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Direito à saúde: responsabilidade do Estado em prestar assistência integral

última modificação: 27/05/2019 11:04


Constituição Federal

“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,


o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (...)

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.

Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder
Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por
pessoa física ou jurídica de direito privado.

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes: (...)

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo


dos serviços assistenciais;"

JULGADOS EM DESTAQUE
TJDFT
Tratamento de saúde domiciliar – custeio do fornecimento de energia elétrica pelo
Estado

“1. A compreensão do bem jurídico "vida" passa, necessariamente, pela conjugação do


disposto no artigo 5°, caput, com o artigo 1°, III, da Constituição Federal, porquanto
consiste no direito à subsistência adequada, e não apenas no direito a continuar vivo.
2. Os poderes públicos devem promover, mediante prestações materiais de índole
positiva, os meios necessários ao alcance das condições mínimas indispensáveis a uma
vida digna.

3. Nos termos do artigo 196 da Constituição Brasileira de 1988 e do artigo 204 da Lei
Orgânica do Distrito Federal a saúde constitui direito de todos e dever do Estado.

4. O fornecimento do tratamento necessário à proteção, promoção e recuperação da


saúde do indivíduo desprovido dos recursos para adquiri-los constitui dever estatal.

5. O ente da Federação, que tem o dever constitucional de atendimento integral à


saúde, passa a ser responsável pelo custeio da energia elétrica utilizada pelos
aparelhos, sob pena de adimplemento imperfeito, uma vez comprovada a
hipossuficiência, a inclusão em programa de oxigenoterapia domiciliar em razão de
hipoxemia crônica por síndrome hipoventilatória da obesidade, o aumento substancial
do consumo de energia elétrica, bem como do valor mensal da respectiva conta.

6. A obrigação de custeio recairá sobre o consumo de energia elétrica que exceder a


média de consumo da residência antes da instalação dos equipamentos de saúde
necessários ao tratamento.”(grifamos)

(Acórdão 1123699, unânime, Relator: FLAVIO ROSTIROLA, 3ª Turma Cível, data de


julgamento: 13/9/2018)

Fornecimento de transporte para tratamento de hemodiálise

"O tratamento de hemodiálise, ainda que não realizado na rede pública, trata-se de
direito à saúde e merece atenção do Estado, ante a necessidade da disponibilização de
transporte para efetivação do mesmo."

(Acórdão 1140514, unânime, Relator: ARNALDO CORRÊA SILVA, 2ª Turma Recursal dos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, Data de Julgamento: 28/11/2018)

Falta de leito de UTI na rede pública de saúde – internação na rede particular


“1. É sabido que o direito à saúde do ser humano deve ser tratado com a máxima
prioridade, relacionado-se diretamente à dignidade da pessoa humana, que é um
fundamento da República Federativa do Brasil, e à vida, o bem maior de todos os
protegidos constitucionalmente. Conseqüentemente, compete ao Estado garantir a
efetividade desse direito social, nos termos dos artigos 6.º c/c artigo 196, ambos da
Constituição Federal.
2. Demonstrada a necessidade de internação em leito de UTI do requerido, em razão
da omissão do Poder público em disponibilizar um leito em hospital público, sendo
certo que o requerido já havia sido inserido na lista de espera de UTI da CRIH, a
manutenção da sentença para que o DF arque com os custos da internação é medida
que se deve impor."
(Acórdão 1121124, unânime, Relator: ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO, 5ª Turma Cível,
data de julgamento: 29/8/2018)

Fornecimento de fraldas geriátricas pelo Estado – dever de assistência integral à saúde

“1. Compete ao Estado garantir o direito à saúde, previsto em sede constitucional, se a


paciente, munida de relatório médico, demonstra a necessidade de fraldas geriátricas,
sob pena de ver tolhida o seu direito à saúde.

2. A inobservância pelo Distrito Federal do dever de proteção à saúde e à vida da


população, que, no caso dos autos, seria o fornecimento de fraldas geriátricas,
possibilita a atuação do Judiciário, quando provocado, no sentido de garantir o
material necessário.”

(Acórdão 1107728, unânime, Relator: SILVA LEMOS, 5ª Turma Cível, data de


julgamento: 5/7/2018)

Judicialização do direito à saúde – inocorrência de violação à independência dos


poderes

"II. O direito à saúde é tutelado constitucionalmente e abrange o fornecimento aos


necessitados, pelo Estado, dos medicamentos essenciais à sua preservação ou
restabelecimento.
III. A determinação judicial para que o Estado forneça a medicação necessária ao
tratamento médico de pessoa necessitada imprime concretude e efetividade ao
compromisso constitucional com o direito à vida e à saúde.

IV. Dada a latitude e gabarito constitucional do direito à saúde, provimento judicial que
impõe a entrega de medicamento regularmente prescrito, por se apoiar diretamente
na Lei Maior, não traduz qualquer tipo de vulneração à independência dos poderes ou
aos primados da isonomia e da impessoalidade."

(Acórdão 1117324, unânime, Relator: JAMES EDUARDO OLIVEIRA, 2ª Câmara Cível,


data de julgamento: 27/7/2018)

Fornecimento pelo Estado de medicamento não padronizado – substância à base de


canabidiol

"4. É dever do Poder Judiciário garantir a aplicabilidade imediata e a máxima eficácia


das normas constitucionais que conferem ao jurisdicionado o direito a um sistema de
saúde eficiente.

5. A falta da padronização do medicamento não é motivo para a negativa de seu


fornecimento quando suficientemente explicitada a sua necessidade e demonstrada
que as opções fornecidas pelo Estado são ineficazes ao tratamento da patologia do
paciente.

6. In casu, o fármaco à base de Canabidiol restou categoricamente indicado, tendo em


vista a utilização anterior de vários medicamentos padronizados em doses máximas
toleradas sem sucesso, o intento de terapia alternativa (dieta cetogênica) de modo
infrutífero, a gravidade da epilepsia e do quadro encefalopático e o esgotamento das
possibilidades terapêuticas disponíveis no mercado nacional. Ademais, ficou
caracterizada que a persistência das crises epilépticas pode piorar o quadro clínico,
facilitando a ocorrência de complicações respiratórias e infecciosas - as quais, aliadas
ao estado de mal epiléptico, colocam em risco a vida do paciente."
(Acórdão 1082771, unânime, Relator: SANDOVAL OLIVEIRA, 2ª Turma Cível, data de
julgamento: 15/3/2018)

Fornecimento pelo Estado de medicamento de alto custo – possibilidade de grave


prejuízo ao erário

“2. É obrigação do Estado assegurar o acesso universal e igualitário às ações e serviços


de saúde, nos termos dispostos no artigo 196 da Constituição Federal.

3. O Supremo Tribunal Federal determinou, no julgamento da Medida Cautelar na


Suspensão de Liminar n. 1.019/DF, que os pacientes hemofílicos devem receber
tratamento conforme o Protocolo do Ministério da Saúde, ressalvada a necessidade de
terapia diversa, desde que comprovada por junta médica oficial.

4. No caso vertente, diante da ausência de junta médica oficial, designou-se junta


particular, advindo laudo conclusivo no sentido de que ambos os tratamentos - fator
plasmático e fator recombinante- possuem efetividade equivalente, tendo o fator
recombinante como vantagem, apenas, uma frequência inferior de indução da
formação de inibidores, o que pode trazer maiores chances de melhor prognóstico ao
autor.

5. Caso seja o Distrito Federal obrigado a fornecer o medicamento pleiteado a todos os


pacientes hemofílicos, haveria grave desequilíbrio financeiro, mesmo sem prova
efetiva de eficácia.

6. Não cabe ao Poder Judiciário, sobretudo em sede de Agravo de Instrumento,


determinar o fornecimento de medicamento de alto custo ou de tratamentos não
respaldados pelos órgãos e entidades responsáveis, sob pena de gerar grave prejuízo
ao erário, máxime quando não se divisa a probabilidade de dano ou ao resultado útil
do processo, há hipótese de se aguardar o exame do mérito.

(Acórdão 1111434, maioria, Relator Designado: SANDOVAL OLIVEIRA, 2ª Turma Cível,


data de julgamento: 25/7/2018)

STF
REPERCUSSÃO GERAL

TEMA 793 – Tese firmada:

"O tratamento médico adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres do
Estado, sendo responsabilidade solidária dos entes federados, podendo figurar no polo
passivo qualquer um deles em conjunto ou isoladamente."

TEMA 500 – Tese firmada:

“1) O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.


2) A ausência de registro na Anvisa impede, como regra geral, o fornecimento de
medicamento por decisão judicial.
3) É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro
sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior
ao previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos:
I – a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil, salvo no caso de
medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras;
II – a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no
exterior;
III – a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.
4) As ações que demandem o fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa
deverão ser necessariamente propostas em face da União.” (data de julgamento:
22/5/2019)

Falta de comprovação do risco de grave lesão à ordem e à economia públicas –


possibilidade de ocorrência de dano inverso

“AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE TUTELA ANTECIPADA. DIREITOS


FUNDAMENTAIS SOCIAIS. DIREITO À SAÚDE. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE.
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO INDISPENSÁVEL PARA O TRATAMENTO DE
DOENÇA GENÉTICA RARA. MEDICAÇÃO SEM REGISTRO NA ANVISA. NÃO
COMPROVAÇÃO DO RISCO DE GRAVE LESÃO À ORDEM E À ECONOMIA PÚBLICAS.
POSSIBILIDADE DE OCORRÊNCIA DE DANO INVERSO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE
NEGA PROVIMENTO.

I - A decisão agravada não ultrapassou os limites normativos para a suspensão de


segurança, isto é, circunscreveu-se à análise dos pressupostos do pedido, quais sejam,
juízo mínimo de delibação sobre a natureza constitucional da matéria de fundo e
existência de grave lesão à ordem, à segurança, à saúde, à segurança e à economia
públicas, nos termos do disposto no art. 297 do RISTF. II – Constatação de periculum in
mora inverso, ante a imprescindibilidade do fornecimento de medicamento para
melhora da saúde e manutenção da vida do paciente.” STA 761 AgR/DF

STJ
RECURSO REPETITIVO

TEMA 106 – Tese firmada:

"A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a
presença cumulativa dos seguintes requisitos:
i) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido
por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do
medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos
fornecidos pelo SUS;
ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito;
iii) existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados
pela agência."

https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/direito-
constitucional/a-inviolabilidade-do-direito-a-saude-e-a-vida-responsabilidade-do-
estado-em-prestar-assistencia-integral

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