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AO JUÍZADO ESPECIAL FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE RIO BRANCO, SEÇÃO

JUDICIÁRIA DO ESTADO DO ACRE.

MARIA IZABEL PORTELA DA MOTA, brasileira, auxiliar de


serviços gerais, solteira, portadora do RG nº 424749 SSP/AC, inscrita no CPF sob o nº
774.113.072-20, residente e domiciliada na TV da Família, 190, Santa Maria, Cep.:
69.923-899, Rio Branco/AC, vem respeitosamente perante Vossa Excelência,
representado por suas advogadas que esta subscrevem Paula Adriana Saraiva
Diógenes, inscrita na OAB nº 5.757, com CPF 736.470.632-15 e RG nº 347355, e Tatiana
Camila da Silva Campos, inscrita na OAB/AC 5045, e Thaís Alves de Castro, OAB/GO
52.261, com escritório situado na Rua Veterano Telmo Pinto, 427, Manoel Julião, Rio
Branco - AC, CEP 69.918-412, com fulcro nos art. 59 da Lei 8.213/91 e demais normas
que regem a matéria, propor a presente

AÇÃO DE CONCESSÃO DE AUXÍLIO DOENÇA

Em face do ato coator do INSTITUTO NACIONAL DE


SEGURIDADE SOCIAL - INSS, autarquia federal com agência Rio Branco-Centro, situada
na Agência Rio Branco - Centro, situada na Av. Getúlio Vargas, 647, Centro, Cep.: 69.900-
060, Rio Branco/AC, pelos motivos de fato e de direito a seguir elencados.
1. PRELIMINARMENTE

1.1. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

A parte Autora requer os benefícios da ASSISTÊNCIA DA JUSTIÇA


GRATUITA, não podendo arcar com as custas processuais sem prejuízo do seu próprio
sustento e de sua família.

Conforme se denota dos artigos 98 e seguintes do Código de


Processo Civil, a concessão dos benefícios da gratuidade da justiça depende da
insuficiência de recursos da parte para o pagamento das custas, despesas processuais e
honorários advocatícios no caso concreto.

Ainda, consoante expõe o doutrinador Daniel Amorim Assunção


Neves (Novo Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo, Editora Juspodivm,
2016, páginas 155/159): "A presunção de veracidade da alegação de insuficiência,
apesar de limitada à pessoa natural, continua a ser a regra para a concessão do benefício
da gratuidade da justiça". Contudo, é cediço que o Juiz não está vinculado de forma
obrigatória a essa presunção.

Nesse sentido, a Autora, aufere renda mensal de um salário


mínimo, e atualmente se encontra sem condições de laborar devido ao acidente
ocorrido em seu ambiente de trabalho, sendo necessária tal concessão.

Em que pese o INSS ter considerado apta para o trabalho, esta


sofre com a discordância dos médicos especialistas.

Cabe esclarecer que a simples atuação por meio de advogado


particular não configura por si só a capacidade para o pagamento das custas judiciais,
sem comprometimento de sua manutenção. Assim, resta evidente que a Autora se
enquadra dentro dos parâmetros para a concessão do benefício da Gratuidade de
Justiça.

No caso concreto, negar o pedido da justiça gratuita a Autora


seria, claramente, negar o acesso à justiça, uma vez que não possui condições de arcar
com as custas judiciais.
Na oportunidade, junta declaração quanto à ausência de
condições para suportar o pagamento das despesas processuais buscando, com isso,
amparo legal.

Destaca-se que o a lei não exige atestada miserabilidade da parte


requerente, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas
processuais e honorários advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme destaca a doutrina:
"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem
tampouco se fala em renda familiar ou faturamento máximos. É
possível que uma pessoa natural, mesmo com boa renda
mensal, seja merecedora do benefício, e que também o seja
aquela sujeito que é proprietário de bens imóveis, mas não
dispõe de liquidez. A gratuidade judiciária é um dos mecanismos
de viabilização do acesso à justiça; não se pode exigir que, para
ter acesso à justiça, o sujeito tenha que comprometer
significativamente sua renda, ou tenha que se desfazer de seus
bens, liquidando-os para angariar recursos e custear o
processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael Alexandria de.
Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2016. p.
60)

Havendo desta forma resguardo quanto a gratuidade da justiça


nos artigos 98 e seguintes do Código de Processo Civil e artigo 5º, LXXIV da Constituição
da República Federativa do Brasil, inclusive no que tange aos honorários sucumbenciais.

Assim sendo, requer de Vossa Excelência o deferimento da


assistência judiciária.

1.2. DA AUDIÊNCIA DE MEDIAÇÃO E/OU CONCILIAÇÃO

Considerando a necessidade de produção de provas no presente


feito, a parte Autora vem manifestar, em cumprimento ao art. 319, inciso VII do
CPC/2015, que não há interesse na realização de audiência de conciliação ou de
mediação, haja vista a iminente ineficácia do procedimento e a necessidade de que
ambas as partes dispensem a sua realização, conforme previsto no art. 334, §4º, inciso
I, do CPC/2015.

1.4. RENÚNCIA DA ALÇADA DO JUÍZADO

A parte Autora renuncia expressamente o valor excedente à


alçada de 60 (sessenta) salários mínimos na data do ajuizamento da ação, no que tange
às parcelas vencidas, nos termos do art. 3º caput, e § 3º da Lei nº 10.259/01 e no teor
da Súmula 17 da TNU.

2. SÍNTESE DOS FATOS

A Autora foi contrata pela empresa BRASIL SERVICES em 29 de


novembro de 2019 para desempenhar a função de auxiliar de serviços gerais, sendo
responsável pela limpeza de pátios, lojas, banheiros interno e externo, recolhimento de
lixos, entre outros, conforme resta devidamente comprovado através dos documentos
acostados aos autos.

No ato da sua contratação realizou exame admissional,


considerada apta ao trabalho em perfeito estado de saúde.

No dia 07 de setembro de 2020 a Autora estava realizando suas


atividades laborais, momento em que sofreu acidente do trabalho. Foi pegar um frasco
de 05 (cinco) litros de removedor de cera para efetuar a limpeza do pátio, e sentiu um
estalo no pescoço que imediatamente irradiou para os ombros, região escapular e
região lombar, seguido de fortes dores.

Na ocasião a Autora ficou impossibilitada de se mover, uma vez


que sua coluna "travou", e imediatamente comunicou a sua supervisora Sra. Irandira.
A supervisora orientou a Autora para se dirigir ao pronto
atendimento médico mais próximo. E apesar de ser um acidente do trabalho a Autora
não foi acompanhada e nem foi emitida CAT.

A Autora foi atendida e medicada e posteriormente foi liberada


sob a orientação de repouso. No dia seguinte, 08 de setembro de 2020, ao acordar a
Autora notou que as dores haviam se intensificado e a medicação que estava sendo
administrada não estava minimizando as dores e tampouco melhorando a questão da
imobilidade.

Sendo assim, retornou ao hospital e após avaliação de um


médico clínico geral obteve orientação de que deveria permanecer de repouso por 07
(sete) dias e lhe passou novamente medicações, como pode ser observado através da
documentação em anexo.

Findando os 07 (sete) dias de repouso e medicações, a Autora


ainda não sentiu melhoras dos sintomas, e no dia 22 de setembro de 2020 retornou ao
médico, e novamente foi avaliada pelo médico que constatou grave extensão na coluna
cervical e dorsal. Após a avaliação médica prescreveu nova medicação e recomendou
mais 07 (sete) dias de pleno repouso.

Todavia, os sintomas só pioravam, impedindo inclusive a Autora


de dormir e não vislumbrando melhoras, retornou novamente ao médico no dia 29 de
setembro de 2020, momento em que fora avaliada e o médico achou necessário a
permanência da Autora no repouso total e sob administração de medicamento por mais
10 (dez) dias.

Ocorre que o estado de saúde da Autora só se agravou e em 09


de outubro de 2020, em outro retorno médico, foi solicitado mais 10 (dez) dias de
repouso e uso de medicação.

Ante aos fatos, a Autora procedeu com o pedido de auxílio


doença junto ao INSS que foi deferido sob o nº 632.514.141-9 pelo período de 15
(quinze) dias (22/09/2020 a 20/10/2020).

A Autora recebeu de benefício, a importância de R$ 1.097,27


(um mil e noventa e sete reais e vinte e sete centavos).
Ressalta-se a situação da Autora, que ficou sem auferir qualquer
renda do dia 07 de setembro de 2020 à 03 de novembro de 2021.

No dia 29 de outubro de 2020, a Autora ainda não havia evoluído


para nenhuma melhora na patologia, e viu necessidade em novamente buscar ajuda
médica, que recomendou mais 14 (quatorze) dias de repouso.

Após 42 (quarenta e dois) dias de idas e vinda ao pronto


atendimento das UPAS e não vendo nenhuma melhora com as medicações paliativas
receitadas pelos médicos disponíveis na unidade (clínico geral), a Autora buscou ajuda
de um médico especialista que a diagnosticou com: Transtorno não especificado de
disco intervertebral, artrose primária de outras articulações e lumbago com ciática
(CID: M51.9 / M19.0 / M54.4).

Em 22 de novembro de 2020 o médico recomendou o


afastamento pelo INSS pelo período de 03 (três) meses, conforme resta comprovado em
laudo médico em anexo.

Destaca-se que a Autora estava com dificuldades de locomoção,


e não deveria retornar ao trabalho, haja vista a função desempenhada de auxiliar de
limpeza, cuja atribuição é limpeza dos pátios, dos banheiros, recolhimento de lixos dos
banheiros e refeitório, sendo necessário grande esforço físico para o desempenho de
sua função, o que é totalmente incompatível com a patologia diagnosticada da Autora.

Conforme orientação médica prescrita em laudo devidamente


específico, a Autora deveria ficar em tratamento e repouso por 03 (três) meses.
Entretanto ao dar entrada novamente junto ao INSS no pedido de auxílio doença, o
perito médico do INSS não observou todos os laudos e atestados anteriores, e laudo
médico especialista e concedeu apenas 46 (quarenta e seis) dias de afastamento
laboral (benefício nº 7086017184), no período de 14/11/2020 a 30/12/2020, cujo
pagamento se deu em 11/05/2021 na importância de R$ 1.678,08 (um mil seiscentos e
setenta e oito reais e oito centavos).

Em 30 de dezembro de 2020 a Autora teve seu auxílio cessado,


e em 14 de janeiro de 2021 mesmo com laudo médico de especialista indicando 03 (três)
meses de afastamento, e ainda não estando recuperada a Autora novamente procurou
seu médico, que inclusive se surpreendeu com a avaliação do perito do INSS, e alertou
a Autora da gravidade de sua patologia, deixando-a ciente de que se retornasse ao
trabalho teria grandes possibilidades de agravamento, podendo ocasionar inclusive
paralisia total dos membros inferiores. Na ocasião o médico especialista emitiu novo
laudo reafirmando a patologia, solicitando afastamento por 02 (dois) meses.

Desta feita, a Autora solicitou novo afastamento junto ao INSS,


passou por nova avaliação do perito que indeferiu o pedido.

Ante aos fatos, a Autora informou a empresa a negativa do INSS


e conforme laudo médico se colocou à disposição da empresa para retorno em outra
função que não exigisse tanto esforço físico. Porém a encarregada Sra. Irandira informou
que nada poderia fazer, haja vista ausência de função para readequá-la, e orientou a
Autora a ingressar com recurso junto ao INSS e aguardasse.

Por ser uma pessoa simples e leiga, assim procedeu a Autora, e


em 18 de fevereiro de 2021 ingressou com recurso administrativo, conforme resta
comprovado nos autos.

Diante das necessidades financeiras da Autora, informou a


empresa que retornaria ao trabalho, e ao ser encaminhado para avaliação médica, foi
considerada apta ao trabalho com observações de seu estado de saúde, que constou
que a Autora estaria com a patologia (ESPONDILOPATIA DEGENERATIVA DORSAL
INCIPIENTE/LOMBALGIA CRONIA/ESTASIA DIFUSA DO CANAL CENTRAL).

Ao verificar as observações médicas, a supervisora imediata


solicitou que a Autora escrevesse uma carta de próprio punho atestando sua boa saúde
e assim, sob essa condição, no dia 23 de março de 2021 a Autora retornou as suas
atividades profissionais, sem qualquer readequação de função e sem alivio das
demandas de suas atribuições laborais.

No dia 09 de abril de 2021 a Autora teve uma forte crise e foi


atendida pelo médico especialista que reafirmou a patologia com agravamento
inserindo em seu diagnóstico: Compressão não especificada de medula espinhal,
outros deslocamentos discais intervertebrais específicos, transtorno do disco cervical
com radiculopatia, artrose primária de outras articulações (CID: G95 2 / M51 2 / M50
1 / M19 0).

Já no dia 25 de abril de 2021 o médico foi mais específico em seu


laudo, discriminando:
“MARIA IZABEL PORTELA DA MOTA, PORTADOR DE
ESPONDILOATROSE NA COLUNA CERVICAL, TORACICA E LOMBAR, HERNIA DISCO
COLUNA CERVICAL EVOLUINDO PARETESIA MEMBRO SUPERIOR ESQUERDO, HERNIA
DISCO COLUNA TORACICA, ECTASIA DUFUSA DO CANAL CENTRAL MEDULA DORSAL E
CERVICAL, NECESSITANDO AFASTAMENTO DAS ATIVIDADES LABORATIVAS”.

A Autora novamente solicitou afastamento do INSS que


novamente restou indeferido.

Assim sendo, mesmo em posse de atestado médico indicando o


afastamento ao trabalho, se viu obrigada a retornar ao trabalho, ante a ameaça de que
se não retornasse seria demitida por abandono de emprego, e que a validade é do laudo
da perícia médica do INSS e não de outro médico, ainda que especialista.

No dia 04 de maio de 2021, a Autora sentiu fortes dores e foi a


UPA buscar atendimento para tomar analgésicos intravenosa, para alívio mais eficaz. O
médico da UPA recomendou 03 (três) dias de repouso. Todavia foi compelida a retornar
as suas atividades.

Após nova crise em 20 de maio de 2021, foi levada às pressas ao


pronto atendimento da UPA da Sobral, onde o médico especialista plantonista
especificou em atestado médico que a Autora deveria se afastar do trabalho por 03
(três) meses.

Ressalta-se que em todos os atendimentos, os médicos são


diferentes, e todos fazem as mesmas recomendações.

A fim de resolver a situação, a Autora novamente solicitou


auxílio doença junto ao INSS, que mais uma vez restou indeferido.

Além de exercer a atividade de auxiliar de serviços gerais, a parte


Autora é pessoa simples, que sempre realizou serviços braçais, com excessivo emprego
de força física e não apresenta habilidade profissional intelectual que lhe permita
exercer uma atividade que lhe proporcione ganhos suficientes à sua manutenção e de
sua família, sem prejuízo para sua higiene física e psicológica.

As inúmeras restrições lançadas nos exames e laudos médicos e


comprovados pela CID incapacitante demonstram que a parte Autora está incapacitada
para o exercício de seu labor diário e não possui aptidão e nem condição física e
psicológica para desempenhar habitualmente as suas atividades.

Ressalta-se que todos os laudos e pareceres da Autora foram


emitidos por especialistas na patologia, e foi insistentemente ignorados por médicos
peritos previdenciário, que em sua maioria são clínicos gerais, não estando aptos a
diagnosticar com veracidade a patologia da segurada.

3. DO MÉRITO

3.1. DO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO

Diante de tal quadro, a parte autora requereu em 28 de maio de


2021 o benefício de auxílio doença, sendo autuado sob o benefício nº 635.225.211-0, e
protocolo nº 208699110.

Destaca-se que, o INSS após analisar o processo administrativo,


indeferiu o pedido de concessão do auxílio, sob a seguinte alegação:

“Em atenção ao seu pedido de Auxílio por Incapacidade


Temporária, apresentado no dia 28/05/2021, informamos
que não foi reconhecido o direito ao benefício, tendo em
vista que não foi constatada, em exame realizado pela
perícia médica do INSS, a incapacidade para o seu
trabalho ou para a sua atividade habitual. Desta decisão
poderá ser interposto Recurso à Junta de Recursos da
Previdência Social, dentro do prazo de 30 (trinta) dias
respectivamente, contados da data do recebimento desta
comunicação.” – Grifo nosso

A parte Autora não concorda com a decisão administrativa do


INSS. Por isso, recorre ao Poder Judiciário a fim de ver satisfeita a sua pretensão de obter
o benefício assistencial.
A parte Autora também pretende cobrar as parcelas vencidas,
devidas desde a data da postulação administrativa do benefício (data do agendando do
requerimento administrativo – 28/05/2021).
Ademais, o estado de saúde da parte Autora que encontra-se
incapacitada para o exercício de qualquer atividade demonstra a necessidade urgente
de intervenção estatal, conforme atestados, exames e laudos médicos em anexo.

3.2. DOS REQUISITOS DO BENEFÍCIO POSTULADO

No que tange ao auxílio doença, art. 59 da Lei 8.213/91,


disciplina:

Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo


cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido
nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua
atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.

De acordo com os laudos e exames anexos, a parte Autora sofre


de “ESPONDILOATROSE NA COLUNA CERVICAL, TORACICA E LOMBAR, HERNIA DISCO
COLUNA CERVICAL EVOLUINDO PARETESIA MEMBRO SUPERIOR ESQUERDO, HERNIA
DISCO COLUNA TORACICA, ECTASIA DUFUSA DO CANAL CENTRAL MEDULA DORSAL E
CERVICAL, NECESSITANDO AFASTAMENTO DAS ATIVIDADES LABORATIVAS”,
impossibilitando a realização de suas atividades laborais.

Além disso, o caráter da incapacidade, a privar o segurado do


exercício de todo e qualquer trabalho, deve ser avaliado conforme as circunstâncias do
caso concreto. Isso porque não se pode olvidar de que fatores relevantes como seu grau
de escolaridade, assim como outros são essenciais para a constatação do impedimento
laboral.

Nesse sentido, é a jurisprudência do Superior Tribunal de


Justiça:

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO


DO ART. 535 DO CPC. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ.
INCAPACIDADE PARCIAL. CONSIDERAÇÃO DOS ASPECTOS
SÓCIO-ECONÔMICOS, PROFISSIONAIS E CULTURAIS.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
1. O Tribunal de origem deixou claro que, na hipótese dos autos,
o autor não possui condições de competir no mercado de
trabalho, tampouco desempenhar a profissão de operadora de
microônibus.
2. necessário consignar que o juiz não fica adstrito aos
fundamentos e à conclusão do perito oficial, podendo decidir a
controvérsia de acordo o princípio da livre apreciação da prova
e do livre convencimento motivado.
3. A concessão da aposentadoria por invalidez deve considerar,
além dos elementos previstos no art. 42 da Lei n. 8.213/91, os
aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais do
segurado, ainda que o laudo pericial apenas tenha concluído
pela sua incapacidade parcial para o trabalho. Precedentes das
Turmas da Primeira e Terceira Seção. Incidência da Súmula
83/STJ Agravo regimental improvido.
(STJ, AgRg no AREsp 384.337/SP, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/10/2013, DJe
09/10/2013). – Grifo nosso

AGRAVO REGIMENTAL. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA


POR INVALIDEZ. NÃO VINCULAÇÃO AO LAUDO PERICIAL.
OUTROS ELEMENTOS CONSTANTES DOS AUTOS. PRINCÍPIO DO
LIVRE CONVENCIMENTO. INCAPACIDADE DEFINITIVA.
CUMPRIMENTO DE REQUISITO LEGAL. SÚMULA Nº 7/STJ.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no
sentido de que o magistrado não está adstrito ao laudo,
devendo considerar também aspectos sócio-econômicos,
profissionais e culturais do segurado a fim de aferir-lhe a
possibilidade ou não, de retorno ao trabalho, ou de sua
inserção no mercado de trabalho, mesmo porque a invalidez
laborativa não é meramente o resultado de uma disfunção
orgânica, mas uma somatória das condições de saúde e
pessoais de cada indivíduo.
2. Havendo a Corte regional concluído pela presença das
condições necessárias à concessão do benefício, com base em
outros elementos constantes dos autos, suficientes à formação
de sua convicção, modificar tal entendimento, importaria em
desafiar a orientação fixada pela Súmula nº 7 do Superior
Tribunal de Justiça.
3. Agravo regimental a que se nega provimento. Brasília (DF), 14
de fevereiro de 2012 (data do julgamento). AgRg no AGRAVO
EM RECURSO ESPECIAL Nº 81.329 - PR (2011/0197780-7)
RELATOR: MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE. Grifei

Conforme comprovam os laudos médicos acostados, a parte


Autora preencheu todos os requisitos necessários para a obtenção do auxílio doença,
como se depreende do artigo supracitado. A incapacidade no presente caso impede o
retorno às atividades habituais, sendo indispensável a continuidade do tratamento e
afastamento do trabalho na busca de uma possível recuperação.

Resta demonstrado portanto, que os diagnósticos feitos pelos


peritos médicos do INSS foram realizados de forma superficial e, inobstante o
conhecimento profissional destes profissionais, não é crível que uma mera análise
superficial da pessoa periciada dê elementos suficientes para fins de deferimento ou
indeferimento do benefício postulado.
Ressalta-se que o posicionamento administrativo da Autarquia,
dando alta, por reiteradas vezes, à segurada sabidamente doente, apresenta-se
desarrazoado e descampado do direito em vigor escoltado na Carta Magna de 1988 que,
dentre outros, assegura a todos os cidadãos brasileiros um mínimo de "dignidade
humana" e, em especial, "cobertura plena" aos inscritos no Regime Geral de Previdência
Social quando na ocorrência de eventos de "doença" e de "incapacidade laboral".
Não tendo sido observado pelo INSS nas perícias realizadas.

É certo, portanto, que o diagnóstico médico da parte Autora,


impede, sem sombras de dúvidas, que exerça sua atividade laborativa, sob pena de
agravamento das moléstias, uma vez que para se curar necessita de tratamento médico
adequado, fazendo jus ao benefício de auxílio-doença.
Destarte, constata-se que houve inadequação da conclusão das
últimas perícias realizadas pelo INSS. Por este motivo, requer a parte autora, desde já,
que este D. Juízo, ao designar perícia por expert de confiança do julgador, determine a
este o cumprimento de seu mister de modo conclusivo, evitando nulidades processuais.

Nesse sentido:

PREVIDENCIÁRIO. CONCESSÃO DE AUXÍLIO-DOENÇA.


ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
TUTELA ESPECÍFICA. 1. É de ser mantida a sentença que
concedeu à parte autora o benefício de auxílio-doença desde a
DER, pois comprovada a incapacidade laborativa temporária.
2. Atualização monetária na forma da Lei 11.960/09. 3. Nas
ações previdenciárias, os honorários advocatícios devem ser
fixados no percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor das
parcelas devidas até a data da sentença, em consonância com
as Súmulas 76 desta Corte e 111 do STJ. 4. Determina-se o
cumprimento imediato do acórdão naquilo que se refere à
obrigação de implementar o benefício, por se tratar de decisão
de eficácia mandamental que deverá ser efetivada mediante as
atividades de cumprimento da sentença stricto sensu previstas
no art. 461 do CPC, sem a necessidade de um processo
executivo autônomo (sin intervallo). (TRF4, APELREEX 0014702-
50.2015.404.9999, Sexta Turma, Relator João Batista Pinto
Silveira, D.E. 03/02/2016) – Grifo nosso

Portanto, é devido a concessão do auxílio-doença desde a data


do agendamento administrativo do benefício (28/05/2021), porquanto existem provas
nos autos da incapacidade não só para a sua atividade habitual, mas para todo e
qualquer trabalho, de forma temporária.

3.3. DA PRODUÇÃO DA PROVA PERICIAL

Considerando que a prova pericial é fundamental para o


deslinde das questões ligadas aos benefícios por incapacidade e para uma adequada
análise do nexo de causalidade e da consequente incapacidade, faz-se mister que o
Médico Perito observe o Código de Ética da categoria, e especialmente em relação ao
tema, a Resolução nº 1.488/98 do CFM, que dispõe sobre as normas específicas de
atendimento a trabalhadores.

Outrossim, também deve ser observado o Manual de Perícias do


INSS (2018), que prevê em seu Anexo I diversos pareceres que se aplicam às perícias
previdenciárias, dentre os quais o Parecer CFM nº 05/2008, que estabelece que quando
houver discordância do médico perito com o médico assistente, aquele deve
fundamentar consistentemente sua decisão.

Ainda, o item 2.4 do Manual determina que “O Perito necessita


investigar cuidadosamente o tipo de atividade, as condições em que é exercida, se em
pé, se sentado, por quanto tempo, com qual grau de esforço físico e mental, atenção
continuada, a mímica profissional (movimentos e gestos para realizar a atividade, etc.)”,
além das condições em que esse trabalho é exercido.

Portanto, REQUER a parte Autora que, quando da realização da


prova pericial, sejam observadas as referidas disposições legais, uma vez que não apenas
se trata de normas cogentes e – portanto – vincula a atividade do médico, sob pena de
nulidade do laudo pericial.
3.4. DO IMEDIATO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES
DE FAZER

Conforme inteligência do artigo 43 da Lei 9.099/95 c/c artigo 1º


da Lei 10.259/01, no âmbito dos Juizados Especiais Federais o recurso inominado
interposto, via de regra, não possui efeito suspensivo. Por este motivo, eventual
deferimento do presente petitório compele o INSS a cumprir de forma imediata a
decisão de primeiro grau, para o efeito de conceder e implantar o benefício postulado
em favor da parte Autora.

3.5. DA NECESSIDADE DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA


JUDICIAL

Excelência, a parte Autora necessita de provimento jurisdicional


em caráter de urgência, pois está incapacitada para o exercício de qualquer atividade
laborativa.
Diante do seu quadro clínico e a consequente incapacidade, os
demais membros do seu grupo familiar dependem da Autora. Essa situação está
acarretando graves prejuízos à Autora e seu núcleo familiar, uma vez que ficou grande
período sem auferir qualquer renda, e foi obrigada a retornar as suas atividades
mesmo incapacitada, gerando agravamento de sua incapacidade. Considerando que a
atividade da parte Autora reflete diretamente na renda da sua família, há o risco social
envolvido.
Portanto, a parte Autora encontra-se em um grande dilema, pois
não há outra fonte de renda e a sua ausência nas atividades do grupo familiar acarreta
na diminuição da renda. Desta forma, todo o grupo familiar está na iminência de ficar
sem recursos para o seu sustendo, surgindo a necessidade de amparo social.
Além disso, a decisão definitiva poderá ser inócua ou ineficaz, se
houver demora na solução da questão, o que é de se presumir, em face da tramitação
natural do processo, do duplo grau de jurisdição e dos recursos inerentes ao processo
judicial.
Os diversos problemas de saúde apresentados pela parte Autora
e as inúmeras restrições provocadas pela sua enfermidade estão devidamente
demonstrados nos documentos anexados ao processo.
Como se vê, a parte Autora necessita, em caráter de urgência
que seja, provisoriamente, concedido o auxílio-doença, para que, a partir de sentença
de mérito transitada em julgado seja confirmado o benefício previdenciário.
No presente caso, estão presentes os requisitos para a
concessão da tutela de urgência:

I – Juízo de probabilidade traduzido na expressão do art. 300 do


novo Código de Processo Civil - CPC – verossimilhança da alegação – o que ficou
demonstrado com os exames e atestados médicos carreados aos autos, que
confirmaram a incapacidade da parte Autora, o que impede de, por sua própria força de
trabalho, promover o seu sustento, ou ao menos, ajudar na manutenção do lar. Por essa
razão, os motivos em que se assenta o direito da parte Autora são relevantes;
II – Perigo de dano, na medida em que o decurso do tempo
necessário até a prolação da sentença definitiva poderá ameaçar a eficácia do direito da
parte Autora, eis que o mesmo está com dificuldade econômicas e financeiras para
custear despesas como alimentação, água, luz, medicamentos, tratamento médico de
que necessita em face dos diversos problemas de saúde que o acometem.
Em síntese, de nada adiantará o resultado positivo da decisão
final, se neste inestimado lapso temporal, qual seja, entre a propositura da ação e a sua
decisão final transitada em julgado, vier a parte Autora a padecer em face da
insuficiência de recursos para o seu sustento e de sua família.
III – Há prova inequívoca dos fatos aventados na presente
demanda pelos documentos acostados à presente ação, que efetivamente demonstram
a incapacidade da parte Autora e que permitem o INSS tão somente uma defesa
protelatória.
Assim, estando comprovado o estado de incapacidade da parte
Autora, é imperativo que se conceda a tutela antecipada.

REQUERIMENTOS

Ante o exposto, comprovado o direito da Autora, requer de


Vossa Excelência:

a) A concessão do benefício JUSTIÇA GRATUITA, por


não ter a parte Autora como arcar com as custas processuais e honorários advocatícios
sem prejuízo de seu sustento, uma vez que não está recebendo benefício previdenciário
e se encontra afastado das suas atividades laborais, conforme documentos em anexo;

b) Conceder com fundamento nos art. 300 e 497 do


novo CPC, a tutela judicial de urgência sem ouvir a parte contrária, para, mediante
liminar, determinar por mandado, que o INSS implante e passe a pagar imediatamente
a parte autora o benefício de auxílio-doença desde o agendamento administrativo do
benefício (28/05/2021);

c) Conhecer do presente feito determinando as


diligências necessárias;

d) A manifestação pela não realização de audiência de


conciliação e/ou mediação, em cumprimento ao art. 319, inciso VII do CPC/2015, haja
vista a iminente ineficácia do procedimento;

e) A citação do INSS, na pessoa de seu representante


legal (Procurador Autárquico), o qual pode ser encontrado na agência Rio Branco-
Centro, situada na Agência Rio Branco - Centro, situada na Av. Getúlio Vargas, 647,
Centro, Cep.: 69.900-060, Rio Branco/AC, para, querendo, contestar a presente ação,
sob pena de revelia e confissão;

f) Deferir a produção de provas elencadas no art. 212


do Código Civil, notadamente a realização de perícia médica judicial, destinada a
confirmar a prova documental carreada nos autos, demonstrativa da incapacidade da
parte Autora;

g) Requer ainda que na realização da perícia por


profissional capacitado sejam observados e respondidos os requisitos formulados
oportunamente;

h) Após a realização da perícia por profissional


capacitado, sendo constatada a incapacidade da parte Autora, requer a procedência
total do pedido de benefício de auxílio doença, determinando-se ao INSS que pague as
parcelas a serem apuradas, mês a mês, a partir do seu requerimento administrativo (28
de maio de 2021), com juros e correção monetária, bem como continue pagando o
benefício, enquanto persistirem as doenças incapacitantes;

i) Determinar ao INSS para que implante


administrativamente o benefício devido a Autora e proceda os necessários registros de
concessão e manutenção do benefício que a decisão lhe assegurar;

j) Pagar à parte Autora os valores atrasados via RPV,


respeitada a prescrição quinquenal, com a correção monetária pelo IPCA desde o
vencimento de cada parcela, acrescida do índice integral da poupança (TR e juros), a
contar da citação, conforme decidido pela Primeira Seção do STJ, em julgamento
submetido ao rito dos recursos repetitivos (Resp n. 1.270.439 - DJE 01-08-2013);

k) A condenação do INSS no pagamento das custas


processuais e honorários advocatícios no valor de 30% (trinta por cento) da causa;
l) A parte Autora renuncia expressamente o valor
excedente à alçada de 60 (sessenta) salários mínimos na data do ajuizamento da ação,
no que tange às parcelas vencidas, nos termos do art. 3º caput, e § 3º da Lei nº
10.259/01 e no teor da súmula 17 da TNU;

m) Requer-se, com base no art. 22, § 4º da Lei n.º


8.906/94, que, ao final da presente demanda, caso sejam encontradas diferenças em
favor da parte Autora, quando da expedição da RPV ou do precatório, os valores
referentes aos honorários contratuais sejam expedidos em nome do presente
procurador, assim como os eventuais honorários de sucumbência;

n) Protesta por todos os meios de prova em direito


admitidos, em especial a juntada de novos documentos e a nomeação de perito para
realização da perícia médica, inclusive com poderes para requerer exames que
considerar necessários e indispensáveis para a constatação da doença, além dos
documentos já apresentados no processo.

d) Que sejam cadastradas as advogadas subscritoras Tatiana


Campos, OAB/AC 5.045, Paula Saraiva, OAB/AC 5.757 e Thaís Alves de Castro, OAB/GO
52.261, as quais deverão ser intimadas de todos os atos processuais sob pena de
nulidade.

Atribui-se à causa o valor de R$ 17.034,50 (dezessete mil e trinta


e quatro reais e cinquenta centavos).

Nesses Termos

Pede Deferimento.

Rio Branco/AC, 08 de Setembro de 2021.

Tatiana Campos
OAB/AC nº 5.045

Paula Saraiva
OAB/AC nº 5.757

Thaís A. Castro

OAB/GO 52.261

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