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PROMOTORIA DE SILVÂNIA

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO


DA COMARCA DE SILVÂNIA

URGENTE

“No ambiente do méstico prega-se o respeito aos velho s ao mesmo tempo que se tenta
c o n v e n c ê - l o s a c e d e r o s e u l u g a r a o s j o v e n s . S e u s c o n s e l h o s n ã o s e q u e r m a i s o u v i r, u m a
vez que a sua posição é de passiv ida de. Há no interior das família s, a cumplicidade dos
adultos em manejar os velho s, e m imobilizá- los co m cuida dos para o seu próprio be m. Em
privá-los da liberdade de escolha, e m torná-los cada vez mais dependentes administrando
suas aposentadorias, obriga ndo-os a sair de seu canto, a mudar de casa e, por fim,
s u b m e t e n d o - o s à i n t e r n a ç ã o h o s p i t a l a r. S e o i d o s o n ã o c e d e à p e r s u a s ã o , à m e n t i r a , o s
fa miliares não hesitarão e m fazer uso da força.”

ECLÉA BOSI

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE GOIAS, presentado pelo Promotor de Justiça
subscritor, no uso de suas atribuições legais, com base na
documentação anexada e com fulcro no art. 43, incisos II e
III, e art. 74, inciso III, da Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso),
vem a presença de Vossa Excelência ajuizar a presente
MEDIDA DE PROTEÇÃO em favor da senhora (idosa)
............................................, brasileira,
casada, aposentada, nascida aos
…..............., natural de Pires do Rio,
residente …............em Silvânia/GO.
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haja vista os fatos e fundamentos


expostos abaixo:

I – DOS FATOS

A senhora …................................
compareceu espontaneamente na Promotoria de Justiça de
Silvânia para informar sua situação de vulnerabilidade
social e de risco.

Segundo afirmado pela idosa, ela e seu


marido ….....................................(nascido em …........)
estão à mercê de ameaças e atos praticados pelo filho
…..................., nascido em …............, os quais atentam
contra a dignidade e o sossego do casal.

A ofendida asseverou que seu filho


…...................é usuário de substância entorpecente e,
diante disso, constantemente perturba o sossego familiar,
inclusive ameaçando de morte e agredindo moralmente os
pais.

A senhora …......, por fim, admitiu que


“deseja que seu filho seja afastado do lar”

O fato foi corroborado pelo senhor


….........................., esposo da idosa e pai de …....., tendo
ele salientado que não suporta mais ser agredido pelo filho,
oportunidade que esclareceu que “a residência em que mora
pertence ao depoente e sua esposa”.
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Em suma, a idosa e seu esposo, a par de


serem os proprietários da residência, são obrigados a
suportarem o desrespeito e a agressividade do filho.

….................................nem sequer
contribui financeiramente para o sustento da residência,
preferindo a ociosidade de uma vida fácil.

Gize-se que …...............se recusa a ser


internado em estabelecimento próprio para recuperação de seu
vício.

A certidão de antecedentes criminais


comprova que ….......................não consegue pautar sua
conduta dentro da normalidade, envolvendo-se em fatos
criminosos.

Necessário expor que essas constantes


perturbações e ameaças vêm causando prejuízos à saúde da
idosa e de seu esposo, a ponto de nãos mais suportarem a
convivência familiar com o filho.

Em razão dessa situação insustentável,


necessária a adoção de providências urgente, até mesmo para
evitar consequências mais graves que possam advir.

Destarte, parece ser imprescindível o


afastamento de ….....................................................da
residência da idosa …............................, sob pena de
continuidade de grave infringência aos direitos fundamentais
da idosa, os quais hodiernamente são tutelados pela Lei
n.º10.741/03.
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II – DO DIREITO

A Lei n.º 10.741/03 – Estatuto do


Idoso -, a qual entrou em vigor em 1.º de janeiro de 2004,
trouxe disciplina específica no que tange à prioridade na
tutela dos direitos dos idosos em nosso País, a exemplo do que
já fizera o Estatuto da Criança e do Adolescente.

O art. 1º da Lei n.º 10.741/03 adjetiva


como idoso toda pessoa com idade igual ou superior a 60
anos, como é o caso da senhora …....................................

O art. 2º, por sua vez, estabelece que o


idoso "goza de todos os direitos fundamentais inerentes à
pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-lhe, por lei ou outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde
física e mental".

No seu art. 3º a lei estabelece as


seguintes obrigações à família e ao Poder Público como um
todo, in verbis: "Art. 3º - É obrigação da família, da
sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com
absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária."

Parece evidente que as atitudes de


…...............................................vem atentado contra o
espírito da legislação acima especificada, visto que
diariamente vem tolhendo sua mãe da tranquilidade caseira e
do respeito à sua condição de idosa.
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Não podemos olvidar que tais atitudes


também atingem à dignidade humana da idosa, a qual é
obrigada a suportar a humilhação e a violência do filho.

Não é preciso grande esforço para que se


conclua acerca da gravidade dos fatos, bastando referir que a
idosa deixou assentado em seu depoimento prestado ao
Ministério Público que “deseja que seu filho seja afastado do
lar”.
A legitimidade do Ministério Público
vem estampada claramente no art. 74, inc. III, do Estatuto do
Idoso, o qual imputa ao Parquet a atribuição de atuar como
substituto processual do idoso em situação de risco.

O afastamento de
…...................................da residência de seus pais é possível
com base no art. 43, inc. II, c/c o caput do art. 45, ambos do
Estatuto do Idoso.

À evidência, ao Juiz de Direito,


verificada qualquer das situações previstas no art. 43 do
Estatuto do Idoso, é possibilitada a adoção de medida
emergencial, as quais não se restringem às hipóteses dos
incisos do art. 45 do mesmo diploma, conforme claramente se
percebe do dispositivo, in verbis:
"Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses
previstas no art. 43, o Ministério Público ou o
Poder Judiciário, a requerimento daquele, poderá
determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
(...)." - grifei
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Neste sentido ainda:

(TJSP-106742) MEDIDA CAUTELAR INOMINADA -


PLEITO QUE ALMEJA O AFASTAMENTO DE FILHO
MAIOR DO LAR DOS PAIS, QUE JÁ SÃO IDOSOS,
POR CONTA DE TRANSTORNOS CAUSADOS POR
AQUELE QUE, SEGUNDO CONSTA, É VICIADO EM
SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES - PETIÇÃO INICIAL
INDEFERIDA SOB O FUNDAMENTO DA CARÊNCIA DA
AÇÃO - INADMISSIBILIDADE.
O Ministério Público é legitimado a atuar
como substituto processual, na defesa dos
interesses de pessoas idosas, tal como no
presente caso - Inteligência dos artigos 43
e 74, inciso III, ambos do Estatuto do
Idoso - Cautelar de natureza satisfativa -
Desnecessidade de propositura da ação
principal - A cautelar de natureza
satisfativa é cabível em situações
excepcionais, tais como a dos autos, pois
em jogo a dignidade humana e a vida de
pessoas idosas - Decreto de indeferimento
afastado - Baixa dos autos à origem para
prosseguimento do feito - Recurso provido.
(Apelação sem Revisão nº 2317894400, 1ª
Câmara de Direito Privado do TJSP, Rel. De
Santi Ribeiro. j. 15.01.2008).

III – DO PEDIDO

ANTE O EXPOSTO, o MINISTÉRIO


PÚBLICO requer:
a) seja autuado o presente expediente
como medida de proteção;
b) seja determinado o imediato
afastamento de
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….................................... da residência
de sua mãe …..................................,
podendo levar consigo tão-somente os
seus pertences, devendo ser cientificado
que eventual descumprimento da medida
acarretará no comento de crime de
desobediência;
c) seja autorizado, se necessário, o
auxílio de força policial para
cumprimento da ordem judicial pelo
senhor oficial de justiça;
d) seja oficiado à Secretaria Municipal
de Assistência Social para que
providencie a realização de estudo
social, bem como monitore a situação,
remetendo-se relatório;
e) seja dada prioridade na tramitação
deste procedimento, haja vista o disposto
no art. 71 do Estatuto do Idoso.

Silvânia, 22 de janeiro de 2009.

_______________________
Carlos Luiz Wolff de Pina
Promotor de Justiça

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