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PROMOTORIA DE JUSTIÇA XXXXX

AUXXS Nº: XXXXXXXXXXXXX


AUXXR: XXXXXXXXXXXXX
RÉU: Estado do XXXXXXXXXXXXX

Meritíssimo Juiz,

Trata-se de Ação Ordinária de Obrigação de Fazer com Pedido Tutela


Provisória de Urgência de Natureza Antecipada, proposta por XXXXXXXXXXXXX, através
da DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO XXXXXXXXXXXXX, objetivando
garantir o pagamento por parte do Estado do XXXXXXXXXXXXX de passagens aéreas,
custeio de despesas com hospedagem e alimentação para continuidade do tratamento de
Neoplasia Maligna de Mama no Hospital de Barretos - SP.

O NAT manifestou nos autos relatando em seu parecer que o


tratamento oncológico necessário para a paciente é ofertado no Estado do
XXXXXXXXXXXXX, sendo de responsabilidade deste ente estatal garantir o tratamento à
sua patologia e que não há indicação de Tratamento Fora do Domicílio (TFD) para a
paciente, evento 07.

O MM. Juiz indeferiu a tutela de urgência sob o argumento não foi


possível vislumbrar em sede prefacial os requisitos positivos exigidos pela nova sistemática
processual, haja vista que a autora não comprovou terem sido esgotados todos os meios de
tratamento no Estado do XXXXXXXXXXXXX, evento 09.

O Estado do XXXXXXXXXXXXX mesmo intimado para contestar a


presente ação deixou o prazo transcorrer sem qualquer manifestação, evento 10.

A parte autora interpôs recurso de agravo de instrumento contra a


decisão que indeferiu a tutela de urgência, sendo que a relatora do recurso concedeu a
antecipação da tutela recursal determinando que o Estado do XXXXXXXXXXXXX
disponibilize à agravante o tratamento fora de domicílio, custeio das despesas relativas a
medicamentos, insumos, exames e passagens de ida e volta para a cidade de barretos, evento
14.

A parte autora manifestou nos autos relatando que não há provas a


produzir, evento 19.

Vieram os autos com vista ao Ministério Público.

É a síntese do necessário.
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Tendo em vista a função institucional do Ministério Público
estabelecida no art. 176 do Código de Processo Civil em sintonia com os artigos 127 e 129,
II, da Constituição Federal, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesse sociais e individuais indisponíveis, passa o Ministério Público a
se manifestar.

Do Mérito

Verifica-se que o processo está suficientemente instruído e


desnecessária a dilação probatória, para julgamento do mérito de forma antecipada, nos
termos do art. 355, I, do CPC.

O Núcleo de Apoio Técnico ressaltou na Nota Técnica juntada nos


autos que o serviço pleiteado pela parte autora é ofertado no Estado por meio Hospital Geral
de XXXX -XX, e que em consulta ao sistema SISREG com o cartão SUS da paciente não há
solicitação de consulta em oncologia no ano de 2018, havendo apenas registro no ano de
2017, evento 07.

O Núcleo aponta ainda na Nota Técnica que não há indicação de TFD


para a paciente, e que a paciente deverá se dirigir a Secretaria Municipal de Saúde de XXXX
-XX para solicitação de consulta no HGP com especialista em Mastologia oncológica via
sistema SISREG, e que na consulta se o profissional entender que o Estado não tem
condições de fornecer o tratamento que a paciente pleiteia será preenchido laudo de TFD,
evento 07.

Assim, ficou demonstrado que a paciente não foi avaliado por


especialista no Hospital Geral de XXXX -XX (HGP), haja vista que só existem registros de
solicitação de consulta com especialista no sistema SISREG no ano de 2017, não havendo
nenhuma comprovação do atendimento pelo médico especialista no Estado do
XXXXXXXXXXXXX nos autos.

Nessa linha, a parte autora confirma na inicial que devido às várias


tentativas infrutíferas de avaliação médica no HGPP buscou por conta própria o
tratamento no Hospital de Barretos – SP. A autora comprova ainda que o tratamento da
patologia está sendo realizado em Barretos-SP, evento 01.

No termo de declarações a parte autora relata que procurou o serviço


em Barretos por ter receio do tratamento ofertado no HGP, devido as notícias de falta de
medicamentos, materiais e profissionais.

Assim, fica comprovado a busca do serviço de forma espontânea e


sem qualquer encaminhamento por parte do Estado do XXXXXXXXXXXXX para a
realização do tratamento de neoplasia maligna da parte autora no Hospital de Barretos-SP.

Aliás, o Comitê Executivo para Monitoramento das Ações da Saúde


no Estado do XXXXXXXXXXXXX (CEMAS-XX), aprovou no III Fórum Estadual do
Judiciário para Saúde o seguinte enunciado:

7º Enunciado: O usuário do SUS não ostenta direito subjetivo de


escolha de profissionais e/ou serviços de saúde, devendo
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necessariamente seguir os critérios de referência e contrarreferência
dentro da organização do Sistema.

Nesse sentido, a portaria do Ministério da Saúde Nº 55 de 1.999, que


regulamenta o Tratamento Fora de Domicílio (TFD) é clara em prescrever que o tratamento
deve ser solicitado pelo médico que assiste o paciente. Vejamos:

Art. 6°. A solicitação de TFD deverá ser feita pelo médico assistente
do paciente nas unidades assistenciais vinculadas ao SUS e
autorizada por comissão nomeada pelo respectivo gestor
municipal/estadual, que solicitará, se necessário, exames ou
documentos que complementem a análise de cada caso.

A portaria ainda ressalta com clareza que o TFD deve ser autorizado
por comissão nomeada pelo gestor estadual/municipal.

Nessa senda, fica claro que os tratamentos fora de domicílio devem


ser realizado quando o serviço não é ofertado na unidade federativa, mas, para isso devem
ser percorridos trâmites legais necessários para o encaminhamento dos pacientes, o que não
ocorreu na presente ação.

Os pacientes que necessitam de tratamentos devem fazer inicialmente


avaliação com o médico que os assistem para identificação do tratamento e a disponibilidade,
o que não ocorreu nos autos.

Ademais, caso o serviço público não esteja sendo ofertado com


eficiência o paciente pode procurar, como fez nos presentes autos, os órgãos de controle para
tomada de medidas administrativas e judiciais para garantia da oferta do serviço de acordo
com as normativas aplicadas ao SUS.

Noutro giro, o paciente também pode recorrer ao serviço


complementar de saúde da iniciativa privada, ou até mesmo em outras unidades federativas
para tratamento no SUS, todavia, não há como forçar o ente federado, como nos presentes
autos, a garantir o custeio de transporte aéreo, alimentação e hospedagem, sem observar os
preceitos estabelecidos nas normativas do SUS.

É sabido que o serviço público de saúde no Estado do


XXXXXXXXXXXXX atravessa um verdadeiro caos, todavia, compelir o ente estatal a
custear despesas sem observar as normativas do SUS gerará sem sombra de dúvidas um
aprofundamento da crise já instalada no Estado, haja vista que o recurso será retirado de outro
paciente que necessita do serviço e mesmo preenchendo todos os requisitos não foi ofertado
por falta de recursos.

Na mesma linha, a autorização por parte do Judiciário do custeio


de tratamentos sem observação dos atos normativos do SUS abre precedentes para a
judicialização de milhares de demandas de pacientes que aguardam a oferta de outros
serviços, como de ortopedia, neurologia, cardiologia, entre outras especialidades, em outras
unidades da federação sem a observação dos critérios estabelecidos nas normas do SUS,
agravando cada vez mais o caos instalado no sistema único de saúde.
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Ademais, as peculiaridades de cada paciente em específico devem ser
avaliadas pelo médico que assiste a paciente, cabendo ao profissional indicar o melhor
tratamento para o paciente.

Assim, fica cristalino que cabe a qualquer cidadão na garantia do


acesso aos serviços de saúde pleitearem seus pedidos pela via administrativa e judicial,
todavia, os pedidos devem ser fundamentados de acordo com os regramentos do SUS e das
prescrições médicas.

Isto posto, o MINISTÉRIO PÚBLICO manifesta pela improcedência


do pedido de mérito constante da inicial.

É o parecer ministerial.

XXXX /XX, Data.

Assinatura

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