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Cíntia dos Arbués Nery da Silva Lopes

Advogada

MM. JUIZ DA VARA FEDERAL DO TRABALHO DE BARRA DO GARÇAS-MT.

Processo nº 0000635-04.2021.5.23.0026

JOAREZ DE SOUZA LIRA, já devidamente qualificado nos autos


supramencionados, que promove contra RICARDO PINATO, igualmente qualificado, por intermédio
de sua advogada e procuradora abaixo assinada, vem à presença de Vossa Excelência, apresentar
IMPUGNAÇÃO À CONTESTAÇÃO (ID 6bf68df e documentos), o que faz pelos motivos de fato, e
de direito a seguir aduzidos:

01. SÍNTESE DA CONTESTAÇÃO

O reclamado arguiu inicialmente a improcedência do pedido de justiça


gratuita do reclamante; confessou a existênica do vínculo empregatício do período de 01/06/2018 a
22/02/2021, asseverando que o reclamante recebeu todas as verbas rescisórias no importe de
R$6.327,00; no tocante as férias pagas e não gozadas, assevera não serem devidas, pois o reclamante
recebeu as férias, bem como, o mês de trabalhado correspondente; que o aviso prévio não é devido,
posto que ocorreu o pagamento das verbas rescisórias; que as multas dos artigos 467 e 477, também
não são devidas, porque as verbas rescisórias foram pagas; que o FGTS + multa de 40%, não são
devidos porque o pagamento se deu através de uma troca sendo que o reclamante utilizava o pasto da
fazenda para colocar 15 (quinze) cabeças de gado de sua propriedade; quanto ao acidente de trabalho,
o reclamado alega não possuir responsabilidade, pois foi totalmente alheio ao pacto laboral, e que não
houve redução de capacidade laborativa, pois o reclamante continuou trabalhando normalmente para o
por 02 anos e 4 meses; no tocante a pensão mensal vitalícia asserverou que a perícia comprovará a
plena aptidão laboral, e que o reclamante já era aposentado na época do acidente, e atualmente
trabalha como peão, ratificando a ausência de redução de sua capacidade laboral; no que concerne aos
danos emergentes referente as despesas médicas o próprio reclamante alegou que o médico informou a

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desnecessidade de procedimento cirúrgico, em razão da idade avançada; quanto aos danos morais nada
é devido, vez que não houve cometimento de qualquer ato ilícito por parte do reclamado; no tocante as
horas extras o reclamante jamais teve jornada superior as 08h00 diárias e 44h00 semanais, e nunca
trabalhou aos domingos e feriados; Quanto ao serviço extra nunca hove pactuação de pagametno extra,
para cuidar de gado de arrendatários, porque o reclamado não tinha ingerência sobre os referidos
animais, pois só arrendava o pasto; no que tange aos documentos apresentados asseverou que não
trazem qualquer indício de prova das alegações; contesta os juros, correção monetária; Por fim requer
a limitação dos valore conforme a inicial, a compensação/dedução dos valores já pagos, e por fim a
improcedência da ação.
Para provar todo o alegado, fez a juntada de algumas transferências de
pagamento de salários nos ID’s d4daaf0 e d296738, bem como conversas de whatsapp com a esposa
do reclamante ID 5588ed7.
Ficam desde já impugnadas as alegações da reclamada, bem como a forma,
valores, e conteúdo lançados na documentação informada nos ID’s acima, vez que constituem
apenas alguns pagamentos de salários, boa parte dos extratos não tem nenhuma relação com o
objeto dos autos em epígrafe, não retratam o que de fato ocorreu durante o contrato de trabalho, não
devendo este Juízo tomar por provas tais documentos, até porque nada provam pelo contrário,
induzem a prática de ilícitos contratuais.

02. DO MÉRITO
2.1. DA NECESSIDADE DA JUSTIÇA GRATUITA AO RECLAMANTE.

Alega o reclamado que cabia ao reclamante comprovar seu estado de


miserabilidade, e que aufere menos de 40% do limite máximo da previdência social, e que isso não
ocorreu.
Razão não lhe assiste!!
Atualmente o reclamante possui como única fonte de renda o benefício da
aposentadoria, no importe de um salário mínimo, conforme já demonstrado, e o extrato abaixo
apresenta o recebimento do benefício previdenciário do mês de Dezembro/2021, vejamos:

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Ademais o reclamante não faz declaração de imposto de renda porque é


isento, e não possui outros cartões muito menos de crédito, a não ser o da conta bancária na qual
recebia os pagamentos de salário do reclamado, que já foram devidamente juntados, neste processo
ID’s 28a6c75 e 84e4c71.
Desta forma, a renda mensal fixa do reclamante e sua esposa, constitui a
importância de R$ 1.100,00, valor muito menor do que o previsto no artigo 790, § 3º da CLT, fazendo
jus aos benefícios da justiça gratuita.

2.2. DA CONFISSÃO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO.

Aduz o reclamado que o reclamante realmente foi seu empregado, mas que
não houve registro da CTPS, em razão de pedido dele próprio, porque era aposentado, mas que o
início do pacto laboral ocorreu em 01/06/2018 quando foi pactuada a remuneração de R$ 1.500,00, e a
partir de Fevereiro/2019, foi majorado para R$ 1.700,00, e que a rescisão contratual ocorreu em
22/02/2021.
Impugna-se as falsas alegações do reclamado!!
Douto Magistrado, verdadeiramente o reclamante foi contratado em
01/03/2018, e demitido em 17/03/2021, o extrato bancário do reclamante ID. 28a6c75, demonstra que
o primeiro pagamento de salário ocorreu em 18/03/2018 no importe de R$1.500,00, e em Julho/2018,
ocorreu o reajuste para R$ 1.700,00, e muito ao contrário do que afirma o não registro de sua CTPS,
não ocorreu em razão de pedido do reclamante, até porque tal situação não alteraria em nada sua
condição de aposentado por tempo de contribuição, a bem da verdade, o reclamado aproveitou-se da
situação para locupletar-se de sua própria torpeza.
Ademais, o registro da CTPS de qualquer empregado, é uma obrigação legal
do empregador, independentemente da vontade do empregado, a alegação do reclamado é pífia, e
chega a ser ilógica. Vejamos a CLT, neste sentido:

Art. 29. O empregador terá o prazo de 5 (cinco) dias úteis para anotar na CTPS, em relação aos
trabalhadores que admitir, a data de admissão, a remuneração e as condições especiais, se houver,
facultada a adoção de sistema manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções a serem
expedidas pelo Ministério da Economia.
(...)
§ 3º - A falta de cumprimento pelo empregador do disposto neste artigo acarretará a lavratura do auto
de infração, pelo Fiscal do Trabalho, que deverá, de ofício, comunicar a falta de anotação ao órgão
competente, para o fim de instaurar o processo de anotação.
§ 8º O trabalhador deverá ter acesso às informações da sua CTPS no prazo de até 48 (quarenta e
oito) horas a partir de sua anotação.

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No que tange ao pagamento de férias e 13º salário, estes eram pago de forma
parcelada, quanto as férias embora tenham sido parcialmente pagas, não foram gozadas pelo
reclamante, e os comprovantes de depósitos não demonstram tais pagamentos, frise-se que
pouquissímos depósitos foram feitos na conta bancária da esposa do reclamante.
A rescisão contratual do reclamante não ocorreu dia 22/02/2021, como tenta
simular o reclamado, sendo que o pagamento realizado pelo reclamado no importe de R$ 6.327,00,
nesse dia, diz respeito ao salário do mês dezembro/2020 R$ 1.700,00, salário de janeiro/2021 R$
1.700,00, salário de fevereiro/2021 R$ 1.700,00, e uma parte do 13º salário de 2020 no importe de
R$ 1.227,00.
Douto Magistrado, após o referido pagamento o reclamante ainda trabalhou
mais um mês, ou seja, até 18 de março/2021, a bem da verdade o reclamante nem sabia que a fazenda
havia sido vendida, quando no mês seguinte (março/2021) o reclamado foi até a fazenda informar ao
reclamante que havia vendido e por isso iria demití-lo, fazendo o pagamento do mês de março/2021, e
o restante do 13º salário/2020, e nada mais.
Tal alegação é tão absurda que o reclamado sequer discriminou quais foram
as verbas rescisórias foram pagas que somaram a importância de R$ 6.327,00, isso porque não é
verdade, não tem nenhum fundamento, essa história foi “inventada” agora na tentativa de induzir este
juízo em erro, mas por ser fraca e vazia, não se sustenta.
Douto Julgador, o reclamante jamais afirmou que cuidava do reclamado,
vejamos a petição inicial: “(...) O reclamante foi contratado verbalmente em 01 de Março de 2018, para
laborar na função de serviços gerais na Fazenda Bela Vista, localizada na zona rural do Município de
Torixoréu, e receber salário de R$1.500,00 (um mil e quinhentos reais), e também cuidaria do gado
quando tivesse, e seria combinado um valor a mais do salário, sendo que em Julho/2018, teve um aumento
salarial para R$ 1.700,00 (um setecentos reais), sendo sua última remuneração. Ainda no ano de 2018, o
reclamado arrendou o pasto da fazenda para seu primo José Mário, para colocar 300 (trezentas) novilhas
e garrotes, determinou que o reclamante cuidasse, mas nada lhe pagou conforme o combinado na
contratação, tal serviço extra perdurou por 1(um) ano.(...)”
A úncia verdade é que o reclamado sempre deixou o reclamante ciente de
que quando a fazenda fosse arrendada seria dele a responsabilidade de cuidar do gado, e para isso
prometeu-lhe pagar a parte tal serviço, o que não aconteceu conforme o combinado.
Tanto é verdade, que o reclamado embora tenha confessado que realmente a
Fazenda foi arrendada para colocação de gado, não informou quem cuidou deste gado, obvigamente o
gado não ficou lá sozinho, pois necessitava ser alimentado, e de outros cuidados diários, logo, quem
sempre realizou a lida com o gado foi o reclamante.
Embora o reclamante tenha idade avançada, tem experiência de mais de
50(cinquenta) anos como trabalhador rural, especialmente com a lida com o gado, é um homem forte
apesar de não ter grande estatura, e era muito saudável, com plenas funções vitais, e não exerceu a
função de apenas caseiro, tinha a função de serviços gerais, como bem disse o reclamado, morava a
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900km de sua Fazenda, portranto, precisava de um “faz tudo”, o que restará provado na instrução
processual.
Ademais, como bem citou o reclamado o arrendamento do pasto fora
realizado para os Senhores José Mário, Nalles, Paulo Vitor e Fernando Alvarenga, certamente todos
mediante contrato de arrendamento de pasto, que registre-se não foram juntados nestes autos, porque
inevitavelmente constituiram prova contra ele próprio, ou seja, confessa que realmente houve o
arrendamento de pasto em favor do Sr. José Mário, altera a realidade fática para apenas 06(seis)
meses, mas não desnatura a realidade, ou seja, que gado ficou sob a responsabilidade do reclamante, e
pelo trabalho nada recebeu.
Douto Magistrado, o que ocorreu no caso específico do Senhor José Mário, a
ordem para cuidar do gado partiu do próprio reclamado, ou seja, por ser seu primo, determinou a
realização de um serviço extra ao reclamante, e por isso não pagou.
O reclamante trabalhava sozinho na fazenda, não podia sair para não deixar a
propriedade sem ninguém, além disso, a maior parte do tempo estava arrendava com gado, a lida com
gado é diária, e com horários específicos e determinados, o que demandava grande parte do tempo da
jornada, por tal razão, sempre laborou acima de 44h00 semanais, e aos sábados, domingos e feriados.

3.0 DO NÃO PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS.

Aduz o reclamado que o reclamante foi dispensado em 22/02/2021, e


que as verbas rescisórias saldo salarial, férias +1/3, 13º salário proporcional e aviso prévio,
foram quitadas através da transferência bancária, no importe de R$ 6.327,00, não havendo
diferenças neste sentido.

Alegação totalmente sem sentido!!!

Douto Magistrado, o vínculo empregatício do reclamante terminou no


dia 17/03/2021, quando o reclamado veio até a Fazenda o dispensou e informou que a
Fazenda havia sido vendida, conforme se comprovam através dos extratos que o próprio
reclamado juntou, o último pagamento de salário se deu em 18/11/2020, relativo ao mês de
Outubro/2020, no importe de R$ 1.700,00, ID d296738:

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Portanto, estavam atrasados os salários de Dezembro/2020, 13º de 2020,


Janeiro e fevereiro de 2021, desta forma o pagamento R$ 6.327,00, no dia 22/02/2021, diz respeito ao
salário do mês dezembro/2020 R$ 1.700,00, salário de janeiro/2021 R$ 1.700,00, salário de
fevereiro/2021 R$ 1.700,00, e uma parte do 13º salário de 2020 no importe de R$ 1.227,00.
Ademais, é forçoso demais pensar que o reclamado demitiria o reclamante
por telefone, e a propriedade ficaria sozinha até que o novo proprietário tomasse posse.
Impugna-se!!!
A única verdade é que o reclamante foi demitido em 17/03/2021, quando o
reclamado veio até fazenda, pagou o mês de março/2021, o restante do 13º de 2020, restando impagos
o aviso prévio indenizado de 39 dias; férias simples 2018/2019 e 2019/2020, por não terem sido
gozadas, e 2/12 de férias proporcionais.
Ao contrário do que tenta implacar não há provas do pagamento das verbas
rescisórias pleiteadas pelo reclamante, é atribuição exclusiva do reclamado a comprovação do
pagamento, devendo demonstrar de forma inequívoca, o que não ocorreu nestes autos.
Assim, REQUER a condenação do reclamado, considerando a projeção do
aviso prévio indenizado – OJ n.82 do SDI-I do TST) e, consectariamente, a entrega do TRCT, o
pagamento das verbas contratuais e rescisórias, quais sejam: a) aviso prévio indenizado de 39 dias; b)
férias simples 2018/2019 e 2019/2020 e 2/12 de férias proporcionais.

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3.1. DAS FÉRIAS PAGAS E NÃO GOZADAS- DO AVISO PRÉVIO – MULTAS DO


ARTIGO 467 E 477 DA CLT.

O reclamado confessa literalmente a prestação de serviços durante o período


de férias do reclamante, justificando que era seu único funcionário que zelava da Fazenda, e por residir
na cidade de São José o Rio Preto-SP, mas que também pagou o salário do mês juntamente com as
férias acrescidas de 1/3, de modo que não há que se falar novamente no pagamento das férias, sob
pena de enriquecimento ilícito do reclamante e recebimento das férias de forma triplicada.
Novamente faz alegação falsa, para beneficiar-se, e razão não lhe assiste.
Douto Magistrado, o reclamado subestima nossa inteligência e boa-fé, se

realmente houve o pagamento das férias+1/3, bem como, do salário do mês, onde estão os
recibos, ou melhor dizendo os depósitos/transferências bancárias?
O reclamante no período de suas férias recebeu tão somente as férias,
exatamente como informou na exordial, e jamais se buscou o pagamento de forma triplicada.
Portanto, havendo a confissão do reclamado que o reclamante nunca gozou
férias, recebeu de forma simples, e continuou laborando normalmente, tendo laborado de 01 de
Março de 2018 a 17 de Março de 2021, deverão ser pagas duas férias de forma simples com
acréscimos de 1/3 constitucional, por terem sido pagas e não gozadas, e as férias proporcionais pela
projeção do aviso de 2/12 adicionadas de 1/3.
Considerando que o reclamante começou laborar em 01 de Março de 2018, e
foi dispensado sem cumprimento do aviso em 17 de Março de 2021, com a projeção aviso prévio,
laborou mais de 3(três) anos consecutivos, e segundo a nota técnica 184/2012 do Ministério do
Trabalho em Emprego, a qual estabelece que o vínculo que perdurar por três anos será de 39 dias,
consoante disponível em: http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/nota-tecnica-MTE-
184_2012.pdf.
Há que se registrar que embora a relação empregatícia esteja evidente nestes
autos, inclusive ante a própria defesa do reclamado, não houve pagamento das verbas rescisórias,
portanto, tudo se torna incontroverso, e deverá o reclamado ser condenado ao pagamento da multa do
artigo 467, caso não haja o pagamento das verbas rescisórias na primeira audiência.
Pugna-se pela procedência da multa do §8º do art. 477 da CLT, vez que até
a presente data, não houve o pagamento das verbas rescisórias, bem como a condenação do reclamado
na multa prevista no art. 467 da CLT, se não forem quitadas integralmente na primeira audiência as
verbas incontroversas.

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4.0. DO FGTS NÃO RECOLHIDO.

Assevera o reclamado que com relação ao FGTS e multa de 40% quando da


contratação houve uma permuta, sendo que o reclamante poderia se utilizar do pasto para criação de
seu gado, em troca dos depósitos fundiários e a multa, e que manteve 15 (quinze) cabeças de gado de
sua propriedade, como se fosse um arrendatário.
Mais uma mentira vergonhosa, impugna-se!!
Douto Magistrado, realmente houve um “acordo” entre o reclamante e
reclamado, para que aquele pudesse colocar 9(nove) vacas, no pasto do reclamado, mas nunca se falou
em FGTS, muito menos a multa de 40%, é ilário negociar um direito que nem se sabe se existiria, o
realmente combinado foi que ao invés de pagar como remuneração a importância de 2 (dois) salários
mínimos ao reclamante, o reclamado pagaria inicialmente R$ 1.500,00, que depois foi majorado para
R$1.700,00, que a diferença para completar dois salários mínimos de remuneração para o reclamante,
seria para custear o valor do pasto mensalmente.
Qualquer outra situação diversa da acima exposta, não passa de uma grande
invenção do reclamado, para tentar fugir de suas responsabilidades contratuais, o que tenta fazer a
todo momento em sua defesa.
Desmerece maiores argumentações, por ser absurda, ilógica e mentirosa.
O Reclamante foi demitido sem justa causa, portanto o reclamado deverá ser
condenado a pagar os valores correspondentes ao FGTS, com a inclusão da multa de 40%, devidos
pelo período 01/03/2018 a 17/03/2021, com a inclusão do aviso, e acréscimos legais.

5.0. DO ACIDENTE DE TRABALHO – DANOS MATERIAIS- DANOS


EMERGENTES – DANO MORAL.

Ressaltou o reclamado que o reclamante nunca exerceu a atividade de


vaqueiro ou peão, na fazenda que era apenas responsável por zelar da Fazenda como um caseiro, o que
não configura atividade de risco, que com quase 80 (oitenta) anos, não se pode acreditar que executava
uma vida laboral ativa, sendo que apenas marcava presença no local, para não aparentar estar a
fazenda abandonada, que arrendava o pasto para terceiros, e os arrendatários eram exclusivamente
responsáveis pela lida com o gado, e que se cuidou do gado houve um pacto diretamente com os
arrendatários, sem qualquer ingerência do reclamado.
Sem razão!!!!
Sem nenhuma lógica as ilações do reclamado, a tese alegada é totalmente
deturpada e mentirosa com o único objetivo de eximir-se da responsabilidade que efetivamente tem.
Impugna-se!

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Ademais a atividade do reclamante com a lida do gado dos arrendatários,


ocorreu sempre por determinação do reclamado, e restará provada na instrução processual, o que por si
só demandava a concessão dos equipamentos mínimos de proteção que jamais foram concedidos.
O reclamante retornou a vida laborativa, na mesma função simplesmente
porque caso não voltasse, seria substituído por outra pessoa, já que sequer tinha CTPS assinada,
contudo, as sequelas perduram até hoje, já que nunca fez a cirurgia necessária.
O fato do gado não ser de propriedade do reclamado, não o exime das
obrigações relativas ao contrato de trabalho, vez que o reclamante só cuidava dos animais por que era
uma determinação de seu empregador, e quando o acidente de trabalho ocorreu foi na época do
arrendamento dos animais do sr. José Mário, em que o reclamante nunca recebeu nada, pelo serviço
extra.
Noutra senda, a atividade desenvolvida pelo reclamante implicava riscos a
saúde e á integridade física e mental, em níveis maiores que o habitual, sendo que gerava risco
inequívoco, desta feita é incontestável a responsabilidade é OBJETIVA, e não há que falar em
responsabilidade subjetiva, como tenta engendrar neste caso.
Tal exegese se dá em razão de que quem lida com animais está submetido a
uma probabilidade muito maior de sofrer danos cuja causa está na própria imprevisibilidade do
comportamento, imposta por fatores sobre os quais, por mais que seja hábil no desempenho de sua
função, o homem não tem controle, sendo esse fator de risco propiciado pelo empregador.
O reclamante é aposentado e recebe mensalmente um salário mínimo, que
não garante seu sustento e de sua esposa, no entanto, ao contrário do que o reclamado tenta demonstrar
a este juízo, está fazendo um bico temporário como caseiro em um chácara até o que o proprietário
retorne de uma viagem, isso só demonstra que é um homem idoso e trabalhador, e jamais pleitearia o
que não é seu por direito.
O fato do reclamante ter continuado trabalhando para o reclamado não induz
a desnecessidade da cirurgia, registre-se que o reclamado não comprova em nenhum momento que
teve qualquer atitude para assistir o reclamante quando do acidente de trabalho, tal situação só poderá
ser comprovada mediante prova pericial médica.
Douto Magistrado se a incapacidade laborativa do reclamante existe ou não,
se é parcial, total, permanente ou temporária, só a prova pericial irá comprovar, ilações de pessoas
leigas no assunto, são desnecessárias e desmerecem maiores impugnações, no entanto, o fato do
reclamante já ter superado 75 anos de idade, não impede de ser indenizado, justamente porque ainda
está VIVO!!!!
E qualquer indenização a ser deferida por este juízo deverá levar em
consideração a data do acidente de trabalho, 11/09/2018, e a remuneração do reclamante a época, ou
seja, R$ 1.700,00, e não um salário mínimo.

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No que tange aos danos emergentes ressalta o reclamado que o reclamante


lhe disse que o médico que lhe assistiu não recomendou cirurgia, devido a idade avançada, já houve
consolidação da lesão.
Tal alegação não faz nenhum sentido, ora se o médico não recomendou a
cirurgia como foi feito até orçamento na época da cirurgia necessária, não se faz um orçamento sem
recomendação médica!!!
O reclamante até procurou o SUS, mas a cidade próxima a Fazenda não
disponibilizava tal procedimento, o que só poderia ser feito em Barra do Garças-MT, que até hoje não
obteve nenhum resultado.
Por outro lado, se o reclamado tivesse assegurado a assistência médica
necessária, o reclamante teria feito a cirurgia e se convalescido do problema, sem maiores
complicações, o que não fez porque sempre foi omisso, se aproveitando da situação.
No que concerne aos danos morais o reclamado assevera que o acidente
ocorreu em atividade completamente alheia para qual foi contratado, portanto, o reclamante assumiu o
risco ao realizar atividade para qual não fora contratado, fosse em prol dos arrendatários ou cuidando
de suas próprias cabeças de gado.
A circunstâncias em que ocorreram o acidente de trabalho, bem como todas
as consequencias como incapacidade, danos materiais e morais restaram provados com a realização da
prova pericial, e testemunhal que serão produzidas no deslinde deste feito, em que pesem já haverem
indícios mais que suficientes para convicção deste juízo.
Assim, diante do exposto, o reclamado deverá ser condenado aos danos
materiais na forma de Lucros Cessantes na forma de pensão, a qual deve ser adimplida desde a
consolidação das lesões até a sua convalescença, em sendo temporária, ou enquanto ao obreiro
perdurar viva, se for definitiva, valor a ser liquidado em razão da perícia (quanto à apuração do cálculo
do valor mensal do pensionamento, roga pela utilização da média remuneratória dos últimos 12 (doze)
meses de trabalho; Danos emergentes, na forma da cirurgia a ser realizada no importe de R$ 9.420,00
e Indenização por Dano Moral no valor sugestivo de 5 (cinco) vezes o último salário recebido,
totalizando o quantum em R$ 8.500,00 (oito mil e quinhentos reais).

6.0. DA JORNADA DE TRABALHO – DA EXISTÊNCIA DE HORAS EXTRAS.

Alega o reclamado que a jornada de trabalho do reclamante era das 08h00 às


18h00, com 02h00 de intervalo intrajornada, de segunda a sexta-feira, e das 08h00 as 12h00 aos
sábados, e que nunca laborou aos domingos, que estes horários sequer eram fiscalizados, e não havia
trabalho para isso, pois a única função do reclamante era zelar da área, podendo se ausentar quando
bem entendesse para ir na cidade ou visitar seus parentes.

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Douto Julgador a jornada de trabalho da Reclamante sempre foi das


06h00hrs as 11h00 e das 13h00 às 18h00, com duas horas de intervalo para refeição, de domingo à
domingo, sendo que só tinha folga quando vinha a cidade para fazer compras ou ir ao médico, o que
ocorria uma, e esporadicamente duas vezes por mês, o reclamante trabalhava mais do que 08 (oito)
horas por dia e 44 (quarenta e quatro) horas por semana, além do que laborava inclusive aos domingos
e feriados.
Nenhum trabalhador no âmbito rural inicia a jornada de trabalho as 08h00 da
manhã, essa afirmação é rídicula, frise-se que o fato do reclamante ser o único trabalhador da fazenda,
conforme informado da exordial, e confirmado pelo reclamado fazia com que todos os serviços
ficassem sobre sua responsabilidade, e obviamente que o maior tempo era despendido com a lida do
gado, que fazia parte de seus afazeres diários.
As horas extras laboradas serão devidamente comprovadas na instrução
processual, e deverá o reclamado ser condenado a pagas com adicional de 50% de segunda a sábado, e
100% nos domingos e feriados, e o resultado final deverá repercutir em DSR, saldo de salário, aviso
prévio, férias + 1/3, 13º salário, FGTS, Multa Fundiária, Multa do artigo 467, da CLT, Multa do artigo
477, § 8º, da CLT e INSS.

7.0 DO SERVIÇO EXTRA – LIDA COM O GADO.

Aduz o reclamado que restam impugnadas as alegações do reclamante neste


ponto, eis que as alegações são absurdas, pois não fora combinado nenhum valor extra para cuidar do
gado dos arrendatários, e no periodo que laborou para o reclamado, o sr. José Mário ficou em torno de
06 meses com pasto arrendado, e ainda houve o arrendamento aos senhores Nalles, Paulo Vitor e
Fernando Alvarenga, todos com propriedades vizinha.
Douto Julgador, a única informação verdadeira é que o realmente durante
todo o vínculo laboral do reclamante, o pasto da fazenda foi arrendado para 04 (quatro) fazendeiros
diferentes, sendo que somente no contrato de arrendamento do senhor Nalles, o reclamante recebeu o
salário extra combinado para cuidar do gado, pois se recusou a fazê-lo sem receber.
É preciso frisar, que o reclamado desde a contratação deixou claro que o
reclamante teria como atribuição também cuidar do gado quando o pasto estivesse arrendado, mas o
pagamento só foi efetivamente feito, quando ocorreu o arrendamento do pasto para o sr. Nalles, pois o
reclamante se recusou a continuar realizando tal serviço já que nunca havia recebido, quando então o
arrendatário resolveu pagá-lo, vide um recibo:

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Advogada

A argumentação é tão vazia por parte do reclamado, que como reconheceu a


existência de gado de terceiros em sua fazenda, sequer mencionou, quem era o responsável por cuidar
do gado, na verdade indiretamente reconhece que quem sempre cuidou foi o próprio reclamante, e ao
contrário do que tenta demonstrar os arrendatários nunca se preocuparam em contratar empregado
para cuidar do gado, porque era o reclamante quem fazia tal tarefa.
Ademais, o arrendamento do gado do sr. José Mário foi de 01(um) ano, e
não de 06(seis) meses, o que restará provado na instrução processual.
A bem da verdade, a única vez que o reclamante recebeu corretamente pela
tarefa de cuidar do gado foi na época do arrendamento do sr. Nalles, e exatamente por isso foi citado
como referência na inicial, e só recebeu porque se recusou do arrendatário, porque se recusou a
continuar cuidando do gado sem por isso receber.
Desta forma, deverá o reclamado ser compelido a promover o pagamento do
serviço extra prestado pelo reclamante entre 2018/2019, pelo periodo de um ano, no importe de R$
900,00, (novecentos reais) mensais, tendo por parâmetro, o valor que fora pago pelo mesmo serviço e
mesma quantidade de animais, em 2.020.

8.0 DOS HONORÁRIOS SUCUMBÊNCIAS

Pugna o reclamado pela condenação do reclamante a pagar o patrono do


reclamado, a título de honorários de sucumbências no importe de 15%, sobre o valor a ser apurado em
liquidação.
De forma cautelar, apresentamos o novo entendimento do TRT 23, em que
só é condenado em sucumbência sobre os pedidos totalmente improcedentes.
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HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. BASE DE


CÁLCULO. O percentual dos honorários advocatícios, fixados a cargo da parte
autora, incidirá apenas sobre o valor dos pedidos julgados integralmente
improcedentes, pois esta Turma adota a teoria da sucumbência integral do pedido,
interpretando o "proveito econômico" como aquele obtido pelo total indeferimento
de pedido. Trata-se da exegese do Enunciado 99 da 2ª Jornada de Direito Material e
Processual do Trabalho. Recurso obreiro conhecido e, no mérito, parcialmente
provido.
(TRT da 23.ª Região; Processo: 0000456-41.2019.5.23.0026; Data: 11/02/2021;
Órgão Julgador: 1ª Turma-PJe; Relator: TARCISIO REGIS VALENTE)

Impugna-se veementemente a pretensão do reclamado, pois não lhe assiste


nenhuma razão!

9.0 DO ÍNDICE DE CORREÇÃO E JUROS DE MORA- DAS COMPESAÇÕES E


DEDUÇÕES.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em dezembro/2020, que é
inconstitucional a aplicação da Taxa Referencial (TR) para a correção monetária de débitos
trabalhistas e de depósitos recursais no âmbito da Justiça do Trabalho, até que o Poder Legislativo
delibere sobre a questão, devem ser aplicados o Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo
Especial (IPCA-E), na fase pré-judicial, e, a partir da citação, a taxa Selic, índices de correção
monetária vigentes para as condenações cíveis em geral. A decisão foi tomada no julgamento
conjunto das Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) 58 e 59 e das Ações Diretas de
Inconstitucionalidade (ADIs) 5867 e 6021. Portanto, sobre isso não há mais que haver
questionamentos, por hora.
No que se refere as compensações ou deduções todas já foram devidamente
consideradas, vez que não há nenhum pedido referente aos valores efetivamente pagos.

10. DO ÔNUS DA PROVA.

Aduz o reclamado que ao reclamante cabe o ônus da prova instituídos nos


artigos 818 da CLT e 373 do CPC, isto é, é ônus da reclamante fazer prova de todas as alegações da
exordial.
Douto Julgador, com simples manejo dos autos é possível perceber que as
alegações da reclamante foram confessadas pelo reclamado, e foram demonstradas através de prova
inequívoca documental, isto porque evidenciam cristalinamente os direitos vindicados na exordial.
Nada obstante, caso tais documentos não sejam eficientes durante a instrução
processual os mesmos direitos serão reafirmados em audiência de instrução

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telepresencial, através das testemunhas que serão ouvidas em juízo,


desincumbindo-se o autor integralmente de seu ônus probatório que ainda lhe caiba.

11. DA IMPUGNAÇÃO AOS DOCUMENTOS/IMPUGNAÇÃO DOS VALORES.

O reclamado promoveu a impugnação dos documentos apresentados pelo


autor, alegando que não trazem nenhum indício de prova, são genéricos e não comprovam as
alegações, o que por si só dispensa maiores impugnações.
Nada obstante, impugnam-se, também, os documentos juntados pelo
reclamado ID’s d4daaf0, d296738, os extratos e recibos bancários somente comprovam pagamentos
parciais dos salários, constituindo salário complessivo, o que não é admitido pela lei brasileira; o ID
5588ed7, que são as conversas de whatssapp com a esposa do reclamante sra. Meire, só demonstra que o
reclamado não prestou nenhum tipo de assistência ao reclamante em razão do acidente de trabalho, e que pagava
as férias e 13º salário de forma parcelada, o que também não é permitido por nosso ordenamento jurídico.
E, por último, ficam também impugnadas as alegações do reclamado, bem
como a documentação não relacionadas aos pedidos do autor, que nada provam como acima referido.

12. DA NÃO LIMITAÇÃO DOS VALORES REQUERIDOS NA INICIAL.

Alega o reclamado que em eventual condenação sejam observados os limites


da lide, em atenção aos artigos 141 e 492 do CPC, com aplicação subsidiári no processo do trabalho e
§ 1º, artigo 840 da CLT.
Totalmente sem razão!!!
A nova redação dada pela Lei nº 13.467/2017 ao § 1º do art. 840 da CLT
prevê tão somente a necessidade de indicação de valor do pedido, e não de sua liquidação, pelo que a
interpretação sistemática-teleológica a ser dada a tal dispositivo legal é no sentido de que o dever da
parte é apenas o de indicar o valor estimado de sua pretensão para fins de estabelecimento do rito
processual.
Esse entendimento restou corroborado em recentes julgamentos pela 1ª
Seção de Dissídios Individuais de nosso Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, conforme
ementas abaixo transcritas:

MANDADO DE SEGURANÇA. EMENDA À PETIÇÃO INICIAL. LEI 13.467.


PEDIDO LÍQUIDO. IMPOSIÇÃO DE LIQUIDAÇÃO DA INICIAL DA AÇÃO
TRABALHISTA ILEGAL E OBSTACULIZADORA DO DIREITO
FUNDAMENTAL DE ACESSO À JUSTIÇA. SEGURANÇA CONCEDIDA
PARA CASSAR A EXIGÊNCIA. Tradicionalmente o art. 840 da CLT exige, da
inicial da ação trabalhista, uma breve narrativa dos fatos, o pedido, o valor da causa,
data e assinatura. A nova redação da lei 13467/17, denominada "reforma trabalhista"
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em nada altera a situação, considerando repetir o que está exposto no art. 291 do
CPC quanto à necessidade de se atribuir valor à causa e não liquidar o pedido. A
imposição de exigência de liquidação do pedido, no ajuizamento, quando o
advogado e a parte não tem a dimensão concreta da violação do direito, apenas em
tese, extrapola o razoável, causando embaraços indevidos ao exercício do direito
humano de acesso à Justiça e exigindo do trabalhador, no processo especializado
para tutela de seus direitos, mais formalidades do que as existentes no processo
comum. No ajuizamento da inicial foram cumpridos todos os requisitos previstos na
lei processual vigente, não podendo ser aplicados outros, por interpretação, de forma
retroativa. Não cabe invocar a reforma trabalhista para acrescer novo requisito a ato
jurídico processual perfeito. Inteligência do art. 14 do CPC. Segurança concedida.
(TRT da 4ª Região, 1ª SDI, processo nº 0022366-07.2017.5.04.0000 (MS), Relator
Desembargador Marcelo Ferlin D’Ambroso, em 26.02.18).

Registre-se que indicar e liquidar são verbos que denotam ações diversas,
embora parecidas, mas não idênticas, não podendo ser confundidas. Liquidação significa o ato de
apurar valores com precisão (que nas obrigações de pagar quantia envolve o cálculo do principal,
atualização e juros), ao passo que indicação, como posta no texto legal, significa apontar um valor
estimado para o pedido deduzido.
O art. 5º, inciso II, da CF/88 encaixa-se perfeitamente ao caso, pois qualquer
obrigação de fazer ou não fazer somente pode decorrer de lei, e a alteração legislativa não utilizou o
verbo liquidar, mas sim indicar, muito menos mencionou aplicação de juros e correção monetária. O
valor do pedido nas ações trabalhistas, portanto, a teor do que dispõe o novo § 1º do art. 840, da
CLT, deve ser indicado quando possível for, e sendo a indicação mera estimativa de valores.
De toda sorte, inviável o apontamento de qualquer estimativa nas hipóteses
previstas nos termos do art. 324, §1º, incisos II (quando não for possível determinar, desde logo, as
consequências do ato ou do fato) e III (quando a determinação do objeto ou do valor da condenação
depender de ato que deva ser praticado pelo réu), bem como no caso do inciso II, do art. 491, todos do
NCPC.
Dessa forma, vê-se que a determinação de apresentação de liquidação com
juros e correção monetária na inicial não guarda amparo legal e constitucional, sendo verdadeira
afronta aos direitos constitucionais de Acesso à Justiça e à Razoável Duração do Processo, assim como
aos Princípios da Reserva Legal e da Simplicidade, por isso desde logo se alega, acaso haja tal
determinação, ser esta inconstitucional (arts. 1º, III e IV, e 5º, II, XXXV e LXXVIII).
Ademais, para efetiva liquidação do julgado, além da necessidade de
contratação de profissional habilitado para tal atribuição, o que oneraria sobremaneira o trabalhador,
seriam necessários diversos documentos aos quais esta parte autora não tem acesso, eis que o dever
legal de manutenção da documentação do contrato é da empregadora, conforme demonstram, por
exemplo, os artigos 74 e 464 da CLT.
Logo, resta impossível a apuração inequívoca do valor devido dos pedidos
da inicial, podendo-se unicamente indicar valores, por mera estimativa e sem qualquer vinculação,

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uma vez que o empregado não detém o dever legal de guarda da documentação da contratualidade,
aplicando-se ao caso, portanto, o disposto no art. 324, §1º, II e III do NCPC.
Cumpre observar, ainda, que os valores apontados de forma estimada
pelo reclamante não limitam eventual condenação, eis que o julgamento do pedido ocorre na
perspectiva de uma correspondência entre o fato e o direito, de maneira que, se o direito
aplicado ao caso concreto gerar um resultado econômico superior ao valor indicado na inicial, a
devida prestação jurisdicional, que é uma obrigação constitucional, deverá considerar o valor
efetivamente devido, ainda mais quando se esteja lidando com questões de ordem pública, como
se dá, via de regra, com o Direito do Trabalho, que trata de direitos fundamentais sociais.
O entendimento aqui defendido, finalmente, foi recentemente confirmado
pelos Magistrados do Trabalho no XIX Congresso Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho –
CONAMAT, realizado em Belo Horizonte/MG, nos dias 02 a 05 de maio de 2018:

COMISSÃO 4-A. Reforma Trabalhista: acesso, garantias processuais e efetividade


Ordem 4 Título da Tese INDICAÇÃO DE VALOR DO PEDIDO NA INICIAL
NÃO É LIQUIDAÇÃO E NÃO LIMITA O VALOR DA CONDENAÇÃO Ementa
INDICAÇÃO DE VALOR DO PEDIDO NA INICIAL NÃO É LIQUIDAÇÃO E
NÃO LIMITA O VALOR DA CONDENAÇÃO. Autor(es) PATRICIA MAEDA
Tipo Individual Situação da tese Aprovada Conamat.

Portanto, eventual entendimento de que a condenação será limitada ao valor


estimado na inicial é ilegal, até porque o art. 791-A da CLT, incluído pela Lei n. 13.467/2017, deixa
claro que o valor da liquidação não está delimitado pelo valor do pedido.
Nesse sentido o TST, já decidiu:
TST-ARR-1000987-73.2018.5.02.0271, Agravante e Recorrida BRONZEARTE
INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. e Agravado e Recorrente EMERSON
PATRICK INHAIA BARBOSA.
(.....)
RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. APELO SOB A ÉGIDE DA
LEI 13.467/2017. PEDIDOS LÍQUIDOS. LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO
AOS VALORES DE CADA PEDIDO. APLICAÇÃO DO ART. 840, § 1º, DA
CLT, ALTERADO PELA LEI 13.467/2017. TRANSCENDÊNCIA
RECONHECIDA. A controvérsia gira acerca da aplicação do artigo 840, § 1º, da
CLT, que foi alterado pela Lei 13.467/2017. No caso em tela, o debate acerca do art.
840, § 1º, da CLT, detém transcendência jurídica, nos termos do art. 896-A, § 1º, IV,
da CLT. A controvérsia acerca da limitação da condenação, aos valores liquidados
apresentados em cada pedido da inicial, tem sido analisado, pela jurisprudência
dominante, apenas sob a égide dos artigos 141 e 492 do Código de Processo Civil.
Por certo que aludidos dispositivos do CPC são aplicados subsidiariamente no
processo trabalhista. Entretanto, no que se refere à discussão acerca dos efeitos dos
pedidos liquidados, apresentados na inicial trabalhista, os dispositivos mencionados
do CPC devem ceder espaço à aplicação dos parágrafos 1º e 2º do artigo 840 da
CLT, que foram alterados pela Lei 13.467/2017. Cumpre esclarecer que o TST, por
meio da Resolução nº 221, de 21/06/2018, considerando a vigência da Lei
13.467/2017 e a imperativa necessidade de o TST posicionar-se, ainda que de forma
não exaustiva, sobre a aplicação das normas processuais contidas na CLT alteradas
ou acrescentadas pela Lei 13.467/2017, e considerando a necessidade de dar ao
jurisdicionado a segurança jurídica indispensável a possibilitar estabilidade das
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relações processuais, aprovou a Instrução Normativa nº 41/2018, que no seu art. 12,
§ 2º, normatizou que "para fim do que dispõe o art. 840, §§ 1º e 2º, da CLT, o valor
da causa será estimado (...)". A Instrução Normativa nº 41/2018 do TST, aprovada
mediante Resolução nº 221, em 02/06/2018, registra que a aplicação das normas
processuais previstas na CLT, alteradas pela Lei 13.467/2017, com eficácia a partir
de 11/11/2017, é imediata, sem atingir, no entanto, situações pretéritas iniciadas ou
consolidas sob a égide da lei revogada. Portanto, no caso em tela, em que a inicial
foi ajuizada no ano 2018, hão de incidir as normas processuais previstas na CLT
alteradas pela Lei 13.467/2017. Assim, a discussão quanto à limitação da
condenação aos valores constantes nos pedidos apresentados de forma líquida na
exordial deve ser considerada apenas como fim estimado, conforme normatiza o
parágrafo 2º do artigo 12 da IN 41/2018 desta Corte. A decisão regional que limitou
a condenação aos valores atribuídos aos pedidos na inicial configura ofensa ao art.
840, § 1º, da CLT. Reconhecida a transcendência jurídica do recurso de revista.
Recurso de revista conhecido e provido.

A controvérsia acerca da limitação da condenação aos valores liquidados


apresentados em cada pedido da inicial tem sido analisada, pela jurisprudência dominante, apenas sob
a égide dos artigos 141 e 492 do CPC, os quais dispõem, respectivamente, in verbis:

Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado
conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte."
Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar
a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.
Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional.

Por certo que aludidos dispositivos do Código de Processo Civil são


aplicados subsidiariamente no Processo Trabalhista. Entretanto, no que se refere à discussão acerca
dos efeitos dos pedidos liquidados, apresentados na inicial trabalhista, os dispositivos mencionados do
CPC devem ceder lugar à aplicação dos parágrafos 1º e 2º do artigo 840 da CLT, que foram alterados
pela Lei 13.467/2017, passando a dispor, in verbis:

"Art. 840 - A reclamação poderá ser escrita ou verbal.


§ 1º Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do juízo, a qualificação das
partes, a breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, que deverá ser certo,
determinado e com indicação de seu valor, a data e a assinatura do reclamante ou de seu
representante. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)
§ 2º Se verbal, a reclamação será reduzida a termo, em duas vias datadas e assinadas pelo
escrivão ou secretário, observado, no que couber, o disposto no § 1º deste artigo. (Redação
dada pela Lei nº 13.467, de 2017)" (Grifos meus).

Cumpre esclarecer que o TST, por meio da Resolução nº 221, de


21/06/2018, considerando a vigência da Lei 13.467/2017 e a imperativa necessidade de o TST
posicionar-se, ainda que de forma não exaustiva, sobre a aplicação das normas processuais contidas na
CLT alteradas ou acrescentadas pela Lei 13.467/2017, e considerando a necessidade de dar ao
jurisdicionado a segurança jurídica indispensável a possibilitar estabilidade das relações processuais,
aprovou a Instrução Normativa nº 41/2018, que no seu art. 12, caput, §§ 1º e 2º, preconiza:

"Art. 12. Os arts. 840 e 844, §§ 2º, 3º e 5º, da CLT, com as redações dadas pela Lei nº 13.467, de
13 de julho de 2017, não retroagirão, aplicando-se, exclusivamente, às ações ajuizadas a partir
de 11 de novembro de 2017.
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§ 1º Aplica-se o disposto no art. 843, § 3º, da CLT somente às audiências trabalhistas


realizadas após 11 de novembro de 2017.
§ 2º Para fim do que dispõe o art. 840, §§ 1º e 2º, da CLT, o valor da causa será estimado,
observando-se, no que couber, o disposto nos arts. 291 a 293 do Código de Processo Civil.
§ 3º Nos termos do art. 843, § 3º, e do art. 844, § 5º, da CLT, não se admite a cumulação das
condições de advogado e preposto" (sem grifo no original).

A Instrução Normativa nº 41/2018 do TST, aprovada mediante Resolução nº


221, em 02/06/2018, registra que a aplicação das normas processuais previstas na CLT, alteradas pela
Lei 13.467/2017, com eficácia a partir de 11/11/2017, é imediata, sem atingir, no entanto, situações
pretéritas iniciadas ou consolidas sob a égide da lei revogada.
Portanto, no caso em tela, hão de incidir as normas processuais previstas na
CLT alteradas pela Lei 13.467/2017.
Assim, a discussão quanto à limitação da condenação aos valores constantes
nos pedidos apresentados de forma líquida na exordial deve ser considerada apenas como fim
estimado, conforme normatiza o parágrafo 2º do artigo 12 da IN 41/2018 desta Corte.
Qualquer decisão ou entendimento que limitar a condenação aos valores
atribuídos aos pedidos na inicial configura ofensa ao art. 840, § 1º, da CLT.

13. DA CONCLUSÃO

Diante do exposto, requer seja recebida a presente impugnação à contestação


e dos documentos impugnados/informados acima, reiteramos pela procedência total dos pedidos da
exordial, condenando o Reclamado ao reconhecimento do vínculo empregatício de 01/03/2018 a
17/03/2021, e última remuneração de R$ 1.700,00, pagamento das verbas rescisórias, multa dos artigos 467 e
477 da CLT, recolhimento FGTS e multa de 40%, horas extras e os respectivos reflexos e consectários
legais, dano material na forma de lucros cessantes e emergentes, dano moral e serviço extra, além das
custas processuais, honorários sucumbenciais e demais cominações, ainda protesta pela oitiva de
testemunhas, a fim de comprovar fatos narrados na inicial.

Nesses termos,
Pede deferimento.

Barra do Garças/MT, 07 de Dezembro de 2021.

Cíntia dos Arbués Nery da Silva Lopes


OAB/MT 9.923-b

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