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EXCELENTÍSSIMO SR.

DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PUBLICA DA


COMARCA DE PORTO ALEGRE/RS

EDNA MARIA VIEIRA DE SOUZA, brasileira, divorciada, técnica em enfermagem, portadora do


RG 8089815487 SJS/RS, inscrita no CPF sob o número 809.561.570-68, residente e domiciliada
na Rua Murá, 288, Bloco 5, ap. 120, Bairro Espírito Santo, CEP 91.770-570, na cidade de Porto
Alegre/RS, vem, por sua procuradora signatária, interpor:

AÇÃO REIVINDICATÓRIA

face ao MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE, pessoa jurídica de direito público, com sede na Praça
Montevideo, nº 10, na cidade de Porto Alegre/RS, pelos fatos e fundamentos que seguem.

DA SÍNTESE DOS FATOS

A Requerente é servidora do Município de Porto Alegre, matriculada sob o nº


516810/2, atuando no cargo de técnica de enfermagem, estando lotada no Hospital Materno
Infantil Presidente Vargas.

Na data de 14.07.2009 sofreu grave acidente no exercício de sua atividade laboral,


tendo escorregado em piso molhado sem qualquer sinalização em razão de vazamento
hidráulico no setor de isolamento, em conformidade com a Comunicação de Acidente de
Trabalho anexa.

Em razão da queda, a Requerente teve várias lesões (face, dentes, ombro, joelho)
que culminaram em sérias sequelas mesmo com tratamento médico contínuo e que
continuaram se agravando, causando dores intensas e debilidades que provocaram inclusive
crises depressivas.

O acidente de trabalho ocasionou lesão na coluna (Espondiolistese CID M43.1,


compressão nas vértebras, dificuldade de circulação que acarretou pressão alta e vertigens,
rompimento do manguito rotador lesão acarretou perda de mobilidade parcial, somente
levantando o braço em 4Sº, Capsulite Adesiva CID M7S.0, perde de dente, que necessitou de
prótese, lesão interna e externa no nariz, que necessitou de cirurgia, depressão decorrente das
limitações físicas e do estresse emocional causado pelo assédio moral)

Conforme se pode verificar na documentação acostada, em nenhum momento o


Requerido prestou auxílio à Requerente para o tratamento, custeado a maior parte do tempo
por plano de saúde privado, enquanto o pagamento do mesmo pode ser suportado e, quando
não mais lhe foi possível arcar com o pagamento do mesmo, passou a fazer tratamento
através do Sistema Único de Saúde.
Além da ausência de auxílio no tratamento de saúde a fim de possibilitar a
recuperação completa, o Requerido determinou o retorno ao trabalho em processo de
reabilitação com limitação de tarefas, o que não foi observado no setor de trabalho da
Requerente, onde, somado ao fato de não ter a situação de restrição de atividades que
pudessem ser realizadas, a Requerente passou a sofrer assédio moral, ouvindo de seus
superiores que não era “funcionária inteira”, que do jeito que estava era como apenas “meia
pessoa”, sendo coagida diversas vezes a assinar documentação dizendo que se negava a
realizar as tarefas, até que ingressou com pedido de administrativo de restrição de tarefas, que
segue anexo aos autos.

Mesmo com o reconhecimento da limitação de tarefas, passou a sofrer pressões


para modificar o horário de trabalho (passar da noite para o dia), para trocar de setor, sempre
acompanhado de determinação de assinar documentos em que declarasse estar se negando
de fazer uma coisa ou outra. Muito embora a Requerente justificasse que a troca de turno lhe
dificultaria a continuidade do tratamento médico em razão dos horários e da diminuição de
valores a serem recebidos, o assédio somente aumentava em todos os sentidos.

Por último, foi-lhe cortado o pagamento de insalubridade, arbitrariamente, por


mero despacho dentro do processo com o pedido de limitação de tarefas, mesmo a
Requerente manipulando bandejas cirúrgicas e tendo contato direto com pacientes, ou seja,
mesmo estando em ambiente insalubre, foi determinado, sem qualquer fundamentação
técnica, que sua atividade não se enquadrava em atividade insalubre.

Pelos fatos descritos, não restou a Requerente alternativa senão o ingresso de


ação judicial, eis que buscou de várias maneiras o reconhecimento e respeito por seus direitos,
inclusive buscando auxílio do sindicato de sua categoria, sem, no entanto, lograr êxito.

DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA

O artigo 186 do Código Civil determina de forma clara e precisa como conceito de
ato ilícito aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

A principal consequência a ser analisada em decorrência do ato ilícito é o


nascimento do dever de indenizar os danos sofridos pela conduta ilícita e a necessidade de
reparação integral dos prejuízos sofridos pela vítima.

A possibilidade de buscar reparação por danos causados por outrem encontra


respaldo nos artigos 186 a 187e artigos 927 a 954 do Código Civil, bem como na Constituição
Federal, em seu artigo Sº, incisos V e X, entre outros. Tal reparação deve se dar de forma
ampla, procurando restituir a integralidade do estado anterior (restitutio in integrum, status
quo ante).

A Requerida deixou de observar integralmente os regramentos de segurança e


proteção ao servidor/trabalhador, em especial os que primam pela segurança no ambiente de
trabalho. Evidente, portanto, o ato ilícito da Requerida.
A situação envolvendo o acidente de trabalho da Requerente gerou situação de
risco (meio ambiente laboral perigoso). Em vista disso, a responsabilidade do Requerido é
objetiva segundo a teoria do risco da atividade, no que tange a responsabilidade civil.

A doutrina reconhece e dá guarida à pretensão da Requerente. Para Jorge Luiz


Souto Maior ¹”a obrigação de indenizar por ocorrência de acidente de trabalho não depende
de prova de culpa. A responsabilidade é objetiva, conforme prevê o artigo 927 do Código Civil.
A previsão constitucional é de caráter mínimo, podendo, portanto, ser ampliada pela lei
infraconstitucional, como se dá na presente situação".

Para Carlos Roberto Gonçalves ²”os novos rumos da responsabilidade civil, no


entanto, caminham no sentido de considerar objetiva a responsabilidade das empresas pelos
danos causados aos seus empregados, com base na teoria do risco-criado, cabendo a estes
somente a prova do dano e do nexo causal”.

Destarte, face ao ato ilícito da Requerida e do risco assumido ao não observar as


regras de segurança no meio ambiente de trabalho, a responsabilidade desta deve ser
considerada objetiva, aplicando a hipótese de teoria do risco prevista no artigo 927, parágrafo
único, do Código Civil.

DOS DANOS MATERIAIS

O artigo 402 do Código Civil estabelece que “as perdas e danos devidas ao credor
abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o razoavelmente deixou de lucrar”. Em clara
linguagem, apura-se que é dever do ofensor indenizar o ofendido não apenas nos danos
emergentes, mas também dos lucros cessantes até o fim da convalescência.

O artigo 950 do mesmo dispositivo legal completa que o ofensor indenizará o


ofendido com pensão correspondente à importância do trabalho para o qual se inabilitou ou
da depreciação que o mesmo sofreu, a saber:

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Art. 949. No caso de lesão ou ofensa a' saúde, o ofensor indenizará o ofendido das
despesas do tratamento e dos lucros cessantes até o fim da convalescença, além de
algum outro prejuizo que o ofendido prove haver sofrido.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu
ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das
despesas do tratamento e lucros cessantes até o fim da canva/escença, incluirá pensão
correspondente a' importânciajdo trabalho para que inabilitou, ou da depreciação que
ele sofreu. Parágrafo Único: O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização
seja arbitrada e paga de uma só vez.

O município, além de não prestar atendimento à Servidora quando da


ocorrência do acidente de trabalho, também não prestou auxílio financeiro para o tratamento
que se seguiu, em agir contrário ao Estatuto do Servidor do Município, conforme se verifica no
artigo 148, da LC 133/85, a saber:
Art. 148. Será integra/mente assegurada a retribuição pecuniária ao funcionário
licenciado para tratamento de saúde, acidentado em serviço, vítima de agressão não
provocada no exercício de suas atribuições ou acometido de moléstia profissional.

Muito embora a Servidora tenha efetuado processo administrativo para


ressarcimento das despesas médicas para as lesões decorrentes do acidente de trabalho,
quantia irrisória foi-lhe reembolsada, conforme se verifica no processo administrativo, do qual
se acosta cópia integral.

DOS DANOS MATERIAIS EMERGENTES


1. DO TRATAMENTO MÉDICO

Em decorrência do acidente de trabalho, a Requerente realizou diversos


tratamentos médicos buscando recuperar-se das lesões sofridas, entre eles, cirurgias,
tratamento com diversas especialidades médicas (traumatologia, dermatologia, cardiologista,
oftalmologia, fisioterapia por algum tempo).

Durante o início do tratamento utilizava convênio médico particular com


coparticipação. Quando não teve mais condições de arcar com tal despesa passou a utilizar o
SUS, deixando de ter gastos com consultas e exames, mas mantendo gastos com medicação,
que serão devidamente comprovados ao longo do feito.

Os danos materiais estão descritos e comprovados no processo administrativo


anexado.

Frisa-se que o acidente deixou graves sequelas físicas e emocionais na


Requerente que requerem tratamento e medicação por período prolongado. A Requerente,
em razão do acidente de trabalho permanece em tratamento, sujeitando-se à longa espera do
SUS, sendo o tempo fator de dificuldade de recuperação das lesões sofridas.

A Requerente necessita de consultas psiquiátricas e suporte no tratamento da


depressão originada das consequências do acidente e não obtém tratamento adequado
através do SUS, devendo o Requerido ser responsabilizado por tal despesa através de
contratação de profissional de maneira privada.

As despesas médicas além do processo administrativo dizem respeito


basicamente à medicação.

2. DA NECESSIDADE DE AUXILIAR DOMÉSTICO

A servidora, em razão das sequelas, teve absurda redução de qualidade de


vida. A maior parte das tarefas domésticas e pessoais diárias são-Ihe extremamente sofridas.

Atos rotineiros como limpeza de sua casa, trato com roupas são dolorosas e na
maioria das vezes, impossíveis de realizar. Até para vestir-se a Requerente tem dificuldades,
como para vestir até mesmo uma blusa ou sua roupa íntima, tendo, inclusive, dificuldades para
banhar-se.

Assim, a Requerente necessita de auxílio para tais tarefas, precisando


contratar faxineira, bem como adquirir mecanismos que a auxiliem a se vestir e prestar os
cuidados mais básicos para sua higiene pessoal, como tomar banho e escovar os próprios
dentes. Diversas atividades de laser também não lhe são possíveis.
Desse modo, é dever do Requerido arcar com os custos de auxiliar doméstico
necessário à realização das tarefas as quais a Requerente ficou impossibilitada de realizar por
si só.

DOS DANOS MATERIAIS DE LUCROS CESSANTES

1. DO PENSIONAMENTO VITALÍCIO

As sequelas físicas deixadas na Requerente a transformaram em uma


trabalhadora com limitações, com evidente redução da capacidade laboral.

Ainda que possa exercer alguma atividade laboral, as lesões e as sequelas são
irreversíveis tornarão suas atividades mais penosas, haja vista a redução da capacidade
laborativa e até sua invalidez permanente.

Assim, faz jus a um pensionamento pelo maior esforço que terá de fazer no
mesmo trabalho ou até mesmo pela incapacidade completa de realizar o trabalho, o que
deverá ser apurado através de perícia médica.

Esse é o entendimento do STJ:

"1. A indenização de cunho civil tem por objetivo não apenas o ressarcimento de
ordem econômica, mas, igualmente, o de compensar a vítima pela lesão física
causada pela lesão física causada pelo ato ilícito do empregador, que reduziu sua
capacidade laboral em caráter definitivo, inclusive pelo natural obstáculo de ensejar
a busca por melhores condições e remuneração na mesma empresa ou no mercado
de trabalho.
2. Destarte, ainda que mantido o empregado em suas funções anteriores, o
desempenho do trabalho, com maior sacrifício em face das sequelas permanentes,
há de ser compensado pelo pagamento de uma pensão indenizatória,
independentemente de perda financeira concretamente apurada.
3. A pensão devida à Vítima de acidente de trabalho que fica incapacitada para a
atividade laboral, deve ser paga desde a data do evento, sendo irrelevante o fim de
seu vínculo empregatício. 5T]. REsp 813761 RJ.

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ACIDENTE DE TRABALHO. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO. REDUÇÃO DA CAPACIDADE LABORATIVA. PENSÃO MENSAL.
INTEGRALIDADE.
1. Em razão de acidente de trabalho, o desempenho do labor, embora com maior
sacrifício, em face das sequelas permanentes, há de ser compensado pelo pagamento
de uma pensão indenizatória total, ainda que o trabalhador exerça outra função
melhor remunerada. STJ. AgRg no RESP 796037.

Conforme mencionado, a reparação deve dar-se de forma ampla, par tornar


indene o prejuízo e, neste sentido, coerente às decisões do STJ com texto legal (CCB, art. 402,
949, 950) O dano da redução da capacidade laborativa é indenizável por meio de pagamento
de pensão mensal, e não se confunde com os demais prejuízos financeiros (lucros cessantes
strictu senso).

Ora, por negligência da Requerida a Autora sofreu grave acidente e teve sua
capacidade laboral extremante reduzida, não reunindo mais condições para o exercício da
mesma profissão, ou mesmo para aprimorar a sua e aumentar seus rendimentos, com uma
melhor colocação.

Assim, deverá a Requerida ser condenada ao pagamento de pensionamento


vitalício, em valor equivalente à remuneração que percebia quando do acidente, em parcelas
vencidas e vincendas, acrescidas de juros e correção monetária. Deverá o montante devido a
título de pensionamento vitalício ser pago em uma única parcela, nos termos do Código Civil.

DOS DANOS IMATERIAIS

O aprofundamento dos estudos acerca da complexa integridade psicofísica do


ser humano fez com que a moderna doutrina e jurisprudência repensassem a histórica e
simplista divisão dos danos simplesmente em materiais e morais.

Fundados nos princípios da dignidade da pessoa humana e da reparação


integral do dano, vem sedimentando-se uma visão mais técnica, fundamentada em pretensões
mais claras, que serve de balizamento tanto para quem deduz a pretensão quanto para quem
deverá julgá-la, auxiliando na fixação do quantum indenizatório.

Assim, para que reste absolutamente clara a pretensão da Autora, será


especificado o dano sofrido, adotando-se a atualizada doutrina em que o dano moral não mais
gênero e sim espécie de um gênero maior, chamado dano imaterial, este sim, formado por
espécies diversas, oriundas da ofensa a integralidade psicofísica, em vários de seus aspectos.

Cumpre salientar que, tomado o dano moral, como no caso em tela, como
espécie do dano imaterial, como pontifica a doutrina da última década, ou tomado como
gênero, numa posição histórica antecedente, em nenhuma das hipóteses deixaria de ficar ao
abrigo dos ensinamentos do Ministro do STF Carlos Alberto Menezes Direito e do
Desembargador Sergio Cavallieri, quando em obra conjunta asseveraram:

"... a Constituição Federal. Logo em seu primeiro artigo, consagrou a dignidade


humana como um dos fundamentos do nosso Estado democrático de Direito. Temos
hoje o que pode ser chamado de direito subjetivo Constitucional a' dignidade. Ao assim
fazer, a Constituição deu ao dano moral uma nova feição e maior dimensão, porque a
dignidade humana nada mais é do que a base de todos os valores morais, a essência de
todos os direitos persona Isa/nos. Essa sem dúvida é a matriz constituciona/ par o
conceito de dano mora. Dano Moral 3” luz da Constituição nada mais e do que violação
ao direto de dignidade. (Direito anos Alberto Menezes; Cava/neri Filho, Sergio.
Comentário ao novo Código Civil, Vol. X!!! p. 102-103)

Passa-se a especificar os danos imateriais sofridos pela Requerente.

1. DO DANO MORAL PURO STRICTO SENSU. DOR DA ALMA

Antes de qualquer outro dano, por sua enorme importância, há de ser


relatado o quadro de tristeza, abatimento, impotência e depressão que passou a assolar a
Requerente.

Existem circunstâncias em que o ato lesivo afeta a personalidade do indivíduo,


sua honra, sua integridade psíquica, seu bem-estar íntimo, suas virtudes, causando-lhe, enfim,
mal-estar ou uma indisposição de natureza espiritual. Sendo assim, a reparação, em tais casos,
reside no pagamento de uma soma pecuniária, arbitrada pelo consenso do juiz, que possibilite
ao lesado uma satisfação compensatória da sua dor íntima e dos dissabores sofridos, em
virtude da ação negligente do lesionador.

Tal modalidade de dano prova-se por si mesmo, in re lpsa, pois não aceitá-lo
como existente e profundo é ignorar as mais elementares regras naturais. Trata-se de
sentimento atrelado à esfera subjetiva e íntima da pessoa, caracterizado por verdadeira
angústia, abatimento e tristeza experimentados pelo ofendido.

E o chamado dano moral puro, em seu sentido mais estrito, e, no caso da


Requerente, levou-a à depressão profunda em decorrência das sequelas, do descaso e do
assédio moral sofrido, necessitando de tratamento de longo prazo, inclusive com terapia
medicamentosa.

2. DO DANO MORAL POR PREJUÍZOS CORPÓREOS. DOR FÍSICA

Além do estado anímico que foi atingida, conforme relatado, inegável que a
Requerente sofreu o chamado dano por prejuízo corpóreo, ou seja, o sofrimento físico. Além
das lesões, a Requerente ficou com sequelas definitivas, com limitação de movimentos,
passando por cirurgias e longo tratamento médico, sofrendo constantemente com dores e a
dificuldade na realização de tarefas simples.

A convivência diária com dores fortes e limitação de movimentos devem ser


indenizadas, pois sem dúvida desestabilizam completamente a vida da Requerente.

3. DANO À VIDA DE RELAÇÃO SOCIAL E AFETIVA

À vista das gravíssimas sequelas, dores crônicas e depressão profunda


impostas injustamente a Requerente, seguida por longo tratamento médico que se submeteu
e que ainda continua submetendo-se, há evidente e injusto empobrecimento da vida de
relação afetiva e social, o qual se projeto também para o futuro.

A Requerente foi, está sendo e continuará a ser privada de determinados


convívios sociais, eis que as limitações de movimento decorrentes da lesão impedem a
realização de diversas atividades, somadas ainda à depressão que ainda está em tratamento.

Igualmente a depressão, que gera um estado de prostração e dor constante,


na qual a Requerente se encontra, também interfere no convívio com familiares e amigos, pois
a tendência da pessoa depressiva é o isolamento e a vontade de não fazer mais nada.

Desse modo, delineiam-se os aspectos jurídicos basilares dos danos à vida de


relação, com os aspectos filosóficos “ser-no-mundo”, “ser com” e “ser-no-mundo”, “ser com”
e “ser-com-os-outros", este último, alicerce da vida socializada e da essência da vida humana,
devendo, assim, a Requerida ser condenada ao pagamento de indenização em decorrência do
dano.

4. DANO ESTÉTICO

A Requerente sofreu lesões na face na forma de diversas fraturas, inclusive


perdendo um dos dentes, assim necessitando realizar tratamento dentario com colocação de
prótese e cirurgia plástica no seu nariz.
Isso afetou sobremaneira seu estado de espirito, colaborando para o quadro
de depressão que atualmente experimenta.

Soma-se o fato de que ficaram cicatrizes em áreas visíveis de seu corpo que a
lembram constantemente do drama experimentado por anos, desde a ocorrência do acidente,
as quais não irão sumir por completo sem mais operações cirúrgicas estéticas de alto custo.

Por tais razões, necessária a reparação do dano estético causado à


Requerente.

DO ASSÉDIO MORAL

Como já explanado, o Requerido, na pessoa dos superiores da Reclamante,


criou situações humilhantes para a Requerente, na medida em que constantemente a ofende,
dizendo que não é pessoa completa, que é meia funcionária, que precisa de duas para ter uma
para dar conta do serviço, entre outras expressões puramente maliciosas.

Seus superiores pressionam para trocar de setor de serviço, para trocar de


horário, compensar horas em turno diferente e para efetuar tarefas que não são condizentes
com as restrições de tarefas que lhe foi determinada pelos médicos. Em diversos momentos
buscam impor horários e tarefas sem considerar suas possibilidades ou sequer ouvir sua
opinião a respeito, exercendo uma pressão psicológica de modo que a Requerente passou a
trabalhar em completo sobressalto, sendo extremamente penoso o simples comparecimento
ao trabalho, o que agravou sobremaneira o quadro de depressão.

Ora, Excelência, tais atitudes configuram o assédio moral, sendo imperativa a


indenização pelo dano moral sofrido pela Requerente. Não se pode negar que ela foi forçada a
aturar um ambiente de trabalho hostil e injusto para com sua condição física e psicológica, as
qual foram agravadas em razão da negligência da própria executada.

O dano provocado atingiu condição tão relevante que a Requerente necessita


realizar tratamento psiquiátrico, tendo inclusive que fazer uso de medicação de uso
controlado, frente à pressão sofrida no ambiente de trabalho agressivo.

O dano pelo assédio moral no caso em tela se materializa através de profundo


abalo moral, sentimento de dor e humilhação, gerado por ato direcionado a atingir a honra do
trabalhador, ou por desmoralizá-lo, especialmente se tais atos resultarem em um quadro
depressivo para a vítima, o que, nos casos mais extremos, pode até mesmo levar a vítima ao
suicídio. Decorre, portanto, de ato do empregador direcionado a prejudicar moralmente o
empregado, com a finalidade de tirar proveito disso.

DA INSALUBRIDADE

A Requerente percebia adicional de insalubridade em razão do ambiente em


que realizava as tarefas. Entretanto, no curso do processo administrativo de limitação de
tarefas, através de um mero despacho sem qualquer fundamentação técnica, o adicional de
insalubridade foi retirado de seus proventos.

Ora, além de arbitrária e sem fundamento algum, a decisão é totalmente


equivocada, eis que a Requerente labora em ambiente hospitalar, manipulando
equipamentos/materiais utilizados em cirurgias, os quais tiveram contato direto com paciente
que sofriam de diversas aflições, muitas delas potencialmente contagiosas. Durante boa parte
do tempo a principal atividade da Requerente é lidar com as bandejas de equipamentos de
cirurgia, com sangue outros fluidos, os quais são extremamente propensos a transferir
qualquer enfermidade através de contato direto com qualquer pessoa.

Ainda, mais grave foi a determinação de devolução de valores recebidos


anteriormente pela Requerente, que foram, sem qualquer procedimento a determinar que os
valores deveriam ser devolvidos devolvidos ou a forma como deveriam ser, o Requerido
apenas descontou dos proventos da Requerente da forma que considerou mais conveniente, o
que por si só já é um ato de violação dos direitos do trabalhador.

Assim, inquestionável é o direito da Requerente ao recebimento de adicional


de Insalubridade no grau máximo por todo o período trabalhado, devendo ser ressarcida dos
valores que lhe foram descontados injustamente.

DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ

A legislação municipal assim prevê:

Art. 171.
§ 1º: A aposentadoria por invalidez será precedida de licença para tratamento de
saúde e somente concedida após verificada a impossibilidade de reabilitação do
funcionário.

A Requerente ficou com sérias sequelas decorrentes do acidente, e em razão


disso, não mais possui capacidade laborativa, devendo ser aposentada por invalidez, com
proventos integrais.

Muito embora não haja pedido administrativo para a concessão da


aposentadoria por invalidez, a Requerente não mais tem condições físicas e psicológicas para
manter-se em atividade laborativa.

Outrossim, a manutenção da atividade laborativa tem agravado sobremaneira


sua condição física, eis que acaba por fazer esforço superior à sua capacidade, pelo constante
desrespeito a limitação de tarefas que possui, bem como o ambiente de trabalho, em razão da
sua condição de limitação, agrava sua condição psicologicamente instável, já tendo inclusive
necessitado afastar-se do trabalho por crise depressiva. Tal condição deverá ser averiguada
através de perícia médica, o que desde já requer.

Assim, deve ser a Requerente aposentada por invalidez com proventos


integrais.

DO PEDIDO

Em face dos fatos e fundamentos explicitados, requer:

1. a citação do Municipio de Porto Alegre na pessoa de seu representante


legal, para que conteste, querendo, no prazo legal, sob pena de revelia e
confissão;
2. que seja realizada perícia médica judicial, com especialista em ortopedia e
psiquiatria, bem como outras especialidades que se julgar necessário, a fim
de aferir a incapacidade do Requerente para suas atividades laborais;

3. que seja concedida, com base na Constituição Federal, em seu artigo Sº,
inciso LXXIV, o benefício da Assistência Judiciária Gratuita;

4. o julgamento de total procedência da ação, com realização de perícia


médica a fim de apurar a incapacidade da Requerida a fim de que seja
reconhecida a incapacidade laborativa da Requerente, sendo determinada
a sua observância pelo Requerido, sob as penas da Lei;
5. alternativamente, ainda, em razão do pelo princípio da eventualidade,
caso não seja reconhecida a incapacidade absoluta, sejam declaradas as
restrições de tarefas por parte da Requerente, sendo determinada a sua
observância pelo Requerido, sob as penas da Lei;
6. seja determinada a responsabilidade do Requerido pelo custeio da
totalidade das despesas de tratamento médico da Requerente;

7. seja determinada a manutenção de auxiliar doméstico para a Requerente


até a sua plena recuperação ou, alternativamente, seja determinada
indenização equivalente.

8. Que seja a Requerida condenada ao pagamento de pensionamento


vitalício em razão da redução da capacidade laboral da Requerente, nos
termos apurados pela perícia médica, em valor equivalente aos
rendimentos da mesma, considerando além dos salários anuais, férias
acrescidas de um terço constitucional e décimo terceiro, acrescidos de
juros e correção monetária.

9. Que seja determinado o pagamento do pensionamento vitalício em uma


única oportunidade, fundado nos artigos 949 e ss do Código Civil.

10. a condenação do Requerido à indenização por dano material, com


ressarcimento da integralidade dos gastos com tratamento médico e
despesas decorrentes do acidente de trabalho, como requerido no
processo administrativo em anexo, acrescido das demais despesas que
serão devidamente comprovadas nos autos.

11. a condenação do Requerido à indenização por dano moral puro (dor da


alma), em valor a ser arbitrado pelo juízo, acrescido de correção monetária
e juros.

12. seja determinado pagamento de indenização por dano imaterial por


prejuízo corpóreo (dor física), em valor a ser arbitrado pelo juízo, acrescido
de correção monetária e juros;

13. a condenação por dano imaterial existencial (dano à vida de relação social
e afetiva, em valor a ser arbitrado pelo juízo, acrescido de correção
monetária e juros.
14. seja determinada a indenização pelo dano estético sofrido (cirurgia no
nariz e colocação de prótese dentária), em valor a ser arbitrado pelo juízo,
acrescido de correção monetária e juros;

15. a condenação da Requerida por indenização em razão do assédio moral a


que a Requerente tem sido submetida em seu ambiente de trabalho;

16. a declaração de impossibilidade de perda salarial, independente da


atividade realizada, em razão do acidente de trabalho e as consequências
do mesmo;

17. a realização de perícia técnica de insalubridade, a Em de determinar o grau


da mesma no ambiente de trabalho da Requerente e nas atividades
realizadas;

18. a determinação de devolução dos valores descontados a título de


devolução do adicional de insalubridade considerado indevido, em dobro,
bem como o da determinação de pagamento adicional desde a cessão do
recebimento, ambos com acréscimo de juros e correção monetária;

19. a condenação da Requerida em custas e honorários advocatícios, nos


termos da Lei processual vigente.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos no direito,


sem exceção, principalmente a juntada de documentos, inclusive posterior, e a oitiva de
testemunhas a serem posteriormente arroladas.

Dá-se a causa o valor de 50.000,00 (cinquenta mil reais), provisoriamente.

Termo em que pede deferimento.

Termos em que pede e espera deferimento.


Porto Alegre, 23 de outubro de 2023.

Marcos Rodrigues Gregory Ribeiro


OAB/RS N° 93.918 OAB/RS Nº 82.917

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