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Lições de Direito Processual Penal 2013

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1. DIREITO PENAL SUBSTANTIVO E DIREITO PROCESSUAL PENAL


1.1. Direito Penal, Processo Penal e Direito Processual Penal
1.2. Âmbito do Direito Processual Penal
1.3. Objecto do Processo Penal
1.4. Natureza Jurídica do Direito Processual Penal
1.5. Fim do Processo Penal
***
1. Direito Penal Substantivo e Direito Processual Penal

Começaremos a nossa aula falando sobre o termo Direito Penal (ou direito criminal),
considerado no seu sentido mais amplo, constitui um ordenamento jurídico complexo, que se
reparte por três disciplinas distintas mas mutuamente complementares: o direito penal
substantivo (material1), direito processual penal (formal ou adjectivo 2) e o direito de
execução das penas (ou direito penitenciário3).

Aqui mais do que qualquer outro ramo da ciência jurídica, as relações entre o direito substantivo
e o direito adjectivo formam uma unidade tal que, em regra, o primeiro não pode realizar-se
plenamente sem o concurso do segundo. Na verdade, e de modo diverso do que sucede, por
exemplo, com o direito civil, que na maioria dos casos se realiza e aplica espontaneamente, por
livre vontade dos interessados, o direito penal não é de aplicação voluntária, só se efectiva por
via de uma actividade processual. Por isso, o corpo do art. 1 do CPP dispõe que ―a todo o crime
ou contravenção corresponde uma acção penal, que será exercida nos termos deste código”.

Há assim uma relação de instrumentariedade necessária entre o direito processual penal e o


direito penal que os distingue da conexão também existente entre os demais ramos de direito e os

1
Conjunto de regras gerais abstractas, hipotéticas e dotadas de coercibilidade, que regem as relações numa dada
comunidade.
2
Fala-se em direito adjectivo para significar o direito processual, isto é, o ramo do direito que disciplina a forma
de resolução de litígios surgidos em consequência do não acatamento às regras que regulam as relações entre os
sujeitos de direito.

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Expressão que se referia as normas relativas a execução das penas. Actualmente é utilizada a expressão direito
de execução de penas.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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respectivos processos. Isto resulta do facto de ser, por meio do direito penal, globalmente
considerado, que o Estado, cumpre a importantíssima função de proteger os valores
fundamentais da sociedade humana – entre os quais sobressaem o direito a vida, a integridade
física e psíquica, a liberdade sexual, a propriedade individual ou colectiva, a ordem pública e
outras – função que se expressa no dever de administrar e realizar a justiça penal. E o que se
designa por jus puniendi ou monopólio estatual da função jurisdicional.

Feitas estas considerações preliminares, podemos definir o Direito Penal como conjunto de
princípios e normas codificadas ou constantes de diplomas avulsos, que consagram os
pressupostos gerais da punição (teoria geral da infracção) que prevêem as condutas puníveis
(crimes) e estabelecem as penas e respectivos regimes, enquanto o Direito Processual Penal
constitui conjunto de normas codificadas (no Código de Processo Penal e outra legislação
avulsa) que permitem a realização de actos, com obediência a determinadas formalidades,
praticados e ordenados pelo tribunal e outras autoridades judiciais competentes com vista a
descoberta dos factos constitutivos da prática de um crime e do seu agente ou agentes, para que a
final, o tribunal possa proferir decisão sobre a aplicação ou não de uma determinada sanção ao
arguido.4

1.1. Direito Penal, Processo Penal e Direito Processual Penal

Já sabemos que o direito penal define, de modo geral e abstracto, quais os factos ou
comportamentos humanos que devem ser considerados criminosos e quais as penas que lhes
correspondem.

Podemos também dizer que o Direito Processual Penal é o conjunto de regras jurídicas que
disciplinam o processo (e o que é o processo?). O processo é o conjunto de actos, é a marcha
consubstanciada de diferentes actos realizados por pessoas legitimidade autorizadas, actos
preordenados.

Todavia averiguar se num dado caso concreto, um certo agente praticou um tipo legal de crime
qual é a sanção que lhe deve ser imposta obriga a uma actividade que de modo nenhum pode ser

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Dicionário Jurídico, 2 Edição, Vol. II, Direito Penal e Direito Processual Penal, Prata Ana; veiga Catarina e
Vilalonga, José Manuel, pag. 183.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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arbitrária, antes exige garantias de respeito pelos direitos individuais, para que se obtenha uma
verdadeira realização da justiça penal.

A essa actividade constituída por uma sequência de actos juridicamente pré-ordenados e


praticados por certas pessoas legitimamente autorizadas com vista a lograr a decisão sobre se foi
praticado algum crime e, em caso afirmativo, quem são os seus autores e quais as respectivas
consequências jurídicas e a sua justa aplicação, é o que se costuma designar por processo penal.
O conjunto de normas jurídicas que regulam e disciplinam e que forma o direito processual
penal.

Dissemos acima que o direito penal e o direito processual penal formam uma unidade,
participam do mesmo ordenamento jurídico, e que entre ambos prevalece uma relação mútua de
complementaridade. No desenvolvimento desta ideia CAVALEIRO DE FERREIRA escreve: O
direito penal e o processo penal devem por isso ajustar-se aos mesmos princípios. Uma
consideração mais profunda da personalidade do delinquente, como e exigida pelo direito
penal, permanecerá letra morte se não for acompanhada da conformação do direito
processual a identifico fim, a modificação do direito penal substantivo acarreta assim,
naturalmente, a conveniência de alterações do direito processual (…) Mas se necessariamente
o processo penal se deve conformar ao espírito do direito penal vigente, por outro será
impossível a execução do direito penal sem um processo penal a ele adaptado.

Com efeito, frequentemente o sentido e a solução de concretos problemas processuais dependem


da posição que tiver sido adoptada pelo direito substantivo como acontece relativamente aos
chamados poderes de cognição do juiz e ao caso julgado, quando se esta perante matéria relativa
ao crime continuado ou a punição do concurso de infracções.

Por outro lado, o direito processual penal exerce igualmente a sua influência na solução de certas
questões pertinentes ao direito penal substantivo. Assim, por exemplo, o actual movimento em
favor da ―etilização e purificação do direito penal, ao pretender que este só intervenha nos casos
de insuportável violação de bens fundamentais da comunidade, e, sem dúvida, também
consequência da exigência processual de que os tribunais penais, não sejam submersos por uma
multidão de infracções de duvidoso relevo ético-social.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Apesar destas mútuas influencias, o certo é, porém, que não deixa de existir uma clara autonomia
entre o direito penal e o direito processual penal, resultante, desde logo, da diversidade do
respectivo objecto: o primeiro tem a ver directamente com a ordenação da vida em
sociedade, qualificando, de forma geral e abstracta, os comportamentos humanos em
função de valores jurídicos que considera fundamentais para a comunidade e prescrevendo
sanções para quem violar esses valores, o segundo visa assegurar que os actos tendentes a
decisão sobre a prática de um crime e a aplicação da penal ao respectivo agente se realizem
com absoluto respeito pelos princípios de justiça.

1.2. Âmbito do Direito Processual Penal

A função essencial do direito processual penal cumpre-se com vimos, na decisão jurisdicional de
saber se foi praticado um crime e, em caso afirmativo, qual as consequências jurídicas que dai
derivam.

Por isso certos autores entendem que o seu âmbito de aplicação se esgota com o trânsito em
julgado da sentença, já não abrangendo a fase de execução da pena, que terá índole puramente
administrativa. Outros, pelo contrário, sustentam que o direito de execução das penas se integra,
no direito processual penal, pese embora a circunstância de a administração penitenciária estar
reservada uma esfera de actuação própria, que pode dizer-se livre da jurisdição.

Nesta ultima corrente se situa FIGUEIREDO DIAS, para quem, no entanto é necessário
distinguir a regulamentação respeitante a determinação prática do conteúdo da sentença
condenatória – e por conseguinte, a realização concreta da pena imposta – da regulamentação
referente ao efeito executivo da sentença num sentido análogo aquele em que, no processo civil,
se fala da ―exequibilidade da sentença e consequentemente, aos preliminares e ao controlo geral
da execução (incluindo os incidentes da execução). No primeiro caso tratar-se-á de matéria
substantiva e no segundo de matéria processual.

Cremos poder concordar com este autor, tanto mais que, como ele próprio assinala, o CPP
vigente consagra um título específico as execuções (o titulo VIII do Livro II – arts 625 a 644) –
sem, todavia, abranger a parte respeitante as penas privativas de liberdade – o que reforça o
argumento de ser esta, essencialmente, uma área de actuação do direito processual.

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1.3. Objecto do Processual Penal

A determinação do objecto do processo — ou seja, da matéria a volta da qual se desenvolvem as


actividades processuais é de extrema importância teórica e prática.

A estrutura do sistema processual penal vigente entre nós e conforme viremos adiante é
basicamente acusatória, se bem que integrado por um princípio de investigação. Isso implica
que o tribunal só possa intervir quando solicitado por uma acusação formulada por entidades dele
distinta e independente (o Ministério Publico), e que o conteúdo da acusação delimite a própria
actividade processual do tribunal.

Existe assim uma identidade essencial entre o conteúdo da acusação e a pronúncia e a sentença
final, que constitui importante garantia para o arguido, na medida em que só terá de defender-se
do que é acusado (é pronunciado) e só pelo que é acusado poderá ser julgado.

Disto resulta que a sentença final, salvo casos excepcionais que a lei expressamente o prevê, só
pode condenar por factos constantes do despacho de pronúncia ou equivalente. É o que dispõe o
artigo 447 do CPP: “O tribunal poderá condenar por infracção diversa daquele para que o
réu foi acusado, ainda que seja mais grave, desde que os seus elementos constitutivos sejam
factos que constem do despacho de pronúncia ou equivalente”.

Pode pois, concluir-se que o objecto do processo penal engloba um conjunto de factos humanos
devidamente situados no tempo e no espaço que integram os pressupostos de que depende a
aplicação ao seu autor de uma pena (penas maiores arts. 55 e 56 do CP; penas correccionais
arts. 62;63;64 do CP e penas especiais arts. 57;65 e 66 do CP) ou medidas de segurança (art. 70
do CP), ou seja o objecto do DPP é o crime do artigo 1 do CP.

O objecto do processo penal não se apresenta delimitado desde o inicio deste. É susceptível de
diferentes graus de apreciação consoante a evolução que o próprio processo vai tendo, quer dizer,
de acordo com as fases em que se desenvolve, há um primeiro juízo de suspeita sobre o facto,
segue-se uma fase instrutória, destinada precisamente a obter a confirmação desse juízo de
suspeita. Com a acusação e a pronúncia, o juiz de suspeita transforma-se num juízo de
probabilidade. Por último, para que a decisão final seja condenatória é necessária a formulação
de um juízo de certeza sobre o facto objecto do processo. E no momento de passagem do juízo

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de suspeita para o juízo de probabilidade – com o transito em julgado do despacho de pronuncia


ou equivalente – que se fixa, em termos definitivos, o objecto do processo.

1.4. Natureza jurídica do Direito Processual Penal

1.4.1. O Direito Processual Penal como parte do direito processual

Para uma certa corrente do pensamento jurídico, desenvolvida entre os finais do século 19 e o
começo do século 20, a existência de distintos ramos de direito processual – da qual são
exemplos o processo civil, o processo penal, o processo administrativo, o processo fiscal, o
processo constitucional entre outros – com princípios básicos semelhantes, idêntica estrutura
fundamental e problemas comuns ou análogos, justificaria o surgimento de uma nova ciência,
que se ocupasse da teoria geral do processo.

Os seus defensores não conseguiram, porém, escapar as críticas que lhe foram endereçadas, a
principal das quais reside no facto de que a teoria geral opera com abstracções, no mundo dos
conceitos, esquecendo-se da vida e a realidade social. É capaz de construir um direito lindo, que
de autogratificação aos seus elaboradores, mas inadequado a resolução dos problemas concretos.

Não obstante o inconveniente de elaboração de uma teoria geral do processo, deve reconhecer-se
a utilidade de estabelecer a comparação entre o processo penal e o processo civil, quer por se
tratar de dois tipos processuais inteiramente jurisdicionais – ou seja submetidos ao domínio da
actividade jurisdicional – quer porque, por força da lei, o processo civil funciona como direito
subsidiário relativamente ao processo penal.

Vejamos, pois alguns traços diferenciadores destes dois tipos de processo.

Enquanto no processo civil se dirimem conflitos de interesses particulares, tutelados pelo


direito privado, no processo penal, esta, em causa a justiça da pressão do Estado,
derivado de um crime, isto e, da violação de interesses fundamentais da ordem jurídica
(interesses comunitários) tutelados pelo direito público;

O processo civil não é forçosamente chamado a intervir para que, através da decisão
judicial, se concretize uma relação de direito privado – na generalidade dos casos, a
realização concreta do direito privado tem lugar independentemente do processo; ao passo

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que o processo penal é o pressuposto necessário da realização do direito substantivo – a


submissão do agente de um ilícito criminal as sanções, previstas na lei só podem realizar-se
por via de um processo e da consequente decisão jurisdicional: vigora aqui o princípio nulla
poena sine processus (ou nukka poena sine judicio);

No processo civil tem plena aplicação o princípio da disponibilidade do objecto processual


pelas partes – este goza da faculdade de fazerem valer no processo as suas pretensões ou de
renunciarem a elas; no processo penal o objecto do processo e indisponível pelos sujeitos
processuais, pois de outra forma seria impossível satisfazer o interesse da comunidade e do
próprio Estado em esclarecer os crimes e punir os seus responsáveis.

Destes três principais elementos de distinção entre o processo civil e o processo penal (resultam
outras diferenças que impõe salientar: em processo penal, contrariamente ao que sucede no
processo civil, não domina o principio da auto responsabilidade das partes em matéria de
prova, e, por consequência, é inexigível o ónus de provar, contradizer e impugnar, em processo
penal o juiz goza de uma ampla discricional idade na apreciação dos factos que constituem
o objecto do processo, por forca do principio da investigação ou da verdade material, o que
não acontece no processo civil; entre os participantes processuais não existe, em processo
penal uma verdadeira contraposição de interesses, pois, como veremos na altura devida, o
Ministério Publico não actua no sentido de obter a condenação do arguido a qualquer
preço, mas esta como o acusador particular ou o próprio defensor obrigado a um dever de
objectividade, contraposição de interesses existe sim entre as partes no processo civil.

1.5. Fim do Processual Penal

Vimos acima que o processo penal visa a aplicação do direito penal substantivo aos casos
concretos. Essa função instrumental que lhe é característica exprime-se de forma simples nestas
duas máximas latinas: impunnitum non relinqui facinus (nenhum criminoso deve ficar sem
punição) e innocentum non condennari (nenhum inocente deve ser condenado).

De acordo com uma certa maneira de encarar o direito e o processo penal em particular, a
aludida natureza instrumental impõe a este, como fim a prosseguir, a ideia de realização da
justiça, que só e possível obter com a descoberta da verdade material e o restabelecimento da
paz jurídica violada.

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O Processo penal tem como fim a realização da justiça, lograr uma sentença com forca de caso
julgado.

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2. LOCALIZAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL NO SISTEMA JURÍDICO


MOCAMBICANO

2.1. O Direito Processual Penal e a sua conformação jurídica com a Constituição da


Republica de Moçambique (CRM)

2.2. Fontes do Direito Processual Penal Moçambicano

2.3. Regras de Interpretação e integração de lacunas

2.4. Aplicação da Lei Processual Penal no Tempo e no Espaço.

***

2.1. O Direito Processual Penal e a sua conformação jurídica com a Constituição da


Republica

A referência histórica das diversas concepções políticas do Estado (Estado moderno ou europeu;
Estado estamental; Estado absoluto; Estado de policia; Estado totalitário e o Estado
constitucional, representativo ou de Direito) e a sua conexão com os correspondentes modelos
estruturais do processo penal mostra como este está tão intimamente relacionado com o direito
constitucional. De tal modo essa ligação é estreita que o autor alemão, H. HENKEL, considera o
direito processual penal como verdadeiro direito constitucional aplicado, espelho da realidade
constitucional. Isto, não só porque os fundamentos daquele representam, simultaneamente, os
alicerces constitucionais do Estado, mas também porque a concreta regulamentação de
problemas essenciais do processo penal é, e deve ser, conformada com a Constituição.

Desta conformação jurídico-constitucional do processo penal resultam, como consequências:

A obrigatoriedade de uma estrita e minuciosa regulamentação legal dos meios de


coação e de quaisquer medidas que se traduzam numa limitação dos direitos
fundamentais dos cidadãos, constitucionalmente garantidos;

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A exigência de que a lei ordinária nunca elimine o núcleo essencial destes direitos, ainda
que a Constituição lhe conceda liberdade para os regulamentar;

A necessidade do controlo judicial da actividade de todos os órgãos do Estado, mesmo


dos que cumpram funções puramente administrativas, quando estejam em causa as
garantias constitucionais;

A proibição de jurisdições excepcionais, pela afirmação do princípio do juiz natural;

A não valoração de provas obtidas com violação da liberdade de querer e de entender


da pessoa;

A interpretação e aplicação da lei ordinária a partir e de acordo com a Constituição.

Vejamos, então, alguns dos princípios consagrados na actual Constituição da República de


Moçambique que directamente se prendem com o direito processual penal:

O artigo 59, nº. 1 estabelece que ―Na Republica de Moçambique, todos tem direito a
segurança, e ninguém pode ser preso e submetido a julgamento senão nos termos da lei‖
Resulta dai que a verificação do crime e aplicação da pena correspondente só podem ter lugar
através do processo (nos termos da lei) ou seja, por meio de procedimentos judiciais pré-
fixados – é a consagração do princípio nulla poena sine processu (ou nulla poena sine
judicia);

Os preceitos relativos à constituição e funcionamento dos tribunais (Ver todo o Título IX -


Tribunais, arts, 212 e segts da CRM) a proibição de jurisdições especiais (art. 223. n. 6), a
representação do Estado junto dos tribunais pelo MP (artigo 236 da CRM) e outros referentes
à posição dos órgãos da administração da justiça no âmbito do processo penal, assumem
grande relevo jurídico-constitucional, pelo que representam uma garantia para as pessoas
submetidas a um processo;

Pelas mesmas razões recebem cobertura constitucional os princípios que regem a actividade e
função do juiz, como os de independência, imparcialidade e irresponsabilidade (artigo 217 da
CRM) bem como o da prevalência das decisões judiciais sobre as das demais autoridades
(artigo 215 da CRM);

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De igual modo assumem foros de garantia constitucional os princípios proclamados nos


artigos 59, nº. 2 (presunção de inocência ate decisão judicial definitiva), 62 (acesso aos
tribunais e o direito de defesa), 67, n. 4 (a proibição da extradição), 68 (a inviolabilidade do
domicilio e da correspondência) e 66 (concessão da providencia do habeas corpus).

2.2. Fontes do Direito Processual Penal Moçambicano

Para mero interesse de clareza de exposição, adopta-se a seguinte sistematização no que


respeita às fontes do direito processual penal: A: Fonte material ou imediata (direito legal);
B: fonte legislativa internacional; C: fonte doutrinária e D: fonte jurisprudencial.

Fonte material ou imediata – direito legal

2.2.1. A Constituição da Republica de Moçambique

2.2.2. Código de Processo Penal

****

2.2.1. A Constituição da Republica de Moçambique

A Constituição, porque lei fundamental e hierarquicamente superior, é a fonte primária do DPP.


Tanto é assim que alguns autores consideram o Direito Processual Penal como Direito
Constitucional aplicado, pois, o DPP deve conformar-se com a Constituição. Na verdade, ele
conte preceitos respeitantes aos direitos, liberdades e garantias fundamentais do cidadão que são
directamente aplicáveis, vinculando entidades públicas e privadas

Há princípios gerais inclusive relativos ao DPP, exemplo o de presunção da inocência – dentro


da Constituição como lei mãe.

Especial referência deve ser feita aos seguintes dispositivos constitucionais como fonte do DPP:
os arts. 35; 40; Capitulo V, p.e artigos 98, 99, Capítulo VII todos da CRM.

2.2.2. O Código de Processo Penal e legislação avulsa

O CPP é sem duvidas uma das mais importantes fontes do DPP. Este diploma foi aprovado e
publicado através do Decreto n. 16489, de 15 de Fevereiro de 1929 e mandado aplicar às então

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províncias ultramarinas através do Decreto n. 19271, de 24 de Janeiro de 1931 com as alterações


nele constantes.

Outro diploma de relevo é o Decreto-Lei n. 35007, de 13 de Outubro de 1945, mandado aplicar à


Moçambique com algumas modificações pela Portaria 17076 de 20 de Março de 1959. Por sua
vez o Decreto-Lei nº. 185/72, de 31 de Maio, contem a última e mais extenso e importante das
reformas sofridas desde 1929, pelo Código de processo penal, reforma esta que implicou a
revogação de várias disposições do Decreto-Lei n. 35007.

O CPP de 1929 tem por fontes principais o direito anterior, a jurisprudência portuguesa e a
pratica dos tribunais, além de vários projectos que antecederam a sua aprovação. Considerando o
estado caótico da legislação e das práticas processuais anteriores, o CPP de 1929 teve o grade
mérito de englobar numa concepção unitária e ordenada os princípios de direito processual penal
e de os regulamentar dentro de um sistema livre de contradições. Com ele deu-se mais ênfase a
descoberta do fim do processo penal, ampliou-se, consequentemente, os poderes de cognição do
juiz e vedaram-se as práticas processuais abusivas e dilações voluntarias da prossecução
processual.

O Código veio substituir a anterior concepção de base acusatória, por outra, de índole
inquisitória, em que competia ao juiz, para além de julgar, realizar a investigação preliminar,
fundamentadora da acusação – a que se designou de corpo de delito. Não deixou, porem, de
respeitar formalmente a concepção acusatória, na medida em que era ao Ministério Publico que
competia deduzir a acusação. É o princípio da forma acusatório ou acusatório formal.
Coincidiam na mesma pessoa as funções de investigar e julgar, o que acarretava sérios riscos de
lhe criar, naquela primeira fase, um preconceito do qual, na segunda, dificilmente conseguia
livrar-se deste modo se lhe furtava a objectividade e a imparcialidade necessários a um correcto
julgamento.

O Decreto-Lei n. 35007 procurou eliminar estes inconvenientes. Para tanto, atribuiu ao MP não
só a titularidade da acção penal (art. 1), como, na fase da instrução preparatória, os poderes e as
funções que antes eram atribuídos a uma magistratura não dependente e hierarquicamente
estruturada funções e poderes que implicam intromissões na esfera das liberdades do cidadão,
sem fixar mecanismos de controlo judicial do exercício daquelas funções pelo MP.

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O Decreto-Lei n. 185/72 não deu solução a este problema, muito embora tenha reformado
extensas zonas do processo penal relacionadas com a fase da instrução (preparatória e
contraditória) a acusação e defesa e as execuções. Deixou, portanto, persistir um dos maiores
problemas no que respeita a instrução – o da falta de controlo judicial da actividade instrutória de
todos os órgãos do Estado (mesmo dos que cumpram funções administrativas), desde que tal
actividade se prenda com a esfera dos direitos do cidadão constitucionalmente garantidos.

Tal problema só viria a ser resolvido em Portugal pela Lei n. 2/72 e pelo Decreto que permitiram
a criação dos juízes de instrução criminal nas comarcas em que o processo assim o exigisse. Tais
diplomas não chegaram, porém, a ser tornados extensivos aos territórios sob administração
colonial. No nosso pais só recentemente, com a aprovação e publicação da Lei n. 2/93, de 24 de
Junho, a questao veio a ser parcialmente colmatada.

Para além do CPP, há que considerar legislação avulsa pertinente ao processo penal como fonte
do nosso direito processual penal.

O Decreto-lei n. 28/75, de 1 de Marco – que alarga o ambito de aplicação do processo


sumario e simplifica o formalismo do processo de transgressões;

O Decreto-Lei n. 4/75, de 16 de Agosto – que alem de ter proibido o exercício da advocacia a


título de profissão liberal, continha disposições, relativas ao exercício da acção penal pelo
Ministério Público e a impossibilidade de constituição de assistente;

A Lei n. 9/92, de 6 de Maio - que imprime alterações ao formalismo processual penal e


reintroduz a figura do assistente, derrogando os arts. 17 e 19 do Decreto-Lei n. 4/75;

A Lei n. 2/93, de 23 de Junho – relativa a institucionalização dos juízes da instrução criminal

A Lei n. 5/81, de 8 de Dezembro – extingue o Tribunal de Execução de Penas e transita a


competência para os tribunais populares provinciais.

2.1.3. Fonte legislativa Internacional

Os textos jurídicos internacionais são fonte do direito processual penal na medida em que
vigorem na ordem jurídica interna. Afigura-se aqui o problema da aplicabilidade e vigência
interna do Direito Internacional, cujo desenvolvimento encontra sede em disciplina própria.

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Assim sendo, e sem pretender esgotar a matéria nomeia-se apenas os textos mais significativos a
saber:

Declaração Universal dos Direitos do Homem de 10 de Dezembro de 1948;

Pacto Internacional dos Direitos Políticos;

Convenção contra a Tortura e outras formas desumanas de tratamento ou punição cruel ou


degradante de 26 de Junho de 1987;

A Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos de Junho de 1981.

2.1.4. Fontes Doutrinarias

A doutrina tem um papel fundamental na construção da dogmática jurídico processual penal. A


renovação e o desenvolvimento da doutrina resultam necessariamente da busca incessante de
soluções justas e adequadas para concretos problemas da vida em comunidade.

2.1.5. Fontes jurisprudenciais

Tal como a doutrina, a jurisprudência não constitui fonte em sentido formal, mas cabe-lhe de
algum modo uma função criadora do direito. Na verdade, não se coloca ela ao mesmo nível de
obrigatoriedade geral própria da lei, nem tão pouco em conflito com ela, o que poderá suscitar
uma questao de prevalência ou hierarquização. A sua forca reside no facto de o direito ter
deixado de ser um conjunto de princípios gerais e abstractos, achando-se aqui aplicado a um caso
concreto.

Todavia, tem a jurisprudência desempenhado um papel de relevo, de parceria com a doutrina


processual penal, na construção teórica e dogmática do respectivo direito. Tal contribuição
patenteia-se hoje na afirmação de princípios jurídicos com reflexos de tal ordem no direito
positivo, que nele alcançam assento por via de consagração legal. Exemplos clássicos nesse
sentido são-nos relevados pelos princípios respeitantes a conexão de processos e consequente
unidade de cognição, sobretudo em via de recurso – art. 663; a convolação – arts. 148 e segts e
447 e segts; ao recurso de revisão com base em factos novos – art. 673 todos do CPP.

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Uma questao particular e específica é a suscitada pela figura dos assentos, que se traduz na
fixação, pelos tribunais, de doutrina com forca obrigatória geral (v. art. 2 do C.Civil e 763 e
segts do CPP). Resulta ela da necessidade de se saber se o conteúdo normativo do assento
assumira a mesma natureza e valor próprios da lei em sentido formal. Se atentarmos ao facto de
que a função do tribunal assenta na aplicação do direito ao caso concreto, não se coadunando,
portanto, com a fixação de doutrina com forca obrigatória geral, facilmente se apreendera da
delicadeza do problema em análise.

Trata-se, com efeito, de uma questao actual e pertinente, dividindo opiniões e correntes entre a
aceitação e rejeição desta figura por inconstitucional e se traduzir no uso pelos tribunais de
poderes que são próprios de um órgão legislativo. Entre nós a questao ainda não foi levantada.

2.2. Interpretação e integração da lei processual. A analogia

2.2.1. Regras de Interpretação

As normas do DPP suscitam como os do direito material, problemas de interpretação. Buscar e


encontrar o sentido e o espírito da norma para esclarecer a sua obscuridade ou para determinar
seu alcance, ou mesmo decidir sobre qual a norma aplicável aos casos não expressamente
previstos é problemas comuns a todos os ramos de direito

Interpretar a lei significa fixar exactamente o seu conteúdo e alcance determinando qual é a
vontade expressa pela norma em conexão com as demais normas e com as exigências sempre
novas da vida comunitária. É tentar descobrir o alcançável significado das palavras que contem,
quer na sua literal idade, quer no seu espírito.

Há, em princípio, quanto aos elementos utilizados, a interpretação literal e a interpretação lógica.
Quanto aos efeitos ou resultados a interpretação pode ser declarativa – quando a letra e o espírito
coincide, não há obstáculos à sua utilização no processo penal, restritiva – quando o legislador
disse mais do que aquilo que queria dizer. Tem de se restringir a letra ao seu espírito. Não há
obstáculos à sua utilização no processo penal e extensiva — quando o legislador disse menos do
que aquilo que queria dizer. Aqui entendemos o espírito da lei. Sempre que a posição processual
do arguido sai enfraquecida a interpretação extensiva não é aplicável.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Em todas estas formas de interpretação está sempre implícito o pressuposto de que entre a
verdadeira vontade do legislador e a sua imperfeita manifestação. E por via disso a necessidade
de rectificação desta com o objectivo de assegurar a supremacia e o predomínio daquela.

A letra da lei é o ponto de partida da interpretação e é o limite da interpretação – nº. 2 do Artigo


9 do C.C. “O intérprete não deve criar uma nova lei”.

2.2.2. Integração de Lacunas

Por mais perfeito que seja o legislador é impotente de regular todas as situações que surgem ao
aplicador do Direito, estas com relevância jurídica. Se estivermos em face de uma situação
imperfeitamente prevista, a situação não é de lacuna jurídica, mas sim de interpretação. Se
estivermos em face de uma situação em que o direito não previu devendo prever estamos diante
de uma lacuna do direito, cuja solução passa necessariamente pela integração da lacuna.

Assim, designa-se de integração a operação através da qual, na falta de disposição legal que se
aplique directamente a uma qualquer situação jurídica, se procura encontrar forma de
indirectamente, solucionar o vazio da lei.

O problema de integração de lacunas em processo penal tem um tríplice caminho a percorrer a


saber - parágrafo único do artigo 1º do CPP:

A analogia;

As regras do processo civil que se harmonizem com o processo penal (os princípios gerais do
processo civil)

Os Princípios Gerais do Processo Penal

A analogia de lei “analogia legis”, é a via o mecanismo que procura integrar as lacunas através
do recurso a preceitos do próprio CPP que contemplam situações análogas a omissa, por
contraposição a “analogia júris” que supõe, a elaboração de um princípio normativo, extraído
de uma ou varias disposições legais e a sua subsequente aplicação ao caso omisso. O CPP ao
referir-se às disposições do código (do mesmo) deve-se entender que inclui também a legislação
avulsa.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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O recurso a analogia é permitido no DPP, ao contrário do Direito Penal substantivo


relativamente à fundamentação da pena (incriminação), ou ao seu agravamento (art. 18 do CP).

A analogia é vedada em processo criminal se enfraquecer a posição do arguido.

A mesma morte encontra as normas excepcionais, que não são de aplicação analógica (a regra é
a liberdade e a prisão uma excepção - essa não deve ser de aplicação analógica. Também as
normas quase substantivas (as que aparecem no direito adjectivo e no substantivo ‗ não são de
aplicação analógica, atingem os direitos do sujeito).

Mas o facto de a analogia ser permitida em processo penal não significa que ela possa ser usada
em detrimento dos direitos processuais do arguido ou para enfraquecer, prejudicados não sendo
possível integração por via de analogia, há que recorrer, as regras do processo civil que se
harmonizam com o processo penal. De referir que estas não podem estar em contradição com
os princípios e interesses que o DPP visa realizar, isto é assim, porque nestes dois ramos de
direito processual vigoram princípios profundamente diferentes (quanto à prova, objecto,
disponibilidade, etc.).

O recurso às normas do processo civil não deve ser aceite se da sua aplicação resultar distorção
dos princípios do processo penal, dominado todo ele por valores muito próprios.

Os Princípios Gerais do Processo Penal só poderão ser usados para integração de lacunas sempre
e quando não seja possível a aplicação analógica, o recurso às normas do processo civil que se
harmonizem com o processo penal.

2.3. Aplicação da Lei Processual Penal no Tempo e no Espaço.

Âmbito de aplicação material

O âmbito de aplicação material do DPP coincide com os estritos limites da jurisdição


moçambicana em matéria penal. É pois, exactamente demarcada pela especificidade do objecto
do processo penal, abrangendo o crime acusado, as contravenções e as reacções criminais que em
abstracto lhe caibam.

Esta, naturalmente, fora de questao a autonomia das jurisdições penal e civil. Todavia, a lei
manda que o pedido civil de indemnização por perdas e danos derivado de um crime deve ser

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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deduzido em processo penal (art. 29 do CPP). Optou, assim, o legislador pelo chamado sistema
da interdependência ou da adesão da acção civil a penal.

Âmbito de aplicação espacial

O âmbito de aplicação do direito processual penal no espaço assenta na ideia de que a jurisdição
penal se confina aos limites territoriais do Estado – aqui vigora o princípio da territorialidade,
ou seja, a lei processual penal moçambicana se aplica, sem excepções, a todos os procedimentos
que nele corram os seus termos, qualquer que seja a nacionalidade dos agentes do facto
criminoso – art. 45 do CPP.

Nada impede, porém, que a jurisdição penal moçambicana se aplique a crime cometidos no
estrangeiro (Cfr. artigos 46, 48, 49 e 50 do CPP), o que acontece naqueles precisos casos em que
é aplicável a lei penal substantiva. Significa isto que é inadmissível, salvo tratado internacional
em contrario, executar em território estrangeiro actos processuais cabidos na jurisdição nacional
e vice-versa5.

Em consequência do princípio acima aludido – que domina as relações entre a jurisdição


nacional e estrangeira - a sentença penal proferidas pelos tribunais estrangeiros não lhes são
reconhecidas efeitos positivos nem executórios, embora possam ser admitidos efeitos negativos.
Assim, no caso de infracções cometidas no estrangeiro, a sentença ai proferida impede que a
questao seja de novo julgada em Moçambique (art. 53, ns. 3 e 5 do CPP) e, em caso de novo
processo, ter-se-á em conta a pena já cumprida pelo réu no estrangeiro (n. 3 do art. 53 e bem
assim o & 4 do art. 35 do CPP).

Excepções ao princípio da territorialidade resultam de tratados internacionais firmados por


Moçambique com outros países, de entre os quais se destacam os acordos de cooperação jurídica
e judiciaria com Cuba e Portugal.

Âmbito de aplicação pessoal

Estão sujeitos à jurisdição penal moçambicana via de regra aquelas pessoas a quem lhes sejam
aplicável o direito penal moçambicano. Existem algumas limitações à esta aplicação resultante

5
Veja-se a Lei n. 17/2011, de 10 de Agosto – que rege os casos e termos da efectivação da extradição.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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do direito internacional público, são as chamadas imunidades diplomáticas que atingem Chefes
de Estado, diplomatas, seus familiares, pessoal administrativo e agentes equiparados das
representações diplomáticas.

Existe outro grupo de limitações que resultam do direito constitucional que atingem o Presidente
da Republica6, deputados· e estendem-se às entidades nomeadas pelo Presidente da Republica,
magistrados judiciais7 e do Ministério Publico8.

Aplicação da lei processual no tempo

Todas as leis têm a sua aplicabilidade limitada no tempo, entre o início da vigência e o seu
termo. Uma lei que sucede a outra começa a vigorar no momento em que a anterior cessa a sua
vigência, donde surge o problema da lei aplicável ao caso concreto, dentro das leis que se
sucedem no tempo.

A colocação clássica do problema parte da consideração de que a lei processual penal como lei
adjectiva deve ser de aplicação imediata.

Sobre o assunto Cavaleiro de Ferreira disse: ― Se um processo termina no domínio de uma lei
revogada, o processo mantém pleno valor. Se o processo se não iniciou ainda, embora o facto
que constitua o seu objecto tenha sido cometido no domínio da lei antiga, é-lhe inteiramente
aplicável a nova lei. Se a lei nova surge durante a marcha do processo são válidos todos os
actos ulteriormente praticados”.

Eduardo Correia disse que ―aceitar tal posição não permite notar que os actos processuais em
concreto constituem na sua tramitação o desenvolvimento de outros anteriores, pelo que
respeitar os elementos de um processo é aceitá-los com as suas consequências que
dinamicamente pressupõe. Por outro lado, a lei nova pode mudar o estatuto dos sujeitos
processuais, máxime do arguido, já que a lei processual assume por vezes natureza quase

6
Art. 153, n. 1 e 2 da CRM
7
Arts 217 e 218 da CRM conjugado com o Arts. 5, 6,7,48,49 da Lei n. 7/2009, de 11 de Marco que aprova o Estatuto
dos Magistrados Judiciais
8
Art. 52, 53, 69, 119, 120 da Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

18
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substantiva nomeadamente quando regula matérias respeitantes aos direitos processuais dos
mesmos”.

O problema da aplicação da lei processual penal deve ser visto em torno do artigo 12 do C.C que
estatui que a lei só dispõe para o futuro. Daí que a solução a dar tem a ver com o momento da
entrada em vigor da lei em causa.

A aplicação da lei processual penal há actos ou situações que decorram na sua vigência mas que
se ligam à uma infracção cometia no domínio da lei antiga não deve contrariar nunca o conteúdo
da garantia conferida pelo princípio da legalidade. Não deve aplicar-se a nova lei processual há
um acto ou situação processual que ocorra num processo pendente de um crime cometido na
vigência da lei antiga. Sempre que da nova lei possa resultar o agravamento da posição
processual do arguido ou em particular uma limitação do seu direito de defesa 9.

*****

3. PRINCIPIOS GERAIS DO PROCESSO PENAL

3.1. Princípios relativos a promoção ou iniciativa processual

3.2. Princípios relativos a prossecução ou decurso processual

3.3. Princípios relativos Prova:

3.4. Princípios relativos Forma

São princípios constitucionais do processo penal que consubstanciam os valores preferenciais e


os bens prevalecentes em dado momento, numa certa comunidade.

Tais princípios há-de reduzir necessariamente ao mínimo de modo a terem acolhimento ou


aceitação geral dos membros da comunidade e o correspondente a sua consciência ético-jurídico.

9
O Decreto n. 19271, de 24 de Janeiro de 1931 – que põe em vigor o CPP nas províncias ultramarinas,
especialmente o artigo 23, debruçasse sobre a aplicação da lei processual penal.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Pesem embora tais limitações, são estes princípios gerais do processo penal que dão sentido a
vastidão de normas vigentes, orientação ao legislador, e permitem a dogmática, não apenas
explicar, mas sobretudo, compreender os problemas do direito processual e caminhar no sentido
da sua superação.

A importância da sistematização e estudo dos princípios gerais do processo penal tem por fim
proporcionar maior clareza e uma exposição didáctica desses princípios, por um lado, por outro,
é de carácter pedagógico, pois, permite-nos fazer uma apreciação sintética dos valores
fundamentais em que assente o sistema processual penal vigente; tem uma função politico-
legislativa, enquanto permitem confrontar o sistema processual com os valores sociopolíticos
dominantes e uma função de carácter prático – que tem a ver com a problemática da aplicação do
direito processual penal em termos de integração de lacunas.

Em termos de sistematização vamos agrupar os princípios em categorias para fácil compreensão:

Princípios relativos a promoção ou iniciativa processual (incluímos neles os que nos


dizem algo em relação ao que se deve fazer quando se quiser iniciar uma acção penal –
princípios da oficialidade, legalidade e de acusação);

Princípios relativos a prossecução ou decurso processual (principio da investigação, da


contrariedade e audiência, da suficiência e da concentração);

Princípios relativos Prova: princípios da investigação, da livre apreciação da prova e ―in


dúbio pró reo‖;

Princípios relativos Forma: princípios da publicidade, da oralidade e da imediação.

3.1. PRINCÍPIOS RELATIVOS A PROMOÇÃO PROCESSUAL OU INICIATIVA


PROCESSUAL

3.1.1. O Principio da oficialidade, também conhecido por princípio monopolista.

Sobre este princípio há a indagar logo sobre a quem compete a iniciativa (o impulso) de
investigar a pratica de uma infracção e a decisão de a submeter ou não a julgamento.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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A luz do direito positivo moçambicano por excelência incumbe ao MP a promoção da acção


penal – art. 236 da CRM – arts 1 e 14 do DL 35007, art. 5 do CPP) que pode delegar -
excepcionalmente a outros entes públicos – art. art. 16 e 17 DL 35007).

Ao contrário do que se passa em matéria civil, no DPP vigora o princípio da legalidade da acção
penal, no sentido de que sendo o Estado, o titular da acção penal, órgão competente para a
promoção da mesma, não pode escolher se quer ou não exercer a acção penal. Isto porque a
realização de justiça penal enquanto assunto público e não privado deve caber oficiosamente ao
Estado e não pode depender da vontade e da actuação dos particulares, nomeadamente a vítima
do crime, isto é a regra para os crimes de natureza pública. Ex: o homicídio – e de natureza
publica.

Porem, o exercício da acção penal tem tido limitações nalguns casos, atento a natureza do crime
cometido e dos bens jurídicos especialmente tutelados pela incriminação. Nem sempre que o MP
toma conhecimento dum facto criminoso pode promover a acção penal, há vezes que depende da
queixa, participação ou da acusação particular, conforme a situação em concreto.

O critério para a determinação da natureza do crime consiste na regra de exclusão: os crimes que
não forem semi-públicos, nem particulares são públicos.

Para saber se os crimes são semi-públicos ou particulares consulta-se a lei substantiva: quando a
lei penal utiliza o termo queixa, participação o crime é semi-publico – ex: 359 $ único; 360 $
único; 363$ único; 363 $ único; 369 $1; 379, $ 2; 399, referido aos arts. 369, $ 2, in fine, 391 SS.
430 e $ 1; 431 $ 2. 438; 450 $ único; 451 $ 2; 455 $ único, 472 $ 1; 473 $ único e 477 — quando
utiliza a expressão acusação particular; requerimento da parte o crime é particular – arts. 254, $
único; corpo do artigo 416 todos do CP.

Importa referir que a maior parte dos crimes tem natureza pública e nestes casos o MP tem
legitimidade incondicionada para promover a acção penal. Porem, importa referir que há casos
excepcionais em que, mesmo nos crimes públicos para que o MP promova a acção penal e
necessário a remoção de certos obstáculos legais em relação a certas entidades.

A título de exemplo temos os crimes públicos cometidos pelo Presidente da Republica no


exercício das suas funções. Aqui, para que o M. P promova a acção penal é necessário que a

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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―Assembleia da Republica requeira ao Procurador-Geral da Republica o exercício da acção penal


contra ele‖, devendo a proposta ser feita por ―pelo menos um terço e aprovada por maioria de
dois terços dos deputados da Assembleia da Republica – n. 3 do art. 153 da CRM.

Quando se trate de crimes semi-públicos o MP só tem legitimidade quando a pessoa a quem o


direito assiste apresentar a queixa, que pode ser feita directamente a ele ou a outras instâncias
competentes para receber queixas e/ou denuncias, nomeadamente, a Policia da Republica de
Moçambique, MP e a Policia de Investigação Criminal – art. 3 do DL 35007, devendo levantar
autos de notícia nos termos do art. 166 do CPP e remeter directamente ao Tribunal competente, o
que valera para todos os efeitos como acusação em processo penal.

Denuncia – é a comunicação da prática de um crime que é feita ao MP ou a outra autoridade de


comunicar nos termos estabelecidos na lei – art. 7 do DL 35007.

A denúncia por ser feita por queixa ou participação.

A queixa é um acto voluntário/ e a expressão de vontade do titular do respectivo direito,


manifestando por requerimento e na forma prescrita na lei manifestando a sua vontade de que
seja responsabilizado algum pela pratica de um determinado crime. Esta tem carácter facultativo,
é renunciável e é passível de desistência a ser proposta pelo ofendido através do mandatário
devidamente constituído.

A participação é a manifestação de vontade por parte de uma autoridade, de que deseja que seja
instaurado procedimento criminal contra alguém.

Quando a queixa ou denúncia for feita a uma entidade diferente do MP deve ser a este
transmitido imediatamente – art. 8, $ único do DL 35007.

3.1.2. Princípio da Legalidade

De acordo com este princípio é dever da autoridade pública competente – MP – proceder


criminalmente contra o autor de um facto que reúna os pressupostos substanciais e processuais
da incriminação, o que significa que não esta nas mãos do MP optar ou não pelo procedimento,
quando reunidos os respectivos requisitos legais.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Os fundamentos que alicerçam o princípio da legalidade encontram-se em várias disposições


legais, designadamente os arts. 1 e 165 e 349 do CPP e 26 do DL n. 35007. De acordo com tais
comandos normativos o MP esta obrigado a proceder e dar acusação por todas as infracções de
cujos pressupostos – factuais e jurídicos, substantivos e processuais – tenham tido conhecimento
e tenha logrado recolher, na instrução, indícios suficientes.

Significa que o MP devera promover a acção penal sempre que se verifiquem os seguintes
requisitos:

a) Pressupostos processuais (ex: a competência e inexistência de obstáculos processuais como,


por exemplo as imunidades)

b) Punibilidade do comportamento segundo o direito penal substantivo (ex: ilicitude, culpa,


condições objectivas de punibilidade);

c) Conhecimento da infracção (art. 165 CPP)

d) E existência de indícios suficientes (art. 349) ou prova bastante (a contrario dos arts. 345 do
CPP e 26 do DL 35007) que fundamenta a acusação.

A actividade do MP desenvolve-se assim, sob estrita vinculação da lei – dai o princípio da


legalidade e não segundo considerações de oportunidade (Ex. de ordem politica – faison d‘ Etat
ou financeira – custos).

O interesse do Estado neste principio é de tal ordem e carácter que a sua omissão pode
consubstanciar-se num crime de denegação de justiça – artigo 287 e 288 CP.

3.1.3.Princípio da Imutabilidade da Acusação

Como corolário deste princípio da legalidade no que respeita a acusação pública, resulta o
chamado princípio da imutabilidade da acusação, de acordo com este princípio, a acusação não
pode ser retirada a partir do momento em que um tribunal for chamado a decidir sobre ela. Por
essa via esta excluída a (renuncia a acusação – art. 18 do CPP) e bem, assim, a desistência dela.
Ressalva-se no entanto, a eficácia do perdão dos ofendidos no caso dos crimes particulares ($

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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único do art. 3 do DL 35007) e semi-publico, exceptuando os casos em que a sentença


condenatória haja transitado em julgado, e ainda nos caos especificamente fixados por lei 10.

Resumindo: Sobre este princípio da imutabilidade ou indisponibilidade, os sujeitos processuais


não podem dispor da relação processual, o MP não pode desistir da acusação, o arguido não pode
por fim ao processo, mesmo que confesse, as partes não podem transigir.

Este princípio é dominante nos crimes públicos em relação aos quais o MP só tem a
obrigatoriedade e legitimidade para promover a acção penal bem como o dever de com ela
prosseguirem depois de requerida.

Nos crimes semi-públicos é reconhecido aos participantes ou denunciantes o direito de perdoar


ou renunciar a queixa, extinguindo-se assim o procedimento criminal (art. 125, n. 4 do CP e art.
7 & 2 do CPP).

3.1.4. Princípio da Acusação

Significa que a jurisdição dos tribunais nunca intervêm oficiosamente, apenas intervêm mediante
um pedido formulado pelo MP que assume uma forma (Acusação), por um lado, por outro, feito
esse pedido tem um conteúdo concreto. Então a jurisdição não pode alargar o seu puder de julgar
a pessoas e factos distintos daqueles que são objecto da acusação. Este princípio da acusação é
um princípio directamente decorrente da estrutura acusatória do processo penal e exige que seja
necessário respeitar o princípio da separação de funções. Temos que ter por um lado, a entidade
que investiga e deduz formalmente a acusação (que e o MP) e por outro lado, temos que ter uma
entidade distinta e autónoma que julga (o tribunal).

O tribunal a quem cabe o julgamento, não pode por sua iniciativa começar uma investigação
tendente ao esclarecimento de uma infracção e a determinação dos seus agentes. Isto para
preservar a sua imparcialidade, objectividade. E porque o tribunal tem que limitar o seu poder
cognitivo (de tomar conhecimento ao que vem na acusação) ele não poderá ser responsabilizado
se A for absolvido porque a acusação foi deficiente.

10
Art. 125 $ 6 do CP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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A acusação define e fixa perante o tribunal o objecto do processo (principio da vinculação


temática), ou seja, o objecto do processo deve manter-se o mesmo desde a acusação ao transito
em julgado da sentença, deve ser conhecido e julgado na totalidade (de forma unitária e
indivisível) e deve considerar-se irrepetivelmente decidido. Trata-se de uma garantida de defesa
do arguido na medida em que a partir da acusação ele sabe exactamente de que é que tem de se
defender, não podendo ser surpreendido com novos factos ou novas perspectivas dos mesmos
factos para os quais não estruturou a sua defesa.

3.2. PRINCIPIOS RELATIVOS A PROCESSUCAO PROCESSUAL

3.2.1. Princípio da investigação ou da verdade material

O princípio da investigação significa que é o tribunal que investiga os factos sujeitos a


julgamento embora as partes possam dar o seu contributo:

Assim, a dedução e esclarecimento do material de facto e dos elementos probatórios não


pertence exclusivamente as partes, mas em último termo ao juiz. É sobre ele que recai o ónus de
investigar e esclarecer oficiosamente – independentemente das contribuições das partes – o facto
submetido a julgamento11.

Também, não impenda nunca sobre as partes em processo penal, qualquer ónus de afirmar,
contradizer e impugnar como, igualmente, que se não atribua qualquer eficácia a não
apresentação de certos factos ou ao acordo expresso ou tácito, que se formaria sobre os factos
não contraditados, como finalmente, que o tribunal não tenha de limitar a sua convicção por
sobre os meios de prova apresentados pelos interessados. Por isso se diz que em processo penal
esta em causa, não a verdade formal, mas a verdade material, entendida como verdade subtraída
a influência do comportamento processual da acusação e da defesa e como verdade judicial,
pratica e processualmente valida.

O princípio da investigação, em que se busca a verdade material, contrapõe-se ao princípio do


dispositivo (ou da contradição, ou da discussão), que se satisfaz com a verdade formal e em que
11
Ver arts. 9 e sobre problemas específicos — arts. 330 && 1 e 2; 332; 333 &&1 e 2; 404 & 1; 425 & 3; 435; 443;
465 & único, etc. todos do CPP.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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o processo se desenrola como um duelo entre as partes, sob a arbitragem do juiz. Aqui este
principio não tem aplicação, pois se esta perante a indisponibilidade do objecto processual, a
impossibilidade de desistência da acusação publica de aspectos eficazes entre a acusação e a
defesa e de limitações postas ao tribunal na apreciação jurídica do caso submetido a julgamento.
Este último ponto vale, sobretudo nas alegações orais na audiência de discussão e julgamento12.
Pode o MP ter pedido a absolvição do arguido e o tribunal condená-lo, como pode a defesa
considerando provado o crime pedir apenas a condenação em uma pena leve e o tribunal
absolver o arguido.

3.2.2. Princípio da contraditoriedade ou audiência

Cabendo ao juiz penal cuidar de reunir as bases necessárias a sua decisão, não deve ele, todavia,
levar a cabo a sua actividade isoladamente, pelo contrário deve ouvir tanto a acusação como a
defesa.

Tal não significa que o juiz deva permanecer passivo a ouvir o debate que perante ele se
desenrola, antes sim, que toda a prossecução processual deve cumprir-se de modo a fazer
ressaltar as razoes da acusação mas também as da defesa e, portanto aceitando a iniciativa
própria destes sujeitos processuais.

Este princípio encontra-se plasmado em diferentes fases do processo.

Na fase de acusação e defesa, a contrariedade transparece sobretudo na contestacao13, sendo ela


própria fundamento da fase da instrução contraditória14.

Na fase de julgamento o juiz ouvira sempre o MP e os representantes da parte acusadora sobre os


requerimentos dos representantes da defesa e estes sobre o que tenham requerido aqueles, e a
contestacao do réu, quando deduzida na audiência de julgamento, será apresentada por escrito
pelo seu defensor”15.

12
Arts. 467; 533 e 539 do CPP.
13
Arts. 379, 390 e 398 do CPP
14
Art. 326 do CPP).
15
Artigos 415 e 423 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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É de resto para assegurar o contraditório que se considera como nulidade a falta de notificação
do despacho de pronúncia ou equivalente ao arguido e seu defensor, bem como a falta de entrega
do rol de testemunhas16.

O princípio da audiência traduz-se na oportunidade conferida a todo o participante processual de


influir, através da sua audição pelo tribunal do desenrolar do processo.

3.2.3. Princípio da suficiência – as questões prejudiciais

O princípio da suficiência tem como conteúdo o facto de o processo penal, em regra, se bastar a
si próprio, o que significa que a sua promoção é independente e autónoma de qualquer outro
processo e que nele se podem e devem, também em regra, decidir todas as questões que
interessem a decisão da causa penal: obrigatoriamente se forem de natureza penal, sempre que
possível se tiverem outra natureza.

O princípio da suficiência vem consagrado no art. 2 do CPP. De acordo com este princípio, o
processo penal é o lugar adequado ao conhecimento de todas as questões cuja solução se revele
necessário a decisão a tomar (as excepções estão referidas nos artigos seguintes).

Na tramitação do processo penal para conduzir a uma decisão podem surgir questões de diversa
natureza (penal, civil, administrativa, etc.), cuja resolução condiciona o ulterior desenvolvimento
do processo. Ao dar competência ao juiz penal para delas conhecer, a lei considera que o
processo penal se basta a si mesmo, que é auto-suficiente.

Entende-se por questões prejudiciais aquelas cujo objecto é diferente do que constitui a questão
principal do processo em que surgem, e sendo susceptíveis de constituírem objecto de um
processo autónomo, são de resolução prévia indispensável para se conhecer em definitivo da
questão principal.

No que tange ao conhecimento das questões prejudiciais pelo tribunal criminal podem ser
indicadas três teses: a tese do conhecimento obrigatório de todas as questões, a tese da devolução
do conhecimento e uma terceira, intermédia.

16
Nºs 5 e 6 do artigo 98 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Quanto as questões prejudiciais não penais em processo penal vêm regulamento do art. 3 do
CPP. Reconhece-se neste dispositivo legal, a excepção ao princípio da suficiência. Teve o
legislador, o cuidado de acautelar que não se criem obstáculos ao exercício do processo penal,
com a devolução da questão prejudicial para o tribunal normalmente competente 17.

No que respeita as questões prejudiciais penais em processo não penal, a matéria vem regulado
nos arts. 4, 152 e 154 do CPP e art. 97 do CPC.

3.2.4. Princípio da concentração

O principio da concentração significa que os actos processuais devem ser praticados numa só
audiência se possível, ou em audiências próximas no tempo, para que as impressões colhidas
pelo juiz não desapareçam da sua memoria.

Este princípio exige uma prossecução tanto quanto possível unitária e continuada de todos os
termos e os actos processuais, devendo, no seu conjunto em todas as fases do processo
desenvolver-se concentradamente, quer no espaço, quer no tempo.

Embora presente em todas as fases do processo ganha mais relevo e autonomia na audiência de
julgamento, associando-se aos princípios de forma, enquanto corolário dos princípios da
oralidade e de imediação18

A concentração espacial respeita ao desenrolar da audiência por inteiro no mesmo local, onde
deverão comparecer todos os participantes processuais. A concentração temporal significa que a
audiência, uma vez iniciada, decorre seguidamente. Todavia, não significa que não possa haver
interrupções ou adiamentos. A audiência pode ser interrompida para alimentação e repouso dos
participantes processuais ou por outros motivos, designadamente por necessidade de produção de
prova superveniente, incapacidade acidental dos sujeitos processuais ou decisão de questões
prévias ou prejudiciais – 414, 514, 421, 422.

3.3. PRINCÍPIOS RELATIVOS A PROVA

17
$ 3 do art. 3 do CPP
18
Arts. 76. $ 1; 337, 334, 403 e 414 do CPP

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28
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3.3.1. Princípio da livre apreciação da prova

Com a produção da prova em julgamento tem-se em vista oferecer ao tribunal as condições


necessárias para que forme a sua convicção sobre a existência ou não dos factos ou situações
relevantes para a sua decisão – a sentença.

Segundo este princípio, a valoração das provas pelo juiz não esta sujeito a critérios legais, as
regras pré-determinadas que indicam o valor de certo meio de prova. Esta valoração é feita
segundo a livre convicção do juiz, convicção essa que não pode ser puramente subjectiva,
emocional, imotivável, portanto, arbitraria. A apreciação da prova deve ser racional e apoiar-se
nos elementos de prova produzidos. O juiz não pode servir-se, para fundamentar a sua decisão,
de factos conhecidos fora do processo. “Quond non est in actis non est in mundo.”.

O princípio da livre apreciação da prova e da livre convicção do juiz vale, em geral, no nosso
direito processual penal para todo o domínio da prova produzida. No entanto, considerados os
singulares meios de prova admitidos, há que assinalar algumas questões que, por vezes, se
traduzem em importantes limitações ou mesmo excepções a este princípio.

a) No que respeita a prova testemunhal e por declarações (art. 214 e segts do CPP) o principio
vale hoje sem quaisquer limitações, sendo este seu campo de eleição. Todavia, a lei da a
entender, por diversos modos, não ter a prova por declarações a mesma dignidade probatória
que as testemunhas, mas nada disso se reflecte em termos de critério de apreciação da prova.
O juiz é livre de formar a sua convicção na base do depoimento de um declarante em
desfavor de testemunho (s) contrário (s).

b) No que toca ao depoimento do arguido (arts 244, 250 e segts e 425 e segts do CPP) há que
distinguir duas situações, conforme este negue ou confesse os factos. Em caso de negação,
recorre-se por inteiro ao princípio da livre apreciação e convicção. A confissão, contudo, esta
sujeita, quanto ao seu valor, a um verdadeiro critério legal de apreciação. Com efeito, o art.
174 do CPP dispõe que “a confissão desacompanhada de quaisquer outros elementos de
prova não vale como corpo de delito”. E acrescenta, no seu & único: ―ainda que o arguido
tenha confessado a infracção, o juiz devera proceder a todas as diligências para o apuramento
da verdade, devendo investigar, com todos os elementos de que dispuser, se a confissão é ou
não verdadeira‖.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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c) Quanto a prova pericial, afirma-se no nosso direito a ideia da absoluta liberdade da sua
apreciação pelo juiz, — arts. 179 e 180 do CPP;

d) A apreciação de factos constantes de documentos autênticos ou autenticados traduz-se num


verdadeiro critério legal (arts. 169 & 3, 468 & único todos do CPP).

3.3.3. Principio in dúbio pró reo

Vimos já que em processo penal cabe ao juiz o dever de, oficiosamente, instruir e esclarecer o
facto sujeito a julgamento; não há, em processo penal, qualquer ónus verdadeiro de prova que
recaia sobre o acusador ou o arguido. Em direito processual penal, não há, seguramente o
chamado ónus de prova formal, segundo o qual as partes teriam o dever de produzir as provas
necessárias como fundamentos das suas afirmações de facto sob pena de os mesmos factos não
serem tidos como provados.

Se, o tribunal em processo penal, através da sua actividade probatória não lograr obter a certeza
dos factos, mas antes permanecer na dúvida, terá de se decidir em desfavor da acusação,
absolvendo o arguido por falta de provas. Este e o conteúdo do princípio de, na dúvida, dever
decidir-se a favor do réu.

3.2. PRINCÍPIOS RELATIVOS A FORMA

3.2.1. O princípio da publicidade

O princípio da publicidade significa que as audiências dos tribunais são públicas, que o publico
pode assistir a realização de actos processuais.

Nos termos do artigo 407 do CPP e artigo 16 da LOTJ, as audiências dos tribunais são públicas.
Significa isto que qualquer cidadão tem direito a assistir ao (e a ouvir) desenrolar da audiência de
julgamento, mas também que são admissíveis os relatos públicos daquela audiência. As
excepções estão previstas no art. 407 do CPP, e visam salvaguardar a dignidade das pessoas e a
moral e para garantir o seu normal funcionamento.

A publicitação ou não do processo através dos órgãos de comunicação social é questao que por
vezes oferece dificuldades, por haver direitos ou bens conflituantes a tomar em consideração: a
sociedade tem direito a ser informada do que se passa nos tribunais e, vista a questao por este

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

30
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lado, os órgãos de comunicação social devem ter as maiores possibilidades de actuação pois
cabe-lhes o direito e a obrigação de informarem a comunidade. Deve no entanto ter-se presente
que os interesses ligados a reserva da intimidade da vida privada do arguido há-de ser
acautelados por merecem igualmente tutela constitucional. O necessário exercício da justiça não
pode fazer-se a custa de ilegal intromissão na reserva da vida privada do arguido, atribuindo-lhe
crimes ou fazendo contra si campanhas demagógicas que maculem a sua imagem.

Publicidade sim, desde que dela não possa resultar perigo para a eficácia do acto judicial ou para
a defesa do arguido nem para o jus punied do Estado.

3.2.2. Princípio da oralidade e da imediação.

O princípio da oralidade significa que os actos processuais devem ser praticados na presença dos
participantes processuais, oralmente. Mas o facto de os actos serem praticados oralmente não
significa que não possa ser registados, registo que, alias, é aconselhável para efeitos de controlo
da prova, com vista a possibilidade de recurso em matéria de facto.

Este principio, têm maior preponderância na fase da audiência, discussão e julgamento19.

A importância deste princípio reside no facto de permitir o contacto indispensável vivo e


imediato com o arguido, a recolha da impressão deixada pela sua personalidade. Só a
oralidade permite, por um lado, avaliar o mais correctamente possível da credibilidade das
declarações prestadas pelos participantes processuais. E só ela permite, por ultimo, uma plena
audiência destes mesmos participantes, possibilitando-lhes da melhor forma que tomem posição
perante o material de facto recolhido e comparticiparem na declaração do direito do caso.

Oralidade não significa exclusão da escrita no sentido de proibição de que os actos que tenham
lugar oralmente fiquem registados em actas ou protocolos (que servem por exemplo, fins de
controle de produção da prova, sobretudo em matéria de recurso). Significa, tão-somente, que a
actividade processual é exercida na presença dos participantes do processo e, portanto,
oralmente.

19
Art.466 do CPP.

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Quando se fala de oralidade como princípio geral do processo penal, tem-se em vista a
forma oral de atingir a decisão; o processo será dominado pelo princípio da escrita quando
o juiz profere a decisão na base de actos processuais que forem produzidos por escrito
(exames, peritagens, etc.) e será, pelo contrário, dominado pelo princípio da oralidade
quando a decisão é proferida com base em uma audiência de discussão oral da matéria a
considerar.

Porem, este princípio sofre algumas limitações quando a audiência de julgamento se realiza sem
a presença do arguido 20. Do mesmo modo a fase dos recursos decorre sob a forma escrita.

O princípio da imediação significa que a decisão jurisdicional só pode ser proferida por quem
tenha assistido a produção das provas e a discussão da causa pela acusação e pela defesa, que a
decisão deve ter lugar o mais breve possível, no termo da audiência de discussão e julgamento, e
que deve dar-se preferência aos meios de prova que estejam em relação mais directa com os
factos probandos, os imediatos.

A imediação é afinal ―a relação de proximidade entre o tribunal e os participantes no


processo, de modo tal que aquele possa obter uma percepção própria da matéria que há-de
servir de base a decisão. Por exemplo, a exibição de documentos (art. 426 do CPP) é uma
manifestação do princípio da imediação.

Através deste princípio é possível fazer a avaliação da credibilidade das declarações prestadas
pelos participantes processuais, assim permitindo ao tribunal formar a sua convicção sobre a
matéria de facto.

************

4.OS SUJEITOS PROCESSUAIS

Como dissemos atrás, o processo penal pode se definir como uma sequência de actos
juridicamente pré-ordenados e praticados por certas pessoas legitimamente autorizadas, com
vista a lograr a decisão sobre se foi praticado algum crime e, em caso afirmativo, sobre as
respectivas consequências jurídicas e a sua justa aplicação.

20
Arts. 413; 547 e 562 e segts do CPP

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Essas pessoas e entidades que, investidos nas mais diversas funções, desenvolvem actividades no
processo recebem a designação genérica de participantes processuais.

Mas nem todos os participantes processuais realizam uma função determinante, a ponto de
imprimirem ao processo uma certa direcção ou uma fisionomia própria. Os funcionários
judiciais, por exemplo, colaboram no processo e, no entanto, a sua actuação não é decisiva. O
mesmo se passa com as testemunhas, os declarantes e os peritos, que intervêm como meios de
prova, mas não tem poder de iniciativa nem de decisão relativamente as questões processuais.

Aos participantes a quem, por forca da sua particular posição jurídica, são reconhecidos direitos
e deveres processuais autónomos, no sentido de poderem condicionar a concreta tramitação do
processo costuma chamar-se sujeitos processuais.

Assim, são sujeitos processuais além do tribunal (ou por outras palavras, do juiz penal, o
Ministério Publico, o arguido e o seu defensor o ofendido e o assistente.

Iremos estudar detalhadamente cada um deles. Antes, porem, convirá fazer uma breve referência
a estrutura fundamental do processo penal, com particular relevo para o que resulta da legislação
em vigor.

4.1. O conceito de “parte” e os modelos estruturais do processo penal.

Discute-se muito se o processo penal é ou não um processo de partes (a semelhança do processo


civil) considerando o significado adjectivo ou instrumental do conceito.

Alguns autores – EDUARDO CORREIA, CAVALEIRO DE FERREIR, CASTANHEIRA


NEVES, definem como partes os sujeitos processuais que discutem a causa e esperam do juiz
uma apreciação do mérito dela. E nesta perspectiva que estes consideram o processo penal como
um processo de partes, não em sentido puro, mas em sentido meramente formal, porquanto os
sujeitos processuais que discutem a causa – o Ministério Publico e o acusado – apenas
formalmente estão colocados em campos opostos.

Na verdade, ao MP – já o dissemos – não cabe o dever de obter a condenação do arguido, mas tal
como ao juiz um dever de objectividade 21. Por outro lado, ao arguido cabe indiscutivelmente um

21
Arts 12& 1 e 25 do DL 35007 e art. 647, nº 1 do CPP

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direito de defesa, mas não, por certo, um dever de defesa (não se lhe exige que se oponha a
acusação), pelo que bem pode acontecer não se verificar uma necessária contraposição de
interesses entre o MP e a defesa.

FIGUEIREDO DIAS, define o conceito de parte num sentido processual material como tal os
titulares de interesses contrapostos que no processo se discutem e se encontram concretamente
em jogo. Para estes não se pode relativamente ao processo penal, falar em processo de partes,
nem mesmo em sentido formal, já que, precisamente por não existir uma necessária
contraposição de interesses entre a acusação e a defesa; a distinção que se pretende assinalar
(entre os sujeitos que pretendem fazer valer perante o juiz as suas posições) nada contribui para
explicar a estrutura íntima do processo penal.

Esta estrutura processual (resulta do modo de actuação dos sujeitos) explica-se, de acordo com
esta corrente, através da referência aos modelos estruturais que historicamente se desenvolveram
– sobretudo o de tipo inquisitório e o de tipo acusatório.

O processo inquisitório (que, como foi referido, teve a sua consagração nas legislações
europeias continentais dos séculos XVII e XVIII, embora surja em épocas mais recentes nos
Estados de regime autoritário) é o exemplo padrão de um processo sem partes. Nele, a
investigação da verdade, e de uma forma geral, o domínio do processo estão concentradas
num único órgão – o juiz: a este compete simultaneamente inquirir, acusar e julgar, sem
que intervenha qualquer outra autoridade oficial encarregada da acusação. O processo é,
em regra, totalmente escrito e secreto, do que resulta a impossibilidade, para o arguido de
exercer efectivamente o seu direito de defesa – não há contraditório, é o juiz que investiga,
há presunção de culpabilidade e o tribunal funciona na dependência do poder político.
Todos os meios incluindo a tortura são considerados legítimos para extorquir do réu a
confissão, tida por rainha das provas.

Como e fácil de imaginar, de um órgão no qual convergem as funções de instrução, acusação e


julgamento, não pode esperar-se uma atitude de imparcialidade e de independência face ao poder
político.

O processo acusatório (que vigora, ainda hoje, nos países anglo-saxónico ou influenciados por
estes) é, pelo contrário, o exemplo marcante de um processo penal de partes. O interesse

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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público da perseguição e punição das infracções penais e encabeçado no representante da


acusação (que pode ser uma entidade publica ou privado), o interesse do arguido é
representado pelo defensor e o processo surge deste modo como uma discussão, uma
autêntica confrontação entre ambos, sob o olhar imparcial e passivo do juiz. A este não
cabe colher o material probatório, mas sim as partes, por meio do sistema de interrogatório
e contra-interrogatório (examination and cross-examination) das testemunhas, dos peritos
e do próprio arguido (que pode testemunhar em causa própria). O papel do juiz é
unicamente o de dirigir a audiência, velando sobretudo para que as partes não se afastem
do formalismo prescrito, e proferir a decisão final baseados nas provas apresentadas pela
acusação e pela defesa.

Princípios próprios dos sistemas acusatórios e inquisitórios

Referindo-nos muito sucintamente aos princípios apontados para cada um dos sistemas diremos
que residem essencialmente no seguinte:

O princípio da oficialidade, consiste na existência de um órgão estatal próprio para dar inicio
ao processo e acusar. O processo não é ―aberto‖ pelos particulares nem pelo juiz; no sistema
inquisitório não existe esse órgão;

O princípio da publicidade significa que o arguido tem acesso aos autos que o povo –
comunidade – também tem acesso a justiça, podendo assistir a prática dos actos processuais,
controlando a actividade de aplicação do direito aos casos concretos pelos tribunais: no
sistema inquisitório os actos processuais seriam na sua quase totalidade praticados em
segredo – prevaleceria o segredo – argumentando-se que a publicidade geraria a ineficácia da
justiça;

O princípio da oralidade significa que os actos processuais são praticados sob forma oral;
contrapõe-se-lhe o princípio da forma escrita, sendo este próprio do sistema inquisitório e
aquele do sistema acusatório;

O princípio da contrariedade significa que as partes litigam entre si, na igualdade de direitos,
sendo o juiz um terceiro imparcial; no sistema inquisitório, em que não funcionaria o

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princípio da contrariedade, o arguido tinha um papel passivo, não era sujeito processual, não
tinha garantias de defesa;

O princípio da verdade formal significa que o juiz decide exclusivamente com base nos
elementos trazidos ao processo pela acusação, não lhe sendo permitido ordenar a produção de
outros meios de prova cujo conhecimento considere necessário. Ao principio da verdade
formal, próprio do sistema acusatório, opor-se-ia o principio da verdade material no sistema
inquisitório em que o juiz teria um papel activo. Só que, embora o juiz fosse livre de
investigar – ‗sistema inquisitório‖ – não se obtinha uma decisão final em harmonia com a
verdade material porque funcionava o sistema de prova tarifada e muitas vezes eram
utilizados todos os meios para obter a confissão, mesmo a tortura;

O princípio da presunção de inocência significa que ate ao trânsito em julgado da decisão


condenatória o arguido deve ser considerado inocente. Contrapõe-se-lhe, no sistema
inquisitório, o princípio da presunção da presunção de culpabilidade, segundo o qual a mera
suspeita é suficiente para impor restrições a liberdade do arguido, incluindo a prisão
preventiva durante a fase de investigação.

No sistema inquisitório o arguido era tratado como objecto da inquisição: não eram levados
em conta os seus direitos fundamentais; no sistema acusatório goza dos direitos fundamentais
materiais e processuais.

4.2. A estrutura fundamental do processo penal em Moçambique

Face aos modelos estruturais acabados de apresentar o nosso modelo não é modelo puro das
partes isto porque:

Contrariamente ao que sucede com as partes naquele tipo de processo, o MP e o arguido


não se encontram de facto e de jure ao mesmo nível – as suas posições não são idênticas,
nem entre ambos se verifica uma absoluta igualdade de oportunidade no tratamento do
objecto do processo. Na realidade o MP beneficia de uma posição jurídica supra
ordenada em relação ao arguido: dispõe de um aparelho investigatório e coactivo
(formado pelos chamados órgãos auxiliares do MP – a Policia de Investigação Criminal
e as outras forcas policiais, os estabelecimentos especializados de investigação – enfim,

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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todos os organismos do poder do Estado) de que pode e deve fazer uso e que falta por
completo ao arguido, pode impor ao arguido a prisão (art. 293 do CPP, na nova
redacção dada pela Lei n. 2/93, de 24 de Junho) e requerer ao juiz da instrução criminal
outras medidas coercivas de limitação ou privação da liberdade.

O MP não tem como as partes em processo civil, o domínio do objecto do processo: não
lhe cabe qualquer margem de discricionalidade em acusar ou não acusar, nem a
acusação pode ser retirada a partir do momento em que o tribunal for chamado a
decidir sobre ela. Por outro lado, a confissão do arguido não produz qualquer efeito
processual quando desacompanhada de outros elementos de prova (v. art. 174 do CPP),
nem sobre aquele recaí responsabilidade alguma pela não produção de uma prova, ao
mesmo tempo que – por força do princípio da verdade material – nada obsta a que o
tribunal por sua iniciativa realize as diligências que entender necessárias, mesmo que
tenham o arguido por objecto.

Do exposto resulta que o processo penal moçambicano é tipicamente um processo sem


partes, embora isso não signifique que a sua estrutura se confunda com a do tipo
inquisitório (pelo menos na sua forma pura). Ele é, na verdade, um processo
basicamente acusatório mas integrado por um princípio de investigações que como
vimos, esta consagrada com carácter geral no art. 9 do CPP.

4.3. O Juiz ou magistrado judicial

O juiz é todo aquele que, por lei ou designacao das partes (assim acontece por exemplo, no caso
do juiz arbitral), exerce funções jurisdicionais, isto é, de resolucao de litígios (conflito de
interesses) entre particulares ou entre particulares e o Estado

Para se ser juiz ou magistrado judicial é necessário que seja cidadão moçambicano com mais de
vinte cinco anos de idade, licenciado em Direito, ter sido aprovado em curso específico de
ingresso reconhecido pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial e satisfazer os demais
requisitos estabelecidos na lei para a nomeacao do exercício da funcao pública22.

22
Art. 8 da Lei n. 7/2009, 11 de Marco.

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O conjunto hierarquicamente organizado dos juízes forma a magistratura23 judicial que intregram
as respectiva categorias: Juiz Conselheiro – Tribunal Supremo; Juiz Desembargador – Tribunal
Superior de Recurso; Juiz de Direito A e B – Tribunal Judicial de Provincia; Juiz de Direito C e
D – Tribunal Judicial de Distrito24.

4.4.O Juiz Penal

A LOTJ no seu artigo 1 define os tribunais como ―órgãos de soberania que administram justiça
em nome do povo‖.

No toca ao processo penal, quer isto dizer que os tribunais são os únicos órgãos competentes
para como representantes da comunidade jurídica e do poder do Estado decidirem os casos
jurídico-penais que processualmente sejam levados a sua apreciação aplicando o direito penal
substantivo.

Sendo por conseguinte os tribunais no seu conjunto – e cada um dos juízes de per si – órgãos de
soberania e pertencendo só a eles a função judicial (cujo exercido se consubstancia na actividade
a que se costuma designar por jurisprudência), tem forçosamente de concluir-se que a
independência material (objectiva) dos tribunais – reforçada pela independência pessoal
subjectiva dos juízes que os formam – é condição indispensável da administração da justiça – art.
10 da LOTJ e art. 4 da Lei n. 7/2009, de 11 de Março.

Este princípio assume diversos significados e comporta diversas consequências:

a) Em primeiro lugar a independência perante os outros poderes do Estado ou perante os


restantes órgãos de soberania;

b) Independência perante quaisquer grupos ou entidades da vida pública, como os partidos


políticos, os grupos de interesse ou de pressão, os ―lobbies‖, os meios de comunicação social
e outros;

23
Este termo designa ou uma classe e organizacao de magistrados ou o período durante o qual se exerce a funcao
de magistrado.
24
N. 3 do artigo 9 da citada lei.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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c) Independência perante a organização hierárquica dos próprios tribunais no sentido de não


puderem os juízes receber ordens ou instruções concretas vindas de outros juízes de categoria
superior, salvo o dever de acatamento pelos tribunais inferiores das decisões proferidas, em
via de recurso, pelos tribunais superiores.

4.4.1. Impedimentos e suspeições

Impedimento - situação de facto que impede o exercício da função jurisdicional por parte do
juiz.

A independência dos tribunais constitui uma garantia, não só para os juízes como para os
próprios cidadãos da actuação livre daqueles, perante pressões ou influencias que lhes possam
ser dirigidas, tanto de dentro como de fora do sistema judiciário.

Mas isso não basta para que fique preservada e defendida a objectividade da actuação dos
tribunais é necessária, para além dessa garantia geral, que não seja posta em causa ou em dúvida
a imparcialidade dos juízes, já não em face de pressões externas, mas em virtude de especiais
relações que os liguem com o caso concreto que devam julgar.

Podem, com efeito, e por razões diversas, levantar-se dúvidas sobre a capacidade de um juiz se
revelar isento e imparcial no julgamento. Todavia, os fundamentos em que essas dúvidas se
baseiam não produzem sempre o mesmo efeito jurídico: umas vezes conduzem a impossibilidade
de o juiz intervir no processo, a qual deve ser declarado independentemente de qualquer
objecção suscitada pelos participantes processuais – estaremos perante um dos impedimentos
enumerados no art. 104 do CPP, outras vezes limitam-se a dar ao sujeitos processuais a
possibilidade de recusarem a intervenção do juiz no processo – temos, neste caso, uma suspeição
que deve ser levantado com base num dos fundamentos do art. 112 do mesmo código.

Os impedimentos devem ser declarados oficiosamente pelo juiz em qualquer altura do processo:
quando o não sejam deve o MP e podem o assistente e o arguido requerer a sua declaração de
acordo com os prazos e mediante o formalismo que se acham prescritos no art. 110 do CPP.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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A arguição dos impedimentos por qualquer dos sujeitos processuais (que não o próprio juiz este
não arguiu, declara) suspende o andamento do processo, que pode, porém, seguir os termos
conjuntamente com os do incidente se o juiz entender tratar-se de simples expediente dilatório 25.

Suspeição:

Noção: há suspeição quando há desconfiança quanto a imparcialidade do juiz que, não


determinando o seu impedimento (de intervir no processo) permite que as partes requeiram a sua
não intervenção, através de incidente que deduzem para o efeito.

A suspeição não pode ser voluntariamente declarada pelo juiz, mas pode ser levantada pelo MP,
pela parte acusadora ou pelo arguido, no prazo de cinco dias a contar daquele em o recusante
interveio no processo depois de conhecido o fundamento da suspeição 26.

A dedução da suspeição suspende o andamento do processo devendo ela ser julgada, podendo,
no entanto, o juiz que conhecer do incidente praticar quaisquer actos urgentes do processo
principal27.

4.3.1. A jurisdição penal

4.3.1.1. Conceito

São vários os sentidos que pode assumir o termo jurisdição. Etnologicamente, a palavra significa
dizer o direito do latim (juris dicere) e é empregue, na linguagem jurídica para designar:

O puder ou função jurisdicional, enquanto faculdade contida no direito de soberania do


Estado;

O conjunto dos órgãos do Estado aos quais compete o exercício desse puder ou função, ou
seja, os tribunais e

A actividade dos tribunais, enquanto órgãos da administração da justiça.

25
Artigo 111 do CPP
26
Art. 114 do CPP, que também se refere ao processo a seguir na dedução e decisão desta
27
Art. 115 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Este último sentido é o que nos interessa, para caracterizarmos o sujeito processual penal a quem
cabe em exclusivo a declaração do direito do caso.

A jurisdição penal íntegra, assim, um conjunto de poderes e deveres cuja finalidade é a de


deduzir (ou não) dum facto como crime e do arguido como seu responsável (ou não) a aplicação
da pena e sua execução, quando for caso disso, e bem assim a verificação dos pressupostos de
aplicação de medidas de segurança criminais, sua aplicação e execução.

4.3.2. Organização e competencias dos tribunais judiciais

A jurisdição penal pertence aos tribunais judiciais, hierarquicamente organizados de acordo com
o estabelecido na respectiva Lei Orgânica28.

Assim nos termos da referida leiexistem as seguintes categorias de tribunais: Tribunal Supremo;
Tribunais Superiores de Recurso; Tribunais Judiciais de Província e Tribunais Judiciais de
Distrito29.

Para efeitos judiciais, a divisão judicial coincide com a divisão administrativa do País e é
determinada por critérios que atendam ao número de habitantes, ao volume e a natureza da
procura da tutela judicial, a proximidade da justiça ao cidadão e as necessidades do sistema de
administração da justiça30.

Tribunal Supremo

O Tribunal Supremo é o mais alto órgão judicial e tem jurisdição em todo o território nacional,
com sede na capital do Pais31.

Para o exercicio da função jurisdicional o Tribunal Supremo conhece duas modalidades de


funcionamento: plenário, como tribunal de segunda instancia e de instância única e em secções,
como tribunal de primeira e segunda instancia 32:
28
Lei nº 24/2007, de 20 de Agosto
29
Nº 1, als a), b) c) e d) do artigo 29, nº 1 da Lei nº 24/2007, de 20 de Agosto
30
Art. 25 da LOTJ

31
Ns. 1 e 3 do artigos 39 da LOTJ

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Funcionando como tribunal de segunda instancia, o plenário do Tribunal supremo é constituído


pelo Presidente, Vice-Presidente e juízes profissionais; ao funcionar como tribunal de instância
única é constituído pelo Presidente, Vice-presidente, juízes profissionais e juízes eleitos33. Em
qualquer dos casos, o plenário só poderá deliberar estando presentes dois terços dos seus
membros.

As secções funcionando como tribunal de segunda instancia, são compostas por um mínimo de
dois juízes profissionais, sendo um presidente e outro adjunto; ao funcionar como tribunal de
primeira instância é composta por um mínimo de dois juízes profissionais e por um mínimo de
dois juízes eleitos, não podendo deliberar sem que estejam presente dois juízes profissionais e
um juiz eleito.

Cada secção é presidida pelo juiz profissional mais antigo no cargo, atribuindo a lei aos
Presidente de Secção competência para dirigir as sessões de julgamento (sem prejuízo da
possibilidade de ser o Juiz do Tribunal supremo a faze-lo), para alem de poderes de natureza
administrativa e do exercício da acção disciplinar sobre os funcionários do cartório.

Do plenário em instância única compete em matéria criminal entre outras art. 46:

Julgar os processos crimes em que sejam arguidos o presidente da República, o Presidente da


Assembleia da Republica e o Primeiro-ministro;

Julgar os processos-crime instaurados contra os juízes eleitos do mesmo tribunal, por actos
relacionados com o exercício das suas funções.

Do plenário, em segunda instancia, compete entre outras – art. 45

Uniformizar a jurisprudência quando no domínio da mesma legislação e sobre uma mesma


questao fundamental de direito tenham sido proferidas decisões contraditórias nas várias
instâncias do Tribunal Supremo ou nos tribunais superiores de apelação;

32
Artigo 43 da LOTJ

33
N. 1 e 2 do art.44 da LOTJ

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Decidir de conflitos de competência cujo conhecimento não esteja, por lei, reservado a outros
tribunais.

Das secções como tribunal de segunda instancia, compete entre outras – art. 50

Julgar em matéria de direito, os recursos das decisões proferidas pelos tribunais superiores de
recurso, que nos termos da lei são interpostos para o Tribunal Supremo;

Conhecer dos conflitos de competência entre os tribunais superiores de apelação e dentre


estes os tribunais judiciais de província.

Da secção como tribunal de primeira instancia, compete entre outras – art. 51.

Julgar os processos crimes em que sejam arguidos deputados da Assembleia da Republica,


membros do Conselho de Ministros, membros do Conselho de Estado e outras entidades
nomeadas pelo Presidente da Republica nos termos da Constituição, e todas as demais
entidades que gozam de foro especial nos termos da lei e não estejam abrangidas nas
disposições do artigo 46 da LOJ;

Julgar os processos-crime em que sejam arguidos juízes profissionais dos tribunais superiores
de recurso e magistrados do Ministério Publico junto dos mesmos tribunais.

Tribunais Superiores de Recurso

Os tribunais Superiores de Recurso são por essência tribunais de recurso e tem as suas sedes na
cidade de Maputo, Beira e Nampula 34.

Do tribunal de segunda instancia, compete entre outras – ver art. 62

Julgar dos recursos das decisões proferidas pelos tribunais judiciais de província, nos termos
das leis de processo;

Julgar dos conflitos de competência entre os tribunais judiciais e outras entidades da área da
sua jurisdição.
34
Artigo da 114 da LOTJ conjugado com a Resolução n…… do Tribunal Supremo

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

43
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Do tribunal de primeira instancia, compete entre outras – ver art. 63

Julgar os processos crimes em que sejam arguidos juízes profissionais dos tribunais judiciais
de província e magistrados do Ministério publico junto dos mesmos;

Julgar os processos crimes em que sejam arguidos juízes eleitos dos tribunais judiciais de
província, por actos relacionados com exercício das suas funções.

Tribunais Judiciais de Província

Os tribunais judiciais de província são tribunais intermédios cuja área territorial de jurisdição
corresponde a área territorial da província e da cidade capital. Estes tribunais podem, a imagem
das secções do Tribunal Supremo, funcionar como tribunais de primeira instancia quanto a
determinadas matérias ou como tribunal de recurso relativamente as decisões proferidas pelos
tribunais de escalão inferior, os tribunais de distrito.

O TJP quando funciona como tribunal de segunda instância é composto por 3 juízes
profissionais.

Como tribunal de primeira instancia, compõe-se de um juiz profissional e quatro juízes eleitos.

Os tribunais judicias de províncias têm o seu Juiz-Presidente e nos casos em que esteja
organizado em secções, estas dispõem igualmente do respectivo Juiz-Presidente.

Competencias

Os tribunais judiciais de província funcionando como tribunal em primeira instância, é, em


matéria civil e criminal, o tribunal comum na sua área de jurisdição, por terem competência para
todas as causas daquela natureza que não se encontrem atribuídas a outros tribunais. Para além
disso compete-lhes ainda conhecer de causas de natureza civil ou criminal contra magistrados
(juízes e magistrados do Ministério Publico) colocados nos tribunais de escalão inferior.

Como tribunal de segunda instancia, conhece dos recursos interpostos das decisões dos tribunais
judiciais de distrito e outros que, por lei, lhe devam ser submetidos, e ainda dos conflitos de
competência entre tribunais judiciais de distrito da sua área de jurisdição.

Tribunais Judiciais de Distrito

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Estes tribunais exercem jurisdição na área territorial do distrito e dividem-se em tribunais de


primeira classe e de segunda classe35.

Composicao, estrutura e funcionamento

O tribunal Judicial de Distrito é integrado por um presidente, que será um juiz profissional, e por
juízes eleitos. Quando o tribunal se encontre organizado em secção integrar ainda os respectivos
presidentes. Do ponto de vista funcional, o tribunal de distrito funciona em tribunal colectivo na
realização de julgamentos, o qual é constituído por um juiz profissional e quatro juízes eleitos.

Competências

Aos tribunais judiciais de distrito de 1 classe em primeira instancia, compete entre outras – ver
art. 84, julgar em matéria civil as questões respeitante a relações familiares e julgar acções cujo
valor não exceda cem vezes o salário mínimo nacional; em matéria criminal, julgam as acções
não atribuídas a outros tribunais desde que ao crime não corresponda pena superior a 12 anos de
prisão maior.

Aos tribunais judiciais de distrito de 2 classe em primeira instância, compete entre outras ver art.
85; em matéria civil, decidir processos jurisdicionais de menores e julgar acções de valor não
superior a cinquenta vezes o salário mínimo nacional; em matéria criminal julgam as acções não
atribuídas a outros tribunais desde que ao crime não corresponda pena superior a 8 anos de prisão
maior.

Aos tribunais judiciais de distrito de 1 e 2 classe em segunda instancia, compete entre outras –
art. 86, julgar os recursos interpostos das decisoras proferidas pelos tribunais comunitários;
conhecer dos pedidos de habeas corpus que lhe devam ser remetidos nos termos da lei
processual.

O juiz presidente do tribunal tem, essencialmente, funções administrativas e de representação.

35
De acordo com a Resolução n. 1/2009, de 18 de Maio do Tribunal Supremo, classificam-se como tribunais de 1`
classe os tribunais judiciais dos seguintes distritos:

Na província do Niassa

Na Província de Inhambane (Tribunal Judicial da Cidade de Inhambane; Tribunais Judiciais dos Distritos de Maxixe,
Vilanculos e Massinga)

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

45
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4.4.1. Competência do tribunal em matéria penal

4.4.1.1. O princípio do juiz natural

O princípio da legalidade em matéria penal obriga, como se sabe, ao afastamento da analogia em


matéria de incriminação e determinação das penas: nullum crimen, nulla poena sine lege”.

Não se ficam, no entanto, por aqui, as implicações deste princípio fundamental. Também no
processo penal ele se manifesta através do chamado princípio do juiz natural, ou do juiz legal,
que representa o direito fundamental dos cidadãos a que uma causa seja julgada por um
tribunal previsto como competente por lei anterior e não designado arbitrariamente, ou
seja, traduz-se esta, essencialmente, na fixação previa na lei dos factos determinativos da
competência para os diversos tipos de causa e a estabilidade da competência depois de
iniciada a acção, proibindo-se a criação de tribunais ad hoc ou o desaforamento de
qualquer causa, mediante atribuição arbitraria de competência a um tribunal diferente do
que era legalmente competente a data do facto atributivo da competência.

O princípio do juiz natural (ou juiz legal) está consagrado no n. 6 do artigo 223 da CRM e
significa que a repartição de competencias pelos tribunais há-de ser feita por lei e que esta deve
ser anterior a prática do facto que vai ser objecto do processo.

Ao se consagrar este princípio pretendesse evitar que sejam criados tribunais especiais ou
extraordinários e que o executivo pudesse proceder ao desaforamento. Mas não há uma proibição
total de desaforamento: o que esta essencialmente em causa são as garantias de imparcialidade e
independência. Nem a Constituição nem as normas de direito internacional pelas quais o Estado
moçambicano se encontra vinculado impedem a criação de novos tribunais nem os processos
relativos a factos praticados na área destes sejam transferidos para os tribunais posteriormente
criados. O que não é permitido é criar tribunais de excepção para o julgamento de delitos
determinados nem o desaforamento discricionário, por forma arbitrária, desrespeitando a
independência e a imparcialidade.

Este princípio tem um triplo significado:

a) Só a lei pode instituir o tribunal e fixar-lhe a competência;

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

46
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b) A fixação do tribunal e da sua competência tem de ser feitas por uma lei vigente ao
tempo em que foi praticado o facto criminoso que será objecto do processo;

c) A fixação legal da competência visa excluir qualquer possibilidade de arbítrio ou


discricionalidade na determinação do juiz competente.

Muito embora tenha assento constitucional, o princípio do juiz natural esta claramente aflorado
no artigo 37 da LOTJ.

4.4.2. Espécies de competência36

Em relação a cada feito criminal, a cada caso penal em concreto, importa, pois que a lei
determine qual, de entre os tribunais existentes, deve apreciar e julgar a causa. É nisto que se
traduz a determinação da competência em processo penal.

Esta determinação da competência implica a resposta a três perguntas diferentes:

1. Qual o tribunal que segundo a sua espécie (porque existem diferentes espécies de tribunais
penais – os tribunais de policia, os tribunais criminais, os tribunais militares, marítimos, etc.)
deve conhecer de uma infracção penal de certa natureza (uma contravenção ao C. Estrada,
deserção, uma violação das leis sobre pescas nas aguas jurisdicionais, etc.). Trata-se, aqui do
problema da determinação da competência material.

2. Qual o tribunal que, entre os da mesma espécie, deve segundo a sua localização no território
ser chamado para conhecer do mérito da causa. E o problema da determinação da
competência territorial;

3. Qual o tribunal competente para a prossecução de certos fases, ainda ao nível da primeira
instancia, ou para o desenvolvimento do processo na fase de recurso. Trata-se da
determinação da competência funcional.

36
Competencia é a parcela de jurisdicao que cabe a cada tribunal, competência essa que é determinada pela CRM,
disposicoes do Codigo e pela Lei Organica dos Tribunais Judiciais.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

47
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Deste modo o problema da determinação da competência resolve-se definindo a natureza


territorial do tribunal e a sua categoria, dando lugar as três espécies de competências (material,
territorial e funcional).

4.4.3.1. Competência material

Na distribuição da competência para apreciação dos feitos criminais pelas várias espécies de
tribunais existentes, pode o legislador servir-se de um de dois métodos ou vias de procedimento;

a) O método de determinação abstracta da competência – que resulta directamente da lei,


atribuindo esta a cada tribunal poderes para o conhecimento e decisão de certo tipo de crimes
ou para a aplicação de certo tipo de penas37;

b) O método de determinação concreta da competência – que deriva de uma previsão do


crime, tal como e de esperar que venha a ser definido concretamente na sentença ou da pena
que vira a ser aplicada em concreto.

As legislações que se baseia no método de determinação concreta da competência - como e o


caso do que vigora entre nos – utilizam, geralmente, três tipos de critérios distintos:

i) Um critério quantitativo – que atende a gravidade dos infracções, determinada pelo


máximo da pena aplicável;

ii) Um critério qualitativo – que leva em conta a espécie ou categorais de crimes em causa38.

iii) Um critério fundado na qualidade da pessoa do arguido – em que a especifica função


pública por este exercida (ou o grau de perigosidade demonstrada pelo delinquente)
funciona como um elemento de conexão determinante da competência 39.

Embora o critério mais na nossa legislação seja o quantitativo – os outros também aparecem
referenciados.

37
Lei do Contencioso Administrativo; n. 2 do artigo 228 da CRM
38
Art. 65 CPP; 34 als. a) b) e 38 als. a) e 61 da LOTJ
39
Reincidencia – art. 100 do CP; al. a) do art. 46 da Lei n. 24/2007, de 20 de Agosto

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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E de realçar a lei que permite a criação de tribunais de competência especializada como e o caso
do Tribunal de Menores de Maputo, a quem cabe a aplicação de medidas de prevenção criminal
(relativas a menores inimputáveis) – Decreto n. 40/93, de 31 de Dezembro.

Relacionado com a problemática da competência material pode pôr-se a questão da prorrogação


da competência de acordo com as regras enunciadas nos $$ 1 e 2 do art. 447 e no art. 61 ambos
do CPP.

A prorrogação da competência resulta do facto de o tribunal, ao qualificar diversamente a


matéria que constitui objecto do processo, condenar em penas que caberiam na competência de
um tribunal inferior, a qual e, deste modo, absorvida (tendo em conta o principio quem pode o
mais pode o menos.

A situação inversa não pode verificar-se, pois que se estaria perante a excepção da
incompetência prevista no art. 138, n. 1 do CPP, pelo que o caminho a seguir será o de proceder
nos termos do $ 2 do art. 447, com a consequente aplicabilidade do art. 145 (remessa do processo
ao tribunal competente) ambos do CPP.

Nestes termos, a competência por excesso esta coberta pela prorrogação, mas se ela for por
defeito da lugar a excepção atrás referida.

4.4.3.2. Competência territorial

A competência territorial obtêm-se estabelecendo a conexão entre o tribunal e o facto


criminoso objecto do processo de acordo com um critério de localização geográfica e tendo em
vista a afirmação do princípio da imediação.

A regra geral no processo comum para a determinação territorial é o do locus delicti segundo o
qual é competente para o conhecimento da infracção o tribunal do local da sua pratica ou da sua
ocorrência.

Mas como apurar o local da ocorrência de uma infracção para efeitos de determinação da
competência?

São três os critérios adoptados para obter a resposta a esta questão:

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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i) O critério da actividade – de acordo com o qual o local da ocorrência do delito é o


espaço geográfico em que se processou a actividade típica, independentemente do local
de produção de eventos;

ii) O critério do resultado – de acordo com o qual o locus delicti é o da ocorrência do


evento, ou seja, do resultado típico, sendo competente o tribunal com jurisdição nessa
área – art. 45 CPP;

iii) O critério da antecipação da consumação - a qual leva a definição do locus delicti como
sendo o espaço em que tenha começado a produção do evento, mesmo que a produção do
resultado típico só finde noutra área.

O art. 45 do CPP, reporta-se aos crimes materiais, consagra o critério do resultado.

Mas, como nem todos os crimes atingem o estádio da consumação, é evidente que o princípio
geral da determinação da competência territorial – baseado no critério do resultado – não se
aplica sem excepção.

Assim, o $ 1 do art. 45 do CPP estabelece que “se a infracção não chegou a consumir-se é
competente o tribunal em cuja área praticou o ultimo acto de execução ou facto punível”. Este
preceito aplica-se as hipóteses de tentativa e frustração, bem como aos actos preparatórios, cuja
punição esteja prevista como crime autónomo 40e, por identidade de razão aos crimes formais.

Nos termos do $ 2 do mesmo preceito, sendo a consumação efectuada através de factos


sucessivos ou reiterados, como acontece nos crimes habituais (Ex. Lenocínio art. 405 do CP) ou
de um acto ou omissão susceptível de se prolongar no tempo e no espaço, como sucede com os
crimes permanentes (ex; cárcere privado – art. 330 do CP), o locus delicti é a cessação da
consumação (que se verifica com o termo do evento nos crimes materiais) ou da prática do
último facto (que se verifica com o termo da execução nos crimes formais)

Relativamente aos crimes só parcialmente cometidos em território moçambicano, o critério do


locus delicti sofre uma restrição resultante da regra de absorção, que então se aplica, e que leva a
atribuição da competência aos tribunais moçambicanos, mesmo que o iter criminis (ou seja, o
40
Ex. art. 444 do CP – fabrico de gazuas e artifícios para abrir fechaduras – arts. 5 e 6 da Lei nº 19/91, de 16 de
Agosto - Lei dos Crimes contra a Segurança do Estado.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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processo executivo do delito) só findar no estrangeiro. Competente será, neste caso, o tribunal
moçambicano em cuja área se praticou o último facto de consumação, execução ou
comparticipação que seja punível pela lei moçambicana, conforme estabelece o art. 46 do CPP
com as especificações referidas nos $$ 1 e 2.

Outras restrições ao princípio geral do locus delicti verificam-se relativamente:

Aos crimes cometidos no estrangeiro a que seja aplicável o lei moçambicana 41;

Aos crimes cometidos nos limites territoriais de diversos tribunais da mesma espécie (por
exemplo nos limites de dois ou mais tribunais judiciais de distrito) quando houver duvidas
acerca do lugar em que o foi – v $ 3 do art. 45 (principio de prevenção da jurisdição)

Aos crimes praticados em local desconhecido – art. 47 do CPP (Principio do fórum


deprehensionis)

Aos crimes cometidos a bordo de navio ou aeronave – art. 48 do CPP

4.4.3.3. Problemas comuns a determinação da competência material e territorial – a


competência por conexão

Alem das restrições que acabamos de ver, as regras de atribuição da competência material e
territorial, sofre outras alterações por força da existência de conexões (ou ligações) especiais
entre diversas infracções criminais. Dá-se então a chamada competência por conexão.

A competência por conexão traduz-se, pois, no poder conferido a um certo tribunal para
proceder criminalmente em relacao a ilícitos criminais, e que, segundo as regras gerais o não
tinham‖42.

A conexão pode ser subjectiva ou pessoal, quando se fixa com base na pessoa do agente, que é
responsável por uma pluralidade de crimes e objectiva ou material, quando se observa uma
pluralidade de agentes e de crimes, estando estes particularmente inter-relacionados.

41
Arts. 49 e 40 do CPP
42
Nocoes de Processo Penal, pag. 80

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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A conexão subjectiva refere-se o art. 56 do CPP. Como se pode ver por este dispositivo legal, a
conexão ocorre quando as infracções são praticadas pelo mesmo agente, ou seja, no caso de
concurso real de infracções (em que as penas não se acumulam materialmente mas juridicamente
– art. 102, nºs 1 e 2 do CP

A regra é, pois, no sentido de julgamento conjunto das infracções, sendo excepcional o


conhecimento separado (&& 2 e 3 do art. 55). Tem-se aqui em vista permitir a apreciação
unitária da personalidade do réu, garantir a economia processual, evitar decisões contraditórias e
possibilitar o cúmulo jurídico das penas.

No caso de se ter de efectuar o julgamento separado, resta saber qual e o tribunal competente
para proceder ao cumulo jurídico das penas – será, naturalmente, o que proferir a última
sentença condenatória – parte final do & 2 do artigo 55.

A conexão objectiva verifica-se quando uma determinada infracção foi levada a cabo por
diversos agentes (dá-se, assim, uma comparticipação criminosa a que se refere o art. 56) ou
quando diversas infracções forem levadas a cabo na mesma ocasião, reciprocamente ou por
varias pessoas reunidas (art. 57), ou ainda quando, tratando-se de diversas infracções cometidas
em ocasiões diferentes, umas forem causa ou efeito das outras (art., 58). Nos dois primeiros
casos (dos arts. 56 e 57) a conexão e obrigatória, pois funciona ope legis e, no terceiro caso (art.
58) é facultativo, sendo declarado ope judicis.

Remoção da competência territorial ou desaforamento.

Alem dos exemplos acabados de referir de conexão entre várias infracções ou agentes da mesma
infracção, a regra geral de determinação da competência territorial pode sofre ainda um outro
desvio. Trata-se dos casos de remoção da competência, também chamada de desaforamento por
motivos muito especiais, que tem de estar previstos na lei, a infracção criminal é julgada por um
tribunal diferente do normalmente competente.

A essas situações de desaforamento e ao seu carácter excepcional se referem os arts. 671, 683 e
698 do CPP.

4.4.3. Competência funcional

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Já acima se disse que a questão essencial da determinação da competência funcional é a de saber


qual o tribunal competente para a prossecução de certas fases processuais – estando o processo a
decorrer em primeira instancia – ou para o seu conhecimento na fase de recurso.

Este tipo de competência pode, pois, sintetizar-se em duas categorias distintas (há quem se refira
a uma terceira categoria, mas veremos em seguida que não tem aplicação no nosso caso).

a) Competência funcional por graus – deriva da circunstancia de as decisões penais não


adquirirem carácter definitivo logo que são proferidas, mas permitir a lei o seu reexame
sucessivo por parte de outros órgãos judiciais. De acordo com a nossa organização judiciária,
e no que diz respeito a jurisdição comum, temos a considerar, como tribunais de primeira
instancia, os tribunais judiciais de distrito, de província, tribunal superior de recurso (e, só
excepcionalmente, o Tribunal Supremo). Como tribunais de segunda instancia temos o
Tribunal Supremo (Secções), relativamente aos recursos interpostos das decisões dos
tribunais judiciais de província, e estes, em relação, aos recursos interpostos das decisões dos
tribunais judiciais de distrito. A última instancia pertence ao plenário do Tribunal Supremo,
que julga, unicamente sobre matéria de direito, os recursos interpostos das decisões
proferidas nas diversas jurisdições previstas na lei (incluindo, portanto, a jurisdição penal)

b) Competência funcional por fases – tendo em conta a complexidade do decurso do processo


penal, necessário para que este atinja plenamente o seu fim, ele desenvolve-se numa
pluralidade de fases: três dessas fases aos determinantes para a fixação da competência
funcional: a fase de instrução – em que intervêm os juízes da instrução criminal instituídos
pela Lei n. 2/93, de 24 de Junho; a fase de julgamento – em que as decisões pertencem
exclusivamente aos tribunais (de jurisdição comum ou especializada) e a fase de execução –
que no nosso pais, já pertenceu ao chamado Tribunal de Execução de Penas – entretanto
extinto pela Lei n. 5/81, de 8 de Dezembro, e hoje decorre nos tribunais criminais.

c) A terceira categoria admitida por alguns autores, é a da competência funcional por órgãos –
pela qual se faz a distinção entre juiz monocrático ou singular e o juiz colegial. Ora, como
sabemos segundo a Lei da Organização dos Tribunais Judiciais, todos os tribunais da
Republica de Moçambique tem uma composição colegial, não existindo a figura de juiz
singular, pelo menos para efeito de julgamento e decisão.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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4.4.1 A declaração de incompetência – dedução e conhecimento

A incompetência do tribunal é uma das excepções referidas no art. 138 do CPP. As outras são a
litispendência, o caso julgado e a prescrição.

Como regras as excepções devem ser conhecidas e declaradas oficiosamente pelo juiz ou
deduzidas pelo Ministério Publico, e podem também ser deduzidas pela parte acusadora ou pelo
arguido, depois de admitidos a intervir no processo – ver. Art. 139.

Também como regras as excepções, incluindo a incompetência do tribunal, podem ser deduzidas
ou conhecidas em qualquer altura do processe até decisão final (ou seja, até ao transito em
julgado da sentença em primeira instancia ou de acórdão que julgar o recurso, se este tiver sido
interposto). Ressalva-se o caso referido no & 1 do art. 140 do CPP (respeitante a excepção
fundada na incompetência territorial).

A declaração de incompetência, consequente ao julgamento como precedente da excepção


determinara a remessa do processo para o tribunal competente, que anulara apenas as actos que
não deviam ter praticado ou os que tiverem de ser repetidos, podendo mandar repetir quaisquer
actos praticados pelo juiz incompetente que possam influir na decisão (ver. Art. 145 e & 1).

4.5. O Ministério Publico

A noção do MP encontra solução através das suas atribuições e competências previstas na lei,
assim como na sua posição institucional face aos outros poderes do Estado.

Autores definem o MP como sendo ―os olhos do governo, um ente encarregado de em nome do
poder executivo, perseguir os crimes e fiscalizar a função do poder judiciário, assegurando a
independência e a liberdade de acção indispensáveis ao correcto funcionamento da justiça”.

Outros definem, como sendo o órgão que vela pela observância da lei, uma espécie de
representante do corpo social com atribuições que abrangem todas aquelas áreas em que se
coloca, com alguma premência um problema de promoção e defesa da legalidade.

Outros vêm o MP como um órgão judicial integrado nos tribunais ou, pelo menos, exercendo
funções junto deles, com poderes de iniciativa, representação e controlo relativamente a todos os
direitos e interesses em que o Estado é chamado a exercer uma função de soberania ou tutela.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Resumindo: O MP pode se definir como sendo um órgão do Estado que participa na


administração da justiça, tendo a sua função principal ligada a promoção da acção penal,
investigação de crimes, defesa jurídica dos grupos sociais vulneráveis (menores, incapazes e
ausentes), representação do Estado e fiscalização do comprimento das leis, para além de outras
funções decorrentes da lei.

4.5.1. Posição Jurídica do Ministério Publico no processo penal

4.5.2. O Ministério Publico como órgão autónomo de administração da justiça

A figura do Ministério Publico, como titular das funções de investigação da suspeita de um crime
e de dedução da respectiva acusação, surge a partir da consagração do processo penal reformado,
misto ou napoleónico que, segundo as ideias iluministas e revolucionárias do sec XVIII em
Franca, devia substituir o anterior processo inquisitório.

É através desta magistratura que se consegue obter:

a separação entre a entidade que preside a instrução preparatória e se encarrega da acusação e


a que julga e profere a decisão;

a vinculação temática do tribunal ao objecto do processo, pela exacta delimitação dos seus
poderes cognitivos, o que constitui uma importante garantia de defesa do arguido e dos seus
direitos fundamentais.

A separação institucional e funcional entre o Ministério Publico e o juiz não impede, todavia,
uma estreita correlação dos dois sujeitos dentro do processo penal. Trata-se de duas entidades
públicas, órgãos do mesmo Estado, as quais a lei confere a categoria de magistraturas paralelas.
As actividades por ambas desenvolvidas convergem na prossecução de um mesmo fim: a
administração da justiça penal.

É este relacionamento estreito entre o Ministério Publico e o juiz que torna difícil e muito
discutida a definição da posição jurídica do primeiro dentro do processo.

A questão, mais do que respeitar propriamente ao Direito Processual Penal, prende-se com o
Direito Constitucional e com a Organização Judiciaria.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

55
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As principais posições que se têm manifestado na doutrina sobre o assunto podem reunir-se em
três grupos:

a) os que consideram o Ministério Publico como pura entidade administrativa, verdadeiro órgão
da Administração comum (numa palavra, como parte do Poder Executivo), considerando os
princípios da amovibilidade, responsabilidade e dependência hierárquica, que presidem a sua
orgânica estrutural43.

As criticas dirigidas a esta posição se alicerçam no facto de a actividade administrativa se


orientar predominantemente por critérios de oportunidade e de discricionalidade – embora
sempre na base dos limites impostos pelo Direito – e não pela estrito principio da legalidade,
a que esta vinculada toda a actuação do Ministério Publico. Alem disso, a actividade deste
órgão se desenvolve desde o inicio da instrução preparatória até ao fim do julgamento, em
estreita colaboração com o juiz (o mesmo e dizer, com a função judicial), tendo em vista a
descoberta da verdade e a realização da justiça penal.

b) Os que defendem a ideia de que o Ministério Publico participa na função e no poder judicial
e que, por conseguinte, lhe atribuem a qualidade de órgão integrante do Poder Judicial.

c) Esta tese é rejeitada por muitos autores, com a argumentação de que a função judicial se
concretiza materialmente, pela declaração do direito ao caso (ou seja, pela aplicação das
normas jurídicas a um caso penal concreto, através de uma decisão susceptível de transitar
em julgado. E esta possibilidade esta vedada ao Ministério Publico: ele participa dessa
função, como dela participam os outros sujeitos processuais, mas não lhe pertence declarar o
direito ao caso, nem as suas decisões assumem a característica ou virtualidade do caso
julgado.

d) Finalmente, a tese hoje dominante na doutrina alemã (que exerce enorme influência nos
países de sistemas romano-germanico) e perfilhada entre outros autores, por FIGUEIREDO
DIAS que qualifica o Ministério Publico como órgão autónomo de administração da justiça.

43
Artigos 52 e 54

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

56
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Segundo esta corrente doutrinaria, há que distinguir a função da administração da justiça da


função judicial em sentido estrito, por um lado, e da função administrativa comum por outro
lado. A primeira funciona como uma ponte entre o Poder Judicial e o Poder Executivo.

A função de administração da justiça ou administração judiciária abrange toda a actividade


estadual ou não, caracterizada pela sua estreita relacionação com o Direito (no sentido e com
o fim da sua realização no caso concreto) e subordinada aos valores da verdade e da justiça.
Desta função participam órgãos e entidades como os tribunais, os notários, os defensores em
processo penal, etc. Só uma parte do exercício desta actividade se pode considerar
jurisprudência (e, portanto, função judicial), enquanto a outra parte constitui simplesmente
administração da justiça.

O Ministério Publico é, portanto, um órgão autónomo desta administração – autónomo no


sentido de independente dos tribunais e dotado de estrutura e organização próprios.

4.5.3. Princípios fundamentais da sua actividade e estrutura

Como órgão da administração da justiça, o Ministério Público esta incondicionalmente vinculado


aos valores da descoberta da verdade e da realização da justiça no caso concreto.

Daqui decorre a exigência de que, em todas as intervenções no processo penal obedeça ao


critério de estrita objectividade jurídica.

Com efeito, ao Ministério Publico compete trazer ao processo e ajudar a esclarecer não só os
factos que possam demonstrar a culpa do arguido, mas também todos os indícios da sua
inocência ou da sua menor culpa 44.

Para que o Ministério Publico possa cumprir o seu dever de objectividade, é necessário que
esteja assegurada a sua imparcialidade. Dai que os artigos 105 e 113 do CPP tenham tornado
extensivo aos agentes do Ministério Publico o sistema de impedimentos e suspeições que
anteriormente vimos ser aplicável aos juízes.

Outra característica da actividade do Ministério Publico para além da objectividade e da


imparcialidade é a sua submissão a lei. Este dever de obediência a lei, de conteúdo análogo ao
44
& 1 do artigo 12 do Decreto-Lei n. 35007

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

57
Lições de Direito Processual Penal 2013
Criado por UserL

que também verificamos impor-se ao revela-se através do principio da legalidade da promoção


do processo penal.

Todas estas características se encontram proclamadas no artigo 234 da Constituição da


Republica.

Quanto a estrutura do Ministério Publico, e como reflexo dos critérios de actuação acabado de
referir, há que assinalar a sua autonomia em relação aos demais órgãos do Estado45,incluindo os
tribunais.

Alias, relativamente a estes, o n. 1 do art. 1 da mesma Lei dispõe que: ―A magistratura do


Ministério Publico é paralela a magistratura judicial e dela independente.

Por tudo isto – pela sua autonomia e organização hierárquica, pela objectividade, isenção e
obediência a lei – é que os magistrados do Ministério Publico estão apenas sujeitos as directivas
e ordens emanadas do respectivo superior hierárquico, terminando no Procurador-geral da
Republica.

De acordo ainda com a Lei Orgânica da Procuradoria-geral da Republica e do seu estatuto –Lei
n. 22/2007, de 1 de Agosto com a redacção dada pela Lei n. 8/2009, de 11 de Marco e Lei n.
14/2012,de 8 de Fevereiro, esta magistratura tem a seguinte representação:

Procurador-Geral representa o MP junto dos plenários do Tribunal Supremo; do Tribunal


Administrativo e no Conselho Constitucional46;

Procuradores Gerais Adjuntos representam o MP nas Secções do Tribunal Supremo e do


Tribunal Administrativo47

Sub-Procuradores-Gerais Adjuntos representam o MP nos Tribunais Superiores de


Recurso48;

45
N. 2 do arts. 2 e 3 da Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto
46
Al. a) do n. 1 do artigo 5 da Lei 22/2007, de 1 de Agosto
47
Al. b) do n. 1 do artigo 5 da Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto na redacção dada pela Lei n. 8/2009, de 11 de
Marco;
48
Al. c) do n. 1 do artigo 5 da Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto na redacção dada pela Lei n. 8/2009, de 11 de Marco

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

58
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Procuradores da Republica representam o MP nos tribunais de escalão inferior 49

Exactamente por se tratar de uma magistratura hierarquicamente organizada — os magistrados


do Ministério Publico são responsáveis no exercício das suas funções, responsabilidade que se
traduz no dever de acatamento das directivas e instruções emanadas dos seus superiores
hierárquicos (desde que não sejam contrarias a lei e ao Direito).

4.5.4. Relações entre o Ministério Publico e os tribunais penais

As relações entre as duas magistraturas caracterizam-se por uma igualdade e independências50,


das quais cabe extrair três consequências:

a) Os tribunais (os juízes) não podem dar quaisquer ordens ao Ministério Publico – excepção
art. 346 do CPP;

b) O Ministério Publico não pode dar quaisquer ordens ou instruções aos tribunais, com ressalva
do dever legal que recai ao tribunal de cumprir com a lei, ou seja, o MP ―obriga‖ o tribunal a
cumprir a lei (a agir, chama o tribunal a tomar uma posição no processo);

c) Ninguém pode, simultaneamente, actuar como MP e como juiz no mesmo processo – art.
105, &. 3 do CPP.

4.5.5. Funções do Ministério Publico no processo penal

4.5.5.1. A direcção da Instrução Preparatória

Como órgão encarregado de promover a perseguição dos crimes e outras infracções a lei penal
compete ao MP em primeiro lugar, proceder a sua completa investigação e ao seu possível
esclarecimento.

49
Al. d) do n. 1 do artigo 5 da Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto na redacção dada pela Lei n. 8/2009, de 11 de
Marco;

50
Art. 50 da LOMP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

59
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Para lhe permitir a plena realização desta finalidade, a lei atribui-lhe a direcção da instrução
preparatória51. Esta regra geral sofre, no entanto algumas restrições, constantes dos preceitos
seguintes do mesmo diplomam legal.

Assim nos crimes a que corresponderem as penas referidas nos artigos 63 e 64 do CPP a
instrução preparatória será, sempre que possível, presidida pelo MP, que, porem, a poderá
delegar, sem prejuízo da sua direcção, nos juízes municipais de julgados correspondentes a
circunscrições que não forem sede de provincia 52.

Nos crimes a que corresponderem as penas referidas no art. 65 do CPP, a instrução preparatória
poderá ser delegada nos juízes municipais ou de paz das circunscrições ou concelhos que não
forem sede de comarca e ainda nas autoridades policiais de comarca, sem prejuízo da sua
direcção pelo MP, que poderá requisitar a autoridade instrutora, ou efectuar directamente as
diligências complementares que reputar necessárias‖ 53.

Nos casos em que outras autoridades alem do MP, podem exercer a acção penal, a elas compete
a instrução preparatória dos respectivos processos, podendo, contudo, o Procurador da Republica
ordenar que a instrução seja cometida a Policia Judiciaria 54.

Finalmente, compete aos órgãos privativos da polícia judiciária efectuar a instrução preparatória
em todas as causas que lhe sejam afectadas, nos termos da respectiva legislação55.

As autoridades que, alem dos MP podem exercer a acção penal são: as autoridades judiciais, nos
tribunais onde haja representante titular do Ministério Publico; as autoridades administrativas,
quanto as transgressões de posturas, regulamentos e editais; as autoridades policiais, quanto as
infracções que devam ser julgadas em processo sumario e todas as contravenções; os organismos
do Estado com competência para a fiscalização de certas actividades ou de execução de

51
Art. 14 do DL 35007
52
Art. 15 do DL 35007

53
Art. 16 do DL
54
Art. 17 do DL
55
Art. 18 do DL

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

60
Lições de Direito Processual Penal 2013
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regulamentos especiais, quanto a contravenções verificadas no exercício dessas actividades ou


contra esses regulamentos56.

Órgãos privativos da polícia judiciária – expressão utilizada no artigo 18 – são os vários


ramos policiais em que se organiza a estrutura da Policia da Republica de Moçambique. Com
efeito os diversos ramos da polícia são órgãos da administração (do poder Executivo – dai a sua
subordinação ao Ministério do Interior) que tem por fim ultimo zelar pela ordem e tranquilidade
públicas. A sua actividade inscreve-se na prevenção e luta contra a criminalidade nas áreas
específicas para que estão vocacionadas – protecção geral, criminalidade nos transportes e
comunicações, criminalidade no trânsito automóvel, etc. ora no exercício de tal actividade, por
razoes práticas e de eficiência, esses órgãos podem receber competência para a prática de actos
(designadamente actos instrutórios) que se repercutem no processo penal. Por isso eles agem
como auxiliares da administração da justiça e os actos praticados podem considerar-se como
actos de polícia judiciária.

Quanto a Policia de Investigação Criminal (PIC) constitui sem dúvida o órgão da polícia
judiciária por excelência. A sua existência é uma necessidade da vida moderna, pois nenhum país
pode hoje dispensar uma polícia altamente especializada e dotada de poderes, meios e
instrumentos para exercer uma completa investigação criminal. A PIC funciona como o mais
precioso auxiliar do MP no exercício da sua função de perseguição do crime.

Um aspecto que não pode deixar de ser mencionado é o de que as restrições apontadas a
realização da instrução preparatória pelo MP não põem minimamente em causa a função de
direcção que lhe esta acometida.

Efectivamente, nos arts. 15 e 16 do DL 35007, o legislador apenas se referiu a possibilidade de a


instrução preparatória ser delegada noutras autoridades sem prejuízo da sua direcção pelo MP.
Nos arts. 17 e 18 atribui as autoridades que exercem a acção penal e aos órgãos privativos da
policia judiciaria competência para efectuar a instrução preparatória sem que haja retirado ao MP
os poderes de direcção e de controlo que este possui das actividades instrutórias e processuais
por aquelas entidades levadas a cabo, poderes que, alias, aparecem reforçadas na Lei 24/2007.

56
Art. 2 do mesmo Decreto-Lei

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

61
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4.5.5.2. Dedução da acusação e sua representação em julgamento

Se da instrução resultarem indícios suficientes da existência do facto punível, de quem foram os


seus agentes e da sua responsabilidade, o Ministério Publico, se para isso tiver legitimidade,
deduzira a acusação. O assistente, havendo-o, será notificado para deduzir a sua acusação, sendo-
lhe para esse fim facultado o exame do processo57.

A legitimidade do Ministério Publico terá de advir da natureza pública do crime, ou da


participação do ofendido se se tratar de crime semi-publico ou da participação e acusação
particular se se tratar de crime particular.

Através da dedução da acusação, o Ministério Publico chama a responder perante um tribunal,


em nome da sociedade uma pessoa determinada sobre a qual recai a fundada suspeita de ter
cometido um crime. Com isto, o Ministério Publico exprime a necessidade, sentida pela
comunidade jurídica de punir, com a sanção prevista na lei, o responsável por um dano aquela
causado.

O Ministério Público não detém todavia, o exclusivo da dedução da acusação. Desde logo, nos
crimes particulares a acusação principal – e que pode ser a única – esta a cargo dos próprios
particulares58. Mas também, como vimos outras entidades públicas gozam — nos termos do art.
2 do mesmo diploma – de competência para, relativamente a certas infracções, exercer função
penal.

A função do Ministério Publico no que toca a acusação não se esgota, porem, na sua dedução
mas abrange a sua representação em julgamento.

A representação da acusação em julgamento – convém voltar a sublinhar – não significa que o


Ministério Publico deva actuar cegamente, na tentativa de obter a todo o custo a condenação do
arguido e ver, assim procedente a acusação deduzida. Pelo contrário, o Ministério Publico deve
pautar a sua acção tendo em vista a descoberta da verdade e a realização da justiça, baseando-se
sempre nos critérios de objectividade e de legalidade.

57
Artigo 349 do CPP:
58
Art. 3 & único do DL 35007

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

62
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Esta forma de agir assume particular relevo e importância na fase das alegações orais (art. 533,
539 e 559, in fine do CPPP), durante a qual devera tomar posição quer sobre a questão de facto,
quer sobre a questão de direito.

4.5.5.3. Abstenção da acusação

Se se verificar não ter havido crime, ou estar extinta a acção penal, ou se houver elementos de
facto que comprovem a irresponsabilidade do arguido, o Ministério Publico abster-se-á de
acusar, declarando nos autos as razoes de facto ou de direito justificativas 59.

Se não houver prova bastante dos elementos da infracção, ou de quem foram os seus agentes, o
Ministério Publico acusara provisoriamente e requerera a instrução contraditória, se for de
presumir que possa completar-se a prova indiciária, ou abster-se-á de acusar, comunicando o
facto ao procurador da Republica nos termos do artigo 2760‖.

Estão aqui previstas as duas hipóteses de abstenção da acusação, a qual se refere também os
artigos 343 e 345 ambos do CPP.

Dado que a acção penal é pública61 e que o Ministério Publico constitui uma magistratura
paralela a judicial e dela independente, o controle da decisão de abstenção do Ministério Publico
só pode fazer-se, segundo a legislação em vigor, por via hierárquica.

E esta fiscalização hierárquica da abstenção da acusação pode ser desencadeada por um dos
seguintes meios:

a) Por iniciativa do denunciante, que devera ser notificado do despacho de abstenção da


acusação e que, se for pessoa com faculdade de se constituir assistente, poderá reclamar para
o Procurador da Republica da falta de acusação. Se o denunciante já se tiver constituído
assistente, não lhe será permitida a reclamação hierárquica, mas poderá deduzir a acusação62;

59
Artigo 25 do DL 35007:

60
Artigo 26 do mesmo diploma legal
61
Art. 1 do Decreto-Lei 35007
62
Art. 27 e & único do Decreto-Lei n. 350007

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

63
Lições de Direito Processual Penal 2013
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b) Por intermédio do juiz a quem na falta de reclamação ou não havendo denunciante ou


assistente, os autos serão conclusos e se entender que estão verificados as condições
suficientes para a acusação, fará constar de despacho as suas razoes, subindo os autos
oficiosamente ao Procurador da Republica 63.

c) Por via directa do próprio procurador da Republica a quem o Ministério Publico enviara
trimestralmente a relação dos autos de instrução preparatória referentes a crimes públicos a
que corresponderem as penas indicadas nos artigos 63 e 64 do CPP (pena maior a pena de
prisão superior a um ano) que não conduziram a acusação 64. Neste caso, os autos serão
arquivados se, decorridos trinta dias sobre a comunicacao ao Procurador da Republica a
acusação não for deduzida65.

Vê-se assim, que em qualquer dos casos – seja qual for o meio utilizado – é ao Procurador da
Republica que compete decidir em último termo se deve ou não ser proferido a acusação.

Naturalmente que as disposições do Decreto-Lei n. 35007 devem ser interpretadas de modo


adequado, tendo em conta a estrutura do Ministério Publico consagrada na lei actualmente em
vigor. Assim, e atento ao disposto na Lei n. 22/2007, 1 de Agosto, é de admitir que do despacho
de abstenção da acusação proferida por um Procurador Distrital se deva recorrer para o
Procurador Provincial e do despacho deste para o Procurador-Geral. No mesmo sentido de
progressão hierárquica devem os magistrados do Ministério Publico aos vários níveis, dar
cumprimento ao disposto no art. 23 do Decreto–Lei 35007.

Tudo quanto se acaba de dizer refere-se a abstenção da acusação que tenha tido lugar após a
instrução preparatória. Se a abstenção da acusação tiver lugar após a instrução contraditória (o
que poderá acontecer no caso previsto na primeira parte do art. 26 do Decreto-Lei 35007) há que
ter em atenção ao disposto no art. 343 do CPP.

63
Art. 28 do Decreto-Lei 35007.
64
Art. 23 do mesmo Decreto-Lei.
65
& único do art. 29 do Decreto-Lei 35007.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

64
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Outro aspecto a salientar e que a abstenção da acusação do Ministério Publico pode dar ao
processo dois destinos diferentes:

a) Ou seu arquivamento66;

b) Ou o de ficar a aguardar a produção de melhor prova67.

Sobre o valor ou eficácia jurídico criminal destas decisões (arquivamento ou situação de


aguardar a produção de melhor prova), relativamente a primeira, levantam-se alguns problemas
que não encontram solução uniforme na doutrina e na jurisprudência.

Quando o processo fica a aguardar a produção de melhor prova, é entendimento mais ou menos
generalizado de que a decisão assim proferida adquire forca análoga a do caso julgado,
mantendo-se sob reserva da cláusula conhecida pela expressão latina rebus sic stantibus – quer
dizer, a forca do caso julgado fica condicionada a superveniência de factos ou elementos de
prova que devam considerar-se novos em relação aos já apreciados.

Relativamente ao arquivamento do processo nos termos do art. 343 do CPP é que se levantam
divergências no entendimento dos efeitos a atribuir a respectiva decisão.

CAVALEIRO DE FERREIRA E FERNANDES AFONSO entendem que os despachos de


arquivamento proferidos pelo Ministério Publico tem natureza administrativa e não judicial – não
estabelecem caso julgado nem são susceptíveis de recurso, só podendo ser alterados por via de
reclamação hierárquica.

EDURADO CORREIA E FIGUEIREDO DIAS, entendem que a transferência de poderes para o


Ministério Publico

4.5.5.4. Outras Funções

Ate aqui as funções mais importantes que o MP desempenha no processo penal: a direcção da
instrução preparatória, a dedução da acusação e sua representação em julgamento e a abstenção
de acusar.

66
De harmonia com o disposto no art. 343 do CPP
67
Art. 345 do CPP e 29 do Decreto-Lei n. 35007

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

65
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Todavia, há que fazer igualmente referência, ainda que meramente sumaria, a outras funções que
o Ministério público cabe realizar:

a) A intervenção na instrução contraditória nos termos do artigo 330 do CPP, a direcção desta
fase processual incumbe ao juiz. O Ministério Publico exercera ali a sua função geral de
fiscalização da legalidade e de colaboração na descoberta da verdade material e na realização
do Direito;

b) A interposição de recursos, o Ministério Publico tem legitimidade para interpor recursos,


tanto no interesse da acusação, como no interesse (ate exclusivo) da defesa – ver arts. 647 e
675 do CPP;

c) A promoção da execução das penas e medidas de segurança – veja-se o disposto no art. 627
do CPP

4.5.6. Orientação e dependência funcional dos órgãos da polícia judiciária

A PIC é uma unidade policial que possui uma forte intervenção em matéria processual penal, e
especificamente compete investigar e proceder a instrução preparatória de processos relativos
aos crimes de delito comum, cumprir as diligencias processuais requisitadas pelas autoridades
judiciais e do MP., exercer a vigilância e fiscalização de estabelecimentos e locais suspeitos ou
propensos a preparação e execução de crimes ou a utilização dos seus resultados68.

Nos termos do artigo 305 da Constituição da Republica, que ressalva toda a legislação colonial
que não seja contrária a nossa lei fundamental e que não tenha sido revogada ou alterada, a PIC.,
no desempenho das suas funções é regida pelo Decreto-Lei n. 35042, de 20 de Outubro de 1945,
diploma legal que regia a orgânica dos serviços da então Policia Judiciaria no período colonial.

Isto é assim porque o que aconteceu efectivamente após a independência nacional, foi a
aprovação de diplomas legais que mudaram a designação e orgânica das forcas policiais,
acometendo-se a PIC., as funções que eram desempenhadas pela então Policia Judiciaria do
período colonial.

68
N. 2 do artigo 4 do Estatuto Orgânico da Policia da Republica de Moçambique – Decreto n. 22/93, de 16 de
Setembro

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

66
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Da leitura conjugada da Lei n. 19/92, de 31 de Dezembro – Lei que cria a Policia da Republica
de Moçambique, o Diploma Ministerial n. 68/2001, Estatuto Orgânico do Ministério do Interior,
Decreto n. 35042, de 20 de Outubro — Organiza os Serviços da Policia Judiciaria conclui-se que
a PIC tem dupla subordinação, designadamente, administrativa e funcional.

Do ponto de vista administrativo a PIC encontra-se subordinada as hierarquias do Ministério do


Interior e funcionalmente esta subordinada ao MP.

Compete ao Procurador-Geral da Republica orientar superiormente e fiscalizar o exercício das


funções da PIC.

Nos crimes cuja intervenção cabe a PIC, em exclusivo, a sua instrução, competira a esta
cooperação policial o exercício das atribuições que a lei confere ao MP relativamente a instrução
preparatória em processo penal69.

A denúncia feita a PIC, nos casos em que a lei exige queixa, denuncia ou participação do
ofendido ou de outras pessoas para o prosseguimento da acção penal, vale como denuncia ao
MP.

Em matéria de prevenção criminal cabe, em geral a PIC, propor ao MP, para que requeira ao Juiz
da Instrução Criminal a aplicação de medidas de segurança, ou a sua modificação ou
substituição, aos indivíduos a eles sujeitos nos termos da lei, vigiar os individuais suspeitos ou
perigosos, assim como as actividades e locais favoráveis a preparação ou execução dos crimes, a
utilização dos seus resultados ou a ocultação dos criminosos.

Aos agentes da PIC cabe fazer a recolha de todos os elementos de prova que possam sustentar o
despacho do MP que pode ser de acusação ou de abstenção. A instrução preparatória é dirigida
pelo MP, dai que lhe cabe a orientação da PIC no processo da recolha de prova, podendo, quando
achar conveniente avocar o processo que esteja a ser instruído a qualquer momento 70.

As regras a seguir no processo de recolha de prova pelos agentes da PIC são as mesmas
exigências ao MP quando estes entenderem por bem realizarem por si próprios tais diligências.

69
Artigo 7 do Decreto-Lei n. 35042, de 20 de Outubro de 1945.

70
Artigo 16, parte final do Decreto-Lei n. 35007, de 13 de Outubro de 1945

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

67
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Os agentes da PIC quanto entendam ser necessário realizar uma diligencia que careca de
autorização do Juiz da Instrução Criminal devem propor ao MP para que promova ou requeira ao
JIC a autorização da diligencia, como corolário do principio da direcção da instrução
preparatória pelo MP 71.

Os agentes da PIC assim que concluída a instrução preparatória, terão que fazer o relatório final
e remeter o processo ao MP para proferir o seu despacho, que pode ser acusatório ou de
abstenção, ou de ordenar que os autos aguardem a produção de melhor prova72.

Se o MP entender que ainda existem diligências por realizar pode ordenar ao agente do PIC,
instrutor dos autos, para que complete as diligências em falta ou realizar pessoalmente73.

A PIC não deve arquivar os autos já instruídos ou qualquer auto de denuncia sem o despacho do
MP, titular da acção penal e quem dirige a instrução preparatória. Se o agente do PIC instrutor
dos autos entender que não há prova ou matéria que justifique a dedução da acusação pelo MP,
pode se referir quanto a isso no seu relatório final.

4.6. O ARGUIDO E O SEU DEFENSOR

4.6.1. O Arguido

4.6.1.1. Conceito e constituição de arguido

A definição de arguido consta do artigo 251 do CPP, segundo o qual ― Ē arguido aquele sobre
quem recaia forte suspeita de ter perpetrado uma infracção, cuja existência esteja
suficientemente comprovada”.

A Lei dá-nos assim uma definição concreta de arguido, exigindo como elementos integradores:

Que a existência da infracção esteja suficientemente comprovada;

71
Artigo 14 Decreto-Lei n. 35007, de 13 de Outubro de 1945.
72
Art. 20 do DL citado e artigo 14 do Decreto 27/99, de 24 de Maio que aprova o Estatuto Orgânico da Policia da
Republica de Moçambique.
73
Art. 20 do citado Decreto.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

68
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Que haja forte suspeita de que tenha sido perpetrada por determinada pessoa, ou seja
pelo arguido;

Esta forte suspeita deve radicar-se em elementos constantes do processo.

Qual é o significado da expressão indícios suficientes

Indicio – é uma palavra latina que significa sinal, marca, indicação. Aplicado a investigação
criminal, o conceito reporta-se a tarefa de descoberta e recolha de provas

Suficientes – qualificativo; relaciona a suficiência dos indícios com uma possibilidade razoável
de condenação em julgamento.

Como avaliar a “suficiência”?

Exige, assim, um juízo prognóstico sobre a possibilidade de condenação no final da fase de


julgamento;

Pressupõe um raciocino de conjugação entre todos indícios, de forma a fundamentar esse


juízo de prognose.

O que significa uma possibilidade razoável de condenação?

Existem três (3) correntes doutrinárias

1. Basta uma mera possibilidade, ainda que mínima, de futura condenacao em


julgamento;

2. E necessário uma maior probabilidade de condenação do que de absolvição

3. Necessária uma possibilidade particularmente forte de futura condenação.

Quanto ao conceito de arguido deve-se distinguir alguns termos igualmente utilizadas no CPP –
de simples suspeito ou de réu.

Suspeito é toda a pessoa relativamente a qual exista indicio de que cometeu ou se prepara para
cometer um crime ou que nele participou ou se prepara para participar — art. 252 – não sendo,
todavia ainda forte como no caso do arguido. Por isso o & único desta disposição legal permite

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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ao simples suspeito que lhe passe a ser dado, no processo, tratamento de verdadeiro arguido,
desde modo devera a que, através de uma recusa ou demora na formal constituição de arguido, se
restrinjam ou neguem ilegitimamente os direitos e as garantias que a lei atribui aquele que vem
dirigir-se contra si um processo penal.

Réu será considerado unicamente o indivíduo pronunciado, ou seja, aquele que foi já
solenemente chamado a responsabilidade perante a comunidade jurídica através de uma acusação
aceite ou recebida por um juiz.

Como se pode depreender não e fácil a definição de arguido, porquanto o Prof. Germano
Marques da Silva, defende que não deve definir-se o arguido como sendo aquele sobre quem
recai fundada suspeita de cometimento dum crime, mas sim, deve se definir como sendo a pessoa
formalmente constituída como sujeito processual e relativamente a quem corre um processo
como eventual responsável pelo crime que constitui objecto do processo.

Conclusão: Esta distinção conceptual entre arguido, suspeito e réu tem valor meramente
doutrinal. O CPP refere-se em muitos dos seus preceitos, a réu, querendo abranger também o
arguido em fase anterior a pronuncia 74, do mesmo modo que utiliza indistintamente outras
expressões, como acusado75; indiciado76 e mesmo – ainda que impropriamente – culpado77. Por
isso, no dizer de FIGUEIREDO DIAS – deve ser reputado como conceitualmente-formal
qualquer tentativa de partir da qualificativa para se lhe ligarem efeitos juridico-materiais.

O momento em que geralmente se verifica a constituição de arguido é aquando da prestação de


declarações nessa qualidade perante uma autoridade judiciária ou órgão da policia criminal.
Poderá, todavia, ser em outro momento que os seus direitos possam ser restringidos, se ainda o
não foi antes, designadamente:

Quando lhe deva ser aplicada qualquer medida de coação ou de garantia patrimonial;

74
Vejam-se por exemplo os arts. 22 e segts e o art. 98, n. 4
75
Arts. 397 e segts)
76
Arts 366, 369, 370, etc.)
77
Art. 243

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

70
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Quando for detido, quer em flagrante delito, quer para primeiro interrogatório ou para
aplicação ou execução de uma medida de coação ou para ser apresentado perante a
autoridade judiciária em acto processual – als a);b) e d) Lei n. 2/93, de 24 de Junho;

Quando for levantado auto de notícia que o dê como agente de um crime e aquele lhe for
comunicado;

Quando, sendo testemunha e estando a prestar depoimento ―for achada em perjúrio ou se a


pessoa obrigada fazer declarações e que não seja o arguido as fizer manifestamente falsas‖ ou
quando se recusar a responder as perguntas que lhe forem feitas, será autuada e processada
por desobediência qualificada78.

Da constituição de uma pessoa como arguido resultam efeitos processuais da maior relevância,
que não coincidem com os atribuídos a outros participante do processo, designadamente as
testemunhas e os declarantes. Na verdade é profundamente diversa o interrogatório 79,
relativamente ao suspeito80 e ao das testemunhas e declarantes 81, pois aquele traduz-se de um
formalismo muito mais rigoroso e de maiores garantias do que estes. Alem disso, no
interrogatório do arguido a lei exige a presença de advogado constituído ou de defensor oficioso
– quando se trate de arguido preso82 ou pelo menos o admite na fase de arguido não preso83.

4.6.2 Posição jurídica do arguido no processo penal

O estatuto jurídico que a lei providencia ao arguido no processo penal constitui um elemento
fundamental para se avaliar que tipo de relações se estabelece entre o Estado e a pessoa de forma
individual e a consequente posição desta na comunidade.

78
Artigos 241 e 242 do CPP
79
Arts. 250 e 253 e segts do CPP
80
Art. 252
81
Arts. 218 e segts
82
Arts. 253 e 264 do CPP
83
(ver. Art. 256 CPP)

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

71
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Num Estado de Direito democrático o arguido é sujeito e não objecto do processo, sendo-lhe
assegurado uma posição jurídica, que lhe permite uma participação determinante na declaração
do direito ao caso concreto, através da concessão de autónomos direitos processuais, legalmente
definidos. Esses direitos processuais deverão ser respeitados por todos os intervenientes no
processo penal.

Isto não significa que o arguido não possa, nos termos expressamente definidos por lei, ser
objecto de medidas coactivas e constituir, ele próprio um meio de prova. Significa apenas e
fundamentalmente que as medidas coactivas e probatórias que sobre ele se exerçam não poderão
nunca radicar-se na extorsão de declarações ou de qualquer forma de auto-incriminacao, pois
todos os actos processuais do arguido deverão ser expressão da sua livre personalidade.

4.6.3. Direitos e garantias do arguido

Os direitos processuais do arguido profanam em primeiro lugar da CRM: direito a todas as


garantidas de defesa e julgamento – art. 65, n. 1; o princípio da presunção da inocência – art. 59,
n. 2; direito de escolher livremente o seu defensor – art. 62, n. 2.

Direito de audiência – o arguido tem o direito de ser ouvido quanto aos factos que lhe são
imputados. Esse direito expressa-se no chamado interrogatório do arguido, o qual, sendo um
meio de prova, é igualmente um meio de defesa por excelência.

O interrogatório do arguido (a qual a lei também chama de perguntas – art. 250 e segts do CPP),
tem portanto, esta dupla característica, a qual já não esta presente nas chamadas declarações do
arguido (art. 244) que funciona como um simples meio de prova.

Em termos de interrogatório, a lei estipula como necessária a existência de vários, o que não
pode considerar-se como redundância processual, mas como a consagração deste direito de
audiência.

Existe desde logo, o chamado primeiro interrogatório, o qual é realizado, ―logo que com base na
denuncia ou no resultado de diligencias probatórias, a instrução preparatória seja dirigida contra

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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pessoa determinada84 ou quando tiver ocorrido a prisão de um réu, quer em flagrante delito, quer
for dele85.

O regime jurídico deste primeiro interrogatório não e o mesmo que se aplica aos interrogatórios
subsequentes, pois, enquanto aquele é feito exclusivamente pelo Juiz da Instrução Criminal (ou
pelo juiz da causa ou do lugar da prisão)86 – e os interrogatorios subsequentes estes são feitos
pelo Ministério Publico na instrução preparatória e pelo juiz da causa na instrução contraditória.
Há ainda a referir os interrogatórios feitos na audiência de discussão e julgamento que são feitos
pelo juiz presidente87.

A lei impõe que o inquiridor advirta o arguido, antes do interrogatório de que o certas matérias
ele não é efectivamente obrigado a responder. Assim, o arguido é obrigado a prestar declarações
quanto a sua identidade e antecedentes criminais 88, sob pena de desobediência ou de falsidade89
em caso de falsas declarações, podendo omitir qualquer declaração relativamente aos factos que
lhe são imputados90

O juiz ao interrogar o arguido deve esclarece-lo claramente quanto aos factos que lhe são
imputados, indicando, se não houver prejuízo para a continuação da instrução, as provas em que
se baseia a imputação e as suas fontes 91

Prestando declarações, o arguido poderá confessar ou negar os factos de que vem acusado.
Confessando, haverá que aplicar-se o disposto nos arts. 174 & único, 256, 258 do CPP. Neste
caso, gozara da atenuante da confissão espontânea 92. Se negar, o art. 259 do CPP permite ao juiz

84
Art. 250 e 253 CPP
85
Art. 290 e 311 CPP

86
Art. 1, n. 2, al. a) e 2, n. 2 da Lei 2/93, de 24 de Junho e arts. 253 e 311 do CPP
87
Art. 425 do CPP

88
Art. 254, n. 1 do CPP)
89
Arts. 118 e 242 do CP
90
Art. 254, n. 3 do CPP
91
Art. 254, n. 2 do CPP

92
Circ. 9 do art. 39 do CP

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confrontar o arguido com depoimentos anteriores e fazer-lhe ver a eventual inconsistência da


negativa quanto a matéria de facto.

Direito de presença ou comparência – direito a estar presente aos actos processuais que lhe
disserem respeito. Este direito desdobra-se em duas facetas distintas:

Presença física em determinados actos processuais;

Presença cognoscente, ou seja, como fonte de percepção de informações através da consulta


de documentos e de pecas processuais, etc.

A fundamentação deste direito de presença é fácil de entender: quer-se dar ao arguido a mais
ampla possibilidade de tomar posição, a todo o momento sobre o material que possa ser feito
valer processualmente contra si, ao mesmo tempo que garantir-lhe uma reacção de mediação
com o juiz e com as provas.

Casos de comparência pessoal obrigatória do arguido encontramos, como regra geral, impeditivo
de substituição do arguido no art. 22 do CPP; quanto as buscas, as quais o arguido estará
presente sempre que o juiz entenda necessário ou se estiver preso na sede do tribunal93; quanto
ao primeiro interrogatório 94 e como regra geral aplicável no julgamento95, sendo excepcao dessa
obrigatoriedade os réus em processo de transgressões96 - relativamente a infracções a que não
corresponda pena de prisão, as quais poderão fazer-se representar por advogado, podendo, no
entanto, o juiz tornar obrigatória essa comparência 9798.

Reconhecido como um direito e imposta por vezes como um dever, a presença do arguido só
muito excepcionalmente será vedada por lei. A maioria das situações legais em que esta
excepção ocorre é alvo das maiores críticas e pode considerar-se mesmo inconstitucional.

93
Art. 203 $ 2
94
- art. 253,
95
Art. 418
96
No concernente ao processo sumário – art. 5 do DL 28/75, de 1 de Maio
97
Art. 547 CPP)
98
&& 1 e 2 do art. 547

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A primeira excepção resulta, quanto a instrução preparatória do próprio carácter secreto desta
fase (v. art. 70 do CPP), do qual decorre que, em princípio, o processo só pode ser mostrado ao
arguido ou ao respectivo advogado quando não houver inconveniente para a descoberta da
verdade (v $ 1 do art. 70). Sucede, porem, que, mesmo na fase preparatória, logo que a instrução
seja dirigida contra uma pessoa determinada (que neste caso, devera ser interrogado como
arguido), o segredo de justiça cede perante o direito que assiste a defesa de tomar conhecimento
de certas pecas processuais, nomeadamente:das declarações prestadas pelo arguido; das
declarações e requerimentos dos assistentes e das diligencias de prova a que puder assistir ou dos
incidentes ou excepções em que puder intervir como parte.

Para efeito desta consulta, os autos ficarão patentes na secretaria pelo prazo de três dias, sem
prejuízo do andamento do processo (v & 1 do art. 70 CPP).

Quanto a instrução contraditória, permite-se ao juiz que determina a não assistência do arguido a
certas diligências99.

No que toca ao julgamento, sendo como vimos, a regra a da comparência obrigatória do réu 100,
mesmo assim, a lei faculta o julgamento sem a presença daquele no caso de julgamento de réus
ausentes.

Tal julgamento pauta-se por um conjunto de princípios especiais destinados a garantir, por lado,
o direito de defesa do réu, e por outro o interesse da justiça em proferir uma decisão que muitas
vezes é necessária para a definição da situação dos co-réus presentes.

Todavia, a audiência de julgamento pode ocorrer sem a presença do arguido em virtude de dois
tipos de situações distintas:

Ausência justificada – quando, em virtude da idade avançada, doença ou qualquer causa


justificativa, o réu não possa comparecer no acto do julgamento. Neste caso a lei estabelece dois
regimes distintos, conforme a ausência seja de carácter temporário ou definitiva – ver & 1 e
corpo do art. 566.

99
Art. 39 & único, do DL 35007 e art. 330, & 1 do CPP

100
Art. 418 CPP

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Ausência injustificada – quando ocorrer qualquer outra circunstância – ver arts. 563 e 565), o
julgamento decorrera sob forma especial, designada processo de ausentes, cuja tramitação consta
do art. 571.

Direito a assistência de defensor – direito de o ter, de o escolher e de ser assistido por ele. Este
direito pressupõe, na verdade, que o arguido seja esclarecido – por pessoa da sua confiança ou
que em todo o caso, tenha por função velar exclusivamente pelo interesse da defesa – quanto ao
objecto da culpa e da prova. Veremos com mais detalhes adiante o art. 22 do CPP.

Direito a interposição de recurso — trata-se de um direito de impugnar as decisões contra si


proferidas, cujo exercício consiste na solicitação feita a um tribunal superior no sentido deste
reapreciar a solução dada ao caso. Está consignado no art. 647, n. 2 do CPP relativamente a todas
as decisões proferidas contra o arguido e, portanto, com excepção das decisões que lhe sejam
favoráveis101.

Direito ao silencio – direito de não responder a perguntas feitas sobre os factos que lhe são
imputados e sobre o conteúdo das declarações que acerca delas prestar. Assiste ao arguido
apenas quanto ao chamado interrogatório de fundo (relativo a culpabilidade do agente e não ao
seu curriculum vitae) - art. 254 do CPP. Este direito constitui um verdadeiro corte ao dever de
colaboração com a justiça e a finalidade recíproca do processo na descoberta da verdade. No
fundo trata-se de um verdadeiro direito de não colaboração. Este silencio não é valorado no
indício da culpa, nem para determinação da medida concreta da pena, mas é de toda
conveniência que ele (arguido) se pronuncie pois pode trazer com a sua colaboração novos
elementos atenuantes da culpa.

Deveres/obrigações do arguido

Ao arguido assiste-lhe o dever de:

a) Prestar termo de identidade e residência ; ns. 1 e 2 do art. 269 do CPP; comparência em


juízo, quando a lei o exija ou quando sejam devidamente notificados por ordem de
magistrado competente - n. 3 do art. 269 do CPP; não perturbar a instrução do processo,

101
& 3 do art. 647 do CPP

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procurando ilicitamente impedir a averiguação da verdade – n. 4 do art. 269 do CPP; não


cometer novas infracções – n. 5 do art. 269 do CPP;

b) Outros deveres constantes do art. 270 do CPP (1, 2 a 8);

c) Responder com verdade a perguntas feitas sobre a sua identidade, se não responder incorre
em crime de desobediência, se responder falsamente incorre no crime de falsidade das
declarações – n. 1 parte final do art. 254 do CPP;

d) Sujeitar-se a diligencias de prova e a medidas de coação e garantia patrimonial especificadas


na lei.

4.6.4. Audiência do arguido

Fez-se atrás referência ao regime jurídico dos interrogatórios a que o arguido é submetido nas
diversas fases do processo. Também se disse que o conteúdo essencial da posição do arguido
como sujeito (e não objecto) do processo este em que todos os actos processuais que pratique
deverão ser expressão da sua livre personalidade.

Esta ideia assume, naturalmente, a maior importância em matéria de interrogatório e conduz


directamente a distinção entre meios legítimos e ilegítimos (admissíveis e inadmissíveis) de
interrogar e de obter declarações.

A lei processual vigente avança muito pouco na regulamentação desta matéria. Segundo o art.
255 do CPP, o arguido não pode ser ―obrigado a responder precipitadamente… “ ou , em todo
o caso, sem o tempo conveniente para obter recordações exactas – a qualquer pergunta. Por seu
turno, o artigo 261 do CPP dispõe que ‖as perguntas não serão sugestivas nem cavilosas, nem
acompanhadas de dolosas persuasões, falsas promessas ou ameaças”. E acrescenta o & único
que ―o juiz ou agente do Ministério Publico que violar o disposto neste artigo incorrera na
respectiva pena disciplinar”.

Sendo isto praticamente tudo quanto se encontra na nossa legislação processual penal sobre a
ilegitimidade dos meios de obter declarações do arguido, torna-se evidente que esta disciplina
terá de ser interpretada nos termos mais amplos e complementar-se com os preceitos da
Constituição (nomeadamente com referencia aos arts. 40, n. 1; 41; 59)

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Da conjugação de tais direitos resultarão algumas consequências em matéria de meios


processuais de interrogatório:

a) Tem de considerar-se proibidos e inadmissíveis em processo penal todos os meios de


interrogatório e de obter declarações que importem ofensa a dignidade da pessoa humana, a
integridade pessoal (física ou moral) do arguido, em especial os que importem qualquer
perturbação da sua liberdade de vontade e de decisão.

Nesta proibição se abrangera o emprego de maus tratos, castigos corporais, administração de


hipnose, utilização de meios cruéis e enganosos, bem como a perturbação por qualquer meio
da capacidade de memoria e de avaliação do arguido, a utilização da forca fora dos casos e
dos limites expressamente permitidos pela lei, a ameaça e a promessa de qualquer vantagem
não prevista legalmente.

Do mesmo modo se devem considerar não legítimos dois outros métodos de interrogatório
que utilizam técnicas mais modernas, nomeadamente a narcoanálise, a que já foi feito
referencia - polígrafo 102.

b) Estes meios de interrogatório e de obter declarações acabados de referir devem continuar a


considerar-se proibidos e processualmente inadmissíveis, ainda que o arguido consinta na sua
utilização. Deste modo, um tal consentimento só muito raramente poderia considerar-se livre,
visto estar o arguido coagido pelo receio de que a negação do consentimento pudesse ser
interpretado como indicio da sua culpa. Alem disso, tal consentimento seria ineficaz por
recair sobre bens ou valores indisponíveis – a autonomia e dignidade da pessoa humana e a
sua liberdade de vontade e decisão.

c) A proibição de emprego de tais métodos de interrogatório deve valer, nos mesmos termos,
para qualquer pessoa a quem caiba ouvir o arguido em declarações, seja o juiz, o Ministério
Publico ou qualquer autoridade policial;

d) As violações de tal proibição devem, senão determinar a insuficiência do corpo de delito – e,


portanto, a nulidade principal do processo referida no art. 98, n. 1 do CPP – pelo menos a

102
Aparelho que se liga a pessoa a interrogar e que regista os traços da sua respiração, pulsação, tensão arterial,
transpiração cutânea.

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inadmissibilidade de valoração das declarações prestadas e das indicações que, por seu
intermédio, tenham sido obtidas acerca de outros meios de prova.

4.6.5. A garantia constitucional da presunção de inocência

Já se disse que o arguido é um sujeito processual e que, em razão dessa qualidade, o seu estatuto
comporta um complexo de direitos e deveres, atrás enunciados.

Importa agora referir a especial tutela de que goza por imperativo constitucional: a presunção de
inocência.

O n. 2 do art. 59 da Constituição da Republica estabelece que ―Os arguidos gozam de


presunção de inocência ate decisão judicial definitiva”. O mesmo preceito acha-se consagrado
na Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos e no Pacto Internacional dos Direitos
Civis e políticos, instrumentos de direito internacional ratificados pela Assembleia da Republica
e como tal integrados na ordem jurídica interna.

O princípio da presunção de inocência é no dizer de MARQUES SILVA ―… antes de mais uma


regra ―política‖ que revela o valor da pessoa humana na organização da sociedade e que recebeu
consagração constitucional como direito subjectivo público, direito que assume relevância
prática no processo penal num duplo circo: no tratamento do arguido no decurso do processo e
como princípio de prova.

Como regra de tratamento processual manifesta-se através do direito do arguido a ser


considerado como não responsável pela prática dos factos que lhe são imputados, enquanto não
for condenado por sentença com trânsito em julgado – princípio do favor libertatis. Enquanto
princípio de prova, significa que toda a condenação deve ser precedida de uma actividade
probatória a ser levada a cabo tanto pelo Ministério Publico, como representante da acusação,
como pelo tribunal, em homenagem ao princípio da investigação ou da verdade material: ao
arguido não pode exigir-se da prova da sua inocência e, em caso de dúvida, deve ser absolvido.

4.6.6. Regime do interrogatório do arguido – arts. 250 e segts do CPP

O interrogatório é concomitantemente um meio de prova e meio de defesa na medida em que


enquanto o arguido se defende não deixa de ministrar a entidades interrogatória elementos úteis a

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apuração da verdade, seja pelo confronto com as provas da natureza diversa existentes, seja por
circunstâncias e particularidades das próprias declarações que presta.

4.6.5.1. Regime do Primeiro Interrogatório do Arguido - Art. 253 do CPP e artigo 1 da Lei
2/93, de 24 de Junho

Os arguidos detidos após a fiscalização sumaria dos autos pelo MP na triagem serão presentes ao
Juiz da Instrução Criminal que ira fazer o primeiro interrogatório judicial 103.

Devem ser submetidos ao primeiro interrogatório judicial os arguidos detidos indiciados de


cometimento de crimes tramitados em processo de polícia correccional e querela.

O interrogatório do juiz nesta fase tem em vista ―verificar se existem os requisitos legais
justificativos da captura e existindo validara a mesma, ordenando-se a recolha do arguido a
cadeia, caso contrario mandara que ele seja posto em liberdade sob caução ou termo de
identidade e residência104, que seja solto, sem prejuízo da continuação da instrução.

Regime dos interrogatórios subsequentes de arguido preso105

Logo que, com base na denúncia ou no resultado de diligências probatórias seja dirigida contra
pessoa determinada, é obrigatória interroga-la como arguido106. Cessa essa obrigatoriedade se o
arguido residir noutra cidade ou distrito diferente de onde correm os autos ou puder ser
notificado, mas se houver conhecimento da sua residência, será avisado pelo correio, para que
possa apresentar-se a prestar declarações.

Igualmente cessa esta obrigatoriedade de interrogatório, nos processos em que não haja instrução
preparatória, nomeadamente transgressões e sumários.

103
Artigo 253 do CPP e Artigo 1 da Lei 2/93, de 24 de Junho
104
Art. 263 do CPP
105
Arts. 264, 253 e segts do CPP, conjugado com o art. 188 e 242 do CP
106
Corpo do artigo 250 CPP

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A iniciativa de ser interrogado como arguido pode ser do próprio suspeito, podendo o fazer em
qualquer momento ao longo da instrução preparatória, assim que constatarem que estão a ser
feitas perguntas que visem comprovar a sua imputação.

O requerimento a solicitar o interrogatório como arguido não pode ser indeferido 107:

Quando o requerente tiver sido indicado como agente do crime, na denúncia que deu origem
as averiguações sobre tal imputação e houverem já decorridos trinta dias a data da denúncia;

Quando a pessoa que houver indicado ou oferecido provas da imputação do crime ao


requerente tenha sido admitido como assistente;

Quando o suspeito tiver sido interrogado ou notificado ou para depor sobre factos pelos quais
possa ser incriminado.

Na instrução preparatória o interrogatório será feito pelo MP e na instrução contraditória,


havendo, pelo juiz, e terá que obedece as seguintes regras108:

Perguntar-se-á o arguido sobre o seu nome, estado civil, profissão, idade, naturalidade,
filiação e ultima residência, se já esteve alguma vez preso, quando e porque, se foi ou não
condenado e porque. Será advertido de que a falta de respostas a estas perguntas o fará
incorrer na pena de desobediência e se há falsidade na pena de falsas declarações;

O MP deve expor os factos imputados ao arguido, indicando, se não houver prejuízo para a
continuidade da instrução, as provas em que se baseia a imputação e as suas fontes;

Terminada a exposição, advertira o arguido de que não é obrigado a responder as perguntas


que lhe vão ser feitas sobre os factos imputados e sobre o conteúdo das declarações que
acerca deles prestar.

Nesse interrogatório o arguido poderá confessar ou negar os factos ou a sua participação neles e
indicar as circunstancias que justifiquem ou desculpem os factos cometidos109.

107
Art. 252 CPP
108
Arts 264 e 254 CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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O arguido nunca será obrigado a responder precipitadamente as perguntas, que lhe serão
repetidas, sempre que pareça que não as compreendeu, esta repetição terá principalmente lugar
quando a resposta não concordar com a pergunta e, neste caso, não se escrevera senão a resposta
repetida.

Nas perguntas feitas sobre circunstancias mais particulares e factos mais remotos, dar-se-á ao
arguido o tempo conveniente para se recordar dos factos com exactidão.

Quando o interrogatório se prolongar por muito tempo, chegando a ponto de perder serenidade o
arguido e o agente constatar tal facto parece-nos que deve se suspender a diligencia.

Se o arguido confessar a infracção, será especialmente perguntado pelos motivos dela, tempo,
lugar e meios empregues para o seu cometimento.110

Se o arguido negar o crime ou factos que lhe são imputados, será perguntado sobre quaisquer
circunstâncias ou prova que possam contrariar aquelas em se baseia a imputação. Se para
comprovação das suas declarações, o arguido oferecer documentos ou testemunhas, deverão ser
recebidos os documentos e ser tomada nota das testemunhas e dos factos essenciais sobre que
possam depor. As testemunhas assim arroladas serão ouvidas ainda ao longo da instrução
preparatória, sempre que possível e conveniente, mas, se não depuserem nesta fase do processo
poderão serem ouvidas na instrução contraditória, se houver lugar a ele e couberem no número
legal111.

Se o arguido confessar os factos, mas alegar quaisquer circunstâncias que justifiquem ou


desculpem, será perguntado sobre essas circunstâncias e sobre as provas que poder oferecer,
procedendo-se de igual modo como nos referimos acima 112.

A interpretação do artigo 259 do CPP deve se fazer de forma extensiva, incluindo as situações de
negação de factos que constem do processo referente a documentos e prova pericial.

109
Art. 256 do CPP
110
Artigo 257 do CPP
111
Art. 258 do CPP
112
Art. 259 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Se o arguido negar os factos que constem dos depoimentos das testemunhas, das respostas dos
outros arguidos ou das declarações dos participantes, ofendidos ou outras pessoas poderá o MP
ler-lhes esses depoimentos, respostas ou declarações, omitindo, quando necessário a continuação
da instrução, a identidade das testemunhas, e insta-lo sobre esses factos113.

Se o arguido não souber a língua portuguesa ou for surdo-mudo, o agente investigador nomear-
lhe-á um intérprete – art. 261 do CPP

No interrogatório as perguntas não devem ser sugestivas nem cavilosas, nem acompanhadas de
dolosas persuasões, falsas promessas ou ameaças. O agente do MP que violar esta obrigação
incorre na aplicação duma pena disciplinar.

Perguntas sugestivas são aquelas que podem induzir o arguido a dar, precipitadamente uma
resposta; perguntas cavilosas são as que, mediante ardil ou fraude, induzem a dar uma
determinada resposta.

Persuasões dolosas verificam-se quando se incute uma ideia, que é falsa, visando obter
determinada resposta ou confissão.

Promessas falsas são aquelas que podem não ser cumpridas. Ameaças significam a representação
dum mal. De notar que o adjectivo falso só qualifica as promessas e não as ameaças. As ameaças
devem ser ilegais, pois sendo legais perdem a dignidade de serem ameaças 114.

As respostas que o arguido der devem ser ditadas para a acta, podendo ser ditadas pelo próprio
arguido. Caso seja o magistrado a dita-la terá que tentar conservar tanto quanto possível as
próprias expressões do arguido, de maneira que cada palavra possa ser bem compreendida por
ele.

O auto de perguntas será lido ao arguido antes de encerrado, consignando-se expressamente se


este o ratifica ou as alterações que lhe fez.

113
Art. 260 do CPP
114
Art. 267 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

83
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Se houver co-arguido na mesma infracção, a cada um se farão separadamente os interrogatórios,


findo os quais se procedera a acarreação de uns com outros ou com os ofendidos, se for
necessário para melhor indagação da verdade115.

O fundamento de se fazer o interrogatório em separado é o carácter secreto da instrução


preparatória, em ordem a obter-se maior veracidade das respostas. Não só deve se fazer o
interrogatório em separado quando forem co-arguidos, mas também nas situações em que tenha
que interrogar mais do que um arguido na mesma altura, embora não sejam co-arguidos na
mesma infracção.

No acto do interrogatório o arguido deve estar acompanhado dum advogado, caso não o tenha
ser-lhe-á nomeado um defensor oficioso. A inobservância deste comando legal acarreta a
nulidade do interrogatório nos casos em que tal é obrigatória - art. 268 do CPP.

A falta do interrogatório do arguido, nos crimes que seguem a forma de processo de polícia
correccional e querela, determinara a nulidade da acusação que o MP vir a deduzir.

Na fase de julgamento, o réu será interrogado pelo Juiz Presidente do Tribunal e pergunta
primeiramente pelo seu nome, estado civil, filiação, idade, naturalidade, residência, se sabe ler e
escrever, se já esteve preso ou respondeu em tribunal e, no caso afirmativo, quando e por que
motivo. A falta de resposta a estas perguntas fará incorrer o réu na pena de desobediência e a sua
falsidade na pena de falsas declarações. Em seguida será interrogado sobre os factos que é
acusado116.

Antes de começar o interrogatório do réu, acerca dos factos de que é acusado, devera o juiz
adverti-lo de que não é obrigado a responder as perguntas que lhe vão ser feitas, pois tem apenas
por fim proporcionar-lhe o ensejo de se defender e contribuir para o esclarecimento da verdade, e
não o de obter elementos para sua condenação.

O interrogatório seguir-se-á os formalismos previstos no art. 251 e segts com as necessárias


adaptações, podendo o presidente do tribunal em qualquer altura, durante a produção de prova,

115
Art. 233 do CPP
116
Artigo 425 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

84
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oficiosamente ou a requerimento da acusação ou da defesa, quanto o entenda convenientes, fazer


ao réu quaisquer perguntas sobre facto ou circunstancias que interesse a descoberta da verdade,
ou confronta-lo com as testemunhas, com os outros réus ou com o ofendido.

Regime de interrogatório de arguido não preso 117 - se o arguido não estiver preso, os
interrogatórios serão feitos, na instrução preparatória, pelo agente do MP e no primeiro
interrogatório obedecera na parte aplicável o disposto no art. 253 do CPP e segts, podendo fazer-
se assistir o arguido de advogado.

Regime de interrogatório do Suspeito

A definição de suspeito retira-se do art. 252 do CPP e o seu interrogatório aplica-se o disposto no
art. 265 do CPP referente ao interrogatório do arguido não preso, isto é, o interrogatório do
suspeito é dirigido pelo MP na IP e não é obrigatória a presença do defensor.

Regime de interrogatório das testemunhas e declarantes

A testemunha é a pessoa que perante magistrado declara o que sabe acerca dos factos sobre os
quais se busca a verdade em processo penal.

A ciência da testemunha lhe é dada por seus sentidos principalmente a vista, a audição, não se
excluindo entretanto os outros sentidos, pois, em determinados casos, o paladar, o olfacto, o tacto
podem dar o conhecimento dum facto.

Falível que é o testemunho sujeito vícios que deturpam deve merecer toda a cautela da entidade
interrogatória, não apenas quanto ao conteúdo mas também quanto a idoneidade de quem o
presta, o modo que o faz, etc.

As testemunhas e os declarantes poderão ser arrolados pelas Ministério Publico, pelo


participante, ofendido, ou parte acusadora, as referidas por estas e quaisquer outras que o juiz
entenda poderem contribuir para a descoberta da verdade 118. E desde que arroladas serão
obrigadas a prestar a sua colaboração para a descoberta da verdade através do seu depoimento

117
Arts. 265, 253 e segts do CPP
118
Art. 241 do CPP

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incorrendo na pena de desobediência qualificada, e recolhida a cadeia se faltar a verdade sobre os


factos relativos a outras pessoas ou ao Estado119.

O dever de prestar depoimento conforme a verdade é um dever de natureza jurídica. Não


obstante os declarantes não prestarem juramento a punição da falsidade das declarações e do
testemunho é a mesma.

A testemunha é obrigada a prestar juramento, ao contrário do declarante – mas a sanção é a


mesma no caso de se faltar a verdade – desobediência qualificada120.

4.7. O DEFENSOR121

4.7.1. Função e posição jurídica do defensor em processo penal

Num verdadeiro processo penal de partes – como vimos ser característico dos países de
inspiração anglo-saxónica – a função exercida pelo defensor e a posição jurídica por ele
assumida não levantara dúvidas de grande monta: trata-se ai, como no processo civil, de uma
autêntica representação judiciária do arguido, cabendo ao defensor a pratica em nome e no
interesse daquele, de todos os actos processuais para os quais lhe tenha sido concedido
procuração bastante.

Mas não é essa situação prevalecente na nossa legislação processual penal. No nosso caso
estamos, como já foi dito, perante um processo sem partes, em que tanto o juiz como ao
Ministério Publico cabe oficiosamente velar pela protecção dos direitos processuais do arguido e
inclusive, pela sua própria defesa. Todavia, é evidente que não pertence ao juiz nem ao
Ministério Publico, como função característica e essencial, exercer os misteres da defesa do
arguido. Justamente porque o juiz e o Ministério Publico tem de comportar-se imparcial e
objectivamente, só a existência de um órgão a quem caiba actual – ainda que, também, ele
objectivamente – no exclusivo interesse da defesa, pode dar a garantia de que os factos que

119
Art. 242 do CP
120
Art. 241 do CP
121
Profissional do foro que exerce as suas funções numa causa.

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86
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constituem objecto do processo serão esgotantemente investigados e de que se procurar evitar,


ate onde é humanamente possível, erros desfavoráveis ao arguido, na apreciação daqueles factos.

Assim se caracteriza a função do defensor e processo penal – exclusivamente de fazer avultar no


processo tudo quanto seja favorável ao arguido. Através dela pode-se então, determinar a posição
jurídica do defensor. Deste modo:

Embora o art. 22 do CPP possa dar a entender que o defensor é um mero representante
judiciário do arguido - nos casos em que este não seja obrigado a estar pessoalmente em juízo
– o certo é que o fundamento da pratica pelo defensor de actos processuais não reside na
procuração forense ou os poderes representativos concedidos pelo arguido, mas encontra-se
directamente no poder-dever que a lei lhe confere de realizar a função de defesa sem estar
condicionado as instruções ou vontades do arguido. Neste sentido, pode e deve afirmar-se
que a função de defesa é pública, tem o seu assento no direito público e não no instituto
jurídico-privado da representação.

Também não basta, para caracterizar a posição jurídica do defensor, dizer que a sua função é
de assistência jurídica ao arguido. Se por assistência quisermos entender uma mera função de
auxiliar processual, então terá de concluir-se que tal caracterização é inexacta, pois, o
exercício da função de defesa não esta essencialmente subordinada as intenções ou a vontade
do arguido, nem exclusivamente dependente do interesse subjectivo deste (p. ex., o de obter a
absolvição a todo o custo);

A exacta caracterização da posição do defensor é, pois, a seguinte: tal como o Ministério


Publico, também o defensor, seja ou não advogado122 é um órgão autónomo de administração
da justiça, como tal lhe cabendo basicamente colaborar com o tribunal na descoberta da
verdade e a realização do Direito. A função da defesa ultrapassa o eventual interesse
subjectivo do arguido para cumprir uma tarefa que diz directamente respeito a própria
comunidade jurídica – a de q uso sejam punidos em processo penal os verdadeiros culpados
e, para isso, a de que sejam protegidos todos os arguidos.

122
Licenciado, em Direito, inscrito na Ordem dos Advogados, que exerce o mandato judicial como profissão.

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É, pois, profundamente errónea a concepção – infelizmente tão disseminada entre os práticos do


foro – que vê no defensor, a priori, um inimigo do Ministério Publico e ate ele próprio do Juiz.
Na verdade, a posição do defensor penal é a de um colaborador – embora seja um colaborar a sua
própria maneira e de forma diferenciada que visa a realização dos objectivos prosseguidos.
Evidentemente que a especifica forma de intervenção do defensor na realização justiça o afasta,
tanto da actividade judicial como da do Ministério Publico, que esteja muitas vezes em oposição,
na medida em que, servindo embora a descoberta da verdade e a realização do Direito, serve-as
actuando exclusivamente em favor do arguido. E por isso, que o Estatuto da Ordem dos
Advogados, que a Lei que cria o IPAJ, privem a imposição ao advogado o dever de segredo
profissional relativamente a tudo quanto possa desfavorecer a posição do arguido.

É na interacção destes deveres de protecção, favorecimento processual, verdade e sigilo teórico e


abstractamente compatíveis, se bem que eventualmente conflituantes no caso concreto - que o
defensor tem de encontrar o equilíbrio da sua actuação, sendo através deles que se alcança o
essencial da sua posição jurídica no processo penal.

4.7.2. Admissibilidade e obrigatoriedade da defesa

O arguido pode constituir advogado em qualquer altura do processo 123. Por esta forma dá a lei a
entender que o exercício da função de defesa é admissível em qualquer processo e em qualquer
fase em que este se encontre.

Mas apesar deste princípio geral de admissibilidade, o certo é que só em alguns casos a defesa se
torna por lei necessária ou obrigatória. Assim, de acordo com a 2 e 3 partes do citado art. 49 “é
obrigatória a nomeação de defensor oficioso 124, se ainda não houver advogado constituído,
no despacho de pronúncia provisória em processo de querela (como desapareceu, entretanto,
o despacho de pronuncia provisória, a referencia a ele feita deve entender-se como dirigida ao
despacho que recebe o requerimento para abertura da instrução contraditória). Nos processos de
polícia correccional devera ser nomeado para julgamento. Nos processos de transgressões e

123
1ª parte do ar. 49 do DL 35007

124
Denomina-se assim o defensor nomeado para representar, em juízo, o arguido, quando este não tiver
constituído advogado próprio.

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sumários o juiz só é obrigado a nomear defensor oficioso se o arguido o pedir ou se houver


lugar a aplicação de medidas se segurança.

Alem destes casos, também é obrigatória a intervenção (a presença) do defensor nos


interrogatórios de quaisquer arguidos presos, durante a fase de instrução preparatória125.

A falta de nomeação de defensor ao réu, quando necessária, constitui nulidade principal do


processo penal126, cujo regime é regulado pelo & 5 do mesmo preceito, ou seja, a falta de
nomeação de defensor ao réu, quando necessária, constitui nulidade principal do processo penal
se esta for cometida antes de transitar em julgado o despacho de pronuncia ou equivalente, ficara
sanada, se for posteriormente nomeado ou constituído defensor e este a não arguir no prazo de
cinco dias, a contar daquele em juntar aos autos a procuração ou em que for notificado da
nomeação pelo juiz. Se o processo a julgamento e foi ou constituído advogado, a nulidade ficara
sanada, se não for arguida ate o interrogatório do réu. Se esta nulidade se cometeu na audiência
de julgamento, não poderá arguir-se, quando a sentença for absolutória.

Para além disso é nulo qualquer interrogatório sem a assistência de defensor quando obrigatória,
ou se o advogado foi indevidamente impedido de assistir quando facultativa‖ 127.

4.7.3. A defesa e a pessoa do defensor

O defensor pode ser chamado a assumir a sua posição no processo penal pelo arguido ou pelo
tribunal. Se for o arguido a chama-lo, estaremos perante uma constituição de advogado ou
(defensor); se for o tribunal depararemos com a nomeação de defensor oficioso 128

O princípio que rege nesta matéria é o da liberdade de escolha de defensor e, portanto


sobreposição da constituição à nomeação. Em qualquer altura do processo em que o arguido
constitua defensor, cessam as funções de defensor que tiver sido nomeado oficiosamente 129 –
Portanto, só quando o arguido não faca uso do seu direito de escolha, e caso se trate de defesa
125
Arts. 253 e 264 do CPP
126
Art. 98, n. 4 do CPP
127
Art. 268 do CPP.
128
Art. 49 do DL 35007 e & 1 e 2 do art. 22 do CPP.
129
Art. 22 & 3 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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obrigatória, o juiz lhe nomeara defensor oficioso. Alem desta distinção de defensores
constituídos e nomeados, há que ter em conta o que dispõe o Estatuto do IPAJ e a determinação
das pessoas que podem intervir no processo penal como defensores (distinção entre advogados,
defensores públicos, técnicos superiores de assistência jurídica e técnicos de assistência jurídica).

4.7.3.1. Defesa de vários réus

Para o caso de serem vários os arguidos, cada um poderá ser representado no processo e ate na
audiência de julgamento por um advogado130.

O defensor não pode ser considerado impedido ou suspeito – seja por forca da lei ou por decisão
do juiz ou do Ministério Publico – apesar de, como se disse também ele dever ser tido como
órgão de administração da justiça. Todavia, é claro que, tratando-se de advogado constituído
pode o arguido em qualquer altura escolher novo defensor e, por este caminho afastar da defesa o
advogado anteriormente constituído – dá-se a revogação do mandato131. Se tratar-se de defensor
oficiosamente nomeado, o juiz poderá sempre substituir a requerimento do réu por causa
justificada132.

4.7.3.1 Recusa ou abandono do patrocínio

Também o defensor pode, em certas condições, recusar ou abandonar o patrocínio. Tratando-se


de advogado, a recusa assume carácter de dever relativamente a toda a acusação que considere
justa. Quanto ao abandono/dispensa do patrocínio, ele só poderá ter lugar, se este alegar causa
que o juiz julgue procedente, e desde que ele tenha sido devidamente substituído sob pena de
suspensão do exercício da sua profissão de um mês a um ano. Se for advogado ser-lhe-á aplicada
uma multa133.

Hipótese diferente desta é a da retirada da palavra ao defensor pelo tribunal confiando a defesa a
outro advogado no caso em que os advogado ou defensor nas suas alegações ou requerimentos se
afastarem do respeito devido ao tribunal, ou manifesta e abusivamente procurarem protelar ou
130
Corpo do art. 23 do CPP
131
Art. 39 do C. Civil

132
Art. 26 do CPP
133
& Único do art. 24 do CPP conjugado com o art. 28 todos do CPP

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embaraçar o regular andamento da causa, usarem de expressões injuriosas, violentas ou


agressivas contra a autoridade publica ou qualquer outras pessoas, ou fazerem explanações ou
comentários sobre assuntos alheios ao processo e que de modo algum sirvam para esclarece-
lo 134.

4.7.4. O concreto exercício da função de defesa

No concreto exercício da função que lhe esta confiada, como órgão da administração da justiça,
o defensor goza de certos direitos e esta sujeito a determinados deveres que iremos agora em
breve síntese analisar.

O defensor deve, antes de tudo, prestar ao arguido o mais completo e esclarecedor conselho
jurídico de que for capaz. Não deve limitar-se a estar ao lado do arguido, a assisti-lo ou
representa-lo nas suas diversas intervenções processuais: assistência ou representação só ganham
sentido quando cada intervenção seja sempre que possível precedido do esclarecimento da
situação jurídico material e processual.

Naturalmente que, logo nesta matéria, se lhe podem começar a por alguns problemas resultantes
do conflito entre o seu dever de defesa a participação na descoberta da verdade e na justa
realização do Direito. Contra o dever de verdade (procurando, como vimos, no exclusivo
interesse do arguido), actuara o defensor que aconselhe o arguido a proferir afirmações inexactas
ou que sabe serem falsas, mesmo quando elas possam conduzir a uma absolvição ou a uma
atenuação da pena.

Ao contrário do que sucesso no processo penal de inspiração anglo-saxónica, não constitui, na


nossa lei, tarefa específica do defensor proceder a investigação autónomas do material fáctico,
paralelas as que cabem ao Ministério publico e aos órgãos seus auxiliares. Dai que a lei
processual penal não reconheça ao defensor quaisquer meios de coação e apenas lhe permita, na
instrução preparatória apresentar ao Ministério publico memoriais ou requerimentos de
diligências de prova, que este tomara em consideração ou deferira na medida em que entenda que
podem contribuir para a descoberta da verdade 135.

134
Art. 412 do CPP.
135
& Único do Art. 13 do DL n. 35007

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Tal não significa que o defensor não possa ou não deva proceder as suas próprias averiguações
complementares, sempre que isso seja imposto ou aconselhado pela função d defesa, p. ex:
exame ao local da infracção, procura de testemunhas ou declarantes relevantes para a defesa e
comprovação do seu conhecimento e da sua razão de ciência – sem evidentemente tentar
influenciar, expressa ou encobertamente, o sentido das suas declarações.

Essencialmente a eficácia da função de defesa é o asseguramento do direito de presença do


defensor as diligências de prova de que sejam passíveis quaisquer participantes processuais. O
CPP assegura esse direito ao defensor durante toda a audiência de julgamento, conforme se vê
dos arts. 416 e segts. O mesmo se pode dizer para a instrução contraditória, pois, os autos da
instrução contraditória poderão assistir o agente do Ministério Publico, o arguido, o seu defensor
e o advogado dos assistentes136.

O direito de assistência do defensor durante a fase de instrução preparatória já não é tão ampla e
eficazmente assegurada porque, nesta fase, deve respeitar-se o segredo de justiça.

A função atribuída ao defensor em processo penal só poderá ser eficazmente cumprido se, alem
do mais, lhe for conferida um amplo direito de consulta aos autos e de exame aos objectos da
prova.

Já vimos que durante a instrução preparatória o processo pode ser mostrado ao assistente e ao
arguido, ou aos respectivos advogados, quando não houver inconveniente para a descoberta da
verdade137. Após a notificação do despacho de pronúncia ou equivalente, os escrivães sao
obrigados a mostrar quaisquer processos findos ou pendentes, que não estejam em segredo de
justiça, e a passar mediante despacho, quaisquer certidões a quem mostre um interesse legítimo
em as obter138.

Outro dos direitos fundamentais do defensor penal é o de comunicar oralmente e por escrito com
o arguido. Se este se encontra em liberdade, o problema já não se coloca, pois é obvio que a

136
2 parte do corpo do art. 330 do CPP
137
& 1 do artigo 70 do CPP
138
Art. 72 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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liberdade de comunicação é total. Se o arguido se encontrar preso, o problema do exercício do


direito de comunicação com o advogado ganha então particular realce.

Por outro lado, os arguidos não poderão comunicar com pessoa alguma antes do primeiro
interrogatório. Acrescentando que ―depois de terminada a incomunicabilidade e enquanto durar a
instrução preparatória, o agente do Ministério Publico pode proibir a comunicação do arguido
com certas pessoas, ou condiciona-las se tal se mostrar indispensável para evitar tentativas de
perturbação da instrução do processo‖139.

Estas disposições foram, com razão objecto de severas críticas na doutrina, pois não se vê
justificação plausível para eles num Estado de Direito. Se é compreensível que a lei imponha a
incomunicabilidade do arguido antes do primeiro interrogatório, já não é de aceitar a extensão
dessa incomunicabilidade a pessoa do defensor. Em muitos países a legislação processual penal
dá maior relevância ao asseguramento da comunicabilidade entre o arguido e o seu defensor em
reais condições de liberdade, segurança e segredo, do que propriamente a obrigatoriedade de
assistência do defensor aos interrogatórios.

4.8. O Ofendido, Lesado e o assistente

4.8.1. Conceito de ofendido em processo penal

De um ponto de vista estritamente penal, ofendido é a pessoa que, de acordo com o tipo legal
de infracção preenchido pela conduta criminosa, detêm a titularidade do interesse jurídico-
penal por aquela conduta violada ou posto em perigo.

Por outras palavras, na definição de BELEZA DOS SANTOS, é o titular dos interesses que a lei
quis excepcionalmente proteger quando formulou a norma penal. Não se trata aqui de qualquer
denunciante, queixoso, lesado: há-de tratar-se do titular de um interesse especialmente protegido
(a titularidade não é de qualquer interesse geralmente protegido), mas não para uma protecção
para outros fins que não os juridico-criminais: a mera protecção civilística não permite que o
titular do direito se constitua ―parte‖ acusadora.

139
& 1 e 2 do art. 311

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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O lesado é a pessoa que sofreu danos ocasionados pelo crime. O lesado pode ter sido ou não
queixoso ou denunciante, pode ter-se constituído assistente ou não: o que importa a qualificação
como lesado é que tenha sofrido danos como consequência do crime.

Convêm, porem, verificar determinado conceitos. O queixoso, como vimos, é diferente. O


queixoso exerceu efectivamente o direito de queixa140, condição necessária para o procedimento
quando se trata de crime semi-publico ou particular. O denunciante é aquele que da
conhecimento do facto delituoso a autoridade, o que dá a noticia do crime. A denuncia141, isto é,
a transmissão do conhecimento de factos constitutivos do crime a autoridade é geralmente
facultativa, e finalmente o participante – é o titular do direito de participação142. Em sentido
amplo poderemos englobar no conceito de participante qualquer denunciante.

Relativamente a Identificação do denunciante/participante. O denunciante pode não coincidir


com o lesado, ofendido ou assistente. Com efeito, pode a denúncia em certos tipos de crime, que
não sejam particulares ou semi-públicos, ser efectivada por um terceiro não ofendido pela
prática do crime. Pode também o lesado não coincidir com o ofendido na medida em que
ofendido é o titular do interesse especialmente protegido pela lei penal e violado pela infracção e
lesado será o titular de um direito que decorreu da prática de um crime, ou seja, quem suportou
os danos e que até pode ter sido cometido contra um terceiro mas de que para aquele surgiram
danos patrimoniais. Imagine-se um acidente de viação em que o automóvel do denunciado foi
atropelar um peão e ainda foi embater num outro veículo estacionado na via pública.

Na perspectiva criminal, o ofendido será o peão, titular de um direito de queixa sobre o condutor
atropelante e o lesado será o dono do automóvel estacionado, que terá direito a deduzir
indemnização civil enxertado no processo penal com vista a obter ressarcimento dos danos
materiais que lhe advieram do acidente.

140
É o acto voluntario/é a expressão de vontade do titular do respectivo direito, manifestado por requerimento e
na forma prescrita na lei manifestando a sua vontade de que seja responsabilizado alguém pela pratica de um
determinado crime – crime semi-publico
141
É a comunicação da prática de um crime que é feita ao MP ou a outra autoridade de comunicar.

142
É a manifestação de vontade por parte de uma autoridade, de que deseja que seja instaurado procedimento
criminal contra alguém – crime público.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Contudo, na maior parte das vezes, existe coincidência entre denunciante, ofendido, lesado e
assistente, ou seja, o ofendido é em regra também assistente e lesado.

Este conceito estrito ou típico de ofendido é o que resulta do disposto no art. 4, n. 2 do Decreto-
Lei 35007 (que reproduz, nessa parte, o art. 11 do CPP) e assume relevância quando se trate de
matérias especificamente penais – o marido/mulher nos processos por infracções em que seja
ofendida a mulher/marido, salvo oposição deste/a; o cônjuge não separado de pessoas e bens, ou
o viúvo, ou qualquer ascendente, descendente ou irmão, no caso de morte ou incapacidade do
ofendido para reger a sua pessoa; qualquer pessoa nos processos relativos aos crimes de
peculato, pleita, suborno, concussão e corrupção).

Uma definição mais lata de ofendido (ou lesado) é utilizada quando estão em causa normas de
direito civil, para salvaguarda de interesses particulares juridicamente protegidos. Neste caso,
ofendido será a pessoa que, segundo as normas do direito civil, tenha sido prejudicado em
interesses juridicamente protegidos. A ela deve, por isso, ser reconhecida legitimidade para
deduzir em processo penal, um pedido civil de indemnização ou qualquer outro de natureza
patrimonial derivado de uma infracção penal.

O assistente têm a posição de auxiliar do Ministério Publico, a cuja actividade subordinam a sua
intervenção no processo, salvo as excepções da lei143.

A actividade do assistente é diferente conforme se trate de crimes públicos e semi-públicos, por


um lado, particulares por outros: nos crimes públicos e semipúblicos pode haver ou não
assistente e, quando exista, a acusação esta subordinada a do MP; nos crimes particulares, é
indispensável como parte principal, deduzir acusação, acto sem o qual não haverá julgamento.

4.8.2. A constituição de assistente e a posição jurídica deste no processo penal

Conforme vimos, na determinação das pessoas legitimadas para intervir como assistentes em
processo penal, parte a legislação em vigor do conceito estrito de ofendido – como tal se
considerando o titular do interesse que a lei penal especialmente quis proteger com a
incriminação – art. 4, n. 2 do DL 35007.

143
N. 5, & 1. do artigo 4 do DL 35007

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Deste princípio geral resulta que, relativamente a certos crimes públicos, ninguém poderá
constituir-se assistente, uma vez que o interesse protegido pela incriminação é exclusivamente
pública e o que sucede nos crimes contra o Estado, contra a boa administração da justiça, contra
a ordem e tranquilidade pública e outros.

Pelo contrário, qualquer pessoa nos processos relativos aos crimes de peculato, pleita, suborno,
concussão e corrupção – pode constituir-se assistente (art. 4 n. 5) que traduz na prática, por um
alargamento daquele conceito de ofendido, justificado pelo desejo de uma colaboração de todos
os particulares na detecção e perseguição de tais crimes, que põem em causa a imagem e o
prestígio do Estado.

O mesmo se passa em certa medida, nas outras hipóteses de constituição de assistente previstas
nos ns. 3 (―o marido nos processos por infracções em que seja ofendida a mulher, salvo oposição
desta) e 4 (―o cônjuges não separado de pessoas e bens, ou viúvo, ou qualquer ascendente,
descendente ou irmão no caso de morte ou de incapacidade permanente do ofendido para reger a
sua pessoa‖.

O direito de constituição de assistente é irrenunciável, conforme determina o art. 18 do


CPP.‖Ninguém poderá renunciar a faculdade de promover a acção penal, salvo o disposto nos
&& 1, 2 e 3 do artigo 8 e no & 1 do artigo 14. o & único do mesmo preceito acrescenta, no
entanto, que ―o disposto neste artigo não obsta a extinção da acção penal pelo perdão da parte
nos casos em que a lei o permite. Daqui decorre que uma coisa é a renuncia a faculdade de
constituição de assistente – que a lei não permite, determinando a nulidade de qualquer
declaração nesse sentido (corpo do artigo); outra coisa é a renúncia ou desistência da posição de
assistente já processualmente assumida – que a lei admite em certos casos através do perdão da
parte (& único).

Quanto a forma da constituição de assistente, ela pode fazer-se por meio de declaração
prestada no processo ou por meio de requerimento. Tratando-se de crime particular, a declaração
é obrigatória144.

144
& 3 do art. 9 do DL 35007CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Sobre o momento da constituição de assistente, os assistentes podem intervir em qualquer


altura do processo, aceitando-o no estado em que se encontra, desde que a requeiram ate cinco
dias antes da audiência de discussão e julgamento145. Obviamente que este preceito não se aplica
tratando-se de ofendido por crime dependente da acusação particular, caso em que a declaração
terá de ser feita na denuncia.

Quanto a representacao dos assistentes, estes deverão ser sempre representados por advogado.
Havendo vários assistentes, serão todos representados por um só advogado, e se divergirem
quanto a sua escolha, decidira o juiz 146.

4.8.3. Os poderes processuais do assistente

Para melhor compreender as formas que se pode revestir a actuação do assistente no processo
penal, importa distinguir as diversas fases processuais, designadamente a instrução preparatória,
a instrução contraditória, o julgamento e a fase de recursos.

Instrução Preparatória – a intervenção do assistente nesta fase restringe-se, muito


especificamente a uma função de colaboração com o MP na recolha dos elementos de prova
necessários para fundamentar a acusação. A sua actividade está, portanto, nesta face do processo,
subordinada a actuação daquele, sendo-lhe unicamente permitida (tal como o arguido) apresentar
ao MP – memoriais ou requerimentos de diligências de prova, que este tomara em consideração
ou definira na medida em que entenda que podem contribuir para a descoberta da verdade,
juntando, porem, aos autos, no prazo prescrito – para a junção de documentos, todos os papeis
recebidos – dos assistentes que respeitem ao processo.

O assistente ou seu advogado, nesta fase o poder de consultar o processo, o direito de tomar
conhecimento das declarações do arguido, dos autos de diligências de prova a que pudessem
assistir e de incidentes ou excepções em que devam intervir, bem como o direito de lhes serem
facultados os autos de instrução preparatória para o efeito de formular acusação147.

145
& 5 do artigo 4 do DL
146
Art. 5 do referido DL e & 1 do artigo 21 do CPP
147
&& 1 e 2 do art. 70 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Na instrução contraditória – pode-se considerar que a intervenção do assistente tem um carácter


autónomo relativamente ao MP. Compete aos assistentes intervir directamente na instrução
contraditória, oferecendo provas e requerendo ao juiz as diligências convenientes‖148. Em
execução deste princípio geral é concedido ao arguido, por intermédio do seu advogado, o direito
de assistir aos actos de instrução contraditória149, de requerer ao juiz que sejam feitas as
testemunhas quaisquer perguntas para completar ou esclarecer os depoimentos150 ou que sejam
pedidos aos peritos os esclarecimentos necessários151, bem como, no caso de a acusação ter
precedido a instrução contraditória, o direito de ser notificado para manter ou não a acusação152.

No que diz respeito a acusação compete em especial aos assistentes, formular a acusação
independentemente da do MP e ainda que este se tenha abstido de acusar‖ 153. Se bem repararmos
nesta redacção do preceito, foi posta em vigor em Moçambique pela Portaria n. 17076, de 20 de
Marco de 1959. Verificaremos que lhe foi acrescentado a frase que sublinhamos ( ... e ainda que
este se tenha abstido de acusar‖), relativamente a redacção vigente no continente português. Este
acréscimo evitou de certo modo que, entre nos (e nas restantes ex-colónias portuguesas) se
pusesse a controversa e debatida questao de saber se a faculdade de os assistentes deduzirem a
acusação quanto ao MP se tenha abstido de acusar abrangia também os crimes particulares e
semipúblicos ou tão-somente os crimes particulares. A resposta – que, por via jurisprudencial, já
era dada em Portugal no sentido de abranger tanto os crimes particulares como os crimes
públicos – tem de ser no sentido de ver abrangido pela disposição legal as diferentes espécies de
crimes.

No julgamento – cabe dizer que, atribuindo-lhe a lei, como vimos, o direito de formular
independentemente a acusação, por certo que teria de lhe conceder de igual modo os poderes
necessários a sua efectivação na fase de julgamento. Assim, o art. 415 do CPP contêm um

148
Art. 4 & 2, n. 2 do DL 35007,
149
Art. 330 do CPP)
150
Art. 332
151
Art. 333 & 2)

152
Art. 335 do CPP
153
Art. 4, & 2, n. 1 do DL n. 35007.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

98
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afloramento do princípio do contraditório, ao determinar que o juiz ouvira sempre o MP e os


representantes da parte acusadora sobre os requerimentos dos representantes da defesa e estes
sobre o que tenham requerido aqueles.

Quando não estejam presentes ou a falta do advogado dos assistentes não determina a suspensão
ou adiamento da audiência154 e a comparência do próprio ofendido não é em princípio
obrigatória155. Podem-lhe ser tomadas declarações em qualquer altura durante a produção de
prova156, possuindo em contrapartida o direito de interrogar e contra-interrogar as
testemunhas157.

Recursos – nesta fase têm o assistente competência para recorrer do despacho de pronúncia e da
sentença ou despacho que ponha termo ao processo, mesmo que o MP o não tenha feito158. Este
princípio sofre, restrição quando os assistentes formulem acusação por factos diversos dos que
constituem objecto da acusação do MP, não poderão recorrer da decisão do juiz se este receber a
acusação do MP159. Esta restrição só tem cabimento nos processos que não dependam de
acusação particular por crimes públicos e semipúblicos) como se depreende do estatuído no &
único do art. 3 do mesmo Decreto-Lei.

********

5. A REPARACAO DE PERDAS E DANOS ARBITRADA EM PROCESSO PENAL

5.1. Responsabilidade civil emergente de crime

Visa este trabalho a acção conducente a indemnização decorrente de um facto ilícito de que
sobrevém um dano.

Artigo 488 do C.Civil

154
Art. 417 & 3
155
Art. 420
156
Art. 428
157
Art. 435
158
Art. 4 & 2, n. 3 do DL n. 35007

159
Art. 4 & 2, n. 3 do DL n. 35007.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

99
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1. Aquele que com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer
disposição legal destinado a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado
pelos danos resultantes da violação.
2. Só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na
lei.

Nestes termos depreende-se que os factos que são objecto de processo criminal podem ser
também fundamento de responsabilidade civil, no que toca ao ressarcimento dos danos
patrimoniais e não patrimoniais a que a infracção tenha dado causa.

Nos termos do CPP a obrigação de indemnizar emergente do crime, ou seja o pedido de


indemnização civil em processo penal é fundado na prática de um crime e nunca da prática de
uma contravenção.

5.2. Da decisão sobre a indemnização civil

5.2.1. Princípio da interdependência também designado por sistema da adesão

A prática de uma infracção criminal é possível fundamento de duas pretensões dirigidas contra
os seus agentes: uma acção penal para em caso de julgamento aplicar-se as reacções penais
adequadas e uma acção civil para ressarcimento dos danos patrimoniais e não patrimoniais a que
a infracção tenha dado causa.

A unidade de causa impõe entre as duas acções uma estreita conexão, dai a possibilidade ou
obrigatoriedade de juntar a acção civil a penal, permitindo que o juiz penal decida também a
acção civil.

O pedido de indemnização por perdas e danos emergente de um crime é deduzido no respectivo


processo penal, nos termos do estabelecido no artigo 29 do CPP e só nos casos excepcionais
previstos no artigo 30 do CPP é que pode ser feito separadamente, isto é, o pedido de
indemnização civil fundado na prática de um crime tem de ser deduzido no processo penal
respectivo, podendo sê-lo em separado nos casos previstos no CPP – poderá ser feito em acção
intentada nos tribunais civis.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

100
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O art. 30 do CPP estabelece que a acção civil de perdas e danos pode propor-se em separado
perante um tribunal civil nas seguintes condições:

Quando a acção penal não tiver sido exercida pela MP dentro de seis meses a contar da
participação em juízo;
Quando estiver sem andamento durante seis meses a contar da participação em juízo;
Quando o processo tiver sido arquivado;
Quando o réu tiver sido absolvido na acção penal.
1. Se a acção penal depender de participação ou acusação particular 160, a acção civil pode ser
livremente intentada, mas, se o for, ficara por esse facto extinta a acção penal – & 1 do art.30
do CPP;
2. & 2 do artigo 30 do CPP
Se tiver-se instaurado processo penal por infracção que dependa de participação ou
acusação particular, somente poderá intentar-se em separado a acção civil quando o
processo penal esteja:
- Sem andamento por seis meses ou mais, sem culpa da parte acusadora, quando o
processo penal esteja sem andamento por seis meses ou mais, sem culpa da parte
acusadora;
- Quando o processo tenha sido arquivado ou
- Quando o réu tenha sido absolvido.

5.3. Necessidade do pedido

A indemnização por perdas e danos emergentes de um crime é regulada pela lei civil. Trata-se de
direitos disponíveis e tem como consequência processual o principio do pedido e a
disponibilidade do objecto do processo. É pois necessário que a parte lesada o peca ao tribunal a
condenação do civilmente responsável na indemnização por perdas e danos.

Estes pedidos pode, porem, ser formulados em processo autónomo, dando origem a um processo
civil, ou ser formulado no próprio processo penal em que se julga da responsabilidade penal pela

160
Nos crimes particulares e semi-públicos

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

101
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pratica de um crime objectivo da acusação. Este ultimo sistema é usualmente designado por
sistema ou processo de adesão, e assim também denominado na nossa lei processual no seu
artigo 29.

5.4. A legitimidade para o pedido civil


5.4.1. Legitimidade activa

O pedido de indemnização civil é deduzido pelo lesado, entendendo-se como tal a pessoa que
sofreu danos ocasionados pelos crime, ainda que se não tenha constituído ou possa se constituir
em assistente ou parte acusadora – art. 32 do CPP e art. 75, n. 3 do C.P.

Compete ao MP formular o pedido de indemnização civil em representação do Estado e outra


pessoas colectivas cuja representação lhe seja atribuída por lei, nomeadamente autarquias locais
e de pessoas a quem o Estado deva protecção, designadamente os incapazes, quando não esteja
representados por advogados no processo – art. 32, & 1 do CPP.

O art. 34 do CPP permite a atribuição do direito de indemnização não só aos ofendidos (corpo do
artigo), como também a outras pessoas (&1), ou seja, a pessoas que podem não ser sequer
assistentes no processo penal.

5.4.1.1.Legitimidade passiva

Tem legitimidade passiva quem for arguido em processo penal. Esta é a regra básica.
Exceptuam-se, no entanto, as pessoas apenas civilmente responsáveis (art. 140 do C. da Estrada
conjugado com o art. 57, 503 e segts e 507 do C.Civil).

Decorre da regra básica acima citada que esta legitimidade passiva não poderá ser extensiva
analogicamente aos casos de danos causados por qualquer infracção.

5.4.1.2. Distinção entre lesado e ofendido

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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O lesado é todo aquele que tendo sofrido, em consequência do crime, prejuízo no seu património
material ou moral e que, de acordo com a lei civil, mereça a protecção do direito.
Ofendido é o titular dos interesses que a lei especialmente quis proteger com a incriminação –
art. 4 do DL 35007

Porem há, que referir que situações hão em que as figuras de lesado e de ofendido são
coincidentes. É o caso do lesado sofrer além da violação dos interesses protegidos pela
incriminação, danos indemnizáveis segundo a lei civil.
Nestes casos poderá o ofendido constituir-se em assistente no processo e formular o pedido de
indemnização civil nessa qualidade.

5.4.2. Pessoa contra quem pode ser deduzido o pedido de indemnização civil

O pedido de indemnização só pode ser feito aos agentes do crime nos termos estabelecidos no
art. 29 do CPP, ou nos casos de acidente de viação, aqueles com responsabilidade meramente
civil, nos termos do art. 140 do C. Estrada. Neste ultimo caso as pessoas podem intervir
voluntariamente na acção instaurada contra o responsável pelo facto criminoso, mas não poderão
praticar actos que o réu tenha perdido o direito de praticar.

5.4.2.1.Tramitação do pedido civil

O pedido de indemnização civil, quanto formulado pelo MP ou pelo assistente, é deduzido na


acusação ou no prazo em que esta deva ser formulado.

Se o lesado não for assistente pode deduzir o pedido de indemnização contra as pessoas que só
sejam civilmente responsáveis pelo facto imputado ao arguido ate 8 dias depois de este ser
notificado do despacho de pronúncia ou equivalente, devendo a petição ser articulada e
acompanhada dos fundamentos exigidos pelo art. 152 do CPC (Artigos 156 e 170 do C. Estrada).

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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A falta de contestação não implica confissão dos factos e as provas são requeridas com os
articulados, podendo cada, requerer em número não superior a 10 – n. 3 e 5 do art. 76 do C.
Estrada.

Se o demandado ou o interveniente não constituíram advogado, serão representados pelo


defensor do réu que responsa pelo facto de que emerge a responsabilidade civil (n. 5 do art. 67
do C. Estrada).

Se não dispuser de elementos bastantes para fixar a indemnização, o tribunal, oficiosamente ou a


pedido de quem for devida a indemnização antes de proferida a sentença final em 1 instancia,
condenada no que se liquidar em execução de sentença. Neste caso, a execução corre perante o
tribunal civil, servindo de título executivo a sentença penal (& 3 do art. 34 do CPP).

*******
6. O PROCESSO
6.1. OS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

6.1.1. Conceito: Etiologicamente, pressuposto indica algo de preexistente, em processo


penal significa “condição de procedibilidade’, para designar em regra os pressupostos do
exercício da acção penal e, portanto, factos antecedentes e não posteriores aquele exercício.

Pressupostos processuais são requisitos que devem verificar-se para que se possa proferir-se no
processo, ou uma decisão de mérito, ou qualquer decisão meramente processual. Estes referem-
se ao processo no seu todo, ou a uma fase do processo, afectam a prossecução do fim último do
processo.

Deste modo, a noção de pressuposto é susceptível de abranger categorias jurídicas diferenciadas;


diferenciadas quanto aos factos jurídicos a que se reportam e cujos efeitos condicionam, quer
quanto a extensão dos efeitos jurídicos que deles dependem.

Assim os pressupostos processuais classificam-se: pressupostos processuais positivos e


negativos; pressupostos relativos aos sujeitos processuais e pressupostos relativos ao objecto do
processo.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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A. Pressupostos processuais positivos e negativos

Em técnica legislativa os pressupostos podem ser enunciados de maneira positiva ou negativa,


indicarem-se os factos que constituem (pressupostos positivos) ou a falta desses factos
(pressupostos negativos).

A competência do tribunal ou a legitimidade das partes são pressupostos positivos, enquanto a


incompetência ou a ilegitimidade serão de denominar-se pressupostos processuais negativos.

O CPP enumera alguns pressupostos por forma negativa, empregando para os designar a
expressão excepções.

Como tais considera no art. 138, a incompetência do juiz, litispendência, o caso julgado e a
prescrição. Situação similar surge a propósito da ilegitimidade do MP ou das partes (art. 101) e a
alienação mental (art. 125).

Conclusão: não há em processo penal, em geral, excepções substantivas, pois que o tribunal deve
sempre conhecer oficiosamente de todos os requisitos positivos e negativos das infracções, tanto
dos factos constitutivos como dos extintivos ou impeditivos de responsabilidade penal; as
excepções de ordem processual (puramente processuais ou materiais) não se diferenciam, no seu
regime jurídico, dos restantes pressupostos processuais.

B. Pressupostos relativos aos sujeitos processuais: tribunal ou juiz, MP; Arguido e


Assistente (matéria já abordada anteriormente)

C. Pressupostos relativos ao objecto do processo

Os pressupostos relativos ao objecto reconduzem-se ao princípio de que o objecto do processo


não deve ter sido nem é objecto dum outro processo. Ora isso pode acontecer quer em relação ao
objecto na sua totalidade, ou apenas em parte.

O que é o objecto? Em que consiste?

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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O objecto do processo traduz o facto161 ou o conjunto de factos concretos analisados na sua


existência real, os quais serão verificados e eventualmente imputados ao arguido no processo.

Com que finalidade procedem a delimitação do objecto do processo?

Pois pretendemos que ele se mantenha idêntico no decurso do processo a fim de garantir duas
coisas: a defesa do próprio arguido e o respeito do principio ―nebis in idem‖ evitando que se
puna duas vezes uma mesma pessoa.

Quando é que se fixa o objecto do processo?

A delimitação do objecto do processo é progressiva.

Na fase da IP o objecto do processo é susceptível de inúmeras variações. O facto pode


sucessivamente apresentar uma configuração diferente e a imputação tanto pode dirigir-se a
sujeito indeterminado como atingir sucessivamente vários suspeitos.

Na fase da acusação e da defesa convêm que se tenha presente um princípio próprio da estrutura
acusatória que é o ―princípio acusatório‖.

Que significa principio acusatório? Significa que o tribunal só pode conhecer, em princípio,
daquilo que vem da acusação.

Ora determinado objecto do processo na acusação ele tem de permanecer rigorosamente o


mesmo ate ao trânsito em julgado da sentença condenatória. Só que isto não parece ser praticado.
É que enquanto o princípio acusatório exige em homenagem a defesa do arguido a identidade do
objecto, o princípio da investigação exige a unidade e indivisibilidade do objecto do processo em
homenagem aos valores de economia e celeridade processuais, de justiça material e de
aproveitamento da prova produzida, objectivos estes pelo menos em termos imediatos alheios a
defesa.

Para conciliar estas duas situações há que adoptar uma solução de compromisso que se baseia na
ideia de que em matéria de objecto do processo nem todas as divergências são relevantes e
havendo outras questões que não sendo relevantes nem sempre determinam uma alteração

161
Termo que é utilizado pela lei para referir o crime.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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substancial da acusação que tanto pode ser a acusação do MP como do assistente pode ser
alterada quer pela acusação quer pelo despacho de pronuncia. Poderá dizer-se que com a
introdução do feito em juízo fixa-se ―provisoriamente‖ o objecto do processo e com a pronúncia
fixa-se ―definitivamente‖ o objecto do processo.

O que acontece na fase de julgamento?

O mesmo pode acontecer com a sentença (nela a pronuncia ou acusação pode sofrer alterações).
O importante é sempre salvaguardar que essas alterações não impliquem uma ultrapassagem pelo
juiz dos seus poderes de cognição.

Estes poderes de cognição e decisão do tribunal estão, em princípio, limitados, pelo que o juiz
não pode considerar (em principio), factos que não estiveram anteriormente na pronúncia, ainda
que no decurso do julgamento adquira conhecimentos de factos que revista natureza criminal e
mesmo quando não tenha dúvidas quanto a sua ocorrência, o processo não poderá ser na sua
factualidade modificado pelo juiz do julgamento162.

Com o trânsito em julgado da sentença condenatória o juiz de probabilidade emitido no despacho


de pronúncia transforma-se em juízo de certeza sobre o objecto do processo.

Qual é o grau de mutação que é tolerado? Quais são os grau de maleabilidade que o objecto
do processo comporta?

Quanto a qualificação jurídica dos factos:

Art. 351 do CPP (fase de acusação e da defesa) – há alteração substancial da acusação.

A necessidade de controlo da actividade do MP pelo juiz permite que em sede de acusação e


desde que respeitados o principio acusatório, o juiz, partindo da mesma base instrutória inclua na
pronuncia factos ausentes da acusação desde que dai não resulte uma alteração substancial da
acusação.

A questao reside em saber quando é que a divergência entre o objecto da acusação e a


pronuncia altera substancialmente a acusação?

162
N. 5 do artigo 98 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Da análise do art. 351 do CPP parece resultar que a alteração da acusação só poderia ser
qualificável de substancial se os seus fundamentos assentarem em factos diversos e na
divergência quanto a qualificação, ainda que neste ultimo caso tivesse como consequência a
aplicação de uma diferente formam de processo. Assim, quando os factos que o juiz entendesse
estarem provados fossem diferentes aproveitam uma alteração substancial da acusação, logo o
juiz não poderia lavrar pronúncia por tais factos, devendo devolver o processo ao MP163.

Mas se apenas a qualificação jurídica for diversa, ainda que mais grave ou por um crime
diferente, a divergência não consubstancia uma alteração substancial da acusação. E isso pode
ocorrer se o tribunal incluir na pronuncia factos que unicamente acarretam a modificação da
acusação quanto: ao título da responsabilidade; aos inter-crimes.

―se a acusação é de factos y e z, a pronuncia não pode ser xx (ou devolve o processo ao MP)‖.

Na fase de julgamento

Temos factos da pronúncia versos sentença.

Aqui a apreciação jurídica dos factos é livre, logo, o tribunal tem a liberdade para proceder a
diversa qualificação jurídica dos mesmos, ainda que para infracção mais grave, desde que os
factos permitam essa diferente qualificação, sejam constantes do despacho de pronuncia ou
equivalente, e desde que se respeite a competência do respectivo tribunal164.

Seria mesmo contraditório do principio acusatório afirmar que com base nos mesmos factos o
tribunal tenha de sujeitar-se a uma errada qualificação jurídica.

A condenação (art. 447) por infracção diversa daquele pelo qual o réu foi pronunciado pode ser
mais grave, mas tem de obedecer a certos limites:

Esses factos têm de constar do despacho de pronúncia; mas provados em audiência de


discussão e julgamento;

A condenação só pode abranger em pena compreendida na competência do tribunal;

163
Corpo do art. 351 do CPP.
164
Art. 447 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

108
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A condenação só pode ser por crime a que caiba ou a mesma forma de processo ou ao
processo menos solene

Excepções – art. 447 do CPP

Em princípio o juiz na fase da audiência de julgamento aprecia os factos contidos na pronúncia


(esta é a regra). Excepção (2):

O tribunal pode apreciar factos que resultem directamente da pronúncia. Mas tal acontece
quando esses factos visarem diminuir a pena ou diminuir a responsabilidade penal sobre o
arguido - Art. 446 CPP.

Possibilita o conhecimento de outros factos resultantes da discussão da causa ainda que não
tenham sido alegados pela defesa, desde que possa diminuir a responsabilidade ou diminuir a
pena.

Ou se foram alegados pela defesa esses factos. A primeira parte é a mesma que vem na
primeira excepção - 448 CPP.

FUNDAMENTOS: BELEZA DOS PROFESSORES

A razão de que o réu não dever surpreendido por uma imputação de novos factos, sem lhe ter
dado o tempo devido para contra eles organizar a sua defesa e apresentar a sua prova – razão que
justifica o principio de que a condenação não ter lugar por facto não acusados – perde toda a sua
forca nesta hipótese???\‖Se é o próprio réu que alega esses factos não existe uma imputação feita
de surpresas contra ele mas uma defesa que ele mesmo deduziu e se habilitou por..‖

Os factos que se reconduzem ao objecto do processo e que admitem a convolação são:

Factos que se traduzem em circunstancias atenuantes (excepcionalmente podem admitir-se as


circunstancias agravantes da reincidência ou da sucessão por serem circunstancias que se
consideram em geral documentalmente comprovadas 165;

165
$ 2 do art. 447 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Os factos que determinam uma diminuição no grau do crime, p.e, se o crime em vez de
consumado foi apenas tentado ou frustrado166;

Os factos que acarretam uma menor responsabilidade pela alteração da forma de


participação.

E se o juiz descobrir outro crime no mesmo processo, crime diferente do que esta a analisar?
Depende da natureza do crime descoberto para a abertura do novo processo (se é publico – o
MP tem iniciativa; se particular – os interessados: caso nenhum desses se manifeste então
não se abrira novo processo e o arguido não será acusado por aquele crime – art. 444 – ou o
tribunal remete para outro juiz em caso de incompetência sobre aquele crime descoberto,
anexando-se a certidão do primeiro crime praticado e julgado ao processo doutra infracção).

Assim, analisado o objecto do processo, cabe agora analisar outros pressupostos que nesta
rubrica importa enumerar: a litispendência, o caso julgado, a prescrição e as questões
prejudiciais.

6. 1. A litispendência

Se a causa se repete estando a anterior ainda em causa, há lugar a litispendência167. O fim que se
pretende através da litispendência é evitar que o tribunal seja colocado na alternativa de
contradizer ou reproduzir a decisão anterior.

A litispendência é pendência da lide perante o tribunal. O seu inicio é marcado pela introdução
do feito em juízo. Pela acusação ou pelo recebimento da acusação? Parece que pela acusação,
pois que esta sujeita à jurisdição a causa penal. Antes do processo estar pendente em juízo não
há, no sentido rigoroso da palavra litispendência.

Os efeitos da litispendência são restritos. Não conduz a absolvição da instância, determina tão-
somente a suspensão do processo ate que se averigúe em que tribunal deve o processo ter
andamento168.

166
Art. 495 do CPP
167
N. 1 do art. 497 do CPC
168
Art. 146 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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Da litispendência resulta assim a suspensão do processo, apôs o despacho de pronúncia, com a


excepção de que o despacho de pronúncia é exequível no que respeita a privação da liberdade do
arguido. Nos processos, em que há despacho de pronúncia, o processo se suspende apôs o termo
da instrução.

Se no outro processo ainda não há pronúncia, o processo não se suspende, mas levantar-se-á a
questao da competência169. Quer dizer, normalmente a litispendência resolve-se, sem autonomia
própria, através da questao de competência ou do conflito de competência dos tribunais em que
os processos pendem, e sem atribuir preferência a prevenção de jurisdição, isto é, ao tribunal
perante o qual primeiro foi introduzido o feito penal. Nenhum dos processos se extingue, pois
que o processo do juízo incompetente é remetido para o juízo competente.

Se ambos os despachos de pronúncia já foram proferidos nos dois processos quanto ao mesmo
facto e ao mesmo arguido, valera o primeiro proferido; mas se o objecto dum despacho de
pronuncia é mais extenso que o outro, parece que no segundo se deve considerar incluído o
primeiro, de sorte que será aquele que prevalecera, desde que já não é permitida nova acusação
ao MP pelos factos omissos no primeiro despacho de pronuncia.

Pode finalmente, verificar-se litispendência entre acções civis e penais 170. A jurisdição penal tem
primazia sobre a jurisdição civil, de sorte que em processo penal podem julgar-se todas as
questões civis indispensáveis para a decisão do feito penal pode, porem, ser objecto dum
processo civil autónomo. Em tal caso verificar-se-á litispendência. Questão que tem solução a
propósito do problema das questões prejudiciais.

6. 2. Caso julgado

Diz-se que se forma caso julgado quando uma decisão judicial adquire forca obrigatória por dela
não se poder já reclamar nem recorrer por via ordinária.

169
$ único do art. 146 do CPP
170
Artigo 147 do CPP.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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Em processo penal dizer-se que uma sentença transitou em julgado ou constitui caso julgado não
significa que ela seja sempre definitivamente imutável: ha casos em que são admissíveis os
recursos extraordinários de revisão ou de fixação de jurisprudência.

Costuma-se distinguir-se o caso julgado em caso julgado formal e material.

O caso julgado formal respeita ao efeito da decisão no próprio processo em que é proferida. A
irrecorribilidade de decisões judiciais irrevogáveis tem por efeito a sua definitividade e a sua
exequibilidade. Quer dizer, esgotou-se no respectivo processo quanto a matéria da decisão o
poder jurisdicional, e ficou autorizada a execução da decisão.

A irrevogabilidade seria, porem, ilusória se ao carácter definitivo da decisão no processo em que


é proferida não correspondesse um impedimento a renovação da apreciação judicial sobre a
mesma matéria em novo processo.

O caso julgado material consubstancia a eficácia da decisão proferida relativamente a qualquer


processo ulterior com o mesmo objecto.

O caso julgado material tem assim uma função negativa: non bis in idem. E é este caso julgado
material a apor como excepção, em ulteriores processos, que importa analisar como pressuposto
processual negativo.

O efeito de caso julgado material, enquanto oponível em outros processos, não respeita a simples
decisões processuais, mas a decisões de mérito.

6.2.1. Caso julgado absolutório

Referem-se-lhe os preceitos dos arts. 148, 149 e 150 do CPP.

O art. 151 e & único do art. 148 igualmente se reportam a decisões com trânsito em julgado, não
obstante, não são de tratar a propósito da “exceptio judicati”, pois que o trânsito em julgado
incide sobre o despacho de pronúncia ou despronúncia, ou outras decisões interlocutórias. O
trânsito em julgado só equivale, então ao impedimento de prosseguimento do mesmo processo,
com idêntica prova, e será ladeado pela reabertura da instrução no mesmo processo.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

112
Lições de Direito Processual Penal 2013
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O art. 148 dispõe que ―se em processo penal se decidir por acórdão, sentença ou despacho
com trânsito em julgado que os factos constantes dos autos não constituem infracção ou
que a infracção penal se extinguiu quanto a todos os agentes, não poderá propor-se nova
acção penal pelos mesmos factos contra pessoa alguma”.

O art. 149 determina que “quando por acórdão, sentença ou despacho, com transito em
julgado, se tenha decidido que um arguido não praticou certos factos, que por eles não e
responsável ou que a respectiva acção penal se extinguiu, não poderá contra ele propor-se
nova acção penal por infracção constituída, no todo ou em parte, por esses factos, ainda
que se lhe atribua comparticipação de diversa natureza”.

Finalmente o art. 150 reza assim: “Se um tribunal absolver um réu por falta de provas, não
poderá contra ele propor-se nova acção penal por infracção constituída, no todo ou em
parte, pelos mesmos factos por que respondeu, ainda que se lhe atribua comparticipação de
diversa natureza”.

O caso julgado absolutório pode resultar de acórdão, de sentença ou de simples despacho. Pelo
contrário a condenação só é possível por acórdão ou sentença. É que, para condenação, exige-se
toda a tramitação processual e após, em regra, uma dupla instrução, instrução preparatória e
instrução em audiência. Não há condenação sem audiência de discussão e julgamento.

Pelo contrário, a absolvição pode surgir abruptamente no decurso do processo, se mostrarem


verificados os factos que devem determina-la, independentemente da audiência de discussão e
julgamento da causa. Tem lugar então uma antecipação da decisão, no andamento normal do
processo.

O despacho absolutório tem, em tais casos, a natureza de sentença final, e por isso o caso julgado
absolutório tanto é efeito de acórdão ou sentença como dos despachos que reconheçam a
inocência do arguido.

Efeitos do caso julgado absolutório:

Se a decisão judicial decidiu que os factos constantes dos autos não constituem
infracções ou que a acção penal se extinguiu quanto a todos os agentes (art. 148), o caso

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

113
Lições de Direito Processual Penal 2013
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julgado absolutório tem efeito ―erga omnes”, isto é, o mesmo facto não pode em nova acção
ser imputado, não apenas ao arguido absolvido, mas a qualquer terceiro.

Trata-se de causas objectivas de inexistência da infracção, quer porque se entendeu que os


próprios factos materiais não tiveram existência real (embora tal hipótese não esteja
expressamente contemplada, por maioria de razão equivale a de os factos verificados não
constituírem infracção), quer porque se decidiu imputados, embora materialmente existentes,
não são subsumíveis a uma norma penal, não constituindo um crime, quer porque se julgou
que o direito de acção penal, ou de perseguição dos factos em juízo, se extinguiu por causa
objectiva, e não apenas relativamente a determinado agente desses factos.

Os fundamentos da absolvição, em todas estas hipóteses, afectam o facto em sim mesmo,


independentemente do seu agente.

Se a decisão judicial julgou que ―um arguido não praticou certos factos, que por eles não
é responsável ou que a respectiva acção penal se extinguiu” – art. 149, o caso julgado não
tem efeito senão relativamente ao próprio arguido.

O fundamento da absolvição é de natureza pessoal; a decisão exprime a certeza de que


determinado arguido não praticou certos factos, ou que, tendo-os praticado, não é por eles
juridicamente responsável, ou ainda que, quanto a ele, se extinguiu o direito de acção penal
pelo MP, de sorte que não pode, ainda relativamente a ele, a matéria do processo ser objecto
de jurisdição.

Se a decisão judicial absolveu o arguido por falta de provas (art. 150), as consequências
são as mesmas da absolvição fundada em razão de natureza pessoal. O caso julgado não
se estende a terceiros.

Há, portanto, que contrapor a absolvição por fundamentos que levam a certeza da
inexistência do facto, ou da sua não subsunção a uma norma incriminadora, ou que exprimem
a extinção da acção penal, quanto ao facto objectivamente considerado, isto é,
independentemente do seu autor, e a absolvição por fundamentos que levam a certeza de não
imputação do facto a determinado arguido, ou da extinção da acção penal, só quanto a esse
arguido.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

114
Lições de Direito Processual Penal 2013
Criado por UserL

A esta ultima hipótese e quanto a extensão do caso julgado absolutório quanto as pessoas, se
equipara a absolvição por falta de provas, quer respeitantes aos factos, quer a imputação dos
factos.

6.2.2. Caso julgado condenatório

―A condenação definitiva proferida na acção penal constituirá caso julgado, quanto a existência e
qualificação do facto punível e quanto a determinação dos seus agentes, mesmo nas acções não
penais em que se discutem direitos que dependam da existência da infracção‖ 171.

Em primeiro lugar verifica-se que o preceito alude a condenação definitiva, o que evidentemente
equivale a sentença com trânsito em julgado, não compreende nem faz referência a despachos,
porque a decisão condenatória só pode constar de sentença ou acórdão, como já foi dito.

O art. 153 é pouco claro, quanto a extensão do caso julgado a terceiros. A dúvida não respeita
aos efeitos reflexos, naturalmente existentes, mas ao efeito ―erga omnes” similar ao que
mostramos ser o do caso julgado absolutório previsto no art. 148 do CPP.

O caso julgado condenatório não tem efeito ―erga omnes” de certa espécie de caso julgado
absolutório.

Pode assim acontecer que em nova acção penal sejam perseguidos cúmplices ou outros autores
do mesmo facto que motivou a condenação de um autor do crime, se tempestivamente se não
procedeu a junção de processos.

A defesa do arguido no novo processo não estará então de modo algum, limitada pelo obstáculo
do caso julgado, nem quanto a extensão, nem quanto a qualificação do facto punível imputado ao
anterior condenado. A eventual inconciliabilidade das duas decisões sucessivas seria somente
motivo de revisão da sentença172.

Limites objectivos do caso julgado; a identidade do facto “eadem res”

171
Art. 153 do CPP.

172
Art. 673, n. 1. do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

115
Lições de Direito Processual Penal 2013
Criado por UserL

Enquanto se estuda o caso julgado como impedimento a uma nova apreciação do mesmo objecto
em outro processo, o problema mais importante é sem dúvida demarcar os limites do caso
julgado, indicar a extensão do caso julgado, que forma ao mesmo tempo o conteúdo da proibição
de “non bis in idem”.

Em que consiste este ―idem”?

Costuma desdobrar-se a questao da determinação da identidade das pessoas ―eadem personae”,


e identidade do facto ―eadem res”.

A identidade das pessoas demarca os limites subjectivos, a identidade do facto, os limites


objectivos do caso julgado.

Que deve entender-se por ―mesmo facto‖, em relação ao qual não é admissível a instauração de
novo procedimento penal, quer quanto a todos173, quer quanto aqueles aos quais foi imputado em
juiz?

Poderia parecer que o facto efectivamente apreciado na decisão é o mesmo facto que constitui o
objecto do caso julgado. Mas não é assim. O impedimento da nova apreciação jurisdicional esta
logicamente correlacionado com a extinção da possibilidade de apreciação jurisdicional. Tanto
como o conhecimento efectivo pelo tribunal na decisão de determinado facto, interessa a
possibilidade, e por isso o dever de apreciação jurisdicional de qualquer facto. Desta maneira a
maior extensão do caso julgado, em relação aos factos objecto específico da sentença, revela-se
na circunstância de se considerar esgotado o poder jurisdicional quanto a outros factos que
poderiam ter sido conhecidos ou apreciados jurisdicionalmente.

O que se deve entender por identidade do mesmo facto em relação ao qual não é admissível a
instauração de novo procedimento criminal ou penal.

Não será certamente a mesma identidade de facto determinada na correlação entre a pronúncia e
a sentença?

Ora o caso julgado o ambito do processo é mais amplo. O arguido.

173
Art. 148 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

116
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Os ambito do caso julgado abarca factos novos que tenham um valor modificativo sobre a
infracção quer esses factos novos agravem ou diminuem a responsabilidade (sempre que esses
factos novos não possam ser autonomizáveis). ex: o furto com ou sem violência. Ora, na
audiência de discussão e julgamento prova-se que houve violência. Ora este facto novo é
autonomizável – abre-se então novo processo.

Assim o caso julgado não abarcara a violência, pois ela é apreciável autonomamente.

6.4. Prescrição

Enumera, ainda o CPP, entre as excepções, a prescrição (art. 138, n. 4). Os termos, prazos e
efeitos da prescrição e as causas da sua interrupção são os estabelecidos na lei penal, consoante
dispõe o art. 155 do CPP.

O CPP só regulamenta directamente a forma de a deduzir e julgar.

A matéria da prescrição esta muito deficientemente prevista e a sua natureza jurídica é


controvertida.

O art. 125 do CP distingue a prescrição do procedimento criminal da prescrição da pena.

O prazo da prescrição é diferente consoante a gravidade da infracção a que se refere a acção


penal.

E assim, prescreve o procedimento criminal em 3 (três) anos, se ao crime for aplicável pena
maior e passados 2 (dois) anos, quanto a contravenções.

Nos crimes particulares e quase públicos, a acção pública depende de acusação ou participação
particular. A lei concede um praza para efectivação deste direito dos particulares, findo o qual se
extingue. O & 3 do art. 125 do CP dispõe, na verdade, que, se para haver procedimento criminal
for indispensável a queixa do ofendido ou de seus parentes, prescrevera o direito de queixa
passados dois anos, se ao crime corresponder pena maior, e passado um ano, se a pena
correspondente ao crime for correccional.

A prescrição do direito de queixa impede o exercício da acção penal publica, e indirectamente


extingue assim a faculdade do seu exercício. Literalmente o & 3 do citado art. 3, refere-se

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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apenas a queixa, e nos termos do art. 6 do CPP e art. 3 do DL 35007, a queixa é uma das formas
utilizadas pela legislação para indicar a exigência de denuncia particular como pressuposto do
exercício da acção penal do MP. Podia parecer que o & 3 do art. 125 do CP não abrange a
prescrição do direito de acusação nos crimes particulares, ao qual se refere o art. 7 do CP e 4 do
DL n. 35007. Deve contudo, interpretar-se extensivamente o mesmo $ 3 do artigo 125 de modo a
abranger tanto a denuncia nos crimes quase públicos, como a acusação nos crimes
particulares174.

6.4.1. Contagem dos prazos

Os prazos de prescrição do procedimento criminal contam-se desde a data do crime, ou da data


do último acto judicial que é respeitante, se a ele houver lugar.

O acto judicial interrompe assim a prescrição. A este respeito as legislações seguem


fundamentalmente dois sistemas: ou a interrupção se verifica mediante a prática de qualquer acto
de instrução ou prossecução processual, ou se verifica somente mediante a prática dum acto de
jurisdição no processo.

O nosso Código exige um acto judicial; não obstante a enorme flutuação de opiniões
interpretativas parece dever enquadrar-se no segundo sistema indicado. O acto tem de ser um
acto da competência do juiz no processo. Esclarece ainda a lei que os mandados de captura,
embora actos de juiz não são interromptivos de prescrição.

Deveria tirar-se desta limitação, ilação procedente quanto a definição de actos judiciais para este
efeito; serão actos judicias os actos do juiz que movimentem o processo, tenham em relação a
este carácter determinante, e não simples actos de expediente formal, e sobretudo se apenas
dirigidos ao fim de interromper a prescrição.

Os actos de instrução do MP não suspendem a prescrição. E muito menos os actos de instrução


praticados ilegalmente por outras autoridades.

174
Cfr. Assento do STJ 24/4/54

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

118
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Interrompe-se o decurso do prazo da prescrição pela prática de qualquer acto judicial no


processo, mas após a designação do dia para o julgamento só a notificação pessoal do réu ou a
sua captura interrompe a prescrição175.

6.5. Processamento das excepções

Os pressupostos processuais, quer se trate de pressupostos positivos ou negativos, respeitem a


relação jurídica processual. São questões prévias. Em processo civil, a sua apreciação, tem lugar
determinado na marcha do processo: normalmente deverão ser conhecidas no despacho saneador
e depois de, através deste, se regularizar o próprio processo é que tem lugar verdadeiramente a
instrução e julgamento.

Diferentemente sucede em processo penal. Das questões prévias conhecem-se logo que sejam
arguidas ou sejam notadas oficiosamente. Embora o art. 45 do DL 35007 determine que delas se
deve conhecer no despacho de pronúncia, ficando só para a decisão final a apreciação daquelas
de que não possa conhecer-se então, não há em processo penal quanto às questões prévias uma
percepção no que respeita à sua apreciação. O comando legal é um ordenador, mas não acarreta a
sanação da questao previa a circunstância de não ter sido apreciada quer no despacho de
pronúncia, quer na sentença.

Por outro lado, também não há que aguardar um determinado momento processual para
conhecimento e apreciação dos pressupostos processuais. As considerações de sistematização
formal do processo não se sobrepõem a conveniência da imediata intervenção judicial para
regularização do próprio processo.

É isso o que expressamente se estabelece, quanto às excepções, no art. 140: as excepções serão
deduzidas ou conhecidas ―em qualquer altura‖ do processo ate decisão final (somente quanto a
incompetência territorial a sua dedução ou declaração só pode ter lugar ate o dia em que se
realizar a audiência de julgamento em 1 instancia - & 1 do art. 140 do CPP).

O processamento da excepção enxerta-se no andamento do processo em qualquer altura;


deduzida por qualquer das partes ou assistentes ou conhecida oficiosamente, aqueles devem

175
Art. 584 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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desde logo oferecer as respectivas provas, como o juiz poderá ordenar as diligências probatórias
necessárias.

Sobre o requerimento das partes deve ser ouvida a parte contrária que pode alegar o que se lhe
oferecer no prazo de dois dias (&3 do art. 140); parece que, se a excepção não foi deduzida, e
antes foi levantada oficiosamente pelo juiz, este devera ouvir, no mesmo prazo, ambas as partes,
se representadas no processo. Segue-se a produção da prova. Esta em princípio pode ser toda a
prova admissível em juiz.

Mas há limitações quanto à produção da prova que importa anotar.

A prova testemunhal não devera exceder três testemunhas por cada facto e só tem lugar em
primeira instância; por isso se a dedução tem lugar em segunda ou ulterior instancia, não pode
haver produção de prova testemunhal específica. Em primeira instancia o oferecimento da prova
testemunhal tem que ter lugar com a antecedência necessária para que possa ser notificada as
partes ate três dias antes daquele em que se realiza a audiência de julgamento (art. 152)
porquanto o ultimo momento em que tal produção de prova nas excepções é admissível é na
própria audiência de discussão e julgamento, antes de ouvidas as testemunhas relativas ao feito
penal (& 1 do art. 142)

A prova por exames ou vistorias não pode ser requerida pelas partes, mas parece que em razão
dos termos do art. 141 poderá o juiz oficiosamente ordena-las.

Quanto as excepções de litispendência e caso julgado a prova, conforme com a natureza das
excepções, será sempre exclusivamente documental (& único do art. 141)

Produzida a prova, o tribunal conhecera imediatamente da excepção (art. 143). O imperativo


desta disposição dever ser entendido habilmente. Como se verifica do art. 400 & 1 do CPP e 45
do DL n. 35007, o tribunal pode deixar o conhecimento da excepção para a decisão final, se tal
for necessário. Normalmente, porem, a decisão sobre questões prévias terá lugar a medida que
elas são levantadas, sem preocupação de simultaneidade na sua apreciação.

Questões prévias podem ser já levantadas durante a instrução preparatória como a legitimidade
do MP, do assistente, etc. Tais questões são da competência do juiz de direito. Evidentemente
que tratando-se de excepções que determinem o MP a abstenção de acusar, como sucede com o

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

120
Lições de Direito Processual Penal 2013
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caso julgado ou prescrição, pode o MP seguir directamente esse caminho. Essa abstenção, como
é óbvio, não tem, contudo, efeito de caso julgado pois não se trata de decisão judicial.

De toda a maneira, é obrigatório para o juiz, quando toma pela primeira vez conhecimento do
processo, verificar a sua inadmissibilidade e atentar por isso directamente naqueles pressupostos
sem os quais o processo não deve seguir. Mas a omissão da verificação definitiva da sua
inexistência não impede por isso que ela seja deduzida ou conhecida oficiosamente, em momento
ulterior.

Assim, as excepções são conhecidas ao longo da marcha do processo introduzidos neste sem
lugar ou tempo predeterminado e importa, em principio, decidi-las logo que levantadas.

******

7. OS ACTOS176 PROCESSUAIS

Noção:

Qualquer definição clara e suficientemente precisa do que se entende por acto processual não é
tarefa fácil e simples.

Segundo Pontes de Miranda, define acto processual ―como qualquer acto que tenha importância
para a relação processual, ou porque constitua, ou porque conserve, ou porque estenda, mova,
modifique, defina ou desfaça relação processual‖177.

No seu Parecer n. 23/94, de 26.12.95, in pareceres, VI, pags. 63 e segts a Procuradoria-Geral da


Republica de Portugal, caracterizou o acto como sendo ―toda a acção, comportamento ou
actuação praticada no processo, ou em vista do processo‖, constituindo ―a dinâmica processual
enquanto unidade perspectivada pelo fim da realização do direito e objectivo da efectivação da
justiça‖178

176
Acto jurídico é o facto voluntario que produz em atenção a vontade que exprime efeitos de direitos.
177
A Acção Rescisória, 1934, pag. 225, citado por ….pag. 147
178
Ob. Cit. Pag. 147

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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Concluindo, acto processual é tudo o que é feito no processo com vista ao seu regular
desenvolvimento, quer o seja pelas autoridades judiciais, pelas autoridades da polícia de
investigação criminal, pelos funcionários judiciais ou pelos órgãos de policia criminal, e quer
seja escrito ou oral.

Auto é o instrumento destinado a fazer fé quanto aos termos em que se desenrolam os actos
processuais e aos quais tiver assistido quem os redige, bem como a recolher as declarações,
requerimentos, promoções e actos decisórios orais que tiverem ocorrido perante aquele, tem por
funções características a realização de diligências processuais e a produção de efeitos de carácter
substancial, quando tais efeitos não dependem unicamente da vontade das ―partes‖,
acrescentando que o ―auto reserva-se para os actos de maior importância e para factos de maior
gravidade‖; enquanto o termo usa-se predominantemente para exprimir a declaração de vontade
das partes e para estes exercerem certos poderes processuais.

Acta é a designação dada pela lei ao auto onde se relata o ocorrido na instrução preparatória e na
audiência de discussão e julgamento.

7.1.Classificacao dos actos processuais

Os actos processuais classificam-se segundo os seguintes critérios:

Quanto a sua função no processo, temos actos finais e actos instrumentais, sendo que os actos
finais, serão aqueles que consubstanciam o fim do próprio processo e se resolvem normalmente
numa decisão, que poderá ser ou não sancionatória (v.g. sentença que pune o arguido ou que o
absolve) enquanto os actos instrumentais são os que preparam ou colocam os meios idóneos
para tornar possível aquela finalidade. Nestes podem distinguir-se os actos de governo
processual ou de gestão processual, são os destinados a ordenar ou regular o processo, isto é, os
que tem a ver com o desenvolvimento do expediente, pondo-o em condições de prosseguir,
marcam a direcção ou o rumo do processo e tanto podem provir do juiz como dos restantes
sujeitos processuais; actos de aquisição são aqueles mediante os quais se adquirem os elementos
materiais, provas ou argumentos necessários a realização do seu fim. Os elementos assim
adquiridos são objecto de actos de elaboração para integrar aqueles elementos no processo para
que possa através deles atingir-se o fim a que se destinam; e os actos de verificação processual
são já actos determinantes, relativamente ao objecto do processo, traduzindo-se no resultado da

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

122
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sujeição do arguido ou na sua liberação do processo: são, pois, os actos mais importantes, entre
os actos instrumentais

Quanto ao seu conteúdo os actos processuais, classificam-se atendendo aos seus efeitos
jurídicos ou a sua estrutura.

Quanto aos seus efeitos jurídicos, os actos processuais podem ser actos principais e actos
secundários ou acessórios. Os principais subdividem-se ainda em constitutivo e extintivos e os
acessórios em impeditivos e modificativos.

Em razão da sua estrutura, os actos processuais subdividem-se em actos materiais e


declarações.

Quanto a declarações, a distinção far-se-ia entre declarações de vontade (que são as que se
dirigem “a produção de determinado efeito jurídico”; simples declarações voluntárias – em que
“a vontade cobre apenas a própria declaração e não se dirige a um efeito jurídico – por
exemplo, questionário aos peritos a testemunhas‖ e declarações de ciência – quando exprimem o
conhecimento sobre determinados factos ou materiais, exteriorizando, não o que se quer, mas o
que se sabe e actos materiais (os que produzem efeitos processuais através da alteração de
situações de facto – ex: a apreensão de prova ou a execução de mandados de captura).

Finalmente o critério dos agentes que praticam o acto. Distinguem-se, deste modo, actos judiciais
(v.g., actos do juiz, do MP, da secretaria) e actos não judiciais (como sejam os actos dos
particulares).

7.1.2. Validade e eficácia dos actos processuais – nulidades e irregularidades processuais

Os actos processuais que são dirigidos ao tribunal, visam provocar uma reacção destes e os se
pronunciam sobre o merecimento daqueles ou os que parte da própria iniciativa publica só tem
relevância no processo se obedecerem aos requisitos que a lei previamente define. Sendo
portanto susceptível de sofrer imperfeições ou males, que podem ir da inexistência jurídica ate a
mera irregularidade ate a nulidade.

Diz-se que um acto é inexistente quando sofre de um mal incurável que impossibilita a sua
sobrevivência na ordem jurídica (ex: a sentença subscrita por quem não esta investido na

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qualidade de juiz, por quem deixou de ser juiz ou, sendo-o, não tem jurisdição relativamente ao
processo em que essa mesma sentença foi proferida; indevida composicao do tribunal, etc.).

O acto inexistente não produz efeitos jurídicos, porque lhe falta algum elemento constitutivo (a
vontade, o fim a que se destina, a forma).

Em suma, o acto inexistente também não produz efeitos jurídicos por lhe faltar algum requisito
externo (a capacidade, a legitimidade, a idoneidade do seu objecto).

Diz-se “nulo é o processo a que falte um dos pressupostos de formação regular da instancia e
de desenvolvimento adequado da relação processual”, do mesmo modo que é nulo “o acto
processual a que falte formalidade que lhe constitua elemento essencial”.

Assim, as nulidades conforme a sua gravidade, classificam-se em:

Nulidades principais ou absolutas - Nulidades insanáveis;

As nulidades secundárias ou relativas - Nulidades sanáveis.

Nulidades principais ou absolutas (as referidas nos nºs. 4, 7 e 8 do artigo 98); designadamente:

a falta de nomeação de defensor ao réu, quando necessária;

a falta de numero legal dos juízes ou jurados nos julgamentos;

a discussão e julgamento da causa sem assistência do Ministério Publico ou sem a presença


do réu, quando a lei exija o seu comparecimento.

Estas nulidades são insanáveis e precisam de ser declaradas, contrariamente ao que acontece com
a inexistência.

As nulidades secundárias ou relativas (referidas no nºs. 1,2,3,5 e 6 do artigo 98, designadamente:

A falta ou insuficiência do corpo de delito e omissão posterior de diligencias que devam


reputar-se essenciais para o descobrimento da verdade;

O emprego de uma forma de processo nos casos em que a lei prescreve outra;

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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A falta de nomeação de intérprete idóneo ao réu, quando este não fale português e não o
compreenda ou não possa fazer-se compreender;

A falta de notificação do despacho de pronúncia, ou equivalente, ao réu e seu defensor;

A falta de entrega do rol de testemunhas de acusação ao réu ou seu defensor e a da entrega do


rol das testemunhas de defesa ao Ministério Publico e a parte acusadora ou seu advogado nos
prazos legais, quando a lei a ordenar.

Estas nulidades são aquelas que podem ser corrigidas ou supridas - quando cometidas antes de
transitar em julgado o despacho de pronuncia ou equivalente – 5 e 6 do mesmo artigo), podem
ser sanáveis nos termos dos respectivos &&, e devem ser objecto de conhecimento oficioso pelo
tribunal, ou sejam, precisam de ser declaradas.

Momento da arguição

Quando não tiverem sido sanadas, podem sê-lo, geralmente, em qualquer estado do processo, por
qualquer tribunal, mesmo de recurso, oficiosamente ou a requerimento dos interessados.
Exceptuam-se as nulidades do n. 2, quando consista no emprego de forma comum mais solene
em vez de outra menos solene, caso em que se poderá ser arguida ate ao dia em que se realiza a
audiência de julgamento e dos nºs. 5 e 6 que só podem ser arguidas ate ao interrogatório do réu
na audiência de julgamento.

Além das nulidades atrás referidas os actos processuais podem ainda sofrer de vícios menos
graves, são as chamadas irregularidades, que são os vícios menores dos actos processuais e que,
dada a reduzida relevância, não afectam a sua validade nem a produção dos respectivos efeitos
jurídicos, passando como que despercebidos se os interessados não requererem a declaração de
ineficácia.

Para que o acto ferido de irregularidade seja valido e produza efeitos, não é necessária a sua
sanação. Pelo contrário, só deixara de produzir efeitos se for invalidado, quer dizer, o acto
imperfeito só se torna ineficaz mediante intervenção dos interessados destinados a obter a
declaração dessa ineficácia. A irregularidade determina, pois, a anulabilidade do acto e não a sua
nulidade.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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8. A PROVA

8.1. Nocao

A possibilidade de imputacao, em concreto, a alguém da prática de um facto penal relevante


depende da producao da prova de que esse alguém praticou o evento.

Assim, a prova visa, fazer luz sobre o facto ou factos típicos de que há noticia, fornecendo ao
julgamento elementos que o habilitem a decidir se o acontecimento que se diz ter ocorrido, teve
lugar ou não, como e quando, que incidências criminais tem e quem contribuiu para a sua
eclosão.

Segundo Cavaleiro de Freitas, a prova é, pois, a actividade que se destina a ―demonstracao da


verdade dos factos, isto é, à justificacao da conviccao sobre a sua existência, enquanto eles
constituem pressupostos da aplicacao da lei, integrando ―o fundamento de facto da sentença,
quer absolutória, quer condenatória‖ e determinando ―a graducao da rresponsabilidade‖.

Porem, o conceito de prova em processo penal vai para alem das fronteiras da imediata e restrita
demonstracao da verdade dos factos. A prova entendida como actividade, é também garantia de
realizacao de um processo justo, de eliminacao do arbítrio, quer enquanto a demonstracao da
realidade dos factos não há-se procurar-se a qualquer preço, mas apenas através de meios lícitos,
quer enquanto através da obrigatoriedade de fundamentacao das decisões de facto permite a sua
fiscalizacao através dos diversos mecanismos de controlo de que dispõe a sociedade.

Em síntese, pode dizer-se que prova, enquanto actividade probatória ―é o esforço metódico
através do qual são demonstrados os factos relevantes para a existência d crime, a punibilidade
do arguido e a determinacao da pena ou medida de segurança aplicável.

8.2.Fim da Prova

Dispõe o artigo 341 do C.Civil que “as provas têm por função a demonstração da realidade dos
factos”. Demonstrar a realidade dos factos é alcançar um juízo de certeza sobre os mesmos
factos.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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A decisão judicial – meta a que o processo visa alcançar – consta de duas partes: a verificação
dos factos que condicionam a aplicação da lei e a aplicação da lei. O conhecimento profundo da
ciência jurídica é condição fundamental para se levar uma boa sentença. Mas não basta, para que
a mesma seja justa. Na verdade, a justiça da decisão assenta primordialmente na verdade dos
factos admitidos como pressuposto da aplicação do direito.

Ao fazer referência sobre o juízo de certeza, é necessário considerar duas realidades distintas: o
juízo lógico e o juízo histórico. O juízo lógico respeita a exactidão dum raciocino, duma
operação mental, conduz necessariamente a uma certeza absoluta. O juízo histórico reporta-se a
verificação dum facto e, por essa razão, pode não conduzir a um resultado seguro. Não acarreta
uma certeza absoluta, mas relativa, não uma certeza objectiva, mas uma opinião de certeza que
não esta, todavia, isenta de falhas. Dai resulta que, por vezes, do juízo histórico pode alcançar-se
como simples resultado, a dúvida.

O juízo lógico é hipotético, dá como verificadas certas premissas (os pressupostos do facto) e
incide sobre a relacionação daqueles com a conclusão.

O juízo histórico é um juízo real, tem por objecto aquelas premissas, não incide sobre uma
relacionação abstracta, mas sobre uma realidade concreta.

De um modo geral, a distinção entre juízo lógico e histórico corresponde a distinção entre o juízo
de direito e o juízo de facto. O juízo de facto é o juízo histórico.

Do que ficou dito extrai-se que a prova não conduz a certeza objectiva, a certeza absoluta.
Efectivamente, ela não esta ao alcance dos meios inseguros de que o homem dispõe. A única
meta possível é a certeza moral, a presunção da verdade, ou seja, a verdade relativa.

Deste modo, impõe-se, na busca da verdade material, a adopção de uma postura de humildade,
pois que o homem não logra alcançar totalmente o fundo das coisas, no reino da verdade. Por
isso, o esforço na sua busca nunca é desmesurado. Assim, a convicção terá de obter-se por um
caminho de prudência, já que o risco de erro esta sempre presente acompanhando a certeza
humana subjacente ao juízo histórico.

Temos, assim, que o fim da prova é a demonstração da verdade dos factos, alicerce da convicção
sobre a sua existência, os quais, por sua vez são o pressuposto da aplicação da lei.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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Em processo penal os factos que são o pressuposto da aplicação da lei penal constituem o
fundamento de facto da sentença, quer absolutória, quer condenatória, e determinam a graduação
da responsabilidade. São numa palavra, o crime nos seus elementos constitutivos essenciais –
quer positivos, quer negativos ou impeditivos – e nas suas circunstancias: e a personalidade do
agente do crime, na medida em que o facto criminoso não é algo de separável, nem mesmo em
abstracto, do seu autor.

8.3. Objecto da prova

O objecto da prova entende-se aquilo sobre que recai a prova, ou seja é o substracto material que
deve e pode ser averiguado para que se logre saber se há ou não um acontecimento que merece a
tutela do direito penal, para utilizar uma forma mais objectiva e directa de expressão.

O objecto da prova pode ser constituído pelos factos juridicamente relevantes, ou por factos que,
sendo embora irrelevantes se considerados em si memos, deles se podem, por raciocino lógico,
inferir a existência dos primeiros.

Os factos irrelevantes – indícios – tornam-se relevantes em razão da sua conexão com o tema e
constituem como que tema da prova em segundo grau.

8.4. Prova, probabilidade e suspeita.

A relativamente da certeza – meta final da prova – não autoriza a confusão de conceitos com o
de probabilidade, de maior ou menor credibilidade ou verosimilhança. A prova tem de ser
sempre plena e conduzir a convicção e não a simples admissão de maior probabilidade. Provado
e provável são antíteses, sob o ponto de vista jurídico.

Em processo penal, a prova é a demonstração da verdade dos factos juridicamente relevantes.


Uma demonstração não é algo de graduável, ou existe ou não existe.

No entanto, para certos actos processuais a lei não exige a prova dos factos, mas a sua
verosimilhança, ou ate uma fundada suspeita.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

128
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Assim, a pronuncia dos arguidos em processo penal depende de prova bastante ou prova
indiciaria dos elementos da infracção ou de que forem os seus agentes 179

A prova indiciária permite a introdução do processo em juízo e a sujeição a julgamento dos


arguidos. Não constitui prova, no sentido rigoroso do conceito, pois o que esta provado não
carece de mais prova. A pronúncia torna apenas legitima a discussão judicial da causa. Também
não determina presunção legal. A prova que há-de servir de fundamento a decisão é aquela que
tiver sido produzida na discussão da causa, e não a que, para fins intermédios do processo, consta
do corpo de delito.

A prova indiciaria obtida quase sempre por investigação oficiosa e me forma inquisitória, conduz
a pronuncia. Ela não trabalha uma presunção legal de culpabilidade nem da origem a uma
obrigação de contraprova para a destruição da inexistência da presunção legal.

O sistema exige tão-somente um juízo fundamentado de suspeita para execução de certos actos
processuais urgentes ou cautelares, como a prisão do arguido ou a realização de buscas. Todavia,
os actos processuais em referência não são arbitrários, carecem de fundamento de facto. Não se
exige, assim, um juízo de certeza sobre o seu fundamento, mas sim um juízo de suspeita.

A prova indiciária tem por objectivo fundamental autorizar o juiz a não rejeitar a acusação com o
fundamento de falta de prova. Ela conduz, não a convicção definitiva da certeza do facto, mas a
convicção da sua probabilidade, isto é, de que os factos são naturalmente susceptíveis de vir a ser
provados.

8.5. Prova directa e prova indirecta

A prova é directa, quando incide imediatamente sobre os factos probandos, sobre o tema da
prova. A prova directa é por conseguinte uma prova histórica. Se a prova incide sobre factos
diversos do tema da prova, mas que permitem, com o auxílio das regras da experiência uma
ilação quanto a este, a prova é então indirecta.

A prova indiciária é assim, prova indirecta. Dela se infere, por meio de raciocino alicerçado em
regras de experiência comum ou da ciência ou da técnica, o facto probando.

179
Arts. 345 do CPP e 26 do DL n. 35007

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

129
Lições de Direito Processual Penal 2013
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A prova indiciária tem grande importância no processo penal: são mais frequentes os casos em
que a prova é essencialmente indirecta do que aqueles em que se mostra possível uma prova
directa.

O campo de aplicação da aprova indiciaria é vasto. São, na verdade, inúmeros os factos que
podem, tomar a qualidade de indícios. No entanto, foi facto consente grave erros. Efectivamente,
a verdade final, a convicção, terá que se obter através de conclusões baseadas em raciocínios e
não directamente verificados. A conclusão funda-se no juízo de relacionação normal entre o
indício e a o facto probando.

O valor probatório dos indícios é extremamente variável. Um indício revela com tanto mais
segurança o facto probando, quando menos consinta ilações de factos diferentes. Quando um
facto não possa ser atribuído senão a uma causa – facto indiciante – o indício diz-se
desnecessário, e o seu valor probatório aproxima-se do da prova directa.

Quando o facto poder ser atribuído a várias causas, a prova dum facto que constitui uma dessas
causas prováveis é também um indício provável ou possível. Para dar consistência a prova, será
necessário afastar toda a espécie de condicionamento possível do facto probando menos uma. A
prova só se obterá, assim excluindo por um meio de provas complementares, hipóteses eventuais
e divergentes, conciliáveis com a existência do facto indiciante.

A prova indiciária é, com efeito, uma prova difícil. As complexas operações mentais que o
manejo da prova indiciária implica exigem raras qualidades de inteligência clara e objectiva,
experiência esclarecida, integridade de carácter, ausência de fácil ou emotiva
impressionabilidade.

Por isso aconselha-se a prudência, a manutenção durante a prova duma dúvida metódica, ainda
que provisória, de modo a que todo o juízo ou opinião se acomode inteiramente aos factos já
efectivamente verificados, sem descambar na cómoda, mas imoral e injurídica atitude de
acomodar, mesmo inconscientemente, por falta de sentido crítico, os factos ou o seu valor
probatório a opiniões preconcebidas com ligeireza de ânimo.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

130
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Os indícios podem ser matérias – e nesse caso, designam-se por vestígios – como de natureza
psicológica ou moral. Efectivamente, há elementos do crime só susceptíveis de prova indirecta,
designadamente todos os elementos da estrutura psicológica.

8.6. Meios de provas

Noção e espécies

Meios de prova são os veículos ou caminhos através dos quais se desenvolve a actividade
probatória destinada a demonstração dos factos relevantes atinentes ao crime que se quer
investigar.

Quanto a sua espécie os meios de prova podem agrupar-se em pessoais e reais.

A prova é pessoal quando resulta dum acto da pessoa (prova testemunhal, prova por declaração
do arguido, do assistente ou da parte civil; prova por acarrearão e a prova pericial); real quando
resulta da observação de coisas (prova por reconhecimento das pessoas e de objectos; prova
documental, o instrumento do crime) e a prova pericial.

Na prova pessoal, o meio da prova é o homem, enquanto na prova real, uma coisa. Quando o
homem é tomado como objecto de observação ou exame, não é meio de prova pessoal, mas real.

a) Provas pessoais

Espécies de provas (declarações do arguido, prova testemunhal, prova por acarrearão,


prova por reconhecimento prova documental)

8.6.1. Declarações do arguido – a confissão

O arguido presta declarações no processo. Elas têm grande importância na busca da verdade
material, pois que, mesmo inverídicos podem fornecer um ponto útil de partida para outras
averiguações.

As declarações do arguido são a expressão livre da sua personalidade, não se resumem a simples
narrações de factos. Não há, assim, verdadeira declaração sem liberdade.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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O arguido, enquanto declarante, não perde a sua qualidade de sujeito processual e, neste sentido,
a liberdade da sua declaração tem um efeito mais amplo que a das testemunhas. A declaração do
arguido tem de ser feita livremente. Não pode ser obtida por coação, nem automática 180. As
perguntas não podem ser sugestivas, cavilosas ou capciosas, isto é, feitas com o propósito de
enganar, nem acompanhadas de dolosas persuasões, falsas promessas ou ameaças 181.

Como parte do processo, e tendo em conta o respeito pelos direitos ou interesses da defesa, o
arguido tem a faculdade de prestar ou recusar as declarações ou de os prestar, verificados ou in
verificados. Tal não acontece com os demais declarantes a que se impõem a obrigação jurídica
de declarar a verdade182.

Vem a reforço desta ideia a proibição por lei do uso de processos ou métodos irregulares de obter
declarações comprometedoras do arguido, posto que esses métodos afectam a personalidade do
mesmo e diminuem a liberdade da declaração.

Argumentos a favor de tal proibição:

Em primeiro lugar, se muitas vezes a obtenção irregular da declaração não determina a sua in
veracidade, corre-se o grave risco da falsidade oficiosamente provocada. A lei não pode ficar
indiferente a esse risco, cujo afastamento é mais importante que a obtenção duma confissão;
Em segundo lugar, o processo penal é um meio de luta contra o crime. Tem, portanto, uma
função ética. O combate ao mal não pode fazer-se por forma irregular ou imoral. Na verdade,
um fim moral não justifica o uso de meios reprováveis e atentórios da dignidade humana.
Pelo contrário, toda a estrutura do processo penal deve ser impregnada de alto sentido ético,
porque o exemplo de dignidade é já, por si só, um modo de reprovação.

Deste modo, todas as cautelas legais se reconduzem ao princípio geral da garantia da liberdade
da declaração. São, assim, irregulares todos os actos que se destinam a obter a confissão pela
violência física ou moral, ou pela fraude.

180
Art. 254, n. 3 e 425 do CPP
181
Art. 437 do CPP
182
Arts 255 e 425 $ 2 do CPP

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Em consequência, são inadmissíveis, não apenas as torturas físicas como também as simples
ameaças de violência física ou prisão. São, pois, proibidos por lei, a tortura, a narcoanálise, a
hipnose e outras formas de sugestão como meio de se obter declarações do arguido.

A confissão em processo penal não tem o valor duma prova legal. Pelo facto de tais declarações
serem comprometedoras, não determinam legalmente uma conclusão sobre a sua veracidade.
Devem ser, portanto, sujeitas ao princípio da livre apreciação da prova.

A lei impõe uma averiguação concreta do conteúdo da confissão e o se confronto com os demais
elementos de prova com vista a aquilatar-se da veracidade da confissão 183. Na verdade, a
confissão que não é pormenorizada, que deixa inexplicados motivos plausíveis do crime, é uma
confissão suspeita.

8.6.2 Prova testemunhal e por declarações

Testemunha é a pessoa de todo estranha a realização do facto criminoso que, perante a


autoridade encarregada de uma investigação criminal, revela aquilo de que tem conhecimento
acerca dele e das circunstancias em que o mesmo ocorreu.

O depoimento prestado pelas testemunhas contém as seguintes características: judicialidade


(tecnicamente só é prova testemunhal a prestada em juízo); oralidade; objectividade (a
testemunha deve se limitar aos factos e não externar opiniões) e retroactividade (só se refere a
factos passados, não fazendo prognósticos).

Tanto as testemunhas como os declarantes narram no processo, por conhecimento dos sentidos,
factos jurídicos relevantes. É comum o conhecimento de tais factos serem obtidos através da
visão ou audição, mas é igualmente testemunha o que provenha dos demais sentidos, desde que
se revele apropriado para a prova dos factos. O testemunho pode ser directo ou indirecto,
consoante se reporta imediatamente aos factos probandos, ou aos meios de prova destes factos
(testemunho de vista, de ouvir dizer, em gíria popular).

A declaração das testemunhas, por mais objectiva que ela seja, não esta isenta de induções ou
juízos da própria testemunha: os factos passam pela consciência da testemunha e são

183
Arts 174 e 256 do CPP

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reproduzidos ou narrados por ela. O relato é naturalmente a expressão do modo como a


testemunha as pode compreender, dai resultando as dificuldades que acompanham a apreciação
da prova testemunhal.

Em processo penal não há prova pré-constituída. A prova tem de se buscar onde ocasionalmente
se encontra. Os delinquentes procuram normalmente evitar a existência de qualquer prova donde
a impossibilidade de excluir da instrução qualquer meio probatório. Por isso, podem ser ouvidos
no processo todas as pessoas, ate os anormais não interditos. No entanto, a apreciação da prova
terá de ter em linha de conta a maior ou menor credibilidade das várias declarações.

O depoimento das testemunhas e as declarações são actos pessoas. Não podem ser prestados por
procuradores184. Podem ser efectudas por telecoferencia 185Também não pode ser prestados
perante qualquer pessoa ou perante autoridades diferentes da que legalmente deve tomar o
depoimento186. Por outro lado, o depoimento alem de ser pessoal, é um acto isolado 187. Inicia-se
pela ajuramentação 188, segue-se a identificação da testemunha 189 em seguida o depoimento sobre
os factos190.

Em função da capacidade probatória, distinguem-se testemunhas e declarantes. De acordo com a


doutrina do velho sistema inquisitório, as testemunhas classificam-se em habiles e inhabilies: as
habiles seriam ainda ―clasici‖ e ―suspech‖. Só as testemunhas habeis e clássicas permitiam
assentar no seu depoimento a prova legal para condenação.

O advento do princípio da livre convicção do juiz retirou a importância jurídica que se lhe
atribuía. A divisão em testemunhas e declarantes reflecte, de certo modo aquela antiga
classificação.

184
Art. 229 do CPP
185
Art. 14 da Lei n.15/2012, de 14 de Agosto
186
Art. 230 do CPP
187
Art. 230 e 432 do CPP
188
Art. 434 do CPP
189
Art. 231 do CPP
190
Art. 253 do CPP

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Inabeis ou incapazes para depor (Lestes inhabies) são os interditos por demência e os menores
com absoluta capacidade natural191.

Declarantes (lestes suspecti) são, alem dos menores de 7 anos, os ascedentes, descedentes,
irmãos, afins nos mesmos graus, marido ou mulher do ofendido, da parte acusadora ou do
arguido, os que participarem o facto a autoridade publica, salvo os que o fizerem no exercício
das suas funcoes e no cumprimento de obrigacao legal, os ofendidos com a infraccao penal, ou
que tiverem interesse directo na causa, os presos, salvo tratando-se de infraccoes penais
cometidas na cadeia ou de factos que da cadeia pudessem ser presenciados ou praticados antes da
prisao192. Os declarantes só são ouvidos quando o juiz assim o entender.

São os seguintes os deveres que a lei impõe as testemunhas e declarantes: o dever de


comparência, o de depor e o de prestar juramento ou compromisso de honra.

Dever de comparência – as testemunhas ou declarantes, devidamente notificadas ou avisadas193


ou requisitados194, devem comparecer no dia, hora e local que lhes forem indicados, sob pena de
multa e em indemnizacao de igual importância a favor do Cofre dos tribunais 195.
Determinadas entidades (Chefe de Estado, algum Ministro, Juiz do Tribunal Supremo, Juiz do
Tribunal Superior de Recurso, Juizes Conselheiros do Tribunal Constitucional, deputados,
diplomatas) usufruem do privilégio de serem ouvidas nas suas residências ou no lugar por elas
indicada196.

Dever de depor - as testemunhas e os declarantes tem o dever de prestar depoimentos,


declarando a verdade. Nem as testemunhas nem os declarantes podem recusar-se a responder as
perguntas que lhes forem feitas197. A recusa injustificada constitui crime de desobediência

191
Art. 216, ns. 1 e 2 e $ 2 do CPP
192
Nºs 3 a 6 e $ 2 do art. 216 do CPP
193
Art. 87 do CPP
194
Art. 85 do CPP
195
Art. 91 do CPP
196
Arts. 219,220 e 221 do CPP e no art. 624 do CPC
197
Art. 242 do CPP

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qualificada. Tal crime acarreta, de imediato, a captura da testemunha ou declarante, sem


faculdade de caução ou mesmo liberdade provisória, enquanto não tiver respondido em auto de
corpo de delito. Se a perpetração do delito tiver lugar em audiência de julgamento, será
levantado auto de notícia e ordenada a prisão do infractor198.
A testemunha e declarante têm o dever de depor em conformidade com a verdade 199. A recusa é,
no entanto, permitida em relação a todo o depoimento, tratando-se de menores de 7 anos, os
ascedentes, descedentes, irmãos, afins nos mesmos graus, marido ou mulher do ofendido, da
parte acusadora ou do arguido, os que participarem o facto a autoridade publica, salvo os que o
fizerem no exercício das suas funcoes e no cumprimento de obrigacao legal, os ofendidos com a
infraccao penal, ou que tiverem interesse directo na causa, os presos, salvo tratando-se de
infraccoes penais cometidas na cadeia ou de factos que da cadeia pudessem ser presenciados ou
praticados antes da prisao 200 e em relação a parte do depoimento, por respeito ao segredo
profissional ou segredo do Estado, tratando-se das seguintes pessoas:

Ministros de qualquer culto, advogados, procuradores, notários, médicos ou porteiros, sobre


factos que lhes tenham sido confiados ou de que tenham conhecimento no exercício da sua
profissão201;
Funcionários públicos, sobre factos que possam constituir segredo do Estado ou que segundo
a lei, não puderem ser revelados sem autorização superior 202. O chefe do Estado poderá usar
do meio de declarar que não tem conhecimento dos factos203. Os Ministros não depõem sobre
segredo do Estado, o que deve ser invocado, pois que, por maioria de razão, devem ser
compreendidos na disposição relativa a funcionários:

198
Art. 411 do CPP
199
Artigos 238 e 241 do CPP
200
Art. 216 $ 2 do CPP
201
Art. 217, nº 1 do CPP
202
Art. 217, nº 2 do CPP
203
Art. 625, nº 2 do CPC

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Quaisquer outras pessoas obrigadas a guardarem segredo profissional sobre os factos a que
este respeita204ou sobre factos puníveis ou desonrosos por eles praticados ou por seus
descendentes ou ascendentes, irmãos, afins nos mesmos graus, marido ou mulher 205.
Dever de prestar juramento - o CPP distingue testemunhas e declarantes em função duma
abstracta possibilidade de suspeição destes últimos. Dai a razão para o não ajuramento dos
declarantes (art. 97 do CPP). A este propósito CAVALEIRO DE FERRERA escreve “Parceria,
em conformidade, que a punição da falsidade das declarações do testemunho deveria ser também
de diferente gravidade. No entanto, não e assim. O art. 238 do CP pune o falso testemunho
independentemente da exigência prévia da ajuramentação e comina uma maior ou menor
penalidade consoante o testemunho falso é prestado em corpo de delito ou em audiência de
discussão e julgamento‖.
Parece, não ser de perfilhar a possibilidade de o falso testemunho ser punido independentemente
de ajuramentação prévia. Na verdade, o juramento é elemento essencial dos depoimentos. A
recusa de jurar equivale, a recusa de depor 206. Quanto as falsas declarações, estas podem ser
prestadas com juramento ou sem ele 207, formula que não existe no art. 238 daquele diploma
legal. Com efeito, a inaplicabilidade do art. 238 aos depoimentos sem juramento tem sido
sustentada por diversos autores.

O juramento reveste, na legislação actua, duas formas: juramento religioso e compromisso de


honra. O CPP trata apenas do compromisso de honra208. A lei processual penal exige o juramento
ou compromisso de honra em audiência de discussão e julgamento209.

Nos depoimentos em corpo de delito, o art. 231 do CPP é omisso quanto a essa exigência.
Todavia, o $ 1 do art. 96 é positivo nesse sentido. Poderá perguntar-se se o conteúdo do $ 1 do
art. 96 se refere apenas a audiência de discussão e julgamento. A praxis inclina-se devidamente

204
Art. 217 n. 3 do CPP
205
$ único do art. 218 do CPP
206
Art. 559, n. 3 do CPC
207
Art. 559, n. 3 do CPC
208
Arts 96 e 434 do CPP
209
Art. 434 do CPP

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no sentido da obrigatoriedade da ajuramentação destes, em todas as fase do processo como


norma imperativa genuína e não apenas como reguladora do formalismo do julgamento.

Quanto aos direitos das testemunhas e declarantes, são de destacar o direito de audiência, o
direito de correcção do tribunal e o direito de indemnização.

Direito de audiência –―as testemunhas serão perguntadas210 (...) acerca de todos os elementos e
circunstâncias da infracção, tempo, lugar e modo como foi cometido, fim como foi praticado,
causa que o determinou, dano moral e material por ela produzidos e ainda sobre o carácter,
antecedentes, conduta e situação económica e social do arguido e do ofendido...‖ Deste modo se
enuncia, com bastante amplitude, o tema da inquisição em corpo de delito. Com isso pretende a
lei evitar que seja desvirtuado o conhecimento da testemunha, mediante a fixação de limites mais
estreitos ao depoimento do que o efectivo conhecimento da testemunha. Através dos 236 e 436
do CPP salvaguarda salvaguarda-se a natureza pessoal do depoimento, ao conferir a testemunha
o direito de a redigir ou ditar para a acta.
Em audiência, o objecto do processo encontra-se já definido pelo ambito do despacho de
pronúncia. Os factos sobre os quais recai a prova são os constantes daquele despacho e todos os
demais favoráveis a defesa, quer alegados, quer resultantes da discussão a causa.

Não obstante o interrogatório das testemunhas se limitar a incidência da prova testemunhal aos
factos alegados, essa limitação só vale totalmente em relação ao objecto da acusação, pois que
podem ser provados factos dirimentes ou atenuantes, embora não tenham sido alegados 211.

Direito de correcção do tribunal - as testemunhas são, como vimos, participantes processuais.


Espera-se que o tribunal e os advogados tenham, para com elas, uma atitude de deferência e
correcção, de modo a salvaguardar a consideração que a todos é devida.
Ao tribunal compete a protecção, da honra e consideração de testemunhas, que são direitos de
personalidade. Dai a conservação dos segredos profissionais, de tal sorte que, nos casos em que a
sua revelação se mostre conveniente para a prova do objecto do processo, se justifica a decisão

210
Art. 231 do CPP
211
Art. 446 $ Único do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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da audiência da testemunha em audiência secreta. Assim se satisfará os diversos interesses em


jogo e ao mesmo tempo se obterá um depoimento mais livre e, porventura, mais sincero.

Direito a indemnização - as testemunhas (com exclusão dos declarantes) podem pedir uma
indemnização, quando chamados a depor em audiência de julgamento212

8.6.3. Prova por acarrearão

A acarreação é um meio de prova que consiste em por frente a frente isto é, em confronto
directo, pessoas (arguidos, assistentes, testemunhas, partes civis), que entre si se encontram em
contradição sobre aspectos relacionados com o objecto do processo e seja de prever que desse
confronto se possam ultrapassar as diferenças existentes em favor da descoberta da verdade.

É esta a noção que se extrai do artigo 239 do CPP, no qual dispõe que “Havendo contradição
entre os depoimentos das testemunhas ou entre eles e as declarações dos arguidos, dos
ofendidos ou entre estas declarações, far-se-á a respectiva acarrearão”.

Não são admissíveis contraditas na formação do corpo de delito em matéria penal, porem,
situação diversa se verifica em matéria civil, pois, aqui se admite que a parte contra a qual for
produzida a testemunha pode contradita-la, alegando qualquer circunstância capaz de abalar a
credibilidade do depoimento, quer afectar a razão de ciência invocada pela testemunha, quer por
dirimir a fé que ela possa oferecer 213.

As testemunhas sobre a matéria da contradita têm de ser apresentadas e inqueridas


imediatamente; os documentos podem ser oferecidos ate ao momento em que deve ser proferida
a decisão sobre os factos da causa.

8.6.4. Prova por reconhecimento

Reconhecer é identificar alguém ou alguma coisa com interesse decisivo para o esclarecimento
dos factos objecto da prova.

212
Art. 157 e $ 1 e o art. 450 do CPP e al. d) do art. 194 do C.C.J
213
Artigo 640 do CPC

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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A prova por reconhecimento pode consistir em duas maneiras: reconhecimento de objectos e


reconhecimento de pessoas.

Se houver dúvidas sobre a pessoa do suspeito, de maneira que seja necessário o seu
reconhecimento pela testemunha ou declarante, será este feito, apresentando-se o suspeito a
testemunha ou declarante, conjuntamente com outros indivíduos, para que entre eles o
reconheça. Sendo necessário o reconhecimento por mais de uma testemunha ou declarante, cada
uma delas o fará separadamente214. Portanto, existindo alguém que diga que conhece a pessoa
que praticou a infracção criminal que esta a ser investigada terão que se criarem as condições
para que se proceda ao acto de reconhecimento, fazendo tudo para que o resultado da diligencia
corresponda a verdade.

Para o efeito, aconselha-se que antes dessa testemunha ou declarante ver a pessoa que se
suspeita, faca uma descrição minuciosa da mesma.

Quanto ao reconhecimento de objectos o procedimento deve ser o mesmo, aplicando-se


analogicamente o artigo 243 do CPP.

8.6.5. Prova documental

A prova documental é aquela que se faz através de documentos, desde que, como é óbvio,
tenham interesse para o esclarecimento do facto ou factos sob averiguação e consequentemente
para a descoberta da verdade.

Havendo documentos que possam servir de prova de que determinado arguido cometeu ou na
infracção de que vem indiciado devem ser juntos aos autos. Esses documentos podem ser
apresentados por quem quer que seja, desde que interessem para a descoberta da verdade 215.

Se os documentos forem escritos em língua estrangeira, serão acompanhados de tradução oficial,


sempre que se mostre necessário, e, se a sua letra for pouco legível, será junta uma cópia que os
esclareça216.

214
Artigo 243 do CPP
215
Arts. 245 e 246 do CPP
216
Artigo 247 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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Quando se oferecem documentos escritos em língua estrangeira, desacompanhados de tradução


legalmente idónea, e no tribunal não houver tradutor oficial, pode o Ministério Publico,
oficiosamente ou a requerimento do arguido ou do assistente, solicitar a sua tradução junto do
notário ou ser autenticada pelo funcionário diplomático ou consular do Estado respectivo.

Os documentos autênticos ou particulares passados em pais estrangeiro, de conformidade com a


respectiva lei, fazem prova como o fariam os documentos da mesma natureza exarados em
Moçambique.

Se o documento não estiver legalizado, nos termos da lei processual, e houver fundadas dúvidas
acerca da sua autenticidade ou da autenticidade do reconhecimento, pode ser exigida a sua
legalização217.

Se os documentos forem cifrados, deverão ser submetidos a exame de peritos, para se obter a
decifração218. Se não for possível decifrar o documento, este não é levado em conta.

Nos casos em que não seja possível juntar aos autos ou neles conservar a original de qualquer
documento, mas unicamente a sua fotocópia, este terá o mesmo valor probatório que o original,
se com ele tiver sido devidamente identificada nesse ou noutro processo 219.

8.6.6. Prova pericial

Perícia é ―a actividade de percepção ou apreciação dos factos probandos efectuada por pessoas
dotadas de especiais conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos‖.

Os peritos não são prova real, intervêm na apreciação da prova. São indivíduos que detêm
conhecimentos fora do alcance do julgar, formulam juízos de valor sobre a prova.

O perito é um auxiliar do juiz 220. As suas conclusões não tomam nunca a natureza de decisões,
mas somente de pareceres.

217
Artigo 365 do CC
218
Artigo 248 do CPP
219
Artigo 249 do CPP
220
Artigo 189 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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Os peritos são escolhidos pelo juiz (na instrução preparatória, pelo Ministério Publico) e são
normalmente, em número de dois. Só em caso de extrema urgência, simplicidade do exame ou
pequena grávida da infracção é admissível um só perito221.

Nos exames cadavéricos ou autópsias é de nomeação obrigatória o perito222.

Nos exames de ofensas corporais, os peritos devem descrever os ferimentos ou lesões, indicar as
suas causas e instrumentos que as produziram e aduracao da doença ou impossibilidade de
trabalho que causaram. Se não for possível fixar definitivamente a duracao da doença ou
impossibilidade de trabalho, indicar-se-a a duracao mínima previsível e proceder-se-a a novo
exame, findo esse prazo223.

Se se levantarem justificadas dúvidas sobre a integridade mental do arguido, de forma a poder


suspeitar-se da sua irresponsabilidade, devera logo o juiz ordenar a exame medico-forense -
exames de sanidade mental224. Estes exames médicos forenses serão efectuados pelos institutos
de medicina legal, onde se farao também os exames de reconhecimento de letra ou de
documentos que se digam falsificados e quaisquer outros que esses instituto estejam
especialmente habilitados a realizar 225.

Os peritos devem ter sempre as habilitações necessárias 226. Nem sempre, porem os peritos são da
escolha do juiz. Casos há em que os exames são feitos por organismos apropriados e oficiais.
Trata-se de casos em que os exames são feitos pelos serviços de Medicina Legal, ou quando são
feitos em laboratórios oficiais especializados.

221
Art. 179 do CPP, conjugado com o $ 2 do art. 12 do DL 35007
222
Artigos 181 & 2 e 191 do CPP
223
Artigo 192 do CPP
224
Arts. 125 e ss e 498 do CPP
225
Art. 181 do CPP
226
Art. 180 CPP

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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Tal facto, no entanto, não veda a possibilidade de o juiz ordenar que os exames sejam feitos em
laboratórios ou estabelecimentos científicos apropriados, quando os exames exijam
conhecimentos extremamente especializados 227.

8.6.6.1. Perícia médico-legal nos crimes contra as pessoas

Autopsia e reconhecimento do cadáver

Ao longo da instrução preparatória, o MP, nos crimes contra as pessoas, nomeadamente, ofensas
corporais e homicídios, para o esclarecimento da verdade, deve ordenar a realização de exames
médico-legais.

Nas cidades onde há serviços de medicina legal a eles compete a realização de exames, onde não
existirem especialistas podem ser requisitados para o efeito médicos afectos em hospitais, por
mais que seja generalista.

Entendemos que não serão obrigados a fazer autopsia mas podem fazer exames que possam ter
interesse para o investigador.

A autópsia será sempre precedida do reconhecimento do cadáver e, se este não for logo
reconhecido, não se procedera ao exame senão passadas vinte e quatro horas, durante as quais,
sendo possível, o cadáver estará exposto em estabelecimento apropriado ou em lugar público, a
fim de ser reconhecido, salvo se houver perigo a saúde ou ordem pública ou se houver urgência
imediata no exame.

Se o cadáver não for reconhecido, descrever-se-ão no auto as particularidades que o possam


identificar e só depois se procedera a autópsia228.

Quando se trate de cadáveres desconhecidos, é preciso fazer um exame minucioso para se poder
averiguar a identidade, medir-se-á a estatura, avaliar-se aproximadamente a idade, notar-se-á o
estado da dentição: se há cicatrizes, a sua sede e aspecto, quaisquer vícios de conformação,
mutilações, sinais particulares, tais como novos pigmentares ou vasculares, vestígios de doença

227
Art. 182 do CPP
228
Artigo 191 do CPP

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ou tratamento, pinturas de antropometrias, se parecerem necessárias. Por último há que designar


as sinas de morte real e de putrefacção observada. Deve se fotografar o cadáver recolherem-se
impressões digitais229

Nos crimes de ofensas corporais, os peritos devem descrever os ferimentos ou lesões, indicar as
suas causas e instrumentos que as produziram e a duração da doença ou impossibilidade de
trabalho que causaram.

Se não for possível fixar definitivamente a duração da doença ou impossibilidade de trabalho,


indicar-se-á a duração mínima previsível e proceder-se-á a novo exame, findo esse prazo.

Este novo exame porem, terá sempre lugar antes de findo o prazo da instrução preparatória, e
nele indicarão os peritos, alem da duração ainda presumível da doença ou impossibilidade de
trabalho, a duração já comprovada, com base na qual o MP poderá acusar.

A alteração do prazo de duração da doença ou impossibilidade de trabalho, por novos exames


que se mostrem ainda necessários, permitira a alteração da acusação, finda a instrução
contraditória, se a ela houver lugar, ou mesmo após a pronuncia, deve-se juntar ao processo o
relatorio do exame ou da revisão no qual o juiz se entender que pode influenciar na qualificacao
do facto punível ou na responsabilidade dos seus agentes, mandara dar nova vista ao MP e
notificar a parte acusadora para no prazo de dois dias, reformularem a acusacao. Em seguida, o
juiz proferira novo despacho de pronuncia ou equivante, em harmonia com a prova produzida,
declarando sem efeito todos os actos que tenham de repetir-se230.

Deveres dos peritos

Tal como as testemunhas, os peritos também estão sujeitos a deveres: o dever de comparência 231,
sob pena de incorrer na sanção de multa e indemnizacao ao cofre dos tribunais 232; o dever de

229
Artigo 192 do CPP.
230
$ Único do artigo 338 do CPP
231
Art. 185 do CPP
232
Artigo 91 do CPP

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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formular o parecer com as conclusões devidamente fundamentadas 233e o dever de prestar


juramento ou compromisso de honra234.

Direitos dos peritos

Assiste-lhes, porem, o direito de informação para a adequada execução das suas obrigações de
peritos. Podem, por isso, solicitar diligências ou esclarecimentos para a conveniente realização
do exame235.

O exame por peritos desdobra-se em duas partes, sendo a primeira a observação dos objectos
sujeitos a exame e a segunda as conclusões inferidas daquela observação fundamentadas em
regras científicas ou técnicas adequadas.

Processualmente realizam-se na presença do juiz (ou do Ministério Publico, na instrução


preparatória). Podem assistir também os ofendidos, assistentes e arguidos 236. De salientar, no
entanto, que a lei consagra um regime particular no que respeita a exames que podem ser
ofensivos do pudor das pessoas. Nestes casos, só devem estar presente o juiz (ou o Ministério
Publico na instrução preparatória), podendo o examinando fazer-se acompanhar de uma ou duas
pessoas da sua confiança237.

Nos exames efectuados nos organismos oficiais (Serviços de Medicina Legal, estabelecimentos
hospitalares, laboratórios e institutos científicos), prescinde-se da presença do juiz e é proibida a
presença do arguido, ofendido ou assistente.

8.6.7. Provas reais

Noção e ambito das provas reais

233
Art. 189 do CPP
234
Art. 97 CPP
235
Art. 187 CPP
236
$$ 2 e 3 do art. 179 do CPP
237
Art. 178 $ Único do CPP, conjugado com o art. 14 do DL 35007

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145
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Provas reais são coisas cuja apreciação permite tirar ilações sobre factos juridicamente
relevantes. As coisas, como prova são objecto de observação e também de conhecimento do seu
conteúdo. É o caso da prova por documento.

A prova documental tem idêntico valor probatório em processo penal e em processo civil. Os
documentos autênticos ou autenticados fazem prova pena, salvo alegação de falsidade 238. A
prova por documentos autênticos ou autenticados e mesmo em processo penal, uma prova legal
subtraída a livre apreciação da prova em contraste com o princípio da verdade material. Quanto
aos documentos particulares, readquire plenamente a sua eficácia o principio geral da sua
sujeição a apreciação judicial.

As restantes coisas que constituem provas reais são objecto de observação, não são susceptíveis
de conhecimento do seu conteúdo.

As coisas são observáveis pelos sentidos, vista, audição, tacto, cheiro e gosto. É mais comum no
entanto, a percepção das coisas através da observação visual.

As coisas não são prova em si mesmas, mas só na medida em que se relacionam com os factos
probandos. Todavia, a própria existência da coisa pode demonstrar um requisito essencial da
infracção, por exemplo, o cadáver (que é prova directa do evento mortal) nos crimes de
homicídio.

Normalmente, a prova resulta de uma qualidade da coisa como, por exemplo, a arma que tenha
feito fogo recentemente ou a moeda falsificada. Do mesmo modo, a posição do objecto pode
revelar-se de interesse: a arma no local do crime ou o objecto material do crime na posse do
arguido.

A prova real pode ser directa ou indirecta, quando se reporta a factos juridicamente relevantes
como objecto do processo, ou a factos indiciantes. Pode ser mediata ou imediatamente
observados, consoante as próprias coisas estas presentes no processo ou na audiência ou
substituídos por decalques, plantas, copias, etc239.

238
Ver Arts. 362 e segts e 369 e segts do C.Civil
239
Art. 175 do CPP

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146
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As coisas, enquanto prova, abrangem também as pessoas e os cadáveres. A pessoa, como prova
real, não age, suporta a observação ou o exame. Dai que a lei imponha certos cuidados na sua
realização, com vista a salvaguardar-se o respeito e a dignidade devidas a pessoa humana.

8.6.7.1. Importância das provas reais – a criminalística

A falibilidade das provas pessoas não carece de ser realçada, donde a importância cada vez mais
frequente da utilização das provas reais. Toda a evolução da instrução criminal se caracteriza
pelo aproveitamento racional das provas reais.

Os vestígios, consoante a espécie dos crimes, são da mais variada natureza: manchas, pegadas,
impressões digitais, poeiras, objectos abandonados, vestígios de actividade (danos em coisas,
como no arrombamento), vestígios de instrumentos do crime.

Os vestígios materiais são proa indirecta, mas objectiva. Permitem, por isso, fiscalizar os
resultados inseguros da prova pessoal e reconstituir mais seguramente a infracção ou algum
elemento dela.

A criminalística moderna, apoiando-se nos avanços da ciência e da técnica, logrou aperfeiçoar


significativamente os resultados da investigação, mediante a utilização de provas materiais. Por
isso, ela constitui uma disciplina especializada e um auxiliar precioso dos órgãos encarregados
da investigação criminal.

8.6.8. Meios de obtenção de prova (os exames, as buscas, as revistas, apreensões e escutas
telefónicas)

Meios de obtenção de prova são os processos ou mecanismos processuais através dos quais se
procede a recolha de elementos ou dados susceptíveis de demonstrar se os factos tidos por
penalmente relevantes ocorreram ou não, e, no caso afirmativo, como, quando e por quem, ou
―são os instrumentos de que se servem as autoridades judiciarias para investigar e recolher os
meios de prova. É o caso, por exemplo, dos exames, das revistas, das buscas, das apreensões, das
escutas telefónicas, etc.

Exames

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147
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Os exames são meios de obtenção de prova, destinados a recolher e analisar vestígios materiais
de factos com relevância penal, em ordem a determinação das circunstâncias da sua pratica e da
respectiva autoria.

Os exames abrangem as coisas, pessoas e lugares.

Exames de papéis e objectos em repartições públicas

Quando se mostrar necessário o MP pode ordenar a realização de exames em documentos ou


objectos que se encontrem em repartições públicas. Deste modo, serão facultadas por quaisquer
repartições ou estabelecimentos públicos o exame de papéis ou objectos ai existentes, quando
necessários para a instrução de algum processo, observando-se o disposto nos respectivos
regulamentos, no que não for contrário s disposições da lei processual penal240.

As repartições ou estabelecimentos podem entender tendo em conta o carácter confidencial de


certos papéis ou objectos depender a sua autorização para o seu exame de autorização das
hierarquias superiores da instituição, devendo, portanto, o MP tomar em consideração tal facto e
respeita-lo.

Quando sejam presentes documentos que devem ser examinados, o MP poderá ordenar que, ate
se confiarem aos peritos, em vez de se juntarem ao processo, sejam guardados com as
precauções necessárias para não sofrerem atritos nem pressões, evitando-se que quaisquer
pessoas neles apõem os dedos, que sejam manchados, dobrados, por qualquer forma deteriorados
e tomando-se todos os demais cuidados indispensáveis para que não sejam prejudicadas as
pesquisas a fazer do exame241.

Se o exame incidir sobre o reconhecimento de letra, os peritos deverão compara-la com a de


documentos autênticos ou mesmo com a de documentos particulares, reconhecidos como
verdadeiros pela pessoa a quem for atribuída a letra, ou havidos judicialmente como
reconhecidos.

240
Artigo 193 do CPP
241
Artigos 194 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

148
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Para se fazer o confronto a que se refere esse artigo, o MP poderá requisitar, para serem
presentes no acto do exame, quaisquer documentos arquivados em repartições públicas ou
estabelecimentos públicos, fazendo-se o exame nessa repartição ou estabelecimento, quando o
documento dele não puder sair.

Se os documentos necessários para o conforto se encontrarem em poder de particulares, que não


seja o cônjuges, os ascendentes, descendentes e colaterais ate terceiro grau ou afins nos mesmos
graus do arguido, poderá o MP ordenar que sejam presentes para o exame, sob pena de
desobediência, salvo tratando-se de escritos de natureza confidencial242.

O MP ordenara, quando for necessário, que a pessoa a quem é atribuída a letra escreva na sua
presença e na dos peritos, quando eles o pedirem, as palavras que lhe indicar. Se ele recusar a
escrever, incorrera na pena de desobediência qualificada, sendo detida imediatamente, e presente
ao Juiz da Instrução Criminal, com a promoção de que deve aguardar o julgamento em prisão
preventiva, se antes não cumprir a ordem do MP, fazendo-se constar tudo no auto de
diligencia243.

O MP pode convocar os peritos em qualquer altura para esclarecimento.

A parte acusadora ou o arguido quando intervenha no processo poderá requer, e MP


oficiosamente ordenar novos exames sobre o mesmo ou diversos objectos, mas, se o objecto for
o mesmo, os novos exames será feitos por três peritos nomeados pelo MP, nenhum dos quais
tenha intervindo nos anteriores.

Se o MP entender que estas diligências, quando requeridas, não têm interesse para a descoberta
da verdade, indeferira o pedido 244.

Os relatórios dos exames microscópicos, químicos, bacteriológicos e metais, assim como todos
aqueles médico-forenses relativos a processos por infracções a que corresponda pena maior,

242
$ 2 do artigo 195, conjugado com o art. 12 do DL 35007
243
$3 do artigo 195 do CPP, conjugado com o do artigo 12 do DL 35007 e artigo 1 da Lei n. 2/93, de 24 de Junho
244
Corpo do artigo 204 do CPP, conjugado com o $2 do artigo 12 do DL n. 35007

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149
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devem ser revistos pelo Conselho médico-legal, devendo o MP fazer a remessa das copias dos
relatórios aquela instancia245.

Face a conjuntura socioeconómica do nosso país, não nos parece praticável esta exigência, pelo
menos em algumas zonas.

Se os exames tiverem sido realizados nas fases subsequentes da instrução preparatória,


ordenadas pelo juiz, o MP se achar que os relatórios não reportam, ou tem alguma irregularidade,
pode no prazo de cinco dias interpor recurso, impugnado esses relatórios ao Conselho médico-
legal246.

8.4. As buscas, revistas e apreensões

As buscas e apreensões são meios de obtenção de provas, usados nas situações em que algo que
tenha a ver com o crime precisa de ser encontrada para exames, ou para acompanhar os autos
para efeitos de prova, ou mesmo para a destruição ou perca a favor do Estado conforme a lei
dispõe.

As buscas têm por finalidade averiguar se em determinado lugar existem objectos relacionados
com o crime ou que possam comprovar.

As Buscas podem ser em lugares cujo acesso não é livre – busca domiciliária ou busca não
domiciliária, cujo acesso é livre.

Quando haja indícios de que alguma pessoa tem em seu poder ou que se encontram em algum
lugar, cujo acesso não seja livre, papeis ou outros objectos cuja apreensão for necessária para a
instrução do processo, ou quando o arguido ou outra pessoa que deva ser presa se tenha
refugiado em lugares daquela natureza, o juiz em despacho fundamentado, oficiosamente, a
requerimento do Ministério Publico, da parte acusadora ou do arguido admitido a intervir no
processo indicara as razoes da suspeita e mandara proceder a busca e apreensão ou prisão 247.

245
Artigo 200 do CPP
246
Artigo 201 do CPP
247
Artigo 203 do CPP.

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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Busca domiciliária

Quando se trate de buscas domiciliárias, as exigências contidas neste preceito legal acrescem as
indicadas nos artigos 204, 289, 300, 301 e 302 do CPP.

A busca destina-se, portanto, ou a apreensão de provas reais ou a captura de pessoas que devam
se presas. Há assim, buscas com o fim de apreensão e buscas com o fim de captura.

A disciplina jurídica relativa as buscas deriva da circunstância de a própria busca afectar certos
direitos individuais distintos dos direitos individuais afectados pela captura ou pela apreensão.

Com efeito, se a busca se realiza em lugares cujo acesso é livre (no sentido de não serem
especialmente tutelados pela ordem jurídica), não há limitações a sua efectivação, nem quanto a
entidade que as ordena, nem quanto aos fundamentos da suspeita de ocultação das pessoas ou
dos objectos procurados. Porem, se os lugares em que se pretende efectuar a busca não são de
acesso livre, terá de tomar-se em conta a especial tutela jurídica de tais lugares.

Tratando-se de lugares cujo acesso não é juridicamente livre, há que ter em atenção a especial
tutela legal de que beneficiam.

Um desses lugares é, seguramente o domicílio (considerando-se como tal a casa habitada e suas
dependências fechadas248, cuja inviolabilidade constitui uma garantia constitucional consagrada e
tutelada pelo direito penal.

Em relação aos locais cujo acesso é livre, ou seja, casas sujeitas a fiscalização especial da polícia
estas estão submetidas ao regime de buscas em lugares de livre acesso (v. $ 2 do mesmo diploma
legal). Essas casas são os hotéis, hospedarias, restaurantes, cafés, tabernas, casas de diversão,
casas de pernoita ou com quartos de aluguer, casas de prostituição e outros lugares semelhantes;
gares, meios de transporte, locais públicos onde se efectuem operações comerciais, de bolsa ou
bancárias, recintos de reunião ou espectáculo ou quaisquer outros locais que possam servir de
campo de acção ou de encontro de malfeitores249.

248
Corpo do art. 204 do CPP
249
Nºs. 2 e 3 do artigo 21 do Decreto-Lei nº 35042, de 20 de Outubro

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151
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Busca domiciliaria - Prisão de dia, fora de flagrante delito

Se a busca tiver de ser efectuada em casa da própria pessoa a capturar (o arguido), ou em


qualquer lugar que lhe pertença ou esteja na sua posse, a entidade é sempre permitida durante o
dia, quando a captura é motivada por crime punível com pena maior 250.

Pelo contrario, efectuando-se a busca em casa alheia, seja ou não habitada, ou suas dependências
fechadas – qualquer que seja o crime – ou em casa do arguido – tratando-se de crime punível
com pena correccional – a entrada da mesma, mesmo de dia, só será permitida com autorização
dos respectivos moradores ou donos ou quando o mandado de captura expressamente o
ordenar251.

Na falta de autorização dos moradores ou donos da casa e de ordem especial contida no mandado
de captura, os executores do mandado devera proceder nos termos do $ 2 do citado artigo,
submetendo ao juiz a questao da eventual conveniência de conceder a autorização especial de
busca em novo mandado de captura.

Busca domiciliaria - Prisão de noite

Se a busca se realizar de noite, o regime é o mesmo, quer se trate da casa do arguido, quer da
casa alheia: só será permitido com o consentimento dos moradores252. Diferentemente sucedera,
como vimos, nas casas e lugares sujeitos por lei a fiscalização especial da polícia relativamente
aos quais a entrada é livre, por não estarem abrangidos na tutela da inviolabilidade de domicílio.

Quando a entrada em qualquer casa ou suas dependências fechadas for legalmente permitida, a
autoridade ou agente da autoridade devera mostrar, antes do inicio da diligencia, a ordem ou
mandado de captura. Sempre que lhe seja pedida. Se a entrada for recusada, sem fundamento
legal, poderá usar da forca para a efectivar, passando, nesse caso, certidão da ocorrência 253.

Buscas para apreensão e buscas para captura

250
Art. 300 do CPP
251
$ 1 do art. 300 CPP
252
Artigo 301 do CPP
253
& Único do artigo 301 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

152
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Quando é tem lugar?

As buscas para apreensão (as quais se equiparam, nos termos do artigo 212, as buscas para
inspecção ao local ou simples entrada para quaisquer diligencias), em casa habitada ou suas
dependências fechadas, são inteiramente proibidas durante a noite, salvo consentimento da
pessoa cuja posse se encontrar o edifício. As buscas só podem ter lugar de dia, isto é, entre o
nascer e o por do sol254, podem continuar de noite, apenas se tiverem sido iniciadas de dia. O juiz
devera ordenar as cautelas necessárias para evitar a frustração da diligência, mandando guardar
exteriormente o edifício para evitar a saída de qualquer pessoa ou objecto durante a noite (v. $ 1
do mesmo preceito).

As casas sujeitas a fiscalização especial da polícia estão submetidas ao regime de buscas em


lugares de livre acesso 255. Essas casas são hotéis, hospedarias, restaurantes, cafés, tabernas, casas
de diversão, casas de pernoita ou com quartos de aluguer, casas de prostituição e outros lugares
semelhantes; gares, meios de transporte, locais públicos onde se efectuem operações comerciais,
de bolsa ou bancárias, recintos de reunião ou espectáculo ou quaisquer outros locais que possam
servir de campo de acção ou de encontro de malfeitores256.

Alem das casas de habitação, também outros edifícios podem beneficiar de especial tutela
jurídica, em homenagem aos fins a que se destinam: é o que sucede com as repartições púbicas.
Nas buscas para apreensões efectivadas em repartições públicas ou estabelecimentos públicos de
qualquer natureza – veja-se o caso de buscas e apreensões nos correios, telégrafos e estacões
radiotelegráficos257. Nestes locais guardar-se-á a forma que estiver estabelecida nas respectivas
leis e regulamentos258; na sua falta, o Código determina que se não use de coação, devendo antes
solicitar-se autorização de entrada a autoridade competente para a conceder, a fim de facultar a
execução da busca devidamente ordenada.

254
Art. 204 do CPP
255
$ 2 do artigo 204 do mesmo diploma legal)
256
Nºs. 2 e 3 do artigo 21 do Decreto-Lei nº 35042, de 20 de Outubro
257
Arts. 210 e 211do CPP
258
Art. 209 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

153
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Feita a busca ou apreensão elaborar-se-á um auto de busca e apreensão no qual se mencionarão o


número e qualidade dos papéis e objectos apreendidos259.

Em caso de recusa de entrada no lugar da busca e apreensão o juiz adoptara as providências


necessárias para que ela se efectue, podendo em qualquer caso, requisitar o auxílio da forca
pública ou autoridades, quando julgar necessário para o bom êxito da diligência260.

Buscas para captura

As buscas para captura de infractores serão feitas pelo oficial ou agente da autoridade
encarregado da captura261.

As buscas domiciliarias para capturas estão sujeitas a um regime mais severo que as buscas
domiciliarias para apreensão. Há que distinguir as buscas para captura em casa da pessoa que é
objecto do mandado de captura (arguido), das buscas em casa alheia, e as buscas durante o dia ou
durante a noite.

Competência para ordenar as buscas – sua execução

As buscas para apreensão, quer em pessoas, quer em lugares cujo acesso não seja livre, serão
sempre ordenadas pelo Juiz da Instrução Criminal 262, bem como decidir sobre as buscas e
apreensões de objectos e instrumentos do crime. As buscas para a captura podem ser mandados
efectuar por quem tem autoridade para ordenar a prisão preventiva fora de flagrante delito 263.

Assim, o MP se, ao longo da instrução preparatória entender que deve se proceder a uma busca e
apreensão num determinado local, terá de promover a sua realização ao Juiz da Instrução
Criminal, que ordenara a sua realização.

259
Artigo 206 do CPP
260
Artigo 205 do CP
261
Artigo 213 do CPP
262
Al. c) do nº 1 do artigo 1 da Lei n. 2/93, de 24 de Junho
263
Artigo 293 revogado pelo artigo 6 da Lei n. 2/93, de 24 de Junho

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

154
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Em caso de recusa da promoção do MP este pode recorrer do despacho para a instância


imediatamente superior.

Contrariamente aos exames que devam ser presididos pelo juiz ou pelo MP 264 – na instrução
preparatória – as buscas embora por aquelas ordenadas, podem ser executadas sem a sua
presença.

O Ministério Publico deve, no entanto, assistir a realização da busca e apreensão judiciais 265 e a
ela podem assistir a parte acusadora (se a houver) e a pessoa que esteja na posse do lugar em que
a diligência se realiza. O arguido devera sempre assistir se estiver preso na sede do tribunal ou se
o juiz julgar conveniente, podendo fazer-se acompanhar de defensor.

As buscas devem também sempre que possível, assistir duas testemunhas como garantia de
eventual prova da sua regularidade 266.

Realizada a busca e apreensão far-se-á o respectivo auto, no qual se mencionarão o numero e as


qualidades e objectos apreendidos, juntando aqueles ao processo, e confiando-se estes a guarda
do escrivão ou de um depositário, se o juiz o entender conveniente. Quando o arguido ou
qualquer outra pessoa reconhecer por seus papéis ou objectos apreendidos, deste reconhecimento
se farão menção expressa no mesmo auto.

As pessoas que assistirem a busca podem rubricar os papeis apreendidos, devendo faze-lo o MP,
o escrivão, o réu ou o seu defensor, se assistir, e a pessoa em poder de quem estiver esses papeis.
Quando estes últimos não queiram ou não possam rubricar, disto se fará menção no auto.

Se da oposição das rubricas puder resultar qualquer prejuízo para o exame a fazer nos papeis
apreendidos, o MP poderá, sem despacho fundamentado, proibir que sejam rubricados, devendo,
porem, adoptar as providências indispensáveis para assegurar a sua guarda e inviolabilidade 267.

264
& 2 do artigo 179 do CPP
265
Art. 203 & 2
266
Art. 203 & 3
267
Art. 176 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

155
Lições de Direito Processual Penal 2013
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Os papéis e objectos que não forem necessários a instrução da causa não poderão ser apreendidos
e, se posteriormente se reconhecer que o não deveriam ter sido, serão imediatamente restituídos a
quem de direito268.

Revistas

As revistas constituem um meio de obtenção de prova que incide sobre as pessoas, destinando-se
a averiguar se alguém oculta no seu corpo ou no seu vestuário ou adereços quaisquer objectos
relacionados com o crime ou que possa servir para a sua prova.

Os objectos a apreender podem encontrar-se escondidos ou ocultos em pessoas. Para efectuar a


apreensão é indispensável passar revista a pessoa visada.

A revista só é permitida se houver fundada suspeita da ocultação reconhecida pela entidade


competente269. Assim se permite a apreensão de objectos em poder de qualquer pessoa, que
constituam provas reais da sua infracção, bem como a obrigação de facultar quaisquer coisas que
devam ser examinadas, podendo essa obrigação ser coactivamente imposta – quer se trate de
arguido, quer de arguidos.

Realçar que as revistas devem ter em conta o respeito pela dignidade pessoal e, na medida do
possível, pelo pudor do revistado, pelo que ela não pode ser de pretexto para humilhar ou ser
aproveitada para abusar do seu corpo ou ir para além da sua finalidade.

Escutas telefónicas

A obtenção de provas através das escutas telefónicas é, em principio, proibida, por representar
um atentado a direitos fundamentais do cidadão, como são caso por exemplo: o direito de
presunção de inocência ate decisão judicial definitiva; direito de defesa e o direito a assistência
jurídica e patrocínio judiciário 270.

268
Artigo 208 do CPP
269
Arts. 178 e 203 do CPP
270
N. 2 do artigo 59, n. 1 do artigo 62 da CRM

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Todavia, tal proibição, não tem carácter absoluto, já que a lei, em certas e muito apertadas
circunstancias, permite a intromissão nessas conversações ou comunicações, desde que
verificados determinados requisitos271.

O legislador ordinário estabelece com carácter especial casos em que as escutas telefónicas
podem ser permitidas (vg. Al. b) do n. 1 do artigo 40 da Lei n. 7/2002, de 5 de Fevereiro – lei do
branqueamento de capitais; artigo 68 da Lei n. 3/97, de 13 de Marco – Lei de Trafico de
Estupefacientes.

Provas proibidas

São nulas todas as provas obtidas mediante tortura, coação, ofensa da integridade física ou moral
da pessoa, abusiva intromissão na sua vida privada e familiar, no domicílio, na correspondência
ou nas telecomunicações272.

Dispõe o artigo 173 que são admissíveis como meios de prova os admitidos em direitos – a que
nos referimos atrás.

9. FORMAS DE PROCESSO PENAL

Processo comum e processos especiais

A forma de processo penal é processo comum ou processo especial273.

As formas de processo comum são: Processo de Querela; processo de polícia correccional;


processo de transgressões e o processo sumário. Estas formas de processo empregam-se quando
nao haja para a hipotese processo especial previsto na lei.

Para se saber se a forma de processo é a comum começa-se por verificar se o caso se enquadra
em qualquer das formas especiais. Se não se enquadrar em nenhuma destas segue-se o processo
comum.

271
Cfr. Artigo 210 do CPP
272
N. 3 do artigo 65 da CRM,

273
Art. 62 CPP

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157
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Serão julgados em processo de querela os crimes a que corresponder qualquer pena maior ou a
pena de demissão274. Usamos de um critério quantitativo da pena para determinarmos a forma do
processo. As penas maiores estão enumeradas no art. 55 do CP e abrangem penas superiores a 2
anos e a de suspensão dos direitos políticos.

A pena de demissão é uma pena especial para os funcionários públicos e consiste na perda de
regalias atribuídas aos mesmos. Traduz uma privação desses funcionários de serem nomeados
para novas funções públicas.

O artigo 64 regula processo correccional que não vigora em Moçambique – penas superiores a 1
ano mas até 2 anos. Ao passo que o artigo 65 (Processo de Policia Correccional) – 3 dias – 1 ano.
Mas com a entrada em vigor do Decreto 19271, de 24 de Janeiro de 1931, revoga-se o artigo 64
do CPP, e as infracções nela julgadas passam para o artigo 65 que alarga de 3 dias – 2 anos (Art.
11 e paragrafo 2 do Decreto 19271, de 24 de Janeiro de 1931 e Portaria 340/74, de 25 de Maio,
artigo 2).

Serão julgados em processo de transgressões as penas puníveis com pena de prisão ou multa e
seguirão a forma de processo de polícia correccional e processo sumário 275. A fusão das duas
formas justifica-se pela celeridade processual e sua simplificação.

O processo sumário só se aplica se for a pena de 3 dias – 6 meses; flagrante delito, não se
aplicando assim, por excepção o processo de policia correccional.

Com a entrada em vigor do Decreto-Lei n. 28/75, de 1 de Marco mudam-se as coisas. Procede-se


ao alargamento do ambito de aplicação do processo sumário de 6 meses para um ano excluindo a
exigência de prisão de flagrante delito - art. 1 do citado Decreto; as contravenções puníveis com
pena de prisão de 3 dias – 2 anos quando presos em flagrante delito – art. 2 do citado Decreto (na
falta desse requisito, o processo aplicável ao infractor, em caso de infracção controvertida, é de
transgressões)

274
Art. 63 do CPP
275
Arts.1, 7 e 8 do DL 28/75, de 1 de Marco

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158
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Processo de transgressões276, julga as contravenções previstas na lei e as transgressões constantes


de regulamentos emanados do poder regulamentar da administração. As transgressões abrangem
as ofensas aos comandos através dos quais a administração visa promover a realização da
finalidade do bem-estar social, consistem na violação ou na falta de observância das disposições
previstas em regulamentos.

Havendo varios reus num processo, acusados por crimes diferentes a que corresponda a uns
processo de querela e a outros processo de policia correccional ou processo sumario, seguir-se-a
quanto a todos os termos do processo estabelecido para a infraccao mais grave que tenha de
apreciar-se, ou seja, o de querela.

Nao se aplica, portanto, a cada reu os termos do processo estabelecido para a infraccao por que
sao acusados, mas sim e unicamente, os termos do processo em que sao acusados.

Processo especial aplica-se exclusivamente a determinada infracções com natureza especial


referida na lei277. Então, estes constituem um limite ao campo de aplicação das regras e
princípios do processo comum.

Por serem de aplicação especial não admitem por isso aplicação analógica.

O processo especial prefere ao processo comum, logo há que verificar primeiro se uma dada
infracção corresponde um processo especial e só depois de se concluir pela negativa é que
devemos indagar qual das formas do processo comum corresponde de facto.

Assim constituem processos especiais: processo de ausentes 278, processo por difamação, calunia
e injuria279; processos por infracções cometidas por juízes, magistrados do MP280; processos por

276
Arts. 66 e 543 do CPP e arts. 7 e 8 do Decreto-Lei n. 28/75, de 1 de Marco.

277
Arts. 66 e 543 do CPP e arts. 7 e 8 do Decreto-Lei n. 28/75, de 1 de Marco.

278
Art. 562 e segts
279
Arts. 587 e segts
280
Arts. 595

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159
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infracções cometidas por juízes do Tribunal Supremo ou magistrados do MP junto deles, ou


outros de igual categoria281; processo de reforma de autos perdidos, extraviados ou destruídos282.

Erro na forma do processo.

De acordo com o artigo 98, n. 2, o emprego de uma forma de processo nos casos em que a lei
prescreve outra constitui causa de nulidade do processo, determinando a anulação dos actos que
não puderem ser aproveitados e o juiz ou tribunal que o julgue procedente mandara praticar os
estritamente necessários para que o processo se aproxime, quanto possível, da forma estabelecida
por lei - & 3. Esta nulidade deve ser de conhecimento oficioso pelo tribunal devendo esta ser
arguida ate ao dia em que se realize a audiência de julgamento – artigo 99, corpo e & 1.

Ademais se o emprego da forma de processo depender da pena que couber a infracção, atender-
se-á aquela que for aplicável, independentemente de quaisquer circunstâncias agravantes ou
atenuantes que nela possam concorrer, exceptuando-se as agravantes que forem especialmente
previstas na lei e alterem a pena 283, porque, neste caso, a esta se atendera284.

Momento de fixação da forma de processo

A forma de processo deve ser fixada na acusação do MP ou despacho de pronúncia


equivalente285.

Momento de arguição da nulidade

Quando se empregue uma forma de processo comum mais solene em vez de outra menos solene,
só pode ser arguida ate ao dia em que se realize a audiência de julgamento 286.

281
Arts. 613 e segts

282
Arts. 617 e segts
283
Veja por exemplo do art. 426 do CP na redacção dada pela Lei n. 8/200…

284
Art. 69 do CPP

285
n. 4 do art. 359 e n. 4 do art. 366 ambos do CPP
286
$ 1 do art. 99 CPP

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10. MEDIDAS DE COACAO E DE GARANTIA PATRIMONIAL

Noção:

As medidas de coação e de garantia patrimonial são meios processuais de limitação de liberdade


pessoal ou patrimonial dos arguidos e outros eventuais responsáveis por prestações patrimoniais,
que tem por fim acautelar a eficácia do procedimento, quer quanto ao seu desenvolvimento, quer
quanto a execução das decisões condenatórias.

10.1.1. Finalidade:

A aplicação das medidas cautelares funda-se na necessidade de durante o curso dos autos os
arguidos não se furtem da justiça, ou perturbem a instrução ou continuem a cometer crimes.

Para a aplicação das medidas de coação é necessário que haja processo-crime contra alguém e
essa pessoa tenha sido constituído arguido, quer dizer, tenha informado que é indiciado da
prática dum crime e explicado sobre os seus direitos e obrigações.

10.2. Os meios de coação com finalidade processual

Sabemos que o processo penal se dirige a um fim – obter a declaração de direito do caso através
de uma decisão judicial definitiva.

Para garantir a segurança dos meios de prova necessários a prossecução do processo e assegurar
a exequibilidade da decisão final, a lei prevê a aplicação de medidas coercitivas que restringem a
esfera jurídica individual daqueles a quem se dirigem.

Tais medidas coercitivas ou meios de coação, traduzem-se, pois, numa garantia do fim do
processo, tem natureza eminentemente processual. Por isso, não devem confundir-se com outras
medidas de natureza administrativa, que surgem como reacção a ofensas de carácter disciplinar
ou penal287.

287
Exemplos: as medidas previstas nos arts. 91 e 93 do CPP e as medidas de segurança
provisórias a que aludem os arts. 50 e 51 do DL n. 35007

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Esses meios de coação podem afectar como veremos adiante, diferentes direitos individuais,
incluindo sobre a liberdade (no caso da prisão preventiva, o corpo humano (no caso da sujeição a
exames médico-forenses), o domicilio (no caso das buscas), a propriedade ou posse (no caso das
apreensões), etc.

A nossa lei processual penal prevê as seguintes medidas de coação e garantia patrimonial:
liberdade provisória mediante termo de identidade e residência; liberdade provisória mediante
caução e prisão preventiva.

A liberdade provisória, mediante termo de identidade e residência e mediante caução podem ser
acumuladas com outras medidas que a lei estabelece nos artigos 269 e 271 CPP.

Com excepção da liberdade provisória mediante termo de identidade e residência, que pode ser
aplicada pelo MP e autoridades da PIC, só compete ao juiz da instrução criminal a aplicação de
medidas de coação e de garantia patrimonial, mediante requerimento ou promoção do Ministério
Publico durante a instrução preparatória.

A promoção ou requerimento do MP pode ser feito a qualquer altura, assim que entender haver
necessidade da aplicação de medidas cautelares.

O juiz da instrução criminal, assim como o da causa, podem por sua iniciativa nas fases
subsequentes aplicar as medidas de coação.

10.3. A PRISAO DO ARGUIDO

Em linguagem comum utiliza-se o termo prisão para referir qualquer situação de privação de
liberdade.

Contudo há que distinguir a detenção da prisão. A detenção é uma privação da liberdade


precária, por período muito curto, que terá de ser confirmada por intervenção judicial
subsequente sem o que não poderá manter-se.

A prisão há necessariamente de distinguir entre prisão preventiva e prisão simplesmente.

Prisão preventiva é uma medida de coação a que pode ficar sujeito um arguido durante o
processo, ate haver sentença transitada em julgado, enquanto a prisão é a situação que se

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162
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encontra o arguido após a decisão transitada em julgado que o tenha condenado nessa espécie de
pena.

Quando é que é possível a detenção?

Em caso de ser encontrado em flagrante delito, o autor do facto ilícito pode ser detido ate ao
julgamento se estiverem reunidas as condições para que o processo siga a forma sumaria. O
período máximo de detenção é, neste caso, de 48 horas.

Se não for caso de julgamento sumário a detenção poderá também manter-se ate 48 horas
para aplicação ou execução de uma medida de coação.

Qualquer pessoa pode ser detida, se tal necessário, para assegurar a sua presença em acto
processual. Neste caso a privação só pode perdurar o tempo necessário para assegurar essa
presença perante a autoridade judiciária.

Quem pode determinar a prisão e onde?

Em flagrante delito - qualquer autoridade ou agente de autoridade. Se não estiver presente nem
puder ser chamada em tempo útil nenhuma dessas entidades qualquer pessoa do povo pode
efectua-la e esta pode ser efectuada tanto na casa no lugar onde o facto se esta cometendo, ainda
que nao seja acessivel ao publicos, como naquele a que o infractor se acolheu,
independentemente de qualquer formalidade, desde que a infraccao corresponda a pena de
prisao288

Fora de flagrante delito - a detenção pode ser determina por mandado do juiz, por mandado do
MP, nos casos em que seja admissível a prisão preventiva ou por ordem de autoridade de polícia
criminal.

10. 5. PRISAO PREVENTIVA

10.5.1. Noção:

288
Arts. 287 e 289 do CPP

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163
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A prisão preventiva é uma medida de coação aplicável com vista a se acautelarem os efeitos úteis
da acção penal, ou seja, privação da liberdade física do cidadão antes da sua condenação por uma
sentença transitada em julgado.

10.5.2. Finalidade da prisão preventiva

A prisão preventiva tem uma finalidade de natureza processual designadamente: garantia de


execução da decisão final do processo e garantia de uma eficiente elaboração do próprio
processo.

10.5.3. Objectivos da prisão preventiva

A prisão preventiva segundo FAUSTIN HELIE tem três objectivos: garantia de execução da
pena; meio de assegurar a instrução do processo e medida de segurança contra a perpetração de
novas infracções.

10.5.4. Prisão preventiva sem culpa formada – em flagrante delito e fora de flagrante delito

A prisão preventiva sem culpa formada distingue-se em flagrante delito e fora de flagrante
delito. E o distintor é exactamente o Despacho de pronúncia: a prisão antes de pronúncia é prisão
sem culpa formada. E a prisão com culpa formada é a depois da pronúncia. Diz-se formada a
culpa quando lhe foi designado dia de julgamento nos processos de polícia correccional, de
transgressões e sumario 289.

Nos termos do artigo 64, n. 1 da CRM, a prisão preventiva só é admitida nos casos previstos na
lei, que fixa os respectivos prazos.

Os casos que a lei ordinária admite a prisão preventiva são 290:.

1. Em flagrante delito nos termos do artigo 287.

2. Por crime doloso a que caiba pena de prisão superior a um ano, nos termos do artigo 291

289
Vide DL n. 28/75, de 1 de Marco
290
Artigo 286 do CPP

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164
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3. Pelo não cumprimento de obrigações a que ficar subordinado a liberdade provisória, nos
termos do ns. 2 e $ 4 do artigo 291.

Resumindo:

Prisão preventiva em Flagrante delito – artigo 288.

Da análise desta disposição resulta que a lei distingue entre flagrante delito (em sentido estrito),
quase flagrante delito e presunção legal de flagrante delito.

Em flagrante delito, a prisão é sempre autorizada, desde que ao crime corresponda pena de
prisão291.

Se ao facto punível não corresponder pena de prisão (mas por hipótese, simples pena de multa), o
infractor só poderá ser detido por qualquer autoridade ou agente de autoridade (e já não por
pessoa do povo), ou quando se trate de arguidos em liberdade provisória ou condenados em
liberdade condicional que tenham infringidos as obrigações a que estão sujeitos292.

Prisão preventiva fora de flagrante delito

A prisão preventiva só é autorizada nos casos seguintes:293

1. Quando se verifiquem cumulativamente os seguintes requisitos:

a) Perpetração de crime doloso punível com pena de prisão superior a um ano;

b) Forte suspeita da prática do crime pelo arguido;

c) Inadmissibilidade da liberdade provisória ou insuficiência desta para a realização dos


seus fins;

d) Quando o arguido, em liberdade provisória não cumpra as condições a que ela ficar
subordinada.

291
Artigo 287 do CPP

292
$ único artigo 287 do CPP
293
Artigo 291 do CPP

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165
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Prisão preventiva após a formação da culpa

A prisão preventiva como continuação da privação da liberdade resultante da captura, pode,


como esta, ser anterior ou posterior a culpa formada.

Quando a prisão preventiva é posterior a culpa formada, são menores, as probabilidades de erro
ou de abuso de autoridade e mais sólidos os fundamentos em que assenta por um lado. Quem o
decreta é sempre a autoridade judicial; por outro, os motivos que a justificam foram apreciados
ponderadamente na fase processual própria – o despacho de pronúncia – após uma instrução
preparatória já terminada, sobre a qual incidiu um juízo de probabilidade judicial, tendo por
objecto, quer a existência da infracção, quer a imputação desta ao arguido.

A duração da prisão preventiva após a culpa formada confunde-se com a duração do processo ate
decisão final. Não esta sujeita rigorosamente a um prazo fixo. Em todo o caso, a conveniência de
evitar uma prisão preventiva prolongada é tão grande e a ineperobilidade (se a decisão final for
absolutória) da injustiça da sua indefinida prorrogação tão evidente, que a lei procura por várias
formas impedir uma demasiada duração da prisão preventiva.

Duração e termo da prisão preventiva

O termo da duração da prisão preventiva sem culpa formada pode resultar de duas situações: ou
por se ter verificado a formação da culpa (caso em que a prisão passara a ser legitimada pela
culpa formada, ou por se terem esgotado os respectivos prazos sem que sobreviesse a
pronuncia (caso em que caduca por forca da lei automaticamente).

O termo da duração da prisão preventiva com culpa formada surge, como se disse acima, com a
decisão final – pela libertação do arguido (em caso de absolvição ou de condenação em pena
igual ou inferior ao período de prisão preventiva sofrido) ou pelo inicio da execução da
condenação.

Os prazos de prisão preventiva são:294

294
$$ 2 e 3 do artigo 308 do CPP

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Desde a captura ate a notificação ao arguido da acusação ou do pedido da instrução contraditória


pelo MP, esses prazos não podem exceder:

a) 20 dias, por crimes dolosos a que caiba pena de prisão superior a um ano;

b) 40 dias por crimes a que caiba pena de prisão maior;

c) 90 dias por crimes cuja instrução preparatória seja da competência exclusiva da Policia de
Investigação Criminal ou a ela deferida: (falsificação de moeda, notas de banco, trafico ilícito
de estupefacientes, dentre outros previstos no art. 16 do DL 35.042)

Desde a notificação ao arguido da acusação ou do pedido de instrução contraditória pelo MP ate


despacho de pronúncia em primeira instância, os prazos de prisão preventiva não podem exceder:

a) 3 meses, se a infracção couber pena a que corresponda processo de polícia correccional;

b) 4 meses, se ao crime couber a pena a que corresponda processo de querela.

Os prazos podem ser prorrogados se for inadmissível a liberdade provisória, competindo ao juiz
de instrução criminal marcar desde logo a data das diligências que repute indispensáveis para
ultimação da instrução. O período de prorrogação não pode exceder (60) sessenta dias 295.

Se, findos os prazos de prisão preventiva sem culpa formada, não se encontrar proferido o
despacho de pronúncia (ou o equivalente, que é o despacho que designa o dia para julgamento),
os detidos terão ser obrigatoriamente soltos296. É por isso que os prazos da instrução preparatória,
havendo réus preso coincidem com os da duração da prisão preventiva297.

Os prazos referentes a processos com arguidos presos podem ser acrescidos ao tempo
absolutamente indispensáveis, não excedente a (30) trinta dias, para decidir incidentes ou
excepções processuais deduzidas pela defesa e para proceder a diligências de defesa que não
pudessem ter sido realizadas antes, quando a própria defesa não prescindir delas.

295
$ 1 do artigo 309 do CPP
296
Corpo do artigo 309 do CPP
297
Artigo 337 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Pelo mesmo prazo pode o juiz, em despacho fundamentado, depois de ouvidas as partes, pode
prorrogar a prisão preventiva.

Alteracao da situacao do arguido - revogacao; cessacao; fixacao da durabilidade; reexame


periodico, suspensao e termo da prisão preventiva

A prisão preventiva sem culpa formada é por natureza, precária devido a relatividade da
consistência dos fundamentos da suspeita que a legitima.

A precariedade da prisão preventiva sem culpa formada cessa com o despacho de pronúncia ou
não pronúncia: com o despacho de pronúncia, passara a prisão preventiva com culpa formada:
com o despacho de não pronúncia, esvazia-se o juízo de suspeita que dera origem a prisão e
segue-se necessariamente a restituição do arguido a liberdade.

Todavia, durante a instrução preparatória, a prisão preventiva pode cessar a qualquer altura,
sempre que se verifique não subsistirem os requisitos que a justifiquem298, ou seja, apos a
formacao da culpa formada, a prisao preventiva so pode ser revogada em recurso interposto do
despacho de pronuncia, do despacho que a tiver ordenado posteriormente ou da decisao final,
quando da decisao deva resultar nova apreciacao da legalidade da prisao, nos termos do artigo
291. por um lado, por outro, esta pode ser revogada ou alterado o seu condicionamento, por
inobservancia das obrigacoes impostas antes da culpa formada.

Pode ainda a prisao preventiva ter seu termo quando o arguido com culpa formada, apos
interposicao de qualquer recurso o arguido seja despronunciado ou absolvido 299 e finalmente esta
pode ser suspensa, quando em sede de prisao em flagrante delito ou fora de flagrante delito, haja
fundadas razoes para crer que o facto foi cometido pelo arguido em circunstancias que dirimam a
sua responsabilidade criminal. Se o processo prosseguir, ficar o arguido em liberdade provisoria,
com ou sem caucao, consoante a gravidade do crime 300.

Liberdade provisória

298
É o que resulta do preceituado no artigo 273 do CPP
299
& 3 do artigo 308 do CPP
300
Corpo do artigo 292 do CPP

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Substituição da prisão preventiva pela liberdade provisória – sua justificação

Fora dos casos previstos no artigo 286 do CPP, que como vimos, define em que circunstancias
pode ser ordenada a prisão preventiva, os arguidos ficam a aguardar os termos do processo em
liberdade provisória.

Vimos que a prisão preventiva prossegue determinados fins processuais – a efectiva execução da
pena: a serenidade da instrução do processo e estabilização do cometimento de novas infracções.
Ora sempre que se mostre viável a prossecução desses fins pela aplicação de medidas menos
onerosas, deverão estas prevalecer em substituição da prisão.

A lei prevê os requisitos ou condições de renúncia a prisão preventiva, de modo a que os fins
processuais que esta aspira alcançar sejam logrados por outras vias que não restrinjam tão
asperamente a liberdade pessoal.

Uma dessas vias é a caução, mediante a qual se procura assegurar os fins da prisão preventiva a
partir do interesse do próprio arguido: a caução obriga-o a cumprir com os seus deveres
processuais, sob ameaça de perder o valor caucionado e a própria liberdade.

Mas como a caução implica uma certa abastança económica ou, pelo menos, um certo crédito
(no caso da caução prestada por fiança) que não estão ao alcance da maioria dos arguidos, prevê
também a lei a possibilidade de a substituir pelas obrigações a que se refere o artigo 272 do
CPP301.

Uma outra via, referida a situações diversas daquelas a que se aplica a caução, é a do termo de
identidade e residência.

Casos de inadmissibilidade da liberdade provisória

301
Se o arguido estiver impossibilitado de prestar caução ou tiver grandes dificuldades ou inconvenientes em
presta-la devera o juiz, oficiosamente ou sob promoção do Ministério Publico ou a requerimento do próprio
interessado, substitui-la pela obrigação do mesmo arguido se apresentar ao tribunal ou a outra autoridade por ele
designada, em dias e horas pré-estabelecidas, ou quando o juiz o entenda necessário, obrigação esta que
acrescera as que lhe tiverem sido impostas, com excepção dos casos previstos no & 3 do artigo 291.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

169
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Há casos em que a liberdade provisória é inadmissível ou insuficiente para a realização dos seus
fins, devendo o arguido aguardar sob prisão o decurso do processo 302.

É inadmissível a liberdade provisória devendo efectuar-se a captura:nos crimes puníveis com


as penas dos nºs. 1,2,3 e 4 do artigo 55 do CP;

nos crimes dolosos puníveis com pena de prisão superior a um ano cometidos por
reincidentes, vadios ou equiparados;

quando haja comprovado receio de fuga;

quando haja comprovado perigo de perturbacao da instrucao do processo mantendo-se o


arguido em liberdade;

quando, em razao da natureza e circunstancias do crime ou da personalidade do deliquente,


haja receio fundado de perturbacao da ordem publica ou da continucao da actividade
criminosa.

Casos de insuficiência das medidas de liberdade provisória.

Não são suficientes as medidas de liberdade provisória: quando haja comprovado receio de fuga;
quando haja comprovada perigo de perturbação da instrução do processo mantendo-se o arguido
em liberdade; quando em razão da natureza e circunstância do crime ou da personalidade do
delinquente haja receio fundado de perturbação da ordem pública ou da continuação da
actividade criminosa.

Não se verificando nenhum destes requisitos, o arguido devera aguardar em liberdade provisória,
sob qualquer das modalidades (caução ou termo de identidade e residência)

Liberdade Provisória Mediante Termo de Identidade e Residência303.

302
$$ 2 e 3 do artigo 291 do CPP, com referencia a alínea c) do n. 1 do mesmo preceito
303
Artigo 269 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

170
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A liberdade provisora mediante TIR é a primeira medida de coação que se deve ter em conta
para aplicação das outras medidas de coação e de garantia patrimonial. Só se verificar a
ineficácia deste é que se podem aplicar as outras.

Esta medida pode ser aplicada pelo MP logo na triagem após um interrogatório sumário do
arguido, assim que a considere adequada para os fins cautelares visados.

O indivíduo que for aplicado esta medida esta sob uma liberdade provisória, ficando sujeito a
certas obrigações, nomeadamente, provar a sua identidade, declarar a sua residência, comparecer
em juízo, quando a lei o exija ou quando seja devidamente notificado por ordem do magistrado
competente, não perturbar a instrução do processo procurando ilicitamente impedir a averiguação
da verdade, não cometer novas infracções.

A identidade do arguido devera ser considerada provada: se for conhecido do juiz, do agente do
MP, do defensor ou de qualquer dos oficiais de justiça; se mostrar o seu bilhete de identidade; se
apresentar pessoa idónea, em juízo que declare conhece-lo.

Provada a identidade, o arguido deve declarar a sua residência, que se obriga a comparecer em
juiz, sempre que para tal for notificado e a não mudar de residência nem ausentar dela por mais
de cinco dias sem comunicar em juízo a sua residência.

Se o arguido for residir fora do distrito ou da cidade, onde o processo corre, devera também
indicar pessoa que, residindo naqueles locais, tome o encargo de receber as notificações que
devem lhe serem feitas.

A prova de identidade e as demais formalidades a que nos referidos deverão constar do


respectivo termo de identidade e residência lavrado no processo.

Caso de aplicacao

O termo de identidade e residência é aplicável às infraccoes jurídico-criminais cuja punicao seja


ate 6 meses de prisão – a contrario senso do artigo 271 do CPP.

Liberdade Provisória Mediante Caução

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

171
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A caução é uma das medidas cautelares que consiste em dar-se um valor patrimonial como
garantia do cumprimento das obrigações inerentes a qualidade de arguido em que o indiciado se
encontra.

Finalidade

A caução ―tem por fim assegurar eficazmente a comparência dos arguidos a todos os termos do
processo em que ela seja necessário e o cumprimento das obrigações pela lei ou pelo juiz.‖ 304.

A caução é arbitrada pelo JIC se ocorrer durante a instrução preparatória305, ou do juiz da causa,
se tiver lugar posteriormente306, ouvido o MP, tendo em conta a gravidade da infracção, o dano
causado e as circunstancias do arguido – segundo parágrafo do corpo do artigo 274 do CPP.

A quem se aplica a liberdade provisória mediante caução

A liberdade provisória mediante caução é aplicável aos arguidos por crimes a caiba pena de
prisão por mais de 6 meses ou penas a que corresponda processo de polícia correccional ou
de querela, se o juiz entender que não deve se lhe aplicar a media de termo de identidade e
residência e não estiverem compreendidos nos && 2 e 3 do artigo 291 do CPP, bem como os
vadios e equiparados e aqueles a quem forem aplicadas medidas de segurança privativas de
liberdade.

Quer dizer que se os crimes forem puníveis com penas de 8/12 – 12/16 – 16/20 – 20/24 anos de
prisão maior, não pode haver caução.

Tambem não há lugar à caução quando haja receio de fuga do criminoso; quando haja
comprovada perigo de perturbação da instrução do processo mantendo-se o arguido em liberdade
e quando em razão da natureza e circunstância do crime ou da personalidade do delinquente haja
receio fundado de perturbação da ordem pública ou da continuação da actividade criminosa 307

304
Artigo 274 do CPP
305
Al. b), n. 2 do art. 1 da Lei n. 2/93
306
N. 6 do Art. 366 do CPP
307
& 3 do artigo 291 do CPP.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

172
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Também não pode haver caução quando sejam praticados crimes intencionais, dolosos, puníveis
com pena inferior a um ano, e os agentes sejam reincidentes.

Obrigacoes acessorias

Prestada a caução, alem das obrigações enunciadas no artigo 269 do CPP, podem ainda,
consoante as circunstancias sobre estas serem impostas outras obrigações acessórias, previstas no
artigo 270 do CPP308.

Modalidades da caução

A caução em processo penal pode revestir duas modalidades 309:

Caução carcerária, que tem por fim assegurar eficazmente a comparência do arguido a
todos os termos do processo em que seja necessária e o cumprimento das obrigações
impostas pelo juiz e

Caução económica que se destina a garantir o pagamento das multas e do imposto de justiça,
assim como das indemnizações por perdas e danos em que o arguido possa vir a ser
condenado.

Formas de prestação e processamento da caução310

A caução pode ser prestada por meio de depósito, penhora, fiança bancária ou fiança. Cabe ao
arguido em regra, a escolha da forma da caução.

308
Não se ausentar do pais, ou não se ausentar sem previa autorização do magistrado que presidir as diligências no
processo, a qual, em casos urgentes, pode ser requerida e concedida verbalmente, lavrando-se no processo cota
rubricada pelo mesmo magistrado, e entregar a guarda do tribunal passaporte que possua; r residir fora do distrito
ou localidade onde o cometeu ou onde residam os ofendidos, ou os cônjuges, ascendentes descendentes deles; não
exercer certas actividades que estejam relacionadas com o crime cometido e que façam recear a perpetração de
novas infracções; não frequentar certos meios ou locais, ou não conviver com determinadas pessoas; sujeitar-se a
vigilância de determinadas autoridades ou serviços púbicos, nos termos em que forem estabelecidos; exercer um
mister ou profissão, em local determinado, quando não se ocupe em trabalho certo ou qualquer outra obrigação a
que possa ser subordinada a liberdade condicional.

309
Artigo 274 & 1 do CPP
310
Artigo 277 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

173
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O processamento para a prestação da caução por cada uma das formas vem regulado nos artigos
279 a 281 do CPP.

Substituição da prestação da caução.

A qualquer momento o arguido pode requerer a substituição do meio que usou para a prestação
da caução por outro, desde que seja legalmente possível – artigo 278 do CPP

Se o arguido estiver impossibilitado de prestar caução ou tiver grandes dificuldades ou


inconvenientes em presta-la devera o juiz, oficiosamente ou sob promoção do MP ou a
requerimento do próprio interessado, substitui-la pela obrigação de o mesmo se apresentar ao
tribunal ou a autoridade por ele designada, em dias e horas preestabelecidas, ou quando o juiz o
entenda necessário, obrigação esta que acrescera as que lhe tiverem sido impostas – artigo 282
CPP.

Esta substituição não poderá fazer-se nos casos em que, sendo autorizada a prisão preventiva, o
juiz considere indispensável a caução ou a prisão nos termos do & 3 do artigo 291 do CPP.

Inadmissibilidade, desnecessidade ou insuficiência da caução311

Se posteriormente ao despacho que arbitrou a caução, se verificarem ou forem conhecidas


circunstancias que a tornem inadmissível, desnecessária ou insuficiente, devera a caução ser
declarada sem efeito, dispensada ou reforçada, conforme os casos, depois de ouvido o Ministério
Publico.

A caução é inadmissível, e devera ser quebrada, quando se verifiquem os casos em que a lei
impõe a prisão preventiva - $$ 2 e 3 do artigo 291 do CPP, com referencia a alínea c) do n. 1 do
mesmo preceito.

A caução é desnecessária e deve ser dispensada, quando não seja admissível e suficiente a
liberdade mediante termo de identidade e residência.

A caução é insuficiente e devera ser ordenado o seu reforço, quando houver depreciação ou
destruição dos objectos depositados ou hipotecados, quando o fiador ou sob fiador decair de

311
Artigo 282 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

174
Lições de Direito Processual Penal 2013
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fortuna, de forma a haver receio de insolvência, ou quando se mostre que o seu valor não garante
eficazmente o cumprimento das obrigações do arguido em liberdade provisória.

Se o arguido, notificado para reforçar a caução, não indicar bens para o reforço, exigido ou novo
e idóneo fiador ou sub fiador, no prazo de cinco dias, ficara a caução sem efeito e o arguido
preso será preso em todos os casos em que é admissível a captura ou não deva prescindir-se de
caução – artigo 283.

Quebra da caução

Em caso do arguido faltar as obrigações que lhe for imposto será quebrada a caução e recolhido a
prisão, e só poderá ser concedida de novo liberdade provisória no despacho de pronúncia ou da
decisão final – artigo 283

O fiador ou sub fiador podem ser exonerados da fiança, desde que o requeiram ao JIC. O arguido
será notificado desse requerimento e, se não prestar caução no prazo de cinco dias, igualmente
será preso preventivamente e só poderá voltar a ser concedida de novo liberdade provisória nos
mesmos termos acima referidos – artigo 310

O mesmo se diga em caso de falecimento do fiador ou do sub fiador, pois de igual modo devera
se notificar o arguido para no prazo de cinco dias prestar a caução, se não a prestar poderá ser
sujeito a prisão preventiva se se afigurar estritamente necessário.

**********************

REACOES A APLICACAO OU MANUTENCAO DAS MEDIDAS DE COACAO

Uma vez aplicada qualquer medida de coacao, esta pode estar sujeita a reapreciacao, por via de
recurso ou do habeas corpus.

O recurso é precisamente um desses instrumentos. Em caso de se negar ou conceder a liberdade


provisoria mediante caucao e arbitrar o valor desta, e bem assim do que julgar quebrada,
compete recurso ao juiz, restrito ao conhecimento do que nesses despachos se decidiu 312.

312
Corpo do artigo 284 e 285 ambos do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

175
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Outro dos instrumentos facultado aos interessados com vista a proteccao da liberdade fisica do
cidadao, por uma decisao tida por ilegal é o habeaus corpus: um expediente destinado a provocar
a intervencao do poder judicial com o fim de fazer cessar qualquer ofensa ao direito de liberdade
por motivo de abuso de autoridade ou erro grosseiro.

Sobretudo se aplica em caso de prisão ilegal ou prisao irregular. Diz-se ilegal a prisão quando
esta é efectuada fora dos casos previstos na lei, ou seja, sem fundamento legal. Mas essa violação
tem de encaixar-se no artigo 291, als. a),b) e c) do CPP, ou seja o crime tem de ser doloso e não
meramente culposo. Por exemplo, será ilegal a prisão ordenada por quem não tenha competência
para tal e não haja requisito de fundo, e quando seja efectuada durante a noite com entrada em
casa habitada sem permissão dos moradores313 e diz-se irregular quando a prisão é efectuada com
a preterição dos requisitos de forma (mandado de captura e da apresentação ao juiz) 314.

Habeas Corpus - é um meio de garantia do direito a liberdade, um meio de reagir perante o


tribunal contra uma detenção ou prisão ilegal, que pode ser utilizado pelo próprio ou por
qualquer cidadão no pleno gozo dos seus direitos políticos. Esta providência reveste-se de duas
formas, designadamente a ordinária e extraordinária

Habeas corpus por detenção ilegal ou ordinária315 - Se se tratar de detenção ilegal, a petição para
a apresentação em juiz da pessoa privada de liberdade será dirigida ao juiz da instrução da área
onde se encontra.

A detenção pode ser ilegal, porque:

a) Já esta excedido o prazo para a entrega ao poder judicial. Ex: detenção a ordem de autoridade
policial por período superior a 48 horas;

b) O detido se encontrar em algum dos locais legalmente permitidos;

313
Arts. 213, 264, 266 do CPP
314
Artigos 289, 293 na redaccao dada pelo artigo 6 da Lei n. 2/93, 298, corpo do artigo 311 ambos do
CPP, conjugado com o n. 1 do artigo 21 do DL 35007.

315
Art. 312 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

176
Lições de Direito Processual Penal 2013
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c) A autoridade que efectuou a detenção não tinha competência para tal. Ex. Detenção por um
agente da polícia, fora de flagrante delito, sem mandado emanado da autoridade competente;

d) Detenção motivada por facto pelo qual a lei não a permite. Ex: detenção em flagrante delito
por crime que depende de acusação particular;

Habeas corpus por detenção ilegal ou extraordinária316 - Se se tratar de prisão ilegal a


providência será interposta perante o tribunal, que sobre ela decide no prazo máximo de oito dias
– artigo 66 n. 1 da CRM, conjugado com a al. B), n. 1 do artigo 86 da Lei n. 24/2007, de 20 de
Agosto.

Poderá a prisão ser ilegal porque:

a) Quem efectuou ou ordenou não tinha competência para tal;

b) A lei não permite a prisão por aquele facto. Ex. O juiz determinou a prisão preventiva pela
pratica de um crime de ofensas a integridade física simples;

c) Manter-se além dos prazos legais para a apresentação em juízo e para a formação da culpa;

d) Foi excedido o prazo fixado por lei ou por decisão judicial. Ex: esgotado o período de
cumprimento da pena de prisão o arguido não foi imediatamente libertado.

A decisão que aplicar uma medida de coação pode ser impugnada por recurso, se essa medida for
a prisão preventiva ela pode ser impugnada também por habeas corpus.

A peticao de habeas corpus317, sera formulada pelo preso, por seu conjuge, ascedente ou
descendente capaz, por meio de requerimento assinado por advogado em duplicado, dirigido ao
Presidente do tribunal competente, donde conste a identificação do preso, a entidade que o
prendeu ou mandou prender, a data da captura, o local da prisao, os motivos desta e os
fundamentos da sua ilegalidade, sendo que a deve ser tomada por maioria, sendo fundamentada e

316
Art. 315 do CPP
317
& Unico do Artigo 312 e 316 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

177
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transcrita na acta318. Perante os factos apresentados a decisao pode ser de: indeferimento do
pedido por falta de fundamento; mandar apresentar o preso no tribunal competente para o julgar;
ordenar a sua imediata libertação, por considerar ilegal a prisão; colocar o preso as suas ordens, e
ordenar inquérito sobre as condições de legitimidade da prisão.

O não cumprimento da deliberação implica incorrer-se nas sanções dos artigos 323 e 291 do CP

Se as Petições de habeaus corpus forem manifestamente infundadas e ma fé, o tribunal


competente condenara solidariamente o requerente e o seu defensor numa indemnizacao 319.

*****

A INSTRUCAO

A fase da instrução compreende a instrução preparatória ou corpo de delito e a instrução


contraditória. 320

A fase de instrução inicia-se pela ―notitia criminis”, isto é, pela informação suficiente para
alicerçar uma suspeita sobre um facto criminoso.

A notícia do crime pode chegar ao conhecimento de forma fortuita ou mediante denúncia ou


queixa da entidade competente para promover o processo-crime – em regra o MP.

A denuncia pode ser obrigatória ou facultativa.A informação a autoridade competente pode ser
obrigatória ou facultativa. Há entidades que são legalmente obrigadas a comunicar ao MP a
informação que possuam e outras que tem somente a faculdade de o fazer, mas sobre as quais
não impede qualquer dever.

Ha obrigatoriedade da denúncia, nos caos em que é imposta, tem o fito de facilitar o


conhecimento da infracção pelo MP, atribuindo a certas entidades oficiais um dever de
colaboração especial com a justiça penal.

318
Artigo 319 e 322 do CPP
319
Artigo 324 do CPP
320
Artigo 11 do DL 35007.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

178
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E obrigatória a denuncia ao MP321, para as autoridades policiais, quanto a todas as infracções de


que tenham conhecimento; para os funcionários públicos, quanto as infracções de que tomem
conhecimento no exercício ou por causa do exercício das suas funções.

São de abranger o próprio MP, quando não for o competente para proceder a instrução, e que
devera então participar o crime ao MP competente322 as autoridades policiais, em geral323 e os
juízes de paz324

A obrigatoriedade de denúncia nos termos do n. 2 do art. 7 do DL e art. 164 do CPP não tem
largo alcance.

A denúncia por particulares, ou por funcionários públicos quanto a infracções de que não tenham
tido conhecimento no exercício ou por causa do exercício das suas funções, é facultativa. Não há
o dever de denunciar, ma há sempre a faculdade de denunciar.

Forma de denúncia - a denúncia pode ser feita oralmente ou por escrito. A denúncia oral deve ser
reduzida a auto assinado pelo funcionário que a receber e pelo denunciante, ou se este não souber
escrever ou não provar a sua identidade, também por duas testemunhas abonatórias325.

E assim ou a denuncia é apresentada por escrito, ou sendo feita verbalmente é reduzida a auto.

Só não será reduzida a escrito a denuncia na hipótese de flagrante delito e consequente


julgamento em processo sumário, pois que então a apresentação do detido no tribunal dispensa
qualquer participação escrita; todo o processo se condensa, neste caso, na audiência de discussão
e julgamento.

321
Art. 7 do DL 35007

322
n. 1 do art. 7 do DL 35007 e art. 165 do CPP;
323
n. 1 do art. 7 do DL e art. 163 do CPP
324
Art. 162 do CPP.

325
& 1 do art. 9 do DL

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Quanto feita oralmente perante autoridade com competência para receber a denuncia, aquela fará
reduzir o auto as declarações do denunciante, de modo que no auto se contenham os elementos
essenciais da denuncia.

A denúncia obrigatória é feita por ofício. A transmissão obrigatória da denúncia recebida


consiste na remessa da própria denuncia ou do auto levantado em razão de denúncia verbal.

O conteúdo da denuncia é, em todos os casos os mesmos devendo conter326: a identificação do


denunciado deve-se sempre procurar fazer a identificação do autor do crime. Porém, existem
casos em que verifica-se a prática de um crime sem que se conheça o seu autor. Nestes casos,
nada obsta a que o ofendido deduza a sua queixa contra incertos, cabendo-lhe fornecer ao
Ministério Público e/ou órgão de polícia, os indícios que possam levar estes a descobrirem o
autor do crime. Este tipo de denúncia contra incertos reveste utilidade nos casos em que o
ofendido e lesado pretendam por exemplo, obter o pagamento de um seguro; exposição de factos
– o denunciante deve expor todos os factos que permitam ao Ministério Público e órgão de
polícia criminal averiguar em sede de instrução preparatória da existência ou não da prática de
um crime, e posterior subsunção a uma ou mais normas de direito penal substantivo. É dos factos
carreados pelo denunciante na sua queixa que o Ministério Público irá em momento subsequente
deduzir a sua acusação, se esta for pública ou semi-pública, já que, no caso dos crimes
particulares, compete ao ofendido e denunciante deduzir a acusação particular, a qual será ou não
acompanhada pelo Ministério Público. Note-se ainda que a exposição dos factos não tem que ser
articulada, embora, se subscrita por um advogado, em nome de uma melhor arrumação dos
factos e da qualidade técnica, deverá ser deduzida por artigos ou alíneas; tipificação do crime –
O denunciante não é obrigado a indicar a norma de direito substantivo que se enquadra no crime
praticado, nem o Ministério Público e Juiz, estão vinculados a uma eventual subsunção da norma
penal indicada pelo denunciante. Bastas vezes, para os factos carreados pelo denunciante e
ofendido, é pelo Ministério Público indicada uma norma penal diferente da indicada por aquele.
Porém, é de boa técnica, principalmente quando subscrita por advogado, indicar-se a tutela
jurídico-penal aplicável ao caso concreto. O crime é um facto típico, ou seja, a conduta do agente

326
Art. 9 do DL e art. 166° do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

180
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deve formalmente coincidir com a descrição feita na norma incriminadora, tudo em obediência
ao princípio da legalidade na incriminação e finalmente requerimento para constituição de
assistente e manifestação do propósito de pedido de indemnização civil 327 –os ofendidos podem
constituir-se assistentes, sendo que, nos casos dos crimes particulares. Tanto na denúncia escrita,
como em auto, o denunciante pode declarar que deseja constituir-se assistente, se a lei lhe
conferir essa faculdade328.
Quando o crime depender de acusação particular, a denúncia não tem valor sem essa declaração.
O auto de denúncia particular, o denunciante pagara uma taxa 329.

A denúncia deve ser assinada pelo ofendido, a não ser que o mandatário disponha de procuração
com poderes para deduzir queixas-crime, caso em que se prescinde da assinatura do ofendido.

330
9.3. O auto de notícia como meio de participação obrigatória de um crime - a denúncia
feita por autoridade, agente de autoridade ou funcionário público que, no exercício das suas
funções, tenha presenciado uma infracção, toma a forma de auto de notícia. O auto de notícia é,
pois, a denúncia obrigatória de um flagrante delito e tem como pressupostos: Flagrante delito
presenciado pela autoridade e duas testemunhas que possam depor sobre os factos constantes do
auto.

Valor do auto de notícia - o auto de notícia pode ter um valor processual mais importante do que
o de facilitar a instrução preparatória. Pode substituir-se a essa instrução, e ainda mais constituir
uma presunção legal relativa da verdade dos factos constantes do auto. Assim os autos fazem fé
em juízo ate prova em contrário, e tanto na instrução como no julgamento, em dois casos 331:
autos levantados pelo juiz, respeitantes a infracções praticadas perante ele próprio, em actos
judiciais ou que os actos judiciais digam respeito. Importa, portanto, que, alem do flagrante

327
Art. 11° do CPP
328
& 3 do art. 9 do DL
329
- & 4 do art. 9 do DL
330
– artigo 166 do CPP
331
Art. 169 do CPP

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delito presenciado pelo juiz, a infracção seja cometida em acto judicial, v.g em audiência, ou que
esteja ligada a actividade judicial; autos levantados por qualquer outra autoridade, agentes de
autoridade ou funcionário público, ―somente‖ se disserem respeito a infracção a que corresponda
processo de polícia correccional, transgressões ou sumário (e ainda se não houver lei especial
que exija o complemento da instrução).

Embora o art. 169 inclua entre os casos em que deve levantar-se auto de notícia o de infracções
devidamente presenciadas que hajam de ser julgadas em processo sumário, a verdade é que o
processo sumário tem lugar quando o infractor em flagrante delito, a que corresponda pena de
prisão ate um ano, tenha sido preso. E a apresentação do juízo para imediato julgamento dispensa
o auto de notícia332

Os autos só fazem fé em juízo, quando relativos a infracções expressamente referidas, através da


sua gravidade (a que corresponda processo de policia correccional, transgressões ou sumario) ou
através da autoridade judicial que procede a autuação e da conexão das infracções com actos
judiciais; e ainda, e isto é fundamental, se tais infracções tiverem sido presenciadas pelo
autuante. Será um círculo vicioso admitir que o auto faz fé em juízo porque levantado por quem
presenciou a infracção, e que a presença do autuante estará provada porque o auto faz fé em
juízo.

É por isso que o art. 47 do DL dispõe, quanto a transgressões, que se o auto de notícia não
satisfazer os requisitos legais, será devolvido para sua regularização ou instrução do processo.

Mesmo, porem, quanto o auto faça fé em juízo, porque se verificam os requisitos apontados, o
juízo pode sempre mandar proceder a quaisquer diligências que julgue necessárias para a
descoberta da verdade - & 3 do art. 169 do CPP.

*****

10. A INSTRUCAO PREPARATORIA

10.1. Noção

332
Art. 557 e 558 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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A instrução preparatória é uma actividade da competência do MP em que se procura de forma


minuciosa e profunda reunir os elementos de indiciação necessários para fundamentar a acusação
ou abstenção e que esta abrange todo o conjunto de provas que forma o corpo de delito 333334.

Se atentarmos que o processo é um conjunto de actos coordenados para um fim, o julgamento ou


decisão. Significa isto que não pode haver julgamento sem instrução, no sentido de que para
decidir importa recolher os elementos necessários a formação do juízo.

Há processos, raros, sem fase instrutória porque praticamente só comportam a fase de audiência
de discussão e julgamento. Assim sucede com o processo sumário, e sempre que a fase
instrutória é substituída por um auto com forca de corpo de delito, quanto a crimes cometidos em
flagrante delito presenciado pelo juiz de direito em actos judiciais ou respeitantes a actos
judiciais, ou presenciados por outras autoridades, agentes de autoridade ou funcionários públicos
no exercício das suas funções, se lhes não for aplicável pena superior a que determina a forma de
polícia correccional335. No processo de transgressões é este o caso mais comum, de sorte que só
há lugar a uma fase instrutória, se a contravenção não tiver sido presenciada por autoridade,
agente de autoridade ou funcionário público no exercício das suas funções.

A instrrucao tem por finalidade336 verificar a existência das infracções, determinar os seus
agentes e averiguar a sua responsabilidade. Dai que na instrução deve se investigar os motivos e
circunstâncias da infracção, os antecedentes e estado psíquico dos seus agentes, ou seja a
instrucao tem por finalidade a descoberta da verdade material.

Características da instrução preparatória - não contrariedade – na instrução preparatória


não há contrariedade ao contrário da instrução contraditória; escrita - a instrução preparatória
porque secreta é escrita, pois, só assim poderão ser conhecidos os elementos probatórios da
333
Artigo 12 do DL 35007.
334
Corpo de delito directo – que se forma por inserção ocular ou exame. Por ele procura-se a reconstituição do
crime e a investigação do seu autor através do estudo objectivo dos seus vestígios, ex: exames, impressões
digitais, substancias ou parasitas encontrados no local, no suspeito ou ofendido, das buscas e apreensões.

Corpo de delito indirecto – que integra-se com as declarações, as testemunhas e a confissão do arguido.

335
Art. 169 do CPP
336
Art. 10 do DL

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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mesma constante no processo. o carácter fundamental escrito da instrução preparatória constitui


uma excepção ao princípio geral do processo penal o da oralidade, na medida em que os
elementos probatórios dele constantes e que integram os autos, poderão ser valorados na decisão
final do processo independentemente da sua reprodução oral em sede de audiência de discussão e
julgamento; secreta - carácter este que lhe é imposto não só pela necessidade de furtar o arguido
ao vexame de serem conhecidas pelo publico as diligencias instrumentais, mais ainda de evitar
que ele, quando culpado, procure destruir ou prejudicar os indícios ou elementos probatórios do
seu crime337. Apesar do carácter secreto da instrução, quer preparatória, quer contraditória, em
relação a terceiros consente excepções. O MP pode dar conhecimento dos actos de documentos
que convenha mostrar aos peritos, interpretes e testemunhas 338, o exame dos autos pode ser
facultado aos assistentes ou seu advogado quando não haja inconveniência para a descoberta da
verdade. A violação do segredo de justiça é punível com a pena cominada do art. 290 do CP.

Só podem ser passadas certidões339, designadamente quanto a quaisquer processos findos ou


pendentes, que não estejam em segredo de justiça a quem mostre um interesse legitimo em as
obter ou quando pedidas pelo tribunal em que estejam pendentes para serem juntas a outros
processos ou quando mediante despacho certidões de processos que tenham aguardado por mais
de três meses a produção de melhor prova, quando os requerentes mostrem interesse legitimo em
as juntar a qualquer processo, não podendo, sob, pena de desobediência, ser utilizadas par
qualquer outro fim. Podem ainda na fase da instrução preparatória serem efectuadas diligencias
sugeridas pelo arguido que se não possam demorar sem prejuízo para o esclarecimento da
verdade – artigo 328 & único. Aos exames podem assistir os ofendidos, assistentes e também os
arguidos, depois de admitidos a intervir no processo 340, Esta admissão do arguido a intervir no
processo equivale a audiência em declarações do arguido, mesmo na instrução preparatória. Nos
exames poderá requerer o que convier para a descoberta da verdade, sem prejuízo do bom

337
Arts. 70 do CPP e 13 do DL 35007

338
Artigo 71 do CPP
339
Arts. 72 e 73 do CPP

340
& 2 do artigo 179 e & 2 do artigo 188

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

184
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andamento da diligência341. Esta assistência não é permitida nos exames efectuados, no Instituto
de Medicina Legal e clínicas especializadas e institutos científicos, ou em exames que ofendam o
pudor (artigo 178 $ único e $ 2 do artigo 181 e $ 1 do artigo 182). Os assistentes e arguido
podem também requerer segundo exame, ou recorrer do exame efectuado, e tal faculdade implica
o conhecimento da respectiva prova e resultado do exame.

Em princípio, o arguido deve assistir a busca e apreensão (artigo 203 $ 3 e 206 do CPP).

10.4. Competência para a instrução preparatória

Ministério Publico – compete ao MP na qualidade de titular da acção penal a direcção da


instrução preparatória nos termos do art. 14 do DL, al. c) do art. 4 da Lei n. 22/07, de 1 de
Agosto. O MP é o detentor da acção penal, isto é, tem o poder de introduzir o feito em juízo pela
acusação.

Para o coadjuvar directamente na instrução preparatória de qualquer processo, pode o agente do


MP, requisitar qualquer funcionário da respectiva secretaria da Procuradoria 342.

Estes dispositivos legais mostram que em todos os processos que careçam de instrução
preparatória, por mais que as diligências de recolha de prova estejam a ser realizadas por outra
entidade diversa do MP, cabe a esta entidade a sua direcção, com ressalva acima feita em matéria
de jurisdição ou quase jurisdição.

Carecem de instrução os processos referentes a crimes dos artigos 63, 64 e 65 do CPP. Nos
termos do & 2 do artigo 11 do Decreto n. 19271, de 24 de Janeiro, em Moçambique deixou de
vigorar a forma do processo correccional, passando os crimes que eram julgados nessa forma do
processo a serem tramitados em processo de polícia correccional, por forca do DL 40033, de 15
de Janeiro de 1945.

Pelo contrário não carecem de instrução os autos que fazem fé em juízo e que não reportam a
crime dos artigos acima citados (processo sumario e de transgressões).

341
$ 3 artigo 179 e artigo 189
342
Artigo 14 do DL 35007

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Nos crimes em que deve-se seguir a forma de processo de querela e polícia correccional, a
instrução preparatória será, sempre que possível presidida pelo MP, que poderá delegar a
competência a polícia de investigação criminal, sem prejuízo da sua direcção, assim como da
requisição dos autos a autoridade instrutória, ou mesmo efectuar directamente as diligências
complementares que reputar necessárias 343.

Porem a faculdade de delegar poderes de instrução de processos crimes aos agentes policiais é
condicionado pelas qualidades que esses policiais possuem. É necessário que os agentes policiais
tenham competências indispensáveis para a realização das diligências a efectuar344

Policia de Investigação Criminal – no decurso da na instrução preparatória o MP é coadjuvado


pela Policia de Investigação Criminal345que depois de investigar remete os autos ao MP.
Recebidos os autos o MP que sem se encontrar vinculado ao entendimento daquele deduzira ou
não a acusação conforme entenda ou não como suficientemente indiciados os factos, ou
demonstrada a natureza criminal que os factos revestem.

Juiz da Instrução Criminal – na fase da instrução preparatória uma autoridade judicial tem
intervenção preponderante – o Juiz da Instrução Criminal. A sua intervenção limita-se na prática
de actos que tem a ver com as garantias dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos –
princípio constitucional, quer dizer que o JIC exerce funções jurisdicionais que devam ter lugar
no decurso da instrução preparatória dos processos crimes.

10.5. Legitimidade - tem legitimidade para requerer diligências de instrução preparatória,


oferecer documentos de prova, consulta e exame do processo: o arguido e seu defensor; o
assistente e seu advogado.

10.6. Requerimento

O requerimento para a solicitação da realização das diligencias não esta sujeito a formalidades
especiais, mas deve conter: em súmula, as razoes de facto e de direito de discordância
343
Cfr. Artigo 15 da Portaria n. 17076, de 20 de Marco de 1959 e rectificações feitas a este diploma legal em 29 de
Maio do mesmo ano, conjugado com o n. 3 do art. 15 do DL 35042 e art. 16 do DL 35007.
344
Cfr. Circular n. 14/42, de 23 de Janeiro de 1946. PGR

345
& 3 do art. 7 e arts. 14, 20 e 53 do DL 35042, de 20 de Outubro de 1945

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relativamente a matéria; sempre que disso for caso, a indicação dos actos de instrução que o
requerente pretende que se leva a cabo, justificando a relevância para as finalidades da instrução
preparatória; a narração, ainda que sintética, dos factos que fundamentam a aplicação de uma
medida de segurança, incluindo, se possível, o lugar, o tempo e a motivação da sua pratica, o
grau de participação que o agente neles teve e quaisquer circunstancias relevantes para a
determinação da sanção e a indicação das disposições legais aplicáveis.

10.7. Prazos para a instrução preparatória

O prazo para a conclusão da instrução preparatória sao:346.

Havendo arguidos presos – o prazo da instrução preparatória é consentâneo com a duração da


prisão preventiva (sem culpa formada) indicada no & 1 do art. 308 do CPP, ou sejam:

Desde a captura ate a notificação ao arguido da acusação ou do pedido da instrução contraditória


pelo MP, esses prazos não podem exceder:

d) 20 dias, por crimes dolosos a que caiba pena de prisão superior a um ano;

e) 40 dias por crimes a que caiba pena de prisão maior;

f) 90 dias por crimes cuja instrução preparatória seja da competência exclusiva da Policia de
Investigação Criminal ou a ela deferida 347:

Desde a notificação ao arguido da acusação ou do pedido de instrução contraditória pelo MP ate


despacho de pronúncia em primeira instância, os prazos de prisão preventiva não podem exceder:

c) 3 meses, se a infracção couber pena a que corresponda processo de polícia correccional;

d) 4 meses, se ao crime couber a pena a que corresponda processo de querela.

346
Arts. 308 e 337 ambos do CPP
347
Falsificação de moeda, notas de banco, trafico ilícito de estupefacientes, dentre outros previstos
no art. 16 do DL 35.042

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Dispõe o art. 22 do DL 35007, que a “a instrução preparatória deve realizar-se no prazo


máximo de 40 dias em processo de querela e de 30 dias nos restantes processos. Quando não
haja réus presos, estes prazos serão aumentados para 60 e 30 dias respectivamente.

Não havendo arguidos presos – o prazo da instrução preparatória será a do art. 337 do CPP

3 (três) meses em processo de querela

2 (Dois) meses nas demais formas de processo.

Estes prazos são contados a partir do momento em que a instrução preparatória seja dirigida
contra pessoa determinada.

Nos termos do & 1 do citado artigo 337, os prazos acima são improrrogáveis, havendo a
possibilidade da continuação da instrução, já como contraditória, salvo casos em que a instrução
preparatória é reaberta.

―Quando haja arguidos presos e a duração da prisão preventiva ate ao julgamento tenha
ultrapassado um ano nos processos de querela, seis meses nos processos de polícia correccional e
três meses nas demais formas de processo, o MP informara do facto ao PGR, que proporá as
providências convenientes.

Encerramento da instrução preparatória348 - a instrução preparatória considera-se finda


quando tenha sido obtida prova bastante para fundamentar a acusação ou abstenção, ou quando
tenha decorrido o prazo legal.

Portanto, declarada encerrada a instrução preparatória, o MP profira o seu despacho, que pode
ser, ou de acusação, ou de abstenção, ou de que os autos aguardem a produção de melhor
prova349.

INSTRUÇÃO CONTRADITÓRIA – artigo 326 e seguintes do CPP

348
Artigo 326 do CPP

349
Nos termos conjugados dos artigos 326, & único e 341 do CPP e 24, 25 e 26 de DL 35007

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Natureza: é uma instrução complementar da instrução preparatória já levada a efeito, corrigindo-


a e completando-a, em ordem a averiguação da verdade material.

Esta não tem lugar nos processos de transgressão e sumários350e é facultativa – n. 1 do artigo 1
da Lei 9/92, de 6 de Maio.

11.1. Finalidade:

A IC tem por finalidade:

a) Esclarecer e completar a prova indiciária já existente, com a efectivação de diligências que se


apresentam necessárias e não realizadas;

b) Proporcionar ao arguido a possibilidade efectiva de organizar a sua defesa, contrapondo,


apresentando argumentos que permitam ao tribunal proferir ou não proferir o despacho de
pronúncia, consoante o resultado da contrariedade assim suscitada.

A instrução contraditória como complemento da instrução preparatória

Se da instrução preparatória e durante prazo legal para a sua efectivação, não resultar prova
bastante dos elementos da infracção ou de quem foram os seus agentes, o MP deve requer
instrução contraditória se for de presumir que possa completar-se a prova indiciária351.

A acusação provisória é substancialmente o pedido de complemento judicial da instrução, sendo


que o MP, indicara os factos que poderão vir a constituir a acusação definitiva se vierem a ser
suficientemente comprovados e indicar outrossim as diligencias e provas que importa realizar
com esse objectivo.

A acusação provisória só pertence ao MP, não podem pedir a continuação da instrução os


assistentes.

11.2. Quando é que tem lugar ou Despacho liminar de abertura da instrução contraditória

350
& 2 do artigo 327 do CPP e artigo 36 do DL 35007
351
Artigo 26 do DL 35007

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Poderá ser após o termo da instrução preparatória (e consequente dedução de acusação ou


requerimento de abertura de instrução contraditória - n. 1 do art. 1 da Lei n. 9/92, de 6 de Maio).

O juiz da causa do tribunal competente, assim que lhe seja remetido os autos antes de apreciar a
acusação, terá que conhecer das nulidades da instrução ou de actos praticados durante a
instrução, verificara se foram ordenadas ou efectuavas prisões arbitrarias e se se observaram os
prazos legais da instrução.

Também ―ordenara a junção de certificado de registo criminal do arguido e de certidão de


nascimento do mesmo ou do ofendido, quando necessário para se classificar a infracção,
determinar ou graduar a responsabilidade dos seus agentes, ou apreciar a legitimidade para acção
penal, se ainda não estiverem no processo352

Posto isto, poderá apreciar sumariamente os fundamentos apresentados pelo requerente para a
abertura da instrução contraditória, podendo ainda com base na sensibilidade e na pertinência das
diligências requeridas aceitar ou rejeitar o requerimento.

O requerimento para a abertura da instrução contraditória será apresentado ate cinco (5) dias
depois da notificação da acusação – artigo 328 CPP e $ 1 do artigo 36 do DL 35007.

11.3. Legitimidade para a abertura da instrução contraditória – artigo 1 da Lei n. 9/92, de 6


de Maio conjugado com o artigo 327 do CPP

1. Juiz poderá ordenar as diligências complementares de prova que se mostrem necessárias –


corpo do art. 327 do CPP;

2. O arguido em todas as formas de processo, com excepção dos sumários e transgressões – n. 2


do artigo 327 do CPP;

3. O MP nos processos correccionais em que tenha havido instrução preparatória, quando


decorrido o prazo legal para a realizar.

11.4. Casos de denegação da instrução contraditória - artigo 329 do CPP, art. 31 & único
do artigo 39 do DL 35007

352
Artigo 332 do CPP.

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O requerimento de IC pelo MP só pode ser denegado quando:

a) Inadmissibilidade legal do procedimento criminal;

b) Incompetência do juiz

c) Inexistência de crime, extinção da acção penal ou irresponsabilidade do arguido.

O juiz não pode, perante a introdução do feito em juízo, para fim de completar a instrução
rejeitar o pedido precisamente por não estar suficientemente instruído, salvo a inadmissibilidade
legal baseada na falta de pressuposto da existência do processo ou da acusação, na manifesta
falta de fundamento jurídico ou fundamento de facto para que tenha lugar a instrução.

11.5. Direcção da instrução contraditória 353 - a instrução contraditória é sempre presidida e


dirigida pelo juiz da causa, que poderá indeferir as diligências requeridas e sem interesse, bem
como ordenar a efectivação doutras que se lhe afigurem indispensáveis, e que conduzira o
processo da prova conforme julgar conveniente.

11.6. Prazos da instrução contraditória 354

a) Não havendo arguidos presos:

6 meses, tratando-se de processo de querela;

2 meses, tratando-se de processo de polia correccional

b) Havendo arguidos presos:

3 meses, tratando-se de processo de querela;

1 mes, tratando-se de processo de policia correccional

353
Artigo 37 do DL conjugado com o artigo 330 CPP

354
Artigo 334 e 337 & 2 do CPP e 42 do DL

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Conteúdo da instrução contraditória - o conteúdo da instrução contraditória não é limitado


pelo conteúdo da instrução preparatória. Normalmente começa pelo articulado da defesa e todas
as provas são admitidas na instrução contraditória, com a excepção de que a defesa não pode
apresentar número de testemunhas superior ao das inqueridas por parte da acusação – mais de
três por cada facto355

11.7. Impugnação do despacho liminar de admissão ou de recusa da abertura da instrução


contraditória

O MP ou qualquer uma das partes se entender que não há mínimo fundamento para que o juiz
defira o requerimento de abertura da instrução contraditória, pode nos termos do artigo 336 do
CPP, impugnar tal despacho interpondo recurso de agravo para o tribunal imediatamente suprir
ao que proferiu a decisão.

Não se conformando ainda com a decisão que vier, pode apelar ao Tribunal Supremo.

Igualmente, nos termos do artigo 32 do DL 35007, o MP, assim como os assistentes, podem
impugnar, recorrendo do despacho que rejeite a abertura da instrução contraditória, se
entenderem existir factos relativos ao processo que precisam de se esclarecer ou completados,
procedendo do mesmo modo que nos referimos acima.

11.8 Encerramento da instrução contraditória – artigo 363

Concluída a instrução, irão os autos com vista ao MP para deduzir acusação ou promover o que
tiver por conveniente, e para o mesmo fim, será, em seguida, notificada a parte acusadora,
havendo-a356.

Nas infracções que dependerem de acusação particular, concluída a instrução, será notificada a
parte acusadora para deduzir acusação ou promover o que tiver por conveniente nos mesmos
prazos.

355
Artigo 331 do CPP
356
Corpo do artigo 341 do CPP

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Nos processos de querela, terminada a realização de todas as diligências requeridas e as que se


mostraram relevantes para o esclarecimento da verdade, o juiz vai declarar encerrada a instrução
contraditória, sera o processo continuado com vista ao Ministerio Publico.357O MP se tiver
deduzido acusação provisória, no prazo de 5 (cinco) dias devera, com base nos elementos de
prova que tiverem sido produzidos na instrução contraditora manter ou modificar a sua acusação.
Quer dizer, se entender ter havido alteração substancial dos factos poderá reformular a sua
acusação, fazendo, se for necessária uma nova qualificação jurídica dos factos imputados ao
arguido. Se tiver havido instrução contraditória, será ouvido o réu, antes do MP e da parte
acusadora, em igual prazo. Igualmente, quando a parte acusadora tiver dado querela provisória,
ser-lhe-á notificada para no prazo de 2 (dois) dias confirmar ou modificar a sua acusação. A
notificação ao assistente é feita após a dedução da acusação definitiva pelo Ministério Publico.

******

12.ACUSACAO

12. 1. Noção:

Acusação é a peca processual, onde o MP após a recolha de elementos de prova emite o seu
juízo de valor sobre a existência de matéria que justifique a continuidade dos autos, imputando a
pratica de determinados factos a uma dada pessoa, que se designa por arguido.

Nos termos do art. 349 do CPP ― Se da instrução resultarem indícios suficientes da existência do
facto criminosos, de quem foram os seus agentes e da sua responsabilidade, o Ministério Publico,
se para isso tiver legitimidade, deduzira a acusação (...)‖.

Impõe-se dizer que antes de apreciar a acusação, o juiz, no despacho que receba ou rejeite,
conhecera sempre as nulidades da instrução ou de actos praticados durante a instrução, verificara
se foram ordenadas ou efectuadas prisões arbitrárias e se observaram os prazos legais da
instrução – artigo 354 do CPP.

12.2. Espécies de acusação

357
Artigo 363 do CPP

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A acusação pode ser: Pública e particular; Definitiva e provisória

Acusação pública e particular

A legitimidade do MP de deduzir a acusação terá de advir da natureza do crime, ou da


participação do ofendido se se tratar de crime semi-publico ou da participação e acusação
particular se se tratar de crime particular.

Através da acusação o MP chama a responder perante um tribunal, em nome da sociedade, uma


pessoa determinada sobre a qual recai a fundada suspeita de ter cometido um crime.

O MP não detém todavia, o exclusivo da dedução da acusação. Desde logo, nos crimes
particulares a acusação principal – e que pode ser a única – esta a cargo dos próprio particulares
– art. 3 & único do DL 35007.

Assim a acusação pode ser publica, quando deduzida pelo MP e particular quando deduzida
pelos particulares, dependendo do tipo de crime, quando a legitimidade para o exercício da acção
penal.

Assim, dispõe a segunda parte do ar. 349 do CPP ― ....Se a acção penal depender da acusação da
parte, deduzira esta a acusação no prazo legal, a contar da notificação que para esse fim lhe for
feita, e em seguida será o processo concluso ao MP para acusar também pelos mesmos factos,
limitar a sua acusação ou abster-se de acusar ...‖.

Acusação provisória e definitiva

A acusação deduzida pelo Ministério Publico pode ser provisória ou definitiva.

O & Único do art. 349 do CPP, dispõe que ―... Passara provisória a acusação a que se siga
instrução contraditória, a acusação provisória poderá ser alterada finda a instrução contraditória.

Importa referir aqui que nos termos do artigo 327, do CPP, nos processos de querela havia
sempre instrução contraditória e a acusação que se deduzia nelas era provisória, mas este artigo
foi revogado pelo artigo 1 da Lei n. 9/92, de 6 de Maio, de maneiras que, pode se fazer mesmo
nestes processo logo uma acusação definitiva.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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O assistente havendo-o, será notificado para deduzir a sua acusação sendo-lhe para esse fim
facultado o exame do processo.

12.3. Tipos de crime quanto a legitimidade para o exercício da acção penal

Os crimes quanto a sua natureza podem ser:

a) Crimes públicos (ex: Homicídio art. 349; roubo art. 345 do CP) – nos crimes públicos o
MP, depois de tomar conhecimento da noticia do crime, promove obrigatoriamente e
oficiosamente o processo penal, dando inicio a instrução do processo. Estamos na presença
do princípio da oficialidade

Depois de proceder as diligencias, o MP, decide, com plena autonomia, se o arguido devera
ou não ser submetido a julgamento.

O legislador atribui ao MP a titularidade da acção penal, competindo-lhe colaborar com o


tribunal na descoberta da verdade e na realização do direito, obedecendo em todas as
intervenções a critérios de escrita, objectividade e de legalidade.

No entanto deduzindo o MP acusação por crimes públicos, o assistente poderá também


deduzir acusação pelos factos acusados pelo MP, por parte deles ou por outros que não
importem uma alteração substancial daqueles.

A acusação do assistente por crime público é facultativa e, quando deduzida, é sempre


subordinada a do MP.

b) Crimes semi-públicos – (Ex: furto – art. 421 conjugado com art. 431 na redacção dada
pela Lei n. 8/2002, de 5 de Fevereiro; Burla – art. 450; Abuso de confiança – art. 453;
Dano art. 473; Ofensas corporais voluntárias simples quando o ofendido for menor de
16 anos - & Único do art. 359; Ameaças – art. 363 & único, 1 parte) Ofensas corporais
involuntárias – art. 369 CP, etc.)

Nos crimes semipúblicos a promoção do processo penal por parte do MP esta dependente da
apresentação de queixa por parte do ofendido ou de outras pessoas a quem a lei confere esse
direito.

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Os crimes semipúblicos são a primeira restrição ao carácter oficioso e obrigatório da


promoção do processo penal pelo MP.

O procedimento criminal depende de queixa ou de participação do ofendido.

Após a apresentação da queixa (que é condição de procedibilidade), o MP da inicio a


instrução desencadeando toda a tramitação a partir dai coo se o crime fosse publico.

Também no ambito dos crimes desta natureza o ofendido pode constituir-se assistente, não
sendo, porem, obrigatório faze-lo.

Se o MP deduzir acusação por crime semi-publico, o assistente poderá também deduzir


acusação pelos factos acusados pelo MP, por parte deles ou outros que não importem uma
alteração substancial daqueles. Assim, tal como acontece nos crimes públicos, a acusação do
assistente é facultativa e, quando deduzida é sempre subordinada a do MP.

Desencadeado o processo penal já não pode haver lugar a desistência do ofendido, quer dizer
que ainda que o ofendido desista o processo prossegue.

c) Crimes particulares – (Ex: Dano culposo – art. 482 Ofensas corporais voluntárias
simples – corpo do art. 359; Ameaças (Art. 363 do & único 2 parte; Difamação – art.

Estamos na presença da segunda restrição da oficialidade e obrigatoriedade da promoção


penal pelo MP.

A exigência de queixa e de dedução de acusação do ofendido nos crimes particulares


justifica-se pela diminuta gravidade da infracção e pela natureza dos valores em causa.

Apresentada a queixa inicia a instrução preparatória finda a qual, diversamente do que


acontece nos crimes públicos e semi-públicos, o MP notifica o assistente (coo tal já
constituído) para que este deduza a acusação particular. Aqui é a acusação do MP que se
encontra subordinada a do assistente.

Nestes crimes o procedimento criminal cessa com o perdão conforme estabelece o art. 125 do
CP ou desistência da parte. Neste contexto, a falta de acusação particular equivalente a

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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desistência e dai o procedimento criminal também cessa, arquivando-se o processo, por falta
de legitimidade para prosseguir com o mesmo.

12.4. Prazos para a dedução de acusação

a) Processo sumário - crime – o prazo é imediata, a remessa dos autos a tribunal equivale a
acusação, porem a que providencia o seguinte:

Com o arguido preso em flagrante delito – art. 557 do CPP.

O agente da autoridade que efectuou a captura ou a quem for entregue o preso deve:

1. Notificar verbalmente as testemunhas da ocorrência par comparecerem no tribunal respectivo


a hora que logo lhes for indicada;

2. Avisar o arguido o direito de apresentar testemunhas de defesa em número não superior a


3 para audiência;

3. Notificar o ofendido para comparecer no tribunal competente - & 1 do art. 557 do CPP.

Se a captura tiver sido efectuada em hora em que o tribunal esteja aberto e pode tomar
conhecimento do facto e o infractor for imediatamente apresentado ao juiz deve-se:

1) Notificar as testemunhas e o ofendido sendo a sua presença necessária para comparecer em


acto seguido no tribunal.

Se o tribunal não se encontrar aberto ou não puder desde logo tomar conhecimento do
facto, e se não se tratar de delinquente de difícil correcção, vadio ou equiparado,
libertado condicionalmente ou de identidade desconhecida

2) A autoridade ou agente da autoridade libertara o detido advertindo-o de que devera


comparecer no primeiro dia útil imediato, a hora que lhe for designada.

Em seguida a participação será remetida ao tribunal no primeiro dia útil imediato.

Com o arguido não preso em flagrante delito n. 1 do art. 1 do DL 28/75, de 1 de Marco.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Sendo crime particular o denunciante faz constar a declaração obrigatória de se constituir em


assistente nos termos do & 3 do art. 9 do DL 28/75 de 1 de Marco.

Em seguida ocorre a remessa imediata da participação ao tribunal competente para julgamento


nos termos do n. 1 do art. 3 do DL n. 28/75, de 1 de Marco.

b) Processo de polícia correccional – arts. 350 e 391 do CPP

O MP acusara no prazo de 3 (Três) dias a contar da data que lhe for continuado com vista.

Havendo parte acusadora (assistente) será notificada para deduzir a sua acusação em igual
prazo.

c) Processo de querela - arts. 350 e 358 do CPP

O prazo para acusação em processo de querela é de 5 (Cinco) dias havendo arguido preso – art.
350 do CPP e de 8 (Oito) dias se não houver arguido preso (art. 358 do CPP).

12.4.1. Prazos para o Assistente

Havendo arguido preso - 2 dias – ultima parte do art. 350 CPP

Não havendo arguido preso – 8 dias – ultima parte do art. 358 do CPP

11.5. Formas e estrutura da acusação

Processo sumário crime

Promoção para designar data para julgamento

Processo de transgressões – arts. 528, 543 do CPP, art. 7 do DL 28/75, art. 57 do Regulamento
do Código de Estrada e art. 70 do Código da Estrada.

Reenvio para o processo de polícia correccional

Promoção para se designar data para julgamento.

Processo de polícia correccional

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A acusação nestes processos é designada por acusação e deve se elaborada com dispensa de
articulado – art. 392 do CPP.

Processo de querela

Nos processos de querela a acusação é designada por querela e deve ser articular – art. 359 do
CPP.

Conclusão:

A acusação é uma das pecas processuais de maior responsabilidade, pois da sua formulação
perfeita ou imperfeita, pode depender o êxito ou malogro de um determinado processo.

Antes de mais tem que se dominar e manejar bem a língua portuguesa e dominar o direito penal e
processual penal. Possuir sólidos conhecimentos de técnica de pronúncia e sobretudo do
julgamento e análise e comparação de jurisprudência.

A acusação perfeita devera ser redigida em linguagem concisa, clara e rigorosa.

Concisas – não devera conter nem de mais nem de menos, devera ser seca, enxuta, sóbria;

Clara – com frases curtas, com linguagem acessível, sem arrebiques e sem deixar de ser exacta,
sendo ideal que seja qual for o grau de cultura do arguido a compreenda;

Rigorosa – quer substancial, quer formalmente, não devendo conter conceitos de direito.
Objectivamente precisa do princípio ao fim ou seja científica.

Atenção especial se deve ter em relação a certos vícios mais frequentes na acusação – conceitos
de direito.

A acusação deve conter os elementos constantes do art. 359 do CPP

Nota:

No acto da acusação o MP deve ainda providenciar:

Indicação dos meios e documentos de prova;

Tomar posição quanto a situação prisional de arguido – art. 267, 270 e 271 do CPP;

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Respeitar os limites das testemunhas – art. 360 e 393 do CPP

Requerer a audição de pessoas para deporem;

Requerer a audição requisição de testemunhas, perito, declarante;

Requerer a fixação de indemnização por perdas e danos para os lesados.

Reacção do arguido face às acusações do Ministério Publico e do Assistente (Contestação)

Nos termos do artigo 325 do CPP, aos arguidos assiste-lhes o direito de através dos seus
advogados ou defensores oficiosos após a notificação e consulta do processo poderem, no prazo
de cinco dias requerer a instrução contraditória, ou arguirem nulidades, sugerir diligencias,
oferecer documentos e alegarem o que entenderem conveniente a bem da defesa. 358

Em caso de requerer a instrução contraditória, nos termos do artigo 328 do CPP, o requerimento
deve ser articulado indicando os factos que pretende provar, juntando logo todos os documentos
que devem ser apreciados, indicando outros meios de prova que queira produzir e oferecendo o
rol de testemunhas com a menção dos factos a que devam depor.

****

DESPACHO DE PRONUNCIA OU DE NÃO PRONUNCIA

Noção:

O despacho diz-se de pronúncia quando se destina a fazer passar o processo a fase de


julgamento, ou seja é o despacho subsequente a acusação em que o juiz, apreciado o processo e
conhecidas as “várias questões” descreve, por forma precisa, todos os factos indiciariamente
provados e potencialmente operantes para a decisão de mérito. Diz-se de não pronúncia se não
tiverem sido recolhidos esses indícios.

358
Peca processual escrita apresentada pelo arguido antes da realização da audiência de discussão e julgamento,
feita sem formalidades especiais e que é acompanhada pelo rol de testemunhas, no qual o arguido expõe a sua
versão dos factos relativos ao crime que lhe seja imputado e os qualifica criminalmente.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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No despacho de pronúncia o juiz decide em primeiro lugar das nulidades processuais, assim
como das questões prévias ou incidentais de que possa conhecer, sempre que não tenham de ser
deixadas para a decisão final – artigos 354; &1 do artigo 400 e 45 do DL 35007.

No despacho de pronúncia deve se ordenar a junção do certificado e outros documentos - && 1 e


2 do artigo 354 do CPP

Se o arguido não tiver constituído advogado, dever-lhe-á ser nomeado defensor oficioso – artigo
49 do DL 35007.

Poderá se decidir pela aplicação provisória das medidas de segurança nos termos do artigo 50 e
51 do DL 35007.

Pode-se ainda determinar as providências quanto a funcionários militares e civis, nos termos dos
artigos 370 e 378 do CPP.

Requisitos do despacho de pronúncia – artigo 366

O despacho de pronúncia devera conter os seguintes elementos:

Nome, profissão e morada, quando conhecidos, ou indicações necessárias para se conhecer a


identidade dos arguidos;

A indicação precisa dos factos por que são responsáveis e em que qualidade;

Quanto a este aspecto importa sublinhar a indicação precisa dos factos por que o arguido é
pronunciado, pois afigura-se de grande importância, visto que nos termos do artigo 447 do
CPP é aqui que fixa na pronúncia os limites de cognição do tribunal quanto aos factos
gravosos para o arguido na fase de julgamento, salvo dando-se caso excepcional do artigo
448 do CPP, ou seja convolação para infracção diversa, com base em factos não acusados.

Portanto a pronúncia deve descrever todos os factos de haja prova indiciaria que possa influir
na decisão de mérito da causa;

Indicação das circunstancias agravantes ou atenuantes, qualificativas ou de carácter geral;

Indicação da lei que proíbe e pune os factos;

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Decisão sobre as medidas de coação e de garantia patrimonial, mantendo ou alterando, em


conformidade com a lei, a situação anterior;

Ordem de remessa dos boletins para o registo criminal relativo aos indiciados;

A data e assinatura do juiz.

Se o MP ou a parte acusadora tiverem deixado de indicar na sua querela as provas a produzir na


audiência de julgamento, o juiz fa-los-a notificar para, no prazo de dois dias as oferecerem.

O despacho de pronúncia será notificado ao MP, a parte acusadora e também aos indiciados,
depois de presos ou de haverem prestado caução, caso se tenha determinado nesse sentido,
podendo ser efectuadas mesmo no período de férias - artigo 370 do CPP.

Prazo para proferição do despacho de pronúncia ou de não pronúncia

O despacho de pronúncia ou de não pronúncia deve ser proferido no prazo de oito dias em
processo de querela e cinco dias no processo de polícia correccional – artigos 365 e 389 do CPP.

Proferido o despacho devera ser notificado ao MP, a parte acusadora e os arguidos que tenham
intervindo no processo.

Despacho de rejeição da acusação ou de não pronúncia

Se o juiz após apreciação dos autos entender não existir matéria que se repute criminosa, ou
constatar que extinguiu-se a acção penal em relação a todos os indiciados, nos termos
conjugados dos artigo 367 e 343 ambos do CPP, pode recusar a recepção da acusação,
determinado que os autos aguardem a produção da melhor prova ou que se arquivem, devendo o
juiz apresentar as razoes de facto e de direito que sustentem a sua posição da rejeição da
acusação.

No despacho, em caso de haverem arguidos presos, o juiz ordenara que sejam imediatamente
postos em liberdade, nos termos do artigo 368 do CPP.

A ordem da libertação imediata dos arguidos presos pode ser dada mesmo ainda no decurso da
instrução contraditória, assim que se provar a inocência de algum dos indiciados.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Formas de impugnação do despacho de pronúncia ou de rejeição da acusação

Não se conformando com a decisão proferida pelo juiz após a instrução contraditória, o MP, os
assistentes e os arguidos, podem interpor recurso ao tribunal imediatamente superior ao que
tomou a decisão e, se igualmente este não profira decisão que vá de acordo com o que seja o seu
entendimento, isto é, se o acórdão do tribunal provincial negar provimento do recurso interposto,
podem ainda recorrer para o tribunal superior de recurso e finalmente para o tribunal supremo –
artigo 371 do CPP.

Para que o despacho seja recorrível é necessário que seja definitivo ou considerado como tal.

Todavia, quando os assistentes formulem acusação por factos diversos dos que constituem
objecto da acusação do MP, não poderão recorrer da decisão do juiz que rejeite a sua acusação se
esta receber a acusação do MP, reportando as duas acusações ao mesmo arguido - & 4 do artigo
4 do DL 35007.

O recurso subira nos próprios autos, aguardando-se para isso que termine o prazo em que pode
recorrer o último dos réus presos ou caucionados, salvo quando o recurso deva subir
imediatamente - & 2 do artigo 371 do CPP.

Interposto o recurso do despacho de pronúncia suspende o andamento do processo, mantendo-se


a prisão ou caução ordenadas na pronúncia. Contrariamente, o recurso do despacho de não
pronuncia não tem efeitos suspensivos e sobe nos próprios autos, se não houver inconveniente
para o regular andamento do processo quanto a outros agentes da mesma infracção – artigo 376
do CPP.

Se tiver subido um recurso do despacho de pronúncia e posteriormente se interpuserem e


subirem ao tribunal imediatamente superior novos recursos de pronúncia ou não pronúncia de
outros co-réus no mesmo processo, antes do julgamento do primeiro recurso, apensar-se-ão todos
– artigo 375, conjugado com o & 2 do artigo 662 do CPP.

Do despacho que despronunciar os arguidos, reparando o recurso interposto do despacho de


pronuncia, cabe recurso com efeito meramente devolutivo; e do despacho que pronunciar,
reparando o recurso interposto do despacho de não pronúncia, cabe recurso com efeito
suspensivo – artigo 383 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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O recurso que impugnar o acórdão do tribunal imediatamente superior que julgou o recurso
interposto do despacho de pronuncia ou não pronuncia do tribunal de primeira instancia, e que é
dirigido ao tribunal superior de recurso, tem efeito suspensivo, se o acórdão do tribunal inferior
tiver pronunciado o arguido, e meramente devolutivo, se o tiver despronunciado.

Contestação do réu ao despacho de pronúncia

O juiz assim que transitar em julgado o despacho de pronúncia, devera ordenar a entrega duma
cópia do despacho de pronúncia e do rol de testemunhas com indicação dos documentos
produzidos, nomeando-lhe advogado, se ainda o não tiver constituído ou nomeado – artigo 379
do CPP conjugado com o artigo 46 do DL 35007.

A nomeação do advogado será notificada ao acusado, quando lhe for entregue a cópia da querela,
indicando-se-lhe o seu nome e morada ou sede do escritório. Ao advogado nomeado será
notificada a nomeação no prazo de dois dias.

O arguido pode constituir advogado em qualquer altura do processo e é obrigatória a nomeação


de defensor oficioso, se ainda não houver advogado constituído, no despacho de pronúncia
provisória em processo de querela. Nos processos de polícia correccional e sumários deve ser
nomeado para o julgamento – artigo 49 do DL 35007.

A jurisprudência entende que a falta de nomeação de defensor oficioso no despacho de pronúncia


é nulidade principal.

Não sendo possível a notificação pessoal do réu, poderá se fazer através do seu advogado.

O réu deve apresentar a sua contestação e rol de testemunhas, ou apenas este, no prazo de oito
dias após a notificação da pronuncia, sendo logo sem seguida o processo concluso ao juiz para
designar dia para julgamento – artigo 46 do DL

O número de testemunhas de defesa não poderá exceder para cada infracção o que a acusação
pode produzir. Se forem vários acusados, cada um poderá produzir testemunhas ate esse numero.

O arguido poderá contestar na audiência de discussão e julgamento, devendo faze-lo por escrito,
mas, neste caso, apresentara o rol de testemunhas de defesa no prazo de oito dias.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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Dentro de três dias findo o prazo de oito dias para apresentação da contestação, o escrivão
remetera uma cópia da contestação, se tiver sido apresentada, e de rol de testemunhas, com a
indicação dos documentos oferecidos, ao MP, e outra a parte acusadora, se residir na sede do
local onde correm os autos ou ai tiver escolhido pessoa para receber notificações, ou constituído
advogado.

O número de testemunhas de defesa pode ser alterado ou adicionado, contanto que o


adicionamento ou alteração possa ser notificado ao MP e a parte acusadora ate três dias antes
daquele em que se realizar a audiência de discussão e julgamento – artigo 384 do CPP

Com base no alegado na contestação o MP ira a audiência de discussão e julgamento sabendo a


posição assumida pelo acusado, podendo preparar melhor a sua intervenção. Tendo acesso da
contestação previamente estará em condições de definir os aspectos que os acha pertinentes para
que sejam esclarecidos.

16. JULGAMENTO – OS ACTOS PRELIMINARES

16.1. O saneamento do processo e a designação de dia para julgamento

Concluída a instrução com processo ou esgotado que se encontre o prazo para a instrução, o
processo é remetido ao tribunal competente para a fase de julgamento.

O juiz de julgamento, antes de designar dia para julgamento, procede ao saneamento do


processo, conhecendo desde logo das nulidades, ilegitimidades, excepcoes e de quaisquer outras
questoes previas que possa obstar a apreciacao do merito da causa e de que possa, desde logo,
conhecer359.

Nos processos de policia correccional, depois da promocao do Ministerio Publico e da parte


acusadora, havendo-a, sera o processo feito concluso ao juiz para, no prazo de tres dias, designar
dia para o julgamento ou rejeitar a acusacao.360

359
& 1 do artigo 400 do CPP
360
& 2 do artigo 400 conjugado com o artigo 394 ambos do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Se houver necessidade de inquerir fora do tribunal algumas testemunhas que ali residam ou de ai
tomar declaracoes aos ofendidos ou a outras pessoas, expedir-se-ao para esse efeito as
competentes cartas precatorias361 ou rogatorias, oficios ou telegramas; a fim de serem inqueridas
antes de se designar dia para julgamento362.

Se alguma das testemunha oferecidas para prova da acusacao e da defesa estiver impossibilitada
de comparecer na audiencia por idade, molestia ou qualquer outra causa justificativa, podera ser
inquerida no seu domicilio 363.

Relativamente a documentos, estes poderao ser juntos pelos interessados ate dez dias antes
daquele em que se realize a audiencia de julgamento nos processos de querela, e ate tres dias
antes nas outras formas de processo. O juiz podera ordenar oficiosamente ate a audiencia de
julgamento a juncao de quaisquer documentos que possam esclarecer a verdade. Se a acusacao
ou defesa so posteriormente aos prazos acima referidos, puderem obter quaisquer documentos,
serao apresentados, antes de comecar o interrogatorio do reu em audiencia, e juntos por linha aos
autos. O juiz ou tribunal decidira previamente se eles sao indispensaveis para a decisao de causa,
e neste caso, os mandara incorporar no processo e apreciara conjuntamente com as demais
provas. O Ministerio Publico, a parte acusadora e os reus que nao tenham oferecido os
documentos poderao examina-los, sendo-lhes concedido o prazo de dois dias para tal fim e pra
dizerem o que lhes ofereca, mas, se da concessao deste prazo puder resultar o adiamento da
audiencia de discussao e julgamento, o juiz so o autorizara quando julgue absolutamente
indispensavel para o exame do documento364.

361
Meio prescrito para a solicitacao da pratica de um acto judicial, feita por uma autoridade ou tribunal a outra
autoridade ou tribunal, quando o acto deva ser praticado por tribunal ou consul mocambicano fora dos limites
territoriais da jurisdicao do tribunal ou autoridade que o ordenada. Sendo o acto urgente pode ser requerido ou
solicitado por telegrama, comunicacao telefonica ou outro meio analogo de telecomunicacoes.
362
Corpo do artigo 401 do CPP
363
Artigo 403 do CPP.
364
Artigo 404 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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As cartas para inquiricao ou declaracoes em julgamento sera cumpridas dentro de dez dias
contados do recebimento, com intervencao dos representantes da acusacao e defesa, nomeando-
se defensor ao reu se este, nao fizer comparecer advogado 365.

O rol de testemunhas dado na querela por ser alterado ou adicionado, contando que a alteracao
ou o adicionamento possa ser notificado aos reus ate tres dias antes daquele em que se realizar a
audiencia de julgamento366.

Serao feitas notificacoes para julgamento. No processo de querela os representantes da acusacao


e da defesa, bem como o reu, serao notificados do dia do julgamento com a antecedencia de dez
dias pelos menos367.

No processo de policia correccional o reu sera notificado com a antecedencia de cinco dias pelo
menos 368.

Os reus serao notificados na sua residencia, ou, se estiverem caucionados ou prestados termos de
identidade, na pessoa por eles escolhida. Estando presos sao notificados na prisao 369.

É obrigatoria a presenca dos reus no julgamento370.

O ofendido, ainda que se tenha constituido assistente, nao é obrigado a comparecer pessoalmente
no julgamento, salvo se isso for expressamente determinado 371. Nesse caso, deve ser advertido
dessa circunstancia no acto da notificacao.

O juiz podera ordenar que os peritos comparecam na audiencia para prestarem declaracoes 372.

365
Artigo 402 do CPP
366
Corpo do artigo 361 do CPP
367
$ 1 do artigo 462 do CPP
368
$ Unico do artigo 528
369
& 2 do artigo 462 do CPP
370
Artigo 418 do CPP
371
Artigo 420 do CPP
372
& 2 do artigo 431 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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O processo devera estar patente na secretaria do tribunal nos tres dias anteriores ao julgamento,
durante as horas de expediente, para as partes o examinarem, querendo 373

A audiência de discussao e julgamento

Generalidades.

A audiência de discussao e julgamento é sempre pública, salvo se ofender a moral, o interesse ou


a ordem pública, o que o tribunal poderá atender e declarar 374. A decisão de restrição de
assistência ou exclusão de publicidade há-de fundar-se em factos ou circunstâncias concretas que
façam presumir que a publicidade causaria grave dano a dignidade das pessoas, a moral pública
ou ao normal decurso do acto e deve ser revogada quando cessarem os motivos que lhe deram
causa.

A leitura da decisao do juri, quando intervier e a sentenca é sempre publica.

As pessoas que assistirem a audiência de julgamento devem guardar o maior acatamento e


respeito, não manifestando aprovação ou reprovação por sinais públicos, não excitando tumultos
ou violências, nem perturbando por qualquer forma o seu regular funcionamento. Os menores
que aparentem ter menos de 18 anos de idade, quando não sejam chamados ao processo não
deverão assistir a audiência de julgamento375.

A disciplina e a ordem da audiência são da competência do juiz que preside a mesma 376.

As infracções cometidas na audiência será levantado auto de notícia e preso o infractor,


procedendo-se a julgamento sumário do mesmo a requerimento do MP, se ele não tiver for
especial e for aplicável tal forma de processo. Tal julgamento processar-se-á no final da
audiência em curso e pelo tribunal perante o qual se cometeu a infracção 377.

373
Artigo 406 do CPP

374
Arts. 407 CPP, 13 da Lei n. 24/2007, de 20 de Agosto.
375
Artigo 408 do CPP
376
Art. 409 do CPP
377
Art. 411, $$ 1 e 2 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Sendo a infracção cometida por advogado no exercício das suas funções, ser-lhe-á retirada a
palavra e entregue a defesa a outrem, mas sem prejuízo de procedimento criminal se houver
lugar a tal378.

Sendo a infracção do réu, e consistindo em falta de respeito pelo tribunal, será ele punido nos
termos do artigo 181 do CP, aplicando-se o disposto no artigo 411 do CPP quanto ao seu
julgamento, o que ocorrera também quanto ao seu julgamento, quando se tratar de qualquer outra
infracção criminal. Note-se que o julgamento poderá prosseguir sem a sua presença se a mesma
não se revelar inconveniente379.

Actos introdutórios:

Aberta a audiência, será feita a chamada dos representantes da acusação e da defesa, do réu, do
ofendido, das testemunhas, peritos e outras pessoas cuja comparência tenha sido ordenada 380.

Se falta o MP, o juiz nomeia quem o substituía 381;

Se faltar o representante da defesa, o juiz igualmente nomeara quem o substitua, dando


algum tempo para examinar o processo382;

Se faltar o representante da parte acusadora e o crime não é particular, o julgamento


prosseguira, intervindo ele se entretanto aparecer e logo que compareça. Mas se o crime for
particular, o julgamento é adiado, mas se de novo faltar na data designada, entende-se que
desiste383;

378
Artigo 411, $4 e 412 do CPP
379
Artigo 413 do CPP
380
Corpo do artigo 417 do CPP
381
& 1 do artigo 417 CPP, ter em atenção a Lei n. 22/2007.

382
&2 do artigo 417 do CPP

383
& 3 do artigo 417 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Se faltar o réu, a audiência é adiada, já que a sua presença é obrigatória, excepto em processo
de transgressões não puníveis com pena de prisão 384. Se não justificar a falta, entender-se-á
que se procedera do seguinte modo:

o Processo de querela: ser-lhe-á quebrada a caução e ordenara prisão se se verificar o


condicionalismo dos artigos 283, 291 e 563 do CPP

o Processo de polícia correccional: igualmente ser-lhe-á quebrada caução e ordenada a


prisão, se a tiver prestado, apenas;

Se faltar o declarantes ou ofendido: não é obrigatório o adiamento, ainda que a comparência


do ofendido possa ser considerada obrigatória (arts. 420 e 421 do CPP). Neste caso, deve ser
advertido dessa circunstancia no acto da notificacao.

Falta de testemunhas: só poderá dar lugar a um adiamento se o tribunal assim o entender 385.

Se estiverem presentes todas as pessoas notificadas, ou mesmo não estando todas presentes se for
decidido que a audiência terá lugar na sua falta, as testemunhas são retiradas da sala e
seguidamente é dada a palavra as partes, para que exponham os factos que se propõem provar.

A ordem para exporem os factos é a seguinte:

Seguidamente sera lida a querela do Ministerio Publico e da parte acusadora, o despacho de


pronuncia, a contestacao do reu, as conclusoes dos exames periciais e tambem os documentos
juntos ao processo e necessarios para o esclarecimento da causa, se a acusacao ou defesa o
requererem ou o tribunal oficiosamente ordenar 386.

A contestação quando deduzida na audiência de julgamento deve ser apresentada por escrito pelo
defensor – 423 e devera ser apresentada no prazo indicados nos artigos 381, 382, 390 &3 e 423 e
art. 46 do DL 35007

384
Artigo 418 e 547 do CPP
385
& 3 do art. 91 e 422 do CPP
386
Artigo 464 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Questoes previas

O tribunal, antes de comecar a producao das provas, conhecera das nulidades, legitimidades,
excepcoes ou quaisquer questoes que possam obstar a apreciacao do merito da causa, acerca das
quais ainda nao tenha havido decisao, e que o tribunal possa, desde logo, apreciar 387.

A produção de prova

A produção de prova é feita pela ordem seguinte:

Começasse pela audiência do arguido que é feita da forma seguinte: Primeiro é identificado 388 e,
quanto a sua identificação é obrigatório responder, sob pena de incorrer em crime de
desobediência não o fazendo, e a falar a verdade. Se faltar a verdade incorrera em crime de
falsidade. O tribunal deve informa-lo das sanções aplicáveis em caso de incumprimento. Depois
o arguido presta declarações sobre o objecto do processo, prestação essa facultativa, do que será
informado pelo presidente. A acusação e a defesa não podem interferir.

Se o arguido quiser prestar declarações sobre os factos, objecto do processo, qualquer dos juízes
ou jurados pode interrogado.

As perguntas ao reu, aos ofendidos, aos peritos e a quaisquer outras pessoas que devam prestar
declaracoes serao sempre feitas pelo presidente do tribunal, mas tanto a acusacao como a defesa
podera pedir que os interrogados esclarecam as suas respostas ou que lhes facam novas
perguntas, no intuito de esclarecer a verdade, podendo, o presidente indeferir, se entender que as
perguntas sao desnecessarias ou proibidas por lei389.

O MP, o advogado do assistente e o defensor caso pretendam esclarecimentos pedirão ao


presidente que faça as perguntas.

387
Artigo 424 do CPP

388
Artigo 425 do CPP
389
Artigo 429 do CPP.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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Se responderem vários arguidos o presidente pode determinar que sejam ouvidos


separadamente.390

Pode o arguido decidir fazer a confissão dos factos que lhe são imputados.

Na ocasiao do interrogatoriao poderao ser mostrados ao reu documentos juntos ao processo e os


papeis, instrumentos ou quaisquer objectos apreendidos que se relacionem com a infraccao,
quando haja necessidade de que ele os reconheca, ou dê quaisquer esclarecimetos ou
explicacoes.391

Se durante a audiencia o reu se mostrar impossibilitado por doenca de continuar a assistir a ela, o
juiz, se for obrigatoria a sua assistencia, manda-lo-a examinar por um ou mais facultativos!!!! e,
se a enfermidade for verdadeira, suspendera a audiencia. verificando porem ser fingido o
acidente, prosseguira a causa392.

Relativamente a produção de provas convêm ter presentes as seguintes regras:

1. Que o tribunal pode ordenar oficiosamente a produção das provas cujo conhecimento se lhe
afigure necessário

2. Que o tribunal pode indeferir o requerimento para a produção de prova:

Se se tratar de provas irrelevantes ou supérfluas;

O meio de prova for inadequado ou de obtenção impossível ou muito duvidoso, e

O requerimento tiver finalidade dilatória.

3. Que, para efeito de convicção do tribunal, só valem as provas que tiverem sido produzidos ou
examinados ou lidas em audiência.

390
Artigo 427 do CPP

391
Artigo 426 do CPP
392
Artigo 445 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Aos ofendidos poderao ser tomadas declaracoes em qualquer altura, durante a producao da
prova, depois de interrogatorio do reu e todas as vezes que se tornem necessarias 393.

Ouvido o arguido passa-se a produção das provas apresentadas pelo MP, pelo assistente, pelo
lesado e pelo arguido.

As testemunhas são identificadas pelo presidente e perguntadas sobre as suas relações pessoais,
familiares e profissionais com os participantes e pelo seu interesse na causa e prestam juramento.

O interrogatório é feito por quem indicou a testemunha, podendo ser contra-interrogada pela
―parte contrária‖. Se, no contra-interrogatório, surgirem questões novas, pode a testemunha ser
reinquirida e depois contra-interrogada só quanto a essas questões.

Os juízes e jurados podem, em qualquer momento, fazer as testemunhas as perguntas que


entenderem necessárias.

Enquanto nao depuserem, estarao as testemunhas recolhidas numa sala, de onde sairao a medida
que forem chamdas para depor e tomar-se-ao as cautelas precisas para que as testemunhas antes
de deporem nao comuniquem umas ou as outras acerca dos factos discutidos no processo 394

As testemunhas, depois de inquiridas, só podem abandonar o local da audiência por ordem ou


com autorização do tribunal395.

O tribunal pode deslocar-se ao local onde tiver ocorrido qualquer facto cuja prova se mostre
necessário.

Depois da produção de prova tem lugar as alegações orais pela seguinte ordem: MP,
representantes da acusação e da defesa.

Os advogados dispõem de bancada própria e podem falar sentados, desde que não se trate de
alegações orais396.

393
Artigo 428 do CPP
394
Artigo 432 do CPP

395
Artigo 441 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Pode haver réplica para refutar argumentos contrários que não tenham sido discutidos.

O limite de tempo para alegações é de trinta minutos por interveniente – artigo 533

A documentação da audiência.

Sempre que na audiencia de julgamento nao haja qualque ocorrencia sobre que recai despacho do
juiz, dir-se-a apenas na acta que compareceram as pessoas convocadas, devidamente
identificadas quando forem ouvidas, e que, produzida a prova e feitas as alegacoes, foi proferida
a sentenca.

Os depoimentos das testemunhas e as declaracoes dos ofendidos e dos reus, quando deverem ser
escritos, constarao da propria acta.

Na acta nao serao transcritos nem a contestacao do reu, nem a sentenca, nem os quesitos ao jui e
suas respostas, que serao escritos em separado e juntos no processo 397. Todos os requerimentos
ou prostestos verbais contarao tambem da acta se o juiz nao os considerar dilatorios398.

Concluindo o julgamento, serao enviados pelo agente do Ministerio Publico ao Instituto de


Criminologia do respectivo distrito judicial os boletins relativos aos reus, para a organizacao da
estatistica criminal399

Especialidades dos julgamentos nas diferentes formas do processo

Processo de transgressões - tem lugar quando se trate de contravenções, transgressões de


regulamentos, editais, posturas ou quaisquer disposições que se qualifiquem de
regulamentares400.

396
N. 3 do artigo 59 da Lei n. 28/2009, de 29 de Setembro
397
Artigo 457 do CPP

398
Artigo 458 do CPP
399
Artigo 459 do CPP

400
Artigo 62 n. 3 e 66 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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Excepção: não serão julgados em tal forma de processo as contravenções que, devido a conexão
objectiva, devam ser objecto de julgamento conjunto em outra forma de processo.

A remessa do processo de transgressões ao tribunal pelas autoridades competentes, equivale a


acusação, podendo o juiz designar logo dia para julgamento, se entender que há fundamento para
acusação401.

Se o auto não fizer fé em juízo, não satisfazer os requisitos legais, será devolvido para sua
regularização ou instrução do processo402.

Notificação ao réu do despacho a designar dia para julgamento403.

Comparência do réu em julgamento, não é obrigatória, a menos que a contravenção ou


transgressão corresponda pena de prisão 404. Ainda que não seja caso de comparência obrigatória,
o juiz pode ordenar o seu comparecimento quando o reputar necessário 405.

Faltando o réu: se a sua comparência não é obrigatória, seja julgado a revelia 406. Se a sua
comparência é obrigatória, entende-se que o julgamento devera ser adiado, seguindo-se
posteriormente o processo de ausentes, se for caso disso.

Testemunhas: 3 por cada infracção 407.

Os actos e termos do processo são simplificados, podendo a sentença ser proferida verbalmente,
consignando-se na acta408.

401
Artigo 2 e 47 DL 35007 e 545 do CPP

402
Artigo 47 do DL 35007

403
Artigo 546 do CPP

404
Art. 547 CPP
405
Artigo 547

406
Artigo 548 CPP

407
Art. 549, 550 e 551 do CPP

408
Art. 554 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Recursos: Só da decisão final e nos termos gerais, para alem do recurso de tal decisão apenas
restrito a matéria de direito409.

Pagamento voluntário: pode ser requerido o pagamento voluntário da multa antes de


julgamento410.

Processo sumário - o processo sumario se aplica quando haja infractores presos em flagrante
delito e infracção corresponda processo de polícia correccional ou de transgressões411.

Actuação da autoridade ou agente da autoridade que efectua a prisão

O agente da autoridade que efectua a prisão deve apresentar seguidamente o detido no tribunal,
para julgamento, notificando as testemunhas da ocorrência para lá comparecerem a hora que
indicar e avisando o arguido de que poderá apresentar testemunhas de defesa, testemunhas essas
que não excederão ao número de três.

A apresentação far-se-á em acto seguido quando o tribunal se encontrar aberto. Se tal não ocorrer
(o tribunal estar fechado por hipótese), a libertação do detido – artigo 557 do CPP

Termos do julgamento

No julgamento, o juiz, se o representante do Ministerio nao estiver presente e nem puder


comparecer imediatament, nomeara um "ad hoc". Se o reu nao tiver constituido defensor
oficioso ser-lhe-a nomeado um. Em seguida, concedera a palavra ao defensor, para deduzir a
defesa, podendo fazer-lhes as perguntas que os representantes da acusacao e da defesa
requererem e que julgue necessarias para o esclarecimento da verdade. Finda a producao de
prova, sera concedida a palavra uma so vez aos representantes da acusacao e da defesa, os quais
dela poderao usar por espaco de quinze minutos, que o juiz podera prorrogar por mais tempo, se
a natureza da causa o exigir, depois do que o juiz proferira a sentenca 412.

409
Art. 47 do DL35007, 531 e 543 do CPP
410
Art. 553 do CPP

411
Artigo 556 CPP
412
Artigo 559 do CPP

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Se o reu preso em flagrante tiver de responder, por qualquer contravencao ou transgressoes, em


processo sumario, e nao for imediatamente julgado, podera ser posto em liberdade, desde que
deposite, na reparticao publica competente ou nas maos do escrivao, uma quantia igual ou
maxima da multa, se for esta a pena aplicavel, ou mediante termo de identidade e residencia. Se
o reu nao comperecer na audiencia do julgamento perdera a quantia igual ou maxima da multa
depositada perdera o deposito a favor do Estado, e sera julgado a revelia, seja qual for a pena que
corresponder a infraccao, tornando-se executoria a sentenca, se nao houver recurso413.

Recursos - poderá recorrer-se da sentença final ou do despacho que o mandar arquivar 414. So
pode recorrer-se da sentenca final, se a acusacao ou a defesa declararem antes do interrogatorio
do reu que nao prescindem do recurso e o interpuserem logo em seguinte a leitua da sentenca.
Quando a acusacao ou a defesa declararem que nao prescindem do recurso, a producao da prova
sera escrito, devendo constar resumidamente da acta e pertencendo a redaccao ao juiz.

Contras as decisoes de recurso podera reclamar-se no prazo de dois, mas o tribunal imediatament
superior so conhecera da reclamacao, quando se pronuncie sobre o recurso interposto da decisao
final.

Não efectivação do julgamento e remessa dos autos ao JIC ou ao MP.

Sempre que o juiz entenda que a infracção corresponde processo de querela, que se torna
necessário proceder a diligencias ou instrução que não se possam realizar dentro da tramitação
do processo sumário e sues prazos, assim o declarara em despacho fundamentado, abstendo-se
de proceder ao julgamento, e agindo nos termos do & 3 do artigo 558 do CPP.

17.O REGIME JURIDICO DA APLICACAO DAS PENAS

A finalidade de aplicação de uma pena reside primordialmente na tutela dos bens jurídicos e, na
medida do possível, na reinserção do agente na comunidade.

A pena não pode, em caso algum, ultrapassar a medida da culpa.

413
Artigo 560 do CPP

414
Artigo 561 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Toda a pena tem de ter como suporte axiológico-normativo uma culpa concreta,
independentemente do carácter etico-retribuitivo – arts. 54 e 84 do CP.

Na aplicação da pena, o tribunal devera atender as circunstancias que militem a favor ou


desfavor do agente, as motivações do crime, a intensidade do dolo ou grau da culpa, as
consequências do crime, comportamento posterior do acto, a personalidade do agente, as suas
condições sociais, aos fins das penas, entre outros critérios.

A medida legal da pena

Penas fixas – arts. 156, 159, 179 $ 4, 185 $ 5, 208 $ 2, 211 $ 2, 234, 345 & 3.

Penas variáveis – traduzem-se na indicação do limite da pena (limite máximo e mínimo). Art. 55,
nºs 1, 2, 3, 4 e 5; art. 56, n. 1 ambos do CP.

Pena mista – (prisão e multa). Arts. 161, 162, 185 $ 3, 274, 294, 318, 328, 330 $ 4, 331, 337, 345
& 2, 444 & único, 425 & 2.

Espécies de pena e pena aplicável

Penas maiores – art. 55 do CP; penas correccionais art. 56 nºs 1, 3, 4 e 5 do CP e penas especiais
– art. 57 do CP.

Determinação da pena aplicável ao crime consumado

As penalidades previstas nas incriminações da parte especial do Código são aplicáveis ao crime
consumado – artigo 9 do CP.

O crime frustrado e a tentativa só são em geral puníveis quando o crime consumado seja punível
com pena maior – artigo 104 do CP.

Determinação da pena aplicável a tentativa – arts. 11 e 105 do CP

a) Quando ao crime consumado corresponda uma das penas dos nºs. 1 a 4 do art. 55, a pena dos
autores da tentativa será a pena imediatamente inferior, dos nºs. 2 a 5 do artigo 55 atenuada.
A atenuação das penas dos nºs. 2, 3 e 4 permitem reduzir de 2 anos o seu limite mínimo
normal – artigo 91, n. 1.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

218
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b) Quando ao crime consumado caiba a pena do n. 5 do artigo 55, será, na tentativa, aplicável a
pena de 2 a 4 anos de prisão maior, atenuada. Essa atenuação não implica a redução do
mínimo normal de 2 anos (artigo 94, n. 2), no entanto, justificar-se-á a redução do mínimo da
pena a 1 ano de prisão maior – artigo 94, n. 2.

c) Quando ao crime consumado caiba a pena fixa de suspensão de direitos políticos, é aplicável
a tentativa a pena de suspensão temporária dos direitos políticos, reduzida a sua duração a 10
ou 15 anos (artigo 91, n. 3 do CP)

d) Quando ao crime consumado corresponda pena correccional, a tentativa cabe a pena do delito
frustrado atenuada. As regras gerais de punição da tentativa são afastadas nos casos dos arts.
141, nºs. 1 e 3, 163, 164, 165, 167, 190, 233, 353, 355 $ 3, 433 e 434 & 2 todos do CP. São
estes casos especiais em que a lei decreta pena determinada e afasta por isso a aplicação do
artigo 105 do CP

Determinação da pena aplicável a cumplicidade

A pena dos cúmplices do crime consumado será a mesma que caberia aos autores do crime
frustrado. A dos cúmplices do crime frustrado, a mesma que caberia aos autores da tentativa
desse crime.

A dos cúmplices da tentativa a mesma que reduzida ao mínimo caberia aos autores daquela –
artigo 103.

A cumplicidade da tentativa cabe a pena da própria tentativa reduzida ao seu mínimo legal. É
sempre uma pena fixa.

As penas correccionais são reduzidas, quanto ao seu limite máximo, a metade da sua duração
máxima.

Determinação da pena aplicável a encobridor

O encobrimento é punível diferentemente consoante se trate de encobrimento pessoal (nºs. 1, 2, 3


e 5) ou de encobrimento real (n. 3 do artigo 23 do CP).

No encobrimento pessoal (artigo 106, nºs. 1, 2 e 3).

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1º. Se ao crime for aplicável qualquer pena maior, com excepção da indicada no n. 5 do
artigo 55, ser-lhe-á aplicada a pena de prisão.

2º. Se for a pena de prisão maior do n. 5 do artigo 55, ser-lhe-á aplicada a pena de prisão por
seis meses a 1 ano;

3º. Se for a pena de prisão, ser-lhe-á aplicada a mesma pena, atenuada e nunca superior a três
meses.

Pena aplicável a receptação

O n. 4 do artigo 26 do CP, prevê conjuntamente a receptação em proveito próprio e o


encobrimento real para auxiliar o criminoso a que se aproveita dos produtos do crime.

O encobrimento real é dominado pela intenção de concorrer para a impunidade do criminoso


ainda que o meio utilizado consiste em auxilia-lo, também aproveita dos produtos do crime.

Circunstancias agravantes qualificativas comuns

A agravação por forca da lei, só tem lugar quando expressamente prevista. Trata-se de uma
alteração a medida legal ordinária da pena, que o legislador estabeleceu como regra geral.

Agravação legal da reincidência

A reincidência é mera circunstância agravante geral:

Nas contravenções. A responsabilidade penal não pode ser agravada nem atenuada, salvo o
disposto no artigo 36, isto é, artigo 33 ambos do CP.

Nos crimes puníveis com penas diversas das de prisão maior ou prisão – artigo 100 do CP
(agravação qualificativa)

A reincidência é circunstância qualificativa comum, nos crimes puníveis com prisão maior e
prisão.

Quanto as penas de prisão maior – artigo 100, n. 1. Portanto, nas penas de prisão dos nºs 1 a 4 do
artigo 55 do CP, a medida legal da pena resultante da agravação de reincidência será de 22 a 26,
18 a 22, 14 a 18 e 10 a 14 anos de prisão maior;

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Na pena do n. 5 será de 5 a 11 anos.

O limite mínimo e máximo da pena serão ainda elevados em metade daquele aumento no caso de
segunda reincidência, isto é, para 23 a 27, 19 a 23, 15 a 19, 11 a 15 e 6 ½ a 12 ½ anos na pena do
n. 5 do artigo 55 do CP.

Quanto a pena de prisão, a agravação consistira em aumentar o máximo e o mínimo da pena de


metade da duração máxima da pena aplicável – artigo 100, n. 2 do CP – 1 ano e 3 dias a 3 anos.

Se o crime for punível com pena mista, na qual entre como componente a pena de prisão maior
ou de prisão, a agravação legal terá lugar apenas sob a duração da prisão maior ou prisão.

Se a reincidência tem lugar em crime frustrado, tentativa, cumplicidade ou encobrimento, é sobre


a medida legal da pena dessas formas de infracção que incide a agravado legal.

Haverá que fixar previamente a medida legal dessas formas de infracção, e só depois proceder a
alteração da mesma medida legal, com aplicação das regras da agravação qualificativa da
reincidência.

Os casos especiais em que a agravação legal da reincidência se rege por normas diferentes do
artigo 100 são as seguintes:

Reincidência na contravenção de embriaguez em lugar público – artigo 185 & 3 do CP

Segunda reincidência no crime de dano em construções – artigo 472 & 2 do CP

Agravação legal da sucessão de crimes

A sucessão de crimes só é circunstância agravante qualificativa quando se trate de crimes de


determinada gravidade, isto é, se o crime, objecto de anterior condenação, e o novo crime forem
ambos punidos com a pena de prisão maior – artigo 101 do CP.

Será agravante qualificativa se o crime objecto de condenação anterior tiver sido punido com
pena de prisão maior, e ao novo crime for aplicável também uma pena de prisão maior.

Agravação legal extraordinária da habitualidade e tendência criminosas – artigo 93

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O limite máximo e mínimo da pena de prisão serão aumentados de um quarto da sua duração –
artigo 93, n. 1.

A pena de prisão será aumentada de metade nos seus limites mínimo e máximo, não podendo ser
inferior a 1 mes – artigo 93, n. 1

Os delinquentes por tendência só podem como tais ser declarados, se cometerem um crime de
homicídio ou ofensas corporais a que corresponda pena maior, e os habituais se cometerem
crimes a que corresponda prisão maior ou prisão.

Circunstancias agravantes qualificativas especiais

Respeita a parte especial do CP. Ex; artigos 150, 188 & 2, 189, 331, 380 & 1, 351, 398, 415, 425,
etc.

Circunstancias atenuantes qualificativas comuns

Provocação. A provocação é circunstância modificativa atenuante em crime de homicídio


voluntário, ferimentos e outras ofensas corporais – artigo 370 e seguintes do CP.

Particularidade – artigos 370 e 39, n. 4 e 374 e 377 todos do CP.

Menoridade - artigo 107 e 108 do CP

Circunstancias atenuantes qualificativas especiais (ex: & 1 do artigo 178; & 3 do artigo 358;
& único do artigo 356; & artigo 321; & 2 do artigo 194 2 parte)

*****

18. SENTENCAS

Produzida a prova e feitas as alegações será proferida a sentença e será lida publicamente em
audiência 415.

Acerca da sentença é necessário referir que há requisitos da sentença em geral, a que acrescem os
da sentença condenatória ou condenatória, consoante for o caso.

415
Artigo 449 do CPP

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Na sentença há três partes: relatório, fundamentação e dispositivo.

No relatório são identificados o arguido, o assistente, indicado o crime ou crimes imputados e,


sumariamente, as conclusões da contestação.

Na parte da fundamentação são enumerados os factos provados e não provados e faz-se uma
exposição completa e concisa dos motivos de facto e de direito em que a decisão se baseia, com
indicação e exame critico das provas que serviram para formar a convicção do tribunal.

No dispositivo indicam-se: as normas legais; a decisão condenatória ou absolutória, acerca do


crime e do pedido civil; o destino a dar as coisas ou objectos relacionados com o crime; a ordem
e remessa de boletim ao registo criminal; a decisão sobre custas e a data e a assinatura dos
membros do tribunal

A sentença condenatória dever conter os requisitos constantes do artigo 450 e deve especificar os
fundamentos que presidiram a escolha e a medida da sanção aplicada. A sentença é lida
imediatamente após a elaboração salvo se a causa for de especial complexidade porque então a
leitura será fixada para data posterior, dentro de 10 dias seguintes. Sendo condenatória o
presidente pode dirigir uma alocução ao arguido, exortando-o a corrigir-se416.

A sentença absolutória devera conter os requisitos dos artigos 450 e 452. Se estiver preso o réu
será ordenado que seja posto em liberdade.

Havendo parte acusadora, o tribunal condená-la-á a indemnização de perdas e danos ao réu, se


julgar que houve dolo ou culpa na acusação e o réu o requer em seguida a leitura da sentença –
artigo 453

As sentenças e despachos podem ser corrigidos, oficiosamente ou a requerimento, caso


contenham qualquer deficiência, lacunas ou obscuridade ou ambiguidade – artigo 456.

*****

DAS EXECUCOES

416
Artigo 455 do CPP

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Execucao das penas privativas de liberdade

Transitada em julgada a sentenca, a execucao correra nos proprios autos e no juizo da 1ª


instancia em que o processo tiver corrido 417.

Terminado o cumprimento da pena ou medida de seguranca privativa de liberdade, os


condenados serao soltos por mandados do juiz 418

Compete ao Ministerio Publico promover a execucao das penas e medidas de seguranca, bem
assim a execucao por imposto de justica, indemnizacoes por danos e mais quantias devidas ao
Estado419, enquando que compete ao tribunal ou seccao que aplicou a pena, decidir sobre a
modificacao ou substituicao das penas ou medidas de seguranca 420.

o reu so da entrada na prisao e sai dela apos cumprimento da pena mediante mandado do juiz421

Execucao por multa, imposto de justica, custas e indemnizacoes

A multa sera paga apos o transito em julgado da sentenca que a impuser e pelo quantitativo
exacto nesta fixado, nao podendo ser acrescida de qualquer adicionais e sera feito no prazo de
dez dias apos a notificacao do mesmo. Se for no acto de julgamento o prazo é de quinze dias. o
mesmo se aplica em relacao ao pagamento de imposto de justica e de custas 422. Nao pagando
coverterse-a nos termos do artigo 640 do CPP.

Pode o condenado requerer a prorrogacao do prazo de pagamento da multa e o pagamento em


prestacoes nos termos fixados no artigo 639 do CPP.

19. RECURSOS

417
Artigo 625 do CPP
418
Artigo 635 do CPP
419
Artigo 627 do CPP
420
Artigo 629 do CPP na redaccao dada pelo artigo 1 da Lei n. 5/81, de 8 de Dezembro
421
Artigos 633 e 636 do CPP
422
Artigos 638 e 642 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Em matéria de recursos há que distinguir entre o recurso ordinário e os recursos extraordinários,


estes com duas espécies; recurso para fixação de jurisprudência e recurso de revisão.

Recorre-se ordinariamente de decisões não transitadas e extraordinariamente de decisões já


transitadas.

A regra geral é da recorribilidade: os acórdãos, as sentenças e os despachos proferidos por


quaisquer juízes ou tribunais, em matéria penal, que não forem expressamente exceptuados por
lei423. Não haverá recurso, dos despachos de simples expediente; das decisões sobre policia da
audiência ou de quaisquer outros actos judiciais, ainda que imponham qualquer pena, se nelas se
não excederem os limites prescritos na lei; das decisões que ordenem actos que dependam da
livre resolução do juiz ou do tribunal; das decisões sobre de facto tomadas pelo Tribunal
Superior de Recurso, pelo tribunal colectivos e pelo júri, salvo o disposto no artigo 517 (recurso
no caso de segundo julgamento); da decisão do juiz que anular a deliberação do júri; dos acordos
do Tribunal Superior de Recurso proferidos sobre recursos interpostos em processo de polícia
correccional, de transgressões ou sumários que não sejam condenatórios; ressalva-se o disposto
nos artigos 669 e 670 e nos casos em que a multa aplicada exceda a quantia de (.actualizar),
qualquer que seja a forma de processo. Havendo pedido civil deduzido, o recurso é admissível,
restrito a esse pedido, desde que o seu montante exceda a alçada do Tribunal Superior de
Recurso? dos acórdãos do Tribunal Superior de Recurso, salvo o disposto no artigo 668 e nos
casos especiais determinados na lei. Excepção relativamente a qualquer forma de processo, das
decisões que apliquem medidas de segurança privativas de liberdade ou declararem os
delinquentes de difícil correcção haverá recurso ate ao Tribunal Superior de Recurso, embora
restrito a essa matéria424.

19.1. Legitimidade para o recurso e tribunal ad quem

O recurso da decisão proferida em 1ª instância é geralmente interposto para o tribunal da relação.


Todavia, nem sempre assim acontece. Em primeiro lugar porque pode o tribunal que decide em

423
Artigo 645 do CPP

424
Artigo 646 do CPP

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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1ª instância ser a relação ou o TSR. Depois porque há casos em que os recursos são interpostos
directamente da 1ª instância para o TSR.

Assim, tem legitimidade para interpor recurso o MP de quaisquer decisões, ainda que o recurso
seja interposto no exclusivo interesse da defesa; o réu e a parte acusadora, das decisões contra
legem proferidas425.

19.2. Subida e efeitos do recurso

Quanto ao modo de subida, os recursos podem subir nos autos ou em separado. Sobem nos
próprios autos os recursos que suspendem o andamento426 e os que forem interpostos de
quaisquer decisões que ponha termo a causa – corpo do artigo 661. Sobe em separado os que não
ponham termo a causa que devam subir imediatamente.

Se os recursos põem termo a causa não há necessidade de subirem em separado, de ser


organizado um processo: são remetidos ao tribunal imediatamente superior os próprios autos: se
os recursos não põem termo a causa, para que esta possa continuar a correr tem de subir em
separado.

Sobre o tempo de subida, há recursos que sobem imediatamente e outros que sobem a final. Os
que sobem imediatamente são os indicados no artigo 655.

Dos recursos nos processo de querela, os recursos interpostos das decisões anteriores ao
despacho de pronuncia ou não pronuncia apenas subiram ao tribunal imediatamente superior com
o que se interpuser desse despacho, e os recursos das decisões posteriores, proferidas, proferidas
antes da sentença ou acórdão final, somente subiram com o recurso que se interpuser desta
decisão, salva as excepções expressamente estabelecidas neste código 427.

Dos recursos em processo de polícia correccional, os recursos das decisões anteriores ao


despacho que designar dia para julgamento, apenas subiram ao tribunal imediatamente superior

425
Nºs 1 e 2 do artigo 647 do CPP

426
Artigo 658 do CPP

427
Artigo 653 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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com o que se interpuser deste despacho, e, se este ultimo recurso não subir logo, nos termos do
& único do artigo 397, apenas poderão subir com o recurso da decisão final 428.

Nos processos de transgressões e sumários, nenhum recurso de decisões anteriores a sentença


final, ou ao despacho que não designar dia para julgamento, subira ao Tribunal Superior de
recurso senão com o que se interpuser daquela sentença ou despacho 429.

Quanto ao efeito do recurso ele pode ser meramente devolutivo, significa que pelo recurso é
atribuída competência ao tribunal ad quem para conhecer da questao, ou suspensivo. Sendo o
efeito suspensivo, distingue a lei entre efeito suspensivo do processo e o efeito suspensivo da
decisão recorrida.

Suspendem os efeitos do processo, os recursos interpostos430:

1. Dos recursos interpostos das sentenças ou acórdãos finais condenatórios, sem prejuízo do
disposto nos artigos 295, 300 e seguintes;

2. O recurso do despacho de pronúncia;

3. O despacho que designar dia para o julgamento em processo de policia correccional, quando
subir logo ao tribunal imediatamente superior;

4. O recurso dos despachos a que se referem os artigos 350 e 351;

5. O recurso do despacho a que se refere o artigo 590.

Suspendem os efeitos da decisão recorridos os recursos interpostos, os recursos interpostos das


decisões que imponham qualquer pena por infracção das disposições deste código, se o
recorrente, quando a pena for multa, depositar o seu valor e, quando for prisão, prestar a caução,
se por esta forma tiver sido prestada431.

428
Corpo do artigo 654 do CPP

429
Artigo 555 e & único e & e do artigo 561 – artigo 657 do CPP

430
Artigo 658 do CPP

431
Artigo 659 do CPP

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19.3. Prazo e forma de interposição. Impugnação da matéria de facto e impugnação da


meteria de direito

O prazo para interposição de qualquer recurso é de 5 dias 432 e é interposto por requerimento,
onde sobre a matéria de facto é necessário especificar: os pontos que o recorrente considera
incorrectamente julgados; as provas que impõem decisão diversa da recorrida e as provas que
devem ser renovadas.

Das conclusões devem constar quando o recurso verse matéria de direito: as normas jurídicas
violadas; o sentido em que o tribunal recorrido interpretou ou aplicou as normas e o sentido em
que as devia ter interpretado ou aplicado, e no caso de entender que não foi aplicada a norma
correcta, qual a que devia ter sido aplicada.

19.4.Os recursos extraordinários

19.4.1.O recurso para fixação de jurisprudência

19.4.2. Prazo, tramitação e efeitos da decisão

O CPP prevê e regula duas espécies de recursos extraordinários: recurso para fixação de
jurisprudência e recurso de revisão das sentenças e despachos433.

O recurso para fixação de jurisprudência interpõe-se para o pleno das secções criminais do STJ,
de acordo do STJ que, relativamente a mesma questao de direito, assente em solução oposta a
perfilhada por acórdão anterior.

Que interfira na resolução da questao de direito controvertida, directa ou indirectamente – 669.

O recurso de revisão

Uma sentença transitada pode ser revista quando haja um motivo de tal modo grave que a revisão
deva prevalecer sobre a garantia da segurança jurídica estabelecida pelo caso julgado. Se, em
principio, as situações jurisdicionalmente apreciadas e sobre as quais foi proferida decisão

432
Artigo 651 do CPP

433
Artigos 669 e 673 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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exigem a estabilização, através da decisão definitiva, pode haver casos em seja flagrante a
injustiça e que, por isso mesmo, há-de ser admitida a possibilidade de alteração depois de
transito.

O artigo 675 da legitimidade que requeiram a revisão da sentença, ao MP, ao réu condenado e,
quando este tiver falecido, pelos ascendentes, descendentes, cônjuges, irmãos ou herdeiros. A
parte acusadora não poderá requerer a revisão de decisões absolutórias. O requerimento a pedir
revisão será apresentada no tribunal onde se proferiu a sentença que deve ser revista, devendo
logo indicar a prova oferecida e documentos que queiram juntar 434.

Justificação para não revisão de uma sentença transitada em julgado é admitida pelos seguintes
motivos435

Se os factos nela invocados como fundamento para a condenação de um réu forem


inconciliáveis com os que constem de outra sentença e da oposição entre eles possam resultar
graves dúvidas sobre a justiça da condenação;

Se uma sentença passada em julgado considerar falsos quaisquer depoimentos, declarações


de peritos ou documentos que possam ter determinado a decisão absolutória ou condenatória;

Se resultar de uma sentença com trânsito que a decisão absolutória ou condenatória foi
proferida por pleita, suborno, corrupção ou prevaricação dos juízes ou jurados;

Se, no caso de condenação se descobrirem novos factos ou elementos de prova que de per si
ou combinados com os factos ou provas apreciados no processo, constituam graves
presunções da inocência do acusado;

Quando por exame médico-forense feito em qualquer réu que esteja cumprindo pena e, por
quaisquer outras diligências necessárias, se mostrar que a sua falta de integridade mental
poderia ter determinado a irresponsabilidade pela infracção por que foi condenado.

434
Artigo 676 do CPP

435
Artigo 673 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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A prescrição do procedimento penal ou da pena ou cumprimento desta não constituem factos


impeditivos da revisão 436.

PROCESSOS ESPECIAIS

O CPP prevê varios processos especiais: processo de ausentes437; processo por difamacao,
calunia e injuria438; processo por infraccoes cometidas por juizes de direito em primeira instancia
e magistrados do Ministerio Publico junto deles, no exercicio da suas funcoes ou por causa
delas439; processo por infraccoes cometidas pelos juizes do Tribunal Superior de Recurso ou
Tribunal Supremo, pelos magistrados do Ministerio Publico junto deles, ou outros de igual
categoria440.

Indica ainda o processo de reforma de autos perdidos, extraviado ou destruidos 441, mas este nao
constitui verdadeiramente um processo penal especial, pois que é a reforma do processo perdido,
extraviado ou desaparecido, e este ultimo é que é de classificar consoante a sua natureza em
comum ou especial. Trata-se antes de uma fase extraordinaria de todas as formas de processo, e
que segue uma vez extraviados, perdidos ou destruido os primitivos autos.

Processo de ausentes

1. Hipotese: o réu foi notificado para o julgamento, mas nao compareceu nem justificou a
falta.

Se o réu acusado em processo que nao seja sumario442, tendo sido devidamente notificado para o
julgamento, nao comparecer nen justificar a falta, se decorridos dois meses trantando-se de

436
Artigo 674 do CPP
437
Artigo 562 e segts do CPP
438
Artigo 587 e segts do CPP
439
Artigo 595 e segts do CPP
440
Artigo 613 e segts do CPP
441
Artigo 617 e segts do CPP
442
Ja se disse que o reu em processo sumario é logo julgado à revelia se nao comparecer ao julgamento nem
justificar a falta.

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Lições de Direito Processual Penal 2013
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processo de querela ou de policia correccional, ou um mes se de outra forma de processo se


tratar, nao tiver sido preso, será julgado à revelia 443.

Todas as notificacoes que deveriam fazer-se ao réu, serão feitas ao defensor.

O julgamento será anunciado com dez dias de antecedencia, pelo menos, por editais, e se o réu
nao comparecer observar-se-ao as disposicoes do respectivo processo, com as midificacoes
seguintes:

a) Serã escritos resumidamente na acta os depoimentos das testemunhas e as declaracoes, salvo


se ja tiverem sido prestados na instrucao, pois neste caso apenas se dirá se os confirma ou
aquilo em que os alteram;

b) A setenca é lida publicamente na audiencia e notifica-se ao réu quando for preso ou se


apresente em juízo;

c) O prazo para o recurso da sentenca é de cinco dias a contar da data do julgamento.

Mas, verificando-se algum dos casos referidos no & 6 do artigo 564 do CPP, poderá o réu
recorrer depois de expirado aquele prazo.

O julfamento sera feito pelo tribunal singular e, sendo aplicavel pena de policia correcional, a
prova sera obrigatoriamente reduzida a escrito e quando o representante da acusacao ou da
defesa declarar expressamente que nao prescinde de recurso nos restantes processos 444.

3: Hiposete 3:

.... no seu domicilio; e se residir em lugar afastado do territorio mocambicano, podera ser
dispensado de comparecer em julgamento.

Proceder-se-á ao julgamento como se o reu estivesse presente, nos termos do artigo 418, sem
prejuizo de ulterior determinacao sobre a sua comparencia, se o tribunal a reputar necessaria ao
esclarecimento da verdade.

443
Artigo 563 do CPP
444
Artigo 568 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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Se a causa da nao comparencia do réu dor de natureza temporaria, adiar-se-a o julgamento pelo
tempo julgado necessario, observando-se depois os && 1 e 2 do artigo 566 do CPP.

Quando o julgamento se realizar sem a comparencia do reu nao se empregar o processo de


ausentes, devendo observar-se na audie ncia os termos ulteriores disposto no artigos 400 e
seguintres do CPP, fazendo-se ao defensor constituido ou nomeados todas as notificacoes que
devessem fazer-se ao acusado e executand0-se a decisao logo que transite 445.

4. Hipotese: caso do reu se impossibilitar no decurso da audiencia ou de, tomando esta mais
uma sessao, o reu faltar por qualquer motivo a alguma destas sessoes.

Iniciado um julgamento com a presenca do acusado, se este se impossibilitar no decurso da


audiencia, ou se, tomando esta mais de uma sessao, o reu faltar, por qualquer motivo, a alguma
destas, prosseguira o julgamento ou adiado, conforme decisao do tribunal.

Adiando-se o julgamento, se no dia designado pela sua vez para a sua continuacao o reu nao
comparecer, embora por causa legitima, sera julgado nesse mesmo dia, ainda que nao tenha
podido ser notificado 446

Nao se empregara o processo de ausente, devendo observar-se no julgamento e termos ulteriores


o disposto no artigo 400 e seguintes, fazendo ao defensor constituido ou nomeado todas as
notificacoes que devessem fazer-se ao acusado e executando-se a decisao logo que transite 447.

5. Hipotese: impossibilidade de notificar para o julgamento os acusados em qualquer


processo, salvo os processos correccional e de querela

Os acusados em qualquer processo, salvo os processos de policia correccional e de querela, que


dentro de trinta dias contados da data do primeiro despacho que designar dia para julgamento,
nao puderem, por qualquer motivo, ser notificados do mesmo despacho, serao julgamento à

445
2ª parte do artigo 568 do CPP.
446
Artigo 567 do CPP
447
2ª parte do artigo 568 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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revelia, escrevendo-se os depoimentos só quando o representante da acusacao ou da defesa


declarar expressamente que nao prescinde de recurso448.

Serao afixados editais como se diz na 1ª hipotese atras aludida, do modelo igual ao que ai
inserimeos; e observar-se-á o mais que no mesmo local se refere ao julgamento e actos
posteriores.

6. Hipotese: réu pronunciado em processo correccional ou de querela que nao foi preso
nem se apresentou em juizo dentro de dois meses contados da data da pronuncia definitiva.

O réu pronunciado em processo correccional ou de querela que nao for preso nem se apresente
voluntariemnte em juizo dentro de dois meses contados da data da pronuncia definitiva, sera
notificado por editos para se apresentar dentro de prazo certo, sob pena do processo seguir à
revelia449 Havendo tambem reus presos ou sob caucao, o prazo é reduzido a trinta dias 450.

Decorrido o prazo para a apresentacao o juiz nomeara defensor ao reu, se ainda nao tiver
constituido ou nomeado, ao qual serao feitas todas as notificacoes que o deviam ser aquele.

O julgamento ser anunciado com dz dias de antecedencia por editais, como se indicou na
hipotese 1ª dos processos de ausentes, servindo a formula inserida.

Trantando-se de processo de querela, o julgamento sera feito pelo juizo singular, a nao ser que
tenha de intervir o colectivo por haver reus presentes e julgar conjuntamente.

A producao da prova quanto ao ausente sera sempre reduzida a escrito, mesmo que no
julgamento intervenha o colectivo.

O reu podera recorrer ou solicitar novo julgamento no prazo de cinco dias a contar da notificacao
da sentenca a fazer logo que seja preso ou se apresente em juizo.

448
Artigo 569 do CPP
449
Artigo 570 do CPP.
450
Artigo 581 do CPP

Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista

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