e usei-a: e yo me quedé embarazado...
O auditório inteiro caiu no riso.
Achei aquilo surpreendente, porque era um momento grave, pois queria dizer que ficara aturdido. Continuei a falar e superei aquele
momento de humor inesperado.
Ao terminar, o presidente da Central Espírita Mexicana, Don Pedro Alvarez y Gasca, veio ter comigo e informou-me:
- Irmão Divaldo, gostei muito da conferência...
- Não senhor! - atalhei-o, algo saiu errado.
- Mas quando?
- Naquela hora em que disse ter ficado embaraçado.
Ele voltou a rir. Interroguei-lhe, então:
- O que houve? Diga-me, por favor.
- O que você quis dizer?
- Que fiquei aturdido, angustiado. Mas não tinha certeza de que em espanhol houvesse o verbo aturdir.
Ele confirmou, com seu espanhol correto:
- Claro! Você deveria ter dito: y me quedé aturdido...
- Retornamos:
- E por que não embarazado?
- Porque embarazado è grávido.
Logicamente, quando falei yo me quedé embarazado, todo mundo me olhou. Era uma surpresa...
São sutilezas idiomáticas.
No entanto, se pode dizer sob outro aspecto: esta és una cuestión embarazosa, ou, uma coisa embaraçosa, em português.
Ora bem! Se em dois idiomas primos, perfeitamente identificados, temos momentos de muita dificuldade, imagine-se traduzir de um dialeto
para uma língua gramatical, aquilo que foi dito...
Nos dialetos, às vezes são a entonação da voz - já que não têm a gramática - a mímica, que irão ensejar o significado. Eis por que a palavra
reencarnação se encontra embutida no mesmo sentido lingüístico de ressurreição da carne.
Podemos 1er no Evangelho a palavra ressurreição, com dois sentidos específicos: a ressurreição dos mortos e a ressurreição da carne.
Os nossos irmãos das religiões referidas, dizem que a ressurreição da carne é a nossa volta no dia do juízo final, quando a Terra vomitará
todos aqueles que devorou, pelo fenômeno da morte, para que sejam julgados.
Bem se vê que é uma tese bastante ingênua, porque nem todos que morreram foram sepultados. E os que morreram no mar e foram
devorados pelos peixes? E os que se desintegraram sob o efeito das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki? E as vítimas da radiação de
Chernobyl e outras tantas calamidades em que os corpos foram diluidos pela combustão e desapareceram totalmente? Como a Terra podería
devolvê-los, na formulação da carne? E aqueles que foram cremados?
Ressurreição da carne é voltar a nascer num corpo carnal. Dessa forma, o Evangelho de Jesus está repleto da palavra reencarnação, no sentido
nascer da carne. Sucede que não existia esta palavra. Os gregos usavam-na, mas dentro de um outro contexto, a respeito do nascimento outra vez - a
palingenesia (renascimentos sucessivos) - volver a nascer, que nas línguas neolatinas ficou sendo esse “voltar a nascer", como renascer, e, “voltar
a encarnar", como reencamar.
O que havia era a palavra ressuscitar, com o significado de voltar a viver. Jesus usa-a em dois sentidos:
1) A ressurreição dos mortos, quando os desencarnados retornam. Ele próprio ressuscitou dos mortos, veio de além da morte para provar que a
vida continuava.
2) A ressurreição da carne, quando nela ressuscitamos, ou ressurgimos, ou reencarnamos. João é a ressurreição do profeta Elias, que havia
morrido mais de quatrocentos anos antes e que estava agora renascido.
Estão perfeitamente delineados os significados da ressurreição da carne e da ressurreição dos mortos.
Quando Jesus, em Seu Evangelho, falou a respeito do nascer de novo, da água e do espírito, reportava-se ao renascimento carnal, à
reencarnação. Como consideramos anteriormente, nascer da água é tomar um novo corpo. Nascer do espírito, é ter uma nova personalidade. Em
cada reencarnação se é uma personalidade diferente: Antônio, Jorge, Maria,... São processos indispensáveis à evolução.
As pessoas poderão discordar, afirmando: “Isso é uma interpretação que o senhor está dando!" Então, consultemos, novamente a palavra de
Jesus. Eis que pergunta aos Seus discípulos:
- Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?
Os discípulos responderam:
- Uns dizem que és Elias; outros, que és Jeremias, outros que és João Batista, e outros ainda dizem que és um dos profetas que voltou.
Aí está a reencarnação. Para que Ele fosse Elias, que estava morto há vários séculos, Elias estaria reencarnado. Para que Ele fosse Jeremias
ou um dos profetas - João Batista não podería ser, porque havia morrido fazia pouco -, equivale dizer que os judeus acreditavam na
reencarnação, pois todos esses vultos citados estavam mortos. Mas como Ele não era nenhum deles, inquiriu diretamente Pedro:
- E tu, que dizes quem sou?
Simão Lhe redargüiu:
- Eu digo que Tu és o Filho de Deus, o Messias, Aquele que esperávamos.
Jesus concluiu:
- Simão, não foi a carne nem o sangue que te revelaram; foi o Pai que está no Céu quem to revelou.
Ou seja: não foi o cérebro, não foi o raciocínio. Foi uma inspiração. A Igreja Católica proclama que naquele momento Ele disse: “Cefas
(pedra), sobre esta pedra erguerei a minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela.” (Jô 1 v 42) (Mt 16 v 18).
É verdade. Ele disse. Mas não foi de referência à Igreja X nem Y. Foi à Igreja da revelação: sobre esta verdade (a " v verdade que tu acabas de
dizer, Pedro), eu erguerei uma . " igreja, e o mal não poderá derrubar a verdade.
« Pedro havia percebido que Ele não era um Ser reen-
t carnado; era a encarnação do Excelente Filho de Deus que m veio à Terra em missão especial.
Na língua hebraica há uma palavra que significa reen- carnação: guilguP6). Os grandes estudiosos do hebraísmo, os rabinos, os diretores de
massa, os juizes, conhecem a reencarnação sob essa epígrafe. Daí, quando Jesus falou ao doutor da Lei que era necessário nascer de novo, e ele
se surpreendeu, Jesus o interrogou: uMas como? Tu és Doutor da Lei e ignoras essas coisas?!" Nesse encontro Jesus falava sobre a reencarnação.
Mais adiante, serão os discípulos que Lhe farão a pergunta:
- Rabi, está escrito na Lei que antes de vir o Messias, é necessário que venha o Elias. Que dizes Tu?
Jesus respondeu-lhes, ipsis verbis:
- O Elias que deveria vir, já veio. É este (demonstrativo próximo) que aí está.
E eles entenderam que Ele se referia a João Batista. Isto está no Evangelho. Para que João Batista fosse Elias (16) GUILGUL NESHAMOT -
Transmigração das almas.
- que morreu muito antes, como já referido - era necessário que estivesse reencarnado na persona João Batista, que era primo em segundo grau,
de Jesus. É óbvio que os discípulos acreditavam na reencarnação.
O Evangelho de Jesus é todo firmado em apoio à reencarnação. Mais tarde, depois que Jesus morreu, os primeiros discípulos eram
reencarnacionistas.
A reencarnação atravessou a história da humanidade até o ano de 553, mais ou menos, quando então foi considerada doutrina herética.
E por quê?
Naquele ano, historicamente, a Terra estava dividida em duas partes. O Império Romano, que abarcava 0 mundo conhecido de então,
fragmentou-se, no ano de 384, fican- * do como Império Romano do Ocidente, tendo por capital . Roma e Império Romano do Oriente, tendo
por capital Bi- £ zâncio, mais tarde Constantinopla.
O Império, que tinha como capital Constantinopla, era governado por um homem extraordinário, Justiniano, que era também temperamental.
Casou-se com Teodora, uma atriz de espetáculos que tinha vida de dissipações.
Teodora passou à História como símbolo da mulher despótica; era de temperamento viril, culta, inteligente, do- minadora, e muito sedutora.
Vivera antes num bordel.
O Imperador, certa feita, vendo-a, apaixonou-se e des- posou-a, levando-a para ser Imperatriz de todo aquele reino, o qual governou com
mão de ferro. Ela era tão poderosa que interferia na política, com excelentes conselhos na diplomacia, como também interferia na Igreja, 0 que
desagradava o Papa, criando vários atritos com ele, e pelo qual era detestada.
Quando as prostitutas amigas de Teodora viram-na em a condição de Imperatriz, conta-se que começaram a comentar: “A nossa é uma
profissão honorável, pois uma de nós hoje é Imperatriz...”
Teodora, arrependida de seu passado nada louvável, foi tomada de ira e mandou matar todas as meretrizes de Constantinopla, suas colegas de
profissão, para não ter nenhuma
herança. Segundo a História, eram em tomo de 550.
O povo, tomado de ódio contra ela e o seu ato de impiedade, começou a vaticinar: “Ela vai reencamar-se quinhentas vezes para pagar o
hediondo crime!" Naturalmente que reencarnação não é exatamente isto, mas era a interpretação popular...
A soberana, receando ter que reencarnar-se para resgatar esse delito, pediu ao marido, em seu leito de morte, que assim que partisse, ele
anulasse a crença na reencarnação. Não queria vir reencarnar-se. Desejava ir para o reino dos Céus, recebendo o perdão no momento da morte,
mediante a extrema unção.
Nós, indivíduos, somos muito curiosos: quando decretamos que não há mais a Lei da gravidade, a partir disso não existirá mais a gravidade,
especialmente, em face da presunção, sendo-se príncipes, reis ou outros dominadores quaisquer...
Teodora morreu no ano de 548. O marido, que lhe era apaixonado, entrou em depressão, e impôs ao Papa Virgílio, que se transferisse para
Constantinopla, sob pena de criar um cisma. Este, para acomodar a situação, veio. O Imperador exigiu que se realizasse naquela cidade o 11
Concilio Ecumênico. O Papa se opôs, desejando que fosse em Roma. O Imperador, com as armas, ameaçou-o.
Quatro anos depois, 552, Justiniano conseguiu convocar o II Concilio Ecumênico de Constantinopla, que não foi universal, porque o Papa não o aceitou,
somente concordando mais tarde. No ano seguinte, reuniu o Concilio para decidir as teses de Orígenes, o notável pai da doutrina Dos princípios. Nessa ocasião,
através de um artifício, Justiniano propôs considerar-se heréticas as doutrinas de Oríge- nes, as quais diziam ser necessário nascer muitas vezes.
Submetida a proposta ao Concilio, foi ganha, por três votos contra dois...
O Concilio considerou, então, que era uma heresia seguir-lhe as doutrinas, acatando as induções do Imperador, retirando-as do contexto da Igreja Católica
Apostólica Romana, das ortodoxas e conseqüentemente do Protestantismo, a partir de 1515, com Lutero. Através de uma conclusão - condenando
Orígenes e suas doutrinas - condenava-se também a reencarnação, que fazia parte do contexto das formulações de Orígenes. A partir daí, a Igreja
de Roma colocou a reencarnação à margem.
Mas, não há, na Igreja até hoje, um cânone considerando que a reencarnação não exista, exceto o exarado naquele ano de 553, que não tem
valor, porque não teve caráter universal. Ela passou a não ser aceita, tomando-se a sua crença uma heresia; mas também era uma heresia dizer-se
que a Terra era que girava em tomo do Sol; era heresia dizer que a Terra era redonda, quando a Bíblia afirmava que ela ficava parada e tinha a
forma de um disco... Verificou-se, posteriormente, através da Ciência, que as heresias eram verdades, e que a verdade era uma ilusão da
ignorância.
Dessa forma, a partir do ano 553, a reencarnação foi colocada à margem, e começou-se a perseguir e matar os reencarnacionistas, conforme
narra a História. A Igreja uti- lizou-se da heresia para continuar dizimando os reencarnacionistas a ferro e fogo, assassinados. Os últimos
profiten- tes foram os Cátaros e os Albigenses, que foram trucidados na Espanha e na França, até o século XIX.
Mas ela é condenada por quê? Porque as pessoas de vida irregular preferem uma salvação gratuita â própria reparação. Será justo que um
indivíduo, durante 70 anos na perversidade, que corrompe, que usurpa, na hora da morte se arrependa, aceite Jesus como seu Salvador, e vá para
o reino dos Céus, eternamente? E suas vítimas? Para onde irão? Será justo que um homem ou uma mulher, que foram justos, gentis, solidários, à
medida em que se vão aproximando dos 70 anos, entram num processo degenerativo como, por exemplo, a doença de Parkinson ou o Mal de
Alzheimer, uma problemática cerebral, e se revoltem, morrendo nesse estado, e irão para o Inferno? Há os que com isso concordam: “Sim, pois
não morreram em estado de graça!”
Será isso crível e justo?
A reencarnação diz-nos que cada um sempre colhe aquilo que haja plantado. Cada um semeia e vai colher exatamente aquilo que
ensementou.
Dessa forma, os reencarnacionistas foram perseguidos através da História, como vimos, mas apesar disso muitos deles espocaram na
Literatura, na Arte, na Ciência, apesar daquela negação. A reencarnação é um fato histórico e cristão.
Então, quando um cristão diz que sua religião não fala a respeito da reencarnação e por isso não acredita, é porque não conhece a sua crença,
ou tem-na por hereditariedade, pois a mãe era profitente como o pai o era, e ele também o é daquela religião... Porém, ele nasceu nu e anda
vestido; se seus pais foram analfabetos, ele não tem nenhuma obrigação de também sê-lo. A questão de ter uma religião por hereditariedade, não
tem o menor sentido cultural, porque estamos em um processo de evolução, de busca, de cultura.
Recordo-me que estava na cidade do Rio de Janeiro, no mês de julho do ano de 1969, quando o homem alunis- sou pela primeira vez.
Quando a nave Apoio chegou à Lua e a televisão mostrou o homem saltar e lá pisar, fiquei emocionado e vi a colocação da bandeira
americana (pensei comigo mesmo: bem que podería ser a bandeira do Brasil, mas como sempre chegamos depois, talvez um dia...).
Naquela noite, eu teria uma conferência na Faculdade de Psicologia da UERJ e me veio buscar uma professora que era psicóloga. Entramos
em seu automóvel e, no meu entusiasmo em ter visto o homem chegar à Lua, enquanto nos deslocávamos, voltei-me em sua direção, e disse-lhe:
- Doutora, hoje é um dia notável, um dos maiores da humanidade porque o homem logrou uma conquista maior do que a de Cristóvão
Colombo chegando a América!
Ela, continuando a dirigir, naquele trânsito tranquilo do Rio de Janeiro, perguntou-me, curiosa:
- Mas, por que é um dia notável?
- Para mim - respondi-lhe - hoje é um dia maior do que o da descoberta do Brasil ou da chegada de Cristóvão Colombo à América.
- E por quê?
- Porque o homem está dando seu primeiro passo na conquista do Universo. Estamos conquistando o Sistema Solar, em breve iremos
colocar nossas bandeiras em Marte, e dali saltaremos na direção do Infinito.
Ela olhou-me de esguelha, e perguntou-me com certa ironia:
- Professor Divaldo, o senhor acredita mesmo que o homem foi â Lua?
- Doutora, não é uma questão de acreditar - observei - eu o vi chegar â Lua, o que é uma coisa diferente de acreditar ou não, porque não vai
mudar em nada...
Ela parou o carro e dirigiu-me um olhar de reprimenda, acrescentando:
- Eu não posso conceber que o senhor, um homem lúcido, um tanto inteligente, vá acreditar que o homem chegou à Lua!
Então, fui eu quem ficou surpreso, redargüindo:
- E a doutora não acredita?
- Não! Em absoluto. O homem jamais chegará â Lua.
- E por que ele não conseguirá ir â Lua?
- Porque Deus não permite.
- E por que a senhora pensa que Ele não permite?
- Porque sou de tal ramificação protestante. Minha religião diz que Deus não vai deixar que tal aconteça.
Voltei a interrogá-la:
- E Ele telefonou à senhora para dizer que não deixa?
Fiquei estupefato ao verificar que uma psicóloga, uma
mulher com nivel universitário, podia manter uma teoria, qual a de que Deus não deixaria o homem chegar â Lua! Era alguém que se negava a
aceitar a realidade de um fato. Havia lido a Bíblia, e os astros, na concepção biblica, têm uma condição divina e sobrenatural, por isso ela não
podia aceitar que o homem tivesse chegado à Lua, porque seria desafiar as Leis de Deus.
Sorri e silenciei. Não desejei dialogar, pois seria, de certo modo, perda de tempo e o estremecimento de nossa amizade que mal começava...
Deixei que ela continuasse sem acreditar, porque não era importante que nós dois acreditássemos ou não. O importante é que o homem havia
chegado à Lua.
Felizmente sobrevivemos...
Assim, diante da reencarnação, há pessoas que me dizem: MDeus não deixa que o espírito se reencarne, porque o apóstolo Paulo escreveu que
a vida é única, e logo depois que morre, vem o juízo. Mas, está certo, ajuntamos. Nunca dissemos que a vida é múltipla. A vida é única, mas as
existências corporais são várias, porque o Espírito fora do corpo está na vida; o espírito dentro do corpo, está na vida. Trocamos de roupa sem
estarmos a trocar de corpo, da mesma forma age o espírito com o corpo. Se visto um escafandro e desço ao fundo do mar permaneço eu próprio.
Se volto à superfície enxuta e retiro esse escafandro, continuo o mesmo.
O corpo é um escafandro que o espírito usa, para mergulhar na esfera terrestre, assim como o escafandro é um artefato de que o homem se
utiliza para penetrar nas águas abissais.
Quando realizávamos a divulgação do 4° Encontro Pela Paz, atendendo a solicitações de entrevistas pelas redes de TV, foi-nos endereçada a
seguinte pergunta: “em Hebreus, 9, v.27 declara-se que “E assim aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disto o juízo"; o
Espiritismo fala que tem reencarnação quando a Bíblia diz que o homem morre somente uma vez. Gostaria de esclarecimentos sobre isso."
Salientamos que, se fizermos um estudo da palavra homem, veremos que se trata da pessoa que. Eu sou o homem Divaldo, ou eu estou o
homem Divaldo. Nessa condição de homem Divaldo, refiro-me a uma personalidade.
A palavra personalidade vem do grego persona, máscara. Sou alguém que se apresenta hoje com esse aspecto. Quando Divaldo morrer, vem,
naturalmente, o juízo, vem o julgamento, mas o ser que tem o nome Divaldo, já teve o nome de José, de Pedro, de Margarida, ou outro nome
qualquer, e é o espírito eterno. O espírito que viveu a experiência Divaldo, desperta na consciência, e naturalmente, terá que prestar depoimento,
prestar contas do que fez, através da consciência que é seu tribunal, estabelecendo- lhe a felicidade que merece ou o retorno ao proscênio da
Terra, assim elegendo o resgate numa nova etapa, para reparar os equívocos perpetrados, não mais como Divaldo. O espírito é o mesmo embora
usando a nomenclatura de uma nova personalidade.
As personalidades são múltiplas, a individualidade é eterna, é única, é o Espírito. A criança adentra-se na cultura indo a uma escola maternal,
depois à creche, ao jardim de infância, ao fundamental, e sucessivamente... O ser humano é o mesmo em diferentes etapas do processo de
crescimento e de cultura. Quando alegam que vem o julgamento porque termina a vida, por ser única, estão dando uma interpretação que não
corresponde à verdade.
Está no Evangelho, conforme se pode verificar no belo diálogo de Jesus com Nicodemos, que é necessário nascer do espírito e da água, para
poder entrar no reino dos Céus. Daí, o Espiritismo, como a Teosofia, como o Hinduísmo, como o Budismo e outras religiões, fundamenta sua
doutrina da reencarnação no próprio texto evangélico. A ressurreição da carne difere da ressurreição dos mortos, como já referido. Os mortos
ressuscitam na carne porque se reencamam.
Acrescentaremos, ainda, que no Evangelho, a palavra está ressurreição da carne. A carne que ressuscita é o espírito que toma um novo corpo
carnal.
Por esta razão, quando alguém diz "eu não creio, porque minha religião não me permite”, é uma questão totalmente ultrapassada, pois não é
o que a religião nos diz e, sim, aquilo que nós iremos examinar, ou seja, se o que a religião diz está certo ou errado. Não é o rótulo; é a qualidade
do produto o que se deve ter em conta.
Logo, esse segundo argumento, é falho.
O terceiro argumento, é o dos que dizem, “eu creio na reencamação." Somos espiritas, rosacruzes, teosofistas, hinduistas, budistas,
antroposofistas,... Somos apenas algo em torno de mais de dois bilhões de pessoas que cremos na reencamação.
É necessário verificar se esses que nela crêem, fizeram da sua vida um poema de lógica, por entenderem-na. Quando algo de desagradável
acontecer, e perguntarmos:
“e onde está Deus?; por que isto me aconteceu?”, provamos que a crença é somente uma tese e não uma realidade que vivenciamos. Os que nela
acreditam, terão a postura positiva diante da vida. Saberão, que tudo quanto acontece, obedece a uma lei, a de Causa e Efeito, e que só ocorre
aquilo em que nela estejamos incursos, ou que seja o melhor para nós.
Todo efeito provém de uma causa. É uma lei da Física. O que chamamos de desgraça, infortúnio, tragédia, são lições da vida, já que a vida
física não é a verdadeira. A verdadeira, é a espiritual, e nesta escola, nós passamos por vicissitudes, por problemas. De acordo com nossa
conduta, poderemos ter uma vida feliz ou desventurada.
Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, estabeleceu que todo efeito inteligente vem de uma causa inteligente. Eis por que as nossas
dores, as nossas aflições, as nossas enfermidades, as nossas dificuldades sócio-econômicas, as tragédias, as desgraças que desabam sobre nós, o
infortúnio, não são punições da Divindade, mas consequências dos nossos atos passados. Somos os autores do nosso destino.
Essa é a grande mensagem da reencamação: não existe dor atual sem causa anterior. Somos semeadores. Aqueles que semeiam urze ou
cardo, não podem colher uva nem trigo. Tudo o que semeamos, somos convidados a colher.
Dai, as nossas ações trazem reações. A maneira melhor de enfrentarmos as vicissitudes e amarguras, é mudarmos de atitude mental, e logo
moral. Se hoje choro, estou recolhendo os atos amargos das minhas atitudes infelizes.
Porém, Deus não deseja que eu sofra, pois Seus desígnios são para que todos sejamos felizes.
A reencamação, conforme o Budismo, a Teosofia, o Hindulsmo, o Rosacrucianismo e outras doutrinas que daí se derivam, às vezes,
apresenta-se com caráter punitivo. Algumas propõem que, se reencarno-me como leproso, ninguém me deve ajudar porque estou queimando o
mau carma, de referência aos atos negativos que pratiquei em outra vida.
O Espiritismo apresenta a reencamação sob o enfoque cristão: não estamos na Terra para sermos punidos, mas para nos reabilitarmos dos
erros cometidos. Nossa experiência humana não é punitiva, é reeducativa. É o aluno rebelde que está repetindo o curso, não como castigo, mas
para que aprenda a agir corretamente.
Um professor que promove um aluno incapaz, está punindo a sociedade. Durante todo o ano, enquanto os outros estudam, ele é negligente,
desrespeita os mestres. Chega a hora do exame, é claro que será reprovado. Então, não estamos diante de uma punição, mas de um ato de justiça.
Não é justo dar ao mau aluno o mesmo prêmio que ao bom. Esse aluno incapaz será um cidadão péssimo e um profissional desqualificado. O
que faz a pedagogia? Faz com que ele repita o curso, a fim de equipar-se do conhecimento. A melhor medida para ajudá-lo é reprová-lo, porque
assim ele irá aprender. Enquanto não aprender, não vai promovido.
A reencamação, para nós, tem esse caráter educativo: eu não estou pagando. Estou reabilitando-me, reeducando- me, reparando aquilo que
desorganizei.
Muda completamente de significado o sofrimento e apresenta uma postura psicológica muito mais nobre, com a qual devemos ajudar aos
infelizes, àqueles que são ree- ducandos e que estão no processo de reabilitação, pois a doutrina de Jesus tem como base fundamental o amor.
Que fazer, então?
Semear bênçãos, para mais tarde colher-se alegrias.
Se estou com um problema orgânico, emocionai, econômico-financeiro, um drama no lar, encontro-me diante de uma conjuntura que é efeito
de uma causa que eu próprio desencadeei.
Se desejo a felicidade, irei agora gerar futuros efeitos através de atos nobres: o perdão, a caridade, a misericórdia, a complacência, a auto-
superação mediante os quais, não odiarei a quem me odeia, não retribuirei mal por mal, ofensa por ofensa. Se alguém não gosta de mim, o
problema é da pessoa; quando eu não gosto de alguém, o problema é meu. Se alguém me odeia, pior para ele que vai ter dor de cabeça toda vez
que me veja. Quando sou eu a odiar, isto se configura como uma verdadeira desgraça para mim!
A reencamação propõe-nos uma visão otimista a respeito da vida. Dessa forma, explica todas as disparidades sociais, morais e intelectuais.
Por que há pessoas que tudo quanto fazem dá errado, e outros, que quase nada fazem, e tudo sai-lhes bem?
Por que há uns que nascem na miséria, vivem na miséria e sucumbem nas palhas da miséria?
Por que a saúde de ferro de alguns e a fragilidade de outros?
Por que nascem crianças fadadas à morte quase imediatamente, por crimes que não praticaram na atualidade, e outras que vivem na Terra
desde o momento inicial em berço de ouro; são perversos, são ingratos, e apesar disso, progridem?
As religiões da Antiguidade oriental afirmavam que a vida é uma sucessão de experiências, nas quais o Espírito entra e sai do corpo sem
entrar nem sair da vida.
Por que a diferença de destinos?
Por que dois irmãos gêmeos, univitelinos, um se torna artista e outro malfeitor? Vieram eles da mesma célula, que se dividiu; foram
educados no mesmo lar, e, no entanto, têm destinos tão diferentes!... Um se torna um homem nobre e o outro um bandido...
Por que a maioria de nós está sempre na amargura, no desencanto, e outros na comodidade?
É que os Espíritos não têm a mesma procedência.
No tempo de Jacqueline Kennedy Onassis, lemos numa revista em que ela, agora casada com o milionário grego, um dos mais ricos da
época, quando saía da ilha grega de Skorpyus (ele era dono da El Lal, uma companhia aérea), ia na primeira classe. Sozinha. Ninguém a
perturbá- la. Hospedava-se no Hotel Alexander em Paris, o mais caro do mundo. Ela levava sua própria roupa de cama, os tecidos trabalhados
especialmente, porque a roupa do hotel ela não gostava. Fiquei admirado. Que mundo paradoxal!
Lembrei-me, então, das mulheres americanas, do tempo do far-west, que subiam nas carroças com seus maridos e viajavam na direção do
oeste. As carroças eram queimadas pelos índios, todos eram estripados. Recordei-me daqueles pioneiros que faziam suas primeiras fazendas,
chegavam os bandidos e matavam-nos, assassinavam-nos impiedosamente...
Então, pensei: meu Deus, é injusto! Aquela gente sofreu tanto para que essa dama - e outros milhares - possam desfrutar em excesso...
Percebí, no entanto, que tudo está certo. Ela, hoje desfrutando dessas comodidades, por certo foi, no passado, uma daquelas mulheres
estóicas, que avançou na direção das minas de ouro da Califórnia, ou que se dirigiu para as regiões de Chicago e foi escalpelada durante a longa
viagem. Ela (Jack) alargou os horizontes do seu país e veio, agora, recolher as bênçãos da sua sementeira. Naquele tempo foram os horizontes
geográficos que ampliou. No entanto, hoje, foram os horizontes políticos e culturais que estava fazendo crescer.
Outras pessoas, que nascem em famílias abastadas, são psicopatas, anencéfalas, portadores de hidrocefalia, de macrocefalia ou microcefalia.
Por quê? Porque ontem usaram a inteligência de maneira perversa, como hoje o fazem os fanáticos e terroristas, as pessoas crueis.
Não nos será necessário examinar o que se passa entre os Estados Unidos e as nações do Oriente, pois nas ruas das nossas cidades os
estupros, as violências desmedidas, os assassinatos crueis, perversos, injustificáveis, são constantes.
Até se pode entender que haja o furto, o roubo. Até se pode compreendê-los em face da miséria moral, social e econômica dominante,
embora não sejam justificáveis... Mas, a perversidade de atirar pelas costas, de estuprar uma senhora à vista do marido e das crianças, em um
estado pior do que o da selvageria, é de uma crueldade que o Espírito inscreve em si mesmo, e em outra reencarnação vem encarcerado em um
corpo que não responde a seus impulsos, na loucura, nas alucinações, perseguido pela memória de culpa, angustiado, a fim de ressarcir.
Eis a justiça das reencarnações.
Equivale concluirmos, diz a Doutrina Espírita, que estamos na Terra para evoluir.
Então, os que dizem: “Eu creio na reencarnação”, deveremos mudar a estrutura moral e espiritual da Terra. Quando nos acontecer algo
desagradável, como a morte de um ser querido, um acidente, uma tragédia, um infortúnio financeiro, a perda de um emprego, uma traição, ao
invés da revolta ou de perguntarmos porque, já sabemos: estamos colhendo os frutos podres da nossa sementeira de anarquias.
Não é uma doutrina de resignação estática, como alguns acusam.
É, sim, dinâmica: “Eu aceito isso”, mas não vou ficar chorando. Vou trabalhar para criar fatores que me tornem feliz.
A quarta proposta é a dos que dizem: “Não creio, nem descreio, porque nunca li nada. Não tenho experiência, não sei de nada. Não tenho
provas favoráveis nem documentações contrárias.”
Para estes, nasceu a Parapsicologia. Para estes, a Ciência Espírita advoga vários fatos, as evidências, as provas que levam à crença na
reencarnação.
Banerjee chama essas pessoas racionais, lógicas, científicas. (Estamos abordando a tese de Banerjee). Essas pessoas requisitam fatos. Existirão
fatos que provem a reencarnação?
Indubitavelmente.
Além da proposta evangélica, passemos agora às experiências. Vamos sondar a Psicologia.
A Psicologia sempre teve muita dificuldade em explicar uma coisa simples, que acontece com todos nós: a simpatia e a antipatia.
Por que simpatizamos ou antipatizamos?
Como a Psicologia não sabe exatamente o porquê, diz- nos que nosso organismo produz uma descarga de adrenalina, que é uma substância
fabricada pelas glândulas su- pra-renais, e nós gostamos ou não gostamos de outrem, no momento que o vemos.
Por que essas glândulas, quando vejo Beltrano, produzem uma substância que me diz: HVai gostar!” e, quando vejo Fulano, outra descarga
que me diz: “Com esse não simpatizei" ?
É porque entramos num campo vibratório que especifica sentimentos profundos ocultos.
Olhamos uma pessoa que nunca vimos, e pensamos: engraçado, tenho certeza que a conheço de algum lugar, mas não sei de onde... E vem
aquela aura de simpatia ou de antipatia, que nos faz concluir, por exemplo: não vou entrar muito nas intimidades, porque essa criatura não é
digna. Já me traiu...
- Mas você nunca a viu! - observa-se.
- É, mas tenho certeza que se ficar com ela, vai me fazer alguma coisa negativa...
E acontece!
A simpatia e a antipatia são evidências da reencarnação, porque estão no bojo da nossa realidade anterior. No caso em tela, trata-se de uma
pessoa querida de outra vida, ou de uma pessoa detestada, que nos fez mal e criamos a seu respeito um certo ressentimento.
Pessoas há que nos tratam bem, com ternura, e nós não gostamos. Outras, tratam-nos mal, são rudes, e dizemos: “Não é masoquismo, mas eu
gosto!" São reminiscên- cias de outras existências.
Por que pais odeiam filhos? Por que filhos odeiam pais? O Conflito de Eletra: a filha que se apaixona pelo pai e este por aquela; o Conflito
de Édipo: o filho que se apaixona pela mãe, e aquela por este; ou, um jovem que se apaixona por uma mulher mais velha, ou um homem de
idade que se apaixona por uma moça mais jovem do que ele, como explicá-los?. São reminiscências de antigos vínculos sexuais. Às vezes, uma
antiga amante retorna na condição de filha para sublimar o amor, e termina desvairadamente no incesto. Como pode o pai estuprar um filho de
dois anos? Como pode fazê-lo com uma filha? A criança nos inspira muita ternura. Como pode um ser masculino estuprar? Como pode uma mãe
iniciar seu filho na viciação sexual?
Se não houver uma lógica, é uma aberração moral. A reencamação tem a ver com esses fenômenos e com nossa conduta moral. O que
acontece com aqueles que se suicidam? Irão para o Céu? Claro que não! Irão para o Inferno? É lógico também que não! Já estão no inferno da
consciência culpada. Reencarnam-se, e sofrem, aqui na Terra, os efeitos dos seus atos ignóbeis.
Se um indivíduo dispara uma bala contra o cérebro, retorna na idiotia, na acromegalia, na hidrocefalia, na micro- cefalia, na anencefalia...
Se deu um tiro no coração ou se ingeriu uma substância corrosiva, voltará com o aparelho respiratório danificado, asma crônica, deficiência
cardíaca, câncer bucal, distúrbio gastrointestinal, que resultam da devastação realizada pelo agente tóxico, pela substância de que se utilizou, no
órgão modelador biológico ou perispírito.
Quem se atira de edifícios ou sob rodas de veículos, reencama-se na hedionda paralisia. São os seres vegetais, destituídos de mobilidade por
lesões no momento do parto ou por fenômenos outros degenerativos.
A reencamação tem uma proposta de natureza moral e nos émula a crescermos na direção da vida.
Mas, teríamos fatos que pudessem provar?
A primeira pesquisa sobre reencamação deu-se no século XIX a partir de 1887, aproximadamente, quando José Maria Colavida, em
Barcelona, na Espanha, começou a hipnotizar pessoas, pedindo-lhes para regressarem no tempo e no espaço. Para sua surpresa, elas regrediam
até chegarem à idade infantil. Colavida teve a ideia de pedir-lhes para que saltassem 30 a 40 anos do momento da fecundação, no passado, e elas
afirmaram que haviam vivido como pessoas; deram nomes e endereços, explicaram suas atividades, narraram histórias que depois de
investigadas comprovou- se que eram verdadeiras.
Passemos aos fatos.
O professor Pierre Janet, que foi uma autoridade de Fisiologia da Salpêtrière, em Paris, tinha duas secretárias que se odiavam, sem nenhum
motivo aparente. Uma tinha grande antipatia pela outra. O professor Janet vivia intrigado com aquelas duas moças brigando sempre. Certo dia,
resolveu hipnotizar uma delas, de nome Rosa. Fê-lo em um compartimento, regredindo-a até à vida infantil. À medida em que a regredia
psicologicamente, não encontrava nenhum motivo para a animosidade contra a outra. Por fim, ele pediu que ela recuasse diversos anos. Ela deu
o salto no tempo e declarou: “Eu me chamo Jeanette. Tenho um marido que acaba de me abandonar. Esse homem a quem amava, foi roubado
pela minha melhor amiga”.
Dando o nome da amiga, acrescentou: “Enquanto viver odia-la-ei!”
Então, o professor Pierre Janet ficou sabendo que ela havia sido vítima de uma problemática na área afetiva. Aconselhou-a, que agora
deveria perdoar sua amiga ingrata. Afinal, aquilo havia acontecido antes, e neste momento, era outra a sua personalidade embora a
individualidade fosse a mesma, por estar vivendo em pleno Século das Luzes e era uma jovem vitoriosa. Por que conservar aquelas mágoas?
Ela resolveu perdoar. Foi trazida de volta à lucidez, despertando.
Pierre Janet foi à outra sala e hipnotizou a que lhe sofria a animosidade. Recuou-a até o berço e pediu que desse o salto equivalente em anos,
conforme o fizera com Rosa. Ela, declarou-se muito feliz, dizendo quem era, sendo muito amiga de Jeanette até um dia em que foi vitima de
uma calúnia, porque Jeanette andou informando que ela houvera roubado o seu marido, quando, em verdade, havia sido vítima daquele homem
desonesto, que a seduziu e a enganou, abandonando-a depois. Odiava Jeanette em razão da calúnia que a difamou, e porque o seu ex-marido era
sem escrúpulos, sem caráter e fora a razão de sua infelicidade.
O professor explicou-lhe que aquilo fora uma experiência de outra vida. Fez com que ela desculpasse, pois, afinal de contas, sua
personalidade atual era outra... Ela resolveu esquecer.
Posteriormente, quando se reencontraram, tornaram- se simpáticas, ficaram amigas.
Isto acontece conosco. Quantas vezes, alguém está a nos dizer alguma coisa e intimamente cogitamos: “Não adianta; olho para ele, e esse
indivíduo tem um semblante de hipócrita!” E muitas vezes é certo...
Outras vezes, aqueles que viajam - antes da televisão, pois agora recebemos muitos clichês televisivos - chegamos a uma cidade e temos
certeza de conhecê-la.
Camille Flammarion, o célebre astrônomo francês, andava acompanhando um menino genial, que era dotado de inteligência extraordinária,
era analfabeto, e nada obstante, um bom matemático. Um dia, foram à cidade de Lons-le- Saulnier, no Departamento de Jura, na França. O
menino estava ótimo, mas, de repente, quando o navio chegou, ele começou a ficar pálido e disse: uEu morri nesta cidade. Era um matemático.
Lembro-me que o cais do porto tem três degraus; a praça é quadrangular. Tem uma igreja-matriz, com uma torre separada. Estou sepultado na
nave central dessa igreja.”
O menino teve uma crise nervosa e desmaiou. Flammarion achou aquilo curioso. Quando chegou à cidade, no cais do porto eram três
degraus largos; a praça era quadrada, e a igreja era separada de sua torre. Ao entrarem na igreja, o menino apontou: “Eu estou sepultado
aqui.”
Aquele que lá estava sepultado era um grande matemático francês. Nessa noite a memória do menino não funcionou, tal o choque emocional
que experimentava.
Outras provas de reencamação encontramos nas crianças que se recordam de que nasceram antes e têm uma memória inexplicável para os
padrões da Psicologia unicista.
Temo-nos referido a uma menina, Helena Smith, de Genebra, Cantão de fala francesa da Suíça que, aos dois anos de idade, repentinamente,
ao irritar-se com a mãe ao receber uma palmada, ficou nervosa e, a partir daí, esqueceu a língua francesa. Começou a falar coisas desconexas. A
mãe levou-a ao médico, que receitou calmantes, tirando- a daquela tensão nervosa. Mas, ela não voltou ao normal.
A mãe e a família se acostumaram com aquele estranho acontecimento. Menos de um mês após, as duas estavam numa feira-livre, quando
parou um homem e começou a conversar com a menina, pois esta falava à mãe sem ser compreendida.
Ela perguntou àquele cidadão:
- O senhor está entendendo o que minha filha fala?
- Sim, senhora - respondeu ele - e estou surpreso, porque ela está falando chinês!
- E como é que sabe que a língua é chinês?
- É óbvio, não? - retrucou ele, apontando a própria face -, eu sou chinês!
- E o que é que ela está falando? - questionou a mãe.
- Conta-me que a senhora brigou com ela e deu-lhe uma palmada, e que a partir dali, ela lhe fala e a senhora não a entende.
A mãe ficou impressionada. Na seqüência, a menina voltou a falar o francês e o chinês. Os que negam a reen- carnação argumentam:
“Nenhum fenômeno! É que a mãe quando estava grávida deve ter morado ao lado de uma lavanderia chinesa e, como os chineses pensam e
falam chinês, por telepatia a mãe fixou a língua no inconsciente e transmitiu-o à filha. Quando nasceu, falava chinês...
Se o caso de Helena Smith é tão perturbador, quando completou 8 anos, falava diversas línguas.
O Rio Grande do Sul tem um desses exemplos mais belos: Francisco Valdomiro Lorenz, homem notável que honra as belas-letras gaúchas,
do município de Dom Feli- ciano. Descendente de imigrantes, era analfabeto, até que um dia, olhando o cartaz de um out-door deu-se conta que
sabia o que estava escrito. Leu e percebeu que sabia 1er. Começou a meditar e descobriu que sabia muita coisa.
Quando Getúlio Vargas desejou dar à língua portuguesa um caráter oficial para todo o país, por causa dos bolsões de imigrantes onde cada
qual falava o seu idioma, menos a língua nacional, Getúlio estabeleceu a necessidade da uniformização lingüística. Como havia muitos
professores leigos por todos os Estados, o Presidente mandou que uma banca de examinadores do Colégio Pedro II do Rio de Janeiro saísse
examinando os professores para que aqueles que tivessem capacidade recebessem o diploma para lecionarem oficialmente.
A banca examinadora foi a Porto Alegre. Entre os candidatos estava um homem modesto, interiorano, vestido a matuto, com botas longas e
aquele jeitão de pessoa do campo, tranqüilo. Quando sentou à cadeira para o exame oral, foi submetido à prova de português.
O catedrático do Rio de Janeiro, na sua vaidosa prosá- pia, começou a fazer-lhe perguntas. Ele, com seu jeito gaúcho e sua calma começou a
responder. Depois de algum tempo, o professor disse-lhe:
- Senhor Valdomiro, estou admirado com o senhor! Foi o melhor candidato de língua portuguesa que já tive. Fala muito bem. Tem uma
grande cultura da língua pátria, por quê?
- Bem... É porque gosto um pouquinho de latim...
- E o senhor então conhece o latim?! Eu sou latinista! - disse o professor, um tanto surpreso e ufano.
E o professor começou a conversar em latim, e ele a responder-lhe, recitando As Quatro Idades, de Júlio César e falando nesse idioma com a
maior propriedade. O professor não agüentou, e exclamou:
- Mas o senhor fala maravilhosamente o latim! Por que fala assim tão bem?
- Bem, é porque gosto um pouquinho do grego - respondeu Lorenz.
O professor cismou:
- Agora é comigo! Vamos conversar em grego.
Falaram. Após alguns momentos o professor admitiu:
- Mas o senhor sabe mais grego do que eu! Por quê?
- É porque gosto um pouquinho do aramaico...
Aí não tinha ninguém para examiná-lo ...
Esse homem, que não tinha nenhuma gramática, escreveu gramáticas de alguns dos dialetos da Cordilheira dos Andes. Foi considerado um
dos maiores esperantistas do mundo, e chegou a comunicar-se em mais de 30 idiomas.
Quando lhe perguntavam como conseguia saber tantas línguas, ele, no jeito matreiro, dizia assim: “Bem, é que me lembro!”
Como poderia lembrar-se de algo que não havia estudado profundamente? Só a reencarnação para explicar...
Mas a evidência maior, hoje, é na área da psiquiatria. Diante da esquizofrenia, das neuroses e psicoses, foi criado, nos Estados Unidos o
método Terapia de Vidas Passadas, e o psicólogo Morris Netherton, bem como a Dr.a Gina Cerminara e toda uma equipe de psicólogos e
psiquiatras, estão trabalhando para provar que antes da vida há vida e que as doenças de hoje têm origem em reencarnações passadas.
Além das marcas físicas que trazem os suicidas, perguntamos ainda: e os efeitos morais?
Reflexionemos: uma criança que nasça de uma mãe aidética, que está infectada mas não doente. Sua criança nasce com Aids, para morrer
logo depois. Que crime cometeu essa criança que está nascendo agora? Deus está punindo a quem? Ele há de punir alguém desgraçando outrem?
Será que Ele necessita de fazer alguém infeliz?
A lei da reencarnação explica que essa criança marcada é alguém que se utilizou da vida destruindo o corpo através do suicídio, e que agora
vem completar o período que lhe faltava.
Os cegos, surdos e mudos de nascimento, os portadores de alienações, a pobreza, o estado intelectual, a situação social são decorrências das
nossas existências passadas.
A reencarnação é demonstração do amor de Deus.
Poder-se-ia perguntar:
- Então, alguém que tem uma provação dessas, acima referidas, terá que a sofrer? O nosso carma é sofrer na Terra?
- Não! - respondo. A Terra é uma escola, conforme já disse. Aqui estamos para ser felizes; para edificar a nossa felicidade.
A reencarnação é a nossa oportunidade de aprender aquilo que não valorizamos. Todos podemos mudar nosso carma, através do bem que
façamos.
Um fato que perturba muitos estudiosos, principalmente os da doutrina psicológica é o gênio precoce. Para entendê-lo recorre-se a muitas
explicações, pois que é desafiador. As explicações neurofisiológicas são, parece-me, insuficientes para elucidá-los, embora nos ofereçam um
excelente arsenal de contribuição para o seu entendimento.
Vamos, a seguir, referir-nos a alguns casos.
Viveu, na Inglaterra, no ano de 1908, um menino chamado Zerah Colburn, filho de agricultores. Até o ano de 1910, era proibido aos
camponeses aprender a 1er e escrever, naquele pais. Portanto, o senhor Colburn era analfabeto, como também seus pais e ancestrais. O menino
procedia de todo um clã de analfabetos. Não se pode dizer que Zerah', tivesse uma herança genética, mas, apesar do seu analfabetismo, era um
grande matemático, capaz de equacionar qualquer questão dessa doutrina em alguns segundos, sem fazer a operação, pois calculava
mentalmente. Foi levado à Universidade de Londres, com oito anos de idade e durante várias horas foi testado pelos matemáticos, que lhe
fizeram perguntas sobre álgebra, geometria, matemática superior, e ele respondia sempre com exatidão. Quando os professores ficaram
pasmados ante a capacidade do menino de equacionar problemas, um professor de aritmética, vendo aquele pirralho abordando questões graves
da matemática superior, sorrindo-lhe, indagou:
- Você talvez tenha raciocínio para essa matemática complexa, mas você sabe aritmética?
O menino respondeu-lhe:
- Eu não sei palavras, mas sei calcular.
O professor então, propôs-lhe:
- Você sabe as operações fundamentais?
- Professor, eu não sei dessas coisas, mas sei calcular.
Ele instou:
- Você sabe potenciação?
- Eu não sei palavras, sei calcular.
O professor, um tanto triunfante, explicou-lhe:
- Potenciação é o cálculo aritmético através do qual um algarismo significativo, três, por exemplo, tendo um expoente, deve multiplicar-se
tantas vezes por si mesmo quanto seu expoente. Por exemplo: qual é a terceira potência de três? É três vezes três, vezes três, igual a vinte e sete.
Entendeu?
- Não senhor, mas pode perguntar o que quiser.
O professor, foi ao quadro-negro, e escreveu 8 com a potência 16 e solicitou-lhe:
- Dê-me a décima sexta potência do número oito.
O rapazinho olhou - não entendia nada porque era analfabeto - e segundos depois retomou-lhe:
- A décima sexta potência de oito é igual a 281.474.976.710.656.
Como não havia, à época, as calculadoras japonesas, os professores começaram a multiplicar: 8x8x8..., demorando alguns minutos. Quando
terminaram, repetiram o número totalmente correto.
- Mas como é que você sabe? - questionaram surpresos.
Ele respondeu:
- Ué!, não sabia que sabia, até a hora em que o senhor perguntou-me e descobri que sabia!...
Como entender, que um menino analfabeto, sem herança cultural e nenhum atavismo matemático, pudesse responder com exatidão a
qualquer problema que lhe fosse apresentado?
Trata-se, bem se depreende, de uma memória não cerebral. É a memória extra-cerebral. Não é o caso de uma memória convencional.
*
Nasceu, na cidade de Seul, capital da Coreia, um menino chamado Kim Wong Yong. Era perfeitamente normal. Nasceu no dia 22 de maio de
1962.
Quando Kim completou 02 meses, a mãe estava com ele no regaço e deve ter-lhe dito qualquer coisa, por exemplo:
- Que felicidade, meu filho, ter você junto a mim.
Ele olhou-a, e respondeu-lhe:
- Mamãe, agora me lembro que sei falar...
A senhora foi tomada de espanto e certamente exclamou em voz alta:
- Meu Deus! Tenho a impressão de que esse menino falou?!
- Falei, mamãe!
Ela desmaiou. (Deduzo, eu).
Quando o marido voltou, à noite, ela comentou-lhe o fato:
- Você não vai acreditar, mas hoje nosso filho conversou comigo!
- Não diga! apreciou ele, irônico.
- Você não acredita?
- Sim, sim; acredito que um menino de dois meses tenha conversado com você... Amanhã vou levá-la a um psiquiatra para fazer uma
revisão...
- Pois vá ao quarto e tente falar-lhe! - desafiou-o.
Ele foi. O menino ainda estava acordado, brincando
com os pezinhos. O pai, orgulhoso, risonho, dobrou-se sobre o berço e confidenciou-lhe:
- Kim, a mamãe não anda nada bem! Imagine que acaba de dizer-me que você conversou com ela, e isso é um absurdo, não é meu filho?
- É não, papai, conversei mesmo!
E agora foi a vez de o pai desmaiar. (Nova suposição pessoal).
Kim começou a falar com dois meses. Quando completou quatro meses, um dia observou:
- Mamãe, agora me lembro que sei escrever. Dê-me papel e lápis.
Deitado no chão, começou a escrever um poema que, traduzido ao português, em versos livres, diz aproximadamente assim: “Quando cai a
tarde, e o céu de Seul se doura, vejo passarem nuvens brancas. Tenho a impressão de que são remendos de panos novos, que Papai do Céu
coloca nas calças rasgadas dos anjos.”
A partir dali, ele começou a poetar...
Quando completou nove meses, a família publicou o seu primeiro livro de poesias, provocando um impacto cultural.
Com um ano, foi entrevistado por diversos periodistas nacionais e internacionais credenciados em Seul. Naquele pingue-pongue, ele, de pé, e a
mãezinha, ao lado, com jornalistas a perguntarem afanosamente, sobre diversas questões, após algum tempo a senhora informou-os:
- Senhoras e senhores, por favor, um momento! Já se passou uma hora. Meu filho não é um adulto, está cansado, não é mesmo Kim?
- Não, mamãe! Estou adorando esta gente a fazer-me perguntas de criança.
Quando completou seis anos, foi matriculado na Universidade de Seul, onde se fez necessária uma lei especial, através de um Decreto do
Parlamento. Para deslocar-se até lá, era acompanhado por um empregado que lhe carregava os livros, porque não tinha forças para tanto.
Aos oito anos, recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Cálculo Diferencial e Matemática Espacial.
Quando era levado aos programas de televisão do mundo, principalmente na Ásia e eram-lhe feitas perguntas embaraçosas por grandes
cientistas, com aquele pirralho a responder sorrindo, perguntavam-lhe:
- Kim, como é que você sabe as respostas?
Ele apresentava um olhar insondável e respondia:
- Eu me lembro!
Só a memória da reencamação. Todos nós possuímo-la.
Dentre os casos de memórias de outras vidas, coletados pelo Dr.Banerjee um deles me fascina, e irei narrá-lo:
Munesh é um menino que nasceu na cidade de Shan- dagali, na india, em dezembro de 1950. Quando completou quatro anos, sendo banhado
pela genitora, cometeu alguma desobediência e a mãe aplicou-lhe uma palmada.
Notemos os detalhes. Ele reagiu, dizendo-lhe:
- Mamãe, não me bata mais! Se voltar a me bater, vou embora para minha casa.
A mãe achou aquilo natural. Riu muito.
- Você tem outra casa?
- Tenho, sim senhora!
As crianças têm este tipo de procedimento aos quais não costumamos dar atenção, e alguns deles são lembranças de outras vidas. Ela então,
não deu importância. No entanto, daí a pouco, o menino começou a chorar.
- Por que estás chorando assim, meu filho? Afinal, foi uma coisa leve!
Respondeu-lhe Munesh:
- Estou chorando de saudade, mamãe.
- Saudade de quê?
- Da minha mulher!
Ora, quatro anos... Ela achou muita precocidade... Mas, como estamos na Terra, ela tornou a sondá-lo:
- E você tem mulher?
- Antes de morrer - explicou ele - eu tinha uma mulher.
A mãe continuou não dando importância. Coisa de
criança; manifestação do período lúdico, ela atribuiu...
No dia seguinte, ele acordou muito deprimido. Ela in- dagou-lhe:
- O que você tem, meu filho?
- Saudade. Mamãe. Meu nome é Bajan Sing. Lembrei- me esta noite do nome de minha mulher. Chamava-se Alo- dia Devi. Mamãe, não
sou daqui; eu sou de Itani, uma outra aldeia.
- Munesh, você nasceu aqui, é nosso filho - tomou a mãe.
- Não, mamãe! Deixei um filho quando morrí.
Lentamente Munesh foi lembrando-se do passado e
começou a contar uma história estranha. Afirmava que havia morrido no mês de janeiro de 1950, reencamando-se em dezembro do mesmo ano.
Recordava-se que morrera de febres e que morava numa casa caiada, à margem de um rio, cercada de laranjeiras, invariavelmente, em flores.
Tinha um jumento, um filho e uma esposa que era natural da cidade de Visara. Quando falava na esposa, chorava co- piosamente.
A notícia surpreendeu a genitora, que não acreditava na reencarnação por ser muçulmana, seguidora de Maomé. Não era ela adepta de
alguma doutrina da índia, propriamente, apesar de ter lá nascido. Ficou muito preocupada e com medo de que na sua mesquita descobrissem que
seu filho falava sobre reencarnação. Como os muçulmanos são muito severos e restritivos, ela passou a ter medo de qualquer reação por parte da
sua comunidade.
A aldeia começou a achar aquele menino estranho.
O professor Banerjee, que soube da notícia, foi entrevistar a criança. Filmou-a, gravou-a contando sua história. O mais notável é que o
menino falava também no dialeto daquela aldeia (Itani).
Para nos recordarmos, a índia tem diversas línguas nacionais e mais de trezentos dialetos diferentes, classificados.
Posteriormente, o professor foi visitar Itani. Reuniu o pessoal daquele local e passou a gravação. As pessoas ficaram surpresas. Como um
menino que morava tão distante podia contar algo tão real, sem nunca haver estado ali?
Porém, o doutor Banerjee não acreditou totalmente. Deveria ter uma explicação: telepatia, hiperestesia indireta do inconsciente, fraude,
talvez alguém tenha contado aquela história à família, seria possivelmente uma herança de natureza psicológica, a hereditariedade do
inconsciente, etc. Ele continuou estudando o caso. A notícia continuou correndo.
Quando o menino completou seis anos e seis meses, estava, um dia, brincando, à porta, quando chegaram duas mulheres e foram falar com o
seu tio-avô, que também ali se encontrava.
As mulheres usavam véu e uma delas indagou ao ancião:
- É aqui que mora uma criança chamada Munesh, que diz ser a reencarnação de Bajan Sing?
- É, disse o tio-avô; é meu sobrinho-neto!
- Pois eu sou a mãe de Bajan Sing e quero falar com meu filho.
O senhor chamou-o:
- Munesh!, a tua mãe da outra vida, quer falar contigo.
O menino correu. Ela distendeu a mão e, conforme a
tradição brâmane, ele dobrou-se. Quando foi beijar-lhe a mão, observou:
- Mas essa mão não é de minha mãe! É de minha mulher, Alodia Devi!
A estranha retrucou-lhe:
- Menino, não me confunda; eu sou a mãe de Bajan Sing.
- Mentira! Você acha que me esquecería de você?
A senhora confirmou:
- É verdade!, é verdade... Quer dizer que você é a alma do meu marido que já voltou?
-Sim.
- Então dê-me uma prova.
Com os seus seis aninhos, o menino relatou: “Recordo-me de que no ano de 1948 voltava dos exames universitários na cidade de Agra, e
encontrei você brigada com minha mãe. Fui tomado de tanta raiva que peguei um pau de bater manteiga e apliquei-lhe uma surra.
“Quando lhe batia - prosseguiu, o menino - o pau rom- peu-se, feriu-a no cotovelo e deixou uma cicatriz. Mostre-a!”
Ela levantou a manga do sári e lá estava a cicatriz.
- Muito bem - contrapôs ela - mas qual é a mulher que não apanhou do seu marido, na india? Você pode estar palpitando. Dê-me uma prova
mais convincente.
Entraram na residência. Foram à recâmara, os pais, o tio-avô e as duas estranhas. Conversaram por várias horas. Ela fez perguntas sobre a
vida matrimonial, íntima.
Na índia, até hoje, mesmo nos processos de divórcio, é proibido revelar os segredos de alcova, sob pena de morte. O lar, a intimidade
conjugal, são indevassáveis. Ele conhecia toda a intimidade conjugal. Ela saiu aturdida e segura de que falava com o seu marido desencarnado.
Mas o doutor Banerjee não se convenceu. Seis meses depois veio buscar a criança e os pais para levá-los à aldeia de Itani, onde nunca
haviam estado. Quando lá chegaram, Banerjee perguntou:
Foi aqui que você nasceu?
-Sim.
- E você lembra-se da aldeia?
- É claro!
- Então, leve-nos à casa em que morava.
O menino saltou do veículo que os conduzia, e foi explicando, no dialeto local:
- Aqui morava Fulano, ali, Beltrano... Olha lá a minha casa!
Realmente, à margem do rio, uma pequena casa, mas não de branco caiada, como se esperava.
- Ué, mudaram o tom da cor da casa! - falou Munesh, surpreso.
Entraram. O dono intrigado, inquiriu-os:
- O que é isto? Invasão de domicílio?
Banerjee explicou-lhe:
- Trata-se de uma investigação científica. Este menino diz que viveu nesta casa.
O homem explicou:
- Comprei-a de uma senhora viúva, que mora a oitenta quilômetros daqui, na cidade de Visara, chamada Alodia Devi, viúva de um tal
Bajan Sing.
O menino interveio:
- Sou eu! Cadê a deusa Shiva? Deixei-a ali, sobre uma cantoneira.
- Cantoneira?
- Sim senhor! Quando nasceu meu filho, fiquei tão contente que coloquei algumas moedas de ouro aos pés da deusa.
O homem teve uma expressão de surpresa, elucidando:
- Está explicado! Quando comprei esta casa, nós não pertencíamos à doutrina de Shiva. Minha mulher mandou pintá-la de amarelo, que é
a cor da nossa casta. Quando arrumávamos os pertences, encontrei a deusa Shiva com as moedas de ouro.
O doutor Banerjee ficou estupefacto.
Ali estava a realidade da reencarnação. E concluiu: “Não há nada que resista a fatos dessa natureza."
Então, pergunta-se: que explicação se dará para a memória de Bajan Sing ou Munesh?
Telepatia? Impossível! Fraude? Totalmente impossível numa criança de seis anos, ao falar um dialeto que nunca escutou; hiperestesia
indireta do inconsciente? Também não.
Só há uma resposta: é a de que a alma de Bajan Sing estava no corpo de Munesh, com a total memória do passado.
Bamejee deixou suas experiências em livros, narrando casos envolvendo mais de cento e cinqüenta crianças que entrevistou e que se
lembravam de que haviam vivido antes. jp Agora, temos Brian L. Weiss, um notável psiquiatra, de origem judaica, què atende no Hospital em
Miami Beach (Flórida). Começou ele a atender uma paciente com transtorno de conduta. Depois de algum tempo, não conseguiu debelar-lhe as
crises. Hipnotizando-a superficialmente, ela remontou a uma encarnação anterior, quando revelou que vivera anteriormente.
Voltando a hipnotizá-la, e através de conversas terapêuticas com a personagem que afirmava haver sido, ela curou-se, sem nenhuma
medicação.
Nos estados de transe identificou também a presença de Espíritos, inclusive, o pai e o filho desse psiquiatra, que haviam morrido. E é claro,
ela ignorava.
Brian Weiss nada entendia sobre reencarnação. Era totalmente céptico. Como ele mesmo escreveu, freqüenta- va a sinagoga como hábito
social.
Ele consultou na Biblioteca de Nova York algumas das Obras sobre reencarnação, para estudá-las, e escreveu o célebre livro Muitas Vidas,
Muitos Mestres. Já.vendeu mais de trinta milhões de exemplares, desse e de outros livros que publicou depois, em inúmeros idiomas, provando a
reencarnação.
Mas o Dr. Brian Weiss não é o único. O número de psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, que se têm dedicado a esses estudos, é muito vasto.
Os que investigam seriamente, tornam-se, quase sempre, reencarnacionistas.
Por que nós nos esquecemos do passado? Por aue não nos lembramos dos acontecimentos? - pergunta a maioria das pessoas.
Para nosso bem!
Se nos recordássemos, haveria um distúrbio psicofísi- co. A carga de lembranças seria tão densa, que entraríamos em alucinação, haja vista
que aqueles que têm arrependimento, que têm consciência de culpa, entram em depressão, não agüentando a memória que ocultam, guardando os
seus delitos. É porque o nosso passado foi pior do que o nosso presente e não suportaríamos o peso das reminis- cências. Ademais, se nos
recordássemos de quem fomos, recordar-nos-íamos também de quem esteve conosco...
Se nos recordássemos do bem e do mal que fizemos, lembrar-nos-íamos também do bem e do mal que as pessoas nos fizeram. Seriam
insuportáveis os relacionamentos sociais. Olharíamos para alguém conhecido e sentenciaríamos: “Aquele é um ex-adúltero” e etc.
Nós temos este comportamento na atual existência. Quando alguém tem uma defecção e consegue melhorar de vida, consideramos: “Hoje
você é bom, mas eu o conheço de antes! Você pensa que esqueci?"
Certamente, não são todos que agem desta forma, mas uma grande parte da sociedade assim o faz.
A misericórdia de Deus concedeu-nos o esquecimento. .Mas não é um esquecimento total. Periodicamente as lembranças apresentam-se,
ressumam do nosso Inconsciente: é um ato de simpatia; é uma melancolia, uma certa tristeza que nos invade a respeito de algo que já tivemos e
parece que agora nos falta; é uma ânsia, é a tendência cultural e artística, a busca literária e científica; a vida religiosa... Quantos de nós não
temos uma mística interior, resultado das vivências de doutrinas religiosas do passado!
Afirmou, pois, com muita certeza o admirável professor Charles Richet: “Aauilo aue numa época é inverossímiL noutra é perfeitamente
verossímil”, é aceitável.”
A reencarnação hoje faz parte das novelas, do teatro, da cinematografia. A comunicabilidade dos espíritos hoje está no dia-a-dia e a Doutrina
Espírita encontra-se à frente explicando quem somos, de onde viemos, para onde vamos, dando-nos diretriz de segurança.
Todos nós, com raríssimas exceções, temos perguntas dolorosas, e poucos temos respostas; todos temos frustrações, conflitos e ansiedades.
Mergulhando nosso pensamento na Doutrina Espírita, iremos encontrar Jesus, que sai das páginas do Evangelho para cantar outra vez aos nossos
ouvidos a sinfonia incomparável do Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os simples de coração; Bem-aventurados os perseguidos em nome
da justiça; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça; Bem-aventurados os que choram, pois que eles serão consolados.” É o maior
hino de ternura e de esperança, que a Humanidade jamais escutou.
Leiamos sempre as dúlcidas palavras de Jesus, quando nos diz: “Venho como outrora às transviadas ovelhas de Israel trazer a Era da paz”,
conforme exaradas em O Evangelho Segundo o Espiritismo. Nunca necessitamos tanto de conforto como nestes dias de conquistas tecnológicas,
de ciências grandiosas e de tanto vazio existencial. A onda dos suicídios, da depressão, da loucura, da alucinação, da violência, abarca e asfixia
as culturas da beleza e da tecnologia.
A reencarnação é a resposta de Deus aos grandes enigmas da vida. Ela vem-nos dizer que é possível ser feliz. Todos seremos felizes, se o
quisermos, se nos resolvermos por mudar nossa vida a partir deste momento, nossa vida mental, as atitudes morais. Ninguém pode fazer-nos o
bem, ninguém pode tomar-nos desventurados. Cada um é aquilo gue se ele- qe. A reencarnação nos ensina que está em nossas mãos mudarmos
nosso destino. Se estou sofrendo agora, estou colhendo. Se semear hoje, é óbvio que irei colher no futuro; não poderei mudar meu destino de um
momento para outro. Mas temos mecanismos de fuga, transferímos responsabilidades pelos nossos insucessos, tais: a culpa é dos meus pais; a
culpa é da escola; a culpa é da sociedade; a culpa é de Deus.
Somos como crianças rebeldes e a vida nos vai dobrar com o fardo das amarguras, com os testemunhos. É por isto que Jesus nos veio dizer:
“É necessário amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.”
Este é o momento do amor. A solução dos nossos problemas está na arte de amar e de nos amarmos, de amar ao próximo, amando-nos. Abre-
se um leque de esperanças para todos nós.
Será possível mudarmos a paisagem terrestre? Como não! Então, seja você quem ama; seja você aquele que estende a mão generosa; seja
você aquele que perdoa. Se alguém lhe fez um mal, o problema é dele, que é um infeliz. Se você fez o mal, o problema é seu, que está
desequilibrado.
Quando você ama, esse amor lhe é bom; se a pessoa não nos corresponde, o problema já não é nosso. Ela não tem obrigação de nos amar,
mas nós temos o dever de amá-la. Quando amamos, somos felizes; quando somos amados, quase sempre nos transformamos em crianças
dengosas.
Desarmemo-nos, mudando a paisagem, amando-nos. É verdade que há muitas dores, problemas e desafios, mas não sejamos nós aqueles que
blasfememos, que nos desequilibremos. Chegamos agora ao momento de descrucificar Jesus, de oferecer-Lhe o nosso testemunho de amor,
apesar do bá- ratro em que vivemos e das dificuldades, do pandemônio da violência, da guerra, do estupor, que reinam em toda parte.
Neste mare magnum, sem sabermos para onde ir, não abandonemos a barca da fé. Ela nos vai levar ao porto da paz. O Espiritismo vem
dizer-nos que a reencarnação é a metodologia da nossa evolução. Todos erramos. A experiência do erro é necessária para a nossa evolução. O
erro é uma técnica de aprendizagem. Só se sabe porque se errou. Se alguém disser: “Eu jamais caí!”, então podemos dizer-lhe que “nunca saiu
do lugar”, porque todo mundo que anda, cai. É natural a queda. Ruim é ficar deitado. Todos nos enganamos; permanecer no erro, porém, é falta
de inteligência.
A reencarnação liberta-nos, e Jesus nos convoca para a melhor maneira da libertação das paixões inerentes à condição humana através de
uma frase memorável: "Não fazer ao próximo o que não se desejar que ele lhe faça.” E adiu: “Amar! Amar ao próximo como a si mesmo, para
poder amar a Deus.”
No Evangelho está em ordem contrária: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.” Prefiro, aqui, neste contexto,
interpretá-la da seguinte forma: primeiro o auto-amor, porque quem não se ama, não ama a ninguém. Se me amo, amo também ao meu próximo
porque, quando me amo, me tolero, me desculpo, mas também desculpo a meu próximo, porque sei que ele tem as minhas falhas, as minhas
debilidades. Se me concedo o direito de errar e emendar-me, dou-lhe também o direito de errar e corrigir-se. Amando ao meu próximo, amo a
Deus por conseqüência. Jesus, na Sua Sabedoria ponderava: “Se vós não amais ao que vedes, como amareis a meu Pai, a Quem nunca vistes?”
Agradeçamos a bênção da reencarnação e busquemos realizar a paz interior, em direção ao reino dos Céus.

O BISPO PIKE - INTRODUÇÃO


Sempre nos será estimável o enriquecimento interior que seja proporcionado por algum fato da vida real. Ele nos fala em linguagem direta.
Pensamos, acrescentando este conto, situar as cogitações filosóficas humanas ante as lutas do quotidiano, o porvir e o necessário trabalho de
estruturação da fé ante os desafios a que somos submetidos, na marcha evolutiva. Os fatos reais são mestres de valor inapreciâvel para tal
objetivo. As experiências, na vida física, são comuns a grande extensão de criaturas. Mesmo não as vivenciando pessoalmente, o poder
formativo das experiências alheias abrangem-nos, aqueles que não somos personagens específicas do caso em tela, porém, igualmente
necessitados da reflexão e do aprendizado, libertadores da dúvida, da insegurança, e construtores da fé que sustenta e resguarda.
Divaldo utiliza-se seguidamente desses históricos de vidas, exatamente por compartilharmos das mesmas necessidades formativas e,
pedagogicamente, a lição vai aprendida e memorizada com maior brilho e profundidade.
Em “Bispo Pike”, mais outra vez - como fizemos na compilação anterior, intitulada Divaldo Franco e o Jovem -, podemos analisar e
apreciar a excelência da sua narrativa, a sensibilidade de seu coração, a magnitude do seu trabalho e dedicação extremada à causa do Bem.
Apreciemos, pois, o drama deste que foi um religioso de projeção em sua congregação, cientes de que muitos de nós também já temos
enfrentado ou enfrentaremos a dúvida decorrente da dor ou das frustrações próprias da vivência pessoal, para que a lembrança deste episódio
real nos dê apoio e confiança, auxiliando-nos na necessária superação dos desafios que nos chegam, não poucas vezes.
26 O Bispo Pike
Na existência de todos nós, por melhor programada que esteja, um acontecimento inesperado modifica inteiramente a jornada que
empreendemos. Uma ocorrência doméstica, uma correspondência, um insucesso, uma surpresa, e toda a trajetória que havíamos estabelecido,
inevitavelmente se altera, mudando de significado tudo quanto havíamos planejado. Nem sempre estamos preparados para cometimen- tos de tal
natureza...
Foi exatamente isso que aconteceu na vida de um homem extraordinário, uma personalidade respeitada não apenas nos Estados Unidos da
América, mas também no Reino Unido.
Na oportunidade a que vamos referir-nos, ele era bispo da Igreja Anglicana da Inglaterra, e residia na cidade de San Francisco, na Califórnia.
Teólogo, escritor, jornalista, Sua Excelência Reveren- díssima, o bispo James Pike era um intelectual, além de um religioso de nomeada.
Representava também, de alguma forma, o Reino Unido diante das autoridades californianas. A sua palavra era eloqüente, havendo conseguido
arrebanhar muitas almas para sua crença.
Conforme nos recordamos, a Igreja Anglicana da Inglaterra nasceu do resultado de um cisma histórico, quando o rei Henrique VIII
desejando divorciar-se da esposa Catarina de Aragão, para casar-se com Ana Bolena, não recebeu a anuência do Vaticano.(17)
Rebeiando-se, e para poder libertar-se da esposa que lhe era desagradável, acusou-a de traidora, mandando matá-la e, naturalmente, veio a
abrir espaço cultural para que sua Igreja fosse especial. Discrepando do Vaticano, apresentou e propôs que além do Arcebispo Primaz, o
governante central - o Rei ou a Rainha - representava a autoridade máxima, tornando-se, a partir daí, divergente do catolicismo romano.
Sua Excelência, o Bispo, havia nascido na Escócia, em uma família modesta, mas a sua inclinação para a fé religiosa conduziu-o ao
seminário, destacando-se pela inteligência prodigiosa, a memória invulgar e o devotamento fiel à causa da religião.
Casado, tinha um filho, ao qual dedicava abnegação e devotamento. Havia sido esta a questão fundamental pela qual o rei Henrique VIII
divergira de Roma: ao lado do seu divórcio, solicitou permissão para que houvesse o casamento dos sacerdotes. Acreditava, o rei, que para falar
a respeito de família, para orientar gerações, era indispensável que o pastor religioso vivesse a experiência conjugal e experimentasse os atritos
naturais da família.
Em um domingo pela manhã, ao terminar o sermão e descer do púlpito, encerrando a atividade da missa, alguém acercou-se-lhe e entregou-
lhe um telegrama.
Ao abri-lo, sua vida deveria sofrer uma grande modificação, porquanto, em linguagem sintética e não emocional, estava exarada uma notícia
estarrecedora que, de imediato, o pôs em desespero. A mensagem dizia: “Venha imediatamente a Nova York. Jim, seu filho, suicidou-se.”
A Sua Excelência, esta notícia trágica surpreendia de maneira lamentável. Encostando-se, à parede, para diminuir o impacto do golpe moral,
voltou a 1er a linguagem fria daquele telegrama, várias vezes, procurando uma resposta (17) IGREJA ANGLICANA (o cisma) - Veja notas complementares.
para essa notícia, detendo<se na assinatura de um amigo, também bispo em Manhattan, na cidade de Nova York, que firmava a informação tão
trágica e destruidora.
As lágrimas aljofraram-lhe os olhos, mas ele, de fibra resistente, tentou controlar-se. Até então, Jim era um rapaz de menos de dezoito anos;
ainda não chegara a viver.
Procurando entender a causa da tragédia, começou a perguntar-se: “Qual a razão para esse desagradável e tortuoso acontecimento? Por que
razão, meu filho destruiu a vida? Será que existe uma razão para que a criatura se atire no abismo sem fundo do suicídio? Como pode a flor
despedaçar-se antes do fruto, se ela não tem ideia do seu destino? Se a vida é feita de certas aflições, também é assinalada por inumeráveis
bênçãos! Por que um jovem, que tem a vida inteira pela frente, sonhadora, rica de perspectivas, enveredava pelo corredor estreito e sombrio do
autocídio? Afinal, esse é o crime mais hediondo que a criatura perpetra perante a Consciência Cósmica. Ademais, não resolve o problema e, sim,
transfere-o, sendo o guante que interrompe uma série de fatos. Alguém que se muda de um lugar para outro, leva seus problemas...”
As interrogações fizeram-se-lhe atormentantes, pois recordava-se do filho, um rapaz de 1,75 m, jogador de baseball, inteligente, belo e
amado pelas jovens. Recordava-se, também, que ele era um pai abnegado e que vivia exclusivamente para a religião e para a família. Jim era seu
filho único. Por que se matara?
Como era inevitável, começou a reflexionar, na sua postura de religioso: - E agora - perguntava-se - para onde irá a alma de meu filho?
Pensou, então: UÉ obvio, a teologia católica e aquela das derivadas do Cristianismo primitivo asseveravam que o suicida deveria
experimentar a rigorosa punição de um inferno eterno e, naturalmente, o céu ele não merecia, porque, se fosse para lá guindado, o que é que
receberíam aqueles que são justos, nobres, lutadores, os que trabalham e desempenham suas tarefas, os que enfrentam as vicissitudes e esperam?
A justiça de Deus, temerária e cruel, certamente deveria puni-lo irremissivelmente, pelos desafios às leis naturais.”
Ao lembrar-se que seu filho iria experimentar a ardên- cia das labaredas que crepitam sem apagar-se, que dilaceram sem consumir, fez com
que uma repugnância lhe ocorresse, de forma agressiva à lógica.
Ele se dizia: MNão é possível! Jim era tão bom, tão ingênuo. Será que Deus, que é a Suprema Misericórdia, irá oferecer uma punição terrível
e eterna por um momento de loucura? Será crível que Deus, que é Todo-Amor, venha a castigar meu filho perpetuamente? Isto viola meus
sentimentos, porque eu, que sou pai, sou capaz de perdoar o meu filho, o seu gesto de loucura, e, afinal, as doutrinas psicológicas asseveram que
aquele que se atira pela porta falsa do suicídio é portador de um distúrbio psicótico maní- aco-depressivo, já que ninguém, no estado de saúde
mental, optaria por uma solução insolvável, além de ter-nos, o Criador, dado o instinto de conservação da vida para que pudéssemos preservá-la.
“Será que um erro temporário - cogitava ainda - merece uma punição perpétua? Nem entre os homens, que somos criaturas injustas, depois
dos crimes mais hediondos, adotamos um comportamento total, absoluto, porque mesmo quando se lhe decreta a pena de morte, existe a
esperança de que receba a dádiva de outra oportunidade no Além-Túmulo... Um jovem, de menos de dezoito anos, ainda não viveu; suas
experiências são fragmentárias e a vida se lhe apresenta qual uma fantasia, destituída de significados, ríca de beleza e sonhos...
“Ele, certamente tivera alguma frustração, para fugir dessa maneira - justificava - Deus deverá ter misericórdia e não o punirá com as
labaredas infernais. Não! Jim não irá para lá!”
Então, recusou esta ideia. E porque continuavam seus tormentos, prosseguiu:
“Não podería, todavia, entrar no Purgatório, a chamada região intermediária, aquela, na qual, o ser expunge, para depois ser promovido ou
condenado?"
A mente de Sua Excelência, o bispo Pike, começou a entrar em conflito, tombando em surpresa mais perturbadora.
Naquele momento, experimentava a angústia, que São João da Cruz denominou como a noite escura da alma.
“Será que existe a alma? - pensou, alarmado com o próprio conflito - Será que existe mesmo o Céu, nesta colocação teológica e definitiva,
geográfica e fatal? Será que existe o Inferno, conforme as velhas tradições, que estaria abaixo, neste Universo, onde não há limite nem local
definidor de medidas? Será que depois da morte se vive?"
De imediato, deu-se conta que não tinha certeza da imortalidade da alma. Acostumara-se a falar sobre essa imortalidade às pessoas que o
buscavam; aconselhava as famílias cuios membros haviam desencarnado; dizia palavras generosas hauridas na Bíblia, aos viúvos de ambos os
sexos; com uma grande facilidade retórica e júbilo; refe- ria-se a essa imortalidade e de seu triunfo, porque é muito fácil recitar medicamento
para os outros, difícil é tomá- los... Ele jamais tivera a oportunidade de experienciar a tragédia da morte; ainda não tivera ensejo de vê-la passar
pelo clã; entre amigos, era sempre algo remoto que lhe chegava através da dor lancinante das vítimas, às quais, ele confortava.
E questionava-se: “Será que, depois da morte, se vive? Mas qual a certeza?”
Nesse momento de dor profunda, desejou apelar para Deus, e percebeu que não tinha fé religiosa segura. Agora era ele quem estava sem
resignação, que necessitava o consolo da religião, mas ela não tinha muito a dizer-lhe, apresentando um Deus iracundo, cruel, que deveria atirar
às geenas infernais para todo o sempre um jovem que, dominado por um desequilíbrio momentâneo, buscou consumir a vida carnal...
Tinha, sim, uma fé tradicional: nasceu naquela religião, foi para o seminário, onde aprendeu, vindo depois para Londres, onde progrediu,
chegando a ser um dos príncipes da sua doutrina, um bispo. Mas, não tinha certezas espirituais...
Existe uma enorme diferença entre o que falamos e o que somos; entre o que preconizamos para os outros e o que aplicamos à nossa própria
conduta.
Na sua limitação de teólogo, estava em presença de determinadas questões que não podia explicar. A religião que lhe havia ministrado todo o
conhecimento, estabelecia que há determinados dogmas que são impenetráveis, mas agora, a dor que lhe estraçalhava o coração exigia respostas.
Concluiu, então, que somente falava a respeito de Deus, sem nEle crer.
É tão fácil falar sobre o que pressupomos e do que memorizamos, sem compromisso moral e emocional!...
Foi nesse estado depressivo, que saiu da catedral, em San Francisco, e dirigiu-se à casa, dando a trágica notícia à esposa. Poucas horas após
haver recebido a infausta informação, encontravam-se, ele e a mulher, no avião para empreender a viagem, feita de amarguras e ansiedades
contra o fuso horário na direção de Nova York.
Ao chegarem, de imediato rumaram para a casa mortuária onde seu filho estava sendo velado. Recebeu as condolências de alguns amigos,
olhou o cadáver daquele jovem que era a razão da sua vida e não se pôde furtar ás lágrimas. Já havia passado pela necropsia. Ali estava ele, em
um caixão de carvalho, cercado pelas claridades voti- vas dos círios, cuias chamas tremiam suavemente.
Invariavelmente, nos Estados Unidos da América, o velório demora três dias. Há o embalsamamento, o esforço de maquilagem para tornar a
pessoa mais simpática, pois há uma tradição de que a morte deve ser bonita, adornada. É inconscientemente uma forma de ocultar-se o medo da
morte, mascarando o cadáver.
Cercado por amigos, a lhe manifestarem sentimentos de pesar, ele resistiu muito bem, mas nas horas avançadas da madrugada, quando
diminuíram os visitantes, deteve-se a olhar o rosto de seu filho no esquífe, e que seria cremado, não podendo deixar de perguntar-se, sem cessar:
“Por quê, meu filho? Por que você se matou? Não é possível que um jovem tão belo e tão inteligente pudesse optar pelo suicídio...”
Estamos no ano de 1966. Então, lembrou-se do primeiro sinal de alarme. Acontecera, há poucos anos, quando Jim completara quinze anos.
Morando, em San Francisco, fora participar de um acampamento de escoteiros a algumas dezenas de quilômetros daquela cidade. Gostava do
escotismo, e o pai ficara jubiloso, porque ele fora com um grupo de colegas passar o fim de semana.
Porém, na madrugada do sábado, o telefone tocou, e uma voz ansiosa, que dizia ser o responsável pelo camping, solicitou: “Venha depressa,
Excelência, seu filho está drogado.”
Para ele foi uma grande surpresa, embora fossem os anos da tresvariada década de 60, da filosofia hyppie, da música dos Beatles.
Custou-lhe acreditar. Quem se droga, são os filhos dos outros, não o nosso; quem tem vício é o filho do vizinho, o nosso não.
Mas, a voz dizia-lhe: “Ele está insuportável, e não pode ficar no camping.”
O bispo desceu ao térreo, tomou o automóvel e viajou desesperado até ao local do encontro, para saber porque seu filho, um rapazinho de 15
anos, havia-se drogado, um menino que ainda não aprendera a pensar, mas já aprendera a perverter-se...
Quando lá chegou, uma hora e meia depois, o responsável levou-lhe ao jovem que ainda estava algo sonolento. O pai colocou-o no carro e
fez o trajeto de retomo, angustiado.
Foi um silêncio amargo até o momento em que seu filho recobrou a lucidez total. Não podendo sopitar a aflição íntima, o genitor perguntou-
lhe diretamente:
- “Por quê? Qual a razão de drogar-se? Vocês jovens dizem que se drogam porque seus pais não dialogam. Não é o seu caso! Sua mãe e eu
vivemos com você um diálogo constante. Sou o confessor de uma comunidade. O meu fiIho, dentro de casa, tem um problema e não vem dizer-
me? Como pai e como pastor, pergunto qual o seu problema? Não estou aqui para censurar-lhe, mas para descobrir qual a causa do seu
desequilíbrio. Por que você se drogou?”
O jovem respondeu-lhe:
- “Ora, papai, não se preocupe; não é tão sério assim! Não sou dependente de droga e, afinal, não foi uma droga, mas tão somente um
baseado de maconha! Foi a primeira vez; um acidente. O senhor sabe como é... Aqui, na escola, todo mundo fuma maconha. Eu resisti, mas os
colegas também são resistentes e eu baqueei. Os amigos deram-me, e experimentei, mas como sou de comportamento psicológico frágil,
desarticulei-me, mas não sou um viciado; a droga me fez mal. Como vê, passei mal e tive um desequilíbrio. Você não acredita no seu filho?”
O bispo olhou para o filho com orgulho, e acreditou no que dizia...
Nós, os pais e educadores, somos muito ingênuos; acreditamos nas mentiras dos nossos filhos, embora eles não acreditam nas nossas
verdades, preferindo crer nos colegas e traficantes.
O filho complementou:
- “Papai, esqueça! Afinal, dê-me uma outra oportunidade.”
Ele abraçou o filho.
Retornaram a San Francisco, crendo que a problemática estava resolvida, pois ele lhe houvera dito não ser um dependente e - é claro - não o
era ainda...
Normalmente a droga só ataca o filho do vizinho. É como o câncer e a AIDS, em que se estipula: a mim não vai alcançar! Sempre domina o
outro. E porque o outro também raciocina da mesma maneira, chega o dia em que a droga, a AIDS, o câncer nos contaminam, produzindo o
estado degenerativo que lhes é peculiar.
Ele continuou a confiar em Jim. De vez em quando dava-lhe um olhar com orgulho: aquele rapaz, agora, com 16 anos, desportista, era um
cidadão...
Quando Jim completou 17 anos, o pai notou que ele não estava bem no comportamento. A esposa confirmou-lhe:
- Jim não anda bem! Diariamente muda de atitude e noto que sua fisionomia está assinalada por olheiras, as mãos são trêmulas.
Qualquer pessoa, qualquer pai, qualquer mãe, qualquer educador, se observar o seu educando, pode notar-lhe as alterações propiciadas pelas
drogas. Sucede que vivemos numa sociedade em que não se tem tempo para cuidar, conviver com os filhos, os alunos, os jovens. O pai vai para
um lado ganhar dinheiro, como também a mãe, mas não se preocupam em ganhar ou em dar amor. É muito fácil dar coisas e muito difícil dar-
se...
A essa altura, Jim teve uma nova crise. Levado de emergência a um hospital, uma enfermeira, que estava acostumada com tais ocorrências,
ao propiciar uma lavagem estomacal no jovem por recomendação médica, foi muito fria e cruel:
- O rapaz está na droga da pesada\ - Asseverou com certa amargura.
A mãe reagiu:
- Meu filho não usa droga!
- É assim mesmo, minha senhora - concluiu a enfermeira - é assim mesmo que todas mães pensam. São ingênuas; acreditam quando os
filhos negam. Agora, a mim me causa espanto como os pais não notam este terrível flagelo dentro de casa...
A droga tem características iniludíveis.
Quando o filho começar a usar óculos escuros, mesmo â noite, está sendo vítima da cocaína, que dilata os vasos oculares. Alguns desses
cantores de óculos escuros permanentes, com raríssimas exceções, já estão na droga da pesada.
Nossos filhos, quando começam a ter leves tremores nas mãos, sudorese fria, palidez, olheiras, não há dúvidas... Quaisquer pais observadores
podem notar dentro de casa as mudanças, como por exemplo a linguagem, pois a droga incide nos aparelhos respiratório e fônico e o seu usuário
não consegue silabar as palavras, pronunciá-las corretamente, porque está impedido pela vaso constrição que o tóxico proporciona.
Vê-se, atualmente, na linguagem, a moda de gírias. Muitos jovens não conseguem dizer as palavras literalmente, sendo amputadas,
padecendo normalmente do desaparecimento da última sílaba, e sucessivamente. Não é moda. É, exatamente, o modismo da droga.
Se olharmos nossos filhos desde cedo, a instabilidade, a cara fechada, o quarto desarrumado da contra-cultura, não tenhamos a menor dúvida,
nem digamos: “Meu filho, não!”; antes: “Meu filho, sim”.
Por que não? Ele é jovem, sonhador, é inexperiente, enquanto o traficante é cruel, é profissional. Dá-lhe a primeira dose gratuita, coloca-a no
refrigerante, no alimento, e quando surge a dependência, ele passa a vendê-la. Quando o jovem não tem dinheiro, furta, e posteriormente, torna-
se traficante também, a fim de manter o vício.
A única segurança diante dessa tragédia é a educação no lar. Infelizmente, as autoridades só têm podido reprimir, e não sabem como evitar.
A educação na escola, muitas vezes, é feita por mestres igualmente viciados, corruptos, que perdem o status da dignidade, que ministram a
aula sentados na mesa, em igualdade de condições, também usando baseados. Que se pode esperar? Criou-se o hábito de transferir para os
outros, para a escola, a tarefa doméstica.
A educação no lar é tarefa insubstituível, mesmo sendo a pessoa simples, analfabeta. O instinto da vida expressa o que é certo e o que é
errado. É a linguagem do amor. Sempre que se estiver em dúvida, interrogue-se o amor, e ele dirá como solucionar o problema.
Sua Excelência recordava-se: “É verdade!, é verdade. Ele já estava na droga...”
Posteriormente chamara-o e perguntara-lhe diretamente. Veio, então, a informação dolorosa:
- “Papai, sou um dependente químico.”
O genitor, por pouco, não desfaleceu. De coração dilacerado, levou-o de imediato a um psicólogo, que foi franco:
- “Seu filho é dependente desde há algum tempo. O organismo está impregnado e, o pior, está usando substâncias tóxicas da pesada, que
vão afetar-lhe as células cerebrais, deixando-as lesadas e sem recuperação, pois os neurônios degeneram sob a ação de determinadas substâncias
químicas, acarretando a perda da lucidez e do equilíbrio das faculdades fisiopsíquicas. O uso da droga é uma viagem sem volta. Quando cedo,
ainda se pode fazer uma parada, mas depois que se criam vínculos de profundidade, acontecem o crime, o cárcere, o suicídio ou a loucura.”
- “E que deverei fazer?”
- “Interná-lo em uma clínica por largo tempo - complementou o psicólogo - mas que não seja aqui na América, pois os traficantes não
deixam escapar de suas mãos uma presa, não lhe dão trégua; os próprios colegas exercem o tráfico, e ele não terá como evadir-se, além do que,
mesmo quando estão internados conseguem, por meio de enfermeiros inescrupulosos, que levam a droga para dentro dos hospitais. São pessoas
indignas, criminosas, que conseguem vendê-las. Leve-o para fora do país onde tenha dificuldade de encontrar o tóxico.”
O bispo escreveu para a sua Igreja, em Londres, e pediu permissão para passar uma temporada, naquela cidade, para onde dirigiu-se, mais
tarde, juntamente com a esposa e o filho.
A Igreja providenciou-lhe um lindo apartamento em um lugar encantador da velha capital de Albion, diante da natureza esfuziante de Park
Lane, um dos maiores da Europa, com um imenso campo arborizado, onde se pode caminhar e praticar esportes.
Jim foi levado para uma Clínica e internado por alguns meses. Depois, um psiquiatra e um psicoterapêuta deram- lhe permissão para ir para
casa aos finais de semana, após os quais retornava para seu tratamento.
Sua Excelência, que tinha tarefas religiosas, voltou à América. Estava feliz: Jim voltara a falar normalmente, recuperara a alegria de viver, a
jovialidade, o gosto pelo esporte e pela música, não aquela estúrdia, barulhenta, como também, é claro, o rockn'roll, que na época estava no
auge.
Todos os domingos, à noite, telefonavam-se, conversando numa linguagem jovem:
- “E então filho?”
- “Tudo legal, meu velho! Tranqüilize-se...”
Jim, então, teve alta. No entanto, seu psicólogo reco- mendou-lhe que não voltasse logo, à América, razão pela qual decidiu-se por fazer um
curso extracurricular, em Londres, a fim de consolidar sua recuperação.
Transcorria o ano de 1966.
Quando Jim resolveu voltar, foi muito gentil:
- “Papai, não quero morar em San Francisco. É a cidade da perversão, onde sou muito conhecido. Gostaria de ir para Nova Iorque e morar
em Greenwitch Village, que é o bairro elegante ao sul de Manhattan, dos artistas, dos cineastas, do teatro. Tenho tendência para a arte, e lá está a
aristocracia cultural da América. Gostaria de viver ali, papai.”
O pai, é claro, ficou contente, achando essa uma excelente opção.
Fazia menos de dez meses que ele estava em Greenwitch Village. Agora, ali se encontrava, morto. Suicidara-se. Sua Excelência não podia
aceitar. Era doloroso demais...
Não há palavras que definam emoções. Elas existem para serem vividas, e nunca narradas, porque variam de pessoa para pessoa.
Foi nesse estado de espírito que o bispo ficou dois dias e três noites, sempre que possível, velando o filho, ao fim dos quais as leis
americanas permitem a inumação cadavérica ou a cremação. Ele optou pela cremação, e recebeu, em um vaso de alabastro, seu filho, em um
punhado de cinzas...
Com a esposa retornou a San Francisco, não se sentindo inclinado a continuar, percebendo que havia perdido o contato com Deus, que nEle
não mais acreditava.
O abalo foi-lhe terrível. Perdera a certeza da imortalidade da alma. O que podería dizer a uma mãe cuio filho morrera?
Um sentimento surdo de dor dominou-lhe a alma. Era bom religioso, bom pai e esposo, um homem digno...
E porque era um homem honesto, telefonou à Congregação em Londres solicitando nova licença, explicando: “Estou em crise de fé. Não
oficiarei a religião por um largo período. Desejo voltar às minhas origens, fazer algumas pesquisas, estudar, meditar; não poderei dizer aos
outros aquilo em que não acredito.”
Seus superiores convidaram-no a voltar, o que fez, acompanhado pela esposa, por uma secretária e por um jovem sacerdote para oficiar o
culto religioso, pois não se sentia com coragem para tal.
Por uma “coincidência”, o grupo foi morar no mesmo apartamento onde estivera há um ano com Jim.
Aquilo, para ele, foi mortificante, pois tudo era recordação. Olhava, ao derredor, e a imagem do filho parecia-lhe viva. Lembrava-o em suas
algazarras, cantando as músicas dos Beatles, cuias notas pareciam estar impregnadas nas paredes.
Uma tristeza terrível abateu-lhe a alma; a saudade do ser ausente, a ausência do ser presente a martirizá-lo.
Na segunda-feira, 21 de fevereiro (1967), estava amargurado, sem saber o que fazer, quando foi convidado a ir a uma solenidade da igreja, à
qual não podia escusar-se.
Às 17h00, juntamente com seus acompanhantes, saiu para aquela atividade, sendo o bispo o último, fechando a porta da residência.
Dirigiram-se para o local, onde participaram do culto.
Quando voltaram, às 22h00, ao abrir a porta do apartamento, uma surpresa aguardava-os. Ele parou, estarrecido. No hall de entrada estavam,
no chão, vários cartões postais de Londres, perfeitamente arrumados num ângulo de 120° de abertura.
Após o primeiro momento, quando achou aquilo curioso, perguntou à secretária:
- “Foi você quem os colocou aí?”
- “Não, Excelência! Nunca vi esses cartões.”
- “Mas quem o teria feito?”
A esposa interveio:
- “James, não foi nenhum de nós! Você foi o último a sair e quem fechou a porta. Todos nós já estávamos na rua.”
- “Então foi a arrumadeira - contrapôs. Ela deve ter vindo aqui em nossa ausência e colocou-os, talvez, para agradar-nos.”
Abaixou-se, pegou o postal da Torre de Londres, que era muito bonito. Curiosamente virou-o, e lá estava escrito: “Papai, voltei à droga. Não
tive forças, papai. Minha insegurança emocional levou-me à droga. Abraços, Jim.”
Estava datado de há quase um ano.
Pegou outro, e outro... era uma espécie de semanário. O filho narrava-lhe a agonia da droga, a força desse gigante da alma que o perseguia.
Escrevia as emoções, mas no seu transtorno mental, não postava os cartões, e foi guardando-os...
Ao recuar, o bispo teve outra surpresa. Naquela disposição dos cartões, percebeu que se pareciam aos dois ponteiros de um relógio,
anunciando a hora em que Jim morrera em Nova Iorque: nove horas e dez minutos. Teve um choque. Seria algum aviso, algum sinal?
Desestabilizado, começou a blasfemar: “Deus é perverso! Se meu filho me tivesse mandado um desses postais, eu teria vindo defendê-lo. Por
que não me mandou essas cartas? Ele sempre afirmava estar tudo bem!”
O desespero agora era feito de angústia. A angústia, às vezes, supera as resistências frágeis da criatura...
Recolheu os cartões, chamou a camareira. Ela, instada, respondeu:
- “Jamais, Excelência, eu entraria na casa habitada sem a permissão do residente. Não fui eu! Jamais vi esses cartões.”
- “Mas quem teria sido?"
Sem respostas, mal conseguiu dormir aquela noite. No dia seguinte, pela manhã, quando todos despertaram, sua secretária, que era uma
mulher de quarenta anos, mais ou menos, divorciada, e que usava franjinhas, apresentava um rosto peculiar.
A franjinha é muito importante no rosto de uma mulher (e de rapazes também) (risos). Dizem que as mulheres de 40 anos começam a usar
uma porção de artifícios, e um dos mais importantes é o cabelo, principalmente a mulher de 50 anos que faz franjinhas, as quais tiram 15 anos da
aparência de qualquer rosto...(Risos)
A senhora Bergrud estava naquela idade misteriosa: dizia que eram quarenta anos, mas, possivelmente estava com 50.
Naquela manhã, portanto, de terça-feira, 22 de fevereiro, notou-se algo de especial no seu rosto, que estava diferente.
O bispo sorriu e comentou, jocoso:
- “Senhora, o que aconteceu com o seu cabelo?”
- “Nada!” - replicou ela.
- “Como nada? Parece que lhe foi cortada uma terça parte da franjinha!
Ela amava aquelas franjinhas. Levou a mão à testa. Correu ao espelho. Lá estava: uma terça parte cortada... a fogo.
- “Mas o que é isso?” - interrogou, surpresa - Deve ter sido um pesadelo”...
Mas, não se recordava. Penteou de uma maneira que disfarçava a falta, e o incidente passou sem mais comentários.
No dia seguinte, quarta-feira, quando despertou, a segunda terça parte estava cortada...a fogo.
Foi o bispo quem viu:
- “Que coisa curiosa. A senhora vai terminar incendiando o apartamento! Por que cortá-las a fogo, com tantas tesouras por aqui?"
- Mas Excelência, não sei o que se passa! Confesso que isso jamais me aconteceu...
Todos ficaram intrigados, e, ela, preocupada.
Na quinta-feira, quando a senhora Bergrud despertou, estava totalmente cortada sua franjinha... a fogo. Ficou desesperada. Esbravejou:
- “Excelência, algo está acontecendo aqui!”
Na sexta-feira houve um fato muito desagradável, porque ela acordou com o corpo cheio de hematomas, equimo- ses, marcas, como se
houvesse tomado uma surra.
- “Veja, bispo, como estou! Esta casa está dominada . pelo diabo!” - troou ela.
As pessoas adoram a figura do Diabo. Toda vez que lhes acontece algo inabitual, sempre acham que é coisa do Diabo, nunca de Deus, pois
tem-se mais afinidade com o outro, o que é natural...
Na atualidade, está na moda falar-se de Satanás. As emissoras de rádio, de TV entronizaram-no, e Deus está perdendo lugar. Falam tanto
nele que parece que é o grande chefão...
No Espiritismo, ao contrário, primeiro e sempre Deus, porque o outro não existe.
Os satanases são aqueles espíritos que estão de mente perturbada, pois Deus é paz e amor; não pode ser o Autor do mal; não pode, na Sua
Perfeição Absoluta, haver gerado um adversário também absoluto e para toda a eternidade. Isto afronta a lógica, a razão.
A família estava em pânico. Ele preocupou-se muito. Realmente, aquilo era inusitado. Pensou também na possibilidade de intervenção
diabólica.
No sábado, estava conversando com a esposa e com os auxiliares, quando experimentou uma estranha sensação. Ao voltar ao normal,
percebeu que todos encontravam- se estupidificados, comentando:
- “Padre, o senhor acabou de falar coisas ignóbeis, que não ficam bem na boca de profanos, quanto mais na de um bispo!”
Ele olhou os três. Acreditou que deliravam: “Não é possível! Todos estão loucos” - excogitou. Por outro lado, os três acreditavam que ele
estava num transtorno psicológico...
Foi nessa situação que ele lembrou-se de um amigo que era parapsicólogo.
Estava-se no período áureo da Parapsicologia.
Telefonou-lhe expondo a problemática das cartas no chão, do cabelo da senhora Bergrud, dos hematomas, finalizando: “Não tenho
explicações! Não sei o que fazer.”
O amigo elucidou-o:
- “Excelência, tratam-se de fenômenos mediúnicos. Possivelmente algum espírito quer entrar em contato com o senhor e família.”
- “Mas como espírito?”
- “Sim! As almas daqueles que viveram na Terra. Sua Excelência, como religioso, sabe que não há morte. A morte é do corpo. O espírito
vive, e volta para comunicar-se, para dar notícias. Deve ser alguém desesperado que quer comunicar-se e está chamando-lhes a atenção.”
- “Mas não acredito em espíritos!”
- “Não faz mal. Eles acreditam no senhor. Não é importante que acreditemos. O importante é o fato. Os espíritos não se preocupam com
quem acredita ou não; eles existem e isto basta-lhes. “
- “Mas aí, tens a solução?”
- “Depende de Sua Excelência a decisão.”
- “E o que deverei fazer?”
- “Procurar um médium! Um que não seja interesseiro, que não cobre dinheiro - um médium espírita - pois todo indivíduo que vende as
coisas sagradas é inescrupuloso.
A mediunidade é gratuita, concedida por Deus. Ninguém tem o direito de a vender. Reafirmo: procure um médium que não cobre nada, porque
todo charlatão explora, e como algumas pessoas gostam de ser exploradas, pagando para ouvir mentiras, esses multiplicam-se. Sua Excelência,
como há de convir, sabe que os espíritos são enviados por Deus gratuitamente, e os médiuns devem exercer a faculdade dando de graça o que de
graça recebem.”
- “Mas eu, o bispo James Pike, da Igreja Anglicana da Inglaterra, procurar um médium?"
- “Os espíritos não dão muita importância a posições sociais, eclesiásticas, políticas... O senhor irá à consulta se quiser. Se não o
desejar, continuará o problema!
- “Mas aonde irei? A quem buscarei?”
- “Está em Londres uma amiga minha - disse o parap- sicólogo. Trata-se da senhora Ena Twigg, a maior médium que conheço em
língua inglesa. Se for procurá-la, ela vai dizer que não poderá atendê-lo, porque sua agenda está cheia para os próximos meses. Se buscá-la em
meu nome, tenho certeza de que abrirá uma brecha nos seus compromissos a fim de atendê-lo.”
Deu-lhe o número do telefone e o respectivo endereço.
Sua Excelência ficou no drama: “E agora? - raciocinava -, normalmente estas coisas são pertencentes ao Diabo. Como vou lidar com o seu
instrumento?”
No dia seguinte, depois de pensar muito, diabo ou não, telefonou à senhora Ena Twigg. Ela o atendeu muito bem, agradeceu a referência do
amigo, mas lamentava não dispor do tempo necessário, entretanto, conceder-lhe- ia uma exceção. Estabeleceu uma reserva de horário no sábado
próximo, das 18h00 às 19h00. Poderia recebê-lo pontualmente.
Ele anotou o horário, mas o conflito permanecia: “O que seria isso de os mortos voltarem... Era coisa de Espiritismo... Como iria interrogar a
médium, ele que exorcizava os espíritos maus e perversos? Era a ideia que ele tinha, passando a semana em ansiosa expectativa.”
Para não perder a hora, partiu mais cedo. Quando lá chegou, começou a imaginar: o que seria um médium?
O conceito que Sua Excelência formulava a respeito dos médiuns é de que seriam pessoas exóticas, que deveríam ser nevropatas ou
psicopatas.
Durante muito tempo dizia-se isto - e até hoje, ainda se pensa dessa maneira.
A mediunidade é uma faculdade da alma, que o corpo reveste de células para facultar a comunicação dos espíritos, não tem nenhum sinal à
mostra. Se olharmos para um rosto, não sabemos se é inteligente, se é médium, ou se é menos provido de conhecimentos.
Existem aventureiros em todo lugar, que afirmam in- sensatamente, quando encontram pessoas ingênuas:
- “Você é médium!"
Não sei como é que conseguem saber. Não há sinais exteriores, repetimos; não está escrito na testa.
Afirmam, ainda:
- “Isso o que lhe vem acontecendo é porque você não faz a caridade!"
São charlatães. O Espiritismo não obriga ninguém a fazer a caridade. A caridade é uma proposta pessoal de libertação, de iluminação
interior. Se a pessoa é médium, hoje ou amanhã nela eclode o fenômeno.
Procuram-me pessoas, perguntando-me:
- “Senhor Divaldo, eu sou médium?”
- “Não sei!” - respondo-lhes.
- “Mas o senhor não sabe?”
- “Não!”
- “Mas disseram que eu sou!”
- “Você sente alguma coisa?”
-“Não.”
- “Então, não é!”
- “Ah! Mas eu sinto...”
- “Então é! - retorno-lhes. Só você sabe se o é, pois somente você experimenta a sensação que o fenômeno proporciona.”
A mediunidade tem síndromes como qualquer faculdade. Como se sabe que uma pessoa é inteligente, que tem boa memória, ou aptidão
artística? Pelo que ela revela, obviamente! Somente revelando, é que podemos concluir por aquilo que é.
James Pike pensava, então, que o médium era uma pessoa cabalística, maníaca, estranha, que tem uma porção de manias e que se põe a
tremelicar. Não! Este, é um perturbado emocionalmente. O médium é normalmente uma pessoa simpática, porque ao exercer essa atividade
torna- se um filtro de elevada qualidade. Os vasos que conduzem perfumes, estão sempre com cheiros agradáveis. Aquele que é portador de luz,
está sempre clarificado.
Quando ele apertou a campainha, a porta se abriu, e apareceu uma senhora de uns 50 anos presumíveis. Ele teve um choque: era uma
daquelas senhoras inglesas sorridentes, gordinha, pois os médiuns verdadeiros são muito agradáveis, sem nada o que esconder (risos); os
mistifica- dores que são médiuns, sempre têm subterfúgios e sempre se utilizam de várias técnicas para ludibriar.
- “A senhora é a médium Ena Twigg?”
- “Sim senhor!”
O bispo não conseguiu ocultar a surpresa:
- “Mas não parece...”
- “Mas sou. O senhor é o bispo?”
- “Pois não!”
- “Então, entre bispo.”
Ele entrou e ficou intrigado, olhando para ela, a pensar: “Meu Deus, esta mulher é a médium, mas não parece...
Temeroso, penso, ele levava um terço no bolso, para que, no momento quando Satanás viesse, o exorcizasse.
A mediunidade não é do Espiritismo. É uma faculdade orgânica e todo mundo a possui. Não foi o Espiritismo que a criou; ele explica-a. Os
(médiuns) que realizaram as primeiras experiências, nem sabiam que o eram.
A Igreja Católica está repleta de santos, que se caracterizaram como detentores dessa faculdade. Ainda, há pouco, Sua Santidade o Papa,
tornou bem-aventurado o Frei Galvão, de São Paulo, médium extraordinário, curador; que levantava a mão sobre a água e ela borbulhava. Era
portador de grande magnetismo.
A mediunidade é neutra. Há verdadeira multidão de criaturas, santas e pervertidas que a possuíam: Antônio de Pádua, Tereza d'Ávila,
Francisco de Assis, Adolph Hitler que se considerava médium inspirado pela Divindade, e fre- qüentava uma corporação esotérica, em Berlim,
chamada Grupo Thuless.
O Espiritismo é a única Doutrina que ensina a canalização da mediunidade com correção, estudando-a sob o ponto de vista científico e suas
conseqüências ético-morais.
O bispo ficou olhando para a médium, esperando que eventualmente ela viesse a fazer qualquer loucura ou que fosse tan-tan... Mas, ela
estava tranqüila. Os médiuns, na Doutrina Espírita, são disciplinados.
Sentou-se.
A senhora ofereceu chá, perguntando-lhe:
- “Em que lhe posso ser útil?”
- “Minha senhora, - iniciou ele - meu filho suicidou- se. Estão acontecendo algumas coisas insólitas em minha casa, transformada num
pandemônio. Um amigo nosso, como já é do seu conhecimento, sugeriu-me que a procurasse...”
Narrou-lhe os acontecimentos. Ela sensibilizou-se. Após refletir por um momento, solicitou-lhe:
- “Passemos à sala das sessões.”
Ele pensou: “É agora! Lá, deve ser o lugar onde se realizam as superstições, uma porção de coisas..."
Quando se adentrou na sala, teve nova decepção: era uma sala comum, exígua, modesta; uma pequena mesa, duas cadeiras.
Algumas pessoas desinformadas acham que as salas das sessões espíritas são adornadas com cortinas de seda vermelha ou de cores berrantes;
com velas, símbolos...
No Espiritismo não há nada disso, nada que impressione, nada externo. Aonde exista esta parafernália, como bolas de cristal, búzios, cartas,
podem ser muito respeitáveis, mas não se trata de Espiritismo, que é a doutrina da vida interior, desvestida de atavios.
A mediunidade não precisa de nada externo; o médium sintoniza com os espíritos felizes, entregando-se a Deus, a fim de que o fenômeno
ocorra.
Madame Twigg sentou-se numa chaise longue e ofereceu-lhe a outra cadeira. Perguntou-lhe se gostaria de orar. Ele inquiriu:
- “Senhora, é necessário orar?"
Ela respondeu:
- “Sim. Nós somos cristãos, e o Espiritismo nos induz a orar."
- “Mas é necessário?” - tornou ele.
- “Se o amigo quiser; porém, sem qualquer constrangimento.”
*
Sua Excelência Reverendíssima pensava que o Espiritismo era dessas coisas misteriosas, em que são usados artifícios enganosos e
interesseiros, com base nas superstições para impressionar o invigilante. Pelo contrário, o Espiritismo acabou com o sobrenatural, com o
fantasioso. É a doutrina da lógica. Somente aceitamos o que digerimos culturalmente. Só tem sentido para nós o que é racional. É-nos melhor,
que abandonemos algumas verdades a aceitarmos sequer uma mentira.
O espírita é alguém que descobriu o abençoado caminho da iluminação. É, também, aquele que investe na lógica, na razão. Não é o fato de
alguém dizer-nos: “Eu sou médium”, para acreditarmos que esteja em condições de receber seguras mensagens do mundo espiritual. Cabe ao
espírita investigar sempre.
A fé natural leva-nos a aceitar os acontecimentos sem análise, enquanto que a fé raciocinada exige-nos a investigação, pois que, no caso em
pauta, estamos lidando com a imortalidade da alma.
Ao saber que seria necessário orar, acreditou que estava diante de uma senhora séria e de algo que era perfei- tamente aceitável pela doutrina
cristã.
Porque era um homem honrado, começou a orar, fechando os olhos. Sentiu novamente a presença de Deus.
Quando silenciou, escutou uma voz:
- “Papai, papai! Sou eu, papai, Jim!”
Ele abriu os olhos. Observou, então, que o semblante da senhora Ena Twigg estava algo transfigurado, os lábios arroxeados, a garganta
túrgida,..
A voz continuava:
- “Papai, sou Jim! Não me matei. Eu estava muito deprimido, à véspera do acontecimento. Fui deitar-me e o sono não vinha; não conseguia
dormir. Resolvi tomar um sonífero, que não fez efeito. Tomei outra drágea, que também não foi eficaz. Fui tomando automaticamente outras, e
deu-se uma overdose. Houve uma parada cardíaca e subitamente me vi expulso do corpo, como se arrancasse da mão uma luva.
“Fiquei desesperado - prosseguia Jim - Eu era muito jovem, papai, não queria morrer. Não queria magoá-lo, nem tampouco à mamãe. Você
me perguntava o por quê da droga. Vou lhe dizer: eu era muito tímido, tinha medo de encarar as garotas. Elas eram muito audazes e entenderam,
sob a indução dos colegas, que eu deveria usar drogas para poder enfrentá-las. Perdoe-me papai, perdoe-me. Sempre os amei, a você e à mamãe;
não queria criar-lhes qualquer embaraço. Não posso ficar muito tempo; estou ainda atordoado e vim aqui trazido pelo doutor Tilich, um amigo
seu, que me socorreu, quando comecei a gritar, no meu desespero. Alguém me dizia: Jim, lembre-se de Deus! Volte-se para Deus Jim. Comecei
a suplicar perdão, a orar. Não sei quanto tempo durou essa minha aflição, até que um dia ele me apareceu. Ele tem sido meu anjo da guarda.”
O bispo estava surpreso, enquanto os detalhes prosseguiam:
- “Foi seu colega de seminário. Ele me disse: ‘Jim, a sua ignorância, a sua brutalidade arrancou-o do corpo. Você vai sofrer muito, Jim, mas
Deus é amor.’ Papai, não estou no Inferno, mas também não estou no Céu. Estou com a consciência culpada; sinto o corpo, as sensações da
matéria. Estou sendo medicado. Mr. Tilich é meu anjo bom, papai. Não posso falar mais, porque é a primeira vez. Volte aqui, para conversarmos
outra vez. Estão me dizendo que está na hora de ir. Até logo, papai!”
O rosto da médium passou por nova modificação. Subitamente, uma voz suave expressou-se:
- “James, sou eu, teu amigo Tilich! Recordas-te? Estou aqui para agradecer-te a reportagem biográfica que escreveste em minha
homenagem. Ainda me recordo, James, de quando conversávamos e sonhávamos com a vida, rica de ilusões e de conquistas.”
Eram dois amigos que se encontravam alguns anos depois da separação pela morte de um deles.
Quem é que não conhece um amigo? Tilich falava-lhe do tempo do seminário, recordava cenas através de uma boca estranha. O bispo sorria
e chorava...
- “Sabe quem está aqui conosco, James? Fred! Aquele primo teu que pulava amarelinha... Também teu pai. Reçupera tua confiança em
Deus. Ele existe. Teu filho está sob a Misericórdia de Deus, e oro por ele.”
O bispo Pike estava deslumbrado. Como era possível? Aquela dama estava agora com o rosto diáfano, a voz era máscula e doce, os gestos
eram nobres e bem distribuídos, de uma pessoa culta.
- “Tu estás desesperado? - prosseguia a voz - ninguém morre! Jim não está no Inferno, porque não existe Inferno eterno. Deus ama sempre.
Está sim, no Inferno da consciência culpada. O Inferno é um estado de tormenta interior, e o Céu, também um estado de consciência de paz,
James; não são regiões geográficas, demarcadas. Aquele que tem consciência de culpa, onde quer que esteja encon- tra-se no Inferno, e aquele
que está aureolado pela harmonia, mesmo num turbilhão, está no Céu. Jim não queria morrer, mas o vício da droga o fez um suicida indireto.
Isto ocorreu porque ele estava excitado sob a ação dos produtos químicos, e tornou-se um suicida indireto quando abriu as portas para o tóxico,
franqueando espaço para a loucura, que culminou na ocorrência trágica.
Falou-lhe largamente, concluindo:
- “Volta, para conversarmos. Ainda tens muito a aprender.”
Quando terminou o diálogo e a médium tomou à lucidez,
o bispo estava emocionado. Ela passou a questioná-lo:
- “Então, Excelência, foi Satanás?”
- “Não, senhora! Eu estava fora de Deus e Satanás veio trazer-me de volta a Ele.
- “Foi seu filho ou foi telepatia?”
- “Sem dúvida! Reconheci-o. Era meu filho.”
- “E era seu amigo?"
-“Lógico! Tilich foi meu colega de seminário.”
- “Então, Excelência, que Deus o abençoe. A sua hora está concluída.”
- “A senhora permite que eu volte?”
- “Como não! Venha nos próximos sábados às 18h00."
Ele voltou várias vezes. Levou a esposa e os auxiliares, ouvindo Jim falar-lhes.
Voltou para a América totalmente modificado. Estava alegre. Ao chegar a San Francisco, na sua catedral, proferiu o sermão, no qual exaltava
a vida em triunfo, a imortalidade da alma, a comunicabilidade dos espíritos, arrematando:
- “Voltei a Deus! Encontrei a alma através da mediu- nidade. Meu filho voltou, falou comigo com o mesmo ardor, com a mesma voz. Era
Jim! Também Tilich, o venerando teólogo e filósofo inglês, dialogou comigo. Acredito, sim em Deus e na comunicação dos mortos. Os mortos
voltam, sim; dialogam conosco. A morte é um estágio no processo da transformação, e mudança de um campo vibratório para outro, muito mais
integral."
Seu discurso foi uma bomba. Naturalmente, produziu uma revolução, em razão de constituir-se ele numa das maiores personalidades da
Igreja Anglicana no Novo Mundo...
Um colega que lhe tinha inveja - o mundo é feito de gigantes e de anões, de nobres e de mesquinhos 1 não podendo chegar à estatura do
bispo Pike, escreveu uma reportagem relatando que a dor da perda do filho enlouque- cera-o.
Grande parte da humanidade é assim: quando alguém está louco de dor, falta compaixão; quando está rico de alegria, a inveja denigre e
deseja que volte à decadência.
Ele respondeu com altivez, e para silenciar a boca da calúnia, escreveu um livro que denominou como The Other Side, (O outro lado).
Passou, então, a procurar médiuns em San Francisco, na Philadelfia e em Nova Yorque. Posteriormente foi a Otawa, capital do Canadá, onde
se encontrou com o célebre médium Arthur Ford. Esse médium foi tão notável, que decifrou um dos grandes enigmas deixados por Houdine, o
maior mágico mundial, à época, trazendo-o da imortalidade para revelar esse segredo.
Houdine, quando vivia no corpo, propagava que os fenômenos mediúnicos eram mistificações. Tinha um código secreto com a esposa para
poder fazer adivinhações e falsas telepatias.
Quando estava muito mal da apendicite que o vitimou e de um golpe que houvera recebido no estomago, convencionou com sua esposa:
- “Se houver vida depois da vida e os mortos voltarem, virei para dizer-te o código que somente tu e eu sabemos. Escreve-o, lacra-o e
coloca-o num Banco, em Los Angeles.”
Ela assim o fez, guardando o envelope num cofre-forte bancário.
Houdine havia dito à mulher que para provar a imortalidade da alma, quando alguém confirmasse que ele se comunicava, que eia exigisse o
código.
Anos depois Arthur Ford estava em um espetáculo de teatro, quando ela se levantou e perguntou-lhe:
- “O senhor poderia chamar meu marido?"
Ele, diante dos jornalistas, respondeu:
- “Como não! Houdine está aqui. Está me dizendo que aquilo que está depositado no Banco de Los Angeles, tem a seguinte anotação... e
disse todo o código, exatamente como Houdine o ditara para ela.”
Quando abriram o cofre, era perfeito. Isto celebrizou Arthur Ford como médium.
Foi numa das suas idas a Otawa, que o bispo participou como seu entrevistador em um programa de televisão. A entrevista foi monumental.
Dois grandes gênios defron- tavam-se. Subitamente, diante das câmeras de televisão, Arthur Ford entrou em transe, e disse:
- “Papai, sou eu, Jim!”
E conversaram...
Quando Ford recuperou a lucidez, perguntou-lhe:
- “Excelência, acha que foi o Diabo quem lhe falou?"
- “Não, não! O Diabo não pode fazer o bem. Eu estava ateu, revoltado e planejando matar-me. Meu filho veio do Além e salvou-me a vida.
Como é que o Diabo vai salvar a vida de quem se rebelou contra Deus? A imortalidade da alma é prova do amor dEle."
No ano de 1968, o bispo empreendeu uma viagem a Israel, então um país jovem de 21 anos, na condição de diplomata representante da
British Commonwealth of Nations (Reino Unido da Grã-Bretanha), recebendo apoio consular e transitando em carros oficiais.
Por cinco dias visitou os lugares onde teria estado Jesus. No sexto, pediu licença para ir ao deserto de Negev pedindo emprestado um Jeep.
Foi e não voltou. Desapareceu.
Aquele homem era tão importante, que a Força Aérea de Israel, considerada a segunda melhor do mundo, após os Estados Unidos, varreu o
deserto nada havendo encontrado. Sapadores(18) foram procurá-lo, sem sucesso.
No terceiro dia de buscas, estava em Tel Aviv, a nova capital de Israel, sua esposa, agora viúva em desespero. Ela entrou em transe, e
solicitou:
- “Tragam-me um mapa do deserto.”
Alcançaram-na. Ela tornou a falar:
- “Meu corpo está aqui, nesta fenda - era ele falando - o Jeep(19) caiu, e morri de concussão cerebral.
Com aquela marca no mapa foram até lá, encontrando o veículo e o cadáver, em começo de putrefação.
Eis aí uma prova documental da realidade imortalista.
A Doutrina Espírita, nesta hora de Ciência e tecnologia, vem oferecer-nos aquilo que ambas não nos podem dar: a certeza da imortalidade.
No ano de 1915, na Academia Francesa de Letras, Chalemel Lacourt, levantou-se para dizer: “Ciência e Razão, eis os meus deuses.”
18 SAPADORES - Soldados ou outros indivíduos que executam trabalhos com a sapa, uma pá com a qual se ergue a terra escavada; abridores de fossos,
trincheiras e galerias subterrâneas.
19 CONCUSSÃO CEREBRAL - É a perda imediata da consciência quando de um trauma; forças rotacionaís bruscas causariam estiramento de axônios.
Logo depois, na mesma veneranda Academia, Francis Chalmers, pronunciou esta outra frase monumental: “Não conheço um só exemplo de
alguém a quem a ciência tenha enxugado as lágrimas nascidas do coração.”
Só o Espiritismo é que pode explicar hoje essas lágrimas, que nascem do coração. Não é uma ciência convencional. É uma ciência de
observação, porque a convencional lida com a matéria. Um microfone, por exemplo, obviamente será sempre um microfone, pela sua
constituição própria, mas o Espiritismo lida com a alma, que está noutra dimensão, e por ser cada espírito uma realidade individual, nem sempre
atende aos apelos que lhe são feitos, submetendo-se a investigações. Não podemos aplicar a mesma técnica para um microfone, que usaríamos
para uma pessoa ou para outras mais, ainda. Todos os microfones têm a finalidade de projetar a voz, mas cada alma tem uma especificidade.
Os espíritos, que são as almas das pessoas que viveram na Terra, são caprichosos; não atendem nossas paixões, pois o mundo espiritual não é
de flocos de algodão. É um mundo real, é o mundo causal. Este nosso, é o mundo dos efeitos.
O fato de estarmos desejando que alguém se venha comunicar conosco, não implica em que ele possa fazê-lo, porque existem leis que lhes
regem a existência. Se, na Terra, temos leis, as da Espiritualidade são muito mais estritas e rigorosas.
Allan Kardec nos diz que o Espiritismo é uma Ciência de observação, que tem a ver com as demais ciências, mas por ser específica, tem
características próprias.
Quem de nós ainda não perguntou: “Por que os maus prosperam e os bons sofrem tanto?; os filhos ingratos progridem, os filhos generosos
têm os maiores problemas?; por que as pessoas hipócritas, pusilânimes, normalmente estão muito bem?; por que as doenças déformantes e as
psíquicas, a esquizofrenia, o autismo?; por que nascem crianças degeneradas?; Deus está castigando a quem? Ao pai; à mãe? Para castigar os
criminosos Ele faz vítimas inocentes?”
Quem não terá feito perguntas como tais: “Por que uns são tão belos e outros são deformados?; por que pessoas há que tudo quanto tocam
vira ouro e outras jamais têm oportunidade de possuir qualquer coisa valiosa?; por que o câncer, a AIDS, as degenerescências celulares?
Todos nós temos estes questionamentos. Muitos religiosos interrogados, respondem:
- É porque Deus assim o quer.
Obtemperamos:
Mas Deus não quer dessa maneira! Ele estabeleceu uma Lei fundamental que é a de Amor. Quem a desrespeita, sofre-lhe as inevitáveis
conseqüências. Deus nos programou para a felicidade, para a plenitude. A nossa fatalidade é o Reino dos Céus. Chegar lá, será resultado do
nosso livre arbítrio, que elege o esforço a ser aplicado pelo conseguir. Vai depender de nós. De acordo com o que quisermos, chegaremos: uns
mais rápidos, outros menos velozes. Aqueles que optarem por uma estrada mais reta, por um caráter mais rígido, naturalmente atingirão a
plenitude antes; aqueles que elegerem pelo retardar da marcha, naturalmente chegarão depois, mas todos chegaremos. Uns chegam a esta cidade
de automóvel, outros de avião, outros de carroça. Há uma diferença de veículos, mas todos chegamos ao nosso destino.
O Espiritismo nos dá como resposta filosófica a re- encarnação. Somos os autores do nosso destino. Colhemos na terra que semeamos.
Ninguém herda sementeiras alheias.
Acusam-nos de que esta é uma Doutrina cômoda, que deixamos para uma outra existência, o que poderiamos realizar hoje... Não é verdade!
A proposta do Espiritismo é “seja feliz agora”; “o seu amanhã começa hoje.” O amanhã nada mais é do que uma colocação filosófica de natureza
fuso-horário. Não existe o amanhã. Do ponto de vista filosófico, a dimensão do tempo é variante. A dimensão do tempo geológico é diferente do
tempo fisiológico, do tempo psicológico, do tempo artístico, do tempo de Einstein... Se o indivíduo sai da Terra na velocidade da luz e volta dez
minutos depois, o homem da Terra terá vivido muitos anos, enquanto ele apenas dez minutos. É a Lei da Relatividade do tempo e do espaço.
Demonstra-nos, o Espiritismo, que a reencamação é expressão da justiça de Deus, ensejando-nos reparar quando erramos e crescer quando
ofertamos. É um ato de misericórdia.
A reencamação é lei divina; a Terra é nossa escola.
A proposta da Doutrina Espírita é a de que estamos na Terra com a finalidade de evoluir. Por isso é que Jesus fez- se-nos modelo e guia.
Todos nós sabemos o que devemos e o que podemos fazer; agimos errado por livre opção. Quantas pessoas di- zem-nos: “Eu sei que estou
errado, mas vou prosseguir assim!” E acrescentam mais, ainda: “Azar, mas vou fazer tudo conforme hoje o realizo!”
Respondemos:
- OK\ Tudo bem.
Depois, voltam, e colocam-nos:
- Ah! Mas estou sofrendo...
- OKI, Foi você quem buscou o sofrimento - elucidamos.
A AIDS, por exemplo, é carma somente quando se
descende de uma mulher enferma, ocasião na qual se deu a contaminação ou quando, numa transfusão de sangue, o indivíduo tornou-se
soropositivo, por recebê-lo contaminado. Então são processos cármicos depuradores. Mas a pessoa que tem uma vida sexual promíscua, a que se
permite deslizes morais e contrai o HIV, com proliferação, não é carma. Ela foi buscar a doença que não estava no seu programa. Tornou-se
doente por que quis. Deus não tem nada a ver com isso.
- Oh! Meu Deus, me perdoe... Pede o enfermo.
Deus, o que dirá?
- Vá procurar o remédio! Você foi procurar a doença.
A história notável desse homem, que era bispo da Igreja Anglicana da Inglaterra, e sua experiência mediúnica, o drama da toxicomania na
juventude do seu filho, as provas legítimas da sobrevivência da alma, dão-nos um painel insuspeito a respeito do Espiritismo.
Condenado por uns, no século XIX, perseguido por outros, no século XX, suspeito de intervenção demoníaca, considerado transtorno
psicopatológico, o Espiritismo superou todas as acusações, e, na atualidade, apresenta-se como o grande decifrador das incógnitas do
comportamento humano.
Possui ele as respostas hábeis para todos os problemas do pensamento filosófico, para as dolorosas injunções psicológicas, para os dramas de
natureza histórica, tendo conseguido vencer o maior desafio de todos os tempos da humanidade - a morte!.
O Espiritismo matou a morte. Só existe vida. Transferi- mo-nos de uma vibração para outra, com as qualidades que nos são inerentes, e
despertamos conforme o patrimônio acumulado e não consoante gostaríamos de estar.
O Espiritismo é a resposta de Deus às terríveis interrogações do planeta terrestre. Ele vem dizer e provar-nos que a vida é indestrutível, que
cada um de nós é o autor do próprio destino; conforme a sementeira, assim será a colheita.
Vivemos uma hora de amarguras, de desaires, de frustração, de solidão e violência, mas o Espiritismo traz a proposta da restauração do
Evangelho, conforme o viveram Jesus e os Seus primeiros apóstolos, ensinando-nos que o amor é a solução, a conduta reta, o dever nobremente
cumprido, e a oportunidade de o Bem fazer, são bênçãos a todos concedidas - porque a maior felicidade é fazer o Bem, que é sempre melhor
para quem o faz e não para quem o recebe - trazendo-nos Jesus de volta, o Homem de Nazaré, afável e bom, enérgico e altruísta.
Aquele que não é caridoso, naturalmente não se liberta das suas paixões. A caridade é a virtude que nos leva a viver a experiência do nosso
irmão e compartir com ele as dificuldades que experimenta. Quem tem mais, reparte; quem tem menos, agradece.
Eis porque, Allan Kardec estabeleceu como lição máxima: “Fora da caridade não há salvação.” Não é na crença, pura e simples, mas na ação
que se encontra a fórmula salvadora. Não é na aceitação tácita e monótona de uma profissão de fé. Nesse mecanismo rico de atividade e de
enobrecimento, é que estão a salvação, o equilíbrio, a paz, a lucidez, a felicidade.
Então, é uma Doutrina que veio trazer de volta Jesus, porém, descrucificado. Não mais aquele Jesus sadomaso- quista, que as tradições nos
ofereceram, o que nos pede para chorar, mas um Jesus que anda com nossas pernas, que fala pela nossa boca, que socorre pelas nossas mãos, que
transita pelos nossos sentimentos; um Cristo afável que é realmente bom, mas não compactua com o nosso erro. O erro é nosso; então, nós o
resgataremos.
O Espiritismo chega no tempo predito para ajudar a criatura a encontrar seu auto-roteiro, a sua paz, a lutar pela tarefa de auto-iluminação.
Quem de nós, com raríssimas exceções, não tem problemas? Se não o tem financeiro, tem-no emocional; se não tem nenhum dos dois, tem-
no social e, se nenhum desses, carrega o afetivo.
A Doutrina Espírita estabelece uma outra premissa para fomentar o desenvolvimento intelecto-moral da sociedade, sintetizando-a em uma
tríade: trabalho - solidariedade - tolerância.
A Doutrina Espírita veio dar-nos uma consciência integral. É possível ser feliz. O apóstolo Paulo dizia: “Eu sou o mesmo na felicidade ou na
desdita, na abastança ou na escassez.” Este é o indivíduo pleno, aquele que triunfa.
Essa é a Doutrina extraordinária que temos a honra de apresentar, em rápidas pinceladas, mediante uma história real.
Começamos, salientando que um pequeno problema, às vezes, muda completamente nossa vida, e que, na existência de todos nós, um fato
modifica inteiramente a nossa caminhada. Por isso, quando estamos na crista da vaga do desequilíbrio, quando o homem se transforma em lobo
do homem, quando os valores éticos esmaecem, a família se desestrutura, a sociedade cambaleia, sem termos um rumo nem um porto... ante a
violência urbana, a sexolatria e a toxi- comania desvairadas, o Espiritismo propõe uma releitura do Evangelho de Jesus, uma revisão dos nossos
conceitos.
É necessário que cada um de nós faça algo para mudar a paisagem atual. E, o primeiro a fazer-se, é a mudança de atitude mental; sairmos do
pessimismo, cultivando ideias positivas.

NOTAS COMPLEMENTARES
Para facilitarmos uma melhor compreensão de alguns trechos desta Obra, houvemos por bem inserir alguns comentários que, pensamos,
poderão contribuir para uma melhor ideia da nossa proposta, começando por uma dissertação de Divaldo sobre a questão anima/animus,
termos usados em Psicologia:
Joanna de Ângelis, nos últimos dezesseis anos, escreveu doze livros para codificar a psicologia espírita diante da proposta de Carl
Gustafr.innfl e ao encerrar sua série psicológica, faz uma abordagem de Freud, de Milton Erickson, ao mesmo tempo com as propostas dos
grandes sensualistas, demonstrando a ex- celência da psicologia espírita.
Ciungpara poder entender a criatura humana, não tendo uma definição religiosa, embora descendendo de um Pastor Luterano e havendo
vivido em um clima familiar místico, embora muito conflituoso, resolveu adotar por algum tempo essa religião, pró-forma. Recomendava ser, a
religião, fundamental para a saúde mental, salientando que ela, seja qual for, auxilia o indivíduo a manter o equilíbrio da saúde, recuperando-se
mais facilmente dos transtornos neuróticos, diferindo do que ocorre com os não religiosos ou aqueles que desprezam a religião, por
desconsiderarem essa bengala psicológica que lhes serviria de apoio.
Desta forma, Jung começou a pensar çomp teria sido a origem do Universo e a da criatura humana, para não ficar preso aos cânones da
Bíblia, buscando a razão pela qual temos tantos conflitos.,
Nós outros, consideremos que nosso psiquismo (mais tarde espiritordp pontõ de vista espírita, transitou pelãsHíferentes fai-
JOng procurou uma palavra para enfeixar a ideia de que somos herdeiros dessas gerações passadas. Encontrou-a nas tradições do
Cristianismo - arquétipo -, e que estava também presente na cultura grega, proveniente de archaios (antigo) e ty- pos (forma, marca), marcas
antigas.
xas da evolução: mineral, vegetal, animal... Trazemos toda uma carga ancestral, que era típica das nossas necessidades naquelas faixas. Também,
do ponto de vista materialista, somos herdeiros dessa evolução antropológica, já que o feto repete, nos vários períodos do seu desenvolvimento,
as diferentes formas por onde .transitou a vida humana. Desde o zigoto até o nascimento, o ser volta a representar todas as manifestações
primáfjas da’âyolu- ção, ficando-nos como-heranca desses períodoftrês instintos.. que são chamadoj jásicospor preservarem a vida: alimenta;
ção, procriação e repouso.
TambémJung-demonstrou que somos portadoxes-deois in- conscientes\o individual, fcjüe é~herança familiar eto coletivoí que é a herança
universal. Esta última está embutida em nós, e somos inevitavelmente conhecedores inconscientes de coisas que aconteceram nas gerações
passadas. Portanto, Jung fez uma adaptação do termo arquétipo, que já fora usado por Santo Irineu e pelos gregos antigos, atualizando-oJO
arguétipolpassou então a ser uma herança ancestral, que está presente em nosso inconsciente e que nos leva a determinadas posturas sem que
nos demos conta.
Jung começou a ampliar este seu conceito de arquétipo. Há, um deles, primordial, onde estão todos os mitos.
Sua psicologia é muito belajja qual também ressalta nossa existência ser fruto de muitos(mitos) Qual é a cidade ou país que não tem o seu
mito? O mito do Negrinho do Pastoreio, do Boitatá, do Saci-pererê e muitos outros, todos estão fixados no nosso inconsciente.
O arquétipo é o símbolo de onde tudo provém. Jung estabeleceu un/arqueiipo prímordiaQrepito, como sendo aquele que é básico, que
chamaríamos Deus, Causa, Natureza; a nomenclatura é secundária diante da estrutura essencial do fato.
O arquétipo primordial daria origem a três outrosforquétiposj Jundamentii$) que nos acompanham durante a existência. O primeiro deles é
oSelÿst, que foi traduzido-parsuo inglês e tomou cidadania com<xSe/£jQ si mesmo.vo,Eu profundoefirmando-nos que temos uma personalidade
que exteriorizamos,(ò ego), Não Destacada esta temática, fomos buscar err\Obras PóstLh) mas,j)âQÍna 127 da 17a edição da FEB, alguns
subsídios a mais, consubstanciando a proposição maior deste livro, na tentativa de tornar sintético e de maior rapidez àqueles estudiosos que
queiram especificamente reportar-se às questões enfocadas, atraídos pelas belas dissertações abordadas pelo autor.
Kardec afirma que “tudo, pois, nas palavras de Jesus, quer" as que Ele disse em vida, quer as de depois de Sua morte, acusa uma dualidade
de entidades perfeitamente distintas, assim como o profundo sentimento da sua inferioridade e da sua subordinação com relação ao Ser
supremo. Com a finalidade de deixar-se bem claro que Jesus sempre se referia a Deus como Pai. Kardec ali faz um estudo sobre a natureza do
Cristo e cita uma extensa coletânea de narrativas evangélicas, corroborando esta asserção, das quais algumas pinçamos:
1) - Preparando a sua partida da Terra: “Estou ainda con- vosco por um pouco de tempo, e em seguida vou para Aquele que me enviou" (Jo
8,33); “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, credes em mim também” (Jo 14,1); “Ouviste o que vos disse: eu me vou, e volto a vós. Se
me amais, vos alegreis, pois que vou para meu Pai, “porque MEU PAI É MAIOR DO QUE EU” (Jo 14: 28);
2) - Antes da desencamação: “Exclamando com voz alta disse Jesus: Pai, em tuas mãos entrego o meu Espirito” (Lc 23:46);
3) - Quando da crucificação: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.” Lc 23: 34;
4) - Na aparição a Maria Madalena: “Não me retenhas, porque ainda não subi para o meu Pai; mas ide procurar os meus irmãos e lhes
dizei, de minha parte: eu subi para o meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus” (Jo 20:17);
5) - Considerando-se inferior a Deus: “Desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade DAQUELE QUE ME
ENVIOU.” (Jo 6:38).
Deus é o Pait é o Criador; a Causa primária de todas as coisas. Jesus é um dos seus filhos, um entre os Espíritos superiores do Universo que
cuidam dos mundos. Não foi Deus que veio à Terra, submeter-se a uma experiência humana, mas Jesus, um dos Seus importantes auxiliares
divinos. Ao perceber Jesus como filho de Deus e não o próprio Deus, não estamos a d iminuir-Lhe a grandeza. Jesus, tendo conquistado todos os
degraus na escalada da evolução, em outros mundos e antes da formação do nosso planeta, atingiu a condição de Espírito Puro e embora não
sendo o Criador, está muito próximo d Ele.
Jesus não é, como muitos imaginam, criador de determinada religião. Ele é a Luz do Mundo, assim como o Sol não ilumina só um
hemisfério, mas distribui à Terra toda seus benefícios, do mesmo modo o Pastor divino apascenta com igual carinho todas as ovelhas do Seu
rebanho, sem jamais constranger alouém a crer deste ou daquele modo. procura, sim, despertar o que há de bom em cada criatura e mostra o
roteiro: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga os meus passos”, (Lc 9,23-25).

En\ 1947 jim jovem pastor, de cabras atira uma pedra numa caverna riãTegião de Kumran (junto ao Mar Morto), escuta um barulho de algo
quebrando e, assustado, corre apressadamente para chamar as autoridades. Dá-se, então, aquela que foi a maior descoberta arqueológica da Era
Moderna e uma das maiores de todos os tempos - os manuscritos do Mar Morto. Foram eles guardados cuidadosamente, por centenas de anos,
pelos Essênios, uma comunidade judaica zelosa pela santidade e que vivia isoladamente dos demais. Acredita-se que os documentos datam de
antes da Era Cristã. Os manuscritos contêm muitas informações a respeito do modo de vida dos Essênios, grande parte de fragmentos dos
principais livros do Antigo Testamento, como Salmos, Ester, Provérbios, entre outros. Porém, o mais impressionante era um Livro que estava
praticamente intacto. Aquele livro foi conservado por inteiro e sem diferença alguma do livro que temos hoje: o livro do profeta Isaías. que
assinala a vinda do Messias.
LACORDAIRE - Jean-Baptiste-Henri Lacordaire nasceu em 12 de maio de 1812, numa cidade francesa perto de Dijon. A despeito de seus
pais serem religiosos fervorosos, o jovem Lacordaire permaneceu ateu até que uma profunda experiência religiosa o levou a abraçar a carreira de
advogado, na Teologia. Vigário da famosa Catedral de Notre-Dame, em Paris, a força da sua oratória atraía milhares de leigos para o culto.
Discípulo de Lamennais, preocupou-se em afirmar que a união da liberdade e do Cristianismo seria a única possibilidade de salvação do futuro.
Foi Membro da Academia Francesa de Letras. Allan Kardec inseriu artigo a seu respeito na Revista Espírita de fevereiro de 1867, seis anos após
a sua desencamação, que se deu em 21 de novembro de 1861. Nele, reproduz extrato da correspondência que inicia o presente artigo,
comentando: “Sua opinião sobre a existência e a manifestação dos espíritos é categórica. Ora, como ele é tido, geralmente, por todo o mundo,
como uma das altas inteligências do século, parece difícil colocá-lo entre os loucos, depois de o haver aplaudido como homem de grande senso
e progresso. Pode, pois, ter-se senso comum e cremos Espíritos."
Em sessão realizada na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em 18 de janeiro daquele ano, o médium escrevente Morin descreveu a
presença do Espírito padre Lacordaire como “um Espírito de grande reputação terrena, elevado na escala intelectual dos mundos (...) Espírita
antes do Espiritismo (...) e concluiu: “Ele pede uma coisa, não por orgulho, por um interesse pessoal qualquer, mas no interesse de todos e para
o bem da Doutrina: a inserção na Revista do que escreveu há treze anos. Diz, que se pede tal inserção, é por dois motivos: o primeiro ‘porque
mostrareis ao mundo, como dizeis, que se pode não ser tolo e cremos Espíritos’.
O segundo é que a publicação dessa primeira citação fará descobrir em seus escritos outras passagens que serão assinaladas como concordes
com os princípios do Espiritismo .”
Mas, ele mesmo, Lacordaire, retomou do Além-Túmulo, para emprestar à obra da Codificação a sua inestimável e talentosa contribuição.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos três mensagens, ditadas no Havre e Constantina, todas datadas do ç ano de 1863,
discorrendo sobre “O bem e o mal sofrer" - capl/í*v V, item 18; “O orgulho e a humildade" - cap. VII, item 11 e, “Des-j
prendimento dos bens terrenos” - cap. XVI, item 14.
*
LAMENNAIS - Nascido em uma família burguesa, em 19 de junho de 1782, em Saint-Malo, na França, Félicité Robert de Lamennais foi
brilhante escritor, tornando-se uma figura influente e controversa na história da Igreja francesa.
Depois da revolução de julho, em 1830, Lamennais, junto com Jean-Baptiste-Henri Lacordaire e Charles de Montalembert, além de um
grupo entusiástico de escritores do Catolicismo Romano Liberal, fundou o jornal LAvenir. Nesse jornal diário, defendia Lamennais os princípios
democráticos, a separação da Igreja do Estado, criando embaraços para si tanto com a hierarquia eclesiástica francesa quanto com o governo do
rei Luis Felipe.
O Papa Gregórío XVI desautorizou as opiniões de Lamennais na Encíclica Mirari Vos, em agosto de 1831. A partir de então, Lamennais
passa a atacar o Papado e as monarquias europeias, escrevendo o famoso poema Palavras de um Crente, condenado na Encíclica Papal Singulari
Vos, em julho de 1834. O resultado foi a exclusão de Lamennais da Igreja.
Por ocasião de sua morte, em Paris, em 27 de fevereiro de 1854, não desejando se reconciliar com a Igreja, foi sepultado em uma cova de
indigentes.
No Mundo Espiritual, não permaneceu ocioso, eis que em O Livro dos Espíritos, na pergunta de número 1009. encontra-se uma mensagem
de sua lavra, ilustrando a resposta. Nela, revela os traços da sua fé, concitando as criaturas a aproximar-se do Bom Pastor e do Pai Criador,
combatendo com vigor a crença das penas eternas.
Na mensagem que assina em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI, item 15, ele se revela o ser compassivo, que conclama as
criaturas a obedecer à voz do coracâo. oferecendo. se for necessário, a própria pela vida de um malfeitor.
Henrique VIII, (1491-1547), rei da Inglaterra entre 1509 e 1547 e o cisma com a Igreja Católica - (página 141) -Tendo-se apaixonado, em
1527, pela escocesa Ana Bolena, tentou romper seu casamento com Catarina de Aragão, com a qual tinha uma filha, Maria Tudor. O Papa
Clemente VII negou-lhe, manifestando uma hostilidade que não foi vencida nem pelos pedidos do embaixador francês. Thomas Cromwell,
nomeado Conselheiro do Rei, e um Teólogo católico, Thomas Cranmer, a quem o cisma com a Igreja Romana não amedrontava, promoveram
reformas administrativas, subordinando a Igreja ao rei, então proclaman- do-o seu protetor (1531). Nascia a Igreja Anglicana. Nomeado
Arcebispo da Cantuária, Cranmer anulou, em 23 de maio de 1533, o casamento do rei, e em 01 de julho deste mesmo ano, Ana Bolena recebeu a
coroa. A 11 de julho o Papa Clemente VII excomungou Henrique VIII. Posteriormente, Ana Bolena, caída em desgraça, foi condenada como
adúltera e incestuosa, e executa- da em 1536. Henrique casou-se então com Jane Seymour, que morreu ao ter um filho; em seguida com a alemã
Ana de Clèves. logo depois repudiada; com a católica Catarina Howard, executada por sua má conduta (1542); e, finalmente, com Catarina Parr,
viúva protestante. Morreu a 28 de janeiro de 1547.
Neo - prefixo grego que significa novo.
Platônico - relativo à filosofia de Platão.
Neoplatonismo - nome genérico de doutrinas filosóficas que retomam os aspectos fundamentais do Platonismo. No sentido estrito, o
neoplatonismo é a corrente filosófica fundada na Antiguidade por Amônio Sacas, e que teve como principal representante Plotino. A Escola de
Alexandria veio a ser um conjunto de doutrinas inspiradas em concepções platônicas e combinadas com outras ideias da filosofia grega. Essa
corrente influenciou profundamente os pensamentos medieval e moderno e, através desses, o pensamento contemporâneo.
Cari Gustav Jung (1875-1961), Neurologista, psiquiatra e psicanalista suíço cognominado “Pai da Psicanálise Analítica”, que é a corrente de
pensamento em que se baseia seu método de psicoterapia, e pelo qual legou sua contribuição a este ramo da ciência. Foi dissidente das teorias de
Freud, concebendo um Consciente totalmente diverso de Freud: o que este considerava como causa, para Jung era efeito, daí evoluindo o
conceito de Consciência; pretendia significar que a psique não tinha nenhum substrato biológico. A Psicanálise determinou novos rumos para as
ciências humanas - Sociologia, Antropologia e demais disciplinas -, para a Arte e para a religião; influenciou sobretudo no próprio estilo de vida
e costumes do homem do século XX.
Fontes de consulta em áudio e vídeo:
Fomos buscar os textos aqui abordados em gravações de áudio e vídeo de trabalhos desenvolvidos por Divaldo P. Franco através de
conferências, seminários de estudos, Congressos Espíritas e no acervo pessoal de gravações de que somos detentores, cuias fontes, pois, abaixo
relacionamos:
- Seminário de Estudos em Goiânia (GO) - 27/02/2001- Um Encontro com Jesus;
- Mini-Seminário de Estudos em Araguari (MG) -15/02/2002
- Jesus e o Evangelho;
- Seminário de Estudos - Porto Alegre (RS) - 07/04/2001
- Jesus e o Evangelho;
- Seminário de Estudos - Santa Maria (RS) - 28/07/2002
- Jesus e o Evangelho;
- 4o Movimento Você e a Paz - Salvador (BA) - Conceitos;
- Conferências públicas:
- Criciúma (SC) - O Bispo Pike - 03/03/1999;
- Caçapava do Sul (RS) - O Bispo Pike - 26/10/1998;
- Ouro Preto (MG) - O Bispo Pike - 05/03/2001;
- Rio Negro (PR) - Reencarnação - 28/10/2001;
- Pato Branco (PR) - O Que é o Espiritismo -26/06/2001;
- Novo Hamburgo (RS) -12/09/1988;
- Amparo (SP)-28/08/2003;
- Salvador (BA) - João Batista -1990;
- 46a Semana Espírita de Vitória da Conquista (BA)-
- Provas Científicas da Reencarnação -11/09/1999;
- Rio de Janeiro - Reencarnação e a Bíblia -19/8/1998;
- Salvador (BA) - Jesus Histórico -1987;
- Salvador (BA) - O Fascínio por Jesus -1974;
- Salvador (BA) - O Flagicio de Jesus -
- Salvador (BA) - Jesus Sempre -1989;
- Salvador (BA) - Jesus e Lázaro -1990;
- Salvador (BA) - FEEB - O Cristo Cósmico -1989;
- Novo Hamburgo (RS) - Reencarnação -12/09/1988.
Bibliografia
1 - Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. 35a ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.
2 - _______ . O Evangelho Segundo o Espiritismo. 67a
ed. Rio de Janeiro: FEB, 1976.
3 - _______ . Obras Póstumas. 17a ed. Rio de Janeiro;
FEB, 1978.
4 - Federação Espírita do Paraná - Expoentes da Codificação Espírita. 1a ed.; 2002.
Consulta Geral
Dicionário Enciclopédico Brasileiro Ilustrado - Ed. Globo, RS -1957.
Enciclopédia Brasileira Globo - Ed. Globo, RS,1969.
Enciclopédia Delta Larousse - vol III - 2a ed. - Ed. Delta S.A., 1964-RJ.

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