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RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

AO DOUTO JUÍZO DA ___ VARA DO TRABALHO DE SOBRAL – CE

EVILA CRISTINA, qualificação e endereço completos, vem


respeitosamente, perante Vossa Excelência, por intermédio de sua advogada
adiante assinada (procuração anexa), com escritório profissional no endereço
completo, onde recebe intimações e notificações, com fulcro no art. 840, caput
e § 1º, da CLT PROPOR:

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA, pelo rito ordinário

Em face de VASCONCELOS LTDA., qualificação e endereço


completos, pelas razões de fato e direito a seguir expostas:

DA JUSTIÇA GRATUITA

A reclamante encontra-se desempregada, de modo que, não pode


arcar com os dispêndios de uma demanda judicial, uma vez que o
adimplemento de custas e/ou taxas judiciais representaria um vasto prejuízo
para sua subsistência e de sua família. Nesse sentido, nos termos do art. 790,
§ 3º, da CLT, a autora faz jus aos benefícios da gratuidade da justiça, previstos
no art. 98, § 1º, do CPC, tendo e vista ser pobre na forma da lei, ou seja, não
pode arcar com as despesas processuais desta demanda.

I - DOS FATOS
A reclamante trabalhava na sociedade empresária Vasconcelos
Ltda., desde 26/10/2020, e exercia a função de vendedora na unidade
localizada em Sobral - CE. A mesma recebia mensalmente, em média, quantia
equivalente a 1,5 salário-mínimo, a título de comissão. A jornada de trabalho da
reclamante era de segunda a sábado das 07:00 até as 18:00, dentro deste
período a mesma tinha apenas 15 minutos para fazer sua refeição.
Em janeiro de 2023, o dono do estabelecimento instalou duas
prateleiras na loja, a fim de expor mais produtos e, visando economizar
dinheiro, fez ele pessoalmente a instalação. As tais prateleiras foram fixadas
acima do balcão em que trabalhavam os vendedores, ocorre que o dono da
empresa Vasconcelos Ltda., não tinha nenhuma habilidade manual ou
experiencia para a instalação das prateleiras adequadamente.
No dia seguinte após a instalação malfeita, as prateleiras não
suportaram o peso dos produtos que nelas foram colocados e acabaram por
ceder e cair com todo o material, acertando violentamente a cabeça de Evila
Cristina, que se encontrava abaixo das mesmas realizando um atendimento. A
reclamante desmaiou imediatamente com o impacto, sendo socorrida e
conduzida ao hospital público, onde ela recebeu atendimento.
A reclamante sofreu lesões na cabeça, testa e face, resultando em
uma grande cicatriz que passou a despertar a atenção das pessoas, que
reagem negativamente ao vê-la. Após o dia do incidente o plano de saúde que
era ofertado pela empresa foi cancelado e a reclamante teve de arcar com
todas as despesas médicas, como medicamento para alivio das dores e
sessões de terapia, pois o incidente a gerou traumas psicológicos, as despesas
foram em torno de R$3.850,00, vale salientar que estas foram pagas com as
reservas financeiras pessoais da reclamante.
Evila Cristina, ficou incapacidade temporariamente por conta do
acidente por 03 meses, ao retornar a empresa sua capacidade laboral estava
completamente preservada, mas a mesma foi dispensada, sem justa causa, no
mesmo dia do seu retorno. Passaram-se mais de 30 dias e até o presente
momento a reclamante não recebeu as verbas rescisórias pela sua demissão,
somente teve sua carteira de trabalho baixada no e-social, a empresa também
não a entregou nenhum documento após a exoneração.
Saliente-se que quando a reclamante fora demitida sem justa causa,
ela não recebeu por parte da empresa suas verbas rescisórias devidas, quais
sejam: férias proporcionais, o 13º salário proporcional e aviso prévio
indenizado.
Como previamente mencionado, a reclamante está em busca de
seus direitos conforme descritos:
1. Férias vencidas referente ao ano de 2021: R$;
2. Férias vencidas referente ao ano de 2022: R$;
3. Décimo terceiro proporcional ao ano de 2020: R$;
4. Décimo terceiro proporcional ao ano de 2021: R$;
5. Décimo terceiro proporcional ao ano de 2022: R$;
6. Horas extras: R$;
7. Aviso prévio indenizado: R$;
8. Multa estipulada pelo art. 477, da CLT (verbas rescisórias não pagas
dentro do prazo de 10 dias): R$;
9. Multa de 40% pela demissão sem justa causa: R$;
10. Danos matérias: R$;
11. Danos morais: R$;
12. Danos estéticos: R$.

II - DO DIREITO
1- VINCULO EMPREGATÍCIO
Para que se caracterize a relação empregatícia, faz-se necessário o
preenchimento dos requisitos da pessoalidade, pessoa física, onerosidade,
subordinação e não eventualidade, devendo cada caso ser analisado sob a
ótica de tais pressupostos para a caracterização do vínculo de emprego.
No entanto, podemos confirmar o preenchimento de cada um dos requisitos
necessários pela Reclamante no caso em questão, portanto não há o que se
questionar ou que seja sequer alegada a inexistência da relação entre as
partes.
2 - DO DEVER DE INDENIZAR – DANOS MATERIAIS
A Lei nº 6.367/76 tratou de conceituar didaticamente o que se
enquadra como acidente de trabalho. Assim, considerando que o acidente
ocorreu no momento em que a reclamante estava laborando abaixo das
prateleiras mal instaladas conforme laudo que apresenta, o nexo causal fica
perfeitamente configurado. Tratavam-se de atividades habituais inerentes à
função exercida na empresa.
Por força do acidente, a reclamante teve que se submeter a
inúmeros procedimentos médicos e permanece recebendo tratamento
contínuo, gerando o dever de indenizar, vejamos:
Conforme relatado, a Reclamante teve sérias lesões físicas e
prejuízos materiais, uma vez que:
a) Foi hospitalizado por dias, sendo obrigado a providenciar mais de
R$ 1.350,00 em medicamentos e despesas hospitalares, conforme
comprovantes em anexo;
b) Teve despesas no montante de R$ 2.500,00 para tratamento
psicológico contínuo, o que poderá perdurar por toda vida, em razão do trauma
passado;
c) Ficou com cicatrizes, impactando no trabalho, no modo que as
pessoas a olham e em sua vida cotidiana;
d) Deixou de auferir renda durante 03 meses que esteve
incapacitada, totalizando R$ 4.500,00 em danos materiais;
Trata-se de dano inequívoco causado pelo Réu, gerando o dever de
indenizar, segundo entendimento do TRT: TRT-4- RO:
00200825220155040305; TRT-1 – RO: 00103231320155010058.
Afinal, todo transtorno e prejuízo causados originaram
exclusivamente por decorrência de um acidente de trabalho.
3 - DO DANO MORAL E ESTÉTICO
O dano moral em situações como estas é inequívoco. Afinal, o
Reclamante teve sérias sequelas físicas e estéticas, impactando em toda sua
rotina para o resto de sua vida.
Trata-se de um ato ilícito que dificultou a condução normal da vida
do Reclamante, ultrapassando os meros dissabores do dia a dia, gerando o
dever de indenizar.
A Reforma Trabalhista tratou de positivar o direito ao recebimento de
danos morais no seguinte sentido nos arts. 223-A, 223-B, 223-C.
Pelos laudos e fotos que junta em anexo, a autora teve graves
danos estéticos, além de ter um forte impacto em sua produtividade, afetando a
auto estima de qualquer ser humano, configurando dano moral devendo ser
indenizada.
E nesse sentido, a indenização por dano moral deve representar
para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o abalo
sofrido e de infligir ao causador sanção e alerta para que não volte a repetir o
ato, uma vez que fica evidenciado completo descaso aos transtornos
causados.
Diante do acidente e da conduta da Reclamada resta inequívoco o
direito de ser indenizado, conforme jurisprudência: RT-4 – RO:
00205738420155040232; TRT-1 – RO: 00000413920105010009 RJ.

III - DAS VERBAS RESCISÓRIAS


1. AVISO PRÉVIO:
A reclamante tem o direito ao recebimento do aviso prévio na forma
indenizada, a ser pago com base na maior remuneração recebida, incluídas
todas as verbas de natureza salarial, nos termos do §1º do art. 487, da CLT, e
art. 7º, I, da CF, bem como a sua integração ao tempo de serviço, para todos
os efeitos legais.
Assim, o período de aviso prévio indenizado, uma vez que a
Reclamante recebia a remuneração mensal, nos termos da Lei 12.506/11,
corresponde a mais 24 dias de tempo de serviço, tendo sido projetado o aviso
prévio até 25/04/2023.
O total de dias acima é devido uma vez que a Reclamante já havia
completado mais de 03 anos de serviço, devendo o mesmo ser computado
como efetivo tempo de serviço incluindo 3 dias a mais a cada ano. Isso deve
refletir em todas as vernas de direito, inclusive no cálculo das férias e 13º
salário proporcional, em FGTS e multa rescisória de 40% e todos os outros
direitos trabalhistas, conforme dispões a Súm. 305, do E. TST, totalizando
preliminarmente o valor de R$ 1.665,16.

2. FÉRIAS +1/3 CONSTITUICONAL:


Do mesmo modo, o Reclamante não recebeu o pagamento das
férias mais um terço constitucional referente aos meses trabalhados e ao mês
projetado do aviso prévio.
Diz o art. 146 da CLT, que o empregado terá direito a remuneração
relativa ao período incompleto de férias, na proporção de 1/12 (um doze avos)
por mês de serviço ou fração superior a 14 (quatorze) dias.
Levando em consideração o período laborado pela Reclamante em
que não recebeu são referentes aos anos de 2021 e 2022 (contando com mês
de projeção do aviso prévio), as férias resultam no valor de R$, já incluído o 1/3
Constitucional.

3. DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO:


Diz ainda o art. 1º do Decreto nº. 57.155/65, que empregado terá
direito à gratificação natalina, no mês de dezembro, correspondente à 1/12 (um
doze avos) por mês de serviço, sendo que a fração igual o superior a 15
(quinze) dias de trabalho será havida como mês integral.
Dessa forma, visto que a Reclamante jamais recebeu qualquer
pecúnia referente ao décimo terceiro salário do ano de 2020 até o ano de
2022(Contando com mês de projeção do aviso prévio), deve o Reclamado ser
condenado ao pagamento do valor de R$.

4. FGTS + 40%
Tendo em vista o reconhecimento contrato de trabalho, o Reclamado
deverá ser condenado a pagar o valor de 8% em cima de sua remuneração
que seria dos meses dos anos de 2020 a 2023(Contando com mês de projeção
do aviso prévio), totalizando R$.
Além disso, pelo fato de ter demitido a Reclamante sem justa causa,
deve ser o Reclamado condenado a pagar a multa de 40% em cima do valor
total que teria direito de receber pelo período trabalhado. Logo, deve-se levar
em consideração que os cálculos referentes ao reflexo das verbas rescisórias
anexos não se referem ao aviso prévio, bem como não inclui os reflexos da
multa de 40% do FGTS, que totaliza o valor de R$.

5. DA MULTA DO ART. 477, DA CLT


A Reclamada deixou de efetuar os pagamentos das verbas
rescisórias, conforme já pleiteado acima. De acordo com o art. 477, parágrafo
6º, alínea “b” da CLT a Reclamada teria até o décimo dia, contado da data da
notificação da demissão, quando da ausência do aviso prévio, indenização do
mesmo ou dispensa de seu comprimento.
Devida, portanto a multa preconizada no artigo 477, parágrafo 8º da
CLT, requerendo a condenação da reclamada ao pagamento de equivalente a
um salário nominal, corrigido monetariamente, em razão do atraso, R$.
6. DAS HORAS EXTRAS
A reclamante trabalhava de segunda a sábado das 07:00 às 18:00.
Logo, considerando que foi contratada para uma jornada de oito horas diárias e
quarenta e quatro semanais, a reclamante realizava 18 horas extras semanais,
equivalente a 72 horas extras mensais, conforme inciso XIII do artigo 7º da
Constituição Federal e artigo 58 da CLT.
Entretanto, a reclamada jamais efetuou o pagamento das horas
extras devidas.
Assim, requer seja a reclamada condenada ao pagamento de 72
horas extras mensais, além de reflexos sobre férias, décimo terceiro salário,
aviso prévio, DSR e FGTS, conforme § 1º do artigo 59 da CLT.

7. DA ESTABILIDADE POR ACIDENTE DE TRABALHO


Em janeiro de 2023 a Reclamante sofreu acidente do trabalho
ficando em licença por 03 meses.
Passou a receber o auxílio acidentado até março de 2023. No
entanto, em contrariedade à estabilidade prevista no art. 118 da Lei 8.213, a
Reclamante foi demitida logo após retornar para o emprego sem motivo ou falta
grave que justificasse sua saída.
A Lei 8.213/91 que dispõe sobre os Planos de Benefícios da
Previdência Social previu em seu art. 118 a estabilidade para o trabalhador em
função da gravidade de acidente que trabalho.
Pacificando qualquer controvérsia sobre o tema, foram publicadas as
Orientações Jurisprudenciais 105 e 230 da SDI-1 do Tribunal Superior do
Trabalho.
Assim, o empregado que, afastado de suas funções por mais de 15
dias decorrente de acidente de trabalho, faz jus à ESTABILIDADE
PROVISÓRIA prevista no artigo 118 da Lei 8.213/91, pelo prazo mínimo 12
(doze) meses, contados do término do auxílio doença.
Trata-se de reconhecimento inequívoco da jurisprudência do direito
à estabilidade provisória, devendo ser indenizado o período integral que lhe era
devido, não restando qualquer impedimento ao objetivo aqui pleiteado.
IV – DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
a) O deferimento do pedido liminar para:
a.1) Que seja expedido alvará judicial, bem como a certidão
narrativa, para que a Reclamante possa sacar seu FGTS e
habilitar-se no programa do Seguro Desemprego, nos termos
do art. 300 do CPC, bem como seja imediatamente corrigida a
notação e consequente liberação da CTPS, sob pena de
multa diária, aplicado subsidiariamente por força do art. 769
da CLT;
a.2) Que seja determinado à Reclamante a exibição de
documentos necessários à composição das provas
necessárias a esta demanda, para fins de que seja
mensurado os valores devidos;
b) A citação do Réu para responder a presente ação, querendo;
c) A produção de todas as provas admitidas em direito, em
especial a documental, testemunhal, com a inversão do ônus
da prova nos termos do Art. 818, § 1º da CLT;
d) A total procedência da presente Reclamatória, condenando o
Reclamado:
d.1) Ao pagamento das diferenças salariais devidas de todo
período contratual;
d.2) Ao pagamento das horas extras trabalhadas, com reflexo,
pela habitualidade, nas férias, na gratificação natalina, nos
repousos semanais remunerados, FGTS e multa de 40%
(quarenta por cento);
d.3) Ao pagamento indenizatório de danos morais e estéticos
pelas sequelas sofridas pelo acidente de trabalho;
d.4) Ao pagamento indenizatório de danos materiais por todo
prejuízo decorrente do acidente de trabalho;
d.5) Ao depósito do FGTS, devidamente atualizado, cumulado
com as multas previstas nos Arts. 22 da Lei 8.036/90 e 467 da
CLT;
d.6) Ao pagamento da multa do artigo 477, § 8º, da CLT, pelo
desatendimento do prazo para efetivação e pagamento da
rescisão;
d.7) Ao pagamento dos honorários do procurador do
Reclamante na razão de 15% (quinze por cento) sobre o valor
bruto da condenação, nos termos do Art. 791-A;
e) O pagamento e implementação das diferenças salariais, com
reflexo em aviso prévio, 13º salário, férias + 1/3, FGTS, DSR,
a partir de 2021;
f) Seja determinado o recolhimento da contribuição
previdenciária de toda a contratualidade;
g) i) Seja determinado o pagamento imediato das verbas
incontroversas, sob pena de aplicação da multa do artigo 467
da CLT;
h) A aplicação de juros e correção monetária até o efetivo
pagamento das verbas requeridas;
i) k) Junta em anexo os cálculos discriminados das verbas
requeridas nos termos do Art. 840, § 1º da CLT.
Dá-se à causa o valor de R$, nos termos do art. 292, III, do NCPC.
.

Nestes Termos,
Pede e Espera Deferimento.

Sobral – CE, aos 18 de setembro de 2023.

ADVOGADA
OAB/CE

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