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MANUAL DE

GERENCIAMENTO
DE CRISES

Manual de Gerenciamento de Crises


1ª Edição - 2021

Polícia Militar do Espírito Santo


Espírito Santo. Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social. Polícia
Militar do Espírito Santo. Manual de Gerenciamento de Crises I: Polícia Militar do
Espírito Santo/Espírito Santo. 1. ed. - Vitória: PMES, 2021.
67 p.: il, 22cm
1. Segurança Pública 2. Polícia Militar. 3. Manual de Gerenciamento de Crises.

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LISTA DE ABREVIATURAS

BME – BATALHÃO DE MISSÕES ESPECIAIS


CEC – CAUSADOR DO EVENTO CRÍTICO
CBMES – CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO
EN – EQUIPE DE NEGOCIAÇÃO
FBI – FEDERAL BUREAU OF INVESTIGATION
IMPO – INSTRUMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO
PMES – POLÍCIA MILITAR DO ESPÍRITO SANTO
SAMU – SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA
SCI – SISTEMA DE COMANDO DE INCIDENTES
SESP – SECRETARIA DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA E
DEFESA SOCIAL
TNL – TÉCNICAS NÃO LETAIS

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SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS ___________________________________________________ 5
1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE GERENCIAMENTO DE CRISES _____________ 4

1.1 CRISE__ ____________________________________________________________ 4


1.2 GERENCIAMENTO DE CRISES ________________________________________ 5
1.2.1 Gerenciamento de Crises Estáticas e Dinâmicas __________________ 6
1.3 CAUSADOR DO EVENTO CRÍTICO ____________________________________ 7
1.3.1 Atirador/Agressor Ativo __________________________________________ 7
1.4 PRIMEIRO INTERVENTOR _____________________________________________ 7
1.5 GERENTE EMERGENCIAL ____________________________________________ 8
1.6 GERENTE EFETIVO _________________________ Erro! Indicador não definido.
1.7 ALTERNATIVAS TÁTICAS______________________________________________ 9
1.7.1 Negociação ___________________________________________________ 10
1.7.1.1 Equipe de Negociação _____________________________________ 11
1.7.2 Técnicas Não Letais ____________________________________________ 11
1.7.3 Tiro de Comprometimento ______________________________________ 12
1.7.4 Invasão Tática _________________________________________________ 13
1.8 PERÍMETRO TÁTICO EXTERNO _______________________________________ 13
1.9 ZONA TAMPÃO ____________________________________________________ 14
1.10 PERÍMETRO TÁTICO INTERNO ______________________________________ 14
1.11 ZONA ESTÉRIL_____________________________________________________ 14
1.12 PONTO CRÍTICO __________________________________________________ 14
1.13 INTERMEDIÁRIO___________________________________________________ 14
1.14 REFÉM ___________________________________________________________ 15
1.14.1 Refém Tomado _______________________________________________ 15
1.14.2 Refém Sequestrado ___________________________________________ 15
1.15 VÍTIMA ___________________________________________________________ 15
1.16 BATALHÃO DE MISSÕES ESPECIAIS _________________________________ 15

2 DOUTRINA DE GERENCIAMENTO DE CRISES _____________________________ 17

2.1 CARACTERÍSTICAS DE UMA CRISE ___________________________________ 17

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2.1.1 Características Especiais em Relação à Atuação da Polícia ______ 18
2.1.2 Outros fatores que caracterizam uma crise policial ______________ 20

2.2 OBJETIVOS DO GERENCIAMENTO DE CRISES _________________________ 20


2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS GRAUS DE RISCO _____________________________ 22

2.3.1 Graus de Risco _________________________________________________ 22


2.3.2 Níveis de Resposta _____________________________________________ 23

2.4 CRITÉRIOS PARA A TOMADA DE DECISÃO ___________________________ 23


2.5 TIPOS DE CRISES E TIPOLOGIAS DOS CAUSADORES DE EVENTOS
CRÍTICOS___ ___________________________________________________________ 26

2.5.1 Tipos de Crise __________________________________________________ 26


2.5.1.1 Roubo ou outros crimes frustrados com tomada de reféns _____ 26
2.5.1.2 Extorsão mediante sequestro ________________________________ 26
2.5.1.3 Rebeliões com reféns em estabelecimentos prisionais, unidades
de internação e delegacias _________________________________________ 26
2.5.1.4 Mentalmente perturbados, barricados ou não, com tomadas de
vítimas, reféns ou sozinhos ___________________________________________ 27
2.5.1.5 Criminosos sozinhos e barricados contra a ação da polícia ____ 27
2.5.1.6 Movimentos sociais ou grupos específicos com tomada de reféns
ou vítimas___________________________________________________________27
2.5.1.7 Tentativas de suicídio ________________________________________ 28
2.5.1.8 Ocorrências com artefatos explosivos ________________________ 28
2.5.1.9 Ações terroristas (atentados ou tomadas de reféns ou vítimas) 29
2.5.1.10 Ocorrências envolvendo atiradores ou agressores ativos _____ 29
2.5.1.11 Tomada de aeronaves por criminosos, terroristas ou
mentalmente perturbados __________________________________________ 29
2.5.1.12 Ocorrências de “Novo Cangaço” __________________________ 30
2.5.1.13 Acidentes de grandes proporções __________________________ 30
2.5.2 Tipologias dos Causadores de Eventos Críticos ___________________ 31
2.5.2.1 Criminoso ___________________________________________________ 31
2.5.2.2 Mentalmente Perturbado ____________________________________ 32

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2.5.2.3 Terrorista ____________________________________________________ 33
2.5.2.4 Presos Rebelados____________________________________________ 33

2.6 FASES DO GERENCIAMENTO DE CRISES ______________________________ 34

3 ASPECTOS OPERACIONAIS DO GERENCIAMENTO DE CRISES _____________ 37

3.1 ORGANIZAÇÃO DO CENÁRIO ______________________________________ 37


3.1.1 Perímetros Táticos ________________________________________________ 37

3.1.2 Estabelecimento do Posto de Comando ________________________ 38


3.1.3 Procedimento em Relação à Imprensa __________________________ 39
3.2 DIFICULDADES NO TEATRO DE OPERAÇÕES__________________________ 40

4 PRIMEIRA INTERVENÇÃO EM CRISES POLICIAIS __________________________ 43

4.1 MEDIDAS OPERACIONAIS DO PRIMEIRO INTERVENTOR _______________ 43


4.1.1 Identificar a Ocorrência ________________________________________ 43
4.1.2 Acionar Apoio _________________________________________________ 45
4.1.3 Conter a Crise _________________________________________________ 45
4.1.4 Isolar o Ponto Crítico ___________________________________________ 46
4.1.5 Estabelecer Contato Sem Concessões __________________________ 47

5 OCORRÊNCIAS COM ARTEFATOS EXPLOSIVOS __________________________ 48

5.1 PROCEDIMENTOS EM OCORRÊNCIAS COM ARTEFATOS EXPLOSIVOS __ 48


5.1.1 Ações Preliminares Contra Artefatos Explosivos __________________ 48
5.1.1.1 Ações quando o objeto suspeito não for localizado __________ 50
5.1.1.2 Ações quando o objeto suspeito for localizado _______________ 51
5.1.1.3 Ações quando o artefato explosivo houver sido deflagrado ___ 51
5.1.2 Ações efetivas contra artefatos explosivos _______________________ 52
5.1.3 Procedimentos Finais ___________________________________________ 53

6 GERENCIAMENTO DE CRISES DINÂMICO ________________________________ 54

6.1 O GERENCIAMENTO DE CRISES EM EVOLUÇÃO ______________________ 54


6.2 SISTEMA DINÂMICO DE GERENCIAMENTO DE CRISES _________________ 55
6.2.1 Atirador/Agressor Ativo _________________________________________ 55
6.2.2 Novo Cangaço ________________________________________________ 56
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ___________________________________________ 57
FICHA TÉCNICA _________________________________________________________ 61

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1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE GERENCIAMENTO DE CRISES

Os conceitos relacionados à temática do Gerenciamento de Crises são aspectos


importantes a serem considerados para conduzirem à solidificação da doutrina, bem
como para beneficiar a prática. Saber distinguir um evento crítico de uma ocorrência
rotineira é de suma importância.
4
1.1 CRISE

A palavra crise teve origem no verbo grego Krísis (“separação”) e no vocábulo latino
Crisis (“momento de mudança súbita”)i.

Com esta ampla gama de definições, a doutrina policial se apropriou da palavra crise
e a adaptou para sua realidade, caracterizando como crises policiais as ocorrências
em que a vida de todos os envolvidos esteja ameaçada e em risco iminente. Assim,
no contexto policial, o Federal Bureau of Investigation (FBI) definiu crise como sendo
citado por Monteiro (2008, grifo nosso): “Um evento ou situação crucial que exige
uma resposta especial da polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável”.

Para melhor visualizarmos e entendermos os conceitos chaves, Silva (2016, p.64-


65) detalhou as palavras e expressões sublinhadas da seguinte forma:

a) Evento ou situação crucial

Crucial significa algo “crítico”, “decisivo”, “grave”, “muito importante”. Essa


expressão, portanto, significa que em uma crise há pessoas cujas vidas correm
grande perigo, ou seja, o risco para elas é real e presente. É o caso das pessoas
mantidas como reféns ou vítimas por indivíduos por quaisquer motivações, ou até
mesmo os suicidas, quando encontrados no ensaio final para a morte (tentativa de
suicídio);

b) Resposta especial

Para o atendimento de uma crise é necessária a atuação de grupos policiais


devidamente treinados e especializados para tal missão. Esses grupos são: Equipe
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de Negociadores, Equipe Tática e Equipe de Atiradores de Precisão Policial. Este
aspecto não pode ser negligenciado, pois, ao contrário, o risco para as pessoas
inocentes ameaçadas se potencializa significativamente. Cabe à autoridade policial
responsável territorialmente pelo local da crise perceber que esta resposta não é
corriqueira e sim especial, ou seja, extrapola o serviço normal e, portanto, o
acionamento dessas equipes especiais se faz necessário;

c) “Polícia” 5

Cabe exclusivamente à polícia, como organização mantenedora da ordem e guardiã


da lei, conforme previsão constitucional, a missão de atuar e solucionar um evento
crítico. Autoridades não policiais ou pessoas alheias ao cenário não podem envolver-
se diretamente na resolução de uma crise, sob o risco de prejudicar todo o processo
de gerenciamento do evento crítico, aumentar o risco para os envolvidos, além de
colocar suas próprias vidas em risco. Por isso, tais pessoas devem ser retiradas das
proximidades do ponto crítico e conduzidas para um local seguro. Ressalta-se,
contudo, que o assessoramento de autoridades e técnicos de outras áreas (sem o
envolvimento direto) é algo que pode e deve ser estabelecido em caso de
necessidade;

d) Solução aceitável

Busca-se em toda Crise Policial uma solução que atenda os preceitos aceitáveis,
sejam legais, morais e/ou éticos. Assim, ao findar-se o evento crítico, o ideal é que
estejam garantidas a vida e a integridade física de todos os envolvidos, inclusive
daquele que dá causa ao incidente, denominado pela doutrina como Causador do
Evento Crítico (CEC). Em determinadas ocasiões, porém, a morte do CEC poderá
ocorrer para que as vidas de pessoas inocentes sejam salvas, estando este ato
amparado legalmente.

1.2 GERENCIAMENTO DE CRISES

Gerenciar crises não é algo pontual, não é uma habilidade particular, tampouco deve
ser fruto do improviso. Gerenciar crises é um processo que engloba diversas
dinâmicas variáveis conforme se vê em sua definição do FBI também trazido à lume
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na doutrina das polícias brasileiras por Monteiro (2008, grifo nosso):
“Gerenciamento de Crises é o processo de identificar, obter e aplicar recursos
necessários à antecipação, prevenção e resolução de uma crise”.

Vejamos o significado de cada conceito:

a) Identificar recursos
6
A polícia vai precisar de que para resolver a crise? Equipe de Negociadores? Equipe
de Atiradores de Precisão? Policiais treinados para atuar como 1º Interventor?
Equipamentos de escuta? Rádios de comunicação? Cavaletes para fazer
isolamento? Etc.

b) Obter recursos

Devemos então formar equipes de negociadores, equipes de primeiros interventores,


equipes táticas, ensinar nos cursos da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES) a
forma correta de atuar numa crise, adquirir equipamentos para esse tipo de
ocorrência.

c) Aplicar recursos

Quando houver uma crise, realizar o cerco e o isolamento. Acionar as equipes


especializadas. Aplicar o conhecimento adquirido e não o “achismo”.

d) Antecipar e prevenir a crise

Ministrar aulas sobre “o que é uma crise” por meio de cursos de formação e em
cursos de especialização, bem como manter os conhecimentos atualizados. Treinar
os policiais que vão atuar como primeiros interventores, negociadores e atiradores.

e) Resolver a crise

Alcançar uma solução aceitável para todos os envolvidos, até mesmo para o
causador da crise, se possível for.

1.2.1 Gerenciamento de Crises Estáticas e Dinâmicas


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O Gerenciamento de Crises Estáticas é adotado para aquelas ocorrências cujos
perpetradores encontram-se limitados em determinada área e permite que os
primeiros interventores adotem medidas iniciais com contenção, isolamento e
acionamento das equipes especializadas, o que não ocorre com o Gerenciamento
de Crises Dinâmicas, no qual o causador do evento crítico não permanece limitado a
determinada área ou espaço.

1.3 CAUSADOR DO EVENTO CRÍTICO 7

Causador do Evento Crítico (CEC) é o cidadão que desencadeia um evento crítico.


Sua motivação pode ser a mais variada possível, entre elas manter reféns após
crimes frustrados ou para conseguir dinheiro, como no caso da extorsão mediante
sequestro, ameaçar vítimas por situação emocional ou vingança, ser motivado por
algum tipo de perturbação mental, ter motivações de cunho terrorista ou, ainda,
quando for encontrado na tentativa de cometer suicídio. Ao tratar o indivíduo de
forma genérica, impede-se o uso errôneo e ultrapassado de termos como “bandido”
ou “sequestrador” para envolvidos em qualquer tipo de crise.

13.1 Atirador/Agressor Ativo

Os atiradores/agressores ativos correspondem aos indivíduos “[...] motivados pelos


mais diversos fatores e têm como objetivo matar ou ferir o máximo de pessoas
possível em determinada área ou local” (PMESP, 2019, p. 1). O termo atirador ativo
é empregado sempre que o CEC se utiliza de arma de fogo para atacar as vítimas.

Todavia, também podem ser empregados outros meios de ataque às vítimas, como
emprego de arma branca, carros, caminhões, sendo que, nestes casos, podem ser
identificados como agressores ativos. No entanto, o termo atirador ativo, por ser
amplamente empregado, poderá ser utilizado de maneira genérica para se referir
tanto ao CEC que utiliza arma de fogo quanto àqueles que utilizam outros
instrumentos para matar ou tentar matar suas vítimas (SOUZA, et al. 2020).

1.4 PRIMEIRO INTERVENTOR

É o policial militar que primeiro se depara com uma ocorrência caracterizada como
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crise. A ele caberão as medidas iniciais que são: identificar a ocorrência; solicitar
apoio de efetivo ordinário e especializado, por meio do CIODES/COPOM; conter;
isolar; e estabelecer contato sem concessões.

1.5 GERENTE DA CRISE

Oficial capacitado e imbuído no processo de identificar, obter e aplicar os recursos


necessários à resolução de uma crise. Em razão da prontidão e acesso à ocorrência, 8
poderá ser:

1.5.1 Gerente Emergencial

É o Oficial mais antigo presente no local da crise responsável em adotar as medidas


preliminares de organização do teatro de operações, dentro do limite de sua
competência, até a chegada do Batalhão de Missões Especiais.

O Gerente Emergencial recebe tais atribuições tendo em vista que, geralmente, a


primeira resposta a uma crise é dada pelo efetivo policial de área.

Com a chegada do efetivo do Batalhão de Missões Especiais, o Gerente


Emergencial deverá repassar as informações essenciais sobre o evento ao gerente
efetivo e, caso seja necessário, permanecerá no local exercendo sua função de
comando sobre seu respectivo efetivo subordinado, que poderá ser utilizado, dentre
outras funções, para estabelecer os perímetros táticos.

1.5.2 Gerente Efetivo

É o Oficial mais antigo do Batalhão de Missões Especiais presente no local do


evento crítico, que com base em recursos técnicos e planejados adotará a linha de
ação mais adequada para a consecução do objetivo.

São atribuições do Gerente Efetivo, dentre outras, a organização do teatro de


operações, a coordenação das equipes policiais sob seu comando, o repasse das
informações aos escalões superiores da Instituição e a decisão sobre a necessidade
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do uso das alternativas táticas.

1.6 ALTERNATIVAS TÁTICAS

A doutrina de gerenciamento de crises estabelece ferramentas indispensáveis para a


resolução de eventos críticos. São as denominadas alternativas táticas, que se
caracterizam como notáveis instrumentos técnicos a serviço das autoridades, 9
sobretudo do gerente efetivo, ao buscar a resolução tolerável mais oportuna para o
episódio específico (RONCAGLIO; SILVA; SILVA, 2021).

Desde os primórdios até os dias atuais, as alternativas evoluíram sempre de forma


coerente com a evolução da sociedade e com o desenvolvimento das práticas
policiais.

O ideal é que as corporações policiais brasileiras adotem as alternativas táticas que


hoje estão solidificadas no processo de gerenciamento de crises, sendo elas: a
negociação, a utilização de técnicas não letais, o tiro de comprometimento e a
invasão tática.

Tais alternativas sugerem o emprego de táticas, técnicas e procedimentos por meio


de operadores treinados para colocá-las em prática. As corporações policiais que se
importam com sua imagem, com boas práticas e com a vida de pessoas inocentes,
investem pesadamente nas quatro alternativas citadas. Afinal, são as únicas
ferramentas técnicas e profissionais para a resolução de situações policiais críticas.

Essencialmente, três grupos de policiais especializados são os responsáveis pela


aplicação das quatro alternativas táticas. São eles: uma equipe de negociadores
para a alternativa negociação; uma equipe tática para as alternativas não letais e
invasão ao ponto crítico; e, por fim, um grupo de atiradores de precisão policial,
treinados para a alternativa tiro de comprometimento. Obviamente, o treinamento
dos grupos é distinto e direcionado para suas missões próprias.

No contexto de uma crise, as alternativas podem ser utilizadas de maneira


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combinada ou, até mesmo, de forma isolada. Entretanto, cada ocorrência crítica
necessita contar com a presença no local de todas as opções, sob pena de, na falta
de qualquer uma delas, o gerenciamento restar prejudicado e vidas serem perdidas.

Para a solução de toda a crise, atualmente, o efetivo policial militar dispõe de quatro
alternativas táticas: a negociação, as técnicas não letais, o tiro de comprometimento
e a invasão tática. Essas quatro alternativas poderão ser utilizadas isoladamente ou
de forma concomitante. 10

A seguir, abordaremos cada alternativa tática, explorando suas especificidades e


importância para o contexto global do gerenciamento de crises policiais.

1.6.1 Negociação

A negociação é a alternativa tática que pode ser definida como um conjunto


complexo de técnicas e de táticas que utiliza a persuasão, a capacidade de empatia,
de influenciar, poder de convencimento do negociador e a possibilidade de
barganhas como ferramentas para alcançar a solução aceitável para a crise.

Como seu foco é a busca pelo encerramento do evento crítico pelo diálogo e, com
isso, impor menor risco aos envolvidos, deve ser a primeira alternativa a ser
considerada no processo de gerenciamento de crises – sempre, obviamente, que
todas as condicionantes presentes no cenário permitirem.

Por ser uma atividade especializada e bastante complexa, em que se trabalham


vidas humanas, os negociadores devem ser operadores treinados, experientes e
atuantes numa equipe estruturada com funções específicas.

Seguindo esse mesmo raciocínio, o trabalho de um negociador isolado também se


torna perigoso, pois sem a estrutura adequada o profissional encontrará muitas
dificuldades no teatro de operações. Para a resolução de um evento crítico a
alternativa tática da negociação pode ser empregada de duas formas, sendo elas a
negociação técnica e a negociação tática.

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a) Negociação Técnica

Também conhecida como Negociação Real ou Pura, visa ao convencimento de


rendição do CEC por meios pacíficos, em que os negociadores trabalham com
técnicas de psicologia, barganha ou atendimento de reivindicações razoáveis.

b) Negociação Tática
11
Também conhecida como Negociação Preparatória, busca colher informações para
suprir as demais equipes, caso seu emprego seja necessário, ou mesmo para
preparar o ambiente para o CEC, reféns ou vítimas para a utilização das outras
alternativas táticas.

1.6.1.1 Equipe de Negociação

A Equipe de Negociação (EN) é a responsável pela aplicação desta alternativa tática


e é dividida em algumas funções. Basicamente são seis: Negociador Principal,
Negociador Secundário, Negociador Anotador, Líder de Equipe, Apoio Logístico e
Psicólogo (também conhecido como assessor de saúde mental). Essas funções
podem ser acumuladas pelos membros da EN.

1.6.2 Técnicas Não Letais

A definição de armas não letais, proposta por Alexander (2003, p. 19), é a seguinte:
“Aquelas especificamente projetadas e empregadas para incapacitar pessoal ou
material, ao mesmo tempo em que minimizam mortes, ferimentos permanentes no
pessoal, danos indesejáveis à propriedade e comprometimento do meio ambiente”.

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos (USDOD) ainda utiliza a


terminologia non-lethal weapons (armas não letais):

Armas, dispositivos e munições que são projetados e empregados


principalmente para incapacitar pessoas ou materiais imediatamente,
minimizando fatalidades, ferimentos permanentes ao pessoal e danos não
desejados à propriedade ou ao meio ambiente. Seus efeitos tendem a ser
reversíveis tanto em pessoas quanto nos materiais (USDOD, 2015, p. 54,
tradução nossa).

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Outra expressão bastante utilizada, só que pelas polícias norte-americanas e
difundida para todo o mundo, é a de armas menos letais (less-lethal weapons),
destinadas a ter um potencial menos lesivo do que uma arma convencional. Em
algumas ocasiões, quando esses equipamentos são empregados sem cumprir suas
normas técnicas, podem provocar o resultado morte.

No Brasil, para corrigir um erro teórico, porque armas não letais ou menos letais
12
podem matar, além de abranger equipamentos utilizados contra objetos, utiliza-se o
conceito de instrumento de menor potencial ofensivo (IMPO): “conjunto de armas,
munições e equipamentos desenvolvidos com a finalidade de preservar vidas e
minimizar danos à integridade das pessoas”.

Importante ressaltar que a correta utilização das técnicas não letais, obedecendo
aos princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade e conveniência, visa à
imobilização do CEC e não à sua neutralização. Assim, a utilização dos
equipamentos disponíveis para o uso dessa alternativa, que é de responsabilidade
da Equipe Tática, pode resultar em desconforto momentâneo ou mesmo em lesão
para o CEC.

1.6.3 Tiro de Comprometimento

O tiro de comprometimento é uma das alternativas táticas para a resolução do


evento crítico, cuja responsabilidade é do Atirador de Precisão Policial. Mediante
ordem do gerente da crise, efetua o disparo em alvos específicos visando à
eliminação total do risco proporcionado pelo CEC.

O tiro de comprometimento tem como objetivo neutralizar totalmente a ameaça


causada pelo CEC, podendo também ser planejado e executado de forma
combinada com as demais alternativas táticas, incluindo a negociação tática (quando
os negociadores preparam o ambiente para uma ação), conforme o evento assim
exigir.

O Atirador de Precisão Policial ainda tem como missão a observação e coleta de


informações acerca do ponto crítico e de apoiar as Equipes Táticas com cobertura

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de fogo e, em último caso, eliminar a injusta agressão provocada pelo CEC. Os
atiradores atuam em duplas, sendo eles o Atirador Principal e o Observador.

Os operadores dessa alternativa passam por um árduo e constante treinamento para


chegar à excelência no disparo, que não admite nenhum erro. O disparo seletivo do
atirador de precisão policial exige autorização do gerente da crise após uma
avaliação acurada e coerente dos critérios de ação estabelecidos pela doutrina.
13
1.6.4 Invasão Tática

A alternativa invasão tática é a opção para a resolução de uma crise e a que impõe
maior risco aos envolvidos. Sua aplicação requer operadores devidamente treinados
em ações táticas especiais e possuidores de armamentos e equipamentos
específicos para a missão.

Admite-se a aplicação dessa alternativa tática quando o CEC cria um risco


substancial de causar ferimentos graves ou a morte do refém ou da vítima.
Importante frisar que a decisão para o uso dessa alternativa deve estar embasada
na análise e aprovação dos critérios de ação da doutrina de gerenciamento de
crises.

A invasão tática é uma ação extremamente arriscada e complexa, sendo


imprescindível existir os elementos velocidade, ação de choque e surpresa. Caso
algum desses elementos esteja ausente, o risco de insucesso para a operação se
torna muito alto.

No gerenciamento de crises envolvendo reféns, a cada nova alternativa usada o


grau de complexidade e de risco da ação aumenta. O sucesso na resolução da crise
está intimamente relacionado com o uso integrado das alternativas táticas,
possibilitando a diminuição do risco de vida ao qual o refém, vítima, terceiros
inocentes, policiais, e, se possível, os próprios causadores estarão submetidos.

1.7 PERÍMETRO TÁTICO EXTERNO

Linha que isola o local da ocorrência e restringe o acesso do público geral a fim de
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evitar interferências no evento crítico. Geralmente o perímetro tático externo se
estabelece por meio de barreiras físicas (viaturas, fitas zebradas, cones, cavaletes e
até pela presença de policiais). Fora deste perímetro, a movimentação é livre para a
imprensa e demais pessoas que acompanham a ocorrência.

1.8 ZONA TAMPÃO

Área entre os perímetros táticos externo e interno onde os policiais não envolvidos 14
diretamente com a crise, além do apoio operacional das demais instituições (Corpo
de Bombeiros Militar, SAMU 192, empresa de energia elétrica, de água, entre
outras) permanecerão ao longo do evento crítico.

1.9 PERÍMETRO TÁTICO INTERNO

Linha imaginária ou feita por fita zebrada, cones, cavaletes ou outros marcos, que
separa a zona estéril da zona tampão.

1.10 ZONA ESTÉRIL

Área delimitada pelo perímetro tático interno, restrita a poucos policiais envolvidos
diretamente com a crise e que circunda o ponto crítico.

1.11 PONTO CRÍTICO

É o local em que acontece a crise, ou seja, onde se encontra o CEC, ou ainda de


onde provenham quaisquer ameaças à vida e/ou ao patrimônio, como nos casos de
ocorrências com explosivos.

1.12 INTERMEDIÁRIO

É a pessoa que não faz parte do efetivo policial e que pode contribuir para o
desfecho aceitável do evento crítico. Pode ser exigida pelo Causador do Evento
Crítico ou escolhida pelo gerente da crise para realizar um eventual contato de forma
orientada com o CEC, com o intuito de auxiliar no processo de negociação. O
Intermediário também é conhecido na doutrina de gerenciamento de crises como
“Terceiro na Negociação”. Podem ser citados como exemplos de Intermediários,

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advogados, juízes, promotores de justiça, familiares e intérpretes.

1.13 REFÉM

É a pessoa mantida pelo CEC para garantir ou forçar o cumprimento de


determinadas exigências. Pode ser classificado como Refém Tomado ou Refém
Sequestrado e não possui nenhum vínculo afetivo ou emocional com os causadores.
15
1.13.1 Refém Tomado

É a pessoa capturada aleatoriamente durante a prática frustrada de qualquer crime


por um ou mais indivíduos.

1.13.2 Refém Sequestrado

É a pessoa capturada no crime de extorsão mediante sequestro, em que os


criminosos seguem todo um ritual de planejamento e preparação.

1.14 VÍTIMA

É a pessoa capturada que possui algum vínculo afetivo ou emocional anterior com o
CEC. Esse vínculo pode ser nas relações de trabalho (entre patrão e empregado),
em relações emocionais (entre marido e esposa, ex-noivos, traição entre amigos) e
nos relacionamentos de parentesco (briga entre pai e filho, atrito entre irmãos, entre
outros).

1.15 BATALHÃO DE MISSÕES ESPECIAIS

Unidade Especializada dentro do organograma da Polícia Militar do Espírito Santo,


capaz de aplicar as 04 (quatro) alternativas táticas durante um evento crítico. Além
disso, é a unidade que possui os recursos humanos e logísticos e tem a
incumbência de prover treinamento e difusão da doutrina de gerenciamento de
crises para todo o efetivo da PMES.

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2 DOUTRINA DE GERENCIAMENTO DE CRISES

Por ser um campo de conhecimento específico no rol das atividades de policiamento


ostensivo e preservação da ordem pública, o gerenciamento de crises demanda uma
doutrina específica como desdobramento de seus conceitos bastante peculiares, já
apresentados no capítulo anterior. 17

2.1 CARACTERÍSTICAS DE UMA CRISE

As ocorrências críticas têm particularidades que as diferenciam das demais,


qualificadas como corriqueiras, pela atividade policial. Conhecer tais características
é importante para a antecipação das ações por parte das forças policiais.

O desconhecimento, por sua vez, pode fazer com que as autoridades subestimem
tais ocorrências e tenham dificuldades para gerenciá-las quando acontecerem em
seus territórios.

São características de uma crise policial:

a) Imprevisibilidade

Toda crise é imprevisível, não se sabe quando nem onde ocorrerá. Entretanto, sabe-
se que, pela dinâmica das relações sociais e os fenômenos específicos
relacionados, sua eclosão é certa, ou seja, as corporações policiais precisam se
preparar e se antecipar para ter uma capacidade de resposta adequada.

A preparação perpassa pelo treinamento dos efetivos regular e especializado, pela


aquisição de equipamentos específicos e, também, pela conscientização das
autoridades governamentais e dos comandantes da corporação sobre a importância
desse apronto prévio para esse tipo de evento, considerando que toda ocorrência
policial pode evoluir para uma situação de crise.

b) Compressão de tempo
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O atendimento a uma crise policial deve ter caráter imediato, ou seja, não se pode
perder tempo para atendê-la, considerando a vida das pessoas em risco. Ao ser
acionada para verificar suposta ocorrência crítica em andamento, a equipe policial
militar não pode desconsiderar essa característica, sob pena de inocentes serem
mortos pela eventual demora nas ações a serem tomadas.

A chegada breve ao local da ocorrência, aliada à tomada das ações técnicas


necessárias para o caso específico será o diferencial para a preservação das vidas 18

em risco. Isto posto, entendemos que o caráter urgente das crises as torna difíceis
de serem atendidas e o seu atendimento não deve ser protelado.

As equipes policiais também não devem confundir, em nenhum momento e em


nenhuma hipótese, a compressão de tempo para dar a correta resposta a uma crise
com urgência ou pressa para finalizá-la. Tendo sido adotadas com a celeridade
técnica todas as medidas de reposta a uma eventual crise, o processo decisório
para sua solução carece de tempo.

c) Ameaça à vida

A ameaça à vida é o componente essencial do evento crítico, mesmo quando a vida


em risco é a do próprio CEC, como no caso de um indivíduo suicida.

Essa característica serve para alertar as autoridades do perigo imediato que correm
as pessoas ameaçadas e envolvidas diretamente na situação, as quais se
encontram numa condição arriscada e sob ameaça iminente de morte enquanto o
evento crítico estiver acontecendo. Assim, o trabalho dos responsáveis é minimizar
os riscos e focar na preservação de todas as vidas.

2.1.1 Características Especiais em Relação à Atuação da Polícia

Ao se deparar com uma crise, a polícia precisa dar uma resposta especial, ou seja,
uma resposta diferente, de acordo com a situação, pois a crise, por definição, é
aquela ocorrência que foge da normalidade, da rotina de atuação policial e supera
os seus esforços ordinários.

Por essas razões, as instituições policiais necessitam de algumas posturas, dentre


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as quais destacamos:

a) Postura organizacional não rotineira

Por ser uma situação que foge da normalidade e da rotina dos recursos policiais, a
crise exige que a organização adote uma postura que também não pode ser a
rotineira.
19
De todas as características essenciais esta é a que causa maiores transtornos ao
processo de gerenciamento, contudo, é a única em que os efeitos podem ser
minimizados, graças a um preparo e a um treinamento prévio constantes da
organização para o enfrentamento de eventos críticos.

b) Planejamento analítico especial e capacidade de implementação

Cada crise possui um desenvolvimento e também variáveis próprias. Por sua


condição crítica, não é admissível que as respostas sejam simples e adotadas sem
planejamento advindo de análise – técnica e profissional.

É importante observar que a análise e o planejamento, durante o desenrolar de uma


crise, são consideravelmente prejudicados por fatores como a insuficiência de
informações sobre o evento crítico, a intervenção da mídia e o tumulto de massa
geralmente causado por situações dessa natureza.

Sendo assim, esta característica está intimamente ligada à adoção de uma postura
não rotineira e ao planejamento e à antecipação, evitando também que medidas
além ou aquém das capacidades da Instituição sejam estabelecidas ou
padronizadas para atender às crises.

c) Considerações legais especiais

Além de reflexões sobre temas como estado de necessidade, legítima defesa, estrito
cumprimento do dever legal, responsabilidade civil, dentre outros, o aspecto da
competência para atuar é aquele que primeiro vem à cabeça.

Ao receber a notícia do desencadeamento de uma crise, deve-se saber quem será o

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Gerente da Crise, quais são as alternativas táticas disponíveis para a resolução do
evento crítico e como se dará sua utilização.

2.1.2 Outros fatores que caracterizam uma crise policial

A experiência no tratamento destas questões permite destacar ainda outros fatores


que também podem caracterizar uma situação de crise policial como:
20
 A necessidade de muitos recursos para sua solução;

 Ser um evento de baixa probabilidade de ocorrência e de graves


consequências;

 Ser desordenada; e

 Ter um acompanhamento próximo e detalhado, tanto pelas autoridades


como pela comunidade e pela mídia.

2.2 OBJETIVOS DO GERENCIAMENTO DE CRISES

As corporações policiais precisam gerenciar as crises de sua competência sem


nunca perder de vista os objetivos traçados pela doutrina, os quais são basilares
para a busca do tão esperado resultado aceitável. Objetivos, nesse caso, são as
metas fundamentais a serem atingidas ao final do trabalho.

Atualmente estão consagrados pela doutrina de gerenciamento de crises três


objetivos: preservar vidas, aplicar a lei e restabelecer a ordem. Sobre esses três
objetivos estabelecidos em ordem axiológica temos as seguintes explicações:

a) Preservar vidas

Este objetivo é estabelecido como primordial e mais importante de todo o processo


de gerenciamento de crises. Considerando que a perda de vidas é uma
consequência indesejada, as autoridades gestoras da crise devem conferir
prioridade máxima à preservação das vidas, independentemente da condição do
envolvido.

Em uma crise policial, a preservação das vidas precede, inclusive, a aplicação da lei,
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que ocorrerá após o encerramento da ocorrência, mesmo que sejam necessárias
horas ou dias para isso – no sentido de que não se deve querer cumprir a lei (por
exemplo, prender o criminoso frustrado) a qualquer custo e em qualquer momento.

Portanto, as vidas das pessoas ameaçadas pelo causador da crise, dos terceiros
inocentes (pessoas que ficam nas proximidades do ponto crítico), dos policiais que
chegam para atender à ocorrência e, também, dos próprios causadores, devem ser
preservadas. 21

Eventualmente, porém, o CEC assume um risco de ser neutralizado pelas equipes


policiais em virtude de atentar contra a vida dos inocentes. Mesmo nesse caso, a lei
ampara a ação policial, invocando a excludente de ilicitude da legítima defesa de
terceiros.

b) Aplicar a lei

A aplicação da lei é outro objetivo que segue a preservação das vidas envolvidas. O
CEC se for considerado do tipo criminoso, ou seja, se sua ação estiver enquadrada
pela legislação em vigor como crime, deverá ser encaminhado para a delegacia e
apresentado à justiça para responder por seus atos.

Tal preceito impede que os gestores da crise deixem o causador do evento fugir em
troca da libertação de todos os eventuais reféns. Nesse caso, a vida dos inocentes
seria preservada, entretanto a lei não seria aplicada, o que contraria a doutrina
estabelecida.

c) Restabelecer a ordem

A eclosão de uma crise torna o ambiente em torno do ponto crítico altamente


desordenado e perigoso. As pessoas que vivem ou trabalham na região precisarão
sair de suas casas e dos locais de trabalho por questões óbvias de segurança.

O trânsito nas ruas, no entorno desse local, precisará ser fechado e desviado para
evitar que inocentes se coloquem em risco ao se aproximarem do ponto crítico. A
rotina da região será enormemente afetada pela crise instalada e assim
permanecerá até o seu encerramento.
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Ao final, com os dois primeiros objetivos (preservação das vidas e aplicação da lei)
cumpridos, restará o terceiro objetivo, que é o restabelecimento da ordem no local
da ocorrência. Desse modo, as autoridades policiais deverão empregar os esforços
para fazer com que a rotina da região volte ao normal o mais rápido possível,
sempre mantendo a segurança das pessoas afetadas.

2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS GRAUS DE RISCO


22
Por meio da classificação do grau de risco ou de ameaça dos eventos críticos,
podemos dimensionar os recursos humanos e materiais a serem empregados na
ocorrência de forma que não fiquem maximizados ou minimizados.

A avaliação da classificação do grau de risco deve ser uma das primeiras ações a
serem realizadas pelo gerente da crise. Segundo Monteiro (1994), a doutrina no FBI
estabelece uma escala de risco ou ameaça que serve de padrão para a classificação
da crise, a exemplo do que ocorre com a Escala Richter, em relação aos terremotos.
Esta classificação obedece a um escalonamento de quatro graus:

2.3.1 Graus de Risco

 1º Grau (Alto Risco) – É o tipo de ocorrência em que a única vida em


risco extremo é apenas a do causador. Por exemplo, em tentativa de
suicídio, ou situação de criminoso homiziado sem reféns;

 2º Grau (Altíssimo Risco) – É o tipo de ocorrência em que existe a


presença de reféns. Por exemplo, em tentativa de roubo a banco com
clientes e funcionários como reféns ou uma extorsão mediante sequestro;

 3º Grau (Ameaça Extraordinária) – É o tipo de ocorrência em que existe


a presença de explosivos independente da presença de reféns. Por
exemplo, uma ocorrência onde o causador, de posse de uma granada
defensiva militar, esteja andando pela rua de uma cidade ameaçando
transeuntes; e

 4º Grau (Ameaça Exótica) – É o tipo de ocorrência em que existe a


presença de elementos Químicos, Biológicos, Bacteriológicos, Radiológicos
ou Fenômeno da Natureza. Por exemplo, uma inundação de uma cidade;
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um cidadão com cápsula de Césio 137; um ataque a um metrô com gás
tóxico.

2.3.2 Níveis de Resposta

Para cada grau de risco ou ameaça corresponde um nível de resposta do organismo


policial:
23
 Nível 1 - A crise pode ser debelada com recursos locais não especializados
(radiopatrulhamento);

 Nível 2 - A solução da crise exige recursos locais e especializados (Grupo


Tático);

 Nível 3 - A crise exige recursos locais especializados e também recursos


de apoio do comando regional; e

 Nível 4 - A solução da crise requer o emprego dos recursos no Nível 3 e


outros, inclusive exógenos.

O grau de risco de uma crise pode ser mudado no seu decorrer, pois a primeira
autoridade policial que chega ao local faz uma avaliação preliminar da situação com
bases em informações precárias e de difícil confirmação.

Dados de grande importância, como: número de reféns, número de bandidos e


número de armas, às vezes, só vêm a ser confirmados no transcorrer da crise.
Assim, o gerente da crise deve estar atento a qualquer elemento que possa lhe dar
informações, como: um refém liberado, parentes do CEC, atirador de elite,
moradores e/ou funcionários do local tomado e, até mesmo, um dos próprios
perpetradores que se entrega, quando na hipótese, sejam mais de um.

2.4 CRITÉRIOS PARA A TOMADA DE DECISÃO

A doutrina de Gerenciamento de Crises estabelece os chamados critérios de ação,


que servem como referências e orientam a tomada das decisões em ocorrências
dessa natureza, sendo balizadores não somente para as equipes especializadas,
mas também para aquele policial que venha a ser o primeiro interventor em uma

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situação crítica.

Basicamente, uma resposta positiva a todos os critérios estabelecidos pela doutrina


possibilita a implementação de determinada ação planejada durante o evento. Os
critérios de ação para tomada de decisão em um evento crítico são:

a) Necessidade
24
Este critério indica que toda e qualquer ação somente deve ser implementada
quando for indispensável. Se não houver necessidade de se tomar determinada
decisão, não se justifica a sua adoção.

Por exemplo, uma ação tática para o resgate de reféns em ambiente confinado e
planejada pela Equipe Tática não será necessária se o CEC estiver colaborativo e
mantendo uma negociação com os operadores especialistas. Entretanto, a análise
mudará de figura se o CEC deixar de colaborar e cortar o contato com os
negociadores.

Nesse momento, poderá ser necessária a intervenção tática para resguardar a vida
dos inocentes. É importante lembrar que a implementação dessa ou de qualquer
outra ação na crise precisará passar pelos próximos outros dois critérios.

b) Validade de risco

Este critério estabelece que toda e qualquer ação deve levar em conta se os riscos
dela advindos serão compensados pelos resultados.

Basicamente, uma ação poderá ser implementada quando a preservação das vidas
superar qualquer perigo ou ameaças geradas pela ação necessária a ser tomada
para a resolução do evento.

Por exemplo, apesar do risco aumentado durante uma invasão tática pelo grupo de
intervenção para o resgate de reféns em uma crise em que o CEC parou de
responder e deu indícios de que matará os reféns, trata-se de um risco calculado e
justificado.

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Por outro lado, citando um exemplo de um CEC, suicida armado, que exige a
presença da pessoa que aparentemente é a pivô de sua situação desesperadora
para falar com ele: nesse caso temos um risco que não pode ser testado, pois o
CEC poderá tomar uma atitude violenta quando vir essa pessoa, bem como cometer
suicídio na frente dela, para deixá-la viver com a culpa de sua morte.

c) Aceitabilidade
25
Este critério determina que toda decisão deve ter respaldo legal, moral e ético.

 Aceitabilidade legal – todas as ações a serem tomadas na crise devem


estar amparadas pelas normas legais vigentes, não se justificando burlar a
lei sob o pretexto de resolução do evento, por mais difícil e complicado que
seja;

 Aceitabilidade moral – toda decisão deve levar em consideração


aspectos de moralidade e bons costumes presentes em nossa sociedade.
Apesar de não se referir a um código escrito, positivado, há um norte que
rege a moralidade, tanto na sociedade quanto nas ações policiais. Imagine a
troca de reféns: de imediato diversos questionamentos podem surgir a
respeito do ponto de inflexão a respeito de uma vida ser mais importante que
outra. Por isso, essa prática é vedada durante o gerenciamento de uma crise
policial; e

 Aceitabilidade ética – os gestores do evento crítico não podem praticar


ações que causem constrangimento ao seu grupo policial ou que firam os
costumes e as práticas da organização. Também não podem, e nem devem
exigir isso do seu efetivo. Um exemplo de tal situação é determinar que um
policial disfarçado seja trocado por um refém, com a missão de dominar o
CEC quando tiver uma chance no interior do ponto crítico. Tão arriscada
quanto contrária aos protocolos de procedimentos policiais, esse tipo de
ação fere o princípio da aceitabilidade ética, não podendo ser utilizada.
Quem a utilizar, assume o risco do resultado trágico.

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2.5 TIPOS DE CRISES E TIPOLOGIAS DOS CAUSADORES DE EVENTOS
CRÍTICOS

A doutrina de gerenciamento de crises permite fazer qualificações tipológicas de


crises e dos causadores do evento crítico com o intuito de tornar seu entendimento
mais aceitável e, também, de auxiliar os operadores com informações específicas
sobre os tipos envolvidos.
26
2.5.1 Tipos de Crise

De acordo com a doutrina de gerenciamento de crises, as principais ocorrências


policiais qualificadas como críticas por necessitarem de todo o aparato logístico e
operacional para sua resolução são:

2.5.1.1 Roubo ou outros crimes frustrados com tomada de reféns

Ocorrência crítica que se estabelece quando o criminoso tem sua prática de roubo
(ou outro tipo de crime) interrompida por policiais militares ou outros integrantes de
forças de segurança e, acuado, toma reféns para garantir a sua vida e a sua
integridade física, além de tentar obter outros benefícios.

2.5.1.2 Extorsão mediante sequestro

Tipo de crise causada por quadrilha organizada que sequestra uma pessoa,
geralmente de notório poder financeiro, deixando-a em cativeiro e fazendo exigência
de resgate para família. Essa pessoa é chamada de refém sequestrado e o ponto
crítico, via de regra, não é conhecido, sendo necessárias investigações para sua
localização e ações policiais visando à libertação do refém.

2.5.1.3 Rebeliões com reféns em estabelecimentos prisionais, unidades de


internação e delegacias

Tipo de crise observada em locais de concentração de presos condenados,


provisórios ou apreendidos, como os menores infratores em unidades de internação.
Presos rebelados, quando conseguem tomar reféns, principalmente agentes
penitenciários, iniciam um evento crítico, sendo necessário emprego de ações
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policiais técnicas conforme doutrina de gerenciamento de crises para encerrá-lo.

2.5.1.4 Mentalmente perturbados, barricados ou não, com tomadas de vítimas,


reféns ou sozinhos

O indivíduo mentalmente perturbado (vide a tipologia de causadores), sozinho ou


ameaçando outras pessoas, apresenta alterações comportamentais que infligem
grandes riscos a ele próprio e a quem está à sua volta. 27

Tal indivíduo faz reféns quando, por exemplo, sob influência de drogas, é flagrado
na prática de um delito. Apesar do crime, a conduta alterada está caracterizada pela
ingestão de substâncias que alteram a sua capacidade de raciocínio e
discernimento.

Mais comum, entretanto, é o caso do perturbado que ameaça uma vítima por uma
questão emocional e decide matar essa pessoa que considera desafeto.

Por fim, o mentalmente perturbado sozinho, barricado ou em lugar aberto (em uma
rua, por exemplo), é aquele que, motivado por sua perturbação, age de maneira
descontrolada e perigosa, cabendo intervenção policial técnica especializada.

2.5.1.5 Criminosos sozinhos e barricados contra a ação da polícia

Esse tipo de crise geralmente surge quando indivíduos em fuga após prática
delituosa invadem locais sem pessoas para se esconder e se proteger da ação dos
policiais que estão em seu encalço. Esse é o cenário básico nesse tipo de
ocorrência: apesar de não haver reféns no ponto crítico, os causadores se
encontram armados e barricados, caracterizando, assim, a ocorrência crítica, com
todas as suas especificidades e gravidades inerentes.

2.5.1.6 Movimentos sociais ou grupos específicos com tomada de reféns ou


vítimas

Quando os denominados movimentos sociais, de qualquer natureza, durante a


prática de suas atividades reivindicatórias tomam pessoas como reféns ou vítimas,
produzem crises que requerem o atendimento especializado previsto pela doutrina
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de gerenciamento de crises.

2.5.1.7 Tentativas de suicídio

Tipo de crise causada por pessoa mentalmente perturbada e encontrada no ensaio


para a própria morte. O crescimento desse tipo de ocorrência destaca a importância
de se investir e treinar os policiais para o atendimento desse tipo de crise,
considerando sua gravidade e a necessidade de se acolher o suicida, pessoa que 28
sofre intensamente e que precisa de ajuda para sair da condição de risco em que se
encontra. Diversos fatores podem ser considerados para culminar com o ato de
autoextermínio de uma pessoa, sendo fundamental o estudo de tais fatores para o
entendimento dos problemas que ela enfrenta.

Quanto aos meios para a consecução do ato fatal, são os mais diversos possíveis,
entre os quais: armas de fogo, armas brancas, cordas, fogo, substâncias tóxicas,
ingestão de medicamentos controlados, quedas de locais altos, etc.

Quanto à corporação que deve gerenciar a crise, o entendimento técnico é que cabe
à Polícia Militar atender às crises em que os suicidas estejam portando armas de
qualquer tipo, incluindo objetos que sirvam como uma, e ao Corpo de Bombeiros
Militar aquelas crises em que o causador se encontre desarmado (ESPÍRITO
SANTO, 2021).

2.5.1.8 Ocorrências com artefatos explosivos

A utilização de explosivos por causadores de crises torna as ocorrências mais


destrutivas, aumentando exponencialmente seu risco, que já é elevado. Além das
equipes especializadas tradicionais para o atendimento da ocorrência, ainda há a
necessidade da presença do esquadrão antibombas da corporação, munidos com
seus equipamentos específicos para o apoio.

Outra modalidade de crise com explosivos é aquela em que os artefatos são


encontrados após o uso por criminosos ou deixados com o objetivo de causar danos
em outras pessoas, como no caso de vingança.

Em todas as ocorrências críticas envolvendo explosivos, os policiais na condição de


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primeiros interventores devem se ater a todas as cautelas de segurança que o caso
requer e acionar os especialistas na atividade, visando minimizar os riscos causados
por esse tipo de crise.

2.5.1.9 Ações terroristas (atentados ou tomadas de reféns ou vítimas)

Para o FBI, terrorismo é “o uso ilegal da força ou violência contra pessoas ou


propriedades para intimidar ou coagir um governo, uma população civil ou qualquer 29
segmento dela, em apoio a objetivos políticos ou sociais” (FBI, 2021).

Quando agem motivados por questões ideológicas, políticas, religiosas, separatistas,


entre outras, os terroristas causam um tipo de crise das mais difíceis de serem
gerenciadas. Terroristas também tomam reféns quando querem obter vantagens em
troca deles, como dinheiro para o grupo, libertação de colegas presos, etc.

2.5.1.10 Ocorrências envolvendo atiradores ou agressores ativos

Tipo de crise em que mentalmente perturbados ou terroristas invadem locais


públicos ou privados na posse de armas de fogo (Atiradores Ativos) ou armas
brancas (Agressores Ativos), atacando alvos aleatórios com o intuito de causar a
morte do maior número de pessoas.

Bastante comum nos Estados Unidos e outros países da Europa, essa é uma
ocorrência que vem ganhando notoriedade no Brasil, obrigando as forças policiais a
se prepararem e a conscientizarem a comunidade local sobre como se defender
quando eclodir esse tipo de crise.

Os locais mais visados são escolas, universidades, casas de eventos, igrejas, locais
de transporte público, etc. Além das motivações terroristas, atiradores/agressores
ativos também agem por questões pessoais, como vingança contra a prática de
bullying no estabelecimento de ensino que frequentam ou em seu grupo social, por
exemplo.

2.5.1.11 Tomada de aeronaves por criminosos, terroristas ou mentalmente


perturbados

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As regras de segurança, aumentadas após os atentados de 11 de setembro de
2001, dificultaram enormemente a tomada de aeronaves em todo o mundo. Contudo,
essa é uma crise que não pode ser subestimada, podendo ser causada por
indivíduos criminosos comuns, terroristas ou, ainda, mentalmente perturbados.

Caso ocorra, medidas efetivas das autoridades precisam ser tomadas rapidamente.
No Brasil, de acordo com as normas federais, a responsabilidade de atuação nesse
tipo de crise é da Polícia Federal, conforme a Instrução Normativa nº 13/2005. 30

2.5.1.12 Ocorrências de “Novo Cangaço”

Tipo de crise também chamada de “cangaço moderno” ou “vapor”, que se


caracteriza por ser desenvolvida de modo planejado, estruturado, organizado e com
distribuição de funções.

Costuma ser praticado por quadrilhas com grande número de integrantes com
funções específicas, dotados de considerável poder bélico e que efetuam disparos
de arma de fogo em via pública, ataques contra quarteis e enfrentamento às forças
policiais militares, além de utilizarem material explosivo e, em alguns casos,
tomarem reféns para uso com “escudo humano”.

O alvo dos criminosos são, via de regra, cidades de pequeno porte, que contam com
frágil sistema de segurança pública local (efetivo policial militar reduzido) e, com
preferência, as cidades margeadas por rodovias (PINHEIRO; ABREU, 2018).

2.5.1.13 Acidentes de grandes proporções

Enquadram-se aqui desastres de grandes dimensões, naturais ou provocadas pelo


homem, que necessitam de um atendimento coordenado e controlado das
autoridades de defesa civil, bombeiros e integrantes das forças de segurança
pública.

Uma ferramenta muito importante para o gerenciamento desse tipo de evento


emergencial é o chamado Sistema de Comando de Incidentes (SCI), elaborado
pelos norte-americanos para o atendimento dos incêndios florestais no estado da
Califórnia na década de 1970.
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Tal metodologia se mostrou eficiente e foi amplamente difundida em outros países,
chegando inclusive ao Brasil. São exemplos desse tipo de crise: queda de
aeronaves comerciais, rompimento de barragens de rejeitos de minério, acidentes
com produtos radioativos, incêndios florestais, enchentes, etc.

2.5.2 Tipologias dos Causadores de Eventos Críticos

Visando facilitar o entendimento e a análise prática da conduta de cada tipo de 31


causador de evento crítico, os doutrinadores estabeleceram uma divisão tomando
como base as características e motivações desses indivíduos.

O objetivo de classificar a tipologia do causador não é para rotular ou estigmatizar


pessoas, mas sim para colaborar com os policiais que atuam diretamente nas crises
favorecendo assim a compreensão sobre o comportamento dos indivíduos que dão
causa às crises.

Atualmente a doutrina estabelece quatro categorias de CEC, cada qual com suas
características especificas. São eles: criminosos, terroristas, mentalmente
perturbados e presos rebelados. Desta feita iremos estudar as características de
cada tipologia, uma vez que tal conhecimento é de fundamental importância para o
processo de gerenciamento de crises e principalmente para a negociação
(RONCAGLIO; SILVA; SILVA, 2021, pg. 73).

2.5.2.1 Criminoso

Indivíduo que se mantém através de repetidos crimes. Essa espécie de CEC,


geralmente, provoca uma crise por acidente, devido a um confronto inesperado com
a polícia na flagrância de alguma atividade ilícita.

Dentre outras possibilidades, com a chegada da polícia, o indivíduo poderá tomar a


primeira pessoa ao seu alcance como refém e passar a utilizá-la como garantia para
a fuga ou, ainda, poderá ficar barricado e, até mesmo, evoluir para um pretenso
suicida, neutralizando, assim, a ação dos policiais.

Em resumo, é aquele que sai de casa com o planejamento de roubar alguém ou um


estabelecimento comercial e não com a intenção de fazer reféns.
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O grande perigo desse tipo de causador certamente está nos momentos iniciais da
crise. Em média, os primeiros 45 minutos são os mais perigosos. Esse tipo de
causador representa a maioria dos casos ocorridos no Brasil.

2.5.2.2 Mentalmente Perturbado

Indivíduo que apresenta um comportamento alterado e uma linha de raciocínio


confusa para terceiros – e para o aparato policial também – em decorrência de 32
diversos fatores, os quais conduzem o indivíduo a dar origem a uma ocorrência
crítica.

As atitudes do causador do evento passam a ser conduzidas e contaminadas por


sua perturbação mental, o que coloca em risco todas as pessoas em seu alcance,
sejam ou não os alvos de seu intento, bem como ele próprio. Causadores de
eventos críticos com essa tipologia dão causa a crises perigosas e de difícil
resolução, considerando a sua conduta alterada e imprevisível.

De modo geral, três são os fatores que podem ocasionar perturbações mentais nas
pessoas e fazê-las gerar crises:

a) A presença de transtornos mentais

Pessoas portadoras de transtornos mentais são frequentemente encontradas


envolvidas em crises como causadoras. Entre os distúrbios mentais mais comuns
estão a depressão, o transtorno bipolar, a esquizofrenia e os transtornos de
personalidade;

b) A ocorrência de abalos emocionais súbitos

Pessoas portadoras ou não de transtornos mentais, diante de fatos imprevistos e


abruptos, podem não absorver ou reagir bem a tal situação e, com isso, virem a
provocar uma crise, de modo planejado ou imediato, colocando-se em risco ou
ameaçando pessoas que julgam culpadas por seus infortúnios. Como exemplos
usuais citamos: o descobrimento de infidelidade conjugal, ser despedido do emprego
de forma humilhante, o término de um relacionamento afetivo, problemas
envolvendo dívidas, etc.
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c) O abuso de drogas lícitas ou ilícitas

O uso descontrolado de drogas ocasiona danos severos tanto para o organismo do


indivíduo que faz o uso quanto para a sociedade em sua totalidade.

Invariavelmente, pessoas nessa condição são encontradas causando ocorrências


policiais críticas. Cabem salientar que se enquadram nesse fator os abusos não
rotineiros, tendo em vista que o vício em drogas é tido como uma doença. 33

A verbalização com pessoas portadoras de distúrbios mentais ou comportamentais


exige paciência, domínio de técnicas adequadas e percepção dos limites negociais,
pois não é incomum, em diversos desses casos, o encerramento da ocorrência por
meio de uma intervenção tática.

2.5.2.3 Terrorista

Indivíduo ou grupo de indivíduos que, em geral, planejam cuidadosamente suas


ações com riqueza de detalhes. Agem, normalmente, de maneira coordenada em
células e utilizam armas de grande letalidade. Querem sempre chamar a atenção,
criam grandes estardalhaços, causam comoção e são extremamente radicais porque
acreditam no seu ideal, na busca de justiça social ou no seu mote religioso.

Resistem à negociação e não aceitam barganhas. Falam pouco, entretanto, são


profissionais na arte do pânico e do terror. Frequentemente fazem exigências que
ridicularizam e desenvolvem o sentimento de descrédito em relação ao sistema de
defesa social e que não devem ser atendidas, tais como a libertação de presos e a
publicação de manifestos.

2.5.2.4 Presos Rebelados

Separar a figura do preso rebelado daquela dos criminosos comuns apresenta


importante vantagem para a caracterização do tipo causador, a começar pela
condição em que ambos se encontram. O criminoso está em liberdade e é
encontrado na prática criminosa, enquanto o preso já está encarcerado, por vezes
condenado por vários delitos e na presença de outros detentos.

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Uma crise com presos rebelados costuma ser violenta e não raras vezes termina
com mortos e feridos. Os líderes da rebelião desafiam as autoridades gestoras da
crise e exigem ações pontuais que os favoreçam, em troca da libertação de reféns
ou vítimas que se encontram ameaçadas no ponto crítico.

Dentre as principais exigências de causadores presos rebelados, podemos citar:


guerras entre facções rivais, melhoria das condições de vida na prisão; melhoria da
qualidade das refeições; maior flexibilidade nos horários de visita; protesto contra 34

maus-tratos; corrupção dos administradores ou carcereiros; e cumprimento de


medidas jurídicas em favor dos prisioneiros.

Presos rebelados são caracterizados como “indivíduos que geram crises em


virtude das especificidades da vida em cárcere, podendo ou não apresentar
alterações comportamentais e/ou adotar ações com características terroristas”
(RONCAGLIO; SILVA; SILVA, 2021, p. 374).

Em síntese, presos rebelados tornam-se CEC’s que assumem maior grau de


complexidade, demandando equilíbrio dos policiais interventores, bem como o
entendimento dos gestores junto aos administradores do estabelecimento prisional,
cuidando para que toda diligência a ser realizada passe pelo crivo dessas
autoridades, de modo a evitar conflitos institucionais (RONCAGLIO; SILVA; SILVA,
2021).

2.6 FASES DO GERENCIAMENTO DE CRISES

O gerenciamento de crises é um processo que se destina a ajustar recursos para a


corporação policial a fim de que a mesma possa, satisfatoriamente, solucionar uma
crise. E esse processo não foca apenas na crise em si, mas também na obtenção de
recursos de modo a antecipar e a prevenir a crise.

Por conta disso, ficou estabelecido que o gerenciamento de crises se divide em


cinco fases, que vão desde antes da eclosão da crise até o momento posterior ao
seu encerramento.

Tais fases objetivam que as crises sejam tratadas de modo individualizado e com

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caráter analítico, proporcionando melhor adequação de solução a cada caso e uma
posterior avaliação da atuação policial.

São fases do gerenciamento de crises:

 1ª Fase – Pré-confrontação ou Preparo – é o momento que antecede a


eclosão de um evento crítico. É aquela em que a polícia não ficará somente
esperando a crise acontecer para depois tomar uma atitude. Tem a 35
preocupação com a difusão do conhecimento, com a troca de experiências,
com o treinamento dos elementos que poderão participar de uma ocorrência
de alta complexidade;

 2ª Fase – Resposta Imediata – é o momento em que a crise acabou de


se iniciar e a polícia dá a sua primeira resposta (primeira intervenção). Na
imensa maioria dos casos, a resposta não é dada pela tropa especializada
nessas ocorrências, justamente por conta da imprevisibilidade das crises.
Nesta fase, as ações policiais se resumem principalmente em identificar o
tipo de ocorrência, acionar apoio para contenção e isolamento e equipe
especializada, conter, isolar e iniciar verbalização sem fazer concessões.
Aqui será determinado o grau de risco, o nível de resposta e onde se
buscará identificar a tipologia dos causadores, bem como, de forma
preliminar, deverão ser observados os elementos essenciais de informação
que auxiliarão o processo de gerenciamento de crises;

 3ª Fase – Plano Específico – é o momento em que o gerente efetivo da


crise e seus assessores discutem e elaboram uma solução para o evento.
Essa solução pode ser negociada ou tática. Nesta fase, o papel da equipe
de informações, conhecida também como setor de inteligência, é
preponderante. As informações colhidas e devidamente analisadas indicarão
qual a solução para a crise;

 4ª Fase – Resolução – é o momento no qual se executa ou implementa o


plano específico. Várias podem ser as soluções encontradas para um evento
crítico, como a rendição dos CEC’s através da saída negociada ou até
mesmo o uso de força letal, caso haja a necessidade. Não importando qual
a solução a ser adotada, ela deve ser executada através de um esforço
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organizado, sendo importante encaminhar a solução da crise dentro do que
foi planejado durante a fase anterior, evitando haver perda do controle da
situação por parte da polícia;

 5ª Fase – Pós-evento – momento posterior ao evento crítico no qual a


Instituição, por meio dos policiais envolvidos na ação, reavalia todos os
treinamentos, elabora estudos de casos e corrige procedimentos. Com as
conclusões tomadas na fase pós-evento, a fase de pré-confrontação ou 36
preparo será atualizada e a corporação estará melhor preparada para outros
eventos críticos que poderão ocorrer, criando um ciclo de auto avaliação e
correção das medidas que se mostraram ineficientes. A produção e a
divulgação de estudos de caso para o público interno é importantíssima.

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3 ASPECTOS OPERACIONAIS DO GERENCIAMENTO DE CRISES

3.1 ORGANIZAÇÃO DO CENÁRIO

Nas ocorrências de crises, é de suma importância ter um cenário organizado, pois,


além do elevado risco no entorno do ponto crítico, haverá inúmeros
populares/curiosos, bem como outros fatores que podem interferir no cenário, 37
grande parte das vezes, de forma negativa.

Nesse fito, após o contato estabelecido pelos primeiros interventores, com as


consequentes medidas por eles adotadas, deve-se ter como medida subsequente a
necessidade de organizar melhor o cenário da crise.

Cabe, portanto, ao gerente emergencial da crise, a incumbência de organizar o


cenário, alocando da melhor forma possível os recursos e os meios ali presentes,
com a finalidade de minimizar interferências externas dos populares, imprensa, entre
outros.

Nesse ínterim, de forma concomitante, necessária se faz a adoção de determinadas


medidas, tais como:

 Estabelecimento dos perímetros táticos;

 Local adequado para alocação do Posto de Comando, SAMU 192, Corpo


de Bombeiros Militar e demais órgãos de apoio e assessoramento;

 Local para pessoal da imprensa;

3.1.1 Perímetros Táticos

Conforme já explicitado, em um cenário de crise há elevado grau de risco para vidas


e patrimônio e, por esse motivo, exige-se da polícia uma resposta apropriada,
diferente, especial.

Portanto, ter os recursos e elementos justapostos em seus devidos locais otimiza a


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gestão efetiva da crise, e tudo passa, invariavelmente, pela delimitação dos
perímetros táticos e suas zonas, como já dito em capítulo anterior.

A seguir, apresenta-se um organograma situacional em uma ocorrência de crises.

FIGURA 1 – Organograma situacional de ocorrência de crises


38

Fonte: próprio autor.

Um ponto importante a ser avaliado nesse cenário é a orientação das viaturas,


carros e demais atores, de tal forma a prestar um rápido serviço/socorro, caso
demandados e, também, para que consigam sair do local de forma rápida sem que
fiquem presos ou impossibilitados de fazê-lo de forma célere.

3.1.2 Estabelecimento do Posto de Comando

O Posto de Comando é um local, podendo ser um veículo específico, uma barraca,


sala ou outro ambiente, onde estarão alocados pessoas com autonomia para

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tomada de decisão, com base em divisão de tarefas elencadas tanto pelo Gerente
Emergencial quanto pelo Gerente Efetivo.

As funções a serem desempenhadas nesse posto de comando são, por exemplo:

 Colher informações;

 Trabalhar as informações coletadas;

 Aplicar as informações com planejamento e assessoria; 39

 Implementar ações e coordenar medidas; e

 Prover logística e administração para todas a funções no teatro de


operações.

Nela também ficarão as autoridades para as operações de campo que assessorarão


o tomador de decisão (Gerente Emergencial ou Gerente Efetivo).

3.1.3 Procedimento em Relação à Imprensa

Ávidos por conhecer o que se passa em um cenário de crise e levar a informação à


população, os agentes de imprensa, elementos essenciais nos dias atuais, cumprem
um importante papel.

Por mais que a ocorrência de crise exija da polícia inúmeras demandas, não se deve
alijar do processo a imprensa, pois informar o que se passa, de forma correta e
fidedigna, é de suma importância.

Assim, ainda que a imprensa esteja limitada ao perímetro externo, é relevante que
se empregue um ponto para que as informações, de tempos em tempos, sejam
passadas aos repórteres e colaboradores para a transmissão dos fatos, pois é
comum inúmeros curiosos e outras pessoas passarem informações inverídicas ou
não condizentes com o que de fato está acontecendo no local da crise.

Além do mais, uma informação passada de forma errada pode chegar ao


conhecimento do CEC e, assim, comprometer o desenrolar da ocorrência.

Diante disso, algumas medidas podem ser tomadas para que as tratativas com a

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imprensa sejam feitas da melhor forma possível, tais como:

 Preparar um local para coletiva próximo ao perímetro tático externo;

 Resguardar informações que atinjam a esfera pessoal do CEC, vítimas e


reféns;

 Tomar cuidado com comentários precipitados e não dar diagnóstico final


sobre o desfecho da ocorrência, pois ainda pode não ter acabado e, 40
portanto, é imprevisível o que poderá ocorrer; e

 Ressaltar a complexidade e o risco para os envolvidos.

3.2 DIFICULDADES NO TEATRO DE OPERAÇÕES

Como dito anteriormente, a distância entre o sucesso e o fracasso em um crise se


dão é uma linha tênue, haja vista a complexidade, imprevisibilidade, compressão de
tempo e ameaça à vida.

Acrescenta-se a isso a presença de muitas pessoas, o fator impaciência e a falta de


empatia de curiosos, autoridades políticas, dificuldades de logística e aquisição de
equipamentos, dentre outros.

Assim, algumas dificuldades como as elencadas a seguir podem surgir e devem,


portanto, ser trabalhadas para que sejam minimizadas ou não ocorram:

a) Manutenção do isolamento

Dificuldade em manter os perímetros táticos sem que curiosos e outras pessoas os


perpassem.

b) Falta de equipamentos

Dificuldades em dispor de equipamentos apropriados para cada situação e


dificuldades em desprender recursos monetários para atender pequenas, porém
importantes, exigências do CEC.

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c) Possibilidades de ingerências

Dificuldade em lidar com autoridades externas ao processo de tomada de decisão


que desejam interferir no desenrolar da ocorrência.

É comum, nessa seara, a presença de autoridades externas, sejam políticas, da


comunidade e de outros órgãos querendo interferir no processo decisório.
41
Muitas vezes, tais fatos acontecem pela ausência de conhecimento técnico na esfera
das ciências policiais e, por forma de achismo, completo despreparo, ou
necessidade de promoção pessoal, surgem inúmeras formas de como os atores
deveriam agir.

No entanto, é cediço por meio das normas legais que tal incumbência cabe aos
agentes técnicos, formados e, acima de tudo, atualizados com a doutrina de
gerenciamento de crises, necessitando, pois, da presença do Gerente Efetivo da
Crise e dos demais atores indispensáveis ao processo de condução da ocorrência,
não se fazendo permitir, assim, ingerências externas não técnicas ou não
autorizadas.

Por mais que possam surgir agentes externos, esses serão considerados elementos
de assessoria e consulta, porém, não deverão ditar o que deve ou não ser feito.

d) Imprensa

Como dito anteriormente, o pessoal da imprensa necessita passar informações


acerca do ocorrido no local dos fatos. No entanto é comum, em virtude da rapidez
em que os fatos ocorrem e precisam, da mesma forma, ser repassados pela
imprensa, a divulgação de notícias falsas e inverídicas acerca do que de fato ocorre.

Dentre algumas intercorrências que a imprensa pode causar, citam-se as seguintes,


por exemplo:

 Interferências no processo de tomada de decisão e de negociação;

 Revelar posicionamento e planejamento das alternativas táticas no


terreno;
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 Incentivar a resistência do(s) CEC(s);

 Tratar o causador como celebridade e o trabalho dos agentes com


desdém;

 Emitir informações preciptadas;

 Estabelecer contato com o(s) CEC(s) sem permissão;

 Invadir os perímetros preestabelecidos. 42

Para minimizar essas situações, faz-se necessário, sempre que possível e a


situação assim permitir, o destacamento de um agente policial para que sejam
repassadas, de tempos em tempos, uma coletiva para os profissionais da imprensa,
guardando cuidado com as informações passadas e com a preservação das
identidades dos envolvidos e demais informações que não comprometam a
segurança e o desfecho das ações.

e) Intermediário

Em determinadas situações o intermediário é de suma importância para a resolução


de uma crise. Algumas regras, entretanto, devem ser seguidas na utilização do
intermediário, entre elas, uma análilse criteriosa dessa pessoa, com o intuito de
verificar se ela irá ajudar ou não no processo.

Caso seja percebido que tal pessoa aumentará o grau de agressividade do CEC,
como por exemplo, sendo a própria motivação do evento crítico, ela não poderá ser
autorizada a realizar o contato por motivos óbvios. Outro ponto importante, no caso
da decisão pelo uso de determinado Intermediário, é que o contato com o CEC deva
ser breve, protegido pela Equipe Tática e orientado pelos Negociadores.

Independentemente do meio a ser utilizado para proporcionar o diálogo, cabe aos


policiais garantir as plenas condições de segurança do intermediário. Nada justifica a
exposição de uma pessoa a um risco desnecessário, como autorizar sua entrada no
ponto crítico para conversar como CEC.

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4 PRIMEIRA INTERVENÇÃO EM CRISES POLICIAIS

A Primeira Intervenção em crises policiais consiste em um rol de medidas a serem


adotadas com a finalidade de auxiliar os policiais militares durante o atendimento de
ocorrências de crise.
43

Segundo Silva (2015), “Primeira Intervenção em Crises é o conjunto de ações


técnicas a ser aplicado pelo policial militar ou equipe de policiais militares que
primeiro se deparam com ocorrências críticas em andamento”. Para o autor, as
citadas ações, além de reduzir os riscos para todos os envolvidos no incidente
crítico, ainda auxiliam no processo de gerenciamento da crise.

Assim, ao realizar uma primeira intervenção técnica, evitam-se resultados


catastróficos e vidas são preservadas, além de facilitar todo o processo de resolução
do incidente crítico. Para isso, o Primeiro Interventor deve seguir algumas medidas
que serão descritas abaixo.

4.1 MEDIDAS OPERACIONAIS DO PRIMEIRO INTERVENTOR

As medidas operacionais do Primeiro Interventor, embora estejam apresentadas de


forma sequencial, devem ser realizadas de forma simultânea. São elas:

 Identificar a ocorrência;

 Acionar apoio;

 Conter a crise;

 Isolar o ponto crítico; e

 Estabelecer contato sem concessões.

4.1.1 Identificar a Ocorrência

Após acionado para o atendimento de uma ocorrência de crise, é importantíssimo


que o policial identifique e localize o ponto crítico do evento. Ao adotar essa medida,
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o policial deverá obter a confirmação se a ocorrência é ou não uma crise policial,
para que, em caso positivo, possa tomar as demais providências.

Como mencionado, de forma concomitante, ao buscar identificar a ocorrência,


automaticamente o policial estará adotando outras medidas igualmente importantes
na busca do processo de solução do incidente crítico, como a coleta de informações.

Buscar informações é uma ação imprescindível no processo da primeira intervenção. 44


No momento inicial do atendimento de uma ocorrência complexa, muitas
informações circundam o cenário, e saber filtrá-las é fundamental para que as
medidas posteriores sejam subsidiadas com dados técnicos e precisos, refletindo
assim na tomada de decisões acertadas.

Assim, coletar as informações de maior relevância, anotando-as para que sejam


repassadas às equipes especializadas posteriormente é uma ação esperada do
Primeiro Interventor. Cabe ressaltar que a inexistência de informações iniciais pode
dificultar ainda mais o atendimento da ocorrência por parte das equipes
especializadas, bem como colocar em risco a vida de todos os envolvidos. Silva
(2015) elaborou uma Tabela que traz as informações essenciais a serem
observadas e anotadas pelo primeiro interventor.

TABELA 1 – Informações essenciais a serem anotadas pelo primeiro interventor

a. Sobre o(s) CEC: b. Sobre reféns ou vítimas


 Nome  Quantidade
 Descrição  Relação como o CEC
 Quantidade  Sexo
 Quem é o líder  Idade
 Condições de saúde
c. Sobre armas: d. Sobre o ponto crítico
 Quantidade  Quantas portas
 Tipo  Janelas
 Calibre  Acessos
 Munições  Cômodos
e. Sobre exigências:
 O que o CEC exigiu e qual o horário da exigência?
f. Sobre prazos fatais:
 Horários
 Quanto tempo de prazo
 O que o CEC ameaçou fazer.
Obs.: não aceite prazos fatais dados pelo CEC; desconverse.
g. Sobre as motivações do CEC:
 Por que ele está causando a crise?
Obs.: nesse momento é possível identificar se as pessoas ameaçadas são reféns ou vítimas.

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Fonte: Silva (2015).

4.1.2 Acionar Apoio

Como citado no primeiro capítulo, os Primeiros Interventores são aqueles policiais


que primeiro se deparam com a ocorrência de crise em andamento e, por esse
motivo, encontram-se praticamente sozinhos. Assim, diante dessas circunstâncias,
45
torna-se imprescindível que, de imediato, eles solicitem o apoio de outros policiais de
sua área de policiamento por meio do CIODES/COPOM, para que possam receber o
devido auxílio nas demais medidas necessárias que a situação requer.

Com a chegada do Comandante de Policiamento territorial ao local, este será o


Gerente Emergencial da Crise, tendo a incumbência de coordenar o deslocamento
das demais equipes policiais que se farão presentes, evitando, assim, o acúmulo
desnecessário de recursos operacionais no cenário e a consequente falta do
policiamento em outros setores.

Ressalta-se a ação simultânea das medidas operacionais do Primeiro Interventor


quando, depois de identificada a ocorrência e, sendo ela caracterizada como uma
crise, o passo seguinte, e concomitante, será o apoio do efetivo de área. Presente
no local esse apoio e já constatado se tratar de uma crise, a próxima medida,
fundamental para o processo de solução de um evento crítico, é o acionamento das
equipes especializadas.

Aqui cabe a importante ressalva no sentido de que o efetivo do Batalhão de Missões


Especiais, responsável pelas quatro alternativas táticas, possui equipamentos e
recursos humanos diferenciados, que viabilizam uma melhor intervenção, com
segurança e redução de riscos para todos os envolvidos no incidente crítico.

Dessa forma, o efetivo especializado prosseguirá em apoio aos primeiros


interventores, cujos policiais permanecerão no local da ocorrência até que haja
determinação em contrário, pois podem ser utilizados em funções auxiliares no
teatro de operações.

4.1.3 Conter a Crise


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Realizar a contenção da crise nada mais é do que manter o CEC no mesmo local
em que ele foi encontrado, ou seja, após localizar o ponto crítico, cabe ao Primeiro
Interventor evitar que o Causador do Evento Crítico tenha mobilidade e liberdade de
locomoção, fazendo com que a crise venha a se expandir, potencializando ainda
mais o seu risco.

Assim, conter de forma adequada a crise possui como um dos objetivos evitar que a
crise se torne móvel, o que dificulta por demais o seu controle, e aumenta a 46

imprevisibilidade sobre o seu desfecho.

4.1.4 Isolar o Ponto Crítico

A medida operacional de isolar o ponto crítico tem por objetivo alcançar o bloqueio
de qualquer contato do CEC com o mundo externo, e vice versa. Mesmo com o
advento de alta tecnologia de aparelhos eletrônicos, smartphones e outros que tanto
dificultam esse isolamento, essa medida é de vital importância para que as demais
ações sejam desenvolvidas no cenário.

O local de uma crise atrai curiosos, imprensa, familiares, políticos, entre outras
figuras externas ao processo de gerenciamento da crise que, mesmo com a intenção
de ajudar no desfecho do evento crítico, acabam prejudicando a ação policial
correta, pois não detêm o conhecimento técnico necessário e nem o respaldo legal
para atuação.

Em virtude disso, a presença e a possível interferência desses atores no local da


ocorrência, com o objetivo de falar com o CEC sob o pretexto de conhecê-lo, devem
ser devidamente rejeitadas pelo Primeiro Interventor.

A determinação para essas pessoas estranhas ao efetivo necessário no local é que


devem se retirar e permanecer em área afastada e segura. A ordem deve ser clara e
compreensível a todos, sendo transmitida de forma firme e educada, evitando
discussões e debates sobre a sua finalidade.

Ainda assim, caso tal ordem não seja cumprida e as pessoas não autorizadas a
permanecer no local não obedeçam à determinação, poderão incorrer no crime de

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desobediência previsto no Código Penal.

4.1.5 Estabelecer Contato Sem Concessões

Realizadas as medidas operacionais anteriores, a próxima ação que o Primeiro


Interventor deve adotar é estabelecer o contato com o CEC, porém, sem realizar
concessões.
47
Nesse aspecto, cabe ressaltar que o Primeiro Interventor não possui os recursos
necessários (equipamentos especiais e efetivo qualificado) para fazer a entrega de
qualquer exigência feita pelo CEC, por mais simples que possa parecer. Além disso,
conceder algo ao CEC pode dificultar o processo de negociação posterior, a ser
realizado pela Equipe de Negociação.

Ao Primeiro Interventor cabe a verbalização com o CEC e isso deve ser feito de
forma calma, embora todo o cenário a sua volta seja caótico. Este policial deve ter
em mente que para conduzir o outro à calma, primeiro ele precisa estar calmo.
Reduzir o estresse é fundamental e o primeiro passo é seguir essa orientação antes
mesmo de estabelecer o contato com o CEC.

Vale ressaltar que verbalização não é negociação, pois o negociador é aquele


policial que integra uma Equipe de Negociadores. É um especialista. Atua em
conjunto com as demais alternativas táticas e sob o comando do Gerente Efetivo da
Crise, ao passo que ao primeiro interventor cabe apenas conversar, estabelecer o
contato com o CEC, buscando acalmá-lo, mas sem conceder nada.

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5 OCORRÊNCIAS COM ARTEFATOS EXPLOSIVOS

5.1 PROCEDIMENTOS EM OCORRÊNCIAS COM ARTEFATOS EXPLOSIVOS

As ocorrências envolvendo artefatos explosivos envolvem altíssimo risco à vida e ao


patrimônio. 48

Desencadeadas por variados motivos, crescentes são as ocorrências de assaltos a


bancos, empresas de transporte de valores, locais com grande monta monetária ou
até mesmo atentados isolados ou combinados.

Tais ocorrências tornam-se específicas, pois se desconhece no local da ocorrência


inúmeros fatores importantíssimos para as adequadas tomadas de decisões, tais
como: Quantidade de material empregado, tipo de carga explosiva, capacidade de
rompimento, potência, sensibilidade do material, forma de acionamento, entre
outros.

Dessa forma e, para minimizar efeitos indesejáveis no atendimento a esses tipos de


ocorrências, necessita-se de agentes policiais técnicos e munidos de conhecimento
e de equipamentos adequados para o correto manuseio desses materiais.

No entanto, até que sejam acionadas as equipes especializadas do Batalhão de


Missões Especiais, serão chamados para o primeiro atendimento militares do
policiamento ordinário e, por esse motivo, quer seja na avaliação de informações
obtidas, quer seja quando da constatação de objetos suspeitos, medidas devem ser
adotadas pelos primeiros interventores com explosivos que estiverem no local, tanto
na coleta de dados quanto nas ações iniciais de forma concreta.

5.1.1 Ações Preliminares Contra Artefatos Explosivos

Quando do recebimento de uma ameaça de bomba, ou até mesmo quando da


constatação de um objeto suspeito ou já deflagrado, é imperioso manter a calma e
não provocar pânico ou tumulto, pois esses fatores poderão complicar as ações

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policiais conseguintes.

Antes de tudo, porém, nunca subjugue o potencial de um material suspeito, por mais
simples e similar que possa parecer, haja vista terem inúmeras formas e meios de
acionamento, que podem ser de forma remota e também por sensor de presença ou,
até mesmo, estarem instáveis e demasiadamente sensíveis ao choque, atrito e calor.
Assim, aplica-se a regra dos três nãos:
49
 Não tocar;

 Não mexer; e

 Não remover.

Ao receber, pois, informações acerca de artefatos explosivos e coletar os dados,


prioriza-se, de forma qualitativa, capturar a maior quantidade de informações
possíveis, justamente para verificar se uma ameça de bomba é falsa ou se, de fato,
se trata de algo mais sério.

Dessa forma e, conforme Instrução Provisória de Atendimento de ocorrências


Envolvendo Artefatos Explosivos ou Bombas (SÃO PAULO, 2016), a coleta de
dados deve revelar importantes informações, tais como:

 O que foi dito na ameaça e detalhes das informações passadas, como


sexo da pessoa, idade, timbre de voz, sotaque, comportamento, linguajar,
entre outros;

 Existência de ruídos no fundo da comunicação, se as informações


advêm de ambiente público, presença de outras vozes, risadas, barulhos
diversos, entre outros;

 Se foi ou não entabulada conversação com o ameaçador e como se


desenvolveu (verificação do objetivo da ameaça);

 Se a ameaça foi consubstanciada em carta, e-mail, bilhete, etc., quem a


recebeu, quando e como foi recebida;

 Se a pessoa ou o local ameaçado possui relevância política, estratégica,


religiosa, social, jurídica, etc.;
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 Se já houve ameaças de morte ou de vingança direcionadas à pessoa ora
objeto do suposto artefato explosivo ou se existiu algum fato recente na vida
desta pessoa que poderia motivar um atentado;

 Se há testemunhas oculares que presenciaram a colocação do suposto


artefato explosivo, além da circunstância da chegada do objeto e o local
exato onde foi depositado;

 Se de fato foi detectado o objeto suspeito, as características do material 50

(forma, tamanho, cor, aparência, etc.), quem o localizou e desde quando


está no ambiente;

 Se esse objeto não poderia pertencer a alguém que costuma frequentar


aquele local;

 Se o objeto já foi manuseado ou movimentado por alguma pessoa;

 Outras informações elucidativas que auxiliem a investigação.

Conforme Diretriz da PMESP (2013) se, após a coleta preliminar de dados, houver
argumentos suficientes que comprovem a existência do artefato explosivo ou
revelem um alto risco aos moradores ou frequentadores do local onde se presume a
existência de um objeto danoso, a guarnição ordinária designada deverá adotar
providências iniciais de cerco e isolamento, além de outras previstas, tais como no
subitem “5.1.1.2.”

5.1.1.1 Ações quando o objeto suspeito não for localizado

Após as medidas iniciais de coleta de dados e informações, se não houver indícios


sólidos de uma ameaça de bomba, os policiais militares iniciarão buscas preventivas
a fim de dirimir quaisquer dúvidas quanto à instalação ou à colocação de um artefato
explosivo/objeto suspeito.

A busca dos militares, nesses casos e, sempre que possível, deverá ser
acompanhada pela pessoa a quem foi dirigida a ameaça, pelo proprietário do local
ou por funcionários que conheçam detalhadamente o ambiente e os objetos lá
existentes, haja vista a otimização de esforços para devida averiguação.

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Conforme dito anteriormente, é importante destacar que todo e qualquer objeto
suspeito não deverá ser tocado, mexido, tampouco removido pelas pessoas
envolvidas na busca.

Se não for encontrado qualquer artefato suspeito, a orientação é para que os


policiais confeccionem o devido boletim de ocorrência e liberem o local para o
retorno do status de normalidade, com trânsito de pessoas, veículos e liberação dos
espaços físicos. 51

Por se tratar de ocorrência de ameaça, os policiais militares deverão ainda orientar a


pessoa ameaçada ou ao proprietário do local a comparecer à Delegacia ou Distrito
Policial para a lavratura do Boletim de Ocorrência correspondente, em virtude do alto
grau de reprovabilidade desse tipo de conduta.

5.1.1.2 Ações quando o objeto suspeito for localizado

Conforme Diretriz da PMESP (2013) se o objeto suspeito for identificado, os policiais


primeiros interventores necessitarão tomar algumas medidas imediatas e
concomitantes, sendo elas:

 Realizar cerco e isolamento do ponto crítico;

 Iniciar a evacuação do local/área de risco, parcial ou totalmente, agindo


com calma e tranquilidade, de forma ordenada e sem maiores alardes,
objetivando evitar pânico;

 Informar o CIODES/COPOM para acionamento da equipe antibomba do


Batalhão de Missões Especiais, a fim de dar início às ações técnicas efetivas
contra artefatos explosivos.

5.1.1.3 Ações quando o artefato explosivo houver sido deflagrado

Ainda segundo Diretriz da PMESP (2013), se o artefato explosivo já tiver sido


deflagrado, os policiais militares deverão:

 Verificar de forma superficial a existência de vítimas ou de focos de

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incêndio no local, acionando os órgãos de socorro, se necessário;

 Isolar o local onde foi desencadeada a explosão, com a ressalva de não


tocar, mexer ou remover quaisquer estilhaços ou materiais parcialmente
detonados;

 Informar ao CIODES/COPOM para acionamento da equipe antibomba do


Batalhão de Missões Especiais, visando à varredura local e à coleta e
acondicionamento de resíduos de materiais deflagrados e acionamento da 52

Perícia Técnica;

 Reunir o maior número possível de informações acerca dos fatos para


servir de suporte aos órgãos de perícia e de polícia judiciária.

5.1.2 Ações efetivas contra artefatos explosivos

Tão logo a esquadrão antibomba do Batalhão de Missões Especiais chegue ao local


de crise, os policiais militares que primeiro tiveram acesso à ocorrência e que
prestaram os atendimentos iniciais deverão transmitir todas as informações obtidas à
equipe especializada e, a partir de então, auxiliar no isolamento do perímetro do
local de crise para que curiosos e outros elementos não se coloquem em risco e
para que também não atrapalhem as ações policiais. O esquadrão antibomba do
Batalhão de Missões Especiais, de posse dessas informações, adotará as
providências necessárias para (1) identificação do objeto suspeito, (2) sua remoção,
(3) desativação, neutralização ou desmantelamento.

Em virtude de necessidades constatadas no local dos fatos, o Gerente Efetivo da


crise avaliará a possibilidade de acionamento de outros órgãos de apoio a fim de
suplementar as medidas adotadas no local para minimizar os riscos advindos das
intervenções com explosivos.

Se a explosão já tiver ocorrido ou se vier a ocorrer durante a ação policial, o


esquadrão antibomba do Batalhão de Missões Especiais adotará, conforme já
incutido em doutrina da PMESP (2013), além de outras medidas, as referentes à
varredura de todo o local de crise, coleta e acondicionamento do material deflagrado,

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utilizando-se de técnicas e materiais adequados objetivando a realização de exames
periciais e investigações subsequentes.

5.1.3 Procedimentos Finais

Como forma de restabelecer a ordem e a normalidade no local, o perímetro do


incidente de crise somente será liberado para livre acesso ao público quando todas
as providências referentes à segurança e à perícia tiverem sido adotadas. O 53
comandante do esquadrão antibombas do Batalhão de Missões Especiais e,
eventualmente, os agentes e ou autoridades periciais é quem dará o aval para a
retomada das rotinas no local afetado ou ameaçado.

Ao final, compete à guarnição policial militar que primeiro teve acesso e ou foi
designada pelo CIODES/COPOM ao local da crise apresentar a ocorrência na
Delegacia correspondente, além de relacionar os dados referentes aos policiais
militares do esquadrão antibomba do Batalhão de Missões Especiais que tiveram
participação direta nos fatos, de modo a complementar as informações a serem
prestadas à autoridade de polícia judiciária.

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6 GERENCIAMENTO DE CRISES DINÂMICO

6.1 O GERENCIAMENTO DE CRISES EM EVOLUÇÃO

O Gerenciamento de Crises, com as suas quatro alternativas táticas e suas


diretrizes norteadoras de procedimentos que envolvem as ações policiais na busca
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por uma solução aceitável, não consiste apenas em um único processo de resolução
da crise.

As ações criminosas evoluem e, com isso, exigem que as forças de segurança


pública acompanhem tal evolução, com o intuito de modificar, alterar e modernizar
as suas ações no processo de resposta ao incidente que se apresenta.

Ocorre que um dos acontecimentos que remetem a um marco histórico do


Gerenciamento de Crises, que já apresentava uma necessidade de modificação da
doutrina não é tão recente, havendo ocorrido há mais de duas décadas.

Mais precisamente no dia 20 de abril de 1999, na cidade de Litleton, na Escola de


Columbine, nos EUA, ocorreu o incidente que ficou mundialmente conhecido
“Massacre de Columbine”. Naquela fatídica data, dois adolescentes, antigos alunos
da escola, ingressaram no estabelecimento portando armas de fogo e realizaram
vários disparos, causando mortes e diversos ferimentos. Os dois cometeram suicídio
logo em seguida.

Como o estudo à época direcionava para que fossem seguidos os protocolos de


Gerenciamento de Crises, ou seja, “cercar, isolar e acionar o efetivo especializado”,
assim foi feito. A partir da chegada dos primeiros policiais à escola, demorou cerca
de 40 minutos até que o efetivo especializado estivesse presente no local.

Desta forma, ao serem utilizados os procedimentos até então existentes do


Gerenciamento de Crises, tais ações policiais permitiram aos adolescentes o tempo
de 40 minutos para continuar a executar as pessoas no interior da escola, pois a
polícia local, que já se encontrava presente, apenas cercava e isolava a área, não
percebendo que a real intenção dos adolescentes era a de causar o maior número
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de mortes possíveis.

O Massacre de Columbine e outras ocorrências complexas com as mesmas


características da citada crise se sucederam e, assim, demonstraram a necessidade
de novos estudos para solucionar esses tipos de incidentes críticos.

O FBI é uma unidade de polícia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos


que realizou estudos específicos, passando a denominar os causadores de tais 55
incidentes como “Atiradores Ativos”. Para alcançar a sua resolução, observou-se a
necessidade de complementação do Gerenciamento de Crises, dividindo-o em dois
sistemas: Estático (que era utilizado até então) e Dinâmico.

6.2 SISTEMA DINÂMICO DE GERENCIAMENTO DE CRISES

No Sistema Dinâmico de Gerenciamento de Crises, diferente do Sistema Estático, o


objetivo maior da atuação é o de reduzir ao máximo o número de vítimas potenciais,
restringindo assim a capacidade letal do CEC.

Destaca-se, então, que as medidas são mais amplas e dinâmicas, não se prendendo
apenas aos procedimentos de contenção, de isolamento e de estabelecimento de
contato sem concessões.

Dentre as modalidades de ocorrências do Sistema Dinâmico de Gerenciamento de


Crises, podemos destacar ocorrências envolvendo Atirador/Agressor Ativo e Novo
Cangaço.

6.2.1 Atirador/Agressor Ativo

Neste tipo de ocorrência, a resposta imediata, por parte dos primeiros policiais que
chegam ao local, é o acionamento de apoio, via CIODES/COPOM, e o
deslocamento diretamente ao ponto crítico, objetivando o contato com o CEC, e
evitando que ele venha a provocar mais mortes.

Uma das características apresentadas neste tipo de ocorrência é o objetivo

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demonstrado pelo CEC de causar pânico e desestruturar o Estado, causando, na
maior parte das vezes, o maior número possível de vítimas fatais.

Na situação hipotética em que o CEC tem a possibilidade de fazer mais vítimas, a


ação policial, sempre que possível, deve ser rápida, direcionada e agressiva,
reduzindo assim as chances de reação por parte do causador.

6.2.2 Novo Cangaço 56

Neste tipo de ocorrência, a resposta imediata, por parte dos primeiros policiais que
chegam ao local, também é o acionamento de apoio via CIODES/COPOM.

Contudo, por conta das peculiaridades (grandes grupos fortemente armados,


possibilidades de explosivos, múltiplos pontos de bloqueio, etc), o deslocamento
direto ao ponto crítico, que pode ser mais de um, precisa ser cuidadosamente
avaliado pelo efetivo policial.

Não obstante e sempre que possível, são necessários esforços para posicionar
recursos operacionais em pontos estratégicos, bloqueando as vias e reduzindo a
possibildade de rotas de fuga para os CEC.

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FICHA TÉCNICA

COORDENAÇÃO GERAL
TEN CEL QOCPM MARCOS ALEXANDRE NOVARETTI ROBERTO

MANUAL / CONTEUDISTAS
TEN CEL QOCPM MARCOS ALEXANDRE NOVARETTI ROBERTO
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TEN CEL QOCPM PAULO ROGÉRIO DO CARMO BARBOZA
MAJ QOCPM WANDERSON BATISTA DOS SANTOS
MAJ QOCPM PABLO ANGELY MARQUES COIMBRA
CAP QOCPM MARCELO VIEIRA HOLLANDA
CAP QOCPM MARCOS EDUARDO DA SILVA TEIXEIRA
CAP QOCPM VINÍCIUS MUZI RIOS
1º TEN QOCPM IGOR DALVI MOROTTI
1º TEN QOCPM MATHEUS AUGUSTO SCÁRDUA MARTINS

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