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São Paulo
2022
IGOR DE ANTONIO PADETI
São Paulo
2022
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ÍNDICE
1. Introdução.....................................................................................................................4
2. Conceito.........................................................................................................................4
3. Requisitos Processuais..................................................................................................5
4. Ministério Público em Conflitos Possessórios coletivos............................................7
5. Outras Considerações..................................................................................................9
6. Conclusão.....................................................................................................................11
7. Bibliografia..................................................................................................................12
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho, tem como intuito abordar, sob uma ótica analítica e jurídica, a temática
central, que diz respeito a ações possessórias em ocupações coletivas, bem como conteúdos que
estejam diretamente interligados.
A referida análise, será realizada a luz do código de processo civil, mais precisamente no que
está disposto nos artigos 554 a 568, com o devido enfoque no que dispõe sobre litígios coletivos,
que são especificados no artigo 565 e seus respectivos incisos. No mesmo sentido, será usado
também, a título de fundamentação, doutrinas conceituadas e jurisprudências, para que, assim,
haja uma justificação de forma mais clara e coesa do que for redigido.
O tema a ser analisado se faz de grande importância à sociedade, uma vez que será possível
examinar instrumentos criados pela sociedade para a resolução de conflitos tangenciais a posse,
visto que o presente trabalho, como já dito anteriormente, tratará de ações possessórias em
ocupações coletivas. Não obstante, o tema é suprido de enorme relevância, pois trata
diretamente de conteúdo pertencente a uma atmosfera social, uma vez que grande parte das
ocupações coletivas, são realizadas por pessoas e famílias em situação de extrema miséria e
que, por isso, não estão munidos de outras opções para residir.
CONCEITO
À primeira vista, as ações possessórias, previstas nos artigos 554 a 568, são as formas de
assegurar o direito à posse de um bem em caso de lesão possessória de esbulho, turbação ou
ameaça por ato de outrem. Essas ações possessórias podem ser individuais ou coletivas, em
razão disso, não se trata de um tipo processual específico criado apenas para tratar de demandas
coletivas, como no caso da ação civil pública e da ação popular, em que a coletividade já está
pressuposta.
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Ainda, o objeto do esbulho ou da turbação dessas demandas podem ser bens móveis ou imóveis
e devem ser devidamente diferenciados nos autos, pois como por exemplo, é possível que se
tenha uma ação de reintegração de posse de um terreno e outra da retomada de um veículo,
evidente diferenciação, mas necessária em razão do decorrer distinto do processo.
REQUISITOS PROCESSUAIS
Para que sejam distribuídas as reintegrações ou manutenções de posse, é necessário, por parte
do autor, provar sua posse, a turbação ou esbulho praticado pelo réu, a data da turbação ou do
esbulho e a continuação da posse, embora turbada, nos casos de manutenção, ou a perda da
posse, nos casos de reintegração, requisitos estes previstos no art. 561, incisos I, II, III e IV, do
CPC.
Neste óculo, existe um outro mecanismo processual que segue os mesmos requisitos
mencionados, o interdito proibitório, utilizado para impedir agressões iminentes que ameaçam
a posse de algum indivíduo. Na circunstância de ser instruída a petição inicial, comprovados
todos os elementos discriminados no art. 561, do CPC, o juízo deferirá liminar sem sequer ouvir
a parte ré, consoante determina o art. 562 do CPC, caso contrário, será determinado que o autor
justifique a concessão da tutela de urgência, trazendo aos autos mais elementos comprobatórios,
em audiência designada.
Necessário também destacar a distinção entre a idade da posse, para Silvio Rodriguez
(RODRIGUES, 2003 p. 35) o intervalo existente de ano e dia é o que consolida a situação de
fato, purgando a posse dos efeitos de violência e clandestinidade. Deste modo, o possuidor será
mantido sumariamente desde que a posse tenha ano e dia, até que seja convencido pelos meios
ordinários.
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Em concordância com o que fora supramencionado, no que tange à petição inicial atender ao
art. 561, do CPC, o entendimento dos Tribunais é pacífico quando a exordial vem
completamente instruído nos termos do artigo em questão, veja:
Ainda no tocante ao que diz o já mencionado doutrinador Silvio Rodriguez sobre à idade da
posse, é possível confirmar o que foi dito, pois conforme decisão abaixo, por conta do tempo já
ocupado, foi mantida decisão de primeiro grau para suspender a reintegração/desocupação do
imóvel que abrigava diversas famílias por mais de dez anos.
Segundo o art. 1211, do Código Civil e a Súmula 487 do STF, no caso de o réu ter posse velha
do imóvel, o juízo deve negar a liminar, mantendo o estado de fato, até que após formado todo
o processo deve ser julgado o estado de direito. A liminar deve ser concedida sempre no início
da demanda, pois se trata de uma tutela de urgência, mas a partir do momento que o réu se
encontra na posse do bem por mais de um ano e um dia da agressão, o processo deve ter seu
regular prosseguimento em razão de ser uma posse velha e nesse caso, o possuidor, que é quem
tem a detenção física da coisa como proprietário ou como se fosse, terá melhores condições
para ser mantido o bem na sua posse pela Justiça, até que a questão discutida seja
completamente solucionada, através de processo regular (art. 924 do CC).
Há, no atual código de processo civil, a hipótese de intervenção do ministério público nos casos
que envolvam litígios coletivos pela posse da terra urbana ou rural, como fundamenta o art.
178, III. A respectiva ação do Ministério Público, em casos como o já mencionado, se justifica
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por conta de seu alto grau de relevância social, ou seja, exige-se a participação do Parquet,
visando os reflexos sociais que esse tipo de litígio pode causar.
Cabe destacar que o direito à moradia é fundamentado pela Constituição Federal, em seu artigo
6º, no rol de direitos sociais, no qual, por cascata, deve ser efetivado por intermédio de políticas
públicas cabíveis que objetivem priorizar o atendimento à população mais necessitada. O lugar
onde um indivíduo mora, é, para ele, um considerável eixo de referência, onde são
desenvolvidas relações econômicas, sociais e afetivas e, por essa razão, é coerente que haja uma
visão diferenciada do processo, bem como uma atenção constante do Ministério Público.
O Parquet, dentro dos limites impostos pela lei, poderá pleitear atendimento as respectivas
pessoas afetadas, podendo até relacionar o devido cumprimento da decisão ao referido
atendimento, nas hipóteses onde a família, padecendo de extrema vulnerabilidade, seria
despejada.
Poderá o Ministério público, também, além do exercício regular de suas funções, procurar
soluções negociadas, proporcionando encontros com órgão públicos para possíveis
atendimentos à indivíduos em vulnerabilidade e pleitear, junto ao autor da ação, o acréscimo
do prazo para desocupação voluntaria. Essas ações não devem ser confundias com a devida
atividade ministerial em relação à macro política habitacional, que deve ocorrer de forma que
haja tutela de interesses transindividuais.
A critério de exemplificação, cabe destaque a decisão do Supremo Tribunal de Justiça que, por
sua vez, entendeu não ser possível o cumprimento de reintegração de posse, na conjectura em
que o Poder Público não garantir alguma forma de atendimento às respectivas famílias a serem
despejadas:
Por se tratar de uma matéria de extrema relevância social, pois envolve desabrigar indivíduos e
famílias de suas respectivas moradias, há, por parte da justiça, o emprego de cuidados especiais,
de forma que os direitos humanos não sejam deixados de lado no âmbito do processo.
Nessa perspectiva, podemos observar a importância dos direitos fundamentais como fulcro
principal de argumentação em ações possessórias no que diz respeito às ocupações coletivas.
De acordo com o texto constitucional, o Direito à Moradia é consagrado como um dos direitos
tutelados pela Constituição Federal de 1988.
OUTRAS CONSIDERAÇÕES
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará
a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente
àquela cujos pressupostos estejam provados.
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§ 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número
de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados
no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação
do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência
econômica, da Defensoria Pública.
Com isto, é possível afirmar que um dos elementos centrais que conduzem o pedido de ações
desta natureza é o tempo de ocorrência da ocupação não consentida. Nesta esteira, o doutrinador
João Paulo Marques dos Santos determina que:
Em 2001, por meio da Lei 10.257, o usucapião coletivo foi positivado, fazendo com que as
propriedades com até 250 m2 no perímetro urbano pudessem ser objeto de pleito de usucapião
coletivo. O presente instituto apresentado está previsto no art. 10 do Estatuto das Cidades:
“Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja
área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros
quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os
possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. ”
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No que diz respeito ao procedimento a ser adotado, como já mencionado, em ações
possessórias, haverá a citação das pessoas que ocupam o local e o resto dos réus que não forem
localizados serão citados por meio de edital, sendo que o Ministério Público e Defensoria
Pública também serão intimados.
Vale destacar que o Autor da propositura da ação deve preencher e observar os requisitos
mínimos para tal, sejam aqueles que são referentes à concessão de tutela, sejam aqueles
contemplados pelo art. 303 do Código de Processo Civil; ou também pela evidência, que está
previsto no art. 311 do CPC.
CONCLUSÃO
Diante de todo o exposto, é possível concluir que o aspecto sociológico que emana da
propositura de ações possessórias em ocupações coletivas é um dos fatores principais de
destaque para a importância do tema que fora apresentado. O § 4º do art. 565 do CPC traz uma
inovação para o ingresso deste tipo de ação que alterou a dinâmica processual que se colocava
como um entrave na correção de injustiças sociais perpetuadas com o tempo.
A novidade trazida pelo disposto supracitado promove a intimação dos responsáveis pelo
problema do déficit habitacional ao banco dos réus. Deste modo, o Estado passa a configurar
como um dos réus responsáveis pelo déficit de moradia e, consequentemente, ao passar figurar
como réu, este tem o dever de fornecer meios de solução do conflito. Com isso, impõem-se
necessário destacar o fato de que a matéria relacionada a regularização das moradias no
ambiente urbano se lança como questão fundamental na implementação do direito à moradia,
cuja previsão está exposta de forma expressa no texto constitucional.
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BIBLIOGRAFIA:
RODRIGUES, Silvio. Direito das Coisas vol. 5 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2003 p. 35.
SANTOS, João Paulo Marques dos; BRASIL, Júlio César Mendes. Ações possessórias: a
perda da força cogente da decisão liminar possessória em razão do tempo. Revista dos
Tribunais, São Paulo, ano 107, vol. 989, p.141-158, Mar/2018.
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