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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

M Ó D U L O

DIREITO PENAL
MILITAR

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SUMÁRIO 05 O Código Penal Militar
06 Princípio da legalidade
07 Lei supressiva de incriminação,
retroatividade da lei penal mais benigna e
apuração da maior benignidade
09 Medidas de segurança
10 Tempo do Crime
13 Lugar do Crime
15 Territorialidade e Extraterritorialidade
18 Crimes Militares em tempo de paz
29 Crimes dolosos contra a vida
35 Crimes “Propriamente” Militares
36 Crimes Militares em Tempo de Guerra
38 Militares estrangeiros
38 Equiparação a militar da ativa
39 Militar da reserva e reformado
39 Defeito de incorporação
40 Tempo de guerra
40 Crimes praticados em prejuízo de país
aliado
42 Crimes praticados em tempo de guerra
42 Assemelhado
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SUMÁRIO 43 Pessoa Considerada Militar
44 Equiparação a Comandante
44 Conceito de Superior
45 Crime praticado na presença de inimigo
46 Referência a “brasileiro” ou “nacional”
47 Funcionários da Justiça Militar
47 Casos de prevalência do Código Penal
Militar
48 Tentativa
52 Arrependimento posterior
53 Culpabilidade
53 Erro de Fato e Erro de Direito
56 Erro de acidental
57 Coação Irresistível e Obediência
Hierárquica
60 Exclusão da Ilicitude e a Causa de
Justificação
61 Elementos constitutivos do crime
62 Menores
63 Concurso de Agentes
66 Penas principais
66 Pena de morte
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68 Reclusão e detenção
SUMÁRIO71 Impedimento
72 Suspensão do exercício do posto, graduação
72 Caso de reserva, reforma ou aposentadoria
73 Reforma
73 Superveniência de doença mental
74 Tempo computável
75 Da aplicação da pena
79 Causas de aumento e de diminuição da pena
80 Concurso de crimes
82 Suspensão condicional da pena
87 Livramento condicional
90 Penas acessórias
94 Efeitos da condenação
94 Medidas de Segurança
108 Ação Penal Militar
110 Da extinção da punibilidade
121 Prescrição do crime de insubmissão
122 Prescrição do crime de deserção
124 Reabilitação
126 Bibliografia
131 Sobre o autor
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DIREITO PENAL MILITAR
O Código Penal Militar
O Código Penal Militar brasileiro é o Decreto-Lei 1001, de 21 de outubro
de 1969, elaborado juntamente com seu irmão-gêmeo, o Código Penal comum
de 1969, o Decreto-Lei 1004, que foi revogado antes mesmo de entrar em vigor.

A criação em conjunto dos Códigos levou a comissão elaboradora a repetir a maioria


das regras de Direito Penal comum no Código Penal Militar, com a finalidade de manter a
unidade científica do Direito Penal brasileiro, sem a realização de um estudo mais aprofun-
dado sobre a compatibilidade de aplicação das regras de Direito Penal comum em um Códi-
go Penal Militar, o que pode gerar algumas perplexidades na sua interpretação e aplicação.

A mais marcante diferença entre o Código Penal Militar e o Código Penal comum,
a nosso ver, decorreu da reforma da Parte Geral do CP, através da Lei nº 7209/1984,
que realizou profundas alterações na sistemática penal e que não encontraram reflexos
na Lei Penal Militar, não acompanhando a evolução do Direito Penal moderno e rom-
pendo a tentativa de manter a unidade científica entre os Códigos Penais brasileiros¹.

¹ d’Aquino, Ivo. O novo Código Penal Militar, in Revista de Informação Legislativa do Senado Federal nº 27, 1970, p. 95/96.

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Princípio da legalidade
Art. 1º
Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.

O Princípio da Legalidade deve ser estudado à luz do Direito Constitucional e do


Direito Penal comum, na medida em que o artigo 1º do CPM possui a mesma redação do
artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição da República e do artigo 1º do Código Penal comum.

No entanto, dentro do estudo do Direito Penal Militar, há referências aos chamados
“bandos militares”.

“Bandos militares”, também chamados de “mandos militares”, são ordens emanadas


pelo comandante do teatro de operações ou zona militarmente ocupada, que constitui,
desde a antiguidade, importante fonte do Direito Penal Militar, em situações de guerra².

Importam, em alguns países, na transferência de determinadas funções estatais ao


comandante do teatro de operações militares ou de zona militarmente ocupada, inclusive
de algumas faculdades legislativas, como por exemplo: criação de tributos, o exercício do
poder de polícia, imposição de toque de recolher etc³.

O importante, no estudo do Direito Penal Militar brasileiro, é que não se admi-


te os “bandos militares”, para a criação de tipos penais militares ou transgressões
disciplinares militares, por importar em flagrante ofensa ao Princípio da Legali-
dade, mais especificamente ao artigo 5º, inciso LXI, da Constituição da República.

² ROMEIRO, Jorge Alberto. Curso de Direito Penal Militar. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 17/18.
³ BURBANO, Pablo Casado, Iniciación al Derecho Constitucional Militar. Madri: Editoriales de Derecho Reunidas, 1986. p. 41.

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Lei supressiva de incriminação,
retroatividade da lei penal
mais benigna e apuração da
maior benignidade
Lei Supressiva de Incriminação

Art. 2°
Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença condenatória irrecorrível, salvo
quanto aos efeitos de natureza civil.

Retroatividade de lei mais benigna


1º A lei posterior que, de qualquer outro
modo, favorece o agente, aplica-se retroati-
vamente, ainda quando já tenha sobrevindo
sentença condenatória irrecorrível.
Apuração da maior benignidade
2° Para se reconhecer qual a mais favorável,
a lei posterior e a anterior devem ser conside-
radas separadamente, cada qual no conjunto
de suas normas aplicáveis ao fato.
Medidas de segurança

O dispositivo, no caput, trata da abolitio criminis, ou seja, da lei posterior à conduta


típica, que deixa de considerá-la como crime, permanecendo, entretanto, os efeitos civis
da condenação, como, por exemplo, o dever de ressarcir o dano causado pela conduta.

O artigo 2º, § 1º, do CPM trata retroatividade da lei penal benigna. Nessa hipótese, a lei
penal militar posterior mais favorável ao agente, sempre vai retroagir para beneficiar o
réu, mesmo quando já houver o trânsito em julgado, cabendo ao juiz da execução a sua
aplicação.

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DIREITO PENAL MILITAR

No caso de leis penais militares sucessivas, para apuração da maior benignidade,


determina o artigo 2º do CPM, que devem ser consideradas separadamente, cada qual no
conjunto de suas normas aplicáveis ao fato.

Isso significa que as leis não podem ser mescladas, retirando-se, apenas, as nor-
mas mais favoráveis ao condenado, criando uma terceira norma. Nesse sentido ver o RHC
94802 RS – 1ª Turma. Julgamento: 10/02/2009. Rel. Min. Menezes Direito)

Assim, diante do caso concreto, deve o julgador avaliar qual das normas é a mais benéfica
ao condenado, persistindo a dúvida, é importante intimar o apenado para manifestar-se4

4
Nesse sentido, conferir o Acórdão do Superior Tribunal Militar proferido nos Embargos nº 0000053-49.2005.7.01.0401, que trata do
impacto da Lei nº 12.234/2010, no Direito Penal Militar.

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DIREITO PENAL MILITAR
Medidas de segurança
Art. 3º
As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao tempo da sentença, preva-
lecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execução.

O dispositivo merece uma releitura à luz do artigo 5º, XL, da Constituição da Re-
pública, na medida em que se for aplicado literalmente, pode conduzir a uma aplicação
retroativa de lei mais grave.

Parece-nos que o dispositivo, após uma filtragem constitucional, somente poderá


ser aplicado em benefício do condenado, sendo, no entanto, vedada a aplicação da lei
posterior mais grave na execução penal militar.

Para Jorge Alberto Romeiro5, Ione de Souza Cruz e Cláudio Amin Miguel6, o dispo-
sitivo não foi recepcionado pela Constituição da República.

5
ROMEIRO, Jorge Alberto. Curso de Direito Penal Militar. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 46/48.
6
CRUZ, Ione de Souza; MIGUEL, Cláudio Amin. Elementos de Direito Penal Militar. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 6.

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Tempo do Crime
Art. 5º
Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o do resultado.

Assim como no Direito Penal comum, a Lei Penal castrense adotou a Teoria da Ativi-
dade ou da Ação.

A adoção da Teoria da Atividade, em detrimento das demais (Teoria do Resultado


ou do Evento e Teoria Mista ou Unitária), enseja uma série de consequências de ordem
prática, como por exemplo, o momento da conduta delituosa para fins de: imputabilidade
(menor de 18 anos no momento da ação); prescrição (maior de 18 e menor de 21 anos) e a
própria condição de militar no momento da prática do crime militar. Nesse sentido:

HABEAS CORPUS. TEMPO DO CRIME. TEO-


RIA DA ATIVIDADE. MILITAR PROCESSADO NO
FORO CASTRENSE. CRIMES IMPROPRIAMENTE
MILITARES. LICENCIAMENTO DO SERVIÇO ATI-
VO A BEM DA DISCIPLINA. PERDA DA CONDI-
ÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. INEXISTÊNCIA. 1. O
Direito Penal pátrio adotou a Teoria da Ativida-
de, segundo a qual o tempo do crime é o mo-
mento da ação ou da omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado. “A determinação
do tempo em que se reputa praticado o deli-
to tem relevância jurídica não somente para
fixar a lei que o vai reger, mas também para
fixar a imputabilidade do sujeito... .” (DAMÁSIO
DE JESUS). 2. No caso concreto, o ora Paciente

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DIREITO PENAL MILITAR
responde a dois processos no Foro Castrense
por ter, enquanto militar da ativa, cometido cri-
mes impropriamente militares (artigos 264, I, e
315, ambos do CPM). 3. Doutrinariamente, são
crimes impropriamente militares aqueles que,
embora objetivamente militares, podem ser
cometidos por militares ou civis. 4. Portanto,
na hipótese dos autos, não tem qualquer re-
levância penal e/ou processual o fato de o ora
Paciente ter sido licenciado do serviço ativo da
Marinha, a bem da disciplina, passando, em
conseqüência, à situação de civil. Tal circuns-
tância em nada modifica a condição de proce-
dibilidade que o ora Paciente tinha ao tempo
da consumação dos crimes pelos quais está
sendo processado perante a Justiça Militar da
União. Conhecido do pedido e denegada a Or-
dem, por falta de amparo legal. Decisão unâ-
nime. (STM – HC nº 2002.01.033717-2 UF: AM.
Decisão: 25/04/2002. Rel. Min. Sérgio Xavier
Ferolla)

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DIREITO PENAL MILITAR

HABEAS CORPUS. MILITAR EXCLUÍDO DO SER-


VIÇO ATIVO. CRIME DE ESTELIONATO. TR NSITO
EM JULGADO. INCIDENTE DE EXECUÇÃO. CRIME
DE DESACATO. CRIME DE DESERÇÃO. 1. Tratan-
do-se de processo cuja condenação transitou
em julgado (crime de estelionato), competente
para apreciar possível incidente de execução,
é o Juiz da Execução, a teor do art. 66, inciso
III, alínea “f”, da Lei nº 7.210/84. 2. A exclusão
do militar do Serviço Ativo das Forças Armadas
não impede o normal andamento de processo
relativo ao crime de desacato a superior, come-
tido quando detinha a condição de militar. Isto,
porque, o Direito Penal Pátrio adotou a Teoria
da Atividade, segundo a qual o tempo do cri-
me é o momento da ação ou da omissão, ainda
que outro seja o momento do resultado. 3. No
caso concreto, a exclusão do ora Paciente do
Serviço Ativo da Marinha impede que o mes-
mo continue a responder a processo pelo cri-
me de deserção, uma vez que a qualidade de
militar é condição objetiva de procedibilidade,
tanto para a instauração da ação penal, como
para o prosseguimento da relação processual.
Precedentes da Corte. Conhecido parcialmente
do pedido e concedida a Ordem, tão-somen-
te para trancar a ação penal relativa ao pro-
cesso a que responde o Paciente pelo crime
de deserção. Decisão unânime. (STM – HC nº
2002.01.033773-3 UF: AM. Decisão 22/10/2002.
Rel. Min. Sérgio Xavier Ferolla)

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Lugar do Crime
Art. 6º
Considera-se praticado o fato, no lugar em que se desenvolveu a atividade crimino-
sa, no todo ou em parte, e ainda que sob forma de participação, bem como onde se produ-
ziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado
no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida.

Quanto ao lugar do crime, nossa Lei Penal Militar adotou um sistema misto. Nos
crimes comissivos, o local do crime é tanto o lugar da ação, quanto o lugar do resultado
(Teoria da Ubiqüidade). Nos crimes omissivos, considera-se lugar do crime o local onde
deveria realizar-se a ação omitida (Teoria da Atividade). Já o CP comum adotou somente a
Teoria da Ubiqüidade.

A questão é aparentemente simples, no entanto, pode trazer alguma dificuldade


na fixação da competência do Juízo Militar para processar e julgar o crime omissivo, que é
sempre do local onde deveria ser praticada a ação omitida, diferentemente do que ocorre
no Direito Penal comum.

Para melhor compreensão da questão, convém realizar uma breve análise compara-
tiva entre os Códigos. Vejamos:

Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar em que se desen-


CÓDIGO volveu a atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que
PENAL sob forma de participação, bem como onde se produziu ou deve-
ria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato conside-
MILITAR ra-se praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida.

Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu CÓDIGO


a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se pro- PENAL
duziu ou deveria produzir-se o resultado.
COMUM

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DIREITO PENAL MILITAR

É importante ressaltar que o Superior Tribunal Militar diferencia o crime co-


missivo, do crime omissivo, para fins de definição do local do crime. Observe:

Denúncia. Lugar do Crime Omissivo. Compe-


tência. A regra especial adotada no CPM, art.
6º, in fine, harmoniza-se com a estabelecida no
art. 88, I, “a”, do CPPM. O legislador penal mili-
tar considerou o lugar do crime omissivo aque-
le “em que deveria realizar-se a ação omitida e
não aquele em que o agente se encontra, sen-
do, portanto, irrelevante o fato de o agente en-
contrar-se fora ou dentro do território nacional.
Na hipótese dos autos, tendo o militar deixado
de comparecer ao local designado, Comando
de Pessoal de Fuzileiros Navais, sediado na ci-
dade do Rio de Janeiro/RJ, decorrido o prazo de
graça, inserto no art. 188, I, do CPM, compete à
2ª Auditoria da 1ª CJM, órgão para o qual foi dis-
tribuído o Processo, apreciar e julgar a causa.
Recurso provido, para cassar a Decisão hostili-
zada, devendo a Ação Penal prosseguir perante
o citado Juízo. Decisão unânime. (STM – RC nº
1998.01.006509-0 UF: RJ. Decisão: 10/11/1998.
Rel. Min. Domingos Alfredo Silva)

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DIREITO PENAL MILITAR
Territorialidade
e Extraterritorialidade
Art. 7º
Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte no território nacional, ou fora dele,
ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça
estrangeira.

Território nacional por extensão

1° Para os efeitos da lei penal militar consi-


deram-se como extensão do território na-
cional as aeronaves e os navios brasileiros,
onde quer que se encontrem, sob comando
militar ou militarmente utilizados ou ocu-
pados por ordem legal de autoridade com-
petente, ainda que de propriedade privada.

Ampliação a aeronaves ou navios estrangeiros

2º É também aplicável a lei penal militar ao


crime praticado a bordo de aeronaves ou
navios estrangeiros, desde que em lugar
sujeito à administração militar, e o crime
atente contra as instituições militares.

Conceito de navio

3º Para efeito da aplicação deste Código,


considera-se navio toda embarcação sob
comando militar.

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DIREITO PENAL MILITAR

A Lei Penal Militar aplica-se em todo o território nacional, no território nacional por
extensão e nos crimes militares praticados em território estrangeiro.
Ao contrário do Direito Penal comum, onde a territorialidade é a regra e a extra-
territorialidade exceção, no Direito Penal Militar a territorialidade e a extraterritorialidade
são regras.
Pouco importa onde ocorreu o crime militar. Se a conduta ofender um dos bens ju-
rídicos tutelados em nosso Código Penal Militar, aplicar-se-á a Lei Penal Militar brasileira.

Esse entendimento decorre da interpretação do caput do artigo 7º do CPM, ao uti-


lizar a expressão: “Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e
regras de direito internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte, no território
nacional, ou fora dele...”. Nesse sentido podemos citar o caso dos crimes militares come-
tidos por integrantes do contingente brasileiro durante as missões de paz em que o Brasil
faça parte:

APELAÇÃO. FURTO. TIMOR-LESTE. 1. Ex-Cb do


Exército acusado do furto de máquina digi-
tal pertencente a Tenente, quando em mis-
são no Timor-Leste. 2. Preliminar de nulidade
por deficiência de defesa rejeitada à unani-
midade, haja vista que essa não se vislum-
brou no presente caso concreto. Transcorreu
regularmente a instrução, sendo oportuni-
zada a ampla defesa e o contraditório, que
foram exercidos satisfatoriamente pela de-
fesa dativa. 3. Preliminar de extinção do ad-
vento da prescrição superveniente acolhida,
por maioria, visto que decorridos mais de 02
(dois) dias de detenção e o julgamento do
recurso pelo Superior Tribunal Militar. (STM
- Ap 2006.01.050446-0 UF: DF. Julgamento:
01/10/2008. Rel. Min. Marcos Augusto Leal
de Azevedo)

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DIREITO PENAL MILITAR
Se observarmos com mais cuidado o artigo 7º, § 1º, do CPM, constatare-
mos que haverá aplicação da Lei Penal Militar brasileira se o navio ou aero-
nave forem militares, onde quer que se encontrem, ou ainda, nos navios e
aeronaves civis, desde que estejam sob o comando de autoridade militar.
nave forem militares, onde quer que se encontrem, ou ainda, nos navios e
aeronaves civis, desde que estejam sob o comando de autoridade militar.

Nos crimes militares cometidos a bordo de navios ou aeronaves estrangeiros, so-


mente haverá aplicação da Lei Penal Militar brasileira caso estes se encontrem em local
sujeito à administração militar brasileira e o crime venha a atentar contra as instituições
militares brasileiras (artigo 7º, § 2º, do CPM).
O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de 12 milhas marítimas
de largura, medidas da baixa-mar do litoral continental, nos termos do artigo 1º da Lei
8617/93.

É importante não confundir o mar territorial com a zona de exploração eco-


nômica exclusiva, correspondente à faixa litorânea de 200 milhas marítimas.

No caso de extraterritorialidade, a Lei Penal Militar pode ser afastada por convênios, trata-
dos e regras de Direito Internacional, de forma que, mesmo havendo perfeita adequação
típica da conduta ao CPM, restará afastada a competência da Justiça Militar da União, para
apreciar o caso.
Em virtude da regra de Direito Internacional, se a competência para processar
e julgar a conduta for atribuída ao Brasil, será competente a Justiça Federal, nos termos do
artigo 109, inciso V, da Constituição da República.
Assim, em relação à aplicação da Lei Penal Militar, vige o princípio da territo-
rialidade e a extraterritorialidade como regra, com exceção das regras de Direito Interna-
cional, em que o Brasil seja signatário.

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DIREITO PENAL MILITAR

Crimes Militares
em tempo de paz
Antes de adentrar no estudo dos crimes militares em tempo de paz,
é importante destacar que existe grande debate doutrinário sobre o
critério que deve ser adotado para a caracterização do crime militar.

O legislador brasileiro, sem adentrar na controvérsia, adotou o critério ratione legis,


indicando as hipóteses taxativas que caracterizam o crime militar, todas elencadas na Par-
te Especial c/c o artigo 9º, do CPM.
Os crimes militares em tempo de paz estão tipificados nos artigos 136 a 354, situa-
dos no Livro I, da Parte Especial do CPM.
Para aferir a ocorrência de crime militar, deve o intérprete buscar no CPM um tipo
penal militar e tentar realizar a adequação da conduta.
Todavia, não sendo possível a adequação da conduta em um dos tipos penais milita-
res, previstos, no CPM, não necessariamente, ficará afastada a ocorrência de crime militar,
uma vez que, a L. 13.491/17 ampliou o rol de crimes militares impróprios, praticados por
militares da ativa, de forma a englobar delitos, do CP e da legislação comum, como milita-
res preenchidos os requisitos do art. 9º, II, CPM e dos §§ 1º e 2º desse mesmo artigo.

Alguns exemplos de crimes, que não existiam na Lei Penal


Militar, mas, com o advento da L 13.491/17, tornaram-se cri-
mes impropriamente militares:
- infanticídio (artigo 123 do CP),
- perigo de contágio venéreo (artigo 130 do CP),
- furto de coisa comum (artigo 156 do CP),
- porte ilegal de arma de uso permitido (artigo 14 da Lei nº
10826/2003) etc.

Caso a conduta encontre adequação típica no CPM, ou na Legislação Penal, se faz


necessária uma nova adequação, agora em uma das hipóteses no artigo 9º.
A correta interpretação e aplicação do artigo 9º do CPM é o ponto central do estudo
do Direito Penal Militar, pois define o crime militar e a própria competência da Justiça Cas-
trense. Com o advento da L. 13.491/17, o antigo § ún. do art.9º foi transformado em
§1º e, ainda, foi acrescentado o §2º.

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DIREITO PENAL MILITAR
O artigo 9º do CPM é dividido em três incisos. O inciso I, trata dos crimes que pos-
suem uma tipicidade diferente ou que não foram tratados na Lei Penal Comum.

Os crimes que não tratados na Lei Penal comum são os tipos


penais que só existem no CPM, como por exemplo:

- a recusa de obediência (artigo 163),


- insubmissão (artigo 183),
- deserção (artigo 187),
- omissão de eficiência da força (artigo 198),
- embriaguez em serviço (artigo 202),
- dormir em serviço (artigo 203) entre outros.

Em regra, tanto os crimes definidos de modo diverso na Lei Penal comum, quanto os
crimes somente previstos no CPM, podem ser praticados por qualquer pessoa.
Mas é necessário atentar para a parte final do inciso I, do artigo 9º, quando emprega
a expressão “salvo disposição especial”, que deve ser tratada em confronto com a expres-
são “qualquer que seja o agente”.
Esta expressão é na verdade alguma condição específica exigida do agente para a
caracterização do tipo previsto no CPM, como por exemplo: a deserção, que exige a condi-
ção de militar (artigo 187), omissão de eficiência da força, que exige a condição de coman-
dante (artigo 198) e a insubmissão, que exige a condição de civil e convocado (artigo 183)
etc.

É importante ressaltar que as hipóteses do artigo 9º, inciso I, do CPM, não fa-
zem qualquer alusão quanto ao local, tempo, vítima, agente ou qualquer outra
circunstância, para a caracterização do crime militar, diferentemente dos seus
incisos II, III e do §2º que são extremamente casuísticos, exigindo uma combina-
ção de circunstâncias para a sua caracterização.

Antes de adentrar no estudo do artigo 9º, incisos II e III, do CPM, é importante que
desconsideremos a figura do “assemelhado”, que não existe no atual ordenamento jurídi-
co.

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DIREITO PENAL MILITAR

O inciso II, do artigo 9º, trata dos crimes previstos no CPM e os previstos na Legisla-
ção Penal, quando cometidos por militares da ativa, como o homicídio, a lesão corporal, o
furto, o roubo etc. Observe a comparativo:

Art. 205.
CÓDIGO Matar alguém
PENAL Art. 209.
Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem
MILITAR Art. 240.
Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel

Art. 121.
Matar alguém CÓDIGO
Art. 129.
Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem
PENAL
Art. 155. COMUM
Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel

Eis a redação do artigo 9º, inciso II, do CPM:

Art. 9º
Consideram-se crimes militares em tempo de paz:

II - os crimes previstos neste Código, embora


também o sejam com igual definição na lei pe-
nal comum, quando praticados (Redação dada
pela Lei nº 13.491, de 2017):
a) por militar em situação de atividade ou asse-
melhado, contra militar na mesma situação ou
assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou asse-
melhado, em lugar sujeito à administração mi-
litar, contra militar da reserva, ou reformado,
ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão
da função, em comissão de natureza militar, ou
em formatura, ainda que fora do lugar sujeito
à administração militar contra militar da reser-
va, ou reformado, ou civil; (Redação da Lei nº

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DIREITO PENAL MILITAR
9.299, de 8.8.1996)
d) por militar durante o período de manobras
ou exercício, contra militar da reserva, ou re-
formado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou as-
semelhado, contra o patrimônio sob a admi-
nistração militar, ou a ordem administrativa
militar;
f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, de 8 de agosto
de 1996)

É importantíssimo destacar que em todas as hipóteses do artigo 9º, inciso II, do


CPM, o agente ativo da conduta será sempre um militar da ativa.
Militar da ativa é a expressão utilizada pelo legislador para referir-se ao militar
que está em atividade, que está servindo em uma das Forças Armadas, nas
Forças Militares dos Estados Membros ou do Distrito Federal, é o militar que
cumpre expediente todos os dias nas organizações militares e que está pronto
para o combate ou para o cumprimento de suas funções constitucionais.

A alínea “a”, do inciso II, do artigo 9º, do CPM, trata das hipóteses de crimes com
idêntica redação tanto no CPM e n legislação penal, onde, tanto o agente quanto a vítima
são militares em situação de atividade, ou seja, são militares da ativa, que estão servindo.

Exemplo:
Furto, lesões corporais, homicídio etc, praticados por
um militar da ativa contra outro militar da ativa.

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DIREITO PENAL MILITAR

Observe que nessa situação, em que o agente e a vítima por serem militares da
ativa, independentemente do tempo, do local, e do conhecimento da condição de militar
entre eles, haverá crime militar. Nesse sentido:

CONSTITUCIONAL. PENAL MILITAR. CRIME MI-


LITAR. JUSTIÇA MILITAR: COMPETÊNCIA. C.F.,
ARTIGO 124. CPM, ART. 9º, II, “A”. I. Crime pra-
ticado por militares, ambos da ativa, contra
militar na mesma situação, vale dizer, na ativa:
mesmo não estando em serviço os militares
acusados, o crime é militar, na forma do dis-
posto no art. 9º, II, “a”, do CPM. Competência da
Justiça Militar. C.F., art. 124. II. Precedentes do
STF: RE 122.706 - RJ, RTJ 137/418; HC 69.682 -
RS, RTJ 144/580. III. - Conflito conhecido, decla-
rando-se a competência da Justiça Militar Fede-
ral e, em consequência, do S.T.M. para julgar a
apelação. (STF – Conflito de Jurisdição 7021 RJ.
Pleno. Julgamento: 26/04/1995. Rel Min. Carlos
Velloso)

DIREITO CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCES-


SUAL PENAL MILITAR. JURISDIÇÃO. COMPE-
TÊNCIA. CRIME MILITAR. 1. Considera-se crime
militar o doloso contra a vida, praticado por mi-
litar em situação de atividade, contra militar, na
mesma situação, ainda que fora do recinto da
administração militar, mesmo por razões es-
tranhas ao serviço. 2. Por isso mesmo, compe-
te à Justiça Militar - e não à Comum - o respec-
tivo processo e julgamento. 3. Interpretação do
art. 9°, II, “a”, do Código Penal Militar. 4. Conflito
conhecido pelo S.T.F., já que envolve Tribunais
Superiores (o Superior Tribunal de Justiça e
o Superior Tribunal Militar) (art. 102, I, “o”, da
C.F.) e julgado procedente, com a declaração
de competência da Justiça Militar, para pros-
seguir nos demais atos do processo. 5. Prece-
dentes. (STF - CC 7071 / RJ. Pleno. Julgamento:
05/09/2002. Rel. Min. Sydney Sanches)

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DIREITO PENAL MILITAR
Ainda sobre o artigo 9º, inciso II, alínea “a”, do CPM, é importante destacar que
tanto o agente quanto a vítima da conduta devem ser militares das Forças Ar-
madas em situação de atividade, ou ainda, que ambos sejam militares dos Esta-
dos e do Distrito Federal.
Se o agente for militar das Forças Armadas em situação de atividade e a vítima
for militar dos Estados e do Distrito Federal, ou vice-versa, não se caracterizará
o crime militar na hipótese do artigo 9º, inciso II, alínea “a”, do CPM, conforme já
se manifestou o Supremo Tribunal Federal ao apreciar o CC 7051 / SP. Tribunal
Pleno. Julgamento: 17/04/1997. Rel. Min. Maurício Corrêa)

Embora o crime praticado por militar das Forças Armadas, em situação de ativida-
de, contra militar dos Estados ou do Distrito Federal, na mesma situação, não importe em
crime militar na forma do artigo 9º, II, alínea “a”, do CPM, nada impede que reste caracte-
rizado o crime militar com base em outra alínea deste dispositivo, como no caso de lesões
corporais praticadas por militar do Exército da ativa, em local sob a administração militar
das Forças Armadas, contra um policial militar em atividade, caracterizando o crime militar
na forma do artigo 209 c/c 9º, inciso II, alínea “b”, do CPM.

A alínea “b”, do inciso II, do artigo 9º, do CPM, trata dos crimes comuns aos dois
códigos penais, em que o militar da ativa pratica crime contra civil, militar da reserva ou
reformado, em local sujeito à administração militar. É o roubo, o furto, as lesões corporais,
o homicídio culposo etc, praticados por militar da ativa contra civil, militar da reserva ou
reformado, em local sujeito à administração militar.

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DIREITO PENAL MILITAR

É importante ter em mente que a submissão do cidadão à Justiça Militar, mes-


mo o militar, é excepcional, de forma que as expressões utilizadas no artigo
9º devem ser interpretadas restritivamente. Assim, o importante deste inciso
é perceber que o “local sujeito à administração militar”, não se confunde com
“local de propriedade militar”, ou melhor, de propriedade da União, afetado à
administração militar.
Um exemplo de local que não se caracteriza como sob a administração militar
seriam as residências localizadas nas vilas militares. Também não caracterizam
“local sob a administração militar” os prédios ocupados pelos Órgãos da Justiça
Militar da União, do Ministério Público Militar, dos Clubes Militares (que geral-
mente são associações civis), ruas adjacentes aos quartéis das Forças Armadas
etc.

A alínea “c” cuida das hipóteses em que o militar pratica o crime quando se encontra
de serviço ou atuando em razão das funções ou em comissão de natureza militar, ainda
que fora do lugar sujeito à administração militar contra civil, militar da reserva ou reforma-
do.
Cuida a alínea “d” das situações em que o crime é praticado por militar em manobras
ou exercícios contra civil, militar da reserva e reformado.
A alínea “e” trata das hipóteses de crimes cometidos por militar da ativa, contra o pa-
trimônio sob a administração ou a ordem administrativa militar. Nessa hipótese, não é ne-
cessário que o patrimônio seja da União afetado às Forças Armadas, basta que esteja sob
a administração militar, seja de propriedade pública ou privada, como ocorre nos valores
da União, sob a responsabilidade das Forças Armadas ou que viole a ordem administrativa
militar.
Por fim, a alínea “f”, possuía a seguinte redação: por militar em situação de atividade
ou assemelhado que, embora não estando em serviço, use armamento de propriedade
militar ou qualquer material bélico, sob guarda, fiscalização ou administração militar, para
a prática de ato ilegal.
Era a hipótese em que o crime se tornava militar por ter sido praticado com arma
militar, que foi revogado pela Lei nº 9299/1996.
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DIREITO PENAL MILITAR
Assim, o emprego de armamento das Forças Armadas, das Forças Militares dos Esta-
dos e do Distrito Federal, para o cometimento da conduta delituosa, por si só, não possui o
condão de transformá-la em crime militar. O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou
pela inexistência de crime militar, conforme o seguinte julgado:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRI-


ME DE LATROCÍNIO. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA
COMUM ESTADUAL. CRIME DE LATROCÍNIO
PRATICADO POR POLICIAL MILITAR, DE FOL-
GA, DURANTE O COMETIMENTO DE UM ROU-
BO A UMA AGÊNCIA BANCÁRIA, CULMINAN-
DO COM A MORTE DE UM POLICIAL MILITAR,
EM SERVIÇO, QUE FAZIA PATRULHAMENTO
DO LOCAL. PRECEDENTES DO STJ. 1. O simples
fato de o agente do delito ser policial militar
não atrai a competência da justiça castrense,
pois, como restou evidenciado na instância
ordinária, estava fora do serviço. Nesse par-
ticular, encontram-se, portanto, ausentes os
requisitos do art. 9.º, do Código Penal Mili-
tar. 2. A circunstância de ter o co-réu, policial
militar, utilizado revólver de propriedade da
corporação militar para matar a vítima e, as-
sim, assegurar o sucesso do delito de roubo,
tornou-se irrelevante em razão da vigência
da Lei n.º 9.299/96, que revogou o disposto
no art. 9.º, inc. II, alínea “f”, do Código Penal
Militar. 3. Embora a vítima do crime de latro-
cínio tenha sido policial militar em serviço,
não houve agressão às funções ou interesses
da instituição militar, pois ele estava no local,
para garantir a ordem pública, realizando pa-
trulhamento ostensivo, função tipicamente
de policial civil. Nesse contexto, incide sobre
a espécie o enunciado da Súmula n.º 297, do
Supremo Tribunal Federal. 4. Ordem denega-
da. (STJ – HC 59489 / MG. 5ª Turma. Julgamen-
to: 22/08/2006. Rel. Min. Laurita Vaz)

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DIREITO PENAL MILITAR

O inciso III, por sua vez, trata da hipótese em que o agente ativo da conduta delituo-
sa é civil, militar da reserva ou militar reformado. Eis o dispositivo legal:

III - os crimes praticados por militar da reser-


va, ou reformado, ou por civil, contra as ins-
tituições militares, considerando-se como tais
não só os compreendidos no inciso I, como os
do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração
militar, ou contra a ordem administrativa mi-
litar;
b) em lugar sujeito à administração militar
contra militar em situação de atividade ou as-
semelhado, ou contra funcionário de Ministé-
rio militar ou da Justiça Militar, no exercício de
função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o
período de prontidão, vigilância, observação,
exploração, exercício, acampamento, acanto-
namento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à adminis-
tração militar, contra militar em função de na-
tureza militar, ou no desempenho de serviço
de vigilância, garantia e preservação da ordem
pública, administrativa ou judiciária, quando
legalmente requisitado para aquêle fim, ou
em obediência a determinação legal superior.

O inciso III, do artigo 9º, do CPM, elenca as hipóteses em que se caracteriza o crime
militar em tempo de paz, além dos incisos I e II, quando a conduta é praticada, dolosamen-
te, contra as Instituições Militares ou os bens protegidos pela Lei Penal Castrense.
A alínea “a” é a hipótese em que o civil, militar da reserva e reformado realiza uma
conduta típica prevista no CPM, contra o patrimônio sob a administração militar ou contra
a ordem administrativa militar.
Mais uma vez, é importante destacar que basta que o patrimônio esteja sob a
administração militar, não sendo necessário que o patrimônio esteja afetado às
Forças Armadas.

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DIREITO PENAL MILITAR
Um exemplo dessa hipótese é o “estelionato previdenciário” (ar-
tigo 251 do CPM) praticado por pessoas ligadas ao pensionista e
que, após o seu óbito, continuam recebendo os valores deposita-
dos a título de pensão militar, mantendo a administração militar
em erro, como demonstram os seguintes precedentes:

Sobre a ocorrência de crime militar e a competência da Justiça Militar da União para


processar e julgar civis que cometam crimes contra o patrimônio sob administração militar,
um recente julgado do Supremo Tribunal Federal entendeu que não basta que a conduta
dolosa do paisano seja direcionada contra os bens sob administração militar, é necessário,
ainda, a intenção de ofender os bens tipicamente associados à função de natureza militar.
No caso da alínea “b”, o civil, militar da reserva e reformado pratica uma conduta
definida como crime militar, em local sujeito à Administração Militar, contra um militar da
ativa, ou ainda, contra servidor civil das Forças Armadas ou contra servidor da Justiça Mili-
tar, no exercício de suas funções inerentes ao cargo.
A hipótese da alínea “c” trata dos crimes praticados por civil, militar da reserva ou re-
formado, contra militar da ativa em formatura, durante o período de prontidão, vigilância,
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras, confor-
me o seguinte julgado:
Julgamento de civis pela justiça militar. Com-
petência. A justiça militar não é competente
para processar e julgar civis que ofendem a
integridade física de militar, se este não se
encontrava em local sujeito a administração
militar ou em função de natureza militar. In-
teligência do artigo nono, inciso III, alíneas ‘b’,
‘c’ e ‘d’, do CPM. Assim sendo, constitui ilegali-
dade a instauração de inquérito policial mili-
tar, contra civis, fora das hipóteses previstas
na lei substantiva castrense, quando já existe
em andamento inquérito policial instaurado
para apurar os mesmos fatos. Conhecido do
pedido e concedida a ordem para trancar o
IPM instaurado contra os pacientes. Decisão
unanime. (STM – HC 1988.01.032538-7 UF:
DF. Julgamento: 14/12/1988. Rel. Min. Alzir
Benjamin Chaloub)

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DIREITO PENAL MILITAR

Por fim, a alínea “d” trata das hipóteses dos crimes praticados por civis, militares da
reserva e reformados, ainda que fora de local sujeito à Administração Militar, contra militar
em função de natureza militar ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e pre-
servação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitadas
para aquele fim, ou em obediência a determinação superior.
Esta última alínea tem gerado diversas manifestações do Supremo Tribunal
Federal, que interpreta o dispositivo de forma restritiva. A Suprema Corte adotou o en-
tendimento de que para caracterizar a hipótese da alínea “d”, o militar deve estar em suas
funções típicas ou nas hipóteses constitucionais de emprego das Forças Armadas. Nesse
sentido destacamos os seguintes julgados:

HABEAS CORPUS. PACIENTE ACUSADO DE


DESACATO E DESOBEDIÊNCIA PRATICADOS
CONTRA SOLDADO DO EXÉRCITO EM SERVI-
ÇO EXTERNO DE POLICIAMENTO DE TR NSITO,
NAS PROXIMIDADES DO PALÁCIO DUQUE DE
CAXIAS, NO RIO DE JANEIRO. Atividade que não
pode ser considerada função de natureza mili-
tar, para efeito de caracterização de crime mi-
litar, como previsto no art. 9º, III, d, do Código
Penal Militar. Competência da Justiça Comum,
para onde deverá ser encaminhado o proces-
so criminal. Habeas corpus deferido. (STF – HC
74154 / RJ. Julgamento: 13/05/1997. Rel. Min.
Ilmar Galvão)

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DIREITO PENAL MILITAR
Crimes dolosos
contra a vida
Ainda referente ao artigo 9º do CPM, é necessário tecer alguns comentários sobre os
seus parágrafos. Principalmente, após o advento da L13.491/17.

Art. 9º§1º
Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

§ 1 o   Os crimes de que trata este artigo,


quando dolosos contra a vida e cometidos
por militares contra civil, serão da competên-
cia do Tribunal do Júri. (Redação dada pela
Lei nº 13.491, de 2017).

O homicídio praticado por militar contra civil ainda continua sendo um tema polêmi-
co. Antes, era o § único do art.9º. Contudo, a L. 13.491/17 separou o assunto em dois pará-
grafos e o § único do art.9º foi transformado em §1º que, basicamente, reproduz a redação
do antigo parágrafo único.
Ou seja, o § 1º dispõe que, se, os militares praticarem crime doloso contra a vida de
civil, que se enquadrem no art.9º, esses serão julgados pelo Tribunal do Juri.
A redação original foi muito criticada pelos doutrinadores que afirmavam que a competên-
cia dada ao Tribunal do Júri violaria a competência da Justiça Federal, pois, nela, não havia
Tribunal do Júri. O STF não apreciou o dilema e, posteriormente, surgiu a EC nº 45/04 que
separou a Justiça Militar, no art. 124 e, no art. 125, §4º, da CRFB/88 em Justiça Militar da
União e do Estado respectivamente.
Dando dessa forma, a entender que, à época, o então parágrafo único só seria apli-
cável à Justiça Militar dos Estados.
Em 2011 foi feita uma ressalva quanto ao tiro de “destruição”, que trouxe muita
polêmica entre STF e STM quanto à competência para julgamento. O STF entendia ser de

7
LOB O, Célio. Direito Processual Penal Militar. São Paulo: Editora Método, 2009. p. 59.
8
ASSIS ASSIS, Jorge César de. Comentários ao Código Penal Militar. 5. ed. Curitiba: Juruá, 2004. p. 38.
9
FREYESLEBEN, Márcio Luís Chila. A prisão provisória no CPPM. Belo Horizonte: Del Rey, 1997. p. 225/233.
10
NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de Direito Penal Militar. v. 1. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 145.

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DIREITO PENAL MILITAR

competência do Tribunal do Júri, ao passo que, o STM entendia que, se, o agente fosse mi-
litar federal, deveria ser da JMU.
A Lei nº 13.491/17 surgiu trazendo novo parâmetro sobre a competência da JME e
da JMU. Na verdade, suas normas, realmente, têm um forte caráter processual, como bem
critica o Renato Brasileiro.
Deixando de lado a polêmica, podemos concluir que a norma do atual §1º do art. 9º
do CPM serve de aplicação, apenas, para os casos de crimes dolosos contra a vida de civil
praticados por militar estadual, conforme o que já dispunha o art. 125, §4º, da CRFB/88, ou
seja, de competência do Tribunal do Júri.

Observe:
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição.
...
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos
crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares,
ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente
decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Reda-
ção dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).
Por outro lado, se o agente do homicídio contra o civil for militar federal, o julgamen-
to deverá ocorrer necessariamente na Justiça Militar da União, e não em Tribunal do Júri de
âmbito estadual.
Observe o disposto no art.124 da Constituição da República:
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
A lei referida, no artigo anterior é, extamente, a L.13.491/17.
E sse é o entendimento trazido pelo §2º do art. 9º do CPM. Entretanto, sempre deve
ser analisado o contexto em que ocorreu o crime, pois o militar deve estar em serviço não
cabendo, portanto, falar de atração de competência para a Justiça Militar se, o agente for
militar, mas tiver praticado o homicídio fora de serviço, já que, nesse caso, será julgado
pelo Tribunal do Júri.

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DIREITO PENAL MILITAR
Vamos ver o que diz o §2º do art.9º:
Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
...
§ 2 o  Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União,
se praticados no contexto: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da
República ou pelo Ministro de Estado da Defesa; (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mes-
mo que não beligerante; ou (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da
ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art.
142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais: (Incluído pela Lei nº
13.491, de 2017)
a) Lei n o  7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáuti-
ca; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
b)  Lei Complementar n o   97, de 9 de junho de 1999; (Incluída pela Lei nº
13.491, de 2017)
c) Decreto-Lei n o  1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal
Militar; e  (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
d) Lei n o  4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. (Incluída pela Lei nº
13.491, de 2017).
Observa-se que o §2º traz situações mais específicas. A primeira fala dos militares
que estão cumprindo atribuições estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Mi-
nistro da Defesa. A segunda trata de situação de defesa da instituição ou de missão militar
em medida não beligerante, servindo como exemplo o caso de o soldado do posto atirar
contra civil que não obedeceu à proibição de entrada. A terceira situação menciona as ope-
rações militares de paz, garantia da lei e da ordem, incluindo situações de aplicação da Lei
do “Abate” (Tiro de Detenção), bem como as do art. 142 da CRFB/88 e LC nº 97/99, além do
CPP militar e do Código Eleitoral.

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DIREITO PENAL MILITAR

Os demais crimes dolosos contra a vida continuam sendo processados e julgados


pela Justiça Militar da União. Ou seja, os crimes dolosos praticados por militar da ativa
contra a vida de militar na mesma situação e nos casos em que o civil, o militar da reserva
e o reformado, praticam o crime doloso contra a vida de militar da ativa, nas hipóteses do
artigo 9º, do CPM. Nesse sentido:
DIREITO CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCES-
SUAL PENAL MILITAR. JURISDIÇÃO. COMPE-
TÊNCIA. CRIME MILITAR. 1. Considera-se crime
militar o doloso contra a vida, praticado por mi-
litar em situação de atividade, contra militar, na
mesma situação, ainda que fora do recinto da
administração militar, mesmo por razões es-
tranhas ao serviço. 2. Por isso mesmo, compe-
te à Justiça Militar - e não à Comum - o respec-
tivo processo e julgamento. 3. Interpretação do
art. 9°, II, “a”, do Código Penal Militar. 4. Conflito
conhecido pelo S.T.F., já que envolve Tribunais
Superiores (o Superior Tribunal de Justiça e
o Superior Tribunal Militar) (art. 102, I, “o”, da
C.F.) e julgado procedente, com a declaração de
competência da Justiça Militar, para prosseguir
nos demais atos do processo. 5. Precedentes.
(STF - CC 7071 / RJ. Tribunal Pleno.  Julgamento: 
05/09/2002. Rel. Min. Sydney Sanches)

HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL


MILITAR. PROCESSUAL PENAL MILITAR. CRI-
ME DOLOSO PRATICADO POR CIVIL CONTRA A
VIDA DE MILITAR DA AERONÁUTICA EM SERVI-
ÇO: COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR PARA
PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DA AÇÃO
PENAL: ART. 9º, INC. III, ALÍNEA D, DO CÓDIGO
PENAL MILITAR: CONSTITUCIONALIDADE. PRE-
CEDENTES. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é
no sentido de ser constitucional o julgamento
dos crimes dolosos contra a vida de militar em
serviço pela justiça castrense, sem a submissão
destes crimes ao Tribunal do Júri, nos termos
do o art. 9º, inc. III, “d”, do Código Penal Militar.
2. Habeas corpus denegado. (STF - HC 91003
/ BA. 1ª Turma. Julgamento:  22/05/2007. Rel.
Min. Cármen Lúcia) 

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DIREITO PENAL MILITAR
Uma última questão, ainda sobre o parágrafo segundo do artigo 9º do CPM, é a
inovação trazida pela Lei nº 12.432/2011, que mantém a competência da Justiça Militar
da União para processar e julgar a conduta típica praticada por militar contra a vida de
civil, no contexto de ação militar realizada na forma do artigo 303 do Código Brasileiro de
Aeronáutica (Lei nº 7565/1986), que trata da hipótese do tiro de abate de aeronaves clan-
destinas. Para melhor compreensão da questão, convém transcrever os dispositivos:

Art. 9º
Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
.
§ 2 o   Os crimes de que trata este artigo,
quando dolosos contra a vida e cometidos
por militares das Forças Armadas contra ci-
vil, serão da competência da Justiça Militar
da União, se praticados no contexto: (Inclu-
ído pela Lei nº 13.491, de 2017)
...
III – de atividade de natureza militar, de
operação de paz, de garantia da lei e da or-
dem.
Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986.

Art. 303.
A aeronave poderá ser detida por autoridades aeronáuticas, fazendárias ou da Po-
lícia Federal, nos seguintes casos:

I - se voar no espaço aéreo brasileiro com


infração das convenções ou atos interna-
cionais, ou das autorizações para tal fim;
II - se, entrando no espaço aéreo brasileiro,
desrespeitar a obrigatoriedade de pouso
em aeroporto internacional;
III - para exame dos certificados e outros
documentos indispensáveis;
IV - para verificação de sua carga no caso de
restrição legal (artigo 21) ou de porte proi-
bido de equipamento (parágrafo único do
artigo 21);
V - para averiguação de ilícito.
§ 1° A autoridade aeronáutica poderá em-
pregar os meios que julgar necessários
para compelir a aeronave a efetuar o pouso
no aeródromo que lhe for indicado.

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DIREITO PENAL MILITAR

§ 2° Esgotados os meios coercitivos legal-


mente previstos, a aeronave será classifica-
da como hostil, ficando sujeita à medida de
destruição, nos casos dos incisos do caput
deste artigo e após autorização do Presi-
dente da República ou autoridade por ele
delegada. (Incluído pela Lei nº 9.614, de
1998)
§ 3° A autoridade mencionada no § 1° res-
ponderá por seus atos quando agir com ex-
cesso de poder ou com espírito emulatório.
(Renumerado do § 2° para § 3º com nova
redação pela Lei nº 9.614, de 1998)  

Como se percebe, a alteração legislativa manteve a competência da Justiça Militar


da União para processar e julgar a conduta típica do militar da Força Aérea, que, em ação
militar, derrube aeronave clandestina e cause a morte de civil agindo, dessa maneira, em
estrito cumprimento do dever legal (art.42, III, CPM) se agir, por óbvio, dentro dos limites
da referida Lei.
O critério preponderante para a fixação da competência da Justiça Militar no caso do
tiro de “abate”, segundo a ótica do legislador, foi o da existência de “ação militar”.

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DIREITO PENAL MILITAR
Crimes
“Propriamente” Militares
É tradicional, na doutrina e na jurisprudência, nacional e estrangeira, referência
aos crimes propriamente militares.
Mesmo com várias obras publicadas sobre o assunto, tanto a doutrina clássica,
como a atual, estão distantes de pacificar entendimento sobre o conceito de crime pro-
priamente militar.
Podemos afirmar que existem três correntes sobre a definição do crime propria-
mente militar.
A primeira corrente (acreditamos ser a majoritária e a melhor para fins de concur-
so público), liderada por Esmeraldino Bandeira, entende por crime propriamente militar
é aquele que somente o militar poderia cometer.
Parece que o mestre maior do Direito Castrense filiou-se à velha definição de cri-
me propriamente militar adotada pelos romanos: proprium militare est delictum, quod
quis uti miles admittit.
Nesse mesmo sentido, destacamos a doutrina de Luiz Carpenter11, Ricardo Giulia-
ni12, entre outros.
Uma segunda corrente doutrinária, defendida por João Vieira de Araújo, Clóvis
Bevilácqua, Chrysólito de Gusmão e Célio Lobão13, entende que além da condição de
militar do agente, seria necessário que o crime praticado atentasse, diretamente, contra
as Instituições Militares, a Hierarquia e a Disciplina Militares.
A terceira corrente, defendida por Jorge Alberto Romeiro, entende que crime pro-
priamente militar é aquele cuja ação penal somente pode ser deflagrada contra militar.
Eis a “nova teoria” formulada pelo professor:

Considerando que o crime de insubmissão é incluído


entre os crimes propriamente militares pelos adeptos
da teoria clássica, como vimos acima, por só caber
ação penal contra o insubmisso quando adquire ele
a condição de militar, poderíamos, já que estamos no
terreno da doutrina, formular uma nova teoria para
conceituar os crimes propriamente militares, com
base no direito de ação penal.
Crime propriamente militar seria aquele cuja ação pe-
nal só pode ser proposta contra militar14.
11
CARPENTER, Luiz. O Direito Penal Militar brasileiro e o Direito Penal Militar de outros povos cultos. Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro
dos Santos Editor, 1914. p. 10.
12
GIULIANI, Ricardo Henrique Alves. Direito Penal Militar. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007. p. 31.
13
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3ª. ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2009. p. 84.
14
ROMEIRO, Jorge Alberto. Curso de Direito Penal Militar. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 73.

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DIREITO PENAL MILITAR
Essa “nova teoria”, que parte de uma perspectiva processual para definir um fenômeno
de direito material, tentou resolver a controvérsia secular sobre a natureza do crime de
insubmissão, que, embora previsto nos Códigos Militares, é praticado pelo civil, também
chamado de paisano entre os militares.

Crimes Militares
em Tempo de Guerra
Antes de entrar no estudo dos crimes militares em tempo de guerra, convém fazer
um breve esclarecimento sobre o conceito de guerra para fins de aplicação do CPM.

Guerra, no atual panorama constitucional brasileiro, somente pode ocorrer na


hipótese de agressão estrangeira, nos termos do artigo 84, XIX, da Constituição

da República.

Esse conceito é importantíssimo, na medida em que as disposições do CPM previs-


tas para o tempo de guerra, somente terão aplicabilidade em tal hipótese.
É importante, também, diferenciar o conceito de guerra e o de conflito armado.
O conflito armado pode ser de caráter internacional quando há operações bélicas
entre duas ou mais potências, sem a declaração formal de guerra, na medida em que esta
gera uma série de restrições no espaço aéreo, na navegação, na economia e na política dos
países envolvidos. Conflito armado interno, também chamado de intra-estatal, ocorreria
dentro de um país ou território, como nas vulgarmente denominadas de guerra de seces-
são e guerra civil.
Nas hipóteses de conflitos armados, sejam de caráter internacional ou interno, não
se aplicam as disposições previstas para o tempo de guerra, o mesmo ocorre na absurda
hipótese de uma guerra de conquista que o Brasil empreendesse contra um país sobera-
no.
Os crimes militares em tempo de guerra são regulados no artigo 10 do CPM, que
possui a seguinte redação:

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DIREITO PENAL MILITAR
Art. 10.
Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra:

I - os especialmente previstos neste Código


para o tempo de guerra;
II - os crimes militares previstos para o tem-
po de paz;
III - os crimes previstos neste Código, em-
bora também o sejam com igual definição
na lei penal comum ou especial, quando
praticados, qualquer que seja o agente:
a) em território nacional, ou estrangeiro,
militarmente ocupado;
b) em qualquer lugar, se comprometem
ou podem comprometer a preparação, a
eficiência ou as operações militares ou, de
qualquer outra forma, atentam contra a se-
gurança externa do País ou podem expô-la
a perigo;
IV - os crimes definidos na lei penal comum
ou especial, embora não previstos neste
Código, quando praticados em zona de efe-
tivas operações militares ou em território
estrangeiro, militarmente ocupado.

O inciso I, do artigo 10, do CPM, trata dos crimes militares especialmente previstos
para o tempo de guerra, que são previstos no Livro II, da Parte Especial do Código Penal
Militar, são os crimes tipificados nos seus artigos 355 a 408.

É importante frisar que em tempo de guerra as penas previstas para crimes são
extremamente graves, chegando, em alguns casos, a existir previsão de pena de
morte.

A segunda hipótese de crimes militares em tempo de guerra está prevista no inciso


II, do artigo 10, do CPM, que são os crimes militares previstos para o tempo de paz, ou seja,
os previstos nos artigos 136 à 354. Nessas hipóteses, haverá um aumento de 1/3 da pena,
por força do artigo 20 do CPM.

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DIREITO PENAL MILITAR
A terceira hipótese tem previsão no artigo 10, inciso III, do CPM. São hipóteses em
que o crime possui tipo idêntico, tanto no CPM, quanto no CP comum ou em lei extrava-
gante, quando cometidos em território nacional ou estrangeiro, militarmente ocupado,
bem como na hipótese em que a conduta delituosa compromete ou pode comprometer
a preparação, a eficiência ou as operações militares, ou ainda, atentem contra a seguran-
ça externa do País ou a coloquem em perigo.
Por fim a última hipótese de crime militar em tempo de guerra é a hipótese
do artigo 10, inciso IV, do CPM. Em verdade, essa hipótese é a de crimes comuns e que
não seriam de competência da Justiça Militar, mas que em razão do local, ou seja, em
lugar onde ocorram efetivas operações militares e em caso de território estrangeiro mili-
tarmente ocupado.

Militares estrangeiros
Art. 11.
Os militares estrangeiros, quando em comissão ou estágio nas forças armadas, fi-
cam sujeitos à lei penal militar brasileira, ressalvado o disposto em tratados ou convenções
internacionais.
O artigo 11 do CPM sujeita os militares estrangeiros, quando em comissão ou es-
tágio em nossas Forças Armadas, à Lei Penal Militar brasileira, ressalvadas os tratados ou
convenções internacionais.
A regra é salutar, na medida em que as Escolas e Academias Militares brasi-
leiras recebem, com grande frequência, para formação ou aperfeiçoamento, militares das
Nações amigas, razão pela qual devem ser considerados militares da ativa, para fins de
aplicação da Lei Penal Castrense.

Equiparação a militar da ativa


Art. 12.
O militar da reserva ou reformado, empregado na administração militar, equipara-
-se ao militar em situação de atividade, para o efeito da aplicação da lei penal militar.
Os militares da reserva e os reformados, para fins de aplicação do Direito Penal Mi-
litar, são considerados civis. Essa constatação é absolutamente clara, na medida em que
estes são tratados ao lado dos civis, no artigo 9º, inciso III, do CPM.
A intenção da norma, a nosso sentir, é manter a dignidade e as prerrogativas
dos militares da reserva e dos reformados, quando empregados na administração militar.

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DIREITO PENAL MILITAR
Militar da reserva
e reformado
Art. 13.
O militar da reserva, ou reformado, conserva as responsabilidades e prerrogativas
do posto ou graduação, para o efeito da aplicação da lei penal militar, quando pratica ou
contra êle é praticado crime militar.
O dispositivo pretende resguardar as prerrogativas e a dignidade do militar
da reserva e do militar reformado, no caso de aplicação da lei penal militar, ocasião em que
devem ser julgados por Conselho de Justiça de sua Força Armada e por oficiais de posto su-
perior ao seu ou mais antigo, no caso de réu oficial, no caso de oficiais generais da reserva
e reformados serem julgados, originariamente pelo Superior Tribunal Militar etc.

É importante saber que os militares da reserva e os militares reformados, quan-


do cometem crime militar, são considerados civis, na medida em que são trata-
dos ao lado dos civis, nos termos do artigo 9º, inciso III, do CPM.

A Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem se manifestado no sentido de


que os militares da reserva e militares reformados são sempre considerados civis, quando
cometem crimes militares.

Defeito de incorporação
Art. 14.
O defeito do ato de incorporação não exclui a aplicação da lei penal militar, salvo
se alegado ou conhecido antes da prática do crime.
O dispositivo é salutar, já que não é incomum que militares já incorporados e
após algum tempo de serviço venham a alegar defeitos no seu ato de incorporação como
meio de justificar o crime militar cometido.

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DIREITO PENAL MILITAR

Tempo de guerra
Art. 15.
O tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da lei penal militar, começa com a
declaração ou o reconhecimento do estado de guerra, ou com o decreto de mobilização se
nele estiver compreendido aquele reconhecimento; e termina quando ordenada a cessa-
ção das hostilidades.
Tempo de guerra, nos termos do artigo 15 do CPM, para os efeitos da aplica-
ção da lei penal militar, começa com a declaração ou o reconhecimento do estado de guer-
ra, ou com o decreto de mobilização se nele estiver compreendido aquele reconhecimento
e termina quando ordenada a cessação das hostilidades.
O dispositivo dispensa maiores considerações, na medida em que a declara-
ção de guerra ocorre nos termos do artigo 84, XIX, da Constituição da República

O importante é diferenciar “guerra” e conflito armado:


• “guerra”, que é uma situação jurídica, regida pelo Direito Constitucio-
nal e pelo Direito Internacional;
• conflito armado, que é uma situação de fato e que não se aplica as re-
gras relativas ao tempo de guerra, para fins de aplicação da lei penal
militar brasileira.

Crimes praticados em prejuízo


de país aliado
Art. 18.
Ficam sujeitos às disposições deste Código os crimes praticados em prejuízo de
país em guerra conta país inimigo do Brasil:

I - se o crime é praticado por brasileiro;


II - se o crime é praticado no território na-
cional, ou em território estrangeiro, militar-
mente ocupado por fôrça brasileira, qual-
quer que seja o agente.

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DIREITO PENAL MILITAR
A guerra pode atingir diversos Estados, como ocorreu na 2ª Guerra Mundial, onde
houve a dicotomia entre as potências aliadas e os países do eixo.
Por isso, o artigo 18 do CPM se preocupou com as condutas dirigidas contra seus
aliados, tendo em vista a possibilidade de desequilibrar o poderio bélico e prejudicar o
País.
Dessa forma, ficam sujeitos às disposições do CPM, os crimes praticados em prejuí-
zo de país em guerra contra país inimigo do Brasil:

- Se o crime é praticado por brasileiro;


- Se o crime é praticado no território nacional, ou em terri-
tório estrangeiro, militarmente ocupado por força brasilei-
ra, qualquer que seja o agente.

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DIREITO PENAL MILITAR

Crimes praticados em tempo


de guerra
Art. 20.
Aos crimes praticados em tempo de guerra, salvo disposição especial, aplicam-se as
penas cominadas para o tempo de paz, com o aumento de um terço.
Por força do artigo 20 do CPM, aos crimes praticados em tempo de guerra, salvo
disposição especial, aplicam-se as penas cominadas para o tempo de paz, com o aumento
de um terço.
Há crimes com expressa previsão de pena para o tempo de guerra, que são os cri-
mes previstos nos artigos 355 a 408 do CPM.
Não havendo previsão de tipo penal para o tempo de guerra, o agente terá sua con-
duta adequada em um dos crimes militares para o tempo de paz, sendo que nesta situação
a pena será aumentada em um terço.
Nas demais situações, em que o crime comum é julgado pela Justiça Militar, por ter
sido praticado em território militarmente ocupado, não deve ser aplicado o aumento de
pena previsto no artigo 20 do CPM, na medida em que o dispositivo utiliza a expressão
“penas cominadas para o tempo de paz”.

Assemelhado
Art. 21.
Considera-se assemelhado o servidor, efetivo ou não, dos Ministérios da Marinha,
do Exército ou da Aeronáutica, submetido a preceito de disciplina militar, em virtude de lei
ou regulamento.
O assemelhado é uma figura extinta no Brasil, devendo ser considerado como não
escrito no CPM.
Originariamente, o assemelhado era o cidadão que, sem ser militar, fazia parte das
Forças Armadas e estava sujeito à disciplina castrense.
Os assemelhados existentes à época do Código Penal da Armada, na atualidade são
militares (capelães, médicos, farmacêuticos) ou são civis, possuindo carreira própria (servi-
dores civis e juízes Federais da Justiça) e sujeitos à legislação específica.

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DIREITO PENAL MILITAR
Pessoa Considerada Militar
Art. 22.
É considerada militar, para efeito da aplicação deste Código, qualquer pessoa que,
em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às forças armadas, para nelas servir em
posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar.
Dispositivo que, à primeira vista, dispensa maiores comentários, porém pode gerar
alguma perplexidade.
Para fins de aplicação do CPM, perante a Justiça Militar da União, militar é o
membro das Forças Armadas, nos termos do artigo 142, § 3º, da Constituição da Repúbli-
ca.

Para a Lei Penal Castrense, militar é o indivíduo que se encontra na ativa, que está
em atividade, aquele que cumpre expediente diariamente nas organizações militares e
está pronto para o cumprimento das suas missões constitucionais.
Esse conceito é importantíssimo e deve ser tratado em confronto com mi-
litares reformados e os militares da reserva, que não se encontram mais em atividade,
por terem cumprido seu tempo de serviço, passando para a reserva, ou por terem sido
reformados.
O militar da reserva e o militar reformado, para fins de aplicação do CPM
são sempre considerados civis, sendo tratados com estes no inciso III, do artigo 9º.
Outra questão importante e que pode gerar alguma confusão no iniciante
no estudo do Direito Militar é a situação jurídica dos Policiais e Bombeiros Militares.

Policiais e bombeiros são militares dos Estados e do Distrito Federal (artigo 42 da


Constituição da República), sendo, no entanto, civis no plano da Justiça Militar da União,
quando cometem crimes de sua competência.

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DIREITO PENAL MILITAR

Equiparação a Comandante
Art. 23.
Equipara-se ao comandante, para o efeito da aplicação da lei penal militar, toda au-
toridade com função de direção.
O dispositivo pretende equiparar ao comandante, para fins de aplicação do CPM, os
diretores, chefes e outras autoridades que exercem cargos de direção das Organizações
Militares das Forças Armadas, como por exemplo: Diretor de Ensino e Pesquisa do Exérci-
to, Chefe do Departamento-Geral de Pessoal, Diretor do Hospital Central do Exército, etc.

Interessante notar que o dispositivo não se refere, exclusivamente, às autori-


dades militares, sendo possível que uma autoridade civil seja responsável por
função de direção dentro da organização das Forças Armadas.

Os professores Cláudio Amin Miguel15 e Nelson Coldibelli admitem que um civil pos-
sa ser comandante do Teatro de Operações em tempo de guerra.

Conceito de Superior
Art. 24.
O militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de igual posto
ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar.
Superior é o militar que possui ascendência hierárquica sobre outro militar, sendo
este considerado subordinado ou inferior hierárquico do primeiro.
Entre militares de mesmo posto ou graduação não há superioridade ou inferiorida-
de hierárquica, incidindo, nesta hipótese, as regras de antiguidade, nos termos do artigo
17 do Estatuto dos Militares (Lei nº 6880/1980).
No entanto, é possível que militares de mesmo posto ou graduação tenham entre si,
uma situação de ascendência hierárquica em razão da função.
Assim, o conceito de superior encontra uma ampliação no artigo 24 do CPM, de
modo que o militar, em virtude da função, que exerça autoridade sobre outro de igual pos-
to ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar.
15
MIGUEL, Cláudio Amin; COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p.
219/220.

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DIREITO PENAL MILITAR
Não é incomum que uma organização militar seja comandada por um Coronel, que
tenha um Tenente-Coronel como subcomandante. Mas imaginemos que, nessa hipótese, o
Tenente-Coronel seja promovido ao posto de Coronel, passando a ocupar o mesmo posto
que o seu comandante.
Nessa hipótese, por força do artigo 24 do CPM, o Coronel comandante, para fins de
aplicação da lei penal militar, será considerado superior do Coronel subcomandante.

Crime praticado na presença


Art. 25.
Diz-se crime praticado em presença do inimigo, quando o fato ocorre em zona de
efetivas operações militares, ou na iminência ou em situação de hostilidade.

Crime praticado em presença do inimigo, nos termos do artigo 25 do


CPM, é o que ocorre em zona de efetivas operações militares, ou na iminência
ou em situação de hostilidade.
Esse conceito é importante, na medida em que diversos crimes previstos
para o tempo de guerra, quando praticados em presença do inimigo, podem
ser sancionados com pena de morte, em grau máximo.

São crimes que podem ser apenados pelo CPM, com pena de morte em grau máxi-
mo, quando praticados em presença do inimigo:
Art. 363 a cobardia
Art. 356 fuga em presença do inimigo
Art. 371 incitamento em presença do inimigo
Art. 387 recusa de obediência ou oposição
Art. 390 abandono de posto
Art. 392 deserção em presença do inimigo, etc.

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DIREITO PENAL MILITAR

Referência a “brasileiro” ou
“nacional”
Art. 26.
Quando a lei penal militar se refere a “brasileiro” ou “nacional”, compreende as pes-
soas enumeradas como brasileiros na Constituição do Brasil.

Parágrafo único. Para os efeitos da lei penal


militar, são considerados estrangeiros os apá-
tridas e os brasileiros que perderam a naciona-
lidade.

Nos termos do artigo 26 do CPM, brasileiro ou nacional, são os brasileiros enumera-


dos no artigo 12 da Constituição da República, assim transcrito:
Art. 12.
São brasileiros:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Bra-
sil, ainda que de pais estrangeiros, desde que
estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasilei-
ro ou mãe brasileira, desde que qualquer de-
les esteja a serviço da República Federativa do
Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro
ou de mãebrasileira, desde que sejam regis-
trados em repartição brasileira competente ou
venham a residir na República Federativa do
Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de
atingida a maioridade, pela nacionalidade bra-
sileira;
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacio-
nalidade brasileira, exigidas aos originários de
países de língua portuguesa apenas residência
por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade,
residentes na República Federativa do Brasil há
mais de quinze anos ininterruptos e sem con-
denação penal, desde que requeiram a nacio-
nalidade brasileira.

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DIREITO PENAL MILITAR
Por sua vez, o artigo 26, parágrafo único, do CPM, determina que se consideram
estrangeiros os apátridas e os brasileiros que perderam sua nacionalidade.

Funcionários da Justiça Militar


Art. 27.
Quando este Código se refere a funcionários, compreende, para efeito da sua
aplicação, os juízes, os representantes do Ministério Público, os funcionários e auxiliares
da Justiça Militar.
São considerados funcionários da Justiça Militar, na forma do artigo 27 do CPM, os
Ministros do STM, os Juízes Federais da Justiça Militar, os Membros do Ministério Público
Militar e os demais funcionários e auxiliares da Justiça Militar.
Os Juízes Militares convocados para compor os Conselhos de Justiça, também de-
vem ser considerados, no exercício desta função, como funcionários da Justiça Militar, na
medida em que o artigo 27 do CPM utiliza a expressão “Juízes” e não “Juízes Federais da
Justiça Militar ou Juízes Togados”, abrangendo os Juízes Militares.

Casos de prevalência do
Código Penal Militar
Art. 28.
Os crimes contra a segurança externa do país ou contra as instituições militares,
definidos neste Código, excluem os da mesma natureza definidos em outras leis.
Este dispositivo visa enfatizar o caráter especial da lei penal militar em rela-
ção aos crimes previstos no CP comum e na legislação extravagante, principalmente em
relação à lei nº 7170/1985, que prevê os crimes contra a segurança do Estado.

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DIREITO PENAL MILITAR

Tentativa
Art. 30.
Diz-se o crime:
I - consumado, quando nele se reúnem todos
Crime consumado
os elementos de sua definição legal;

II - tentado, quando, iniciada a execução, não


se consuma por circunstâncias alheias à vonta-
de do agente.
Pena de tentativa
Tentativa Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a
pena correspondente ao crime, diminuída de
um a dois terços, podendo o juiz, no caso de
excepcional gravidade, aplicar a pena do crime
consumado.

Sobre a tentativa, aplica-se a teoria do Direito Penal comum, que possui farta doutri-
na, ressalvada uma especificidade do CPM, que é a possibilidade de aplicação da pena do
crime consumado, mesmo na hipótese de tentativa.
No CP comum, a tentativa é causa obrigatória de diminuição da pena, já no Direito
Penal Militar, vem sendo tratada como uma discricionariedade, que os Órgãos da Justiça
Militar podem deixar de aplicar em casos de excepcional gravidade. Esta posição é defendi-
da por Jorge Alberto Romeiro, Paulo Tadeu Rodrigues Rosa, Alexandre José de Barros Leal
Saraiva e Alvaro Mayrink da Costa.
Jorge Cesar de Assis, Cícero Robson Coimbra Neves e Marcello Streifinger, criticam
o dispositivo, considerando-o draconiano, sem enfrentar sua compatibilidade com o texto
constitucional.
O Superior Tribunal Militar vem aplicando a faculdade do artigo 30, parágrafo único
do CPM, em especial nos crimes de homicídio e de latrocínio, conforme os seguintes julga-
dos:

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DIREITO PENAL MILITAR
APELAÇÃO. TENTATIVA DE HOMICÍDIO.
ERRO DE PESSOA. VÍTIMA PARAPLÉGICA.
CASO DE EXCEPCIONAL GRAVIDADE. PENA
DO CRIME CONSUMADO. AGRAVANTE DE
MOTIVO TORPE. Não há falar em “mutatio
libelli” se a aplicação da 2ª parte do parágra-
fo único do art. 30 do CPM, requerida pelo
Parquet em alegações escritas, não importa
em alteração da imputação contida na de-
núncia e nem em nova definição jurídica do
fato, mas sim no uso de faculdade prevista
em norma legal. Precedente no STF. Torpe
é o motivo imoral, indigno, abjeto. Não se
considera motivo torpe o sentimento de
quem teria sido injustamente espancado e
humilhado por policial militar na frente de
seus familiares. “In casu” a vingança, por si
só, não justifica a agravação da pena nos
termos do art. 70, II, “a”, do CPM. Preliminar
de reforma da sentença não conhecida por
confundir-se com o mérito. Unânime. (STM
– Ap 2002.01.049006-0 UF: MS. Julgamen-
to: 13/05/2003. Rel. Min. Expedito Hermes
Rego Miranda)

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DIREITO PENAL MILITAR

APELAÇÃO - ROUBO QUALIFICADO. TENTATI-


VA. APLICAÇÃO DA PENA DO DELITO CONSU-
MADO. Diferente da Justiça Comum, o Código
Penal Militar, na hipótese de excepcional gravi-
dade, permite ao Juiz aplicar, ao crime tentado,
a pena do crime consumado. In casu, encontra-
-se, nos autos, plenamente comprovada a gra-
vidade do crime praticado pelos Condenados,
ensejando, assim, a aplicação do parágrafo úni-
co do artigo 30 do CPM. Apelação da Defesa, a
que se nega provimento, por unanimidade de
votos, para manter íntegra a Sentença “a quo”.
(STM – Ap 2003.01.049308-5 UF: SP. Julgamen-
to: 10/09/2003. Rel. Min. Olympio Pereira da
Silva Junior)

HOMICÍDIO QUALIFICADO. TENTATIVA. CON-


CURSO DE AGENTES. Civil, diante de quartel,
tentando assaltar outros civis que ali perma-
neciam com o carro enguiçado, ao ser admo-
estado pelo sentinela da hora, passa a efetuar
disparos em direção ao militar movido por ani-
mus necandi. Empreitada criminosa que con-
tava com a participação de outro elemento ao
volante de veículo, oferecendo condições de
fuga, com o propósito de assegurar a impunibi-
lidade dos delitos perpetrados. Ante a ousada
conduta e a excepcional gravidade dos fatos,
aplica-se a regra contida no art. 30, parágrafo
único, parte final, do CPM, ao primeiro crime
consumado. Recurso ministerial provido. De-
cisão majoritária.(STM – Ap 2003.01.049483-9
UF: RJ. Julgamento: 20/06/2005. Rel. Min. Henri-
que Marini e Souza)

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DIREITO PENAL MILITAR
O Supremo Tribunal Federal, sem adentrar no exame da constitucionalidade do
dispositivo, considerou possível a aplicação do parágrafo único do artigo 30 do CPM, des-
de que demonstrada a excepcional gravidade da conduta delituosa, conforme se pode
perceber da leitura, a contrario sensu, do precedente que se segue:

HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL MILITAR.


HOMICÍDIO TENTADO. APLICAÇÃO DA PENA
PREVISTA PARA O HOMICÍDIO CONSUMADO.
PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 30 DO CÓDIGO
PENAL MILITAR. EXCEPCIONALIDADE NÃO DE-
MONSTRADA. ORDEM CONCEDIDA PARCIAL-
MENTE. 1. No mais forte reconhecimento do
postulado da proporcionalidade entre o tama-
nho da pena e a gravidade do crime, o Código
Penal estabelece que a reprimenda para os
crimes tentados é menor do que a cominada
para os delitos consumados. Nesse rumo de
ideias, a doutrina é firme no sentido de que a
definição do percentual da redução da pena
levará em conta o iter criminis percorrido pelo
agente. 2. Em que pese a importância para a
jurisdição constitucional da discussão quanto
aos limites da intervenção penal, a causa é de
ser resolvida sob o enfoque infraconstitucio-
nal. É que a leitura dos autos evidencia a ina-
dequação do uso da parte final do parágrafo
único do art. 30 do CPM. Isso porque, ao con-
trário do afirmado pela denúncia, uma even-
tual incapacitação da vítima para o trabalho
não veio a ocorrer. A vítima recuperou-se da
gravidade da agressão física sofrida, continu-
ando, inclusive, a exercer as suas atividades,
para as quais continua plenamente capaz. 3.
Ordem de habeas corpus parcialmente conce-
dida para cassar a decisão proferida pelo Su-
perior Tribunal Militar e determinar que um
novo acórdão seja proferido, observando-se,
na fixação da pena, a aplicação da diminuição
prevista para a modalidade tentada de homi-
cídio. (STF - HC 94912 / RJ. 1ª Turma. Julgamen-
to: 20/10/2009. Rel. Min. Carlos Britto)

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DIREITO PENAL MILITAR

Pensamos que o parágrafo único do artigo 30 do CPM, não foi recepcionado pela
Constituição da República, na medida em que viola os princípios da proporcionalidade e
da culpabilidade, já que permite aos Órgãos da Justiça Militar aplicar a pena do crime con-
sumado, com base na “excepcional gravidade”.
Ainda dentro do estudo da tentativa, temos as questões referentes à desistência
voluntária, ao arrependimento eficaz e ao crime impossível (artigos 31 e 32 do CPM), que
possuem um tratamento idêntico ao do CP comum.

Arrependimento posterior
É importante destacar que, para o Direito Repressivo Castrense, o arre-
pendimento posterior é apenas uma circunstância atenuante genérica, prevista
no artigo 70, inciso II, alínea “b”, do CPM, ao contrário do Direito Penal comum,
onde é causa de diminuição da pena, previsto no artigo 16 do CP comum. Nesse
sentido:

EMENTA: EMBARGOS INFRINGENTES DO JUL-


GADO. APLICABILIDADE DO ART. 16 NO DIREITO
PENAL MILITAR. IMPOSSIBILIDADE. PREENCHI-
MENTO INCORRETO DE FICHAS DE HÓSPEDES.
NEGLIGÊNCIA. PECULATO CULPOSO. CONFI-
GURAÇÃO. 1. Não devem ser conhecidos os
Embargos de Sentenciados que tiveram reco-
nhecida a extinção da punibilidade do art. 303,
§§ 3º e 4º, do CPM, em face da ausência do inte-
resse de agir. 2. O instituto do arrependimen-
to posterior não é estranho à legislação penal
Castrense. Contudo, no caso de peculato, é
previsto apenas nos casos de peculato culposo
(art. 303, §§ 3º e 4º) não o facultando ao autor
do peculato na sua forma dolosa. 3. Todavia, a
vida pregressa do Suboficial, o ressarcimento
do dano e a desproporcionalidade da pena em

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DIREITO PENAL MILITAR
face da conduta, tendo como parâmetro as
penas impostas em crimes de estelionato
contra a Administração Pública, autorizam
a desclassificação para o crime do art. 240,
§§ 5º e 2º, do CPM. 4. Embargos conhecidos
e acolhidos parcialmente. (STM – Embargos
0000016-72.2005.7.07.0007 – PE. Julgamen-
to: 15/04/2010. Rel. Min. José Coelho Ferrei-
ra)

Culpabilidade
Com a rubrica de “culpabilidade”, o artigo 33 do CPM, trata das condutas dolosas e
culposas.
O dispositivo deve ser compreendido à luz da Teoria Causalista, onde o dolo e
a culpa eram considerados elementos integrantes da culpabilidade. Com a Teoria Finalista,
o dolo e a culpa passaram a integrar o tipo penal, de forma que este dispositivo perdeu sua
razão no Direito Penal moderno.

Erro de Fato e Erro de Direito


Art. 35.
A pena pode ser atenuada ou substituída por outra menos grave quando o agente,
salvo se tratando de crime que atente contra o dever militar, supõe lícito o fato, por igno-
rância ou erro de interpretação da lei, se escusáveis.

Art. 36.
É isento de pena quem, ao praticar o crime, supõe, por erro plenamente escusável, a
inexistência de circunstância de fato que o constitui ou a existência de situação de fato que
tornaria a ação legítima.

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DIREITO PENAL MILITAR

§ 1º Se o erro deriva de culpa, a este título


responde o agente, se o fato é punível como
crime culposo.
§ 2º Se o erro é provocado por terceiro, res-
ponderá este pelo crime, a título de dolo ou
culpa, conforme o caso.

O erro de direito, previsto no artigo 35 do CPM, tem o condão de atenuar ou subs-


tituir a pena por outra menos grave, quando este erro é escusável, invencível ou descul-
pável, salvo se tratando de crime contra o dever militar, quando o erro de direito não terá
qualquer importância para a apreciação da conduta típica.
Eis aqui a grande diferença entre o erro de direito e o erro de proibição, já que o CP
comum, em seu artigo 21, considera que o erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, ex-
clui a pena, por ausência de culpabilidade, se evitável, é uma causa de diminuição da pena.
Para melhor compreensão da questão, segue o quadro comparativo entre os Códigos:

- Escusável, invencível ou desculpável.


Erro de direito Conseqüência: A pena pode ser atenuada ou substituída por ou-
tra menos grave, se o crime não atentar contra o dever militar.
Artigo 35
do CPM - Inescusável, vencível ou indesculpável
Conseqüência: É irrelevante

- Escusável, invencível ou desculpável.


Conseqüência: Exclui o crime, por ausência de culpabilidade. Erro de proibição
Artigo 21
- Inescusável, vencível ou indesculpável do CP comum
Conseqüência: É causa de diminuição da pena.

É importante destacar que o erro de direito possui uma especialidade no artigo


183, § 2º, alínea “a”, do CPM, determinando que quando este incidir sobre o cri-
me de insubmissão é causa de diminuição da pena de um terço.

No CP comum, o erro de tipo é tratado no caput artigo 20 e as descriminantes pu-


tativas, em seu parágrafo primeiro, enquanto o CPM tratou-os em conjunto, no caput do
artigo 36.
A primeira parte do artigo 36 do CPM refere-se ao erro sobre a inexistência
de circunstância de fato que constitui o crime. É o erro sobre as elementares do tipo penal,
que afasta o dolo do agente.

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DIREITO PENAL MILITAR
Assim, quando o agente pratica o erro de fato sobre o tipo e esse erro é escusável,
invencível ou desculpável, restará afastada a tipicidade penal por ausência do elemento
subjetivo do tipo.
Se esse erro for vencível, inescusável ou indesculpável, o agente responderá pelo
resultado típico a título de culpa, caso exista algum tipo penal culposo em que a conduta
possa ser adequada, nos termos do artigo 36, § 1º, do CPM.
A segunda parte do caput do artigo 36, do CPM, prevê a hipótese de erro sobre a
existência de alguma das causas de exclusão da antijuridicidade. São as hipóteses de des-
criminantes putativas.
Caracterizam-se nas situações em que o agente pratica a conduta, acreditando que
se encontra amparado em alguma hipótese de exclusão de ilicitude.
O estudo do erro de fato deve ser realizado através da doutrina de Direito Penal
comum, de forma que já conhecendo as diferenças de tratamento entre o CPM e o CP co-
mum, sua aplicação se torna muito mais simplificada. Observe o quadro comparativo:

Erro de fato
- Escusável, invencível ou desculpável.
Artigo 36 1ª parte do CPM Conseqüência: Exclui o dolo e a culpa.

Erro de fato -Inescusável, vencível ou indesculpável.


Artigo 36 §1º do CPM Conseqüência: Exclui o dolo, mas
permite a condenação a título de culpa.

Erro de Tipo
- Escusável, invencível ou desculpável.
Conseqüência: Exclui o dolo e a culpa. Artigo 20 do CP comum

- Inescusável, vencível ou indesculpável. Erro de Tipo


Conseqüência: Exclui o dolo, mas permite
a condenação a título de culpa.
Artigo 20 do CP comum

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DIREITO PENAL MILITAR

Erro de fato - Erro sobre a existência de descriminante.


Escusável, invencível ou desculpável.
Artigo 36 2ª parte do CPM Conseqüência: Exclui o dolo e a culpa.

- Erro sobre a existência de descriminante


Erro de fato Inescusável, vencível ou indesculpável
Artigo 36 §1º do CPM Conseqüência: Exclui o dolo, mas permite a
condenação a título de culpa

Erro de Tipo
- Escusável, invencível ou desculpável.
Conseqüência: Exclui o dolo e a culpa.
Artigo 20, § 1º, do CP
comum

- Inescusável, vencível ou indesculpável. Erro de Tipo


Conseqüência: Exclui o dolo, mas permite a condena- Artigo 20, § 1º, 2ª parte
ção a título de culpa.
do CP comum

Erro de acidental
Art. 37.
Quando o agente, por erro de percepção ou no uso dos meios de execução, ou outro
acidente, atinge uma pessoa em vez de outra, responde como se tivesse praticado o crime
contra aquela que realmente pretendia atingir. Devem ter-se em conta não as condições e
qualidades da vítima, mas as da outra pessoa, para configuração, qualificação ou exclusão
do crime, e agravação ou atenuação da pena.

1º Se, por erro ou outro acidente na execução,


é atingido bem jurídico diverso do visado pelo
agente, responde êste por culpa, se o fato é
previsto como crime culposo.
2º Se, no caso do artigo, é também atingida a
pessoa visada, ou, no caso do parágrafo ante-
rior, ocorre ainda o resultado pretendido, apli-
ca-se a regra do art. 79.

O caput do artigo 37 do CPM trata, em conjunto, das hipóteses de error in persona


e da aberratio ictus com unidade simples.
No caso do erro sobre a pessoa, o agente, ao praticar a conduta, atinge pessoa diver-
sa da que pretendia em razão de um equívoco, de uma falsa representação sobre a iden-

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DIREITO PENAL MILITAR
tidade da vítima, como na hipótese em que o agente se coloca à espera de seu desafeto
em uma rua mal iluminada, vindo a atingir um terceiro que passava pelo local, pensando
tratar-se da vítima. O error in persona encontra-se na 1ª parte do artigo 37 do CPM, quan-
do utiliza a expressão “quando o agente, por erro de percepção ... atinge uma pessoa em
vez de outra”.
A aberratio ictus com unidade simples, ou erro na execução, encontra-se prevista na
2ª parte do artigo 37, do CPM, quando utiliza a seguinte redação: “quando o agente, ... no
uso dos meios de execução, ou outro acidente, atinge uma pessoa em vez de outra. É a hi-
pótese em que o agente desejando atingir uma pessoa, por erro na execução atinge outra.
A aberratio ictus com unidade complexa é prevista no artigo 37, § 2º, 1ª parte, do
CPM, determinando que quando for atingida também a pessoa visada, haverá concurso de
crimes.

Coação Irresistível e
Obediência Hierárquica
Art. 38.
Não é culpado quem comete o crime:
a) sob coação irresistível ou que lhe supri-
ma a faculdade de agir segundo a própria
vontade;
b) em estrita obediência a ordem direta de
superior hierárquico, em matéria de servi-
ços.
1° Responde pelo crime o autor da coação
ou da ordem.
2° Se a ordem do superior tem por objeto
a prática de ato manifestamente criminoso,
ou há excesso nos atos ou na forma da exe-
cução, é punível também o inferior.

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DIREITO PENAL MILITAR

A coação irresistível e a obediência hierárquica, previstos no artigo 38, do CPM, as-


sim como no CP comum, são hipóteses legais de exclusão da culpabilidade, sendo punível
somente o autor da ordem.
No Direito Penal comum, o servidor público tem sua culpabilidade afastada se a
ordem não for manifestamente ilegal, de forma que há um espaço para a avaliação da le-
galidade da ordem recebida (artigo 22 do CP).
Já no Direito Penal Militar, o agente militar não pode realizar um juízo de legalidade.
O âmbito de apreciação da ordem é muito mais restrito que no Direito Penal comum, ha-
vendo apenas um juízo se a ordem constitui crime. Dessa forma, o militar somente pode
recusar obediência a ordem manifestamente criminosa. Nesse sentido, trazemos a oportu-
na lição de Cezar Roberto Bitencourt, que bem percebeu a diferença de tratamento entre
os Códigos:
Cumpre, a esta altura, fazer uma distinção en-
tre o funcionário civil e o funcionário militar.
O funcionário civil não discute a oportunida-
de ou conveniência, mas discute legalidade. E
essa ilegalidade pode decorrer, por exemplo,
do descumprimento de uma formalidade. Uma
ordem pode ser ilegal porque não obedece à
forma estabelecida em lei. Basta isso e já será
ilegal. O funcionário civil, subalterno, não é
obrigado a cumprir ordem ilegal. Ademais, se
representar qualquer prejuízo a terceiro, será
tão responsável quanto seu superior.
Agora, no caso do militar, a situação é comple-
tamente diferente. Ele não discute a legalida-
de, por que tem o dever legal de obediência, e
qualquer desobediência pode constituir crime
de insubordinação (art. 163 do CPM). O subal-
terno militar não é culpado, qualquer que seja

58 ©2019 Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas


DIREITO PENAL MILITAR
a sua convicção sobre a ilegalidade da or-
dem. Pelo crime eventualmente decorrente
só responde o autor da ordem.
O Código Penal Militar, diferentemente do
Código Penal, estabelece, implicitamente,
apenas que o militar não deve obedecer a
ordem manifestamente criminosa (art. 38,
§ 2º). A questão é completamente diferen-
te. Evidentemente, seria absurdo afirmar
que alguém tem o dever de obedecer a or-
dem criminosa! Aí, seria a inversão total das
instituições políticas e democráticas. Agora,
quanto à legalidade da formalidade em si,
se está correta ou incorreta, se o superior
tem ou não atribuição para emitir aquela
ordem, o problema não é do agente hierar-
quicamente inferior.

Essa possibilidade de apreciação da ordem no Direito Penal Militar, ainda que mais
restrita que no Direito Penal comum, é a confirmação de que o nosso Direito Castrense
adotou a teoria das “baionetas inteligentes”, ao contrário de algumas legislações estran-
geiras que adotaram o sistema da “obediência cega” ou das “baionetas cegas”, onde não
há qualquer possibilidade do militar avaliar a legitimidade da ordem do superior, como
ensinava o professor Jorge Alberto Romeiro.

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DIREITO PENAL MILITAR

Exclusão da Ilicitude e a Causa


de Justificação do Comandante
Art. 42.
Não há crime quando o agente pratica o fato:

I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento do dever legal;
IV - em exercício regular de direito.
Parágrafo único. Não há igualmente crime
quando o comandante de navio, aeronave ou
praça de guerra, na iminência de perigo ou gra-
ve calamidade, compele os subalternos, por
meios violentos, a executar serviços e mano-
bras urgentes, para salvar a unidade ou vidas,
ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a
rendição, a revolta ou o saque.

Além das hipóteses comuns ao Direito Penal das excludentes de ilicitude, há no


Direito Penal Militar a excludente de ilicitude do Comandante.
Devido às grandes e importantes responsabilidades de um comandante, a Lei Pe-
nal Castrense criou uma excludente de ilicitude específica para os militares que exercem
o comando, para as situações extraordinárias que podem ocorrer nas atividades milita-
res.
Embora tenha alguma semelhança, não se confunde com o estado de necessidade.
Por fim, aparentemente a excludente do comandante pode ser aplicada em tempo

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DIREITO PENAL MILITAR
Elementos constitutivos
Art. 47.
do crime
Deixam de ser elementos constitutivos do crime:

I - a qualidade de superior ou a de inferior,


quando não conhecida do agente;
II - a qualidade de superior ou a de inferior,
a de oficial de dia, de serviço ou de quarto,
ou a de sentinela, vigia, ou plantão, quando
a ação é praticada em repulsa a agressão.

Este dispositivo é extremamente importante para


a realização da adequação típica da conduta do agente
no CPM.
Imaginemos a seguinte situação: durante uma
discussão de trânsito, um dos motoristas agride o outro,
vindo a causar-lhe lesões corporais.
Na Delegacia descobre-se que o agressor é sar-
gento e a vítima subtenente. A condição de superior
da vítima poderia levar à conclusão de que haveria o
crime de violência contra superior (artigo 157 c/c 9º, I,
2ª parte).

No entanto, como a condição de superior hierárquico da vítima não entrou na esfera


de conhecimento do agente, restará afastado o crime de violência contra superior, nos ter-
mos do artigo 47, I, do CPM, respondendo o agente pelo crime de lesões corporais simples
(artigo 209 c/c 9º, II, alínea “a”, do CPM).
A hipótese do artigo 47, II, do CPM, tem por finalidade afastar as condições de supe-
rior, de inferior, de oficial de dia, oficial de serviço ou de quarto, ou de sentinela, vigia, ou
plantão, quando quem possui essa qualidade é o agente de uma conduta delituosa.

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DIREITO PENAL MILITAR

Menores
Art. 50.
O menor de dezoito anos é inimputável, salvo se, já tendo completado dezesseis
anos, revela suficiente desenvolvimento psíquico para entender o caráter ilícito do fato e
determinar-se de acordo com este entendimento. Neste caso, a pena aplicável é diminuída
de um terço até a metade.
Art. 51.
Equiparam-se aos maiores de dezoito anos, ainda que não tenham atingido essa
idade:

a) os militares;
b) os convocados, os que se apresentam à in-
corporação e os que, dispensados temporaria-
mente desta, deixam de se apresentar, decorri-
do o prazo de licenciamento;
c) os alunos de colégios ou outros estabeleci-
mentos de ensino, sob direção e disciplina mi-
litares, que já tenham completado dezessete
anos.
Art. 52.
Os menores de dezesseis anos, bem como os menores de dezoito e maiores de
dezesseis inimputáveis, ficam sujeitos às medidas educativas, curativas ou disciplinares
determinadas em legislação especial.

Os artigos 50, 51 e 52 do CPM, que trata dos menores, não foram recepciona-
dos pelo artigo 228 da Constituição da República, que sujeita os menores de
idade à legislação especial, no caso o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
nº 8069/1990).

Não é incomum a presença de menores nos Colégios Militares e nas escolas prepa-
ratórias das Forças Armadas, na condição de cadetes ou alunos, nas Escolas de Formação
das Forças Armadas, como na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, no Colégio Naval
etc.

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DIREITO PENAL MILITAR
Assim, se um cadete do Exército menor de dezoito anos vier a praticar uma condu-
ta perfeitamente adequada ao CPM, deverá ser encaminhado à Delegacia de Proteção à
Criança e ao Adolescente, para, se for o caso, ser submetido ao procedimento de apura-
ção pela prática de ato infracional análogo ao crime militar.

Concurso de Agentes
O concurso de agentes encontra-se disciplinado no artigo 53 do CPM.
Uma primeira diferença entre os dois Códigos reside no tratamento dos partícipes.
No CP comum, em seu artigo 29, § 1º, a participação é tratada como causa de dimi-
nuição da pena, com sua diminuição de um sexto a um terço.
O CPM, no artigo 53, § 3º, por sua vez, determina que a participação constitui-se,
tão-somente, uma causa de atenuação da pena. Observe o quadro comparativo:

Art. 53.
CPM Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas
a este cominadas.

Art. 29
Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas
CP
penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. comum

§ 1º A punibilidade de qualquer dos concorrentes é independente


CPM da dos outros, determinando-se segundo a sua própria culpabili-
dade. Não se comunicam, outrossim, as condições ou circunstân-
cias de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena CP


pode ser diminuída de um sexto a um terço.
comum

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DIREITO PENAL MILITAR

§ 2° A pena é agravada em relação ao agente que:


I - promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a ativida-
de dos demais agentes;
II - coage outrem à execução material do crime;
CPM III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua
autoridade, ou não punível em virtude de condição ou qualidade
pessoal;
IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promes-
sa de recompensa.

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime me-


nos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será CP
aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave.
comum

Atenuação de pena
3º A pena é atenuada com relação ao agente, cuja participação no
crime é de somenos importância.
Cabeças

CPM
4º Na prática de crime de autoria coletiva necessária, reputam-se
cabeças os que dirigem, provocam, instigam ou excitam a ação.
5º Quando o crime é cometido por inferiores e um ou mais ofi-
ciais, são estes considerados cabeças, assim como os inferiores
que exercem função de oficial.

Embora o Código Penal Militar trate a participação como causa de atenuação, carac-
teriza-se, em verdade, uma causa de diminuição da pena, já que as atenuantes se encon-
tram previstas em seu artigo 72.
Ainda sobre o concurso de agentes, é importante chamar a atenção para o
conceito de cabeça, inexistente no Direito Penal comum.
O conceito de cabeça é tradicional em nosso Direito Penal Militar, sendo este
o militar que conduz, dirige, elabora a conduta delituosa, levando outros militares à prática
do crime de autoria coletiva necessária, recaindo sobre sua conduta maior culpabilidade
em relação aos demais militares.
Os oficiais serão sempre considerados cabeças quando participam de um
crime de autoria coletiva necessária juntamente com praças, já que deveriam impor sua
autoridade, resguardando a hierarquia e a disciplina militar, impedindo que seus subor-
dinados façam parte da conduta delituosa. Também devem ser considerados cabeças os
graduados que exerçam funções de oficiais.
Sobre o concurso de pessoas, há um questionamento muito interessante so-
bre a possibilidade do civil, em concurso de agentes, vir a praticar crimes que contenham
a elementar militar.
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DIREITO PENAL MILITAR
O Supremo Tribunal Federal entendeu que a condição de militar comunica-se ao co-
-autor civil na hipótese de crime de ofensa aviltante a inferior (artigo 176 do CPM) praticado
por um sargento da Marinha e um funcionário civil, em razão da adoção da teoria monista,
ao apreciar o HC 81438/RJ, assim ementado:

HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSO PE-


NAL. CRIME MILITAR. DENÚNCIA. ATIPICI-
DADE. CONCURSO DE AGENTES. MILITAR
E FUNCIONÁRIO CIVIL. CIRCUNST NCIA DE
CARÁTER PESSOAL, ELEMENTAR DO CRIME.
APLICAÇÃO DA TEORIA MONISTA. Denúncia
que descreve fato típico, em tese, de forma
circunstanciada, e faz adequada qualifica-
ção dos acusados, não enseja o trancamen-
to da ação penal. Embora não exista hierar-
quia entre um sargento e um funcionário
civil da Marinha, a qualidade de superior
hierárquico daquele em relação à vítima,
um soldado, se estende ao civil porque, no
caso, elementar do crime. Aplicação da te-
oria monista. Inviável o pretendido tranca-
mento da ação penal. HABEAS indeferido.
(STF - HC 81438 / RJ. 2ª Turma. Julgamento:
11/12/2001. Rel. Min. Nelson Jobim)

O professor Célio Lobão critica esse posicionamento, sustentando que o civil jamais
poderia praticar crime que contenha a elementar típica militar, mesmo na condição de co-
-autor.

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DIREITO PENAL MILITAR

Penas principais
Art. 55.
As penas principais são:
a) morte;
b) reclusão;
c) detenção;
d) prisão;
e) impedimento;
f) suspensão do exercício do posto, graduação,
cargo ou função;
g) reforma.

Diferentemente do CP comum, o CPM prevê penas principais e penas acessórias:


As penas principais estão elencadas no artigo 55 do CPM, e podem ser:
a) morte;
b) reclusão;
c) detenção;
d) prisão;
e) impedimento;
f) suspensão do exercício do posto, graduação,
cargo ou função;
g) reforma.

Interessante notar, que não há previsão de penas pecuniárias e restritivas de direi-


tos (artigo 32 do CP comum), como penas principais.

Pena de morte
Art. 56.
A pena de morte é executada por fuzilamento.

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DIREITO PENAL MILITAR
Art. 57.
A sentença definitiva de condenação à morte é comunicada, logo que passe em jul-
gado, ao Presidente da República, e não pode ser executada senão depois de sete dias
após a comunicação.
Parágrafo único. Se a pena é imposta em
zona de operações de guerra, pode ser
imediatamente executada, quando o exigir
o interesse da ordem e da disciplina milita-
res.

No atual CPM, a pena de morte só é aplicável em casos de guerra de-


clarada, no caso de agressão estrangeira, nos termos do artigo 5º, inciso XLVII,
alínea “a”, c/c 84, XIX, da Constituição da República e pela própria disposição do
CPM, que somente comina da pena capital nos casos de crimes militares para
o tempo de guerra.

Sua execução é realizada por fuzilamento, nos termos do artigo 56 do CPM e sua
formalidade é prevista no artigo 707 do CPPM.

O artigo 57 do CPM determina que a pena de morte deva ser comunica-


da ao Presidente da República e não pode ser executada, senão depois de sete
dias após a comunicação.
Tal dispositivo existe para que o Presidente da República, utilizando a
prerrogativa que lhe é conferida pelo artigo 84, inciso XII, da Constituição da
República, possa comutar a pena de morte em reclusão ou, até mesmo, conce-
der perdão ao condenado.
Somente após sete dias da comunicação ao Presidente da República,
poderá ser executado o fuzilamento

O parágrafo único do artigo 57 prevê a possibilidade de execução imediata do fuzila-


mento, após a condenação definitiva transitada em julgado, quando a pena é imposta em
zona de operações de guerra.

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DIREITO PENAL MILITAR
A pena de morte pode ser aplicada aos militares e civis, inclusive estrangeiros, já
que há tipos penais que não exigem a condição de militar para o seu cometimento, como
a traição e a traição imprópria (artigos 355 e 362, do CPM).
Podem ser apenados com morte, crimes que possuem a essência militar, como
por exemplo:

Artigo 355 traição,


Artigo 356 favor ao inimigo,
Artigo 366 espionagem,
Artigo 368 motim, revolta ou conspiração

Entre outros, bem como crimes comuns, mas que se tornam militares em razão
das circunstâncias, mas não possuem a natureza militar, como o:

Artigo 400, III homicídio qualificado,


Artigo 405 roubo ou extorsão,
Artigo 408, parágrafo único, b violência carnal com resultado morte.

Reclusão e detenção
Mínimos e máximos genéricos
Art. 58.
O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo
da pena de detenção é de trinta dias, e o máximo de dez anos.
Pena de até dois anos aplicada a militar
Art. 59
A pena de reclusão ou de detenção até 2 (dois) anos, aplicada a militar, é converti-
da em pena de prisão e cumprida, quando não cabível a suspensão condicional:

I - pelo oficial, em recinto de estabelecimento


militar;
II - pela praça, em estabelecimento penal mili-
tar, onde ficará separada de presos que este-
jam cumprindo pena disciplinar ou pena pri-
vativa de liberdade por tempo superior a dois
anos.

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DIREITO PENAL MILITAR
Separação de praças especiais e graduadas
Parágrafo único. Para efeito de separação,
no cumprimento da pena de prisão, aten-
der-se-á, também, à condição das praças
especiais e à das graduadas, ou não; e, den-
tre as graduadas, à das que tenham gradu-
ação especial.

Pena superior a dois anos, imposta a militar

Art. 61
A pena privativa da liberdade por mais de 2 (dois) anos, aplicada a militar, é cumpri-
da em penitenciária militar e, na falta dessa, em estabelecimento prisional civil, ficando o
recluso ou detento sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de cujos benefí-
cios e concessões, também, poderá gozar.

Pena privativa da liberdade imposta a civil.

Art. 62
O civil cumpre a pena aplicada pela Justiça Militar, em estabelecimento prisional civil,
ficando ele sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios e
concessões, também, poderá gozar.

Cumprimento em penitenciária militar. Parágrafo único - Por crime militar pratica-


do em tempo de guerra poderá o civil ficar
sujeito a cumprir a pena, no todo ou em
parte em penitenciária militar, se, em bene-
fício da segurança nacional, assim o deter-
minar a sentença.

A reclusão tem a pena máxima de 30 anos e o mínimo de 1 ano. A detenção possui


pena máxima de 10 anos e a mínima de 30 dias.

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DIREITO PENAL MILITAR

A diferenciação entre reclusão e detenção perdeu, em parte, seu sentido, como ex-
plica Jorge Alberto Romeiro, pois somente tinha importância para a concessão da suspen-
são condicional da pena.
Com a Lei nº 6544/1978, tal diferenciação só se torna importante para as Justiças
Militares dos Estados e do Distrito Federal, pois configura critério para fixação do regime
prisional em que o condenado iniciará o cumprimento da pena.
Perante a Justiça Militar da União, a diferenciação entre reclusão e detenção se tor-
nou irrelevante, pois na execução penal militar não há progressão de regime, exceto se o
condenado for civil ou perder a condição de militar, ocasião em que a execução penal mili-
tar será processada perante a Vara de Execuções Penais do Estado ou do Distrito Federal,
que fixará o regime inicial de cumprimento da pena.
Quando a pena de reclusão ou de detenção for de até 2 anos, por força do artigo 59
do CPM, será convertida em prisão, devendo seu cumprimento ser diferenciado em razão
do posto ou graduação, caso não seja aplicável o sursis.
No caso de oficiais, a pena de prisão será cumprida em recinto de estabelecimento
militar. Nota-se a evidente tentativa do legislador de preservar a dignidade do oficialato,
evitando o encarceramento, já que o oficial deverá retornar às suas funções, inclusive a de
comando, evitando, como ensina Jorge Alberto Romeiro, uma promiscuidade carcerária
atentatória à hierarquia e disciplina.
Já as praças serão presas em celas separadas dos presos disciplinares, havendo,
ainda, a separação de celas entre praças graduadas e praças especiais.
Praças graduadas são os Subtenentes, Suboficiais, Sargentos. Praças especiais são
os Aspirantes à Oficial e os Guardas Marinha, os alunos das Academias e Escolas de for-
mação das Forças Armadas, como os cadetes do Exército e da Aeronáutica e os alunos das
Escolas Preparatórias de Cadetes do Exército e da Aeronáutica (Escola Preparatória de Ca-
detes do Exército – EsPCEx e a Escola preparatória de Cadetes do Ar – EPCAr) e das Escolas
de Formação da Marinha (Alunos da Escola e do Colégio Naval), bem como das Escolas de
Formação de Sargentos (Escola de Sargentos das Armas e Escola de Especialistas da Aero-
náutica) e da Escola de Aprendizes de Marinheiros.

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DIREITO PENAL MILITAR
A pena superior a 2 anos aplicada a militar, por força do artigo 61 do CPM, é cum-
prida em penitenciária militar e, na falta dessa, em estabelecimento prisional civil, caso em
que fará jus aos benefícios da Lei de Execuções Penais.
Os civis, em tempo de paz, jamais cumprirão a pena imposta pela Justiça Militar da
União, em presídio militar, por força do artigo 62 do CPM, podendo, excepcionalmente,
em tempo de guerra, cumprir a pena em penitenciária militar, em benefício da segurança
nacional, se assim for determinado na sentença (artigo 62, parágrafo único, do CPM). Essa
possibilidade refere-se aos crimes contra a segurança externa do País, quando cometidos
em tempo de guerra.

Impedimento
Pena de impedimento

Art. 63.
A pena de impedimento sujeita o condenado a permanecer no recinto da unidade,
sem prejuízo da instrução militar.
A pena de impedimento é uma inovação no Direito Castrense brasileiro introduzido
pelo atual CPM e somente se aplica ao crime de insubmissão (artigo 183 do CPM).
A pena de impedimento é cumprida dentro dos muros da Organização Militar, onde
o apenado deve prestar o serviço militar obrigatório, sem prejuízo da instrução militar, ou
seja, obrigando o condenado a frequentar o curso de formação de soldados, exatamente
o que havia se furtado, com sua insubmissão.
Embora o artigo 63 do CPM determine que o apenado deva permanecer no recinto
da unidade, é evidente que o conceito de “instrução militar” é amplo, abrangendo não só
as instruções previstas no quartel, como também as demais atividades, como acampamen-
tos, marchas, saltos pára-quedistas etc., que se realizam, normalmente, nos campos de
instrução das Forças Armadas.

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DIREITO PENAL MILITAR

Suspensão do exercício do posto,


graduação, cargo ou função
Art. 64.
A pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função consiste na
agregação, no afastamento, no licenciamento ou na disponibilidade do condenado, pelo
tempo fixado na sentença, sem prejuízo do seu comparecimento regular à sede do servi-
ço. Não será contado como tempo de serviço, para qualquer efeito, o do cumprimento da
pena.

Caso de reserva, reforma


ou aposentadoria
Parágrafo único. Se o condenado, quando pro-
ferida a sentença, já estiver na reserva, ou re-
formado ou aposentado, a pena prevista neste
artigo será convertida em pena de detenção,
de três meses a um ano.

A suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função, consiste, nos ter-


mos do artigo 64 do CPM, na agregação, no afastamento, no licenciamento ou na disponi-
bilidade do condenado, pelo tempo fixado na sentença, sem o prejuízo do seu compareci-
mento regular à sede do serviço.
A sua principal característica é a transitoriedade, já que após o cumprimento da
pena, o condenado voltará, normalmente, ao seu posto ou graduação e ao exercício de seu
cargo ou função.
É uma situação inusitada, como observado por Alexandre Saraiva, pois o militar
deve comparecer no local de serviço, mas não pode trabalhar por encontrar-se suspenso
do posto, graduação, cargo ou função.
Esse tempo de cumprimento da pena de suspensão do exercício do posto, gradu-
ação, cargo ou função, não é computado como tempo de serviço, para qualquer efeito,
como no caso contagem do tempo para promoção ou para a reserva remunerada.
O parágrafo único do artigo 64 do CPM determina que quando o condenado, por
ocasião da sentença, estiver da reserva, reforma ou aposentado, a pena de suspensão do
exercício do posto, graduação, cargo ou função, será convertida em detenção, de três me-
ses a um ano.

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DIREITO PENAL MILITAR
Reforma
Art. 65.
A pena de reforma sujeita o condenado à situação de inatividade, não podendo
perceber mais de um vinte e cinco avos do sôldo, por ano de serviço, nem receber impor-
tância superior à do sôldo.
A reforma é uma pena definitiva, diferentemente da suspensão do exercício do
posto, graduação, cargo ou função que são transitórios.
Nos termos do artigo 65 do CPM, o militar condenado à reforma, fica sujeito à
inatividade, não podendo perceber mais de um vinte e cinco avos do soldo, por ano de
serviço, nem receber quantia superior ao soldo.
Na prática, a reforma consiste no fim da carreira do militar, já que este não poderá
galgar todos os postos, que, em tese, poderia alcançar, além do decréscimo da remune-
ração que lhe seria devida, já que esta será calculada com base no tempo de serviço.

Imaginemos a situação de um Major com 20 anos de serviço mi-


litar. Em tese, ele poderia alcançar o posto de Coronel, mas em
razão da condenação à reforma, permanecerá no posto de Major,
recebendo proporcional de 1/25 avos da remuneração de Major
para cada ano de serviço completado.

Superveniência de doença
mental
Art. 66.
O condenado a que sobrevenha doença mental deve ser recolhido a manicômio
judiciário ou, na falta dêste, a outro estabelecimento adequado, onde lhe seja assegurada
custódia e tratamento.
A superveniência de doença mental do condenado implica na sua transferência para
um manicômio judiciário, ou em sua falta, outro estabelecimento adequado à sua custódia
e tratamento, nos termos do artigo 66 do CPM.

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DIREITO PENAL MILITAR

Tempo computável
Art. 67.
Computam-se na pena privativa de liberdade o tempo de prisão provisória, no Brasil
ou no estrangeiro, e o de internação em hospital ou manicômio, bem como o excesso de
tempo, reconhecido em decisão judicial irrecorrível, no cumprimento da pena, por outro
crime, desde que a decisão seja posterior ao crime de que se trata.
Determina o artigo 67 do CPM, que se abate na pena privativa de liberdade o tempo
de prisão provisória cumprida no Brasil ou no estrangeiro, e o tempo de internação em
hospital ou manicômio, bem como o excesso de prazo, reconhecido em decisão transitada
em julgado, no cumprimento da pena de outro crime, desde que a decisão seja posterior
ao crime que se trata.
O que pretendeu o legislador, na redação confusa do artigo 67 do CPM, é permitir a
detração penal do tempo da prisão provisória e da internação, bem como do excesso de
prazo, reconhecido em decisão judicial irrecorrível, por crimes cometidos anteriormente a
essa hipótese, sob pena de criação de um “crédito para cumprimento da pena”.

Transferência de condenados
Art. 68.
O condenado pela Justiça Militar de uma região, distrito ou zona pode cumprir pena
em estabelecimento de outra região, distrito ou zona.

A expressão “região, distrito ou zona” utilizada pelo CPM, ainda guarda a tra-
dição da antiga divisão judiciária militar, prevista no revogado Decreto-Lei nº
1003/69 (antiga Lei de Organização Judiciária Militar), que coincidia a Região
Militar com a Circunscrição Judiciária Militar.

Com a atual Lei de Organização Judiciária Militar da União, o artigo 68 do CPM deve
ser interpretado da seguinte forma: O condenado pela Justiça Militar de uma Circunscrição
Judiciária Militar pode cumprir pena em estabelecimento de outra Circunscrição Judiciária
Militar.
O dispositivo é salutar, já que não é incomum que o condenado pela Justiça Mili-
tar seja de outras regiões do País, de modo que a execução poderá ser transferida para
Circunscrição Judiciária Militar próxima à sua origem, onde poderá ficar próximo de seus
familiares, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana.

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DIREITO PENAL MILITAR
DA APLICAÇÃO DA PENA
Fixação da pena privativa de liberdade

Art. 69.
Para fixação da pena privativa de liberdade, o juiz aprecia a gravidade do crime pra-
ticado e a personalidade do réu, devendo ter em conta a intensidade do dolo ou grau da
culpa, a maior ou menor extensão do dano ou perigo de dano, os meios empregados, o
modo de execução, os motivos determinantes, as circunstâncias de tempo e lugar, os an-
tecedentes do réu e sua atitude de insensibilidade, indiferença ou arrependimento após o
crime.

Determinação da pena
§ 1º Se são cominadas penas alternativas, o
juiz deve determinar qual delas é aplicável.
Limites legais da pena
§ 2º Salvo o disposto no art. 76, é fixada
dentro dos limites legais a quantidade da
pena aplicável.

O artigo 69 do CPM, assim como o artigo 59 do CP comum, trata das circunstâncias


judiciais, que se constituem no ponto de partida, para que Conselhos de Justiça e do Supe-
rior Tribunal Militar realizem a fixação da pena base.
Na primeira fase da dosimetria da pena, deve ser apreciada a gravidade do
crime, a personalidade do réu, a intensidade do dolo ou da culpa, maior ou menor exten-
são do dano, os meios empregados, o modo de execução, os motivos determinantes, as
circunstâncias de tempo e lugar, os antecedentes do réu e a sua atitude de insensibilidade,
indiferença ou arrependimento após o crime.
Na segunda fase da dosimetria da pena serão levadas em consideração as
agravantes e as atenuantes genéricas, previstas nos artigos 70 e 72 do CPM, que não são
coincidentes com as elencadas no CP comum.

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DIREITO PENAL MILITAR
Tendo em vista os objetivos deste trabalho, que é de apresentar o Direito Penal Militar e
suas peculiaridades, bem como ressaltar as diferenças entre os Códigos Penais, Militar e
comum, convém trazer o seguinte quadro comparativo:
Circunstâncias agravantes

CPM CP Comum
Art. 70. Art. 61
São circunstâncias que sempre São circunstâncias que sempre agra-
agravam a pena, quando não integrantes vam a pena, quando não constituem ou
ou qualificativas do crime: qualificam o crime:
I - a reincidência; I - a reincidência;
II - ter o agente cometido o crime: II - ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil ou torpe; a) por motivo fútil ou torpe;
b) para facilitar ou assegurar a execução, b) para facilitar ou assegurar a execução, a
a ocultação, a impunidade ou vantagem ocultação, a impunidade ou vantagem de
de outro crime; outro crime;
c) depois de embriagar-se, salvo se a em- c) à traição, de emboscada, ou mediante
briaguez decorre de caso fortuito, engano dissimulação, ou outro recurso que dificul-
ou força maior; tou ou tornou impossível a defesa do ofen-
d) à traição, de emboscada, com surpresa, dido;
ou mediante outro recurso insidioso que d) com emprego de veneno, fogo, explo-
dificultou ou tornou impossível a defesa sivo, tortura ou outro meio insidioso ou
da vítima; cruel, ou de que podia resultar perigo co-
e) com o emprego de veneno, asfixia, tor- mum;
tura, fogo, explosivo, ou qualquer outro e) contra ascendente, descendente, irmão
meio dissimulado ou cruel, ou de que po- ou cônjuge;
dia resultar perigo comum; f) com abuso de autoridade ou prevalecen-
f) contra ascendente, descendente, irmão do-se de relações domésticas, de coabita-
ou cônjuge; ção ou de hospitalidade, ou com violência
g) com abuso de poder ou violação de de- contra a mulher na forma da lei específica;
ver inerente a cargo, ofício, ministério ou g) com abuso de poder ou violação de de-
profissão; ver inerente a cargo, ofício, ministério ou
h) contra criança, velho ou enfermo; profissão;
i) quando o ofendido estava sob a imedia- h) contra criança, maior de 60 (sessenta)
ta proteção da autoridade; anos, enfermo ou mulher grávida;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, en- i) quando o ofendido estava sob a imediata
calhe, alagamento, inundação, ou qual- proteção da autoridade;
quer calamidade pública, ou de desgraça j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inun-
particular do ofendido; dação ou qualquer calamidade pública, ou
l) estando de serviço; de desgraça particular do ofendido;
m) com emprego de arma, material ou l) em estado de embriaguez preordenada.
instrumento de serviço, para esse fim pro-
curado;
n) em auditório da Justiça Militar ou local
onde tenha sede a sua administração;
o) em país estrangeiro.
Parágrafo único. As circunstâncias das le-
tras c, salvo no caso de embriaguez pre-
ordenada, l , m e o , só agravam o crime
quando praticado por militar.

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DIREITO PENAL MILITAR
Circunstâncias atenuantes

CPM CP Comum
Art. 72. Art. 65
São circunstâncias que sempre ate- São circunstâncias que sempre ate-
nuam a pena: nuam a pena:
I - ser o agente menor de vinte e um ou I - ser o agente menor de 21 (vinte e um),
maior de setenta anos; na data do fato, ou maior de 70 (setenta)
II - ser meritório seu comportamento an- anos, na data da sentença;
terior; II - o desconhecimento da lei;
III - ter o agente: III - ter o agente:
a) cometido o crime por motivo de rele- a) cometido o crime por motivo de relevan-
vante valor social ou moral; te valor social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vonta- b) procurado, por sua espontânea vontade
de e com eficiência, logo após o crime, evi- e com eficiência, logo após o crime, evitar-
tar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, -lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou
ou ter, antes do julgamento, reparado o ter, antes do julgamento, reparado o dano;
dano; c) cometido o crime sob coação a que po-
c) cometido o crime sob a influência de dia resistir, ou em cumprimento de ordem
violenta emoção, provocada por ato injus- de autoridade superior, ou sob a influência
to da vítima; de violenta emoção, provocada por ato in-
d) confessado espontaneamente, perante justo da vítima;
a autoridade, a autoria do crime, ignorada d) confessado espontaneamente, perante
ou imputada a outrem; a autoridade, a autoria do crime;
e) sofrido tratamento com rigor não per- e) cometido o crime sob a influência de
mitido em lei. Não atendimento de atenu- multidão em tumulto, se não o provocou.
antes
Parágrafo único. Nos crimes em que a
pena máxima cominada é de morte, ao
juiz é facultado atender, ou não, às cir-
cunstâncias atenuantes enumeradas no
artigo.

Quando a pena máxima cominada ao crime for de morte, nos termos do parágrafo
único do artigo 72, do CPM, ao Juiz Federal da Justiça Militar é facultado atender, ou não, as
circunstâncias atenuantes.

O conceito de reincidência encontra-se no artigo 71 do CPM, e assim como


no Direito Penal comum, somente haverá reincidência no caso de cometimento
de novo crime, após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, apli-
cada no Brasil ou em país estrangeiro.
A reincidência constitui-se em uma situação temporária, sendo desconsi-
derada no caso de cometimento de crime após cinco anos do cumprimento da
pena ou da extinção da pena imposta anteriormente, nos termos do artigo 71
do CPM.

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DIREITO PENAL MILITAR

As pessoas indiciadas em inquéritos policiais, condenadas sem o trânsito em julgado


e os que se passaram mais de cinco anos do cumprimento da pena ou de sua extinção são
consideradas primárias.
No entanto, a condenação extinta há mais de cinco anos pode ser considerada uma
das hipóteses de maus antecedentes, para fins de majoração da pena base, na forma do
artigo 69 do CPM.
O artigo 71, § 2º, do CPM determina que, para fins de reincidência, não se
consideram os crimes anistiados. Pensamos que, nesta hipótese, a lei ficou aquém do que
pretendia, devendo o dispositivo ser aplicado, também, em relação aos crimes perdoados,
já que a anistia é um perdão coletivo.
O artigo 73 do CPM, ao contrário do CP comum, determina que a agravação
ou a atenuação deverá ser fixada entre um quinto e um terço, resguardados os limites mí-
nimos e máximos da pena prevista abstratamente para o crime.
Por força do artigo 74 do CPM, havendo mais de uma agravante, ou mais de
uma atenuante, deve o Juiz Federal da Justiça Militar limitar-se a uma só agravação, ou a
uma só atenuação, já que em razão do artigo 73 do CPM, tal aumento ou diminuição, será
de um terço a um quinto, sendo despido de razoabilidade considerar tantas agravantes ou
atenuantes que se fizerem presentes ao caso concreto, o que poderia, inclusive, diminuir
ou elevar a pena, ultrapassando os limites mínimos e máximos previstos para o tipo penal
militar.
A questão do concurso entre agravantes e atenuantes encontra-se prevista no artigo
75 do CPM.
No entanto, é importante fazer um esclarecimento.
Circunstâncias preponderantes são as circunstâncias que dizem respeito aos moti-
vos determinantes (são os motivos que impulsionam o agente a cometer o crime), à perso-
nalidade do agente e à reincidência.
Na hipótese de concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-
-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes. Havendo equivalência entre
umas e outras, é como se não tivessem ocorrido.
Outro dado importante é que a atenuante da menoridade deve sempre pre-
valecer sobre as circunstâncias agravantes. Nesse sentido, já se manifestou o Supremo Tri-
bunal Federal no HC 82693 / SP. 2ª Turma. Julgamento: 11/02/2003. Rel. Min. Nelsin Jobim)
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DIREITO PENAL MILITAR
Causas de aumento e de
diminuição da pena
Art. 76.
Quando a lei prevê causas especiais de aumento ou diminuição da pena, não fica
o juiz adstrito aos limites da pena cominada ao crime, senão apenas aos da espécie de
pena aplicável (art. 58).
Parágrafo único. No concurso dessas cau-
sas especiais, pode o juiz limitar-se a um só
aumento ou a uma só diminuição, prevale-
cendo, todavia, a causa que mais aumente
ou diminua.
Na terceira fase da dosimetria da pena incidem as causas de aumento e de diminui-
ção, que podem estar previstas na Parte Geral ou na Parte Especial da Lei Penal Castrense.
Ao aplicar as majorantes e as minorantes, o Juiz Federal da Justiça Militar ou o Ministro
Relator não fica adstrito aos limites impostos abstratamente para o crime.
Por força do artigo 76, parágrafo único, do CPM, no concurso entre diversas majo-
rantes ou diversas minorantes, pode o Juiz Federal da Justiça Militar ou o Ministro Relator,
limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, entretanto, a causa que
mais aumente ou que mais diminua.

Imaginemos uma tentativa de violência contra comandante quali-


ficada com o emprego de arma. Na hipótese, o tipo penal possui
a pena base prevista no artigo 157, § 1º, que é de reclusão de três
a nove anos, mas que sofrerá o aumento de um terço, previsto no
artigo 157, § 2º, incidindo por fim, a diminuição referente à tenta-
tiva, na forma do artigo 30, II, tudo do CPM.

Uma observação importante é que as causas de aumento da pena não se confun-


dem com as qualificadoras.
A qualificadora de um crime constitui um verdadeiro tipo penal, pois possui pena
mínima e máxima previstas abstratamente, devendo, por essa razão, ser levada em con-
sideração na primeira fase da dosimetria (artigo 69 do CPM). Exemplo: A violência contra
superior possui pena cominada de detenção de três meses a dois anos (artigo 157, caput,
do CPM), já violência contra superior qualificada, praticada contra o comandante do agente
ou contra oficial general a pena é de reclusão de três a nove anos (artigo 157, § 1º, do CPM).

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DIREITO PENAL MILITAR
Nessa mesma hipótese, se a violência contra superior for praticada com
arma, a pena é aumentada de um terço, ou seja, a causa de aumento incide sobre o tipo
penal simples e sobre o tipo qualificado, devendo esta causa de aumento ser aplicada na
terceira fase da dosimetria da pena.

Concurso de crimes
Art. 79.
Quando o agente, mediante uma só ou mais de uma ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes, idênticos ou não, as penas privativas de liberdade devem ser unificadas. Se
as penas são da mesma espécie, a pena única é a soma de todas; se, de espécies diferen-
tes, a pena única e a mais grave, mas com aumento correspondente à metade do tempo
das menos graves, ressalvado o disposto no art. 58.

Crime continuado
Art. 80.
Aplica-se a regra do artigo anterior, quando o agente, mediante mais de uma ação
ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo,
lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser considera-
dos como continuação do primeiro.

Parágrafo único. Não há crime continuado


quando se trata de fatos ofensivos de bens ju-
rídicos inerentes à pessoa, salvo se as ações
ou omissões sucessivas são dirigidas contra a
mesma vítima.

O concurso de crimes, no estudo do CPM, também possui algumas peculiaridades,


quando comparados ao CP comum.
O artigo 79 do CPM, trata, em conjunto, do concurso material e do concurso formal
de crimes, determinando que as penas privativas de liberdade serão unificadas. Se as pe-
nas são da mesma espécie, a pena única é a soma de todas; se de espécies diferentes, a
pena única é a mais grave, mas com o aumento correspondente à metade do tempo das
menos graves.
Com relação ao crime continuado, previsto no artigo 80 do CPM, o tratamento é
extremamente mais grave que o dado pelo Código Penal comum, o que levou o Superior
Tribunal Militar a aplicar a regra do artigo 71 do CP comum, por ser mais benéfica aos réus.
Nesse sentido:

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DIREITO PENAL MILITAR
CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA. CRI-
ME CONTINUADO. RECURSO MINISTERIAL
VISANDO A MAJORAÇÃO DAS PENAS. APLI-
CAÇÃO DA REGRA DO ART. 71 DO CPB AO
INVÉS DAQUELA CONSTANTE DO ART. 80
DO CPM PELA SENTENÇA RECORRIDA. PRIN-
CÍPIOS DA ISONOMIA, DA RAZOABILIDADE
E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. IM-
PROVIMENTO DO APELO. Na continuidade
delitiva, a construção pretoriana que aplica
a regra do art. 71 do Código Penal comum
em lugar daquela constante do art. 80 do
CPM tem por objetivo propiciar um trata-
mento isonômico entre aqueles que prati-
cam um crime militar e um crime comum.
Precedente isolado de uma das Turmas do
Supremo Tribunal Federal não tem o con-
dão de alterar jurisprudência pacífica desta
Corte. Prevalência dos princípios constitu-
cionais sobre simples regras de hermenêu-
tica, como o princípio da especialidade. Im-
provimento do apelo ministerial. Decisão
majoritária. (STM - Ap 2006.01.050302-1 UF:
PE. Julgamento: 05/12/2006. Rel. p/Acórdão
Min. José Coelho Ferreira)

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DIREITO PENAL MILITAR

Suspensão condicional da pena


Pressupostos da suspensão
Art. 84
A execução da pena privativa da liberdade, não superior a 2 (dois) anos, pode ser
suspensa, por 2 (dois) anos a 6 (seis) anos, desde que:

I - o sentenciado não haja sofrido no País ou no


estrangeiro, condenação irrecorrível por outro
crime a pena privativa da liberdade, salvo o dis-
posto no 1º do art. 71;
II - os seus antecedentes e personalidade, os
motivos e as circunstâncias do crime, bem
como sua conduta posterior, autorizem a pre-
sunção de que não tornará a delinqüir.

Restrições
Parágrafo único. A suspensão não se estende
às penas de reforma, suspensão do exercício
do pôsto, graduação ou função ou à pena aces-
sória, nem exclui a aplicação de medida de se-
gurança não detentiva.
Condições
Art. 85.
A sentença deve especificar as condições a que fica subordinada a suspensão.

Revogação obrigatória da suspensão

Art. 86.
A suspensão é revogada se, no curso do prazo, o beneficiário:
I - é condenado, por sentença irrecorrível, na
Justiça Militar ou na comum, em razão de cri-
me, ou de contravenção reveladora de má ín-
dole ou a que tenha sido imposta pena privati-
va de liberdade;
II - não efetua, sem motivo justificado, a repa-
ração do dano;
III - sendo militar, é punido por infração discipli-
nar considerada grave.

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DIREITO PENAL MILITAR
Revogação facultativa

1º A suspensão pode ser também revogada,


se o condenado deixa de cumprir qualquer
das obrigações constantes da sentença.

Prorrogação de prazo

2º Quando facultativa a revogação, o juiz


pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o
período de prova até o máximo, se êste não
foi o fixado.
3º Se o beneficiário está respondendo a
processo que, no caso de condenação,
pode acarretar a revogação, considera-se
prorrogado o prazo da suspensão até o jul-
gamento definitivo.
Extinção da Pena
Art. 87.
Se o prazo expira sem que tenha sido revogada a suspensão, fica extinta a pena pri-
vativa de liberdade.

Não aplicação da suspensão condicional da pena


Art. 88.
A suspensão condicional da pena não se aplica:
I - ao condenado por crime cometido em
tempo de guerra;
II - em tempo de paz:
a) por crime contra a segurança nacional,
de aliciação e incitamento, de violência con-
tra superior, oficial de dia, de serviço ou de
quarto, sentinela, vigia ou plantão, de des-
respeito a superior, de insubordinação, ou
de deserção;
b) pelos crimes previstos nos arts. 160, 161,
162, 235, 291 e seu parágrafo único, ns. I a
IV.

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DIREITO PENAL MILITAR

São requisitos para a concessão do sursis, nos termos do artigo 84 do CPM:

1 - Que a pena privativa de liberdade não seja superior a dois anos;


2 - Que o sentenciado não tenha sofrido, no País ou no estrangeiro, condenação irrecorrí-
vel por outro crime a pena privativa de liberdade, salvo no caso em que tenha sido ultra-
passado mais de 5 anos da condenação anterior, nos termos do artigo 71, § 1º, do CPM;
3 - Os antecedentes e personalidade, os motivos e as circunstâncias do crime, bem como
sua conduta posterior, autorizem a presunção de que o sentenciado não voltará a delin-
qüir.

O sursis pode ser concedido pelo prazo de 2 a 6 anos, diferentemente do Direito


Penal comum, que pode ser concedido pelo prazo de 2 a 4 anos (artigo 77 do CP).

Por sua própria natureza, que é de impedir o encarceramento do indivíduo, a sus-


pensão condicional da pena é incompatível com penas militares que não geram o cercea-
mento de liberdade, por isso, o artigo 84, parágrafo único, do CPM, veda sua concessão aos
apenados com reforma, suspensão do exercício do posto, graduação ou função ou à pena
acessória, nem exclui a aplicação de medida de segurança não detentiva.
O Conselho de Justiça, por ocasião da prolação da sentença, deve fixar as condições
a que fica subordinado o sursis (artigo 85 do CPM). São condições previstas no artigo 608
do CPPM:
1 - Frequentar curso de habilitação profissional ou de instrução escolar;
2 - Prestar serviços à comunidade;
3 - Atender aos encargos da família;
4 - Submeter-se a tratamento médico (artigo 608 do CPPM).

A competência para a concessão da suspensão condicional da pena é do Conselho


de Justiça (artigo 28, VII, da LOJM) e do STM, no caso de sua competência originária (artigo
6º, I, alínea “a”, da LOJM).
Na hipótese em que não haja referência à concessão do sursis na condenação, o Juiz
Federal da Justiça Militar, por ocasião da execução da sentença poderá concedê-lo.

84 ©2019 Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas


DIREITO PENAL MILITAR
As causas de revogação da suspensão condicional podem ser obrigatórias ou facul-
tativas.
As causas de revogação obrigatória encontram-se previstas no artigo 614 do CPPM
e ocorrem nas seguintes hipóteses:
1 - Se o beneficiado for condenado, na justiça militar ou na comum, por sentença irrecorrí-
vel, a pena privativa de liberdade;
2 - Se o beneficiado não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano;
3 - No caso de beneficiado militar que for punido por crime próprio ou por transgressão
disciplinar considerada grave.

A revogação facultativa da suspensão condicional do processo, nos termos do artigo


614, § 1º, do CPPM, pode ocorrer nas seguintes hipóteses:
1 - Se o beneficiado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes na sentença;
2 - Se o beneficiado deixar de observar as obrigações inerentes à pena acessória;
3 - Se o beneficiado for irrecorrivelmente condenado a pena que não seja privativa de li-
berdade.

Caso o Juiz Federal daJustiça Militar, na hipótese de revogação facultativa, entender pela
manutenção do benefício deverá:
a) advertir o beneficiário, ou
b) exacerbar as condições ou, ainda,
c) prorrogar o período de suspensão até o máximo, se esse limite não foi o fixado.

Na hipótese em que o beneficiado, durante o prazo de prova, venha a ser proces-


sado por novo delito, o Juiz-Auditor deverá prorrogar o prazo de prova até o trânsito em
julgado do processo, fazendo as comunicações necessárias nesse sentido (artigo 614, § 3º,
do CPPM).
No caso de cumprimento do prazo de prova, sem a ocorrência das causas de revoga-
ção do sursis, ficará extinta a pena privativa de liberdade, nos termo do artigo 87 do CPM.

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DIREITO PENAL MILITAR

A suspensão condicional da pena, nos termos do artigo 88 do CPM, não se aplica nas
seguintes hipóteses:

1 - Ao condenado por crime cometido em tempo de guerra;


2 - Em tempo de paz:
a) pelos crimes de aliciação e incitamento, de violência contra superior, oficial de dia, de
serviço ou de quarto, sentinela, vigia ou plantão, de desrespeito a superior, de insubordi-
nação, ou de deserção;
b) pelos crimes previstos nos artigos 160 (desrespeito à superior), 161 (desrespeito a co-
mandante, oficial-general ou oficial de serviço), 162 (despojamento desprezível), 235 (pede-
rastia), 291 e seu parágrafo único, I a IV (receita ilegal e casos assimilados).

A primeira observação importante é que a suspensão condicional da


pena não se aplica em tempo de guerra, qualquer que seja o crime.
Em regra, como se pode observar da leitura do artigo 88 do CPM, a
suspensão condicional da pena não se aplica aos crimes que afetam diretamen-
te a hierarquia e a disciplina, bem como os crimes de pederastia e receita ilegal.
Uma questão interessante é saber se poderia ser concedida a sus-
pensão condicional da pena aos condenados pelos crimes de insubmissão e
desacato.
A dúvida reside no conflito entre o artigo 617, II, alínea “a”, do CPPM
e o artigo 88, II, do CPM, sendo que o primeiro dispositivo veda, expressamen-
te, a concessão do sursis nos casos de insubmissão e desacato, e o segundo é
silente a respeito.
Pensamos que a melhor interpretação é aquela que autoriza a con-
cessão do benefício aos condenados por insubmissão e desacato, nos termos
do artigo 88, II, do CPM, seja em razão da natureza material do instituto, seja em
razão da interpretação que prestigia o princípio da humanidade, na medida em
que evita a aplicação de pena privativa de liberdade de curta duração, que é o
impedimento.

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DIREITO PENAL MILITAR
Livramento condicional
O livramento condicional, segundo Luiz Régis Prado, consiste na liberação do conde-
nado após o cumprimento de parte da sanção penal aplicada em estabelecimento penal,
desde que cumpridamente observados os pressupostos que regem a sua concessão e sob
certas condições previamente estipuladas.
A competência para decidir sobre a concessão do livramento condicional é do Juiz
Federal daJustiça Militar (artigo 30, XIV, da LOJM), ou do Presidente do STM, nos casos de
sua competência originária (artigo 9º, XIV, da LOJM).

São requisitos para a concessão do livramento condicional, previstos no artigo 89 do


CPM:

1 - pena privativa de liberdade seja superior a 2 anos de detenção ou reclusão;


2 - que o apenado tenha cumprido metade da pena, se primário, ou dois terços, se reinci-
dente;
3 - reparação do dano causado pelo crime, salvo absoluta impossibilidade de fazê-lo;
4 - boa conduta durante a execução da pena, adaptação ao trabalho e às circunstâncias
atinentes à sua personalidade, ao meio social e à vida pregressa permitem supor que o
condenado não voltará a delinqüir.

No caso de concurso de infrações, nos termos do artigo 89, § 1º, do CPM, o livramen-
to condicional será concedido com base na pena unificada.
Se o apenado é primário e menor de vinte e um anos (à época do crime) ou maior
de setenta anos (no momento da execução), o tempo de cumprimento da pena, para a
concessão do livramento, pode ser reduzido a um terço.

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DIREITO PENAL MILITAR

A decisão que concede o livramento condicional deve especificar as condições a que fica
subordinada a concessão do benefício (artigo 90 do CPM).
São condições para a concessão do livramento condicional, nos termos do artigo
626 do CPPM:

1 - tomar ocupação, dentro de prazo razoável, se for apto para o trabalho;


2 - não se ausentar do território da jurisdição do juiz, sem prévia autorização;
3 - não portar armas ofensivas ou instrumentos capazes de ofender;
4 - não frequentar casas de bebidas alcoólicas ou de tavolagem (casa de jogos);
5 - não mudar de habitação, sem aviso prévio à autoridade competente.

São legitimados para requerer o livramento condicional, nos termos do artigo 619
do CPPM:

1 - o sentenciado, seu cônjuge ou seu convivente, bem como algum parente em linha reta;
2 - por proposta do diretor do estabelecimento penal militar, e
3 - por iniciativa do conselho penitenciário ou órgão equivalente.


Durante o cumprimento do livramento condicional, o beneficiado fica sob a
fiscalização do Ministério Público Militar e do Juiz Federal da Justiça Militar, já que os Ór-
gãos elencados no artigo 92 do CPM não foram criados no âmbito da Justiça Militar.

Haverá revogação obrigatória do livramento condicional, nos termos do arti-


go 93 do CPM, se o beneficiado vem a ser condenado por sentença transitada em julgado:

1 - por infração penal cometida durante a vigência do benefício;


2 - por infração penal anterior, salvo se, tendo de ser unificadas as penas, não fica prejudi-
cado o requisito do artigo 89, I, alínea “a”, do CPM (metade da pena).

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DIREITO PENAL MILITAR
As hipóteses de revogação facultativa encontram-se previstas no artigo 93, § 1º, do CPM,
ocorrendo quando:

1 - se o beneficiado não cumprir as obrigações constantes na sentença;


2 - no caso de condenação transitada em julgado por contravenção penal a pena que não
seja privativa de liberdade, e
3 - se militar, vem a ser punido por transgressão disciplinar grave.

As condenações por crimes comuns perante a Justiça Estadual ou Federal são


causas de revogação obrigatória, as condenações por contravenções penais são causas de
revogação facultativa do livramento condicional, nos termos do artigo 93, § 2º, do CPM.
O artigo 96 do CPM veda a concessão do livramento condicional ao condena-
do por crime praticado em tempo de guerra. A nosso ver, esta vedação se aplica aos crimes
militares e aos crimes comuns julgados pela Justiça Militar, na hipótese do artigo 10, inciso
IV, de nossa Lei Penal Castrense.

Regra importante e que merece crítica é a prevista no artigo 97 do CPM, que


trata dos casos especiais do livramento condicional. Eis o dispositivo em comento:

Art. 97.
Em tempo de paz, o livramento condicional por crime contra a segurança externa do
país, ou de revolta, motim, aliciação e incitamento, violência contra superior ou militar de
serviço, só será concedido após o cumprimento de dois terços da pena, observado ainda o
disposto no art. 89, preâmbulo, seus números II e III e §§ 1º e 2º.

Como se pode observar, a intenção da Lei Penal Militar é tratar com maior rigor
os crimes que atentem ou ofendam, diretamente, a segurança externa do País,
a hierarquia e a disciplina militar, determinando que em tais hipóteses a conces-
são do livramento condicional somente ocorrerá com o cumprimento de dois
terços da pena.

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DIREITO PENAL MILITAR

Penas acessórias
Art. 98.
São penas acessórias:

I - a perda de posto e patente;


II - a indignidade para o oficialato;
III - a incompatibilidade com o oficialato;
IV - a exclusão das forças armadas;
V - a perda da função pública, ainda que eletiva;
VI - a inabilitação para o exercício de função pú-
blica;
VII - a suspensão do pátrio poder, tutela ou
curatela;
VIII - a suspensão dos direitos políticos.

Diferentemente do CP comum, o CPM, em seu artigo 98, prevê a aplicação de penas


acessórias, que na maioria de suas hipóteses, pretendem excluir o criminoso das Forças
Amadas, com a clara finalidade de prevenção geral, demonstrando aos efetivos, que os
violadores da hierarquia e da disciplina serão, infalivelmente, retirados de suas fileiras.
Uma primeira observação é que os incisos I, II e III, do artigo 98, regulados
pelos artigos 99, 100 e 101, do CPM devem ser compatibilizados com o artigo 142, § 3º, VI,
da Constituição da República.
Como podemos observar, o oficial das Forças Armadas somente poderá per-
der o posto e a patente, mediante um processo administrativo deflagrado pelo Procura-
dor-Geral da Justiça Militar (artigo 116, II, da LC 75/93), perante o Superior Tribunal Militar
(artigo 6º, I, alínea h, da LOJM), denominado representação para a perda do posto e da
patente, por indignidade ou por incompatibilidade com o oficialato.
Assim, embora elencados como pena acessória no artigo 98, I, II e III, do CPM, a per-
da do posto e da patente, a indignidade e a incompatibilidade para com o oficialato, não
foram recepcionadas pela Constituição da República, não podendo ser aplicadas, automa-
ticamente, pelos Órgãos da Justiça Militar.

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DIREITO PENAL MILITAR
A perda do posto e da patente, nos termos do artigo 99 do CPM, ocorrerá na hipóte-
se em que o oficial for condenado, por crime comum ou militar, a pena privativa de liber-
dade superior a 2 anos, observe que nesta hipótese não se faz qualquer alusão quanto à
natureza do crime.
Nessa hipótese, após o trânsito em julgado, o Procurador-Geral da Justiça Mi-
litar representará ao Superior Tribunal Militar, que acolhendo o pedido ministerial, deter-
minará a perda do posto e da patente do oficial.
A indignidade para o oficialato ocorre nos casos em que o oficial pratica cri-
mes que demonstram sua indignidade para com a função de oficial das Forças Armadas e
estão ligados à desonra, à infâmia.

São crimes que geram a indignidade para com o oficialato, nos termos do ar-
tigo 100 do CPM:

Artigo 161 desrespeito a símbolo nacional,


Artigo 235 pederastia,
Artigo 240 furto,
Artigo 242 roubo,
Artigo 243 extorsão simples,
Artigo 244 extorsão mediante seqüestro,
Artigo 245 chantagem,
Artigo 251 estelionato,
Artigo 252 abuso de pessoa,
Artigo 303 peculato,
Artigo 304 peculato mediante de aproveitamento de erro de outrem,
Artigo 311 falsificação de documento,
Artigo 312 falsidade ideológica.

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DIREITO PENAL MILITAR

A incompatibilidade para com o oficialato ocorre nos casos de cometimento de cri-


mes cuja conduta seja incompatível com a condição de oficial das Forças Armadas, afe-
tando a própria atividade militar. São hipóteses que geram a incompatibilidade com o ofi-
cialato, na forma do artigo 101 do CPM, a prática dos crimes de entendimento para gerar
conflito ou divergência com o Brasil (artigo 141) e tentativa contra a soberania do Brasil
(artigo 142).
Também na hipótese de incompatibilidade e de indignidade para o oficialato, o Pro-
curador-Geral da Justiça Militar representará ao Superior Tribunal Militar, para que declare
o oficial indigno ou incompatível para com o oficialato, com a consequente perda do posto
e da patente.
Esse tratamento, que garante verdadeira vitaliciedade ao oficial, não se aplica às
praças, de forma que a sentença condenatória poderá aplicar a pena de exclusão das For-
ças Armadas.
A exclusão das Forças Armadas é prevista como pena acessória no artigo 98, IV, c/c
102, do CPM, sendo aplicada às praças das Forças Armadas condenadas a penas privativas
de liberdade superior a 2 anos, sendo aplicada automaticamente após o trânsito em julga-
do da sentença penal condenatória.
A perda da função pública, ainda que eletiva (artigo 98, V, c/c 103, do CPM), é
aplicada aos ocupantes de emprego, cargo ou função pública, sejam civis, ou militares da
reserva ou reformados que exerçam funções públicas civis.
É imposta, independentemente da pena aplicada, quando o crime é cometido com
abuso de poder ou com violação de dever inerente à função pública, bem como aos conde-
nados a penas superiores a 2 anos, nos termos do artigo 103, I e II, do CPM.
A inabilitação para o exercício de função pública nos termos do artigo 98, VI, c/c 104
do CPM, é imposta aos condenados a mais de quatro anos de reclusão, por crime cometido
com abuso de poder ou violação do dever militar ou inerente à função pública.
Essa inabilitação pode ser imposta pelo prazo de dois até vinte anos e se inicia ao
término da execução da pena privativa de liberdade ou da medida de segurança, ou ainda,
da data que se extingue a pena (artigo 104, parágrafo único, do CPM).

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DIREITO PENAL MILITAR
A suspensão do pátrio poder, da tutela e da curatela é imposta aos condenados com
penas superiores a 2 anos, independentemente da natureza do crime praticado, enquanto
durar a execução da pena ou da medida de segurança.
Logicamente, o legislador se preocupou com a impossibilidade do exercício do po-
der familiar, da tutela e da curatela, pelo apenado, enquanto durar a execução penal mili-
tar.
No entanto, esse dispositivo merece maior reflexão, na medida em que o con-
denado, militar ou civil, que tiver sua execução da pena processada pela Vara de
Execuções Penais dos Estados e do Distrito Federal, poderá ser beneficiado pe-
las regras do CP comum, não sendo recolhido ao cárcere (ver artigo 62 do CPM),
de forma que não haverá necessidade de imposição da medida, devendo esta
ser revogada pelo Juízo da Execução.

A suspensão dos direitos políticos é imposta aos condenados a penas privativas de


liberdade ou aos submetidos à medida de segurança, ou ainda, enquanto durar a inabili-
tação para o exercício de função pública, não podendo votar e ser votado (artigo 106 do
CPM).
O artigo 107 do CPM determina que todas as penas acessórias devem constar, ex-
pressamente, na sentença, salvo os casos de perda da função pública e suspensão dos di-
reitos políticos. O dispositivo legal nos leva à conclusão de que se a sentença condenatória
não contiver a expressa menção sobre pena acessória, não poderá esta ser executada.
O artigo 108 do CPM determina o prazo das inabilitações temporárias, o tempo de
liberdade resultante da suspensão condicional da pena ou do livramento condicional, deve
ser computado, se não sobrevém revogação.

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DIREITO PENAL MILITAR

Efeitos da condenação
Obrigação de reparar o dano

Art. 109.
São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de reparar o dano
resultante do crime;
Perda em favor da Fazenda Nacional

II - a perda, em favor da Fazenda Nacional, res-


salvado o direito do lesado ou de terceiro de
boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que con-
sistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso,
porte ou detenção constitua fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem
ou valor que constitua proveito auferido pelo
agente com a sua prática.

Medidas de Segurança
Espécies de medidas de segurança

Art. 110.
As medidas de segurança são pessoais ou patrimoniais. As da primeira espécie sub-
dividem-se em detentivas e não detentivas. As detentivas são a internação em manicômio
judiciário e a internação em estabelecimento psiquiátrico anexo ao manicômio judiciário
ou ao estabelecimento penal, ou em seção especial de um ou de outro. As não detentivas
são a cassação de licença para direção de veículos motorizados, o exílio local e a proibição
de frequentar determinados lugares. As patrimoniais são a interdição de estabelecimento
ou sede de sociedade ou associação, e o confisco.

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DIREITO PENAL MILITAR
Pessoas sujeitas às medidas de segurança

Art. 111.
As medidas de segurança somente podem ser impostas:

I - aos civis;
II - aos militares ou assemelhados, conde-
nados a pena privativa de liberdade por
tempo superior a dois anos, ou aos que de
outro modo hajam perdido função, pôsto e
patente, ou hajam sido excluídos das fôrças
armadas;
III - aos militares ou assemelhados, no caso
do art. 48;
IV - aos militares ou assemelhados, no caso
do art. 115, com aplicação dos seus §§ 1º,
2º e 3º.
Manicômio judiciário

Art. 112.
Quando o agente é inimputável (art. 48), mas suas condições pessoais e o fato pra-
ticado revelam que ele oferece perigo à incolumidade alheia, o juiz determina sua interna-
ção em manicômio judiciário.

Prazo de internação

§ 1º A internação, cujo mínimo deve ser fi-


xado de entre um a três anos, é por tempo
indeterminado, perdurando enquanto não
for averiguada, mediante perícia médica, a
cessação da periculosidade do internado.

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DIREITO PENAL MILITAR

Perícia Médica
§ 2º Salvo determinação da instância superior, a
perícia médica é realizada ao término do prazo
mínimo fixado à internação e, não sendo esta
revogada, deve aquela ser repetida de ano em
ano.
Desinternação condicional

§ 3º A desinternação é sempre condicional, de-


vendo ser restabelecida a situação anterior, se
o indivíduo, antes do decurso de um ano, vem
a praticar fato indicativo de persistência de sua
periculosidade.
4º Durante o período de prova, aplica-se o dis-
posto no art. 92.

Substituição da pena por internação

Art. 113.
Quando o condenado se enquadra no parágrafo único do art. 48 e necessita de
especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela inter-
nação em estabelecimento psiquiátrico anexo ao manicômio judiciário ou ao estabeleci-
mento penal, ou em seção especial de um ou de outro.

Superveniência de cura
1º Sobrevindo a cura, pode o internado ser
transferido para o estabelecimento penal, não
ficando excluído o seu direito a livramento con-
dicional.

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DIREITO PENAL MILITAR
Persistência do estado mórbido
2º Se, ao término do prazo, persistir o mór-
bido estado psíquico do internado, condi-
cionante de periculosidade atual, a interna-
ção passa a ser por tempo indeterminado,
aplicando-se o disposto nos §§ 1º a 4º do
artigo anterior.
Ébrios habituais ou toxicômanos
3º À idêntica internação para fim curativo,
sob as mesmas normas, ficam sujeitos os
condenados reconhecidos como ébrios ha-
bituais ou toxicômanos.

Regime de internação

Art. 114.
A internação, em qualquer dos casos previstos nos artigos precedentes, deve visar
não apenas ao tratamento curativo do internado, senão também ao seu aperfeiçoamento,
a um regime educativo ou de trabalho, lucrativo ou não, segundo o permitirem suas condi-
ções pessoais.

Cassação de licença para dirigir veículos motorizados

Art. 115.
Ao condenado por crime cometido na direção ou relacionadamente à direção de ve-
ículos motorizados, deve ser cassada a licença para tal fim, pelo prazo mínimo de um ano,
se as circunstâncias do caso e os antecedentes do condenado revelam a sua inaptidão para
essa atividade e consequente perigo para a incolumidade alheia.

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DIREITO PENAL MILITAR
1º O prazo da interdição se conta do dia em que
termina a execução da pena privativa de liber-
dade ou da medida de segurança detentiva, ou
da data da suspensão condicional da pena ou
da concessão do livramento ou desinternação
condicionais.
2º Se, antes de expirado o prazo estabelecido, é
averiguada a cessação do perigo condicionante
da interdição, esta é revogada; mas, se o perigo
persiste ao têrmo do prazo, prorroga-se êste
enquanto não cessa aquêle.
3º A cassação da licença deve ser determinada
ainda no caso de absolvição do réu em razão
de inimputabilidade.
Exílio local
Art. 116.
O exílio local, aplicável quando o juiz o considera necessário como medida preven-
tiva, a bem da ordem pública ou do próprio condenado, consiste na proibição de que este
resida ou permaneça, durante um ano, pelo menos, na localidade, município ou comarca
em que o crime foi praticado.
Parágrafo único. O exílio deve ser cumprido
logo que cessa ou é suspensa condicionalmen-
te a execução da pena privativa de liberdade.

Proibição de frequentar determinados lugares


Art. 117.
A proibição de frequentar determinados lugares consiste em privar o condenado,
durante um ano, pelo menos, da faculdade de acesso a lugares que favoreçam, por qual-
quer motivo, seu retorno à atividade criminosa.
Parágrafo único. Para o cumprimento da proi-
bição, aplica-se o disposto no parágrafo único
do artigo anterior.
Interdição de estabelecimento, sociedade ou associação
Art. 118.
A interdição de estabelecimento comercial ou industrial, ou de sociedade ou associa-
ção, pode ser decretada por tempo não inferior a quinze dias, nem superior a seis meses,
se o estabelecimento, sociedade ou associação serve de meio ou pretexto para a prática de
infração penal.

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DIREITO PENAL MILITAR
1º A interdição consiste na proibição de
exercer no local o mesmo comércio ou in-
dústria, ou a atividade social.
2º A sociedade ou associação, cuja sede é
interditada, não pode exercer em outro lo-
cal as suas atividades.
Confisco
Art. 119.
O juiz, embora não apurada a autoria, ou ainda quando o agente é inimputável, ou
não punível, deve ordenar o confisco dos instrumentos e produtos do crime, desde que
consistam em coisas:

I - cujo fabrico, alienação, uso, porte ou de-


tenção constitui fato ilícito;
II - que, pertencendo às forças armadas ou
sendo de uso exclusivo de militares, este-
jam em poder ou em uso do agente, ou de
pessoa não devidamente autorizada;
III - abandonadas, ocultas ou desapareci-
das.
Parágrafo único. É ressalvado o direito do
lesado ou de terceiro de boa-fé, nos casos
dos ns. I e III.
Imposição da medida de segurança
Art. 120.
A medida de segurança é imposta em sentença, que lhe estabelecerá as condições,
nos termos da lei penal militar.

Parágrafo único. A imposição da medida de


segurança não impede a expulsão do es-
trangeiro.

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DIREITO PENAL MILITAR

O Código Penal Militar, em seu artigo 110 do CPM, trata das medidas de segurança, que
podem ser pessoais e patrimoniais.

As medidas de segurança pessoais, por sua vez, dividem-se em:

(internação em manicômio judiciário, internação em estabe-


DETENTIVAS lecimento psiquiátrico anexo ao manicômio judiciário ou es-
tabelecimento penal, ou em seção especial de um ou de outro)

(cassação de licença para direção de veículos motoriza- NÃO


dos, o exílio de local e a proibição de frequentar determi-
nados lugares). DETENTIVAS

Já as medidas de segurança patrimoniais podem ser de: interdição de estabelecimento


ou de sede de sociedade ou associação, e o confisco.

O artigo 111 do CPM determina que as medidas de segurança podem ser impostas:
I - aos civis;
II – aos militares condenados à penas privativas de liberdade superiores a dois anos, ou
aos que de qualquer modo tenham perdido função, posto, patente, ou tenham sido exclu-
ídos das Forças Armadas;
III – aos militares inimputáveis e aos semi-imputáveis;
IV – aos condenados por crime cometido na direção ou relacionadamente à direção de
veículos motorizados.

As medidas de segurança detentivas são impostas, principalmente, aos inimpu-


táveis, cuja periculosidade recomende sua aplicação.

Na hipótese em que um inimputável venha a cometer uma condu-


ta adequada ao CPM e ao seu artigo 9º, deve ser processado pe-
rante a Justiça Militar, estabelecendo-se o incidente de insanidade
mental do acusado, nos termos do artigo 156 do CPPM.

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DIREITO PENAL MILITAR
Ainda que reconhecida a inimputabilidade do indivíduo, deve o processo ter seu
seguimento, para que a Justiça Militar aprecie se o fato seria típico e antijurídico. Afastada
a tipicidade ou sendo reconhecida a existência de causa de justificação da conduta, o réu
deve ser absolvido, não podendo ser imposta qualquer de medida de segurança.
Se for reconhecida a tipicidade e a antijuridicidade da conduta, o réu será ab-
solvido, sendo-lhe imposta a medida de segurança. É a denominada sentença absolutória
imprópria.
O Superior Tribunal Militar, ao apreciar a Correição Parcial nº 1997.01.001542-
9 RS, entendeu que uma vez reconhecida a inimputabilidade do acusado, deve ser imposta
a sentença absolutória, com a deliberação sobre a necessidade de imposição de medida de
segurança.

INIMPUTABILIDADE PENAL. HOMOLOGA-


ÇÃO DO LAUDO PERICIAL PELO CONSE-
LHO DE JUSTIÇA. IMPERATIVA SENTENÇA
ABSOLUTÓRIA. MEDIDA DE SEGURANÇA.
DELIBERAÇÃO DO CONSELHO SOBRE SEU
CABIMENTO. Homologado o laudo pericial,
tem-se como imperativa a declaração de
inimputabilidade do agente, por sentença
que há de ser absolutória (Arts. 160 c/c 439,
“d”, CPPM), devendo o Conselho de Justiça
deliberar sobre a aplicabilidade ou não da
medida de segurança, a qual, cinge-se aos
casos de existência de perigo à incolumida-
de alheia, oferecida pelo agente, seja pelo
fato praticado ou por suas condições pes-
soais (Art. 112, CPM). Correição Parcial de-
ferida. Decisão unânime. (STM – Correição
Parcial 1997.01.001542-9 UF: RS. Julgamen-
to: 21/10/1997. Rel. Min. José Julio Pedrosa)

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DIREITO PENAL MILITAR

Pensamos que não é possível a aplicação da medida de segurança sem o curso da


marcha processual, com a necessária apreciação sobre a tipicidade e antijuridicidade da
conduta, que podem restar afastadas, com a consequente absolvição do acusado, não sen-
do possível sua imposição.
As medidas de segurança também podem ser aplicadas aos semi-imputáveis, que,
por possuírem culpabilidade reduzida, merecem um juízo de reprovação menor que os
imputáveis. Assim, a Lei Penal Militar determina que o semi-imputável, caso condenado,
tenha sua pena atenuada, nos termos do artigo 48, parágrafo único, do CPM, ou ainda,
que tenha sua pena substituída por internação, quando necessitar de especial tratamento
curativo (artigo 113 do CPM).

Como já esclarecido, os inimputáveis devem, necessariamente, serem absolvi-


dos, com aplicação de medida de segurança, caso constatada sua periculosida-
de, diferentemente do que ocorre com os semi-imputáveis, que são condena-
dos, mas podem ter sua pena substituída por internação em estabelecimento
psiquiátrico.

Questão interessante é saber se a Justiça Militar pode impor medi-


da de segurança para tratamento ambulatorial, já que tal modali-
dade de tratamento não encontra amparo no Código Penal Militar.
Se a imposição de medida de segurança, embora de caráter pe-
nal, possui a natureza preventiva e assistencial, o parâmetro para
a escolha do tratamento, se detentivo ou ambulatorial, deve ser
determinado pela necessidade curativa, já que uma eventual in-
ternação poderá agravar a doença, que poderia ser curada através
de tratamento ambulatorial.

É incontestável que os Órgãos da Justiça Militar, quando o diagnóstico recomendar,


devem determinar o tratamento ambulatorial, previsto no artigo 96, II, do CP comum, como
já advertiram Ione de Souza Cruz e Cláudio Amin Miguel, bem como Alexandre Saraiva.

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DIREITO PENAL MILITAR
O Superior Tribunal Militar já se manifestou no sentido de que não há qualquer im-
pedimento para aplicação de medida de segurança para tratamento ambulatorial. Nesse
sentido:

DESERÇÃO - DELITO FORMAL PLENAMEN-


TE CONFIGURADO ‘IN CASU’. APELANTE
PORTADOR DE ALCOOLISMO CRONICO E
NEUROSE DEPRESSIVO-ANSIOSA, E QUE NA
ÉPOCA DOS FATOS NARRADOS NA ACU-
SAÇÃO NÃO APRESENTAVA PLENA CAPA-
CIDADE DE AUTODETERMINAÇÃO. O SU-
PLICANTE SE APRESENTOU 27 DIAS APÓS
A CONSUMAÇÃO DO DELITO, COM O QUE
SE BENEFICIA DO DISPOSTO NA PARTE FI-
NAL DO INCISO I DO ARTIGO 189 DO CPM.
A R. DECISÃO ‘SUB CENSURA’ FIXOU A PE-
NA-BASE UM POUCO ABAIXO DO QUE SE-
RIA TECNICAMENTE PERFEITO. SILÊNCIO
DO ÓRGÃO MINISTERIAL E PRECEDÊNCIA
DO PRINCÍPIO MAIOR DO ‘TANTUM DE-
VOLUTUM QUANTUM APELLATUM’. POR
UNANIMIDADE O TRIBUNAL MANTEVE A
SENTENÇA APELADA, EM SEU ‘QUANTUM’,
E CONVERTENDO A PENA EM TRATAMEN-
TO AMBULATORIAL ‘EX-VI’ DOS ARTIGOS
48 E 113 DO DIPLOMA CASTRENSE. ( STM
– Ap 1986.01.044561-9 UF: RJ. Julgamento:
15/04/1986. Rel. Min. Deoclécio Lima de Si-
queira)

©2019 Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas 103


DIREITO PENAL MILITAR

A medida de segurança de internação deve ser executada em manicômio judiciário e


o período mínimo deve ser fixado entre 1 e 3 anos, devendo ser prorrogada enquanto não
cessar a periculosidade do agente (artigo 112, § 1º, do CPM), já as de tratamento ambulato-
rial devem seguir as regras previstas no Código Penal comum.
A cessação de periculosidade é aferida através de perícia médica, que é realizada
ao término do prazo mínimo fixado para a internação ou do tratamento ambulatorial, que
não sendo revogados, deve ser repetida de ano em ano (artigo 112, § 2º, do CPM).
Uma vez cessada a periculosidade do agente, deverá ser concedida sua desinterna-
ção condicional ou a cessação do tratamento ambulatorial, observando-se as regras do ar-
tigo 92 do CPM, permanecendo sobre observação cautelar e proteção de patronato oficial
ou particular, ou ainda, por serviço social penitenciário ou órgão similar (tais órgãos ainda
não foram criados no âmbito da Justiça Militar da União).
No caso em que o beneficiado, no prazo de um ano, venha a praticar ato que de-
monstre a persistência de sua periculosidade, a internação ou o tratamento ambulatorial
deverá ser restabelecido.

Como já esclarecido, o semi-imputável pode ter sua pena substituída por medi-
da de segurança, mas sobrevindo sua recuperação, deverá ser transferido para
estabelecimento penal, ficando sujeito ao cumprimento do restante da pena,
com a observância dos eventuais benefícios da execução, como o livramento
condicional.

O artigo 113, § 2º, do CPM determina que se ao término do prazo fixado para a in-
ternação persistir o estado mórbido causador da periculosidade do agente, a internação
passa a ser por tempo indeterminado. Esse dispositivo também deve ser aplicado aos sub-
metidos a tratamento ambulatorial.
Para aqueles que entendem que a medida de segurança possui limite máximo, é
necessário diferenciar as situações do inimputável e do semi-imputável.

104 ©2019 Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas


DIREITO PENAL MILITAR
No caso dos inimputáveis, a medida de segurança deve ter o
INIMPUTÁVEIS prazo máximo da pena prevista abstratamente para o crime
cometido, já que não há condenação.

Para os semi-imputáveis, que tem sua pena substituí-


da por internação, o limite máximo para a medida de SEMI-IMPUTÁVEIS
segurança é o da pena aplicada.

Para os defensores da corrente que a medida de segurança possui prazo máximo, o


indivíduo que ainda apresente periculosidade, deverá ser posto à disposição do Juízo Cível,
nos termos do artigo 1767 do Código Civil c/c 747 do CPC/15.
O artigo 113, § 3º, do CPM, determina que ébrios habituais e os toxicômanos tam-
bém ficam sujeitos à substituição da pena por medida de segurança.
Assim, quando os ébrios habituais e os toxicômanos cometerem crimes, por possu-
írem a necessidade de especial tratamento curativo, poderão ter suas penas substituídas
por medidas de segurança.

Determina o artigo 114 do CPM que a internação, em qualquer caso, além do


tratamento curativo, deve visar também o aperfeiçoamento a um regime educa-
tivo e de trabalho, lucrativo ou não, quando permitirem as condições pessoais
do internado.

Além da internação e do tratamento ambulatorial, que são medidas de segurança


cerceadoras da liberdade, existem as medidas de segurança não detentivas de cassação
da licença para a direção de veículos motorizados, o exílio local e a proibição de frequentar
determinados lugares.
Uma primeira questão acerca das medidas de segurança não detentivas seria sua
compatibilidade com o sistema vicariante, adotado pelo Código Penal Militar.
Não há qualquer incompatibilidade de aplicação das medidas de segurança não de-
tentivas e a condenação, na medida em que o sistema vicariante impede, tão-somente, a
aplicação de pena privativa de liberdade seguida de medida de segurança que cerceiem a
liberdade do condenado, restringindo esta indefinidamente.
O artigo 115 do Código Penal Militar trata a cassação de licença para dirigir veículos
motorizados como uma modalidade de medida de segurança, que são impostas aos con-
denados por crimes cometidos na direção de veículos motorizados, pelo prazo mínimo de
1 ano, se as circunstâncias do caso e os antecedentes do condenado revelam sua inaptidão
para essa atividade e consequente perigo à incolumidade alheia.

©2019 Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas 105


DIREITO PENAL MILITAR

O prazo de cassação de licença para dirigir veículos motorizados deve se iniciar ao


término da execução da pena privativa de liberdade ou da medida de segurança detentiva,
ou ainda, da concessão do livramento condicional ou da desinternação condicional ou da
cessação do tratamento ambulatorial (artigo 115, § 1º, do CPM).
Se o Juízo da execução, antes de terminado o prazo, verificar a desnecessidade de
sua manutenção, poderá revogá-la. Ao término do prazo, se ainda se encontrarem presen-
tes as circunstâncias que justificaram sua imposição, poderá prorrogá-la por prazo indeter-
minado, até a sua cessação definitiva (artigo 115, § 2º, do CPM).
A cassação de licença para dirigir veículos motorizados deverá sempre ser imposta
aos inimputáveis, no caso das sentenças absolutórias impróprias (artigo 115, § 3º, do CPM).
O Juízo militar deverá comunicar a imposição da medida de segurança de cassação
de licença para dirigir veículos motorizados ao Comando da Força (no caso dos militares
com habilitação específica para a condução de viaturas militares) e aos Órgãos de Trânsito
dos Estados e do Distrito Federal.
O exílio de local, nos termos do artigo 116 do CPM, é aplicável quando o Juízo Militar
considerar necessário como medida preventiva, a bem da ordem pública ou do próprio
condenado, e consiste na proibição de que o condenado resida ou permaneça, pelo prazo
mínimo de um ano, na localidade, município ou comarca em que o crime foi praticado e
tem o seu início após o término da pena privativa de liberdade, da concessão do livramento
condicional ou da concessão da suspensão condicional da pena.

A proibição de frequentar determinados lugares consiste na privação do con-


denado, pelo prazo mínimo de um ano, da faculdade de acesso a lugares que
favoreçam, por qualquer motivo, seu retorno à atividade criminosa, nos termos
do artigo 117 do CPM, e tem seu início após o término da pena privativa de liber-
dade, da concessão do livramento condicional ou da concessão da suspensão
condicional da pena.
Além das medidas de segurança pessoais, o Código Penal Militar prevê a
possibilidade de imposição de medidas de segurança patrimoniais, que consis-
tem na interdição de estabelecimento comercial ou industrial, de sociedade ou
associação e o confisco, quando estas caracterizem meios ou pretextos para a
prática do crime militar, nos termos do artigo 118 do Código Penal Militar.

106 ©2019 Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas


DIREITO PENAL MILITAR
A interdição do estabelecimento empresarial ou industrial, da associação ou da sociedade
pode ser decretada pela Justiça Militar pelo prazo de cinco dias para a realização de busca
e apreensão, ou qualquer outra diligência prevista na Lei Processual Penal Militar (artigo
272, § 2º, do CPPM).
A inconstitucionalidade, que eventualmente macule o artigo 118 do CPM, reside nos
prazos mínimos e máximos para decretação da interdição do estabelecimento, principal-
mente em relação aos estabelecimentos empresariais e industriais, já que a interdição
poderá causar a inviabilidade do negócio, o que evidentemente viola o princípio da preser-
vação das empresas e o princípio da não culpabilidade.
Com o trânsito em julgado, poderá ser imposta a dissolução compulsória dos esta-
belecimentos empresariais, industriais, das associações e das sociedades, que ficarão proi-
bidos de exercer no local, o mesmo comércio, indústria ou atividade social (artigo 118, § 1º,
do CPM), sendo que as sociedades e associações não poderão voltar a exercer, mesmo em
outro local, as suas atividades (artigo 118, § 2º, do CPM).
Por fim, temos o confisco, elencado como medida de segurança patrimonial.
Previsto no artigo 119 do Código Penal Militar, o confisco pode ser decretado pela
Justiça Militar, nos casos de autoria ignorada, de agente inimputável ou impunível, deven-
do recair sobre os instrumentos e produtos do crime, desde que consistam em coisas:

1- cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitui fato ilícito;


2 - que, pertencendo às Forças Armadas ou sendo de uso exclusivo de militares, estejam
em poder ou em uso do agente, ou de pessoa não devidamente autorizada;
3 - abandonadas, ocultas ou desaparecidas.
Importante é a regra do artigo 119, parágrafo único, do CPM, que ressalva o
direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, nas hipóteses 1 e 3, anteriormente
expostas.
O artigo 120 do Código Penal Militar determina que a medida de seguran-
ça é imposta na sentença, que estabelecerá as condições de seu cumprimento,
nos termos da Lei Penal Militar.
Por fim, cabe esclarecer que a imposição de medida de segurança pela
Justiça Militar não impede a expulsão de estrangeiro, nos termos do artigo 120,
parágrafo único, do CPM.

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DIREITO PENAL MILITAR
Embora o Código Penal Militar trate a cassação de licença para dirigir veículos moto-
rizados, o exílio de local, a proibição de frequentar determinados lugares, a interdição de
estabelecimento (empresarial ou industrial), a interdição de associação ou de sociedade e
o confisco, como modalidades de medida de segurança, estas deveriam estar elencadas
no artigo 109 do CPM, constando como modalidades de efeitos da condenação.

Ação Penal Militar


Em regra, a ação penal militar é pública incondicionada, na forma do artigo 121 do
CPM.
Excepcionalmente, o Código Penal Militar prevê a ação penal pública condicionada à
requisição do Ministério Militar ao qual o agente for subordinado (no caso de militar) ou à
requisição do Ministério da Justiça (quando o agente for civil e não houver co-autor militar),
em algumas hipóteses de crimes contra a segurança externa do País (artigos 136 a 141), na
forma do artigo 122 do CPM.
A requisição, como prevista no artigo 122 do CPM, configura uma condição de pro-
cedibilidade.
O termo requisição, como observado por Célio Lobão, é empregado impropriamen-
te, já que o Ministério Público Militar não está obrigado a deflagrar a ação penal militar, po-
dendo deixar de oferecer denúncia caso o IPM ou peças de informação não se encontrem
maduros ou requerer o arquivamento, na hipótese do artigo 397 do CPPM.

Uma controvérsia que surgiu em razão da LC 97/1999. Quem pos-


sui atribuição para fazer a requisição para a deflagração da ação
penal militar, os Comandantes Militares ou ao Ministro da Defesa,
já que os Ministérios Militares foram extintos?

Cláudio Amin Miguel e Nelson Coldibelli entendem que a expressão “Ministério Mili-
tar” deve ser atualizada pela LC 97/1999, sendo atribuição do “Comando Militar” fazer a re-
quisição para deflagração da ação penal militar, no caso de militares de Forças diferentes,
caberá ao Ministro da Defesa fazer a requisição.
Cícero Robson Coimbra Neves e Marcello Streifinger, bem como Jorge César
de Assis, Paulo Tadeu Rodrigues Rosa, que entendem que a representação deve ser do
Ministro da Defesa.
A LC 97/1999, modificou a nomenclatura de “Ministro” para “Comandante”,
sem lhes retirar esse status, tanto que a EC 23/1999 manteve diversas prerrogativas cons-
titucionais próprias do cargo de Ministro de Estado (artigo 102, inciso I, alínea “b”, e artigo
105, inciso I, alíneas “b” e “c”, da Constituição da República), mas em qualquer momento
suprimiu suas atribuições em relação ao Direito Penal e Processual Militar, de modo que os

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DIREITO PENAL MILITAR
Comandantes de cada uma das Forças Armadas permanecem com atribuição para requi-
sitar a deflagração da ação penal militar, que também foi estendida ao Ministro da Defesa
em razão de sua superioridade hierárquico-administrativa, em relação aos Comandantes
das Forças Armadas.

Vale observar que, com a edição da Lei nº 13.491/2017 e a ampliação dos crimes
militares, é possível afirmar que se passou a admitir a ação penal pública condicionada à
representação da vítima e a ação penal privada.
Nesse sentido, vale a pena conferir o acórdão proferido no Conflito de Competência
nº 157328/MG.

Importante ressaltar a grande diferença, a nosso ver, entre a ação penal do CP


comum e a ação penal militar, que é inexistência de ação penal privada e de
ação penal pública condicionada à representação do ofendido.

A proteção da hierarquia e da disciplina militares interessa diretamente ao Estado,


de forma que não pode ser transferido às vítimas da conduta delituosa, o poder de pro-
vocar a persecução penal para repressão das condutas que violem os bens e interesses
protegidos pela Lei Repressiva Castrense.

Ainda sobre tema, é importante lembrar a regra do artigo 95, parágrafo único,
da LOJM (Lei nº 8457/1992), que prevê, em tempo de guerra, a requisição do
Presidente da República, para deflagração da ação penal militar contra o co-
mandante do teatro de operações.

Por fim, na forma do artigo 5º, inciso LIX, da Constituição da República, é admitida a
utilização da ação penal privada subsidiária da pública no processo penal militar, aplicando-
-se, subsidiariamente, as regras do processo penal comum, nos casos de esgotamento do
prazo para oferecimento da denúncia com a inércia do Ministério Público Militar.

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DIREITO PENAL MILITAR

Da extinção da punibilidade
Causas extintivas

Art. 123.
Extingue-se a punibilidade:

I - pela morte do agente;


II - pela anistia ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais con-
sidera o fato como criminoso;
IV - pela prescrição;
V - pela reabilitação;
VI - pelo ressarcimento do dano, no peculato
culposo (art. 303, § 4º).
Parágrafo único. A extinção da punibilidade de
crime, que é pressuposto, elemento constitu-
tivo ou circunstância agravante de outro, não
se estende a este. Nos crimes conexos, a extin-
ção da punibilidade de um deles não impede,
quanto aos outros, a agravação da pena resul-
tante da conexão.

Espécies de prescrição
Art. 124.
A prescrição refere-se à ação penal ou à execução da pena.

Prescrição da ação penal

Art. 125.
A prescrição da ação penal, salvo o disposto no § 1º deste artigo, regula-se pelo
máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:

110 ©2019 Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas


DIREITO PENAL MILITAR
I - em trinta anos, se a pena é de morte;
II - em vinte anos, se o máximo da pena é
superior a doze;
III - em dezesseis anos, se o máximo da
pena é superior a oito e não excede a doze;
IV - em doze anos, se o máximo da pena é
superior a quatro e não excede a oito;
V - em oito anos, se o máximo da pena é
superior a dois e não excede a quatro;
VI - em quatro anos, se o máximo da pena
é igual a um ano ou, sendo superior, não
excede a dois;
VII - em dois anos, se o máximo da pena é
inferior a um ano.

Superveniência de sentença condenatória de que somente o réu recorre:

§ 1º Sobrevindo sentença condenatória, de


que somente o réu tenha recorrido, a pres-
crição passa a regular-se pela pena impos-
ta, e deve ser logo declarada, sem prejuízo
do andamento do recurso se, entre a últi-
ma causa interruptiva do curso da prescri-
ção (§ 5°) e a sentença, já decorreu tempo
suficiente.

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DIREITO PENAL MILITAR

Termo inicial da prescrição da ação penal

§ 2º A prescrição da ação penal começa a cor-


rer:
a) do dia em que o crime se consumou;
b) no caso de tentativa, do dia em que cessou a
atividade criminosa;
c) nos crimes permanentes, do dia em que ces-
sou a permanência;
d) nos crimes de falsidade, da data em que o
fato se tornou conhecido.
Caso de concurso de crimes ou de crime con-
tinuado
§ 3º No caso de concurso de crimes ou de crime
continuado, a prescrição é referida, não à pena
unificada, mas à de cada crime considerado
isoladamente.

Suspensão da prescrição
§ 4º A prescrição da ação penal não corre:
I - enquanto não resolvida, em outro processo,
questão de que dependa o reconhecimento da
existência do crime;
II - enquanto o agente cumpre pena no estran-
geiro.
Interrupção da prescrição
§ 5º O curso da prescrição da ação penal inter-
rompe-se:
I - pela instauração do processo;
II - pela sentença condenatória recorrível.
6º A interrupção da prescrição produz efeito re-
lativamente a todos os autores do crime; e nos
crimes conexos, que sejam objeto do mesmo
processo, a interrupção relativa a qualquer de-
les estende-se aos demais.

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DIREITO PENAL MILITAR
Prescrição da execução da pena ou da medida de segurança que a substitui

Art. 126.
A prescrição da execução da pena privativa de liberdade ou da medida de segurança
que a substitui (art. 113) regula-se pelo tempo fixado na sentença e verifica-se nos mesmos
prazos estabelecidos no art. 125, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é
criminoso habitual ou por tendência.
1º Começa a correr a prescrição:
a) do dia em que passa em julgado a sen-
tença condenatória ou a que revoga a sus-
pensão condicional da pena ou o livramen-
to condicional;
b) do dia em que se interrompe a execução,
salvo quando o tempo da interrupção deva
computar-se na pena.
2º No caso de evadir-se o condenado ou de
revogar-se o livramento ou desinternação
condicionais, a prescrição se regula pelo
restante tempo da execução.
3º O curso da prescrição da execução da
pena suspende-se enquanto o condenado
está preso por outro motivo, e interrompe-
-se pelo início ou continuação do cumpri-
mento da pena, ou pela reincidência.

Prescrição no caso de reforma ou suspensão de exercício

Art. 127.
Verifica-se em quatro anos a prescrição nos crimes cuja pena cominada, no máximo,
é de reforma ou de suspensão do exercício do pôsto, graduação, cargo ou função.

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DIREITO PENAL MILITAR

Disposições comuns a ambas as espécies de prescrição

Art. 128.
Interrompida a prescrição, salvo o caso do § 3º, segunda parte, do art. 126, todo o
prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção.

Redução

Art. 129.
São reduzidos de metade os prazos da prescrição, quando o criminoso era, ao tem-
po do crime, menor de vinte e um anos ou maior de setenta.

Imprescritibilidade das penas acessórias

Art. 130.
É imprescritível a execução das penas acessórias.

Prescrição no caso de insubmissão

Art. 131.
A prescrição começa a correr, no crime de insubmissão, do dia em que o insubmisso
atinge a idade de trinta anos.

Prescrição no caso de deserção

Art. 132.
No crime de deserção, embora decorrido o prazo da prescrição, esta só extingue a
punibilidade quando o desertor atinge a idade de quarenta e cinco anos, e, se oficial, a de
sessenta.

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DIREITO PENAL MILITAR
Declaração de ofício

Art. 133.
A prescrição, embora não alegada, deve ser declarada de ofício.

Reabilitação

Art. 134.
A reabilitação alcança quaisquer penas impostas por sentença definitiva.

1º A reabilitação poderá ser requerida de-


corridos cinco anos do dia em que for extin-
ta, de qualquer modo, a pena principal ou
terminar a execução desta ou da medida
de segurança aplicada em substituição (art.
113), ou do dia em que terminar o prazo da
suspensão condicional da pena ou do livra-
mento condicional, desde que o condena-
do:
a) tenha tido domicílio no País, no prazo
acima referido;
b) tenha dado, durante êsse tempo, de-
monstração efetiva e constante de bom
comportamento público e privado;
c) tenha ressarcido o dano causado pelo
crime ou demonstre absoluta impossibi-
lidade de o fazer até o dia do pedido, ou
exiba documento que comprove a renúncia
da vítima ou novação da dívida.
2º A reabilitação não pode ser concedida:
a) em favor dos que foram reconhecidos
perigosos, salvo prova cabal em contrário;
b) em relação aos atingidos pelas penas
acessórias do art. 98, inciso VII, se o crime
for de natureza sexual em detrimento de fi-
lho, tutelado ou curatelado.

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DIREITO PENAL MILITAR

Prazo para renovação do pedido


3º Negada a reabilitação, não pode ser nova-
mente requerida senão após o decurso de dois
anos.
4º Os prazos para o pedido de reabilitação se-
rão contados em dobro no caso de criminoso
habitual ou por tendência.

Revogação
5º A reabilitação será revogada de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público, se a pes-
soa reabilitada fôr condenada, por decisão de-
finitiva, ao cumprimento de pena privativa da
liberdade.
Cancelamento do registro de condenações pe-
nais
Art. 135. Declarada a reabilitação, serão can-
celados, mediante averbação, os antecedentes
criminais.
Sigilo sobre antecedentes criminais

Parágrafo único. Concedida a reabilitação, o re-


gistro oficial de condenações penais não pode
ser comunicado senão à autoridade policial ou
judiciária, ou ao representante do Ministério
Público, para instrução de processo penal que
venha a ser instaurado contra o reabilitado.

A morte do agente é a primeira hipótese de extinção da punibilidade, que deve ser


informada à Justiça Militar e provada por meio de certidão de óbito.
A decisão declaratória de extinção da punibilidade pela morte do agente pode ser
desconstituída, caso seja baseada em certidão falsa, não havendo que se falar em revisão
criminal pro societate.

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DIREITO PENAL MILITAR
A anistia é o perdão estatal de fatos ou condutas delituosas, sendo concedida em
caráter genérico e, normalmente, aos crimes políticos. Pode ser concedida antes ou após
o trânsito em julgado. A graça é concedida individualmente ao condenado irrecorrivel-
mente. A concessão de anistia é de atribuição do Congresso Nacional e a graça, do Presi-
dente da República, nos termos dos artigos 48, VIII, e 84, XII, da Constituição da Repúbli-
ca.
A abolitio criminis ocorre com a superveniência de lei penal que deixa de
considerar o fato como crime.
Assim como no Direito Penal comum, no Direito Repressivo Castrense, a
prescrição constitui-se na perda, pelo Estado, do poder de deflagrar a ação penal militar
ou de impor a execução da pena aplicada pela Justiça Militar.
A primeira hipótese de prescrição é a da pretensão punitiva.
Os tipos penais, em seu preceito secundário, prevêem as penas mínimas e
máximas aplicáveis aos infratores da norma penal castrense.
Para determinar o prazo prescricional da pretensão punitiva, devemos ob-
servar a pena máxima, prevista abstratamente no tipo penal militar, e tentar adequar
esse máximo em uma das hipóteses do artigo 125 do CPM.
A prescrição também pode ser referente à pretensão executória, levando-
-se em consideração a pena imposta na sentença penal condenatória ou do restante da
pena, que também deverá ser adequada em uma das hipóteses do artigo 125 do CPM.

Mais uma vez, imaginemos uma sentença condenatória,


onde tenha sido imposta ao condenado uma pena de 10 meses de
detenção. Nessa hipótese, a prescrição da pretensão executória
ocorrerá em 2 anos, na forma do artigo 126 c/c 125, VII, do CPM.
A prescrição da pretensão executória também pode ser
aplicada na forma retroativa, quando a sentença penal for con-
denatória e o recurso tenha sido interposto, exclusivamente, pelo
apenado, na forma do artigo 125, § 1º, do CPM, hipótese em que o
prazo prescricional será aplicado no período anterior à condena-
ção (entre a instauração do processo penal militar e entre este e a
sentença penal condenatória recorrível).
Por fim, tempos a prescrição intercorrente, que tem por
base a pena imposta, considerando o período entre a sentença
penal condenatória em que somente o apenado tenha recorrido e
o trânsito em julgado da referida condenação.

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DIREITO PENAL MILITAR

O início do prazo prescricional, na forma do artigo 125, § 2º, do CPM, conta-se:


1 - Do dia em que o crime se consumou;
2 - No caso de tentativa, do dia em que cessou a conduta;
3 - Nos crimes permanentes, no dia em que cessar a permanência;
4 - Nos crimes de falsidade, da data em que o fato se tornou conhecido.

No caso de concurso de crimes ou de crime continuado, a prescrição deve ser aferi-


da em cada crime, isoladamente, na forma do artigo 125, § 3º, do CPM.
Os incisos I e II, do artigo 125, § 4º, do CPM, tratam das hipóteses de suspensão da
prescrição que ocorrem nos casos de:
1 - Enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimen-
to da existência do crime;
2 - Enquanto o agente cumprir pena no estrangeiro

O artigo 125, § 5º, trata das hipóteses de interrupção da prescrição, ou seja, recome-
ça-se a contagem do prazo prescricional.
Na forma do artigo 125, § 5º, do CPM, são hipóteses de interrupção da prescrição a
instauração do processo penal militar, com o recebimento da denúncia pelo Juiz-Auditor, e
a sentença condenatória recorrível.
O artigo 125, § 6º, do CPM, determina que: a interrupção da prescrição produz efei-
to relativamente a todos os autores do crime; e nos crimes conexos, que sejam objeto do
mesmo processo, a interrupção relativa a qualquer deles estende-se aos demais.
O referido dispositivo deve ser interpretado com cuidado, na medida em que pode
levar um leitor apressado a aplicá-lo literalmente.
A interrupção somente produzirá efeito relativamente a todos os autores do crime,
se todos forem denunciados ou condenados. No caso de rejeição da denúncia ou de ab-
solvição de um dos co-autores ou dos partícipes, em relação a este não há que se falar em
interrupção da prescrição, que somente ocorrerá em relação a este, se, em grau de recur-
so, a denúncia for recebida ou no caso de condenação.

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DIREITO PENAL MILITAR
Quando o dispositivo trata da interrupção da prescrição em relação aos crimes co-
nexos, devemos esclarecer que somente haverá conexão entre crimes de competência
da Justiça Militar, já que os crimes comuns conexos serão, obrigatoriamente, separados e
remetidos à Justiça Federal ou Estadual, na forma do artigo 102, alínea “a”, do CPPM.
Assim, quando houver interrupção da prescrição em relação a um dos crimes
militares, esta será estendida aos demais crimes.
A prescrição da pretensão executória da pena ou da medida de segurança
substitutiva, conforme a regra do artigo 126, caput, CPM, regula-se pelo tempo fixado na
sentença e verifica-se nos prazos previstos no seu artigo 125.
A parte final do artigo 126 do CPM, que determina o aumento de um terço no
prazo prescricional nos casos de criminosos habituais ou por tendência, deve ser descon-
siderado, na medida em que foi revogado pela desuetudo, não havendo, na Jurisprudência
do Superior Tribunal Militar, qualquer notícia de sua aplicação.
O artigo 126, do CPM, trata das hipóteses em que se inicia a contagem do pra-
zo prescricional da pretensão executória, dispostas da seguinte forma:
§ 1º começa a correr a prescrição:
a) do dia em que passa em julgado a sen-
tença condenatória ou a que revoga a sus-
pensão condicional da pena ou o livramen-
to condicional;
b) do dia em que se interrompe a execução,
salvo quando o tempo da interrupção deva
computar-se na pena.
§ 2º No caso de evadir-se o condenado ou
de revogar-se o livramento ou a desinten-
ção condicionais, a prescrição se regula
pelo restante do tempo da execução.
§ 3º O curso da prescrição da execução da
pena suspende-se enquanto o condenado
está preso por outro motivo, e interrompe-
-se pelo início ou continuação do cumpri-
mento da pena, ou pela reincidência.

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DIREITO PENAL MILITAR

O artigo 127, caput, do CPM determina que é de quatro anos o prazo prescricional
para os crimes militares em que sejam cominadas, no máximo, penas de reforma, sus-
pensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função, independentemente do tempo
máximo previsto abstratamente no tipo penal militar.
Na forma do artigo 128 do CPM, interrompido o prazo prescricional, todo o prazo
começa a correr novamente, exceto nas hipóteses em que o apenado iniciou ou continuou
o cumprimento da pena, ou, ainda, pela reincidência, onde se somará ao período já cum-
prido com o tempo a cumprir, em virtude da nova condenação.

Regra importante é a do artigo 129 do CPM, que determina a redução da


metade do tempo do prazo prescricional quando o criminoso era, ao tempo do
crime, menor de vinte e um anos ou maior de setenta.
Em relação ao menor de vinte e um anos, tanto o CPM quanto o CP co-
mum, tiveram a mesma orientação, ou seja, diminuir o prazo pela metade.

O mesmo não ocorreu em relação aos maiores de setenta anos.

O CPM determina que o prazo prescricional será reduzido pela metade se o crimi-
noso, ao tempo do crime, era maior de setenta anos, enquanto o artigo 115 do CP comum
determina que os setenta anos devem ser aferidos ao tempo da sentença. Eis aqui, uma
importante diferença entre o CPM e o CP comum.

O artigo 130 do CPM determina que é imprescritível a execução das penas acessórias.

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DIREITO PENAL MILITAR
Prescrição do crime
de insubmissão
O crime de insubmissão ocorre quando o “convocado”, que é o cidadão que deve
prestar o serviço militar obrigatório, deixa de se apresentar na data marcada para sua
apresentação, ou depois de ter se apresentado, ausenta-se antes do ato oficial de incorpo-
ração.
Em razão de sua natureza permanente do crime de insubmissão, o cidadão pode
ser preso a qualquer tempo, sendo título autônomo e legitimador desta prisão, a Instrução
Provisória de Insubmissão (IPI), nos termos do artigo 463 § 1º, do CPPM.
O artigo 131 do CPM determina que a prescrição, no crime de insubmissão, começa
a correr do dia em que o insubmisso atinge a idade de trinta anos.
Jorge Cesar de Assis entende que o dispositivo teve a finalidade de evitar a impres-
critibilidade da insubmissão, já Silvio Martins Teixeira entende que a razão da norma é o
desinteresse do Estado pela incorporação do insubmisso.
O crime de insubmissão é, na maioria dos casos, cometido por jovens de 18 anos de
idade, convocados para o serviço militar obrigatório.
No entanto, é perfeitamente possível a ocorrência de insubmissão de cidadão com
idades superiores aos vinte e um, como no caso das pessoas que são beneficiadas pelo
adiamento da incorporação, como no caso dos matriculados nas faculdades de medicina,
odontologia, veterinária etc., que após a sua formação serão incorporados nas Forças Ar-
madas na condição de Oficial.
Sendo a insubmissão apenada com impedimento de três meses a um ano, o prazo
prescricional é de quatro anos, na forma do artigo 125 § 4º, inciso VI, do CPM, sendo esse
prazo, na maioria das vezes, reduzido pela metade em razão do agente ser menor de vinte
e um anos no momento do crime (artigo 129).
Assim, o prazo prescricional de quatro ou de dois anos (se o agente era menor de
vinte e um anos), somente começará a fluir na data em que o insubmisso completar trinta
anos de idade (artigo 132, do CPM).

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DIREITO PENAL MILITAR

Prescrição do crime
de deserção
Assim como ocorre com a insubmissão, a deserção possui regras específicas em
relação à prescrição.
Existe grande controvérsia sobre a natureza do crime de deserção. A mais
recente jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal Militar ado-
tou o entendimento de que a deserção constitui delito permanente, conforme os seguin-
tes julgados:

PENAL MILITAR. PROCESSUAL PENAL MILITAR.


APELAÇÃO. PRESCRIÇÃO. ARTS. 125, 129, 132 E
187, TODOS DO CÓDIGO PENAL MILITAR. ARTS.
451 E SEGUINTES DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL MILITAR. DESERÇÃO. CRIME PERMA-
NENTE. ORDEM DENEGADA. I - O crime de de-
serção é crime permanente. II - A permanência
cessa com a apresentação voluntária ou a cap-
tura do agente. III - Capturado o agente após
completos seus vinte e um anos, não há falar
na aplicação da redução do art. 129 do Códi-
go Penal Militar. IV - Ordem denegada. (STF HC
91873 / RS. 1ª Turma. Julgamento: 30/10/2007.
Rel. Min. Ricardo Lewandowski)

“HABEAS CORPUS”. BUSCA PREVENTIVA PARA


LIVRAR O PACIENTE DE PRISÃO COMO DESER-
TOR. PETIÇÃO DESCABIDA. ORDEM DENEGA-
DA. Além de ser delito propriamente militar, a
deserção se classifica como crime permanente,
mantendo-se, então, o trânsfuga em contínuo
estado de flagrante delito, situação determi-
nante, “ex vi legis”, que se veja preso o desertor
e mantido em custódia preventiva à disposição
da Justiça Militar. Inteligência dos Arts. 243 e
452 do CPPM. Sustentação de tese que, “in con-
creto”, não oferece quaisquer razões para sal-
vaguardar o Paciente dos efeitos da IPD lavra-
da contra si. “Writ” conhecido e denegado por
falta de amparo legal. Decisão por unanimida-
de. (STM – HC 2007.01.034308-3 UF: RJ Decisão:
08/05/2007. Rel Min. José Alfredo Lourenço dos
Santos)

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DIREITO PENAL MILITAR
Essa é a razão para o tratamento específico da deserção, já que possui natureza de
crime permanente e poderia ensejar a sua imprescritibilidade.
O que se pretende é evitar a reintegração de um cidadão que não oferece qualquer
interesse para as Forças Armadas.
Mesmo ultrapassado o prazo prescricional previsto no artigo 125 do CPM, a prescri-
ção somente extinguirá a punibilidade quando o oficial desertor completar sessenta anos
e quando a praça completar quarenta e cinco anos de idade.
Essa prescrição é aplicável ao desertor, enquanto não capturado ou não apresenta-
do voluntariamente.
Uma vez que o desertor seja capturado ou se apresente voluntariamente, a prescri-
ção passa a ser regida pelos prazos do artigo 125 do CPM.
Ainda sobre a prescrição, convém fazer breves esclarecimentos de uma situação
que ocorre com certa freqüência. É a hipótese em que o desertor que se apresenta ou é
capturado, e antes de ser julgado, comete nova deserção.
Em relação à segunda deserção, não há qualquer problema, na medida em que
será aplicada a do artigo 132 do CPM.

O problema reside na primeira deserção. Qual o prazo prescricional? Segue-se


a regra do artigo 125 ou voltar nova contagem da prescrição do artigo 132 do
CPM?

O Supremo Tribunal Federal adotou o entendimento de que somente em relação à


nova deserção, aplica-se a regra do artigo 132 do CPM. Nesse sentido:

HABEAS CORPUS. PENAL MILITAR. DESER-


ÇÃO. PRESCRIÇÃO. O sistema do CPM con-
figura duas hipóteses para a questão da
prescrição, em caso de deserção. A primei-
ra se refere ao militar que deserta e pos-
teriormente é reincorporado, porque se
apresentou voluntariamente ou foi preso.
A este é aplicável uma norma geral relati-
va à prescrição prevista no CPM, art. 125.
A segunda é dirigida ao trânsfuga, ou seja,
aquele que permanece no estado de de-
serção. A ele é aplicável a norma especial
do CPM, art. 132. Nessa situação, só gozará
a extinção da punibilidade ao atingir os li-
mites de idade. O prazo prescricional só se
configura com o advento dos 45 anos para
os praças e 60 anos para os oficiais. Habe-
as corpus deferido. (STF - HC 79432 / PR. 2ª
Turma. Julgamento: 14/09/1999. Rel. Min.
Nelson Jobim)

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DIREITO PENAL MILITAR

Por fim, o artigo 133 do CPM, determina que a prescrição, embora não alegada, deve
ser declarada de ofício. Nesse sentido:

Apelação. Crime de ameaça e constrangimento


ilegal. Concurso de Crimes. Prescrição. Extinção
da punibilidade. Preliminar acolhida. Extinção
da punibilidade pela prescrição da pretensão
punitiva superveniente à sentença condenató-
ria que, no caso de concurso de crimes, a pres-
crição é referida não à pena unificada, mas a
de cada crime, considerado isoladamente (art.
125, § 3º, do CPM). Matéria de ordem pública
e preliminar, prejudicial ao mérito, devendo
ser declarada, de ofício, ainda que não alega-
da. Acolhida a preliminar de prescrição sus-
citada pela Defesa. Decisão unânime. (STM
– Ap 2007.01.050846-5 UF: PR. Julgamento:
19/11/2009. Rel. Min. Antônio Apparício Ignácio
Domingues)

Reabilitação
A reabilitação, a nosso ver equivocadamente, consta como modalidade de extinção
da punibilidade, sendo, em verdade, causa de extinção dos efeitos da condenação, pois é
o cumprimento da pena que extingue a punibilidade do agente.

A reabilitação alcança quaisquer das penas impostas por sentença definitiva e


poderá ser requerida após cinco anos do dia em que for extinta, de qualquer
modo, a pena principal ou terminar a execução da pena ou da medida de segu-
rança (no caso de semi-imputáveis), ou, ainda, do dia em que terminar o prazo da
suspensão condicional da pena ou do livramento condicional (artigo 134, caput,
e seu § 1º, do CPM).

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DIREITO PENAL MILITAR
São requisitos para a concessão da reabilitação:

1 - domicílio no País (no prazo de cinco anos);


2 - demonstração efetiva de bom comportamento público e privado e
3 - o ressarcimento do dano causado pelo crime ou demonstração de absoluta impossibi-
lidade de reparação do dano até o dia do pedido, ou, ainda, comprovação de renúncia da
vítima ou novação da dívida (artigo 134, § 1º, do CPM).

O Superior Tribunal Militar tem sido extremamente rigoroso na apreciação dos re-
querimentos reabilitação, exigindo o integral cumprimento de seus requisitos ou a abso-
luta impossibilidade de fazê-lo.
Nos termos do artigo 134, § 2º, do CPM, a reabilitação não pode ser concedi-
da aos condenados reconhecidamente perigosos (salvo prova em contrário), aos conde-
nados por crimes de natureza sexual em detrimento de filho, tutelado ou curatelado.
Negado o pedido de reabilitação, somente poderá ser renovado após o pra-
zo de 2 anos (artigo 134, § 3º, do CPM).
No caso de criminoso habitual ou por tendência, o prazo para requerer a
reabilitação, nos termos do artigo 134, § 4º, do CPM, deveria ser contado em dobro, mas,
em razão da desuetudo, o dispositivo deve ser considerado como não escrito, constituin-
do-se letra morta na legislação penal militar.
Concedida a reabilitação, deverão ser cancelados, mediante averbação, os
antecedentes criminais, com as respectivas comunicações aos órgãos policiais, militares e
civis, nos termos do artigo 135 do CPM.
O artigo 135, parágrafo único, do CPM, determina que uma vez concedida a
reabilitação, o registro criminal somente poderá ser comunicado à autoridade policial ou
judiciária, bem como ao Ministério Público, para a instrução de processo penal que venha
a ser instaurado contra o reabilitado.

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SOBRE O AUTOR
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nT#tbm=isch&q=professor+icone+png&imgrc=MB1VOe8WzRFGIM%3A

Mario Porto é brasileiro, casado, natural do Rio de Janeiro, é Membro do Ministério Pú-
blico da União, ingressando na carreira do Ministério Público Militar em 26 de novembro
de 2013, no Cargo de Promotor de Justiça Militar.

Ingressou, aos 18 anos, na Escola de Sargentos das Armas, sendo promovido à gradua-
ção de 3º Sargento da Arma de Artilharia, na Turma de 1993.

Bacharelou-se pelo Centro Universitário Augusto Motta — RJ, em 2000.

Permaneceu no Exército Brasileiro até a graduação de 2º Sargento, tendo sido licenciado


ex-officio por ter sido aprovado no concurso de Secretário de Procuradoria do Ministério
Público do Estado do Rio de Janeiro, em 2002 (cargo atualmente denominado Analista
do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro).

Foi aprovado na 14ª colocação no 10º Concurso Público e em 7a colocação no 11º no


Concurso Público, ambos para o cargo de Promotor da Justiça Militar.

É professor de Direito Penal Militar da Escola Superior do Ministério Público da União,


do curso de Pós-graduação em Direito Militar da Fundação Trompowsky – Exército Brasi-
leiro e do Centro de Estudos de Direito Militar — CESDIM, no Rio de Janeiro.

Foi professor de Direito Penal Militar e de Processo Penal Militar de turmas preparató-
rias à carreira da Defensoria Pública da União, nos cursos “Alcance Concursos”, “Foco
Treinamento Jurídico” e “Curso Resultado”, no Rio de Janeiro.

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MATERIAL DIDÁTICO

MÓDULO DIREITO PENAL MILITAR


Mário Porto

Designer Instrucional:
Thaís Fernandes

Capa:
Isis Batista Ferreira

Diagramação:
Isis Batista Ferreira

Revisão de Originais:
Claudio Miguel Amin
Juliana de Paula Souza
Marcia Britto

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