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Processo nº __________
CONTESTAÇÃO
I - SÍNTESE DA DEMANDA
Trata-se de ação ordinária com pedido de antecipação de tutela ajuizada contra
o Município de __________, requerendo o fornecimento do medicamento
__________.
A parte autora informou que não possui renda suficiente para a aquisição da
referida medicação, da qual necessita para fins de tratamento da doença que o
acomete, qual seja, _______.
A antecipação de tutela restou deferida por esse MM. Juízo (fl. ___).
Regularmente citado, nesta oportunidade, o Município apresenta sua defesa.
IV - DA LIMITAÇÃO ORÇAMENTÁRIA
A Constituição de 1988, denominada de Constituição Cidadã, protagonizou a
criação de diversos direitos, como, por exemplo, os direitos elencados em seu
art. 6º, vejamos:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
na forma desta Constituição.
Mencionados direitos, constituem compromissos assumidos pela Assembleia
Constituinte, cujo cumprimento fica a cargo do Poder Executivo.
Citadas normas revelam o modelo social “ideal”, onde o Estado gratuitamente
proporcione à população o chamado “mínimo existencial”, entendido como o
conjunto de direitos aptos a garantir uma existência digna, como saúde,
moradia, alimentação, lazer, educação e outros.
Ocorre que não foram elencadas fontes de receita suficientes para o
atendimento da ampla gama de encargos sociais constitucionalmente previstos.
Quanto à (in)disponibilidade de recursos financeiros estatais, cumpre destacar
a doutrina da “reserva do possível”, que, como bem asseverou o jurista
Fernando Facury Scaff:
[...] decorre da constatação da existência da escassez dos recursos,
públicos ou privados, em face da vastidão das necessidades humanas,
sociais, coletivas ou individuais. Cada indivíduo, ao fazer suas escolhas
e eleger suas prioridades, tem que levar em conta os limites financeiros
de suas disponibilidades econômicas. O mesmo vale para as escolhas
políticas que devem ser realizadas no seio do Estado pelos órgãos
competentes para fazê-lo. (in Reserva do possível pressupõe escolhas
trágicas, Revista Consultor Jurídico, 26 de fevereiro de 2013, disponível
em: <http://www.conjur.com.br/2013-fev-26/contas-vista-reserva-
possivel-pressupoe-escolhas-tragicas>; Acesso em 12 março 2014)
Tal entendimento que encontra guarita na jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO
EM MANDANDO DE SEGURANÇA. FORNECIMENTO DE
MEDICAMENTO DE ALTO CUSTO. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-
CONSTITUÍDA E CONSEQUENTEMENTE DE DIREITO LÍQUIDO E
CERTO. PRINCÍPIO DA RESERVA DO POSSÍVEL. [...] 5. Apenas a
título de argumento obter dictum, as ações ajuizadas contra os entes
públicos com escopo de obrigar-lhes indiscriminadamente ao
fornecimento de medicamento de alto custo devem ser analisadas com
muita prudência. 6. O entendimento de que o Poder Público ostenta a
condição de satisfazer todas as necessidades da coletividade
ilimitadamente, seja na saúde ou em qualquer outro segmento, é
utópico; pois o aparelhamento do Estado, ainda que satisfatório aos
anseios da coletividade, não será capaz de suprir as infindáveis
necessidades de todos os cidadãos. 7. Esse cenário, como já era de se
esperar, gera inúmeros conflitos de interesse que vão parar no Poder
Judiciário, a fim de que decida se, nesse ou naquele caso, o ente
público deve ser compelido a satisfazer a pretensão do cidadão. E o
Poder Judiciário, certo de que atua no cumprimento da lei, ao imiscuir-
se na esfera de alçada da Administração Pública, cria problemas de
toda ordem, como desequilíbrio de contas públicas, o comprometimento
de serviços públicos, dentre outros. 8. O art. 6º da Constituição
Federal, que preconiza a saúde como direito social, deve ser
analisado à luz do princípio da reserva do possível, ou seja, os
pleitos deduzidos em face do Estado devem ser logicamente
razoáveis e, acima de tudo, é necessário que existam condições
financeiras para o cumprimento de obrigação. De nada adianta
uma ordem judicial que não pode ser cumprida pela Administração
por falta de recursos. 9. Recurso ordinário não provido. (RMS
28.962/MG, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 25/08/2009, DJe 03/09/2009 LEXSTJ vol. 242, p.
55)
É sabido que a organização administrativa concebida pelo Gestor Público para
atendimento dos serviços de saúde mais básicos aos mais especializados,
contemplados pelo SUS, consiste em uma complexa operação.
As Decisões judiciais que deferem, amplamente, o direito subjetivo à saúde
sem a análise criteriosa do caso concreto e da adequação do pleito aos
parâmetros estabelecidos na lei e à repartição de competência na execução
dos serviços de saúde negociados pelos entes federativos; desestabilizam a
organização orçamentária pública, rompendo a reserva do possível e
diminuindo a possibilidade de serem oferecidos serviços de saúde básicos ao
restante da coletividade.
Destaca-se que o Município de __________, no exercício de 20__, aplicou o
montante de R$ _______ das receitas previstas no inciso III do art. 77 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias nas Ações e Serviços
Públicos de Saúde - ASPS. Valor que correspondente a 2_,__%, cumprindo
assim com o percentual estipulado na citada disposição legal, conforme a
Certidão nº ____/201_ expedida pelo TCE/UF.
Constata-se, com esses dados, a gravidade de se impor indiscriminadamente
ao Município o fornecimento de medicamentos através de decisões judiciais,
sem se observar as esferas de competência distintas advindas da
descentralização do Sistema Único de Saúde.
IX - DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto, requer:
a) o recebimento da presente Contestação, para que, preliminarmente, seja
declarada a ilegitimidade passiva do ente municipal quanto à concessão do
fármaco __________, pois não está incluso nas listas de medicamentos
fornecidos pelo SUS.
b) seja intimada a parte autora para, querendo, apresentar resposta à presente
contestação;
c) seja intimado o médico da parte autora para informar se o medicamento
__________, requerido na inicial, pode ser substituído por outro fornecido pelo
SUS, como sugerido pela Secretaria Municipal da Saúde (cópia do memorando
em anexo);
d) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial a
documental, inclusive com a juntada de documentos novos durante o trâmite
processual; e
e) ao final, seja julgado improcedente o pedido da parte autora, revogando a
liminar concedida e com sua condenação nos ônus da sucumbência.
Caso seja julgada procedente a ação, requer-se:
f) que o tratamento ocorra no âmbito do SUS;
g) que o Município não seja condenado ao pagamento de honorários à
Defensoria Pública;
h) seja procedido ao prequestionamento dos art. 196, 197 e 198 da
Constituição Federal e dos arts. 6º, VI, 8º e 16, XV, da Lei Federal n.º 8.080/90,
expressamente arguidos nesta contestação.
Nesses Termos, Pede Deferimento.
__________, __ de __________ de 201_.
__________
Procurador do Município
OAB/UF _____