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24/09/2021 ConJur - Não é possível formar-se precedente judicial sobre matéria de fato

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PARADOXO DA CORTE

Não é possível formar-se precedente


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judicial sobre matéria de fato
20 de janeiro de 2015, 8h00 Imprimir Enviar PARADOXO DA CORTE
O relacionamento entre juiz e
Por José Rogério Cruz e Tucci advogado como motivo de suspeição

 Ouvir: Não é possível formar-se 0:00 PARADOXO DA CORTE


As Arcadas de São Francisco e o
Supremo Tribunal Federal

PARADOXO DA CORTE
Uma luz no fim do túnel: a
Surpreendi-me com a notícia de acórdão do
inconstitucionalidade da Súmula
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, de autoria da
401/STJ
jornalista  Giselle Souza,  publicada na prestigiosa
revista Consultor Jurídico, sob o título "Decisões PARADOXO DA CORTE
em processos idênticos devem ser coerentes, diz Sucessão do credor no processo de
TJ-RJ". recuperação judicial

Retorno, pois, ao tema atinente aos precedentes PARADOXO DA CORTE


judiciais, procurando mostrar ser inadequada a Interação entre execução de título
aplicação puramente automática de precedente extrajudicial e arbitragem
judicial, ainda que em causa análoga, sobre
PARADOXO DA CORTE
matéria de fato.
Desprezo à jurisprudência
Dúvida não há de que a jurisprudência consolidada acerca de uma determinada consolidada é mal à sociedade
tese de direito, garante, de um lado, a igualdade dos cidadãos perante a justiça,
PARADOXO DA CORTE
porque situações assemelhadas devem ser tratadas do mesmíssimo modo, e, de
Poder discricionário do juiz não
Leia pode
mais
outro, evidencia submissão moral de respeito à sabedoria acumulada pela
atrapalhar tutela do cidadão
experiência, não de forma simplesmente mecânica, mas, sim, por meio de
adesão crítica consciente, conseguindo detectar, entre vários caminhos, uma PARADOXO DA CORTE
vertente segura e consistente. Arbitrabilidade dos litígios sobre
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direitos da propriedade industrial
Não é preciso dizer, a esse respeito, que a preservação, na medida do possível,
de correntes predominantes da jurisprudência, constitui obra de boa política
judiciária, porque infunde no jurisdicionado confiança no Poder Judiciário. Facebook Twitter

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De fato, corresponde ao anseio de toda sociedade a harmonia de julgamentos


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em situações idênticas.

Daí, porque os precedentes judiciais, mesmo aqueles de eficácia persuasiva,


nestes últimos tempos, têm sido prestigiados na experiência jurídica brasileira,
a ponto de ser contemplada, no novo Código de Processo Civil, uma regra
específica de cunho pedagógico, no artigo 924, ao preceituar que: “Os tribunais
devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente”.

No âmbito de uma estrutura burocrática de sobreposição de tribunais, é natural


que o precedente (vertical) de tribunal superior exerça um grau de influência
maior nos julgamentos das cortes e juízos inferiores. Os precedentes
horizontais, provenientes de órgãos postados em idêntico patamar hierárquico,
possuem, a seu turno, relativa eficácia persuasiva, sendo que, na medida do
possível, também devem ser considerados por outros tribunais.

Ademais, o denominado autoprecedente (precedente do mesmo tribunal)


também é revestido de eficácia interna corporis como medida de coerência,
além, é claro, da segurança jurídica que daí decorre e que deve ser preservada a
todo custo.

Ressalte-se, por outro lado, que o precedente judicial, vale dizer, a anterior
decisão, tem valor para o julgamento de caso futuro análogo somente quando
encerra uma determinada tese jurídica sobre matéria de direito. Assim, a guisa
de exemplo, nos julgamentos dos Recursos Especiais 1.312.972-RJ e
1.068.836-RJ, referentes à interpretação da Súmula 301 do Superior Tribunal
de Justiça, restou decidido que a negativa de submissão ao exame de DNA, por
si só, sem qualquer outro indício de prova, não implica procedência do pedido
de reconhecimento da paternidade; nos julgamentos dos Recursos
Especiais  1.472.945-RJ e 1.430.763-SP, referentes à interpretação do
artigo  1.829, I, do Código Civil, assentou-se que o cônjuge casado sob o
regime de separação convencional de bens ostenta a condição de herdeiro
necessário, que concorre com os descendentes do falecido independentemente
do período de duração do casamento; no julgamento do Agravo Regimental no
Recurso Especial 1.091.416-RJ, que decidiu pela não incidência do ICMS nos
contratos de afretamento de embarcação, por não se enquadrarem na hipótse
prevista no artigo 2º, II, da Lei Complementar 87/96.

Assim sendo, não se pode considerar que o anterior julgamento, acerca de uma
questão cujo fato constitutivo do direito do autor restou comprovado, possa
influir na decisão a ser proferida em futura demanda, gerada da mesma
situação fática. E isso, simplesmente porque no sucessivo processo é possível
que o autor não consiga produzir prova convincente do fato deduzido na
petição inicial. E, assim, a sentença julgará improcedente o pedido. Diante de Leia mais
tal situação, que é sempre indesejada, a parte derrotada na segunda demanda
sempre lamentará o ocorrido, lançando toda sua ira ao julgador; ou mesmo um
leigo poderá criticar a divergência de julgados. Todavia, esta circunstância não
é tão incomum e tampouco impressiona quem é versado em direito, visto que o NEXT VIDEO IN 3 CANCEL

conflito de decisões sobre matéria de fato, embora paradoxal, desponta lógico e


não propriamente jurídico. E isso porque o resultado de cada ação judicial,
embora análoga a outra, depende de muitas variantes.

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A esse respeito, ficou conhecido, nos anais da Justiça paulista, o precedente


dos “treze Silva”, 13 irmãos de vítima fatal de ato ilícito, que, divididos em
litisconsórcio, ajuizaram sucessivas ações de indenização em face do
preponente do motorista causador do acidente. As demandas não tiveram a
mesma sorte!

Daí, porque, em situação assemelhada, o TJ-RJ, no acórdão acima aludido, ao


que tudo indica, deixou-se impressionar pelo precedente julgamento, que
reconheceu a procedência do pedido deduzido por um filho da vítima.

Mais tarde, a viúva e outros dois filhos ajuizam sucessiva ação de indenização,
cujo pedido foi julgado improcedente em grau de apelação, uma vez que
reconhecida a culpa exclusiva da vítima. Em seguida, o acórdão proferido pela
4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro  em embargos
infringentes, por paradoxal que possa parecer, asseverou o seguinte: “Como
dizem os embargantes, ‘existindo vínculo de similitude entre as causas de
forma que o direito material seja o mesmo discutido em duas demandas,
impende ao julgador considerar a decisão transitada em julgado ao apreciar a
autra, idêntica, resguardando assim a garantia de julgamentos uniformes
fulcrada nos princípios da segurança jurídica e economia processual, alicerces
norteadores das decisões jurisidicionais por comando constitucional,
prevenindo a iniquidade’. É bem verdade que a coisa julgada no processo
anterior não tem eficácia neste; entretanto, há de haver coerência na solução
das lides. O contrário traria perplexidade aos jurisdicionados e maior
despretsígio ao já desprestigiado Judiciário... Assim posta a questão, data
venia do ilustre condutor do voto majoritário, entendo que a referida sentença
de procedência merece ser repristinada, na íntegra, inclusive quanto ao valor da
verba indenizatória por danos morais, a fim mesmo de evitar decisões
conflitantes, como acima ressaltado...”.

A despeito da boa intenção constante do respectivo voto condutor, o que


realmente causa perplexidade é a indevida atribuição de eficácia “praticamente
vinculante” ao anterior julgamento, sem se dar conta de que não é possível
formar-se precedente judicial sobre matéria de fato, a exemplo da hipótese
retratada, ou seja, acerca da extensão da culpa do causador do ato ilícito.

Se isso fosse realmente correto, todas as demandas judiciais fulcradas em


idêntica causa de pedir baseada num mesmo conjunto fático teriam de ser
julgadas de modo uniforme, o que é um verdadeiro absurdo!

Leia mais

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José Rogério Cruz e Tucci é advogado, diretor e professor titular da Faculdade de Direito da
USP e ex-presidente da Associação dos Advogados de São Paulo.

Revista Consultor Jurídico, 20 de janeiro de 2015, 8h00

COMENTÁRIOS DE LEITORES
11 comentários

CADA CASO É UM CASO


Giovani Menicucci (Advogado Associado a Escritório - Civil)

21 de janeiro de 2015, 17h20

Concordo que a segurança e previsibilidade das decisões são fatores importantes


para os jurisdicionados. Por outro lado, a depender da prova produzida nos autos, o
resultado de demandas semelhantes pode ter um resultado distinto.

Acredito que a tese jurídica sobre a matéria de direito decidida anteriormente deve
ser observada em demandas análogas. Todavia, a questão fática é recheada de
peculiaridades e deve ser provada a valorada caso a caso. O dano moral decorrente
de um mesmo evento pode impactar as pessoas de forma diferente. Essa valoração, a
meu sentir, deve ser feita casuisticamente observando as peculiaridades e provas
coligidas aos autos.

O debate é inegavelmente interessante! (e acalorado)

CADA CASO É UM CASO.


Giovani Menicucci (Advogado Associado a Escritório - Civil)

21 de janeiro de 2015, 16h55

Ressalte-se, por outro lado, que o precedente judicial, vale dizer, a anterior decisão,
tem valor para o julgamento de caso futuro análogo somente quando encerra uma
determinada tese jurídica sobre matéria de direito.

PRAETOR, MENOS, MENOS...


Sérgio Niemeyer (Advogado Sócio de Escritório - Civil)

20 de janeiro de 2015, 21h21

Faz-me rir.

Qualquer um que entra num debate e se pronuncia acerca do que outra pessoa disse Leia mais
ou escreveu, só pode fazer isso a partir de um juízo de valor sobre o conteúdo do
discurso alheio. Então, sim, tenho, como todos, a pretensão de fazer esse juízo de
valor para levar o debate adiante. Do contrário, será um diálogo de surdos.

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Por outro lado, o que o senhor chama de prolixismo (sic), a despeito dessa palavra
não existir no nosso léxico, eu, por ser indulgente e prodigalizar o emprego do
princípio da condescendência, ou da indulgência, ou da caridade (em inglês designa-
se como “principle of charity”, conforme Alec Fisher na obra “The Logic of Real
Arguments”), entendi que o senhor quis dizer que meus escritos são prolixos.

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24/09/2021 ConJur - Não é possível formar-se precedente judicial sobre matéria de fato

Discordo. Mas isso é irrelevante. Na verdade, por trás desse seu juízo entendo haver
mais uma tentativa de ataque “ad hominem” que para mim é desprezível.

No entanto, o senhor poderia demonstrar mais honestidade intelectual e não mentir


em público. Afinal, se não me lesse por eu ser prolixo, jamais poderia falar do que
escrevi pela simples razão de que não saberia do que trato no meu escrito. Mas isso
não traduz a realidade. O senhor lê tudinho, do início ao fim, para depois poder
lançar seus petardos “ad homines”. Sua curiosidade e o respeito que devota ao que
escrevo, pois nunca escrevo bobagem, o compelem à leitura.

Então, tenha mais dignidade e admita as coisas como são e não queira fazer parecer
nos seus comentários picantes algo que suas ações contradizem.

(a) Sérgio Niemeyer

Advogado – Mestre em Direito pela USP – sergioniemeyer@adv.oabsp.org.br

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Comentários encerrados em 28/01/2015.

A seção de comentários de cada texto é encerrada 7 dias após a data da sua publicação.

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