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AOS SENHORES DO JUÍZO DA PRESIDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DE PERNAMBUCO – DIREITO PRIVADO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA –


CONSUMIDOR, PLANO DE SAÚDE.
PROCESSO DE ORIGEM Nº

Agravante: Associação de Defesa de Beneficiários de Planos de Saúde de


Pernambuco (ADBPP).
Agravados: Acém Health e SemHelp.

Associação de Defesa de Beneficiários de Planos de Saúde de


Pernambuco (ADBPP), associação civil legalmente constituída desde 2002,
(documentos de constituição e assembleia de autorização de propositura da
presente ação anexas), com sede no endereço XXX, representada por seu
advogado inscrito na OAB nº XXX, consoante procuração anexa, inconformada
com a R. Decisão Interlocutória proferida nos autos da Ação Civil Pública
proposta sob o Processo de nº XXXXX em trâmite na Vara Cível de Recife, que
indeferiu o pedido liminar, vem respeitosamente à presença de Vossa
Excelência interpor

RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO


com fulcro no artigo 1015 e seguintes do Código de Processo Civil.
Apresenta recurso dentro do prazo legal de 15 dias úteis, portanto tempestivo.
Requer-se o recebimento do presente recurso de agravo de instrumento,
com as razões anexas, COM CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO
(ATIVO), na forma do art. 1019, I, do CPC, intimando-se o agravado para
oferecer contrarrazões, no prazo de 30 dias1, na forma do artigo 1019, II, do
Código de Processo Civil.
Como se trata de processo eletrônico, deixa de juntar os documentos previstos
no art. 1017 do CPC, na medida do permissivo legal existente em seu
parágrafo 5º ("Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças
referidas nos incisos I e II do caput, facultando ao agravante anexar outros
documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia").
Informa-se o nome e endereço completo do advogado constante dos autos,
nos moldes do art. 1016, IV, do Código de Processo Civil: (Dr. José).
DO PREPARO

A associação autora no exercício do múnus de autoria da presente Ação


Civil Pública goza de gratuidade dos atos processuais na persecução das
tutelas coletivas aqui defendidas, motivo pelo qual deixa de demonstrar o
pagamento de custas de preparo e remessa.
DA TEMPESTIVIDADE
O presente recurso de agravo de instrumento é tempestivo, visto que interposto
dentro do prazo de 15 dias determinado no art. 1019, I, do Código de Processo
Civil. (Lei nº 13.105 /2015). Portanto, resta demonstrada a tempestividade do
presente recurso.

RAZÕES RECURSAIS

Agravante: Associação de Defesa de Beneficiários de Planos


de Saúde de Pernambuco (ADBPP)
Agravados: Acém Health e SemHelp.

MINUTA DE AGRAVO, EGRÉGIO TRIBUNAL ,COLENDA


CÂMARA.

DOS FATOS

A ADBPP foi procurada por diversas pessoas em janeiro de 2022 e todas elas,
de forma idêntica, reclamaram que seus planos de saúde passaram por
uma grande mudança, sendo a carteira de pessoas mais idosas (todas acima
de 55 anos) integralmente assumida por outra empresa e sob a condição de
que obrigatoriamente se submetessem a novas cláusulas contratuais para que
permanecessem sendo atendidas, sob pena de imediata cessação de todos os
benefícios.
Todas essas pessoas eram beneficiárias de planos da empresa “Acém Health”
e passaram a compor de forma automática o novo plano
“SemHelp”, que pertence ao mesmo grupo econômico, mas que conta com
uma rede de atendimento muito inferior àquela inicialmente contratada, sem
hospitais importantes que constavam na rede anterior e com um diminuto
número de médicos que se encontram exclusivamente nos hospitais próprios
do plano, localizados exclusivamente na capital do estado, mesmo tendo o
plano a promessa de um amplo atendimento nacional.
Os beneficiários ainda foram obrigados a aderir a um novo contrato em que há
cláusula de permanência máxima de 15 dias de internação em UTI e carência
para utilização dos serviços de assistência médica nas situações de
emergência por 90 dias a contar da migração para o “SemHelp”.
Essas pessoas são associadas da Associação de Defesa de Beneficiários de
Planos de Saúde de Pernambuco (ADBPP), e pediram para que fosse
tomada uma medida judicial urgente a fim de que todos fossem protegidos
contra essas atitudes da empresa.
Ocorre, no entanto, que o magistrado de primeiro grau, afastando-se de seu
costumeiro acerto, equivocou-se, negando a liminar:
“Não vislumbro a presença do periculum in mora no
presente caso, uma vez que as pessoas continuam beneficiadas pelo novo plano
de saúde, não havendo nada além de um possível ocorrência de perigo que
poderá ser melhor analisado após o exercício de defesa das rés e a dilação
probatória. Assim, julgo improcedente o pedido liminar e ordeno a citação das
rés para que, querendo, apresentem contestação em 15 dias úteis”.
Merece reforma a decisão do magistrado de primeiro grau, como veremos:

CABIMENTO DA VIA ELEITA

Tendo em vista se tratar de inconformismo em face de decisão interlocutória


prolatada pelo MM Juízo de primeiro grau, cabível é o
presente agravo de instrumento, como determinado no art. 1015, I, do Código
de Processo Civil. (Lei nº 13.105 /2015).

DO MÉRITO RECURSAL

Excelências, com todo o respeito, equivocou-se o magistrado de primeiro grau


ao entender que não havendo nada além de um possível ocorrência de perigo
nos autos, inexistindo o periculum in mora na concessão da liminar em razão
de as pessoas já estarem abarcadas pelo novo plano de saúde.
Equivocou-se, pois os elementos que determinam a concessão da tutela de
urgência estão abundantes nos autos, com claro risco de morte e para a saúde
dos beneficiários que têm seus direitos de acesso a importantes tratamentos,
hospitais e médicos atingidos e ilegalmente restringidos pela medida aqui
combatida.
Portanto, é patente a presença do fumus boni iuris e do periculum in mora para
a concessão da medida de urgência por este tribunal.
Por essas razões, de fato e de direito, deve o presente agravo de instrumento
ser conhecido e provido, com a integral reforma da decisão interlocutória aqui
recorrida, devendo que as empresas rés, retomem o atendimento nos moldes
inicialmente formulados com a empresa Acém Health e, ainda, que sejam os
gastos integralmente custeados pelas empresas rés, mesmo que realizados
por particulares fora da rede credenciada, até que essa rede seja integralmente
retomada, devendo a
operadora de saúde custear as despesas médicas particulares do beneficiário,
diretamente ou por meio de posterior reembolso.

DO EFEITO SUSPENSIVO ATIVO

Requer-se a Vossa Excelência, a concessão do efeito suspensivo (ativo) ao


presente agravo de instrumento em razão da patente urgência que reside no
caso em análise, nos termos do art. 1019 I do CPC:
Art. 1.019 Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído
imediatamente, se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, o
relator, no prazo de 5 (cinco) dias:
I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de
tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua
decisão. (BRASIL, 2015, [s. p.]).
Clara está, neste processo, a presença dos elementos que autorizam a
concessão do efeito, tanto no que tange à probabilidade do direito (fumus boni
juris) quanto no perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo
(periculum in mora) na não concessão da medida.
O fumus boni iuris decorre do patente desrespeito ao direito dos consumidores
beneficiários do plano de saúde, que sofrem claras abusividades por parte das
rés, como vamos aqui expor:

O FUMUS BONI IURIS E A ABUSIVIDADE NA RELAÇÃO DE CONSUMO:

DA ABUSIVIDADE DE MIGRAÇÃO FORÇADA PARA O NOVO PLANO “SEM


HELP”
São patentemente abusivas as práticas comerciais de migração forçada dos
beneficiários de um plano de saúde para outro SEM A POSSIBILIDADE DE
ANUÊNCIA OU NEGOCIAÇÃO por parte dos beneficiários que simplesmente
deveriam concordar com as novas cláusulas ou se retirarem do rol de
atendimento.

DA DIMINUIÇÃO DA COBERTURA E DA REDE CREDENCIADA

A drástica redução de cobertura do convênio é prática abusiva e ilegal, uma


vez que todos os beneficiários contrataram o plano em razão do rol de pontos
de atendimento e da rede credenciada que lhes foi apresentada quando da
contratação, havendo a alteração unilateral E SEM QUALQUER
CONCORDÂNCIA OU ANUÊNCIA, por parte dos consumidores.

Dessa forma, é necessária a manutenção daquela rede original ou comprovada


substituição de rede de atendimento de mesma qualidade e abrangência.
A abusividade e descumprimento contratual são tão patentes que, a rede fora
contratada como de abrangência nacional e conta apenas com hospitais e
médicos atendentes na cidade de Recife.
Nesse mesmo sentido da abusividade já decidiram nossos tribunais:

“APELAÇÃO. PLANO DE SAÚDE.


Ação de obrigação de fazer. Sentença de parcial procedência, para condenar a
requerida a manter rede credenciada equivalente à disponibilizada pelo plano
anteriormente mantido pela autora junto à operadora Golden Crossou custear
atendimento em hospitais, clínicas, e laboratórios que prestavam serviços à
autora quando estava vinculada à antiga rede de assistência médica,
confirmando, em parte, a antecipação de tutela anteriormente concedida.
Condenação da ré, ainda, no pagamento de indenização a título de danos
morais, no valor de R$ 5.000,00.
Inconformismo. Não acolhimento. Migração de carteira de clientes da Golden
Cross para a Unimed Rio. Desrespeito às regras da
migração e da previsão do artigo 17 da Lei nº 9.656/98. Autora impedida de
acessar médicos e hospitais até então credenciados. Dano moral configurado.
Fato que extrapolou a esfera do mero aborrecimento cotidiano. RECURSO
ADESIVO DA AUTORA visando à majoração dos danos morais para R$
17.600,00.
Circunstâncias apontadas que autorizam a majoração do quantum indenizatório
para R$
10.000.00. RECURSO DA REQUERIDA DESPROVIDO. RECURSO ADESIVO DA
AUTORA PARCIALMENTE PROVIDO.” (TJ-SP – AC: 10814837020168260100 SP
1081483-70.2016.8.26.0100, Relator: Clara Maria Araújo Xavier, Data de
Julgamento: 05/06/2019, 8ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
06/06/2019)

É necessária a concessão imediata da medida liminar para que o atendimento


seja retomado nos moldes iniciais ou, ainda, que sejam os gastos
integralmente custeados pelas empresas rés, mesmo que realizados por
particulares fora da rede credenciada.
Além da aplicação de multa diária, enquanto não for substituída a rede de
atendimento pela abrangência anterior, a operadora de saúde deverá custear
as despesas médicas particulares do beneficiário, diretamente ou por meio de
posterior reembolso.

DA DESCRIMINALIZAÇÃO ABUSIVA EM RAZÃO DA IDADE.

Como exposto anteriormente, as rés dividiram as carteiras de beneficiários do


plano original, relegando as pessoas mais idosas (todas acima de 55 anos)
integralmente à nova empresa.
O dolo dessa operação é patente, ainda que não tenha atingido estritamente as
pessoas protegidas pelo Estatuto do Idoso, atingindo uma faixa pouco maior do
que aqueles maiores de 60 anos, é evidente a intenção da empresa de afastar
de sua carteira uma “faixa podre”, retirando de forma desonesta e hedionda as
pessoas que estatisticamente representam maiores despesas de ordem
médica.
Assim, mesmo que não atingindo somente idosos na concepção legal do
termo, as rés realizaram prática abusiva de discriminação desse grupo de
pessoas, descumprindo de forma ilegal a obrigação prevista no artigo 15, § 3º,
do Estatuto do Idoso: “é vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde
pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade” (BRASIL, 2003, [s.
p.]).
Houve patente discriminação, não apenas por meio de cobrança, mas pela
segregação desse grupo a um novo contrato de menor qualidade e diminuta
rede de atendimento, CONTRA A VONTADE DOS BENEFICIÁRIOS.

DA ABUSIVIDADE DA ALTERAÇÃO UNILATERAL DO CONTRATO E DAS


CLÁUSULAS ABUSIVAS.

Os beneficiários foram obrigados pelas empresas rés a aderirem ao novo


contrato com cláusulas de patente abusividade, como a de permanência
máxima de 15 dias de internação em UTI e carência para utilização dos
serviços de assistência médica nas situações de emergência por 90 dias a
contar da migração para o “SemHelp”.
Essas cláusulas devem ser declaradas nulas de pleno direito e refletem sendo
ineficazes para o consumidor, como se não tivessem sido escritas, mesmo que,
formalmente, tenha sido colhida a expressa anuência.
Além disso, como garantia do princípio da manutenção das cláusulas
contratuais, a nulidade de uma cláusula não gera a nulidade de todo o negócio
jurídico, devendo ser mantidos os demais pontos contratuais sem que ocorra
qualquer onerosidade para os beneficiários.
Essa abusividade é evidentemente maior por tratarem-se de contratos de
adesão, aqueles cujas cláusulas foram estabelecidas unilateralmente pelas
empresas rés, a um número indeterminado de pessoas e sem que haja a
possibilidade de o consumidor modificar substancialmente seu conteúdo.
DA LIMITAÇÃO DO TEMPO DE UTILIZAÇÃO DE INTERNAÇÕES

A Lei nº 9.656/98, ao elencar as exigências mínimas de cobertura do contrato


de plano de saúde que se enquadra na segmentação com internação
hospitalar, veda a limitação de prazo, valor máximo e quantidade de
internações hospitalares, conforme disposto em seu art. 12, inciso II.
Desta feita, ficou clara a existência do fumus boni iuris e também do periculum
in mora, que decorre do patente fato de que os associados foram privados de
seus direitos a obter um amplo e imediato atendimento médico hospitalar, pelas
empresas rés, colocando em risco suas vidas e saúdes.

DAS MEDIDAS DE URGÊNCIA.

Diante do exposto, requer-se a Vossa Excelência concessão do efeito


suspensivo (ativo) para a antecipação dos efeitos da tutela, com a intimação
das empresas para que:
Imediatamente retome o atendimento nos moldes inicialmente formulados com
a empresa Acém Health e, ainda, que sejam os gastos integralmente
custeados pelas empresas rés, mesmo que realizados por particulares fora da
rede credenciada, até que essa rede seja integralmente retomada, devendo a
operadora de saúde custear as despesas médicas particulares do beneficiário,
diretamente ou por meio de posterior reembolso.
a) Aplicação de multa diária, enquanto não for substituída a rede
de atendimento pela abrangência anterior.
b) Imediata anulação das cláusulas abusivas de carência de
atendimento e prazo de permanência em UTI.
No prazo de máximo de cinco dias, sob pena de multa diária e do cometimento
de crime de desobediência em seu descumprimento.

DOS REQUERIMENTOS E PEDIDOS:

a) Que seja conhecido e provido o presente recurso, com a reforma


da decisão interlocutória que indeferiu o pedido liminar de que:
1) Imediatamente retome o atendimento nos moldes inicialmente
formulados com a empresa Acém Health e, ainda, que sejam os gastos
integralmente custeados pelas empresas rés, mesmo que realizados por
particulares fora da rede credenciada, até que essa rede seja integralmente
retomada, devendo a operadora de saúde custear as despesas médicas
particulares do beneficiário, diretamente ou por meio de posterior reembolso. 2)
Aplicação de multa diária, enquanto não for substituída a rede de atendimento
pela abrangência anterior. 3) Imediata anulação das cláusulas abusivas de
carência de atendimento e prazo de permanência em UTI. No prazo de, no
máximo, cinco dias, sob pena de multa diária e do cometimento de crime de
desobediência em seu descumprimento.
b) Que seja deferido o pedido de efeito ativo, intimando-se a parte
recorrida para que cumpra imediatamente a ordem constante deste recurso de
agravo de instrumento.
Termos em que pede deferimento.

Recife, data.

José OAB/PE 54321

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