Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
M Ó D U L O
DIREITO PENAL
MILITAR
A mais marcante diferença entre o Código Penal Militar e o Código Penal comum,
a nosso ver, decorreu da reforma da Parte Geral do CP, através da Lei nº 7209/1984,
que realizou profundas alterações na sistemática penal e que não encontraram reflexos
na Lei Penal Militar, não acompanhando a evolução do Direito Penal moderno e rom-
pendo a tentativa de manter a unidade científica entre os Códigos Penais brasileiros¹.
¹ d’Aquino, Ivo. O novo Código Penal Militar, in Revista de Informação Legislativa do Senado Federal nº 27, 1970, p. 95/96.
Princípio da legalidade
Art. 1º
Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
² ROMEIRO, Jorge Alberto. Curso de Direito Penal Militar. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 17/18.
³ BURBANO, Pablo Casado, Iniciación al Derecho Constitucional Militar. Madri: Editoriales de Derecho Reunidas, 1986. p. 41.
Art. 2°
Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença condenatória irrecorrível, salvo
quanto aos efeitos de natureza civil.
Isso significa que as leis não podem ser mescladas, retirando-se, apenas, as nor-
mas mais favoráveis ao condenado, criando uma terceira norma. Nesse sentido ver o RHC
94802 RS – 1ª Turma. Julgamento: 10/02/2009. Rel. Min. Menezes Direito)
Assim, diante do caso concreto, deve o julgador avaliar qual das normas é a mais benéfica
ao condenado, persistindo a dúvida, é importante intimar o apenado para manifestar-se4
4
Nesse sentido, conferir o Acórdão do Superior Tribunal Militar proferido nos Embargos nº 0000053-49.2005.7.01.0401, que trata do
impacto da Lei nº 12.234/2010, no Direito Penal Militar.
O dispositivo merece uma releitura à luz do artigo 5º, XL, da Constituição da Re-
pública, na medida em que se for aplicado literalmente, pode conduzir a uma aplicação
retroativa de lei mais grave.
Para Jorge Alberto Romeiro5, Ione de Souza Cruz e Cláudio Amin Miguel6, o dispo-
sitivo não foi recepcionado pela Constituição da República.
5
ROMEIRO, Jorge Alberto. Curso de Direito Penal Militar. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 46/48.
6
CRUZ, Ione de Souza; MIGUEL, Cláudio Amin. Elementos de Direito Penal Militar. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 6.
Tempo do Crime
Art. 5º
Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o do resultado.
Assim como no Direito Penal comum, a Lei Penal castrense adotou a Teoria da Ativi-
dade ou da Ação.
Quanto ao lugar do crime, nossa Lei Penal Militar adotou um sistema misto. Nos
crimes comissivos, o local do crime é tanto o lugar da ação, quanto o lugar do resultado
(Teoria da Ubiqüidade). Nos crimes omissivos, considera-se lugar do crime o local onde
deveria realizar-se a ação omitida (Teoria da Atividade). Já o CP comum adotou somente a
Teoria da Ubiqüidade.
Para melhor compreensão da questão, convém realizar uma breve análise compara-
tiva entre os Códigos. Vejamos:
Conceito de navio
A Lei Penal Militar aplica-se em todo o território nacional, no território nacional por
extensão e nos crimes militares praticados em território estrangeiro.
Ao contrário do Direito Penal comum, onde a territorialidade é a regra e a extra-
territorialidade exceção, no Direito Penal Militar a territorialidade e a extraterritorialidade
são regras.
Pouco importa onde ocorreu o crime militar. Se a conduta ofender um dos bens ju-
rídicos tutelados em nosso Código Penal Militar, aplicar-se-á a Lei Penal Militar brasileira.
No caso de extraterritorialidade, a Lei Penal Militar pode ser afastada por convênios, trata-
dos e regras de Direito Internacional, de forma que, mesmo havendo perfeita adequação
típica da conduta ao CPM, restará afastada a competência da Justiça Militar da União, para
apreciar o caso.
Em virtude da regra de Direito Internacional, se a competência para processar
e julgar a conduta for atribuída ao Brasil, será competente a Justiça Federal, nos termos do
artigo 109, inciso V, da Constituição da República.
Assim, em relação à aplicação da Lei Penal Militar, vige o princípio da territo-
rialidade e a extraterritorialidade como regra, com exceção das regras de Direito Interna-
cional, em que o Brasil seja signatário.
Crimes Militares
em tempo de paz
Antes de adentrar no estudo dos crimes militares em tempo de paz,
é importante destacar que existe grande debate doutrinário sobre o
critério que deve ser adotado para a caracterização do crime militar.
Em regra, tanto os crimes definidos de modo diverso na Lei Penal comum, quanto os
crimes somente previstos no CPM, podem ser praticados por qualquer pessoa.
Mas é necessário atentar para a parte final do inciso I, do artigo 9º, quando emprega
a expressão “salvo disposição especial”, que deve ser tratada em confronto com a expres-
são “qualquer que seja o agente”.
Esta expressão é na verdade alguma condição específica exigida do agente para a
caracterização do tipo previsto no CPM, como por exemplo: a deserção, que exige a condi-
ção de militar (artigo 187), omissão de eficiência da força, que exige a condição de coman-
dante (artigo 198) e a insubmissão, que exige a condição de civil e convocado (artigo 183)
etc.
É importante ressaltar que as hipóteses do artigo 9º, inciso I, do CPM, não fa-
zem qualquer alusão quanto ao local, tempo, vítima, agente ou qualquer outra
circunstância, para a caracterização do crime militar, diferentemente dos seus
incisos II, III e do §2º que são extremamente casuísticos, exigindo uma combina-
ção de circunstâncias para a sua caracterização.
Antes de adentrar no estudo do artigo 9º, incisos II e III, do CPM, é importante que
desconsideremos a figura do “assemelhado”, que não existe no atual ordenamento jurídi-
co.
O inciso II, do artigo 9º, trata dos crimes previstos no CPM e os previstos na Legisla-
ção Penal, quando cometidos por militares da ativa, como o homicídio, a lesão corporal, o
furto, o roubo etc. Observe a comparativo:
Art. 205.
CÓDIGO Matar alguém
PENAL Art. 209.
Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem
MILITAR Art. 240.
Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel
Art. 121.
Matar alguém CÓDIGO
Art. 129.
Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem
PENAL
Art. 155. COMUM
Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel
Art. 9º
Consideram-se crimes militares em tempo de paz:
A alínea “a”, do inciso II, do artigo 9º, do CPM, trata das hipóteses de crimes com
idêntica redação tanto no CPM e n legislação penal, onde, tanto o agente quanto a vítima
são militares em situação de atividade, ou seja, são militares da ativa, que estão servindo.
Exemplo:
Furto, lesões corporais, homicídio etc, praticados por
um militar da ativa contra outro militar da ativa.
Observe que nessa situação, em que o agente e a vítima por serem militares da
ativa, independentemente do tempo, do local, e do conhecimento da condição de militar
entre eles, haverá crime militar. Nesse sentido:
Embora o crime praticado por militar das Forças Armadas, em situação de ativida-
de, contra militar dos Estados ou do Distrito Federal, na mesma situação, não importe em
crime militar na forma do artigo 9º, II, alínea “a”, do CPM, nada impede que reste caracte-
rizado o crime militar com base em outra alínea deste dispositivo, como no caso de lesões
corporais praticadas por militar do Exército da ativa, em local sob a administração militar
das Forças Armadas, contra um policial militar em atividade, caracterizando o crime militar
na forma do artigo 209 c/c 9º, inciso II, alínea “b”, do CPM.
A alínea “b”, do inciso II, do artigo 9º, do CPM, trata dos crimes comuns aos dois
códigos penais, em que o militar da ativa pratica crime contra civil, militar da reserva ou
reformado, em local sujeito à administração militar. É o roubo, o furto, as lesões corporais,
o homicídio culposo etc, praticados por militar da ativa contra civil, militar da reserva ou
reformado, em local sujeito à administração militar.
A alínea “c” cuida das hipóteses em que o militar pratica o crime quando se encontra
de serviço ou atuando em razão das funções ou em comissão de natureza militar, ainda
que fora do lugar sujeito à administração militar contra civil, militar da reserva ou reforma-
do.
Cuida a alínea “d” das situações em que o crime é praticado por militar em manobras
ou exercícios contra civil, militar da reserva e reformado.
A alínea “e” trata das hipóteses de crimes cometidos por militar da ativa, contra o pa-
trimônio sob a administração ou a ordem administrativa militar. Nessa hipótese, não é ne-
cessário que o patrimônio seja da União afetado às Forças Armadas, basta que esteja sob
a administração militar, seja de propriedade pública ou privada, como ocorre nos valores
da União, sob a responsabilidade das Forças Armadas ou que viole a ordem administrativa
militar.
Por fim, a alínea “f”, possuía a seguinte redação: por militar em situação de atividade
ou assemelhado que, embora não estando em serviço, use armamento de propriedade
militar ou qualquer material bélico, sob guarda, fiscalização ou administração militar, para
a prática de ato ilegal.
Era a hipótese em que o crime se tornava militar por ter sido praticado com arma
militar, que foi revogado pela Lei nº 9299/1996.
24 ©2019 Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas
DIREITO PENAL MILITAR
Assim, o emprego de armamento das Forças Armadas, das Forças Militares dos Esta-
dos e do Distrito Federal, para o cometimento da conduta delituosa, por si só, não possui o
condão de transformá-la em crime militar. O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou
pela inexistência de crime militar, conforme o seguinte julgado:
O inciso III, por sua vez, trata da hipótese em que o agente ativo da conduta delituo-
sa é civil, militar da reserva ou militar reformado. Eis o dispositivo legal:
O inciso III, do artigo 9º, do CPM, elenca as hipóteses em que se caracteriza o crime
militar em tempo de paz, além dos incisos I e II, quando a conduta é praticada, dolosamen-
te, contra as Instituições Militares ou os bens protegidos pela Lei Penal Castrense.
A alínea “a” é a hipótese em que o civil, militar da reserva e reformado realiza uma
conduta típica prevista no CPM, contra o patrimônio sob a administração militar ou contra
a ordem administrativa militar.
Mais uma vez, é importante destacar que basta que o patrimônio esteja sob a
administração militar, não sendo necessário que o patrimônio esteja afetado às
Forças Armadas.
Por fim, a alínea “d” trata das hipóteses dos crimes praticados por civis, militares da
reserva e reformados, ainda que fora de local sujeito à Administração Militar, contra militar
em função de natureza militar ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e pre-
servação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitadas
para aquele fim, ou em obediência a determinação superior.
Esta última alínea tem gerado diversas manifestações do Supremo Tribunal
Federal, que interpreta o dispositivo de forma restritiva. A Suprema Corte adotou o en-
tendimento de que para caracterizar a hipótese da alínea “d”, o militar deve estar em suas
funções típicas ou nas hipóteses constitucionais de emprego das Forças Armadas. Nesse
sentido destacamos os seguintes julgados:
Art. 9º§1º
Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
O homicídio praticado por militar contra civil ainda continua sendo um tema polêmi-
co. Antes, era o § único do art.9º. Contudo, a L. 13.491/17 separou o assunto em dois pará-
grafos e o § único do art.9º foi transformado em §1º que, basicamente, reproduz a redação
do antigo parágrafo único.
Ou seja, o § 1º dispõe que, se, os militares praticarem crime doloso contra a vida de
civil, que se enquadrem no art.9º, esses serão julgados pelo Tribunal do Juri.
A redação original foi muito criticada pelos doutrinadores que afirmavam que a competên-
cia dada ao Tribunal do Júri violaria a competência da Justiça Federal, pois, nela, não havia
Tribunal do Júri. O STF não apreciou o dilema e, posteriormente, surgiu a EC nº 45/04 que
separou a Justiça Militar, no art. 124 e, no art. 125, §4º, da CRFB/88 em Justiça Militar da
União e do Estado respectivamente.
Dando dessa forma, a entender que, à época, o então parágrafo único só seria apli-
cável à Justiça Militar dos Estados.
Em 2011 foi feita uma ressalva quanto ao tiro de “destruição”, que trouxe muita
polêmica entre STF e STM quanto à competência para julgamento. O STF entendia ser de
7
LOB O, Célio. Direito Processual Penal Militar. São Paulo: Editora Método, 2009. p. 59.
8
ASSIS ASSIS, Jorge César de. Comentários ao Código Penal Militar. 5. ed. Curitiba: Juruá, 2004. p. 38.
9
FREYESLEBEN, Márcio Luís Chila. A prisão provisória no CPPM. Belo Horizonte: Del Rey, 1997. p. 225/233.
10
NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de Direito Penal Militar. v. 1. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 145.
competência do Tribunal do Júri, ao passo que, o STM entendia que, se, o agente fosse mi-
litar federal, deveria ser da JMU.
A Lei nº 13.491/17 surgiu trazendo novo parâmetro sobre a competência da JME e
da JMU. Na verdade, suas normas, realmente, têm um forte caráter processual, como bem
critica o Renato Brasileiro.
Deixando de lado a polêmica, podemos concluir que a norma do atual §1º do art. 9º
do CPM serve de aplicação, apenas, para os casos de crimes dolosos contra a vida de civil
praticados por militar estadual, conforme o que já dispunha o art. 125, §4º, da CRFB/88, ou
seja, de competência do Tribunal do Júri.
Observe:
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição.
...
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos
crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares,
ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente
decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Reda-
ção dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).
Por outro lado, se o agente do homicídio contra o civil for militar federal, o julgamen-
to deverá ocorrer necessariamente na Justiça Militar da União, e não em Tribunal do Júri de
âmbito estadual.
Observe o disposto no art.124 da Constituição da República:
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
A lei referida, no artigo anterior é, extamente, a L.13.491/17.
E sse é o entendimento trazido pelo §2º do art. 9º do CPM. Entretanto, sempre deve
ser analisado o contexto em que ocorreu o crime, pois o militar deve estar em serviço não
cabendo, portanto, falar de atração de competência para a Justiça Militar se, o agente for
militar, mas tiver praticado o homicídio fora de serviço, já que, nesse caso, será julgado
pelo Tribunal do Júri.
Art. 9º
Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
.
§ 2 o Os crimes de que trata este artigo,
quando dolosos contra a vida e cometidos
por militares das Forças Armadas contra ci-
vil, serão da competência da Justiça Militar
da União, se praticados no contexto: (Inclu-
ído pela Lei nº 13.491, de 2017)
...
III – de atividade de natureza militar, de
operação de paz, de garantia da lei e da or-
dem.
Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986.
Art. 303.
A aeronave poderá ser detida por autoridades aeronáuticas, fazendárias ou da Po-
lícia Federal, nos seguintes casos:
Crimes Militares
em Tempo de Guerra
Antes de entrar no estudo dos crimes militares em tempo de guerra, convém fazer
um breve esclarecimento sobre o conceito de guerra para fins de aplicação do CPM.
da República.
O inciso I, do artigo 10, do CPM, trata dos crimes militares especialmente previstos
para o tempo de guerra, que são previstos no Livro II, da Parte Especial do Código Penal
Militar, são os crimes tipificados nos seus artigos 355 a 408.
É importante frisar que em tempo de guerra as penas previstas para crimes são
extremamente graves, chegando, em alguns casos, a existir previsão de pena de
morte.
Militares estrangeiros
Art. 11.
Os militares estrangeiros, quando em comissão ou estágio nas forças armadas, fi-
cam sujeitos à lei penal militar brasileira, ressalvado o disposto em tratados ou convenções
internacionais.
O artigo 11 do CPM sujeita os militares estrangeiros, quando em comissão ou es-
tágio em nossas Forças Armadas, à Lei Penal Militar brasileira, ressalvadas os tratados ou
convenções internacionais.
A regra é salutar, na medida em que as Escolas e Academias Militares brasi-
leiras recebem, com grande frequência, para formação ou aperfeiçoamento, militares das
Nações amigas, razão pela qual devem ser considerados militares da ativa, para fins de
aplicação da Lei Penal Castrense.
Defeito de incorporação
Art. 14.
O defeito do ato de incorporação não exclui a aplicação da lei penal militar, salvo
se alegado ou conhecido antes da prática do crime.
O dispositivo é salutar, já que não é incomum que militares já incorporados e
após algum tempo de serviço venham a alegar defeitos no seu ato de incorporação como
meio de justificar o crime militar cometido.
Tempo de guerra
Art. 15.
O tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da lei penal militar, começa com a
declaração ou o reconhecimento do estado de guerra, ou com o decreto de mobilização se
nele estiver compreendido aquele reconhecimento; e termina quando ordenada a cessa-
ção das hostilidades.
Tempo de guerra, nos termos do artigo 15 do CPM, para os efeitos da aplica-
ção da lei penal militar, começa com a declaração ou o reconhecimento do estado de guer-
ra, ou com o decreto de mobilização se nele estiver compreendido aquele reconhecimento
e termina quando ordenada a cessação das hostilidades.
O dispositivo dispensa maiores considerações, na medida em que a declara-
ção de guerra ocorre nos termos do artigo 84, XIX, da Constituição da República
Assemelhado
Art. 21.
Considera-se assemelhado o servidor, efetivo ou não, dos Ministérios da Marinha,
do Exército ou da Aeronáutica, submetido a preceito de disciplina militar, em virtude de lei
ou regulamento.
O assemelhado é uma figura extinta no Brasil, devendo ser considerado como não
escrito no CPM.
Originariamente, o assemelhado era o cidadão que, sem ser militar, fazia parte das
Forças Armadas e estava sujeito à disciplina castrense.
Os assemelhados existentes à época do Código Penal da Armada, na atualidade são
militares (capelães, médicos, farmacêuticos) ou são civis, possuindo carreira própria (servi-
dores civis e juízes Federais da Justiça) e sujeitos à legislação específica.
Para a Lei Penal Castrense, militar é o indivíduo que se encontra na ativa, que está
em atividade, aquele que cumpre expediente diariamente nas organizações militares e
está pronto para o cumprimento das suas missões constitucionais.
Esse conceito é importantíssimo e deve ser tratado em confronto com mi-
litares reformados e os militares da reserva, que não se encontram mais em atividade,
por terem cumprido seu tempo de serviço, passando para a reserva, ou por terem sido
reformados.
O militar da reserva e o militar reformado, para fins de aplicação do CPM
são sempre considerados civis, sendo tratados com estes no inciso III, do artigo 9º.
Outra questão importante e que pode gerar alguma confusão no iniciante
no estudo do Direito Militar é a situação jurídica dos Policiais e Bombeiros Militares.
Equiparação a Comandante
Art. 23.
Equipara-se ao comandante, para o efeito da aplicação da lei penal militar, toda au-
toridade com função de direção.
O dispositivo pretende equiparar ao comandante, para fins de aplicação do CPM, os
diretores, chefes e outras autoridades que exercem cargos de direção das Organizações
Militares das Forças Armadas, como por exemplo: Diretor de Ensino e Pesquisa do Exérci-
to, Chefe do Departamento-Geral de Pessoal, Diretor do Hospital Central do Exército, etc.
Os professores Cláudio Amin Miguel15 e Nelson Coldibelli admitem que um civil pos-
sa ser comandante do Teatro de Operações em tempo de guerra.
Conceito de Superior
Art. 24.
O militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de igual posto
ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar.
Superior é o militar que possui ascendência hierárquica sobre outro militar, sendo
este considerado subordinado ou inferior hierárquico do primeiro.
Entre militares de mesmo posto ou graduação não há superioridade ou inferiorida-
de hierárquica, incidindo, nesta hipótese, as regras de antiguidade, nos termos do artigo
17 do Estatuto dos Militares (Lei nº 6880/1980).
No entanto, é possível que militares de mesmo posto ou graduação tenham entre si,
uma situação de ascendência hierárquica em razão da função.
Assim, o conceito de superior encontra uma ampliação no artigo 24 do CPM, de
modo que o militar, em virtude da função, que exerça autoridade sobre outro de igual pos-
to ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar.
15
MIGUEL, Cláudio Amin; COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p.
219/220.
São crimes que podem ser apenados pelo CPM, com pena de morte em grau máxi-
mo, quando praticados em presença do inimigo:
Art. 363 a cobardia
Art. 356 fuga em presença do inimigo
Art. 371 incitamento em presença do inimigo
Art. 387 recusa de obediência ou oposição
Art. 390 abandono de posto
Art. 392 deserção em presença do inimigo, etc.
Referência a “brasileiro” ou
“nacional”
Art. 26.
Quando a lei penal militar se refere a “brasileiro” ou “nacional”, compreende as pes-
soas enumeradas como brasileiros na Constituição do Brasil.
Casos de prevalência do
Código Penal Militar
Art. 28.
Os crimes contra a segurança externa do país ou contra as instituições militares,
definidos neste Código, excluem os da mesma natureza definidos em outras leis.
Este dispositivo visa enfatizar o caráter especial da lei penal militar em rela-
ção aos crimes previstos no CP comum e na legislação extravagante, principalmente em
relação à lei nº 7170/1985, que prevê os crimes contra a segurança do Estado.
Tentativa
Art. 30.
Diz-se o crime:
I - consumado, quando nele se reúnem todos
Crime consumado
os elementos de sua definição legal;
Sobre a tentativa, aplica-se a teoria do Direito Penal comum, que possui farta doutri-
na, ressalvada uma especificidade do CPM, que é a possibilidade de aplicação da pena do
crime consumado, mesmo na hipótese de tentativa.
No CP comum, a tentativa é causa obrigatória de diminuição da pena, já no Direito
Penal Militar, vem sendo tratada como uma discricionariedade, que os Órgãos da Justiça
Militar podem deixar de aplicar em casos de excepcional gravidade. Esta posição é defendi-
da por Jorge Alberto Romeiro, Paulo Tadeu Rodrigues Rosa, Alexandre José de Barros Leal
Saraiva e Alvaro Mayrink da Costa.
Jorge Cesar de Assis, Cícero Robson Coimbra Neves e Marcello Streifinger, criticam
o dispositivo, considerando-o draconiano, sem enfrentar sua compatibilidade com o texto
constitucional.
O Superior Tribunal Militar vem aplicando a faculdade do artigo 30, parágrafo único
do CPM, em especial nos crimes de homicídio e de latrocínio, conforme os seguintes julga-
dos:
Pensamos que o parágrafo único do artigo 30 do CPM, não foi recepcionado pela
Constituição da República, na medida em que viola os princípios da proporcionalidade e
da culpabilidade, já que permite aos Órgãos da Justiça Militar aplicar a pena do crime con-
sumado, com base na “excepcional gravidade”.
Ainda dentro do estudo da tentativa, temos as questões referentes à desistência
voluntária, ao arrependimento eficaz e ao crime impossível (artigos 31 e 32 do CPM), que
possuem um tratamento idêntico ao do CP comum.
Arrependimento posterior
É importante destacar que, para o Direito Repressivo Castrense, o arre-
pendimento posterior é apenas uma circunstância atenuante genérica, prevista
no artigo 70, inciso II, alínea “b”, do CPM, ao contrário do Direito Penal comum,
onde é causa de diminuição da pena, previsto no artigo 16 do CP comum. Nesse
sentido:
Culpabilidade
Com a rubrica de “culpabilidade”, o artigo 33 do CPM, trata das condutas dolosas e
culposas.
O dispositivo deve ser compreendido à luz da Teoria Causalista, onde o dolo e
a culpa eram considerados elementos integrantes da culpabilidade. Com a Teoria Finalista,
o dolo e a culpa passaram a integrar o tipo penal, de forma que este dispositivo perdeu sua
razão no Direito Penal moderno.
Art. 36.
É isento de pena quem, ao praticar o crime, supõe, por erro plenamente escusável, a
inexistência de circunstância de fato que o constitui ou a existência de situação de fato que
tornaria a ação legítima.
Erro de fato
- Escusável, invencível ou desculpável.
Artigo 36 1ª parte do CPM Conseqüência: Exclui o dolo e a culpa.
Erro de Tipo
- Escusável, invencível ou desculpável.
Conseqüência: Exclui o dolo e a culpa. Artigo 20 do CP comum
Erro de Tipo
- Escusável, invencível ou desculpável.
Conseqüência: Exclui o dolo e a culpa.
Artigo 20, § 1º, do CP
comum
Erro de acidental
Art. 37.
Quando o agente, por erro de percepção ou no uso dos meios de execução, ou outro
acidente, atinge uma pessoa em vez de outra, responde como se tivesse praticado o crime
contra aquela que realmente pretendia atingir. Devem ter-se em conta não as condições e
qualidades da vítima, mas as da outra pessoa, para configuração, qualificação ou exclusão
do crime, e agravação ou atenuação da pena.
Coação Irresistível e
Obediência Hierárquica
Art. 38.
Não é culpado quem comete o crime:
a) sob coação irresistível ou que lhe supri-
ma a faculdade de agir segundo a própria
vontade;
b) em estrita obediência a ordem direta de
superior hierárquico, em matéria de servi-
ços.
1° Responde pelo crime o autor da coação
ou da ordem.
2° Se a ordem do superior tem por objeto
a prática de ato manifestamente criminoso,
ou há excesso nos atos ou na forma da exe-
cução, é punível também o inferior.
Essa possibilidade de apreciação da ordem no Direito Penal Militar, ainda que mais
restrita que no Direito Penal comum, é a confirmação de que o nosso Direito Castrense
adotou a teoria das “baionetas inteligentes”, ao contrário de algumas legislações estran-
geiras que adotaram o sistema da “obediência cega” ou das “baionetas cegas”, onde não
há qualquer possibilidade do militar avaliar a legitimidade da ordem do superior, como
ensinava o professor Jorge Alberto Romeiro.
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento do dever legal;
IV - em exercício regular de direito.
Parágrafo único. Não há igualmente crime
quando o comandante de navio, aeronave ou
praça de guerra, na iminência de perigo ou gra-
ve calamidade, compele os subalternos, por
meios violentos, a executar serviços e mano-
bras urgentes, para salvar a unidade ou vidas,
ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a
rendição, a revolta ou o saque.
Menores
Art. 50.
O menor de dezoito anos é inimputável, salvo se, já tendo completado dezesseis
anos, revela suficiente desenvolvimento psíquico para entender o caráter ilícito do fato e
determinar-se de acordo com este entendimento. Neste caso, a pena aplicável é diminuída
de um terço até a metade.
Art. 51.
Equiparam-se aos maiores de dezoito anos, ainda que não tenham atingido essa
idade:
a) os militares;
b) os convocados, os que se apresentam à in-
corporação e os que, dispensados temporaria-
mente desta, deixam de se apresentar, decorri-
do o prazo de licenciamento;
c) os alunos de colégios ou outros estabeleci-
mentos de ensino, sob direção e disciplina mi-
litares, que já tenham completado dezessete
anos.
Art. 52.
Os menores de dezesseis anos, bem como os menores de dezoito e maiores de
dezesseis inimputáveis, ficam sujeitos às medidas educativas, curativas ou disciplinares
determinadas em legislação especial.
Os artigos 50, 51 e 52 do CPM, que trata dos menores, não foram recepciona-
dos pelo artigo 228 da Constituição da República, que sujeita os menores de
idade à legislação especial, no caso o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
nº 8069/1990).
Não é incomum a presença de menores nos Colégios Militares e nas escolas prepa-
ratórias das Forças Armadas, na condição de cadetes ou alunos, nas Escolas de Formação
das Forças Armadas, como na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, no Colégio Naval
etc.
Concurso de Agentes
O concurso de agentes encontra-se disciplinado no artigo 53 do CPM.
Uma primeira diferença entre os dois Códigos reside no tratamento dos partícipes.
No CP comum, em seu artigo 29, § 1º, a participação é tratada como causa de dimi-
nuição da pena, com sua diminuição de um sexto a um terço.
O CPM, no artigo 53, § 3º, por sua vez, determina que a participação constitui-se,
tão-somente, uma causa de atenuação da pena. Observe o quadro comparativo:
Art. 53.
CPM Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas
a este cominadas.
Art. 29
Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas
CP
penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. comum
Atenuação de pena
3º A pena é atenuada com relação ao agente, cuja participação no
crime é de somenos importância.
Cabeças
CPM
4º Na prática de crime de autoria coletiva necessária, reputam-se
cabeças os que dirigem, provocam, instigam ou excitam a ação.
5º Quando o crime é cometido por inferiores e um ou mais ofi-
ciais, são estes considerados cabeças, assim como os inferiores
que exercem função de oficial.
Embora o Código Penal Militar trate a participação como causa de atenuação, carac-
teriza-se, em verdade, uma causa de diminuição da pena, já que as atenuantes se encon-
tram previstas em seu artigo 72.
Ainda sobre o concurso de agentes, é importante chamar a atenção para o
conceito de cabeça, inexistente no Direito Penal comum.
O conceito de cabeça é tradicional em nosso Direito Penal Militar, sendo este
o militar que conduz, dirige, elabora a conduta delituosa, levando outros militares à prática
do crime de autoria coletiva necessária, recaindo sobre sua conduta maior culpabilidade
em relação aos demais militares.
Os oficiais serão sempre considerados cabeças quando participam de um
crime de autoria coletiva necessária juntamente com praças, já que deveriam impor sua
autoridade, resguardando a hierarquia e a disciplina militar, impedindo que seus subor-
dinados façam parte da conduta delituosa. Também devem ser considerados cabeças os
graduados que exerçam funções de oficiais.
Sobre o concurso de pessoas, há um questionamento muito interessante so-
bre a possibilidade do civil, em concurso de agentes, vir a praticar crimes que contenham
a elementar militar.
64 ©2019 Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas
DIREITO PENAL MILITAR
O Supremo Tribunal Federal entendeu que a condição de militar comunica-se ao co-
-autor civil na hipótese de crime de ofensa aviltante a inferior (artigo 176 do CPM) praticado
por um sargento da Marinha e um funcionário civil, em razão da adoção da teoria monista,
ao apreciar o HC 81438/RJ, assim ementado:
O professor Célio Lobão critica esse posicionamento, sustentando que o civil jamais
poderia praticar crime que contenha a elementar típica militar, mesmo na condição de co-
-autor.
Penas principais
Art. 55.
As penas principais são:
a) morte;
b) reclusão;
c) detenção;
d) prisão;
e) impedimento;
f) suspensão do exercício do posto, graduação,
cargo ou função;
g) reforma.
Pena de morte
Art. 56.
A pena de morte é executada por fuzilamento.
Sua execução é realizada por fuzilamento, nos termos do artigo 56 do CPM e sua
formalidade é prevista no artigo 707 do CPPM.
Entre outros, bem como crimes comuns, mas que se tornam militares em razão
das circunstâncias, mas não possuem a natureza militar, como o:
Reclusão e detenção
Mínimos e máximos genéricos
Art. 58.
O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo
da pena de detenção é de trinta dias, e o máximo de dez anos.
Pena de até dois anos aplicada a militar
Art. 59
A pena de reclusão ou de detenção até 2 (dois) anos, aplicada a militar, é converti-
da em pena de prisão e cumprida, quando não cabível a suspensão condicional:
Art. 61
A pena privativa da liberdade por mais de 2 (dois) anos, aplicada a militar, é cumpri-
da em penitenciária militar e, na falta dessa, em estabelecimento prisional civil, ficando o
recluso ou detento sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de cujos benefí-
cios e concessões, também, poderá gozar.
Art. 62
O civil cumpre a pena aplicada pela Justiça Militar, em estabelecimento prisional civil,
ficando ele sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios e
concessões, também, poderá gozar.
A diferenciação entre reclusão e detenção perdeu, em parte, seu sentido, como ex-
plica Jorge Alberto Romeiro, pois somente tinha importância para a concessão da suspen-
são condicional da pena.
Com a Lei nº 6544/1978, tal diferenciação só se torna importante para as Justiças
Militares dos Estados e do Distrito Federal, pois configura critério para fixação do regime
prisional em que o condenado iniciará o cumprimento da pena.
Perante a Justiça Militar da União, a diferenciação entre reclusão e detenção se tor-
nou irrelevante, pois na execução penal militar não há progressão de regime, exceto se o
condenado for civil ou perder a condição de militar, ocasião em que a execução penal mili-
tar será processada perante a Vara de Execuções Penais do Estado ou do Distrito Federal,
que fixará o regime inicial de cumprimento da pena.
Quando a pena de reclusão ou de detenção for de até 2 anos, por força do artigo 59
do CPM, será convertida em prisão, devendo seu cumprimento ser diferenciado em razão
do posto ou graduação, caso não seja aplicável o sursis.
No caso de oficiais, a pena de prisão será cumprida em recinto de estabelecimento
militar. Nota-se a evidente tentativa do legislador de preservar a dignidade do oficialato,
evitando o encarceramento, já que o oficial deverá retornar às suas funções, inclusive a de
comando, evitando, como ensina Jorge Alberto Romeiro, uma promiscuidade carcerária
atentatória à hierarquia e disciplina.
Já as praças serão presas em celas separadas dos presos disciplinares, havendo,
ainda, a separação de celas entre praças graduadas e praças especiais.
Praças graduadas são os Subtenentes, Suboficiais, Sargentos. Praças especiais são
os Aspirantes à Oficial e os Guardas Marinha, os alunos das Academias e Escolas de for-
mação das Forças Armadas, como os cadetes do Exército e da Aeronáutica e os alunos das
Escolas Preparatórias de Cadetes do Exército e da Aeronáutica (Escola Preparatória de Ca-
detes do Exército – EsPCEx e a Escola preparatória de Cadetes do Ar – EPCAr) e das Escolas
de Formação da Marinha (Alunos da Escola e do Colégio Naval), bem como das Escolas de
Formação de Sargentos (Escola de Sargentos das Armas e Escola de Especialistas da Aero-
náutica) e da Escola de Aprendizes de Marinheiros.
Impedimento
Pena de impedimento
Art. 63.
A pena de impedimento sujeita o condenado a permanecer no recinto da unidade,
sem prejuízo da instrução militar.
A pena de impedimento é uma inovação no Direito Castrense brasileiro introduzido
pelo atual CPM e somente se aplica ao crime de insubmissão (artigo 183 do CPM).
A pena de impedimento é cumprida dentro dos muros da Organização Militar, onde
o apenado deve prestar o serviço militar obrigatório, sem prejuízo da instrução militar, ou
seja, obrigando o condenado a frequentar o curso de formação de soldados, exatamente
o que havia se furtado, com sua insubmissão.
Embora o artigo 63 do CPM determine que o apenado deva permanecer no recinto
da unidade, é evidente que o conceito de “instrução militar” é amplo, abrangendo não só
as instruções previstas no quartel, como também as demais atividades, como acampamen-
tos, marchas, saltos pára-quedistas etc., que se realizam, normalmente, nos campos de
instrução das Forças Armadas.
Superveniência de doença
mental
Art. 66.
O condenado a que sobrevenha doença mental deve ser recolhido a manicômio
judiciário ou, na falta dêste, a outro estabelecimento adequado, onde lhe seja assegurada
custódia e tratamento.
A superveniência de doença mental do condenado implica na sua transferência para
um manicômio judiciário, ou em sua falta, outro estabelecimento adequado à sua custódia
e tratamento, nos termos do artigo 66 do CPM.
Tempo computável
Art. 67.
Computam-se na pena privativa de liberdade o tempo de prisão provisória, no Brasil
ou no estrangeiro, e o de internação em hospital ou manicômio, bem como o excesso de
tempo, reconhecido em decisão judicial irrecorrível, no cumprimento da pena, por outro
crime, desde que a decisão seja posterior ao crime de que se trata.
Determina o artigo 67 do CPM, que se abate na pena privativa de liberdade o tempo
de prisão provisória cumprida no Brasil ou no estrangeiro, e o tempo de internação em
hospital ou manicômio, bem como o excesso de prazo, reconhecido em decisão transitada
em julgado, no cumprimento da pena de outro crime, desde que a decisão seja posterior
ao crime que se trata.
O que pretendeu o legislador, na redação confusa do artigo 67 do CPM, é permitir a
detração penal do tempo da prisão provisória e da internação, bem como do excesso de
prazo, reconhecido em decisão judicial irrecorrível, por crimes cometidos anteriormente a
essa hipótese, sob pena de criação de um “crédito para cumprimento da pena”.
Transferência de condenados
Art. 68.
O condenado pela Justiça Militar de uma região, distrito ou zona pode cumprir pena
em estabelecimento de outra região, distrito ou zona.
A expressão “região, distrito ou zona” utilizada pelo CPM, ainda guarda a tra-
dição da antiga divisão judiciária militar, prevista no revogado Decreto-Lei nº
1003/69 (antiga Lei de Organização Judiciária Militar), que coincidia a Região
Militar com a Circunscrição Judiciária Militar.
Com a atual Lei de Organização Judiciária Militar da União, o artigo 68 do CPM deve
ser interpretado da seguinte forma: O condenado pela Justiça Militar de uma Circunscrição
Judiciária Militar pode cumprir pena em estabelecimento de outra Circunscrição Judiciária
Militar.
O dispositivo é salutar, já que não é incomum que o condenado pela Justiça Mili-
tar seja de outras regiões do País, de modo que a execução poderá ser transferida para
Circunscrição Judiciária Militar próxima à sua origem, onde poderá ficar próximo de seus
familiares, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana.
Art. 69.
Para fixação da pena privativa de liberdade, o juiz aprecia a gravidade do crime pra-
ticado e a personalidade do réu, devendo ter em conta a intensidade do dolo ou grau da
culpa, a maior ou menor extensão do dano ou perigo de dano, os meios empregados, o
modo de execução, os motivos determinantes, as circunstâncias de tempo e lugar, os an-
tecedentes do réu e sua atitude de insensibilidade, indiferença ou arrependimento após o
crime.
Determinação da pena
§ 1º Se são cominadas penas alternativas, o
juiz deve determinar qual delas é aplicável.
Limites legais da pena
§ 2º Salvo o disposto no art. 76, é fixada
dentro dos limites legais a quantidade da
pena aplicável.
CPM CP Comum
Art. 70. Art. 61
São circunstâncias que sempre São circunstâncias que sempre agra-
agravam a pena, quando não integrantes vam a pena, quando não constituem ou
ou qualificativas do crime: qualificam o crime:
I - a reincidência; I - a reincidência;
II - ter o agente cometido o crime: II - ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil ou torpe; a) por motivo fútil ou torpe;
b) para facilitar ou assegurar a execução, b) para facilitar ou assegurar a execução, a
a ocultação, a impunidade ou vantagem ocultação, a impunidade ou vantagem de
de outro crime; outro crime;
c) depois de embriagar-se, salvo se a em- c) à traição, de emboscada, ou mediante
briaguez decorre de caso fortuito, engano dissimulação, ou outro recurso que dificul-
ou força maior; tou ou tornou impossível a defesa do ofen-
d) à traição, de emboscada, com surpresa, dido;
ou mediante outro recurso insidioso que d) com emprego de veneno, fogo, explo-
dificultou ou tornou impossível a defesa sivo, tortura ou outro meio insidioso ou
da vítima; cruel, ou de que podia resultar perigo co-
e) com o emprego de veneno, asfixia, tor- mum;
tura, fogo, explosivo, ou qualquer outro e) contra ascendente, descendente, irmão
meio dissimulado ou cruel, ou de que po- ou cônjuge;
dia resultar perigo comum; f) com abuso de autoridade ou prevalecen-
f) contra ascendente, descendente, irmão do-se de relações domésticas, de coabita-
ou cônjuge; ção ou de hospitalidade, ou com violência
g) com abuso de poder ou violação de de- contra a mulher na forma da lei específica;
ver inerente a cargo, ofício, ministério ou g) com abuso de poder ou violação de de-
profissão; ver inerente a cargo, ofício, ministério ou
h) contra criança, velho ou enfermo; profissão;
i) quando o ofendido estava sob a imedia- h) contra criança, maior de 60 (sessenta)
ta proteção da autoridade; anos, enfermo ou mulher grávida;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, en- i) quando o ofendido estava sob a imediata
calhe, alagamento, inundação, ou qual- proteção da autoridade;
quer calamidade pública, ou de desgraça j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inun-
particular do ofendido; dação ou qualquer calamidade pública, ou
l) estando de serviço; de desgraça particular do ofendido;
m) com emprego de arma, material ou l) em estado de embriaguez preordenada.
instrumento de serviço, para esse fim pro-
curado;
n) em auditório da Justiça Militar ou local
onde tenha sede a sua administração;
o) em país estrangeiro.
Parágrafo único. As circunstâncias das le-
tras c, salvo no caso de embriaguez pre-
ordenada, l , m e o , só agravam o crime
quando praticado por militar.
CPM CP Comum
Art. 72. Art. 65
São circunstâncias que sempre ate- São circunstâncias que sempre ate-
nuam a pena: nuam a pena:
I - ser o agente menor de vinte e um ou I - ser o agente menor de 21 (vinte e um),
maior de setenta anos; na data do fato, ou maior de 70 (setenta)
II - ser meritório seu comportamento an- anos, na data da sentença;
terior; II - o desconhecimento da lei;
III - ter o agente: III - ter o agente:
a) cometido o crime por motivo de rele- a) cometido o crime por motivo de relevan-
vante valor social ou moral; te valor social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vonta- b) procurado, por sua espontânea vontade
de e com eficiência, logo após o crime, evi- e com eficiência, logo após o crime, evitar-
tar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, -lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou
ou ter, antes do julgamento, reparado o ter, antes do julgamento, reparado o dano;
dano; c) cometido o crime sob coação a que po-
c) cometido o crime sob a influência de dia resistir, ou em cumprimento de ordem
violenta emoção, provocada por ato injus- de autoridade superior, ou sob a influência
to da vítima; de violenta emoção, provocada por ato in-
d) confessado espontaneamente, perante justo da vítima;
a autoridade, a autoria do crime, ignorada d) confessado espontaneamente, perante
ou imputada a outrem; a autoridade, a autoria do crime;
e) sofrido tratamento com rigor não per- e) cometido o crime sob a influência de
mitido em lei. Não atendimento de atenu- multidão em tumulto, se não o provocou.
antes
Parágrafo único. Nos crimes em que a
pena máxima cominada é de morte, ao
juiz é facultado atender, ou não, às cir-
cunstâncias atenuantes enumeradas no
artigo.
Quando a pena máxima cominada ao crime for de morte, nos termos do parágrafo
único do artigo 72, do CPM, ao Juiz Federal da Justiça Militar é facultado atender, ou não, as
circunstâncias atenuantes.
Concurso de crimes
Art. 79.
Quando o agente, mediante uma só ou mais de uma ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes, idênticos ou não, as penas privativas de liberdade devem ser unificadas. Se
as penas são da mesma espécie, a pena única é a soma de todas; se, de espécies diferen-
tes, a pena única e a mais grave, mas com aumento correspondente à metade do tempo
das menos graves, ressalvado o disposto no art. 58.
Crime continuado
Art. 80.
Aplica-se a regra do artigo anterior, quando o agente, mediante mais de uma ação
ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo,
lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser considera-
dos como continuação do primeiro.
Restrições
Parágrafo único. A suspensão não se estende
às penas de reforma, suspensão do exercício
do pôsto, graduação ou função ou à pena aces-
sória, nem exclui a aplicação de medida de se-
gurança não detentiva.
Condições
Art. 85.
A sentença deve especificar as condições a que fica subordinada a suspensão.
Art. 86.
A suspensão é revogada se, no curso do prazo, o beneficiário:
I - é condenado, por sentença irrecorrível, na
Justiça Militar ou na comum, em razão de cri-
me, ou de contravenção reveladora de má ín-
dole ou a que tenha sido imposta pena privati-
va de liberdade;
II - não efetua, sem motivo justificado, a repa-
ração do dano;
III - sendo militar, é punido por infração discipli-
nar considerada grave.
Prorrogação de prazo
Caso o Juiz Federal daJustiça Militar, na hipótese de revogação facultativa, entender pela
manutenção do benefício deverá:
a) advertir o beneficiário, ou
b) exacerbar as condições ou, ainda,
c) prorrogar o período de suspensão até o máximo, se esse limite não foi o fixado.
A suspensão condicional da pena, nos termos do artigo 88 do CPM, não se aplica nas
seguintes hipóteses:
A decisão que concede o livramento condicional deve especificar as condições a que fica
subordinada a concessão do benefício (artigo 90 do CPM).
São condições para a concessão do livramento condicional, nos termos do artigo
626 do CPPM:
São legitimados para requerer o livramento condicional, nos termos do artigo 619
do CPPM:
1 - o sentenciado, seu cônjuge ou seu convivente, bem como algum parente em linha reta;
2 - por proposta do diretor do estabelecimento penal militar, e
3 - por iniciativa do conselho penitenciário ou órgão equivalente.
Durante o cumprimento do livramento condicional, o beneficiado fica sob a
fiscalização do Ministério Público Militar e do Juiz Federal da Justiça Militar, já que os Ór-
gãos elencados no artigo 92 do CPM não foram criados no âmbito da Justiça Militar.
Art. 97.
Em tempo de paz, o livramento condicional por crime contra a segurança externa do
país, ou de revolta, motim, aliciação e incitamento, violência contra superior ou militar de
serviço, só será concedido após o cumprimento de dois terços da pena, observado ainda o
disposto no art. 89, preâmbulo, seus números II e III e §§ 1º e 2º.
Como se pode observar, a intenção da Lei Penal Militar é tratar com maior rigor
os crimes que atentem ou ofendam, diretamente, a segurança externa do País,
a hierarquia e a disciplina militar, determinando que em tais hipóteses a conces-
são do livramento condicional somente ocorrerá com o cumprimento de dois
terços da pena.
Penas acessórias
Art. 98.
São penas acessórias:
São crimes que geram a indignidade para com o oficialato, nos termos do ar-
tigo 100 do CPM:
Efeitos da condenação
Obrigação de reparar o dano
Art. 109.
São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de reparar o dano
resultante do crime;
Perda em favor da Fazenda Nacional
Medidas de Segurança
Espécies de medidas de segurança
Art. 110.
As medidas de segurança são pessoais ou patrimoniais. As da primeira espécie sub-
dividem-se em detentivas e não detentivas. As detentivas são a internação em manicômio
judiciário e a internação em estabelecimento psiquiátrico anexo ao manicômio judiciário
ou ao estabelecimento penal, ou em seção especial de um ou de outro. As não detentivas
são a cassação de licença para direção de veículos motorizados, o exílio local e a proibição
de frequentar determinados lugares. As patrimoniais são a interdição de estabelecimento
ou sede de sociedade ou associação, e o confisco.
Art. 111.
As medidas de segurança somente podem ser impostas:
I - aos civis;
II - aos militares ou assemelhados, conde-
nados a pena privativa de liberdade por
tempo superior a dois anos, ou aos que de
outro modo hajam perdido função, pôsto e
patente, ou hajam sido excluídos das fôrças
armadas;
III - aos militares ou assemelhados, no caso
do art. 48;
IV - aos militares ou assemelhados, no caso
do art. 115, com aplicação dos seus §§ 1º,
2º e 3º.
Manicômio judiciário
Art. 112.
Quando o agente é inimputável (art. 48), mas suas condições pessoais e o fato pra-
ticado revelam que ele oferece perigo à incolumidade alheia, o juiz determina sua interna-
ção em manicômio judiciário.
Prazo de internação
Perícia Médica
§ 2º Salvo determinação da instância superior, a
perícia médica é realizada ao término do prazo
mínimo fixado à internação e, não sendo esta
revogada, deve aquela ser repetida de ano em
ano.
Desinternação condicional
Art. 113.
Quando o condenado se enquadra no parágrafo único do art. 48 e necessita de
especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela inter-
nação em estabelecimento psiquiátrico anexo ao manicômio judiciário ou ao estabeleci-
mento penal, ou em seção especial de um ou de outro.
Superveniência de cura
1º Sobrevindo a cura, pode o internado ser
transferido para o estabelecimento penal, não
ficando excluído o seu direito a livramento con-
dicional.
Regime de internação
Art. 114.
A internação, em qualquer dos casos previstos nos artigos precedentes, deve visar
não apenas ao tratamento curativo do internado, senão também ao seu aperfeiçoamento,
a um regime educativo ou de trabalho, lucrativo ou não, segundo o permitirem suas condi-
ções pessoais.
Art. 115.
Ao condenado por crime cometido na direção ou relacionadamente à direção de ve-
ículos motorizados, deve ser cassada a licença para tal fim, pelo prazo mínimo de um ano,
se as circunstâncias do caso e os antecedentes do condenado revelam a sua inaptidão para
essa atividade e consequente perigo para a incolumidade alheia.
O Código Penal Militar, em seu artigo 110 do CPM, trata das medidas de segurança, que
podem ser pessoais e patrimoniais.
O artigo 111 do CPM determina que as medidas de segurança podem ser impostas:
I - aos civis;
II – aos militares condenados à penas privativas de liberdade superiores a dois anos, ou
aos que de qualquer modo tenham perdido função, posto, patente, ou tenham sido exclu-
ídos das Forças Armadas;
III – aos militares inimputáveis e aos semi-imputáveis;
IV – aos condenados por crime cometido na direção ou relacionadamente à direção de
veículos motorizados.
Como já esclarecido, o semi-imputável pode ter sua pena substituída por medi-
da de segurança, mas sobrevindo sua recuperação, deverá ser transferido para
estabelecimento penal, ficando sujeito ao cumprimento do restante da pena,
com a observância dos eventuais benefícios da execução, como o livramento
condicional.
O artigo 113, § 2º, do CPM determina que se ao término do prazo fixado para a in-
ternação persistir o estado mórbido causador da periculosidade do agente, a internação
passa a ser por tempo indeterminado. Esse dispositivo também deve ser aplicado aos sub-
metidos a tratamento ambulatorial.
Para aqueles que entendem que a medida de segurança possui limite máximo, é
necessário diferenciar as situações do inimputável e do semi-imputável.
Cláudio Amin Miguel e Nelson Coldibelli entendem que a expressão “Ministério Mili-
tar” deve ser atualizada pela LC 97/1999, sendo atribuição do “Comando Militar” fazer a re-
quisição para deflagração da ação penal militar, no caso de militares de Forças diferentes,
caberá ao Ministro da Defesa fazer a requisição.
Cícero Robson Coimbra Neves e Marcello Streifinger, bem como Jorge César
de Assis, Paulo Tadeu Rodrigues Rosa, que entendem que a representação deve ser do
Ministro da Defesa.
A LC 97/1999, modificou a nomenclatura de “Ministro” para “Comandante”,
sem lhes retirar esse status, tanto que a EC 23/1999 manteve diversas prerrogativas cons-
titucionais próprias do cargo de Ministro de Estado (artigo 102, inciso I, alínea “b”, e artigo
105, inciso I, alíneas “b” e “c”, da Constituição da República), mas em qualquer momento
suprimiu suas atribuições em relação ao Direito Penal e Processual Militar, de modo que os
Vale observar que, com a edição da Lei nº 13.491/2017 e a ampliação dos crimes
militares, é possível afirmar que se passou a admitir a ação penal pública condicionada à
representação da vítima e a ação penal privada.
Nesse sentido, vale a pena conferir o acórdão proferido no Conflito de Competência
nº 157328/MG.
Ainda sobre tema, é importante lembrar a regra do artigo 95, parágrafo único,
da LOJM (Lei nº 8457/1992), que prevê, em tempo de guerra, a requisição do
Presidente da República, para deflagração da ação penal militar contra o co-
mandante do teatro de operações.
Por fim, na forma do artigo 5º, inciso LIX, da Constituição da República, é admitida a
utilização da ação penal privada subsidiária da pública no processo penal militar, aplicando-
-se, subsidiariamente, as regras do processo penal comum, nos casos de esgotamento do
prazo para oferecimento da denúncia com a inércia do Ministério Público Militar.
Da extinção da punibilidade
Causas extintivas
Art. 123.
Extingue-se a punibilidade:
Espécies de prescrição
Art. 124.
A prescrição refere-se à ação penal ou à execução da pena.
Art. 125.
A prescrição da ação penal, salvo o disposto no § 1º deste artigo, regula-se pelo
máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:
Suspensão da prescrição
§ 4º A prescrição da ação penal não corre:
I - enquanto não resolvida, em outro processo,
questão de que dependa o reconhecimento da
existência do crime;
II - enquanto o agente cumpre pena no estran-
geiro.
Interrupção da prescrição
§ 5º O curso da prescrição da ação penal inter-
rompe-se:
I - pela instauração do processo;
II - pela sentença condenatória recorrível.
6º A interrupção da prescrição produz efeito re-
lativamente a todos os autores do crime; e nos
crimes conexos, que sejam objeto do mesmo
processo, a interrupção relativa a qualquer de-
les estende-se aos demais.
Art. 126.
A prescrição da execução da pena privativa de liberdade ou da medida de segurança
que a substitui (art. 113) regula-se pelo tempo fixado na sentença e verifica-se nos mesmos
prazos estabelecidos no art. 125, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é
criminoso habitual ou por tendência.
1º Começa a correr a prescrição:
a) do dia em que passa em julgado a sen-
tença condenatória ou a que revoga a sus-
pensão condicional da pena ou o livramen-
to condicional;
b) do dia em que se interrompe a execução,
salvo quando o tempo da interrupção deva
computar-se na pena.
2º No caso de evadir-se o condenado ou de
revogar-se o livramento ou desinternação
condicionais, a prescrição se regula pelo
restante tempo da execução.
3º O curso da prescrição da execução da
pena suspende-se enquanto o condenado
está preso por outro motivo, e interrompe-
-se pelo início ou continuação do cumpri-
mento da pena, ou pela reincidência.
Art. 127.
Verifica-se em quatro anos a prescrição nos crimes cuja pena cominada, no máximo,
é de reforma ou de suspensão do exercício do pôsto, graduação, cargo ou função.
Art. 128.
Interrompida a prescrição, salvo o caso do § 3º, segunda parte, do art. 126, todo o
prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção.
Redução
Art. 129.
São reduzidos de metade os prazos da prescrição, quando o criminoso era, ao tem-
po do crime, menor de vinte e um anos ou maior de setenta.
Art. 130.
É imprescritível a execução das penas acessórias.
Art. 131.
A prescrição começa a correr, no crime de insubmissão, do dia em que o insubmisso
atinge a idade de trinta anos.
Art. 132.
No crime de deserção, embora decorrido o prazo da prescrição, esta só extingue a
punibilidade quando o desertor atinge a idade de quarenta e cinco anos, e, se oficial, a de
sessenta.
Art. 133.
A prescrição, embora não alegada, deve ser declarada de ofício.
Reabilitação
Art. 134.
A reabilitação alcança quaisquer penas impostas por sentença definitiva.
Revogação
5º A reabilitação será revogada de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público, se a pes-
soa reabilitada fôr condenada, por decisão de-
finitiva, ao cumprimento de pena privativa da
liberdade.
Cancelamento do registro de condenações pe-
nais
Art. 135. Declarada a reabilitação, serão can-
celados, mediante averbação, os antecedentes
criminais.
Sigilo sobre antecedentes criminais
O artigo 125, § 5º, trata das hipóteses de interrupção da prescrição, ou seja, recome-
ça-se a contagem do prazo prescricional.
Na forma do artigo 125, § 5º, do CPM, são hipóteses de interrupção da prescrição a
instauração do processo penal militar, com o recebimento da denúncia pelo Juiz-Auditor, e
a sentença condenatória recorrível.
O artigo 125, § 6º, do CPM, determina que: a interrupção da prescrição produz efei-
to relativamente a todos os autores do crime; e nos crimes conexos, que sejam objeto do
mesmo processo, a interrupção relativa a qualquer deles estende-se aos demais.
O referido dispositivo deve ser interpretado com cuidado, na medida em que pode
levar um leitor apressado a aplicá-lo literalmente.
A interrupção somente produzirá efeito relativamente a todos os autores do crime,
se todos forem denunciados ou condenados. No caso de rejeição da denúncia ou de ab-
solvição de um dos co-autores ou dos partícipes, em relação a este não há que se falar em
interrupção da prescrição, que somente ocorrerá em relação a este, se, em grau de recur-
so, a denúncia for recebida ou no caso de condenação.
O artigo 127, caput, do CPM determina que é de quatro anos o prazo prescricional
para os crimes militares em que sejam cominadas, no máximo, penas de reforma, sus-
pensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função, independentemente do tempo
máximo previsto abstratamente no tipo penal militar.
Na forma do artigo 128 do CPM, interrompido o prazo prescricional, todo o prazo
começa a correr novamente, exceto nas hipóteses em que o apenado iniciou ou continuou
o cumprimento da pena, ou, ainda, pela reincidência, onde se somará ao período já cum-
prido com o tempo a cumprir, em virtude da nova condenação.
O CPM determina que o prazo prescricional será reduzido pela metade se o crimi-
noso, ao tempo do crime, era maior de setenta anos, enquanto o artigo 115 do CP comum
determina que os setenta anos devem ser aferidos ao tempo da sentença. Eis aqui, uma
importante diferença entre o CPM e o CP comum.
O artigo 130 do CPM determina que é imprescritível a execução das penas acessórias.
Prescrição do crime
de deserção
Assim como ocorre com a insubmissão, a deserção possui regras específicas em
relação à prescrição.
Existe grande controvérsia sobre a natureza do crime de deserção. A mais
recente jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal Militar ado-
tou o entendimento de que a deserção constitui delito permanente, conforme os seguin-
tes julgados:
Por fim, o artigo 133 do CPM, determina que a prescrição, embora não alegada, deve
ser declarada de ofício. Nesse sentido:
Reabilitação
A reabilitação, a nosso ver equivocadamente, consta como modalidade de extinção
da punibilidade, sendo, em verdade, causa de extinção dos efeitos da condenação, pois é
o cumprimento da pena que extingue a punibilidade do agente.
O Superior Tribunal Militar tem sido extremamente rigoroso na apreciação dos re-
querimentos reabilitação, exigindo o integral cumprimento de seus requisitos ou a abso-
luta impossibilidade de fazê-lo.
Nos termos do artigo 134, § 2º, do CPM, a reabilitação não pode ser concedi-
da aos condenados reconhecidamente perigosos (salvo prova em contrário), aos conde-
nados por crimes de natureza sexual em detrimento de filho, tutelado ou curatelado.
Negado o pedido de reabilitação, somente poderá ser renovado após o pra-
zo de 2 anos (artigo 134, § 3º, do CPM).
No caso de criminoso habitual ou por tendência, o prazo para requerer a
reabilitação, nos termos do artigo 134, § 4º, do CPM, deveria ser contado em dobro, mas,
em razão da desuetudo, o dispositivo deve ser considerado como não escrito, constituin-
do-se letra morta na legislação penal militar.
Concedida a reabilitação, deverão ser cancelados, mediante averbação, os
antecedentes criminais, com as respectivas comunicações aos órgãos policiais, militares e
civis, nos termos do artigo 135 do CPM.
O artigo 135, parágrafo único, do CPM, determina que uma vez concedida a
reabilitação, o registro criminal somente poderá ser comunicado à autoridade policial ou
judiciária, bem como ao Ministério Público, para a instrução de processo penal que venha
a ser instaurado contra o reabilitado.
ALBUQUERQUE, Bento Costa Lima Leite de. A justiça militar da campanha da Itália. Forta-
leza: Imprensa Oficial, 1958.
ARAÚJO, João Vieira de. Direito Penal do Exército e Armada. Rio de Janeiro: Leammert,
1898.
ARRUDA, João Rodrigues. O uso político das Forças Armadas. Rio de Janeiro: Mauad, 2007.
ASSIS, Jorge César de. Comentários ao Código Penal Militar. Curitiba: Juruá, 2004.
ASSIS, Jorge César de; LAMAS, Claudia Rocha. A execução da sentença na justiça militar.
Curitiba: Juruá, 2004.
ASSUMPÇÃO, Roberto Menna Barreto de. Direito Penal e Processual Penal Militar. v. 1 e 2.
Rio de Janeiro: Destaque, 1998.
BADARÓ, Ramagem. Comentários ao Código Penal Militar de 1969. São Paulo: Juriscrédi,
1972. 2 v.
_______. Curso de Direito Penal Militar. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1915.
_______. Direito, justiça e processo militar. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1919. 2
v.
_______. Tratado de direito penal militar brazileiro. v. 1. Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos
Santos Editor, 1925.
BARBOSA, Rui. Rui Barbosa e o Exército. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1949.
_______. Trabalhos jurídicos. v. 10. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1961.
BEVILAQUA, Clóvis. Estudos Jurídicos (História, Philosophia e Critica). Rio de Janeiro. Livra-
ria Francisco Alves, 1916.
BITENCOURT, César Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. São Paulo: Saraiva,
2003.
CAMPOS JUNIOR, José Luiz Dias. Direito Penal e Justiças Militares. Curitiba: Juruá, 2004.
CARNEIRO, Mario Tibúrcio Gomes. Estudos de Direito Militar. Rio de Janeiro: Borsoi, 1959.
CARPENTER, Luiz. O Direito Penal Militar brasileiro e o Direito Penal de outros povos cul-
tos. Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos Editor, 1914.
BIBLIOGRAFIA
Editor, 1914.
CARVALHO, Antônio José Ferreira. Jurisprudência Penal Militar. Rio de Janeiro: Lúmen
Júris, 1994.
CARVALHO, Virgilio Antonino de. Direito Penal Militar brasileiro. Rio de Janeiro: Bedeschi,
1940.
CHAVES JUNIOR, Edgar de Brito. Direito Penal e Processual Penal Militar. Rio de Janeiro:
Forense, 1986.
COLOMBO, Carlos J. El Derecho Penal Militar y la disciplina. Buenos Aires: Libreria Jurídi-
ca, 1953.
CORREA, Getúlio. Direito Militar: história e doutrina. Florianópolis: AMAJME, 2002. Artigos
inéditos.
COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime Militar. 2. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005.
CYSNEIROS, Amador. Código Penal Militar. v. 1. Rio de Janeiro: edição do autor, 1944.
DOBRANICH, Horacio H. Justicia Militar argentina. Buenos Aires: J. Bonmati (hijo), 1913.
DUARTE, Galdino Pimentel. Conferências de Direito Penal Militar em 1922. Rio de Janeiro:
Imprensa Naval, 1924.
FAGUNDES, João Batista da Silva. Processo e julgamento dos crimes de deserção e insub-
missão. Brasília: Senado Federal, 1977.
FAUSTINO FILHO, José. Código da Justiça Militar. Rio de Janeiro: Villani & Barbero, 1940.
FERNANDES, Antonio Scarance. Justiça Penal nº 5: tortura, crime militar e habeas corpus.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.
FREYESLEBEN, Márcio Luís Chila. A prisão provisória no CPPM. Belo Horizonte: Del Rey,
1997.
GIULIANI, Ricardo Henrique Alves. Direito Penal Militar. São Paulo: Verbo Jurídico, 2007.
1990.
GUSMÃO, Chrysólito de. A Competência dos Tribunais Militares. Rio de Janeiro: Typ. Litho.
Pimenta de Mello, 1914.
_______. Direito Penal Militar. Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos Editor, 1915.
GUSMÃO, Helvecio Carlos da Silva. Da dualidade penal substantiva e da Justiça Militar. Rio
de Janeiro: Typ. Jornal do Commércio. 1914. Autônoma.
HERRERA, Renato Astrosa. Codigo de Justicia Militar comentado. 3. ed. Santiago: Editoria
Jurídica de Chile.
KOERNER JUNIOR, Rolf. Obediência hierárquica. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.
LIMA FILHO, Altamiro de Araújo. Crimes militares dolosos contra a vida. São Paulo: Editora
de Direito, 1996.
LIMA, Dario Bezerril Corrêa. Direito Penal Militar applicado. Rio de Janeiro: A. Coelho Bran-
co Filho Editor, 1934.
_______. Crimes contra a segurança do Estado. Rio de Janeiro: Líber Júris, 1982.
LOBO, Helio. Sabres e Togas: a autonomia judicante militar. 2. ed. Rio de Janeiro: Borsoi,
1960.
LOUREIRO NETO, José da Silva. Direito Penal Militar. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
LYRA, Roberto. Direito Penal normativo. Rio de Janeiro: José Konfino, 1975.
MARTINS, J. Salgado. Código Penal Militar. Porto Alegre: Typ. Thurmann, 1937.
MIGUEL, Cláudio Amin; COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Mili-
tar. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000.
MIGUEL, Cláudio Amin; CRUZ, Ione de Souza. Elementos de Direito Penal Militar. Rio de
Janeiro: Lúmen Júris, 2005.
MIRANDA, Reynaldo Moreira de. Manual de Direito Penal Militar. São Vicente: Danúbio,
2003.
128 ©2019 Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas
MORAES, Evaristo de. Contra os Artigos de Guerra. Rio de Janeiro: Officina Typ. Instituto
BIBLIOGRAFIA
Profissional, 1898.
PEIXOTO, Abdul Sayol de Sá. Dicionário das auditorias militares. Rio de Janeiro: Borsoi,
1971.
PÉRICLES, Silvestre. Justiça Militar em tempo de guerra. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti,
1935.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal brasileiro. v. 1, 5. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2005.
PRATES, Homero. Código da Justiça Militar. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1939.
RAMIREZ, Jorge Arturo Gonzalez. Auditor de guerra. Buenos Aires: Ediciones Ciudad Ar-
gentina, 1997.
_______. Esboço de uma História do Direito Militar brasileiro. Rio de Janeiro: Typ. Jornal do
Commércio, 1947.
RODRIGUES, Cristiano. Temas controvertidos de Direito Penal. Rio de Janeiro: Lumen Ju-
ris. 2009
ROMEIRO, João. Um velho advogado na judicatura militar. Belo Horizonte: Bernardo Álva-
res, 1962.
ROMEIRO, Jorge Alberto. Curso de Direito Penal Militar: parte geral. São Paulo: Saraiva,
1994.
ROMEIRO NETO, João. O Direito Penal Militar nos casos concretos. Rio de Janeiro: José
Kofino, 1966.
ROTH, Ronaldo João. Justiça Militar e as peculiaridades do juiz militar na atuação jurisdi-
cional. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003.
SALLES, Joaquim Ferreira de. É de necessidade imperiosa para o Exército e a Armada a lei
penal especial, abrangendo os delictos próprios e mixtos na paz e na guerra. Rio de Janei-
ro: Oficinas Gráficas do Paiz, 1914.
SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Crimes contra a Administração Militar. Belo Ho-
rizonte: Del Rey, 2000.
_______. Crimes Militares. v. I. Fortaleza: Gráfica Relevo. 2010.
_______. Comentários à parte geral do Código Penal Militar. Fortaleza: ABC, 2007.
SOARES, Oscar Macedo. Código Penal Militar da República dos Estados Unidos do Brasil.
Rio de Janeiro: Garnier, 1902.
SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR. Anais do I Congresso de Direito Militar. Rio de Janeiro: Im-
prensa do Exército, 1958. 3 v.
TEIXEIRA, Paulo Ivan de Oliveira. 1000 perguntas acerca da estrutura e legislação penal e
administrativa militar. Curitiba: Juruá, 2006.
TEIXEIRA, Silvio Martins. Novo Código Penal Militar do Brasil. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1946.
TITARA, Ladisláo dos Santos. Auditor Brasileiro. Rio de Janeiro: Typographia Universal de
Laemmert, 1859.
VIANNA, Francisco Bulcão. Dos Crimes Militares: estudo theorico e critico. Rio de Janeiro:
1914.
ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal brasileiro.
7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
ZAFFARONI, Eugenio Raul; CAVALLERO, Ricardo Juan. Derecho Penal Militar. Lineamentos
de la Parte General. Buenos Aires: Ariel, 1980.
ZEGRI, Juan Martinez de la Veja y. Derecho Militar en la Edad Media. Madri: Boletin de
Justicia Militar, 1912.
Mario Porto é brasileiro, casado, natural do Rio de Janeiro, é Membro do Ministério Pú-
blico da União, ingressando na carreira do Ministério Público Militar em 26 de novembro
de 2013, no Cargo de Promotor de Justiça Militar.
Ingressou, aos 18 anos, na Escola de Sargentos das Armas, sendo promovido à gradua-
ção de 3º Sargento da Arma de Artilharia, na Turma de 1993.
Foi professor de Direito Penal Militar e de Processo Penal Militar de turmas preparató-
rias à carreira da Defensoria Pública da União, nos cursos “Alcance Concursos”, “Foco
Treinamento Jurídico” e “Curso Resultado”, no Rio de Janeiro.
Designer Instrucional:
Thaís Fernandes
Capa:
Isis Batista Ferreira
Diagramação:
Isis Batista Ferreira
Revisão de Originais:
Claudio Miguel Amin
Juliana de Paula Souza
Marcia Britto