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A Lei 9.656/98, em seu artigo 1º, inciso I, define Plano de Assistência à Saúde como “prestação
continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preço pré ou pós-estabelecido, por prazo
indeterminado, com a finalidade de garantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde, pela faculdade de
acesso e atendimento por profissionais ou serviços de saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede
credenciada, contratada ou referenciada, visando à assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga
integral ou parcialmente a expensas da operadora contratada, mediante reembolso ou pagamento direto ao
prestador, por conta e ordem do consumidor”.
Dispõe, ainda, no inciso II do mesmo artigo, o conceito de operadora de plano de saúde como sendo
“pessoa jurídica constituída sob a modalidade de sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou entidade de
autogestão, que opere produto, serviço ou contrato de que trata o inciso I deste artigo”.
Diversos são os tipos de contrato de fornecimento de serviços médicos e diferentes são as formas
de atuar das operadoras de planos de saúde. Completando tal raciocínio Henrique Freire afirma que “no caso
das operadoras que tenham médicos como prepostos, ou hospitais e serviços de saúde filiais, ocorrendo um
dano indenizável em razão de ação ou omissão do preposto, ou do hospital ou serviço de saúde filial, não
haveria como afastar a responsabilidade direta da operadora de planos de saúde. Neste caso as atividades se
confundiriam.”
No entanto, torna-se necessária a análise da responsabilidade das operadoras de plano de saúde
nos casos de danos oriundos de serviços médicos e serviços credenciados ou contratados por parte de hospitais
e clínicas.
Entende-se por atividades próprias dos hospitais e clínicas o fornecimento adequado de serviços de
enfermagem, UTI, equipamentos, medicamentos, alimentação, vestuário, realização de exames, esterilização de
material, busca da erradicação da infecção hospitalar; enquanto por atividades dos médicos a realização de atos
referentes a diagnóstico, cirurgia, informação e consentimento, dentre outros.
Quanto à discussão atinente à responsabilidade civil das operadoras de plano de saúde no Brasil,
são identificadas basicamente quatro correntes doutrinárias: uma negativa e três positivas. A primeira posição
defende a impossibilidade da suposta responsabilização civil baseada no reconhecimento de que as atividades
das operadoras seriam distintas e não se confundiriam com as atividades médicas e hospitalares.
Ainda que por óbvio, para essa corrente se atividade médica e hospitalar são distintas da atividade
da operadora, consequentemente não haverá responsabilidade civil das operadoras de planos de saúde pelos
danos causados aos consumidores por prestadores de serviços médicos e hospitalares. No entanto, essa
posição não é a predominante nos Tribunais brasileiros conforme será demonstrado. Ainda levando em
consideração a diferença entre as atividades desenvolvidas por médicos, hospitais e operadoras, a segunda
corrente defende a responsabilização das operadoras com base na culpa in eligendo e in vigilando decorrente
da escolha dos profissionais e rede credenciada indicados a seus clientes. Nessa linha de raciocínio, não se
limita o plano de saúde a administrar e a cobrir os custos da prestação de serviço médico, assumindo
igualmente a obrigação de prestá-lo através de profissionais qualificados.
Há quem entenda que a organização da cadeia de fornecimento de serviços médicos é
responsabilidade do fornecedor (dever de escolha, de vigilância), pouco importando a participação eventual do
consumidor na escolha de alguns entre os muitos possíveis. Embora a distinção entre as atividades seja
evidente, os dois posicionamentos hoje predominantes no Supremo Tribunal Federal não levam em
consideração a questão referente à diversidade das atividades realizadas pelos médicos, hospitais e empresas
operadoras de planos de saúde. A terceira corrente nas palavras de Henrique Freire reconhece “a existência de
uma responsabilidade concorrente da operadora pelo simples fato do beneficiário somente ter direito à cobertura
nos profissionais ou serviços de saúde credenciados, contratados ou referenciados por ela.”
Com efeito, Sergio Cavalieri Filho afirma que “médicos e hospitais credenciados formam uma
rede de serviços médicos hospitalares eficiente, atrativa e competitiva para atender à cativa clientela dos planos
de saúde. Na verdade, há um pacto proveitoso para ambas as partes; médicos e hospitais aumentam a clientela
e a empresa credenciadora, além de tornar os seus serviços mais eficientes, suportará menor encargo financeiro
pagando despesas de hospitalização e honorários médicos previamente estabelecidos numa tabela. Por sua
vez, os segurados ou contratados procuram os médicos e hospitais credenciados não só porque nada têm a
pagar, mas também porque confiam na indicação, acreditando tratar-se de instituições e profissionais
competentes, criteriosamente selecionados pela empresa seguradora ou operadora de serviço.”
A última posição, diametralmente oposta à primeira, no sentido da responsabilização direta da
operadora e da equivalência das atividades desenvolvidas, defende que o contrato de plano de saúde enseja
uma prestação de serviço médico e, portanto, “quem se compromete a prestar assistência médica por meio de
profissionais que indica, é responsável pelos serviços que estes prestam”.
Marilise Kostelnaki Baú afirma, nessa linha de raciocínio que se coaduna com o princípio da
máxima proteção ao consumidor, que no caso de erro médico o convênio ou plano de saúde responderá de
forma objetiva, ou seja, pela teoria da responsabilidade objetiva, bastando que o paciente comprove o dano e o
nexo de causalidade entre o dano e a prestação de serviço para que a empresa tenha o dever de indenizar,
sendo desnecessário que se comprove a culpa do médico ou a culpa do convênio. O profissional responde, pela
teoria da culpa (...), incumbindo ao paciente o ônus da prova. É conhecida a dificuldade de fazer esta prova,
devido aos precários conhecimentos específicos dos consumidores e por se tratar de uma atividade altamente
técnica e efetuada em ambiente reservado.(...) Em caso de erro médico haverá solidariedade entre o plano e o
galeno. O convênio é, de certa forma, assegurador ou fiador do serviço prometido.”
“(...) Se denomina responsabilidade médica situação jurídica que, de acordo com o Código Civil, gira tanto na
órbita contratual como na extracontratual estabelecida entre o facultativo e o cliente, no qual o esculápio assume
uma obrigação de meio e não de resultado, compromissando-se a tratar do enfermo com desvelo ardente,
atenção e diligência adequadas, a adverti-lo ou esclarecê-lo dos riscos da terapia ou da intervenção cirúrgica
propostas e sobre a natureza de certos exames prescritos, pelo que se não conseguir curá-lo ou ele veio a
falecer, isso não significa que deixou de cumprir o contrato”.
“No que concerne à responsabilidade civil dos médicos, segue-se a regra geral da imprescindibilidade da
demonstração da culpa do agente, amenizadas as exigências quanto à prova inarredável e profunda de sua
ocorrência ante os termos consignados na legislação, quando a natureza da demanda ou as circunstâncias
concretas apontarem para a responsabilidade mediante a produção de elementos de convicção mais singelos.
(...) Em princípio, a contratação não engloba qualquer obrigação de curar o doente ou de fazer melhorar a
qualidade de vida desfrutada, porque ao profissional incumbe a tarefa de empregar todos os cuidados possíveis
para a finalidade última – e acima de tudo moral – de todo tratamento, ou seja, a cura seja alcançada. Todavia, a
pura e simples falta de concretização do desiderato inicial de levar à cura não induz a existência da
responsabilidade jurídica, que não dispensa a verificação da culpa do médico apontado como causador do
resultado nocivo”.
Em síntese, para que possa subsistir alegação de erro médico e de responsabilidade civil deste
profissional, eventuais os prejuízos suportados pelo paciente devem decorrer da culpa quando da realização do
tratamento médico, da identificação de imperícia, negligência ou imprudência.