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AO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIARIA DE TEÓFILO

OTONI - MINAS GERAIS.

XXXXXXXXXXXXX, brasileiro, casado, comerciante, portador do CPF de nº


XXXXXXXX, do RG de nº XXXXXXXXX e do NIT XXXXXX, residente e domiciliado à Rua
XXXXXXXXX, via de sua advogada in fine assinado, com escritório à Rua XXXXXXXX, vem
perante Vossa Excelência propor

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE RESTABELECIMENTO DE BENEFÍCIO POR


INCAPACIDADE (AUXÍLIO DOENÇA OU ALTERNATIVAMENTE APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ) COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, Autarquia


Federal com uma de suas gerências executivas localizada na Rua José de Souza Neves, 75,
Marajoara, Teófilo Otoni-MG, CEP 39803-137, pelos fatos e fundamentos que passa a expor.

I – DOS FATOS

O autor é portador de epilepsia parcial complexa (CID G 40 + D 33 7) e


conforme último relatório médico emitido em 04/10/2017 pelo Dr. Tullio D’Alessandro Purri
Rosas – CRM 19444, o paciente encontra-se com embotamento psíquico e moderado déficit
cognitivo. Declara ainda o relatório que “as crises aumentaram a frequência, muitas vezes
com generalização secundária e que “vários anticonvulsionantes foram tentados sem êxito”
(doc. 01). Declarou ainda o especialista que o autor estaria com “incapacidade laborativa por
tempo indeterminado”.
Ocorre que desde 21/01/2015 o seu benefício de auxílio doença foi suspenso
e assim que retornou à empresa, esta o demitiu por causa das inúmeras crises epiléticas
sofridas no ambiente de trabalho, conforme declaração emitida por esta (doc. 06).

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Apesar do recurso administrativo manejado (cópia em anexo) este também foi
indeferido, não restando outra alternativa senão a via judicial.
O autor já foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU)
em várias ocasiões com relato de crises convulsivas, conforme comprova um dos relatórios
em anexo (doc.02).
Houve ainda internações no Sistema único de Saúde que resultaram em
indicação de exames médicos, os quais, por não estarem disponíveis na Rede SUS, não
foram realizados pelo autor, por conta das suas dificuldades financeiras. (doc. 03)
Na data de 15/07/2014 foi comunicado o deferimento do primeiro pedido de
Auxílio doença ao autor com início de pagamento para 22/06/2014, conforme comunicado de
decisão em anexo (doc. 04) e Carta de Concessão datada de 01/08/2014. O benefício foi
registrado sob o número 606.491.087-2.
Houveram algumas prorrogações do benefício de auxílio doença, vindo o
mesmo a ser cessado em 21/01/2015, sob a alegação de que “não foi constatada, em
exame realizado pela perícia médica do INSS em 21/01/2015 incapacidade para o seu
trabalho ou para a sua atividade habitual”. O autor aviou recurso, o qual foi indeferido,
sendo tal decisão incompatível com tantos documentos médicos anexos ao processo
administrativo.
Importante ressaltar que o autor era designer gráfico, conforme perfil
profissiográfico previdenciário (doc. 05). Na declaração datada de 10/02/2015 emitida pela
última empresa em que o requerente trabalhou e foi demitido sem justa causa (doc. 06), pode-
se extrair o motivo da dispensa:
“Declaramos para os devidos fins que se destina que foi constatado a total
impossibilidade laboral do empregado XXXXXXXXX, em razão de reiteradas
crises de epilepsia refratária, doença da qual é portador. Ressaltamos que
tais eventos provocam crises psicomotoras com ausência e não raras vezes,
convulsões, que impossibilitam totalmente o exercício das atividades para
as quais foi contratado, além de por em risco a sua integridade física.
Informamos ainda que no último episódio registrado nas instalações da
empresa, o empregado caiu ao chão desacordado, sendo necessário o
acionamento do SAMU para o socorro imediato e encaminhamento ao
hospital”.

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Desde então o autor não conseguiu inserir-se no mercado de trabalho e não
recebe nenhum benefício previdenciário, no entanto a doença agrava-se a cada dia, conforme
podemos observar do doc. 01 (relatório médico emitido pelo Dr. Tullio D”Alessandro Purri
Rosas – CRM 19444), onde o mesmo declara que o paciente encontra-se com embotamento
psíquico e moderado déficit cognitivo. Declara ainda o relatório que “as crises aumentaram a
frequência, muitas vezes com generalização secundária” e que “vários anticonvulsionantes
foram tentados sem êxito”. (doc. 01)
O autor precisa fazer uso diário dos seguintes medicamentos:
Medicamento quantidade Preço unitário R$ Preço total/mês R$
Keppra – 750 mg 02 comp. ao dia 160,00 480,00
Torval – 500 mg 02 comp. ao dia 40,00 80,00
Urbanil – 20 mg 1 ½ ao dia 80,00 160,00
TOTAL 720,00

A parte autora encontra-se total e permanentemente incapacitada para o


trabalho (ver documentos médicos anexos) e conta exclusivamente com a ajuda financeira
dos familiares para a aquisição dos medicamentos. Sendo assim, e porque possui os demais
requisitos legais (carência e qualidade de segurado), deve valer-se da via judicial, por vezes
mais sensível ao apelo deste segurado.
Tendo em vista que a incapacidade persiste, a parte autora, vem requerer
judicialmente o restabelecimento do benefício de AUXÍLIO DOENÇA, ou alternativamente a
concessão da APOSENTADORIA POR INVALIDEZ.

II – DO DIREITO

A Lei nº 8.213/91 estabelece, nos artigos 59 e 62, os requisitos para a


concessão e manutenção do auxílio-doença:
Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido,
quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar
incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais
de 15 (quinze) dias consecutivos.
Parágrafo único. Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar
ao Regime Geral de Previdência Social já portador da doença ou da lesão

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invocada como causa para o benefício, salvo quando a incapacidade
sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.

Art. 62. O segurado em gozo de auxílio-doença, insusceptível de


recuperação para sua atividade habitual, devera submeter-se a processo de
reabilitação profissional para o exercício de outra atividade. Não cessará o
benefício até que seja dado como habilitado para o desempenho de nova
atividade que lhe garanta a subsistência ou, quando considerado não
recuperável, for aposentado por invalidez. (grifo nosso)

Conforme comprovam os atestados médicos em anexo, o autor preencheu


todos os requisitos necessários para a obtenção/manutenção do auxílio-doença, como se
depreende dos artigos supracitados, porém houve a cessação do benefício sem que o
segurado estivesse apto ao trabalho. Sequer passou por qualquer reabilitação profissional
para o exercício de outra atividade.
Importante relembrar a declaração emitida pela empresa onde o autor exerceu
sua última atividade profissional e foi demitido em fevereiro/2015:
“Ressaltamos que tais eventos provocam crises psicomotoras com
ausência e não raras vezes, convulsões, que impossibilitam totalmente o exercício das
atividades para as quais foi contratado, além de por em risco a sua integridade física.
Informamos ainda que no último episódio registrado nas instalações da
empresa, o empregado caiu ao chão desacordado, sendo necessário o acionamento do
SAMU para o socorro imediato e encaminhamento ao hospital”.
A incapacidade no presente caso impede o retorno às atividades habituais,
sendo indispensável a continuidade do tratamento e o afastamento do trabalho, na busca de
uma possível recuperação, a qual inevitavelmente passaria por uma cirurgia, conforme
recomendação dos especialistas, porém tal alternativa é inviável pelo alto custo financeiro.
A perícia é fundamental para o deslinde das questões ligadas aos benefícios
por incapacidade – acidentários ou não. Por este motivo, requer desde já, que este digno juízo
designe com urgência a realização de perícia judicial, a fim de evitar maiores violações aos
direitos do segurado.

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III – DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

O artigo 300 do NCPC dispõe que quando restar evidenciada a probabilidade


do direito e o perigo do dano ou o risco ao resultado útil do processo, deverá ser concedida a
tutela de urgência. Vejamos:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
O provimento antecipatório da pretensão do requerente se demonstra
necessário face à subsunção dos fatos revelados ao comando normativo emergente do artigo
supracitado.
A prova inequívoca que conduz à verossimilhança da alegação é cristalina ao
verificar os atestados, declarações e prontuários juntados aos autos, bem como pelo fato de
já ter sido concedido o benefício anteriormente ao autor.
Aliás, no caso em análise, deve-se observar o preceituado no artigo 5º da Lei
de Introdução à Normas do Direito Brasileiro (LINDB), o qual estabelece que o juiz deve aplicar
a lei, atendendo aos fins sociais a que ela se dirige:

Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige
e às exigências do bem comum.

Como a finalidade do Direito Previdenciário é propiciar aos segurados e seus


dependentes, os meios indispensáveis à existência digna, a atitude do INSS em cancelar o
auxílio-doença, antes do efetivo retorno da capacidade laborativa do autor, fere frontalmente
o sentido teleológico de tal ramo do Direito.
Tratando-se de benefício previdenciário, que tem caráter nitidamente alimentar,
o fundado receio de dano irreparável decorre da própria condição dos beneficiários, que faz
presumir inadiável a prestação jurisdicional postulada, ainda mais no presente caso, quando
o segurado se encontra impossibilitado de exercer suas atividades e de prover por sua
subsistência e de sua família, tendo que viver de auxílio de terceiros.
A situação criada pela autarquia, ora ré, ou seja, o cancelamento do benefício
de auxílio-doença, colocou em risco a subsistência do autor, tendo em vista a natureza

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alimentar do benefício, bem como afetando a sua saúde na medida em que falta-lhe recursos
financeiros para a compra dos medicamentos de uso contínuo.
Além das patologias incapacitantes, o ambiente de trabalho e seu respectivo
modus operandi corroboram para o agravamento do estado de saúde da Parte Autora. Nesse
sentido, tem-se uma dupla faceta nesta relação patologia-trabalho: de um lado a doença
possui o condão de impossibilitar o exercício da atividade laborativa, e de outro, a própria
ocupação além de agravar o estado incapacitante é o próprio parâmetro para estabelecer a
incapacidade. Ou seja, a soma das funções exercidas no desempenho do labor com a
patologia é o que permite chegar ao parecer positivo ou negativo quanto à incapacidade.
No caso em tela, analisando o PPP (perfil profissiográfico previdenciário – doc.
05) do autor, como designer gráfico, o mesmo manuseava substâncias, compostos ou
produtos químicos (solventes); estava exposto a ruídos e outras situações de risco que
poderão contribuir para a ocorrência de acidentes.
Assim, impõe-se a designação de perícia médica, com urgência, a fim de que,
após o laudo, possam ser antecipados os efeitos da tutela, como medida de salvaguardar a
subsistência d autor.
Destaca-se que, em não sendo possível o agendamento de perícia de forma
rápida, ainda assim seja concedida a antecipação da tutela, de forma a garantir a subsistência
do segurado bem como de sua família.

IV – DOS PEDIDOS:

Is positis, requer:
a) A citação do réu, na pessoa de seu representante legal, para, querendo,
contestar a presente ação, requerendo o autor a realização de audiência de conciliação;
b) A concessão de tutela de urgência determinando ao réu que restabeleça o
benefício por incapacidade sob o nº 606.491.87-2 liminarmente, de imediato ou após a
realização de perícia médica (caso entenda necessário), determinando-se ao INSS que inicie
imediatamente o pagamento das prestações do benefício previdenciário de auxílio-doença
enquanto persistir a enfermidade ensejadora do benefício, ou conceda a aposentadoria por
invalidez, como pedido sucessivo (como será demonstrado que inexiste a capacidade
laborativa).

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c) no mérito, seja restabelecido benefício de auxílio-doença habilitado sob o nº
606.491.87-2, ou alternativamente, seja o autor aposentado por invalidez, condenando o réu
a pagar os valores retroativos à data da cessação do benefício (21/01/2015), com os devidos
acréscimos legais;
d) a condenação do INSS ao pagamento dos honorários advocatícios
devidamente atualizados, na base de 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação,
apuradas em liquidação de sentença, conforme dispõem os artigos 55 da Lei nº 9.099/95 e
do Código de Processo Civil.
e) a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita, por ser o
requerente pobre no sentido legal, conforme declaração anexa.
f) Para a prova dos fatos alegados, além do conhecimento dos documentos que
acompanham a presente ação, requer e protesta pela produção de todos os meios de prova
admitidos em direito, em especial a perícia médica, sem exclusão de nenhum outro meio que
se fizer necessário ao deslinde da demanda. Requer, portanto, a nomeação de perito,
escolhido por este digno juízo, para a realização da perícia médica, inclusive, se necessários,
a realização de exames suplementares, além dos apresentados, que sejam considerados
indispensáveis para a constatação da incapacidade.
Dá-se à causa o valor de R$ 49.481,00 (quarenta e nove mil, quatrocentos
oitenta e um reais).
Nestes termos,
Pede e espera deferimento.
Teófilo Otoni-MG, XXXXXX.

Vanusa Soares Chaves


OAB/MG 90.196

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